Monografia helena miranda

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NAS LINHAS DO CAMPO: A PARTICIPAÇÃO FEMININA EM PROGRAMAS ESPORTIVOS COM COMENTARISTAS HELENA CAROLINE MIRANDA ACADÊMICA

BEATRIZ CAVENAGHI PROFESSORA ORIENTADORA

Profº.Me. MAURÍCIO MELIM Profª.Me. CAMILA DIANE SILVA BANCA AVALIADORA


INSTITUTO SUPERIOR E CENTRO EDUCACIONAL LUTERANO BOM JESUS/IELUSC

COMUNICAÇÃO SOCIAL | CURSO DE JORNALISMO

HELENA CAROLINE MIRANDA

NAS LINHAS DO CAMPO: A PARTICIPAÇÃO FEMININA EM PROGRAMAS ESPORTIVOS COM COMENTARISTAS

JOINVILLE 2016


HELENA CAROLINE MIRANDA

NAS LINHAS DO CAMPO: A PARTICIPAÇÃO FEMININA EM PROGRAMAS ESPORTIVOS COM COMENTARISTAS

Monografia apresentada ao Instituto Superior e Centro Educacional Luterano Bom Jesus/Ielusc para obtenção de grau em Comunicação Social com Habilitação em Jornalismo, sob orientação da Profª. Me. Beatriz Cavenaghi.

JOINVILLE 2016


HELENA CAROLINE MIRANDA

NAS LINHAS DO CAMPO: A PARTICIPAÇÃO FEMININA EM PROGRAMAS ESPORTIVOS COM COMENTARISTAS

Monografia apresentada ao Curso de graduação em Comunicação Social com Habilitação em Jornalismo como requisito parcial para o título de bacharel em Comunicação Social, aprovada pela seguinte banca de professores examinadores:

_________________________________________ Orientadora: Profª. Me. Beatriz Cavenaghi

_________________________________________ Profº. Me. Maurício Melim

_________________________________________ Profª. Me. Camila Diane Silva


Para todos que acreditaram em mim. E para os que veem no jornalismo esportivo uma fonte de inspiração.


À Associação Chapecoense de Futebol, que estrela desse time guerreiro nunca se apague.


Poema Perfil Gestoras, mulheres diferentes Fortes, exigentes, presidentes Gestoras, amantes do esporte Persistentes, sozinhas e polivalentes Gestoras, mulheres do novo Trabalham finais de semana levando esporte para o povo Gestoras, mães autônomas Mandam, brigam e são mauzonas Gestoras, mulheres felizes Carismáticas, criativas e capazes Gestoras, criticam cartolas, os donos da bola Querem o esporte na base da escola. Euza Maria de Paiva Gomes (2008).


AGRADECIMENTOS

Eu escolhi fazer jornalismo aos 14 anos de idade. Um dia olhei para minha mãe e perguntei como fazia para ser igual aquela apresentadora do programa de esportes, então ela me disse que tinha que ser jornalista e se especializar na área esportiva. Pronto, era isso que eu queria! Eu ia falar daquilo que eu mais gostava: Futebol. Sim, acreditem, eu escolhi ser jornalista porque foi a maneira que encontrei para falar de esportes. E aqui estou! Concluindo minha monografia e falando exatamente de um tema que fez eu escolher essa profissão, profissão pela qual eu me orgulho. O curso de comunicação, não foi só uma escolha profissional, mas um desafio. Sempre fui uma criança tímida. Dessas que tinha vergonha até de ir nas festinhas de aniversário dos amiguinhos da escola. Até hoje sou assim. Eu já me privei de muitas coisas por ter vergonha. Quando aceitei o desafio de ser jornalista a timidez era algo a ser superado. Confesso que não superei totalmente, isso é algo que vou carregar por toda a minha vida, porém toda a pequena experiência que tive seja em frente a câmera, entrevistando alguém ou até, conseguindo expressar minhas opiniões, foi uma grande vitória. Vitória para mim, que não acreditava nem em mim mesma e também para os outros que nunca acreditaram no meu potencial. Isso foi a maior conquista até este momento. Aos agradecimentos, primeiramente a Deus, por guiar meus passos e me dar sabedoria, paciência e persistência para a realização de um sonho. Agradeço aos meus pais, Lucrides e Roselei por serem compreensivos e por aceitar que eu fosse aquilo que eu queria ser: Jornalista. Obrigada por serem pai e mãe maravilhosos, sempre estiveram comigo em todas as horas, em todos os segundos. Minha vida eu devo à vocês. Agradeço por Deus ter permitido que vocês fossem meus pais. As minhas amigas e companheiras de jornada. Fiz amizades que vou levar para vida. Agradeço, em especial, por ter conhecido, nesse tempo, três pessoas. Mariana Luiza, uma garota maravilhosa, tudo com a "Mari" é perfeito, pois ela faz você se sentir especial, isso é um dom que ela tem. Vou ser eternamente grata por nossas conversas, risadas, caronas e gordices. Ao longo dos anos você se revelou uma amiga muito especial, além disso, tive a oportunidade de trabalhar alguns meses contigo, isso foi uma experiência incrível. Obrigada, Mari, por estar ao meu lado todo esse tempo. Espero que depois da faculdade possamos continuar nossa amizade. A Bruna Hammes, ficamos amigas, na parte final do curso, mas nossa parceria deu certo ao longo do tempo. Fomos nos ajudando e nos apoiando nas partes


mais pesadas que a faculdade nos exigiu. Nunca vou esquecer nossa apresentação na SIC. Fizemos ao vivo, e deu tudo certo! Obrigada, Bru. E por último, mas não menos importante, agradeço à Késia Cristine. Essa sim é uma amigona. Desde o primeiro dia, nosso "santo bateu", haha. De todas as pessoas que conheci, nunca vi alguém ser tão forte. Késia, você é uma pessoa maravilhosa, ao longo desses quatros anos fizemos muitas coisas juntas trabalhos, entrevistas, e até na hora dos projetos experimentais nós nos ajudamos e ainda fizemos uma viajem louca para Floripa. Nossos intervalos cheios de gordices também foram especiais. Obrigada do fundo do coração por sua amizade. À Beatriz Cavenaghi, minha orientadora, minha professora. Mestra você foi uma pessoa maravilhosa, sempre acreditou em mim. Em todas as minhas orientações eu encontrava uma amiga para compartilhar e também adquirir conhecimento. Serei eternamente grata por toda ajuda, por todas as dicas, todas as conversas e oportunidades que tu me proporcionaste. Um muitíssimo obrigada de coração. A todos os familiares, amigos e colegas que escutaram minhas histórias, ouviram minhas lamentações, angústias e partilharam dos momentos de alegria. Enfim, depois de todo o esforço cheguei ao fim do jogo. Obrigada de coração por estarem na torcida por mim!


RESUMO

Esta monografia tem como objetivo analisar a participação feminina nos programas esportivos com comentaristas da TV brasileira. O objeto empírico da pesquisa são as jornalistas Renata Fan, do programa Jogo Aberto da TV Bandeirantes e Michelle Giannella do programa Gazeta Esportiva da TV Gazeta para investigar qual é a imagem e função da mulher jornalista, âncora e mediadora de programas de esporte com comentaristas. A partir da metodologia de análise de conteúdo em jornalismo foram analisados as edições de 26 a 30 de setembro de 2016 dos programas, de acordo com as categorias construídas na relação entre teoria e objeto. A análise apontou que a mulher está cada vez mais presente nos programas de esportes, e que atualmente elas ocupam cargos como repórteres, âncoras e até como mediadoras de debates esportivos. Porém, sua inserção dentro da editoria ainda não é total, pois a mulher ainda não conseguiu se consolidar como comentarista nos programas debate ou mesa redonda esportivas. Palavras Chaves: Mulher; Esporte; Televisão; Jogo Aberto; Gazeta Esportiva;

ABSTRACT

This monograph has as objective to analyze the feminine participation in the esportivos programs with commentators of the on brazilian television. The empirical object of the research are the journalists Renata Fan, presenter of Jogo Aberto on TV Bandeirantes and Michelle Giannella of Gazeta Esportiva on TV Gazeta in which it looks forward to investigate what is the portrait and the role of the woman journalist, anchor and mediator of sports programs with commentators. Starting with the content analysis methodology in journalism it was inspect the programs editions that aired in the month of September in the year of 2016, between the days 26 and 30, according to the relation of theory and object. The analysis has pointed that woman is much more present nowadays and have jobs like reporters, anchors and even as mediators on sports debates. However, their insertion inside of the editorials is still not complete, because the woman has not yet consolidate herself as a commentator on debate programs or sports tables. Keywords: Woman; Sport; Television; Jogo Aberto; Gazeta Esportiva;


LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Participação feminina nos esportes olímpicos ..................................................... 24 Figura 2 - Introdução das mulheres nas modalidades olímpicas ao longo da história ........... 25 Figura 3 - Distribuição da população ocupada, por grupamentos de atividade, segundo o sexo em 2011 ............................................................................................................................... 28 Figura 4 - Rendimento médio do trabalho das pessoas ocupadas, por sexo no RS em dezembro 2011 .................................................................................................................... 29 Figura 5 - Regiane Ritter entrevista jogadores dentro do vestiário ....................................... 41 Figura 6 - Quadro Bolsa Redonda do Esporte Espetacular ................................................... 45 Figura 7 - Renata Fan junto com os comentaristas do Jogo Aberto ...................................... 52 Figura 8 - Renata Fan apresentando o Jogo Aberto .............................................................. 53 Figura 9 - Michelle Giannella e os comentaristas do Gazeta Esportiva ................................ 54 Figura 10 - Michelle Giannella apresentando o Gazeta Esportiva ........................................ 55 Figura 11 - Renata Fan interage todos os dias com os telespectadores através de hashtags... 57 Figura 12 - Renata interage com o telespectador através de enquete e Denílson fala pede para o telespectador enviar ideias para fazer piada com a apresentadora....................................... 58 Figura 13 - Renata contextualiza e introduz a matéria para o telespectador e interage com o comentarista Denílson .......................................................................................................... 59 Figura 1 - Enquadramento de câmera durante as análises do comentarista ........................................ 60

Figura 15 - Renata interagindo com os repórteres ................................................................ 61 Figura 16 - Enquadramentos utilizados durante o debate ..................................................... 62 Figura 17 - Brincadeira realizada com Renata durante o programa Jogo Aberto .................. 65 Figura 18 - Comentarista Héverton Guimarães utiliza máscara do jogador do Atlético-MG para rir de Renata ................................................................................................................. 66 Figura 19 - Renata comentando no programa do dia 27 de setembro de 2016 ...................... 67 Figura 20 - Figurino usado por Renata durante a semana de 26 a 30 de setembro de 2016 ... 68 Figura 21 - Algumas das roupas usadas por Renata nas edições de outubro de 2016 do programa.............................................................................................................................. 69 Figura 22- Renata faz merchandising durante o programa Jogo Aberto. .......................................... 70 Figura 23 - Denílson comentarista faz merchans no Jogo Aberto ......................................... 70 Figura 24 - Michelle interage com o telespectador .............................................................. 72 Figura 25 - Michelle interagindo com o telespectador através de enquete feito no site gazetaesportiva.com ............................................................................................................. 72 Figura 26 - Enquadramentos de câmera usados durantes as interações dos integrantes do Gazeta Esportiva .................................................................................................................. 73 Figura 27 - Michelle conversando com os repórteres do Gazeta Esportiva ........................... 74 Figura 28 - Michelle quase nunca faz comentários de opinião dentro do Gazeta Esportiva .. 75 Figura 29 - Figurino usado por Michelle na semana de 26 a 30 de setembro de 2016. ......... 76 Figura 30 - Figurinos usados por Michelle nas edições de outubro de novembro de 2016 .... 76 Figura 31- Uniforme dos comentaristas do Gazeta Esportiva ............................................... 76 Figura 32- Merchans no Gazeta Esportiva ........................................................................... 77 Figura 33- Renata Fan improvisando após a pesquisa não mostrar os números na tela ......... 80 Figura 34- Pesquisa feita na internet com o nome de Renata Fan ......................................... 81 Figura 35- Pesquisa feita na internet com o nome de Michelle Giannella............................. 82 Figura 36- Diferenças em programas esportivos só com homens e os que tem mulheres ...... 83


LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Passo a passo da metodologia aplicada na pesquisa ............................................. 50 Tabela 2 - Lista dos programas esportivos da TV brasileira com comentaristas ................... 51


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 14

CAPÍTULO 1 - PRÉ-JOGO - A HISTÓRIA DA MULHER ........................................... 18 1.1 Elas na sociedade ........................................................................................................... 18 1.2 No esporte ...................................................................................................................... 21 1.3 No mercado de trabalho ................................................................................................. 25 CAPÍTULO 2 - APITA O ÁRBITRO - O ESPORTE NO JORNALISMO .................. 30 2.1 No rádio ......................................................................................................................... 32 2.2 Na televisão ................................................................................................................... 35 2.3 Inserção da mulher na editoria esportiva ......................................................................... 39 2.4 Elas no telejornalismo esportivo ..................................................................................... 42 2.4.1 A beleza da mulher no jornalismo de esportes ............................................. 46 CAPÍTULO 3 - PRIMEIRO TEMPO - REPRESENTAÇÃO DA MULHER NO TELEJORNALISMO ESPORTIVO BRASILEIRO ....................................................... 48 3.1 Etapas de análise ............................................................................................................ 49 3.2 Objeto Empírico ............................................................................................................ 50 3.3 Categorias de análise ...................................................................................................... 55 CAPÍTULO 4 - SEGUNDO TEMPO - ANÁLISE DOS PROGRAMAS ESPORTIVOS JOGO ABERTO E GAZETA ESPORTIVA .................................................................... 56 4.1 Jogo Aberto ................................................................................................................... 56 4.1.1 Interação com o público ................................................................................... 57 4.1.2 Interação com os comentaristas ....................................................................... 59 4.1.3 Comentários ..................................................................................................... 66 4.1.4 Figurino e acessórios ........................................................................................ 68 4.1.5 Merchandising .................................................................................................. 69 4.2 Gazeta Esportiva ............................................................................................................ 71 4.2.1 Interação com o público ................................................................................... 71 4.2.2 Interação com os comentarista ........................................................................ 73 4.2.3 Comentários ..................................................................................................... 74 4.2.4 Figurino e Acessórios ....................................................................................... 75 4.2.5 Merchandising .................................................................................................. 77 4.3 Proximidade e diferença dos programas analisados......................................................... 78 FIM DE PAPO - CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................ 79 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................. 85 APÊNDICE E ANEXO ...................................................................................................... 89 APÊNDICE 1- Fichas de descrição ........................................................................... 89 ANEXO 1- Amostras dos programas ........................................................................ 90


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INTRODUÇÃO Desde o início dos tempos existe desigualdade entre homens e mulheres. Atualmente, as diferenças entre os gêneros não é tão explícita, porém ainda existe, mesmo sendo em menor proporção. As mulheres sempre lutaram para conquistar espaço na sociedade, política, mercado de trabalho, esporte e vida cultural, e no decorrer dos anos conseguiram adquirir este em áreas que antes eram só dominadas por homens. Ao longo do tempo, as mulheres vêm deixando a imagem de sexo frágil e inferior, para se destacar em áreas, que antes eram consideradas inadequadas. No jornalismo não foi diferente, esse campo passou por mudanças, e deu a elas cada vez mais abertura para uma maior participação. A inserção feminina na imprensa brasileira ocorreu no final do século XIX e no início do século XX. A conquista do espaço, ao longo dos anos, deu para as mulheres mais credibilidade para atuar em várias editorias dentro do jornalismo. Hoje dentro das redações elas estão presentes em todos os meios de comunicação. Na televisão como âncoras, repórteres, editoras e apresentadoras. No rádio, na mídia impressa e na internet também é possível notar a colaboração de mulheres em diversos assuntos. Até os anos 30, profissões como medicina, direito, jornalismo e arquitetura pertenciam aos homens (ABREU e ROCHA, 2006). Mas essa tendência mudou. No jornalismo brasileiro, as redações começaram a receber um grande número de mulheres a partir da década de 1970. E foi nesse tempo que elas conseguiram se inserir na editoria de esportes. Hoje a presença delas se destaca em várias áreas da mídia. Mas, até meados dos anos 80 as redações eram predominantemente masculinas e nenhuma mulher poderia cobrir eventos esportivos. Atualmente a abertura para a participação feminina está cada vez mais ampla. Podemos observar que não só no jornalismo, mas em outras áreas a mulher conquistou mais espaço. Elas têm muito mais liberdade para apresentar, mediar e realizar matérias em programas de esportes. Mas, ainda são poucos os estudos feitos que analisem o papel das mulheres jornalistas no campo esportivo. Hoje muitas mulheres são repórteres e apresentadoras de programas esportivos, porém ainda são vistas com desconfiança quando tem que comentar sobre esportes, principalmente sobre futebol. Geralmente em programas com mesa redonda1, a mulher nunca senta na roda para discutir esportes, fica em um lado do estúdio fazendo a mediação das perguntas ou

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Mesa redonda onde se é discutido um tema ou assunto, sobre o qual todos participantes têm o direito de dar suas opiniões.


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jogando no ar questionamento de torcedores que mandam mensagem via web, exercendo assim, um papel secundário. O problema da pesquisa insere-se em um cenário onde há um aumento da inserção das mulheres no telejornalismo esportivo, campo este onde os homens ainda são maioria. A partir disso, surgiu o questionamento: se as mulheres já conseguiram conquistar seu espaço dentro do telejornalismo esportivo como âncoras, apresentadoras e até mediadoras de debates esportivos, porque elas ainda não possuem o mesmo espaço para serem comentaristas dentro dos programas do gênero? O texto da jornalista, Renata Mendonça publicado no site Dibradoras em outubro de 2016 trouxe uma discussão interessante sobre a falta de mulheres como comentaristas nos programas de esportes. Ela trouxe o exemplo do programa Bem Amigos da SporTV, que vai ao ar todas as segundas às 21h. O programa é apresentado por Galvão Bueno e recebe convidados para falar sobre a rodada do fim de semana no futebol, e também sobre outras modalidades esportivas. Além disso, conta com a participação de alguns nomes da música que cantam e também comentam os jogos. O dia analisado pela jornalista foi a edição do Bem Amigos que foi ao ar um dia antes do Dia da Mulher deste ano. Nesta edição haviam sete homens e apenas uma mulher no programa.

E talvez eu tenha notado justamente porque era 7 de março, véspera de Dia Internacional Da Mulher. O programa contava com a participação de ao menos sete homens e apenas uma mulher, Joanna de Assis. Mas ela quase não falou – ainda que um dos convidados, o nadador Daniel Dias, fosse um velho conhecido da jornalista, que é grande especialista do esporte paralímpico e escreveu o livro "Para-heróis". A participação de Joanna se limitava a ler perguntas das redes sociais – e ela teve de insistir quando quis ela própria perguntar, porque Galvão disse que 'estava acabando o tempo'" (MENDONÇA, 2016).

