ARQUITETURA EVOLUTIVA: PROJETO PARA UMA AGROINDÚSTRIA DO CAFÉ
NATIELE DALBÓ
UNIVERSIDADE VILA VELHA CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO
NATIELE DALBÓ
ARQUITETURA EVOLUTIVA: PROJETO PARA UMA AGROINDÚSTRIA DO CAFÉ
VILA VELHA 2019
NATIELE DALBÓ
ARQUITETURA EVOLUTIVA: PROJETO PARA UMA AGROINDÚSTRIA DO CAFÉ
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Vila Velha, como pré-requisito do curso de graduação em Arquitetura e Urbanismo, para obtenção do grau de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo.
Orientador: Prof. Msc. Geraldo Benicio da Fonseca.
VILA VELHA 2019
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NATIELE DALBÓ
ARQUITETURA EVOLUTIVA: PROJETO PARA UMA AGROINDÚSTRIA DO CAFÉ
Trabalho de Conclusão de Curso II apresentado à Universidade Vila Velha, como pré-requisito do curso de graduação em Arquitetura e Urbanismo, para a obtenção do grau de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo.
Aprovado em 28 de novembro de 2019. COMISSÃO EXAMINADORA
__________________________________ Prof. Msc. Geraldo Benicio da Fonseca. Orientador
__________________________________ Prof. Msc. Ana Dieuzeide Santos Souza.
__________________________________ Prof. Msc. Emerson Scheidegger.
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Dedico este trabalho aos meus pais e toda minha família, pelo apoio e incentivo incondicionais. Também dedico aos meus professores, por acreditarem que sou capaz até do que não imagino.
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AGRADECIMENTOS Agradeço a Universidade Vila Velha, pela oportunidade de estudar em uma instituição comprometida com o aprendizado dos seus alunos, por abrir portas para diversos caminhos, me permitindo viver a melhor experiência possível durante a graduação. Aos meus professores e orientadores, pela dedicação, disponibilidade, paciência e por acreditarem na minha capacidade, em especial aos meus dois professores orientadores de TCC, Ana Dieuzeide e Geraldo Benicio. Aninha, obrigada pelas oportunidades durante o curso e por todo apoio durante a realização do TCC, mesmo com mudanças repentinas e quase desistência não deixou de acreditar em mim. Geraldo, minha imensa gratidão pela sua sinceridade, dedicação e incentivo; sempre saía das orientações super empolgada e cheia de ideias, obrigada por tudo. Agradeço pelo dom da vida concedido por Deus, pela saúde, sabedoria e capacidade para realizar o curso dos meus sonhos, com a certeza de que estou no caminho certo. A minha família, por todo amor e paciência em entender que a distância faz parte da realização dos sonhos, que é uma fase difícil, mas com final feliz. Agradeço a minha irmã Angélica e aos meus pais Anselmo e Rosangela, por fazerem de tudo para que eu conseguisse estudar o curso que faz meus olhos brilharem, palavras não são capazes de expressar tamanha gratidão que sinto. Ao meu amor Ivan, que sempre me impulsionou em todos os momentos durante a graduação, e sempre me fez querer ser melhor para si e para as outras pessoas. Ao meu filho felino Menisk, que chegou sem avisar e encheu meu coração de amor e gratidão, que mesmo sem falar me enche de energia, inspira e incentiva todos os dias. Aos meus amigos, em especial as minhas amigas: Camila, Jaqueline e Patrícia que me acolheram com muito amor desde o momento que entrei na universidade, perdida sem conhecer nada, só tenho a agradecer, vocês são incríveis. Especialmente a Patrícia, que me acolheu de coração aberto e me ajudou muito nos momentos que mais precisei, maior presente que a universidade poderia me dar, uma amiga de alma.
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“Há um gosto de vitória e encanto na condição de ser simples. Não é preciso muito para ser muito.” Lina Bo Bardi
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RESUMO Com a expansão do ensino e da pesquisa, cada vez mais produtores rurais estão tendo a chance de se capacitar para beneficiar seus produtos e, então, participar de um mercado cada vez maior e mais competitivo de mercadorias de alta qualidade. Dentro do mercado internacional e nacional, os cafés especiais vêm ganhando espaço. Visto isso, produtores passaram a investir no ramo de beneficiamento de cafés, como forma de melhorar a renda familiar. Para isso, investiram construindo, em suas propriedades, instalações para processamento e beneficiamento do café para comercialização. Diante desse cenário, muitos enfrentaram problemas advindos da falta de planejamento na construção e acabaram até mesmo desistindo de produzir, pelo esgotamento dos recursos financeiros. Frente a essa realidade, o trabalho visa mostrar o desenvolvimento de diretrizes para planejamento, projeto e construção de uma agroindústria de processamento de café, tendo como base os conceitos de arquitetura evolutiva e flexível. Como metodologia, estudos foram feitos quanto ao processamento e beneficiamento do café, realizado in loco e por referencial teórico. Como resultado, foi elaborado um diagrama organizacional que pretende trazer agilidade para o processo projetual evolutivo, acompanhado de diagramas das fases evolutivas que mostram, por meio de simbologias, como os ambientes da fábrica se expandem em cada etapa. Ao final foi proposto um projeto em nível de estudo preliminar, mostrado através de plantas baixas, cortes esquemáticos e perspectivas como acontece a expansão da agroindústria de café. Palavras-Chaves: Indústria, Arquitetura Evolutiva, Arquitetura Flexível, Indústria de café.
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ABSTRACT With the expansion of education and research, more and more farmers are getting a chance to be able to benefit from their products and then to participate in an ever larger and more competitive market for high quality goods. Within the international and national markets, specialty coffees have been gaining ground. As a result, producers began to invest in the coffee processing business as a way to improve household income. To this end, they invested in building on their properties facilities for processing and processing coffee for sale. Faced with this scenario, many faced problems arising from the lack of planning in the construction and even gave up producing due to the depletion of financial resources. Faced with this reality, the work aims to show the development of guidelines for planning, design and construction of a coffee processing agribusiness, based on the concepts of evolutionary and flexible architecture. As a methodology, studies were made regarding the processing and processing of coffee, performed on site and by theoretical framework. As a result, an organizational diagram has been prepared that aims to bring agility to the evolutionary design process, accompanied by diagrams of the evolutionary phases that show, through symbologies, how the factory environments expand in each stage. At the end a preliminary study level project was proposed, shown through floor plans, schematic cuts and perspectives as the coffee industry expansion happens. Keywords: Industry, Evolutionary Architecture, Flexible Architecture, Coffee Industry.
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LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Mapa conceitual com esquema sistemático sobre a flexibilidade em edifícios. Figuras 2 e 3 – Fábricas nos primeiros períodos da Revolução industrial Fonte: Infoescola, 2017. Figuras 4 e 5 – Perspectiva externa e interna do Palácio de Cristal, respectivamente. Figura 6 – Hospital da Rede Sarah, arquiteto João Figueiras Lima. Figuras 7 e 8 – Cafeeiro e seus grãos, respectivamente. Figura 9 - Mapa do percurso da planta, da África para a Arábia, em trajeto que sai da Etiópia, a nordeste da África, onde se localiza a cidade de Bonga, atravessa o mar Vermelho e atinge a Península Arábica, a região do Iêmen. Figura 10 – Fases de maturação do grão de café Figura 11 – Estrutura do fruto do café Figura 12 – Fluxograma do processo de fabricação do café Figura 13 – Vista da recepção/cafeteria da Fazenda Camocim. Figura 14 – Vista aérea das áreas de produção e recepção da Fazenda Camocim, cercados por arborização e cultivo. Figura 15 – Conjunto “A”: edificações da área de produção de café. Figuras 16, 17 e 18 – Ambiente 1: equipamentos para lavagem, declive com parte final da máquina de lavagem e descascadora, respectivamente. Figura 19 – Ambiente 2: secagem suspensa de café em estufas revestidas com lona plástica. Figuras 20 e 21 – Ambiente 3: local para processo de ensacar, fechar e carimbar os sacos de café. Figuras 22 e 23 – Ambiente 4: estoque ensacado e parede dupla, respectivamente. Nota-se o forro de madeira. Figuras 24 e 25 – Ambiente 4: acesso que liga ao armazém e máquinas para ao beneficiamento do café e máquina de 1958 que separa os grãos por tamanho, respectivamente. Figuras 26 e 27 – Ambiente 5: sala de torrefação e envase, respectivamente. Figura 28 – Conjunto “B”: área de recepção da fazenda, edificações. Figura 29 – Ambiente 1: edifício em construção que abrigará a cafeteria da Fazenda Camocim. Figura 30 – Ambiente 2: edifício container que abriga o laboratório para prova dos cafés. Figura 31 – Programa âncora – Organograma agroindustrial. Figura 32 – Primeira Fase embrião da agroindústria. Figura 33 – Segunda fase evolutiva da agroindústria Figura 34 – Terceira fase evolutiva da agroindústria Figura 36 – Imagem panorâmica do terreno. Figura 35 – Localização do terreno em relação ao Espírito Santo. Figura 37 – Fábrica de geleias. Figura 38 – Visuais do terreno. Figura 39 – Morfologia do terreno. Figura 40 – Hidrografia e vegetação. Figura 41 – Acessos e visuais. Figura 42 – Insolação e ventos predominantes. Figura 43 – Paiol
31 32 32 33 34 38 39 42 42 43 48 49 49 49 50 51 51 52 53 53 54 55 55 59 65 66 67 70 70 71 71 72 73 74 75 78
LISTA DE MAPAS E QUADROS Mapa 1 – Zoneamento Agroecológico para a Cultura do Café no Espírito Santo. 40 Quadro 1 – Equipamentos do processo produtivo e demandas para desenho arquitetônico. 44 Quadro 2 – Programa de necessidades. 60
1 INTRODUÇÃO 1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO E JUSTIFICATIVA
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1.2 OBJETIVOS
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1.3 METODOLOGIA
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1.4 ESTRUTURA E DESCRIÇÃO DOS CAPÍTULOS
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2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
SUMÁRIO
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2.1. ARQUITETURA EVOLUTIVA E FLEXÍVEL
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2.2. ARQUITETURA INDUSTRIAL
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2.2.1. EVOLUÇÃO DA ARQUITETURA INDUSTRIAL
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2.2.2 CONTEXTO ATUAL
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3. DEFINIÇÕES DO NEGÓCIO E ESTRUTURA ORGANIZACIONAL
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3.1. DESCRIÇÃO DO PRODUTO/OBJETO DE ESTUDO
38
3.1.1. O CAFÉ – BREVE HISTÓRICO E DADOS
38
3.2 ESTRUTURA ORGANIZACIONAL DA FÁBRICA/FLUXOGRAMA
42
3.2.1 ETAPAS DE FABRICAÇÃO
42
4. ESTUDO DE CASO 4.1 AGROINDÚSTRIA DE BENEFICIAMENTO DE CAFÉ
5. PLANEJAMENTO EVOLUTIVO DA PROPOSTA
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5.1 DEFINIÇÕES E DIRETRIZES PARA ELABORAÇÃO DO PROGRAMA DE NECESSIDADES
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5.2 FASES DE EXPANSÃO DO EMPREENDIMENTO
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5.2.1 PRIMEIRA FASE
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5.2.2 SEGUNDA FASE
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5.2.3 TERCEIRA FASE
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6. PROJETO
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6.1 LOCALIZAÇÃO E TERRENO
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6.2 CONDICIONANTES AMBIENTAIS
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6.3. NORMAS TÉCNICAS E LEGISLAÇÕES
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6.4 A PROPOSTA
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6.4.1 INSPIRAÇÃO
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6.4.2 O PROJETO
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6.4.3 DIRETRIZES PROJETUAIS
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6.4.4 ESTRUTURA
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6.4.4.1 MÓDULO MADEIRA
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6.4.4.2 MÓDULO FÁBRICA E ADMINISTRAÇÃO
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6.4.4.3 MÓDULO ESTUFA
83
6.4.5 PAISAGISMO E SETORIZAÇÃO EM GERAL
85
6.4.6 FLUXOS
87
6.4.7 PLANTAS BAIXAS - MÓDULOS
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6.4.8 FACHADAS
20
102
6.4.9 CORTES
108
6.4.10 PERSPECTIVAS EVOLUTIVAS
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6.4.11 PERSPECTIVAS VOLUMÉTRICAS
117
7. CONCLUSÃO
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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INTRODUÇÃO
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1. INTRODUÇÃO
desde o primeiro momento, e após quatro anos participando o Café das Montanhas do Espírito Santo passou a ter maior visibilidade e procura, deixando 1.1. CONTEXTUALIZAÇÃO E JUSTIFICATIVA para trás a dúvida que existia quanto a capacidade de Há cerca de 20 anos atrás iniciou-se um processo produzir cafés que alta qualidade (AGROTURES, 2005). de estudo e análise do café produzido na região montanhosa do Espírito Santo, tal fato se deu devido Em virtude dos acontecimentos, os produtores, que a uma realidade que afetava todo o estado, o café antes vendiam sua produção de forma bruta e/ou in 1 produzido era classificado como o pior do Brasil no natura , passaram a procurar por capacitações para quesito bebida, por consequência, tornou-se o mais beneficiar seus produtos e comercializá-los não só barato. Diante disso, alguns produtores e técnicos na própria região, mas também exportar para outros deram inicio a um movimento que visava fazer uma estados e países, o que permitiu o aumento da renda avaliação da cafeicultura de montanha no estado, familiar, incentivando ainda mais o empreendedorismo. com foco no quesito qualidade da bebida. No final da colheita de 1999 foram feitas as primeiras avaliações, através dos resultados foi possível comprovar que o café produzido era tão bom quanto o de qualquer outra região. Então, a conclusão inicial do corpo técnico era de que até o momento da colheita a condição do fruto maduro era excelente, mas, nos processos seguintes o mesmo sofria depreciação, associado principalmente a alta umidade na época da colheita, que por sua
Diante desse processo, é interessante associar que: a busca por conhecimento, com o surgimento de cursos de capacitação e um mercado que demanda por produtos de qualidade, fez a produção e comercialização de cafés de alta qualidade crescer disparadamente em relação aos anos anteriores, mantendo-se até os dias atuais.
