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A ECONOMIA CRIATIVA COMO ESTRATÉGIA PARA A REABILITAÇÃO URBANA: O CASO DOS BAIRROS DO BRÁS E MOOCA
Trabalho Final de Graduação apresentado na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie, como parte dos requisitos para obtenção do título de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo.
Nicole Rakauskas Gindro Prof. Orientador José Geraldo Simões Júnior Dezembro de 2016 3
AGRADECIMENTOS
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Agradeço àqueles que acompanharam e de alguma forma fizeram parte deste percurso ao longo dos últimos 6 anos. Primeiramente à minha família que me proporcionou tantas oportunidades, em especial à minha mãe e irmão, que me apoiaram e incentivaram todo o tempo, tornando essa conquista possível. Ao Fernando pela compreensão, carinho e companheirismo nestes anos. Às amigas e colegas do Mackenzie que estiveram ao meu lado desde o início e compartilharam as angústias e conquistas a cada trabalho e semestre finalizado. Aos professores e ao meu orientador José Geraldo pelo auxílio e ensinamentos adquiridos neste último ano. Este trabalho se deve também às experiências que tive a oportunidade de passar, com as quais aprendi e me tornaram o que sou. Ao tempo vivido em São Paulo e Milão, cidades que me mostraram o poder da arquitetura e do urbanismo de criar cidades melhores.
Obrigada!
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RESUMO Este trabalho analisa áreas com passado industrial e os resquícios deixados pelo seu esvaziamento após a reestruturação produtiva: o surgimento de terrenos vagos e a fragmentação do território. Propõe-se então a possibilidade de reinvenção destas áreas a partir do desenvolvimento local. Os bairros escolhidos para estudo são o Brás e Mooca, bairros históricos de São Paulo que possuem grande quantidade de empreendimentos relacionados ao vestuário. Como alternativa a este território é proposto o investimento na economia criativa, com enfoque nos setores da moda e design, buscando assim gerar riqueza a partir de ativos intangíveis como o talento e a criatividade das pessoas, além de inovar e desenvolver estes setores na região. Palavras Chave: Economia Criativa, Território Industrial, Ferrovia, Moda, Design
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ABSTRACT This work analyzes areas with industrial past and the vestiges left by the emptying of its territory after the productive restructuring: the emergence of urban voids and the fragmentation of the territory. It is proposed the reinventing of these areas through local development. The areas of study are the neighborhoods BrĂĄs and Mooca, historical districts of SĂŁo Paulo that have many businesses related to the clothing sector. As an alternative to this territory is proposed the investment in the creative economy, focusing on fashion and design, seeking to generate wealth from intangible assets such as talent and the creativity of people, besides innovating and developing this sectors in the region. Keywords: Creative Economy, Industrial Territory, Railway, Fashion, Design
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SUMÁRIO Introdução........................................................................................................................................10
1. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DO BRÁS E DA MOOCA...................................18 1.1. Contextualização histórica.......................................................................................... 20 1.2. Intervenções viárias e a fragmentação dos bairros...................................................28 1.2.1. Ferrovia...........................................................................................................29 1.2.2. Obras Rodoviárias..........................................................................................30 1.2.3. Metrô..............................................................................................................31 1.2.4. Resultado das intervenções..........................................................................32 1.3. O valor urbano do patrimônio industrial......................................................................36 1.4. Instrumentos urbanísticos............................................................................................39
2. REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA E SEUS REFLEXOS NA METRÓPOLE.....44
2.1. Métodos contemporâneos de intervir no território.....................................................46 2.2. Transposição..................................................................................................................52 2.3. A configuração dos espaços produtivos hoje.............................................................55
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3. ECONOMIA CRIATIVA: UMA ESTRATÉGIA PARA O DESENVOLVIMENTO..60 3.1. Moda e Design...............................................................................................................66 3.2. Influência dos setores da moda e do vestuário no município de São Paulo............69 3.3. Incubadoras de empresas............................................................................................76
4.
3.4. Instituições nacionais e o estímulo à economia criativa...........................................81 ESTUDOS REFERENCIAIS .............................................................................86 4.1. 22@ / Barcelona Activa................................................................................................89 4.2. PARIS RIVE GAUCHE/ La Halle Freyssinet...................................................................97 4.3. CMD – Centro Metropolitano de Design / Buenos Aires..........................................103
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4.4. Conclusões e aspectos extraídos...............................................................................110 PROJETO: CENTRO DE REFERÊNCIA DA MODA E DO DESIGN..............112 5.1. Partido..........................................................................................................................116 5.2. Praça e Transposição..................................................................................................118 5.3. Projeto..........................................................................................................................120
Considerações Finais.....................................................................................................................133
Bibliografia........................................................................................................................134 9
INTRODUÇÃO A cidade de São Paulo tem passado por transformações aceleradas em seu território, caracterizadas por frequentes substituições de usos resultantes de mudanças na lógica econômica. O território não foi capaz de desenvolver-se com a mesma rapidez que o crescimento metropolitano, ocasionando o esvaziamento de áreas centrais. No século XIX São Paulo se consolidou como metrópole industrial, em decorrência da construção das estradas de ferro, estimulada pelo crescimento da economia cafeeira. Como consequência, houve uma rápida expansão urbana e crescimento populacional. Em meados do século passado, a competitividade entre empresas de serviços e tecnologia, junto à falta de incentivo à ocupação industrial em regiões metropolitanas, fizeram com que a Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) deixasse de ser o principal centro de produção para se estabelecer como o maior centro de serviços e comércio especializados do país. O resultado deste processo foi a transferência do setor industrial para áreas periféricas, levando ao esvaziamento de bairros centrais. Os vazios urbanos e estruturas de transportes isolaram porções consolidadas dos bairros anteriormente industriais, gerando um tecido urbano fragmentado. Os espaços produtivos desativados permanecem até hoje na cidade como áreas residuais, terrenos e edifícios ociosos, áreas que apesar de estarem em decadência, apresentam grande potencial para transformação. Reconhece-se a necessidade de sua reconversão através da inserção de novos usos, além de seu potencial para criação do espaço público. Estes fatores, junto ao fato das zonas já apresentarem boa acessibilidade e infraestrutura básica, contribuiriam para a futura transformação dos bairros em novas centralidades metropolitanas. O fenômeno acima citado pode ser percebido na cidade de São Paulo em bairros contíguos à orla ferroviária como Barra Funda, Lapa, Ipiranga, Brás e Mooca, sendo os dois últimos bairros escolhidos como
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objeto de estudo para esta pesquisa. Ambos estão localizados a leste do centro histórico de São Paulo, pertencem ao seu centro expandido e apresentam uma clara elucidação da problemática estudada. Estes bairros tiveram papel fundamental no histórico de industrialização e imigração da cidade devido à implantação de indústrias ao longo das estradas de ferro Santos-Jundiaí e Central do Brasil, além da presença da Hospedaria dos Imigrantes como porta de entrada dos imigrantes à cidade. A importância que tiveram no passado hoje não é mais percebida devido à decadência de empreendimentos e degradação de suas áreas. O planejamento urbano deve buscar acompanhar as mudanças tecnológicas e econômicas a fim de aproveitar as oportunidades geradas pela globalização e tecnologia como forma de enriquecer a criatividade das pessoas e sua contribuição para o desenvolvimento local e regional. O investimento na cultura, inovação e criação tem sido uma estratégia para cidades reerguerem-se em meio a crises e para que isso seja possível, é necessário promover a capacitação de pessoas e empresas de acordo com as demandas de campos promissores como a tecnologia e inovação. A Economia Criativa é um modelo de economia e gestão promissor composta por setores que se baseiam no conhecimento, criação e inovação como meios de gerar empregos e renda, além de enriquecer um país culturalmente. Fundamentando-se nestes conceitos, a proposta deste trabalho apresenta como possibilidade para área do Brás e da Mooca o investimento no desenvolvimento econômico local e na economia criativa como possível estratégia para reabilitação de seu território. No projeto proposto busca-se impulsionar setores que se relacionam à vocação dos bairros estudados. O Centro de Referência da Moda e do Design é o projeto de uma incubadora de empresas junto a uma escola voltada à economia criativa, que atuaria como suporte ao crescimento de profissionais e a capacitação de novos talentos, buscando difundir e dinamizar estes setores como estratégia para requalificar áreas ociosas.
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OBJETIVOS Pretende-se neste trabalho compreender como o investimento na economia criativa pode contribuir para a reabilitação urbana de áreas com passado industrial. Primeiramente buscou-se entender a formação e as transformações passadas por áreas industriais e ferroviárias, analisando seu estado atual, suas condicionantes e deficiências para assim estabelecer estratégias de intervenção. Através da análise experiências anteriores, de projetos nacionais e internacionais de reintegração e qualificação destas áreas, foram observados quais são os fatores que contribuem para o seu sucesso, sejam as políticas públicas ou de planejamento urbano. Quanto ao projeto arquitetônico resultante desta pesquisa, o objetivo é que este reflita uma nova visão e perspectiva para este território, a partir da implantação de um novo equipamento e espaços públicos que contribuam para o desenvolvimento dos bairros do Brás e da Mooca. O Centro de Referência deverá se comportar como um elemento capaz de desencadear transformações da área, de modo que se insira à paisagem já consolidada e transmita ao mesmo tempo uma imagem de inovação e criatividade, adequadas ao programa do edifício.
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OBJETO DE PROJETO O objeto de projeto será o Centro de Referência da Moda e do Design, localizado no bairro do Brás. Este é um espaço para capacitação, experimentação e empreendedorismo que estimula o fortalecimento de empreendimentos e profissionais relacionados a estes setores na região. O edifício está localizado em um terreno em frente à estação Bresser-Mooca do metrô, uma área central de boa acessibilidade que apresenta espaços residuais próximos à ferrovia. A existência de instituições de ensino próximas, tais como duas universidades e duas escolas de nível técnico, contribuiu para a escolha do local, cujos alunos seriam possíveis frequentadores do Centro de Referência. Seu programa se divide em dois edifícios sendo estes uma incubadora de empresas e uma escola de nível técnico, que se interligam, compartilhando partes do programa comuns aos dois usos. A intervenção se expande também para o entorno imediato do projeto: busca-se amenizar a fronteira criada pela ferrovia a partir de intervenções na Rua Visconde de Parnaíba, diretamente em frente à linha férrea. Ao propor um novo espaço público provido de uso, pretende-se estimular a circulação de pedestres nesta via, que hoje possui escassos usuários. Devido à difícil transposição da ferrovia, é criada também uma nova travessia para pedestres que será uma alternativa às existentes.
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BALANÇO BIBLIOGRÁFICO A bibliografia selecionada para esta pesquisa baseia-se no estudo de alguns temas centrais, sendo eles: a) O território industrial: sua história, desenvolvimento e situação atual, a partir do caso brasileiro e projetos no exterior; b) O processo de reestruturação produtiva; c) Estudos sobre o vazio urbano: seu caráter de espaço expectante à edificação ou ocupação para criação de espaços públicos; d) Economia criativa: a partir da análise da capacidade do investimento na cultura e sua capacidade de transformação do espaço urbano; Para estabelecer um diagnóstico sobre os bairros analisados, foi utilizado como referência o livro “A leste do centro – territórios do urbanismo”, que consiste na reunião de análises feitas pelas urbanistas Regina Meyer e Marta Grostein sobre o território do Vetor Leste do Centro (VLC), região que abriga os bairros do Brás, Mooca, Pari e Glicério. Seus estudos partem de aspectos históricos, ambientais e sociais, remontando sua ocupação e desenvolvimento. A partir de mapas, plantas e dados gerais realizam um diagnóstico dos principais problemas enfrentados no VLC, para que seja possível propor melhorias para esta região. O ensaio de Sola-Morales para a obra “Territórios” reflete sobre o Terrain Vague (Terreno Vago em português) e os múltiplos significados presentes nestes. O autor define estes espaços como áreas marginais que resistem às estratégias de poder e transportam características que conectam o passado ao presente das cidades. A conceituação do vazio neste texto, elucida sua importância e valor, caracterizando-o como um espaço expectante à intervenção. O tema está diretamente ligado ao tratado neste trabalho, ao passo que a desconcentração industrial gerou diversos terrain vagues no território. No livro “Cidades Sustentáveis, Cidades inteligentes” os autores Carlos Leite e Juliana Marques definem as questões e características que tornam uma cidade sustentável, a partir principalmente do conceito de cidade compacta e suas densidades qualificadas – com uso misto do
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solo e multicentralidade ligadas por uma eficiente rede de mobilidade. Leite aponta os fatores que contribuem para o sucesso da implementação de projetos urbanos, entre eles estão a presença de clusters inovadores, rica vida cultural, forte presença de centros de ensino e pesquisa e atrativos recreativos e de lazer,. Os conceitos apresentados neste livro serão fundamentais para o entendimento do que torna uma cidade sustentável nos dias de hoje. O artigo “Desenvolvimento Local e Projetos Urbanos”, dos urbanistas Cândido Malta Campos Neto e Nádia Somekh, analisa a implementação de projetos urbanos em áreas industriais com foco no desenvolvimento local das regiões. São descritas ao longo do texto, experiências de renovação urbana de cidades que investiram em áreas abandonadas e industriais e tiveram como resultado a valorização de locais utilizando a alta competitividade de empresas do setor terciário. Os exemplos expostos neste artigo elucidam a problemática do trabalho e descreve brevemente diversos projetos, alguns deles utilizados como estudos de caso nesta pesquisa. Para o entendimento da importância da economia criativa para as cidades, foi analisada a tese de doutorado da economista e urbanista Ana Carla Fonseca Reis, que estuda a fundo este conceito, quais são os fatores que caracterizam uma cidade como criativa e se São Paulo pode ser assim considerada. Junto a esta tese, estudos e pesquisas realizadas por instituições tais como o SEBRAE, FIESP e FIRJAN forneceram os dados necessários à compreensão da participação dos setores da moda e design dentro da economia criativa e quais são os possíveis vetores para o seu desenvolvimento. O autor Richard Florida explora em sua obra a importância de investir na criatividade das pessoas para alavancar economias e relata os principais desdobramentos das transformações da sociedade, na qual o entorno criativo está crescendo e se tornando dominante. Florida discute em “O Grande Recomeço” como as mudanças no estilo de viver e trabalhar das pessoas contribuem para a saída de crises.
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METODOLOGIA A metodologia adotada consistiu na análise de fontes bibliográficas secundárias e análises realizadas em campo para assim estabelecer um diagnóstico adequado e possuir conhecimento da temática abordada, para enfim realizar a redação do trabalho. Primeira Etapa: Na primeira etapa do trabalho as informações foram buscadas a partir de uma leitura histórica e espacial dos bairros da Mooca e Brás utilizando fontes bibliográficas (livros, teses e artigos) para assim realizar um estudo dos usos, edifícios relevantes, fluxos e mobilidade, junto à análise do desenvolvimento e transformações passadas na várzea do Carmo e dos bairros próximos à ferrovia a partir de teses e livros, mapeamentos da área, análise dos mapas históricos, dados demográficos e levantamentos in loco, com a intenção de compreender as transformações e a situação atual dos bairros. Segunda Etapa: A seguir, também utilizando fontes bibliográficas, foi feita uma análise do processo de desconcentração industrial e a interferência das transformações econômicas no território, buscando estudos teóricos sobre a pós industrialização – a questão do Terrain Vague e a desocupação de zonas da cidade. Como complemento à compreensão espacial, foi feita a análise de instrumentos urbanísticos e suas diretrizes para a área – Operação Urbana Bairros do Tamanduateí e Plano Diretor Estratégico. Também foram estudadas referências teóricas de estratégias contemporâneas de intervenção no território, como é o caso da acupuntura urbana e o conceito de metástase positiva de Oriol Bohigas. Terceira Etapa: Como referências para o projeto proposto, foram estudadas referências de projetos urbanos que envolvam a recuperação de zonas industriais (22@ em Barcelona, Paris Rive Gauche e Distrito
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do Design em Buenos Aires) visando compreender a contribuição das incubadoras de empresas dentro destes projetos. Além disso foi possível conhecer melhor o programa de necessidades e sua distribuição em uma incubadora de empresas. Após os estudos urbanos, foram analisados casos em menor escala de edifícios no Brasil e exterior que promovem a economia criativa. Quarta Etapa: Para estudar o caso local de incubação de empresas, foram coletados dados sobre a atuação de incubadoras dentro da cidade de São Paulo a partir de entrevistas e visitas técnicas em empreendimentos voltados ao coworking e à economia criativa. Dentro deste contexto é analisada a atuação de instituições públicas como o Sebrae, Anprotec e Fiesp, que incentivam a disseminação deste tipo de empreendimento, como um modo de desenvolver pequenas empresas. A partir de pesquisas realizadas por estas instituições, foi estudada a importância e atuação dos setores da economia criativa abrangidos no trabalho, a moda e o design, na área de estudo. Quinta Etapa: Após a caracterização da área de intervenção e estudo das referências, foi proposto um projeto arquitetônico que potencialize os setores da economia criativa já inseridos de alguma maneira neste território assim como a qualificação das pessoas que trabalham nesta área. Além do objeto arquitetônico, foi criado um pequeno parque que integra a praça da estação de metrô à dois terrenos próximos. Sexta Etapa: Por fim, foi feita a confrontação das informações obtidas, analisando as informações históricas e perspectivas de desenvolvimento unindo-as à proposta de projeto, para enfim realizar a redação final da monografia, na qual o Centro de Referência foi uma conclusão do que foi estudado.