Após essa análise a jornalista constatou que a maioria dos programas esportivos de debate da televisão brasileiro não possuem mulheres como comentaristas."Por que não tem nenhuma mulher nos programas de debate sobre futebol? Ou por que, quando tem, é apenas uma – muitas vezes apenas com a função de ler os comentários das redes sociais"? (MENDONÇA, 2016). Ainda segundo ela ter mulheres na cobertura de esportes é mais do que necessário, sendo essencial. "Mulheres podem trazer uma visão que homens não conseguem ter – especialmente em uma mídia que já tem tantos elementos machistas, como as famosas matérias de musas e afins" (MENDONÇA, 2016). Outro dado importante foi trazido em uma reportagem publicada pela Agência Pública em 2012. A reportagem trouxe dados de uma pesquisa internacional que analisou como os


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jornais de diversos países cobriam esportes. No estudo, foram analisadas 18.340 matérias de 81 jornais, em 23 países, incluindo o Brasil, de abril a julho de 2011. De acordo com a pesquisa o jornalismo esportivo ignora temas como política esportiva, financiamento do esporte, esporte amador, e não costuma consultar mais de uma fonte para produção das matérias, além de manter uma hegemonia masculina, tanto nos autores quanto no foco das matérias. Outro dado importante é que essa cobertura é feita quase que exclusivamente por homens: apenas 11% dos artigos analisados foram escritos por mulheres. E a concentração de gênero não se restringe aos autores dos textos, mas também ao objetivo deles. Cerca de 85% das matérias focaram em um atleta homem (PÚBLICA, 2012). Por isso, esta monografia tem como objeto de estudo a participação feminina nos programas esportivos com comentaristas da TV brasileira, tendo como objeto empírico as jornalistas Renata Fan do programa Jogo Aberto da TV Bandeirantes e Michelle Giannella do programa Gazeta Esportiva da TV Gazeta. O objetivo geral do trabalho é investigar qual é a imagem e função da mulher jornalista, âncora e mediadora de programas esportivos que contam com a participação de comentaristas. A partir desses dados e questionamentos será pesquisado como é a participação da mulher nos programas esportivos da televisão na atualidade. Para abordar todos esses aspectos, esta monografia foi dividida em quatro partes. A primeira, Pré-Jogo, é o capítulo destinado à história da mulher. Situa o leitor fazendo uma trajetória dos obstáculos e preconceitos que elas tiveram que enfrentar para se inserir dentro da sociedade, do esporte e no mercado de trabalho. O capítulo dois, Apita o Árbitro, é destinado ao jornalismo esportivo brasileiro. Mostra a introdução do esporte no jornalismo, como a editoria era renegada no início, e como após a consolidação do futebol no país, o esporte passou a fazer sucesso no rádio e posteriormente na televisão. Além disso, para entender a participação do gênero feminino nas redações esportivas, o capítulo também aborda a trajetória da mulher para se inserir na editoria de esportes, bem como sua participação no jornalismo esportivo de TV. E traz uma breve análise sobre padrões estéticos e o apelo à beleza dentro do jornalismo de televisão. No terceiro capítulo, Primeiro Tempo, é explicado a metodologia de pesquisa deste trabalho. Explica qual metodologia foi utilizada para analisar os programas; faz uma contextualização do objeto empírico; explica quais serão as etapas de análise de conteúdo e por fim explica quais serão as categorias de análise utilizadas nesta pesquisa. O último capítulo, Segundo Tempo, foi destinado a análise do estudo. Por meio da escolha, gravação e


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observação de dois programas esportivos de duas emissoras da televisão brasileira, dados foram coletados sobre a participação feminina nestes programas esportivos. Pertencentes aos gêneros telejornal e mesa redonda, os programas escolhidos foram o Jogo Aberto, da TV Bandeirantes, e Gazeta Esportiva da TV Gazeta. Os programas foram gravados durante uma semana, do dia 26 a 30 de setembro de 2016 e o estudo levou em consideração a participação das mulheres que atuam nos programas e a quantidade de vezes que elas puderam comentar durante o tempo que estava no ar. No apêndice 1, foram anexadas as fichas e tabelas de descrição do objeto empírico que contribuíram a analise durante o trabalho. O anexo 1 traz cinco edições de cada programa que compõe o corpus (do dia 26 a 30 de setembro de 2016), a visualização dos programas contribuiu para uma melhor compreensão de alguns aspectos descritos na análise. Este material consta em um DVD, anexo a pesquisa. Desta forma, esta pesquisa pretende responder aos questionamentos levantados sobre a participação feminina nos programas esportivos, que contam com a presença de comentaristas. Descrevendo sua história, a inserção feminina na sociedade, nos esportes, no mercado de trabalho, no jornalismo e como é a atuação delas nesse cenário.


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CAPÍTULO 1 - PRÉ JOGO: A HISTÓRIA DA MULHER

1.1 Elas na Sociedade Desde as primeiras civilizações, o gênero feminino é considerado fraco e inferior quando comparado ao masculino. As mulheres, durante muitos séculos, foram oprimidas e menosprezadas na vida pública e também na vida privada. No entanto, com o passar dos anos, e após muita luta conquistaram melhores condições e direitos que antes eram só estabelecidos para os homens. O homem nunca precisou se afirmar como sujeito diante da sociedade, pois seu privilégio biológico já o afirmava como soberano. Oposto do que ocorria com as mulheres, que nunca tinham direitos de estabelecer seu lugar dentro da sociedade. "Condenada a desempenhar o papel do Outro, a mulher estava também condenada a possuir apenas uma força precária: escrava ou ídolo, nunca é ela que escolhe seu destino" (BEAUVOIR, 1970, p 97). A inferioridade da mulher está ligada a biologia, pois a palavra fêmea já basta para defini-la, oposto do ocorre com os homens, pois ser macho é motivo de orgulho.

O termo "fêmea" é pejorativo, não porque enraíze a mulher na Natureza, mas porque confina no seu sexo. E se esse sexo parece ao homem desprezível e inimigo, mesmo nos bichos inocentes, é evidente por causa da inquieta hostilidade que a mulher suscita no homem; entretanto ele quer encontrar na biologia uma justificação desse sentimento (BEAUVOIR, 1970, p.25).

Na Grécia antiga a mulher ocupava o mesmo lugar que um escravo, não só no sentido de trabalho, mas também na desvalorização como ser humano. "Em Atenas ser livre, primeiramente, era ser homem e não mulher" (ALVES e PITANGUY, 1982, p.11). A primordial função delas era a de reprodução da espécie humana, elas criavam e educavam os filhos e produziam tudo aquilo que estava ligado para o sustento dos homens como exemplo, tecelagem e alimentação. Elas exerciam também alguns trabalhos pesados como a extração de minerais e trabalhos agrícolas. "Estando assim limitado o horizonte da mulher, era ela excluída do mundo do pensamento, do conhecimento tão valorizado pela civilização grega" (ALVES e PITANGUY, 1982, p.12), pois todas as atividades desenvolvidas fora de casa eram consideradas masculinas e nobres como, filosofia, política e artes. Na Idade Média no século XIII elas possuíam alguns direitos que eram garantidos pela lei e também pelos costumes. Quase todas as profissões eram acessíveis, assim como o direito de sucessão de propriedade. Na atuação política há registros de mulheres da burguesia que


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participavam das assembleias com direito ao voto. Em Bigorre na França, desde o século XI já existia o sufrágio universal, além disso, haviam mulheres que quando proprietárias participavam das discussões dos contratos da comunidade. Ainda na Idade Média existia um maior número de mulheres adultas na sociedade do que os homens. A causa disso, seria o afastamento deles por conta da guerra e também das longas viagens que eles faziam. Na ausência deles as mulheres assumiam os negócios da família. "Historicamente, a maior participação da mulher na esfera extradoméstica esteve sempre ligada ao afastamento do homem por motivos de guerras" (ALVES e PITANGUY, 1982, p. 16-17).

Apesar da significativa participação da mulher na vida social da Idade Média, a ideia que prevaleceu foi a transmitida pelo romantismo da cavalaria: uma mulher frágil e indolente, entretida em bordados e bandolins, à espera de seu cavaleiro andante. Esta imagem, que por um lado exclui a grande massa de mulheres até de uma representação simbólica, por outro reflete uma visão distorcida do que seria o cotidiano da própria castelã (ALVES e PITANGUY, 1982, p. 19).

Mesmo com o passar dos séculos, quando analisa-se a sociedade, observa-se que o espaço privado (doméstico) sempre foi algo ligado a figura feminina. "A responsabilidade na administração da casa, o cuidado com os filhos e marido são atribuições que as magnificavam e ainda magnificam como 'rainha do lar'" (GOMES, 2008, p. 35-36). Isso mostra o quanto a imagem feminina ainda é atrelada as atividades domésticas e o quanto foi difícil para elas conquistarem seu espaço dentro da sociedade. É o que afirma a professora Norma Telles:

Excluídas de uma efetiva participação na sociedade, da possibilidade de ocuparem cargos públicos, de assegurarem dignamente sua própria sobrevivência e até mesmo impedidas do acesso à educação superior, as mulheres no século XIX ficavam trancadas, fechadas dentro de casas ou sobrados, mocambos e senzalas, construídos por pais, maridos, senhores. Além disso, estavam enredadas e constritas pelos enredos da arte e ficção masculina. Tanta na vida quanto na arte, a mulher no século passado aprendia a ser tola, a se adequar a um retrato do qual não era a autora. (TELLES, 2015, p 408).

Na Europa no século XIX surge uma nova forma de organização de vida: o espaço público e o espaço privado separando o local de trabalho do lar. Assim, as pessoas começaram, por exemplo a trabalhar nas fábricas. "Ocorrendo com isso uma redefinição do espaço doméstico que possibilitou o surgimento de conceitos e atitudes vinculadas à privacidade e à intimidade, se tornando marcas centrais da definição da vida privada (PROST apud GOMES, 2008, p.36). Nesse novo cenário a mulher passa a trabalhar fora de casa, seja por necessidade, por conta da industrialização ou pela luta por sua emancipação. A mulher


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durante o século XIX libertou-se da Natureza, sendo agora dona do seu corpo."Livre em grande parte das servidões da reprodução, pode desempenhar o papel econômico que se lhe propõe e lhe assegurará a conquista total de sua pessoa" (BEAUVOIR, 1970, p. 157). E foi a partir do século XIX que as mulheres se empenharam para conquistar seus direitos, assim como melhores condições de trabalho e ter acesso à educação, esporte, política, e economia. A luta da mulher por direitos, deveres e igualdade de gênero deu origem ao movimento feminista que: ["...] busca repensar e criar a identidade de sexo sob uma ótica em que o indivíduo, seja ele homem ou mulher, não tenha que adaptar-se a modelos hierarquizados, onde as qualidades “femininas” e “masculinas” sejam atributos do ser humano em sua globalidade. [...] Que as diferenças entre os sexos não se traduzam em relações de poder que permeiam a vida de homens e mulheres em todas as suas dimensões: no trabalho, na participação política, na esfera familiar, etc... (ALVES e PITANGUY, 1982, p. 9-10).

O movimento tinha como objetivo conquistar mais espaço dentro do mercado de trabalho, além de independência financeira e social. Foi considerado uma das maiores revoluções para as mulheres efetuando "uma verdadeira ebulição de costumes, com reflexos em todos os campos sociais" (KNIJNIK, 2010, p.34). Ainda no século 19, a luta pelo sufrágio universal foi uma grande conquista para os homens da classe trabalhadora. Porém, as mulheres, dessa época ainda não tinham o mesmo privilégio.

"Esta foi uma luta específica que abrangeu mulheres de todas as classes. Foi uma luta longa, demandando enorme capacidade de organização e uma infinita paciência. Prolongou-se, nos Estados Unidos e na Inglaterra por sete décadas. No Brasil, por 40 anos, a contar da Constituinte de 1891" (ALVES e PITANGUY, 1982, p.44).

A luta pelo sufrágio iniciou-se nos Estado Unidos em 1848, mas só em setembro de 1920, após 72 anos foi que as mulheres dos EUA conquistaram o direito ao voto. Na Inglaterra elas se organizavam de diversas formas. Realizavam campanhas, passeatas, abaixo assinados, atos públicos, além de pedirem apoio aos parlamentares e partidos. Muitas foram presas por conta disso, e após seis décadas de luta e reivindicações, em 1928 as inglesas alcançaram o direito de votar. No Brasil, ao contrário dos EUA e da Inglaterra, os movimentos iniciaram-se mais tarde. Somente em 1910 é que as brasileiras tiveram alguma iniciativa pela conquista do voto. A entrada tardia das mulheres brasileiras no espaço público pode ser investigada em nossas raízes socioculturais. "A casa era o porto seguro feminino e lugar de reconhecimento das mulheres como esposas e mães" (GOMES, 2008, p.37).


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No Brasil Deolinda Daltro e Bertha Lutz foram precursoras da luta feminina para a conquista do voto. A primeira fundou o Partido Republicano Feminino e outra a Federação Brasileira pelo Progresso Feminino. "O direito ao voto foi sendo alcançado paulatinamente nos Estados. Desta forma, quando, em 1932, Getúlio Vargas promulga por decreto de lei o direito de sufrágio às mulheres, este já era exercido em 10 Estados do país" (ALVES e PITANGUY, 1982, p.48). As décadas de 30 e 40 foram de grande importância para as brasileiras, pois foi nesse período que as reivindicações femininas foram formalmente aceitas. Elas passam a ter o direito ao voto, de ingressar na academia e de entrar no mercado de trabalho. Na década de 60, o feminismo no Brasil, incorpora outras frentes de luta, reivindicando a desigualdade no exercício de direitos trabalhistas, político e civis. "Denuncia, desta forma, a mística de um 'eterno feminino', ou seja a crença de inferioridade 'natural' da mulher calçada por fatores biológicos" (ALVES e PITANGUY, 1982, p. 54). E com o passar do tempo as mulheres, nas últimas décadas do século XX emergiram como sujeito social, histórico e econômico. E em menos de trinta anos elas tornaram-se metade da população mundialmente ativa. Ainda que a dominação masculina permaneça uma característica central da sociedade moderna, é importante lembrar que as mulheres tem sido ativas participantes na modelação de sua própria definição de necessidade. Além do feminismo, as práticas cotidianas da vida têm oferecido espaços para as mulheres determinarem suas próprias vidas (WEEKS, 1999, p.58).

Toda a luta trouxe várias conquistas para as elas. Depois de conquistar o espaço público as mulheres tiveram ganhos como, por exemplo maior autoestima, além de ajudar na contribuição das despesas da casa. "As mulheres não querem mais ser apenas donas de casa e cuidar dos filhos. Elas sonham e estão lutando por uma maior inserção no espaço público" (GOMES, 2008, p.46). E com isso, passaram a ter uma participação mais significativa nos espaços públicos, no trabalho e consequentemente no esporte. "Como os oprimidos depois de oito mil anos de invisibilidade, as mulheres começam a também exercer um papel cada vez mais determinante nas estruturas políticas, sociais e econômicas" (MURARO, 2001, p.07).

1.2 No Esporte O século XX foi marcado por muitas lutas e conquistas e foi a partir de sua metade que a aproximação da mulher com o esporte ocorreu, mais precisamente entre as décadas de 50 e 60. O surgimento do esporte se confunde com rituais religiosos e de caça. Existem


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registros da participação da mulher na caça quando existia a necessidade de encurralar a presa para abatê-la. Esse envolvimento, nos primórdios das civilizações garantiu uma maior participação das mulheres na prática da caça e "também gerou proibição e recolhimento, de acordo com a interpretação dada a esse fato nas várias localidades onde ela ocorreu" (RUBIO e SIMÕES, 1999, p.51). Na Grécia as mulheres espartanas desenvolveram muitas habilidades na área do esporte, exemplos como corridas, lutas, arremesso de disco e dardo foi algumas das atividades que elas praticavam. E essa ideia ia contra àquela onde as mulheres, apenas poderiam praticar esportes para gerar filhos sadios.

[....]os Jogos Olímpicos da antiguidade, criados em 776 a.C, mesmo tendo um caráter religioso, eram exclusivamente masculinos, sendo vedada às mulheres até mesmo a presença nos estádios. E já a partir de então temos um vislumbre de que o que incapacita a mulher de participar das competições esportivas não é o argumento de inferioridade biológica, mas o político. Alijada de seus direitos enquanto cidadã, a mulher, também é impedida de gozar do convívio social e das glórias concedidas aos competidores vencedores (RUBIO e SIMÕES, 1999, p. 52).

A partir do século XII, durante o feudalismo e as cruzadas, a mulher passou a desenvolver muitos papéis. A moça nobre, por exemplo, deveria ser educada, não se atendo apenas a leitura e a escrita, mas deveria aprender a jogar xadrez, caçar com facões e tocar instrumentos, para que o homem pudesse ver seus vários atributos. Já no século XVII ela perde totalmente seus direitos individuais e passa a ser subjugada pelo marido e a sociedade. A mulher foi considerada como usurpadora ou profanadora de um espaço consagrado ao usufruto masculino. Fosse como atividade de lazer, fosse como prática sistemática com finalidades bélicas o esporte unificou, desde então o conjunto de adjetivos que representam o mundo masculino: força, determinação, resistência e busca de limites (RUBIO e SIMÕES, 1999, p.50).

O reflexo de tudo isso é que a mulher foi excluída de qualquer atividade esportiva ou de lazer, invalidando assim, sua experiência atlética. No final do século XVIII e início do XIX o esporte se apresenta com características bem parecidas com as da atualidade.

[....] os cavalheiros ingleses passaram a levar suas esposas a competições de box e remo, corridas de cavalos e alguns outros eventos. Um dos esportes mais populares da época, o boliche, ainda que uma prática masculina, contou com grande participação feminina a partir da Inglaterra o mesmo acontecendo com outras modalidades como o cricket, o bilhar, o arco e flecha, formas rudimentares do que viria a ser o futebol e algumas atividades praticadas na neve, estendendo-se a países continentais como Alemanha e França (RUBIO e SIMÕES, 1999, p 52).


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Com a restauração dos Jogos Olímpicos da Era Moderna em 1896. O Barão Pierre de Coubertin excluiu a participação das mulheres, pois ele via nos jogos um lugar apropriado para representar a esfera competitiva masculina. Diante desse quadro, a participação masculina nos jogos passou a ser considerada como um fenômeno 'natural', desde que o homem apresentasse habilidades suficientes para a competição, enquanto que a participação feminina nessa arena androcêntrica era vista como anômala. Entre os argumentos utilizados para a exclusão feminina encontramos a 'delicadeza' dos nervos e a constituição física menos favorecida, o que levava o esporte praticado por mulheres parecer indecente, feio e impróprio para sua resistência (RUBIO e SIMÕES, 1999 p, 52-53).

Nos Jogos de 1896 as mulheres participaram como expectadoras, porém quatro anos mais tarde, em 1900 nos jogos de Paris, passaram a ser atletas de golfe e tênis, "modalidades consideradas belas, esteticamente, e que não ofereciam contato físico entre as participantes" (RUBIO e SIMÕES, 1999, p.53). Nesse ano, 997 atletas participaram das olimpíadas, sendo destes, 22 mulheres. A primeira mulher a vencer um evento olímpico foi a tenista britânica, Charlotte Cooper, campeã no individual e nas duplas mistas em Paris no ano de 1900. Em 1912, em Estocolmo, a participação feminina foi permitida nas provas de natação. Nos jogos de Los Angeles em 1932, o Brasil levou pela primeira vez uma mulher para participar de uma olimpíada. Naqueles jogos, a delegação brasileira contava com 66 atletas masculinos e Maria Lenk, atleta de natação, com apenas 17 anos, foi a única representante feminina da delegação brasileira. Além disso, Lenk foi a primeira mulher sul-americana a participar dos Jogos2. Desde então, a participação feminina no esporte só aumentou. Em 1976, em Montreal, pela primeira vez passaram a representar quase dois por cento do total geral dos participantes da olimpíada. Em 1979 foi liberada a participação das mulheres em atividades consideradas traumáticas ou de impacto. No ano de 1988, em Seul, a delegação feminina brasileira levou 35 atletas. Esse número foi muito importante para o desenvolvimento da mulher no esporte olímpico durante a década de oitenta. Após um século de Jogos Olímpicos "o número total de mulheres participantes superou, pela primeira vez na história a marca dos 30% chegando a 34,1% do número de competidores" (GOMES, 2008, p.19).

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Informações retiradas da site da ESPN Woman. Disponível em <www.espnw.espn.uol.com.br> Acesso em set.2016


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Figura 1- Participação feminina em número de competidores nos jogos olímpicos. Fonte: ESPN

A primeira medalha de ouro olímpica de uma equipe feminina brasileira, veio através da dupla de vôlei de praia, Jaqueline e Sandra. Elas fizeram história para o nosso país, nos Jogos de Atlanta em 1996. Também nesse evento, o esporte coletivo feminino do Brasil conquistou medalhas no basquete (prata) e no vôlei (bronze) (GOMES, 2008). O processo de apropriação do espaço esportivo pela mulher brasileira foi diferente da apropriação de outros espaços.

[...] a mulher brasileira não demandou um confronto com o homem, numa redistribuição do território esportivo. Antes, passou a aparecer, tornou-se visível, no turfe, na natação, no tênis, e assim sucessivamente, sem representar perigo à hegemonia masculina. Foi - e é - um processo de infiltração lenta e progressiva, na prática, sem o discurso de contestação por parte das mulheres, com as vicissitudes próprias de um movimento desse tipo; e hoje, quando se mapeia o território esportivo brasileiro, verifica-se que a mulher está presente na prática de quase todas as modalidades esportivas; e, simultaneamente, assistimos a uma transformação visível das representações sociais face à sua infiltração nessa prática (MOURÃO, 2000, p. 07).

A inserção das mulheres nas modalidades olímpicas ao longo da história, foram ocorrendo de forma gradativa. Podemos observar na figura abaixo:


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Figura 2- Introdução das mulheres nas modalidades olímpicas ao longo da história. Fonte: Comitê Olímpico Internacional (COI).

Após anos de luta para conseguir espaço e reconhecimento dentro do esporte, vemos atualmente muitas mulheres inseridas em diversas modalidades esportivas. Nesse ano nas olimpíadas do Rio de Janeiro elas puderam estar presentes em mais uma modalidade esportiva: O Rugby. "Nas duas décadas do século XX contamos com um contingente significativo de mulheres participando de atividades físicas e esportivas, não só Olimpíadas, mas também em instituições e nos espaços públicos. (GOMES, 2008, p. 20). Isso mostra o quanto a mulher, mesmo que devagar foi se inserindo e preenchendo as lacunas dentro do esporte, a cada ano mais e mais mulheres estão participando das mais diversas modalidades esportivas, seja por ser atleta ou simplesmente por hobby ou lazer.

