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O JORNALISMO DE ROBÔS E A PERCEPÇÃO DE LEITORES ACERCA DO CONTEÚDO AUTOMATIZADO KÉSIA CRISTINE LEONARDO ACADÊMICA SANDRO GALARÇA PROFESSOR ORIENTADOR


ASSOCIAÇÃO EDUCACIONAL LUTERANA BOM JESUS/IELUSC COMUNICAÇÃO SOCIAL HABILITAÇÃO EM JORNALISMO

KÉSIA CRISTINE LEONARDO

O JORNALISMO DE ROBÔS E A PERCEPÇÃO DE LEITORES ACERCA DO CONTEÚDO AUTOMATIZADO

Joinville 2016


KÉSIA CRISTINE LEONARDO

O JORNALISMO DE ROBÔS E A PERCEPÇÃO DE LEITORES ACERCA DO CONTEÚDO AUTOMATIZADO

Monografia apresentada à Associação Educacional Luterana Bom Jesus/Ielusc para obtenção de grau em Comunicação Social Habilitação Jornalismo, sob orientação do Prof. Dr. Sandro Galarça.

Joinville, dezembro de 2016.


KÉSIA CRISTINE LEONARDO

O JORNALISMO DE ROBÔS E A PERCEPÇÃO DE LEITORES ACERCA DO CONTEÚDO AUTOMATIZADO

Monografia apresentada ao Curso de graduação em Comunicação Social com Habilitação em Jornalismo como requisito parcial para o título de bacharel em Comunicação Social, aprovada pela seguinte banca de professores examinadores:

______________________________________ Orientador: Prof. Dr. Sandro Galarça

______________________________________ Profa. Me. Kérley Winques

______________________________________ Profa. Dra. Maria Elisa Máximo

Joinville, dezembro de 2016.


“Essa história de idealismo, de dignidade da pesquisa pura, da busca pela verdade em todas as suas formas, está tudo muito bem, mas chega uma hora que você começa a desconfiar que, se existe uma verdade realmente verdadeira, é o fato de que toda a infinidade multidimensional do Universo é, com certeza quase absoluta, governada por louco varridos.” (Douglas Adams, O Guia do Mochileiro das Galáxias, 2009 (1979), p.190).


“Oh, pedaço de mim/ Oh, metade exilada de mim/ Leva os teus sinais/ Que a saudade dói como um barco/ Que aos poucos descreve um arco/ E evita atracar no cais [...]”. (Chico Buarque - Pedaço de Mim) Para Gerusa (em memória)


AGRADECIMENTOS

Em meados de 2012 decidi cursar Jornalismo. Abandonei a minha primeira opção de curso e parti para a segunda, que estava ali, adormecida em meu coração. A primeira pessoa que me apoiou nessa decisão foi a minha mãe, Gerusa. Lembro-me de contar para ela que tranquei o curso de Engenharia Química e que iria para uma nova graduação. A reação dela foi: “ué, mas o que tem a ver uma coisa com a outra?” e riu. Ela me ajudou a pagar a matrícula, a comprar os materiais, me esperou ansiosa voltar para casa depois do primeiro dia de aula e depois todos os próximos dias. Eu dividia com ela todos os novos ensinamentos. Ela se surpreendia com tudo que eu dizia e muitas vezes reagia com um “olha só! que legal” que talvez nem fizesse muito sentido na vida dela. Ela me deu tudo que eu precisava para poder encarar esta nova fase que agora encerro. Por estes e outros motivos eu dedico este trabalho a ela e agradeço profundamente todo o ensinamento e incentivo que me deu nos 23 anos que viveu comigo. Obrigada, mãe. Você foi a minha inspiração quando me faltou, minha força quando eu falhei e continuará sendo todo amor que existe em mim. Agradeço a minha família que não me deixou desistir desta conquista mesmo diante do pior momento de nossas vidas. Em especial ao meu pai, meu irmão, meu namorado e sua família. Gratidão por me fazerem enxergar que dias melhores sempre vem quando podemos nos apoiar no amor que temos uns pelos outros. E só para constar: vocês são os amores da minha vida. Agradeço aos amigos que entenderam os momentos de ausência por conta das entregas na faculdade, que ajudaram com pautas, exercícios e indicação de conhecidos para aquela entrevista sobre um determinado assunto. Em especial agradeço a Juliana Martins e Luan Ferreira, meus amigos e parceiros de vida. Obrigada pelas cervejas na hora certa, pelas risadas em meio ao choro e pelos ombros que estão sempre à disposição quando nos vemos em apuros. Agradeço também a amiga Lisandra Cardozo, que por um bom acaso do universo fez com que nossos caminhos se cruzassem. Obrigada por me ensinar a enxergar que tudo fica melhor logo ali, mas que o mais importante é dar um passo de cada vez. Aos amigos do trabalho, agradeço a compreensão pelas ausências, as correrias e as loucuras que ouviram durante esses quatro anos. Obrigada pelo incentivo e apoio. Em especial agradeço a Caroline Kair por me ensinar sobre sensibilidade e por tanto carinho e preocupação que demonstra ter por mim (a recíproca é verdadeira); ao João Trotta e a Karin Ramos pela confiança depositada em mim e pela parceria que temos.


Aos amigos da turma que dividiram o fardo durante esses quatro anos, digo que sem vocês não teria graça alguma chegar até aqui. Em especial a Bruna Hammes e Helena Miranda por criamos um trio inseparável. Obrigada por me ajudarem, me apoiarem, me ouvirem e pelos inúmeros trabalhos, provas, exercícios, pautas, vídeos, cervejas, bares, hambúrgueres e loucuras que vivemos juntas. Eu amo vocês. Aos professores a minha profunda gratidão por me ensinarem tantas coisas novas. Vocês mudaram minha forma de enxergar o mundo. Saio desta trajetória mais humana, mais empática e mais crítica em relação ao mundo. Em especial agradeço à professora Marília Moraes por ensinar tantas técnicas de escrita sem deixar de lado a sensibilidade do olhar jornalístico; ao professor e coordenador Silvio Melatti, que me ensinou a ser entusiasta com as tecnologias, mas nunca deixar de lado o velho bloquinho de anotações; à inspiradora professora Lívia Vieira que, embora não esteja mais no nosso ambiente acadêmico, me encorajou desde sempre a levar o tema jornalismo de robôs para os meus trabalhos que viriam pela frente; ao saudoso professor César Santos, que enquanto esteve conosco neste plano terrestre, me ensinou a levar a vida com leveza e alegria; à professora Valdete Daufemback, pessoa por quem tenho o máximo respeito, que me ensinou que é preciso estar atenta aos movimentos da sociedade, que nada é por acaso e que senso crítico é essencial para a profissão. Ao professor e orientador Sandro Galarça, que antes mesmo de se tornar meu orientador já me inspirava a ser uma acadêmica melhor a cada trabalho realizado; que sempre puxou a barra para cima e cobrou o melhor de todos nós. A você, professor Sandro, agradeço a oportunidade de poder trabalhar nestes seis meses que se passaram, a confiança que depositou neste trabalho que foi um desafio para nós dois e, sobretudo, a me ajudar a encontrar um propósito em algo muito maior. Obrigada! Por fim agradeço a todos os personagens que me deram a oportunidade de contar suas histórias. Vocês foram essenciais para construir a jornalista que sou hoje. Muito obrigada.


LISTA DE FIGURAS Figura 1: Redação da Folha de São Paulo em 1983 ................................................................ 21 Figura 2: A pirâmide deitada de Canavilhas............................................................................ 30 Figura 3: Fluxo de um algoritmo............................................................................................. 42 Figura 4: Parte do formulário utilizado para coleta de dados. ................................................ 54 Figura 5: Calculadora de amostragem ..................................................................................... 60 Figura 6: Primeira pergunta do formulário quantitativo ......................................................... 65 Figura 7: Segunda pergunta do formulário quantitativo ......................................................... 66 Figura 8: Terceira pergunta do formulário quantitativo .......................................................... 66 Figura 9: Quarta pergunta do formulário quantitativo ............................................................ 67 Figura 10: Compilação de resultados do questionário pelo grupo de leitores ........................ 69 Figura 11: Compilação de resultados do questionário pelo grupo de estudantes .................... 69 Figura 12: Percepção dos estudantes sobre o texto gerado pelo algoritmo ............................. 70 Figura 13: Percepção dos leitores sobre o texto gerado pelo algoritmo.................................. 70


LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Uso da Internet no Mundo x População Mundia.. ................................................. 27 Quadro 2: Perfil dos estudantes de jornalismo entrevistados ................................................. 61 Quadro 3: Perfil dos leitores entrevistados ............................................................................. 62 Quadro 4: Compilação das respostas dos estudantes e leitores entrevistados ........................ 71 Quadro 5: Magnitude e efeitos de terremotos ......................................................................... 76


LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Perfil geral dos respondentes da pesquisa quantitativa ............................................ 64 Tabela 2: Dados iniciais dos leitores entrevistados ................................................................. 68 Tabela 3 : Dados inicias dos estudantes de jornalismo entrevistados...................................... 68


RESUMO

Esta pesquisa monográfica se propõe a estudar o jornalismo de robôs na criação de narrativas automatizadas, que vem sendo caracterizado como um novo gênero jornalístico na era dos dados digitais. Algoritmos e softwares agora podem informar automaticamente com pouca ou nenhuma intervenção do repórter. A proposta deste estudo é entender como o público leitor percebe o conteúdo automatizado se comparado com um conteúdo gerado por repórteres no desenvolvimento de suas funções: a escrita de notícias. Neste sentido, avalia-se principalmente a qualidade dos textos em questão. Para as descobertas foram utilizadas metodologias qualitativas e quantitativas através de entrevistas estruturadas, questionários com escala social e pesquisas online (Marconi e Lakatos, 1996; Fragoso, Recuero e Amaral, 2011; Gil, 1999; Duarte, 2008). Além disso, para embasar bibliograficamente, este trabalho contou com uma abrangente pesquisa sobre os estudos já realizados sobre este tema (Dalen, 2012; Clerwall, 2014; Graefe, 2016; Carlson, 2014). Nos resultados obtidos, os leitores sentiram pouca ou nenhuma diferença entre o texto gerado pelo algoritmo dos escritos por repórteres. Por outro lado, sentiram falta de aspectos considerados importantes para um texto jornalístico de qualidade, mostrando que repórter e algoritmo estão fazendo um trabalho pouco informativo. Palavras-chave: algoritmos, software, jornalismo de robôs, qualidade.


ABSTRACT This monographic research aims to study the journalism of robots in the creation of automated narratives, which has been featured as a new journalistic genre in the era of digital data. Algorithms and software can now automatically report with little or no reporter intervention. The purpose of this study is to understand how the reading public perceives the automated content compared to content generated by reporters in their function development: Writing News. Bearing this in mind, the referred texts quality, is thoroughly evaluated. Regarding the discoveries, qualitative and quantitative methodologies were used through structured interviews, questionnaires with social ratio and online surveys (Marconi and Lakatos, 1996; Fragoso, Recuero and Amaral, 2011, Gil, 1999 and Duarte, 2008). Moreover, to support this work bibliographically, there is a comprehensive research on studies already done upon this topic (Dalen, 2012, Clerwall, 2014, Graefe, 2016 and Carlson, 2014). Based on the results obtained, the readers felt little or no difference whatsoever between the text generated by the algorithm as well as the ones written by reporters. On the other hand, they lacked aspects considered important for a quality journalistic text, showing that reporter and algorithm are doing a dissatisfactory informative work. Keywords: algorithms, software, robot journalism, quality.


SUMÁRIO INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 16 1.

O JORNALISMO E A TECNOLOGIA ........................................................................ 19 1.1 A informatização das redações: a chegada dos computadores ........................................ 19 1.2 A informatização das redações: as mudanças existenciais e profissionais ..................... 23 1.3 A informatização das redações: a revolução da Internet ................................................. 25 1.4 A Era do Big Data: jornalismo guiado por dados e jornalismo digital em base de dados .............................................................................................................................................. 34

2. O JORNALISMO DE ROBÔS ......................................................................................... 39 2.1 O que é jornalismo de robô ............................................................................................. 39 2.2 Como o jornalismo de robôs funciona ............................................................................ 41 2.3 Jornalismo de robôs em funcionamento: estudos de caso .............................................. 43 2.3.1 Estudo de caso: relatório de homicídios do Los Angeles Times .............................. 44 2.3.2 Estudo de caso: alerta de terremoto do Los Angeles Times ..................................... 46 2.3.3 Estudo de caso: relatórios de lucratividade das empresas ........................................ 47 2.4 O jornalismo de robôs e as implicações na prática jornalística ...................................... 47 3. COMO O JORNALISMO DE ROBÔS É PERCEBIDO POR LEITORES ................ 52 3.1 Metodologias utilizadas .................................................................................................. 52 3.1.1 O problema de pesquisa e a abordagem quantitativa ............................................... 53 3.1.2 - As abordagens qualitativas ..................................................................................... 55 3.1.3 - O critério qualidade no jornalismo ........................................................................ 55 3.1.4 - O questionário qualitativo em escala social e a entrevista estruturada .................. 58 3.2 Amostragem .................................................................................................................... 60 3.3 As hipóteses .................................................................................................................... 62 4. RESULTADOS ALCANÇADOS ....................................................................................... 64 4.1 Resultado inicial: pesquisa quantitativa .......................................................................... 64 4.1.1 - Dados iniciais: perfil do público respondente ........................................................ 64 4.1.2 - Compilação das respostas ...................................................................................... 65 4.2 Resultado inicial: pesquisa qualitativa ............................................................................ 67


4.2.1 - Dados iniciais: perfil do público respondente ........................................................ 67 4.2.2 Compilação das respostas do questionário com escala social .................................. 68 4.2.3 Compilação das respostas da entrevista estruturada ................................................ 70 4.3 Análise dos resultados ..................................................................................................... 72 4.3.1 Abordagem qualitativa ............................................................................................. 73 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 78 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 81 APÊNDICES ........................................................................................................................... 88 ANEXOS ............................................................................................................................... 100


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INTRODUÇÃO

Na manhã do dia 17 de março de 2014 um terremoto com magnitude 4.7 atingiu a cidade de Los Angeles, na Califórnia. Três minutos depois de os tremores pararem, a primeira notícia apareceu no site do jornal Los Angeles Times. Apesar de ser um texto pequeno, com linguagem factual, a velocidade entregue foi a maior qualidade do repórter que cobriu aquele fenômeno inesperado. Só que nesta cobertura nenhum jornalista se deslocou até ao local onde o terremoto foi sentido para ter mais detalhes; não foi preciso ligar para o serviço de geologia para conhecer os dados e a magnitude na escala Richter. Nesta ocasião, quem reportou a notícia três minutos depois foi um algoritmo chamado Quakebot que, integrado à base de dados do maior serviço de geologia dos Estados Unidos, transformou os dados recebidos em texto. Este é um exemplo do jornalismo de robôs, ou narrativas automatizadas, no qual um software é capaz de ler dados e traduzi-los para textos com estrutura jornalística. O jornalismo de robôs tem se identificado como um novo gênero jornalístico que nasceu da crescente ênfase em análise de dados na era digital, conhecido popularmente como “big data” (Mayer-Schönberger and Cukier, 2013). Grande parte do discurso em torno desta confluência explorou novas ferramentas de dados disponíveis para os jornalistas, incluindo parcerias entre o jornalismo e a programação de softwares, bem como algumas novas habilidades que o jornalista precisa ou precisará ter no futuro. Os olhares acerca desta novidade tecnológica estão divididos. Os mais pessimistas acreditam na substituição total do repórter pelo programa de computador. Já os otimistas acreditam na união dos dois papéis: o que o software não pode fazer o repórter complementa e vice-versa. Van Dalen (2012) coloca que os jornalistas podem ver vantagens no jornalismo de robôs por ser um “repórter imparcial”, já Clerwall (2014) acredita na união do conteúdo gerado pelo software e a complementação vinda do repórter e que isso permitirá que os profissionais façam trabalhos mais aprofundados e que exijam mais criatividade e aprofundamento. Os desenvolvimentos tecnológicos sempre moldaram o trabalho jornalístico - da impressão por Gutenberg às máquinas offset; o telégrafo e o telefone; a máquina de escrever e o computador; a Internet, os blogs e as redes sociais. Nas últimas décadas a tecnologia da informação entrou nas redações auxiliando os jornalistas em diferentes fases do processo de produção das notícias. Já no dia a dia dos consumidores de informações na rede, a tecnologia migrou para a automatização de processos: em poucos cliques softwares disponibilizam as informações que precisamos. Os meios de comunicação e as outras formas de informar


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migram seus caminhos para a automação e no jornalismo não poderia ser diferente. Antes mesmo do jornalismo de robôs, outras formas de automação já estavam à disposição dos jornalistas como programas de análise e compilação de dados, editores de texto e imagem, entre outros. Pessoalmente, o tema desta pesquisa surgiu na minha vida acadêmica em meados de 2014 quando fui a um evento em que o palestrante deu um breve relato sobre essa prática em veículos de comunicação dos Estados Unidos. Com a introdução dos algoritmos para a escrita de notícias, o jornalismo entrou em uma nova fase. Cada etapa do processo de produção dos conteúdos pode ser automatizada. Com pouca ou quase nenhuma interferência humana, algoritmos produzem conteúdos e disponibilizam em sites de notícias para leitores que muitas vezes não sabem que o conteúdo não foi escrito por um repórter. Independente disso, o trabalho jornalístico tem sido tradicionalmente definido com base nas pessoas que o fazem e nas habilidades que possuem. A ideia de que tarefas jornalísticas podem ser completamente automatizadas entra em conflito com a compreensão que se tem da natureza do jornalismo. A discussão que levantamos neste trabalho é a qualidade nos conteúdos jornalísticos versus conteúdos gerados por algoritmos com base na percepção de quem os recebe, ou seja, o público leitor. Sabemos que é o jornalista quem está no controle, pois é ele quem dá as coordenadas para que o software ou o algoritmo trabalhe. O texto que o robô vai gerar dependerá dos critérios que o jornalista defende que é importante ter num texto que seja informativo ao leitor. O objetivo geral desta pesquisa é estudar o jornalismo de robôs na criação de narrativas automatizadas que já estão sendo disponibilizadas na Internet por diversos veículos de comunicação. Como especificidade deste estudo, nos determinamos a entender como leitores percebem um conteúdo automatizado e se é possível distinguir um texto gerado por algoritmos entre outros escritos por repórteres sobre um mesmo tema. Com base nisso, o presente estudo se volta para a mensagem ou o conteúdo que o jornalista e algoritmo passam ao público, podendo assim discutir as diferenças e semelhantes entre os textos analisados, compondo o último objetivo específico deste trabalho. O público avaliador se dividiu em dois: leitores comuns e estudantes de jornalismo. Este último foi definido por entenderem da estrutura básica de um texto jornalístico podendo trazer mais criticidade para a amostra. Assim, foi possível estabelecer algumas hipóteses para podermos estruturar melhor esta pesquisa, são elas: A. Os estudantes leitores vão ter percepções parecidas por ser um grupo que consome quase o mesmo tipo de conteúdo;


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B. Os entrevistados e os respondentes da pesquisa conseguirão identificar os textos escritos por repórteres por pequenos detalhes como a tradução de dados e o que isso afeta na população local; C. Os leitores e entrevistados vão sentir falta de informações complementares nos textos escritos por repórteres; D. O texto gerado pelo algoritmo será percebido como o que tem mais dado e menos contextualização. O resultado deste trabalho está dividido em quatro capítulos. No primeiro contextualizamos o leitor a entender a informatização do jornalismo através de uma linha do tempo que se inicia com a substituição da máquina de escrever e se encontra nos dias de hoje, em que dados digitais estabelecem boas práticas para o jornalismo desenvolvido na web. O segundo capítulo é dedicado ao jornalismo de robôs e as implicações para as práticas jornalísticas discutidas até então. Serão utilizados os termos jornalismo de robôs, narrativas automatizadas e jornalismo de algoritmos. Jornalismo de robôs, narrativas automatizadas ou até mesmo jornalismo escrito por máquinas são usados com o mesmo sentido (Anderson, 2012; Carlson, 2014). Até agora, algoritmos estão gerando histórias sobre esportes, notícias de relatórios financeiros, monitoramento do tempo e terremotos. Neste capítulo é levantada também uma relação de empresas que já utilizam esta tecnologia para informar, bem como estudos de caso sobre as práticas que já estão em funcionamento. No terceiro capítulo é apresentado o recorte utilizado para a composição deste trabalho que é a qualidade no texto jornalístico. Após, também é definido os procedimento metodológicos utilizados para obter os dados que foram entrevistas estruturadas com leitores e estudantes de jornalismo e pesquisa quantitativa através de formulário online. O cruzamento destes dados e o resultado geral alcançado são descrito no quarto e último capítulo, em que a compilação das respostas dos entrevistados e da pesquisa nos sugere alguns padrões que certamente serviram para entender o jornalismo que vem sendo praticado na Internet nos dias de hoje.


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1. O JORNALISMO E A TECNOLOGIA

Desde a sua criação, o jornalismo esteve ligado a algum tipo de tecnologia. Da impressão por Gutenberg às máquinas offset; das máquinas de escrever para os computadores e depois mais tarde, no século XX, a Internet, que por si só, modificou consideravelmente os processos de produção e difusão de informações nas redações mundo afora. O capítulo a seguir contextualiza a informatização do jornalismo em uma linha do tempo que se inicia com a substituição da máquina de escrever e se encontra nos dias atuais, em que os dados digitais começam a ditar os rumos da prática jornalística na web.

1.1 A informatização das redações: a chegada dos computadores

A década de 70 foi um período marcante para a humanidade. Em vários contextos mundiais existem momentos relevantes desta época. Na música, morre o Rei do Rock, Elvis Presley, e os quatro meninos de Liverpool deixam de existir enquanto banda. Por outro lado, Ramones e Sex Pistols iniciam a era do Punk Rock. No esporte, o Brasil é tricampeão da Copa do Mundo de futebol no México e duas Olimpíadas (Montreal e Munique) são realizadas. Guerras, golpes militares e revoluções sangram a década em que os Estados Unidos perdem a guerra do Vietnã e o Brasil se encontra em período ditatorial. Em meio à corrida tecnológica da Guerra Fria, a primeira sonda espacial, a Viking I, é enviada pela NASA para explorar o planeta Marte. Margaret Thatcher torna-se a primeira mulher a ocupar o cargo de Primeira Ministra do Reino Unido e Isabel Perón a primeira presidente da Argentina, conquistas comemoradas pelo movimento feminista que começa a ganhar força também no Brasil. Mas, para a área da comunicação, sobretudo o jornalismo, a década de 70 foi avassaladora. Na televisão brasileira era realizada a primeira transmissão a cores: a Festa da Uva de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul. No jornalismo impresso mundial, o caso Watergate estampava os jornais e reforçava o romantizado jornalismo investigativo. Por fim, a evolução que transformou imensos processadores de dados (os primeiros computadores) em microcomputadores pessoais vai dar início à mudança mais intensa nas redações e na vida dos jornalistas até os dias de hoje: a combinação entre a redação informatizada, a digitalização de dados e a Internet como centro da revolução sociotécnica.