Em pouco tempo, as fábricas de beneficiamento de 2 vez favorecia o surgimento de fungos e bactérias, produtos agrícolas, chamadas de agroindústrias , passaram a despertar para um novo segmento, o desqualificando o café (AGROTURES, 2005). turismo rural. Segundo ARAÚJO (2000) o turismo Para conseguir um produto de qualidade era necessário abriu portas e o mundo rural criou um outro tipo de mudar o processo de colheita e pós-colheita, que 1 In natura, é o alimento100% natural, que não sofreu antes era feito sem nenhum tipo de seleção. Para nenhuma alteração desde sua extração da natureza até o seu isso, juntamente com o trabalho de convencimento do consumo. Fonte: Site Jurídico Certo. produtor, era preciso criar canais de comercialização 2 A agroindústria é o ambiente físico equipado e preparado dos cafés de boa qualidade, com finalidade de levar onde um conjunto de atividades relacionadas à transformação renda para o bolso do produtor. O canal encontrado de matérias-primas agropecuárias provenientes da agricultura, naquele momento era a participação em concursos de pecuária, aquicultura ou silvicultura são realizadas de forma cafés especiais, que mostraram resultados positivos sistemática (AGROTUR, 2005).
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riqueza que, com base nos bens e serviços ofertados, vem contribuindo para combater o êxodo rural; ao promover o desenvolvimento local e regional, gera renda, emprego e mantém o homem rural em seu habitat (ARAÚJO, 2000, p.20). A nova configuração de turismo rural foi difundida rapidamente na região serrana, principalmente na cidade de Venda Nova do Imigrante e seu entorno, onde a Associação do Agroturismo (AGROTUR) implantou o modelo de turismo rural nomeado de Agroturismo, definido como “uma atividade turística, familiar praticada em pequenas propriedades em que o turista pode acompanhar o processo de produção e vivenciar a cultura do local”. Em 2005, Venda Nova do Imigrante tronou-se a capital nacional do Agroturismo; a partir de então, os seus produtos regionais passaram a ter maior valor agregado (AGROTUR, 2005).
produção, mas com planejamento arquitetônico insuficiente. Desta forma, pela falta de planejamento, as construções passaram a expor problemas, como por exemplo os relacionados ao fluxo de veículos da produção que confrontam os do fluxo de turistas, ocasionando transtornos na locomoção. Assim, também o fluxo de produção pouco eficiente provindo do dimensionamento inadequado dos ambientes traz consequências, expondo a necessidade de planejamento adequado a essa tipologia arquitetônica.
Com base nesse contexto, nota-se a importância da definição de diretrizes para o planejamento da arquitetura industrial evolutiva e flexível, que visa prever as ampliações de acordo com a necessidade produtiva. Para isso, a implantação territorial e de ambientes são pensadas desde o princípio com a finalidade de promover expansão industrial com mínimos transtornos, levando em consideração que as Para MARQUES (2013), o Agroturismo desempenha a industrias não param de funcionar. importante função de ajudar a estabilizar a economia local, pelo fato de criar empregos nas atividades Isto posto, no presente trabalho os conceitos de indiretamente ligadas à atividade agrícola e ao próprio arquitetura evolutiva foram aplicados em um projeto turismo, como comércio de mercadorias, serviços de uma agroindústria de beneficiamento de café – auxiliares e construção civil, além de abrir oportunidades espécime mais cultivada no Espírito Santo, e que de negócios diretos, como hospedagem, lazer e demonstra grande avanço em seu beneficiamento. recreação. Já em relação aos benefícios ambientais, é interessante mencionar o estímulo à conservação 1.2. OBJETIVOS ambiental e à multiplicação de espécies de plantas O principal objetivo deste trabalho consiste em e animais, pelo aumento da demanda turística desenvolver um projeto arquitetônico, em fase (MARQUES, 2013, p.6). de estudo preliminar, de uma agroindústria de Diante disso, percebe-se o início de um movimento onde beneficiamento de café, e que contemple princípios as construções agroindustriais passaram a apresentar da arquitetura evolutiva e flexível. ampliações oriundas do aumento exponencial da
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ARQUITETURA EVOLUTIVA: PROJETO PARA UMA AGROINDÚSTRIA DO CAFÉ
Como objetivos secundários buscou-se conhecer a demanda e estrutura organizacional de uma fábrica de beneficiamento de café, e gerar um produto gráfico para o produtor, que poderá ser utilizado como demonstração para os responsáveis por outras agroindústrias.
evolutiva - Empresa de Médio Porte Grupo IV; 3ª Fase evolutiva – Empresa de Médio Porte Grupo III (ANVISA, 2019). A partir dessas definições, foram criados esquemas gráficos referentes
a essas fases, com a finalidade de apresentar o planejamento espacial do núcleo e das ampliações, 1.3. METODOLOGIA apontando determinações da arquitetura evolutiva O trabalho tem como metodologia a revisão baseada aplicada à indústria. em estudos científicos, livros e dissertações, assim como estudos de caso in loco3 para desenvolvimento 1.4. ESTRUTURA E DESCRIÇÃO DOS CAPÍTULOS de um projeto de arquitetura evolutiva voltada para O trabalho foi estruturado da seguinte forma: agroindústrias de beneficiamento de café. Para o desenvolvimento do projeto foram aplicadas as Capítulo 1 – Contextualização a justificativas sobre o definições de arquitetura evolutiva e flexível, além das tema proposto, abordando um breve histórico sobre o começo e crescimento da produção de café especial acepções de planejamento de projeto industrial. no Espírito Santo e surgindo do Agroturismo, além de Planejado em fases evolutivas, definidas em função do apresentação dos objetivos e metodologia do trabalho. processo de crescimento das indústrias, considerando etapas de crescimento gradual de pequeno, para Capítulo 2 – Discussão das questões que envolvem a médio e grande porte. Para isso, a quantidade mínima arquitetura evolutiva e flexível, histórico da indústria no de fases evolutivas foi estabelecida com base nas definições dadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) segundo a Lei Complementar nº 139/2011 para pequeno e médio porte grupo IV, e a Medida Provisória nº 2.190-34/2001 para empresa de médio porte grupo III. Como resultado da análise dos critérios de classificação levando em consideração o alcance de produção estimada para a proposta, foram estabelecidas três fases evolutivas, sendo elas: 1ª Fase embrião – Empresa de Pequeno Porte (EPP); 2ª Fase
mundo e contexto atual da arquitetura industrial.
3
Capítulo 5 – Desenvolvimento das diretrizes para o
In loco é uma expressão em latim, que significa ‘no lugar’
ou ‘no próprio local’.
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Capítulo 3 – Definição do segmento do negócio, matéria-prima utilizada no processamento do complexo fabril e etapas de produção com descrição dos equipamentos e suas especificidades. Capítulo 4 – Estudo de caso de uma agroindústria cafeeira localizada na região serrana do Espírito Santo, com a finalidade de conhecer a realidade destas agroindústrias.
planejamento evolutivo, através de elementos gráficos e textuais. Capítulo 6 – Processo projetual com apresentação do terreno e suas condicionantes ambientais, apresentação das normas vigentes a serem aplicadas e desenvolvimento dos projetos em nível de estudo preliminar. Capítulo 7 – Considerações finais com breve recapitulação dos resultados obtidos através da criação das diretrizes e discussão dos objetivos alcançados.
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REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
ARQUITETURA EVOLUTIVA: PROJETO PARA UMA AGROINDÚSTRIA DO CAFÉ
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Este capítulo apresenta uma breve introdução acerca das definições dos principais temas que serão aplicados antes e durante o processo projetual. 2.1. ARQUITETURA EVOLUTIVA E FLEXÍVEL No âmbito do “morar”, a territorialidade é exercida pelos moradores a partir do controle sobre o espaço. A mudança e colocação de objetos, arranjo de móveis, manutenção, são todos comportamentos territoriais. As razões pelas quais os residentes fazem alterações em suas casas são várias e estão relacionadas principalmente a fatores simbólicos e estéticos (BRANDÃO, 2011). Estas alterações explicadas por Reis (1995), são pertinentes a aspectos funcionais como: a disposição e tamanho das peças; tamanho da moradia; aspectos ligados à privacidade visual e auditiva; aspectos ligados a questões estéticas; aspectos ligados a questões de personalização e definição do território; alterações no tamanho da família, nível econômico e educacional, dentre outros.
que tem a capacidade de se expandir e de aumentar os usos de um espaço. Para ele, essa tipologia possui duas vertentes: a evolutiva e a modular, definindo a primeira como “pequena habitação para uma pequena ocupação, preparada para ser melhorada, expandida ou completada com o tempo. Uma casa aberta e em processo de adaptação ao usuário.” O autor estabelece a segunda como o “espaço preparado para agregar, eliminar ou substituir módulos, ampliando ou diminuindo a área útil da habitação”, onde “a agregação pode estar desenhada no projeto inicial ou surgir das necessidades dos utilizadores” (GUEDES, 2016, p.19). Frente às definições e relacionando-as com a ideia do projeto, a aplicabilidade deste na agroindústria é intrínseca: apesar dos estudos encontrados acerca da arquitetura evolutiva estarem voltados majoritariamente para a habitação, as agroindústrias se expandem e têm seus usos modificados e adaptados de acordo com demandas similares. Por este motivo, as análises possuem relação, quando aplicadas à realidade das famílias de produtores rurais que empreendem ou desejam empreender.
