© Hugo Alves
ÍNDICE 3. Editorial 4. Isto é explicar o que é que se trabalha 10. Investigação Sociológica 14. Em Diálogo com… 28. Debate na Imprensa 30. Retratos – Ser sociólogo 32. Temas Mensais 34. Atividades do Núcleo 36. Núcleo Convidado 37. As Nossas Sugestões 38. A Tua Voz 40. Agenda Sociológica
FI C HA TÉC N IC A Edição NESISCTE || Coordenação Editorial Alexandre Pereira, Cristiano Oliveira || Redação Diogo Silva, Margarida Delicado, Pedro Silva, Tânia Gomes, Tatiana Neves|| Colaborações Externas Elísio Estanque, Luísa Veloso, Mafalda Miguel Teixeira, Paulo Jorge Marques Alves, Rita Espanha, Teresa de Jesus Seabra de Almeida || Grafismo e Paginação Maria Barral || Ilustrações Maria Barral || Agradecimento especial a Mariana Ferreira || ISSN 2184-447X
Contactos Avenida das Forças Armadas || ISCTE-IUL, Edifício 2, Cacifo 264|| 1649-026 Lisboa nucleosociologia.iscte@gmail.com www.nesiscte.com
2.
EDITORIAL Apesar de estarmos a viver em tempos
da Sociologia, a evolução das ciências
atípicos, isso não é razão para as nossas
sociais ao longo da última década e o que
vidas pararem. Nós em Sociologia temos a
antevê
capacidade de adaptar e evoluir face a
considerando o contexto pandémico. No
adversidades. São com estas palavras que
que diz respeito ao Debate de Imprensa, o
vos
tema chave por detrás da rubrica desta
apresentamos
a
6ª
edição
ser o futuro
pela
Sociologia
do SOCIALiS do NESISCTE, desta vez
edição
dedicada à Sociologia do Trabalho e às
diferentes
suas variadas vertentes de investigação e
mesma. A verdade sobre a Sociologia ser
aplicação nas nossas sociedades.
uma ciência multidisciplinar é de possível
O Dossier Temático sobre o Trabalho é a
passa
da
vacinação
movimentos
confirmação
devido
e
os
adjacentes
ao
Retrato
à
da
rubrica inicial desta nossa 6ª edição. O
socióloga convidada. Exerceu funções em
que foi pretendido foi o aprofundamento
áreas
e enfoque em temas como o sindicalismo,
espetáculos
as relações entre o género e o trabalho e
estratégico para referir alguns. O seguinte
as linhas temporais da evolução do
ponto são as Atividades do NESISCTE
trabalho.
realizadas ao longo deste semestre e
Referente
à
Investigação
como docência, e
edição
produção de
planeamento
Sociológica apresentamos dois temas: os
nesta
trajetos escolares dos descendentes de
Presidente, a Presidente da Direção do
imigrantes em Portugal e a ligação
NESISCTE,
existente entre o humor e a política e a
brevemente
investigação que falta.
representa. Em jeito de conclusão, damos
Inês
convidámos Pedro
acerca
do
a
social
nossa
para
falar
Núcleo
que
Estivemos em diálogo com António
como encerrada a nossa edição com As
Firmino da Costa, considerado um dos
Nossas Sugestões de diferentes formas de
pais da Sociologia em Portugal. Nesta
acesso à cultura, sejam elas através de
conversa sociológica abordamos a entrada
livros, músicas e cinema e por fim, a
do sociólogo na ciência, a fundação da
Agenda Sociológica dos eventos que serão
Associação Portuguesa
futuramente realizados com Sociologia
de
Sociologia
(APS) e do Centro de Investigação em
como tema principal.
Sociologia (CIES), a multidisciplinariedade
3.
ISTO É EXPLICAR O QUE É QUE SE TRABALHA BREVE NO TA SO BRE SO CIO L O GIA DO TRABAL HO Elísio Estanque
. SOCIALIS .
DOSSIER TEMÁTICO –ISTO É EXPLICAR O QUE É QUE SE TRABALHA
.
Professor de Sociologia na FEUC, Investigador no Centro de Estudos Sociais e Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra
4.
Desde os tempos do Império Romano até
ra Max Weber o trabalho oferece-se como
ao triunfo da racionalidade ocidental o
campo de estruturação de relações de poder
trabalho é associado a ‘Tripalium’, um
mas também espaço de oportunidades e de
instrumento de punição e tortura; mas com o
conquista de prestígio e status; e E. Durkheim
crescimento do protestantismo na Europa
viu a esfera profissional nas sociedades
do norte, a ética calvinista contribuiu para
complexas como base de integração e de
incutir um sentido positivo às atividades
criação de consensos negociados, onde a
económicas
disso
componente moral é o principal fator da
o Homo Faber, o homem que produz, que cria
divisão social do trabalho. Sob estas e outras
riqueza, ganhou uma nova aura. Conforme
influências
Max Weber anteviu na sua clássica obra “A
positivista, liberal
Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo”,
inauguraram
o crescimento e consolidação do capitalismo
marcaram diversos modelos e linhas de
moderno viria a recentrar a atividade laboral
organização
como a infraestrutura fundamental que
sociedades avançadas. Desde o Taylorismo (a
serviu de alicerce à estrutura social das
chamada O.C.T. – organização científica do
sociedades industriais.
trabalho, com as experiência da Henry
e
na
sequência
Como sabemos, os principais autores
Taylor),
filosóficas, e a
correntes do
que
campo
as
abordagens
crítica marxista teóricas produtivo
que nas
marcou a clivagem entre
clássicos da sociologia inauguraram visões
conceção e execução, estabeleceu a medição
sobre as relações de trabalho, bem distintas
cronometrada da produtividade, a disciplina e
entre si: para K. Marx o trabalho é visto como
a especialização rígida de funções que
a base (infraestrutura da sociedade) do
caracterizaram a grande industria até meados
sistema capitalista, quer por ser o centro vital
do século XX;
da criação de riqueza, quer por ser a partir
Relações Humanas (H. Foyol, A. Maslow) que
dele que se estruturam as relações sociais de
influenciou uma nova teoria mais humanista
produção que
classes
centrada no fator emocional e higiénico na
antagónicas (capitalistas e trabalhadores); pa-
organização do trabalho e na motivação dos
opõem
as
duas
passando pela Escola de
trabalhadores; até à visão marxista da
Tendências estruturais mais vastas, como o
Sociologia Industrial (R. Hyman, R. Castel); e à
envelhecimento da população, a estagnação
chamada
do crescimento, o aumento da compe-
relações
laborais (J. Visser; R. Sainsaulieu, A. Gorz, OIT,
titividade
etc.),
e
económico-financeiras, etc., forneceram as
abordagens no campo da sociologia do
bases e os argumentos do neoliberalismo,
trabalho que chegaram aos nossos dias.
ajudando a legitimar medidas que colocaram
foram
inúmeras
as
correntes
à
escala
global,
as
crises
Mas, se o trabalho sempre foi uma
em recuo as políticas sociais e o anterior
atividade decisiva para a evolução das
modelo social. Esta é, aliás, uma tendência
sociedades humanas, a inovação técnica e
que se acentuou nos tempos mais recentes,
social
variáveis
dando continuidade a processos em curso
nesse
como o outsourcing, a subcontratação, o
constituem
incontornáveis domínio.
(e
Importa,
“determinismo”
duas inseparáveis) porém,
recusar
tecnológico
ou
tecnologia. Acima
o
trabalho temporário, o trabalho a tempo
a
parcial,
o trabalho independente,
etc.,
“neutralidade”
da
e
aspetos estes que vêm multiplicando as
montante dela
está a sociedade, os seus
formas e vínculos contratuais precários, a
poderes e instituições. O “mercado de
individualização e reduzindo a contratação
trabalho” é fruto da modernidade capitalista,
coletiva. A inovação tecnológica, a revolução
mas o trabalho está muito para além da sua
no campo informático, a inteligência artificial
dimensão mercantil O trabalho assalariado
e a robótica estão a crescer rapidamente e
tornou-se dominante desde o século XVIII, e
todo esse campo vai imprimir novas linhas de
com isso cresceu a “mercadoria” força de
transformação,
trabalho. Foi contra isso que o movimento
regresso ao anterior modelo de trabalho –
operário e os seus sindicatos se ergueram,
com
conquistando amplos direitos, num longo
negociadas, garantias de progressão, etc. –
processo conflitual que na Europa culminou
que vigorou na Europa (e ainda vigora em
com o triunfo do Estado providência.
alguns
tornando
estabilidade,
países)
irreversível
segurança,
mas
que
o
condições
hoje
está
É nessa mesma linha que a OIT e a
ameaçado. A computorização, a robótica,
Declaração Universal dos Direitos Humanos
a digitalização, etc., continuam a “roubar”
consignaram o princípio de que “o trabalho
muitos milhões de postos de trabalho, sendo
não é uma mercadoria” (Declaração de
incerta a capacidade de substituição e
Filadélfia, 1944). No entanto, a globalização
reconversão da mão de obra qualificada
neoliberal inverteu esse curso a partir de
para lidar com os novos meios tecnológicos.
meados da década de 1970.
.
de
DOSSIER TEMÁTICO –ISTO É EXPLICAR O QUE É QUE SE TRABALHA
“tipartit”
. SOCIALIS .
escola
5.
Sindicato s: um passado po rtado r do futuro Paulo Marques Alves Professor auxiliar do departamento de Sociologia do Iscte, Investigador do DINÂMIA´CET-IUL O movimento sindical surge nos alvores do
lores que são partilhados por um grupo de
século XIX, na sequência da emergência da
trabalhadores, que tem como objetivo a
sociedade
defesa e a promoção dos seus interesses
capitalista,
estando
a
ela
comuns e se estrutura de acordo com um
indissoluvelmente ligado. Inicialmente fortemente reprimidos, os sindicatos integraram um movimento mais
dado
princípio
organizativo
(ramo
de
atividade, profissão, empresa/serviço).