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Vale a pena voltar um pouco no tempo e imaginar como era o ambiente de um repórter antes do advento destas tecnologias. Ele chegava a seu posto de trabalho e encontrava alguns objetos que eram seus aliados na busca pelas histórias que vinham pela frente. Entre os materiais de trabalho destacam-se uma Remington1, pilhas de papéis, xícara de café, documentos e rasuras, listas de contatos telefônicos, maços de cigarro, um telefone e o mais precioso objeto de trabalho: solas de sapatos, prontas para as descobertas que o mundo poderia proporcionar. Neste cenário, o processo de construção de uma notícia se resumia essencialmente em ir até o local dos acontecimentos, conversar com várias pessoas e realizar ligações e mais ligações. Com os fatos apurados, era sentar e escrever, na companhia de um cigarro que poderia ser fumado dentro do escritório. O ambiente por vezes era sombrio, quente, desorganizado, barulhento e com aquele cheiro característico de suor e correria. Com a introdução dos computadores nas redações, este ambiente vai se modificando aos poucos. No espaço físico das redações a tecnologia introduziu limpeza – desapareceram as centenas de laudas amassadas no chão, sumiram as caixas de papel carbono para as cópias necessárias para a linha de produção. Até mesmo o cafezinho e o cigarro se renderam à tecnologia, uma vez que os terminais ficam prejudicados com farelos e ambientes poluídos. Mudou também a iluminação e a temperatura do ar. Se antes do computador era inimaginável uma redação com ar condicionado e persiana nas janelas, hoje isso é rotina e já está incorporado ao dia-a-dia. (BALDESSAR, 2005, p.3).

O ambiente torna-se limpo, organizado e branco. Arquitetos mudam o cenário para que tudo se encaixe: mesas, computadores, paredes brancas e um ambiente sério, em que cada jornalista tem o seu lugar. As mesas tornam-se baias e agora cada profissional tem suas tarefas individuais para cumprir. Apesar de a informatização ter chegado às redações nos anos 70, essa mudança vai começar a ser realidade no Brasil no início dos anos 80, pela redação da Folha de São Paulo.

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Remington é uma marca de máquinas de escrever. Uma das mais famosas e utilizadas na época da datilografia.


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Figura 1: Redação da Folha de São Paulo, em 1983. Fonte: Site Folha de S.Paulo 2.

Anos mais tarde, os jornais O Globo, A Tribuna, Zero Hora e O Estado de São Paulo também ingressaram na nova era do jornalismo. Em 1986, surge o Diário Catarinense, que entrou para a história sendo o primeiro jornal da América Latina ao nascer informatizado. A informatização do DC permitiu que a redação de Florianópolis (sede) estivesse interligada às cinco outras redações do grupo (Joinville, Blumenau, Lages, Chapecó e Criciúma). Além disso, foi o primeiro jornal tabloide a ter edição diária de Santa Catarina. Com esta alteração, o jornal conseguiu vivenciar transformações profundas que a informatização trouxe na forma de produzir e difundir as notícias. Ao passar do tempo, as máquinas de escrever foram totalmente substituídas pelos computadores. Essa mudança interferiu em tudo: fumar dentro do escritório foi proibido, pois prejudicava o uso das novas máquinas; o café já não podia mais ser deixado nas baias, pois além de atraírem insetos, podiam, eventualmente, ser derrubados sobre os teclados e danificar totalmente o equipamento. Os jornalistas, que como características formadoras, eram viciados em um ou em outro, começaram a perceber seus cotidianos, hábitos e vícios serem modificados pela tecnologia. As mesas foram substituídas, pois os computadores eram maiores que as máquinas de escrever e precisavam de um espaço adequado para acomodação. As redações que antes eram quentes, agora precisam de sistemas de ar condicionado para manter a temperatura adequada dos ambientes e assim não interferir no bom funcionamento dos hardwares. No livro A

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Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/folha90anos/877615-jornal-todo-dia-cor-tempo-real-a-folha-fezprimeiro.shtml Acesso em 20/08/2016.


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Mudança Anunciada, de Maria José Baldessar, Astrid Fontenelle e Débora Chaves do O Globo, descrevem: [...] hoje as persianas amarrotadas foram substituídas por um moderno sistema de iluminação que inclui um requinte inimaginável: calhas especialmente desenhadas, cujos focos de luz só iluminam as mesas dos terminais, sem reflexos nos olhos ou nas telas [...] um sistema de ar condicionado central acabou com o clima tropical que sufocava [...] e a sinfonia das pretinhas deu lugar a um silêncio cibernético, propiciado pelos 140 terminais e suas 138 teclas [...] e a limpeza, nada de montanhas de papel (BALDESSAR, 2003, p. 16).

Até aqui as mudanças parecem ser benéficas para os jornalistas que, em uma perspectiva positiva, ganham qualidade de vida. Baldessar (2001) aponta que a chegada dos computadores nas redações mudou de forma gradual o trabalho dos jornalistas. Em um primeiro momento, a autora minimiza os impactos dessa tecnologia sobre a prática da profissão. A adoção de novos instrumentos de trabalho e as formas de utilizá-los tem metamorfoseado o cotidiano dos jornalistas sem, no entanto, mudá-lo radicalmente. Recebido primeiro com medo, depois cede lugar ao encantamento. O computador facilita a execução das tarefas e inegavelmente, melhora o ambiente de trabalho. (BALDESSAR, 2001, p.01).

Machado (2003) coloca que no início da mudança tecnológica nas redações, os computadores foram vistos apenas como mais um artefato à disposição dos jornalistas, assim como outras invenções da época - telégrafo, máquina de escrever - já haviam sido inseridas no mesmo contexto. Passado este primeiro momento em que os computadores eram só mais uma forma de aperfeiçoar o dia a dia das redações, o processo de digitalização evoluiu juntamente com o desenvolvimento da informática, trazendo com ela muitas outras mudanças no cotidiano dos jornalistas. Lima Junior (2008) ressalta que nenhuma outra invenção tecnológica na área da comunicação alterou tanto a rotina de uma redação quanto os computadores. O computador trouxe com ele outros conceitos que depois viriam a ser bastante estudados e discutidos, como o de trabalhar em rede. As máquinas de escrever eram ferramentas individuais, ou seja, cada texto estava restrito àquele que o datilografava. Com a informatização, o sistema de informação cria ramificações dispersas e descentralizadas. A rede agora é capaz de se reproduzir em cada terminal que a compõem. É possível que todos tenham acesso ao material de todos. O conteúdo passa a ser intangível e só existe dentro das telas. Desaparecem velhos arquivos, cópias de textos e recortes de matérias produzidas e


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estampadas em jornais. A memória da produção de um jornal fica guardada dentro de um disco rígido. Essas e outras mudanças aconteceram rapidamente e tudo em volta do jornalista e do seu ambiente mudaram culminando em alterações profundas no seu perfil profissional e existencial.

1.2 A informatização das redações: as mudanças existenciais e profissionais

O ser humano, apesar de mutável e adaptável, é resistente a mudanças. Mudanças são dolorosas. A informatização das redações trouxe mudanças profundas e que, como era de se esperar, não foram bem aceitas no início. Depois da chegada dos computadores nas redações, quase tudo começou a fazer falta, até mesmo o espaço barulhento e conturbado que eram as redações com as máquinas de escrever. Os profissionais não acharam interessante, de início, trocar a datilografia pela digitação, já que datilografar faz parte do romantismo que a profissão tinha. Mas nem sempre foi assim. Quando os jornalistas pararam de escrever seus textos à mão e passaram a utilizar máquinas de escrever, também houve resistência. As máquinas de escrever chegaram às redações brasileiras em 1938. Antes disso, os jornalistas escreviam os textos à mão. João Anísio Netto, redator de O Globo entre 1936 e 1945, em uma entrevista para o livro A Mudança Anunciada, diz que “o jornal adquiriu quatro máquinas de escrever, usadas apenas pelos auxiliares de redação que redigiam pequenas notas, o obituário e convites. Os grandes jornalistas traziam as matérias prontas.” (Netto apud Baldessar, 2003, p. 41). A resistência aos computadores não foi um problema só no Brasil. No livro Mil dias: Os bastidores da revolução em um grande jornal, Carlos Eduardo Lins da Silva coloca que Gay Talease também se desestruturou emocionalmente quando os primeiros computadores chegaram à redação do The New York Times em 1964. A mudança do papel para as máquinas de escrever foi aceita principalmente pelos revisores, pois poupava o trabalho de tentar entender o que de fato estava escrito, já que alguns repórteres tinham a caligrafia garranchada. A máquina então passou a ser aceita e apreciada. No caso do computador, as mudanças e o impacto foram muito maiores e incomparáveis. Machado (2003) propõe também que além de os computadores serem um artefato de otimização do dia a dia das redações, assim como as outras invenções, vão um pouco mais que isso. Ele diz que o digital trouxe uma alteração muito mais extensa, capaz de


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impactar todas as etapas do processo de produção de uma notícia e não só isso, mas modificou o próprio perfil do jornalista. A digitalização não é simplesmente mais uma tecnologia ou ferramenta com a qual os jornalistas estão tendo que se adaptar, através da leitura de um manual de instruções ou de um curso rápido de atualização num final de semana. A digitalização é uma espécie de metatecnologia, que afeta todas as tecnologias e, principalmente, redefine e produz formas do existir social. [...] Mais que uma ferramenta que otimiza o trabalho do profissional, a tecnologia digital funda um entorno social distinto, dando origem a um novo modelo econômico e a uma nova divisão social do trabalho. (MACHADO, 2003, p.09).

A informatização das redações não se resumiu ao aparelho, mas uma nova forma de fazer o que era feito. O jornalista, por sua vez, se viu em um novo mundo de aprendizados. Demissões em larga escala começaram a entender o computador como um artefato poderoso na substituição do ser humano pela máquina. Mais do nunca, o profissional jornalista precisava estar pronto para encarar novas formas de fazer jornalismo, caso contrário, corria o risco da substituição. Marcondes Filho (2000) acredita que a relação entre comunicação e tecnologia virtualiza o trabalho jornalístico impresso e interfere radicalmente nos conteúdos. Em relação ao trabalho, o homem de redação, acostumado a escrever sobre o papel, a participar fisicamente do ambiente com os colegas, a ver seu produto “realizado” como um objeto jornal, passa a se submeter à lógica imaterial da tecnologia (mais difundida nos meios visuais) e a se adaptar à completa volatilização do ambiente de trabalho, do seu trabalho e do produto final “jornal”. Além disso, a tecnologia imprime seu ritmo e sua lógica às relações de trabalho, em suma, outro mundo, que mal deixa entrever os sinais do que se convencionou chamar no passado de “jornalismo”. (MARCONDES FILHO, 2000, p.31).

O computador com redes internas possibilitou a unificação do trabalho de cada parte da construção de uma notícia, que antes era separado. Repórter, editor e diagramador trabalham de maneira integrada e não precisam, necessariamente, trocar uma palavra entre si para que o trabalho aconteça. O jornalista deixou de ter o contato material com o produto final. Se com apenas computadores e redes internas as mudanças já foram muitas, o jornalista prepara-se para entrar em uma nova fase: a Internet se popularizou e os jornais precisaram se adaptar.


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1.3 A informatização das redações: a revolução da Internet

A primeira conexão entre computadores foi realizada em 1969 pela agência norteamericana ARPA. Fruto do desenvolvimento tecnológico e científico impulsionado pela Segunda Guerra Mundial e Guerra Fria, a Arpanet, precursora da Internet, tinha como objetivo possibilitar o compartilhamento de informações entre os departamentos de pesquisa de universidades e entidades militares. Naquela época ninguém poderia prever que haveria um movimento global que, através da Internet, afetaria a virtualização da informação e da comunicação (Lévy, 1999). Mais tarde, na década de 90, Timothy Berners-Lee criou a World Wide Web (WWW), a rede mundial de computadores, a Internet que é utilizada hoje. Berners-Lee criou uma linguagem especial chamada HTTP3 para transmitir e acessar informações que poderiam conter texto, gráficos, sons, vídeos, textos e URLs (Uniform Resource Locator – também conhecido como links). Esse foi o nascimento da linguagem hipertexto ou hipermídia, uma das características principal da Internet até os dias atuais. Pierre Levy (1993) define hipertexto como “um conjunto de nós ligados por conexões”. O que ele quer dizer é que em uma narrativa hipertextual o leitor tem diversas possibilidades de navegar no que está sendo dito, pois os links se espalham por todo o conteúdo, fazendo pontes entre um assunto e outro. Já a hipermídia, Ferrari (2007, p.79) propõe que é “todo método de transmissão de informação baseada em computadores, incluindo textos e imagens, vídeo, animação e som.” Nesta perspectiva, a hipermídia é a união de todas as formas de fazer o conteúdo. Na década de 90 já era possível acessar a Internet e encontrar interfaces amigáveis nos primeiros sites que começaram a surgir na rede. Isso porque o acesso já não era restrito somente aos militares e pesquisadores, mas por usuários comuns. Os primeiros portais de notícias começaram a ingressar na nova plataforma de distribuição de conteúdo e informação. Surgem também os browsers ou navegadores como o Internet Explorer e o Netscape. Para o jornalismo no Brasil, segundo Righetti e Quadros (2008), a Internet primeiramente foi vista como uma concorrente da mídia impressa, ou seja, apenas mais um espaço em que os conteúdos impressos seriam distribuídos. Na segunda metade da década de

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HyperText Transfer Protocol que em português significa "Protocolo de Transferência de Hipertexto". É um protocolo de comunicação entre sistemas de informação que permite a transferência de dados entre redes de computadores, principalmente na World Wide Web (Internet).


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90, as empresas de mídia impressa começaram a definir estratégias para entrar no mercado de comunicação e serviços baseados nessa plataforma. À medida que a Internet se popularizou nas redações e no cotidiano das pessoas, novas formas de produzir e distribuir informações foram sendo criadas. Lévy (1999) denomina que essas novas formas de pensar a comunicação podem estar dentro do conceito da cultura do ciberespaço ou como ele definiu “cibercultura”. O ciberespaço (que também chamarei de “rede”) é o novo meio de comunicação que surge da interconexão mundial dos computadores. O termo especifica não apenas a infraestrutura material da comunicação digital, mas também o universo oceânico de informações que ela abriga, assim como os seres humanos que navegam e alimentam esse universo. Quanto ao neologismo “cibercultura”, especifica aqui o conjunto de técnicas (materiais e intelectuais), de práticas, de atitudes, de modos de pensamento e de valores que se desenvolvem juntamente com o crescimento do ciberespaço. (LÉVY, 1999, p.17).

A cibercultura já é vivenciada cotidianamente por milhões de pessoas, estando presente pelo uso de tecnologias como: Internet banking, cartões inteligentes, celulares, palms, pages, voto eletrônico, imposto de renda via Internet; ou por meio de práticas comunicacionais digitais: e-mail, listas de discussão na Internet, blogs, web jornalismo, redes sociais. A cibercomunicação vai abraçando toda a sociedade e seus efeitos respingam diretamente em quem produz a informação. André Lemos (2007) reflete a cibercultura como uma forma “sociocultural que emerge da relação simbiótica entre a sociedade, a cultura e as novas tecnologias de base microeletrônica que surgiram com a convergência das telecomunicações com a informática.” (Lemos 2007, p.01). Se o computador antes era o centro ou apenas mais uma ferramenta à disposição dos jornalistas e das pessoas, com a rede mundial de computadores e a cibercultura, “o computador é um nó que une todos os demais”. (Lévy, 1999, p.45). No que diz respeito à comunicação, Lévy coloca que na cibercultura a mediação é interativa e ao mesmo tempo massiva, em formatos um para todos, um para um, todos para todos. Um exemplo disso são as novas ferramentas que a Internet trouxe para a rotina dos jornalistas, como o uso do e-mail, suporte para contato com as fontes.

Um diagnóstico do sistema de produção do jornalismo nas sociedades contemporâneas revela a existência de dois tipos diferentes de uso das redes telemáticas. No primeiro, as redes são concebidas como ferramenta auxiliar para a elaboração de conteúdos para os meios clássicos, ainda abastecidos com meios clássicos de coleta de dados, enquanto que, no segundo, todas as etapas do sistema jornalístico de produção – desde a pesquisa e apuração até a circulação dos


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conteúdos – estão circunscritas às fronteiras do ciberespaço. (MACHADO, 2003, p. 22).

No processo jornalístico, o computador e a Internet passam a ser ferramentas indispensáveis na construção e difusão da notícia. Não só para o jornalista, mas para o leitor também, que passou a ter mais acesso ao ciberespaço, conforme mostra no quadro 1 abaixo, a relação do crescimento do uso da Internet no mundo comparado ao crescimento da população mundial. Quadro 1: Uso da Internet no Mundo x População Mundial Regiões do Mundo

População (2016)

Usuários 30 de jun. 2016

Crescimento 2000-2016

4, 052, 652,889

1, 846, 212,654

1,515. 2%

Europa

832, 073,224

614, 979,903

485.2%

América Latina/ Caribe

626, 054,392

384, 751,302

2,029. 4%

1, 185, 529,578

340, 783,342

7,448. 8%

América do Norte

359, 492,293

320, 067,193

196.1%

Oriente Médio

246, 700,900

141, 489,765

4,207. 4%

Oceania / Austrália

37, 590,820

27, 540,654

261.4%

7, 340, 094,096

3, 675, 824,813

918.3%

Ásia

África

TOTAL

Quadro 1: Uso da Internet no Mundo x População Mundial. Fonte: Internet World Stats. Disponível em: http://www.internetworldstats.com/stats7. Dados sobre população e uso da Internet até junho de 2016. Acesso em 26/10/2016.

No início da informatização das redações, o jornalista precisou se adaptar a uma nova realidade. Demissões e a eliminação de funções se tornam comuns. As tecnologias são usadas para aumentar a produtividade, ampliar a capacidade produtiva de cada profissional, implicando a criação ou suspensão de postos de trabalho. Assim como os computadores, o jornalista passa a trabalhar em uma velocidade maior, num ritmo acelerado em que “a mecanização reduz cada vez mais a quantidade e a intensidade da energia física consumida no trabalho” (Baldessar, 2003, p. 75). O computador e a Internet impõe ao jornalista, ao editor e ao próprio jornalismo um ritmo constante e nervoso, porque agora o que conta é a rapidez na entrega da informação. A adoção de computadores, sistemas em rede, acesso online à Internet, fusão e mixagem de produtos na tela conduziram as empresas jornalísticas a uma reformulação completa de seus sistemas de trabalho, adaptando em seu interior a alta velocidade de circulação de informações, exigindo que o homem passasse a trabalhar na velocidade do sistema. (MARCONDES FILHO, 2000, p. 36).


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O próprio perfil do jornalista muda. Se antes chegou a se pensar o jornalismo semelhante ao taylorismo4, em que as tarefas eram distribuídas por funções específicas – repórteres apuram, redatores escrevem, diagramadores montam a página – hoje, com a Internet, a responsabilidade aumenta e o jornalista precisa dominar várias técnicas: além de apurar bem, precisa escrever bem, participar das etapas de edição, sugerir ou até mesmo fazer a fotografia que vai ilustrar o conteúdo e se preciso for, diagramar a matéria ou publicá-la no site. Para Nilson Lage, a estrutura atual de produção se assemelha ao modelo toyotista 5, no qual o operário é versátil e domina todas as etapas do processo de produção. (Lage, 2001). Conforme Ciro Marcondes Filho (2000, p. 36), “ele (jornalista) deve ser uma peça que funcione bem, ‘universal’, ou seja, acoplável a qualquer altura do sistema de produção de informações.” O jornalista muda a sua forma de ver o mundo e o mundo, por sua vez, muda a maneira de enxergar o jornalista. Mas, sem dúvida nenhuma, é na linha de produção de um jornal ou revista que se percebem as mudanças mais óbvias: o diagramador, que antes não vivia sem a régua de paicas, as cartelas de letras set e a caneta nanquim, aderiu aos softwares de edição de texto e trabalha com precisão. A mesma sorte não tiveram os revisores e copydesks que, simplesmente, um a um, foram desaparecendo da redação. (BALDESSAR, 2005, p.03).

Entram em discussão as novas faculdades que o profissional deve possuir as tendências de marketing digital que ele precisa desenvolver técnicas de programação e análise de dados, fotografia digital e muitas outras funções que, antes, eram ocupadas por profissionais específicos de cada área. A Internet trouxe novas perspectivas para a sociedade. Agora a característica marcante em todos os setores é a técnica. Profissionais da comunicação precisam saber utilizar o som, o vídeo, o texto, a imagem. O ciberespaço trouxe uma nova relação do jornalista com o seu

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Taylorismo é um sistema de organização industrial criado no final do século XIX pelo engenheiro mecânico e economista norte-americano Frederick Winslow Taylor. A principal característica deste sistema é a organização e divisão de tarefas com o objetivo de obter o máximo de rendimento e eficiência com o mínimo de tempo e atividade. No taylorismo, cada trabalhador exerce uma função específica na qual tem mais aptidão para render mais em menos tempo. 5 Toyotismo é um sistema de produção de mercadorias. Criado no Japão, após a Segunda Guerra Mundial, pelo engenheiro japonês Taiichi Ohno, o sistema foi aplicado na fábrica da Toyota. A principal característica é a mãode-obra multifuncional e bem qualificada. Os trabalhadores são educados, treinados e qualificados para conhecer todos os processos de produção, podendo atuar em várias áreas do sistema produtivo da empresa.