1.3 No Mercado de Trabalho Desde a pré história a mulher é responsável por cuidar da casa, dos filhos e cozinhar. A caça e a pesca foram as primeiras atividades da mulher fora do lar. Com o advento da sociedade capitalista e também com a revolução industrial, que se iniciou no final do século XVIII e início do XIX , "a mulher passa a ser utilizada na fábrica como força de trabalho" (SOUZA, 2001, p. 07), pois ela era vista como consumidora em potencial. Nas primeira décadas do século XX a mulher operária, brasileira, não teve uma vida fácil, "as longas jornadas de trabalho, os baixos salários, os maus tratos de patrões e, sobretudo, o continuo assédio sexual" (RAGO, 2015, p. 578), eram algumas das situações que elas vivenciaram naquele tempo. O ingresso da mulher de classe média, no mercado de


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trabalho, se iniciou por volta de 1910. Ele foi motivado por alguns fatores econômicos, políticos e sociais que o país vivia na época. O emprego feminino foi antes de tudo importante para a economia nacional, com a rápida expansão do setor de serviços. Os empregadores descobriram que as mulheres pediam salários mais baixos do que o dos homens e estavam qualificadas (pela própria condição feminina) para preencher postos de professoras, enfermeiras, assistentes sociais, balconistas, caixas de banco, telefonistas, recepcionistas e secretárias (ROCHA, 2004, p.76).

A industrialização brasileira teve início no Nordeste entre as décadas de 40 e 60 do século XIX - com indústria de tecidos- e depois se espalhou de forma progressiva para os estados do Sudeste brasileiro."Na passagem desse século, o Rio de Janeiro reunia a maior concentração operária do país, tendo sido superado por São Paulo apenas nos anos de 1920" (RAGO, 2015, p.580). As mulheres trabalhavam em grande número nas indústrias de fiação e tecelagem, além disso, algumas trabalhavam como costureiras para complementar a renda doméstica, realizando serviços de casa. Em 1912, os inspetores do Departamento Estadual do Trabalho realizaram visitas em sete fábricas e constataram que dos 1.775 trabalhadores, 1.340 eram mulheres. Em 1919 as mulheres continuaram sendo maioria nas fábricas de São Paulo e também do Distrito Federal. Apesar do elevado número de trabalhadoras presentes nos primeiros estabelecimentos fabris brasileiros, não se deve supor que elas foram progressivamente substituindo os homens e conquistando o mercado fabril. Ao contrário, mulheres vão sendo progressivamente expulsas das fábricas, na medida em que avançam a industrialização e incorporação da força de trabalho masculina. As barreiras enfrentadas pelas mulheres para participar do mundo dos negócios eram sempre muito grandes, independentemente da classe social a que pertencessem (RAGO, 2015, p. 581).

Muitos acreditavam que se a mulher trabalhasse fora de casa ela destruiria a família, porque as crianças cresceriam mais soltas, sem a constante vigilância de suas mães. "As mulheres deixariam de ser mães dedicadas e esposas carinhosas, se trabalhassem fora do lar; além do que um bom número delas deixaria de se interessar pelo casamento e pela maternidade" (RAGO, 2015, p. 585). Outro ponto é que as operárias sofriam muita exploração dentro das fábricas. Por conta disso, realizaram muitas greves e mobilizações políticas entre os anos de 1890 e 1930. As dificuldades aparecem desde logo, principalmente se consideramos que o historiador trabalha com imagens diferenciadas, produzidas pelos documentos


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disponíveis. Frágeis e infelizes para os jornalistas, perigosas e 'indesejáveis' para os patrões, passivas e inconscientes para os militantes políticos, perdidas e 'degeneradas' para os médicos e juristas as trabalhadoras eram percebidas de vários modos (RAGO, 2015, p. 579).

Nos anos 50, com o fim da Segunda Guerra Mundial, o Brasil viu sua população urbana crescer, assim como a industrialização que trouxe novas possibilidades educacionais e profissionais para homens e mulheres. "Ampliaram-se aos brasileiros as possibilidades de acesso à informação, lazer e consumo. As condições de vida nas cidades diminuíram muitas das distâncias entre homens e mulheres" (PINSKY, 2015, p. 608). Mas, as diferenças entre os papéis femininos e masculinos ainda continuava. O trabalho da mulher ainda era cercado de preconceitos, além de ser visto como subsidiário ao trabalho do homem.

A participação feminina na força de trabalho definia-se como extensão e complemento de seus papéis domésticos. O processo de feminização profissional em setores como comércio, magistério enfermagem e nas ocupações de secretária, auxiliar de escritório, telefonista e contadora teve início entre 1910 e 1940. Criaram a função de assistente social, para as mulheres, e no final da década de 30, surgiram algumas mulheres que ingressaram na carreira política. A mulher ainda enfrentava obstáculos nas carreiras que exigiam curso superior como medicina, direito, engenharia, ciência (pesquisa) e administração de alto nível. A profissionalização excluía as mulheres (ROCHA, 2004, p. 76-77).

Na época, escritora, poeta, jornalista, artista e musicista eram profissões aceitas por estarem ligadas às artes e porque "...tinham horário flexível, o trabalho podia ser executado em casa e por essas atividades serem vistas como uma atualização do papel tradicional das mulheres" (ROCHA, 2004, p.77). O desenvolvimento econômico da década de 50 também contribuiu para o aumento do nível de escolaridade feminina. O curso mais procurado pelas moças na época era do magistério, por estar mais próximo da função de mãe. "...o investimento em uma carreira era bem menos valorizado para as mulheres que para os homens devido a distinção social feita entre o feminino e masculino no que dizia respeito a papéis e capacidades" (PINSKY, 2015, p.625). O governo de Vargas para manter a estabilidade social e promover o desenvolvimento econômico tinha que conciliar a demanda de mão de obra feminina pelos empregadores, além de utilizar as mulheres e a família na tarefa de reprodução social, com isso fundou políticas públicas para definir o sistema de gêneros. A partir disso, elas passaram a ter acesso ao ensino superior. Porém, nem todas tinham essa chance. Essa modernização atingiu as mulheres de diferentes classes, de modos diversos e contraditórios. As mulheres das classes média e alta tinham novas oportunidades de


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educação superior e de emprego remunerado, o que já não acontecia às mulheres de classes inferiores. As pertencentes às famílias de elite ingressavam nas profissões tornando-se médicas, advogadas, escritoras, artistas, cientistas e engenheiras. As de classe média assumiam cargos bons em escritórios que iam sendo criados pela expansão do setor (ROCHA, 2004, p. 80).

Com o passar dos anos a entrada feminina, no mercado foi ficando mais fácil, porém a mulher ainda tem um longo caminho a percorrer. Quando falamos de carreira e mercado de trabalho, mesmo após todas as conquistas, elas ainda são subjugadas e recebem salários inferiores se comparado aos homens, além de trabalhar em profissões consideradas mais "femininas", elas muitas vezes cumprem jornadas de trabalhos mais longas e recebem menos pelos mesmos serviços prestados por homens. A partir da década de 1970 as mulheres entraram com grande força no mercado de trabalho, na época apenas 18,5% delas eram economicamente ativas. Hoje esse número dobrou 46,1% delas são economicamente ativas, mas continuam sendo minoria dentro do mercado de trabalho, apenas 45,4% contra 54,6% dos homens. Dados do IBGE (2011) mostram que as maiores atividades econômicas desenvolvidas pelo sexo feminino estão na Administração Pública 22,6% e no Comércio com 17,5%, já na Construção as mulheres ocupam apenas 1%. Enquanto os homens dominam a área industrial com 19,3% e a Construção com 13,2%. Nos serviços domésticos eles ocupam um percentual de apenas 0,7%, enquanto as mulheres somam um total de 14,5%. Podemos observar os dados na figura número 3.

Figura 3 - Distribuição da população ocupada, por grupamentos de atividade, segundo o sexo(%) 2011. Fonte: IBGE.


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E no quesito salário as mulheres também continuam em desvantagem. O rendimento médio do trabalho delas em 2011 foi estimado em R$ 1.343, ou seja 72,3% do que recebiam os homens R$ 1.857. Esses valores mostram um aumento no rendimento em relação ao ano de 2003, quando a remuneração média das mulheres foi de R$ 1.076. Porém, pelo terceiro ano consecutivo o rendimento feminino manteve a mesma proporção 72,3% em relação ao rendimento dos homens. No ano de 2003 elas recebiam 70,8% do que recebia, em média, um homem. Entre 2003 e 20113, o rendimento do trabalho das mulheres aumentou 24,9%, enquanto que o dos homens apresentou aumento de 22,3%.

Figura 4- Rendimento médio do trabalho das pessoas ocupadas, por sexo no RS em dezembro 2011. Fonte: IBGE.

É neste contexto de lutas por afirmação de direitos e espaço que se insere o objeto desta pesquisa, porque mesmo, após todas as conquistas, a mulher ainda sofre para assegurar seus direitos. Dentro da sociedade ela precisou se afirmar como ser humano e conquistar o espaço público que antes era um privilégio masculino. Dentro do esporte, de forma minuciosa se inseriram nas mais diversas modalidades, provando que poderiam praticar e estar dentro de arenas esportivas. E no mercado de trabalho a mulher aprendeu a ser mais independente, mas ainda sofre pressões para se inserir em áreas ditas masculinas. A essa demarcação de funções corresponde a uma desvalorização de tarefas e uma diferenciação de níveis salariais entre homens e mulheres. Acrescente-se ainda os 3

Dados retirados do site do IBGE. Disponível em < http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/indicadores/trabalhoerendimento/pme_nova/Mulher_Mercado_Tra balho_Perg_Resp_2012.pdf>. Acesso em: set.2016.


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obstáculos que contrapõem à sua ascensão profissional, resultando na ausência quase completa das mulheres exercendo cargos de chefia quaisquer que sejam as esferas de atividade (ALVES e PITANGUY, 1982, p.65).

Desde o início da luta feminina para conquistar seus direitos, a mulher, todos os dias tem que provar algo para a sociedade. Seja para se inserir em um novo espaço, em um novo cargo, ou uma nova modalidade esportiva. E esse é um longo caminho que elas ainda terão que percorrer. As mulheres ainda travam uma batalha para se inserir em ambientes de trabalho historicamente masculinos, como é o caso do jornalismo esportivo. Que será discutido no capítulo a seguir.

CAPÍTULO 2 - APITA O ÁRBITRO - O ESPORTE NO JORNALISMO Atualmente o jornalismo esportivo tem um lugar significativo dentro dos meios de comunicação, mas o esporte nem sempre esteve estampado nas capas dos jornais brasileiros. Diferentemente da atualidade, a área esportiva já foi renegada como atividade jornalística. Um dos esportes responsável por promover o jornalismo esportivo foi o futebol. O esporte que chegou no país no final do século XIX, através de Charles Miller, se popularizou ao longo dos anos. Porém, na época "em terras brasileiras, não havia jogos oficiais e menos ainda notícias sobre o desconhecido esporte. Nas páginas dos principais jornais da capital paulista só havia espaço para notícias sobre críquete, turfe, remo e ciclismo" (RIBEIRO, 2007, p.19). Até o início do século XX a editoria de esportes não era privilegiada e não chegava ser manchete nos jornais. [...] os jornais de São Paulo tinham muito mais com que se preocupar no início do século XX. O crescimento da cidade não parava, a modernização da recém instalada República estava a todo o vapor. Os carros puxados por burros começavam a se aposentar, e em seus lugares surgiam os primeiros bondes elétricos. Prédios e mais prédios eram erguidos a cada dia. A economia cafeeira não parava de fazer novos ricos (RIBEIRO, 2007, p.23).

Nesse tempo era difícil emplacar pautas relacionadas a futebol nos jornais paulistas, porém, "fechar os olhos para o crescimento do futebol nas várzeas parecia um grave erro de avaliação dos responsáveis pelos principais jornais da época" (RIBEIRO, 2007, p. 23). A criação da primeira Liga do Futebol Paulista e também o jogo interestadual entre times do Rio de Janeiro e São Paulo foi um marco para que o esporte ganhasse mais visibilidade dentro dos jornais do país.


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O sucesso do primeiro encontro entre cariocas e paulistas e a repercussão nos principais jornais das duas cidades acelerou o processo de criação da primeira Liga de Futebol de São Paulo. E assim o ano de 1902 tornou-se um marco na imprensa esportiva. A partir desse momento, o futebol virou notícia importante nas páginas dos principais jornais, pelo menos em São Paulo...O problema é que as redações não estavam preparadas para esse novo tema (RIBEIRO, 2007, p. 25).

Nessa época as notícias chegavam prontas na redação, e quando divulgadas eram de maneira bem objetiva, apenas relatavam qual era o jogo, o local e eu resultado. O jogo em si não tinha importância (RIBEIRO, 2007). Nos primeiros anos do século XX o jornal O Estado de São Paulo e o jornalista Mário Cardim, um dos primeiros repórteres esportivos do país, tornavam-se referência dentro da imprensa esportiva. Enquanto isso, o jornal Gazeta de Notícias do Rio de Janeiro percebeu o crescimento que o esporte ganhava e decidiu tornar-se "porta voz" do futebol no Rio. O jornal passou a ter uma seção fixa diária, com duas colunas chamada de Gazeta dos Sports.

Daquele momento em diante, não adiantava mais apenas participar. Vencer era muito melhor. Ninguém queria ficar de fora do sucesso que o futebol fazia pelas ruas de São Paulo ou Rio de Janeiro, especialmente os que tinham interesse financeiro, como empresários e comerciantes (RIBEIRO, 2007, p.34).

A partir desse momento, novos jornais foram criados para tratar do assunto, e o público cada vez mais consumia notícias sobre esportes. Isso fez com que os jornais da época tivessem, até que se desculpar durante o período de carnaval por reduzir o noticiário esportivo. A partir de 1910 surgem os primeiros clubes de "massa" em São Paulo e também no Rio de Janeiro. Na capital paulista, aparecem os times que se tornariam paixão popular, como Corinthians, Palestra Itália (Palmeiras) e Santos. No Rio nascia o Clube de Regatas Flamengo. E como surgimento de grandes times, também surgiram seus grandes ídolos. "A imprensa esportiva deixava de apenas reverenciar o 'nobre esporte' implantado por europeus e passava também a dar destaque para os craques brasileiros que se destacavam em cada novo clube criado" (RIBEIRO, 2007, p.40). As redações dos jornais dos grandes centros do país começam a empregar repórteres de futebol em período integral. E as notícias com destaque nas primeiras páginas já não causavam estranheza aos leitores (RIBEIRO, 2007). No Rio de Janeiro, na década de 30 nasceu o primeiro jornal diário esportivo brasileiro: o Jornal dos Sports. Fundado por um dos maiores jornalistas esportivos do Brasil, Mário Filho, desenvolveu um estilo próprio de escrita para o jornal, seus relatos tinham muita emoção e romantismo (COELHO, 2011). Na mesma época, se começava com dificuldade a inserção do esporte dentro das editorias dos jornais. Um dos primeiros problemas


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acompanhados foi a profissionalização do futebol brasileiro.

"O Jornal dos Sports acompanhou a primeira grande crise do futebol brasileiro. A instauração do profissionalismo criou uma cisão tanto no futebol do Rio quanto no de São Paulo. Em 1935 e 1936 houve dois campeonatos simultâneos em São Paulo. No Rio de Janeiro a crise começara em 1933, ano que se firmou o profissionalismo" (COELHO, 2011, p.16).

Outro problema enfrentando é o que esporte não era um assunto de prioridade entre os intelectuais. As pessoas que tinham mais cultura se negavam a ler sobre esportes, pois "só os de menor poder aquisitivo poderiam tornar-se leitores desse tipo de diário" (COELHO, 2011, p. 09). Com isso, revistas e jornais foram surgindo e desaparecendo com o passar dos anos. Nem o "rei do futebol", Pelé e as conquistas mundiais do Brasil fizeram com que a área esportiva se firmasse no século XX. Os grandes cadernos esportivos só tomaram conta dos jornais, no fim da década de 60, especialmente em São Paulo. E foi nessa época que o Brasil entrou na lista dos países com imprensa esportiva de larga extensão e passou a ter revista esportiva regular a partir dos anos 1970. A revista Placar foi a primeira que se dedicou inteiramente ao futebol (COELHO, 2011). Na década de 1970, as emoções dos jornalistas esportivos ficavam evidentes em suas publicações, e muitas vezes acabavam não relatando o que realmente havia acontecido nos jogos. Os jornalistas, Nelson Rodrigues e Mário Filho utilizavam muito romance em suas crônicas esportivas que eram "recheadas de drama e poesia" isso era um problema já que nem todo mundo sabia diferenciar o que era ou não jornalismo (COELHO, 2011). Mesmo assim, as crônicas "motivavam o torcedor a ir ao estádio para o jogo seguinte e, especialmente, a ver seu ídolo em campo" (COELHO, 2011, p.19). Foi nesse período que o jornalismo esportivo começou a se ajustar para ser mais informativo. Com o objetivo de produzir relatos que se aproximassem da realidade fazendo com que os textos emotivos e cheios de drama fossem se enfraquecendo. A partir desse momento as informações relacionadas ao esporte passaram a ter mais objetividade, criando o jornalismo esportivo que temos conhecimento na atualidade. E "com o crescimento espantoso do público fiel ao esporte, não demorou também para que os jornais ganhassem a concorrência de um veículo poderoso, que em breve seria responsável por uma autêntica revolução na divulgação do futebol brasileiro" (RIBEIRO, 2007, p.59).

2.1 No rádio O rádio foi um grande aliado do futebol desde o início. Até hoje existem pessoas que


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assistem as partidas pela TV, mas ouvem a narração pelo rádio. A primeira transmissão esportiva realizada através do rádio no país ocorreu em 1922. Era um jogo entre Brasil e Argentina pelo campeonato Sul-Americano. As transmissões eram "uma série de boletins recebidos pelo telefone e retransmitidos por alto falantes" (RIBEIRO, 2007, p.59). Os resultados imediatos dos eventos esportivos favoreceu o crescimento da editoria esportiva no rádio, além disso, promoveu a popularização dos esportes. No dia 19 de julho de 1931, foi transmitida a primeira partida de futebol no rádio brasileiro, por meio da Rádio Sociedade Educadora Paulista. O jogo disputado entre São Paulo e Paraná entrou no ar através da voz de Nicolau Tuma, que na época tinha apenas 20 anos.

Como os jogadores não tinham números às costas, Tuma teve que ir aos vestiários do Campo da Floresta para memorizar as características dos atletas. Também não havia muitos receptores de rádio, motivo pelo qual o jogo foi transmitido por alto falantes uma confeitaria de Anhangabaú. O placar de 6 a 4 para os paulistas fez Tuma gritar gol várias vezes, como tal paixão e riqueza de detalhes que se tornou conhecido como "speaker metralhadora". Estavam consagrados tanto Tuma - que viria a ser o locutor das notas revolucionárias paulistas do movimento constitucionalista de 1932- quanto o futebol no rádio (GUTERMAN, 2010, p. 74).

Na época os locutores esportivos enfrentaram muitas dificuldades durante as transmissões, isso porque não havia equipamentos e recursos tecnológicos de qualidade. Como não existia sistema de micro-ondas para as transmissões diretas, a comunicação era feita através do telefone que naquele tempo eram muito precários prejudicando a qualidade na hora da transmissão. Em consequência do atraso tecnológico, o início do rádio esportivo enfrentou uma série de outros problemas técnicos. Os microfones, por exemplo eram pesados e a carvão. Os locutores davam-lhes socos, na tentativa de conseguir um som um pouco melhor. A persistência em realizar narrações esportivas diretas provocou a busca de melhorias nos equipamentos e o gênero acabou influenciando o desenvolvimento do jornalismo radiofônico brasileiro. Essa contribuição se deu principalmente com as coberturas externas (SOARES, 1994, p. 33).

Com o passar dos anos, a estrutura do rádio melhorou e o novo meio de comunicação se transformou em um grande sucesso, chegando a ser um item de necessidade para os brasileiros que desejavam ser informados. A junção do futebol com o rádio funcionou muito bem, um acabou popularizando o outro. A disseminação do esporte pelos meios de comunicação ocorreu nessa mesma fase. Os jornais impressos possuíam um alto custo, como o esporte era praticado apenas pelas elites, o assunto se tornava distante das grandes massas. Mas, com a chegada do rádio isso mudou. As classes mais baixas passaram a ter acesso ao


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esporte podendo acompanhar os jogos, discutir regras e comemorar as vitórias de seus times do coração. Porém, o custo dos aparelhos de rádio ainda era alto, e com isso a informação continuou sendo privilégio da elite brasileira. Demorou alguns anos para os aparelhos se popularizarem, os custos baixarem e o rádio trazer em sua programação o esporte.

E, embora a televisão começasse a incomodar, nos anos 1950 o rádio ainda era o grande veículo de comunicação do país. Uma pesquisa realizada em 1955 estimava em 477 o número de emissoras, e aproximadamente meio milhão de aparelhos receptores. Nesse ano os rádios a válvula começaram a ser substituídos pelos transistores, que de quinhentas unidades produzidas no primeiro ano passaram a quase 100 mil em 1956 [...] O rádio esportivo estava pronto para transmitir o surgimento de um rei do futebol, além da primeira e maior conquista do futebol brasileiro: a Copa do Mundo da Suécia (RIBEIRO, 2007, p.155-156).