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CAPÍTULO 1
CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA 18
“A metrópole, armada por uma nova trama de circuitos de transporte e comunicação, rasga-se em todas as direções. Um estilhaçamento que a converte num amálgama de áreas desconectadas. Espaçamento e desmaterialização são mecanismos da expansão urbana. Ao avançar, a metrópole deixa um vácuo atrás de si” Nelson Brissac
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CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA Os problemas urbanos que São Paulo enfrenta hoje são um reflexo da trajetória urbanística da cidade. No caso dos bairros além do Rio Tamanduateí, as escolhas funcionais e viárias intensificaram ainda mais sua segregação do centro da cidade, levando-os à sua atual desqualificação. A fim de compreender o processo de degradação da área de estudo são analisadas suas transformações urbanas e desenvolvimento partindo do início da ocupação no local até os dias de hoje, para assim realizar um diagnóstico adequado da situação atual. O crescimento de São Paulo esteve até o século XVIII condicionado à região do triângulo histórico, compreendida entre o Convento São Bento, do Carmo e São Francisco, uma colina limitada a leste pelo Tamanduateí e a oeste pelo Anhangabaú (TORRES, 1985). A região a leste, adjacente ao convento do Carmo era conhecida como Várzea do Carmo e permaneceu ocupada somente por chácaras por certo tempo devido à dificuldade de expansão da cidade imposta pelo Rio Tamanduateí. Esta dificuldade se deu, pois, seu terreno era alagadiço, pouco consistente e sujeito a constantes inundações, visto assim como um local insalubre e inóspito (GROSTEIN, 2010). As primeiras ocupações da região que hoje consiste no bairro do Brás se deram em torno de uma capela edificada à Bom Jesus dos Matosinhos pelo português José Brás na segunda metade do século XVIII. Este povoado funcionava como um ponto de parada de procissões feitas entre a Sé e a Penha, bairro de povoação mais antiga. O trajeto era feito pela Estrada da Penha, atual Rangel Pestana e Celso Garcia, que desde então era um importante eixo de ligação entre a colina
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◄ Figura 1 Localização dos bairros de estudo
histórica e a Penha de França. Pouco a pouco as terras em torno da capela foram sendo concedidas, se estendendo pela Estrada da Penha e contribuindo assim para o povoamento da freguesia do Brás. Apesar da freguesia começar a ser povoada, a difícil conexão da Várzea do Carmo com a área central de São Paulo persistia. A travessia do rio era feita até então em poucos pontos, sendo alguns dos mais relevantes a ponte do Ferrão e o aterrado do Brás, que admitiam a passagem nas épocas de cheias. A região do Brás, por ser uma região de várzea alagadiça, era um foco de endemias (SEVCENKO, 1997). A falta de conexão entre os bairros causou a segregação da população entre os que estavam instalados nas terras altas e secas e os que ficavam nas terras baixas e úmidas. Se a colina histórica era vista como uma área própria a população com renda elevada, as terras além dos rios abrigavam uma população tida como menos civilizada, destinada ao trabalho pesado.
▼ Figura 2 Inundação da Várzea do Carmo em 1892 por Benedito Calixto
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Foi por isso, por ser considerado uma área de fora, que todo tipo de atividade considerado de periculosidade, ou de alguma forma de efeito contaminador, ou poluidor no contexto da cidade, foi colocado nessa área varzeana. E é por isso que o Brás, desde o começo, concentrou as fábricas, as hospedarias baratas, os mercados populares, as pensões, os cemitérios, o matadouro, hospitais e, em particular, o Gasômetro da cidade, com o seu cheiro nauseabundo. (SEVCENKO, 1997, p.62)
Em meados do século XIX, São Paulo se torna a metrópole do café, o que altera profundamente a sua fisionomia. A principal função econômica da cidade até então, era o comércio diversificado do centro. Os camponeses que habitavam a área de várzea entre os rios Tamanduateí e Tietê produziam e vendiam suas mercadorias agrícolas aos comerciantes da cidade, que as revendiam aos comerciantes finais, moradores da região central. ◄ Figura 3 Ladeira do Carmo e aterrado do Brás em 1862, por Militão Augusto de Azevedo
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▼ Figura 4 Planta geral de São Paulo de 1897 – onde é possível identificar o crescimento na direção leste.
A primeira intervenção que o Rio Tamanduateí sofreu foi em 1849, com projeto do Eng. Carlos Abrão Bresser. A retificação de um trecho fez com que o rio perdesse parte de suas voltas, o que possibilitou a ocupação da várzea. Apesar das obras controlarem as inundações, elas não foram solucionadas. Após tornar a área mais “habitável” o governo então buscou urbanizar a região, ampliando a rede viária e construindo edifícios públicos, porém lá era ainda local utilizado como deposito de lixo, o que agravava as epidemias da cidade.
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Em 1867 foi inaugurada a São Paulo Railway, atual ferrovia Santos Jundiaí, e em 1877 surge a Estrada de Ferro do Norte, futura Central do Brasil, que ligaria São Paulo ao Rio de Janeiro. A topografia amena e de baixa declividade junto ao baixo valor dos terrenos justificaram a implantação das ferrovias, o que impulsionou como consequência a instalação de indústrias próximas a elas, já que era o principal meio de transporte da matéria prima e produtos finalizados. Além da construção da São Paulo Railway, outras razões que contribuíram ao processo de industrialização em São Paulo foram a localização geográfica da cidade próxima ao porto de Santos, tornando-a rota obrigatória para a exportação do café e para a chegada de produtos importados, a infraestrutura estabelecida a partir da Proclamação da República como o estabelecimento da “The São Paulo Light and Power Company limited” em 1899 - marco fundamental para a modernização da cidade, a diversidade de comércio e serviços na cidade e o grande fluxo migratório no final do século XIX que aumentou o mercado consumidor potencial e trouxe novos investidores, importantes capitais que impulsionaram a industrialização em São Paulo. O crescimento que os bairros do Tamanduateí tiveram com a instalação da indústria foi progressivo. Entre 1886 e 1893 o bairro do Brás registrou um crescimento populacional de 5.998 habitantes para 32.387. Este crescimento modificou a paisagem do bairro drasticamente. Grandes lotes anteriormente ocupados por chácaras passaram a abrigar que galpões conviviam ao lado de pequenos terrenos ocupados por vilas e conjuntos residenciais. Nesse período fica então marcada a transformação de bairro de subúrbio rural para bairro industrial. Esse crescimento continuou ao longo das duas próximas décadas consolidando a região como novo centro industrial na metrópole paulistana voltado a setores tradicionais como têxtil, calçados, moagem de trigo e grãos. A paisagem de São Paulo já havia se modificado, perdendo os vínculos com o ciclo cafeeiro do século anterior.
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Entre 1887 e 1915 a chegada dos imigrantes ao Brás através da Hospedaria dos Imigrantes passou a modificar a população residente do bairro, assim como a cultura local. A instalação da hospedaria nas proximidades da estação de trem do Brás, antiga estação do Norte, possuía o intuito de receber os imigrantes que iriam trabalhar nas lavouras ou indústrias paulistas. São Paulo recebeu nesse período cerca de 800 mil italianos, 300 mil espanhóis e 260 mil portugueses, e o bairro do Brás foi a porta de entrada desta nova população no país assim como um centro distribuidor de imigrantes (GROSTEIN, 2010). Com a vinda dos imigrantes, tornou-se necessário investir em infraestrutura que possibilitasse condições de vida básicas como alimentação, saúde e transporte aos novos residentes de bairros da porção leste do centro como Mooca, Brás e Belenzinho. A instalação permanente da mão de obra na região deu origem aos bairros operários. A partir de 1910 o território destes bairros começou a passar por grandes transformações. A oferta habitacional de baixa renda passou a ser composta por casas populares em série e cortiços. A produção das vilas era promovida tanto por fábricas para moradia dos operários quanto por investidores privados, destinadas a venda e aluguel para geração de lucro. As casas eram erguidas em lotes estreitos, uma ao lado da outra, constituindo fachadas contínuas formadas por pequenas unidades. Em 1930, as chácaras do Brás já tinham seu solo parcelado e densamente ocupado por casas feitas em série, cortiços, galpões industriais e estabelecimentos industriais. A proximidade com o mercado municipal junto à presença das ferrovias para transporte das safras consolidaram o Brás como área de comercialização de produtos primários, criando assim a zona Cerealista. A partir de 1930 surgem diversos empreendimentos voltados ao comércio especializado – lojas de roupas, calçados, máquinas, móveis e madeiras. A presença de um comércio relevante
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para São Paulo tornou o bairro um sub centro da cidade, mas também foi responsável pela degradação das condições urbanas e habitacionais ali presentes. Os moradores com maior poder aquisitivo passam a evitar um ambiente urbano degradado por indústrias e comércio, e os mais pobres fugindo do aluguel alto, transferem-se para áreas periféricas fazendo com que a partir de 1940 o bairro perdesse metade de sua população em menos de uma década. Até os anos 50, o Brás constituía-se como um sub centro de comércio e serviços, polarizando a Zona Leste (VILLAÇA, 1998). Era para lá que a população mais abastada da cidade, proveniente principalmente do quadrante sudoeste de São Paulo, se deslocava buscando boas cantinas italianas, cinemas e lazer. Na metade do século XX, inicia-se um processo de esvaziamento da região, junto a um consequente empobrecimento da população residente e pertencente à zona influência do Brás. Segundo Villaça, dois processos causaram tal decadência. O primeiro foi o empobrecimento geral da classe média do Brasil e o segundo, mas específico da região, deve-se ao surgimento de novos sub centros voltados à prestação de serviços. Como a concentração da classe média passou a predominar na região sudoeste, a Zona Leste foi aos poucos ficando “fora de mão”, o que fez com que esta classe abandonasse a região. A partir dos anos 60, a presença de indústrias na metrópole passou a ser considerada a raiz dos problemas urbanos, uma vez que este setor foi responsável por um crescimento rápido e desordenado
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▼ Figura 5 Relação entre galpões industriais e novos edifícios residenciais.
das cidades, o que gerou uma série de problemas sócio espaciais. Para estimular a sua saída das áreas centrais, o governo criou restrições à instalação de novos empreendimentos industriais na capital, buscando incentivar a migração industrial para cidades do interior paulista ou outras regiões do país. Entre as medidas implementadas estava a construção e melhoria de rodovias que ligam o interior à capital, constituindo corredores para a circulação de mercadorias e pessoas. Muitas das unidades das indústrias de base mudaram-se para o interior e as que permaneceram na metrópole passaram a se especializar em atividades do setor terciário e nos serviços de alta tecnologia, fenômeno comum à outras metrópoles ao redor do mundo (SPOSITO, 2007). Assim, eixos rodoviários passaram a consolidar-se como novos núcleos para implantação de empreendimentos industriais. Mesmo com a mudança de diversas indústrias, as áreas até então consideradas industriais da capital não foram esvaziadas como nas metrópoles do hemisfério norte, onde houve um processo de desindustrialização de grandes áreas. No caso brasileiro estas regiões diversificaram os usos dos setores industriais o que caracterizou a desconcentração industrial. As indústrias foram substituídas por outras que possuíam menor demanda de espaço. A indústria da confecção, por exemplo, adaptou-se às limitações de espaço, proporcionando a criação de áreas comerciais especializadas em bairros como Brás e Bom Retiro. A desconcentração industrial em todo o país intensificase na década de 90, apoiada pela maior abertura econômica, o desenvolvimento científico e as mudanças constitucionais de 1988, que conferiram aos municípios maior autonomia na definição dos impostos cobrados às empresas. Este processo gerou uma disputa entre estados e municípios que visava atrair grandes empresas a partir da diminuição ou isenção de impostos (SILVA, 2008). Observa-se então a partir deste período uma reconfiguração
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do papel de São Paulo, que se consolida como maior centro de serviços e comércio especializados em âmbito nacional. Estas novas atividades concentradoras de trabalho intelectual necessitam de elevada qualificação, fazendo da metrópole um centro privilegiado nos trabalhos de concepção, inovação, criação, pesquisa e desenvolvimento. A partir da inserção da sociedade atual dentro de um mundo globalizado surge uma “nova economia” decorrente da reestruturação produtiva. Esta volta-se à informação e ao conhecimento e provoca modificações nas estruturas das cidades. Seu impacto e estratégias de intervenção serão questões a serem exploradas no próximo capítulo.
INTERVENÇÕES VIÁRIAS E A FRAGMENTAÇÃO DOS BAIRROS As intervenções nos sistemas de transportes modificaram drasticamente o território dos bairros além do Tamanduateí nos dois últimos séculos. A construção da ferrovia, do metrô, vias expressas e viadutos seccionou os bairros do Brás e da Mooca repetidamente, resultando hoje num território fragmentado entre si.
FERROVIA Ao analisar o crescimento e desenvolvimento da cidade de São Paulo, é clara a influência de elementos como seus rios e ferrovias para a estruturação da paisagem urbana, pois estes são elementos que condicionam a ocupação e modificam determinadas áreas da cidade (SOUZA, 2002). No caso da área escolhida para análise e inserção do objeto projetual, há a interseção de duas ferrovias paulistas importantes para a evolução da Zona Leste: a São Paulo Railway (Estrada de Ferro Santos-Jundiaí) e a Estrada de Ferro do Norte (trecho paulista da
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Central do Brasil), que passa diretamente em frente ao terreno de intervenção, na Rua Visconde Parnaíba. Esta ferrovia chamava-se Companhia Estrada de Ferro São Paulo-Rio de Janeiro e teve sua inauguração em 1877. Partia da estação do Norte, que após ser demolida no século XX deu lugar a atual Estação Roosevelt no Brás. Seu percurso possuía 231 km até a cidade Cachoeira Paulista, onde era possível fazer baldeação para seguir rumo ao Rio de Janeiro (GERODETTI, 2003). Apenas em 1891 a ferrovia foi incorporada à Central do Brasil como saída à crise financeira pela qual a companhia passou quando com o deslocamento das plantações de café para o interior do estado, já não havia mais necessidade de transporte da produção de café do alto do Paraíba. A partir do século XX, a linha passou a operar trens suburbanos, inicialmente até a Penha, atingindo Mogi das Cruzes na década de 1910 (CPTM, 2016). Hoje a linha opera a Linha 11 – Coral da CPTM, que tem seu início na estação da Luz e cruza a Zona Leste até a estação Estudantes, em Mogi das Cruzes. ► Figura 6 Expresso leste na estação Bresser Mooca
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OBRAS RODOVIÁRIAS A Radial Leste é uma via que foi construída com o objetivo de dar vazão ao grande número de veículos na direção centro-leste. Tem seu início próximo ao Parque Dom Pedro II e estende-se até o extremo leste da capital, em Guaianazes. Esta via foi proposta em 1945 pelo então prefeito Prestes Maia e teve seu primeiro trecho construído em meados de 1950. Por um lado, a avenida significou a possibilidade de integrar o centro às periferias na Zona Leste, por outro, representou um grande impacto em bairros como Brás e Mooca pois, ao rasgar o tecido urbano desses bairros, a radial leste provocou a desapropriação de uma série de casas e a interrupção do sistema viário existente, consolidando-se como uma barreira física (GROSTEIN, 2010). Posteriormente à sua construção foram feitas diversas modificações no sistema viário da região e uma série de viadutos foram construídos sobre o Rio Tamanduateí, sempre buscando conectar a Zona Leste ao Centro. Estas obras rodoviárias na região além de terem segregado ainda mais os bairros do Tamanduateí, tiveram um intenso impacto na região do Parque Dom Pedro II, consolidando um processo de deterioração ao gerar diversos espaços descontínuos ao longo da avenida do Estado.
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► Figura 9 Configuração da área de estudo antes da construção do metrô. Mapa Emplasa 1975
► Figura 10 Impactos e desapropriação após a vinda do metrô. Mapa Gegran - 2002 ▼ Figuras 7 e 8 Viadutos sobre o Parque Dom Pedro II
METRÔ A linha Leste-Oeste do metrô, ou linha 3 vermelha teve em 1979 inaugurado o trecho que liga a Sé ao Brás e em 1980 o trecho Brás-Bresser Mooca, sendo que em 1988 a linha estava concluída. Hoje a linha possui 22 estações e possui parte de seu trecho em superfície, que segue junto ao leito da ferrovia. Para que sua construção fosse possível, parte das moradias localizadas próximas às estações tiveram que ser desapropriadas. A população mais pobre que habitava a região se deslocou por conta da valorização dos terrenos do entorno. Ao longo dos últimos 30 anos, apesar da Emurb (Empresa Municipal de Urbanização) prever planos que reurbanizassem as áreas desapropriadas, impasses na implementação das obras previstas criaram um trecho desprovido de funções e responsável pela grande desorganização do antigo bairro. A linha vermelha do metro fragmentou novamente a região, somando novos espaços residuais aqueles gerados pela implementação das vias expressas.