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trabalho, por causa da rapidez e mobilidade, devido à atualização constante que o ciberespaço possibilita. De 2008 pra cá, o movimento que existe é o de convergência de conteúdos, ou seja, cada informação precisa ser pensada unicamente para cada plataforma, de forma que um único assunto possa ser contato em diferentes canais específicos ou em todos juntos. A convergência, como aponta Jenkins (2008), estabelece novos caminhos para pensar linguagens, estrutura das redações (integradas, crossmedia6, multimídia) e formas de apresentação e distribuição de conteúdos em termos de formatos de narrativas e difusão da informação por diferentes suportes midiáticos. O impacto da tecnologia no jornalismo fez com que muitas das técnicas básicas da profissão fossem revistas. O clássico lead e a pirâmide invertida7, por exemplo, foram alterados e adaptados à nova realidade das notícias na Internet. Canavilhas (2006) coloca que no jornalismo para a web o jornalista não precisa de um espaço definido para escrever seus textos e o editor, por sua vez, não precisa cortar o conteúdo para encaixá-lo em um determinado espaço. Nas edições online o espaço é tendencialmente infinito. Podem fazer-se cortes por razões estilísticas, mas não por questões espaciais. Em lugar de uma notícia fechada entre as quatro margens de uma página, o jornalista pode oferecer novos horizontes imediatos de leitura através de ligações entre pequenos textos e outros elementos multimídia organizados em camadas de informação. (CANAVILHAS, 2006, p.07)

O autor propõe ainda que no jornalismo para a web de pirâmide invertida, o texto passa a ser tecnicamente feito através da pirâmide deitada, por conta das infinitas possibilidades que a web oferece ao conteúdo.

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O termo crossmedia é utilizado quando a mensagem continua a mesma, porém, distribuída em diversas plataformas diferentes. O sentido básico do termo é que o usuário pode acessar o mesmo conteúdo por meios diferentes. 7

Segundo Canavilhas (2006, p.05) “a técnica da pirâmide invertida pode resumir-se em poucas palavras: a redação de uma notícia começa pelos dados mais importantes – a resposta às perguntas O quê, quem, onde, como, quando e por quê – seguido de informações complementares organizadas em blocos decrescentes de interesse.” no início do texto e garantindo assim a chegada dos dados essenciais aos seus jornais. A técnica foi batizada como Pirâmide Invertida por Edwin L. Shuman no seu livro Practical Journalism.


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Figura 2: A pirâmide deitada. Fonte: CANAVILHAS, 2006, p. 15

Conforme a figura acima, Canavilhas (2006) propõe: Uma pirâmide deitada com quatro níveis de leitura: A Unidade Base – o lead – responderá ao essencial: O quê, Quando, Quem e Onde. Este texto inicial pode ser uma notícia de última hora que, dependendo dos desenvolvimentos, pode evoluir ou não para um formato mais elaborado. O Nível de Explicação responde ao Por Quê e ao Como, completando a informação essencial sobre o acontecimento. No Nível de Contextualização é oferecida mais informação – em formato textual, vídeo, som ou infografia animada – sobre cada um dos W’s. O Nível de Exploração, o último, liga a notícia ao arquivo da publicação ou a arquivos externos. (CANAVILHAS, 2006, p.15).

A pirâmide deitada de Canavilhas é suportada principalmente pelo hipertexto, que possibilita a interconexão de outros conteúdos através de links. Palacios e Mielniczuk (2001) colocam que o hipertexto, utilizado no ambiente das redes telemáticas, vai permitir a interconexão de som, imagem e outros textos, através de links, não só partes de um mesmo texto, mas como links externos, ou seja, de outros conteúdos previamente publicados, a fim de complementar o que está sendo dito. Trata-se de um padrão de organização da informação até então não utilizado na narrativa jornalística, sendo essencial buscarem-se na teoria do hipertexto, caminhos que possam subsidiar especulações sobre os formatos da narrativa jornalística nessa nova situação de sua produção e consumo. (MIELNICZUK E PALACIOS, 2001, p.01).


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A Internet mudou também a urgência do trazer notícias. Santos (2014) cita que a necessidade da atualização constante e a pressão do tempo criaram novas formas narrativas nas quais a notícia é construída. O ciberespaço passa a ser visto como o local onde todo o conteúdo está disponível, e de fato está, porém, os jornalistas precisam agora exercer a tarefa de escolher entre as centenas de acontecimentos aqueles que merecem o status de notícia. O fácil acesso à informação obtida pela Internet pode ainda dar a falsa impressão de não ser preciso ir além das fronteiras do ciberespaço para saber o que acontece. É como se na rede “coubesse” o mundo e de tal forma não fosse necessário sair dela para se obtiver a informação necessária à construção da notícia. (BIANCO, 2004, p.05).

Por outro lado, o bombardeio de informações faz com que o jornalista seja perspicaz na habilidade de entender se a informação é verdadeira ou não. Se a checagem é uma etapa preciosa no processo de produção da notícia, na era da informação, torna-se essencial. Machado (2003, p.04) coloca que “a estrutura descentralizada do ciberespaço complica o trabalho de apuração dos jornalistas nas redes devido à multiplicação das fontes sem tradição especializada no tratamento das notícias, espalhadas agora em escala mundial”. Em uma única busca milhares de resultados aparecem, dificultando não só ao jornalista, mas ao leitor. Neste contexto, o grande volume de informações passa a ser um problema para o jornalista, pois a credibilidade das fontes é colocada em dúvida. O surgimento da internet no seu modo gráfico (WWW) e a possibilidade da busca de URLs e arquivos por programas como o Google, por exemplo, facilitaram muito o trabalho do jornalista na busca de mais informações. Mas existem as questões da imprecisão dos dados, credibilidade das fontes e a enorme quantidade de informações não solicitadas que aparecem na tela do computador quando é realizada uma pesquisa em mecanismos de busca. (LIMA JÚNIOR, 2004, p. 122).

Lima Junior (2008) coloca que o excesso de informações armazenadas e distribuídas na Internet ultrapassa a capacidade humana, sobretudo a do jornalista, diante da tarefa de organizar os dados e compartilhar informações. Ainda segundo o autor, apesar da facilidade de utilização dos mecanismos de busca, o jornalista passa a ver o seu trabalho cada vez mais complexo na incessante busca por informações consolidadas e contextualizadas. (ibidem, p. 3). No mar de informação digital que está se formando, com diferentes configurações de bases de dados e de acesso, o jornalista da atualidade vê sua tarefa tornar-se cada vez mais complexa na busca de informações, apesar da aparente facilidade mostrada por esses dispositivos. É complexo, no entanto, o trabalho de obtenção de informações consolidadas e contextualizadas. (LIMA JUNIOR, 2008, p.120).


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A quantidade de informações disponíveis na rede tem relação também com o fato de que agora todos podem ser emissores. Para Anderson (2006), a Internet transformou o mercado de massa em milhões de mercados de nicho e isso fez com que todos os cidadãos se transformassem em distribuidores de conteúdo. A teoria da cauda longa se aplica ao jornalismo, pois uma vez que “gargalos se interpõem entre a oferta e as demandas em nossa cultura começam a desaparecer e tudo se torna disponível para todos” (Anderson, 2006, p.11). Para Castells (2005) a imprensa perde o poder de detenção da informação, já que qualquer pessoa com um computador e conexão à Internet tem a possibilidade de produzir e difundir conteúdo na rede. Essa abundância de informação, vista pelo seu lado positivo, é vital para a democracia. As pessoas podem manifestar seus pensamentos de forma rápida e em diversos meios e canais, como sites pessoais, blogs, perfis em redes sociais e outros. Na fala de Roig (2006, p.163), os usuários “adquiriram a capacidade de converter-se em produtores ou editores, idealizando, selecionando, implementando e difundindo conteúdos próprios ou reelaborando e compartilhando conteúdos de sua seleção”. A Internet criou também novas possibilidades do contato do jornalista com a fonte. Com poucos cliques, o repórter consegue o e-mail, a rede social ou o contato telefônico. O email, por sua vez, passa a ser uma das principais ferramentas para contato e até mesmo entrevistas. Garrison (2007, p.29), entende as mensagens eletrônica como “a mais importante ferramenta da internet para os jornalistas, que estão se valendo de sua rapidez, baixo custo, flexibilidade, poder e segurança.” Ainda segundo o autor, “o e-mail substitui efetivamente o fax, uma vez que é mais rápido, mais confiável, personalizado e não necessita de papel.” (Garrison, 2007, p. 29). Por outro lado, as tecnologias possibilitam a apuração das informações necessárias à produção de uma notícia sem a necessidade de o jornalista sair da redação (Machado, 2003). O resultado, muitas vezes, é o uso de fontes de segunda e terceira mão, deixando de lado alguns procedimentos como a checagem de informações. Se o jornalista tem o contato fácil com as fontes, por outro lado, as fontes e todos os demais leitores que utilizam a Internet também têm mais possibilidades de contato com o jornal. Nunca antes o leitor pôde interagir com o veículo de comunicação e com o jornalista produtor da notícia quanto agora. A máxima “nós escrevemos, vocês leem” pertence ao passado. Numa sociedade com acesso às múltiplas fontes de informação e com um crescente espírito crítico, a


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possibilidade de interação direta com o produtor de notícias ou opiniões é um forte trunfo a explorar pelo web jornalismo. (CANAVILHAS, 2001, p.65).

Canavilhas (2001) coloca ainda que num jornal tradicional de antigamente, o leitor que precisasse entrar em contato com a redação usava a opção de enviar uma carta para o jornal e aguardar a resposta, correndo o risco de não receber resposta alguma. Com a Internet essa interatividade muda, uma vez que na web a relação do jornalista com o leitor pode ser contínua e imediata. Como boas práticas os jornais deixam no final de cada matéria uma área de comentários, em que o leitor pode comentar o que ele quiser, desde sugestões de melhorias e apontamentos de erros no texto até complementação da informação. Outro aspecto da interatividade que a Internet proporciona ao jornalismo é o uso crescente das redes sociais, tanto pelos leitores, quanto para os jornais produtores de mídia. Além da interatividade, o jornalismo nas redes sociais agora está em uma grande vitrine de exposição e dimensão, em que muitas técnicas são estabelecidas para a notícia alcançar o maior número de pessoas possível. Recuero (2009) coloca que as redes sociais na Internet ampliaram as possibilidades de conexões e também a capacidade de difusão da informação. “No espaço off-line, uma notícia ou informação só se propaga na rede através das conversas entre as pessoas. Nas redes sociais online, essas informações são muito mais amplificadas, reverberadas, discutidas e repassadas”. (Recuero, 2009, p.25) Todas essas mudanças fizeram com o que surgissem novas denominações do jornalismo desenvolvido na web. Autores não entraram em um consenso sobre como melhor definir o que é o jornalismo na era digital. Os termos mais comuns até então discutidos são: jornalismo eletrônico, jornalismo digital ou multimídia, jornalismo online, jornalismo hipertextual ou ainda ciberjornalismo e web jornalismo. Todos eles com teorias próprias e discussões longas. Mielniczuk (2008) entende que é possível identificar três fases da produção jornalística na web. A primeira chamou de transpositiva, em que os conteúdos publicados no impresso, eram transpostos para o online, sem alterações específicas e a atualização das notícias se dava a partir da atualização do jornal impresso. A segunda fase se deu a partir do aperfeiçoamento e desenvolvimento de técnicas para a Internet. Apesar de ainda os textos serem transpostos do impresso para o digital, os jornais começam a oferecer alternativas para os leitores com base nas técnicas que o ambiente digital proporciona. Nesta fase, mesmo ainda sendo meras cópias do impresso para a Web, começam a surgir links com chamadas para notícias de fatos que acontecem no período entre as edições; o e-mail passa a ser utilizado como uma possibilidade de comunicação entre jornalista e leitor ou entre os leitores, através de fóruns de debates; a


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elaboração das notícias passa a explorar os recursos oferecidos pelo hipertexto. A tendência ainda era a existência de produtos vinculados não só ao modelo do jornal impresso, mas também às empresas jornalísticas cuja credibilidade e rentabilidade estavam associadas ao jornalismo impresso. (MIELNICZUK, 2008, p. 2).

E a terceira fase começa quando iniciativas empresariais passam a surgir e as empresas de mídia passam a criar conteúdos exclusivos para a Internet. Surgem, assim, sites jornalísticos desenvolvidos especificamente para a web e os conteúdos já não são totalmente transpostos, assumindo uma linguagem com características próprias. A atualização é constante e equipes passam a trabalhar voltadas para o online. Gradualmente, os diversos tipos de web sites jornalísticos (edições digitais de jornais, revistas, emissoras de tevê, agências de notícias, portais, portais regionais, e, mais recentemente os blogs) vão experimentando narrativas diferenciadas, nas quais o uso de recursos hipertextuais - como o link -, associados ao áudio, ao vídeo, à fotografia, aos gráficos animados para a redação das informações auxilia na construção e na consolidação de uma linguagem para essa modalidade, que passa a ter nos usuários (ou no público) importantes colaboradores para a formulação dos conteúdos dentro de uma estrutura já descentralizada. (BARBOSA, 2007. p. 128).

E se a mudança na era da informação é constante, como afirmavam e previam Anderson, Bell e Shirky (2013), o jornalismo ainda vai se deparar com outro movimento que só a web pode proporcionar em tão grande escala, que é o uso de dados para a composição e produção de conteúdos. Novos gêneros jornalísticos começam a ser discutidos e novos métodos de informar começam a ser entregues ao público. A utilização constante de dados digitais para construir narrativas culminou em uma nova etapa: o Big Data.

1.4 A Era do Big Data: jornalismo guiado por dados e jornalismo digital em base de dados A Internet possibilitou uma relação próxima do jornalista com dados e base de dados. Novas possibilidades surgiram para a produção e distribuição de conteúdos a partir de novas ferramentas gratuitas para análise de dados e também pelas adoções de políticas de acesso à informação por parte de governos e organizações, que deixam suas bases abertas para extração de informações (Angélico, 2012). Essa crescente disponibilização de dados e as novas possibilidades e configurações para a prática do jornalismo ficou denominada como Big Data. Lima Junior (2011) entende o Big Data como um


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[...] conjunto de dados (dataset) cujo tamanho está além da habilidade de ferramentas típicas de banco de dados em capturar, gerenciar e analisar. A definição é intencionalmente subjetiva e incorpora uma definição que se move de como um grande conjunto de dados necessita ser para ser considerado um big data. (LIMA JUNIOR, 2011, p.50)

Um estudo realizado pelos Pew Research Center’s Internet & American Life Project, intitulado “The Future of Big Data”, afirma que por volta de 2020 o uso do Big Data melhorará o entendimento sobre nós mesmos e sobre o mundo. Voltando um pouco no tempo, no jornalismo a era do Big Data já havia começado na década de 60 quando o repórter Philip Meyer, do Detroit Free Press, utilizou um computador para analisar os resultados de uma pesquisa de opinião pública realizada na cidade de Detroit, nos Estados Unidos. Meyer foi o primeiro a descobrir como trabalhar a informação por intermédio de base de dados. A matéria que ele produziu tratava-se de distúrbios raciais em Detroit. Para isso, ele utilizou um computador para analisar a demografia dos negros da cidade. Assim, batizado por Meyer, surgiu o Precision Journalism, ou jornalismo de precisão. Como resultado da compilação dos dados obtidos na pesquisa, o repórter e o jornal receberam o Prêmio Pulitzer de 1968. O reconhecimento fez com que Meyer recebesse o título de “a computer reporter” pela Newsweek. Depois do Jornalismo de Precisão de Meyer, os dados continuaram cada vez mais a fazer parte da rotina jornalística e a técnica passou a ser chamada de “Reportagem Assistida por Computador” (RAC), do inglês Computer-Assisted Reporting (CAR). Variante do jornalismo de precisão prevê a produção de reportagens a partir de informações de bases de dados. Kraemer e Nascimento (2013) entendem que RAC é todo processo que conta com o auxílio do computador durante a coleta e o processamento de dados. Segundo eles (2013, p.4), “o RAC passou a ser mais utilizado na investigação jornalística para dar conta de contextos sociais mais amplos na reportagem, e também para melhor aproveitar os registros públicos agora possíveis de serem acessados.”. Com o passar do tempo, o RAC passou a ser mais conhecido como Jornalismo Guiado por Dados (JGD), que se constituiu como uma nova forma de fazer jornalismo. Träsel (2013) coloca que o termo Jornalismo Guiado por Dados compreende diversas práticas profissionais, cujo ponto em comum é o uso de dados como a principal fonte de informação para a produção de notícias. Barbosa e Torres (2012) o consideram como parte do paradigma Jornalismo Digital em Bases de Dados (JDBD), caracterizando-o como extensão do JDBD.


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O modelo que tem as bases de dados como definidoras da estrutura e da organização, bem como da composição e da apresentação dos conteúdos de natureza jornalística, de acordo com funcionalidades e categorias específicas, que também vão permitir a criação, a manutenção, a atualização, a disponibilização, a publicação e a circulação de cibermeios dinâmicos em multiplataformas. (BARBOSA e TORRES, 2012, p. 3).

Machado (2004) coloca que as bases de dados desempenham três funções simultâneas e complementares: a) de formato para a estruturação da informação; b) de suporte para modelos de narrativas multimídia; c) de memória para os conteúdos publicados. O JGD tem como objetivo a produção, tratamento e cruzamento de um grande volume de dados, para que a informação seja oferecida de forma clara, através de reportagens ou infografia, pensando em diversos formatos de circulação (computadores pessoais, smartphones, tablets). Além disso, oferece ao jornalista uma possibilidade de tratar e encontrar informações valiosas em dados com milhares ou milhões de registros, que dificilmente são manejáveis sem a ajuda de softwares e do computador. Facilitam, ainda, o cruzamento de diferentes bases de dados para a produção de conhecimento sobre a sociedade, que podem ser oferecidos ao público de diversas formas. Adrian Holovaty (2006) em um artigo publicado em seu website pessoal chamado “A fundamental way newspapers sites need to change”, recomenda que a incorporação de técnicas de gerenciamento de base de dados ao cotidiano das redações facilita o reaproveitamento das informações coletadas no trabalho diário de reportagem. So much of what local journalists collect day-to-day is structured information: the type of information that can be sliced-and-diced, in an automated fashion, by computers. Yet the information gets distilled into a big blob of text – a newspaper story – that has no chance of being repurposed. (HOLOVATY, 2006).

O JGD tem por objetivo impulsionar o jornalismo para longe do senso comum, em direção à ciência, através da aplicação de tecnologias e métodos da informática (Meyer, 1999). A ideia é levar a rotina de uma redação para mais próximo da tecnologia, para que cada vez mais as informações fiquem longe de preconceitos, vieses e ideologias. O JDG não quer somente levar a tecnologia para dentro da rotina produtiva de uma redação, mas sim potencializar a capacidade de um repórter para conseguir identificar notícias e informações valiosas a partir de dados brutos, trazendo à tona o essencial “faro” jornalístico, técnicas que são vistas como habilidades inerentes ao espírito humano (Dines, 1986; Traquina, 2005). Planilhas e ferramentas de visualização de dados permitem ao jornalista enxergar correlações e tendências em grandes volumes de dados em períodos diversos, como por


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exemplo, informações do governo, crimes realizados em uma grande metrópole, etc. As ferramentas de computação agilizam o tratamento dos dados, fazendo com o que os resultados finais não sejam prejudicados e ainda mais potencializados. O JGD configura o que os estudiosos chamam de o fenômeno do “Big Data” ou a “revolução industrial do dado”, conforme Bradshaw e Rohumaa (2011, p. 48). Um dos exemplos mais emblemáticos dessa era foi o episódio da divulgação dos 250 mil telegramas confidenciais de comunicações diplomáticas de governos, principalmente dos Estados Unidos, por parte da Wikileaks8, em novembro de 2010. Foi a partir desses dados coletados e distribuídos pelo Wikileaks que o The New York Times, The Guardian, El País, Le Monde e a revista Der Spiegel deram sentido às informações e começaram a fazer cruzamentos, análises e puderam, assim, revelar assuntos que provavelmente jamais seriam conhecidos. Esse exemplo também marcou a forma como organizações jornalísticas passaram a utilizar novas formas de compartilhar informações, como infográficos e mapas interativos, galeria de fotos, entre outros. Conforme o uso do computador e da Internet foram intensificando-se ao longo dos anos, o jornalismo de terceira evolução (Mielniczuk, 2003) passou a utilizar base de dados como uma nova forma de produzir conteúdos. O jornalismo digital em base de dados (JDBD) prevê mais mudanças em relação ao fazer jornalístico no século XXI. Barbosa (2007; 2012) propôs o modelo Paradigma do Jornalismo Digital em Base de Dados (JDBD), em que as bases de dados são elementos que estruturam, organizam, compõem e apresentam os conteúdos jornalísticos a partir de determinadas funções e categorias. A denominação Jornalismo Digital em Base de Dados desponta em razão das funcionalidades asseguradas pelas bases de dados para a construção e gestão de produtos jornalísticos digitais, bem como para a estruturação e a apresentação dos conteúdos. (BARBOSA, 2008, p.05).

A caracterização do JDBD prevê uma tecnologia maior com acesso a conexões de banda larga em alta escala, além de conteúdos feitos para plataformas móveis, conteúdos dinâmicos pensados para a web, participação do usuário, entre outros. Seguindo a evolução do jornalismo de precisão, no JDBD tem-se a utilização essencial das bases de dados, que aliadas 8

Criado pelo jornalista e ciberativista Julian Assange, o Wikileaks é uma organização transnacional sem fins lucrativos, sediada na Suécia, que publica, em sua página, postagens de fontes anônimas, documentos, fotos e informações confidenciais, vazadas de governos ou empresas, sobre assuntos sensíveis. Os colaboradores do site são jornalistas, ativistas e programadores que buscam informações confidenciais para serem publicadas na rede. Além disso, conta diversos voluntários que ajudam na busca de informações.


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à tecnologia, regras de programação, design e à Internet, vão permitir a estruturação de informações de modo dinâmico e combinatório, apresentando-as de forma mais versátil e com intensa participação do usuário. As informações agora passam a existir conforme as escolhas e comportamentos do usuário no site e, dependendo disso, as informações mudam constantemente. Para Lev Monovich (2001), as bases de dados tornaram-se o centro do processo criativo na era do computador, de forma que um mesmo conteúdo pode conter diversas interfaces, diversas formas de se apresentar ao mesmo usuário. O autor argumenta ainda que o usuário atravessa uma base de dados a partir dos links nela indicados. Assim, conceitua uma hipernarrativa como a soma de múltiplos caminhos através de uma base dados. O usuário não precisa seguir um roteiro único para ler um conteúdo, ele pode escolher o que acha melhor e mais atrativo e o jornalismo pode lhe oferecer diversas possibilidades. Assim, as bases de dados dão suporte para o jornalismo digital oferecer ao seu leitor uma experiência envolvente com o conteúdo. A produção de conteúdos, além de utilizar base de dados, passa a contar com equipes de trabalho técnicas e específicas com programadores e designers; algoritmos e a automatização de processos fazem parte das interfaces e trabalham de acordo com a utilização e interatividade do usuário; sites dinâmicos e narrativas multimídia; vídeo, foto, podcasts, mapas, gráficos e infográficos, entre outros métodos são oferecidos em um mesmo conteúdo ou reportagem. Dentre as funções e especificidades do uso de base de dados no jornalismo para a Internet, percebe-se o potencial analítico e relacional desses conteúdos. A revolução dos computadores, da Internet e de todas as mudanças impostas culminou em um momento em que as linhas de código assumem o controle e começam a informar. O jornalismo para a web prepara-se para entrar em um novo cenário: as narrativas automatizadas chegam às redações.


