TFG - Sede da Fazenda Boa Esperança

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Sede da Fazenda Boa Esperança Trabalho final de graduação

Natasha Kiyo No Orientador Artur Rozestraten FAU USP 2012


“Há uma grande diferença entre o que chamamos de moradia e casa de férias. A primeira é adaptada aos costumes de uma família, o lugar onde se vive, se sonha. É a fortaleza que com os anos se torna um confidente de recordações confortantes ou tristes, com suas lembranças estampadas nos objetos, na decoração. (...) Já a outra é para gozo de férias, para receber amigos, alegrando-os e se alegrando em companhia deles. E talvez o lugar para esquecermos as asperezas da vida portanto, onde deve haver alegria permanente.” Oswaldo A. Bratke


Sumário 1. Introdução 1.1. A motivação e a escolha do tema 1.2. A casa moderna 1.3. A sede da fazenda paulista 2. A Fazenda Boa Esperança e o método 3. Estudos de referência 3.1. Casa Bailey, Pierre Koening 3.2. Casa Hoffman, Craig Ellwood 3.3. Casa no Jardim Guedala, Oswaldo A. Bratke 3.4. Casa na praia de Pernambuco, Oswaldo A. Bratke 3.5. Sede da Fazenda Água Comprida, Eduardo de Almeida 4. Localização 5. Situação 6. Implantação 7. Partido Arquitetônico 8. Estrutura 9. Planta 10. Cortes e elevações 11. Paisagismo 12. Epílogo 13. Bibliografia


Introdução A motivação e a escolha do tema Escolher o tema da casa burguesa para um TFG foi um desafio. Demorei a aceitar a ideia que ficava no fundo da minha mente enquanto buscava por outros temas. Durante quase um ano patinei entre temas porque considerava a casa burguesa algo inadequado para um TFG dessa escola, uma faculdade que preza por projetos e reflexões voltados para o bem social e cultural. Durante meses de dúvida, segui lendo livros que me interessavam sobre arquitetura quando me deparei com a reedição do livro Residências em São Paulo, de Marlene Acayaba. As leituras do prefácio, trajetória da autora e introdução foram inspiradoras e me deram coragem para assumir o tema. No prefácio, Cecília Rodrigues dos Santos cita trechos escritos por Marlene em seu blog pessoal se referindo à FAUUSP: “Arquitetura só interessava se tivesse uma função social, se questionasse o status quo. Nas aulas de projeto desenhávamos conjuntos habitacionais, nas aulas de história fazíamos pesquisas de campo nas periferias da cidade, além de assistirmos às aulas do Sérgio Ferro que constrangiam o aluno que ousasse pegar o lápis para desenhar. Dizia nas aulas que ‘a casa burguesa’ era feita à imagem e semelhança de seu proprietário. Por isto, como era parecida com o tal do burguês, só podia ser um ‘lixo’.” E então conta como, apesar do ambiente hostil da escola, Marlene justificou sua opção pelo tema de mestrado, o estudo das casas paulistas, simplesmente por querer estudar “aquilo de que mais gostava”, sem precisar embasar sua decisão em fundações sociais. Descobrir que um livro de referência tão importante teve essas raízes me deu incentivo para abraçar o tema. Desvencilhei-me então de preconceitos e medo do julgamento de professores e colegas e passei a

acreditar que a casa burguesa é um tema pertinente a um trabalho final de graduação. A casa moderna A casa burguesa foi e continua sendo um grande terreno de experimentação de arquitetura. Nela, arquitetos encontraram espaço para aplicar novas técnicas construtivas e diferentes relações espaciais, funcionais e visuais. Foi expressão de suas idiossincrasias e eco de suas reflexões sociais e urbanas. Como diz Marlene Acayaba, é a materialização dos sonhos dos arquitetos, sejam eles a técnica e a modernidade ou a sua própria ideia do que seria a solução arquitetônica adequada para atender às necessidades dos clientes. Num extremo, alguns arquitetos buscam o objeto arquitetônico e experimental, tratando clientes como meros patrocinadores, como Mies van der Rohe e Le Corbusier; no outro, procuram entender o cotidiano dos futuros moradores para que o projeto possa melhor satisfazer seus costumes, como Richard Neutra, que observava seus clientes durante semanas a ponto de se intrometer na sua intimidade. Mesmo que se tente projetar pensando no cliente, a casa acaba realizada segundo a vontade do arquiteto, pois é feita de acordo com uma interpretação pessoal que leva em conta os limites do que é pertinente e razoável. O embate entre a vontade do arquiteto e a verdadeira intimidade do morar torna-se claro no depoimento escrito por Cecília Rodrigues dos Santos no prefácio de Residências em São Paulo sobre suas visitas às casas modernas: “Não me lembro de muitos elogios às virtudes das casas modernas que visitamos, mas me lembro bem, talvez porque me surpreendessem, das queixas do chão de asfalto na cozinha, da falta de privacidade e de luz, da opressão das grandes estruturas que se acomodavam partindo os vidros e negando o aconchego, dos móveis

fixos, dos ambientes sombrios em concreto aparente, do frio e do calor quase sempre excessivamente inoportunos.” Os arquitetos modernos pretendiam mudar a maneira como moravam os paulistanos, impondo uma modernidade sobre seus costumes que não existia. Interpretava-se que os hábitos eram errados e que era necessário mudar o jeito de morar e de viver dentro da casa e na cidade. Não devemos, porém, generalizar e entender que todas as abordagens modernistas eram impositoras e inadequadas aos habitantes das casas. As interpretações e projetos de Oswaldo Bratke, por si resumidos no texto Anotações sobre arquitetura - presente no livro Oswaldo Bratke, arquiteto, de Hugo Segawa - estão algumas colocações que contradizem a imagem colocada por Cecília. “A arquitetura é uma arte de utilidade e como tal deve ser: (...) ajustada ao homem, (...) que atenda aos hábitos e à maneira de viver de uma época, e não aquela à qual o homem deve se adaptar, objetivando o bem estar do usuário; planejada de maneira a ter seu preço justo, duração desejada e de manutenção fácil e econômica; apresentada com soluções simples e autênticas para seu uso eficaz; despida de componentes desnecessários; ajustada às condições climáticas, aos materiais disponíveis e às técnicas em voga; de beleza de forma, que é a essência da arquitetura e a alegria dos olhos; (...) de maneira a refletir seu uso específico. (...) É importante que o arquiteto tenha em mira a obra que sirva à sua clientela e que não seja um monumento a si próprio.” A casa da fazenda paulista As primeiras casas-sede de fazenda foram as dos “homens bons“, no ciclo das bandeiras. Esses homens poderosos moravam em suas propriedades rurais em volta da pequena vila formada ao redor do Páteo do Colégio, de onde controlavam suas terras e o destino da população. Nessas casas se encontram os primeiros dados de organização