.
amplo em prol da liberdade associativa, tendo vindo a ser legalizados, com maiores ou menores restrições, ao longo do século XIX: 1824, no Reino Unido; 1884 em França;
" HÁ 200 ANOS, COMO ATUALEMNTE, OS
1891 em Portugal. Ainda neste século, e
SINDICATOS SÃO UMA DAS MAIS
. SOCIALIS . DOSSIER TEMÁTICO –ISTO É EXPLICAR
O QUE É QUE SE TRABALHA .
durante as duas primeiras décadas do
6.
seguinte,
surgiram
os
cinco
modelos
IMPORTANTES INSTIRUIÇÕES DE TRABALHO”
históricos de sindicalismo que perduram até
.
hoje. Há
200 anos, como atualmente,
os
sindicatos são uma das mais importantes
Segundo os diversos modelos históricos de sindicalismo, os objetivos dos sindicatos
instituições do mercado de trabalho. O vocábulo sindicato e outros aparentados
variam: eles visam a simples defesa dos
vocábulo sindicato e outros aparentados
trabalhadores
(sindicalizado,
industrialização
sindicalismo,
sindicalista)
contra e
os o
malefícios
arbítrio
da
patronal
foram introduzidos no português a partir do
(sindicalismo católico e o arbítrio patronal
francês em finais do século XIX. Estes termos
(sindicalismo católico e de mercado); a
remetem para a função de síndico, aquele
participação na regulação do mercado de
que representa um grupo visando zelar pelos
trabalho, a fim de aprofundar a justiça social
seus interesses.
(sindicalismo reformista); ou ser um dos uma
instrumentos (sindicalismo de classe) ou o
associação de cariz voluntário, formada na
único instrumento (sindicalismo revolucioná-
base de uma agregação de interesses e de va-
rio) de luta pelo derrube da sociedade capita-
Deste
modo,
um
sindicato
é
uma nova
A partir da década de 70 do século XX, os
face à situação que se vive atualmente, os sindicatos serão portadores de futuro, se
seus recursos de poder (poder associativo
adotarem
uma
ou organizacional; poder estrutural ou
transformadora, passando pelo regresso à
económico; poder institucional) começaram
sua matriz de movimento social; pela
a ser erodidos, originando a crise desta
promoção de uma mudança organizacional
forma associativa, que se tem vindo a
que permita a desburocratização e aprofunde
agravar e constitui atualmente umas das
a
suas características dominantes à escala
reunificar no seu interior trabalhadores
global.
precários e desempregados, ao invés de
democracia
estratégia
radicalmente
interna; se
conseguirem
Esta crise é uma crise de uma certa forma
constituírem apenas um grupo de pressão
de fazer sindicalismo, não constituindo um
de trabalhadores que se encontram melhor
indício de uma sua decadência inexorável,
posicionados no mercado de trabalho; se
como defendem alguns autores.
conseguirem trabalhar conjuntamente com outros movimentos sociais em torno da resolução de questões laborais e de outras que extravasam este âmbito; ou se forem capazes
de
implementar
dois
tipos
de abordagem: um sindicalismo de carácter comunitário, que mostra ser particularmente importante para organizar os trabalhadores precários,
dada
a
elevada
rotação no
emprego a que estão sujeitos; e um sindicalismo permita
de
fortalecer
capital os
social,
laços
entre
que os
trabalhadores e as organizações a partir de uma ação sindical que associe o desígnio da
resolução
dos
problemas
coletivos
à resolução dos problemas individuais de cada trabalhador e de cada trabalhadora.
.
sociedade.
Organizações cada vez mais necessárias
O QUE É QUE SE TRABALHA
construção de
. SOCIALIS . DOSSIER TEMÁTICO –ISTO É EXPLICAR
lista e de
7.
~
Persistam o s na discussao so bre a
~ rel acao ,
,
entre genero e trabal ho
Luísa Veloso Professora do departamento de Sociologia do Iscte, Investigadora no CIES A sociologia tem persistido, na sua prática
décadas (com as devidas diferenciações
académica e na sua intervenção em espaço
nacionais e regionais), mas o que importa
público, na discussão em torno da presença
será analisar em detalhe aspetos como os
das mulheres no mercado de trabalho.
níveis de qualificação, de remuneração, o tipo
Expressões como estigmatização, discrimina-
de atividades desenvolvidas, etc. Para dar
ção, igualdade, equidade, surgem profusa-
apenas dois exemplos, é evidente o de-
mente a propósito desta temática, que de tão
sequilíbrio
ampla, dificulta a sua abordagem sucinta,
homens, acerca da ocupação de posições de
sem se resvalar para um conjunto de lugares
topo, assim como às remunerações.
quantitativo,
favorável
aos
questões que este debate coloca mantêm a
atividades domésticas desempenhadas pelas
sua relevância e atualidade, importará frisá-
mulheres que são de cariz profissional, mas que, na realidade, ao serem desempenhadas
necessariamente, restrito, destaco os seguin-
na sua esfera privada, acabam por ser, para
tes elementos.
além de não remuneradas, não consideradas
O QUE É QUE SE TRABALHA .
O terceiro remete para a invisibilidade da
las e reforçá-las. Num exercício que é,
de todos nós quando nos posicionamos e
O quarto aspeto, relacionado com o que
. SOCIALIS . DOSSIER TEMÁTICO –ISTO É EXPLICAR
comuns. Mas, por sua vez, e porque as
expressamos acerca do trabalho exercido por
acabou de ser referido, remete para o papel
mulheres e porque as comparamos com e
central desempenhado pelas mulheres na
distinguimos dos homens. Importa estar
organização da vida privada e, logo, pela
sempre atento nas escolas, nas famílias, na
canalização de uma parte substancial do seu
comunicação social a esta questão e ser
tempo, das
incondicionalmente intransigente ao alimen-
para as atividades tidas como domésticas,
tar este tipo de distinções.
também elas, como foi referido, invisíveis no
O segundo remete para a estruturação do
quadro da estrutura económica e do mercado
mercado de trabalho.
de trabalho.
8.
O primeiro, de cariz mais amplo é relativo à linguagem, às atitudes, aos comportamentos
no
cômputo
geral
das
atividades
económicas.
suas
vontades
e
desejos,
das
O quinto aspeto que destaco consubstan-
mulheres no mercado de trabalho há já várias
cia-se nos modelos de gestão praticados pro-
É
notória
a
presença
crescente
fusamente
pelas
empresas
que
têm
subjacentes, frequentemente, práticas de assédio moral (e não apenas sexual) que afetam de forma mais notória as mulheres e que não se trata já apenas de uma questão hierárquica ( de relação superior-subordinado), mas horizontal, já que são os modelos de organização de trabalho em si que promovem relações de trabalho horizontais pautadas pela individualização, pela competição e pela não cooperação. Um dos claros exemplos é o apelidado “trabalho por projeto” que apela, aparentemente, a um trabalho de colaboração, mas que, na prática se traduz, na obrigatoriedade de os trabalhadores saltarem de projeto para projeto permanentemente, promovendo os
Mas o debate entre género e trabalho é, como já referi, substancialmente mais amplo do que confrontarmos as atividades laborais (formais e informais, remuneradas e não remuneradas, visíveis e invisíveis) desempenhadas por mulheres e por homens. Sabemos que as questões de género são, hoje, e muito bem, debatidas de forma bastante mais complexa e apelam de forma notória e pertinente para o respeito pelas identidades de género e a total intransigência para com formas de discriminação.
. SOCIALIS . DOSSIER TEMÁTICO –ISTO É EXPLICAR
faz o quê.
O QUE É QUE SE TRABALHA
.
homens uma atitude de definição de quem
9.
INVESTIGAÇÃO SOCIOLÓGICA ´
O humor e a politica: ~ A investigacao que falta realizar ´
Rita Espanha Professora auxiliar com agregação do Departamento de Sociologia do Iscte, Diretora do Mestrado em Comunicação, Cultura e Tecnologias de Informação Este texto tem como ponto de partida o
nifestações públicas foi e é possível graças a
trabalho realizado pelo meu antigo aluno e
um menor grau de institucionalismo à
orientando
que
identidade de resistência, à cultura de
desenvolveu uma dissertação de Mestrado
protesto, e à preocupação dos ativistas em
sobre o tema do humor em movimentos
recriar a
sociais
em
comunicar utilizando humor atraem atenção,
parceria publicado na Revista da Associação
despertam curiosidade e podem ser, até
Portuguesa
certo ponto, fatores de mobilização social.
Pedro
que
Caldeira
originou de
um
Sociologia
Pais,
artigo
(Sociologia
Online) 1.
. SOCIALIS . INVESTIGAÇÃO SOCIOLÓGICA .