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2. O JORNALISMO DE ROBÔS “Everything that can be automated, will be automated.” Shoshanah, 1981

Ao longo dos anos, conforme a evolução das tecnologias da informação, o jornalismo vem sendo impactado cada vez mais diretamente. Desde a chegada dos computadores e da Internet nas redações, novas formas de produção e consumo da notícia foram inseridos na rotina jornalística. Se na Era da Informação o caminho é a automatização de processos, no jornalismo não poderia ser diferente. Algoritmos e softwares ganham espaço no que está se configurando como um novo gênero jornalístico: as narrativas automatizadas, também conhecidas como jornalismo de robôs. Linhas de código assumem o controle e começam a informar com pouca ou sem nenhuma intervenção de um ser humano. Neste capítulo, será contextualizada a automatização de notícias por meio de algoritmos e softwares e as implicações discutidas na prática jornalística. Serão utilizados os termos jornalismo de robôs, narrativas automatizadas e jornalismo de algoritmos. Jornalismo de robôs, narrativas automatizadas ou até mesmo jornalismo escrito por máquinas são usados com o mesmo sentido (Anderson, 2012; Carlson, 2014). Até agora, algoritmos estão gerando histórias sobre esportes, notícias financeiras, monitoramento do clima e terremotos.

2.1 O que é jornalismo de robô Imagine uma cidade em que a incidência de terremotos é alta e a população já sofreu danos por conta desses fenômenos. Em uma madrugada, um tremor de terra é sentido pelos moradores do local. Assim que o sistema de monitoramento de terremotos percebe o acontecimento, envia um alerta a um software que analisa os dados e gera automaticamente uma história. A história criada responde às seis perguntas de um lead tradicional - o que, quem, quando, onde, como e porque - e é enviada automaticamente para os jornais locais. Com um clique, o editor pode publicar a notícia no site, disponibilizando as primeiras informações ao público leitor. É assim que algumas narrativas automatizadas por meio de algoritmos funcionam. Referem-se ao processo de utilização de software que, após a programação inicial de um


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algoritmo, geram notícias de forma automática, sem a intervenção de um ser humano. Uma vez que o algoritmo desenvolvido esteja funcionando, permite automatizar várias etapas do processo de produção de uma notícia a partir da coleta e análise de dados. Em termos conceituais, Corrêa e Bertocchi (2012) definem que um algoritmo serve para “elaborar uma série de instruções com a finalidade de resolver um problema.” (Skiena, 2012, p.130). Para Andrew Goffey (2008), um algoritmo é o centro na ciência da computação e é baseado na lógica da máquina de Turing9. Alan Turing foi um matemático e cientista da computação que teve influência no desenvolvimento do computador moderno através do conceito de algoritmo chamado máquina de Turing. Em 1991, Tom Koch já previa que no século XXI a união entre computadores e bibliotecas online criaria uma tecnologia que seria capaz de alterar profundamente as relações entre a notícia e seu produtor (Koch, 1991). A pesquisadora Luciane Lucas (2004) resgata a relação entre homem e máquina e sugere que os algoritmos cada vez mais vão se aproximar das relações humanas, uma vez que a tecnologia da informação e a inteligência artificial já têm modificado as relações do homem com o seu próprio corpo, vida cotidiana e espaço físico. Ela ressalta que “com investimentos em algoritmos combinatórios, genéticos e aleatórios, a máquina se aproxime ainda mais das heurísticas humanas e da forma como o homem pensa ou decide” (Lucas, 2004, p. 165). A temática de uma conferência chamada The Story & The Algorithm realizada pelo MIT Knight Science Journalism, em 2012, propôs que o futuro das notícias está na interseção entre histórias e algoritmos, uma vez que para o jornalismo é importante a criação de novas narrativas a partir dos dados disponibilizados pela web. Os algoritmos ficariam no meio, colaborando para análise, tratamento e organização dessas informações. Foi neste ano que avanços significativos desta tecnologia começaram a impactar o jornalismo. A evolução dos computadores e da Internet possibilitaram uma nova forma de produzir notícias que vai desde coleta, organização e análise de dados até a publicação e disseminação de conteúdos pela rede. Se com a Internet e as redes sociais o jornalista perde o

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Alan Turing idealizou uma máquina que seria capaz de calcular qualquer função matemática mediante um determinado conjunto de instruções. É um dispositivo móvel equipado de um "visor" que percorre uma fita de papel infinita, dividida em casas que contêm os números 0 ou 1. À medida que se desloca, a máquina vai manipulando esses valores com base em instruções simples, inscritas numa "tabela" interna que possui. Assim, de cada vez que lê o número que aparece no visor, a máquina pode substituir ou apagar esse valor e a seguir deslocar o visor para a esquerda ou para a direita para executar a instrução seguinte. A máquina de Turing formou a estrutura básica para fundamentar a ciência da computação moderna e a computabilidade. Foi responsável anos depois, pelo reconhecimento da comunidade científica, declarando Turing com o título simbólico de “pai da computação”.


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título de detentor da informação, com o jornalismo de robôs ele se depara com um novo cenário. Narrativas automatizadas podem ser criadas sem a intervenção de um ser humano. Fóruns mundiais vêm discutindo o tema com vários olhares. Em 2015 no The World Editors Forum, o jornalismo de robôs ficou entre as cinco tendências mundiais para a comunicação, e na ocasião, dois cenários se estabelecem: o primeiro diz que essa tecnologia vai servir para potencializar o jornalismo tradicional e ajudar os jornalistas com tarefas rotineiras; o segundo diz que essa tecnologia vai, eventualmente, substituir o jornalista humano gerando ainda mais desempregos nas redações. Gillespie (2014) argumenta que os algoritmos tornaram-se uma tecnologia de comunicação, colocando-os como a mais recente resposta ao tratamento, gestão e entrega de informação em uma sociedade complexa.

2.2 Como o jornalismo de robôs funciona O jornalismo de robôs funciona basicamente com a programação de um algoritmo, que recebe alguns procedimentos para o tratamento e análise dados. A estrutura do código varia. Existem as abordagens com estruturas mais simples que extraem informações numéricas de um banco de dados e preenchem os espaços em branco num texto padrão já pré-escrito10, e também as mais sofisticadas que analisam dados para obter informações adicionais e criam narrativas automatizadas a partir de inteligência artificial. Tudo começou quando um projeto acadêmico de estudantes de jornalismo e ciência da computação da Universidade de Northwestern, em Illinois, nos Estados Unidos, gerou o primeiro protótipo de um algoritmo que escreve narrativas automatizadas em 2012. O protótipo batizado como StatsMonkey escreve histórias a partir de dados coletados em jogos de beisebol da própria universidade (Levy, 2012). Os autores do projeto acadêmico, pouco tempo depois, criaram uma empresa chamada Narrative Science, uma das pioneiras na comercialização de softwares para empresas de comunicação. O projeto StatsMonkey serviu como um ponto de partida ideal, devido à riqueza de dados e estatísticas que as partidas de beisebol ofereciam, favorecendo o tratamento dessas informações com possibilidades de gerar previsões dos jogos que estavam por vir. Andreas Graefe (2016) propõe um fluxo de como algoritmos como o StatsMonkey trabalham conforme a figura 3 abaixo. 10

Neste trabalho não foi utilizado análise de algoritmos que trabalham com códigos de inteligência artificial, somente os que usam o formato pré-escrito, portanto, todos os estudos de caso e/ou citações referem-se ao uso deste tipo de algoritmo.


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Figura 3: Fluxo de um algoritmo. Fonte: GRAEFE, 2016.

O pesquisador coloca que em primeiro lugar o software recolhe dados disponíveis, tais como em uma partida de beisebol, minuto a minuto do jogo, as médias de rebatidas, registros históricos ou dados demográficos por jogador. Em segundo lugar, os algoritmos utilizam regras estatísticas para identificar eventos importantes e interessantes nos dados, como um momento decisivo para o resultado de um jogo ou o desempenho extraordinário de um jogador. Em terceiro lugar, classifica os dados e os prioriza conforme a importância de cada um. Em quarto lugar, organiza os elementos de interesse jornalístico, seguindo uma regra prédefinida para gerar uma narrativa. Neste caso, pode-se utilizar o lead clássico, por exemplo. Por fim, a história é criada a partir das regras estabelecidas e pode ser carregada dentro de um sistema de gerenciamento de conteúdo qualquer, que com um clique já estaria disponível na web (Graefe, 2016). Durante este processo, o software se baseia em um conjunto definido de regras que são específicas para a resolução do problema em questão. Já que um algoritmo é uma sequência de regras, estas podem ser definidas entre jornalistas, programadores e engenheiros. O papel do jornalista é essencial para definir os critérios de noticiabilidade que o algoritmo vai priorizar no momento de criar a narrativa. Silva (2005, p.96) compreende noticiabilidade


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como “todo e qualquer fator potencialmente capaz de agir no processo da produção da notícia”. Ela coloca ainda que esse processo inclui: [...] desde características do fato, julgamentos pessoais do jornalista, cultura profissional da categoria, condições favorecedoras ou limitantes da empresa de mídia, qualidade do material (imagem e texto), relação com as fontes e com o público, fatores éticos e ainda circunstâncias históricas, políticas, econômicas e sociais (SILVA, 2005, p. 96).

Neste sentido, três profissionais de áreas distintas podem resolver um único problema: a composição de uma notícia a partir de dados. Se não se imaginava essa relação em anos atrás, hoje, muitas empresas já trabalham com esse “produto” que é a composição de notícias a partir de softwares.

2.3 Jornalismo de robôs em funcionamento: estudos de caso Uma pesquisa realizada por Konstantin Nicholas Dörr, em 2015, apontou que existem onze empresas (vide em apêndice A) que fornecem criação de conteúdo automatizado11 para produtos jornalísticos em cinco países diferentes - Alemanha, Estados Unidos, França, Reino Unido e China. No Brasil ainda não há registros desta atividade. Algumas empresas jornalísticas como a UOL já têm investido em áreas específicas para tratamento de dados, mas nenhuma ainda trabalha com narrativas automatizadas. Enquanto oito empresas se concentram no fornecimento de conteúdo em um idioma, as quatro restantes oferecem serviços em vários idiomas diferentes. A AX da Alemanha, por exemplo, oferece criação de conteúdos automatizados em até doze idiomas diferentes. O que as doze empresas têm em comum, além de produzirem algoritmos para narrativas automatizadas, é que nenhuma delas se considera organizações jornalísticas - nem mesmo seus nomes indicam uma relação com o jornalismo e até mesmo os produtos que oferecem, apesar de informativos, não são, necessariamente, conteúdos jornalísticos. Neste sentido, elas podem oferecer todo e qualquer tipo de narrativa, uma vez que tenham uma base de dados para isso. Em empresas jornalísticas o uso de algoritmos também vem sendo utilizado, principalmente nos Estados Unidos. A agência de notícias Thomson Reuters e a agência de notícias financeiras Bloomberg, por exemplo, extraem dados e números importantes de 11

No anexo B há alguns exemplos de conteúdos automatizados das empresas descritas no apêndice A.


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relatórios de empresas e os inserem em um formato pré-definido de texto para criar automaticamente alertas para os seus clientes. Neste cenário, automatizar se torna uma necessidade, pois está servindo de apoio aos clientes e, consequentemente, à rentabilidade da própria empresa. Outras redações como a do jornal Los Angeles Times preferiram desenvolver internamente o seu próprio algoritmo. O LA iniciou seus experimentos em 2013 e foi um precursor no uso de narrativas automatizadas. Em 2012 a revista Forbes anunciou a utilização da plataforma Quill, desenvolvida pela Narrative Science que cria automaticamente textos a partir de dados financeiros (Levy, 2012). Um ano depois, a ProPublica começou a utilizar a mesma tecnologia para gerar automaticamente descrições para cada uma das mais de 52 mil escolas que estão cadastrada em seu aplicativo chamado Opportunity Gap (Klein, 2013). Nos estudos de caso expostos abaixo, o texto gerado pelos algoritmos encaixa-se no gênero jornalístico conhecido como jornalismo informativo, que se desenvolveu na década de 70 do século XIX e coexiste, durante algum tempo, com o jornalismo ideológico. Apoia-se fundamentalmente na informação, na transmissão de fatos.

2.3.1 Estudo de caso: relatório de homicídios do Los Angeles Times

Em janeiro de 2007 a jornalista Jill Leovy do jornal Los Angeles Times iniciou um blog chamado Homicide Report, cujo objetivo era cobrir todos os homicídios - cerca de mil ocorridos em Los Angeles County durante o ano inteiro. Segundo a jornalista, os jornais tradicionais costumavam cobrir cerca de 10% dos homicídios anuais, de modo que as coberturas se concentravam em casos mais midiáticos que eram, muitas vezes, os mais sensacionais, e, portanto, não forneciam uma imagem representativa do que estava realmente acontecendo. The report included the race of each victim. Newspapers traditionally do not identify homicide victims by race. But failing to include race also served to disguise the disproportionate effect homicide has on blacks and Latinos. (LEOVY, 2008).

O blog começou manualmente e o texto era escrito de forma simples e rápida, informando o homicídio e alguns dados como raça, gênero, local da morte e onde o corpo foi encontrado (Gahran, 2007; Leovy, 2008). Depois de um ano em funcionamento, a repórter não conseguiu cobrir cada homicídio ocorrido por conta da demanda de dados e informações


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que vinham de diversas fontes policiais. Sem ter cumprido seu objetivo inicial, o blog entrou em hiato em novembro de 2008. A pausa durou 14 meses, até que foi relançado em janeiro de 2010 com uma ferramenta de banco de dados e mapeamento pesquisável (Garvey e Pesce 2010). As informações do banco de dados vinham de um escritório legista de Los Angeles. A cada morte ocorrida, o banco de dados era automaticamente atualizado. Com isso, foi possível incluir no blog um algoritmo que, integrado ao banco de dados, disponibiliza mensagens automáticas sobre os homicídios. A estrutura do texto inclui a data, a localização da morte, hora, raça ou etnia, idade, jurisdição e bairro. Assim, o objetivo inicial do blog foi alcançado, uma vez que o algoritmo era capaz de escrever sobre todas as mortes ocorridas durante o ano. Ken Schwencke, jornalista e programador que ajudou a desenvolver o código do algoritmo do Homicide Report, relata ao pesquisador Andreas Graefe (2016) que essa tecnologia ajudou a reduzir a carga sobre os repórteres e produtores, uma vez que já tinham as informações iniciais e então só precisavam buscar mais detalhes na rua. Young e Hermida (2015) colocam que o algoritmo do Homicide Report serve como um reforço para o papel do jornalista policial ao invés de querer substituí-lo. Dalen (2012) aponta que o jornalismo de robôs, neste sentido, serve para que o repórter analise suas próprias habilidades e que o seu papel principal é escrever textos com profundidade. Responding to automated news content, journalists highlight analytical skills, personality, creativity and the ability to write linguistically complex sentences as important skills defining journalism, rather than factuality, objectivity, simplification and speed. Journalists see ‘‘robot journalism’’ as an opportunity to make journalism more human. When routine tasks can be automated, journalists will have more time for in-depth reporting. (Dalen, 2012, p.648).

Em 2013, o Homicide Report foi renovado mais uma vez quando um repórter foi contratado em tempo integral para complementar as notícias escritas inicialmente pelo robô jornalista, que com os dados iniciais, era possível entender melhor a história por trás de cada homicídio. Graefe (2016) aponta que a automatização desse tipo de notícia permite a produção de informação em tempo real ou quase real, uma vez que o algoritmo é capaz de escrever os textos assim que os dados estão disponíveis.


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2.3.2 Estudo de caso: alerta de terremoto do Los Angeles Times

O Los Angeles Times também experimenta o uso de algoritmos e narrativas automatizadas em notícias sobre terremotos. Um algoritmo batizado como Quakebot é integrado ao sistema de monitoramento de geologia dos Estados Unidos, o US Geological Survey's Earthquake Notification Service, e assim que o sistema lança algum alerta de terremoto, o Quakebot cria uma história que fornece todas as informações básicas que o jornalista precisaria se tivesse que cobrir manualmente, como a localização do tremor e a sua magnitude. O jornalista tem o trabalho de editar, se necessário, e disponibilizá-lo na web. O algoritmo foi desenvolvido em 2011, porém, ficou conhecido e popular na mídia em março de 2013, quando foi o primeiro meio de comunicação a noticiar um terremoto que atingiu o sul da Califórnia com 4,4 de magnitude. Ken Schwencke, programador e jornalista que trabalhou no projeto do Quakebot, sentiu o tremor de terra às 6h27 da manhã, quando foi ao seu computador rever a história que o algoritmo havia escrito. Três minutos depois, às 6h30, a história estava online no site do Los Angeles Times, no blog “LA Now.” (Plucinska, 2014). O Quakebot trabalha com velocidade e em tempo real. Seu objetivo é obter as informações o mais rápido possível (Graefe, 2016). No entanto, para que algoritmos como este cumpram o seu papel e noticiem com veracidade e velocidade, a base de dados em que se alimentam precisa também terem veracidade em suas informações. Fazer jornalismo hoje é estar em um relacionamento direto com a velocidade das informações e, como coloca Fidalgo (2007, p.102), “a urgência da imediatidade sobrepõe-se às exigências da objetividade e da verificabilidade”. Em maio de 2015, os sensores sismológicos do Norte da Califórnia captaram os sinais vindos de dois grandes terremotos ocorridos no Japão e Alasca, fazendo com o que o US Geological Survey (USGS) erroneamente relatassem como três terremotos separados na Califórnia, com magnitudes que variam de 4,8 a 5,5. Com essas magnitudes, os tremores causariam danos significativos à população da Califórnia. O algoritmo Quakebot não conseguiu identificar que o alarme era falso, uma vez que só recebe os dados vindos do USGS. Cumprindo seu papel, o software escreveu os três textos, um para cada terremoto, e os deixou prontos para a publicação que passou pela revisão dos jornalistas e foi publicado sem a certeza que a informação estava correta (Mercer, 2015).


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2.3.3 Estudo de caso: relatórios de lucratividade das empresas

Em julho de 2014, a Associated Press, uma agência de notícias americana, passou a automatizar o processo de divulgação de lucros empresariais utilizando a plataforma Wordsmith de geração de linguagem natural desenvolvido pela Automated Insights 12. Os dados em que o algoritmo se baseia para escrever as notícias são disponibilizados pela Zacks Investment Research, uma das principais empresas que trabalham com disponibilização de dados financeiros de empresas mundiais. Em janeiro de 2015, a Associated Press anunciou que os algoritmos escreveram mais de três mil histórias por trimestre, em comparação com cerca de trezentas histórias que repórteres e editores da AP escreveram anteriormente no mesmo período (White, 2015). Como colocado pela editora de negócios Philana Petterson, a automatização liberou os repórteres para produção de tarefas mais interessantes, pois odiavam fazer relatórios financeiros. Agora, os jornalistas ficam alocados em matérias investigativas e aprofundadas (Graefe, 2016). A AP não foi a primeira grande organização de notícias a utilizar a automatização para geração de histórias sobre lucros corporativos. Em 2012, a Forbes também passou a utilizar algoritmos para a criação e divulgação de notícias sobre a lucratividade das empresa, através do Quill, um algoritmo desenvolvido pela Narrative Science13, outra empresa de desenvolvimento em narrativas automatizadas (Narrative Science, 2015).

2.4 O jornalismo de robôs e as implicações na prática jornalística Agora que os dados e a programação de softwares começam a abrir novas possibilidades para o fazer jornalismo, novas perguntas, ainda sem respostas, surgem. O jornalista será substituído pelos softwares? A profissão do jornalista vai deixar de existir? O jornalismo de robôs vem se caracterizando como um novo gênero jornalístico em desenvolvimento e começa a ser visto de vários ângulos por profissionais. Os mais entusiastas acreditam na união da máquina com o ser humano e os mais pessimistas enxergam como uma 12

A Automated Insights é uma empresa americana que desenvolveu a plataforma Wordsmith, que cria narrativas a partir de dados. A AI está relacionada no apêndice A mencionada no tópico 2.3. 13

A Narrative Science assim como a AI é uma empresa americana que gera notícias automatizadas a partir de uma plataforma chamada Quill. A NS está no apêndice A mencionada no tópico 2.3.


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ameaça à profissão. Há quem diga que o jornalismo de robôs acentua ainda mais a crise do jornalismo na era da Internet. Gianroberto Casaleggio, político e empresário italiano, abriu uma palestra em 2014 alertando que “o fim do jornal é uma das coisas mais previsíveis do nosso futuro. Os únicos que ainda não sabem disso são os jornalistas” (Santori, 2015). Ele se referia ao jornalismo de robôs, que para ele vai informar melhor que profissionais de carne e osso. O que é colocado em discussão se volta principalmente para as habilidades fundamentais de um jornalista, como a apuração, checagem e boa escrita. Aljazairi (2016) defende que no futuro máquina e ser humano serão responsáveis por conteúdos ricos, unindo a coleta de dados dos algoritmos e o toque sensível do ser humano no texto. Se o texto é um fator importante para quem faz jornalismo, um estudo realizado por Arjen van Dalen (2012) descreve como o jornalismo de robôs tem feito os jornalistas humanos se perguntarem sobre as suas competências centrais, a fim de reexaminá-las e redefini-las. O estudo de Dalen explica em quatro categorias diferentes, como os jornalistas veem suas competências e o seu futuro, tendo em conta a velocidade no desenvolvimento das narrativas automatizadas. As categorias funcionam como uma análise SWOT14 e ficam divididas em pontos fracos, pontos fortes, ameaças e oportunidades. Os jornalistas ouvidos destacaram a capacidade de análise, a personalização e a criatividade como pontos importantes diante de características como factualidade, objetividade, simplificação e velocidade, essas últimas mais próximas do alcance do jornalismo de robôs. Ele coloca ainda que desde a chegada dos computadores e da Internet nas redações, muitos cargos deixaram de existir e muitas tarefas passaram a ser automatizadas, mas que em nenhum cenário o jornalista precisou deixar de ser criativo e a usar análises profundas para falar sobre um assunto. Dalen conclui seu estudo dizendo que o maior desafio está na educação dos futuros jornalistas. The further automation of journalistic work has important implications for journalism educators. It will be their task to provide the journalists of the future with journalistic, technical and creative skills. Such a mix of skills will be indispensable on the labour market of the future, where journalists compete with algorithms creating more than 15.000 articles a month. (DALEN, 2012, p.656).