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doméstica arquitetônica paulista, cujas referências permaneceram por pelo menos 300 anos. A casa bandeirista caracterizava-se pela planta quadrada, telhado de quatro águas, alpendre frontal, sala central e dormitórios periféricos interligados (fotos 1 e 2). Em sua frente ficava um terreiro onde se faziam algumas atividades agrícolas e as festas. Atrás da casa ficavam, separados do bloco principal, o pomar e vários tipos de precárias edificações que serviam como cozinha, casa dos escravos e armazenamento. Depois do declínio das minas e o fim da estrutura bandeirista, o cultivo da cana-de-açúcar começou ao longo do Tietê e o mineiro migrou para nossas terras. Foi então, no final do século XVIII, que a arquitetura mineira encontrou-se com a paulista. A nossa casa de taipa - plana, térrea, com base no chão - confrontou-se com a mineira - de estrutura de madeira, assobradada e levantada do chão, respeitando o perfil do terreno (foto 4). As casas deixaram de ter a planta estritamente retangular e passaram a incorporar puxados de taipa, onde a cozinha e alguns serviços açucareiros eram instalados (foto 3). Porém esses puxados tinham mais relação com o exterior do que com o interior da casa, pois eram lugar de serviços sujos. A cozinha da roça - sem água encanada, de chão de terra batida, com pequenas aberturas gradeadas para prender as escravas e sem saída para a fumaça do fogão a lenha - era um ambiente sujo, úmido e escuro. Do alpendre posterior o senhor de engenho podia fiscalizar o que acontecia nessas áreas de serviço, e esse ambiente tornou-se o centro de atenção da casa: lugar de estar, comer e trabalhar.

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O café chegou a São Paulo por volta de 1830 e as fazendas remodelaram- se para, de açúcar, passarem a produzir café. A economia cafeeira, muito mais forte que a de açúcar, aumentou o número de

Imagens 1. Casa Bandeirista no Butantã 2. Exemplo de planta de uma casa bandeirista 3. Exemplo de casa-sede mineira.

viajantes, fortaleceu o comércio nas cidades e abriu novas estradas. Os fazendeiros enriqueceram e começaram a construir casas urbanas nas cidades próximas (Piracicaba, Cunha, Santa Branca, entre outras) ostentando sua riqueza. O número de escravos que podiam ter aumentou e as casas ficaram cada vez maiores, mantidas por batalhões de negros. Em 1863, a inauguração da estrada de ferro Jundiaí-Santos marca o início da época dos barões do café. A facilidade de importar bens manufaturados e influências culturais europeias gerou um rápido progresso material e cultural. Passaram a existir escolas para as meninas, as governantas estrangeiras ensinavam seus idiomas e os meninos iam estudar na Europa. Foram trazidas novas tecnologias construtivas e agrícolas; e bens de consumo como roupas e elementos decorativos. Se compararmos São Paulo com Rio de Janeiro e Salvador, ela era muito atrasada, pois estas foram cidades que receberam a família real e eram carregadas de influências europeias. O paulista até então não conhecia aquele tipo de arquitetura refinada do império. Nessa época, apareceram pelo interior do estado casas de fazenda enormes, com plantas diversas - umas racionalmente pensadas para melhor atender às funções de produtor de café e outras romanticamente imaginadas como palácios franceses rodeados de jardins. Porém em alguns aspectos as casas se mantiveram conservadoras: a taipa como técnica construtiva e a varanda como centro de interesse do lar. Com a facilidade de mobilidade trazida pela ferrovia, os fazendeiros passaram a residir na cidade de São Paulo e continuar em contato com suas fazendas. E nessas casas urbanas é que os fazendeiros investiam na inovação, contratando arquitetos estrangeiros que adotavam novas técnicas construtivas e decoravam as fachadas com estuques e temas ecléticos.


Exemplo de planta de uma casa-sede de uma fazenda de cana-de-açúcar. Sede da antiga Fazenda Passa Três. Construção em taipa de pilão, talvez datada do final do século XVIII

Desde essa época a sede da fazenda foi perdendo sua função de centro produtor e administrativo. A cada evolução tecnológica de comunicação e transporte, a presença do proprietário na fazenda foi tornando-se menos necessária. Hoje, a grande maioria os fazendeiros mora em cidades - onde podem desfrutar de comodidades e serviços urbanos como escolas para seus filhos, hospitais, comércio e lazer - e as visitas à propriedade são apenas periódicas, pois a administração se faz à distância por escritórios localizados nas cidades. As casas-sede das fazendas próximas às cidades onde moram seus proprietários passaram a ser um lugar onde levam suas famílias e amigos para passar o final de semana. Um lugar que ainda conserva algum caráter administrativo, porém a maior parte da casa destina-se a receber e ao lazer. A fazenda Boa Esperança e o método A sede da fazenda Boa Esperança foi projetada para uma família grande - uma senhora com quatro filhos e 5 netos. Apesar de considerar uma situação real como ponto de partida, houve a preocupação de fazer com que o projeto fosse uma experimentação arquitetônica compatível com um trabalho de conclusão de curso. O trabalho começou com um estudo preliminar que permitiu entender melhor o programa a ser atendido e dois aspectos importantes do projeto de uma casa de fazenda: o domínio das visuais e a relação entre interior e exterior. Como o terreno é muito vasto e o horizonte pode ser visto de todos os lados, torna-se necessário dominar as visuais, bloqueando, conduzindo ou emoldurando a paisagem natural. Em contrapartida, esse ambiente rural, somado ao clima quente, permite explorar uma relação mais intensa entre interior e exterior. Seguindo os estudos, foram tomados como referência cinco casas e