Segundo Silva (2005), a evolução de uma habitação Analisando sob uma perspectiva teórica, a arquitetura parte de um “núcleo inicial” também conhecido como flexível apresenta uma variedade de conceitos embrião, momento onde a arquitetura passa a assumir explorados por diversos autores. Por exemplo, para diversas geometrias. Town (1974) “a habitação flexível deve ser capaz de “A habitação evolutiva consiste em unida- oferecer ‘escolha’ e ‘personalização” e o conceito de des residenciais unifamiliares constituídas de um núcleo inicial, despojado de acaba- flexibilidade lida com a “técnica construtiva de serviço” mentos e de área exígua, suscetível, por (TOWN,1974, p. 86 apud BARBOSA, 2016, p.19). Groák definição, à melhoria e à ampliação por (1992) define que “a flexibilidade chama a atenção iniciativa dos proprietários, já instalados para a ‘capacidade de responder a várias disposições nas edificações.” (SILVA, 2005, P. 62) físicas possíveis” (GROÁK, 1992, p. 15 apud BARBOSA, Guedes (2016) limita a arquitetura evolutiva como aquela
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2016, p. 19).
e layout arquitetônico. Segundo o autor, a partir da especificação do sistema estrutural, considerada Forty (2000) dita que a “incorporação da ‘flexibilidade’ a estrutura base, a concentração de núcleos abre no desenho iludiu os arquitetos com a possibilidade possibilidades para a otimização de diferentes tipos de projetar o seu controle sobre o edifício no futuro, de instalações. para lá do período em que seriam responsáveis”. Segundo ele “a confusão no significado advém de dois Diante das análises, é possível agrupar as definições papéis contraditórios: ‘ela tem servido para expandir o e aplicar a arquitetura flexível de forma prática e clara. funcionalismo, de modo a torná-lo viável’ e tem vindo Considerando os artigos “Housing Flexibilit” (1973) e a ser utilizada para resistir ao funcionalismo” (FORTY, “Housing Flexibility/Adaptability” (1974), publicados 2000, p.143 apud BARBOSA, 2016, p. 20). por Rabeneck et al., a flexibilidade de uma edificação Como forma de garantir a possibilidade de diferentes arranjos organizacionais, Farjami (2015) criou um esquema sistemático (figura 1) para possibilitar a flexibilidade futura dos edifícios. Para isso, classificou o esquema em sistema estrutural, áreas de serviço
está ligada diretamente à configuração das partes permanentes e fixas, que seriam o sistema estrutural e os ambientes desenvolvidos na elaboração dos espaços. Após explorar tais sistemas e configurações mostrados
Figura 1 – Mapa conceitual com esquema sistemático sobre a flexibilidade em edifícios.
FLEXIBILIDADE NA SUA DEFINIÇÃO MODERNA
SISTEMA ESTRUTURAL
ÁREAS DE SERVIÇO (ÁREAS MOLHADAS, PROJETO DE ACESSO)
LEIAUTE ARQUITETÔNICO
ESTRUTURA BASE
ACESSO À ÁREAS DE SERVIÇO
EXPANSÃO DO ESPAÇO
ORGANIZAÇÃO POLIVALENTE
LOCALIZAÇÃO DE ÁREAS DE SERVIÇO
ORGANIZAÇÃO ESPACIAL MULTIFUNCIONALIDADE
Fonte: Vasconcelos, 2017, p. 112 com base em Farjami (2015).
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ARQUITETURA EVOLUTIVA: PROJETO PARA UMA AGROINDÚSTRIA DO CAFÉ
Figuras 2 e 3 – Fábricas nos primeiros períodos da Revolução industrial Fonte: Infoescola, 2017.
nos estudos de arquitetura flexível para habitação, sua aplicabilidade a modelos de arquitetura industrial compreende-se nos seguintes itens, para que esta apresente razoável grau de flexibilidade: • Sistema ampliações;
estrutural
modular,
com o uso de máquinas. Desta forma, um conjunto de transformações sociais, políticas e econômicas aconteceram, impulsionando mudanças na arquitetura das indústrias (CAMARGO, 2000, p. 60).
que
permita Com a acelerada inserção das máquinas nas indústrias, as pessoas, que no processo artesanal eram o elemento central do sistema, passaram a segundo • Paredes internas de fácil remoção; plano, dando lugar às máquinas, que por sua vez • Grandes vãos entre os elementos e paredes, ou passam a ter uma importância cada vez maior na vida inexistência de colunas; das pessoas. A partir disso, o elevado crescimento das atividades industriais concedeu tamanha importância à • Aplicação de formas geométricas simples. palavra “indústria”, que processos inerentes à “arte de fazer algo” calharam a significar pouco; desde então, a 2.2. ARQUITETURA INDUSTRIAL industrialização passou a ser um símbolo de progresso e eficiência que, com o passar do tempo, se tornou 2.2.1. EVOLUÇÃO DA ARQUITETURA INDUSTRIAL sinônimo de modernidade (REBELO, 2012, p. 19). A revolução industrial, ocorrida inicialmente na Europa a partir do século XVIII, modificou completamente o processo de produção. Anteriormente os produtos eram elaborados por meio da fabricação artesanal, e a partir desse ponto, a revolução, o trabalho artesanal foi substituído pelo trabalho assalariado e
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Diante disso, as concepções arquitetônicas passaram por um período de amadurecimento: surgiram novas ideias, associando concepções formais e espaciais à ideia de progresso e à valorização da máquina. Pelo fato de os maquinários possuírem necessidades espaciais
Figuras 4 e 5 – Perspectiva externa e interna do Palácio de Cristal, respectivamente. Fonte: Blog Arquitetando, 2010.
diferentes das do ser humano, além de demandas A obra que expressa com clareza a influência de novos distintas quanto ao fluxo de produção, noções como processos industriais na arquitetura é o Palácio de funcionalidade e racionalidade foram valorizadas. Cristal, construído para ser palco da Grande Exposição de 1851 em Londres, Inglaterra. Foi projetado pelo Aconteceram evoluções em diversos campos, surgindo arquiteto autodidata Joseph Paxton e edificado em novas especificidades espaciais, formas, materiais e dez meses, prazo que mostrou a eficiência de seu possibilidades estéticas. Aos poucos as configurações processo construtivo, pré-fabricado e com uso de industriais, que anteriormente eram influenciadas pelo novos materiais como o ferro fundido e o vidro. Todas formalismo das arquiteturas existentes, transformaramas peças utilizadas na construção do palácio foram se em desenhos simples, despojados e puros, pré-fabricadas e montadas in loco, o que mostra criando uma tipologia de formatos que caracterizou a uma grande evolução para a época, já que até então arquitetura industrial (REBELO, 2012. P. 19). eram utilizadas estruturas pré-fabricadas apenas em Inicialmente, a construção industrial era um campo ferrovias e em elementos decorativos (REBELO, 2012. dominado por engenheiros que, com o avanço dos P. 51). processos, se fundiram aos arquitetos. A partir do Durante o início do século XX, os campos da arte e da surgimento de novos materiais e tecnologias que técnica na arquitetura industrial, que antes divergiam influenciaram o tratamento dos espaços industriais, a completamente e demonstravam configurações arquitetura encontrou, nesta junção, fonte de inspiração próprias em seus espaços de trabalho, passaram a ser nos métodos e sistemas construtivos que, de ora em conjugados a partir da obra de arquitetos como Gropius diante, criariam espaços industriais que extravasariam e Corbusier. A crescente disseminação do chamado o funcionalismo, e estabeleceriam novos princípios de estilo “moderno”, leva o lema dado por Corbusier: “a desenho. casa como máquina de habitar”. (REBELO, 2012. P. 45).
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ARQUITETURA EVOLUTIVA: PROJETO PARA UMA AGROINDÚSTRIA DO CAFÉ
A partir daí a arquitetura moderna de ideal inovador e formas puras e limpas, passa a se desenvolver em ritmos diferentes dependendo das circunstâncias de cada país.
na pré-fabricação dos elementos construtivos, bem como em seus esquemas de montagem. Os edifícios passaram a ser produzidos fora do canteiro, e essa dinâmica caracterizou a mecanização da construção, obrigando ainda a considerar questões de sequência, Embora o processo de industrialização tenha sido mais padrão e escala (CALDAS, 2010, P. 66). tardio no Brasil, este foi apresentado no país entre final do século XIX e início do século XX com características Dentro do contexto nacional, as obras de João Figueiras similares ao processo ocorrido na Europa, tendo a linha Lima (Lelé) são um bom exemplo de arquitetura que férrea como um dos principais elementos estruturantes expressa os princípios da industrialização. A arquitetura (REBELO, 2012, p. 27). de Lelé, expressa domínio técnico da construção, dos critérios de implantação, além de cumprimento das necessidades objetivas e subjetivas do programa 2.2.2 CONTEXTO ATUAL (figura 6). Na visão de Lelé, o ato de projetar não Os avanços das técnicas de construção envolveram constitui um processo de criação puramente intuitivo não só a aplicação de novos materiais, como de novos e individual, mas está associado a múltiplos níveis processos de execução. Estes por sua vez, incidiram de conhecimento e competência técnica do objeto Figura 6 – Hospital da Rede Sarah, arquiteto João Figueiras Lima. Fonte: Archdaily, 2019.
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arquitetônico (MIYASAKA et al.,2016, p.58). Em contraste com a clássica imagem dos galpões pré-fabricados, presentes no contexto do final do século XX, percebe-se que transformações estão acontecendo no âmbito estético. O projeto da fábrica vem sendo aperfeiçoado ao longo dos últimos anos, mostrando a preocupação das empresas/instituições em expressar suas ideologias não somente através de seus produtos, como por meio de sua própria edificação industrial. Para isso, a simbiose entre o cliente e o arquiteto é essencial. Para Gerolla (2006) o arquiteto precisa estudar o programa e as exigências de uma unidade produtiva com precisão e metodologia, com a finalidade de entender de forma clara as possíveis etapas de produção e as respectivas relações com o espaço; para isso, faz-se necessário a produção de um organograma. Dessa forma, o profissional pode estudar cada etapa integralmente, e a partir daí especificar com precisão várias soluções aplicáveis as edificações industriais, como: isolamento termoacústico, iluminação natural, cálculo preciso para uso de energia solar, facilidade de limpeza e manutenção, bem como a facilidade de locomoção entre os setores fabril e administrativo (GEROLLA, 2006).