14

O termo "SWOT" é um acrônimo para as palavras strengths, weaknesses, opportunities, e threats, que significam respectivamente: forças, fraquezas, oportunidades e ameaças. É uma forma de analisar cenários sendo base para gestão e planejamento estratégico.


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Se as habilidades fundamentais de um jornalista são percebidas principalmente na escrita, o pesquisador sueco Christer Clerwall (2014) analisa a percepção de estudantes de comunicação a partir de dois textos: um gerado por um ser humano e outro por um algoritmo. Em sua pesquisa, o conteúdo gerado software é percebido como descritivo e chato, mas também considerado objetivo, preciso e confiável. Por outro lado, o texto escrito por um repórter é percebido como agradável de ler, de maior qualidade, maior coerência e melhor escrito. O autor chega a uma conclusão o texto gerado por algoritmos têm poucas diferenças se comparado com um escrito pelo repórter e, nesta perspectiva, o jornalismo de robôs está funcionando bem e quem está fazendo um texto pobre é o jornalista, ou talvez ambos, já que a máquina só responde ao que o ser humano diz para ela fazer. Ele finaliza deixando uma nova questão para se pensar: se um texto gerado por um algoritmo é pouco discernível de um texto gerado por um ser humano, por que empresas de mídia vão alocar recursos humanos para essa atividade? Ele acredita que numa visão otimista “conteúdo automatizado irá liberar recursos que permitirão que os repórteres se concentrem em mais atribuições qualificadas, deixando o descritivo 'repescagens' para o software.” (Clerwall, 2014, p.527). Andreas Graefe (2016), pesquisador da Universidade de Munique, faz um estudo parecido com o de Clerwall, agora na perspectiva do público leitor. Ele conclui que os resultados deste estudo ficam parecidos com os apontados por Clerwall, ou seja, o texto gerado por um algoritmo é percebido como sendo mais credível do que o texto escrito por um ser humano. Aponta também que o texto gerado pelo repórter, por sua vez, é recebido com mais prazer do que o gerado pelo software. Graefe afirma ainda que os leitores se sentiram entediados quando leram o texto gerado por um algoritmo. O jornalismo de robôs é uma prática em andamento, com poucas respostas e muitas questões levantadas. Faz parte do que Anderson, Bell e Shirky (2013) chamaram de jornalismo pós-industrial. Segundo os pesquisadores, o jornalismo pós-industrial “não é organizado segundo as regras da proximidade do maquinário de produção.” (Anderson, Bell e Shirky, 2013, p.37). Parte do princípio de que instituições atuais irão perder receita e participação de mercado e que, se quiserem manter ou mesmo aumentar sua relevância, terão de explorar novos métodos de trabalho e processos viabilizados pelas mídias digitais. (Anderson; Bell; Shirky, 2013, p.38).

Ainda segundo o estudo, todo aspecto organizacional da produção de notícias deverá ser repensado como aproveitamento de dados de caráter público, maior investimento em


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pessoas, e multidões para produção da informação e por fim, uso de máquinas (algoritmos e softwares) para produzir parte dos conteúdos. No contexto que os pesquisadores oferecem, o jornalismo de robôs pode ser visto como uma oportunidade, já que o jornalista “tem novas ferramentas para transmitir a informação de forma visual e interativa. Tem muito mais maneiras de fazer seu trabalho chegar ao público” (Anderson; Bell; Shirky, 2013, p.38). Na linha de unir o trabalho do software com as habilidades do ser humano, os pesquisadores defendem que o jornalista pode ser muito bom em alguns aspectos e os softwares em outros e em nenhum deles é preciso haver competição, mas sim enxergar com otimismo uma oportunidade de melhoria em processos e em como fazer um jornalismo melhor para o público que o espera. Se o jornalismo de robôs pode ser enxergado como uma oportunidade, Matt Carlson (2014) defende que quem ganha com isso é, sobretudo, o público leitor, que vai se beneficiar com uma quantidade maior de conteúdos informativos disponíveis na Internet. Além disso, Carlson destaca que essa tecnologia ajuda o jornalismo a repensar seus próprios padrões que são facilmente perdidos pela percepção humana. Ele argumenta também que, olhando pelo lado negativo, o jornalismo de robôs pode ser fator em potencial para demissões e a mercantilização das notícias. Para além dos impactos no dia a dia da profissão, o jornalismo de robôs também levanta questões éticas, principalmente as que envolvem a autoria do texto. Se o software gerou o texto e o jornalista o programou, quem é o autor da notícia? Em um artigo publicado no jornal online The Vancouver Sun escrito por Jesse M. Kelly (2013), Alfred Hermida, professor na Universidade da Columbia Britânica, diz que assim como os seres humanos, algoritmos mais evoluídos que trabalham com inteligência artificial opinam e decidem o que será colocado no texto, ou seja, definem o valor notícia. Para ele, “todas as decisões editoriais foram tomadas pelo repórter, mas foram tomadas pelo repórter num algoritmo”. Os pesquisadores Tal Montal e Zvi Reich (2014) sugerem alguns parâmetros para a divulgação de notícias escritas por algoritmos. Segundo ele, para manter a ética e a integridade do conteúdo jornalístico a partir de narrativas automatizadas é necessário: • The byline should be attributed to the software vendor, or the programmer in the case of an individual in-house programmer. • The full disclosure should clearly state the algorithmic nature of the content (while describing the software vendor, or the programmer’s role in the organization), and detail the data sources of the particular story and the algorithm methodology. In case of integrative content generation, our suggested policy is as follows: • The byline should be attributed to the human journalist(s), as the representative of the collaborative work done with the algorithm, in accordance with the anthropomorphic characteristics of the modern journalistic credit.


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• The full disclosure should declare the objects created by an algorithm in the particular story (a chart, map, specific paragraph, etc.), as well as the content’s algorithmic nature (describing the software vendor’s business domain, or the programmer’s role), data sources of the story and the algorithm methodology. (MONTAL; REICH, 2014, p.16).

O jornalismo de robôs está em fase de discussão por diversas óticas e já chama a atenção dos jornalistas e profissionais da comunicação. O que está colocado em destaque até então são as qualidades do próprio jornalista enquanto comunicador, pois é ele quem está dando as diretrizes para os softwares fazerem os seus papéis. Fora os casos de robôs jornalistas que utilizam inteligência artificial para criar cenários e trabalhar de forma totalmente autônoma, os algoritmos analisados neste trabalho obedecem e trabalham conforme o código permite. É o que será mostrado nos próximos capítulos, em que leitores medem a percepção acerca do conteúdo automatizado.


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3. COMO O JORNALISMO DE ROBÔS É PERCEBIDO POR LEITORES

Enquanto o jornalismo de robôs se desenvolve, alguns exemplos de textos gerados por esta tecnologia já estão presentes no nosso dia a dia. Leitores do Los Angeles Times, Forbes, Yahoo Finance, entre outros, já recebem conteúdos criados automaticamente por algoritmos. Kris Hammond, cofundador da empresa americana Narrative Science prevê que em 2030 mais de 90% da produção de notícias nos Estados Unidos será automatizada (Levy, 2012). A exemplo das notícias que já estão sendo automatizadas e das implicações vindas de estudos já realizados sobre o tema propomos analisar a percepção de leitores acerca de conteúdos gerados por algoritmos que já estão circulando na Internet. Neste capítulo será apresentada a metodologia utilizada para a coleta das percepções.

3.1 Metodologias utilizadas

O foco desta pesquisa se volta para a percepção de leitores acerca do texto ou da mensagem com base no critério de qualidade, tanto no jornalismo praticado na era da Internet quanto o jornalismo de robôs. Em um primeiro momento, foi necessário entender o que o jornalismo de robôs significa para a sociedade e para o jornalismo. Para isso, utilizou-se da técnica pesquisa bibliográfica em que foi realizado um levantamento a respeito dos principais estudos sobre o tema e suas implicações. Foi encontrado pouco conteúdo sobre este tema no Brasil, inclusive todos os estudos de caso e principais artigos citados são estrangeiros, em sua maioria advinda de pesquisadores americanos. A pesquisa bibliográfica é um apanhado geral sobre os principais trabalhos já realizados, revestidos de importância, por serem capazes de fornecer dados atuais e relevantes relacionados com o tema. O estudo da literatura pertinente pode ajudar a planificação do trabalho, evitar duplicações e certos erros, e representa uma fonte indispensável de informações, podendo até se orientar de indagações. (MARCONI e LAKATOS, 1996, p. 24).

No que se refere ao tema desta pesquisa, delimitou-se a utilizar um tipo de tecnologia associada ao jornalismo de robôs que é a forma de texto pré-escrita, em que o algoritmo tem finitas possibilidades para a geração do texto. Marconi e Lakatos (1996) colocam que a delimitação de um tema auxilia no estabelecimento de um recorte para que o assunto não se


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torne muito complexo e/ou extenso. Por este motivo não fala-se de técnicas de inteligência artificial, por exemplo. Nos tópicos abaixo serão expostos o problema de pesquisa, as abordagens quantitativas e qualitativas utilizadas para coleta de dados, a amostragem e as hipóteses formuladas.

3.1.1 O problema de pesquisa e a abordagem quantitativa

As duas abordagens para coleta de dados foram definidas a partir do problema de pesquisa proposto. Marconi e Lakatos (1996, p.24), definem que o problema de pesquisa “deve ser levantado, formulado, de preferência em forma interrogativa.” Com base nisso e nos estudos de Arjen van Dalen (2012), Christer Clerwall (2014), Andreas Graefe (2016), Matt Carlson (2014) já citados neste trabalho, pretendeu-se responder duas perguntas: 1) Como o jornalismo de robôs é percebido por leitores? 2) É possível distinguir um texto gerado por algoritmo de um texto escrito por um repórter? Para conseguir entender como leitores percebem o conteúdo gerado por software e o conteúdo escrito por repórteres, essa pesquisa se dividiu em duas partes para a coleta dos dados: uma qualitativa e outra quantitativa, de forma que com as duas fosse possível conseguir dados e informações complementares sobre o mesmo problema. Segundo Fragoso, Recuero e Amaral (2011): A pesquisa quantitativa é adequada para apreensão de variações, padrões e tendências, mas é frágil na apreensão de detalhes e singularidades, razão pela qual os problemas de pesquisa para os quais o aprofundamento é mais importante que a generalização dos resultados solicita abordagens qualitativas. Embora comumente os métodos quantitativos e qualitativos sejam vistos como incompatíveis e mutuamente excludentes, é possível entendê-los como abordagens complementares, a serem mobilizadas conforme os objetivos de cada pesquisa, de forma integrada ou em etapas sucessivas. (FRAGOSO, RECUERO e AMARAL, 2011, p.67).

Marconi e Lakatos (1996) defendem que em geral nunca se utiliza somente um método ou uma técnica para obter as respostas, mas todos que forem necessários e/ou apropriados. “Na maioria das vezes, há uma combinação de dois ou mais deles, usados concomitantemente.” (Marconi e Lakatos, p.28).


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A primeira coleta de dados se deu a partir da pesquisa quantitativa, através de um formulário online, que conceitualmente pode se encaixar no tipo questionário. Segundo Gil (1999, p.128), um questionário é [...] uma técnica de investigação composta por um número mais ou menos elevado de questões apresentadas por escrito às pessoas, tendo como objetivo o conhecimento de opiniões, crenças, sentimentos, interesses, expectativas, situações vivenciadas, etc. (GIL, 1999, p.128).

No formulário utilizado, usuários leitores (mais detalhes sobre este público vide tópico 3.2 Amostragem) foram expostos a quatro primeiros parágrafos de quatro textos sobre um mesmo tema, de sites diferentes - um texto foi gerado por software e os demais por repórteres - e precisavam que identificar qual foi escrito por um repórter e qual foi gerado por um software, conforme ilustra a figura 4 abaixo:

Figura 4: Parte do formulário utilizado para coleta de dados. Fonte: a autora. Formulário lançado dia 02/11/2016.

As respostas contidas no formulário online serviram para entender as percepções iniciais de leitores acerca do conteúdo automatizado e do escrito por softwares, além de servir de subsídio para elaborar as perguntas e os critérios de qualidade para a parte qualitativa da pesquisa. As vantagens em ter utilizado um formulário questionário para a obtenção de resultados iniciais foram percebidas em alguns aspectos, como colocam Marconi e Lakatos (1996, p. 100):  Economia de tempo e obtenção de grande número de dados;  Atinge o maior número de pessoas simultaneamente;  Abrange uma área geográfica mais ampla;


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 Obtém respostas mais rápidas e precisas;  Menos risco de distorção, pela não influência do pesquisador.

A principal forma de distribuição desta parte da pesquisa foi através de redes de contatos online como a rede social Facebook, lista de e-mails e contatos de telefone, via aplicativos móveis. A plataforma utilizada para a criação do formulário online foi a do Google Forms. Essa plataforma auxiliou na distribuição através do link de compartilhamento e na análise e compilação dos dados que serão detalhados no próximo capítulo. Por ser online, o formulário atingiu diversas pessoas conhecidas de outros conhecidos e favoreceu uma amostragem heterogênea do público (mais detalhes no tópico 3.2 Amostragem).

3.1.2 - As abordagens qualitativas

Se a parte quantitativa se mediu através de percepções iniciais, a parte qualitativa se deu através de percepções guiadas e de forma mais aprofundadas e com um público selecionado. Nesta parte da pesquisa, os leitores passaram por três etapas: 1) a leitura dos quatro textos15; 2) definição da percepção em uma escala social, em que precisavam definir um conceito de 1 a 5 para afirmar se concordavam ou não com o critério de qualidade avaliado; 3) uma entrevista estruturada, em que respondiam quatro perguntas para finalizar a coleta dos dados. O objetivo nesta etapa foi entender a qualidade dos textos com base no que os leitores entendem e percebem em um texto jornalístico. Foram utilizados alguns critérios de qualidade para a avaliação dos participantes, descritos no tópico abaixo.

3.1.3 - O critério qualidade no jornalismo

Tentar definir o que é jornalismo de qualidade é tão difícil quanto o velho debate sobre o que é e o que não é arte. Em um primeiro momento, qualidade parece ser algo bastante subjetivo, pois dependem do interesse de cada pessoa, gostos e preferências. Para alguns, qualidade pode estar ligada a como os fatos são expressos em uma notícia levando em conta aspectos como objetividade e imparcialidade. Para outros, qualidade pode ser a tradução dos fatos, o que cada notícia impacta positiva e negativamente na vida das pessoas, ou seja, o 15

Os textos utilizados encontram-se no anexo A.


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olhar do jornalista como formador de opinião. E qualidade pode também ser medida como velocidade na informação, atualidade, credibilidade do jornalista e/ou do jornal em que ele trabalha, entre outros aspectos. Se para muitos pesquisadores o que se espera do jornalismo de robôs é a união dos algoritmos com a criatividade e a compreensão do jornalista para complementar o que o código coloca, a qualidade neste sentido pode ser medida em como leitores percebem a diferença entre um texto e outro, conforme Arjen van Dalen (2012), Christer Clerwall (2014), Andreas Graefe (2016), Matt Carlson (2014). Essa foi a proposta utilizada para compor este trabalho. Como base para definir critérios para conceituar qualidade no jornalismo, utilizou-se um estudo desenvolvido por Christofoletti (2010): Indicadores da Qualidade no Jornalismo: políticas, padrões e preocupações de jornais e revistas brasileiros e a tese de Jorge Pedro Sousa (2001) “Qualidade percebida de quatro jornais online brasileiros”. No estudo de Christofoletti (2010) foi realizada uma pesquisa que cobriu catorze estados nas cinco regiões brasileiras e os respondentes foram grupos jornalísticos com abrangência nacional e regional. Ao todo foram entrevistados 22 representante dos jornais.“Os dados colhidos nas respostas indicaram padrões e preocupações dos jornais e revistas brasileiros, na direção de indicadores de qualidade para a área” Christofoletti (2010, p.06). Os gestores que participaram da pesquisa concordaram que a ética é a que sinaliza os caminhos para a busca da qualidade, mas não chegaram a uma convergência de opiniões ou clareza sobre se existem regras ou padrões para alcançá-la. No jornalismo em escala global e no praticado em terras brasileiras, Qualidade se tornou sinônimo de busca de excelência técnica, se converteu em peça de marketing e em argumento determinante para a implantação de processos de controle e de gestão dos processos jornalísticos. (Christofoletti, 2010, p.05).

Para os 22 entrevistados, jornalismo de qualidade é o que tem: abordagens diferenciadas; amplitude; análise; apartidarismo; apego à verdade; apresentação agradável; apuração limpa e sem ruído; boa apuração; boas histórias e personagens interessantes; comprometimento com a comunidade; confiabilidade; contexto; correção; credibilidade; crítica; eficiência; elementos que permitam interpretar os fatos; ética; fidelidade; furo jornalístico; imparcialidade política; independência econômica; independência editorial; índice de erros zero; ineditismo; informação e não opinião; interesse público; interpretação da realidade e vai além dos fatos; investigação; liberdade de imprensa; melhor versão da verdade ; novidade; objetividade; pluralidade; precisão; prestação de serviço para o leitor; qualidade


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de apresentação; rapidez; relevância; responsabilidade; responsabilidade social; simplicidade; sintonia com o público; utilidade para o leitor; zelo. A Internet possibilitou que as mudanças acontecessem de maneira rápida e ágil, eliminando o desnecessário, rumando cada vez mais para o automático, o que não faz perder tempo, o que serve sem ser caro e o que facilita a vida das pessoas. Neste sentido, muitos destes aspectos entendidos como qualidade apontada no estudo de Christofoletti (2010) são perdidos. No segundo estudo utilizado, Sousa (2001) analisa a qualidade percebida por usuários e leitores acerca do jornalismo online e os sistemas hipermídia. Foram utilizados como base de avaliação jornais brasileiros (O Estado de São Paulo, A Folha de São Paulo, o Jornal do Brasil e O Globo) e os avaliadores foram estudantes portugueses e estudantes brasileiros. Os jornais foram selecionados por serem considerados os jornais de informação geral de referência no Brasil (Marques de Melo e Queiroz, 1998) e por terem edições em papel e online. A escolha dos públicos avaliadores se deu por conta de uma hipótese que Sousa levantou ao desenvolver a pesquisa que foi com base no consumo de notícias na Internet. Para ele, apesar de as notícias serem produzidas localmente, o consumo se dá globalmente. Para caracterizar qualidade no jornalismo online, Sousa utilizou três categorias: 1) Conteúdo (qualidade dos conteúdos e sua adaptação à Internet); 2) Ergonomia (adaptação do sistema ao usuário); 3) Interatividade/implicação do usuário (possibilidade de interação do usuário com o jornal, os jornalistas e o meio). O autor coloca que para um jornal online ter qualidade ele deve: [...] atualizar constantemente o noticiário, deve fornecer informação de background (acessível através de hiperligações, por exemplo) e deve estar concebido para a Internet , ou seja, deve ter textos redigidos com concisão, clareza e precisão; deve ter bases de dados, imagens e sons e permitir o acesso do usuário a esses arquivos; deve aproveitar as potencialidades do meio, como a inclusão de sons e imagens, a introdução de hiperligações (inclusive nos textos), a possibilidade de dar feedback, etc.]. Além disso, um jornal on-line deve apresentar informação com suficiente interesse e qualidade, para cativar os usuários, e deve ter os conteúdos submetidos à lógica da navegação multimídia. (SOUSA, 2001).

Com base nesses dois estudos expostos, os critérios escolhidos para que os leitores pudessem fazer suas avaliações em uma escala social e que remetem à qualidade foram:  Interesse: a forma como o conteúdo está disposto gera interesse no leitor?


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 Qualidade geral do texto: os fatos apresentados seguem uma linha de raciocínio que o leitor consegue acompanhar?  Informação: os fatos apurados informam?  Objetividade: o conteúdo vai direto ao ponto?  Precisão: os dados e as informações colocadas mostram precisão?  Relevância: a notícia é relevante para o dia a dia do leitor?  Fontes e dados confiáveis: os dados e fontes apresentadas são confiáveis? Com estes critérios foi elaborado um questionário com escala social, melhor discutido no tópico abaixo. 3.1.4 - O questionário qualitativo em escala social e a entrevista estruturada

Para que os leitores pudessem avaliar os textos dentro das categorias propostas, foi elaborado um questionário com uma escala social. Conceitualmente, Gil (1999, p.139) coloca que escalas sociais são “instrumentos construídos com o objetivo de medir a intensidade das opiniões e atitudes da maneira mais objetiva possível.” A escala social utilizada para avaliar a percepção e opinião dos leitores foi a de Likert. Gil (1999, p.146) entende que neste tipo de escala pede-se que as pessoas “manifestem sua concordância ou discordância em relação a cada um dos enunciados, segundo a graduação: concorda muito (1), concorda um pouco (2), indeciso (3), discorda pouco (4), discorda muito (5).” Neste caso, os leitores precisavam definir o quanto eles concordavam que os textos tinham ou não as categorias definidas para acentuar a qualidade percebida. Para finalizar, uma entrevista estruturada foi realizada. Conceituando a entrevista estruturada, Duarte (2008, p.62) diz que é “uma técnica qualitativa que explora um assunto a partir da busca de informações, percepções e experiências de informantes para analisá-las e apresentá-las de forma estruturada”. De acordo com Salvador (1980) apud Ribeiro (2008), a entrevista tornou-se um instrumento para obtenção de dados que não podem ser encontrados em registros e fontes documentais. A entrevista é uma das técnicas de coleta de dados considerada como sendo uma forma racional de conduta do pesquisador, previamente estabelecida, para dirigir com eficácia um conteúdo sistemático de conhecimentos, de maneira mais completa possível, com o mínimo de esforço de tempo. (ROSA; ARNOLDI, 2006, p.17).


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A entrevista estruturada se desenvolve a partir de uma relação fixa de perguntas, cuja ordem e redação permanecem invariáveis para todos os entrevistados. Neste percurso, as perguntas permitem: [...] explorar um assunto ou aprofundá-lo, descrever processos e fluxos, compreender o passado, analisar, discutir e fazer prospectivas. Possibilitam ainda identificar problemas, micro interações, padrões e detalhes, obter juízos de valor e interpretações, caracterizar a riqueza de um tema e explicar fenômenos de abrangência limitada. (DUARTE, 2008, p.62).