A linguagem utilizada no esporte nunca teve uma definição e para se chegar a um próprio estilo muitas tentativas foram feitas. No início das transmissões esportivas, em 1932, a linguagem usada nas transmissões do rádio eram de pura emoção. "Os locutores chegavam a gritar para demonstrar a explosão do gol. Muitas vezes não se preocupavam com quem estava em volta e se o estádio estava lotado: eles falavam mais alto para não ter seu som abafado pelos urros da torcida enlouquecida" (BARBEIRO e RANGEL, 2012, p. 54). Com o passar do tempo o rádio criou uma linguagem própria, que foi responsável por marcar a linguagem "tradicional" dos esportes. Gírias e jargões foram levados, das cabines de locução para as arquibancadas e campo. O rádio e o esporte estão juntos desde a primeira transmissão de uma partida de futebol. "De lá para cá, a transmissão de eventos esportivos, notadamente os jogos de futebol, virou tradição, e mesmo uma necessidade, principalmente antes da transmissão frequente pela televisão, a partir dos anos 1980" (UNZELTE, 2009, p. 64-65). A partir desse momento muitos programas esportivos foram criados no rádio, um exemplo é o Plantão de Domingo, que nasceu na Jovem Pan em 1974, e passou a ser comandado, em 1978, pelo jornalista Milton Neves. O programa tinha a finalidade de abrir as jornadas esportivas do final de semana, trazendo informações durante as manhãs de domingo. Outro estilo de programa foi criado em 1982, Terceiro Tempo, com entrevistas nos vestiários entrava no ar depois das transmissões esportivas e chegando a ter três horas de duração. Esse formato de programa radiofônico pós-jogo foi uma inovação na transmissão no rádio sendo introduzidos, alguns anos mais tarde, na televisão.

Na disputa pelo ouvinte, as emissoras que cobrem regularmente o futebol, além das narrações dos jogos, colocam no ar, durante a semana, programas fixos diários, com transmissões que variam de 30 minutos a duas horas e meia de duração. Uma


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pequena parte desses programas é aproveitada com informações de outros esportes. Nos dias de jogos, o número de horas se altera para mais e no final de semana, principalmente aos domingos, a programação é praticamente só futebol (SOARES, 1994, p. 81).

O jornalismo esportivo desde as primeiras transmissões no rádio se mantém como um gênero de grande faturamento publicitário (SOARES, 1994). Além disso, o futebol tem a maior parte da cobertura esportiva, sendo o que dá mais retorno de audiência para as rádios. "A agilidade do rádio esportivo em incorporar novas técnicas e tecnologias foi determinante na sua influência no desenvolvimento da radiodifusão" (SOARES, 1994, p. 103). E com isso, mesmo com o passar do tempo e com o surgimento da televisão o rádio ainda continua tendo um público fiel e ativo quando se trata de cobertura esportiva.

2.2 Na televisão O futebol já fazia muito sucesso no rádio, mas em 1950 surgiu um novo veículo de comunicação que revolucionou o Brasil atraindo os apaixonados por futebol: a televisão. No dia 18 de setembro de 1950 entrou no ar a TV Tupi, canal 3 de São Paulo. Seu proprietário era o maior empresário das comunicações do país, Assis Chateaubriand. André Ribeiro (2007) introduz que: Desde o primeiro dia que a televisão entrou no ar, o esporte teve espaço privilegiado. Aurélio Campos apresentou o programa Vídeo Esportivo diante de uma miniatura de campo de futebol, ao lado do craque corintiano, Baltazar. O noticiário do dia a dia passou a ser feito pelos cinegrafistas Jorge Kurkjian, Paulo Salomão e Afonso Zibas. As imagens captadas pelos três eram exibidas dentro do programa Imagens do Dia (RIBEIRO, 2007, p. 135).

A popularização da televisão surgiu como um elemento que contribuiu para a predominância do futebol no Brasil, oposto do que ocorreu com o rádio e dos jornais impressos, a televisão mostra o que acontece para que o próprio telespectador tire suas conclusões e veja de forma imediata os lances e as jogadas. "Imagem é a representação do real. Ao transmiti-la, a televisão transforma o telespectador em testemunha" (BISTANE e BACELLAR, 2005, p. 84). Foi assim, que as transmissões dos jogos de futebol se popularizaram. O fenômeno da televisão era apenas mais uma ferramenta para atrair mais torcedores para as discussões em torno do futebol. "Apesar o fracasso da seleção na Copa do Mundo de 1950, o torcedor das arquibancadas parecia cada vez mais seduzido pelo futebol.


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Grande parte dessa paixão desenfreada poderia ser creditada à mídia esportiva, que crescia em ritmo acelerado" (RIBEIRO, 2007, p.137). O telejornalismo e o esporte se encontraram, após a criação do Mesa Redonda da TV Record, em 1954, programa onde as notícias esportivas eram discutidas. Nessa mesma época, Mesa Redonda passou a ser o programa precursor das atuais mesas de debates esportivos exibidos nos finais de semana (RIBEIRO, 2007). Em 18 de dezembro de 1955, a TV Tupi de São Paulo, foi responsável por realizar a primeira transmissão intermunicipal, isto é, pela primeira vez uma partida de futebol seria transmitida de uma cidade para outra. O jogo entre Santos e Palmeiras, que ocorreu na Vila Belmiro cidade de Santos (SP), pode ser acompanhado pelos torcedores que estavam na capital paulista. As emissoras Record e Tupi disputavam diariamente a audiência do público paulistano. Um ano depois e com novos investimentos, transmissões interestaduais foram realizadas. O dono da TV Tupi, Assis Chateaubriand, não imaginava que a concorrência pudesse contra atacar tão rápido. Em 26 de maio de 1956, a TV Record de SP e a TV Rio promoveram a primeira transmissão interestadual, ao vivo, direto do calçadão de uma praia carioca. O fato virou notícia em todas as mídias, e os cidadãos custaram a acreditar que estavam vendo imagens simultaneamente nas duas cidades. Na década de 1960, as mesas-redondas, transmissões e os videotapes já eram bastante explorados na televisão brasileira, nessa época, fazer televisão no país começava a ser um grande negócio, por isso as novas transmissões tiveram que ser aperfeiçoadas. Com tanta gente aderindo à nova moda da televisão, era o momento de as emissoras começarem a se preocupar com o aperfeiçoamento das transmissões, em especial das partidas de futebol, um dos programas líderes de audiência da época. Record e TV Rio, por exemplo, passaram a utilizar lentes de zoom especiais para conseguirem ângulos mais próximos às estrelas do espetáculo (RIBEIRO, 2007, p.170).

Dez anos depois, Emerson Fittipaldi estava nos holofotes das transmissões da Fórmula1 que começava a ser transmitida nas manhãs de domingo. Na Rede Globo, o Esporte Espetacular e o Globo Esporte passaram a cobrir copas e olimpíadas. Os altos investimentos e a evolução dos equipamentos contribuíram para o crescimento da qualidade das transmissões esportivas e na televisão essa evolução foi muito significativa (BARBEIRO e RANGEL, 2012). Em 1970, a Copa do Mundo no México foi transmitida ao vivo. Além disso, contou com novas tecnologias como replay em slow motion (câmera lenta) e pela primeira vez câmeras foram posicionadas atrás do gol fazendo com que as jogadas pudessem


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ser vistas por diversos ângulos. "A evolução tecnológica contribuiu também no campo editorial, porque com tantos detalhes registrados - como a dor de um jogador, o olhar de um cobrador de pênalti, a reação do torcedor-, o leque de pautas ficou mais amplo" (BARBEIRO E RANGEL, 2012, p. 98). Nos anos 80, a TV Bandeirantes se intitulou como "O Canal do Esporte", transmitindo vôlei, Fórmula Indy, futebol internacional e outras modalidades. Entre os anos de 1986 a 1993 a Band transmitiu jogos exclusivos do Campeonato Brasileiro, mas a partir de 1995 a Rede Globo comprou os direitos de transmissão (COELHO, 2011). Na década de 90 surgem as TV's por assinatura, assim como, os canais inteiramente dedicado aos esportes. E, "em 2004, o telespectador acompanhou os principais campeonatos europeus de futebol. E o futebol se consolidou em duas faixas de horário nobre na Globo e na Record: as noites de quarta-feira e as tardes de domingo" (PEREIRA, 2005, p. 211). Atualmente, o telejornalismo esportivo é muito pautado no entretenimento. Humor e esporte andam juntos e se tornaram uma característica das transmissões esportivas. Os programas televisivos que apostam no esporte receberam, portanto, formatos mais dinâmicos e informais, com cenários interativos e convidados em sua estrutura. O espetáculo atribuído ao esporte permite o uso de gírias e humor, apostando ainda mais no estilo iniciado pelo rádio (RODRIGUES, 2014, p. 18).

Com o passar dos anos e também com sua popularização, o esporte se tornou assunto do dia a dia brasileiro. A grade esportiva traz informação 24 horas por dia, nas mais variadas opções de pacotes e de canais disponibilizadas pelas TV's por assinatura. Além disso, o jornalismo esportivo está presente nos mais diferentes formatos de programas televisivos como, por exemplo em telejornal esportivo, mesas-redondas, debates, entrevistas e telejornais diários estão presentes na grade de programação. "A televisão mostra a imagem, mas apenas narrar o que o telespectador está vendo é pouco no telejornalismo. É preciso buscar mais, entrevistas pré e pós-jogos, dados históricos, preparação dos times, curiosidades, treinos, a vida dos atletas, entre outros acontecimentos são procedimentos encontrados no telejornalismo esportivo" (BAGGIO, 2012, p. 20). A TV por assinatura chegou no país na virada dos anos 90 e trouxe para o telespectador uma nova opção de programação. "Enquanto a TV aberta briga pela audiência para atrair patrocinadores, a TV por assinatura aposta na segmentação do público e vende conteúdo" (BISTANE e BACELLAR, 2005, p.110). A partir de 1993, o Brasil passou a ter dois canais específicos sobre esportes na TV a cabo, o canal SporTV e a TVA Esportes que


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mais tarde se chamaria ESPN Brasil. "Se em décadas passadas todos duvidavam que uma programação esportiva no rádio pudesse fazer sucesso, agora o Brasil passava a ter não um, mas dois canais específicos de esportes na TV a cabo" (RIBEIRO, 2007, p.279) Na Copa de 94, a TV Globo investiu pesado na produção. A emissora utilizou na transmissão quatro câmeras exclusivas, super-slow motion e até recursos touch screen, permitindo aos comentaristas analisar as jogadas a partir de desenhos feito sobre uma imagem congelada. "Investir em um evento de alcance mundial era quase uma obrigação, ainda mais com o número impressionante de telespectadores que passaram a acompanhar o maior evento do futebol mundial", (RIBEIRO, 2007, p. 279). E com isso, os programas de esporte da TV passaram a ter formatos mais dinâmicos, com cenários interativos, sem bancada e com a presença de convidados (BAGGIO, 2012). Além disso, observa-se dentro dos programas esportivos uma linguagem mais descontraída e carregada de emoção.

A editoria de esportes é uma das que mais mexe com o imaginário cultural dos leitores, vários recursos discursivos são utilizados pelos jornalistas para dar vida e enriquecer a cobertura esportiva. Exemplo disso são tabelas, gráficos, boxes, logotipos, selos, figuras, ilustrações que povoam as páginas de esportes nos jornais, sem falar em jingles, vinhetas, músicas e imagens que são utilizados em televisão (BORELLI, 2002, p. 19).

A TV, desde sua invenção foi algo que cativou o ser humano é algo essencial dentro da vida da sociedade é praticamente impossível existir uma casa que não possua pelo menos um a aparelho de televisão. Trouxe alegria e iluminação aos lares de bilhões de pessoas em todo o planeta (CASHMORE, 1998). A TV pode ser vista como um retorno a formas primitivas de comunicação. Ela comunica suas mensagens por meio oral e visual, imagem e som [...] Ela mostra imagens e conta histórias e não pede nada à audiência, apenas que ela assista e ouça, mesmo que intermitentemente (CASHMORE, 1998, p.20)

O crescimento da mídia esportiva, dentro da televisão é considerado um "casamento dos céus" (CASHMORE, 1998). Além disso, a quantidade de tempo que a televisão dedica ao esporte, hoje em dia, é algo incontestável. No Brasil o esporte mais popular do país, o futebol "está presente no cotidiano da enorme maioria da população brasileira e há muito tempo transformou-se em paixão nacional", (RIBEIRO, 2007). O autor também destaca que o futebol transcende classes sociais e raciais e se fixou como a mais importante manifestação de ser do brasileiro. E isso com toda a certeza é explorado pelos programas de TV no país que


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tentam agradar e atrair mais audiência para sua programação. Deste modo o esporte encontrase atualmente inserido na imprensa de um modo geral. Os Campeonatos Estaduais são os primeiros a serem transmitidos e disputados pelos clubes brasileiros, seguido pela Copa Libertadores da América, Copa do Brasil, Copa SulAmericana e Campeonato Brasileiro. A detentora oficial dos direitos de exibição desses campeonatos é a Rede Globo, mas até ano passado a TV Bandeirantes também realizava transmissões da Copa do Brasil e do Campeonato Brasileiro, porém em maio de 2016 anunciou que não faria mais as transmissões por conta de crise econômica 4 . Hoje temos a exibição de vários programas esportivos na TV aberta brasileira, além de muitos outros exibidos nas TV's por assinaturas. Na Globo temos os programas Esporte Espetacular, Globo Esporte. Na Band temos, Jogo Aberto, Os Donos da Bola, Band Esporte Clube e Terceiro Tempo. Na Rede Record, o Esporte Fantástico. Na Rede TV!, Bola na Rede e Super Faixa do Esporte. Seis dos nove programas sobre esporte da televisão aberta do país são apresentados por mulheres, uma realidade que nem sempre foi assim. A mulher sofreu para adentrar no campo do jornalismo e mais ainda para conquistar espaço no telejornalismo esportivo, e isso será discutido no tópico a seguir.

2.3 Inserção da mulher na editoria esportiva Antes de ingressarem no campo esportivo, as mulheres sofreram pressões no jornalismo como um todo (BRAVO, 2009). Até a década de 30 profissões como medicina, arquitetura, direito e jornalismo eram consideradas masculinas. No Brasil, o jornalismo passou a receber um grande número de mulheres a partir da década de 70. A população urbana do país, que em 1950 era de 36,2% do total, passou em 1970 para 55,9%, e no ano 2000 atingiu 80%. Uma das consequências dessa rápida e intensa urbanização foi o aumento da participação das mulheres na força de trabalho, o que determinou sua entrada em profissões até então consideradas masculinas, como o jornalismo (ABREU e ROCHA, 2006, p.09).

As significativas transformações que ocorreram na vida econômica brasileira e também e suas repercussões na estrutura do emprego nas últimas décadas também está ligada ao aumento do número de mulheres na imprensa. "O status de jornalista é considerado

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Notícia divulgada no site UOL no dia 03 de maio de 2016. Globo anuncia que Band deixará de transmitir Campeonato Brasileiro. Disponível em <http://uolesportevetv.blogosfera.uol.com.br/2016/05/03/globoanuncia-que-band-deixara-de-transmitir-campeonato-brasileiro/>. Acesso em: out.2016.


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elevado em relação a outras profissões, como a de professor, por exemplo. Esse prestígio está relacionado, em grande parte, ao jornalismo de televisão, que inclusive deu às mulheres maior visibilidade" (ABREU e ROCHA, 2006, p. 10). Mesmo que hoje exista um número muito maior de mulheres nas redações, se comparado com épocas passadas, ainda são os homens que são a maioria. As mulheres tiveram que esperar até a década de 1960 para ingressarem nas redações jornalísticas, e quando entraram trabalhavam em editorias consideradas femininas como: moda, cultura.

Escreviam crônicas e textos voltados para a educação

infantil, esposas e mães.

[...] Até os anos 60 as mulheres não entravam na redações confirmando o seu papel feminino, ocupando espaço nos cadernos ou revistas femininas, nas seções de moda, de receitas culinárias, de conselhos sobre educação infantil e comportamento familiar, ou escrevendo crônicas e contos voltados para o público feminino. Os assuntos "sérios" eram reservados aos homens (ABREU e ROCHA, 2006, p.11).

O jornalismo esportivo é uma área, que até pouco tempo, era predominantemente masculina, assim como, em outras profissões a mulher não conseguia destaque e respeito dentro do esporte nos jornais. No Brasil o ingresso do sexo feminino na área esportiva se deu a partir dos anos 70. "Era quase impossível ver mulheres no esporte até o início dos anos 70. Antes dessa década as mulheres só podiam participar e escrever em outras editorias" (COELHO, 2011, p.34). Atualmente podemos ver várias mulheres inseridas na área esportiva, seja como apresentadora, repórter ou jornalista, porém ainda é difícil a mulher conseguir um espaço mais significativo para ser comentarista ou narradora esportiva. A mulher geralmente desempenha um papel secundário em programas de mesa redonda e não expressa suas opiniões, assim como os homens. É por isso, que mesmo que existam mulheres que se destaquem dentro do jornalismo esportivo, ainda há preconceito dentro nas redações. "O fato, no entanto, é que as mulheres são encaminhadas para as editorias de esportes olímpicos. É fácil demonstrar conhecimento sobre vôlei, basquete e tênis do que sobre futebol e automobilismo. Territórios onde o machismo ainda impera" (COELHO, 2011, p.35). A primeira mulher a cobrir esportes no Brasil foi a jornalista Maria Helena Rangel 5, no final de 1947 o jornal Gazeta Esportiva contratou uma nova jornalista. "Nenhum dos jornalistas que ali estavam poderia imaginar que a moça, chamada Maria Helena Nogueira Rangel, era a mais nova contratada do veículo, a primeira mulher a cobrir a área de esportes 5

Maria Helena Rangel: Há 60 anos, a presença feminina no jornalismo esportivo tinha início. Portal Imprensa. Disponível em: < https://goo.gl/5FglKK>. Acesso em: 27. out.2016.


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no Brasil" (PORTAL IMPRENSA, 2007). Porém, em 1934, Mary Zilda Grassia já tirava as primeiras fotos de esporte para um jornal. A jornalista Isabel Tanese ficou três anos a frente do caderno de esportes do jornal O Estado de São Paulo. Sônia Francine, mais conhecida como Soninha, trabalhou como apresentadora e comentarista da ESPN Brasil entre 1999 e 2004. A jornalista, Kitty Balieiro também foi chefe de redação da ESPN Brasil entre 2000 e 2010. "Pode-se dizer que as redações de esporte do país têm em torno de 10% de mulheres. Isso já provocou mais preconceito no passado do que hoje em dia" (COELHO, 2011, p.35). Se na década de 70 e 80, ter mulher nas redações jornalísticas era coisa rara, hoje o gênero feminino representa cerca de 50% dos profissionais dentro dos jornais de grande circulação no Estado do Rio de Janeiro, Brasília e São Paulo. Elas conquistaram espaços importantes dentro dos jornais ocupando cargos de colunistas, tanto no jornalismo político como no econômico, assim como cargos de direção (ABREU e ROCHA, 2006). Na década de 80, a jornalista Regiane Ritter se tornou a primeira mulher a ser repórter de campo e comentarista esportiva brasileira, na época ela trabalha na Rádio Gazeta de São Paulo. Em entrevista ao site Portal dos Jornalistas 6, ela contou que durante a carreira escutou muito xingamento de torcida, levou cantada de jogador e técnico e também já teve que enfrentar a segurança que não deixava ela entrar no vestiário, pois nessa época as entrevistas do pós jogo eram feitas dentro dos vestiários. No início sua presença intimidava os jogadores, que corriam e se escondiam de Regiane, porém após sua quarta participação, os jogadores já estavam acostumados com sua presença. Ritter fez história ao participar do Mesa Redonda Futebol Debate, da TV Gazeta. Além disso, ela trabalhou na cobertura de três Copas do Mundo, sendo exemplo de mulher dentro do jornalismo esportivo. "Era bem informada e entendia do assunto. Tanto que suas claras demonstrações de conhecimento causam até hoje lembranças carinhosas em homens apaixonados por futebol" (COELHO, 2011, p.36).

Figura 5 - Regiani Ritter entrevista os ex-palmeirenses Antônio Carlos e Velloso, dentro do vestiário. Fonte:

Portal Mídia Esporte. 6

Regiani Ritter: Pioneirismo dentro e fora dos gramados. Portal dos Jornalistas. Disponível em: <http://portaldosjornalistas.com.br/noticias-conteudo.aspx?id=224>. Acesso em: 28. out.2016.


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E foi nessa mesma época que a restrição de mulheres cobrindo esportes teve fim. Porém, o preconceito e a desconfiança em relação a opinião feminina ainda continua sendo um item a ser levado em consideração.

A partir dos anos 1980, deixou de haver restrição às mulheres repórteres de futebol. O que sobrou foi o preconceito contra a opinião feminina. Nenhum preconceito se justifica. É um julgamento como a própria palavra encerra. Mas há um sentido no tal preconceito. Verifique nas rodas de amigos, em bares e festas pelo Brasil, o número de homens que conversam sobre futebol. Compare com o número de mulheres. Essa minoria das que se debruçam sobre o assunto é o que ainda produz desconfiança em alguns (COELHO, 2011, p. 36).