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3
DEFINIÇÕES DO NEGÓCIO E ESTRUTURA ORGANIZACIONAL
ARQUITETURA EVOLUTIVA: PROJETO PARA UMA AGROINDÚSTRIA DO CAFÉ
3. DEFINIÇÕES DO NEGÓCIO E ESTRUTURA Nessa época os Etíopes passaram a ingerir o fruto ORGANIZACIONAL in natura, mastigando as folhas e fazendo um suco fermentado que se transformava em bebida alcoólica. 3.1. DESCRIÇÃO DO PRODUTO/OBJETO DE ESTUDO Em pouco tempo, os árabes dominaram as técnicas de plantio e preparação do café, e a bebida, preparada por meio de infusão com o café adicionado de cerejas 3.1.1. O CAFÉ – BREVE HISTÓRICO E DADOS fervidas em água, foi então nominada de Cahue, que Fruto de uma das bebidas mais consumidas em todo o significa “força” em árabe, e era utilizada com fins mundo e originário da Etiópia (África), o café (Figuras medicinais (ABIC, 2019). 7 e 8) se difundiu: primeiro pelo oriente médio, depois pela Europa, até se propagar por todo o planeta. A No século XIV, a bebida ganhou a forma e o sabor descoberta do seu consumo é contada através da conhecidos atualmente e alcançados por meio da Lenda de Kaldi, registrada em manuscritos do Iêmen torrefação. A partir daí o Iêmen passou a produzir datados do ano 575 d.C., e que discorrem sobre a seu café comercialmente, mantendo o monopólio de história do pastor Kaldi e suas cabras que ficavam comercialização por extenso período. alegres após consumir os frutos do café. A partir desse Pelo fato de apresentar um sabor estimulante e pressuposto, a exploração de diferentes formas de muito agradável, o café passou a atrair interesse consumo do café começou a se expandir. e, consequentemente investimentos. E assim, Figuras 7 e 8 – Cafeeiro e seus grãos, respectivamente. Fonte: Google, acesso em maio de 2019.
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Figura 9 - Mapa do percurso da planta, da África para a Arábia, em trajeto que sai da Etiópia, a nordeste da África, onde se localiza a cidade de Bonga, atravessa o mar Vermelho e atinge a Península Arábica, a região do Iêmen.
Fonte: Origens – O começo de tudo.
rapidamente se difundiu pelo mundo (Figura 9), tornando o ato de tomar café um hábito prazeroso de característica doméstica e em recintos coletivos, que se popularizou no ano de 1450. Contudo, foi na Turquia que o “hábito do café”, tornou-se um ritual de sociabilidade que, desde então, propagou-se por todos os lugares do mundo. Quase cem anos mais tarde, em 1574, os cafés do Cairo e Meca se tornaram os mais famosos, muito procurados por artistas e poetas (ABIC, 2019). Em 1727, pelas mãos do oficial português Francisco de Mello Palheta, que chegava da Guiana Francesa, as primeiras mudas da rubiácea foram trazidas para o Brasil e plantadas no Pará, onde floresceram sem dificuldade. Mais tarde, o café foi levado para o sudeste
do país e em 1781 começou a ser plantado no Rio de Janeiro por João Alberto de Castello Branco. Desde esse momento, um novo ciclo econômico iniciou-se no Brasil. Logo após, o estado de São Paulo começou a plantar café. E, na década de 1880, se tornou o principal produtor nacional do grão, alavancando o Brasil como controlador do mercado cafeeiro mundial no século XIX (ABIC, 2019). No Espírito Santo, segundo maior produtor do Brasil, o café começou a ser plantado em meados do século XIX nas terras do sul do estado. Por meio de sua expansão, a cultura cafeeira rapidamente se consolidou como atividade econômica para o estado, sendo de influência notável por volta de 1850, momento em que surgiram várias estradas, ferrovias e que foi ampliado o do porto de Vitória, desta forma beneficiando o
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ARQUITETURA EVOLUTIVA: PROJETO PARA UMA AGROINDÚSTRIA DO CAFÉ
desenvolvimento econômico do estado. Assim como no resto do Brasil, no Espírito Santo foram plantadas duas espécies do grão. O café arábica, plantado no sul do estado, se expandiu para a região norte do Rio Doce a partir de 1920, consolidando-se com a imigração italiana e alemã, se tornando absoluto na economia estadual até 1962, com uma ocupação territorial que chegou a 500 mil hectares. A segunda espécie, o café conillon, foi introduzido no estado no final da década de 1920. Plantada inicialmente no município de Cachoeiro de Itapemirim, foi cultivada para fins comerciais a partir de 1971, com intuito de ocupar os espaços deixados pelo arábica, devido à impossibilidade de plantio em algumas regiões. Através do mapa 1, é possível observar os recursos hídricos e a altitude como principais
Mapa 1 – Zoneamento Agroecológico para a Cultura do Café no Espírito Santo. Fonte: CETCAF.
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obstáculos para o plantio das espécies (CCCV, 2019).
devido às exigências do mercado. Além disso, os dados mostram o potencial de produção no estado do Espírito Santo, com principal enfoque nas pequenas propriedades rurais. Segundo dados do CETCAF, 87% do café produzido no Espírito Santo provém dessas pequenas propriedades, que possuem em média 9,37 ha, mostrando que juntas elas alcançaram resultados expressivos.
A partir do século XIX, o consumo do café teve um crescimento acentuado. Segundo a ABIC (Associação Brasileira da Indústria de Café), os dados atuais relacionados ao consumo de café na Alemanha mostram que as pessoas consumiam 455 litros anualmente no final da década de 1970, e que no início desse período a quantidade correspondia a 352 litros. Com o alto consumo do produto, começaram a surgir estabelecimentos especializados em cafés, fazendo a 3.1.2 BENEFICIAMENTO DO CAFÉ cultura se espalhar pelo mundo (ABIC, 2019). Após a colheita, o café passa por várias etapas, até Atualmente, calcula-se que aproximadamente 95% atingir as formas torrada, torrada e moída e/ou solúvel, de todo o café consumido a nível mundial seja das disponíveis comercialmente para o consumo. Em espécies arábica e conillon, proveniente de plantações todo esse processo de fabricação, o objetivo final em países como Colômbia, Costa Rica, Arábia Saudita, é a obtenção de lotes homogêneos que atendam Índia, Etiópia, Angola, Zaire, México e principalmente a padrões de comercialização e industrialização. o Brasil, o maior produtor do mundo. Atualmente o Estes são alcançados principalmente no processo de Brasil é o segundo país que mais exporta café e sua beneficiamento, etapa que envolve um conjunto de produção corresponde a um terço da cultura mundial processos e operações (REZENDE; ROSADO; GOMES, há mais de 150 anos, conforme dados do Ministério 2007; MATIELLO et al., 2002).
de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Em Cada etapa exige cuidados, principalmente na relação às questões sociais e ambientais, o Brasil é um fabricação de cafés especiais. Desde o momento dos mais exigentes do mundo, com uma cafeicultura que o café é colhido e selecionado na lavoura até o desenvolvida sob legislações rígidas (ABIC, 2019). envase e armazenamento, os processos de fabricação Segundo dados do CETCAF (Centro de Desenvolvimento são executados com rigor, por meio de equipamentos Tecnológico do Café), 60% do café arábica é destinado qualificados e profissionais capacitados. Para que à exportação e os outros 40% para mercado interno. Já os processos sejam concluídos com eficiência, da espécie conillon, apenas 10% é exportado e 90% tem os ambientes precisam ser bem planejados e os como destino o mercado interno. Diante do histórico e maquinários, acomodados de acordo com suas amostragem dos dados, percebe-se que a produção particularidades, para que o fluxo de produção seja de café a nível internacional, nacional e estadual ágil. tende a crescer cada vez mais; e com mais qualidade,
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ARQUITETURA EVOLUTIVA: PROJETO PARA UMA AGROINDÚSTRIA DO CAFÉ
3.2 ESTRUTURA ORGANIZACIONAL DA FÁBRICA/ os grãos são armazenados em sacos devidamente FLUXOGRAMA identificados, após sair do armazenamento o café passa pelo beneficiamento, onde acontece a seleção minuciosa de cada grão por densidade, cor e tamanho, 3.2.1 ETAPAS DE FABRICAÇÃO por meio de equipamentos específicos para cada Para entender as etapas de fabricação é preciso, função. Posteriormente os grãos beneficiados passam primeiramente, compreender como o fruto do café pela torrefação, onde a máquina de torra pode ser é classificado e estruturado, pelo fato de algumas automatizada ou não. Após o processo o café vai etapas possuírem nomes específicos. O período de direto para a moagem, que é etapa que transforma floração dos pés de café e da plantação são diferentes; o café em pó para o consumo. Por fim, atinge-se o consequentemente, a massa dos frutos apresentaarmazenamento dos produtos envasados e lacrados, se distinta, como mostra a figura 10. Para a colheita o destinados à comercialização. ideal é que 90% dos grãos estejam maduros e, para cafés especiais, é preciso que todos os grãos estejam A figura 12 mostra cada etapa da produção de café; maduros. Para tanto, faz-se necessário a colheita dentro delas existem sub etapas, que dependerão das escolhas da agroindústria para o tipo de produto final manual dos grãos (SILVA, 2012). que se deseja comercializar. A estrutura do fruto compreende de forma geral quatro elementos, sendo eles: a casca, a polpa, o pergaminho Cada uma dessas etapas de produção possui demandas especificas. Quanto à edificação, por exemplo, alguns e o grão, como mostra a figura 11. equipamentos necessitam de um determinado pé Para obtenção do café em pó, a partir da colheita o direito, bem como espaço para dutos de ventilação ou grão passa pela etapa de preparo, onde os grãos são dutos de descarte de material. Dessas etapas citadas, a lavados e descascados para a secagem. Nessa etapa colheita é a única que não tem demandas especificas, os grãos ficam em terreiros suspensos por alguns dias pois não existe construção física ou equipamentos até atingir umidade em torno de 11%. Após a secagem Figura 10 – Fases de maturação do grão de café
Figura 11 – Estrutura do fruto do café
Fonte: Produzido pelo autor, 2019.
Fonte: Produzido pelo autor, 2019.
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Figura 12 – Fluxograma do processo de fabricação do café Fonte: Produzido pelo autor, 2019.
COLHEITA
PREPARO VIA ÚMIDA
VIA SECA
PRÉ-LIMPEZA
PRÉ-LIMPEZA
LAVAGEM
LAVAGEM
COM
COM
SEPARAÇÃO
SEPARAÇÃO
CEREJA DESCASCADA
CEREJA DESPOLPADA
CAFÉ NATURAL
SECAGEM SUSPENSA
TERREIRO (NO CHÃO)
ARMAZENAMENTO BENEFICIAMENTO Limpeza Descasque* Remoção da casca* Seleção
TORREFAÇÃO E
CAFÉ
MOAGEM
SOLUVEL ARMAZENAMENTO
* Quando necessário
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ARQUITETURA EVOLUTIVA: PROJETO PARA UMA AGROINDÚSTRIA DO CAFÉ
fixos, visto que esta etapa acontece na lavoura.
distribuição dos ambientes precisa ser pensada com a finalidade de planejar espaço externo suficiente para O quadro 1 a seguir mostra as dimensões x que o processo aconteça sem gerar transtornos em especificidades dos equipamentos das etapas outras áreas. descritas. As necessidades descritas estão relacionadas aos elementos que influenciam na arquitetura/construção da indústria. Por exemplo, o torrador precisa de espaço externo para que o ar quente que passa pelos dutos evapore, dessa forma, a Quadro 1 – Equipamentos do processo produtivo e demandas para desenho arquitetônico. Fonte: Pinhalense e Carmomaq adaptado pelo autor, 2019.
Preparo
Etapa
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Foto/referência
Dimensões do equipamentos
Especificidades para arquitetura estrutural
Lavador (Via úmida)
L = 1,00 metros C = 9,05 metros A = 2,10 metros Área = 9,05 m²
- Pé direito mínimode aproximadamente 5 metros.