Marconi e Lakatos (1996, p.86) colocam algumas vantagens no uso da entrevista para obtenção de dados, sendo eles:  Pode ser utilizada com todos os segmentos da população: analfabetos ou alfabetizados;  Oferece maior oportunidade para avaliar atitudes, condutas, podendo o entrevistado ser observado naquilo que diz e como diz: registro de reações, gestos, etc;  Dá oportunidade para obtenção de dados que não se encontram em fontes documentais e que sejam relevantes e significativos;  Há possibilidade de conseguir informações mais precisas, podendo ser comprovadas, de imediato, as discordâncias;  Permite que os dados sejam quantificados e submetidos a tratamento estatístico. As perguntas estruturadas utilizadas para a entrevista foram: 1. O quanto você se sentiu informado ao ler as quatro notícias? 2. O que você levou em conta quando definiu qual era o texto gerado pelo software? 3. De forma geral, você acha que faltou alguma informação nos quatro textos? Se sim, o que e por quê essa/essas informações são importantes para você? 4. O que significa para você um texto jornalístico de qualidade? Assim se deu a abordagem qualitativa da pesquisa. Para isso foi necessário definir o público que seria entrevistado e os detalhes desta etapa estão no próximo tópico em que se fala da amostragem.


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3.2 Amostragem

A partir do problema de pesquisa proposto, das metodologias escolhidas, foi necessário definir o público e sua amostragem. Aqui dividem-se em duas partes: amostragem para a pesquisa quantitativa e para a qualitativa. Quantificar a amostragem é importante para, segundo Marconi e Lakatos (1996): [...] colher informações sobre um ou mais aspectos de um grupo ou numeroso, verifica-se, muitas vezes, ser praticamente impossível fazer um levantamento do todo. Daí a necessidade de investigar apenas uma parte dessa população ou universo. (MARCONI e LAKATOS, 1996, p. 37).

Para a pesquisa quantitativa o tamanho da amostra se deu considerando um universo infinito, já que a pesquisa foi feita na Internet e os respondentes eram de diversos estados brasileiros. Universos infinitos são aqueles que apresentam elementos em número superior a 100 mil. Neste caso, levou-se em conta a população brasileira, 200 milhões de pessoas. Para calcular o tamanho da amostra foi utilizado a calculadora online do site Netquest, conforme a figura 5 abaixo.

Figura 5: Calculadora de amostragem. Fonte: Site Netquest 16.

Considerando a população de 200 milhões com uma margem de erro de 5%, heterogeneidade de 50% e 95% de confiança, o total da amostragem foi de 385 respondentes. Para atender aos objetivos propostos sobre a percepção da qualidade do texto na pesquisa qualitativa, o público escolhido foi dividido em dois grupos. 16

Disponível em: http://www.netquest.com/br/painel/calculadora-amostras.html Acesso em: 06/11/2016.


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O primeiro grupo foi composto por estudantes de jornalismo e o segundo por leitores comuns. A escolha do primeiro grupo se caracterizou por uma amostragem não probabilística intencional. “Nesta, o pesquisador está interessado na opinião (ação, intenção, etc.) de determinados elementos da população, mas não representativos da mesma” (Marconi e Lakatos, 1996, p. 47). O objetivo de ter escolhido este público está para o fato de que os estudantes entendem do formato de um texto jornalístico, ou seja, são mais críticos em relação ao que se espera de uma notícia. Escolheu-se também pelo estudo desenvolvido por Arjen van Dalen (2012) detalhado no capítulo anterior em que ele coloca que o principal desafio do jornalismo de robôs está para a formação de novos jornalistas. Foram escolhidos 11 estudantes de jornalismo de várias fases diferentes do curso, conforme o quadro 2 abaixo:

Quadro 2: Perfil dos estudantes de jornalismo entrevistados Gênero Idade Fase do Curso

Natural de

Ocupação

Masc.

22

Segunda

Joinville - SC

Auxiliar Administrativo

Fem.

17

Segunda

Jaraguá - SC

Não trabalha

Fem.

18

Segunda

Joinville - SC

Não trabalha

Masc.

25

Quarta

Joinville - SC

Conferente

Fem.

18

Quarta

Joaçaba - SC

Bolsista em Comunicação

Fem.

21

Quarta

Joinville - SC

Mídias sociais

Masc.

19

Quarta

São Sebastião - SP

Não trabalha

Masc.

23

Sexta

São Paulo - SP

Analista de Marketing

Fem.

20

Sexta

Concórdia - SC

Estagiária em Assessoria de Comunicação

Fem.

20

Sexta

Joinville - SC

Estagiária em Comunicação

Masc.

20

Sexta

Joinville - SC

Estagiário em Assessoria de Imprensa

Quadro 2: Perfil dos estudantes de jornalismo entrevistados. Fonte: própria autora. Dados retirados da amostragem da pesquisa qualitativa.

O segundo grupo de leitores foram pessoas de vários contextos sociais diferentes. Também se caracterizou como uma amostragem não probabilista intencional e foram escolhidos a fim de existir uma heterogeneidade para ter diversas opiniões sobre o mesmo tema. Os dois grupos foram escolhidos desta forma para que no tratamento dos dados fosse possível existir um contraponto de opiniões: o que um grupo que entende da estrutura de uma notícia valoriza em um jornalismo de qualidade e o que é qualidade para o leitor. Para este


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grupo também ficou definido uma quantidade de 11 entrevistados, conforme a quadro 3 abaixo: Quadro 3: Perfil dos leitores entrevistados Gênero Idade

Natural de

Escolaridade

Formação

Ocupação

Masc.

40

Jacareí - SP

Superior completo

Linguística

Professor de Inglês

Fem.

37

Curitiba - PR

Superior Completo

Psicologia

Consultor de Recursos Humanos

Fem.

48

Joinville - SC

Superior Completo

Administração

Secretária Executiva

Fem.

20

Porto Alegre RS

Superior Incompleto

Publicidade e Propaganda

Estagiária em Comunicação

Masc.

30

Joinville - SC

Superior Incompleto

Marketing

Analista de Marketing

Masc.

30

Publicidade e Propaganda

Analista de RH

Masc.

25

Administração

Analista de Suporte

Masc.

27

Engenharia de Software

Desenvolvedor Front-End

Fem.

30

Joinville - SC

Superior Completo

Comércio Exterior

Analista Administrativo

Masc.

26

Joinville - SC

Superior Incompleto

Design

Designer Junior

Fem.

50

Joinville - SC

Ensino Médio Completo

-

Do lar

Rio de Janeiro - RJ Superior Completo Joinville - SC

Superior Incompleto

Rio de Janeiro - RJ Superior Completo

Quadro 3: Perfil dos leitores entrevistados. Fonte: própria autora. Dados retirados da amostragem da pesquisa qualitativa.

Para a pesquisa quantitativa o público definido foi de 385 pessoas e para a pesquisa qualitativa o grupo foi um total de 22 pessoas. Vale lembrar que para a pesquisa qualitativa as entrevistas estruturadas foram feitas individualmente para cada pessoa incluída no quadro.

3.3 As hipóteses

A construção das hipóteses que nortearam este trabalho se deu a partir da definição do problema de pesquisa. Para Marconi e Lakatos (1996, p. 26) hipótese é “uma proposição que se faz na tentativa de verificar a validade de resposta existente para um problema”. Como a proposta do trabalho se voltou para o texto jornalístico e os critérios de qualidade acerca da percepção de leitores, as hipóteses levantadas foram: E. Os estudantes leitores vão ter percepções parecidas por ser um grupo que consome quase o mesmo tipo de conteúdo;


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F. Os entrevistados e os respondentes da pesquisa conseguirão identificar os textos escritos por repórteres por pequenos detalhes como a tradução de dados e o que isso afeta na população local; G. Os leitores e entrevistados vão sentir falta de informações complementares nos textos escritos por repórteres; H. O texto gerado pelo algoritmo será percebido como o que tem mais dados e menos contextualização.

Essas hipóteses são confrontadas nos resultados alcançados demonstradas nos capítulos a seguir.


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4. RESULTADOS ALCANÇADOS “As a rule of thumb, the more human your job feels,the safer it is.” Kotecki, 2015

Ao longo de uma semana17 foram realizadas as pesquisas quantitativa e qualitativa com o objetivo de obter a percepção dos leitores acerca do jornalismo de robôs. Enquanto a pesquisa quantitativa foi realizada com um grupo diverso de pessoas espalhadas pelo Brasil através de um formulário online, a pesquisa qualitativa foi realizada com grupos selecionados de leitores. Os resultados estão descritos a seguir.

4.1 Resultado inicial: pesquisa quantitativa

A pesquisa quantitativa para aquisição dos dados se deu através de um formulário online distribuído na Internet por meio de um link de compartilhamento. Por utilizar essa forma de distribuição, os respondentes são de diversas regiões do Brasil. O objetivo do formulário era captar as percepções iniciais dos leitores acerca de uma notícia gerada pelo algoritmo e outras três escritas por repórteres. O resultado está detalhado nos próximos tópicos. 4.1.1 - Dados iniciais: perfil do público respondente

A amostragem definida para a pesquisa quantitativa foi de 385 respondentes. Abaixo, na tabela 1, estão os dados iniciais divididos por gênero e idade. Os dados completos dos respondentes, como escolaridade, cidade e formação estão no apêndice B. Tabela 1: Perfil geral dos respondentes da pesquisa quantitativa Respondentes Homens Mulheres Média de idade 385

181

204

25

Fonte: própria autora. Dados coletados na pesquisa quantitativa. 17

A pesquisa quantitativa foi divulgada de forma online no período do dia 31/10 ao dia 04/10/2016. A abordagem qualitativa foi feita em dois dias: 02/11 e 03/11/2016.


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4.1.2 - Compilação das respostas

O público respondente foi exposto a um questionário online que continha quatro parágrafos iniciais de quatro textos de diferentes jornais americanos, traduzidos para o português - um texto foi gerado por software e os demais escritos por repórteres. Após a leitura, o público precisava definir qual texto foi gerado por software e qual foi escrito por um repórter. No final, eram expostos às respostas corretas. A ideia deste formulário foi entender a percepção inicial das pessoas somente com base em suas leituras. Nos gráficos abaixo, estão as respostas compiladas em porcentagens. O primeiro resultado é o do texto 1, conforme a figura 6 abaixo. A notícia foi retirada do site NBC Bay Area, um portal de notícias americano. Este texto originalmente foi escrito por um repórter. A maior parte dos leitores que participou da pesquisa entendeu que o texto na verdade foi gerado por um algoritmo.

Figura 6: Primeira pergunta do formulário quantitativo. Fonte: própria autora. Formulário lançado dia 02/11/2016.

O segundo texto foi retirado do site do jornal Los Angeles Times. Este foi escrito originalmente por um algoritmo. Conforme a figura 7 abaixo, os leitores e participantes da pesquisa entenderam que na verdade o texto foi gerado por um repórter.


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Figura 7: Segunda pergunta do formulário quantitativo. Fonte: própria autora. Formulário lançado dia 02/11/2016.

O terceiro texto foi retirado do site de notícias americano SF Gate. Originalmente o texto foi escrito por um repórter. Conforme a figura 8 abaixo, a maior parte do público entendeu que este texto foi na verdade gerado por um algoritmo.

Figura 8: Terceira pergunta do formulário quantitativo. Fonte: própria autora. Formulário lançado dia 02/11/2016.


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E na quarta e última pergunta realizada, a notícia foi retirada do site BNO News, outro portal de notícias americano. O texto originalmente foi escrito por um repórter e a maior parte do público respondente entende que foi de fato escrito por um repórter, conforme imagem 9 abaixo.

Figura 9: Quarta pergunta do formulário quantitativo. Fonte: própria autora. Formulário lançado dia 02/11/2016.

4.2 Resultado inicial: pesquisa qualitativa

A pesquisa qualitativa foi feita com um grupo selecionado de participantes e foi dividida em duas partes: a primeira através de um questionário com escala social e a segunda uma entrevista estruturada. Os leitores escolhidos se dividiram em dois grupos: o primeiro de leitores comuns de diversas realidades e o segundo com estudantes de jornalismo que são leitores, mas também conhecem da estrutura de um texto jornalístico e poderiam trazer a percepção de quem produz a notícia. Nesta parte da pesquisa, 22 pessoas participaram.

4.2.1 - Dados iniciais: perfil do público respondente

O primeiro grupo a participar da pesquisa foi o de leitores comuns. Abaixo, na tabela 2 estão os dados iniciais deste público.


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Tabela 2: Dados iniciais dos leitores entrevistados Número de Entrevistados

Homens

Mulheres

Média de idade

11

6

5

30

Fonte: própria autora. Dados coletados na pesquisa qualitativa.

O segundo grupo de entrevistados foram os estudantes de jornalismo de segunda, quarta e sexta fase do curso. Abaixo na tabela 3 estão os dados iniciais do grupo. Tabela 3: Dados inicias dos estudantes de jornalismo entrevistados Número de Entrevistados

Homens

Mulheres

Média de idade

11

5

6

20

Fonte: própria autora. Dados coletados na pesquisa qualitativa.

4.2.2 Compilação das respostas do questionário com escala social

Os dois grupos foram expostos a quatro textos (os mesmos utilizados na etapa anterior, porém completos), sendo um deles gerado por software e três escritos por repórteres. Após a leitura, precisavam classificar esses textos em uma escala social quanto eles concordavam de 1 a 5 que os textos eram: 

Interessante;

Qualidade geral do texto;

Informativo;

Objetivo;

Preciso;

Relevante;

Fontes e dados confiáveis; Nas figuras 10 e 11 abaixo, está uma média das notas atribuídas em cada categoria

para os quatro textos pelo grupo de leitores diversos e estudantes respectivamente.


69

Figura 10: Compilação de resultados do questionário pelo grupo de leitores. Fonte: própria autora. Questionário respondido no dia 01/11/2016.

Figura 11: Compilação de resultados do questionário pelo grupo de estudantes. Fonte: própria autora. Questionário respondido no dia 01/11/2016.

Ao final do questionário, estudantes e leitores precisavam definir qual texto foi gerado por um algoritmo. A compilação das respostas está nas figuras 12 e 13 abaixo.


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Figura 12: Percepção dos estudantes sobre o texto gerado pelo algoritmo. Fonte: própria autora. Questionário respondido no dia 01/11/2016.

Figura 13: Percepção dos leitores sobre o texto gerado pelo algoritmo. Fonte: própria autora. Questionário respondido no dia 01/11/2016.

O texto gerado pelo algoritmo é o primeiro, retirado do site do jornal Los Angeles Times. 4.2.3 Compilação das respostas da entrevista estruturada

A entrevista estruturada foi realizada individualmente no dia 01/11/2016 com os 22 respondentes do questionário com escala social mencionados no tópico anterior. As perguntas utilizadas para compor a pesquisa foram: 1. O quanto você se sentiu informado ao ler as quatro notícias?


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2. O que você levou em conta quando definiu qual era o texto gerado pelo software? 3. De forma geral, você acha que faltou alguma informação nos quatro textos? Se sim, o que e por quê essa/essas informações são importantes para você? 4. O que significa para você um texto jornalístico de qualidade? No quadro 4 abaixo está uma compilação das respostas dos leitores e dos estudantes. As respostas completas e detalhadas estão no apêndice C e D. Quadro 4: Compilação das respostas dos estudantes e leitores entrevistados Respostas dos leitores

Respostas dos estudantes

1. O quanto você se sentiu informado ao ler as quatro notícias? De modo geral, os leitores estudantes não Os leitores se sentiram bem informados e consideram se sentiram bem informados em relação ao que com essas informações iniciais já daria para ter uma conteúdo. Em suas percepções as notícias noção do que estava acontecendo. Valorizaram a estavam pouco contextualizadas e precisão dos dados nos quatro textos. confusas. 2. O que você levou em conta quando definiu qual era o texto gerado pelo software? A maior parte dos entrevistados acredita que o texto gerado pelo algoritmo é o que tem mais dados sem contextualização.

Os estudantes acreditam que o texto gerado pelo software é o mais objetivo e simples e o que tem mais números e dados.

3. De forma geral, você acha que faltou alguma informação nos quatro textos? Se sim, o que e porque essa/essas informações são importantes para você? Os entrevistados ficaram divididos entre os que acham que não faltaram informações e os que acham que faltaram informações complementares e uma maior contextualização dos dados, o que significam cada um, quais são os riscos para população, etc.

De modo geral, os estudantes sentiram falta de uma contextualização melhor sobre os dados, previsões do que pode acontecer em decorrência dos terremotos.

4. O que é para você um texto jornalístico de qualidade? Boa escrita (sem erros de ortografia); Fácil entendimento; Informações completas; Fontes confiáveis; Informações corretas; Dados; Contextualização das informações; Tradução dos dados; Objetivo; Informativo; Sem ambiguidade; Credibilidade do repórter; Neutralidade; Linguagem acessível para todos os públicos; Fazer sentido no todo.

Trazer todos os fatos; Fontes confiáveis; Linguagem simples e acessível para todos os públicos; Contextualização; Pluralidade de fontes; Ouvir todos os lados; Objetividade; Factualidade; Relevância para o público; Boa apuração; Qualidade na escrita.

Quadro 4: Compilação das respostas dos estudantes e leitores entrevistados. Fonte: própria autora. Entrevistas realizadas no dia 01 e 02 de outubro de 2016.


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4.3 Análise dos resultados

A partir dos dados coletados nos questionários aplicados são apresentadas e analisadas as respostas obtidas. Conforme proposto, o objetivo era avaliar a percepção sobre a narrativa automatizada gerada por um algoritmo quando comparada com textos escritos por repórteres a partir de critérios que indicam qualidade. Dessa forma, leitores foram expostos a quatro parágrafos de quatro textos de fontes diferentes. Vale ressaltar que todos os textos foram retirados de sites de notícias americanos, por não ter nenhum caso de jornalismo de robôs sendo utilizados nas redações brasileiras. A começar pelo formulário online que atingiu um público maior (385 participantes) e serviu como um pré-teste para as etapas qualitativas, é possível perceber que o público encontrou dificuldades para distinguir qual texto foi gerado pelo software e qual foi escrito por um repórter. Com exceção do último texto em que 86% do público acertou a resposta, os três demais ficaram com resultados equilibrados. A julgar pelas informações contidas nos parágrafos avaliados pode-se afirmar que se trata de um lead clássico (Canavilhas, 2006) uma vez que as perguntas iniciais de uma notícia são respondidas (o que, quem, quando, onde e por quê), atendendo ao que o jornalismo factual pede. Nesta abordagem não é possível saber o que cada respondente levou em conta para indicar quem escreveu o texto, e talvez o maior resultado alcançado nesta etapa seja a escolha não ter ficado delimitada entre uma ou outra razão, entendendo assim que todos os textos cumprem o seu papel no que diz respeito às informações iniciais contidas no primeiro parágrafo de cada texto. Pensando nisso, os quatro textos continham de fato uma estrutura textual bastante parecida o que dificultou mais a percepção de qual foi escrito por um repórter ou algoritmo. O que todos os textos têm em comum é que trazem informações numéricas sem muita contextualização do que esses dados trazem de benefício ou malefício para quem está recebendo a notícia, ou seja, o público leitor. Neste sentido, uma perspectiva que podemos adotar para analisar os resultados é a síntese de leitura dos dados, ou, o quanto o repórter e algoritmo traduzem essas informações para a população. No primeiro texto, 64,3% dos respondentes disseram que este foi gerado por um algoritmo, mesmo que o repórter tenha trazido informações complementares como detalhes de prejuízos ou danos para a população. No segundo texto, agora gerado por um algoritmo, 55,8% dos respondentes acreditam que foi escrito por um repórter, mesmo que este não forneça informações complementares como no


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primeiro caso. No terceiro texto, escrito por um repórter, 64,9% dos respondentes acreditam que foi gerado por um algoritmo e não traz nenhuma informação complementar, e o texto é direto e informativo e somente apresenta os dados. Já no último texto, o que tem um resultado mais significativo de todos os demais, 86,7% acredita que este foi escrito por um repórter, quando de fato foi. É possível que a diferenciação que o público fez neste caso foi com base nas informações complementares como o alerta de tsunami e as fontes oficiais em discurso indireto. Pegando este ponto de vista e comparando com os resultados atingidos nas outras abordagens, percebemos que no questionário de escala social, quando perguntado para os respondentes quem escreveu o texto, os grupos de forma geral obtiveram pontuações altas tanto para o software quanto para o repórter, mostrando mais uma vez a dificuldade na distinção entre um e outro. Para o grupo de estudantes, o texto 1 e o texto 3 são os mais têm características de um texto gerado por um software, sendo o texto 1 com maior avaliação. Ainda comparando os resultados com a entrevista estruturada, os dois públicos concordam que o texto gerado pelo algoritmo deveria ser o mais simples, direto e objetivo sem contextualização dos dados e números.

4.3.1 Abordagem qualitativa

Considerando agora as abordagens qualitativas - questionário com escala social e entrevista estruturada - é possível entender melhor a percepção de cada grupo de respondente. A começar pelo grupo de leitores no questionário com escala social, os critérios utilizados para avaliar a qualidade do texto ficaram todos bem pontuados, inclusive o texto gerado pelo software ficou com nota máxima em duas categorias - objetivo e fontes e dados confiáveis. Essa alta pontuação tem relação também em como os leitores perceberam os textos ao tentarem indicar qual foi escrito pelo algoritmo. O gráfico mostra que os respondentes ficaram bastante divididos, sendo que o que mais pontuou na verdade foi escrito por um repórter do SF Gate. Quando perguntado aos leitores o que eles levaram em conta para indicar o texto automático, consideraram que foi o que tinha mais dados sem contextualização. Analisando os três textos mais pontuados (1,2 e 3) essa afirmativa faz sentido, já que são os textos que contam com mais dados sem grandes contextualizações. Olhando para os resultados alcançados no segundo grupo, o de estudantes, é possível perceber algumas diferenças nas percepções. A começar pelo questionário de escala social,


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em que os textos ficaram com menos pontuações que os avaliados pelos leitores. Essa diminuição nos valores pode ter relação com a própria escolha do público, uma vez que já conhecem a estrutura de um texto jornalístico e têm mais criticidade no momento da avaliação. Nota-se que o texto gerado pelo software é percebido pelos estudantes como o menos interessante, com menos qualidade na escrita e o menos preciso. Ao avaliarem qual texto foi gerado pelo algoritmo, os estudantes pontuaram mais o primeiro texto (que foi de fato gerado pelo software) e o quarto texto, menos pontuado pelo grupo de leitores. A definição para os estudantes se deu a partir da objetividade e simplicidade na escrita, além do que tem mais dado e números. É importante perceber que existe uma diferenciação do ponto de vista da informação: enquanto o público de leitores se sentiu bem informado, os estudantes não, além de terem se sentido mais confusos em relação ao que estava posto. Os dois grupos concordam quando o que sentiram falta foram as informações adicionais e a tradução dos dados expostos. Para todos os entrevistados, essas informações são importantes para a população tomar as medidas necessárias. Talvez o resultado mais interessante deste estudo seja que em nenhuma das abordagens utilizadas para obtenção das respostas, o público respondente conseguiu identificar facilmente o conteúdo gerado por software do escrito por repórteres. Como colocou Clerwall (2014) em seu estudo de percepção, a falta de diferença pode ser vista como um indicador de que o software está fazendo um bom trabalho. Olhando para as categorias avaliadas na escala social do questionário qualitativo, os estudantes e os leitores concordam que o texto gerado pelo algoritmo é pouco interessante, porém, é bem avaliado em todas as demais características. Comparando essas pontuações no que os dois grupos valorizam em um texto jornalístico de qualidade, é possível perceber que o algoritmo está cumprindo bem o seu papel. Por outro lado, assim como Clerwall (2014) ressaltou é o jornalista quem está fazendo um trabalho pobre? Pensando por este ponto de vista, o que os entrevistados valorizam em um texto é a contextualização e tradução dos dados e este foi o ponto que mais sentiram falta em todos os textos lidos e avaliados. No estudo proposto por Christofoletti (2010) os entrevistados colocam que a rapidez é uma característica para o jornalismo de qualidade. Talvez a velocidade, um fator importante na adoção de novas tecnologias no jornalismo possa compensar na entrega de mais conteúdos, porém menos “interessantes”? Marcondes Filho (2000) já pontuava que a presença da Internet nas rotinas jornalísticas exige dos profissionais a entrega de conteúdos com maior velocidade e que o jornalista precisa trabalhar na no ritmo do sistema.