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RESULTADO DAS INTERVENÇÕES O resultado das intervenções viárias que representaram cortes no tecido urbano do Brás e da Mooca é a consolidação de um território fragmentado. Há pouca conexão entre os bairros e o tráfego de pedestres se mostra bastante limitado. As barreiras que circundam a área estudada: A Radial Leste, o metrô e a ferrovia são áreas de difícil transposição, obrigando pedestres a realizarem percursos mais longos para chegarem aos seus destinos. A travessia da ferrovia na área de estudo é feita em dois pontos. O primeiro está próximo ao Museu da Imigração, onde uma passarela em ferro do século XIX faz a transposição da antiga estrada de ferro Santos-Jundiaí. Esta encontra-se em baixo estado de conservação e seus arredores são pouco habitados, tornando essa transposição insegura. Apesar de considerada patrimônio histórico, observa-se no local um grande abandono desta estrutura. A transposição seguinte é feita a cerca de 900m da primeira pelo interior da estação Bresser-Mooca da linha 3 do metrô e tem um tráfego de pessoas intenso nos horários de pico devido à circulação de estudantes das universidades Anhembi Morumbi, São Judas Tadeu, além de pessoas que trabalham na região. O fato da estação Bresser ter sido implantada paralela à linha férrea e no nível da rua ocasionou um maior impacto na área do que aquele representado pela estação Brás, por exemplo, que está elevada, permitindo a passagem de pedestres sob os trilhos. De acordo com Rodriguez (2006, p.108) “Apesar do crescimento urbano ter acontecido ao longo e em função da ferrovia, esta, junto ao metrô causou o isolamento de trechos do bairro”. Este isolamento ocasiona diferentes situações dos dois lados da ferrovia: de um lado está voltado para o bairro da Mooca, que hoje passa por uma transformação de sua paisagem que vem substituindo antigos galpões por edifícios residenciais de médio e alto padrão
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e do outro a paisagem aproxima-se à Av. Celso Garcia, onde há o predomínio do comércio varejista e habitações unifamiliares de baixo e médio padrão, característicos do bairro do Brás. A avenida, apesar de ser um eixo de transporte coletivo por onde circulam diversas linhas de ônibus, passa por um processo de degradação em grande parte de sua extensão. Em ambos os lados há a presença de galpões industriais muitas vezes desocupados e também em baixo estado de conservação. Tais edifícios demandam valorização para que seja revertida a degradação decorrente de seu desuso. A ocupação da orla ferroviária representa um problema a diversas cidades, pois por representarem usos únicos que se estendem massivamente, criam uma fronteira, desprovida de pedestres ao longo de percursos longos. Com a transformação dessas áreas nas últimas décadas, houve a substituição de usos e edifícios por usos mistos não-industriais, na qual empreendimentos industriais muitas vezes são reutilizados para outros usos, conferindo ao bairro um novo perfil. O autor Flavio Villaça em seu livro “Espaço Intra-Urbano no Brasil” (VILLAÇA, 1998) destaca a relação entre o crescimento urbano e as vias de transporte, destacando a diferença de ocupação em ferrovias e rodovias. Nas ferrovias o crescimento urbano é nucleado, pois forma polos em torno das estações, o único ponto de acessibilidade da linha férrea. Já nas rodovias o crescimento é menos descontínuo e rarefeito pois não há elementos que colaborem mais à ocupação do que outros. A concentração de pessoas fora desses polos que permitem acessibilidade e conexão próximos à orla ferroviária é escassa. A rua imediatamente em frente à ferrovia dificilmente tem o desenvolvimento observado em áreas mais distantes a ela. Esta via tende a ser um lugar sem vida, com poucos usuários e pedestres que
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circulam na área, já que apresenta poucas possibilidades de percursos pelos quais é necessário transitá-la (JACOBS, 2000). Jane Jacobs descreve as ferrovias como exemplos clássicos de fronteiras em que o espaço físico diretamente em frente à linha férrea é o que sofre as maiores consequências. São consideradas zonas desagradáveis porque as pessoas não querem ter a ferrovia como ambiente a habitar, é um local que gera um beco sem saída ao ser desprovido de comunicação com o lado oposto a ela. A área estudada claramente carece de integração entre os dois lados da ferrovia, que buscará ser feita no projeto vigente através de propostas que visam requalificar seu entorno imediato.
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► Figura 13 Vias que constituem barreiras na área de estudo: à esquerda as duas ferrovias e à direita a Radial Leste e o viaduto Bresser.
▼ Figuras 11 e 12 Passarela de Ferro do século XIX na Rua Visconde de Parnaíba, em baixo estado de conservação.
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O VALOR URBANO DO PATRIMÔNIO INDUSTRIAL O processo de industrialização de bairros como Brás e Mooca deixou seus resquícios no território: galpões industriais de diversas dimensões e vilas operárias destinadas aos operários de tais galpões e fábricas. Com o esvaziamento das áreas anteriormente descrito, houve uma intensa desocupação de imóveis na região, que posteriormente tiveram diferentes destinos. Muitas das vilas operárias persistem até hoje, conservando características de sua arquitetura original. Estas casas são em geral geminadas, assobradadas e compostas por sala, banheiro, cozinha e dois dormitórios. Os bairros do Brás de da Mooca foram escolhidos para produção deste tipo de moradia, produzidas tanto por industriais ou investidores e destinadas ao aluguel por operários, para que assim estivessem instalados próximos ao seu local de trabalho. As grandes glebas e plantas industriais oferecidas ao mercado se tornaram foco da especulação imobiliária a partir dos anos 1980, o que gerou a demolição de edifícios para assim propiciar o processo de verticalização da região. Diante desta situação o estudo sobre o patrimônio histórico da região tem ganhado atenção nos últimos anos, evidenciando edifícios que até então não eram suficientemente abordados. Segundo Meyer e Grostein (2010), a preservação do patrimônio histórico está ligada a dois elementos importantes: “legitimar e dar sentido histórico para as maciças transformações vividas pelas cidades que se modernizaram em função de sua adaptação ao capitalismo industrial”. Ao buscar conceituar o que pode vir a ser um patrimônio histórico e cultural para uma cidade, as autoras estabelecem a relação de que a função social do patrimônio é o que confere sentido à história. A recuperação e conservação de bairros, regiões e edifícios históricos estaria então ligada à sua função e valor de uso no presente, ou seja, se não existe relação e identificação
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► Figura 14 Vila Lameirão no Brás
► Figuras 15 e 16 Condomínios residenciais nos arredores da estação Bresser
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da população com o patrimônio, dificilmente haverá a correlação deste bem à memória local. Para uma política de renovação dos bens históricos em bairros como o Brás e a Mooca, não se deve pensar na renovação de edifícios isolados e sim no valor que possuem quando tratados em conjunto, conferindo-lhes pleno significado funcional e histórico. Visto que os bairros centrais a leste são territórios em transição, a falta de planejamento coordenado tende a desorganizar o crescimento dessas regiões. Ao permitir que sua transformação esteja associada aos setores ligados a reestruturação produtiva, surgem novas ocupações onde predominam os condomínios fechados, desprovidos de relação com a paisagem local. Os planos que visem à revitalização deste setor e de seus espaços públicos deverão estabelecer modelos de ação que não privilegiem apenas pontos focais. O papel do poder público diante disso é fundamental para que haja a incorporação do patrimônio histórico ao território contemporâneo. Deste modo, a preservação da cidade não estaria então associada apenas ao tombamento de imóveis, que congela a patrimônio ou à renovação que substitua o antigo pelo novo, que descaracteriza um local e sua memória. Deve-se então promover a continuidade destes espaços e setores da cidade, criar condições para que a cidade seja aproveitada de maneira qualificada dando a possibilidade de continuação de uso a edifícios e bairros pelas classes sociais que estão ali localizadas desde o início da urbanização paulistana.
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INSTRUMENTOS URBANÍSTICOS ◄ Figura 17 Estação de trens do Brás tombada em 1982 pelo Condephaat ◄ Figura 18 Antiga Hospedaria dos Imigrantes, tombada em 1982 pelo Condephaat ◄ Figura 19 Antiga Fábrica de tecidos Labor, tombada em 2014 pelo Condephaat ¹ Lei 16.050, aprovada pelo prefeito Fernando Haddad em 2014 que orienta o crescimento da cidade de São Paulo até o ano de 2030. ² Zonas Especiais de Interesse Social (ZEIS) são áreas no território para construção de moradia para a de população de baixa renda, demarcadas pela Lei de Zoneamento. Podem ser áreas já ocupadas por assentamentos precários, e podem também ser demarcadas sobre terrenos vazios.
Os instrumentos legais de transformação urbana como o Plano Diretor Estratégico¹ e a Lei de Zoneamento têm se atentado com mais frequência às áreas centrais providas de infraestruturas. Suas últimas revisões, aprovadas em 2014 e 2016, respectivamente, incentivam que os terrenos e imóveis cumpram a função social da propriedade, a partir da atribuição de usos a áreas ociosas, identificadas muitas vezes como ZEIS² . O objetivo desta ação é aumentar a densidade populacional ao longo dos eixos de transporte público de massa e equilibrar a oferta de emprego e moradia com qualidade urbana para assim diminuir desigualdades sócio espaciais (SMDU, 2014). Assim como foi observado por Souza (2012), maiores densidades urbanas representam menor consumo de energia per capita. As cidades na Europa e Ásia que frequentemente são vistas como modelos de cidades sustentáveis possuem altas densidades, o que otimiza as infraestruturas urbanas e propicia ambientes de maior qualidade de vida promovida pela sobreposição de usos (SOUZA, 2012). Deste modo, busca-se uma reinvenção urbana ao invés de sua expansão, onde centros urbanos são reestruturados produtivamente, otimizando áreas com urbanização consolidada. Para a concepção do projeto proposto, foram estudadas as propostas do Plano Diretor, Lei de Zoneamento e das Operações Urbanas que incidem sobre a área de estudo. Estes instrumentos têm dado importância ao desenvolvimento de regiões que passaram por ocupação industrial e hoje não tem seu potencial aproveitado de maneira eficiente. Analisando a área de estudo a partir do Plano Diretor, observa-se que está inserida dentro do perímetro de duas importantes estratégias para o desenvolvimento da cidade, são estas o Eixo de Estruturação da Transformação Urbana e a Macroárea de
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Estruturação Metropolitana, ambas relacionadas à localização desta entre a ferrovia e na planície fluvial do Rio Tamanduateí. A Macroárea de Estruturação Metropolitana é definida como um território estratégico para o desenvolvimento urbano da cidade de São Paulo. Sua principal característica é a presença de atividades econômicas e espaços produtivos em processo de transformação localizados ao longo dos principais rios que atravessam a cidade e de infraestruturas que articulam diferentes municípios na RMSP, como os transportes coletivos. Estes espaços muitas vezes estão subutilizados pois apresentam menos equipamentos sociais e menor densidade populacional, apesar de seu grande potencial devido à localização estratégica da área. Nestas áreas pretende-se promover o desenvolvimento econômico a partir da diversificação do uso e ocupação do solo, equilibrando a oferta de moradia e emprego. Com a melhoria da ocupação utilizando as diretrizes do plano diretor que
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◄ Figura 20 Zoneamento da área de estudo, segundo a Lei de Uso e Ocupação do Solo 16.402/16
visam à reestruturação urbana, é possível aproveitar as infraestruturas existentes de maneira adequada. Já os Eixos de Estruturação da Transformação Urbana são definidos por faixas à 150m dos corredores de ônibus e num raio de 400m das estações de metrô e trem. Para estas áreas é incentivada a construção imobiliária de equipamentos públicos, habitação de diferentes faixas de renda e a ampliação dos espaços públicos, além de ser permitido um maior coeficiente de aproveitamento em relação às áreas fora deste eixo. Abaixo são exemplificados alguns dos parâmetros urbanísticos propostos pelo PDE, que otimizam as áreas que pertencem aos Eixos. As regras de ocupação para os Eixos, se aplicadas corretamente, deverão humanizar os espaços públicos, abrindo os térreos dos edifícios para utilização da população.
► Figura 21 Situação Urbana Ilustrativa dos Eixos de Estruturação Urbana
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A Operação Urbana Consorciada é um instrumento regulado pelo Plano Diretor que estabelece uma regulamentação urbanística especifica e incentivos ao adensamento populacional e construtivo para um perímetro específico. Um conjunto de diretrizes para este perímetro busca alcançar metas de qualificação dos bairros (SMDU, 2015). A área de estudo estava anteriormente inserida na OUC Diagonal Sul, prevista pelo Plano Diretor de 2002, que abrangia uma área de 2.000 ha ao longo do vale do Tamanduateí, desde o Pari até a Vila Prudente, conectando o centro de São Paulo ao ABC Paulista. Mais tarde outras duas operações agiriam também sobre setores ferroviários da cidade – as Operação Urbana Lapa Brás, que abrange as áreas ferroviárias ao norte de São Paulo até o bairro do Brás e a Mooca Vila Carioca, que seguiu um perímetro semelhante à Diagonal Sul. Nessas operações acima citadas há como questão primordial buscar unificar os bairros de formação industrial, que são segregados pelos trilhos dos trens, para assim proporcionar melhores condições urbanísticas de desenvolvimento. Ou seja, a preocupação de superar a barreira ferroviária e reocupar de maneira equilibrada as áreas subutilizadas são problemáticas recorrentes nos planos e projetos urbanos na orla ferroviária. Atualmente, com a readaptação das Operações às propostas do Plano Diretor, a nova OUC que engloba a área de estudo é a Bairros do Tamanduateí. A Operação Urbana Consorciada Bairros do Tamanduateí (OUCBT), projeto de lei do ano de 2015 que aguarda aprovação, propõe como um de seus objetivos incentivar o desenvolvimento econômico em seu perímetro, que engloba os bairros Mooca, Cambuci, Ipiranga, Vila Carioca e Vila Prudente. Para o setor ao norte do bairro da Mooca é proposto um polo de economia criativa, entendendo que propostas pioneiras de iniciativa pública ou privada possam influenciar a implantação de atividades deste setor, assim como na recuperação de edifícios de interesse
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histórico (SDMU, 2015). Outras importantes questões que o plano aborda é buscar orientar o crescimento da cidade nas proximidades do transporte público, qualificar os bairros ambientalmente e valorizar o patrimônio histórico e iniciativas culturais.
► Figura 22 Perímetro da Operação Urbana Bairros do Tamanduateí, com a área de estudo indicada em vermelho, em seu perímetro expandido
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CAPÍTULO 2
REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA E SEUS REFLEXOS NA METRÓPOLE 44
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MÉTODOS CONTEMPORÂNEOS DE INTERVIR NO TERRITÓRIO Como foi visto no capítulo anterior, as últimas décadas do século XX foram marcadas pela mudança da dinâmica do capital, configurando a sociedade atual dentro de um mundo globalizado. A “nova economia”, com origem na década de 70, se tornou muito mais dinâmica no século XXI. Os serviços passaram a predominar sobre o modo fordista de produção industrial e os sistemas produtivos de serviços, por sua vez, inovam com grande rapidez (SOUZA, 2012). A passagem de uma economia baseada em fazer coisas a outra que utiliza a criatividade humana como forma de produção alterou a forma de consumo das pessoas e consequentemente seu estilo de vida. Esta transformação na sociedade provoca modificações nas estruturas das cidades, condicionando sua dinâmica de crescimento. Na nova economia, parte crescente da produção passa a acontecer fora das indústrias, e a cidade como um todo torna-se um território produtivo. A predominância do setor terciário fez com que grande parte dos espaços produtivos industriais perdessem seu propósito e se tornassem subutilizados. Estes espaços vazios, abandonados das cidades são denominados por Ignasi Solá Morales pela expressão francesa terrain vague. São os lugares esquecidos na cidade, mas, de forma contraditória, repletos de memória do passado incidindo sobre o presente, restando hoje uma condição expectante que permite possibilidades de intervenção. São lugares que ficam fora dos circuitos produtivos em meio ao território consolidado, fenômeno percebido em áreas industriais, estações de trem, portos e terrenos contaminados. Por não estarem incorporados ao resto da cidade convertem-se em “áreas deshabitadas, in-seguras e im-produtivas” (MORALES, 1985, p.188) O autor Carlos Leite (2002) associa os terrenos vagos como
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► Figura 23 Vazios urbanos gerados pelas redes de transportes no Brás.
³ Palimpsesto significa “aquilo que se raspa para escrever de novo”, como nos pergaminhos, os quais eram reutilizados depois de raspados e lavados. Quando aplicado às cidades o termo refere-se à sobreposição de construções e a justaposição de sucessivos pedaços de cidade em diferentes épocas.