Essa
10.
comunicação. As
formas
de
De 2013 para 2020, muito mudou, mas pesquisa
do
muito também ficou igual. O que mudou
humor nos movimentos sociais em Portugal,
essencialmente, senão o panorama político,
nomeadamente entre 2011 e 2013. Para tal
claramente o cenário governamental e par-
analisaram-se
uma
lamentar. As manifestações e protestos a que
manifestação do Que se Lixe a Troika (QSLT) e
se refere o estudo em análise realizaram-se
de outra organizada pelos sindicatos, tendo-
numa
se
acentuada, mas o que diremos da situação
realizado
os
discute
o
cartazes
entrevistas
a
papel
de
ativistas
e
sindicalistas. As principais conclusões desse estudo foram
fase
de
crise político-económica
político-económica que vivemos atualmente? Além disso, o panorama formal da política
a confirmação de que o uso de humor e
portuguesa
criatividade em protesto ou outro tipo de ma-
mente.
também mudou substancial-
1 Pais, Pedro Caldeira & Espanha, Rita, “O humor em movimentos sociais: Criatividade e informalidade nas
manifestações anti-austeridade em Portugal”, Revista da Associação Portuguesa de Sociologia – Sociologia Online, nº 17, Out. 2018
Novas formas de governança, novos pode-
Curiosamente, foi
durante
as
últimas
res no poder, novas alianças parlamentares,
campanhas eleitorais e a partir de um novo
novos
enfim…
partido político, a Iniciativa Liberal, que o
apesar de nem todos os protagonistas serem
humor voltou à política. Não em protestos de
propriamente novos, o xadrez e a dinâmica
rua, mas em cartazes, na rua, de grandes
alteraram-se profundamente. E o “humor” e
dimensões, que depois circulam, muito, nas
os “protestos” também.
redes socias online. Os cartazes de rua
partidos
no parlamento,
humorísticos e irónicos não foram uma
.
invenção da IL, aliás foram durante muito tempo uma característica do antigo PSR, prática depois continuada pelo BE (que
" DE 2013 PARA 2020, MUITO MUDOU, MAS TAMBÉM FICOU IGUAL”
.
integrou também o PSR). Mas o seu regresso em força deu-se, desde as últimas eleições legislativas e Europeias com a IL. E, o facto é que o partido, que não tinha nenhuma cobertura mediática tradicional, nem particular atenção dos media em geral, conse-
Os protestos de rua são mais localizados,
da República. Com este único exemplo, penso
mais restritos, mais sujeitos a restrições de
que é possível argumentar que vale a pena
naturezas diversas (a covid-19 é uma delas,
equacionar novas pesquisas, que voltem a
mas há outras, menos evidentes e mais
olhar para o humor, de forma mais generali-
circunstanciais). O humor está menos pre-
zada e sistemática e para a importância como
sente nessas manifestações.
forma de mobilização política. . SOCIALIS . INVESTIGAÇÃO SOCIOLÓGICA .
guiu eleger um deputado para a Assembleia
11.
O S TRAJETO S ESCO L ARES DO S DESCENDENTES DE IM IGRANTES EM PO RTUGAL Teresa Seabra
Professora Auxiliar do Departamento de Sociologia do Iscte, Investigadora do CIES-IUL
Conhecer a realidade dos alunos que têm
tratam dados mais completos (podendo
origem na imigração no nosso país é
incluir a naturalidade dos avós) de modo a
tarefa difícil. A Direção Geral de Estatísticas
localizar estes alunos com background na
da Educação e Ciência (DGEEC) do Ministério
imigração. Recentemente foi tornada rea-
da Educação recolhe e analisa os dados
lidade, a possibilidade de as equipas de
enviados pelas escolas sobre cada um dos
investigação poderem consultar as bases de
alunos. Entre esta informação encontra-se a
dados da DGEEC, depois de anonimizadas.
nacionalidade e a naturalidade do aluno e de cada um dos seus progenitores. Os dados disponibilizados por este organismo minis-
.
terial são limitados ao país da nacionalidade de cada aluno e para cada nacionalidade conhece-se: o contingente de alunos (inscritos e transitados) no ensino básico e secundário
por
ciclo
de
escolaridade,
a modalidade de ensino que frequentam (regular, artístico,
percursos
curriculares
. SOCIALIS . INVESTIGAÇÃO SOCIOLÓGICA .
alternativos, cursos de educação e formação,
12.
" CONHECER A REALIDADE DOS ALUNOS QUE TEM ORIGEM NA IMIGRAÇÃO DO NO NOSSO PAÍS É TAREFA DIFÍCIL”
.
cursos vocacionais, cursos profissionais…).
Numa aproximação, muito sintética e super-
Estes dados excluem da análise todos os
ficial, ao conhecimento disponível sobre os
alunos que tenham obtido nacionalidade
alunos estrangeiros sabemos que: (i) repre-
portuguesa, apesar de terem origem na
sentam cerca de 5% da população escolar; (ii)
imigração, uma vez que podem ter nascido
os oriundos do Brasil são os que estão mais
num país estrangeiro, assim como qualquer
presentes atualmente (cerca de 25.% dos
um dos seus ascendentes. Para colmatar esta
estrangeiros); (iii) a proporção de alunos
lacuna, os investigadores têm desenvolvido
estrangeiros que frequentam vias alternativas
alguns estudos empíricos em que recolhem e
ao ensino regular é maior do que entre os na-
cionais; (iv) os alunos estrangeiros têm, em
contributos importantes para o alargamento
média, taxas de aprovação menores do que
e aprofundamento do conhecimento destes
os alunos com nacionalidade portuguesa,
alunos. Acresce sabermos, nomeadamente,
podendo algumas
nacionalidades atingir
que (i) os resultados académicos dos alunos
taxas superiores à dos nacionais; (v) a
com origem na imigração e os dos autócto-
diferença de resultados entre os estrangeiros
nes se aproximam quando a escolaridade de
e os nacionais aumenta à medida que os
todas as famílias é baixa, podendo os pri-
alunos progridem no sistema de ensino,
meiros ultrapassar os dos segundos e que
duplicando quando estes passam do 1º para
(ii) as famílias dos descendentes de imigran-
o 2º ciclo do ensino básico.
tes têm elevadas aspirações escolares para os
Os estudos que permitem identificar alunos
seus
filhos
e
utilizam
múltiplas
descendentes de imigrantes (universo mais
estratégias para concretizar o projeto de
lato que o dos alunos estrangeiros) têm dado
mobilidade social de que são portadores.
.
...
" OS ALUNOS ESTRANGEIROS TÊM, EM MÉDIA, TAXAS DE APROVAÇÃO MENORES DO QUE OS ALUNOS COM NACIONALIDADE PORTUGUESA”
. SOCIALIS . INVESTIGAÇÃO SOCIOLÓGICA .
.
13.
EM DIÁLOGO COM... António Firmino da Costa Professor Catedrático Jubilado do Departamento e Agregação em Sociologia SOCIALiS: Então para começar, como é que ocorreu a sua entrada na Sociologia?
democrático, com estado de direito, com
ANTÓNIO FIRMINO DA COSTA: Cheguei à
pluralismo político. Portanto, se tinha nos
Sociologia e ao Iscte na mesma altura, mas
anos
antes de entrar para o Iscte o que me
modesta no sentido de tentar combater a
aconteceu foi o seguinte: eu tinha fre-
ditadura e ajudar à passagem para as
quentado
Engenharia
liberdades e a democracia, pensei que as
Química, nos finais dos anos 60. Como vocês
novas condições democráticas já estavam
sabem,
numa
conseguidas e estava na altura de conhecer
sociedade muito diferente, estávamos numa
melhor a sociedade em mudança. Uma coisa
ditadura e num país atrasado. Fiz parte da
era estar envolvido no processo social
associação
Instituto
anterior, sempre muito rápido e acalorado,
Superior Técnico, no final dos anos 60 e início
mas agora estava na altura de conhecer mais
dos anos 70, e havia um grande movimento
e melhor a sociedade ela própria. Eu tinha
estudantil contra a ditadura, contra a guerra
arranjado um emprego na área de enge-
colonial,
subdesenvolvimento,
nharia, e então fui à procura de um curso que
contra um clima cultural abafado, contra a
me desse essa possibilidade de aprofunda-
falta de liberdades e democracia. Depois do
mento e conhecimento da sociedade. A
25 de abril, em 1974, as coisas tornaram-se
sociedade estava em grande transformação,
muito diferentes e para mim foi fundamental
já tínhamos liberdade e democracia, mas
que em 1975 começamos a ter uma
estava tudo por construir em termos de
constituição democrática, ou melhor, em
modernização e desenvolvimento. Portanto
1975 foi eleita a Assembleia Constituinte e
fui à procura de um curso que permitisse esse
depois houve a aprovação da Constituição em
aprofundamento, encontrei a licenciatura em
1976. Quando chegou a essa altura pensei:
Sociologia no Iscte, que tinha sido iniciado
finalmente
nos anos anteriores e estava a alargar o
outro nessa
de
contra
já
curso, altura
em
estávamos
estudantes
o
estou
do
numa
sociedade
democrática, com uma constituição democrá-
14.
tica, com liberdades e garantias de carácter
anteriores
tido uma
contribuição
número de vagas, e por outro lado o Iscte
dava-me a possibilidade de frequentar o
se entra na carreira universitária, já se tem
curso em horário pós-laboral, portanto eu
que ter um doutoramento à partida. Mas
podia conjugar o estudo com a minha
nessa altura a maioria das pessoas não tinha
atividade
na
um doutoramento, a maioria dos meus
Sociologia e no Iscte com esta perspetiva:
professores não tinha um doutoramento;
tendo
lutas
estavam a desenvolver as suas pesquisas para
democráticas e nas transformações sociais,
o concluírem. Era um mundo arcaico também
de certa maneira tinha a noção clara de que
na universidade e, portanto, eu ainda passei
era bastante desconhecedor do que são os
por
meandros complexos da organização social.
atividade de investigação, de ensino e
De facto, o que aconteceu foi que descobri
também
um curso fantástico, com um conjunto de
institucional. Porque, como estava a dizer, era
professores jovens e muito calorosos nas
preciso criar tudo praticamente de novo em
suas aulas e nas suas conversas informais,
termos de organização, da investigação e do
com um conjunto de colegas também
ensino superior, e assim participei nestas três
muitíssimo interessantes. Depois descobri
vertentes.
profissional. Assim, estado
envolvido
entrei nas
essa
transição. de
Depois
participação
desenvolvi de
carácter
que a Sociologia, na sua constituição de conhecimento e pesquisa, de análise, se
SOCIALiS: Concluiu a sua licenciatura no
revelou um domínio que me dava muitas
Iscte em 1981, o que diria que mudou na
possibilidades
estrutura do curso desde essa altura?
de
conhecer melhor,
de
investigar melhor os processos sociais. ..