livros que abordam o método projetual de residências e a história das residências paulistas. As casas escolhidas como referência foram objeto de estudos gráficos que auxiliaram a compreensão dos artifícios de domínio das visuais, organizações funcionais, tipos de circulações, relações entre diferentes cotas de pisos, percursos e volumetria. Com base no que foi estudado, o primeiro estudo preliminar foi revisto, mas o partido principal foi mantido. Permaneceram a divisão em blocos funcionais e a circulação em um grande eixo leste-oeste, mas praticamente todo o projeto foi repensado. Para condizer com o novo tipo de cobertura escolhida, os ambientes e volumes da casa foram reorganizados seguindo uma modulação que permitisse o uso de componentes estruturais de padrão comercial. Definido o desenho arquitetônico, fez-se necessário um projeto paisagístico que definisse o fim da área ajardinada, o acesso dos carros e o traçado da estrada que liga a casa à estrada principal. Através do paisagismo foi criado o cenário de aproximação da casa e a transição entre o terreno de pastagem e o domínio da sede, tornando assim palpável em completa a inserção do projeto arquitetônico no terreno. Como produto final principal desse trabalho, procurei alcançar desenhos que representassem estrutura, partido arquitetônico, paisagismo e a inserção da casa na propriedade. As maquetes física e eletrônica foram produtos que julguei necessários para melhor ilustrar o projeto. A primeira, permitiu visualizar melhor a estrutura, ospergolados e a percepção do observador dentro da edificação; a segunda, compreender a insolação e a volumetria geral da edificação.


Estudos de referência Como já foi dito anteriormente, depois de definido o partido, elegi cinco casas que tinham semelhanças com minhas diretrizes de projeto. Elas foram objeto de um estudo baseado na observação de suas fotos e plantas para melhor entendimento dos aspectos que criavam os efeitos que também buscava em meu projeto. As plantas foram base para estudos gráficos com quatro temas: cobertura, piso, uso e vedos. O objetivo é de que as variadas combinações dos estudos gráficos podem oferecer informações mais claras sobre a obra: a sobreposição dos gráficos de piso e cobertura dão uma melhor ideia da transição entre paisagem e volume da edificação; o gráfico de vedos identifica os eixos visuais, a combinação do dado dos eixos visuais, coberturas e piso ilustram o percurso e emolduração do olhar. O resultado foi, para mim, bastante surpreendente, pois pude visualizar com clareza e organizadamente as qualidades das obras de referência. Casa Bailey, Pierre Koening


CSH no 21 - Casa Bailey Pierre Koening

Los Angeles, CA, Estados Unidos - 1958/60

As case study houses foram produto de uma promoção da revista “Arts & Architecture“ iniciada em 1945 que por 19 anos convidou arquitetos de todo o mundo para construir e projetar 36 obras de moradia que demonstrassem as possibilidades de fazer casas com padrões de industrialização e estética modernos. A Casa Bailey foi criada para um casal sem filhos e os materiais mais utilizados foram vidro e aço. A cobertura, a estrutura e as paredes são de aço e o vidro foi utilizado nas portas e alguns fechamentos periféricos. Possui espelho d’água com sistema de bombas para reciclagem da água que circunda quase toda a edificação. O que mais chamou a atenção nessa casa foram a transparência e a relação entre os pisos e a superfície da água.

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3 Fotos 1. fachada oeste, entrada principal 2. relações de pisos e superfície da água e eixo visual que atravessa a casa 3. croqui, relação entre as diferentes cotas de piso e o terreno. 4. cozinha

Legenda da planta 1. garagem 2. cozinha / copa 3. estar 4. banheiro 5. dormitório 6. pátio e área técnica 7. varanda descoberta 4

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A análise ajudou a perceber como que os pisos descobertos são importantes para criar o espaço externo e parecem aumentar a casa. O fato de existirem dois eixos de visão internos à casa, em sua maior dimensão, também contribui para esse efeito. A relação de sobreposição dos planos de pisos e da água é muito interessante, principalmente no eixo visual leste-oeste mais a norte, que atravessa a entrada da casa.

1 Legenda esquema 1 - coberturas coberto e fechado coberto cobertura permeável

2 Legenda esquema 2 - pisos piso elevado piso na cota do terreno água (abaixo da cota do terreno)

3 Legenda esquema 3 - usos serviço íntimo estar circulação

4 Legenda esquema 4 - vedos envoltórios e eixos visuais opaco semitransparente transparente eixos visuais


CSH no 17 - Casa Hoffman Craig Ellwood

Fotos 1. fachada norte, entrada principal 2. piscina (não aparece na planta) 3. fachada norte e leste, Garagem 4. piscina e bloco dos quartos. 5. caixilhos do bloco social 6. entrada social principal.

Beverly Hills, CA, Estados Unidos - 1954/55 Foi criada para uma família com quatro filhos e é a maior das case study houses, com o dobro da área da maioria. Infelizmente as fotos disponíveis são poucas, pois seus proprietários logo a reformaram e a transformaram numa casa de estilo neoclássico. O estudo gráfico de pisos não foi feito nesse caso por falta de dados. Os motivos da escolha dessa casa foram a divisão funcional em blocos e o número de quartos.

Legenda da planta 1. hall de entrada 2. dormitório 3. banheiro 4. escritório 5. estar 6. jantar 7. cozinha 8. jogos 9. serviço

10. garagem 11. atelier 12. dependências dos empregados

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Assim como na Casa Bailey, um eixo visual é criado no acesso princial da casa (foto 6). Os ambientes sociais e as vistas das circulações são orientados para a piscina (fotos 2 e 5). Os quartos se abrem para a direção oposta da piscina e o quarto principal se abre para um espaço controlado visualmente por paredes. Prolongamentos de cobertura configuram o estar externo e protegem da incidência solar a sul, direção de maior luminância, já que acasa se localiza no hemisfério norte.

1 Legenda esquema 1 - coberturas coberto e fechado coberto cobertura permeável

2 Legenda esquema 2 - usos serviço íntimo estar circulação

3 Legenda esquema 3 - vedos envoltórios e eixos visuais opaco semitransparente transparente eixos visuais


Fachada noroeste com vista para o jardim.