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A maior parte dos leitores entrevistados caracterizou o texto gerado pelo algoritmo como o que tem mais dado e menos contextualização. Se uma opção para o trabalho do jornalismo de robôs é a união entre a máquina e o repórter (Aljazairi, 2016), será que a contextualização não deveria ficar por conta do jornalista? Van Dalen (2012) observa que os jornalistas reconhecem que o conteúdo automatizado pode ser uma ameaça para alguns profissionais, os que cobrem pautas rotineiras, por exemplo, porém, no mesmo estudo aponta que os jornalistas entrevistados enfatizam algumas forças que eles têm e que são necessários para um jornalismo de qualidade como criatividade, flexibilidade e habilidades analíticas, indicando que o jornalismo mais avançado - grandes reportagens e textos mais profundos não é ameaçado pelo jornalismo de robôs. No que se refere ao presente estudo, os conteúdos escritos por repórteres receberam avaliações melhores em características como fontes e dados confiáveis, interessante e informativo, enquanto o software ficou mais bem classificado como objetivo e relevante. Uma visão otimista seria que o conteúdo automatizado liberará recursos para os jornalistas fazerem tarefas que exijam outras habilidades e deixar as rotinas que podem ser automatizadas para os algoritmos. Flew (2012, p. 167), coloca que "em última análise, o valor de utilidade do jornalismo computacional vem quando liberta os jornalistas do trabalho de baixo nível de descoberta e obtenção de fatos, permitindo um maior foco na verificação, explicação e comunicação de notícias". Em outra ótica positiva, como coloca Matt Carlson (2014) quem ganha com isso é, sobretudo, o público leitor, que vai se beneficiar com uma quantidade maior de conteúdos informativos disponíveis na Internet, mas com risco de serem menos interessantes e de menos qualidade, tanto do repórter quanto do algoritmo. Por outro lado, o excesso de informação faz com que a notícia perca o seu valor dentro do emaranhado de outras notícias que estão disponíveis na rede. O ciberespaço é o local onde todo o conteúdo está disponível e cabe ao jornalista ser criterioso ao escolher noticiar uma a outra notícia (Santos, 2014). Nota-se também que nos exemplos utilizados para avaliar a percepção dos leitores, apesar de estarem no ciberespaço, nenhum deles utiliza as ferramentas que estão à disposição dos criadores das notícias como a utilização de hiperlinks e elementos multimídia a fim de complementar a informação (Canavilhas, 2006). Neste caso, perde-se a oportunidade de dizer algo a mais ao leitor, até mesmo para tranquilizá-lo, caso aquela notícias não seja de tanto impacto para o seu dia a dia.


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Para ter uma ideia da dimensão dos fatos noticiados nos quatro textos, nos propomos a entendê-los e traduzi-los. Conforme o quadro 5 abaixo, é possível interpretar a magnitude dos terremotos e seus efeitos. Quadro 5: Magnitude e efeitos dos terremotos Magnitude

Efeitos

Menor que 3,5

Geralmente não sentido, mas gravado.

Entre 3,5 e 5,4

Às vezes sentido, mas raramente causa danos.

Entre 5,5 e 6,0

No máximo causa pequenos danos a prédios bem construídos, mas pode danificar seriamente casas mal construídas em regiões próximas.

Entre 6,1 e 6,9

Pode ser destrutivo em áreas em torno de 10 km do epicentro.

Entre 7,0 e 7,9

Grande terremoto. Pode causar sérios danos numa grande faixa.

8,0 ou mais

Enorme terremoto. Pode causar graves danos em muitas áreas mesmo que esteja a centenas de quilômetros.

Quadro 5: Magnitude e efeitos de terremotos. Fonte: Ecalculo USP. Disponível em: <http://ecalculo.if.usp.br/funcoes/grandezas/exemplos/exemplo5.htm> A escala Richter. Acesso em 13/11/2016.

Voltando aos textos utilizados para a avaliação de percepção, nos três primeiros casos o terremoto não passa da casa de magnitude 3 e conforme o quadro acima, raramente causa danos às áreas atingidas. A pergunta que se pode fazer é: o jornalista precisa mesmo noticiar essa informação que pode mais alarmar a população do que de fato informar? Ou ele pode sim informar, porém complementar com a tradução dos dados, alertando que esse tipo de terremoto raramente causa danos? Ou ainda pode deixar essa tarefa para o algoritmo fazer? Já no quarto texto, a magnitude anunciada é de 6,5 e conforme o quadro já é considerado um terremoto destrutivo próximo ao epicentro. Neste caso, a reflexão que se pode fazer é: as informações iniciais passadas pela BNO News foram essenciais para não causar pânico na população ou mesmo nesta situação o papel do repórter era informar que o abalo é considerado forte e a população precisa ficar em estado de alerta? Considerando que o local do terremoto foi na Indonésia, para a maior parte do público leitor dos Estados Unidos, de fato não tem tanta urgência saber das consequências do terremoto, uma vez que não é próximo a ponto de precisarem saber. Agora, considerando que o site de notícias está para o mundo, não seria interessante o complemento das informações mesmo assim? Pensando neste sentido, Lima Junior (2008) aponta que a Internet se transformou num mar de informações e


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cabe ao jornalista trabalhar para obter informações consolidadas e contextualizadas e que essa tarefa é complexa. Para finalizar é possível notar que em cada abordagem utilizada pode-se adquirir uma leitura sobre como o público leitor recebeu os conteúdos. Enquanto na quantitativa o critério era somente criar padrões aleatórios - se é que eles existem - para tentar perceber qual texto foi gerado por algoritmos e qual escrito por um jornalista, na qualitativa os respondentes precisavam refletir sobre o que estavam lendo acerca dos critérios de qualidade estabelecidos. O ponto em comum e talvez a descoberta mais valiosa desta pesquisa foi perceber que jornalismo de qualidade é, para os participantes, o que contextualiza, que clareia a informação ao leitor, que traz os dados mas traz também o que esses dados significam para o contexto em que ele está situado. Com tantas informações e textos parecidos, o que no fim vai se destacar é o conteúdo mais humano e empático.


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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O jornalismo de robôs é fruto da evolução da tecnologia que desde sempre intervém no jornalismo. Pesquisadores estrangeiros já falam sobre o tema há pouco mais de quatro anos com os olhos atentos aos movimentos deste, que pode se afirmar como um novo gênero jornalístico do futuro. Por ser um assunto novo e com poucos estudos realizados no Brasil, essa pesquisa se deu para entender como leitores percebem um conteúdo gerado por software e um escrito por repórter sobre um mesmo tema. Com isso, o principal objeto deste estudo se voltou ao texto ou a mensagem que o repórter ou algoritmo passam ao público leitor com base na qualidade das informações contidas nas notícias. O objetivo geral desta pesquisa foi estudar o jornalismo de robôs na criação de narrativas automatizadas e como especificidade a percepção dos leitores acerca destes conteúdos. Neste sentido foi possível atingir todos os objetivos propostos, uma vez que conseguimos entender como os leitores perceberam os conteúdos através de entrevistas estruturadas e se eles conseguiam identificar dentre os quatro textos expostos qual foi o gerado pelo algoritmo. Além disso, conseguimos discutir as semelhanças e diferenças entre os textos analisados com base no que os participantes da pesquisa valorizam em cada característica. Para conseguir encontrar essas respostas, utilizamos duas abordagens de coleta de dados: quantitativa (questionário online) e qualitativa (questionário com escala social e entrevista estruturada). Nas duas, foi possível identificar padrões nas respostas obtidas. Conforme a análise de dados apresentada no capítulo anterior pode-se perceber que o público respondente e participante das entrevistas teve dificuldades para conseguir distinguir um texto de outro. Na pesquisa quantitativa, por exemplo, com exceção do texto 4, os demais ficaram com metade dos votos para cada opção. Já nas abordagens qualitativas identificou-se que os respondentes concordaram que sentiram falta de informações contextualizadas e com a devida explicação dos dados expostos e isso valeu para todos os quatro textos apresentados. Essas primeiras compilações ficam melhores explicadas quando confrontadas com as hipóteses de pesquisa definidas no início deste trabalho, que foram:

A.

Os estudantes leitores terão percepções parecidas por ser um grupo que

consome quase o mesmo tipo de conteúdo;


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B.

Os entrevistados e os respondentes da pesquisa conseguirão identificar os

textos escritos por repórteres por pequenos detalhes como a tradução de dados e o que isso afeta na população local; C.

Os leitores e entrevistados vão sentir falta de informações complementares nos

textos escritos por repórteres; D.

O texto gerado pelo algoritmo será percebido como o que tem mais dados e

menos contextualização.

A hipótese A se confirma, uma vez que os resultados obtidos na entrevista estruturada e no questionário com escala social estabelecem um padrão. Interessante foi perceber que na entrevista, os estudantes não se sentiram tão bem informados a partir dos textos lidos quanto o público de leitores, o que também assegura que a escolha deste público trouxe uma criticidade a mais para a composição da pesquisa. Os dados mostram que a hipótese B não se confirma, uma vez que, em nenhuma abordagem o público respondente conseguiu expressar com certeza qual texto foi de fato gerado pelo repórter. Um exemplo disso é que na pesquisa quantitativa, maior parte do público (55,8%) acreditou que o texto gerado pelo algoritmo foi na verdade escrito pelo repórter. A tradução dos dados e a contextualização das informações aparecem como o que os entrevistados mais sentiram falta na estrutura da notícia. Talvez se em todos os textos essas informações estivessem presentes, esta hipótese se confirmaria. A hipótese C se confirma com certeza na pesquisa qualitativa, já que como exposto acima, essa característica foi a que mais o público sentiu falta nos textos. Neste sentido, os respondentes não levaram em conta que informação contextualizada vale somente para o texto do repórter, mas também para o do algoritmo, o que pode ser considerado como uma característica importante no que os respondentes acreditam ser jornalismo de qualidade. Por fim, na hipótese D, conforme já mencionado, o público respondente teve dificuldades em distinguir um texto do outro, já que a estrutura de cada texto era bastante parecida e em todos os casos os dados estavam presentes com pouca contextualização. Podese considerar que essa hipótese se confirma em partes, uma vez que nas duas abordagens os textos com maior quantidade de números e dados são os mais avaliados como sendo gerado pelo algoritmo. Porém, é de se destacar que os textos escritos pelos repórteres também continham dados sem contextualização, o que dificultou a escolha dos respondentes. Com base nesse confronto de hipóteses com os dados, pode-se concluir e colocar como descobertas desta pesquisa que o jornalismo de robôs oferece ao jornalismo algumas


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possibilidades, como a velocidade na entrega de informações, a oportunidade de trabalhar com dados de forma automática e quase autônoma e, numa ótica entusiasta, a liberação do jornalista para trabalhar em assuntos que precisem de mais investigação, profundidade e criatividade. Se este vai ser o melhor caminho para a inserção completa desta tecnologia nas redações mundo afora, ainda é uma questão bastante aberta. O que se pode retirar de lição deste trabalho é que o público valoriza informação de qualidade, mesmo no tsunami de notícias e conteúdos na Internet e que a completa tradução dos dados e informações que façam sentido para o contexto das pessoas faz a diferença entre um jornalismo de robôs e um jornalismo de seres humanos empáticos e preocupados com o leitor que está do outro lado, esperando pela informação. Talvez o caminho da união desta tecnologia ao jornalismo se assemelhe ao que foi o jornalismo guiado por dados e o jornalismo digital em base de dados, explorados com mais detalhes no primeiro capítulo, em que com os dados digitais é possível oferecer ao leitor propostas diferenciadas na contextualização de informações. Vale ressaltar também, que neste trabalho foi utilizado uma das abordagens do jornalismo de robôs e um exemplo de texto automatizado. Não significa dizer que todos os conteúdos automatizados quando confrontados com conteúdos escritos por repórteres terão o mesmo resultado. A exemplo dos estudos de caso expostos no capítulo dois há outros métodos de utilização do jornalismo de robôs e que estão trazendo produtividade e qualidade de informação para o público leitor. O tema deste trabalho abre muitas possibilidades e caminhos de pesquisa, assim como muitas outras mudanças no jornalismo podem se tornar reais, como a união do jornalista ao programador de software ou mesmo a junção dos papéis, a ética com a divulgação de conteúdos automatizados em que o leitor saiba quem de fato escreveu as notícias, a utilização cada vez mais crescente de dados na formação de notícias, entre outros recortes. O que se sabe é que os avanços continuarão a existir e acredito que estamos no meio de uma transição de mais uma evolução da tecnologia no jornalismo.


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88

APÊNDICES

APÊNDICE A - Relação de empresas que usam/desenvolvem algoritmos em narrativas automatizadas


89

APÊNDICE B - Dados completos da pesquisa quantitativa Cidade

Quantidade

Balneário Camboriú

2

Barueri

1

Blumenau

9

Cachoeirinha

1

Curitiba

30

Florianópolis

8

Itajaí

3

Jaraguá do Sul

8

Joinville

290

Juazeiro do Norte

1

Laguna

3

Massaranduba

1

Matinhos

1

São Francisco do Sul

2

Pinhais

2

São Paulo

6

Santana de Parnaíba

1

Ribeirão preto

1

Montenegro

1

Palhoça

2

Porto Alegre

1

Pontal do Paraná

1

Santiago

1

Videira

1

Rio de Janeiro

1

São Bernardo do Campo

2

Ourinhos

1

São Bento do Sul

1

Osasco

1

Natal

1

Recife

1

Total

385

Curso de Formação

Quantidade

Administração

19

Administração em Negócios Internacionais

2

Análise e Desenvolvimento de Sistemas

7


90

Arquitetura

1

Artes Visuais

1

Ciências Sociais

1

Ciências Contábeis

6

Computação

1

Comunicação

1

Comunicação Institucional

1

Comunicação para web

1

Design

7

Design de Animação Digital

1

Design de Moda

1

Direito

14

Direito / Administração

1

Economia

1

Educação Física

1

Empreendedorismo

1

Engenharia

1

Engenharia Civil

1

Engenharia de Computação

7

Engenharia de Plásticos

1

Engenharia de Produção

25

Engenharia de Produção e Sistemas

8

Engenharia de Software

1

Engenharia Elétrica

4

Engenharia Mecânica

2

Estudos Sociais

1

Finanças

1

Física

2

Gestão Comercial

3

Gestão de Qualidade

1

Gestão Empreendedora

1

Gestão Financeira

1

História

1

Jornalismo

51

Letras

2

Live Marketing

1

Logística

1

Marketing

4

Mecatrônica

1

Medicina

1

Multimídias, Design e Formação em Yoga e Yogaterapia

1


91

Música

1

Nutrição

2

Oceanografia

1

Odontologia

1

Pedagogia

3

Produção Multimídia

1

Programação

1

Psicologia

7

Publicidade e Propaganda

9

Química

2

Recursos Humanos

3

Redes de Computadores

3

Relações Públicas

1

Serviço Social

1

Sistemas de Informação

16

Tecnologia da Informação

1

Tecnologia de Alimentos

1

Tecnologia de Comunicação para Web

1

Tecnologia em Design Gráfico

1

TI

1

Turismo

1

Total

249

Escolaridade

Quantidade

Fundamental Incompleto

1

Médio Incompleto

3

Médio completo

22

Superior incompleto

167

Superior completo

131

Pós-graduado

61


92

APÊNDICE C - Respostas completas dos estudantes entrevistados

1. O quanto você se sentiu informado ao ler as quatro notícias? Na verdade eu me senti um pouco confuso. Nenhum deles me Homem, 25 anos, natural de informou exatamente sobre o que estava acontecendo. Joinville, está na quarta fase do Aconteceu um terremoto, mas ok, não me disse o que houve, curso de Jornalismo, trabalha como se destruiu alguma coisa, se tiveram pessoas atingidas. Achei Conferente. bem confusos os quatro textos. Mulher, 21 anis, natural de Joinville, Eu me senti pouco informada porque eram dados superficiais, está na quarta fase do curso de sem contextualização e sem tradução. Nenhum dos quatro Jornalismo, trabalha como textos me informou por completo. Estagiária em Mídias Sociais. Mulher, 18 anos, natural de Estavam bem superficiais. Notícias curtas não deram pra ter Joaçaba, está na quarta fase do uma noção profunda do que estava acontecendo. Tinham curso de Jornalismo, trabalha como dados pouco precisos e só contou com fontes oficiais. Bolsista na faculdade. Homem, 19 anos, natural de São Sebastião, está na quarta fase do curso de Jornalismo, não trabalha.

Eu senti bem informado com as informações necessárias para ter uma dimensão do que aconteceu. Os dados são precisos e as fontes são confiáveis. Dados concretos. Não me geraram dúvidas.

Homem, 23 anos, natural de São Paulo, está na sexta fase do curso de Jornalismo, trabalha como Analista de Marketing.

Não me senti informado porque pra mim não fez sentido pela localização da notícia.

Mulher, 20 anos, natural de Concórdia, está na sexta fase do curso de Jornalismo, trabalha como Estagiária em Assessoria de Imprensa.

Não tinha muita relevância porque a notícia era de um contexto distante do nosso. Mas se eu estivesse lá, me sentiria bem informada porque traz bastantes dados precisos sobre o acontecimento.

Mulher, 20 anos, natural de Joinville, Em uma escala eu diria que foi regular. Nenhum texto está na sexta fase do curso de contextualizou direito o que estava acontecendo, mas todos Jornalismo, trabalha como trouxeram dados básicos. Estagiária em Comunicação. Homem, 20 anos, natural de Joinville, está na sexta fase do curso Eu acho que todos eles falam sobre dados iniciais como a de Jornalismo, trabalha como magnitude e onde o terremoto atingiu. Essas informações Estagiário em Assessoria de iniciais foram importantes. Imprensa. Homem, 22 anos, natural de Teve somente um que eu me senti bem informado, porque Joinville, está na segunda fase do trazia dados históricos da região, dados mais específicos. Os curso de Jornalismo, trabalha como demais eram sem contexto e dados muito secos. Auxiliar Administrativo. Mulher, 17 anos, natural de Jaraguá Todos os textos me trouxeram boa apuração, falam o que do Sul, está na segunda fase do aconteceu e na medida certa. curso de Jornalismo, não trabalha. Mulher, 18 anos, natural de Joinville, está na segunda fase do curso de Bastante mas não o suficiente. Jornalismo, não trabalha. 2. O que você levou em conta quando definiu qual era o texto gerado pelo software? Homem, 25 anos, natural de Escolhi pelas palavras utilizadas. O texto gerado pelo software Joinville, está na quarta fase do me parece usar palavras mais diretas, mas formal e com menos curso de Jornalismo, trabalha como emoção.


93

Conferente. Mulher, 21 anis, natural de Joinville, está na quarta fase do curso de O que para mim era o mais baseado em dados. Jornalismo, trabalha como Estagiária em Mídias Sociais. Mulher, 18 anos, natural de Joaçaba, está na quarta fase do Levei em conta o que tinha mais número sem contexto e o título curso de Jornalismo, trabalha como também. Bolsista na faculdade. Homem, 19 anos, natural de São Sebastião, está na quarta fase do curso de Jornalismo, não trabalha.

A linguagem, as palavras utilizadas, fácil compreensão do texto. O texto mais objetivo e com menos detalhes.

Homem, 23 anos, natural de São Paulo, está na sexta fase do curso de Jornalismo, trabalha como Analista de Marketing.

As fontes utilizadas (no texto do repórter cita o sismólogo) e a precisão dos dados.

Mulher, 20 anos, natural de Concórdia, está na sexta fase do O mais técnico e direto. Não trazia muita contextualização, curso de Jornalismo, trabalha como somente dados precisos. Estagiária em Assessoria de Imprensa. Mulher, 20 anos, natural de Joinville, está na sexta fase do curso de Eu tentei perceber qual deles usava frases prontas e só Jornalismo, trabalha como encaixavam os dados no texto. Estagiária em Comunicação. Homem, 20 anos, natural de Joinville, está na sexta fase do curso O mais bruto, o mais direto, o mais simples. O que eu escolhi de Jornalismo, trabalha como não tinha muita contextualização, somente trazia os dados. Estagiário em Assessoria de Imprensa. Homem, 22 anos, natural de Joinville, está na segunda fase do O texto que tinha informações mais secas, mais diretas. curso de Jornalismo, trabalha como Auxiliar Administrativo. Mulher, 17 anos, natural de Jaraguá Escolhi o que tinha mais dados e sem contexto, somente dados do Sul, está na segunda fase do diretos. curso de Jornalismo, não trabalha. Mulher, 18 anos, natural de Joinville, O que tinha menos dado comparado com os outros. Levei em está na segunda fase do curso de conta também o tamanho do texto, informava menos que os Jornalismo, não trabalha. outros. 3. De forma geral, você acha que faltou alguma informação nos quatro textos? Se sim, o que e por que essa/essas informações são importantes para você? Homem, 25 anos, natural de Joinville, está na quarta fase do curso de Jornalismo, trabalha como Conferente.

Em nenhum dos quatro textos eu pude entender a importância da notícia. Não ficou claro pra mim o quanto aqueles terremotos realmente eram de ser noticiados. Só me trouxeram dados sem contexto, sem tradução.