AFC: Mudou muitíssimo, mas antes de
Fiz a licenciatura em 5 anos e envolvi-me
falarmos um pouco sobre o que é que
muito, tive boas notas. A certa altura, quando
mudou, talvez seja interessante dizer o que
tinha acabado de concluir a licenciatura,
se mantém. Acho que o que se mantém são
aconteceu um concurso para recrutar dois
várias coisas importantes. Por um lado, o
assistentes estagiários para o departamento
próprio tema da sociologia. Não sei se vocês
de sociologia. Ganhei um desses lugares,
concordam, mas eu continuo depois destes
claro que essa figura do assistente estagiário
anos todos a pensar que é uma área de
já não existe há muitos anos, mas nessa
conhecimento muito interessante, por vários
altura a atividade universitária começava por
motivos. Há, pois, uma continuidade de
essa figura, depois passava-se a assistente,
domínio de conhecimento, e também se
depois passava-se a professor se se fizesse
mantém
um doutoramento mais tarde. Agora, quando
relacionamento entre as pessoas, que não é
uma
certa
informalidade
no
15.
necessariamente o que acontece noutras
foi reestruturada várias vezes, passou por
instituições. Eu vinha de outras experiências
uma versão de 4 anos, mas já a pensar que
universitárias e ao longo dos anos tenho
mais tarde se desenvolveriam mestrados.
contactado com muitas outras. Não é só da
Deste modo, o ensino da Sociologia no Iscte
área da Sociologia, mas há uma cultura
mudou, sobretudo porque se organizou em
institucional de informalidade no Iscte que
três graus, de uma forma mais avançada, tal
facilita a comunicação e o relacionamento
como funciona no mundo inteiro, e hoje em
entre os estudantes e os professores. Claro
dia de uma maneira até muito articulada.
que todas as pessoas são diferentes, umas
Talvez a principal diferença tenha a ver com o
são mais assim e outras não, mas o clima de
facto de que, antes, quando eu entrei para o
convivência tem essa característica muito
curso de Sociologia, havia um tempo muito
forte, que é muito entusiasmante, e que para
grande para estudar na licenciatura, durante
além disso é muito produtivo do ponto de
cinco anos; alguma pessoa que não tivesse
vista do conhecimento. Essas duas coisas
condições de fazer todos os anos de uma vez
mantiveram-se. O que é que mudou?
podia estar na licenciatura durante seis ou
Mudaram muitíssimas coisas. Em primeiro
sete
lugar,
organização com mais patamares e com
toda
a
organização
do
ensino
não, temos
articulação entre
nessa altura em três grandes níveis de
atribuídos nas universidades no mundo
formação:
inteiro. Claro que isso tem vantagens e
licenciatura,
mestrado
e
sequer antes existia Sociologia.
os
uma
universitário internacional estava já dividida
doutoramento – mas em Portugal não. Nem
graus, como são
desvantagens. Por
outro
lado,
na
licenciatura
em
Gradualmente, ao longo dos anos, foi-se
Sociologia do Iscte, fizemos o possível
construindo essa formação em três níveis,
para, apesar de ser em três anos, colocarmos
como tinha sido desenvolvida nas univer-
no final um conjunto de aproximações a um
sidades dos países mais desenvolvidos. Isso
trabalho mais articulado, no projeto e
mudou muito, porque na altura tudo o que se
relatório dos laboratórios finais do 3º ano. De
estudava era na licenciatura. De certa ma-
certo modo simulam, de forma um pouco
neira, alguns dos objetivos que mais tarde
mais
passaram a ser desenvolvidos no patamar do
conhecimentos e de experiências que as
mestrado e no patamar do doutoramento,
várias disciplinas mais especializadas não
que não poderiam ser bem desenvolvidos só
permitem.
a nível de licenciatura. O curso, a licenciatura,
16.
anos. E agora
organizada,
a
integração
de
Bom, a transformação principal eu acho que
é isso; e depois há a transformação geral dos
movimento foi-se desenvolvendo ao longo
tempos, nós agora estamos no século XXI.
dos anos 80 e depois surgiram os outros
Para nós, sociólogos, é óbvio – outros podem
níveis de formação. Assim, tornou-se claro
não estar tão atentos – mas hoje em dia as
para alguns de nós que era fundamental
agendas
termos
tendem
a
ser diferentes,
ou
um
contexto
de
conversa
e
parcialmente diferentes, e o contexto social
organização entre nós, dos sociólogos que
traz
estavam
também
consigo
elementos
de
a
começar
a
desenvolver
a
quotidiano e de projeto muito diferentes.
Sociologia em várias universidades. O normal
Há muitas mudanças, mas creio que as
era constituir-se uma associação dessa área,
continuidades se mantêm fortes: o interesse
a exemplo do que acontecia em outros
temático, a diversidade intelectual e as
domínios. Mas havia outras razões. Uma
perspetivas
que
de
delas era também muito importante. Eu tinha
horizontes,
e
informalidade.
uns 40 ou 50 colegas no mesmo ano em que
Entretanto o contexto mudou, as ferramentas
finalizei a licenciatura em Sociologia, e três
mudaram, o contexto organizacional da
ou quatro acabaram por se tornar também
universidade também mudou.
docentes do Iscte, mas os outros tinham
permitem abertura aquela
outras
atividades
profissionais,
nós
nós.
Por
SOCIALiS: Foi um dos membros fundadores
mantínhamos
ligação
da Associação Portuguesa de Sociologia
conseguinte,
esta ideia
(APS), como é que recorda a criação desta
começou a desenhar-se também como um
associação e qual o papel que esta ainda
ponto
desempenha atualmente?
independentemente dos contextos organiza-
AFC: Esse é um aspeto fundamental também.
cionais em que desenvolviam as suas
A Associação Portuguesa de Sociologia foi
atividades
criada formalmente em 1985. Como disse há
denominador comum que era o interesse
pouco, entrei como docente no Iscte em
em Sociologia. Para mim próprio, e para
1981, e quase tudo estava ainda a ser
outros
construído. Uma das coisas que se tornou
evidente
claro é que começava a haver alguns núcleos
e comecei a ter alunos e a interessar-me pelo
de sociólogos em algumas universidades,
que iria acontecer profissionalmente com
tendo sido criados cursos de Sociologia logo
eles. Logo desde o início tornou-se-me
a seguir ao Iscte, como os da universidade
claro que, depois de eles terem concluído os
Nova de Lisboa, Universidade do Porto, da
cursos e singrarem nos domínios de atividade
Universidade
que fossem desenvolvendo, era importante
de
Coimbra,
etc.
Esse
de
encontro
profissionais,
colegas, quando
entre
e
da de
sociólogos
mas
tornou-se me
associação
com
ainda
tornei
um
mais
professor
17.
termos um modo de conversarmos entre nós
-me que na época éramos poucos, mas
e desenvolvermos atividades comuns. Havia
mesmo quando os grupos são pequenos
um terceiro elemento para a constituição da
podem existir controvérsias. Na altura alguns
APS. O primeiro eram os professores de
colegas achavam que esta associação devia
sociologia que estavam a começar; o segundo
de ser basicamente um interlocutor do
eram
mundo
as
várias gerações
grande
académico
da
sociologia
disseminação e diversificação de atividades
internacional, de doutorados que eram
profissionais,
elemento
também professores e investigadores, que
com
iam
importante
18.
com
e
o
terceiro
era
a
ligação
o
a
congressos internacionais. Esses
mundo internacional da sociologia. Havia
colegas achavam que não fazia sentido criar
uma Associação Internacional de Sociologia.
uma
Depois da II Guerra Mundial, a Organização
os outros sociólogos. Pelo contrário, outros,
das Nações Unidas desenvolveu um conjunto
entre os quais me encontro e tenho
de
área
muito orgulho disso, insistimos em que não
cultural, científica, educacional, etc. Sob a
podia ser, tinha que ser uma associação
égide
criaram-se
inclusiva e não uma associação excludente.
associações científicas internacionais em
Tinha que ser uma associação aberta a todos
vários domínios, e a Sociologia constituiu a
os
sua associação internacional. A ideia era
suas múltiplas atividades profissionais, e até
encontrar um contexto de diálogo entre os
a
sociólogos dos vários países. Assim, a APS
académica formal em Sociologia, mas que no
tinha também esse terceiro objetivo, o de
desenvolvimento
estabelecer essa interlocução internacional
intelectuais se interessassem com alguma
dos sociólogos portugueses com os seus
relevância
congéneres de outras associações nacionais e
Foi,
dessa associação internacional. Por isso
inclusiva
constituí-mos
conjugar os
completamente contra os corporativismos
professores de sociologia, os sociólogos que
fechados e elitistas, que acabou por vingar
se iam formando e desenvolvendo atividade
este modelo de associação. Na verdade,
profissional
e
essa controvérsia nunca acabou, porque de
estabelecer uma relação internacional com
vez em quando, dependente de vários
os congéneres na área. Não vos escondo que
episódios e várias circunstâncias, lá volta a
na altura estes objetivos não eram nada
aparecer este debate sobre maior abertura
pacíficos, havia muita controvérsia, lembro-
ou maior fechamento, de maior inclusão ou
me
domínios das
de
intervenção
Nações
a APS
em
Unidas
para
diversos
na
domínios,
associação
sociólogos, outros
que
aberta
e
todos
independentemente não tivessem dos
seus
pelo domínio da
portanto,
a
numa de
formação interesses sociologia.
perspetiva grande
das
muito
abertura,
de maior corporativismo. Mas a APS foi
mas havia alguns, e compararam também
constituída nessa perspetiva de associativis-
com o que acontecia com outras atividades,
mo inclusivo. Houve cerca de 20 pessoas que
como medicina e direito. Durante uns meses
constituíram a associação formalmente, em
trabalharam nessa elaboração e o código foi
termos de estatutos, de registo institucional,
discutido no segundo congresso português de
e depois avançámos rapidamente para um
sociologia, em 1992, tendo sido depois
primeiro
para
aprovado numa assembleia geral da associa-
convocar todas as pessoas para poderem
ção, para se tornar um elemento estruturante
participar e conhecerem-se reciprocamente e
referencial dos sociólogos. Nesse código de
debaterem em conjunto sobre a evolução da
deontologia
associação e das suas atividades. Agora nós
abrangem não apenas os estudantes e
vamos ter justamente no Iscte, já não este
professores, mas também as atividades
ano de 2020, porque tivemos que adiar por
profissionais de todos os sociólogos.