Casa no Jardim Guedala Oswaldo Arthur Bratke São Paulo, SP, Brasil - 1958/60

Segundo Marlene Acayaba, a organização funcional da casa baseia -se no conceito de planta binuclear house de Marcel Breuer. Agrupa as atividades domésticas em setores de uso noturno e diurno, separando em dois blocos funcionais unidos por um elemento de circulação. Além disso, a volumetria, o ritmo dos apoios, a diversidade de vedos e de pisos externos de diferentes cotas e a maneira como a casa toca o chão foram os motivos que me levaram a escolhê-la como referência.


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4 Fotos 1. bloco dos dormitórios 2. esquadrias dos quartos 3. pátio norte 4. varanda 5. hall de entrada/núcleo de circulação 6. pátio de acesso, painel de Arnaldo Pedroso *

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* Na foto 6 observa-se que existe um espelho d’água que não está desenhado na planta.

Legenda da planta 1. pátio de acesso 2. hall de entrada/núcleo de circulação 3. quarto 4. rouparia 5. sanitário 6. quarto de vestir 7. toucador 8. escritório 9. copa 10. estufa 11. despensa

12. cozinha 13. estar 14. jantar 15. varanda 16. garagem 17. sala de ginástica/ brinquedos 18. depósito 19. lavandeira 20. dependências de empregados 21. churrasqueira


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A variedade de coberturas e de pisos no pátio de acesso e no pátio voltado para o jardim, somado às paredes de elemento vazado do núcleo de circulação configuram um rico eixo visual em direção ao jardim. Da mesma maneira que a CassaHoffman, os ambientes sociais e o quarto principal são voltados para a direção de melhor insolação (norte) e os outros dormitórios são voltados para leste. Legenda esquema 1 - coberturas coberto e fechado coberto pergolado Legenda esquema 2 - pisos piso elevado mais alto piso elevado piso na cota do terreno espelho d’água Legenda esquema 3 - usos serviço íntimo estar circulação

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Legenda esquema 4 - vedos envoltórios e eixos visuais opaco semitransparente transparente eixos visuais


Casa na praia de Pernambuco Oswaldo Arthur Bratke Guarujá, SP, Brasil - 1988/90

Fachada posterior, com vista para o campo de golfe.

Além da imediata admiração pelo projeto, o fato de ser uma casa de lazer e não uma casa de morada foi fator determinante para escolher essa casa como referência. “Neste projeto o arquiteto evidencia a distinção entre moradia - que deve ser planejada como lugar que traduz a personalidade, os sentimentos e a vida da família que nela habita - e a casa de férias - local para descanso, divertimento, para receber visitas. Essas considerações foram levadas às últimas consequências no caráter atribuído aos espaços dessa obra” - Hugo Segawa.


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Legenda da planta do térreo 1. hall de entrada 2. copa 3. despensa 4. cozinha 5. dependência de empregados 6. sanitário 7. estar

8. jantar 9. pátio 10. varanda 11. bar 12. piscina 13. dormitório 14. quarto de vestir

Legenda da planta do pavimento inferior 1. acesso social 2. garagem 3. dependência de empregados 4. sanitário 5. estar 6. copa/cozinha

7. pátio 8. área técnica 9. casa de máquinas da piscina 10. piscina


Térreo

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No croqui de número 5 podemos ver como os fechamentos de madeira e vidro valorizam a continuidade visual dos ambientes sociais e a relação com a paisagem. O uso do pergolado como elemento de proteção solar dos dormitórios pode ser observado no croqui de número 7 e foto 2.

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Térreo

Da mesma forma que na Hoffman House e na Casa do Jardim Guedala os eixos visuais doas ambientes socais são unidirecionais, para a paisagem. A fachada da entrada é bem cega e somente quando chega à porta de entrada, o visitante é apresentado à vista. Os fechamentos transparentes garantem a continuidade visual desde o acesso social e a sala de jantar, porém a privacidade pode ser controlada por portas de madeira de correr localizadas na varanda. Legenda esquema 1 - coberturas coberto e fechado coberto pergolado Legenda esquema 2 - pisos piso elevado piso na cota do terreno Legenda esquema 3 - usos serviço íntimo estar circulação Legenda esquema 4 - vedos envoltórios e eixos visuais opaco veneziana transparente eixos visuais


Sede da Fazenda Água Comprida Eduardo de Almeida

Água Comprida, MG, Brasil - 1998 Essa é a casa de referência que mais se aproxima do meu programa de necessidades. Além de ser também uma sede de fazenda, possui 5 suítes e é divida em blocos funcionais. Apesar de ter consultado outras obras com uso da cobertura de telha, das referências de estudo gráfico essa é a única que adota essa solução. Algo importante que compreendi com essa referência foi a necessidade de controlar a aproximação do visitante, planejar o trajeto do carro e controlar suas visuais.


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Pela implantação não identificamos de que direção da estrada chegam os carros, mas as vistas são controladas por muros que circundam a casa a norte, leste e oeste. O acesso dos carros é feito por um portão próximo da casa do caseiro e por trás da casa, que bloqueia a vista. A casa é dividida em blocos funcionais que se organizam em volta de um pátio. Esse pátio funciona como núcleo de circulação principal e dele podese observar a vista a sul, através do bloco social.

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Os quartos são orientados para leste, mas o quarto principal para sul. Apesar de sua privacidade ser concedida por paredes envoltórias, o cômodo é elevado e as paredes não bloqueiam a vista. A casa dispõe de generosas extensões de pisos descobertos e áreas avarandadas que servem para estar e circulação. As circulações entre blocos são exteriorizadas, porém cobertas, mesmo no caso da conexão entre cozinha e sala de jantar. Legenda esquema 1 - coberturas coberto e fechado coberto pergolado

Legenda esquema 2 - pisos piso cota mais alta piso cota média piso cota mais baixa Legenda esquema 3 - usos serviço íntimo estar circulação

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Legenda esquema 4 - vedos envoltórios e eixos visuais opaco semitransparente transparente eixos visuais


Localização

Sede da fazenda Boa Esperança Guaraçaí, SP, Brasil

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A fazenda localiza-se a 6 km do município de Guaraçaí no noroeste do estado de São Paulo, a 616 km da capital. Sua população atual é de 8.435 habitantes. A temperatura da região é bastante quente, e não varia muito durante o ano. Tem temperaturas máximas médias de 30oC no verão e 25oC no inverno, médias de 25oC no verão e 20oC no inverno. Sua economia baseia-se, principalmente no cultivo de cana-de-açúcar e na criação de gado bovino.

