Trabalho, Reprodução Social e Serviço Social

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PREFÁCIO* Meu desejo era ter inspiração poética e conhecimento filosófico para abrir este prefácio falando do tempo como uma categoria que revela e, ao mesmo tempo, esconde as dimensões factual, social e humana da vida. Como versou Mauro Iasi (2016), o tempo cotidiano é insuprimível da vida humana e, por isso mesmo, ele é também histórico, marcado pelos processos de constituição, produção e reprodução de uma determinada forma de vida. Uma vida histórica que, por sua vez, é mediada por situações concretas de cada realidade: as particularidades da formação social, da luta de classes, da constituição do Estado, da cultura e das ideologias, que expressam certo modo de ser e viver em sociedade. Essa remissão à categoria tempo, aqui simplificada pelos meus próprios limites no trato do tema, adquiriu razão de ser no exato momento que recebi o convite das organizadoras para prefaciar esta Coletânea – em plena vigência do “isolamento social”, requerido pela pandemia da COVID-19 e, em meio a uma crise política do Governo Bolsonaro, que nos ameaça, também, com outros vírus da ignorância e do obscurantismo negacionista. Pois bem, são diversas as referências ao tempo que farei neste prefácio: o tempo que a memória extraiu do cotidiano; o da conjuntura sanitária e política brasileira; e o tempo que marca a trajetória intelectual e política do Serviço Social brasileiro. Do cotidiano da década de 1990, recupero o cenário de uma Oficina da Associação Brasileira de Ensino em Serviço Social (ABESS), realizada na Escola de Serviço Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) em 1995, em que participei de uma mesa sobre “Trabalho, Questão Social e Serviço Social”, a convite da Professora Maria Helena Rauta, como parte das discussões relativas à construção das Diretrizes Curriculares para o curso de Serviço Social. Ao final da sessão, a professora Rose Serra me apresentou à jovem diretora da Faculdade de Serviço Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (FSS/UERJ), Professora Rosangela Nair Barbosa, que de pronto me convidou para ser pesquisadora-visitante da Faculdade. Com o meu aceite, iniciava-se ali uma experiência que marcaria minha vida profissional e acadêmica, em face do desafio de implementar, junto ao jovem e renovado corpo docente daquela instituição de ensino superior (IES), as primeiras iniciativas que consolidariam a pesquisa como tripé da educação superior, ao lado do ensino e da extensão, na FSS/Uerj. *

DOI – 10.29388/978-65-86678-15-4-0-f.11-16 11


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