Lavador (Via seca)
L = 1,90 metros C = 4,30 metros A = 3,00 metros Área = 8,17m²
- Dutos de ventilação.
Descascador
L = 0,85 metros C = 1,05 metros A = 2,40 metros Área = 0,90 m²
- Dutos para descarte de resíduos.
Desmucilador
L = 0,95 metros C = 1,45 A = 1,25 metros Área = 1,38 m²
- Dutos para descarte de resíduos.
Suspensão
Relativo ao volume de
- Amplo espaço com terreiros suspensos e espaço
produção
para circulação entre eles de no mínimo 60
Torrefação e moagem
Armazenamento
Secagem
centímetros.
Chão de cimento
Conforto térmico
- Exigência de grandes cuidados na execução do
produção
piso, evitando rachaduras.
Sacas
de
café - Parede dupla para alcançar maior tempo possível
empilhadas em paletes em conforto térmico no ambiente. com cerca de 1 m² de área.
Torrador apropriado para cafés
L = 1,0 metros
especiais.
C = 1,5 metros
- Dutos para evacuação dos vapores quentes.
A = 2,0 metros Área = 1,5 m² Possui capacidade para 5, 10, 15 e 30 quilos de café por torra. Moinho
Silo para café torrado
Armazenamento final
Relativo ao volume de
L = 1,0 metros C = 1,0 metros A = 0,80 metros Área = 1,0 m²
- Dutos para ventilação.
L = 3,0 metros
- A armazenagem pode ser feita em silos
C = 1,0 metros A = 3,0 metros
ou cômodos, ensacados ou envasados em embalagens metálicas, que oferecem proteção contra os agentes externos.
Área = 3,0 m²
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ESTUDO DE CASO
ARQUITETURA EVOLUTIVA: PROJETO PARA UMA AGROINDÚSTRIA DO CAFÉ
4. ESTUDO DE CASO A Fazenda Camocim foi escolhida como objeto de estudo por estar localizada na região de implantação do projeto proposto, e por ser uma agroindústria que integra a produção ao turismo e ao ensino, semelhante ao proposto no projeto. 4.1 AGROINDÚSTRIA DE BENEFICIAMENTO DE CAFÉ
atuam não só na produção e comercialização propriamente dita do café, mas também recebem turistas (que são acolhidos em uma cafeteria construída recentemente) e promovem visitas técnicas, que podem ser realizadas de forma privada ou pelas instituições de ensino, contribuindo para pesquisa e integração com outros cafeicultores. A integração entre produção, turismo e ensino/pesquisa gera impacto positivo principalmente no âmbito regional. Todos estes segmentos se apoiam uns aos outros, fortalecendo o agroturismo e consequentemente, valorizando as agroindústrias.
Localizada no sul do estado do Espírito Santo, zona rural de São Bento/Domingos Martins, a Fazenda Camocim produz cafés orgânicos, certificados e cultivados sem agrotóxico ou aditivos químicos. A fazenda é A Fazenda Camocim está dividida em basicamente duas conhecida por produzir o café “Jacu Bird”, valorizado áreas diferentes: o local onde acontece o processo de por seu sabor e grau de pureza, obtidos graças a ser beneficiamento do café (Conjunto A, figura 14) e o local cultivado com mínima interferência humana. de recepção de turistas e visitantes (Conjunto B, figura A fazenda também é referência porque os proprietários 14), onde encontram-se a cafeteria e o espaço para a Figura 13 – Vista da recepção/cafeteria da Fazenda Camocim. Fonte: Produzido pelo autor, 2019.
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Figura 14 – Vista aérea das áreas de produção e recepção da Fazenda Camocim, cercados por arborização e cultivo. Fonte: Google Earth, adaptado pelo autor, 2019.
Figura 15 – Conjunto “A”: edificações da área de produção de café. Fonte: Google Earth, adaptado pelo autor, 2019.
degustação dos cafés.
dos grãos de café, que chega na fazenda em cestos; o espaço abriga os equipamentos responsáveis pela Toda área entre os conjuntos A e B corresponde lavagem e descascamento dos grãos que vão para a à plantação agroflorestal4 de café. Pela figura 14 é secagem. possível observar os pés de café juntamente com as árvores, que por sua vez, desempenham o papel de proteção, nutrição e abrigo para fauna, fomentando a biodinamização da plantação. O conjunto “A”, com área total de aproximadamente 5 mil metros quadrados, é composto por edificações relacionadas diretamente à produção e beneficiamento do café. São sete edificações que abrigam os equipamentos, processos e locais de serviços (figura 15). Na edificação número 1 acontece o processo de preparo 4 Um sistema Agroflorestal é uma forma de uso da terra na qual se resgata a forma ancestral de cultivo, combinando espécies arbóreas lenhosas (como frutíferas ou madeireiras) com cultivos agrícolas e/ou animais.
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ARQUITETURA EVOLUTIVA: PROJETO PARA UMA AGROINDÚSTRIA DO CAFÉ
Figuras 16, 17 e 18 – Ambiente 1: equipamentos para lavagem, declive com parte final da máquina de lavagem e descascadora, respectivamente. Fonte: Produzido pelo autor, 2019.
A edificação é totalmente aberta nas laterias; possui aproximadamente 45 metros quadrados, com pé direito de 3,60 metros na parte mais alta. Além disso, o espaço possui um declive de 2 metros (figura 17) para abrigar parte da máquina de lavagem dos grãos. As demarcações de número 2 correspondem às estufas para secagem do café (figura 19). Na estufa menor acontece a secagem no chão, e na maior, a secagem suspensa; estas quatro estufas juntas equivalem a aproximadamente 850 metros quadrados. As estufas comportam uma produção anual de 78 toneladas de café. Porém, existe espaço para uma produção ainda maior. Isso se deve à colheita acontecer de forma graduada, então, ocorre a rotatividade dos canteiros de secagem.
ensacados e identificados por meio de uma máquina carimbadora. O local possui aproximadamente 60 metros quadrados, com acesso direto ao armazém. A edificação 4 (figura 22) possui dois andares, e está situada em um declive, o que facilita o descarregamento e armazenamento das sacas, visto que o armazém se localiza no 2º pavimento. No 1º pavimento/térreo acontecem os processos de beneficiamento dos grãos, que por sua vez, recebe os grãos do armazém (2º pavimento) por meio de dutos.
Os andares possuem aproximadamente 95 metros quadrados cada. O estoque ensacado do segundo pavimento (figura 22) possui parede dupla (figura 23), sendo a parede externa em alvenaria e a interna em madeira pinus. Esta edificação a também possui forro em madeira, o que contribui para controlar a No ambiente 3 (figura 20 e 21) os grãos secos são temperatura interna.
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Figura 19 – Ambiente 2: secagem suspensa de café em estufas revestidas com lona plástica. Fonte: Produzido pelo autor, 2019.
Figuras 20 e 21 – Ambiente 3: local para processo de ensacar, fechar e carimbar os sacos de café. Fonte: Produzido pelo autor, 2019.
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ARQUITETURA EVOLUTIVA: PROJETO PARA UMA AGROINDÚSTRIA DO CAFÉ
No primeiro andar (figuras 24 e 25) acontecem os processos para beneficiamento dos grãos. O ambiente abriga três equipamentos. O acesso do armazém para o mesmo é feito por uma escada, e existem dutos que funcionam para passagem do café diretamente para as máquinas.
terem destino já definido antes de finalizar o processo de produção, o armazenamento final é pequeno, não havendo necessidade de muitas prateleiras. Por isso, a administração funciona juntamente com o armazenamento final.
Nos ambientes 6 e 7 funcionam, respectivamente, a O ambiente 5 refere-se ao processo de torrefação, estufa de mudas e caixa d’água para abastecimento envase, armazenamento final e administração. Apenas dos processos de produção e cultivo do café. aproximadamente 50% da edificação está sendo No conjunto “B” (figura 28) estão localizados a cafeteria usada para os processos descritos, visto que são com espaço de recepção, atendimento e consumo de ambientes que comportam equipamentos menores e o cafés, e o laboratório/sala de provas. processo é rápido. A sala de torrefação (figura 26) tem aproximadamente 30 metros quadrados; ela abriga um torrador para 15Kg de café e bancadas de apoio. A sala de envase (figura 27) tem aproximadamente o mesmo tamanho, com mesa para realização do processo e pequenos equipamentos. Pelo fato de os produtos
Figuras 22 e 23 – Ambiente 4: estoque ensacado e parede dupla, respectivamente. Nota-se o forro de madeira. Fonte: Produzido pelo autor, 2019.
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Figuras 24 e 25 – Ambiente 4: acesso que liga ao armazém e máquinas para ao beneficiamento do café e máquina de 1958 que separa os grãos por tamanho, respectivamente. Fonte: Produzido pelo autor, 2019.
Figuras 26 e 27 – Ambiente 5: sala de torrefação e envase, respectivamente. Fonte: Produzido pelo autor, 2019.
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ARQUITETURA EVOLUTIVA: PROJETO PARA UMA AGROINDÚSTRIA DO CAFÉ Figura 28 – Conjunto “B”: área de recepção da fazenda, edificações. Fonte: Google Earth, adaptado pelo autor, 2019.
Indicado com número 1 está a cafeteria (figura 29), ainda em processo final de construção, e que foi pensada para recepção de visitantes e degustação dos cafés. A edifícação número 2 é um container que abriga o laboratório de prova dos cafés (figura 30). Com a finalização do novo edifício (1) o laboratório será transferido para o mesmo. Após a realização da visita, é possivel destacar a importância de planejar os espaços pensando nas especificidades de cada equipamento. Ao observar na prática as funcionalidades e demandas de cada um deles, foi possível compreender cada ambiente onde os equipamentos estão inseridos, o que contribuiu positivamente para a nova proposta
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Figura 29 – Ambiente 1: edifício em construção que abrigará a cafeteria da Fazenda Camocim.
Fonte: Produzido pelo autor, 2019.
Figura 30 – Ambiente 2: edifício container que abriga o laboratório para prova dos cafés.
Fonte: Produzido pelo autor, 2019.