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A área aproximada de implantação (ponto de número 3) já foi definida pela proprietária. Situa-se no ponto mais alto da propriedade, próximo da estrada de terra que vem da cidade. O terreno é pouco inclinado e uso da terra naquele local é de pasto para criação de gado. O descampado colabora para ampliar a vista para as reservas de mata do Córrego do Ipê a norte e oeste e as luzes da cidade a leste. As reservas, em sua maior parte, ainda estão em estágio de regeneração inicial.

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Fotos 1. Casa do caseiro existente. Está bastante precária e para o projeto, foi considerada demolida. 2. Tirada da estrada de terra de acesso. A vista para a área da casa é bloqueada por um talude.

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3. Tirada da área definida para a implantação da casa, na direção da vista a ser privilegiada no

projeto. A foto panorâmica permite observar de sudoeste a nordeste. A estrada de terra retratada não é a mesma que está representada no mapa. O cultivo de cana na foto será substituído por pasto. 4. O talude da estrada que liga a propriedade a Guaraçaí.


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Implantação

Sede da fazenda Boa Esperança Guaraçaí, SP, Brasil

A casa foi orientada para norte, privilegiando a vista de maior profundidade e melhor insolação.

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A estrada de terra de acesso foi desenhada perpendicularmente à estrada que vem da cidade. O trecho retilíneo tem 220 metros e é ladeado por eucaliptos plantados a cada 10 m. A curva tem raio de 42 metros e é ladeada por bambus. O acesso à sede é feito por uma porteira de fácil acesso ao caseiro. Para sua família, está prevista uma casa de 100 m2 com garagem coberta.

Legenda 1. alameda de eucaliptos 2. alameda de bambus 3. casa do caseiro 4. sede


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3 Fotos: 1. Maquete física, vista da direção noroeste, iluminada segundo a orientação real do projeto e simulando o sol da tarde. 2. Fachada leste do bloco dos domitórios, iluminada segundo a orientação real do projeto,

simulando o sol da manhã. 3. A casa vista do sudoeste, da direção de onde se aproximam os carros. O primeiro volume corresponde ao bloco social; o segundo, serviço e garagem coberta e o mais ao fundo, os dormitórios.

Partido arquitetônico Sede da fazenda Boa Esperança Guaraçaí, SP, Brasil

Atendendo a um extenso programa de necessidades de uma família formada por uma senhora com quatro filhos e cinco netos, a casa desenvolve-se em ao longo de um grande eixo de circulação que une os blocos nos quais a casa foi dividida. Ao elaborar o programa de necessidades, foram considerados aspectos dos costumes da família, como o gosto por recepções familiares e a indispensável sala de TV. A proprietária também demonstrou a vontade de fazer os dormitórios separados da casa, usar cobertura de telha e optar por materiais simples, condizentes com a situação rural da casa. Apesar de considerar essa situação como ponto de partida, procurei focar o projeto em uma experimentação arquitetônica compatível com um trabalho de conclusão de curso, não impondo maiores limitações. As grandes preocupações do projeto foram a clareza do raciocínio estrutural, a horizontalidade, a divisão em blocos funcionais (social, serviço e íntimo) e o controle das vistas e da insolação. A entrada de luz direta nos ambientes é indesejada, pois o clima é muito quente e o sol, intenso. Isso foi resolvido mantendo as fachadas leste e oeste

com poucas aberturas, orientando a casa para norte e protegendo as aberturas com varandas. A casa se espalha no terreno, buscando uma intensa interação entre ambiente externo e interno com circulações exteriorizadas, pisos que avançam sobre o terreno e ambientes apenas cobertos e abertos para as vistas que queria privilegiar, norte (na direção do vale) e oeste (na direção em que a reserva está mais próxima). O grande eixo leste-oeste conecta todos os blocos, orientados a norte. É a circulação principal, coberta, porém externa, bem marcada pelo piso de deck de madeira. Libera o eixo visual que expõe a maior dimensão da casa e as vistas para leste e oeste. A maior parte da cobertura é de telha colonial com inclinação de 20o sem calhas suspensas. A água da chuva cai até o chão, onde são recebidas por uma canaleta de concreto que possuem uma grelha recoberta de seixo. A água recolhida segue para um sistema de armazenamento para posterior uso de irrigação do jardim.

A outra solução utilizada para a cobertura foi uma longa laje jardim que recobre o eixo de circulação leste-oeste. A laje de concreto foi uma solução adotada para conciliar as diferenças de alturas das tesouras. Já a opção por sua cobertura com um jardim teve como finalidade aumentar a inércia térmica da estrutura, evitando grandes dilatações do concreto devido à insolação constante durante todo o dia, além de consequentes fissuras e infiltrações. A aproximação dos automóveis é pelo sul, atrás da casa, assim a vista principal é bloqueada pelo volume. A intenção é revelar a vista depois que se desce do carro e se entra na casa. Da garagem coberta há um acesso direto para a cozinha ou pode-se entrar pelo acesso social principal. Sua entrada é marcada por um grande pergolado de concreto e configura um eixo visual em direção a norte. Ao entrar pelo pergolado, o olhar é conduzido a cruzar com o eixo leste-oeste, passar pelos pisos ao ar livre, pela piscina e finalmente até a paisagem. O cruzamento entre eixos foi desejado para que o usuário, daquele ponto, possa ter grandes profundidades de visão nas quatro


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2 Fotos: 1. Simulação eletrônica do eixo norte-sul da entrada social principal. 2. Bloco dos dormitórios visto do norte. Vista da varanda da churrasqueira, na direção

direções e dali possa apreender a paisagem. No bloco de serviço está a cozinha integrada com uma copa para refeições mais práticas e informais, uma despensa de mantimentos e as dependências de empregados, orientados para leste. São destinadas para empregados que casualmente se hospedem na casa, como babás, cozinheiras e motoristas. Seus dormitórios possuem portas-balcão que se abrem para a horta, onde se configura o estar dos empregados, com sombra e bancos de concreto. Os canteiros periféricos seriam para cultivo de trepadeiras, como o maracujá; e os centrais, para hortaliças e temperos. O depósito de jardinagem está posicionado para bloquear a visão da entrada de carros em direção à horta. Ele destina-se a guardar objetos de manutenção dos jardins e da casa, como escadas e cortador de grama. O bloco social pode-se dizer que é dividido em uso “interno” e “externo”. A sul, ficam os usos “internos”: sala de TV, sala de estar e jantar, escritório e um lavabo. Para norte, estão os usos “externos“: varanda da churrasqueira, piscina, sauna e vestiários.

nordeste. 3. Vista da varanda da churrasqueira, na direção nordeste. 4. Perspectiva interna da sala de estar e jantar.