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resultantes de um processo de palimpsesto³ das cidades, no qual as mutações urbanas recorrentes sobrepõem umas às outras, gerando a atual rede de espaços residuais desconexos. Seu surgimento em São Paulo se dá tanto pela mudança do modo de produção capitalista, que abandona grandes áreas de atividades secundárias, quanto pelas intervenções rodoviárias mal planejadas, comuns na Zona Leste da cidade. O autor qualifica estes espaços como possibilidades de construção de um novo território metropolitano. A reutilização destas áreas através da implantação de atividades econômicas vinculadas à vocação do território é uma possível maneira de reverter este processo. O modelo de urbanismo voltado ao desenvolvimento sustentável consiste na reversão da expansão das cidades, em favor da compactação de áreas centrais (SOUZA, 2012). Esta compactação está ligada à maiores densidades urbanas de modo qualificado, ou seja, com boa oferta de mobilidade e adequado uso misto do solo, que promova a mescla de usos residenciais e de serviços junto a espaços públicos de qualidade. Neste desenvolvimento o crescimento da cidade se dá dentro dela mesma, em áreas consolidadas que podem ser melhor aproveitadas. Identificando assim o potencial de vazios urbanos centrais como um território passível de transformação. A partir da regeneração de áreas vagas se promove uma cidade com mais vitalidade, visto que zonas então pouco ocupadas passam a ganhar novos usos, habitantes e atividades econômicas. O principal meio desta regeneração é aliar políticas urbanas eficientes criadas junto à população local, que efetivamente compreende a realidade do território. Para buscar esta transformação este trabalho apoia-se sobre alguns conceitos, partindo de que intervenções em menor escala são capazes de com o passar do tempo, irradiar a transformação de uma área. O urbanista Oriol Bohigas4 acredita que a renovação geral de
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Oriol Bohigas é um arquiteto e urbanista catalão, responsável pelo planejamento urbano das Olimpíadas de 1992 em Barcelona. Trabalhou por diversos anos na prefeitura de Barcelona e sua intervenção na cidade foi fundamental, tornando-se uma pessoa inspiradora na política urbana conduzida pela cidade. 4
uma cidade deve partir da união de intervenções parciais que provêm da análise das necessidades específicas de um bairro. A metástase positiva é um processo que se estende de um foco de renovação para a cidade ao seu redor como, por exemplo, se tem a intervenção do arquiteto catalão na Vila Olímpica de Barcelona: em seu projeto, o urbanista adaptou o velho porto às necessidades da cidade para assim criar um novo centro lúdico. Seu conceito de urbanismo metástico se contrapõe aos grandes projetos urbanos que buscam mudar uma cidade inteira, tendo este planejamento como ilusório, já que não é possível controlar toda uma cidade. Exemplos disso são os grandes planos urbanos implantados em cidades da Espanha e Itália, que geraram subúrbios problemáticos e marginalizados, de modo inverso às intenções dos projetos. Ele defende que ao trabalhar sobre o tecido urbano existente deve-se limitar o crescimento da cidade buscando completar as “lacunas” e descontinuidades e, requalificar áreas centrais que carecem de intervenção. Segundo Bohigas, os planos urbanos deveriam mudar suas escalas, passando a atuar do particular ao geral – o que veio a ser o micro urbanismo. Ao atuar sobre áreas menores, é possível identificar suas maiores deficiências e carências e assim intervir de acordo com as necessidades locais. Bohigas apostou em intervenções rápidas e numerosas por toda a cidade de Barcelona e centrou-se na requalificação do espaço público. A produção de espaços públicos de qualidade em locais muito específicos possui um potencial de impacto direto. Ou seja, a intervenção pontual sobre o espaço público gera regeneração, produzindo um efeito em cadeia em seu ambiente imediato. Foi confirmado em seguida que este processo poderia ter resultados mais radicais e rápidos, ao contrário da trajetória dedutiva que tem o planejamento em grande escala. No modo de regeneração do espaço proposto por Bohigas as “células doentes do território ao se regenerarem contaminavam positivamente as células vizinhas e,
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tendo uma estratégia de recuperação de todo o doente, a cidade se reinventava”. Os vazios urbanos centrais se transformaram em parques, na marina e na vila olímpica, o que tornou a cidade mais compacta, mostrando que o planejamento urbano feito de maneira estratégica possui grande potencial de regenerar o território. Semelhante a este conceito, foi criada a noção de “acupuntura urbana”, uma abordagem que intervém nos pontos nevrálgicos da cidade, uma vez que estes produzem um efeito de “metástase positiva”, pois irradiam a renovação. A renovação geral deve vir a partir da soma das renovações parciais, concebidos a partir do estudo das necessidades específicas de um bairro. A acupuntura urbana, conceito explicado pelo arquiteto e político Jaime Lerner, procura “recuperar a energia de um ponto do doente e cansado por meio de um simples toque para revitalizar esse ponto e a área ao seu redor” (LERNER, 2012). Se analisarmos a cidade como um organismo, ela também pode ser curada, começando a partir de pequenas ações que são capazes de gerar reações positivas em cadeia. Edifícios, pessoas, praças, monumentos são todos elementos capazes de contribuir para esta acupuntura, desde que gerem alguma transformação positiva em determinada região e contribuam em menor ou maior escala para a melhoria de todo o sistema. No livro “Acupuntura Urbana”, Lerner diz que muitos dos problemas urbanos ocorrem por falta de continuidade, criada algumas vezes pela soma de vazios urbanos aos terrenos baldios. Segundo o autor, essas lacunas trazem a possibilidade de incluir a função que falta a determinada região, sendo ela moradia, serviços ou lazer, garantindo a continuidade do tecido urbano além de contribuir para a mistura de funções.
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► Figura 24 Vazios urbanos gerados pelas redes de transportes no Brás.
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TRANSPOSIÇÃO As frequentes sobreposições de usos tornam o território repleto de descontinuidades que dificultam a percepção do espaço por quem o percorre. A orla ferroviária é um exemplo de estrutura que rompe a continuidade dos percursos, uma barreira que só deixaria de existir através de grandes e custosas intervenções tal como o seu enterramento. Ao pensarmos em soluções a curto prazo para esta questão, que não implicariam em intervir em grandes áreas já consolidadas, busca-se a criação de transposições qualificadas que vão além de apenas estruturas que permitem o deslocamento de um lado a outro. As passagens são atalhos tomados em meio a ampla gama de transportes que os cidadãos utilizam em seu dia-a-dia para chegar aos seus destinos. São espaços que conectam dois lugares, pelo qual se quer percorrer o mais rápido possível. Nesta experiência, visitantes estabelecem contato com moradores locais, há o encontro de pessoas diversas que realizam um mesmo percurso que por sua vez, deve ser um espaço democrático que permita que todos realizem sua travessia confortavelmente. Dado que as passagens sempre estiveram presentes em nossas cidades em diferentes formas, como fazemos justiça a estas essenciais e ainda muitas vezes negligenciadas conexões? Quais são os potenciais caminhos para o desenvolvimento e inovação disponíveis para estes pequenos espaços de mobilidade? Marcel Smets5
A partir da adoção de uma identidade particular a este “nãolugar” é possível torná-lo mais interessante, atrativo, de modo que o pedestre tenha curiosidade em descobrir o que a travessia conecta ao invés de cruzar a passagem apenas quando é necessário (SMETS, 2014).
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Marcel Smets é professor de urbanismo na universidade de Leuven, na Bélgica. É presidente consultivo do projeto Instituto Cidade em Movimento (Institut pour la Ville en Mouvement). Especialista em recuperação de antigas instalações industriais, portos e infraestruturas, projetou e dirigiu grandes transformações urbanas como a do entorno da estação ferroviária e da bacia do porto de Leuven e a transformação da ilha Nantes. 5
Ao mesmo tempo que há a necessidade da velocidade para realizar os trajetos, os cidadãos necessitam de conforto urbano e qualidade ao realizarem seus percursos como pedestres. Tipologias inovadoras de passagens permitem repensar as passagens que concentram a movimentação apenas nos pontos de entrada e saída abrindo perspectivas inesperadas e podem, muitas vezes, dar sentido a uma infraestrutura abandonada, permitindo-lhe uma segunda vida graças a sua reinterpretação. Em meio a grandes avenidas, viadutos, linhas de trens e metrô, o pedestre está no último nível da hierarquia das redes de transportes, as estruturas que são concebidas como conexão, se tornam obstáculos muitas vezes intransponíveis à circulação de pessoas. Neste contexto buscou-se entender como que no âmbito do planejamento urbano local, uma passagem pode contribuir à reconexão de distritos, pois apesar de serem pequenas, essas intervenções podem modificar a relação entre duas áreas. Marcel Smets, fundador do projeto Institut pour la ville em mouvement (Cidades em Movimento) busca soluções para travessias, promovendo uma melhor mobilidade de pedestres no meio urbano. Em seu artigo “Espaços transitórios para o século XXI” compara diversas maneiras de como aprimorar travessias e analisa a ideia de que o embelezamento da travessia pode intensificar o seu uso. O resultado da criação destas estruturas complexas e modernas nas travessias é a produção de objetos atraentes que nem sempre conseguem atingir o fim desejado. O autor exemplifica esta situação estabelecendo uma comparação entre a ponte para pedestres treliçada La Roche Sur Yon do arquiteto Bernard Tschumi e a passarela de Oscar Niemeyer no Rio de Janeiro, que conecta a favela da Rocinha ao Complexo esportivo da Gávea. Ambas são passagens elevadas que atravessam a linha férrea e uma rodovia, o que por si só pode representar uma barreira para o pedestre ao interromper seu percurso.
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A primeira, por ser constituída por uma longa ponte fechada pela qual se deve subir escadarias para atingir se opõe ao projeto de Niemeyer, que cria um percurso fluído, ao incorporar as rampas de subida à própria travessia. Ou seja, a intensificação do uso de uma passagem vai além de seu visual estético. Alguns fatores que podem contribuir para torná-las mais agradáveis é a qualificação da paisagem ao seu redor e a criação de um novo espaço público a partir da própria passagem. Apesar de possuir uma qualidade de ligação, ela é adotada devido à qualidade de seu espaço, a experiência de uma configuração específica ou a atmosfera da passagem criam uma impressão tão forte que a experiência e o lugar deixam uma memória permanente.
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◄ Figura 25 Passarela sobre o anel viário em Evry, na França, por Bernard Tschumi ◄ Figura 26 Passarela no Rio de Janeiro por Oscar Niemeyer
A CONFIGURAÇÃO DOS ESPAÇOS PRODUTIVOS HOJE Com a reestruturação produtiva, as indústrias e empresas passaram a depender cada vez menos de espaço para o seu funcionamento, o que permitiu que as unidades produtivas estivessem espalhadas pelo território. Apesar disso, elas dificilmente estão isoladas umas das outras. Por conta de inter-relações transacionais, do estabelecimento de fluxos de bens e informações e a busca de proximidade com determinadas fontes de mão-de-obra, ainda há a necessidade de manter a proximidade, levando as empresas de determinados setores à aglomeração. Esta aglomeração pode ser tanto produtiva ou voltada à inovação científica/tecnológica. Sua principal característica é a proximidade territorial de agentes econômicos, políticos e sociais, o que confere às empresas que fazem parte desta aglomeração vantagens como acesso a matérias-primas, equipamentos, mão-deobra, proximidade ao mercado consumidor, entre outras. Além disso, é possível aumentar as chances de sobrevivência de pequenas e médias empresas ao investir na competitividade de determinados setores. Dentre os diferentes tipos de aglomerados de empresas destacam-se alguns como parques tecnológicos, clusters, arranjos produtivos locais, aglomerados de empresas, e em menor escala, incubadoras de empresas. Cada tipo de aglomeração envolve diferentes atores, possui diferentes formas de inter-relação entre as empresas envolvidas e consequentemente diferentes formas de distribuição em um território, conforme descritas a seguir.
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Parques Tecnológicos: são complexos produtivos industriais e de serviços de base científico-tecnológica (ANPROTEC,2016). Os parques são ambientes propícios para o desenvolvimento de empresas de base tecnológica que aproximam centros de conhecimento tais como universidades e centros de pesquisa ao setor produtivo. Possuem caráter concentrado e cooperativo e atuam como promotores da inovação, competitividade e capacitação empresarial. Sua implementação é complexa, requer profunda organização, comprometimento dos parceiros, visão de longo prazo e implica em alto custo de implantação. O primeiro parque tecnológico do estado de São Paulo foi o Parque Tecnológico de São José dos Campos, hoje outros 12 empreendimentos recebem este título. ◄ Figura 27 Parque Tecnológico de São José dos Campos
Clusters: Um cluster, também conhecido como Arranjo Produtivo Local (APL), é um conjunto de empresas do mesmo ramo ou de setores complementares, não necessariamente de base tecnológica, onde cada empresa compõe um determinado setor do processo de produção. Além da concentração geográfica, há a articulação das empresas em uma rede que serve mercados globais, cuja vantagem é atingir competitividade internacional a partir de recursos locais. Os clusters podem englobar não apenas empresas, mas instituições de ensino, pesquisa e tecnologia, sindicatos, entidades, instituições financeiras, entre outros atores.
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► Figura 28 Cluster tecnológico Porto Digital no Recife - PE
Clusters urbanos constituem uma nova estratégia na economia do século XXI e são meios de ação no espaço que contribuem para o desenvolvimento local e regional. São aglomerações capazes de alavancar processos de regeneração urbana de áreas em transformação produtiva como elementos-chave na geração de novas funções do espaço urbano em áreas pós-industriais. Dessa forma, a regeneração urbana funciona com uma abordagem diversa daquela tradicionalmente apresentada nos processos de revitalização urbana. Ao invés de apenas reorganizar uma área espacialmente e “embelezar” a cidade, o projeto urbano oferece funções ao território (SOUZA, 2001). Aglomerados de empresas: Caracterizam-se principalmente pela proximidade geográfica de empresas de um mesmo setor. Os aglomerados se diferem de arranjos produtivos, uma vez que as empresas que englobam não estabelecem o mesmo tipo de relação de cooperação observado nos APLs. Incubadora de empresas: É considerada a forma inicial e a mais simples de ser implantada. É um espaço com infraestrutura física e administrativa e serviços especializados de apoio às novas empresas
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voltadas à produção de inovações, que dividem os custos comuns. A infraestrutura disponível nas incubadoras deve facilitar a criação de produtos, e serviços inovadores, aprofundada adiante. Os diferentes tipos de aglomerados voltados à inovação possuem o comum o “objetivo de oferecer condições favoráveis à criação, fixação e desenvolvimento de empresas intensivas em conhecimento” (TITTON, 2011). Neste contexto, as políticas contemporâneas utilizam como estratégia a atração de recursos humanos qualificados, uma vez que ambientes com alta concentração de pessoas criativas crescem mais rapidamente e atraem mais pessoas com talento, como demonstram estudos de Richard Florida (apud TITTON). A proximidade no território passa então a gerar cada vez mais inovação, conferindo a uma região um papel decisivo para a economia, já que fatores como talento, inovação e criatividade, não estão distribuídos igualmente pelo mundo, mas sim concentrados em determinadas localidades. A retomada de densidade populacional e dos investimentos em áreas pós-industriais pode consistir numa solução para áreas hoje desprovidas de função, ao aliar a demanda de produção de inovações, as áreas industriais obsoletas resultantes da nova lógica econômica e os benefícios da aglomeração de empresas. Florida discute sobre o investimento feito por cidades para salvar áreas degradadas que muitas vezes se baseia sobre grandes planos urbanos, que levam anos para serem implantados e nem sempre possuem o resultado esperado. Segundo o autor as políticas públicas que visam à transformação de grandes áreas devem “direcionar a atenção para as pessoas, não apenas incentivando sua reciclagem profissional, mas ajudando-as a se deslocar para melhores mercados de trabalho, ou deverão dar prioridade a lugares, fomentando o reinvestimento geograficamente direcionado?”. Para os moradores de uma região o processo de transformação da mesma acontece de maneira lenta, levando-os a
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se mudar para um local que já ofereça os empregos e a qualidade de vida prometidas após a implantação do projeto urbano. Os projetos governamentais com ações “de cima para baixo” muitas vezes se mostraram ineficientes pois não consideram aspectos relevantes da cultura e comunidade local, resultando em efeitos reversos: ao invés de melhorar a qualidade de vida da população, causa sua expulsão do local. Isso ocorre principalmente quando há a valorização de uma região e seus antigos moradores se tornam incapazes de arcar com um custo de vida mais alto. Ao invés de gastar recursos para construir grandes empreendimentos como estádios, centros de convenções e hotéis, é vantajoso o investimento e estímulo às atividades locais para assim melhorar os empregos e renda das pessoas, utilizando suas competências para melhorar a qualidade do lugar. A partir do apoio ao empreendedorismo, à criação e consolidação de grupos, eventos e culturas locais, se mantem as pessoas numa região. Essas ações se tornaram temas centrais do desenvolvimento econômico, pois quando em conjunto, iniciativas e esforços aparentemente menores podem se somar de forma que resultem em benefícios reais para as comunidades.
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CAPÍTULO 3
ECONOMIA CRIATIVA: UMA ESTRATÉGIA PARA O DESENVOLVIMENTO 60
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O investimento na cultura, inovação e criação tem sido uma estratégia para cidades reerguerem-se em meio a crises e para que isso seja possível, é necessário promover a capacitação de pessoas e empresas de acordo com as demandas de campos promissores como a inovação e criatividade das pessoas. De acordo com Reis (2011, p. 2), dentre os novos processos que possibilitaram a formação de uma nova dinâmica econômica, destaca-se “a globalização, as novas mídias, a falência dos modelos econômicos tradicionais em promover desenvolvimento, inclusão e a valorização do conhecimento como ativo econômico diferencial. A criatividade passa a ser vista como recurso básico diferencial e imprescindível.” O conceito de Economia Criativa apareceu pela primeira vez em um discurso do primeiro ministro australiano Paul Keating em 1994. Em seu discurso “creative nation”, define o conceito como uma economia que engloba 13 setores relacionados às artes como a moda, cinema e vídeo, propaganda, rádio e TV, entre outros, vistos como meios em crescimento de gerar empregos e renda, além de enriquecer um país culturalmente. Essas atividades têm como base o conhecimento e possuem grande potencial de desenvolver-se e de criar oportunidades em diversos setores aos quais se relaciona. Foram definidas pelo governo britânico em 2006 como: “Indústrias que têm sua origem na criatividade, habilidade e talento indiviwwduais e que apresentam um potencial para a criação de riqueza e empregos por meio da geração e exploração da propriedade intelectual” (DCMS,1998 apud Reis pg.9)
O investimento na economia criativa teve sua maior expressão na Inglaterra. Em 1997 o país colocou a criatividade no epicentro do programa estratégico do país, como um meio de alcançar objetivos socioeconômicos e a consequente competitividade mundial da
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economia britânica. O então primeiro ministro Tony Blair organizou uma análise profunda das contas nacionais britânicas, da competitividade de suas indústrias e no cenário mundial e das tendências que se prenunciavam. No Brasil, estas atividades foram divididas em 4 grandes áreas pelo Ministério da Cultura, sendo elas: criações funcionais, artes, mídia e patrimônio cultural. As áreas estudadas neste trabalho pertencem ao setor das criações funcionais, que engloba a moda, design, arquitetura, publicidade e mídias digitais. É a mais numerosa em empregados e em 2013 representava quase metade dos profissionais criativos no país (FIRJAN, 2014). ► Figura 29 Áreas que compoem a Economia Criativa
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O desenvolvimento das atividades econômicas é uma condição fundamental para promover a melhoria das condições de vida da população e ampliar o aproveitamento das potencialidades locais. Neste sentido, a participação do setor de serviços no conjunto da economia do município é uma variável fundamental na estratégia de qualquer administração. O crescimento dessa indústria foi estudado pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (FIRJAN), que realizou um mapeamento em 2014 das principais áreas e sua distribuição no território brasileiro, traçando um panorama da indústria criativa no Brasil. O estudo mostra que em 2004, cerca de 470 mil empregados atuavam na indústria criativa, em 2013 este número quase dobrou, chegando aa 892 mil empregados nas áreas que engloba. Neste mesmo ano, o Produto Interno Bruto, gerado por estes setores chegou a 2,6% de tudo o que é produzido no Brasil. Esses resultados colocam o Brasil entre os maiores produtores de criatividade do mundo, superando países como Espanha, Itália e Holanda. O mercado formal de trabalho do núcleo criativo representa 1,7% do total de trabalhadores brasileiros.