Mulher, 21 anos, natural de Joinville, está na quarta fase do curso de Jornalismo, trabalha como Estagiária em Mídias Sociais.

A contextualização. Os quatro textos falam dos dados, mas não diz o que isso causou de problemas ou prejuízos para as pessoas. O que causou o terremoto se tem previsão de novos terremotos, etc.

Mulher, 18 anos, natural de Joaçaba, está na quarta fase do curso de Jornalismo, trabalha como Bolsista na faculdade.

Ter utilizado somente uma fonte prejudicou os textos. Não informou se tiveram pessoas atingidas, casas destruídas etc; Nem trouxe mais informações para a população, se vai acontecer novamente, se devem se preocupar.


94

Homem, 19 anos, natural de São Sebastião, está na quarta fase do curso de Jornalismo, não trabalha.

Não passaram se aconteceu alguma coisa, se alguém se feriu, se alguém precisa de ajuda. Pra ter mais dimensão do que foi o terremoto. O quão grave e prejudicial para as pessoas.

Homem, 23 anos, natural de São Paulo, está na sexta fase do curso de Jornalismo, trabalha como Analista de Marketing.

Não falam de vítimas. Não tem informações sobre estragos, perigo de acontecer novamente. Quais são os efeitos deste fenômeno. Acredito que esse é o papel do repórter. O software não consegue medir isso.

Mulher, 20 anos, natural de Concórdia, está na sexta fase do curso de Jornalismo, trabalha como Estagiária em Assessoria de Imprensa.

Não faltaram informações, porém, nenhum contextualizou muito, por exemplo, se tem chance ou não de acontecer novamente, quais são as medidas de segurança, etc. Mas todos trouxeram os dados necessários para a população ter as informações iniciais.

Mulher, 20 anos, natural de Joinville, De forma geral acredito que em todos faltou contextualização está na sexta fase do curso de de informações, se tiveram danos para a população, se alguém Jornalismo, trabalha como precisa de ajuda. Estagiária em Comunicação. Homem, 20 anos, natural de Joinville, está na sexta fase do curso Senti falta de pessoas atingidas. Não tinha a informações de Jornalismo, trabalha como humanas nem contextualização. Estagiário em Assessoria de Imprensa. Homem, 22 anos, natural de Joinville, está na segunda fase do Não. Os textos são completos. curso de Jornalismo, trabalha como Auxiliar Administrativo. Mulher, 17 anos, natural de Jaraguá do Sul, está na segunda fase do Não faltaram. curso de Jornalismo, não trabalha. Mulher, 18 anos, natural de Joinville, Faltaram informações das pessoas atingidas e dados mais está na segunda fase do curso de precisos de onde aconteceu - todos falavam só da região. Jornalismo, não trabalha. 4. O que é para você um texto jornalístico de qualidade? Homem, 25 anos, natural de Joinville, está na quarta fase do curso de Jornalismo, trabalha como Conferente.

Um texto tem que trazer todos os fatos, ter fontes confiáveis, mostrar às claras o que aconteceu em uma linguagem que o leitor se interesse e entenda e que esteja apropriada para todos os públicos (desde o especialista até ao leigo).

Mulher, 21 anos, natural de Joinville, está na quarta fase do curso de Contextualização, pluralidade de fontes, coesão e coerência, Jornalismo, trabalha como transmitir a verdade, ponto e contraponto. Estagiária em Mídias Sociais. Mulher, 18 anos, natural de Mais de duas fontes com pensamentos diferentes, tentar ser o Joaçaba, está na quarta fase do máximo possível objetivo, contextualizada no local do curso de Jornalismo, trabalha como acontecimento. Bolsista na faculdade. Homem, 19 anos, natural de São Sebastião, está na quarta fase do curso de Jornalismo, não trabalha.

Informação necessária para o público, o mais objetivo possível, trazer fontes e dados confiáveis. O texto não pode ser de difícil compreensão, qualquer pessoa possa entender.

Homem, 23 anos, natural de São Paulo, está na sexta fase do curso de Jornalismo, trabalha como Analista de Marketing.

Informação, a contextualização necessária para o leitor entender, e se possível elucidar o debate sobre esse tema, porque ocorreu, sem utilizar de pressuposto e subentendidos.

Mulher, 20 anos, natural de Dados precisos e confiáveis. Ser objetivo, porém, trazer o Concórdia, está na sexta fase do contexto. Qualidade nas informações e nas fontes utilizadas. curso de Jornalismo, trabalha como


95

Estagiária em Assessoria de Imprensa. Mulher, 20 anos, natural de Joinville, está na sexta fase do curso de Contextualização, fontes confiáveis, pluralidade de fontes, Jornalismo, trabalha como verdade. Estagiária em Comunicação. Homem, 20 anos, natural de Joinville, está na sexta fase do curso de Jornalismo, trabalha como Estagiário em Assessoria de Imprensa.

O que contextualiza o que traz a notícia com fontes especializadas. Não reforçar clichês e senso comum, ouvir todos os lados. Tentar ao máximo levar em consideração os direitos humanos.

Homem, 22 anos, natural de Informação tem que ser com dados precisos e o que de fato Joinville, está na segunda fase do isso interessa e impacta para o público leitor. Factualidade, curso de Jornalismo, trabalha como notícias recentes, ser relevante para o público leitor. Auxiliar Administrativo. Mulher, 17 anos, natural de Jaraguá do Sul, está na segunda fase do Informação, boa apuração, qualidade da escrita e as fontes. curso de Jornalismo, não trabalha. Mulher, 18 anos, natural de Joinville, Junção da boa apuração, dados verdadeiros e ortografia, boa está na segunda fase do curso de escrita. Jornalismo, não trabalha.


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APÊNDICE D - Respostas completas dos leitores entrevistados 1. O quanto você se sentiu informado ao ler as quatro notícias? Homem, 27 anos, natural do Rio de Janeiro, Formado em Engenharia de Software, Trabalha com desenvolvimento web.

Eu me senti bem informado por sempre falar da magnitude e das áreas em volta. Se eu tivesse algum familiar por perto eu poderia entrar em contato com eles para saber se estão todos bem ou algo do tipo. É uma informação complementar importante.

Mulher, 48 anos, natural de Joinville, formada em Administração, trabalha como Secretária Executiva.

Eu me senti bem informada com os quatro textos porque eles têm o básico que eu precisava saber. Acredito que só o que importava estava no texto.

Homem, 30 anos, natural de Joinville, cursando Marketing, trabalha como Analista de Marketing Digital.

Eu me senti bastante informado com os quatro textos porque eles são precisos e vão direto ao ponto. Todos têm uma fonte confiável de informações e falam com precisão o horário e o local do acontecimento. Para esse tipo de notícia mais factual é o necessário.

Senti-me totalmente informado porque li quatro textos de um mesmo tema. Os textos separadamente faltam uma coisa ou outra. Homem, 25 anos, natural de Por exemplo: o primeiro não diz se teve problemas na região, se Joinville, cursando Administração, alguém ficou ferido, já o segundo diz. Eles parecem que se trabalha como Analista de completam. Achei o primeiro texto mais básico e direto, mais Suporte ao Cliente. informativo, mais preciso. Os demais são completos. Acredito que o que faltou nos três é uma previsão do que pode acontecer nos próximos dias para a população ficar em alerta. Primeiro texto foi mais técnico, talvez não tenha informado a população que houve algum prejuízo. Senti falta de uma previsão sobre o que pode acontecer nos próximos dias. O segundo texto já Mulher, 20 anos, natural de Porto traz se houve danos ou prejuízos e informações complementares. Alegre, cursando Publicidade e Isso é bom porque tranquiliza a população, porém não faz tantas Propaganda, trabalha como conexões nem utiliza períodos compridos. Três ok, não foi o mais Estagiária em Comunicação. preciso. O primeiro é o mais técnico e preciso. Informa direto ao ponto. Traz só os dados. Quarto é o melhor para ter em um jornal, tem qualidade, bem escrito. Traz previsões, traz informações complementares. Homem, 40 anos, natural de Jacareí, formado em Linguística, trabalha como Professor de Inglês.

Os quatro textos trazem bastantes informações, apesar de serem curtos. Senti-me bem informado, com informações completas.

Mulher, 37 anos, natural de Curitiba, formada em Psicologia, trabalha como Consultora de Recursos Humanos.

Senti-me bem informada. Mas dependendo do texto a informação estava incompleta. Não quero saber só os dados, mas saber se e quantas pessoas morreram se devo tomar alguma ação, se existe alguma outra previsão de outros fenômenos, se a população precisa precauções. Penso que essas notícias de terremotos talvez sejam pra eles o que pra nós é notícia de chuva. Eu vejo que é muito mais sério um terremoto e por isso a minha preocupação em saber se houve estrago, mas pode ser que seja tão comum que eles nem relatem mais, assim como acontece aqui em Joinville.

Homem, 30 anos, natural do Rio de Janeiro, formado em Publicidade e Propaganda, trabalha como Analista de Recursos Humanos.

Eu me senti ok. Se eu estivesse lá e saísse esse texto como cobertura eu me sentiria bem informado, pois trazem as informações iniciais de cada acontecimento. Acredito que a partir destes textos surgiram outros de cobertura. Como primeiro, de informações iniciais, estão ok.

Mulher, 30 anos, natural de Joinville, formada em Comércio

Num geral eu me senti bem informada. Todas as notícias, apesar de curtinhas, traziam as informações iniciais necessárias.


97

Exterior, trabalha como Analista Administrativo. Homem, 26 anos, natural de Joinville, formado em Design, trabalha como Designer.

Senti-me informado. Não sei se é o texto que eu pararia para ler, porque do jeito que estava não gerava nenhuma atenção ao leitor, mas me senti bem informado.

Mulher, 50 anos, natural de Joinville, ensino médio completo, do lar.

Gostei os quatro textos. Tive que ler umas duas vezes pra poder entender direito, mas depois entendi e gostei.

2. O que você levou em conta quando definiu qual era o texto gerado pelo software? Homem, 27 anos, natural do Rio de Janeiro, Formado em Engenharia de Software, Trabalha com desenvolvimento web.

Na realidade eu fui ao chute porque os textos são muito parecidos. Eu chutei o último por ter mais informações das áreas afetadas. Acredito que um software tenha capacidade de fazer esse mapeamento completo. Mas foi bem difícil identificar.

Mulher, 48 anos, natural de Joinville, formada em Administração, trabalha como Secretária Executiva.

No texto do software não tem muitos adjetivos para definir a informação, por exemplo, se o terremoto foi fraco ou forte. Acredito que isso o ser humano faz bem, traduzir o que está sendo dito.

Homem, 30 anos, natural de Joinville, cursando Marketing, trabalha como Analista de Marketing Digital.

Todos são bem parecidos, mas acredito que o software teria bastante informações sobre localidades por causa da fonte de dados, que nos quatro casos foram a agência de geologia, então chutei o que tinha mais informações sobre a localidade do terremoto.

Homem, 25 anos, natural de Joinville, cursando Administração, Escolhi o que era mais direto, o que só dizia os dados e não trabalha como Analista de contextualizada e dava informações a mais. Suporte ao Cliente. Mulher, 20 anos, natural de Porto Escolhi o que tem mais períodos curtos, que só informa sem Alegre, cursando Publicidade e contextualizar, só fala os dados. Acho que o software não tem Propaganda, trabalha como capacidade de transmitir emoção para o texto. Estagiária em Comunicação. Homem, 40 anos, natural de Jacareí, formado em Linguística, trabalha como Professor de Inglês.

Ele foi mais preciso em termos de dados e menos de linkado com a emoção, tradução das informações. Faltaram verbos de ligação. Mais frio. Mais objetivo.

Mulher, 37 anos, natural de Curitiba, formada em Psicologia, trabalha como Consultora de Recursos Humanos.

O texto não tinha emoção, eram somente informações técnicas e objetivas. Não falava nada além, nenhum contexto. As palavras utilizadas também. Acredito que um repórter usa mais as palavras, forma frases maiores e mais complexas.

Homem, 30 anos, natural do Rio de Janeiro, formado em Publicidade e Propaganda, trabalha como Analista de Recursos Humanos.

Fui ao menor texto. Acredito que o software vai ser mais direto e trazer só as informações essenciais com base nos números. Então concluí que o menor texto foi o gerado pelo software.

Mulher, 30 anos, natural de Joinville, formada em Comércio Exterior, trabalha como Analista Administrativo.

Achei o mais direto e menos "bom" de ler. Imaginei que o software não tivesse tanta criatividade.

Homem, 26 anos, natural de Joinville, formado em Design, trabalha como Designer.

Eu chutei o que tinha mais dados numéricos.

Mulher, 50 anos, natural de Joinville, ensino médio completo, do lar.

Eu pensei que fosse o mais direto, o que tem mais dado.


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2. O que você levou em conta quando definiu qual era o texto gerado pelo software? Homem, 27 anos, natural do Rio de Janeiro, Formado em Engenharia de Software, Trabalha com desenvolvimento web.

Não acho que faltou alguma informação. Os quatro textos são bem informativos num geral.

Mulher, 48 anos, natural de Joinville, formada em Administração, trabalha como Secretária Executiva.

Não acho que em nenhum texto faltaram informações. Eles são bastante objetivos e trazem informações importantes como a magnitude e as áreas atingidas. Eu senti falta de me dizer se há previsão de terremotos nos próximos dias.

Homem, 30 anos, natural de Joinville, cursando Marketing, trabalha como Analista de Marketing Digital.

Não faltaram informações. Num geral, para o tipo de notícia rápida e precisa, os quatro textos estão ok.

Homem, 25 anos, natural de Joinville, cursando Administração, De forma geral os quatro textos cumprem seus papeis. Não trabalha como Analista de faltaram informações. Suporte ao Cliente. Mulher, 20 anos, natural de Porto Alegre, cursando Publicidade e Propaganda, trabalha como Estagiária em Comunicação.

Sim, no primeiro texto. Achei que faltam informações sobre perigos para a população, se as pessoas precisam ficar em alerta. Também não explica direitos os dados. Eu não sei se um terremoto de magnitude 4 é muito ruim ou é tranquilo. Faltou traduzir os dados.

Homem, 40 anos, natural de Jacareí, formado em Linguística, trabalha como Professor de Inglês.

Não acho que faltaram informações. Os dados estão ok, citam a fonte, que é bem importante e trazem informações numéricas.

Mulher, 37 anos, natural de Curitiba, formada em Psicologia, trabalha como Consultora de Recursos Humanos.

De modo geral, mais informações para precauções e tradução dos dados (o que significa um terremoto de 4,7? Eu não faço ideia). Informações para tomada de ações e se têm pessoas precisando de ajuda.

Homem, 30 anos, natural do Rio de Janeiro, formado em Publicidade e Propaganda, trabalha como Analista de Recursos Humanos.

O texto 4 foi o único que me informou a mais. De fato trazia uma informação relevante pra mim, do meu interesse. Eu não me importo com a magnitude do terremoto e sim com o efeito. Nenhuma das 4 falavam dos efeitos causados para as pessoas.

Mulher, 30 anos, natural de Joinville, formada em Comércio Exterior, trabalha como Analista Administrativo.

Eu acho que de forma geral faltou dizer se esses terremotos são perigosos, porque pra mim um terremoto forte é de ficar preocupada. Será que alguém morreu? Será que alguém ficou desabrigado? Não dá pra saber.

Homem, 26 anos, natural de Joinville, formado em Design, trabalha como Designer.

Não senti falta de informações. Acho que os quatro textos cumprem seus papéis.

Mulher, 50 anos, natural de Joinville, ensino médio completo, do lar.

Eu queria saber se alguém precisou de ajuda, como ficaram essas regiões após esses terremotos. A gente acha que terremoto é uma coisa muito séria, né? Porque aqui não tem então parece ser sempre muito devastador. Só fiquei com dúvida nisso.

4. O que é para você um texto jornalístico de qualidade? Homem, 27 anos, natural do Rio de Janeiro, Formado em Engenharia de Software, Trabalha com desenvolvimento web.

Um texto que chame a atenção pela forma com que está escrita. Um texto que eu consiga ler a absorver rapidamente o que está escrito a ponto de eu ter capacidade de comentar com outras pessoas sobre o que eu li.

Mulher, 48 anos, natural de

Ser bem escrito é básico. Ter informações completas e que se


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Joinville, formada em Administração, trabalha como Secretária Executiva. Homem, 30 anos, natural de Joinville, cursando Marketing, trabalha como Analista de Marketing Digital.

completem é importante.

Pra mim, um texto de qualidade é o que preza por fontes confiáveis, que dá as informações corretas sobre localização de algo ou dados gerais, tem que ser bem escrito, não ter erros de português ou concordância, é necessário contextualização da notícia com o ambiente. Por exemplo: essas notícias de terremotos não mudaram nada na minha vida porque não moro nos Estados Unidos.

Pra mim um texto de qualidade é o que é objetivo, que traz Homem, 25 anos, natural de informações contextualizadas e traduzidas porque tem muitos Joinville, cursando Administração, assuntos que somos leigos e acho que o jornalismo serve para trabalha como Analista de ficarmos atentos ao que acontece no mundo, mas nada adianta se Suporte ao Cliente. ninguém entender o que está sendo dito. Mulher, 20 anos, natural de Porto Alegre, cursando Publicidade e Propaganda, trabalha como Estagiária em Comunicação.

Objetivo mas não a ponto de não traduzir as informações. Linguagem do público alvo, compreensível, informativo, não ser ambíguo. Bem escrito é básico. Fontes confiáveis. Citar a fonte. O quarto não citou a fonte dos sismólogos. Faz diferença.

Homem, 40 anos, natural de Jacareí, formado em Linguística, trabalha como Professor de Inglês.

Dados como horários e localidade, resultados explicativos, objetivo, mas não só informar ou dar os dados tem que traduzir pro meu contexto. Credibilidade do repórter é importante. Neutralidade também. Não gosto de texto que o repórter se posiciona.

Mulher, 37 anos, natural de Curitiba, formada em Psicologia, trabalha como Consultora de Recursos Humanos.

Empatia, pensar que você está falando com um interlocutor. Aqueles tipos de textos em que o repórter conversa com o leitor, não só passar os dados secos. Outro ponto importante é a ortografia e boa escrita. Palavras bem escolhidas mostram a preocupação do repórter em informar para cada público. Não colocar palavras difíceis nem muito fáceis (escrever adequado para cada público).

Homem, 30 anos, natural do Rio de Janeiro, formado em Publicidade e Propaganda, trabalha como Analista de Recursos Humanos.

O máximo de informações relevantes pra mim, contextualizada. Ortografia, ser bem escrito. Nexo. O texto tem que fazer sentido. O lead tem que puxar o resto.

Mulher, 30 anos, natural de Joinville, formada em Comércio Exterior, trabalha como Analista Administrativo.

Acho que um texto que fale de forma simples e direta o que aconteceu que fale de números, mas que explique os dados. Eu levo bastante em conta quem é o repórter também e a credibilidade do jornal.

Homem, 26 anos, natural de Joinville, formado em Design, trabalha como Designer.

Tem que ser bem escrito, informar tudo que é necessário, não deixar nada em aberto para margem de interpretação e ser relevante para as pessoas.

Mulher, 50 anos, natural de Joinville, ensino médio completo, do lar.

Tem que ser direto ao ponto, com informações de rápido entendimento. Bem escrito e mostrar vários lados dos acontecimentos.


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ANEXOS ANEXO A – Textos utilizados para a pesquisa qualitativa

Texto 1 Terremoto com 3,2 de magnitude atinge as proximidades do Vale de Yosemite Um terremoto de magnitude 3,2 foi relatado na manhã de domingo a 17 quilômetros do Vale de Yosemite, Califórnia, de acordo com o Serviço Geológico dos EUA (USGS). O tremor ocorreu às 07h35 perto da superfície. De acordo com o USGS, o epicentro foi a cerca de 91 quilômetros de Clovis, Madera e Chowchilla. Nos últimos 10 dias, não houve sismos de magnitude 3,0 ou maior mapeado nas proximidades desta região. Fonte: Los Angeles Times Texto 2 Terremoto com 3,2 de magnitude atinge proximidades de San Jose Um terremoto com uma magnitude de 3,2 atingiu 17 quilômetros a leste de San Jose na quarta-feira. Não houve relatos imediatos de danos ou prejuízos. O Serviço Geológico dos EUA informou que o tremor ocorreu às 8h26, 11 quilômetros a leste do bairro Alum Rock em Joseph D. Grant County Park. Desde terça-feira, ao mesmo tempo, houve 25 outros tremores. De todos registrados, o terremoto de San Jose foi o maior. Fonte: NBC Bay Area Texto 3 Terremoto com magnitude de 3,8 atinge a Califórnia Um terremoto com magnitude preliminar de 3,8 atingiu as proximidades de Ridgemark nesta terça-feira, de acordo com o Serviço Geológico dos Estados Unidos. O terremoto ocorreu às 14h09, 9 quilômetros ao sul-sudeste de Ridgemark e 16 quilômetros fora de Hollister e a uma profundidade de 7,5 quilômetros. Este terremoto é o mais recente em uma série de pequenos tremores na área. O USGS também relatou outros quatro terremotos em outubro, nas proximidades de Ridgemark. Os terremotos


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têm variado desde o menor, medindo a uma magnitude 1,7 em 10 de outubro, a um terremoto com uma magnitude de 2.2 que atingiu a região na segunda-feira. Fonte: SF Gate Texto 4 Terremoto de magnitude 6,5 atinge a Java na Indonésia Um forte terremoto com uma magnitude preliminar de 6,5 atingiu uma ilha de Java na Indonésia. Sismólogos dizem que os tremores foram sentidos em longas distâncias como em Jacarta e Yogyakarta. Nenhum alerta de tsunami foi emitido. O terremoto, que ocorreu às 07h26 hora local na quarta-feira, foi centrado cerca de 189 quilômetros a nordeste de Jakarta, ou cerca de 207 quilômetros a nordeste de Bandung, segundo a agência sismológica da Indonésia BMKG. O tremor ocorreu a uma profundidade de cerca de 654 quilômetros, tornando-se um terremoto de profundidade. Não há nenhuma ameaça de um tsunami, de acordo com sismólogos. Fonte: BNO News


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ANEXO B - Exemplos de textos automatizados

Exemplo de texto gerado pela empresa Narrative Science publicado no site da revista Forbes. DisponĂ­vel em: <http://www.forbes.com/sites/narrativescience/2015/10/12/eps-estimates-down-for-j-m-smucker-in-pastmonth/#1843494045da>


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Exemplo de notĂ­cia criada pelo algoritmo da Narrative Science publicada no Yahoo Finance. DisponĂ­vel em: <http://finance.yahoo.com/news/apple-tops-street-1q-forecasts-213944804.html>


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