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Um lago ornamental de concreto armado ajuda a refrescar os ambientes “internos”. Ele termina numa parede de elemento vazado, cujo desenho tem inspiração no muxarabi árabe. Essa parede tem a função de dar privacidade em relação à alameda de entrada dos carros, porém não bloquear totalmente a visão. O encontro do plano da água com a parede de elemento vazado foi resolvido com um desenho de canaleta periférica de fluxo contínuo que funciona como ladrão, mantendo o nível da água na mesma cota do piso da casa.

Na chegada dos cavalos existe uma plataforma de cimento com torneiras e um depósito das selas pessoais da família. A área de serviço foi localizada ali, como apoio da chegada das cavalgadas e da churrasqueira. No caso da casa da fazenda, a área de serviço não funciona para lavar as roupas diárias, é muito mais para a limpeza pesada de utensílios e para a lavagem e secagem das roupas de cama. Assim, a lavanderia foi localizada nesse ponto, orientada a oeste, ao invés de próximo da cozinha.

A sala de estar e jantar dispõe de basculantes opacos (pois recebem o sol direto do norte) acima da viga jardim para criar circulação de ar de efeito chaminé. As portas de vidro de correr integram o ambiente com o lago ornamental e a varanda da churrasqueira. Elas valorizam a continuidade espacial das áreas sociais e permitem que desde a piscina se veja a parede de elementos vazados, garantindo um rico eixo visual.

No mesmo bloco ficam os cômodos de apoio à piscina e churrasqueira. Ali estão banheiros, sauna, depósito de brinquedos, depósito de mantimentos e louças da churrasqueira e o nicho para geladeira e freezer. Esse bloco de apoio foi localizado a oeste, protegendo o ambiente da churrasqueira do sol da tarde. A varanda da churrasqueira certamente será o lugar mais movimentado da casa nas atividades de lazer e recepção, por isso esses cômodos de apoio foram considerados importantes, pois garantem sua independência funcional.

O escritório fica perto da chegada dos cavalos e tem acesso independente para receber as visitas de negócios sem interferir na privacidade da casa.

Assim como a sala de estar e jantar, a varanda tem basculantes altos


Nessa simulação eletrônica, percebe-se que da área da piscina é possível visualizar a parede de elemento vazado que encerra o espelho d’água, o que confirma a continuidade visual dos ambientes sociais.

(aqui de vidro) para criar a circulação de ar de efeito chaminé. A cobertura da varanda se prolonga 1,25 metros em relação ao final do seu piso. Isso garante sombra total o dia todo em toda a varanda. O pergolado projeta uma sombra parcial nos limites da varanda, colaborando para refrescar ainda mais o ambiente. A piscina, de concreto armado, também tem a mesma solução da canaleta do espelho d’água. Tem uma borda inclinada de 50 centímetros, uma raia de 15 metros e patamares de diferentes profundidades. Próximo da piscina está o espaço de piso de cimento reservado para montar fogueiras. A leste, o bloco dos dormitórios é elevado 30 centímetros do chão e sua base recuada dá a impressão de que ele flutua sobre o terreno. Tendo em mente que o número de frequentadores de uma casa de férias é variável, foi considerada a folga necessária no tamanho dos dormitórios. Cada suíte dispõe de uma pequena varanda dimensionada para proteger a incidência do sol direto dentro dos dormitórios. O prolongamento das paredes divisórias dos quartos, além de serem anteparo dos raios solares também dão privacidade em relação à área de lazer ou acesso de carros. Entre os quartos há uma varanda coberta que permite a entrada de luz no eixo de circulação e confere a ele mais relação com a paisagem, já que nesse bloco a circulação é quase totalmente interiorizada. Nessa varanda estão dispostas redes para descanso e contemplação do jardim. Para conceder mais privacidade aos banheiros, foi projetado um suporte para trepadeiras confeccionado de placas de aço Corten perfuradas que encerram um pequeno jardim acessível por uma porta de vidro temperado que fecha o box. A casa tem 508 m2 de área útil, 498 m2 de áreas avarandadas (terraços cobertos, garagem coberta e projeções da cobertura), 140 m2 da piscina e do espelho d’água e 336 m2 de pisos descobertos, totalizando 1482 m2 de área construída.


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Planta

Sede da fazenda Boa Esperança Guaraçaí, SP, Brasil

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Legenda 1. garagem descoberta 2. garagem coberta 3. cozinha e copa 4. despensa 5. dormitório de serviço 6. horta 7. depósito de jardinagem 8. acesso principal 9. sala de estar e jantar 10. sala de TV 11. escritório 12. varanda da churrasqueira

13. depósito de louças e despensa 14. depósito de brinquedos 15. depósito de selas 16. chegada dos cavalos 17. área de serviço 18. sauna 19. suíte dos filhos 20. redário 21. suíte das crianças 22. suíte principal 0

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Estrutura

rufo

Sede da fazenda Boa Esperança

telhas

Guaraçaí, SP, Brasil

ripa caibro

A cobertura da casa será de telhado de telha colonial de uma água em estrutura de madeira Pinus caribea. Serão utilizadas meias tesouras tipo Howe, com componentes de seção 12 x 6 centímetros e ligações dos nós com chapas de aço aparente. Entre as tesouras não foi necessário contraventamento, pois há um fechamento de alvenaria até o topo.