100,7
2,55%
2,60%
126,1
120,6
116,4
111,9
2,21%
89,3
2,26%
86,0
80,7
74,3
2,09%
2,20%
2,38%
100,6
2,46% 2,37%
2,49%
2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 PIB Criativo (R$ Bi)
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Participação no PIB Total BR
◄ Gráfico 1 PIB Criativo estimado e sua participação no PIB total brasileiro - 2004 a 2013
► Tabela 1 Número de empregados da Indústria Criativa no Brasil, por áreas e segmentos 2004 e 2013
Ao analisar a distribuição da indústria dos estados, São Paulo e Rio de Janeiro se sobressaem: são 311 mil trabalhadores paulistas e 96 mil trabalhadores fluminenses no núcleo criativo. A criatividade é indissociável à condição humana e a cultura é um dos ativos econômicos mais democráticos. No último século, as nações passaram a levar em conta a importância de valores ligados à criatividade e a cultura, que deixam de ser coadjuvantes para se tornarem protagonistas no cenário econômico e por conta disso a economia criativa tem sido compreendida como alavanca potencial para um novo tipo de desenvolvimento, socialmente mais justo e inclusivo. O desafio para as cidades é justamente o de se converter esse potencial em realidade.
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MODA E DESIGN Os setores selecionados para abrangência e incentivo no projeto proposto são a moda e o design. Ambos estão voltados à fabricação de bens de consumo e se destacam pela multidisciplinaridade e relação com outras áreas, sendo assim vantajosos para seu investimento.
MODA A moda é uma área da economia que apresenta ampla cadeia produtiva e encadeamentos que impactam e alavancam diferentes setores da economia. Sua atuação influencia desde o fornecimento de fibras, transformadas em fios para constituir os tecidos e malhas até o comércio dos produtos em suas diversas formas, incluindo também a fabricação de acessórios e calçados. Além da própria produção têxtil, este setor movimenta atividades complementares como produção de softwares, editoras especializadas, feiras de moda, agências de publicidade e comunicação e outras funções corporativas. Esta diversificação faz com que envolva na sua produção diferentes níveis de renda, classes sociais e faixas etárias da população. Como pode ser observado, a cadeia produtiva da moda caracteriza-se por alto grau de complementaridade, rápida constituição de unidades de produção e pelo uso intensivo de mão-de-obra (MINISTÉRIO DA CULTURA, 2011) A interação da moda com os diferentes segmentos da indústria de bens de consumo também desempenha um papel de sinalizadora de estilo de vida e tendências dos mais variados tipos de consumidores. Outras indústrias como a de automóveis, cosméticos, celulares e eletrodomésticos são cada vez mais fortemente inspiradas pela indústria da moda, relacionados às suas inovações de produtos, design e conceitos. A concorrência no setor têxtil tem-se dado cada vez mais intensamente por meio de investimentos intangíveis como design,
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▲Figura 30 Participação da moda nas etapas da cadeia têxtil
marketing e inovação nos modelos de distribuição. Isso ampliou a interação desse setor com segmentos dos setores de serviços, os quais são crescentemente responsáveis pela diferenciação e agregação de valor na cadeia têxtil. O Sudeste ainda se destaca como centro consumidor e de distribuição de atacado e varejo. Assim como a concepção e planejamento estratégico da cadeia se concentram principalmente em São Paulo e no Rio de Janeiro. (MINISTÉRIO DA CULTURA, 2011) Em estudo desenvolvido pela Firjan, constatou-se que a moda é um setor de grande importância para a economia criativa tendo em vista que essa atividade corresponde a 16,4% do PIB nacional. Entre os setores mapeados, a moda, a arquitetura e o design aparecem como o núcleo responsável pela maior parcela da indústria criativa nacional, respondendo por 82,8% do trabalho criativo no Brasil.
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DESIGN O design por sua vez, é outra área de atuação capaz de interligar-se com tantos setores. Devido a sua grande abrangência, é uma área existente em diversos campos. Ajuda as empresas a diferenciarem seus produtos e serviços, além da própria imagem no mercado, destacando-se em meio à intensa concorrência. O design está presente em objetos do cotidiano tais como em um catálogo de moda, em uma capa de CD de música, em um pôster de cinema, mas também é formado por empresas de prestação de serviço de setores como criação de produto, multimídia e web, gráfico, embalagens, arquitetura e design de interiores. Ele integra as “indústrias criativas”, classificando-se na categoria da criatividade aplicada, no qual as atividades são direcionadas pela demanda e orientadas aos serviços. (SEBRAE, 2015) O design está presente na imensa maioria dos segmentos das indústrias criativas, na medida em que prestadores de serviço do design se fazem úteis em diversas empresas que envolvam a criatividade em seus produtos. Sua relevância se dá por ter como foco o usuário e seu entendimento, pois a partir de sua compreensão consegue propor respostas às mudanças econômicas, tecnológicas, sociais e demográficas que influenciam tanto o comportamento do consumidor como modificam os mecanismos de produção, distribuição e comercialização. Assim, o design contribui não somente na questão estética de um produto, mas também traz soluções à evolução e transformação do ser humano e da sociedade, ao adaptar os produtos conforme as necessidades de uma geração.
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A INFLUÊNCIA DOS SETORES DA MODA E DESIGN NO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO Por possuir um caráter de predominância urbana, o setor de produção de moda e vestuário sobreviveu à desconcentração das indústrias e as crises das últimas décadas, crescendo significativamente em número de estabelecimentos. A necessidade das indústrias da moda e da confecção se manterem nas cidades está ligada à rápida renovação dos produtos, num sistema contínuo de desenvolvimento de novos padrões e conhecimento ligados ao setor. Sua criação desenvolve-se com base na incorporação de design e tecnologia e ambos são segmentos que exigem alto conhecimento e modificações da estrutura produtiva das empresas em pouco tempo. É somente nas cidades que a difusão das informações é imediata, além de ser o local onde novas tendências de moda nascem e são difundidas. Nessas condições, é fundamental para os produtores estarem perto dos consumidores e de seus concorrentes, para que possam introduzir, assimilar e reproduzir mudanças no mercado de maneira rápida. (FUNDAP, 2011) O município de São Paulo possui dois aglomerados produtivos voltados ao vestuário, como pode ser observado no mapa abaixo. São eles o Aglomerado Central, no Bom Retiro e o Aglomerado Leste que compreende os bairros Brás, Belém e Pari. A consolidação do aglomerado do Brás está associada historicamente ligada às indústrias têxteis instaladas na região por imigrantes italianos junto à facilidade para obtenção de insumos, às poucas barreiras de entrada de mercado e concentração de capital que possibilitou a criação de uma unidade de produção do vestuário. A instalação deste aglomerado foi tardia em relação ao Bom Retiro. Segundo Brito (2005), “Até 1990, menos da metade das unidades encontravam-se instaladas, demonstrando que esse aglomerado implementou seu processo de reestruturação em um período mais
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recente, impulsionado pela abertura de mercado”. A base de ambos os aglomerados são as pequenas empresas de vestuário, cujos empregados estão em maior parte oficinas que realizam uma única fase da produção, muitas vezes de maneira precária. A seguir são citados dados referentes à indústria da confecção do vestuário no município de São Paulo, baseados em dados fornecidos no estudo
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◄ Figura 31 Mapeamento dos estabelecimentos ligados á confecção em São Paulo em 2010, onde destacamse os aglomerados do Brás e Bom Retiro
“Indústria da confecção” da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano em 2013: a) Em termos de empregos formais, o município de São Paulo representa 86,4% do setor na RMSP; 52,3% no Estado de São Paulo e 14% do País. b) O setor tem elevada capacidade de geração de empregos: comporta 20% dos empregos formais da indústria paulistana, apesar de representar apenas 6,9% do valor adicionado. Nesse sentido, destacase sua capacidade de absorção de pessoas com escolaridade média. c) Há predominância feminina na mão-de-obra empregada (70%) o que indica a oportunidade que representa no contexto das ações pela igualdade de gênero. As indústrias urbanas de hoje não são as mesmas que historicamente ocuparam a cidade. Tais atividades podem ser renovadas, modernizadas e incorporadas às cadeias de alto valor agregado. No caso de São Paulo, a modernização e reestruturação da indústria da confecção pode oferecer a possibilidade de desenvolver uma estrutura produtiva com maior geração de valor agregado e maior ocupação de mão de obra.
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A IMPORTÂNCIA DA SÃO PAULO FASHION WEEK Nos últimos 10 anos houve um movimento de valorização de eventos ligados à indústria da moda, seu principal expoente é a organização da versão paulista da maior feira internacional de moda, a São Paulo Fashion Week. A SPFW é um exemplo de como o investimento na economia criativa pode ser uma estratégia de desenvolvimento para a cidade. Nas chamadas “cidades globais” tais como Nova York, Londres e Milão, o investimento nas indústrias da moda e design tem sido incorporado às estratégias de atração de investimentos, negócios e turismo, criando assim polos vinculados a estes setores, capazes de revitalizar áreas degradadas. Apesar de sua importância na economia do país, frequentemente qualifica-se a indústria da moda negativamente tanto pela sua informalidade quanto por ser considerada de interesse apenas das altas classes, quando associada ao luxo e consumo. Essa equívoca visão não leva em conta a dimensão econômica do setor nem sua dimensão cultural, além da sua capacidade de alavancagem de diferentes setores da economia. O evento existe desde 1996 e possui duas edições anuais, em janeiro e junho, recebendo até 250 mil visitantes por mês (SMDU, 2013). Apenas nos últimos anos que o evento passou a ser visto ◄ Figura 32 Edição de 2016 da SPFW
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▼ Figura 33 Edição de 2016 da SPFW
como algo que transcende o mundo da moda, cumprindo um papel articulador de diferentes setores e atividades. Além de estruturar e impulsionar toda a cadeia produtiva e criativa da moda, da fiação ao varejo, a SPFW transformou o mercado, promoveu o negócio da moda e posicionou o Brasil como importante polo mundial de criatividade, além de ter sido um dos principais atores no fomento e profissionalização do setor. Os benefícios trazidos durante as edições da SPFW para a cidade de São Paulo envolvem a atração de compradores, que geram importante movimento de negócios nos segmentos de turismo, serviços, hotelaria, alimentação, transporte e varejo. Só para a indústria de shopping centers, a SPFW impulsiona, a cada edição, mais de R$1,5 bilhão em negócios relacionados direta e indiretamente ao evento (SMDU,2013). Hoje pode-se dizer que a SPFW transformou São Paulo em um polo irradiador de tendências e impacta diretamente a economia do país.
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INVESTIMENTO EM INOVAÇÃO A cadeia produtiva da moda possui grande potencial de se modernizar e inovar. Ao otimizar a sua produção, há a possibilidade de beneficiar a população envolvida no setor, com o objetivo de reduzir desigualdades. Algumas das estratégias propostas pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano apoiam-se na qualificação profissional dos empregados neste setor, visando o aumento de sua renda e a inclusão social; fomentar o surgimento de novas áreas de criação, na busca de conferir inovação nos processos de produção e difusão de novas tecnologias; propor parcerias com escolas técnicas e universidades. Na pesquisa realizada pela SDMU sobre a indústria da confecção destaca-se que tornar empresas mais inovadoras e aproximá-las da pesquisa aplicada pode ampliar o potencial de geração de valor, melhorar os salários, aumentar a formalização das relações de trabalho e garantir a permanência do setor no município. O investimento em inovação é proposto como estratégia para fortalecer o setor no Brasil, tendo em vista que o avanço da concorrência chinesa torna necessário o aumento da competitividade brasileira. A criação de incubadoras e polos tecnológicos são alguns dos meios que contribuem a este aumento, além de integrar os pequenos e grandes produtores. Em decorrência desta inovação, áreas hoje desqualificadas podem se diversificar e equilibrar a oferta de empregos com salários elevados no território. Uma política de inovação para o setor da moda deve ter como foco a valorização e incentivo à internacionalização e crescimento de marcas oferecendo apoio à exportação, às estratégias de marketing, e estímulos à inovação em design, como elementos críticos de agregação de valor e competitividade para esse segmento. Ademais, o delineamento das políticas públicas deverá centrar-se no apoio e incentivo aos fatores dinamizadores da competitividade dos
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produtores, visando a adensar as relações entre as empresas e instituições de ensino e prestação de serviço. Se sintetizarmos os elementos acima, é possível traçar os seguintes vetores para orientar uma ação pública para o Setor da Moda: a) Criação - Apoio a novos talentos, incentivo à inovação e criatividade. b) Formação - Qualificação técnica, profissionalização, aproximação às linguagens artísticas. c) Empreendedorismo - Apoio à criação, manutenção e ampliação de novos negócios. d) Pesquisa - Informação, produção de conhecimento, pesquisa. e) Intervenção urbana - Políticas e programas de desenvolvimento urbano, pólos de inovação, revitalização de áreas degradadas. f) Inclusão social - Geração de benefícios sociais.
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INCUBADORAS DE EMPRESAS Incubadoras de empresas são espaços voltados a abrigar empresas recentes, ainda em fases iniciais. Seu objetivo é apoiar as empresas que abriga, facilitando a superação de seus primeiros anos de atividade com êxito. Com esse intuito, são oferecidas as facilidades necessárias para o crescimento e fortalecimento de novos empreendimentos em um ambiente flexível e encorajador. Esta instituição é apoiada pelo governo ou instituições de ensino como universidades e centros de pesquisa, podendo ser com ou sem fins lucrativos. Além de oferecer espaços coletivos de trabalho, é composta por uma série de espaços compartilhados como auditório, biblioteca, área para eventos, salas de consultoria e reunião. Estes espaços abrigam treinamentos, cursos e visam o intercâmbio de ideias entre seus usuários. Seus principais objetivos são a dinamização da economia local; dinamização de um setor específico de atividade; inclusão socioeconômica; geração de emprego e renda e a criação de spin-offs6; As incubadoras de empresas possuem o importante papel de contribuir para o desenvolvimento econômico regional, funcionando como uma ponte entre a concepção e a consolidação de uma empresa no mercado. Para que isto seja possível, é vantajoso o envolvimento da administração pública na criação de leis de incentivo fiscal às empresas que se estabelecem no local, concentrando uma rede de empresas voltadas a um mesmo setor. Um caso analisado adiante onde ocorre este envolvimento é o Distrito do Design, em Buenos Aires. A partir do envolvimento de ONGs, instituições educativas e atores do âmbito público e privado, criou-se um novo polo cultural na cidade e reorganizou-se sua trama produtiva ao fomentar a concentração de estabelecimentos que oferecem serviços de design em um mesmo território. Dentro deste projeto, o Centro Metropolitano de Design (CMD) é uma incubadora
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Spin offs são novas empresas que nascem a partir de um grupo de pesquisa de uma empresa, universidade ou centro de pesquisa público ou privado, normalmente com o objetivo de explorar um novo produto ou serviço de alta tecnologia. É comum que estas se estabeleçam em incubadoras de empresas ou áreas de concentração de empresas de alta tecnologia.) 6
que funciona como o epicentro desta transformação. Este edifício é o espaço que potencializa o encontro entre a comunidade e os profissionais do design na cidade. O surgimento das incubadoras de empresas se dá nos Estados Unidos, no fim da década de 50. Com a compra de um antigo galpão em Batavia, em Nova York, buscou-se estimular o comércio e o aluguel de galpões vazios na cidade, oferecendo áreas de trabalhos compartilhadas entre diversas empresas. O conceito de um espaço destinado à assistência de novas empresas passou a difundir-se apenas nos anos 80, como uma forma de superar a crise econômica pós-industrial, período em que a rápida introdução de novas tecnologias abriu espaço para as pequenas e médias empresas. Sua disseminação levou à implantação de diversos desses empreendimentos em antigas áreas industriais ou relacionados à centros de pesquisa de universidades assumindo diferentes formatos como centros de inovação, aceleradoras, polos de pesquisa e parques tecnológicos. A disseminação das incubadoras de empresas foi rápida nos Estados Unidos, tendo em vista que de 1980 para 2006 o número de incubadoras na América do Norte subiu de 12 para 1,400. No continente europeu, com maior alastramento nos anos 90, teve ► Figura 34 Batavia Industrial Center em Nova York
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destaque na Inglaterra, França e Espanha. (Anprotec , 2012) A Associação de Inovação de Negócios Internacionais (InBIA), instituição norte-americana líder em inovação e empreendedorismo, estima que hoje existam cerca de 7000 incubadoras de empresas espalhadas pelo mundo. No Brasil, a história das incubadoras de empresas é ainda recente. Na década de 1980, a partir de uma iniciativa do CNPq em convênio com instituições de ensino e pesquisa, o Programa de Parques Tecnológicos no país estimulou o empreendedorismo inovador no Brasil, desencadeando no país um sistema de incubação de empresas. Conforme os dados abaixo obtidos na pesquisa realizada em 2016 pela Associação Nacional de entidades promotoras de ◄ Figura 35 Dados sobre as Incubadoras de Empresas no Brasil
empreendimentos inovadores (Anprotec), é possível constatar que ainda existem poucas incubadoras de empresas no Brasil, mas que possuem grande potencial de geração de empregos. A área de atuação das incubadoras é bastante variada, tendo sua maior expressão no setor tecnológico, como um modo de levar ao mercado novas tendências e inovações da tecnologia. Como uma experiência ainda mais atual, o caso das incubadoras mistas, aquelas que se voltam à incubação de empreendimentos de setores da economia tradicional, estão ainda presentes em menor quantidade.