congresso,
justamente
as
preocupações
éticas
causa da Covid-19. O congresso seria em 2020, mas vai existir em 2021, e vai ter que
SOCIALiS: Sendo professor de Sociologia no
ser em grande parte à distância. Espero que
Iscte deu aulas a várias gerações de
seja o último que seja necessário fazer desta
sociólogos, no passado a maioria dos
maneira, mas já é o XI Congresso.
estudantes
pretendia
enveredar
pela
Há uma coisa muito importante que
investigação, diria que mais recentemente
também foi feita logo de início para
tem havido uma viragem para a Sociologia
consolidar esta ideia de a associação ser uma
ser vista como uma ciência pluridisciplinar
associação abrangente e inclusiva. Foi criar
pelos estudantes e uma forma de vir a entrar
um código de ética dos sociólogos, um código
noutras áreas de estudo (como RH, Gestão,
de deontol ogia, que fosse não propriamente
Comunicação etc.)?
uma imposição formal jurídica, mas sim um
AFC: Eu acho que sempre foi muito plural.
conjunto de referenciais normativos em que
Lembro-me dos meus colegas que acabaram
os sociólogos se possam rever de acordo com
o curso, estavam a trabalhar em empresas,
a sua matriz intelectual abrangente e aberta.
em ministérios, nas mais variadas áreas.
Foi desenvolvido por um grupo muito
Como eu disse, frequentei a turma pós-
alargado de sociólogos da época, à volta de
laboral, portanto a maior parte deles eram
30 pessoas que durante muitos meses
pessoas já com empregos em variados
se
reuniram e foram consultar os códigos de ética de outros países, que não havia muitos,
domínios. Essa diversidade de horizontes já existia
19.
claramente. Depois há sempre uma coisa
grande a esse respeito, houve alguns casos
muito
minoritária:
em que houve algum incómodo porque
algumas pessoas gostariam muito de fazer
houve pessoas que não singraram tanto, e
uma carreira profissional na universidade,
mesmo hoje está sempre a acontecer, porque
mas não conseguiram ganhar um concurso.
são carreiras muito exigentes, que têm
Agora
muitos filtros, e nalguns casos isso funciona
aborrecida,
embora
não sabemos
se
foi
justo ou
injusto, consoante os casos, mas alguns
melhor
desses ficaram um bocado traumatizados.
interessante mencionar a respeito disto uma
Porém, a maioria não. Na maioria estavam
outra dimensão institucional da sociologia
interessadíssimos nas atividades que estavam
com que me envolvi bastante. Tem a ver com
a desenvolver e transportavam a sociologia
a criação de um centro de investigação, o
para esses vários domínios. Sendo que alguns
CIES - Centro de Investigação e Estudos de
tinham um talento maior para reequacionar
Sociologia. Os centros de investigação têm
as suas atividades profissionais com um
muito mais gente a participar do que o estrito
contributo mais forte por parte da sociologia,
corpo docente de uma universidade. De certa
e outros nem tanto, com menos capacidade
maneira, vão envolvendo muitas gerações de
de envolvimento de contributos da sociologia
sociólogos. Alguns acabam por fazer dessa
nas várias atividades profissionais. Claro que
uma experiência interessante e enrique-
as atividades profissionais envolvem sempre
cedora
pessoas,
profissional continuada, ao passo que outros
relações
sociais,
comunicação, há sempre
hierarquias,
vida,
pior.
mas
Talvez
não uma
seja
vida
acabam por prosseguir a atividade de
mobilizar o conhecimento sociológico em
investigação, e às vezes articulada com o
todas as atividades. Mas há pessoas mais
ensino, ao longo do seu trajeto profissional. O
criativas e outras menos, e isso é muito
que há de diferente é que agora somos
diversificado,
naquela
muitos milhares de sociólogos enquanto nos
perspetiva que eu estava a defender há
primeiros anos em que eu dei aulas eram
pouco, de a APS ser inclusiva, não vamos
centenas; agora são muitos milhares e,
julgar as pessoas dizendo que só devíamos
portanto, há uma diversidade maior. Uma
incluir os mais criativos, até porque isso vai
outra questão que mencionou: de início no
variando.
devem
Iscte só existiam licenciaturas de Gestão e
merecer o mesmo estatuto de pares, fazerem
Sociologia; depois multiplicaram-se as áreas
parte do mesmo grupo, que é o dos
de ensino e, ao longo das décadas, o que
sociólogos.
aconteceu foi uma grande diversificação não
Portanto,
justamente
todos
eles
Não sei se houve uma evolução muito
20.
de
noutros
para
e
espaço
e
grande
só vertical, de licenciatura, mestrado e dou-
toramento, mas também uma diversificação
para que a investigação consiga alcançar
horizontal. Começaram a multiplicar-se as
maior relevância, quer intelectual quer social,
licenciaturas
tem que haver uma investigação mais
em
conhecimento mestrados,
e,
grandes
áreas
especialmente
multiplicaram-se
as
de nos
organizada.
áreas
O CIES foi uma criação dos assistentes
especializadas e interdisciplinares, muito
estagiários dessa época, dos novos docentes,
diversificadas. Por exemplo, quando se fazia
que
um mestrado em Sociologia trabalhava-se
encontrar um
nesse mestrado em muitos temas que agora,
viabilizasse o desenvolvimento das suas
a nível de mestrado, podem ser estudados
pesquisas e a troca de experiências entre
num mestrado em Recursos Humanos ou em
eles, e uma organização que os dotasse
Educação ou em Urbanismo, etc. Dantes não
também de possibilidade de interlocução
havia essas formações mais especializadas e
com as políticas de ciência e com os
mais diversificadas e, portanto, todos os que
potenciais interessados nos resultados da
estavam a estudar esses vários temas
investigação sociológica, nomeadamente nos
estavam de algum modo em conjunto no
domínios camarário, ministerial, empresarial,
mesmo curso. Agora há uma diversidade de
associativo, etc. Por isso, a ideia de criar o
possibilidades.
centro era fundamentada na necessidade de
entenderam
que
precisavam
de
contexto organizado que
ter um quadro organizado de investigação em SOCIALiS: Foi um dos fundadores do CIES e
Sociologia no Iscte. E a sua constituição
esteve bastante tempo envolvido na sua
multiplicou muito as potencialidades de
direção e coordenação, olhando para trás
investigação, porque começámos a constituir
qual é a reflexão que faz sobre as equipas de
equipas mais alargadas, com programas de
investigação que integrou ou acom panhou
investigação mais ambiciosos, envolvendo
ao longo dos anos?
várias gerações de pessoas nas mesmas
AFC: Em primeiro lugar, o importante do CIES
equipas, uns mais experientes outros a
é que ele veio ocupar um lugar que não
aprender, outros em percurso intermédio.
existia no Iscte. O centro é um contexto
Por outro lado,
organizado para desenvolver investigação.
desenvolver não só projetos de investigação,
Quando se faz investigação avançada, há
mas também organizar colóquios, seminários,
sempre algumas pessoas que podem fazer
publicações etc. Um dos aspetos em que
uma pesquisa individual, e pode ser genial.
também me envolvi no centro foi criar a
Porém, a certa altura, quando envolvemos
nossa própria revista científica, neste caso a
um número mais importante de pessoas, e
Sociologia Problemas e Práticas. Na altura,
para
em
um
centro possibilita
21.
em Portugal, havia a Análise Social, do ICS, e
afinidades diversas, com a Ciência Política,
tinha aparecido recentemente a Revista
com a História, com a Antropologia, com a
Crítica de Ciências Sociais, do CES da
Economia,
Universidade de Coimbra. E a ideia não era só
Embora
publicarmos investigações dos membros do
Sociologia, uma vez que é o conjunto mais
CIES, mas um instrumento de difusão de
numeroso e faz parte do enraizamento
produção científica em geral da sociologia e
principal, mas igualmente com essa abertura
de outras ciências sociais, e que pudesse ser
interdisciplinar. Deste modo, o CIES acabou
um veículo interessante para outros que
por dotar o Iscte de uma vertente de
estivessem a desenvolver pesquisas relevan-
investigação nessa área que tivesse uma
tes noutros contexto. O CIES tornou-se
organização própria. Na verdade, o CIES, ao
gradualmente
mais
longo do seu desenvolvimento, acabou por se
numeroso, tendo também uma atitude de
tornar num dos centros principais da área das
grande abertura interdisciplinar. Esta estava
ciências sociais do país, o que se mantém. E
também muito presente na licenciatura de
tem acolhido sucessivas gerações, porque a
Sociologia, ainda hoje temos muito orgulho
rotação de pessoas é muito mais forte do que
em que a licenciatura de Sociologia do Iscte,
nos quadros docentes, com uma flexibilidade
mesmo com o constrangimento dos 3 anos,
muito maior na constituição de equipas de
tenha lugar para variadas cadeiras de outras
projetos e com uma maior flexibilidade de
áreas:
envolvimento.
mais
economia,
estruturado,
história,
psicologia,
etc., com
em centro
variados de
domínios.
gravidade
na
antropologia, etc. O que não é tão vulgar
22.
assim, mas faz parte da matriz inicial, com
SOCIALiS: Como considera
grande mérito dos nossos professores dessa
evolução das ciências sociais em Portugal na
altura. Eles tinham uma perspetiva muito
última década?