subcobertura forro de madeira terça chapa de aço

Vista de uma tesoura escala 1:50

Em cumprimento à Norma Brasileira NBR 7190, as tesouras terão espaçamento de 3 metros e inclinação de 20° e são apoiadas em vigas transversais de concreto (eixos A, B, C1, D1, E1, F1 e G1) que são apoiadas sobre pilares internos à alvenaria ou sobre colunas aparentes de 24 cm de diâmetro, dispostos a cada 6 metros (eixos numéricos). A modulação da planta cria situações nas quais as tesouras podem ser substituídas por paredes de alvenaria estrutural do chão até a cobertura (eixos 1, 5, 10, 11, 12, 13, 14 e 15). O conjunto da estrutura foi pensado para que as peças da tesoura e da trama do telhado fossem de dimensões comerciais. O espaçamento entre tesouras é de 3 metros o que possibilita o uso de terças de seção 12 x 6 centímetros. O espaçamento máximo entre elas é de 1,6 metros, o que possibilita o uso de caibros de 5 x 6 centímetros (que podem ser usados para espaçamento entre terças de até 2 metros). Para esse tipo de telha o espaçamento das ripas é de 46 centímetros e entre caibros de no máximo 50 centímetros. Para melhor conforto térmico, foram escolhidas telhas cerâmicas do tipo colonial, com subcobertura fixada entre os caibros e as terças. Nos ambientes maiores (cozinha e copa; sala de estar e jantar; varanda da churrasqueira), o forro é aplicado entre a subcobertura e as terças, deixando as terças e tesouras aparentes. Nos demais, o forro fica por baixo da tesoura, deixando a proporção entre área e pé direito mais agradável.

vegetação

rufo

A laje jardim que se desenvolve ao longo do eixo leste-oeste é sustentada por vigas e pilares de concreto. A impermeabilização é feita também nas vigas, seguindo até dentro do rufo para evitar a entrada da água da chuva entre a camada impermeabilizadora e o concreto. A drenagem do jardim é feita através de uma manta geodrenante, que não permite que a terra acompanhe a água, que segue para uma camada de brita e por drenos de tubulação de 2 polegadas.

argila expandida

terra manta geodrenante brita impermeabiliização e argamassa de regularização laje viga forro para acomodar iluminação

Corte da laje jardim escala 1:10


Os eixos numéricos são os apoios. Os eixos A e B são das únicas vigas primárias de concreto que atravessam a casa toda. Os eixos de letras acompanhadas do número 1 são vigas primárias de concreto que apoiam as tesouras. Os de letras com o número 2 são vigas primárias de madeira que apoiam as extensões das tesouras (beirais longos) e os pergolados. O único eixo de número 3 é de vigas primárias de madeira que só servem às vigas secundárias dos pergolados.

Estrutura

Sede da fazenda Boa Esperança Guaraçaí, SP, Brasil

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Corte A

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Corte B

A

B

Legenda 1. espelho d’água 2. escritório 3. eixo de circulação 4. depósito de selas 5. banheiro 6. fogueira 7. sala de estar 8. varanda da churrasqueira 9. deck 10. piscina

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Cortes A e B

Sede da fazenda Boa Esperança Guaraçaí, SP, Brasil

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Corte C

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Corte D

C

D

Legenda 1. acesso social principal 2. eixo de circulação 3. piscina 4. garagem coberta 5. cozinha

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Cortes C e D

Sede da fazenda Boa Esperança Guaraçaí, SP, Brasil

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Corte E

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Corte F

E

F

Legenda 1. depósito de jardinagem 2. horta 3. eixo de circulação 4. dormitório das crianças 5. dormitório dos filhos

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Cortes E e F

Sede da fazenda Boa Esperança Guaraçaí, SP, Brasil

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Corte G

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Corte H

G H

Legenda 1. jardim privativo do banheiro 2. banheiro da suíte principal 3. eixo de circulação 4. varanda das redes 5. dormitório da suíte principal 6. banheiro de uma das suítes dos filhos

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Cortes G e H

Sede da fazenda Boa Esperança Guaraçaí, SP, Brasil

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Elevação 1 - Oeste

Elevação 2 - Leste

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Elevações leste e oeste Sede da fazenda Boa Esperança Guaraçaí, SP, Brasil


Corte I

Corte J

I 0

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Cortes I e J

Sede da fazenda Boa Esperança Guaraçaí, SP, Brasil

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Paineira-rosa – Ceiba speciosa Altura: acima de 12 metros Luminosidade: Sol Pleno Floração: março - maio

Jerivá (palmeira) – Syagrus romanzoffiana Altura: 6.0 a 9.0 metros, 9.0 a 12 metros, acima de 12 metros Luminosidade: Meia Sombra, Sol Pleno Pllantas palustres: Gengibre-branco – Hedychium coronarium Papiro-brasileiro – Cyperus giganteus Altura: 1.2 metro Luminosidade: Sol Pleno

Pau-ferro – Caesalpinia ferrea Altura: acima de 12 metros Luminosidade: Sol Pleno Floração: insignificante

Flamboyant – Delonix regia Altura: 6.0 a 9.0 metros, 9.0 a 12 metros Luminosidade: Sol Pleno Floração: outubro - dezembro

Ninféia-azul – Nymphaea caerulea Altura: 0.1 a 0.3 metros, menos de 15 cm Luminosidade: Sol Pleno

Ipê-amarelo-do-cerrado - Tabebuia ochracea Altura: 6 a 14 m Luminosidade: Sol Pleno Floração: julho - agosto

Paisagismo

Sede da fazenda Boa Esperança Piso cimentício com agregado pequeno e aparente

Cimento

Pedrisco ou seixo

Argila expandida

Guaraçaí, SP, Brasil

O grande descampado do pasto e a quase inexistência de referências espacias faz com que o paisagismo seja fundamental no projeto. Ele define o domínio da casa em relação à paisagem e cria pontos e planos de referência visual. Em todo o jardim, as árvores que dão flores foram escolhidas de acordo com a cor e época de floração, para que as floradas se alternem ao longo do ano. As árvores foram dispostas em linhas para criar planos visuais e as mais ornamentais isoladas, criando pontos focais. Os flamboyants estão posicionados para funcionar como ponto focal da vista dos quartos voltados para norte e a paineira do bloco social. Na alameda de acesso dos carros resedás rosa e ipês amarelos revezam as florações. O pomar e forrações compõem o jardim a sul do dormitórios.

