A NECESSÁRIA REDISCUSSÃO DA CATEGORIA DIVISÃO SEXUAL DO TRABALHO: INFERÊNCIAS A PARTIR DE ANÁLISES DE EXPERIÊNCIAS TRANS* Carolina Gonçalves Santos de Brito Carla Cristina Lima de Almeida Guilherme Silva de Almeida
Introdução A divisão sexual do trabalho consiste numa modalidade da divisão social do trabalho, da mesma forma que a divisão entre o trabalho manual e o trabalho intelectual ou a divisão internacional do trabalho (KERGOAT, 1989, p. 89). Não configura, portanto, “a única forma de divisão social do trabalho: ela articula-se, interpenetra-se com outras formas de divisão social” (KERGOAT, 1989, p. 89), a exemplo dos debates em torno da divisão racial do trabalho (GONZÁLEZ, 2018). Estudos feministas em torno da problemática da divisão sexual do trabalho desvelam relações de classe e relações de gênero, relações e práticas de trabalho e relações e práticas de gênero, enquanto indissociáveis. Deste modo, questionam e recusam análises sexualmente cegas a respeito do mundo do trabalho e reivindicam a imprescindibilidade de pensar a classe trabalhadora no feminino (a exemplo, Kergoat, 1989; Souza-Lobo, 1991; Hirata, 2002). O conceito de divisão sexual do trabalho emergiu em torno de concepções rígidas de masculinidades e feminilidades, e, neste sentido, a diversidade trans não se constituiu objeto (direta ou indiretamente) de atenção nos estudos pioneiros acerca da divisão sexual do trabalho. Aqueles estudos, em outras palavras, não visualizaram identidades de gênero para além de expressões binárias e cisgêneras, processo relacionado à visibilidade das relações de gênero na perspectiva da época em que foram produzidos.
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DOI – 10.29388/978-65-86678-15-4-0-f.49-70 49