aberta, muito interdisciplinar, procurando
AFC: Na verdade, já falei de um dos aspetos
aprofundar o mais possível a Sociologia, mas
da
fazendo-o
fechamento
Portugal, que é o de uma certa diversificação
intelectual, mas numa relação muito aberta
e especialização, mas isto não é uma caracte-
com as outras áreas das ciências sociais. E
rística de Portugal, é o que acontece no pano-
isso transmitiu-se não só para o curso, mas
rama científico internacional. O que acontece
também para o centro e também para a
é que talvez se tenha tornado mais nítida a
revista. Se virem hoje em dia, no CIES,
existência de duas dinâmicas cruzadas: uma
encontram pessoas que são de Sociologia e
delas é o aprofundamento das matrizes
trabalham em várias áreas, mas também com
científicas principais, digamos assim; por
não
como
um
evolução
outro
das
ciências
ter sido a
sociais
em
outro lado, uma dinâmica mais aplicada, mais
nismo, tem a ver com a relação entre o
diversificada,
mais
território urbano e as dimensões sociais,
virada para o impacto social direto e não
alguns dos temas que eram estudados na
tanto para o aprofundamento das matrizes
sociologia urbana. Na sociologia do trabalho
teóricas e metodológicas das áreas de
talvez ainda seja mais nítido, porque todos os
conhecimento principais. Dito desta maneira
estudos
parece uma dissociação, mas não é tanto
comportamento organizacional, de recursos
uma questão de pessoas. O que acontece é
humanos,
que,
interdisciplinares, trazem para esses domí-
em
intelectual,
mais
termos
interdisciplinar,
de
conseguimos
mapeamento
acabam
por
gestão, de ser
muito
duas
nios contributos da Sociologia, mas também
dinâmicas estruturantes: uma dinâmica de
de outras áreas estruturantes, como a
aprofundamento e consolidação disciplinar; e
Economia, a Psicologia, etc. Na Sociologia
outra dinâmica de interdisciplinaridade e
continuam a existir todos estes tópicos de
aplicação mais direta. Este panorama tem
investigação possíveis, mas o panorama já
tido uma evolução significativa nas últimas
não é o mesmo, porque há domínios que se
décadas. Por exemplo, nós tínhamos algumas
especializaram,
áreas fortes na Sociologia quando eu comecei
maneiras próprias. em vantagens, porque
a fazer investigação no CIES e a iniciar a
multiplica possibilidades. Mas também tem
minha atividade de docente no Iscte: a
desvantagens. Se alguém, hoje em dia, for ver
sociologia do trabalho, a sociologia urbana, a
a lista de projetos que estão em curso no
sociologia rural, a sociologia da comunicação,
CIES, talvez em proporção não haja agora
a sociologia da cultura e a sociologia política.
tantos projetos dessas áreas como há 20
Hoje em dia, a configuração já é muito
anos, e a razão principal é provavelmente
diferente. Por exemplo, agora há o curso de
porque, entretanto, houve toda esta diver-
Ciência Política, portanto uma boa parte dos
sificação. Em todo o caso, cada vez mais – é
desenvolvimentos que eram realizados na
uma das dinâmicas de atualidade – estamos a
sociologia
procurar articulações entre vários centros de
política
perceber
organizacionais, de
acabaram
por
ser
que
constituir
de
desenvolvidos em ciência política. Não quer
investigação
dizer que não haja algumas nuances entre
interdisciplinares que, de certa maneira,
sociologia política e ciência política. Mas é
retomam a uma perspetiva de integração,
claro que estas fronteiras são porosas e nada
mas já com contributos mais elaborados
rígidas. Por outro lado, nós temos hoje em
e provenientes de outros domínios. Há uma
dia cursos no Iscte nas áreas de Arquitetura e
evolução forte neste sentido. Também há
Urbanismo, e uma parte, sobretudo no urba-
outras evoluções na última década, mais instituci
visando
se organizaram
equipas
23.
institucionais.
As
fases
de
conhecimento científico também é social -
desenvolvimento político no país vão tendo
acabou
efeito nas políticas de ciência e a última
epistemológico e uma bifurcação. Algumas
década esteve cheia de oscilações, tendo
pessoas retiraram daí a conclusão de que, se
a ver também com as crises financeiras.
havia
Depois
conhecimento
há
igualmente
evolução, que tanto
na
é
uma
outra
mais intelectual, não
última
imediatamente
década,
mas
anteriores.
As
nas
ciências
por
criar
aspetos
um
equívoco
sociais
envolvidos
científico,
então
no esse
conhecimento não poderia ter condições de objetividade e, portanto, cada conhecime nto valia
tanto como outro qualquer.
sociais, incluindo a Sociologia, foram afetadas
A objetividade não poderia funcionar. A ideia
por um equívoco epistemológico, que foi
de se procurar verificar se alguns dos
muito negativo e prejudicou bastante a
conhecimentos são mais adequados do que
profundidade do trabalho das ciências sociais
outros seria uma ingenuidade e uma falácia.
e também a sua credibilidade interna e
Portanto,
externa.
desarmarem
Agora
já
está
superado,
mas
Constituiu
uma
deriva
decorrente
do
equívoco
ainda
bastante
há
qual os
foi
a
critérios
conclusão? de
Foi
rigor, de
marcas.
aprofundamento e de credibilização. Uns
epistemológica,
enveredaram por esse equívoco. A maioria
a
dos sociólogos não enveredou por esse
Sociologia, quando começou a debruçar-
caminho e entendeu a questão de outra
se sobre o conhecimento científico, deu-se
forma. Sim, a produção do conhecimento
conta de que, na produção do conhecimento
envolve dimensões sociais, e isso significa
científico e na sua difusão – seja em
que o conhecimento é ainda mais complexo
Física,
em
do que o que se pensava anteriormente.
Sociologia, ou noutra área qualquer – estão
Portanto, para se trabalhar cognitivamente
sempre envolvidos, não só fatores físicos ou
nos diversos domínios científicos – na Física,
biológicos, mas também elementos sociais,
na Biologia ou na Sociologia, por exemplo –
porque
seja
as
em
seguinte:
Biologia,
pelas
tem que se mobilizar um conjunto ainda
sociais,
pelas
maior de ferramentas. Desde logo, as
organizações científicas. Acontece que esta
ferramentas teóricas, conceptuais, meto-
perspetiva sobre o conhecimento científico,
dologica, observacionais, etc. Elas eram já
que
mobilizadas pelas várias ciências, mas era
foi
ciências pelos
um
são
seja
feitas
sociedades,
24.
várias
atores
contributo
intelectual
importantíssimo para a cultura científica e
preciso mobilizar ferramentas
adicionais,
para
trazendo
exigência,
a
cultura
intelectual
das
nossas
acréscimo
de
sociedades – o de se dar conta de que o
designadamente ferramentas epistemológi-
cnehs
aaa
cas e sociológicas, para que o conhecimento
mesmo que em versões muito sofisticadas,
fosse produzido e examinado com ainda
mas sem prova ou verificação. Por outro lado,
maior profundidade e com objetividade
do ponto de vista externo, perante as outras
acrescida. Claro que não se trata de
ciências e perante outros protagonistas
objetividade absoluta, porque isso não existe.
sociais,
São
objetividade
credibilidade, e isso também foi bastante
relativa, mas mais exigentes. Ora, durante
negativo. Na última década já se recuperou
uns anos, uma parte das gerações dessa
bastante de tudo isso, mas deixou marcas
época desativaram a necessidade de objetivi-
inesperadas,
dade, deixaram de procurar a objetividade
pública,
possível, a favor de um equívoco. Não se
surgimento e propagação de noções de “pós-
deram conta de que, uma vez que se estava
verdade”, “factos alternativos”, etc.
sempre
formas
de
as
ciências
sociais
nomeadamente
mediática
e
perderam
na
política,
esfera com
o
agora a conseguir apreender melhor e de forma mais abrangente o conjunto das
SOCIALiS: Como vê o futuro da Sociologia
dimensões
em relação ao contexto atual de pandemia?
envolvidas
na
produção do
conhecimento científico, tínhamos possibili-
AFC: A pandemia é um assunto com que
dade e obrigação de procurar resultados de
estamos todos a tentar lidar. Na verdade,
conhecimento com maior objetividade. Claro
ainda não há muitos resultados de trabalho
que isto não tem nada a ver com o mito da
sociológico analítico sobre
neutralidade. Não há neutralidade porque as
porque as pessoas estão muito preocupadas,
pessoas têm os seus valores, as suas
porque as condições de trabalho estão
ideologias, as suas preferências, os seus
afetadas e porque o tempo ainda é curto e a
interesses, etc. Não se trata de neutralidade,
produção de conhecimento normalmente
mas de objetividade, de rigor, de aprofunda-
necessita de alguma duração. Claro que os
mento, de verificação. E, sublinho, de objeti-
nossos colegas da biomedicina demoravam
vidade
nos
10 anos a fazer vacinas e agora conseguiram
arcaicos.
fazê-las em alguns meses. De certa maneira,
Durante uns anos, aquela deriva tornou-se de
é também um desafio para nós, nas ciências
certa
muito
sociais. Talvez nós pudéssemos também
prejudicial para a sociologia e para as ciências
desenvolver uma dinâmica mais rápida. Eu
sociais no conjunto. Foi prejudicial interna-
tenho
mente porque
várias gerações de pessoas
projetos, embora um pouco mais à distância
acharam que afinal a sociologia era apenas
do que antes, e tenho acompanhado estudos
questão de discurso, opinião e assertividade,
importantes a esse respeito, quer do ponto
ss
xxxx
relativa
absolutismos
e
maneira
–
senão,
entra-se
essencialismos uma
moda,
foi
estado
envolvido
a
em
pandemia
alguns
25.
de vista da recolha de informação, por
aquelas reuniões do Infarmed, em que há
exemplo sobre a opinião das pessoas dos
médicos, epidemiologistas, etc., que são
vários grupos sociais sobre esta situação, ou
pessoas ótimas e que têm dado contributos
estudos que estão a aprofundar a relação
importantes, mas alguns dos problemas que
entre, por um lado, as biotecnologias e as
têm acontecido têm a ver com relações
tecnologias digitais e, por outro lado, as
sociais. Nós sabemos da Sociologia que a
grandes transformações sociais rápidas do
socialização é um processo muito forte, que
mundo atual. Há uma dinâmica nesses
em princípio não é fácil de modificar
projetos e estudos que ainda não se revelou
rapidamente. No entanto, as pessoas que
de uma maneira muito explícita, mas que
estavam habituadas aos seus processos
está a acontecer. De certa maneira, há uma
quotidianos, de repente tiveram que enfren-
reorganização muito importante de investiga-
tar um mundo completamente transformado.