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Na pesquisa realizada pela Anprotec, foi constatado que os objetivos das incubadoras tendem a ser similares independente da área de atuação, buscando sempre a dinamização da economia local ou de um setor específico de atividade, a inclusão socioeconômica e a geração de emprego e renda. Para participar da incubação, a empresa pode passar por um processo seletivo que determina quais iniciativas são mais relevantes para investimento, ou no caso das incubadoras com fins lucrativos, deverá pagar por um pacote que inclui o acesso às facilidades do edifício, assessoria técnica e capacitação dos profissionais. Os principais usuários que frequentam a incubadora são os empreendedores e trabalhadores presentes nos dias úteis durante a jornada de trabalho, há também a equipe técnica e administrativa do edifício, que envolve profissionais para suporte aos trabalhadores e prestadores de serviços administrativos e de manutenção do local. Como usuários transitórios, estão os clientes e colaboradores das empresas incubadas e participantes em treinamentos e atividades de networking, que variam conforme a existência de feiras e eventos. O programa de necessidades de uma incubadora de empresas pode variar conforme a quantidade de usuários e a área de atuação das empresas incubadas, porém existem ambientes essenciais para seu funcionamento. A unidade de trabalho é o principal elemento da incubadora e pode funcionar seguindo duas modalidades: em áreas de coworking, onde o espaço de trabalho é coletivo e compartilhado por profissionais que trabalham de maneira independente ou em “boxes” individuais, nos quais cada empresa possui um espaço particular, com dimensão proporcional ao tamanho da equipe, similar ao modelo tradicional de trabalho. Outros ambientes importantes são os espaços comuns de convívio, espaços onde há uma maior interação entre os usuários do edifício. São estes: biblioteca, área para jogos e descanso, cozinha, café, áreas de convívio ao ar livre entre outros, que variam conforme as necessidades de cada incubadora, junto aos
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ambientes especializados como laboratórios e ateliers. Os espaços compartilhados são ambientes normalmente presentes em escritórios individuais, que na incubadora podem ser utilizados por todos como auditório, salas de aula e treinamento e salas de reunião formal e informal. Por fim, estão os espaços de apoio, que consistem nas salas administrativas, escritórios e áreas de armazenamento ocupadas pela equipe técnica.
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▼ Figura 36 Diagrama da distribuição do programa de uma incubadora, elaborado pela prefeitura de Barcelona
INSTITUIÇÕES E O ESTÍMULO À ECONOMIA CRIATIVA Instituições públicas e privadas têm trabalhado na difusão das indústrias criativas nos último anos, dentre elas destacam-se o Sebrae, a FIESP em São Paulo e a FIRJAN no estado do Rio de Janeiro. O Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) é uma instituição que prepara os micro e pequenos empresários para obterem as condições necessárias para crescer e acompanhar o ritmo de uma economia competitiva. Esta preparação é feita principalmente por meio de cursos, palestras e assessorias. O papel que desempenha para fomento da economia criativa é de direcionar os que empreendem nos setores que engloba, com o objetivo de estabelecer os eixos estratégicos de atuação para o atendimento do Sistema Sebrae na economia criativa, contribuindo para a sustentabilidade e o fortalecimento dos empreendimentos criativos. Outras instituições como a FIESP (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e a FIRJAN (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro) merecem destaque por promoverem a economia criativa, através da analise, mapeamento do setor e promoção por meio de seminários A seguir são analisados edifícios que promovem a economia criativa, voltando-se principalmente aos setores do design, vestuário e têxtil. No caso dos edifícios cariocas, no Senai Espaço da moda em Nova Friburgo e na Casa Firjan, há o incentivo à educação e atuação profissional, já as instituições de São Paulo são voltadas principalmente à qualificação e ensino na área da confecção.
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SENAI ESPAÇO DA MODA
O Senai Espaço da Moda, inaugurado em 2014, localiza-se em Nova Friburgo no Rio de Janeiro, cidade que é um polo da produção de moda íntima no país. Em suas mais de mil confecções, o setor gera cerca de 10 mil empregos para a cidade. Este local visa qualificar pessoas para atuarem na indústria da moda e atender de maneira integrada as necessidades deste setor. Oferece cursos de qualificação e aperfeiçoamento e contribui para a divulgação da produção local. Seu programa, distribuído em um espaço de 2000m², é composto por oficinas e laboratórios, biblioteca, acervo de materiais, auditório e salas para reuniões empresariais. Além dos cursos oferece oficinas, exposições, palestras, consultorias, atendimento a compradores e workshops voltados para a moda. ▲ Figuras 37 e 38 Vista externa do Senai espaço da moda e foto da materioteca.
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CASA FIRJAN DA INDÚSTRIA CRIATIVA
▼ Figuras 39 e 40 Perspectivas da praça interna e da mediateca do projeto Casa Firjan
A Casa Firjan da Indústria Criativa é um projeto em andamento no bairro de Botafogo, no Rio de Janeiro e assim como o Senai será promovido pela FIRJAN. Foi resultado de um concurso que teve como vencedor o projeto do escritório Lompreta Nolte Arquitetos. Sua intenção é ser um hub das indústrias criativas que, ao conectar em um mesmo espaço diversos agentes destas indústrias, promoverá a interatividade e o estímulo aos negócios. Este hub é composto por um novo edifício, o palacete histórico Lineu de Paula Machado e casas geminadas que abrigarão três programas diferentes: a casa Firjan, um Senai que oferecerá formação profissional na indústria criativa e o espaço Sesi que irá receber exposições, instalações e atividades vinculadas aos setores criativos. A disposição dos edifícios no terreno cria uma praça interna que resulta num espaço livre entre o Palacete e o novo edifício. Os dois blocos que compoem o novo edifício se conectam no primeiro e útimo pavimentos e foi feito em dimensões apropriadas para que fosse mantido o protagonismo do palacete.
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SENAC LAPA FAUSTOLO O Senac São Paulo atua na área da moda desde 1964, estruturando desde 1980 seu desenvolvimento na área a partir da inclusão de cursos que englobam com mais amplitude a dimensão do setor. Nas décadas seguintes passou a incorporar as tendências do mercado até enfim firmar parceria com a Esmod InternacionalEcole Supérieure des Créateurs de Mode, tradicional escola de moda francesa, o que gerou o curso de Bacharelado em Design de Moda. A unidade da Lapa, além de cursos de design, modelagem e confecção de moda, oferece cursos voltados à estética e maquiagem. Seu espaço conta com salas de aula, uma grande estrutura para eventos, com auditório para até 700 pessoas e espaços como biblioteca, modateca e teciteca (acervos de diversas peças da moda e amostras de tecidos, respectivamente), acervos compostos principalmente por doações de colecionadores, profissionais de moda e pesquisadores.
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▼ Figuras 41 e 42 Area externa do Senac Lapa e foto da biblioteca
SENAI FRANCISCO MATARAZZO
▼ Figuras 43 e 44 Vista externa do Senai Francisco Matarazzo e auditório
O Senai Francisco Matarazzo, localizado no bairro do Brás em São Paulo tem o ensino focado nos setores têxtil e do vestuário. Esta unidade está em atividade desde 1958 como uma escola técnica têxtil e hoje possui cursos que vão desde aperfeiçoamentos até pósgraduação. Seu objetivo é capacitar profissionais na indústria têxtil, principalmente nas primeiras fases da cadeia produtiva, tais como a fabricação de fibras químicas e processos de tecelagem. O diferencial de sua infraestrutura são os diversos laboratórios e oficinas que apoiam desde a fabricação de tecidos, coloração e corte até a modelagem de vestuário. Dentro da escola há o “Centro de Design de Moda”, que oferece produtos focados na necessidade de cada empresa, tais como consultoria, identidade visual, pesquisa de tendencias e planejamento de produtos e coleções.
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CAPÍTULO 4
ESTUDOS REFERENCIAIS 86
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Foram selecionados para análise três projetos urbanos realizados em áreas industriais das cidades de Barcelona, Paris e Buenos Aires. Estes projetos buscaram a requalificação através da inserção de novos usos e de uma política voltada ao desenvolvimento local. A escolha dos projetos urbanos 22@, Paris Rive Gauche e Distrito del Diseño deve-se ao envolvimento das incubadoras de empresas dentro dos planos e seu papel na transformação das áreas estudadas. O incentivo à inovação e à criatividade são também características em comum destes projetos. Estas cidades inseriram em suas estratégias o fomento à economia criativa e mostram concentrar empresas e profissionais emergentes pode ser uma estratégia para diversificar a economia destas áreas e promover a transformação urbana. Barcelona é destaque entre as chamadas cidades criativas, é o epicentro de produção criativa e polo de atração de negócios e talentos com foco em setores do conhecimento e criatividade, tais como tecnologia da informação, mídia e novas energias. As ações do projeto 22@ tiveram grande impacto no território e as taxas de empregos nos setores de serviço aumentaram significativamente. Hoje é visto como um modelo de desenvolvimento a ser seguido tanto por cidades do Hemisfério Norte como pela América Latina. No segundo caso, o projeto Paris Rive Gauche em Paris, atua sobre uma região fragmentada da cidade e cria um novo bairro a partir da superação da barreira imposta pela ferrovia. As medidas do projeto Paris Rive Gauche puderam reintegrar o bairro ao tecido urbano, além de criar um novo polo de negócios para a capital. La Halle Freyssinet é uma incubadora que faz parte das ações do plano e possui a intenção de unir em um grande galpão cerca de 1000 novas empresas que trabalham em espaços compartilhados. Por fim, foi analisado o edifício do Centro Metropolitano do Design em Buenos Aires, que busca promover e difundir a cultura do design através do apoio às empresas, capacitação e eventos em geral que reforçam a importância deste setor para a cidade. Seu espaço integra diversas funções presentes no programa do edifício e cria um novo marco para a região.
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22@ / BARCELONA ACTIVA A cidade de Barcelona passou por grandes transformações econômicas nas últimas três décadas que tiveram resultados positivos para a região da Catalunha e para a Espanha, tornando-se um modelo a ser seguido por cidades que buscam a competitividade como forma de desenvolvimento. Seu sucesso deve-se a razões como a independência política e econômica das cidades espanholas, que as atribuíram novas competências urbanísticas que por fim permitiu que a câmara municipal protagonizasse o processo de reestruturação urbana e econômica da cidade. (COMPANS, 2004) As primeiras estratégias, adotadas a partir dos anos 80, basearam-se na construção de ícones arquitetônicos para criar confiança interna e atração internacional. Os jogos olímpicos de 1992 foram um marco para a reestruturação da cidade, pois o governo local utilizou-se da oportunidade do evento para alavancar um processo de desenvolvimento fundado na cooperação público-privado, na melhoria dos serviços e da infraestrutura urbana, ou seja, um dos objetivos além de construir a infraestrutura para os jogos foi também responder ao déficit histórico de demandas da cidade, visando à melhoria da qualidade de vida dos cidadãos. O Primeiro Plano Estratégico da cidade foi feito nesta época buscando acompanhar as demandas da globalização, já que a Espanha passava por uma crise de grande impacto na indústria manufatureira e possuía altos índices de desemprego. O planejamento estratégico pôde reverter a situação ao aumentar a taxa de empregados em 56%, gerando cerca de 900 mil empregos em Barcelona. Destes, 70% pertenciam ao setor de serviços, enquanto a indústria, na qual destacavam-se os setores automotivos, têxtil e químico, passou a ter menor participação ao mudar-se para a periferia, consolidando assim a mudança para uma economia baseada no conhecimento. (PARKINSON, 2016) O programa Áreas de Nueva Centralidad (ANC) foi criado
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em 1986 com o objetivo de promover a renovação urbana de dez diferentes regiões da cidade, a partir da adoção de um sistema policêntrico, que aumentasse o equilíbrio e a homogeneidade do território. As primeiras áreas de intervenção foram terrenos que haviam perdido sua função original em razão do fechamento e desativação de indústrias e instalações ferroviárias, mas que possuíam uma localização potencial e atraente para investidores. Este é o caso de Poblenou, uma antiga zona industrial cujos armazéns abandonados bloqueavam a expansão do antigo centro (COMPANS, 2004). O projeto 22@, aprovado no ano 2000, é uma experiência promovida pela prefeitura de Barcelona que pretende criar em Poblenou um bairro misto de alta qualidade urbana, um local atrativo para a implantação de novas atividades econômicas como serviços e tecnologia, mas que também aumente a densidade do bairro, comumente baixa em áreas industriais (SOUZA, 2012).
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► Figuras 46 e 47 Visão aérea do 22@ e edifício Media TIC
▼ Figura 45 Localização do Plano 22@ em Barcelona
Segundo o SEBRAE, Startups são consideradas as empresas novas ou em fase de constituição que contam com projetos promissores, ligados à pesquisa, investigação e desenvolvimento de ideias inovadoras. 7
Este é o principal projeto de renovação urbana em Barcelona nos últimos anos, ocupando uma área de 200 hectares, onde foi investido na produtividade através de um sistema de incentivos fiscais para o setor privado, que ao aumentar o potencial construtivo dos terrenos, permite o investimento público em infraestrutura. O resultado é a passagem de uma zona 100% industrial de caráter privado para uma zona onde coexistem diversas atividades, sendo 30% de sua área destinada a espaços públicos. Além da reestruturação urbana de uma área em obsolescência, o 22@ é um importante agente para o desenvolvimento econômico, impulsionando a capacidade de inovação e atração de talentos. Com este propósito, conduz e abriga uma série de projetos que tornam o local favorável ao crescimento de empresas e a agência Barcelona Activa é um relevante exemplo destas ações, analisado a seguir. Barcelona Activa, criada pela câmara municipal de Barcelona, é a agência local responsável por promover o desenvolvimento econômico da cidade, projetando e implementando políticas voltadas à geração de empregos para seus cidadãos, encorajando o desenvolvimento diversificado da economia local. Desde 1986, a organização impulsiona o crescimento econômico de Barcelona através do suporte às empresas e iniciativas empreendedoras, ao mesmo tempo que promove a cidade internacionalmente em seus setores estratégicos. Hoje está sediada no distrito 22@ e é composta por uma série de edifícios tais como centros de treinamento e edifícios de suporte às empresas e startups7 , como é o caso das incubadoras Glòries e Almogavers.
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INCUBADORA DE EMPRESAS GLÒRIES MARTINEZ LAPEÑA Y ELIAS TORRES, 1968 Está localizada no distrito 22@, próxima à Plaza de les Glòries e foi a primeira incubadora da cidade, inaugurada em 1988 como uma reabilitação da antiga fábrica Hispano Olivetti. Este equipamento permite a instalação de até 50 empresas tipo startup voltados à inovação durante um período máximo de 3 anos, e através de uma marca original e espaços que passam uma imagem de modernidade, criatividade e inovação, busca facilitar o desenvolvimento dessas empresas através da criação de cooperação e competitividade entre estas. Sua distribuição interna é feita a partir de um sistema modular comumente utilizado em outras incubadoras da região. A regularidade dos espaços, com áreas compostas por uma mesma unidade básica é capaz de tornar o interior muito mais flexível, fazendo com que um mesmo ambiente possa ser utilizado como uma sala de aula, sala de reunião ou como um módulo de trabalho. A partir desta modulação dos ambientes, o programa se distribui ao longo de 3 pavimentos, sendo o primeiro destinado a serviços de apoio e áreas compartilhadas como salas de reunião, salas de treinamento, um pequeno auditório e uma área coletiva para estudos. Os dois pavimentos seguintes são compostos por 63 módulos de trabalho de 18 a 110m² para instalar empresas de diferentes proporções. (GENERALITAT DE CATALUNYA, 2014)
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▲ Figuras 48 e 49 Vista interna e externa da incubadora Glòries
► Figuras 50 e 51 Planta do térreo e primeiro pavimento da incubadora Glòries
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ALMOGAVERS BUSINESS FACTORY LAGRANJA DESIGN, 2011 Também localizada dentro do distrito 22@, o projeto da incubadora Almogavers consiste na transformação de um galpão industrial de 5500m² em espaços destinados aos “boxes” para startups de diversos setores. O local busca potencializar o dinamismo empresarial da cidade, e sua arquitetura privilegia a inovação em seus espaços desde a fachada com vibrantes cores e elementos gráficos até seus autênticos pisos amarelos. A arquitetura original do galpão bloqueava a entrada de luz solar, o escritório LaGranja fez modificações nas fachadas como a abertura de janelas e troca do material por telas de PVC perfuradas que permitissem a entrada de luz natural, conectando visualmente os 6 pavimentos a partir de aberturas nas lajes. Seu programa, assim como na incubadora Glóries, dividese entre um pavimento com espaços comuns no térreo, composto pela recepção, lobby, café e terraço ao ar livre, salas administrativas e de consultoria, enquanto nos pavimentos seguintes as áreas de trabalho desenvolvem-se em pequenas salas para o uso de cada empresa. A circulação horizontal nos pavimentos superiores é feita por passarelas metálicas abertas que criam uma conexão visual entre os pavimentos. Seu interior é quase todo subdividido por paredesdivisória, há frequentemente a presença de espaços de encontro para seus usuários. Áreas informais para reunião se desenvolvem entre os corredores e contém também áreas de convivência internas e externas ao edifício. Os espaços de trabalho ocupam todo o eixo longitudinal, lado a lado. (Diario Design, 2012)
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► Figuras 52 e 53 Vista interna e externa da incubadora Almogavers
► Figuras 54 e 55 Planta do térreo e primeiro pavimento da incubadora Almogavers
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Ao analisar a situação atual da implementação do projeto 22@, é possível perceber que no âmbito econômico o projeto obteve um retorno positivo quanto à inserção da cidade num contexto internacional de competitividade e inovação, porém segundo autores como Souza e Compans, ainda não é possível analisar qual será o impacto urbanístico e o grau de integração deste novo bairro ao tecido urbano existente, tendo em vista que algumas áreas hoje possuem baixo movimento de pessoas. O percurso percorrido pela câmara de Barcelona mostra que o investimento no setor terciário e nas áreas de conhecimento e cultura pôde colaborar para a redução do déficit de empregos, assim como no desenvolvimento e melhoria do território. No contexto do projeto 22@, a incubadora de empresas insere-se como uma ferramenta que fortalece novos empreendedores e empresas dentro de uma estratégia local ou municipal. A cidade tem dado apoio à criação deste equipamento levando-se em consideração aspectos como a sustentabilidade, custos, flexibilidade e adaptabilidade dos espaços. O resultado dos projetos é uma nova referência do espaço de trabalho, baseado no compartilhamento e na troca de conhecimentos. Apesar de trazer resultados positivos em alguns setores, as ações do projeto 22@ foram alvo de críticas e resistência da comunidade local ao causar o característico processo de gentrificação (SOUZA, 2012). Este processo é comum a outros projetos urbanos deste porte, pois ao valorizar a área, os residentes de menor renda tornam-se incapazes de assumir o novo custo de vida local. As controvérsias do resultado do projeto se dão ao passo que uma de suas diretrizes é o investimento em setores criativos e de inovação, porém em prol de outras ações do plano, centros artísticos são destruídos e artistas locais expulsos de Poblenou. Este efeito colateral de grandes projetos urbanos como o 22@ pode nos levar a pensar até que ponto a requalificação é feita para a melhoria da qualidade de vida das pessoas ou para promover o chamado City Marketing, utilizando-se da cultura como uma mercadoria privilegiada.