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PLANEJAMENTO EVOLUTIVO DA PROPOSTA
ARQUITETURA EVOLUTIVA: PROJETO PARA UMA AGROINDÚSTRIA DO CAFÉ
5. PLANEJAMENTO EVOLUTIVO DA PROPOSTA
Com o objetivo de melhorar os produtos, e de levar conhecimento para alunos/produtores que futuramente 5.1 DEFINIÇÕES E DIRETRIZES PARA ELABORAÇÃO podem se tornar parceiros e fortalecer o mercado do café especial, a fábrica foi pensada para ter espaço DO PROGRAMA DE NECESSIDADES dedicado a cursos e visitas técnicas. Assim, esperaPor meio de análises perceptivas das agroindústrias e se fomentar a união entre os produtores locais, como cafeterias existentes na região, foi possível determinar forma de despertar o potencial de cada um deles. o primeiro campo para elaboração das diretrizes: o público alvo. A ideia é integrar a produção com outras Diante das definições do nicho de mercado em que atividades a serem desenvolvidas na agroindústria. esta agroindústria foi pensada, os ambientes de Para isso, foram definidos três segmentos que, juntos, produção, recepção de turistas e realização de cursos formarão uma agroindústria capaz de atender às foram planejados inicialmente seguindo um modelo de demandas do público consumidor: organograma denominado ‘programa âncora’, que foi • Produção para comercialização nacional e criado para facilitar o entendimento do funcionamento internacional; dos espaços fabril (chão de fábrica), e não fabril, além • Produção aliada ao turismo, por meio de ambientes de mostrar como eles se relacionam entre si. Esse modelo de organização foi pensado para estabelecer para consumo in loco; de forma clara e prática os seguintes itens: • Produção integrada à pesquisa científica, por • O segmento da empresa; meio das instituições públicas e privadas. • A definição dos ambientes; A agroindústria tema desta proposta foi caracterizada • A proporção dos espaços; como uma empresa jovem no mercado, criada para • Relação de fluxos entre cada local. atender o mercado interno e externo de cafés especiais, com instalações modernas e arquitetura singular, que Desta forma, ficaria estabelecido, desde o primeiro busque acentuar a identidade local e a integração com momento, um diálogo próximo entre o arquiteto e o a natureza. empresário, com o objetivo de elaborar um programa de necessidades completo e um projeto evolutivo Para recepção de visitantes e turistas será criada uma pensado de forma integrada, a ser alcançado com ampla área de permanência acoplada a uma cafeteria, exatidão. loja da fábrica e área aberta, onde as pessoas poderão A figura 31 mostra o organograma elaborado, integrando tomar café e desfrutar da paisagem. os três segmentos da empresa: produção para
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comercialização, turismo e ensino/pesquisa. Nele, as áreas da agroindústria estão representadas por círculos que variam de tamanho, representando a proporção dos espaços. As setas indicam o fluxo de produção. Já as três faixas marrons ao fundo representam a divisão dos seguimentos na agroindústria, sendo: o mais claro
correspondente à produção/chão de fábrica; a faixa central é a administração e o laboratório de pesquisa; e, por fim, na faixa mais escura estão os espaços dedicados a recepção dos turistas e visitantes, além de espaço para atividades para visitantes técnicos e estudantes.
Figura 31 – Programa âncora – Organograma agroindustrial. Fonte: Produzido pelo autor, 2019.
PREPARO
INSUMOS
SECAGEM
TORREFAÇÃO/ MOAGEM/ ENVASE
ARMAZENAMENTO FINAL PRODUTOS
ARMAZENAMENTO
BENEFICIAMENTO
ADMINISTRAÇÃO E SALA DE PROVAS
RECEPÇÃO TURISTICA/ CAFETERIA
LOJA DA FÁBRICA
AMBIENTES
FLUXOS
PRODUÇÃO
ADMINISTRAÇÃO E PESQUISA
AUDITÓRIO
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TURISMO E ENSINO
ARQUITETURA EVOLUTIVA: PROJETO PARA UMA AGROINDÚSTRIA DO CAFÉ
A partir do programa âncora (figura 31), o programa de
necessidades detalha os ambientes dentro de cada etapa descrita, com suas funções e particularidades. Quadro 2 – Programa de necessidades. Fonte: Produzido pelo autor, 2019.
Descrição dos ambientes 1. Acesso de veículos;
Acesso serviços
2. Guarita;
Características do espaço
- Áreas cobertas para guarita e estacionamento das bicicletas;
- Depósito de lixo coberto; 3. Estacionamento para veículos de funcionários e maquinários; - Subestação de energia em área isolada. 4. Bicicletário;
Pré-dimens. mínimo 1. Portão com largura de 3,0m 2. 13,0m² 3. 1 vaga cada 35,0m² de adm. 4. 1 vaga cada 50,0m² de área cons.
5. Depósito de lixo; 6. Subestação de energia.
Preparo
5.10,0m² 1. Área coberta para carga e descarga do café que chega da lavoura; 2. Ambiente para abrigar o lavador e descascador; 3. Área para descarte de material orgânico advindo do lavador;
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- Necessidade de desnível de pelo menos 2 metros para acomodar o lavador; - Espaço com risco de escorregamento em função da alta circulação de água no lavador; - Pé direito mínimo de 5 metros.
6.10,0m² 1. Pista de 4,0x10,0m 2. 50,0m² 3. 20,0m²
Beneficiamento
Armazenamento
Secagem
1. Estufa; 2. Terreiros suspensos; 3. Circulação para descarregamento e carregamento do café. 1. Espaço para receber o café seco; identificar os sacos com estampadora e fazer o envase nos sacos identificados;
- Estufa com terreiros suspensos com medidas aproximadas de 1,0m x 18,0m cada;
2. 1,0 x 18 3. 0,8m²
- O armazenamento dos grãos deve ser feito em ambiente que forneça conforto térmico em tempo integral, isso pode ser feito através da construção de paredes duplas, associando alveira e madeira;
1. 60,0m² 2. 100,0m²
2. Ambiente fechado para - Bancada para separação dos lotes para análise. armazenamento dos grãos secos.
1. Amplo espaço para acomodação dos equipamentos de beneficiamento.
- Pé direito duplo;
2. Ambiente destinado a torrefação dos grãos de café; 3. Área de moagem café. 4. Área de envase e empacotamento e etiquetagem dos produtos.
1. 200,0 m²
- Necessidade de estratégias acústicas para abafar o som produzido pelos equipamentos.
1. Bloqueio sanitário entre o espaço - Bloqueio sanitário com lava botas, pia e tapete de beneficiamento e torrefação; sanitário; Torrefação e moagem
1. 800,0m²
- Área de torrefação equipada com torrador de café especial e mesa para computador que controla o torrador;
1. 12,0 m² 2. 40,0 m² 3. 35,0 m² 4. 50,0 m²
- Amplo espaço externo para que os dutos que saem do torrador possam expulsar o ar quente; - Bancadas; - Pia.
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ARQUITETURA EVOLUTIVA: PROJETO PARA UMA AGROINDÚSTRIA DO CAFÉ
Administração
Sala de provas
Armazenamento final
1. Sala de controle de entrada e saída de produtos; 2. Estoque do produto acabado pronto para comércio;
- Estação de trabalho para computador;
1. 12,0 m²
- Ambiente protegido da umidade e calor;
2. 56,0 m²
- Prateleiras para armazenamento de caixas;
3. 50,0 m²
- Corredor com largura mínima de 2,40m para 3. Espaço externo para circulação da empilhadeira. armazenamento de paletes e estacionamento da empilhadeira; 4. Área para carregamento dos caminhões. 1. Sala com bancadas para abrigar pequenos equipamentos necessários para o preparo do café e mesa central para provas feitas pelos visitantes.
1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9.
Recepção com mesa e cadeiras; Sala de espera com poltronas; Banheiros para recepção; Sala da diretoria; Sala de representantes; Sala de reuniões; Sala de arquivos; Tesouraria; Escritório aberto com: Departamento de contabilidade e orçamentos; Departamento de compras; 10. Sala de recursos humanos; 11. Sala de vigilância e controle -TI (Tecnologia da Informação); 12. Banheiros funcionários;
62
- Bancadas de apoio para equipamentos e realização de análises;
4. 100,0 m²
1. 25,0 m²
- Sala conjunta com mesa central para realização das provas pelos visitantes técnicos.
- Corredor interno de acesso para os demais ambientes da fábrica; - Acesso controlado; - Mesa e armário de arquivos na recepção; - Estação de trabalho; - Cofre; - Mesa com pontos de carregamento; - Cadeiras para recepção, diretoria e demais funcionários; - Banheiros acessíveis; - Prateleiras e armários para almoxarifado, depósito de material de limpeza e depósito de alimentos; - Bancada e pia para a área de serviço; - Cozinha com fogão geladeira e demais equipamentos industriais; - Cadeiras e mesas empilháveis e laváveis para o refeitório;
1. 10,0 m² 2. 20,0 m² 3. 15,0 m² 4. 20,0 m² 5. 12,0 m² 6. 13,0 m² 7. 12,0 m² 8. 10,0 m² 9. 30,0 m² 10. 10,0 m² 11. 13,0 m² 12. 10,0 m²
Administração Turistas / Cafeteria
Auditório Recepção visitantes e
13. Copa; 14. Almoxarifado (armazenamento de utilitários e ferramentas) e Depósito de material de limpeza; 15. Cozinha; 16. Refeitório; 17. Vestiários Masculino e Feminino; 18. Enfermaria; 19. Área de descanso e convivência.
- Armários individuais com chave para os vestiários masculino e feminino; - Bancada, pia e armários para a enfermaria;
1. Recepção com poltronas para espera; 2. Salas auditórios para que os cursos sejam ministrados;
- Auditório com estrutura para data show, com mesas e cadeiras.
1. 40,0 m² 2.100,0 m²
1. Recepção com espaço de espera;
- Recepção utilizada para turistas e visitantes que desejam se direcionar à administração, buscar informações locais e realizar visitas no complexo fabril;
1. 50,0 m²
2. Cafeteria com amplo espaço de permanência coberto e descoberto; 3. Deck;
- Bancos, pufes, mesas e pontos de carregamento para a área de descanso e convivência.
- Copa; -Espaço para mesas.
13. 13,0 m² 14. 23,0 m² 15. 70,0 m²16. 50,0 m² 17. 30,0 m² cada 18. 13,0 m² 19. 100,0 m²
2. 200,0 m² 3. 80,0 m² 4. 8,0 m² 5.16,0 m²
4. Depósito de alimentos;
6. 15,0 m² cada
5. Cozinha;
Loja da fábrica
6. Banheiros. 1. Prateleira e mesas para exposição dos produtos da fábrica e locais;
- Espaço de vendas também será destinado a comercialização de outros produtos locais, como o artesanato.
2. Caixa;
1. 30,0 m² 2. 10,0 m² 3. 10,0 m²
3. Espaço de degustação. Obs: O pré-dimensionamento refere-se à primeira etapa de construção/fase 01.
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ARQUITETURA EVOLUTIVA: PROJETO PARA UMA AGROINDÚSTRIA DO CAFÉ
5.2 FASES DE EXPANSÃO DO EMPREENDIMENTO As fases de expansão são caracterizadas por algumas diretrizes, que fundamentam como deve acontecer o processo de ampliação, aplicando os conceitos de Arquitetura Evolutiva e Flexível apresentados no referencial teórico. Para tornar o processo de evolução da fábrica o mais eficiente possível, levaram-se em consideração as seguintes diretrizes: • Terreno plano; • Uso de estruturas flexíveis, por exemplo, metálica e madeira; • Grandes vãos; • Cobertura de fácil manutenção e remodelação. As três fases foram pensadas para que a construção aconteça de forma gradual, com a indústria em funcionamento, como estabelecido anteriormente. Para não prejudicar a produção durante o processo de expansão, estabeleceu-se o “núcleo rígido” da fábrica. Esse núcleo, que também pode ser chamado de “coração” da fábrica seriam os ambientes onde encontram-se os equipamentos pesados, fixos e de difícil movimentação. Para a agroindústria de café, foi determinado como “núcleo rígido” o conjunto de ambientes onde são desenvolvidas as etapas de beneficiamento e torrefação/moagem. A partir deles a agroindústria passa a ser pensada evolutivamente, com objetivo de não realizar movimentações nos ambientes, mas apenas ampliações.
64
As fases evolutivas foram nomeadas em: 1ª Fase embrião; 2ª Fase evolutiva e 3ª Fase evolutiva. Segundo critérios classificatórios expressos pela ANVISA com base na Lei Complementar nº 139/2011 e a Medida Provisória nº 2.190-34/2001, relatados na metodologia, estas fases são apresentadas em forma de diagrama de ambientes, com proporção aproximada dos espaços, e indicação das ampliações futuras. Vale destacar que a área de secagem ficou afastada das demais pelo fato de ser constituídas por estufas plásticas que não podem ser sombreadas pelos edifícios do entorno, pois isto prejudicaria o processo de secagem.