dores, de projetos, etc., para se reposicionam
Como é que, nestas circunstâncias, ocorrem
face a estes desafios, que não são só da
dinâmicas de ressocialização, de maneira
pandemia, mas que se interligam com ela,
mais ou menos rápida, mais numa direção ou
nomeadamente os desafios da desigualdade,
noutra? Que contributos é que os sociólogos
do estado social, das tecnologias disruptivas,
podem dar para se conhecer melhor esses
da crise climática e, até, as problemáticas da
processos sociais, para ajudar à elaboração
democracia. Porque há dinâmicas atuais que
de respostas e para melhorar a coordenação
são também perversas face às instituições
de atividades em sociedade face a estes
democráticas e à cultura democrática, e que
problemas? São desafios que estão na ordem
a pandemia pode afetar de maneiras
do dia. Mas, para já, só se consegue
variadas. De certo modo, uma parte dos
equacionar a existência de um campo de
sociólogos está já a analisar estes problemas
possibilidades. Sei que muitos colegas estão a
e também a alimentar o conhecimento sobre
trabalhar a esse respeito, mas a contribuição
possíveis transformações sociais, que podem
do conhecimento é em geral mais lenta do
ser orientadas mais de uma maneira ou de
que o surgimento dos problemas. Estamos,
outra. Por exemplo, em concreto na pande-
pois, perante um cenário em aberto, ainda
mia, faz-me uma certa impressão que haja
muito em
pouca incorporação de sociologia e outras
possíveis. São ocasiões extraordinárias para
ciências sociais nos esforços concertados de
os sociólogos.
Interlocução com as populações relativa-
26.
aberto quanto aos
futuros
Na verdade, os fundadores da Sociologia
mente às tomadas de precaução quotidianas
foram
sociólogos
ou às expectativas de vacinas. Nós vemos
transformação.
aaaaaa
transforma
de
Marx,
momentos Durkheim,
de
Weber
foram sociólogos de grandes transformações
conversar e trabalhar mais entre nós à
sociais da época, e grande parte da sociologia
distância; mas não é um problema que nos
que eles desenvolveram foram sobre essas
detenha quanto ao fundamental. No próximo
transformações, que na altura ainda estavam
congresso português de Sociologia as pessoas
muito em aberto. Agora sabemos como
aparecerão,
aconteceram, mas na altura eles tiveram a
comunicações,
genialidade de encontrar as tendências
provavelmente com tópicos já renovados.
fortes, mas também as alternativas que se
Inicialmente, quando se inscreveram para
iam configurando. E o mesmo aconteceu
participar no Congresso, teriam
depois noutras épocas. Mas agora, com esta
agendas, mas agora tenho uma expectativa
pandemia, o que acontece é que a mudança
renovada, a de que aparecerão muitas
social se acelerou muitíssimo, em meses e
contribuições inovadoras sobre as novas
não em décadas. Por conseguinte, talvez os
circunstâncias sociais.
embora
à
distância,
publicações
e
com
debates,
outras
sociólogos atuais tenham pela frente um desafio mais exigente, mas também é verdade
que
estão mais
munidos
de
ferramentas teóricas previamente elaboradas, de novas possibilidades metodológicas, de conhecimento acumulado. Há um problema relacional, porque agora temos que
27.
DEBATE NA IMPRENSA Tânia Gomes
|| COVID-19 || VACINAÇÃO
Membro da redação “Foram desenvolvidas em menos de um ano
e
serão
aprovadas
pela
mesma
administração e agências governamentais que permitiram que o vírus se propagasse como um incêndio” Publicada no Diário de Notícias 03.12.2020 A verdade é que no panorama atual a vacinação volta a ser novamente um assunto de grande destaque. De acordo com uma notícia do Jornal de Notícias de 07.11.2020, houve uma diminuição da percentagem de portugueses dispostos a serem vacinados contra a covid-19, o que levanta a questão porquê? Segundo a mesma notícia os
. SOCIALIS . ESPAÇO DEBATE
– COVID-19 || VACINAÇÃO
.
motivos são “não considerar a vacina segura,
28.
medo de considerar
efeitos a
secundários
doença
(…) não
importante
e
convicções”. A pandemia foi bastante propícia a um novo alastramento do movimento antivacina e de teorias da conspiração como é relatado numa notícia do Jornal de Notícias, de 02.12.2020, onde se fala na intenção de “encobrir um plano de implantação de microchips restreáveis”. Este diálogo encontra-se novamente em expansão de forma a que os especialistas estão cada vez mais preocupados visto que os
grupos antivacina “são pequenos mas a sua estratégia
de
comunicação
online
é
preocupantemente eficaz e abrangente”, diz uma notícia do Expresso, de 14.05.2020. Na mesma notícia dá-se destaque à preocupação de que a “velocidade de desenvolvimento de uma vacina contra o novo coronavírus constitua outro motivo de suspeição”.
. " A PANDEMIA FOI BASTANTE PROPÍCIA A UM NOVO ALASTRAMENTO DO MOVIMENTO ANTIVACINA”
. É com o objetivo de proteger a população e prevenir
a
desinformação
que
“os
investigadores sublinham a necessidade de
11.09.2020), estando o Governo a preparar-
O grande apelo que se faz no âmbito deste
desinformação e,
debate é de que as pessoas não se devem
principalmente, as ações antivacina, segundo
esquecer de que “a vacinação é um direito,
notícia do Expresso, de 27.11.2020. É neste
mas também uma responsabilidade coletiva
sentido também que os especialistas “apelam
de
à total transparência no processo, sob pena
29.04.2020)
de, quando surgir uma vacina, as pessoas
sociedade devemos “confiar nas instituições
poderem questionar-se se alguma etapa no
de saúde, que são seguras e estão preparadas
desenvolvimento
para
se
para combater a
não
terá
desconsiderada” (Expresso, 14.05.2020).
sido
toda
a
população” e
minimizar
23.04.2020).
como
o
(em
indivíduos
risco”
(em
Público, numa
Público
. SOCIALIS . ESPAÇO DEBATE
relação à vacinação” (Jornal de Notícias,
– COVID-19 || VACINAÇÃO
.
acompanhar a opinião da população em
29.
RETRATOS ´
SER SOCIOLOGA Mafalda Miguel Teixeira Estudou Sociologia na UAL, entre 1993 e 1998, com especialização final na área da “exclusão social”. No 11ª ano tive sociologia e identifiquei-me
E isso ao nível profissional foi ótimo. Eu sou
bastante com os conteúdos lecionados.
de perfil multifunções, não consigo fazer
Nomeadamente quando fui confrontada com
apenas a mesma coisa e da mesma forma.
um teste que continha apenas uma questão
Gosto de experienciar e criar. Quando me
de desenvolvimento - “Os rapazes jogam à
perguntam “Então, trabalhas na área?” Sim,
bola e as meninas brincam às bonecas.
trabalho. Trabalho com pessoas e contextos
Justifique.” Fiquei fascinada com a sociologia.
diferentes. Era isto que eu queria, eram estas
Era isso que queria estudar, a sociedade, os
as minhas expectativas profissionais.
grupos, as comunidades, a diversidade, as
Já trabalhei na área da deficiência, fui
pessoas, os diferentes papéis sociais e a sua
professora, fiz produção de espetáculos,
relação com os contextos.
mediação intercultural e planeamento social
. SOCIALIS . RETRATOS –- SER SOCIÓLOGA/O .
Durante o meu percurso académico o meu
30.
estratégico.
Atualmente
trabalho
numa
olhar foi se transformando, e ainda mais
autarquia e tenho a meu cargo a chefia de
curiosa estava com a ampla visão que a
uma equipa, de cerca de 30 pessoas, que
sociologia me ia dando sobre as pessoas, a
integram várias áreas, cultura, juventude,
comunidade, a sociedade e o mundo.
desporto,
Encontrei
meu
desenvolvimento e cidadania participativa.
pensamento, dei forma e consistência àquilo
Sem dúvida que a sociologia foi uma boa
que achava ser um olhar inato que tinha das
escolha!
uma
extensão
do
coisas. O lugar que todos temos no mundo, o papel de cada um e a forma como tudo conflui e se interrelaciona. Se uma peça faltar, a engrenagem pára. Eu costumo dizer que a licenciatura em sociologia é a base para um “jogo de cintura” necessário para uma série de
dimensões
profissionais.
da
vida,
pessoais
e
saúde,
social,
cooperação,
A EQUIPA SOCIALiS APRESENTA:
OUTUBRO S A Ú D E M E N TA L ^
Ines Silva
(Licenciatura em Gestão):
“O facto de estarmos mais afastados de pessoas presencialmente traz algum descontrolo de problemas mentais, isto é, professores, colegas e psicólogos não conseguem avaliar tão bem problemas, quando comparado com os tempos pré-pandémicos.”
Maria Carolina
(Licenciatura em Sociologia):
“Com a evolução das redes sociais e das próprias gerações, deu-se uma maior aceitação dos distúrbios/doenças mentais que cada um tem, seja trauma, ansiedade, depressão, autismo...”
C a t a r i n a G o n C, a l v e s
(Licenciatura em Antropologia):
“Existe uma maior consciencialização das doenças mentais. A doença mental é tão ou mais impeditiva do que uma doença física, ambas merecem o reconhecimento devido.”