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LA HALLE FRAYSSINET / PARIS RIVE GAUCHE
▼ Figura 56 Localização do plano Paris Rive Gauche em Paris
O projeto Paris Rive Gauche foi aprovado em Paris em 1991 e se difere dos demais quanto à existência das ZACs (Zone d’Amenagement Concerte), onde a gestão pública tem maior força sobre a privada. É um instrumento urbanístico que existe desde 1967, que de modo geral, consiste na determinação de áreas de intervenção aptas a receberem projetos de desenvolvimento e transformação urbana. Para isso, são submetidas a uma análise e diagnóstico específicos ao local, acionando instituições púbicas e privadas, até a viabilização do projeto urbano (ASCHER apud COMPANS, 1999). Em 1983, o Atelier Parisien d’urbanisme desenvolveu um projeto para a área leste de Paris, que se baseava sobre “grandes operações públicas de urbanismo”, dentro deste projeto desenvolveram-se outros como Bercy e La Villette, viabilizados por ZACs. O mais recente deles é o Paris Rive Gauche que se trata
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se uma área de 130 hectares do 13º arrondissement (distrito parisiense), isolada entre rio e ferrovia e ocupada principalmente por empreendimentos industriais em declínio (MALERONKA, 2010). O partido deste projeto é promover a recuperação desta área a partir da cobertura de 10 ha da linha férrea, a partir da Gare d’Austerlitz e da construção da avenida Avenue de France, buscando integrar a área de projeto ao restante do tecido urbano. Sua ideia inicial foi estabelecer na área um setor de negócios, através da implementação de uma grande área construída de escritórios. O conceito se modificou ao longo do tempo, incluindo importantes equipamentos à área como uma universidade, a biblioteca nacional e programas mistos como habitação, comércio e áreas verdes. Paris Rive Gauche setoriza seus 130 ha em 3 bairros: Austerlitz, Tobiac e Masséna. Cada um deles se estrutura em torno de um ponto relevante, sendo eles a estação de trem, a biblioteca nacional e a universidade Paris7 Denis-Diderot, respectivamente. O setor do projeto Tolbiac Chevaleret, está em frente à Biblioteca Nacional de Paris, projeto monumental de Dominique Perrault,
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▼ Figuras 57 e 58 Vista aérea do projeto em 2003 e 2013, respectivamente
e se estende por 700m paralelamente à Avenue de France, onde desenvolvem-se usos mistos como moradias, escritórios e equipamentos culturais. Atrás deste conjunto de edifícios está a futura incubadora La Halle Freyssinet, que consiste na readequação de um galpão dos anos 20 para em 2017 passar a acolher cerca de 1000 startups e se tornar a maior incubadora do mundo. La Halle Freyssinet é um testemunho da atividade ferroviária na região de Paris Rive Gauche, projetado em 1927 pelo engenheiro Eugene Freyssinet inicialmente como um centro de transbordo para trens e caminhões. O engenheiro experimentou em seu projeto com mais de 30 mil metros quadrados duas inovações para a época: a compactação do concreto por vibração e o concreto protendido, conectando o local à inovação desde sua concepção. Medindo 310 metros de comprimento e 58 de largura, o projeto de La Halle Freyssinet é composto por três naves paralelas, grandes janelas e é coberto por finos arcos de concreto que chegam a ter 5cm de espessura. Possui também balanços semelhantes a beirais, que se estendem por toda a sua lateral, funcionando como contrapesos de modo que propicie a esbelteza estrutural e dê ao edifício suas linhas marcantes. Desde 2001, a cidade de Paris esteve empenhada na ► Figura 59 Edifício La Halle Freysssinet antes de sua reconversão
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preservação e reutilização deste patrimônio para torná-lo um local acessível e aberto para os parisienses, além de recriar a ligação entre o novo distrito de Paris Rive Gauche e todo o 13º arrondissement. Em 2012 foi aprovada sua construção, projeto de renovação feito pelo arquiteto Jean-Michel Wilmotte, que busca conciliar a preservação do galpão junto a uma nova ambição arquitetônica, onde transforma este espaço num enorme abrigo em concreto aparente que possua todos os serviços necessários ao empreendedorismo e a criação digital. As grandes dimensões e amplitudes do galpão foram aproveitadas, ao criar um piso único ao longo da nave central, nas naves laterais
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▼ Figuras 60 e 61 Acesso principal do edifício e perspectiva interna das áreas de trabalho
▼ Figura 62 Perspectiva da divisão do programa
foram criados dois níveis de mezaninos, sempre abertos para o vazio central. Em seu projeto, Wilmotte subdivide o edifício em três partes distintas: A parte frontal será um fórum para encontro e compartilhamento de habilidades e tecnologias, é uma extensão da praça seca em frente ao edifício contendo um fablab (atelier de prototipagem contendo impressoras 3d com livre acesso), um auditório aberto com 370 assentos e diversas salas de reunião. O setor central é dedicado ao espaço de trabalho das startups, que transforma a nave num espaço multifuncional comunitário com a planta livre, abrigando também espaços de apoio à incubadora e 24 “vilas”, distribuídas também pelos mezaninos laterais, que contém serviços como cozinhas, salas de reunião e área de video conferência. A última parte irá conter um restaurante com funcionamento 24 horas aberto à comunidade, que apresenta também um terraço tornado para o jardim ao sul do projeto. O programa desenvolve-se praticamente sem fechamentos internos e possui duas circulações principais que cruzam o salão longitudinalmente. Essa passagem
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age como uma vitrine para o que está sendo feito pelas empresas, promovendo sempre o intercâmbio e encontro entre elas. A reutilização do galpão inclui também uma completa transformação do seu entorno. Além da esplanada de pedestres em seu lado norte e o jardim ao sul, as ruas que o rodeiam foram projetadas para atrair pedestres através de áreas verdes e diversas lojas que serão implementadas. Esta futura incubadora é única em tamanho e modularidade, e vai participar na tomada de Paris como uma cidade digital, buscando tornar a capital cada vez mais inovadora. Um desafio na reabertura do galpão é poder recriar laços entre o novo distrito de Paris Rive Gauche e o antigo tecido do 13º arrondissement, e para isto é fundamental que a intervenção se espalhe para o entorno. A intervenção proposta em Paris é ambiciosa ao propor abrigar mil novas empresas em um mesmo espaço, porém a distribuição e multiplicidade de usos que convivem neste amplo galpão constituem uma proposta interessante ao propiciar o encontro de pessoas através de sua arquitetura, concentrando espaços comuns ao longo do percurso. Este conceito de difere do que é feito nas incubadoras de Barcelona por exemplo, em que espaços comuns e de trabalho estão segregados em pavimentos diversos e a interação está mais limitada ao térreo, o que está mais próximo dos espaços de trabalho tradicionais.
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▼ Figura 63 Perspectiva do plano Paris Rive Gauche após sua conclusão
CMD BUENOS AIRES / DISTRITO DO DESIGN
▼ Figura 64 Localização do CMD e do Distrito do Design em Buenos Aires
O Centro Metropolitano de Design (CMD) é uma instituição pública localizada no bairro de Barracas em Buenos Aires responsável por impulsionar o design como uma ferramenta para dinamizar o desenvolvimento econômico da cidade. Este projeto foi inaugurado em 2001 pelo Ministério de Desenvolvimento Econômico, que teve como objetivo criar um polo criativo na área chamado “Distrito do Design”. Por meio de uma política estratégica, pretende-se concentrar empreendimentos culturais no bairro de Barracas através de incentivos fiscais oferecidos tais como estabilidade fiscal por um período de 10 anos; redução de até 70% dos impostos sociais; redução de 60% do Imposto de Renda, entre outros. Após 15 anos da implementação deste projeto, é possível constatar que este tem gerado emprego e renda para a cidade, revitalizado áreas abandonadas e transformado a economia local.
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Dentro do projeto do Distrito do Design, o CMD possui como tarefa central acompanhar as novas empresas da Economia Criativa, apoiando seu desenvolvimento para a melhora competitiva dos setores produtivos. Seu programa de incubação contempla as necessidades das empresas e profissionais dos diferentes setores que abrange, sendo estes: a moda, design industrial (mobiliário, decoração) design gráfico (branding, publicidade e marketing) e indústrias culturais, que incluem a produção editorial, audiovisual, rádio, entre outras. A conformação deste distrito e a transformação da área na qual está inserida, são objetivos que serão cumpridos a longo prazo. Para realizá-los foi desenvolvida uma estratégia que busca primeiramente aumentar a atratividade da área a partir da promoção do edifício do CMD como sede de diversas atividades agregadoras voltadas aos profissionais e ao público em geral. Esta atração é feita através de eventos, exposições, feiras, lojas, livraria, um café e lugares para interação e entretenimento que buscam difundir a cultura do design para a população em geral. Além da atratividade, busca-se promover ◄ Figura 65 Rua principal do CMD onde ocorrem feiras e eventos sociais
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▼ Figura 66 Planta do pavimento térreo do CMD
a responsabilidade social e ambiental, investindo na incubação de empresas que valorizem a sustentabilidade. O bairro no qual está inserido, Barracas, é uma área historicamente industrial, que com a construção da estrada de ferro e uma estação do trem no local, passou a abrigar galpões industriais, onde trabalhariam operários italianos, espanhóis e judeus recémchegados da Europa. O edifício onde está sediado o CMD abrigou de 1934 a 1983 o Mercado do Peixe, localizado estrategicamente a uma quadra da estação de trem Hipólito Yrugoyen e a duas do Rio Riachuelo. Este edifício era um marco urbano tanto pela sua localização quanto por ser responsável pelo armazenamento de todo peixe comercializado na cidade. O complexo do mercado possuía três fachadas art déco de
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concreto armado com planta em U, que replicava em seu exterior um módulo composto por uma porta metálica de enrolar no térreo e uma pequena janela no andar superior. Seu interior era coberto por oito telhados de duas águas e a circulação feita por uma rua principal, que permitia o acesso de veículos para abastecimento, e seis ruas secundárias transversais. Em 1999, a administração da cidade de Buenos Aires viu o local como potencial para que fosse desenvolvido o design, setor da economia pós-industrial. Em 2001 foi reciclado o primeiro edifício do CMD, chamado de Pescadito, na esquina do terreno do antigo mercado. O projeto para o restante do mercado foi resultado de um
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▼ Figura 67 Planta do primeiro pavimento do CMD
concurso púbico nacional no ano de 2002, que teve como vencedor o projeto proposto pelo escritório Flores Barreiro Arquitectos, entre outras 86 propostas. Este projeto possui cerca de 14.500m² de área construída e se tornou o maior centro de design da América Latina. Seu programa se desenvolve em dois níveis, o térreo com estruturas inspiradas em barcos e um mezanino que o circunda. No perímetro do conjunto são distribuídas as unidades de incubação de empresas, com 70 boxes que abrigam as empresas por um período de 3 anos. Na parte interna à área das incubadoras, o programa é distribuído em 11 peças fechadas em estrutura metálica e madeira chamadas de “barcos”. Estas estruturas estão localizadas em ambos os lados da rua principal e possuem 17 metros de largura e referemse ao tecido urbano ao mimetizar o bairro de Barracas, dominado por ► Figura 68 Fachada art deco e acesso principal ao edifício
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galpões e grandes avenidas. Apesar dos “barcos” estarem relacionados entre si, abrigam diferentes funções que compartimentam o programa do CMD: um instituto de desenho com 12 salas de aula, dois barcos expositivos com um café, dois barcos administrativos, um barco-arquivo, um barco-ateliê, um barco-laboratório, um barco-aula, um barco-biblioteca e um barco-auditório, todos amarrados em seu piso superior por passarelas que fazem também a circulação das incubadoras no nível superior do perímetro do conjunto. O centro deste espaço corresponde a uma rua principal revestida por paralelepípedos, de 10 metros de largura e 11 de pé direito que atravessa o edifício de uma ponta à outra, na qual distribuem-se os barcos e as ruas secundárias. Esta representa um espaço fluído de convívio social, contendo programas de uso público e coletivo, considerada como o coração do edifício. A intervenção teve seu maior impacto em classes sociais mais vulneráveis, tais como os imigrantes. A prefeitura oferece cursos gratuitos abertos a todos, deste modo, as pessoas são capacitadas para
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◄ Figura 69 Ateliers de modelagem
atuarem no setor do design. Após a finalização dos cursos, a câmara municipal do comércio, também localizada no edifício, oferece apoio profissional, atribuindo-lhes a oportunidade de ingressar no mercado de trabalho argentino. A inauguração do CMD resultou em um dos maiores marcos na região de Barracas. O bairro vem ganhando destaque devido à sua renovação a partir do investimento na cultura e recebe cada vez mais turistas e novos empreendimentos. Ruas como a Pasaje Lanín viraram espaço de mostra permanente de arte urbana e galpões começam a ser convertidos em lofts.
◄ Figura 70 Laboratório de fabricação digital (fablab)
► Figura 71 Perspectiva do conjunto
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CONCLUSÕES E ASPECTOS EXTRAÍDOS A partir do estudo das referências selecionadas foi possível compreender o impacto que o investimento na inovação de maneira coordenada teve nas cidades, qualificando os bairros onde os projetos foram inseridos. Os edifícios de fomento à novas empresas analisados desenvolvem-se de diferentes maneiras e por isso, de cada projeto foram extraídas características que contribuíram para a elaboração do Centro de Referência proposto. A experiência de Barcelona é uma das pioneiras e mostra que a mistura de usos residenciais, comerciais e de serviços junto à criação de espaços públicos de qualidade é capaz de conceber um novo modelo de cidade, construído sobre o pré-existente, que supera a baixa densidade comum em zonas industriais. O estudo das incubadoras parte de Barcelona Activa, contribuiu para a definição do programa arquitetônico e compreensão sobre o funcionamento deste edifício. A modularidade dos projetos permite maior flexibilidade do programa, que pode se adaptar conforme novas necessidades. As características do projeto La Halle Freyssinet que orientaram para a concepção do projeto foram a distribuição de usos e ambientes diversos ao longo de um espaço aberto com o mínimo de divisões internas, que buscam propiciar o encontro de pessoas através de sua arquitetura, concentrando espaços comuns ao longo da circulação. A consideração do entorno imediato e a necessidade de sua valorização foi outro aspecto importante do projeto pois qualifica a intervenção para além do edifício, assim como foi feito na Rua Visconde de Parnaíba.
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A proposta do CMD é a que mais se aproxima ao projeto vigente, uma vez que busca reforçar a importância de setores culturais não só através do incentivo às empresas, mas também incluindo o seu ensino e a difusão do design. A arquitetura deste edifício convida os pedestres a adentrá-lo, conferindo-lhe um carácter mais público do que os projetos anteriores. Sua capacidade de abrigar atividades heterogêneas em seus ambientes e acessibilidade a diversos usuários, desde iniciantes até profissionais atuantes no design são características trazidas para o projeto vigente, pois permite que diferentes públicos frequentem e disfrutem deste espaço.