5.2.1 PRIMEIRA FASE A primeira fase de construção (figura 32) representa o início da produção. Nesta etapa os ambientes foram planejados de modo a manter distanciamento entre as instalações iniciais, como na área de preparo, secagem e armazenamento, em relação à área de beneficiamento. É preciso garantir afastamentos suficientes para que os acessos não sejam comprometidos com as ampliações futuras e para eu não haja sombra nas estufas de secagem.
Figura 32 – Primeira Fase embrião da agroindústria. Fonte: Produzido pelo autor, 2019.
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ARQUITETURA EVOLUTIVA: PROJETO PARA UMA AGROINDÚSTRIA DO CAFÉ
5.2.2 SEGUNDA FASE A segunda fase evolutiva mostra a agroindústria de fabricação de café com ampliações que permitam o aumento da produção, além de melhores instalações para recepção de visitantes e oferta de cursos, como mostra a figura 33.
Figura 33 – Segunda fase evolutiva da agroindústria Fonte: Produzido pelo autor, 2019.
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5.2.3 TERCEIRA FASE Fase final da agroindústria com ampliação suficiente dos espaços para atender às necessidades de uma grande produção de café, recebimento de muitos visitantes apreciadores de café, bem como amplos espaços para sediar diversos cursos do ramo, como mostra a figura 34. .
Figura 34 – Terceira fase evolutiva da agroindústria Fonte: Produzido pelo autor, 2019
67
6
PROJETO
ARQUITETURA EVOLUTIVA: PROJETO PARA UMA AGROINDÚSTRIA DO CAFÉ
6. PROJETO 6.1 LOCALIZAÇÃO E TERRENO O lugar escolhido para a implantação da proposta projetual surgiu a partir de outro trabalho de conclusão curso, onde foi possível constatar as características ideais buscadas para realização do presente trabalho. O terreno (figura 35) localiza-se na região das Montanhas Capixabas, zona rural de Domingos Martins no distrito de São Bento. Está situado a 500 metros da Rodovia ES-165, que dá acesso à BR-262. O acesso ao terreno é por uma estrada de terra batida com saibro, que impede a formação de lama em dias chuvosos. É um local com poucas áreas em desnível: Apenas próximo à lagoa e à estrada existem taludes; as demais áreas são planas, como mostra a figura 36. O terreno possui cerca de 30mil metros quadrados e conta com instalações de água, luz, telefone e internet, que atualmente são utilizadas pela fábrica de geleias que já existe no local (figura 37). Figura 36 – Imagem panorâmica do terreno. Fonte: Produzido pelo autor, 2019
70
Figura 35 – Localização do terreno em relação ao Espírito Santo. Fonte: Produzido pelo autor, 2019.
Figura 37 – Fábrica de geleias. Fonte: Produzido pelo autor, 2019.
Figura 38 – Visuais do terreno. Fonte: Produzido pelo autor, 2019.
Duas características importantes foram observadas in loco. A primeira foi uma massa de vegetação nativa no terreno, que abriga silvestres regionais, como o Jacu, ave muito conhecida pelos apreciadores de café. Também foi possível notar a presença de uma nascente que deságua no Rio Jucu Braço Norte. Tais aspectos observados reforçam a importância de preservação da mata, beneficiando a fauna e a flora local. Vale considerar que o visual das montanhas (figura 38) é um atributo significante para a implantação da proposta, e que pretende-se valorizar o máximo possível na elaboração do projeto. Após visita ao terreno e constatações dos aspectos necessários para a elaboração da proposta projetual, foi realizado o estudo dos condicionantes ambientais.
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ARQUITETURA EVOLUTIVA: PROJETO PARA UMA AGROINDÚSTRIA DO CAFÉ
Figura 39 – Morfologia do terreno. Fonte: Produzido pelo autor, 2019.
6.2 CONDICIONANTES AMBIENTAIS As condicionantes foram ilustradas graficamente com a finalidade de simplificar a análise dos elementos ambientais, que por sua vez, influenciam diretamente no processo projetual. A análise morfológica do terreno aborda a demarcação dos taludes, áreas planas e áreas em desnível (figura 39). A partir disso, foram definidos os espaços ideais para implantação da agroindústria evolutiva: apenas as áreas planas.
72
Através da visita in loco e pesquisa com o dono do terreno, foi detectada a presença de uma nascente, ela está localizada na área em desnível no interior da massa de vegetação nativa, como mostra a figura 40. O terreno possui, portanto, recursos hídricos que merecem ser preservados, assim como a vegetação nativa.
Figura 40 – Hidrografia e vegetação. Fonte: Produzido pelo autor, 2019.
Quanto aos acessos (figura 41), o terreno possui uma via principal que permite conexão com a ES-165, localizada a 400 metros, outro acesso ao terreno é por uma via secundária que se encaminha para o interior do distrito de São Bento.
terreno. Assim, é possível afirmar que há outras opções de transporte público a uma distância razoável.
Na figura 41 é possível observar a edificação existente, que atualmente abriga a fábrica de geleias, e que será mantida na elaboração da proposta projetual da As linhas locais de ônibus passam pela rodovia ES- agroindústria evolutiva. Além disto, pode-se perceber 165, por onde chegaria a maioria dos funcionários. A que o terreno apresenta visuais interessantes para as rodoviária de Pedra Azul localiza-se no encontro da encostas do vale, situadas a SE e SO. ES-165 com a BR-262, cerca de 4,5 quilômetros do A análise de insolação e ventos (figura 42) mostra que
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ARQUITETURA EVOLUTIVA: PROJETO PARA UMA AGROINDÚSTRIA DO CAFÉ
Figura 41 – Acessos e visuais. Fonte: Produzido pelo autor, 2019.
os visuais do terreno estão voltados para orientação sul, o que abre uma gama de possibilidades para criação de fachadas que valorizem o visual por meio de elementos translúcidos. Além da utilização de vidros na fachada é interessante utilizar espaços abertos, como por exemplo os decks, que por sua vez têm capacidade de integrar o ambiente interno com externo, favorecendo a interação do público que frequenta o espaço com a natureza.
74
Figura 42 – Insolação e ventos predominantes.
Fonte: Produzido pelo autor, 2019.
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ARQUITETURA EVOLUTIVA: PROJETO PARA UMA AGROINDÚSTRIA DO CAFÉ
6.3. NORMAS TÉCNICAS E LEGISLAÇÕES As normas responsáveis pelas determinações técnicas quanto aos padrões construtivos da indústria de alimentos são: a Portaria SVS/MS nº 326, de 30 de julho de 1997, que estabelece requisitos gerais de higiene e de boas práticas de fabricação para alimentos produzidos/fabricados para o consumo humano; e a Resolução – RDC nº275, de 06 de novembro de 2002, norma específica que “dispõe sobre o Regulamento Técnico de Procedimentos Operacionais Padronizados aplicados aos Estabelecimentos Produtores/ Industrializadores de Alimentos e a Lista de Verificação das Boas Práticas de Fabricação em Estabelecimentos Produtores/Industrializadores de Alimentos.” Após análise do terreno e das normativas aplicáveis, é possível concluir que o mesmo apresenta características adequadas ao uso proposto. Tendo em vista a criação de uma arquitetura singular, é interessante ressaltar a importância da integração entre o projeto arquitetônico e todas essas potencialidades que o terreno oferece.
76
77
ARQUITETURA EVOLUTIVA: PROJETO PARA UMA AGROINDÚSTRIA DO CAFÉ
6.4 A PROPOSTA 6.4.1 INSPIRAÇÃO O projeto tem como inspiração a forma arquitetônica do “paiol”, um tradicional celeiro italiano usado para guardar ferramentas e armazenar alimentos, principalmente café. O “paiol” possui grande relevância histórica e sentimental, muito presente na região sul do estado do Espírito Santo, foram construídos pelos imigrantes italianos assim que chegaram ao Brasil, desde então fazem parte da história da arquitetura (GOMES, 2010, p. 39).
Figura 43 – Paiol
Para manter e preservar a memória arquitetônica Fonte: Google Imagens, 2019 dessa construção tão significativa, buscou-se no projeto retratar sua forma e seus materiais em uma arquitetura contemporânea, trazendo como referência o revestimento em madeira e o telhado de 2 águas (figura 43).
1. 6.4.2 O PROJETO O projeto foi pensado para abrigar uma agroindústria evolutiva de produção de café; o complexo abriga não só espaços para a fabricação, mas também atendimento aos turistas, visitantes e pesquisadores. O programa foi planejado tendo em vista necessidades espaciais para as futuras ampliações do empreendimento (fase 1, fase 2 e fase 3), para isso a proposta foi divida em três usos principais, que impactam diretamente no fluxo de pessoas e funcionários:
78
PRODUÇÃO
Espaço destinado ao beneficiamento do café / chão de fábrica. 2.
ADMINISTRAÇÃO E PESQUISA
Setor administrativo e espaço para fomento de pesquisas que envolvem a área de cafés. 3. TURISMO E ENSINO Amplo espaço para atendimento de turistas com cafeteria, restaurante e loja de produtos locais. Além de auditórios pensados para serem utilizados por produtores de cafés, com a finalidade de incentivar o ensino e integração dos produtores com os empresários.
Para melhor compreensão espacial, as implantações, plantas baixas, fachadas e cortes em sua maioria evidenciam a fase 3 de projeto, visto que é a fase que abriga a etapa final do processo evolutivo da agroindústria. Com a fase 3 em destaque, as demais fases são mostradas em forma reduzida, com o objetivo de comparar a evolução da arquitetura.
6.4.3 DIRETRIZES PROJETUAIS Para a concepção do projeto foram analisadas algumas condicionantes projetuais, que aplicadas, irão abranger a eficiência dos fluxos, das ampliações e distribuição espacial dos diferentes blocos. São elas: •
Sistema estrutural modular
•
Grandes vãos
•
Aplicação de formas geométrica simples
•
Terreno plano
6.4.4 ESTRUTURA A referencia arquitetônica ao “paiol” no projeto é a própria estrutura, criada com a forma do telhado de duas águas, ela demonstra robustez e imponência, no exterior e interior dos ambientes. A estrutura, chamada de pórtico, foi projetada no sistema de vigas e colunas de alma cheia, composta por 8 peças pré-fabricadas montadas in loco. Para a proposta o pórtico foi projetado para ter um vão central de 10 metros e espaçamento entre cada um de 12 metros, tais medidas se repetem na fase 1, 2 e 3 do projeto, caracterizando a arquitetura como modular.
Pensada para cada tipo de uso, foram criados três módulos padronizados que possuem o tipo de fechamento apropriado para cada função: • Estrutura para recepção de turistas, visitantes e pesquisadores: Módulo madeira. • Estrutura para fábrica e administração: Módulo fábrica. • Estrutura para secagem do café: Módulo estufa
MÓDULO
IRA
MADE MÓDULO
79
FÁBRICA
MÓDULO
ESTUFA
ARQUITETURA EVOLUTIVA: PROJETO PARA UMA AGROINDÚSTRIA DO CAFÉ
6.4.4.1 MÓDULO MADEIRA O módulo madeira é destinado ao bloco que abriga a cafeteria, restaurante, auditório e demais áreas. Possui uma camada externa e interna de madeira, proporcionando a característica desejada da arquitetura de “paiol”, também foram adicionadas camadas de telha termo acústica abaixo da madeira para controle da temperatura interna, com a finalidade de reduzir ao máximo a utilização de sistemas de refrigeração e aquecimento artificiais.