As décadas de 80 e 90 foram de tamanha importância para as mulheres, pois foi nesse período que a presença feminina aumentou dentro das editorias esportiva. Aos poucos elas foram provando que eram capazes de informar, comentar, escrever e falar sobre qualquer assunto do meio esportivo.

2.4 Elas no telejornalismo esportivo O âncora dentro do telejornalismo é um elemento fundamental, pois é ele quem vai apresentar as notícias para o telespectador. Dentro dos programas esportivos o âncora é ainda mais importante, com uma linguagem mais descontraída e com o uso de jargões e gírias os jornalistas esportivos acabam deixando suas marcas e criam um estilo próprio de apresentação. O âncora na transmissão esportiva é o condutor da reportagem que tem a finalidade de levar ao telespectador/ouvinte um evento esportivo. Ele é responsável pela maioria das intervenções e a cara da reportagem. É o repórter principal do evento, e é ele que movimenta e dá ritmo à reportagem/transmissão (BARBEIRO e RANGEL, 2012, p.75).

E com isso, os âncoras e apresentadores possuem suas imagens diretamente ligadas à profissão. "A imagem midiática possui grande poder e atinge um número de telespectadores nunca antes imaginado pelos meios de comunicação anteriores. Isso devido à capacidade de reprodução das gravações" (RODRIGUES, 2014, p.21). Isabela Scalabrini estreou como a


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primeira jornalista esportiva da Rede Globo7 em 1980, e foi uma das primeiras jornalistas a cobrir esportes e fazer matérias sobre futebol na TV brasileira. Cobriu a Copa do Mundo no México, em 1986, além das Olimpíadas de Los Angeles, nos Estados Unidos, em 1984, e de Seul, na Coréia, em 1988. Ainda na década de oitenta, apresentou o Globo Esporte, Esporte Espetacular e o Fantástico. "Scalabrini foi pioneira no que hoje é comum: mulheres, na frente das câmeras falando, comentando e entendendo de esportes. Com o futebol, todavia, era diferente. Este, inicialmente, era destinado aos homens da redação" (RODRIGUES, 2014.p. 21). A jornalista também participou como repórter da cobertura da Copa do Mundo no Brasil em 2014. Outro exemplo, dentro do telejornalismo esportivo, é a jornalista Renata Fan. Segundo o site oficial da TV Bandeirantes8, Renata é considerada a primeira mulher a comandar um programa de mesa redonda na TV aberta brasileira. Desde 2007 a jornalista é âncora do programa Jogo Aberto da mesma emissora. Em 1991, Mylena Ciribelli começou a trabalhar no Globo Esporte e no Esporte Espetacular, da Rede Globo. Em 1998, Anna Zimmerman foi a primeira repórter de campo da emissora, durante a Copa do Mundo na França. Em 2002 e 2006, Fátima Bernardes saiu da bancada do Jornal Nacional para acompanhar a Seleção Brasileira nas Copas do Mundo (RODRIGUES, 2014).

Ainda no final do século XX, as mulheres lutavam para obterem maior participação feminina no esporte brasileiro. A primeira ciclista brasileira a participar dos Jogos Olímpicos foi Claudia Carceoni, em Barcelona/1992, e também foi a única a participar do Tour de France em 1989. Estas mudanças repercutiram diretamente nos programas esportivos da telinha. As mulheres vieram para soltar o verbo; entendem de basquete, rali, fórmula 1 e futebol. Em geral, aquelas que estão à frente do jornalismo esportivo não deixam de fazer parte do imenso grupo de amantes e praticantes femininas de esportes (RAMOS, 2003).

A jornalista Glenda Kozlowski9 também é uma referência no jornalismo esportivo. Ela iniciou sua carreira em 1992 como apresentadora do programa 360º, do canal Top Sport – que mais tarde se tornou-se o SporTV. Em 1996 entrou para a equipe de jornalistas da Rede Globo, sendo contratada para apresentar o Esporte Espetacular. Participou da cobertura nos 7

Na Globo desde 1979, Isabela Scalabrini foi uma das primeiras jornalistas a cobrir esportes na televisão brasileira. Memória Globo. Disponível em: < http://memoriaglobo.globo.com/perfis/talentos/isabelascalabrini/trajetoria.htm>. Acesso em: 28. out.2016. 8 Renata Fan a primeira mulher a comandar uma mesa redonda. Band. Disponível em: < http://www.band.uol.com.br/tv/noticias/100000681895/renata-fan.html>. Acesso em: 28. out.2016. 9 Atleta profissional e campeã mundial de bodyboard, Glenda Kozlowski construiu uma carreira sólida como apresentadora, repórter e locutora esportiva na Globo. Memória Globo. Disponível em < http://memoriaglobo.globo.com/perfis/talentos/glenda-kozlowski.htm>. Acesso em: 28. out.2016.


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jogos Pan-Americanos de Santo Domingo, em 2003 e do Rio de Janeiro em 2007. Cobriu as Olimpíadas de Atenas, 2004 e Pequim, 2008. Em 2006 teve sua primeira experiência em cobertura de Copa do Mundo disputada na Alemanha, produzindo reportagens para todos os telejornais da Globo. E em 2010 participou da cobertura da Copa da África do Sul. Nos Jogos Olímpicos do Rio em 2016, Glenda foi escalada para fazer parte da equipe de narradores esportivos, sendo a primeira mulher a ocupar essa função dentro da maior emissora do país: A Rede Globo. Essas mulheres são alguns exemplos de jornalistas que alçaram espaços antes só dominados por homens. Hoje elas estão presentes em diversos programas de esporte sendo apresentadoras, mediadoras ou repórteres. Porém, a mulher ainda não conseguiu se consolidar dentro dos programas de esporte quando ela tem que ser comentarista de futebol. A maioria das jornalistas que atua na cobertura esportiva, inclusive, reforça a ideia de que mulher foi feita para ser contemplada e admirada, sendo desprovida das capacidades intelectuais do homem. Cabe a ela, portanto, um lugar de destaque neste novo modelo que privilegia o entretenimento em detrimento da informação, que transforma a editoria de esportes quase em uma extensão do setor de variedades (OSELAME, 2010, p. 65).

A emissora RedeTV! em 2010, colocou no ar um programa estilo mesa redonda que era unicamente composto por mulheres. O Belas na Rede apresentado por Paloma Tocci, tinha como time de comentaristas a jornalista Marília Ruiz e as ex-jogadoras Milene Domingues e Juliana Cabral, as reportagens do programa eram realizadas pela ex-jogadora Gabriela Pasquali. A intenção, do programa era mostrar uma nova perspectiva sobre esportes para o telespectador. O principal tema discutido era futebol, assim como em outros mesas redondas da TV, as comentaristas tinham coerência e clareza em suas análises, mas faltava vídeos tapes para as análises táticas. Na questão das reportagens, Gabriela Pasquali, focava em temas superficiais como a beleza dos jogadores. Belas na Rede 10saiu do ar, depois de dois anos por conta de uma reestruturação da emissora. Outro exemplo ocorreu na Rede Globo, que investiu no quadro Bolsa Redonda, dentro do programa Esporte Espetacular. O elenco era composto pela jornalista e ex-atleta Glenda Kozloviski, a repórter Fernanda Gentil, a atriz Cristine Fernandes e a escritora Thalita Rebouças. Logo na estreia, diferente do extinto programa Belas na Rede, da RedeTV! foi possível perceber uma reafirmação do estereótipo de que mulher não entende de futebol, pois o programa ficava concentrado em assuntos 10

Rede TV! troca "bola" por "belas" em novo programa esportivo só com mulheres. Site UOL. Disponível em: < http://televisao.uol.com.br/ultimas-noticias/2010/08/21/rede-tv-troca-bola-por-belas-em-novo-programaesportivo-so-com-mulheres.jhtm>. . Acesso em: 28. out.2016.


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relacionados ao visual dos jogadores e não focava nas partidas em si. Além disso, assim como o nome todas as mulheres chegavam com suas "bolsas" para a roda de conversa.

Figura 6 - Bolsa Redonda estreou em 2013 na Rede Globo dentro do programa Esporte Espetacular. O quadro recebeu muitas críticas dos telespectadores por reforçar o estereótipo de que mulher não entende de esportes. Fonte: UOL.

Mesmo que as mulheres tenham avançado dentro do campo esportivo, ainda é questionável como sua imagem é veiculada aos programas. Hoje elas possuem maior espaço, porém, na maioria dos programas, elas ainda são ofuscadas, porque são os homens que dominam as mesas redondas e debates esportivos. Atualmente é raro assistir um programa de esporte e se deparar com uma mulher que seja formadora de opinião, narradora esportiva ou comentarista recorrente de um programa. Ainda existe desconfiança, preconceito e até falta de interesse do telespectador, que já está tão acostumado a ver homens em debates esportivos, que quando vê uma mulher fazendo isso, não dá credibilidade para o que ela esteja falando.

O aumento da presença feminina no jornalismo esportivo na televisão nas últimas duas décadas não significou grandes mudanças na rotina das redações, o papel das mulheres ainda está restrito em alguns programas televisivos ao domínio masculino. Elas podem apresentar programas, fazer algumas matérias sobre determinados esportes, mas dificilmente encontram espaços para comentar, opinar e falar o que acham certo no esporte brasileiro ou narrar eventos esportivos (RIGH, 2006, p.32).

A mulher encontra-se cada vez mais capacitada para fazer um bom jornalismo de esportes. Pode-se observar um contingente feminino cada vez mais ativo e pronto para cobrir qualquer modalidade, falar sobre qualquer assunto e desvincular a imagem estereotipada da mulher jornalista esportiva. "A televisão descobriu que trazer para frente das câmeras pessoas que refletissem um ideal de beleza na sociedade poderia ser uma forma de atrair mais audiência. E o jornalismo esportivo não fugiu à regra" (RIGH, 2006, p.26). Valorizar e


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explorar a beleza feminina dentro da mídia é algo que é feito há muito tempo. E será discutido no tópico a seguir.

2.4.1 A beleza da mulher no jornalismo de esportes Com o passar dos anos o desenvolvimento da publicidade, cinema e televisão contribuíram para afirmar "o gosto pelo embelezamento do corpo em qualquer ocasião e em todos os lugares" (SANT'ANNA, 2014, p.16). A mídia televisiva e principalmente os programas esportivos ou de entretenimento exploram a imagem de seus apresentadores. "O telejornalismo permitiu a união da informação à estética e, tanto as mulheres como os homens presentes na mídia são exemplos disso, dificilmente os encontramos mal vestidos ou fora de um padrão de beleza estipulado pela sociedade" (BAGGIO, 2006, p.32). Segundo um artigo publicado em 2008 pela revista científica Journal of Promotion Management dos EUA, com o título All the News That's Fit to See? The Sexualization of Television News Journalists as a Promotional Strategy, trouxe dados importantes sobre o uso da imagem dos apresentadores dentro dos programas de televisão. A pesquisa constatou que a maioria dos âncoras escalados para apresentar programas televisivos são jovens, atraentes e brancos, além disso, observaram que as mulheres dentro dos meios de comunicação são escaladas como objetos de decoração e até como símbolos sexuais. A pesquisa também revelou que comparada com os apresentadores homens, as mulheres são mais propensas a apresentar informações trivais e sua imagem aparece com mais frequência na tela (NITZ, REICHERT, AUNE e VELDE, 2007). Beleza, um corpo “sarado” e um rostinho bonito. Em muitos programas de televisão,esportivo, telejornalístico ou de entretenimento, ser bonita é característica obrigatória nos currículos das mulheres que desejam entrar nesse contexto. A imagem das mulheres nos meios de comunicação, em propagandas ou programas, é associada à beleza. Essa característica se intensificou no jornalismo com o início das transmissões televisivas, quando a imagem do jornalista tornou-se mais visível, e não apenas a voz ou as palavras, como era possível no rádio e nos veículos impressos (RIGH, 2006, p.51).

Com uma super valorização das características físicas dos apresentadores, acabou criando-se um preconceito de que mulher não pode ser bonita, inteligente e ainda por cima entender de esportes, quem dirá falar sobre futebol. "Preconceitos pelo fato de ser mulher, entender de esporte e ser bonita fazem com que os seus conhecimentos e opiniões passem despercebidos, e a aparência vire uma armadilha para as mesmas" (BAGGIO, 2012, p. 38).


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Há séculos a conquista da beleza martiriza e entusiasma multidões, faz a ruína e a riqueza de inúmeras pessoas, cria e destrói profissões, desperta invejas, assim como inspira a generosidade e o amor. A antiga frase 'a beleza está para a mulher assim como a força compete aos homens' confirma o clichê segundo o qual em tempos de paz, as moças cuidam da pele e os homens zelam por sua musculatura (SANT'ANNA, 2014, p 16- 17).

Os homens, no entanto ganham status e reconhecimento pelo que são como profissionais. Utilizam roupas bem menos chamativas e muitas vezes até formais como terno, por exemplo, passando assim uma imagem de profissional sério e entendedor de esportes. Já as mulheres, usam roupas mais justas, curtas e muitas vezes provocantes. Sempre bem maquiadas, com cabelos perfeitos e com acessórios elas são jovens e se encaixam no padrão para serem apresentadoras. "Apresentadoras, comentaristas, jornalistas e repórteres do gênero esportivo passaram a ter como característica a beleza, refletindo um estereótipos ligado ao gênero feminino, de que a mulher para ter lugar como apresentadora, deve ser acima de tudo bela" (BAGGIO, 2012, p.30). Essa hipervalorização da beleza feminina fez com que nascesse um preconceito de que elas não podem entender de esportes sem ter como destaque sua aparência física.

Algo semelhante ocorre quando, nas transmissões esportivas, são intercaladas imagens de garotas ou mulheres bonitas que estão no público. Inconscientemente está sendo reforçado o estereótipo de que a função social da mulher é uma função passiva, de que a mulher foi feita para ser contemplada, admirada e desejada (FERRÉS, 1998, p. 145).

As roupas utilizadas pelos apresentadores também trazem muitos significados. "A roupa diz muito sobre a pessoa, antes mesmo que ela tenha dito uma única palavra. Existe uma tendência natural nas pessoas de associar certos modelos de roupas com certas imagens" (BONÁSIO, 2002, p.143). Tudo aquilo que um apresentador de TV usa comunica. Seja o corte de cabelo, maquiagem, gestos, expressões faciais, as cores da roupa, o espaço que ocupa dentro do cenário, tudo tem um grande significado para a mensagem que o programa deseja transmitir para seu receptor.

A forma que a mulher é representada no jornalismo esportivo televisivo acaba transmitindo significados e valores para o telespectador. No momento que as jornalistas não compõem a mesa de discussão esportiva ou possuem poucas matérias exibidas na programação, elas são posicionadas como se estivessem distantes do jornalismo (RIGH, 2006, p.52).


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Muitos acreditam que inserção da mulher dentro do jornalismo esportivo foi uma jogada de marketing estético, "mas elas já provaram que isso é uma grande mentira inventada para aplacar o ego de muitos homens, que não reconhecem que a mulher se mostra muito mais competente no âmbito profissional (ROALY, 2004). A inclusão da mulher no jornalismo de esportes, não foi somente para atrair o público masculino, mas também uma estratégia para aproximar o público feminino, que cada vez mais acompanha e assiste a esse tipo de programa. Porém, "a forma que está sendo construída a imagem da mulher pela mídia em propagandas publicitárias, filmes, programas e também no próprio jornalismo, influencia na representação do gênero feminino adquirida pela sociedade" (BAGGIO, 2012, p.12). Esse levantamento histórico ajuda a compreender o objeto desta pesquisa dando assim, subsídios para análise que será apresentada a seguir.

CAPÍTULO 3 - PRIMEIRO TEMPO - REPRESENTAÇÃO DA MULHER NO TELEJORNALISMO ESPORTIVO BRASILEIRO

Esta pesquisa foi desenvolvida tendo como método a análise de conteúdo que de acordo com Herscovitz (2007) serve para "descrever e classificar produtos, gêneros e formatos jornalísticos, para avaliar características da produção de indivíduos, grupos e organizações" (HERSCOVITZ, 2007, p.123). A análise de conteúdo permitirá uma melhor interpretação dos programas analisados, verificando, assim como é participação feminina nos programas de esporte com comentaristas da televisão brasileira. Pois, "ao analisarmos a frequência com que situações, pessoas e lugares aparecem na mídia podemos comparar o conteúdo publicado ou transmitido com dados de referência[...] Podemos estudar a imagem das mulheres, das crianças, dos idosos e outros grupos (HERSCOVITZ, 2007, p. 123-124). Com isso Herscovitz propõe que a análise de conteúdo jornalística é: Método de pesquisa que recolhe analisa textos, sons, símbolos e imagens impressas, gravadas ou veiculadas em forma eletrônica ou digital encontradas na mídia a partir de uma amostra aleatória ou não dos objetos estudados com o objetivo de fazer inferências sobre seus conteúdos formatos enquadrando-os em categorias previamente testadas mutuamente exclusivas e passíveis de replicação (HERSCOVITZ, 2007, p.126-127).

E com a aplicação dessa análise foi possível fazer deduções sobre a participação das jornalistas Renata Fan no programa Jogo Aberto da TV Bandeirantes e Michelle Giannella no


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programa Gazeta Esportiva da TV Gazeta a partir da criação de categorias de análise. Ambos programas vão ao ar de segunda a sexta-feira. Através de pesquisa bibliográfica realizada no capítulo I e II deste trabalho, surgiram categorias de análise a serem observadas na atuação de Renata Fan e Michelle Giannella nos respectivos programas que apresentam. "A análise de conteúdo da mídia, por fim, nos ajuda a entender um pouco mais sobre quem produz e quem recebe a notícia e também a estabelecer alguns parâmetros culturais implícitos e a lógica organizacional por trás das mensagens" (SHOEMAKER e REESE apud HERSCOVITZ, 2007, p. 124).

3.1 Etapas de análise Os programas foram gravados durante uma semana, compondo o corpus da pesquisa cerca de 15 horas de gravação. Para aplicar o método, seguiremos as etapas propostas por Herscovitz (2007). O primeiro passo é a seleção da amostragem. Para isto, partimos do objetivo da análise que é analisar a participação feminina nos programas esportivos com comentaristas. Para verificar como se dá essa participação será analisado uma semana dos programas Jogo Aberto da TV Bandeirantes e Gazeta Esportiva da TV Gazeta, que foram gravados na semana de 26 a 30 de setembro de 2016. A partir disso, será feita uma análise da participação das âncoras dos programas, avaliando sua interação com o público, com os participantes que o compõem, seu figurino, enquadramentos de câmera, comentários que realizam, os temas recorrentes de reportagens e discussões e merchandising. A segunda etapa é a classificação e interpretação do conteúdo. É necessário estabelecer os conceitos que vão guiar a análise, nomeá-los e definir como medi-los na amostra. Quando se analisa um conteúdo midiático é preciso escolher uma forma de codificação e "para analisar programas de televisão é necessário levar em consideração o caráter híbrido e complexo dessa mídia, cujos produtos misturam, necessariamente, linguagens sonoras e visuais" (CAVENAGHI, 2013, p.59). Por isso, para se obter melhores resultados é necessário ao mesmo tempo empregar a análise quantitativa "contagem de frequências do conteúdo manifesto" que no caso desta pesquisa é a quantidade de vezes que as mulheres podem comentar nos programas analisados e também uma análise qualitativa que é a ''avaliação do conteúdo latente a partir do sentido geral dos textos, do contexto onde aparece, dos meios que o veiculam e/ou dos públicos aos quais se destina" (HERSCOVITZ, 2007, p. 127) . A partir disso, será possível obter resultados avaliando o contexto geral do programa no qual o objeto empírico está inserido. Seguindo essas contribuições


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metodológicas foi elaborado um passo a passo da metodologia que será aplicada nesta pesquisa. 1º passo

Levantamento teórico das questões relacionadas ao tema e ao objeto de estudo da pesquisa;

2º passo

Gravação completa dos programas citados acima;

3º passo

Elaboração das categorias de análise que são: interação com o público; Interação com os participantes que compõem o programa; figurino e acessórios; enquadramentos de câmera; comentários realizados e temas;

4º passo

Descrição do objeto e sistematização dos dados em tabelas;

5º passo

Análise e interpretação dos dados, com base na teoria anteriormente consultada;

Tabela 1- Passo a passo da metodologia aplicada na pesquisa.