Anonimx
(Licenciatura em História Moderna e Contemporânea):
“Na minha opinião existem mais condições propícias ao surgimento de doenças mentais, sendo o impacto das redes sociais, a meu ver, o que causou um maior surgimento. Nos últimos 10 anos as redes sociais evoluíram bastante, existe muito mais conteúdo, muitas mais opiniões públicas, é
. SOCIALIS . TEMAS MENSAIS .
basicamente um novo mundo fora do mundo real, mas um mundo em que as pessoas podem ser
32.
muito mais cruéis e desumanas.” ,
Mariana Indias
(Licenciatura em Economia):
“O principal aspeto é o reconhecimento, cada vez mais fala-se de doenças mentais, mas hoje em dia, os videojogos podem ser catalisadores de vícios e de depressão. As redes sociais também são benéficas para o reconhecimento, porém ajudam à constante comparação com o outro que pode prejudicar-nos"
NOVEMBRO HOOLIGA NISMO Pedro
(Licenciatura em Sociologia):
“Na minha opinião, a sociedade deveria ser mais severa no que toca a tornem frequentes.”
Rodrigo Reis
(Licenciatura em Sociologia):
“Na minha opinião, em Portugal, o hooliganismo no mundo do desporto tem pouca expressividade. Arrisco-me, até, a dizer que é praticamente inexistente.” ,
,
T o m a s G o n ,c a l v e s
(Mestrado de Gestão dos Novos Media):
“Em Portugal, certas claques parecem estar infiltradas por movimentos de extrema-direita e terem ligações a atividades criminosas, como o tráfico de droga.”
~
Joao Pardal
(Licenciatura em Sociologia):
“O fator de levar ao extremo a clubite dá-se em todo o lado, embora os hooligans não tenham sido considerados adeptos, pois eram pessoas que iam para os estádios para arranjar confusão e satisfazer o seu amor pela pancadaria. A conotação com os clubes era algo secundário.”
TEMAS MENSAIS
punições a vários adeptos de futebol [...] para que os seus atos não se
33.
ATIVIDADES DO NESISCTE estudantes
recém-chegados
ao Iscte,
o
Programa de Mentoria conta com a ajuda dos Maria Barral
Programa de Mentoria 2OUT’20
Criado com o objetivo de aproximar os
estudantes mais velhos para se realizar. Neste ano, houve uma formação dinamizada pelo Gabinete de Apoio ao Aluno para que estes mentores
estivessem
preparados
para
responder às demais dúvidas que enfrentaram dos seus mentorandos.
Workshop de Comunicação em Entrevistas 17NOV’20
. SOCIALIS . ATIVIDADES Nesiscte .
mais uma edição sua. O principal objetivo é dar a conhecer quais as associações juvenis existentes na faculdade, através de relatos pessoais de oradores, que mostrarão aos alunos a importância do associativismo e do consequente desenvolvimento de Soft Skills.
Desta vez em formato online, o Workshop Green Revolution e NESISCTE
34.
Importância do Associativismo viu este ano
Maria Barral
A Importância do Associativismo 27OUT’20
Contando com diversos oradores do Iscte, a
de Comunicação em Entrevistas realizou-se, novamente, no passado dia 17 de novembro, contando com a presença da formadora Helena Rocha. Com este workshop, os alunos contaram com dicas de como dar e fazer entrevistas.
Organizado em colaboração com os Núcleos Alunos
de
História
Moderna
Juntos pela Diversidade 24/25NOV’20
de
e
Contemporânea, de Serviço Social e de Ciência Política e o NEAISCTE, organizou-se o evento “Juntos pela diversidade”. Este evento contou com a presença de diversos oradores com conhecimento de causa, na luta contra o
sociais pós-Covid, num sábado à noite, onde esteve presente uma grande partilha de ideias e troca de opiniões.
. SOCIALIS . ATIVIDADES Atividades núcleo Nesiscte. .
como objetivo debater as novas dinâmicas
Noites Sociológicas 7NOV’20
Decorrido em regime online, o evento teve
Maria Barral e Margarida Rodrigues
racismo.
29. 35.
NÚCLEO CONVIDADO Inês Pedro Presidente do NESISCTE Criado em 2017, o NESISCTE nasceu da
identitário dos que a estudam; e 4) da
vontade de ajudar e apoiar os estudantes de
emancipação de recém-licenciados, objetivo
Sociologia, enriquecendo de diversas formas
particularmente presente em iniciativas como
o seu percurso académico. Ao longo dos
a preparação dos currículos dos estudantes,
últimos três anos, o Iscte assistiu ao
cartas de motivação, entrevistas e outros
crescimento de um núcleo de estudantes,
elementos essenciais, sempre em parceria
que foi gradualmente ganhando o seu espaço
com o Iscte.
e identidade.
Entrei no Iscte em 2018/19 e fui de
O nosso maior objetivo prende-se na
. SOCIALIS . NÚCLEO CONVIDADO .
promoção de
36.
académico
NESISCTE. Concorri para colaboradora de
sustentável a vários níveis, de forma a que
Responsabilidade Social e no ano seguinte
estes estudantes encontrem no seu núcleo
passei a coordenadora. Temos este ano, pela
um ponto de união e entreajuda, quer na sua
primeira vez no NESISCTE, uma presidência
ligação à comunidade Iscte, quer na sua
composta por três mulheres. Há dois anos, eu
ligação à Sociologia. As atividades realizadas
não esperaria ser uma delas. É com grande
regem-se,
menos
honra que encaro o objetivo de liderar mais
focalizada, nos objetivos de promoção 1) da
de 50 pessoas, para as motivar e para lhes
equidade de género; 2) da sustentabilidade
propor novos objetivos, para que cada um de
ambiental, quer seja na divulgação de
nós faça parte do caminho que é a Sociologia
práticas sustentáveis, quer seja na sua ativa
no Iscte e em Portugal. Estimular esta
aplicação
comunidade
de
aos
um
ambiente
imediato abordada por representantes do
forma
nossos
mais
ou
eventos;
3)
da
Sociologia enquanto ciência e ponto de união
revela-se
um
desafio
tão
exigente como satisfatório, não podendo existir recompensa melhor do que ver os nossos enquanto
estudantes
evoluir
membros
comunidade académica.
e
florescer
(pro)ativos
na
A S N O S S AS S U G E S T Õ E S ‘
LITERATURA
MUSICA 9 to 5, composto por Dolly Parton (1980)
Livro: Retratos da Precariedade – Quotidianos
A inspiração para esta música, dito pela cantora
e Aspirações dos Trabalhadores Jovens
numa entrevista com 60 Minutes, foram as suas
Escrito por Renato Miguel do Carmo e Ana Rita
unhas de acrílico, que, quando as bateu umas nas outras, encontrou um ritmo musical que decidiu incluir como batida da sua música. A música defende o pagam ento justo dos salários e igual tratamento das mulheres no local de trabalho, tendo sido escrita também para o filme com o mesmo nome.
Matias (2019) Um excelente e distinto retrato da precariedade jovem, que expressa as dificuldades atuais na entrada e permanência no mercado de trabalho. Aborda as suas causas e, sobretudo, as suas consequências, com relatos na primeira pessoa, de uma realidade transversal e caracterizadora de uma geração. Uma demonstração da urgência do debate das questões do Trabalho, da suas políticas e leis, que permitem um cenário não muito auspicioso no que toca à dignidade e à emancipação de uma geração
Filme “Roma” realizado por Alfonso Cuarón (2018) Um filme autobiográfico inspirado na infância do
mais qualificada do que as suas precedentes.
Filme “Los Lunes al Sol” de Fernando León de Aranoa (2002)
próprio Alfonso Cuarón, que retrata o verdadeiro
O filme abre com imensas imagens reais, retratos
contexto da classe média mexicana durante os anos
de trabalhadores, dos distúrbios que assolam as ruas
1970. Representa de forma evidente a divisão social
e também diversos conflitos com a polícia. Espelha o
e a r elação com a etnia, além de constituir uma
desemprego e diversas histórias reais são a base
dedicatória à sua empregada doméstica de origem
deste filme, em que se lamenta o comunismo vivido
indígena, que foi uma constante na sua infância.
na época.
É r ealizado a pr eto e branco, no entanto, com
As cenas são acompanhadas de uma suave música,
valores aprazíveis e intrínsecos. Também, de certo
em que um violão é o toque de fundo. Este
modo, trata-se de uma homenagem às mulheres e
contraste, entre a imagem e a m elodia, é bastante
revela-se r epleto de analogias que prendem o
chocante e intriga o espectador em toda a sua
espectador ao acontecimento.
sequência.
. SOCIALIS . AS NOSSAS SUGESTÕES .
CINEMA
37.
Autor: Sónia Guerreiro Tomé
A TUA VOZ
,
OUTROS TEMPOS, OUTRAS AGUAS Sónia Guerreiro Tomé1 Se as alterações climáticas interferem diretamente nas disponibilidades de água doce a nível planetário, como asseguram os relatórios da especialidade, esperanos um o futuro próximo com mais pessoas para menos água potável. Por que motivo(s) os direitos de água
. SOCIALIS . A TUA VOZ .
tradicionais, inscritos na oralidade e na força do
38.
costume, comum
assentes das
águas,
na
partilha
não
estão
salvaguardados, na atualidade em risco?
1 Antropóloga, Doutorada em Sociologia, CIES/Iscte
e
uso
devidamente
. SOCIALIS . A TUA VOZ .
Joana Gato
Joana Gato
A TUA VOZ
39.
FEVEREIRO
AGENDA SOCIOLÓGICA
04
Sociedade, Temporalidades e Poder: Olhares Globais. Além da Pandemia Covid 19 – Ciclo de Seminários 2021 – Universidade do Minho e Universidade de Guadalajara, no México
FEVEREIRO
17
MARÇO
FEVEREIRO
12
29
“Refugiados e Covid-19: uma lupa amplificadora de problemas pré-existentes” – ICS (com a professora Cristina Santinho)
Open Science Conference 2021; 17 a 19 de fevereiro (paga)
XI Congresso Português de Sociologia – ISCTE e ICS – Ulisboa – Formato Online; 29 a 31 de março
FEVEREIRO
Fórum Comunitário: mulheres refugiadas em Portugal - CIES
12