Madeira plástica para área externa
Telha termo acústico 0.5mm Barras de aço galvanizado Tábuas de madeira maciça
Tábuas de madeira maciça Barras de aço galvanizado Telha termo acústica 0,5mm Madeira plástica para área externa Porcelanato de alto impacto Placas cimentícias impermeabilizadas 10mm Barras de aço galvanizado Viga metálica em perfil H
80
6.4.4.2 MÓDULO FÁBRICA E ADMINISTRAÇÃO
6.4.4.3 MÓDULO ESTUFA
Este módulo se aplica a toda área de beneficiamento do café e o setor administrativo, incluindo o refeitório dos funcionários. A telha termo acústica foi determinante para o conforto dos ambientes, tendo em vista que as máquinas produzem ruídos, e o café precisa ser armazenado e beneficiado sem grandes variações de temperatura.
Pensada para utilização na secagem do café, o módulo estufa possui fechamento apenas com o plástico translucido, que retém o calor do sol aprisionando-o dentro dela.
Telha termo acústico 0.5mm
Plástico translúcida para estufa anti-uv
Barras de aço galvanizado Chapas cimentícias e tinta impermeável(fábrica)
Barras de aço galvanizado
Gesso acartonado (administração) Chapas cimentícias e tinta impermeável(fábrica) Barras de aço galvanizado
Gesso acartonado (administração) Barras de aço galvanizado
Plástico translúcida para estufa anti-uv
Telha termo acústico 0.5mm Piso epóxi. (fábrica) Piso porcelanato (administração) Placas cimentícias impermeabilizadas 10mm
Placas cimentícias impermeabilizadas 10mm
Barras de aço galvanizado
Barras de aço galvanizado
Viga metálica em perfil H
Viga metálica em perfil H
81
6.4.5 PAISAGISMO E SETORIZAÇÃO GERAL
Forração
Árvores
Pisos
Grama esmeralda
Manacá da serra
Utilizada na forração
Foram
de todo o complexo
pensadas para o
agroindustrial
estacionamento dos veículos de turistas,
Arbustos
afim de oferecer Beijo Utilizada na
sombra e a beleza da floração
bordadura do deck
Ipê branco
Abacaxi roxo
Uma árvore
Utilizada nas faixas de divisão entre os blocos, representada na cor roxa.
Intertravado Utilizado no estacionamento para turistas e no complexo agroindustrial Deck Desenhado para promover integração do ângulo de 45º do edifício com o piso.
posicionada dentro do complexo
Mobiliário e iluminação
produtivo,
Setorização geral dos ambientes
oferecendo sombra para o bicicletário
Strelizia
e outra no deck
Utilizada na
sombreando os
bordadura de todas
bancos
Bancos
Atendimentos aos turistas/
visitantes/pesquisadores
Moldados in loco, os bancos
Administração
fazem a bordadura do deck. Produção
as vias e calçadas Palmeira cica Utilizada na faixa de
Agroflorestal Cultivo de café em
grama em frente à
sistema agroflorestal
estrada.
aproveitando o local de mata nativa existente e entorno da lagoa.
Estufas secagem
Postes Setorização dos ambientes de apoio Desenhado em dois
1
Guarita 2 Depósito de lixo
tamanhos diferentes, menores para iluminação das
3 Bicicletário 4 Estacionamentos 5 Central de gás 6 Subestação de energia 7 Escada acesso à mata 8 Acesso ao pedalinho 9 Tratamento de águas residuais 10 Depósito de resíduos de café
áreas próximas aos edifícios e os maiores para iluminação geral.
5
15
25
50
6.4.6 FLUXOS FLUXO DE PRODUÇÃO
Fluxo de produção:
2
1
Preparo
2
Secagem
3
Descarte resíduos de café
4
3
5
1
6 2
4
5 8 10 11
7 9
Estampagem das sacas
Fluxo de Produção
Armazenamento grãos secos
1 Preparo
Beneficiamento
2 Secagem
7 3Torrefação e moagem Descarte resíduos de café
e rotulagem 8 4Envase Estapagem das sacas 9 Armazenamento final Armazenamento grãos secos
5
6
10 Café destinado à comercialização externa 6 Beneficiamento
11 Café destinado à comercialização no esta 7 Torrefação e moagem 12
12 Café destinado ao laboratório de provas 8 Envase e rotulagem
9 Armazenamento final 10 Café destinado à comercialização externa 11 Café destinado à comercialização no estabelecimento 12 Café destinado ao laboratorio 5
15
25
50
FLUXO DE PEDESTRES
FLUXO DE VEÍCULOS
Funcionários
Func
Turistas, visitantes e pesquisadores
Carr mer
Fluxo de produção
Turis e pe
Flux
a
abelecimento
Fluxo de produção Turistas, visitantes e pesquisadores
Carregamento de mercadoria
Funcionários
Fluxo de produção
Turistas, visitantes e pesquisadores 5
15
25
50
5
15
25
50
Funcionários
6.4.7 PLANTAS BAIXAS - MÓDULOS PLANTA BAIXA - MÓDULO MADEIRA
FASE 1:
FASE 2: Acesso principal para turistas, visitantes e pesquisadores 1 Loja de produtos da fábrica e artesanato local 2 Atendimento restaurante/cafeteria 3 Cozinha do restaurante/cafeteria 4 FASE 3:
Espaço para mesas e varanda com estar 5 Recepção do setor administrativo 6 Banheiros 7 Recepção auditórios 8 Auditório 01 9 Auditório 02 10
1
2
4
6
3
5
5
15
PLANTA BAIXA MÓDULO FÁBRICA - FASE 3 Armazenamento final Setor administrativo Refeitórios
Armazenamento final dos produtos 1 Sala do presidente 2 Vigilância e TI 3 Escritório compartilhado 4 Sala de reuniões 5 Copa 6 Banheiro para funcionários do adm. 7 Sala de RH 8 Sala de representantes 9 Almoxarifado 10 Laboratório de rpovas de café 11 Vestiário masculinos 12 Vestiários feminino 13 Descanso de funcionários 14 Refeitório 15 Cozinha do refeitório 16
5
15
25
FASE 1:
2
5
6
8
9
10
FASE 2: 12 1
14 13 3
FASE 3:
4
7
11
15
16
PLANTA BAIXA MÓDULO FÁBRICA - FASE 3 Armazenamento das sacas Chão de fábrica
FASE 1:
FASE 2:
Preparo, lavagem do café 1 Estamparia 2 Armazenamento do café em sacos 3 FASE 3:
Chão de fábrica, etapa de beneficiamento 4 Chão de fábrica, etapa de torrefação e moagem 5 Chão de fábrica, etapa de envase e rotulagem 6 Bloqueio sanitário 7
5
15
25
1
3
6
2
4
5
7
PLANTA BAIXA MÓDULO ESTUFA - FASE 3 Estufas para a secagem do café
FASE 1:
FASE 2:
FASE 3:
5
15
6.4.8 FACHADAS FACHADA SUL
FASE 1:
FASE 2:
FASE 3:
FACHADA NORTE
FASE 1:
FASE 2:
FASE 3:
6.4.9 CORTES CORTE LONGITUDINAL
FASE 1:
FASE 2:
5
15
25
FASE 3:
CORTE TRANSVERSAL
FASE 1:
FASE 2:
5
15
25
FASE 3:
6.4.10 PERSPECTIVAS EVOLUTIVAS
SE FA
1:
SE FA
SE FA
2:
3:
6.4.11 PERSPECTIVAS VOLUMÉTRICAS - FASE 3
PERSPECTIVA AÉREA LESTE
PERSPECTIVA AÉREA OESTE
FACHADA PRINCIPAL
FACHADA PRINCIPAL
FACHADA PRINCIPAL
ACESSO TURISTAS, VISITANTES E PESQUISADORES
DECK CAFETERIA
DECK CAFETERIA
DECK CAFETERIA - ACESSO À MATA
DECK CAFETERIA - ACESSO AO LAGO
ACESSO PEDESTRE CAFETERIA
INTERIOR CAFETERIA
INTERIOR CAFETERIA
ACESSO SERVIÇOS
BICICLETÁRIO E ESTACIONAMENTO SERVIÇOS
ESTUFAS DE SECAGEM
INTERIOR DA ESTUFA
VIA INTERNA DA FÁBRICA/SERVIÇOS
DESCANSO DE FUNCIONÁRIOS
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste trabalho foram abordados os conceitos de arquitetura evolutiva e flexível para aplicação em uma agroindústria de beneficiamento de café, através dos estudos foi possível compreender a importância de analisar cada passo da produção para elaboração de um programa de necessidades eficiente. O entendimento das etapas consiste em saber principalmente qual o papel de cada equipamento utilizado, suas funções, especificidades e quais são suas dimensões. Com analises detalhadas de cada passo da produção as fases do projeto evolutivo tornam-se ágeis, visto que, já se tem em mente o processo de produção e suas particularidades.
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Boas Práticas de Fabricação Disponível em < http://portal. anvisa.gov.br/registros-e-autorizacoes/alimentos/empre sas/boas-praticas-de-fabricacao>. Acesso em: 20 de agosto de 2019. Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Porte de empresa. Disponível em < http://portal.anvisa.gov. br/porte-de-empresa>. Acesso em: 28 de maio de 2019. Associação do Agroturismo (AGROTUR). O que é o agroturismo. Disponível em: <http://www.agrotur.com.br/ website/Site/Institucional.aspx>. Acesso em: 13 de maio de 2019. Associação Brasileira da Indústria do Café (ABIC). Origem do Café. Disponível em <http://abic.com.br/cafe-com/ historia/>. Acesso em: 16 de maio de 2019. BARBOSA, Mirella de Souza. Arquitetura Flexiveç: Um desafio para uma melhor qualidade habitacional. Tese de mestrado UFPB. João Pessoa, 2016. BRANDÃO, Douglas Queiroz. Diversidade e Potencial de Flexibilidade de Arranjos Espaciais de Apartamentos: uma análise do produto imobiliário brasileiro. 2002. 443 f. Florianópolis. Tese (Doutorado em Engenharia de Produção) - Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2002. BRANDÃO, Douglas Queiroz. Habitação Social Evolutiva: aspectos construtivos, diretrizes para projetos e proposição de arranjos espaciais flexíveis. Cuiabá: CEFETMT, 2006. BRANDÃO, Douglas Queiroz. Disposições técnicas e diretrizes para projeto de habitações sociais evolutivas. Ambiente construído, Porto Alegre, v. 11, n. 2, p.73-96. abr./jun. 2011. Centro do Comércio de Café de Vitória (CCCV). História do Café. Disponível em <http://www.cccv.org.br/ institucional/historia-cafe/>. Acesso em: 16 de maio de 2019. Empresa de Pesquisa Energética. Balanço Nacional Energético 2018 – BEN. Disponível em <http://www.epe. gov.br/sites-pt/publicacoes-dados-abertos/publicaco es/PublicacoesArquivos/publicacao-303/topico-419/ BEN2018__Int.pdf>. Acesso em: 14 de maio de 2019. FARJAMI, Ghazal. Authentic emergence of flexibility in contemporary architecture. Open House International, v. 40, nº 4, January, 2015. Disponível em: <https://goo.gl/BU11Jo>. Acesso em: 18 de junho de 2019. FORTY, Adrian. Words and buildings: A vocabulary of modern architecture. New York: Thames & Hudson Inc, 2000.
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