3.2 Objeto empírico É comum em programas esportivos de televisão ter o apresentador(a) ou âncora e também os comentarista que analisam e opinam sobre lances, jogadas, situações ou assuntos relacionados ao esporte. Por isso, cabe ao comentarista "analisar o que aconteceu, o que pode acontecer e antever o que aconteceria numa partida" (BARBEIRO e RANGEL, 2012, p.79). Geralmente em programas esportivos os comentaristas são: jornalistas, ex-jogadores, exatletas, ex-pilotos, escritores, dependendo do assunto em questão o comentarista muda. Ele não precisa ter uma formação, porém " precisa ter um conhecimento do assunto, experiência e a vivência do esporte" (BARBEIRO e RANGEL, 2012). Além disso, o comentarista precisa conhecer seu público-alvo e sempre estar ciente do que está falando para não colocar sua credibilidade em xeque, por isso:

O comentarista tem de ter uma noção do público-alvo, como qualquer jornalista esportivo. Deve saber com clareza para quem está falando, para poder calibrar o nível técnico e o vocabulário que vai usar. Em um veículo aberto precisa ser mais didático, dinâmico e sintético. Nos veículos segmentados pode aprofundar-se mais e deter-se em aspectos técnicos. Sem essa noção, é grande a possibilidade de confundir telespectadores e ouvintes (BARBEIRO e RANGEL, 2012, p.81-82).

Fazendo um levantamento dos programas de esporte da TV brasileira e por meio de uma pesquisa exploratória realizada pela pesquisadora foram listados abaixo os programas esportivos com comentaristas.


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PROGRAMAS ESPORTIVOS DA TV BRASILEIRA COM COMENTARISTAS 11 PROGRAMA EMISSORA TV ABERTA OU EXIBIDO FECHADA A ÚLTIMA FOX SPORTS FECHADA DOMINGO PALAVRA BRASIL BATE BOLA ESPN BRASIL FECHADA SEGUNDA A SEXTA BEM, AMIGOS SPORTV FECHADA SEGUNDA BOA NOITE FOX FOX SPORTS FECHADA SEGUNDA BRASIL BOLA NA REDE REDETV! ABERTA DOMINGO BOLA NA TORRE RBA TV ABERTA DOMINGO CADEIRA ULBRA TV ABERTA SEGUNDA A SEXTA CATIVA CONEXÃO EI EI MAXX FECHADA SEGUNDA A SEXTA CARTÃO VERDE TV CULTURA ABERTA QUINTA EXPEDIENTE FOX SPORTS FECHADA SEGUNDA A SEXTA FUTEBOL BRASIL EXTRA SPORTV FECHADA DOMINGOS ORDINÁRIOS FIM DE PAPO EI MAXX FECHADA DOMINGO FUTEBOL NO ESPN BRASIL FECHADA SEGUNDA A SEXTA MUNDO E DOMINGO FOX SPORTS FOX SPORTS FECHADA SEGUNDA A SEXTA RÁDIO BRASIL GAZETA TV GAZETA ABERTA SEGUNDA A SEXTA ESPORTIVA JOGO ABERTO BAND ABERTA SEGUNDA A SEXTA JOGANDO EM EI MAXX FECHADO SEGUNDA A SEXTA CASA LINHA DE PASSE ESPN BRASIL FECHADA SEGUNDA E SEXTA MESA REDONDA TV GAZETA ABERTA DOMINGO NOITE DE EI MAXX FECHADA TERÇA CRAQUES OS DONOS DA BAND ABERTA SEGUNDA A SEXTA BOLA RODADA FOX FOX SPORTS FECHADA MENOS SEGUNDA E BRASIL SEXTA SELEÇÃO SPORTV FECHADO SEGUNDA A SEXTA SPORTV TEMPO DE JOGO RIC TV CURITIBA ABERTA SÁBADO TERCEIRO BAND ABERTA DOMINGO TEMPO TROCA DE SPORTV FECHADO DOMINGOS PASSES

TEM MULHER? NÃO NÃO SIM - JOANA DE ASSIS NÃO NÃO NÃO NÃO NÃO NÃO NÃO SIM- MAITÊ PROÊNÇA NÃO NÃO NÃO SIM- MICHELLE GIANNELLA SIM- RENATA FAN SIM- RENATA MILLINGTON NÃO SIM- MICHELLE GIANNELLA NÃO NÃO NÃO NÃO NÃO SIM - LARISSA ERTHAL NÃO

Tabela 2- Lista dos programas esportivos da TV Brasileira com comentaristas.

Dos 26 programas listados, apenas sete possuem mulheres na composição do quadro de apresentadores e em nenhum deles a mulher a catalogada como comentarista. Dos sete programas, com participação feminina, dois foram selecionados para estarem nesta pesquisa: Jogo Aberto da TV Bandeirantes e Gazeta Esportiva da TV Gazeta. Eles foram selecionados por terem um formato parecido, por irem ao ar de segunda a sexta-feira, por serem de TV aberta e também por terem apresentadoras com um padrão de beleza semelhante.

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Para construir a tabela foi realizada uma pesquisa na internet dos programas esportivos brasileiros, e apenas os que possuíam comentaristas foram listados. O levantamento dos dados dos programas foram retirados dos sites das respectivas emissoras e do site wikipédia.org


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O primeiro programa a ser analisado é da TV Bandeirantes, Jogo Aberto vai ao ar, ao vivo, diariamente de segunda à sexta-feira às 11h15. Ele estreou na emissora no dia 05 de fevereiro de 2007. É dividido em duas partes: a primeira é um bloco nacional com as principais informações sobre futebol nacional e internacional, além de noticiar sobre outras modalidades esportivas. A segunda parte começa a partir das 12h30. É composta apenas pelo debate entre comentaristas, que é transmitido somente para a região de São Paulo e também via parabólica para as demais regiões do país. Em outros Estados são exibidos programas esportivos locais. Em São Paulo, o programa é apresentado pela jornalista Renata Fan, que também media o debate esportivo. Durante o debate, sempre há convidados especiais como jogadores, técnicos, artistas ou jornalistas. Na mesa redonda, os principais lances e os detalhes da rodada do campeonato brasileiro são discutidos. A equipe de comentaristas é composta pelos exjogadores de futebol, Denílson e Ronaldo Giovanelli, e também por Paulo Martins, Chico Garcia e Héverton Guimarães, algumas vezes Ulisses Costa também faz participações. O programa tem uma hora e meia de produção e aproximadamente duas de duração. As reportagens são de diversos temas, mas o foco maior é no futebol. A âncora, Renata Fan na primeira parte "chama" o telespectador para acompanhar o que vai "rolar" no programa do dia. Ao longo do programa a apresentadora faz a introdução de quase todas as matérias. Apresentado com muita descontração, Jogo Aberto tem como foco a jornalista, Renata Fan, 12 considerada a primeira mulher a comandar um programa de esportes com mesa redonda no Brasil (BAND, 2014). O entretenimento e o humor são elementos bem marcantes na composição do programa. Como fica evidente na imagem a seguir, que mostra elementos lúdicos que foram utilizados na edição do dia 26 de setembro na parte do debate com os comentaristas.

Figura 7 - Renata Fan junto com os comentaristas do Jogo Aberto. Programa exibido no dia 26 de setembro de 2016. 12

Renata Fan - A primeira mulher a comandar uma mesa redonda. BAND. Disponível em <http://www.band.uol.com.br/tv/noticias/100000681895/renata-fan.html>. Acesso em 01.nov.2016


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Natural de Santo Ângelo (RS), Renata Fan é formada em direito pelo Instituto Superior Santo Ângelo (IESA), porém desistiu de ser advogada e entrou para área de comunicação. Em 2005, Renata concluiu o curso de Comunicação Social nas Faculdades Integradas Alcântara Machado (FIAM) em São Paulo. Em 1995, quando ainda cursava direito, já trabalhava como locutora na Rádio Transamérica de Santo Ângelo. Em 1997, participou, em Porto Alegre, do programa Tele Domingo, da RBS TV (afiliada da Rede Globo no RS) apresentando os principais eventos culturais do fim de semana. Na época, saiu do programa para concluir sua primeira faculdade, mas jamais abdicou de seguir o trabalho na área televisiva. Em 1999, a apresentadora foi eleita Miss Santo Ângelo, Miss Rio Grande do Sul e Miss Brasil. E no mesmo ano, representou o país no Miss Universo, que ocorreu em Trindade e Tobago no Caribe. Segundo o site oficial de Renata, em junho de 2003 ela teve a chance de realizar o primeiro piloto na área de esportes na Rede Record. Após ser aprovada começou a apresentar, aos domingos à noite, o programa Terceiro Tempo ao lado de Milton Neves, e ao meio dia o programa Debate Bola da mesma emissora. Além, das duas atrações esportivas da Record, ela também apresentou o Golaço, da Rede Mulher, entre 2005 e 2006, e em 2007 foi contratada pela TV Bandeirantes para comandar o programa Jogo Aberto, onde trabalha até hoje.

Figura 8 - Renata Fan apresentando o jogo aberto no dia 26 de setembro de 2016.

O segundo programa analisado é o Gazeta Esportiva da TV Gazeta de São Paulo. Foi o primeiro telejornal esportivo da emissora e teve origem no início dos anos 90. O programa já teve vários apresentadores, como Roberto Avallone, Chico Lang, Drika Lopes e Anna Paola. E desde de 2000 é apresentado pela jornalista, Michelle Giannella. Gazeta Esportiva, vai ao ar de segunda à sexta-feira, ao vivo às 18h15. Participam como comentaristas fazendo uma espécie de "rodízio", os jornalistas: Flávio Prado, Chico Lang, Oscar Roberto Godói,


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Alberto Helena Júnior e Osmar Garrafa. O programa tem 40 minutos de produção e uma hora de duração. As reportagens são de diversos temas, mas a maioria é com destaque para o futebol de São Paulo (SP). Antes de iniciar o programa, Michelle faz a chamada das matérias em off13 para o telespectador trazendo um resumo do que vai ser apresentado no programa do dia. Quando o programa inicia, Michelle cumprimenta os convidados, que estão sentados e chama a primeira matéria do dia. Quando volta14 para o estúdio ela pede a opinião dos comentaristas ou eles mesmos já cometam logo em seguida. É assim na maior parte do programa. Há também interação com os telespectadores, através de enquetes pelo site gazetaesportiva.com ou pelas redes sociais. Diferente do Jogo Aberto o programa Gazeta Esportiva não tem uma parte exclusiva para debate, mas durante todo o programa os comentaristas dão sua opinião quando perguntado por Michelle ou diretamente após o término de uma matéria.

Figura 9- Michelle interagindo com os comentaristas Celso Cardoso (esq) e Flávio Prado (dir) do Gazeta Esportiva. Programa exibido no dia 28 de setembro de 2016.

Nascida em São Paulo (SP), Michelle Giannella15, é formada em jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero (SP), e em direito pela Universidade São Judas Tadeu (SP). Já trabalhou como modelo e passou por diversas redações antes de trabalhar com esporte. Na Rede Gazeta foi produtora e repórter do programa Mulheres e do programa Gazeta Meio- Dia. Na Internet, foi editora do site Virgulando, do portal Virgula, onde coordenou a área de cultura e entretenimento. Também foi editora-chefe do site Estrelando. No impresso,

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Off- texto lido pelo apresentador, locutor ou repórter e coberto com imagens.

Volta para o estúdio- A matéria ou reportagem terminou a âncora aparece novamente no vídeo para continuar o programa. 15 Dados retirados da página oficial da apresentadora na rede social Facebook. Disponível em: < https://www.facebook.com/michellegiannellaoficial/?fref=ts> Acesso em 18 nov. 2016.


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foi repórter de A Gazeta Esportiva e no rádio, trabalhou na Jovem Pan FM como produtora do programa Fala Sério. Desde 29 de dezembro de 2000, Michelle é apresentadora do programa Gazeta Esportiva da TV Gazeta, e desde 2003 faz parte do programa Mesa Redonda da mesma emissora. Também apresenta todo ano, ao lado do jornalista Flávio Prado, o Troféu Mesa Redonda, evento que premia os melhores jogadores e técnicos do Campeonato Brasileiro. E desde setembro de 2015 passou a ser editora executiva do portal gazetaesportiva.net.

Figura 10 - Michelle Giannella apresentando o Gazeta Esportiva no dia 28 de setembro de 2016.

3.3 Categorias de análise Para analisar a participação feminina nos programas esportivos com comentaristas, por meio das jornalistas Renata Fan, âncora do Jogo Aberto e Michelle Giannella, âncora do Gazeta Esportiva, foram criadas sete categorias de análise, a partir de uma revisão bibliográfica desenvolvida nos capítulos anteriores e uma pesquisa exploratória do corpus. As categorias que foram utilizadas na análise de conteúdo foram: enquadramento de câmera; interação com o público; interação com os comentaristas; comentários; tema; merchandising e figurino e acessórios. A categoria enquadramento de câmera terá como objetivo verificar que tipos de enquadramentos são utilizados durante a programação. Os enquadramentos são muito importantes para a composição da fala do apresentador, porque "os enquadramentos, ou planos, dizem respeito à proximidade da figura humana em relação ao 'quadro', ou seja, em relação ao espaço da tela. Quanto mais próxima a figura estiver da tela, maior será seu efeito de importância na cena" (CAVENAGHI, 2013, p.70). Já a categoria interação com o público terá por objetivo ver como as jornalistas se reportam e interagem com o telespectador; como é feita essa interação; e quantas vezes elas interagem de alguma maneira com o público, seja


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através de redes sociais, enquetes realizadas pelo site ou por recados ou informações que elas enviam ao vivo para o telespectador, pois o âncora deve deixar claro para seu telespectador tudo o que é informativo, interpretativo e opinativo. Além disso, a interatividade com o público deve ser constante, seja através dos repórteres no estádio ou pela internet (BARBEIRO e RANGEL, 2012). Na categoria interação com os comentaristas será possível analisar como as apresentadoras se reportam e interagem com os comentaristas do programa. A partir disso, será verificado que tipo de assunto elas introduzem a eles; de que modo elas fazem isso; e quantas vezes elas interagem com eles no decorrer da programação. O figurino e os acessórios, como vimos no capítulo anterior é de grande importância para a imagem do apresentador. Suas roupas tem muitos significados, principalmente para a imagem que o âncora quer passar para seu receptor. A maquiagem e os acessórios que compõem seu figurino comunicam antes mesmo de o apresentador dizer uma palavra. Através dessa categoria será possível verificar que tipo de imagem a jornalista de esportes tem atualmente. O tema das reportagens é de grande importância para verificar quais são os assuntos mais veiculados nos programas esportivos, assim como analisar que tipo de modalidade as jornalistas e os comentaristas mais colocam em pauta. A categoria, comentários é a mais importante desta pesquisa, pois a partir dela será possível verificar quantas vezes as mulheres apresentadoras fazem algum tipo de comentário opinativo dentro do programa, e sobre qual tema elas comentam. E por fim, merchandising, será verificado quantas vezes as apresentadoras fazem propagandas no decorrer do programa. E que tipo de produtos elas anunciam e como é sua postura quando está realizando um anúncio.

CAPÍTULO 4 - SEGUNDO TEMPO - ANÁLISE DOS PROGRAMAS ESPORTIVOS JOGO ABERTO E GAZETA ESPORTIVA

4.1 Jogo Aberto Foi observada a participação da jornalista Renata Fan, no programa Jogo Aberto gravado de segunda a sexta-feira de 26 a 30 de setembro de 2016. A partir das observações das cinco edições dos programas, a atuação dela foi descrita de acordo com as categorias para os objetivos desta pesquisa. Serão pontuadas com falas e imagens de Renata e dos comentaristas, as categorias nas edições analisadas.


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4.1.1 Interação com público Interações com o público, dentro do Jogo Aberto, na maioria das vezes são feitas através da hashtag16 do dia. Renata dá um tema para que os telespectadores enviem fotos ou vídeos para o programa utilizando a hashtag nas redes sociais, além disso também faz interações por meio de enquetes, onde o telespectador deve acessar o site do programa. Também interage quando anuncia algum jogo especial que a emissora vai transmitir da UEFA Champions League ou de algum programa da Band. Como exemplo no programa do dia 26 de setembro Renata convidou o telespectador para participar do programa através da hashtag #mimimiJA. E no programa do dia 28 através da #craquesJA.

Figura 11 - Renata Fan interage todos os dias com os telespectadores através de hashtags.

O uso das redes sociais se tornou algo muito comum em diversos programas jornalísticos, e o jornalismo esportivo se aliou a essa nova tendência. Hoje muitos programas utilizam as redes sociais para interagir com o telespectador. "A velocidade da rede coloca a internet na mesma igualdade de condições da TV e do rádio para levar informação ao público" (BARBEIRO e RANGEL, 2012, p.99). Analisando as interações com público na semana de 26 a 30 de setembro, ao todo Renata fez 21 interações com o telespectador. A maioria através da hashtag do dia, ou como no exemplo do dia 27 de setembro onde a apresentadora fez interação por meio de enquete no site do Jogo Aberto. O comentarista Denílson, integrante fixo do programa, interagiu apenas duas vezes, quando pediu para que os telespectadores mandassem ideias para "zoar" Renata. Como exemplo, o dia 29 de setembro. Após derrota para o Atlético-MG o time da apresentadora, Internacional continuava em má-fase no Campeonato Brasileiro, por isso o

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Hashtag: É uma expressão bastante comum entre os usuários das redes sociais, na internet. Consiste de uma palavra-chave antecedida pelo símbolo #, conhecido popularmente no Brasil por "jogo da velha" ou "quadrado".


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comentarista falou que já não tinha mais ideias para fazer piadas17 com a apresentadora. Podese observar em um trecho da fala do comentarista:

Denílson Show (29.09.2016): Deixa eu falar não vou 'zuar' porque é o seguinte: Tá perdendo a graça, tá perdendo a graça, ficar 'zuando' o Internacional em todo o programa entendeu? Não 'tô' conseguindo mais ou vocês me ajudem nas redes sociais mandando ideias, porque eu pai já esgotou. As do pai já esgotou já.

Figura 12 - Renata interage com o telespectador através de enquete e Denílson fala pede para o telespectador enviar ideias para fazer piada com a apresentadora.

As interações com o público são feitas de forma dinâmica e Renata com muita simpatia atrai o telespectador para interagir com ela e o comentarista. Durante as interações a maioria dos enquadramentos de câmera são fechados dando a sensação de que a apresentadora e o comentarista falam diretamente para quem está assistindo. A âncora utiliza os meios que o programa disponibiliza, para fazer com que o público participe mais ativamente do Jogo Aberto. Assim como, mencionado anteriormente é comum na atualidade os programas esportivos utilizarem a internet e outras tecnologias para se aproximar do telespectador. "Não fuja das novas tecnologias como internet, multimídias, celulares com áudio e vídeo, laptops, palms etc. Elas estão totalmente integradas à profissão" (BARBEIRO e RANGEL, 2012, p.99). Não pode-se fechar os olhos para as multiplataformas. O receptor que antigamente só recebia os conteúdos através da televisão, rádio e impresso, hoje está a todo o momento acompanhando os assuntos de seu interesse através do celular, tablet e smartphone, tudo graças a internet.

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As piadas que o comentarista faz durante o programa com Renata serão analisadas na categoria Interação com os comentaristas.


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4.1.2 Interação com os comentaristas Ao longo do programa há muita interação de Renata com o comentarista Denílson e com os outros comentaristas na parte do debate. Durante a semana analisada ocorreram mais de 80 interações entre os integrantes do programa e a apresentadora. Além disso, ao todo, Renata se comunicou sete vezes ao vivo com repórteres que estavam nos CT's18 do Corinthians, Palmeiras e São Paulo. O tema de todas as interações foi futebol, sendo que este é o assunto que permanece mais em pauta durante todo o programa. Sempre quando Renata faz alguma pergunta aos comentaristas, contextualiza a situação. Um exemplo foi no dia 30 de setembro, a apresentadora contextualizou a polêmica envolvendo o técnico do Cruzeiro, Mano Menezes e o ex-presidente do Corinthians, Andrés Sanches. Renata Fan (30.09.2016): Bom, Mano Menezes falou da época que ele trabalhou no Corinthians e disse que recentemente a arbitragem, tem de certa forma favorecido o Timão, não é? E aí o ex-presidente do Corinthians, o Andrés Sanches, não gostou dessa postura e dessa declaração do treinador do Cruzeiro e sabe o que ele fez? Falou com a Rádio Bandeirantes.

Depois de rodar a matéria e áudio com as declarações do ex-presidente do Corinthians Renata pergunta para Denílson o que ele achou:

Renata Fan (30.09.2016) : Você concorda com o Andrés Sanches que as declarações do Mano Menezes foram "irresponsável"?

Figura 13 - Ao mesmo tempo em que Renata contextualiza e introduz a matéria para o telespectador, também conversa e interage com o comentarista Denílson.

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Centro de Treinamento


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A maioria dos enquadramentos usados nas interações de apresentadora e comentarista é o fechado ou a tela é divida com o lance ou jogada que está em questão. Geralmente depois do VT de uma matéria, Renata pede a opinião de Denílson. Pode-se observar um exemplo que ocorreu no dia 26 de setembro, quando a jornalista pediu a opinião do comentarista sobre as declarações do técnico do Fluminense, pós jogo Corinthians x Fluminense. Renata Fan (26.09.2016): Agora eu queria que você analisasse, também para gente o que o Levir Culpi disse.

Figura 14 - Durante as análises com o comentarista a tela fica dividida com o lance ou jogada discutida.