Plantas flutuantes Aguapé – Eichhornia crassipes Alface-d’água – Pistia stratiotes Altura: 0.1 a 0.3 metros/menos de 15 cm Luminosidade: Sol Pleno

As palmeiras e os paus-ferros estão na frente da paisagem, porém não bloqueiam a vista por terem caules altos. Os paus-ferros junto com uma massa de arbustos também têm a função de bloquear parcialmente a visão da linha de transmissão.

Bambu Guadua - Guadua angustifolia

O lago ornamental tem profundidade de 60 centímetros, suficiente para receber vasos de ninfeias, que exigem mais profundidade - 30 centímetros para o vaso e mais de 20 a 30 centímetros de água. No lago também existem plantas flutuantes, que não precisam de substrato.

Arbusto médio Altura: 1.2 metros Ipê-roxo – Tabebuia impetiginosa Altura: 6.0 a 9.0 metros Luminosidade: Sol Pleno Floração: junho

Deck de madeira

Evólvulo – Evolvulus glomeratus Flor-de-coral – Russelia equisetiformis e equivalentes Altura: 0.1 a 0.3 metros Luminosidade: Meia Sombra, Sol Pleno Forrações de sol pleno Grama-amendoim – Arachis repens Vinca – Catharanthus roseus

Resedá – Lagerstroemia indica Altura: 3.6 a 4.7 metros, 4.7 a 6.0 metros, 6.0 a 9.0 metros Luminosidade: Sol Pleno Floração: novembro - março

Forrações de meia sombra Dinheiro-em-penca – Callisia repens Liríope – Liriope spicata Singônio – Syngonium angustatum Lambari – Tradescantia zebrina

Árvores frutíferas jabuticaba, pitanga, acerola, carambola, amora.

Grama-esmeralda – Zoysia japonica Altura: menos de 15 cm Luminosidade: Sol Pleno

Sobre a laje jardim, evólvulo e flor-de-coral são plantadas nas periferias para que fiquem pendentes. Na varanda da churrasqueira o fechamento em vidro possibilita a visão dos arbustos sobre a laje. As forrações foram colocadas para limitar os espaços “pisáveis” e demarcam o fim do terreno e as saídas para as trilhas. O grande gramado oferece espaço para as crianças brincarem. Existem 3 pergolados: o do acesso principal da casa, que é de concreto com ripas de madeira; o da varanda da churrasqueira e o do redário, ambos de estrutura de madeira para suporte de uma tela eletro fundida que servirá de suporte para as trepadeiras. Os fechamentos que dão privacidade aos banheiros são um suporte para trepadeiras de chapas perfuradas de aço patinável (ou Corten).


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pergolado de madeira canaleta suporte de aço Corten canaleta

pergolado de madeira canaleta

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canaleta

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5 pergolado de concreto e madeira

canaleta

suporte de aço corten canaleta

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canaleta

canaleta

suporte de aço Corten

parede de cobogós

Legenda 1. portão de acesso 2. casa do caseiro 3. garagem descoberta 4. garagem coberta 5. bloco de serviço 6. acesso social 7. bloco social 8. lago ornamental 9. varanda da churrasqueira 10. chegada dos cavalos 11. fogueira 12. piscina 13. horta 14. pomar 15. bloco de dormitórios dreno da laje jardim

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Paisagismo e cobertura Sede da fazenda Boa Esperança Guaraçaí, SP, Brasil

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Paisagismo

Sede da fazenda Boa Esperança Guaraçaí, SP, Brasil

Como complemento do plano paisagístico, foram desenhadas trilhas de até o lago. São trilhas para um passeio a cavalo ou caminhada. Legenda 1. percurso: 1700 metros 2. percurso: 1064 metros 3. percurso: 623 metros 4. percurso: 823 metros

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Epílogo Foi grande a satisfação de realizar e concluir esse trabalho. Estudar casas extraordiárias e projetar para uma situação que me remete a minha memória, minhas origens e meus sonhos de infância foi muito prazeroso. Ao programa de necessidades, associei minhas lembranças de cavalgadas, passeios perdidos pelos bosques, corridas de bicicleta e fogueiras. Voltei às tardes ensolaradas e preguiçosas com os amigos, nas quais a única preocupação era não perder o momento do pôr-do-sol. Além disso, basear meu projeto numa família real, pela qual tenho muito carinho, e criar uma casa que possa potencializar seus momentos de alegria e descontração foi um início de trabalho muito motivador. A liberdade projetual criada pelo entorno permitiu que me deixasse levar pela paisagem, espalhar a edificação pelo terreno, idealizar uma casa fresca, arejada e em franco contato com a vegetação. Criar um lugar para receber os queridos, passar momentos felizes e esquecer-se dos problemas certamente foi uma maneira bonita de concluir meus anos na FAU. Agradecimentos A Artur, meu orientador, por todos os conselhos. Aos professores José Borelli e Fábio Mariz, pelas respostas. A Otto, Seiko e Sayuri, pelo auxílio e compreensão. E ao meu pai, por tudo.


Bibliografia ACAYABA, Marlene Milan. Residências em São Paulo 1947-1975. São Paulo, Romano Guerra Editora, 2011. ALMEIDA, Eduardo de. Arquiteto Brasileiro Contemporâneo. São Paulo: Romano Guerra Editora, 2006. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 7190: Projeto de estruturas de madeira. Rio de Janeiro: ABNT, 1997. LEMOS, Carlos A. C. Cozinhas, etc: Um estudo sobre as zonas de serviço da Casa Paulista. São Paulo: Editora Perspectiva S. A., 1976. REBELLO, Yopanan C. P. A Concepção Estrutural e a Arquitetura. São Paulo, Zigurate Editora, 2006. SEGAWA, Hugo; DOURADO, Guilherme Mazza. Oswaldo Arthur Bratke A Arte de Bem Projetar e Construir. São Paulo: PW Editores, 2012. SMITH, Elizabeth A.T. Case Study Houses. Koln, Taschen GmbH, 2009.


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