Ao interagir com os repórteres o enquadramento da câmera sempre fica aberto, Renata ou fica em pé bem próxima ao telão, que mostra a imagem do repórter ou sentada ao lado de Denílson. No dia 27 de setembro o programa foi apresentado no estúdio do Jogo Aberto do Rio de Janeiro, e a jornalista interagiu com o repórter, William Lopes que estava ao vivo no CT do São Paulo. Podemos ver algumas interações de Renata com os repórteres no trecho e imagens a seguir: Renata Fan (27.09.2016) : Agora o assunto é São Paulo, engraçado, bom dia para você, William, o Denílson tá todo, todo com o Palmeiras, tá aqui, você tem que ver provocando os Flamenguistas se cuida, hein, Denílson, tá só na provocação aqui no estúdio. Mas é o seguinte ele tá esquecendo do São Paulo, o São Paulo precisa voltar a vencer e vai enfrentar o Flamengo jogo duríssimo no Morumbi, não é William?


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Figura 15 - A esquerda Renata interage com o repórter William Lopes no dia 27 de setembro, e à direita conversa com o repórter Bruno Monteiro no dia 30 de setembro.

Durante as interações com repórter, sempre é Renata quem conversa com eles, mesmo que Denílson acompanhe é ela quem faz a chamada do ao vivo e dá a introdução do que o repórter vai falar. Só depois que volta para o estúdio é que Denílson comenta alguma novidade que o repórter trouxe. É assim na maior parte do programa o comentarista opina e Renata algumas vezes comenta também, mas não porque pediram sua opinião e sim porque o faz. Outro ponto onde há interação entre a jornalista e comentaristas é no debate, que ocorre na segunda parte do programa. Renata fica em pé no estúdio, enquanto os comentaristas permanecem todo o tempo sentados um ao lado do outro. Nessa parte, oposto do que ocorre quando fica somente com o comentarista Denílson, pode-se observar que ela quase nunca faz algum tipo de comentário, sobre lance, jogada ou partida, apenas faz a mediação do debate inserindo os temas que os comentaristas terão que avaliar e opinar. Os enquadramentos mais utilizados são fechados na pessoa que está falando ou com tela dividida para que o telespectador acompanhe o lance ou jogada sobre o qual os comentaristas estão opinando. É raro ver Renata de corpo inteiro durante o debate, somente quando o programa está acabando é que sua imagem aparece em plano aberto dando assim, uma noção de como fica a disposição do cenário e a distância dela em relação aos comentaristas. O cenário é um ponto interessante a ser analisado. Como mencionado acima, Renata fica em pé do lado esquerdo do estúdio, enquanto os comentaristas ficam sentados um ao lado do outro no mesmo nível. Há uma elevação na parte onde os comentaristas ficam e isso, pode trazer alguns significados. Primeiramente, podemos dizer que no momento que opinam estão um nível acima dela ou que na hora do debate ela não faz parte do quadro de comentaristas, portanto não pode comentar, assim como eles.


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A forma que a mulher é representada no jornalismo esportivo televisivo acaba transmitindo significados e valores para o telespectador. No momento que as jornalistas não compõem a mesa de discussão esportiva ou possuem poucas matérias exibidas na programação, elas são posicionadas como se estivessem distantes do jornalismo (RIGH, 2006, p.52).

Figura 16 - Tipos de enquadramentos utilizados durante o debate.

Jogo Aberto tem como característica utilizar muito entretenimento durante sua programação. Quem acompanha diariamente sabe que todos os integrantes do programa tem um clube pelo qual torce. Renata é torcedora fanática do Internacional (RS), Denílson é torcedor do São Paulo(SP), mas também tem afeição pelo Palmeiras (SP), pois já jogou pelos dois times. Ronaldo Giovanelli é ex-goleiro do Corinthians (SP), Paulo Martins é torcedor do Santos(SP), Chico Garcia é torcedor do Grêmio(RS), Héverton Guimarães, por ser de Minas Gerais, "puxa mais o saco" dos times do Cruzeiro e Atlético-MG. Por conta disso, muitas piadas são feitas durante a programação com os times de cada. Porém, por ser a única mulher no programa, Renata é que mais sofre "zoações" durante a programação. Na semana analisada de 26 a 30 de setembro de 2016 foram feitas mais de dez piadas com a apresentadora, em relação a má fase do seu time Internacional. Quem não acompanha o programa ou futebol com frequência, muitas vezes fica sem entender as piadas feitas com Renata. Um cenário foi todo elaborado para fazer piadas com ela e com alguns comentaristas, mas a parte que "zoa" o time da apresentadora é maior. Para compreender os elementos dispostos no estúdio é necessário acompanhar assiduamente o programa e os principais campeonatos que os clubes brasileiros disputam. Um


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exemplo foi no dia 29 de setembro. O time da jornalista perdeu para o Santos na Copa do Brasil e o comentarista, Denílson ficou pelo menos cinco minutos fazendo piadas com a derrota do time de Renata. O exemplo pode ser acompanhado nas imagens a seguir:

Quando o programa volta para o segundo bloco, depois do intervalo, Renata está ao lado de Denílson e nesse momento é tocada a música "Cerol na mão" do Bonde do Tigrão, enquanto o comentarista dança sentado.

O bicho de pelúcia do personagem Tigrão do desenho da Disney Ursinho Pooh é mostrado em close-up com a camisa do time do Santos.

Em plano fechado aparece a expressão infeliz de Renata.

E o comentarista continua dançando enquanto a câmera foca Renata, Denílson e o bicho de pelúcia Tigrão

Denílson pede para parar de tocar a música e começa a falar:


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Denílson: Deixa eu falar não vou 'zuar' porque é o seguinte: Tá perdendo a graça, tá perdendo a graça, ficar 'zuando' o Internacional em todo o programa, entendeu? Não 'tô' conseguindo mais ou vocês me ajudem nas redes sociais mandando ideias porque eu, pai já esgotou. As do pai já esgotou já! Tá aqui, ó Tigrão meu parceiro, porque virou amigo!

Renata: Não, veio do México e não foi embora

Denílson: Vai embora como? Esse aqui já virou amigo. Aqui é parceiro já! Daqui a pouco tá fazendo parte do programa, ou se já não 'tá' já é a segunda semana consecutiva já.

Renata: Daqui a pouco vai ganhar salário aqui do Jogo Aberto, né?

Denílson: Eu 'tô' em casa de bobeira ontem quem me liga? Quem me liga?Quem me liga adivinha? Não, não foi a Renata, os caras lá do marketing do Santos, ligaram mandaram um presente.


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Deixa eu mostrar. Ligaram e falaram posso mandar um presente para você? Eu falei pode mandar, irmão. Daí eles mandaram uma camisa do Santos, tá ligado? Camisa do Santos bonita que é essa aqui. Daí ó, olha o que tá aqui atrás! Tigrão, meu parceiro

Denílson: Peraí, fala oi para Renata

Renata: Aí, tenho que aguentar isso gente! Ao vivo"

Figura 17- Exemplo de brincadeira realizada com Renata durante o programa Jogo Aberto.

Esse exemplo é um dos muitos que são feitos com Renata quando seu time perde. O uso de sobe som e o cenário criaram uma marca no programa. O entretenimento e o humor andam juntos durante a exibição do Jogo Aberto, porém "a cobertura alegre, descontraída, animada não deveria nunca se confundir com programa humorístico" (BARBEIRO e RANGEL, 2012). Todo esse entretenimento não traz nenhuma informação para o telespectador. O principal fato que é a notícia de como foi o jogo, nesse caso, ainda não havia sido divulgada. Esses momentos acabam se tornando maçantes já que no decorrer do programa sempre quando têm oportunidade os comentaristas fazem algum tipo de piada para atingir a apresentadora. Mesmo respondendo muitas dessas provocações, e até fazendo piadas com


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eles, Renata ainda é o maior alvo das brincadeiras do programa. Exemplo do dia 26 de setembro quando o comentarista Héverton Guimarães que faz seus comentários via redação da Band de Minas Gerais, utilizou uma máscara para "zoar" a jornalista.

Figura 18 - Comentarista Héverton Guimarães utiliza máscara do jogador do Atlético-MG para rir de Renata.

As interações entre a jornalista e comentaristas é o ponto chave do programa. Pois elas ocorrem com muita frequência e de diversas formas como vimos acima. Mesmo com todas as piadas, Renata sempre as leva no bom humor, porque acabou criando uma personagem quando recebe as brincadeiras. Nenhuma dessas brincadeiras a agride física ou verbalmente, são brincadeiras "normais" de quando o time perde e adversário faz alguma piadinha. O problema é que a maioria das piadas é direcionada a apresentadora. Quando os times dos comentaristas perdem eles não "armam um circo" para "zoar" um com o outro, as vezes fazem uma piada ou outra, mas nada comparado ao que fazem com Renata. Até mesmo quando a jornalista faz algum tipo de piada com o time dos comentaristas não é nada parecido. Podemos ver um exemplo na fala da apresentadora do dia 28 de setembro, direcionada ao comentarista, Denílson. Renata Fan (28.09.2016): Juventude, isso não te traz alguma recordação? É quem? É quem eliminou o São Paulo na Copa do Brasil.

4.1.3 Comentários Um dos grandes problemas desta pesquisa era encontrar programas esportivos que tinham mulheres em seu quadro de integrantes, e estas fossem comentaristas. Os únicos programas encontrados em que a mulher estava no papel de comentarista foram os programas:


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A Última Palavra da Fox Sports e Conexão EI do canal EI Maxx. Eles não entraram nessa análise, porque a figura feminina fez raras participações nos programas. Não sendo uma figura fixa da programação. Como visto no terceiro capítulo desta pesquisa, Renata Fan é considerada a primeira mulher a comandar um programa de mesa redonda na TV aberta brasileira. E mesmo não tendo como função ser comentarista no Jogo Aberto, é bem crítica quando dá suas opiniões que muitas vezes são muito mais bem pontuadas que a dos próprios comentaristas. Tem propriedade e mostra firmeza quando o faz, como demonstra o trecho a seguir:

Renata Fan (27.09.2016): Agora tem um detalhe o que eu vejo olhando a tabela do campeonato. Eu vejo um Palmeiras com melhor ataque, mas a segunda melhor defesa, só perde para do Atlético-PR ou seja um equilíbrio, saldo de gols, isso reflete o que ele apresenta em campo. O Flamengo tá subindo agora tem a melhor campanha do segundo turno o que é louvável, o que é representativo. E o Galo ainda precisa melhorar um pouquinho, defensivamente já tomou 36 gols na competição acho que se conseguir equilibrar vai entrar de vez nessa briga.

Figura 19 - Renata comentando no programa do dia 27 de setembro de 2016.

Durante a semana analisada a jornalista fez aproximadamente 30 comentários, uma média de seis por dia. É bem pouco se comparado aos homens que somando realizaram mais de 80 durante a semana, uma média de 16 por edição. É quase três vezes mais que a apresentadora. "Diferenças sexuais continuam sendo pretexto para impor relações hierárquicas que apontam a supremacia e dominação do homem aliada à subordinação da mulher. Essa relação de gênero é encontrada em todas as classes sociais, em diferentes grupos étnicos e se reproduz a cada geração" (ROMERO, 2004,p. 104). Isso mostra o quanto a mulher ainda não tem representatividade para expor suas opiniões dentro de um programa esportivo, essa função ainda faz parte do time de especialistas: ex-jogadores, radialistas e jornalistas "renomados" que atuam há anos dentro do meio esportivo. É muito raro ver ex-jogadoras, ex-


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atletas ou jornalistas mulheres fazendo parte desse time, apenas em época de Copa ou Olimpíadas elas são "convocadas" para analisar ou comentar sobre futebol feminino ou esportes olímpicos femininos.

4.1.4 Figurino e Acessórios A figura do âncora, como vimos no capítulo dois desta pesquisa é de grande importância para imagem do programa. O figurino, a maquiagem e as roupas que utilizam trazem muitos significados. O programa Jogo Aberto faz parte de uma grande emissora brasileira que é a Bandeirantes. Por conta disso, a estrutura do cenário e também a verba para o figurino e os acessórios dos apresentadores são bem maiores do que da TV Gazeta, por exemplo. Quem acompanha o Jogo Aberto todos os dias, sabe que a apresentadora utiliza figurino patrocinado por determinadas marcas. Sempre no início e final do programa um GC 19 escrito: Renata veste tal loja ou marca aparece na tela, o mesmo ocorre com os acessórios. No quesito figurino o programa explora bem a imagem da jornalista. Por mais que na semana analisada as cores predominantes tenham sido preto e branco, Renata utiliza muitas cores vibrantes e muitas vezes roupas, justas, decotadas e que marcam seu corpo.

Figura 20- Figurino utilizado por Renata durante a semana de 26 a 30 de setembro de 2016.

Por já ter sido miss e modelo, a apresentadora tem um padrão de beleza perfeito para a televisão. A TV hoje é um veículo de massa que divulga e difunde o ideal de beleza imposto pelo sociedade e que deve ser seguido por aqueles que estão em frente as câmeras. "O uso do 19

Gerador de caracteres: Textos que aparecem em cima das imagens exibidas.


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corpo da mulher na mídia, principalmente no campo esportivo do jornalismo, deve ser analisado pela importância que os meios de comunicação possuem na disseminação de valores e conceitos na sociedade atual" (RIGH, 2006, p 52). As maquiagens que a apresentadora utiliza no dia a dia, geralmente são tons pastéis, sempre indo para o mais natural. Os acessórios fazem um contraste com a roupa, se utiliza cores mais fortes tende a usar acessórios como brinco, colares e anéis menores, mas se utiliza cores mais neutras abusa da grandiosidade e brilho dos acessórios, mas isso não é uma regra.

Figura 21 - Algumas das roupas usadas por Renata nas edições de outubro de 2016 do programa.

Por ser um programa de esportes sua maior audiência é masculina. Geralmente as apresentadoras, desse tipo de programa, tem sua imagem bem explorada visando atrair esse tipo de público. O gênero feminino ainda não foi colocado como comentarista esportivo, porque sua função dentro dos programas ainda é ser apresentadora, aquela que traz a graça e feminilidade para um ambiente masculino. Pode-se observar que mesmo carregada de estereótipos, Renata ainda consegue fugir da regra e mesmo em menor proporção fazer análises e comentários de lances e jogadas. Coisa muito rara, já que a maioria das mulheres que fazem parte dos programas de esporte com comentaristas, quase nunca ou nunca fazem algum tipo de comentário opinativo e que tenham consistência.

4.1.5 Merchandising Durante a semana analisada, Renata realizou de duas a quatro propagandas dentro do programa. Todas as propagandas são de diferentes empresas e quase nenhuma delas tinha algo a ver com esporte. Apenas a empresa de cartão de crédito que sorteia uma viagem para o cliente assistir a um jogo da final da UEFA Champions League, campeonato que acontece na Europa. Todas as vezes que fez um merchan sozinha o enquadramento de câmera foram feitos em plano médio e americano. Podemos observar nas imagens.


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Figura 22- Renata faz merchandising durante o programa Jogo Aberto.

Quando está fazendo propaganda Renata fala diretamente com o telespectador tornando-se uma vendedora ao tentar convencer quem está assistindo, dos benefícios do produto ou marca que anuncia. O comentarista e ex-jogador de futebol Denílson, também faz merchans durante a programação. Dependendo da propaganda ele anuncia sozinho ou o faz junto com Renata. Quando realizam propaganda juntos, o enquadramento é aberto mostrando os dois de corpo inteiro na tela, quando faz sozinho o enquadramento é em plano médio, assim como Renata. Podemos observar nas imagens a seguir.

Figura 23 - Denílson comentarista também faz merchans no decorrer da programação.

Realizar merchandising ou propaganda foge da ética jornalística, mas é comum vermos em programas de esporte apresentadores fazendo propagandas das mais variadas marcas e produtos. Em cada emissora há normas e estratégias em relação a questão publicitária, no caso da Band é comum haver comerciais durante suas programações. Durante a semana de 26 a 30 de setembro de 2016 foram realizadas 22 propagandas, destas, 12 foram feitas por Renata, três por Denílson e sete ambos realizaram juntos. Analisando os dados, pode-se observar que apresentadora apareceu mais vezes no vídeo do que o comentarista, pois somando as 12 aparições que fez sozinha mais as sete junto com o comentarista, Renata ao todo participou de 19 das 22 propagandas realizadas durante a semana em questão. Portanto, mesmo que o programa também utilize a imagem do homem durante as propagandas, ainda é a mulher que mais aparece no vídeo durante os merchans.


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4.2 Gazeta Esportiva Foi observada a participação da jornalista Michelle Giannella, no programa Gazeta Esportiva gravado de segunda a sexta-feira de 26 a 30 de setembro de 2016. A partir das observações das cinco edições dos programas foi conceituada a atuação de Michelle Giannella de acordo com as categorias formuladas no subcapítulo anterior. Serão pontuadas com falas e imagens de Michelle e dos comentaristas do programa, as categorias nas edições analisadas.

4.2.1 Interação com o público Por ser um programa mais local da cidade de São Paulo, o ponto chave do programa é a interação com o telespectador. Michelle interage mais vezes com quem assiste o Gazeta Esportiva do que com os próprios comentaristas. Na semana de 26 a 30 de setembro de 2016 houve 30 interações com o telespectador. A maior parte delas é para convidá-los para interagir com o programa através das redes sociais. Mas, a apresentadora tem bastante costume de agradecer presentes que ganha de telespectadores e também de mandar "beijos e abraços" para aqueles que interagem com ela nas redes sociais. Exemplo de interação pode ser acompanhado no trecho a seguir:

Michelle: Olha eu quero mandar um beijão para o seu Agenor Viera da Silva, ele mandou para gente da redação um monte de bala, pirulito, bombom. Balas foram todas distribuídas por aí, aquele pirulito de chupetinha maravilhoso fez o maior sucesso, muito obrigada seu Agenor um beijo para sua esposa dona Maria Imaculada.

Michelle: Olha ganhei uma camiseta toda estilizada do Gana Futebol Clube lá de São João Clímaco (SP). Tem meu nome aqui ó, Michelle, ó que bonitinho. Tá lindo demais ou vou usar, viu! Vou usar, amei.


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Michelle: Seu Agenor muito obrigada.

Figura 24 - Michelle interage com o telespectador.

Outra forma de interação é quando são feitas enquetes do site gazetaesportiva.com e a jornalista pede a opinião do público sobre determinado jogo ou situação do time no campeonato. Toda a interação com o público é feita por Michelle os comentaristas nunca se reportam ao telespectador de forma direta, a não ser quando fazem propagandas.

Figura 25- Michelle interagindo com o telespectador através de enquete feito no site gazetaesportiva.com

Quando interage com o telespectador é muito simpática e sorridente. Tenta ao máximo estar próxima do público, talvez esse seja um diferencial do programa, pois como se sabe o âncora acaba criando uma elo de intimidade e confiança com seu público com o passar dos anos. Michelle está há 16 anos a frente da apresentação do Gazeta Esportiva, isso é muito tempo para apresentadores de televisão. Ela acabou criando uma marca e estilo próprio para a condução do programa. "O trabalho como jornalista dá notoriedade, especialmente para os profissionais que aparecem na tela. É da natureza da profissão" (BARBEIRO e RANGEL, 2012). Por estar há mais de dez anos à frente do programa, a produção explora isso para que o público fique cada vez mais fiel ao Gazeta Esportiva. Por isso, permite que Michelle tenha esse elo de maior interação com o público para que consequentemente eles assistam e acompanhem diariamente o trabalho dela.


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4.2.2 Interação com os comentaristas Ao longo do programa há interação entre Michelle e os comentaristas. Durante a semana analisada ocorreram aproximadamente 20 interações entre os integrantes do programa e a apresentadora. Além disso, ao todo, Michelle se comunicou seis vezes ao vivo com repórteres que estavam no CT do Corinthians e Palmeiras e também na Arena Corinthians e Vila Belmiro, estádio do Santos. O maior tema das interações foi o futebol, mas houve momentos que esportes como vôlei, esportes olímpicos e até corrida de bicicletas estiveram em pauta. Por ter um formato mais parecido com telejornal esportivo, muitas vezes Michelle não pergunta a opinião dos comentaristas, logo depois que a matéria ou reportagem acaba de ser exibida eles já emitem seus comentários e opiniões. Ao contrário de Renata, Michelle dificilmente contextualiza o assunto ou tema quando pede a opinião dos comentaristas. Podese observar no exemplo a seguir pontuado na fala da jornalista no dia 28 de setembro.

Michelle Giannella (28.09.2016): Celso o Corinthians entra pressionado?

Sempre quando Michelle se dirige aos comentaristas o enquadramento da câmera é aberto e em alguns momentos a apresentadora anda e fica próxima de onde os comentaristas estão sentados. Quando ela pergunta, logo eles emitem seus comentários e a câmera foca somente neles em plano aberto, deixando assim, a imagem de Michelle de fora. Neste caso a partir do momento que ela não tem a função de ser comentarista ela é excluída de cena para dar espaço para os que podem falar no momento, que no caso são os homens.

Figura 26 - Enquadramentos de câmera usados durantes as interações dos integrantes do Gazeta Esportiva.


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Diferente do Jogo Aberto, em nenhum momento eles fazem piadas ou brincadeiras entre si. O entretenimento é deixado de lado para dar mais espaço para notícias e informações. Os comentaristas e a jornalistas tem preferências por alguns clubes, mas isso em nenhum momento é usado para fazer brincadeiras ou piadas. Quando se comunica com os repórteres o enquadramento é sempre aberto, bem parecido de quando faz merchans. Como já mencionado, a apresentadora interagiu seis vezes com repórteres que estavam ou nos CT's ou estádios de clubes paulistas. Antes de chamar o repórter faz uma introdução dizendo onde o eles e então faz a pergunta sobre a preparação do time, por exemplo.

Figura 27 - Michelle conversando com os repórteres do Gazeta Esportiva

Fazendo-se uma análise geral das interações da jornalista com comentaristas e repórteres, elas são feitas de formas bem formais e dentro dos padrões jornalísticos.

4.2.4 Comentários Durante a semana analisada, Michelle Giannella fez apenas três comentários de opinião. Dois deles foi para dar um "pitaco"20 de qual seria o resultado do jogo entre São Paulo x Flamengo e Corinthians x Cruzeiro. O único comentário que teve mais consistência ocorreu no dia 26 de setembro, ao falar sobre o possível rebaixamento do time do São Paulo.

Michelle Giannella (26.09.2016): Eu acho que não vai cair! Mas Corinthians já caiu, Palmeiras já caiu, então agora de repente é a vez do São Paulo.

Enquanto a jornalista falou apenas três vezes sua opinião sobre determinado assunto, lance ou jogada. Os comentaristas realizaram durante a semana mais de 40 comentários de opinião. O problema desta pesquisa insere-se justamente neste cenário onde a mulher dentro dos programas de esportes pode ser uma comentarista como os homens. Assim como, no Jogo 20

Pitaco: Dar uma opinião sobre resultado de uma partida, por exemplo.


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Aberto o Gazeta Esportiva ainda é um programa que tem mulher em seu quadro de integrantes, mas suas funções ficam restritas dentro de um cargo, que neste caso é ser apresentadora. E dentro deste contexto, em que a mulher fica restrita dentro de um cargo e não exerce a função de comentarista, sua função simbólica é reforçar um padrão de beleza imposto pela própria sociedade e também pela televisão. E por ser um veículo que utiliza imagens, texto e som, a televisão faz com que a atenção fique mais concentrado em seu apresentador.

Figura 28 - Michelle quase nunca faz comentários de opinião dentro do Gazeta Esportiva.

4.2.5 Figurino e Acessórios Como já visto em tópicos anteriores o figurino e maquiagem são primordiais para a composição da imagem do apresentador de televisão. A jornalista está dentro dos padrões estéticos. É alta, loira e magra. Assim como, Renata, Michelle na semana analisada utilizou roupas em tons mais neutros. A cor branca e preta predominou no figurino da apresentadora que também tem costume de utilizar roupas com cores mais chamativas e brilhantes. Michelle não usa roupas de marcas patrocinadas. O programa tem uma figurinista própria e as roupas que usa durante a semana são todas escolhidas e provadas na segundafeira. Por não ter patrocínio as roupas que Michelle usa são bem menos "glamurosas" se comparadas com as de Renata Fan. Pode-se observar o figurino da apresentadora na semana analisada nas imagens abaixo:


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Figura 29 - Figurino usado por Michelle na semana de 26 a 30 de setembro de 2016.

A maquiagem que a apresentadora utiliza na maioria dos dias são tons pastéis, sempre indo para o natural. Os acessórios fazem um contraste com a roupa, Michelle usa colares, brincos, anéis e pulseiras grandes. Já utilizou roupas com brilho e alguns vestidos que marcaram seu corpo. Porém, o look mais usado pela apresentadora é calça e blusa, quase não usa vestidos na composição de seu figurino.

Figura 30 - Alguns dos figurinos usados por Michelle nas edições de outubro de novembro de 2016.

Michelle tem sua imagem bem menos explorada no programa se comparada com Renata, mesmo usando cores mais vibrantes e roupas mais despojadas para apresentar um programa esportivo, a jornalista não chama tanta atenção pelas roupas que usa. Porém, fazendo uma comparação com o vestuário dos homens, as mulheres mudam o figurino todos os dias para apresentação do programa, enquanto os homens utilizam uniformes com a logo do programa reforçando assim, a ideia simbólica, que fazem parte do "time de comentaristas", fazendo uma alusão como se fossem um time de futebol. Exemplos das roupas dos comentaristas podem ser observadas abaixo:

Figura 31 - As roupas dos comentarias sempre são iguais, apenas a cor da camisa troca de cor no decorrer da semana.


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Ao fazer essa comparação percebe-se que as mulheres para apresentar devem sempre estar belas e bem produzidas. E ao não usar um uniforme de comentarista automaticamente ela está excluída desse time não podendo fazer comentários como eles. Ao usar roupas diferenciadas e com cores mais vibrantes, se comparado com os tons dos uniformes dos comentaristas, elas acabam chamando mais atenção para sua imagem do que a deles no decorrer do programa.

4.2.5 Merchandising Por ser uma emissora bem menor que a TV Bandeirantes e por ter seu maior alcance na região da capital de São Paulo, a TV Gazeta é bem menos patrocinada do que a Band. E isso reflete dentro dos programas da emissora. Durante a semana analisada o Gazeta Esportiva realizou apenas três merchans dentro do programa. Sendo que dois foram feitos pela apresentadora, Michelle e um pelo comentarista Flávio Prado. Os únicos dias que houve propagandas foram nas edições de 26 e 28 de setembro. Ao fazer publicidade de alguma marca ou produto, o enquadramento de câmera utilizado, em Michelle é sempre aberto, oposto do que ocorreu quando o comentarista, Flávio quando fez merchan, permaneceu sentado e o enquadramento era fechado. Podemos observar os exemplos nas imagens abaixo:

Figura 32 - Jornalista e comentarista fazem propagandas durante a edições do Gazeta Esportiva do dia 26 e 28 de setembro de 2016.

Quando realiza publicidade, Michelle sai do papel de jornalista e se torna uma vendedora. Utiliza muito bem a entonação da voz e fala diretamente com o telespectador dos benefícios dos produtos ou empresas que anuncia, como exemplo no dia 26 de setembro onde a apresentadora fez merchan de uma seguradora.

Michelle Giannella (26.09.2016): Seguinte: Você tem uma moto, como nosso diretor, João Batista? Você acha que fazer seguro é caro? E por causa disso, você acaba deixando na garagem com medo de ser roubada a sua moto? Então, você precisa conhecer a Suhai,


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seguradora, dá só uma olhada nesse recado que a Suhai preparou para você e depois a gente se fala.

Mesmo ela tendo feito um merchan a mais que o comentarista a imagem da jornalista não é usada de forma abusiva, já que o comentarista Flávio Prado também fez propaganda. Devido ao uso do chroma key21 e também por ter um número menor de câmeras dentro do estúdio, se comparado com o Jogo Aberto da Band, talvez o melhor enquadramento a ser usado, na apresentadora nessa situação, seja o aberto, por isso ela aparece de corpo todo.

4.3 Proximidade e Diferenças dos programas analisados Os dois programas analisados, Jogo Aberto e Gazeta Esportiva possuem como semelhança no formato, ambos são telejornais esportivos. Possuem mulheres como apresentadoras e também contam com a participação de comentaristas. Mas possuem uma diferença em sua estrutura: O tempo de duração no ar. Enquanto o Jogo Aberto fica quase duas horas na grade de programação da Band, o Gazeta Esportiva ocupa apenas uma hora na programação da TV Gazeta. Em relação a representatividade feminina, percebe-se que a parte dominante do programa ainda é a opinião masculina. Mesmo que no Jogo Aberto, Renata tenha mais autonomia para fazer comentários, ainda são os homens que mais o fazem. Michelle quase nunca realiza comentários opinativos ou faz interferências quando os comentaristas estão falando. Além disso, fazendo uma análise geral, os dois programas possuem mais homens do que mulheres em seu quadro de repórteres. Em relação aos temas das reportagens e discussões, quase 90% do programa é destinado a modalidade futebol. Raramente exibiram matérias que falassem sobre outros esportes. Isso revela que as matérias, reportagens e discussões do jornalismo esportivo atual é feito a base do futebol, e sabe-se como isso ocorreu a partir da leitura do capítulo dois desta pesquisa. As duas jornalistas realizam merchans durante a programação. E tem sua imagem bem valorizada durante o programação. Outra diferença em relação aos programas, é que o Jogo Aberto usa muito o humor e entretenimento entre apresentadora e comentaristas. Bem diferente do Gazeta Esportiva onde há um tom mais formal durante a apresentação.

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Cenário virtual utilizado como fundo no programa.


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FIM DE PAPO - CONSIDERAÇÕES FINAIS

As mulheres já conquistaram espaço dentro do jornalismo esportivo como âncoras, apresentadoras, repórteres e até como mediadoras de debates esportivos, mas ainda não possuem o mesmo espaço para atuar como comentaristas nos programas do gênero. E foi a partir deste contexto que esta pesquisa nasceu. Por meio de análises de dois programas esportivos da TV brasileira foi possível verificar como ocorre a atuação do gênero feminino dentro da mídia esportiva. Além disso, foi possível perceber que a imagem projetada por essas apresentadoras influencia no modo como o público assiste esses programas. A mulher conquistou um espaço importante quando foi inserida na editoria esportiva na década de 80, conseguindo adquirir um espaço maior no final do século XX. Como vimos no capítulo dois desta pesquisa, o esporte sempre teve espaço privilegiado na televisão e com o passar dos anos o gênero feminino se inseriu de forma, gradativa dentro dos programas de esportes da TV. Hoje temos diversos programas esportivos que têm mulheres em seu quadro de integrantes, porém muitas acabam tendo suas participações restritas, quando não possuem o mesmo espaço que os homens para opinar e comentar. A pesquisa teve como metodologia a análise de conteúdo em jornalismo, com corpus de 15 horas de gravações dos programas Jogo Aberto e Gazeta Esportiva. A partir da observação do objeto surgiram as categorias que levaram à interpretação desta pesquisa. As categorias de análise permitiram a pesquisadora observar e analisar coisas que mesmo telespectadores assíduos não conseguem perceber quando acompanham os programas. Fazendo uma análise geral do Jogo Aberto a apresentadora está dentro dos padrões de beleza televisivo. É magra, alta e loira e sempre está muito bem produzida. As roupas que utiliza têm cores vibrantes e destacam sua beleza. Sua maquiagem sempre é composta por cores naturais, porém, abusa um pouco dos acessórios que muitas vezes não passam despercebidos por quem assiste. O penteado varia dia a dia, o mais usado por Renata é cabelo ondulado ou liso. Utiliza muito bem as expressões faciais, assim como a entonação da voz ao dar destaque para as matérias. Todos estes elementos visuais ampliam a imagem que acompanha Renata, pois mesmo fora do contexto de apresentação televisiva: a imagem de miss, da mulher que embeleza o ambiente. As roupas que não são esportivas parecendo vestidos de festa, saias justas, tudo isso acaba reforçando o estereótipo da “mulher boneca” dentro de uma mídia que já possui muitos elementos machistas e por vezes acaba desvalorizando a imagem da mulher como profissional.


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Durante o debate Renata faz a mediação dos temas e permanece em pé, enquanto os comentaristas ficam sentados. Em vários momentos interfere nas discussões, e seus convidados interagem entre si e com ela também. Além disso, opina em alguns lances ou temas discutidos. Renata tem certa liberdade para opinar e comentar durante o programa, mas é raro ver algum comentarista pedindo sua opinião, quando pedem é para ela dar um "pitaco" sobre um resultado de um jogo. O momento que pode-se perceber que a jornalista mais faz algum comentário de opinião é na segunda parte do programa, onde ela e Denílson ficam sentados no mesmo nível, para falar sobre as reportagens e matérias que são exibidas e chamadas por Renata. Percebe-se que ela entende da área esportiva quando analisa os lances, jogadas e situações. O principal problema encontrado durante a análise, do programa é que muitas vezes a imagem e a beleza de Renata são muito exploradas. Quando usa roupas curtas, justas e até decotadas como foi possível verificar nas imagens do capítulo quatro desta pesquisa. Além disso, quando os comentaristas fazem piadas e brincadeiras excessivas com a apresentadora ela acaba virando motivo de piada, não só dentro do programa, mas para os telespectadores que não medem esforços para ajudar os comentaristas a continuar fazendo brincadeiras com ela. Mesmo neste contexto, Renata é uma excelente jornalista de TV. Consegue exercer o cargo de apresentadora com muita maestria, utiliza bem a gestualidade, as expressões faciais, tem boa entonação nas matérias e sabe improvisar quando necessário, um exemplo de improviso pode ser observado no dia 27 de setembro. Renata pediu para ver o resultado da pesquisa na tela, porém os números não apareceram.

Figura 33 - Renata Fan improvisando após a pesquisa não mostrar os números na tela.

Renata Fan (27.09.2016): Agora quero dar uma olhadinha na pesquisa, hoje os escolhidos Palmeiras, Flamengo e Galo. A gente vai mostrar daqui a pouquinho, tá tudo branquinho ali


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é que para fazer um mistério, né? Um suspense. Daqui a pouquinho a gente mostra essa pesquisa.

E mesmo sendo uma boa profissional e entendedora de esportes o que predomina quando sua imagem aparece é da de uma miss e não de uma apresentadora que entende de esportes. Fazendo uma pesquisa na internet, é possível verificar que ao digitar o nome da jornalista o que predomina nas pesquisas é ela de vestido curto, ela e suas pernas, ela de decote.

Figura 34 - Pesquisa feita na internet com o nome da apresentadora revela o quanto sua imagem de miss predomina.

Em relação a análise do Gazeta Esportiva a apresentadora também está dentro dos padrões de beleza para TV. É loira, alta e magra e sempre está bem produzida e arrumada. As roupas que utiliza destacam sua beleza. Sua maquiagem é composta por tons mais naturais e seus acessórios também não passam despercebidos. Michelle utiliza muitos adereços que acabam ganhando destaque quando ela aparece no vídeo. Seu cabelo todo o dia recebe um novo penteado, o mais usado é o liso, e muitas vezes deixa o cabelo preso em rabo de cavalo. A jornalista usa muito os gestos, expressões faciais e dá ênfase em matérias ou situações que mereçam destaque durante sua apresentação, sendo assim uma excelente profissional de TV. Interage mais com o telespectador do que com os próprios comentaristas. Sendo uma marca muito forte dentro do programa sua interação com o público, como foi visto no exemplo do capítulo quatro da pesquisa. Michelle quase nunca emite opiniões dentro da programação. Muito raramente faz algum tipo de comentário. Em nenhum momento do programa os comentaristas pedem sua opinião sobre algum lance ou jogada, por exemplo. Por isso, pode-se levantar a hipótese de que ao exercer tão bem sua profissão como apresentadora,


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a produção do programa não veja a necessidade de ela ser uma comentarista. Porém, a falta de espaço que a jornalista tem para comentar acaba reforçando o estereótipo de que mulher serve apenas para enfeitar, para ser musa, fazendo com que a figura feminina seja vista com desconfiança pelo telespectador no comando de tais programas. Ao realizar também ser feita uma pesquisa na internet com o nome de Michelle, é possível notar que assim como, Renata, os principais resultados são relacionados ao seu corpo e aos aspectos físicos da apresentadora.

Figura 35 - Ao colocar o nome de Michelle na internet uma das sugestões de busca é imagens do corpo da apresentadora.

Ainda se fizermos com comparativo com os programas de comentaristas que só tem homens em seu quadro de integrantes, com aqueles que tem mulheres como apresentadoras e mediadoras pode-se perceber que a disposição do cenário muda. Geralmente quando são só homens tem um apresentador que media o debate, e geralmente fica no meio da roda dos comentaristas, nunca separado do grupo que está comentando. Diferente de quando se tem uma mulher no programa. Elas acabam ficando separadas do grupo de comentaristas ou ficam em pé e eles todos sentados. Podemos ver exemplos nas imagens abaixo:


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Figura 36 - Nas imagens acima pode-se ver a diferença na disposição dos integrantes do programa quando ele tem uma mulher em sua programação.

O que ainda é marcante em programas esportivos é não vermos a situação inversa: uma mesa redonda composta por comentaristas mulheres e ter como mediador/apresentador um homem, isso ainda é um tabu. Como visto no capítulo dois desta pesquisa, já tentou-se criar mesas redondas compostas só por mulheres, mas não deram certo. O que ainda impera quando o assunto é esporte, e principalmente futebol é o machismo, preconceito, desconfiança e subestimação da inteligência e capacidade feminina. Isso é reflexo de uma sociedade que ainda não aceitou a inserção da mulher nas mais diversas áreas do conhecimento. O objetivo geral da pesquisa foi alcançado, pois foi possível mostrar e analisar como é a participação das mulheres em programas esportivos com comentaristas. Ao analisar a figura das jornalistas dentro das categorias formuladas foi verificado que ambas são fundamentais para o acontecimento dos programas. Renata por estar há nove anos a frente do Jogo Aberto já é marca registrada do programa, principalmente por ter assumido uma personagem que leva tudo na brincadeira, quando são feitas piadas com ela através dos outros integrantes do programa. Ao concluir a pesquisa, percebe-se que se Renata sair do comando do Jogo Aberto ele fica sem referência, já que todo o programa gira em torno de sua figura. Ela dá o tom das notícias, dá o tom dos comentários, e também faz com que humor e entretenimento estejam presentes no decorrer do Jogo Aberto. Além disso, consegue passar a imagem da mulher jornalista estereotipada e dentro dos padrões de beleza permitidos. Michelle Giannella também é peça fundamental no Gazeta Esportiva. Por estar há 16 anos como âncora do programa ela já criou um contrato de comprometimento ao levar as notícias esportivas para seu telespectador todo o fim de tarde. A jornalista, assim como, Renata, dá o tom das reportagens e matérias do programa, interage frequentemente com seu público ao agradecer mensagens e presentes que recebe. E por fim quando interage com os comentaristas faz com que eles tenham sua credibilidade exaltada já que os assuntos sérios ela deixa para eles comentarem. Com muita simpatia e bom humor, durante as apresentações,


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Michelle também se encaixa nos padrões de beleza televisivo e acaba reforçando a imagem da jornalista bela. É preciso pensar e lembrar que a mulher pode atuar em várias áreas do jornalismo esportivo pela sua capacidade e conhecimento e não somente por sua aparência ou forma física. Quando esse pensamento for mudado fará com que o gênero feminino participe de forma igualitária nos programas esportivos, exercendo assim, as mesmas funções que os homens. A escolha por esse tema também se deu por conta da falta de acervo bibliográfico. São poucos autores tratam do tema jornalismo esportivo e falam sobre a mulher neste campo de atuação. Muito ainda deve ser feito para mudar a imagem da jornalista de TV, principalmente as

que apresentam esportes. Porque toda a vez que a imagem delas entra no ar, elas tem que provar que podem ser entendedoras de futebol, vôlei, Fórmula1, basquete, enfim de todos os esportes. E para falar sobre tudo isso, não precisam se encaixar em padrão imposto pela mídia e pela sociedade. Muito já foi feito. Aos poucos vão quebrando barreiras e tabus. Dão seus pitacos, falam, opinam e comentam. Querem mostrar que podem levantar da cadeira que fica no canto do estúdio e sentar na roda de debate como os homens, e por fim quebrar o paradigma de que mulher não entende de esportes. Talvez a participação feminina neste campo demore a se consolidar, espera-se que quando ocorrer, a mulher seja vista como profissional independente do seu gênero e que o telejornalismo se torne cada vez mais igualitário. Além disso, outras pesquisas podem ser realizadas através de diferentes metodologias, podendo, por exemplo mostrar aspectos que não apareceram nesta análise, como: a visão das apresentadoras sobre o próprio papel na construção da imagem da mulher dentro do jornalismo esportivo ou até mesmo o olhar dos diretores e idealizadores desses programas. Como pesquisadora espero ter contribuído para que mais pessoas possam pensar e refletir sobre esse tema que ajudará na minha carreira como profissional.


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APÊNCICE 1- FICHAS DE DESCRIÇÃO

O conteúdo deste apêndice encontra-se no DVD anexo à monografia. As fichas de descrição foram divididas em dois arquivos:

- Tabelas 1: onde constam os dados obtidos a partir das categorias que compõe a etapa da análise das categorias no Jogo Aberto; - Tabelas 2: onde constam os dados obtidos a partir das categorias que compõe a etapa da análise das categorias no Gazeta Esportiva;


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ANEXO 1- AMOSTRA DOS PROGRAMAS

Consta neste anexo cinco edições de cada programa que fez parte do corpus, do dia 26 a 30 de setembro de 2016. Considera-se que nestas edições foi possível observar detalhes que facilitaram na compreensão de alguns aspectos destacados na análise. Esse conteúdo encontra-se no DVD anexo à monografia.

Obs: Por conta do tamanho dos programas, as gravações originais e na íntegra encontramse arquivados com a pesquisadora.


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