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CAPÍTULO 5
PROJETO CENTRO DE REFERÊNCIA DA MODA E DO DESIGN 112
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A ideia central deste trabalho partiu da necessidade de intervenção em antigas áreas industriais, visando utilizar os vazios urbanos centrais, decorrentes da série de transformações e sobreposições de usos destes bairros, conforme analisado nos primeiros capítulos. A obsolescência dos terrenos em orlas ferroviárias motivou a implantar o projeto entre os bairros do Brás e da Mooca. Ao longo de seus territórios, principalmente em ruas próximas à ferrovia, diversos terrenos perderam seus usos, permanecendo por anos desocupados. Visto que a população tem decrescido em áreas centrais e aumentado em zonas periféricas, sem condições de moradia e infraestrutura adequadas, as regiões da orla ferroviária próximas ao centro apresentam uma ótima oportunidade de reinvenção para geração de empregos, renda e moradia. O terreno onde o projeto foi implantado está localizado em frente ao metrô Bresser Mooca, antiga linha da ferrovia Central do Brasil e próximo à locais de intensa circulação de veículos e pedestres, como a Radial Leste e a zona comercial do Brás, além de instituições de ensino e de edifícios com importância histórica. O entorno imediato do projeto ainda caracteriza-se como uma zona comercial em ascensão, desprovida de atrativos e intenso movimento em seus arredores. Os dois terrenos da intervenção na Rua Visconde de Parnaíba, haviam sido desapropriados para a construção da Linha 3 do metrô e permanecem vazios até hoje. Decidido o local, o programa busca estimular atividades locais. Tendo em vista que o bairro do Brás é hoje uma região movida pelo comércio varejista voltado principalmente ao vestuário, o projeto apoia-se sobre o investimento no desenvolvimento local dos setores do design e moda. A economia criativa tem sido um ramo de grande crescimento ao redor do mundo e para fomentá-la nasce o Centro de Referência da Moda e do Design. Este projeto é composto por dois edifícios com programas complementares: uma incubadora de empresas e uma escola de nível técnico – ambas voltadas à disseminação do design
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► Figura 72 Perspectiva do edifício da incubadora de empresas
e da moda. O objetivo deste Centro de Referência é difundir novas tecnologias e o conhecimento no setor de criação, visando desenvolver as pequenas empresas voltadas aos setores abrangidos, além de treinar e especializar jovens talentos, aumentando assim a competitividade no setor. Ao concentrar em um espaço físico pessoas que buscam crescimento e inovação, é possível estabelecer novas redes sociais e produtivas além de criar novas conexões e experiências entre pessoas de um mesmo ou diferentes ramos de atuação. Ao analisar a área de estudo nota-se que está cercada por barreiras físicas criadas pelas redes de transportes tais como a ferrovia, a linha do metrô e o viaduto Bresser. A rua Visconde de Parnaíba, por estar imediatamente em frente ao metrô sofre maiores consequências. Existem poucos pedestres que circulam na área, já que esta apresenta poucas possibilidades de percursos, tornando-se então desabitada. Buscando amenizar a barreira representada pela linha do metrô no local, a intervenção proposta se expande para esta rua, criando uma nova praça e possibilidade de transposição da ferrovia nesta rua.
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PARTIDO O partido do projeto busca promover a requalificação de um pequeno trecho da orla ferroviária. É proposta a implantação do projeto em um terreno em frente à estação que funciona como um ponto de integração entre o metrô e uma nova praça, atraindo o fluxo de pessoas para essa rua pouco movimentada. A criação de alguns espaços vazios no terreno se contrapõe ao entorno, densamente ocupado, fornecendo espaços de fruição pública, que são escassos na região. O gabarito também segue o entorno do local, hoje bastante horizontal ocupado majoritariamente por galpões, sobrados e lojas geminadas e poucas torres residenciais.A implantação do Centro de Referência segue o desenho do terreno em ambos os blocos, ocupando seu perímetro de maneira recuada e assim aumentando áreas destinadas ao pedestre. No edifício da incubadora buscou-se respeitar os limites dos edifícios do entorno – são deixadas faixas livres para as construções onde existem aberturas e encosta nas empenas existentes, deste modo o edifício se encaixa no terreno, desenvolvendo-se em suas bordas. Seu acesso se dá pela Rua do Hipódromo, em frente à praça do metrô. A escola ocupa um trecho do perímetro da outra extremidade do terreno, compondo uma forma em “V”. O vértice deste edifício enfatiza a extremidade do terreno, tornando o seu acesso um ponto destaque na Rua Visconde de Parnaíba. A disposição dos edifícios cria um vazio na esquina da Rua Hipódromo. Este local, por ser o ponto de chegada de quem sai do metrô, pode constituir-se como um ponto de encontro e permanência de pessoas.
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◄ Figura 73 Diagramas explicativos do projeto
▼ Figura 74 Mapa da área com as intenções de projeto: o percurso conecta a praça do metrô (1) à nova praça (2) e propõe uma passarela (4). O projeto está sinalizado por 2
Ambos possuem um vazio central como um elemento importante no projeto. Na escola ele se constitui como um pátio ao ar livre, o que permitiu criar grandes aberturas para contemplação desta área, e na incubadora um átrio conecta visualmente todos os pavimentos. A circulação se desenvolve nos dois blocos de maneira externa para que seja mantida a relação com o exterior, tendo somente no centro da incubadora a circulação em torno do átrio central. Alargamentos nas áreas de circulação criam espaços de convívio, promovendo constantemente o encontro multidisciplinar entre profissionais e estudantes.
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USOS DO SOLO
Figuras 75 e 76 Levantamentos que indicam os usos do solo e gabarito das edificações do entorno do projeto.
GABARITOS
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▼ Figura 77 Implantação do projeto
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PRAÇA E TRANSPOSIÇÃO O percurso entre a estação de metrô e o segundo terreno da intervenção é composto por um muro cego, criado pela barreira acústica que reduz a percepção dos ruídos do metrô. Na rua Visconde de Parnaíba, para tornar este percurso mais agradável, foi feito um paisagismo que conectará a praça da estação do metrô a uma nova praça. O Centro de Referência está no centro destes dois elementos. A nova praça busca atrair os pedestres também para a rua Visconde de Parnaíba, que mais à frente dá acesso ao Museu da Imigração, a partir da inserção de novos usos e espaços de convivência. Visando criar uma travessia mais agradável, a subida até a passarela é feita por uma rampa que margeia a ferrovia, sendo que sob ela existem pequenas unidades de comércio local. A conexão entre a praça e o outro lado da ferrovia dá acesso à Rua Gomes Cardim, rua dá acesso algumas quadras adiante à Rua Cavalheiro e em seguida à Rua Rangel Pestana, onde há intensa circulação de pedestres devido ao predomínio comercial, além de um corredor de ônibus.
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► Figuras 80 e 81 Perspectivas da passarela e da praça proposta
▼ Figuras 78 e 79 Elevação da passarela e do comércio sob rampa
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PROJETO Os dois blocos apesar de separados, possuem parte de seu programa compartilhado pelos dois usos. No térreo do edifício da incubadora há uma galeria de lojas para a Rua Hipódromo, a mais movimentada dentre as que rodeiam o terreno. Na parte interna deste bloco há um amplo saguão multiuso, que pode ser usado para eventos, exposições ou desfiles. Nos fundos está o auditório, semienterrado com pé direito duplo. No edifício da escola o programa do térreo está voltado ao apoio estudantil, incluindo secretaria, coordenação e refeitório além de uma livraria e loja de materiais voltadas para a Rua Visconde de Parnaíba. No primeiro pavimento está a parte do programa comum aos dois blocos, que se conectam por meio de uma passarela metálica. Seu programa está voltado à experimentação, confecção de peças e produtos e áreas de estudo. Entre seus ambientes estão os laboratórios de informática, corte, modelagem, salas de aula, um fablab8 e uma biblioteca. Em frente às salas de aula da incubadora, que fornecerão apoio em gestão, marketing e financeiro aos profissionais, há um terraço para convivência. A integração neste pavimento busca promover a interação entre estudantes e profissionais da moda e do design, diminuindo a distância entre educação e atuação profissional. No segundo pavimento os edifícios já não possuem conexão. Na escola estão as salas de aula e na incubadora as áreas de trabalho, sendo estas divididas entre duas modalidades. Buscouse utilizar os boxes individuais modulados como nas incubadoras de Barcelona e uma área de coworking que comporta cerca de 50 pessoas trabalhando, com áreas de apoio ao seu redor, tais como salas de reunião, salas para assessoria às empresas incubadas, copa junto a uma grande área de descompressão, que também poderia ser utilizada como local de trabalho informal. Neste setor do edifício, assim como na La Halle Freyssinet existem amplas áreas
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Fablabs são laboratórios equipados com impressoras 3D, cortadoras a laser, plotter de recorte, fresadoras CNC, computadores com software de desenho digital CAD, entre outros equipamentos que permitem que seus usuários criem e desenvolvam diversos tipos de objetos. Esta espaço permite que os objetos sejam feitos no modo Do It Yourself e fomenta a criatividade, e a prototipagem de ideias, através do acesso a equipamentos e conhecimento. 8
comunitárias com planta aberta, que permitem flexibilidade do layout e integração entre os pavimentos do edifício. Já na parte inferior deste bloco buscou-se a modulação e flexibilidade presentes nos boxes das incubadoras de Barcelona.
ESTRUTURA E MATERIAIS
▼ Figura 82 Perspectiva do edifício da escola
A estrutura em concreto armado segue a modulação de 10x7x5m, com um único vão central de 15m que permite deixar o auditório e átrio livres de pilares. Seu sistema é composto por lajes em grelha e pilares em concreto aparente. A cobertura a passarela são metálicas e existem também grandes superfícies envidraçadas no edifício, protegidas ora por brises verticais ou por chapas metálicas perfuradas, presentes como vedação parcial da circulação externa. Em contraste ao concreto estas chapas são na cor laranja, assim como outros elementos do edifício, cor comumente considerada como indutora da criatividade, associada ao entusiasmo e ao estímulo de emoções.
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PLANTA DO SUBSOLO
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PLANTA DO PAVIMENTO TÉRREO
8 9
7 7
10 11 12
1. Lojas 2. Restaurante 3.Depósito 4. Café 5. Exposições/eventos 6. Auditório 7. Livraria/Papelaria 8. Refeitório 9. Secretaria 10. Sala professores 11. Coordenação 12. Direção
4 6
5
3
2 3
1 1 1 1
1
1
1
1
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PLANTA DO PRIMEIRO PAVIMENTO
1 1 1 1 1 1
3
5
1. Laboratórios 2. Biblioteca 3.Área de estudos 4. Fablab 5. Estúdio 6. Materioteca 7. Treinamentos 8. Salas de aula
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2
4 6
7 8
8
8
8
8
8
PLANTA DO SEGUNDO PAVIMENTO
1 1 1 1
1
1 1
3
1. Salas de aula 2. Copa/ descompressão 3.Administração 4. Direção 5. Assessoria 6. Reunião 7. Coworking 8. Box para empresas
4
5 5 5 6
6
2
6
6
7
8
8
8
8
8
8
8
8
8
8
8
8
8
8
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PLANTA DE COBERTURA
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CORTE AA
CORTE BB
CORTE CC
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ELEVAÇÃO 1
ELEVAÇÃO 2
ELEVAÇÃO 3
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ACÚSTICA Devido a implantação do edifício em frente à linha do metrô, foram necessárias preocupações quanto à sua acústica, para que não houvesse interferência com as salas de aula e postos de trabalho. A circulação do edifício da escola é externa onde há salas de aula, deixando as aberturas para o pátio no interior do edifício. Foi proposta a troca das barreiras acústicas existentes na rua em frente ao edifício por um fechamento transparente, para que não haja a quebra de visibilidade provocada pelos muros. O controle dos ruídos na edificação será feito também por uso de vidro duplo laminado para aumentar a absorção sonora.
FACHADA Visando o bem-estar dos usuários do edifício e um clima agradável interior, prioriza-se o uso da luz natural, através de superfícies envidraçadas de piso a teto, além da iluminação zenital, proveniente da abertura central na cobertura da incubadora de empresas. Para acompanhar as mudanças da luz solar ao longo do dia, foi implantado um sistema de proteção solar dinâmico nas fachadas nordeste e noroeste, que irá se adaptar conforme as condições climáticas, garantindo um ambiente de trabalho e estudos agradáveis. Este sistema consiste em triângulos retângulos de 4,5x1,2m em aço perfurado, montados na fachada de maneira que possam ser ajustáveis conforme a incidência solar. O movimento desses brises é feito de forma manual, através de barras de comando que conectam 3 módulos e permitem o controle da incidência solar conforme a necessidade do usuário. Além de contribuir ao conforto ambiental, este sistema confere ao edifício uma aparência expressiva e dinâmica. No período noturno, a luz interna atravessa a fachada perfurada, fazendo com que o edifício se mostre muito mais transparente. Os pedestres que passam pelas ruas do entorno terão um senso maior das atividades que acontecem no interior do edifício, criando certa interação entre o usuário no interior e o espectador no exterior.
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MODELO FÍSICO
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CONSIDERAÇÕES FINAIS Assim como a sociedade está em constante transformação o território deve acompanha-la, sem negar suas estruturas existentes. A constante atualização e refuncionalização de uma região é capaz de mantê-la sempre viva e habitada, evitando assim sua obsolescência. Este trabalho propôs a adequação de uma porção do bairro do Brás e da Mooca às necessidades atuais baseando-se em suas pré-existentencias. Foi proposto então um objeto que contribuísse à inovação do aglomerado voltado à confecção presente no local, utilizando bens intangíveis como a criatividade e talento humano, como meios de obter este desenvolvimento. As referências estudadas, são projetos em grande escala que transformaram grandes áreas positivamente, o que se difere da intervenção pontual proposta no projeto. Acredita-se que a intervenção do Centro de Referência, junto à políticas públicas e privadas seriam capazes de transformar estes setores, irradiando a reabilitação para o seu entorno. A geração de competitividade e consequente melhoria nos processos produtivos e produtos finais oferecidos, beneficiaria então todo o setor têxtil, para que as empresas presentes no local possam um dia estabelecer a relação de um cluster urbano.
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BIBLIOGRAFIA BRITO, Maria das Graças; BERNARDES, Roberto. Simples aglomerados ou sistemas produtivos inovadores? Limites e possibilidades para a indústria do vestuário na metrópole paulista. São Paulo em perspectiva. Vol 19, n 2. p.71-85, abr./jun.2005. São Paulo. Disponível em: <http:// www.scielo.br/pdf/spp/v19n2/v19n2a07.pdf>. Acesso em 20 de agosto de 2016. COMPANS, Rose. Intervenções de recuperação de zonas urbanas centrais: Experiências nacionais e internacionais. Empresa Municipal de Urbanização – EMURB – Caminhos para o centro: estratégias de desenvolvimento para a região central de São Paulo, p. 23-60. São Paulo: 2004 _________. O paradigma das global cities nas estratégias de desenvolvimento local, 1999 FLORIDA, Richard L. O grande recomeço: as mudanças no estilo de vida e de trabalhos que podem levar à prosperidade pós-crise. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010 FUNDAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO ADMINISTRATIVO – FUNDAP. Economia Criativa na Cidade de São Paulo: Diagnóstico e Potencialidade. São Paulo: Fundap, 2011 GERODETTI, João Emilio; CORNEJO, Carlos. Lembranças de São Paulo - O Interior Paulista nos Cartões-postais e Álbuns de Lembranças. São Paulo: Solaris Edições Culturais, 2003 GROSTEIN, Marta Dora; MEYER, Regina Maria Prosperi. A leste do centro: territórios do urbanismo. São Paulo: Imprensa Oficial, 2010 JACOBS, Jane. Morte e Vida das Grandes Cidades. São Paulo: Martins Fontes, 2000. LERNER, Jaime. Acupuntura Urbana. Rio de janeiro: Record, 2002 MALERONKA, Camila. Projeto e gestão na metrópole contemporânea: um estudo sobre as potencialidades do instrumento “Operação Urbana Consorciada”. Tese (Doutorado em Arquitetura) – FAU USP, São Paulo, 2010 MINISTÉRIO DA CULTURA. Economia e Cultura da Moda no Brasil. Brasil,
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SITES CONSULTADOS www.anprotec.org.br www.archdaily.com.br www.barcelonactiva.cat www.buenosaires.gob.ar/cmd www.cptm.sp.gov.br www.22barcelona.com www.fiesp.com.br www.firjan.com.br www.floresbarreiro.com www.gestaourbana.prefeitura.sp.gov.br www.lagranjadesign.com www.parisrivegauche.com www.sebrae.com.br www.smdu.prefeitura.sp.gov.br www.sp.senac.br www.ville-en-mouvement.com
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LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 Localização da área de estudo em relação ao centro histórico - Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano Figura 2 Inundação da Várzea do Carmo por Benedito Calixto em 1892 Acervo Museu Paulista da USP. Reprodução José Rosael Figura 3 Ladeira do Carmo e aterrado do Brás em 1862, por Militão Augusto de Azevedo.Acervo do Instituto Moreira Salles Figura 4 Planta geral de São Paulo de 1897 – onde é possível identificar o crescimento na direção leste Acervo da fundação da biblioteca nacional – Brasil/ Gomes Cardim,1897 Figura 5 Relação entre galpões industriais e novos edifícios residenciais. - Acervo próprio Figura 6 Expresso leste na estação Bresser Mooca - Raphael Comitre Figura 7 Obras viárias sobre o Tamanduateí. - Archdaily/Nelson Kon Figura 8 Obras viárias sobre o Tamanduateí. - Secretaria da Cultura Figura 9 Desapropriações para a construção do metrô - Mapa Emplasa - 1975 Figura 10 Desapropriações para a construção do metrô - Gegran - 2002 Figuras 11 e 12 Passarela de Ferro do século XIX na Rua Visconde de Parnaíba, em baixo estado de conservação. - São Paulo Antiga Figura 13 Vias que constituem barreiras na área de estudo - Google Earth Figura 14 Vila Lameirão no Brás - Acervo Próprio Figuras 15 e 16 Condomínios residenciais nos arredores da estação Bresser - Acervo Próprio Figura 17 Estação do Brás - Condephaat Figura 18 Museu do Imigração - Condephaat Figura 19 Fábrica de tecidos Labor - São Paulo Antiga
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Figura 20 Zoneamento da área de estudo - Geo Sampa Figura 21 Situação Urbana Ilustrativa dos Eixos - Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano Figura 22 Perímetro da Operação Urbana Bairros do Tamanduateí - Site Gestão Urbana Figura 23 Vazios urbanos gerados pelas redes de transportes no Brás- Vera Albulquerque Figura 24 Vazios urbanos gerados pelas redes de transportes no Brás- Vera Albulquerque Figura 25 Passarela sobre o anel viário em Evry, França - Bernard Tschumi Architects Figura 26 Passarela no Rio de Janeiro, por Oscar Niemeyer - Site globo.com Figura 27 Parque tecnológico de São Jose dos Campos - folha.uol.com.br Figura 28 - Cluster tecnológico Porto Digital no Recife - PE - startupi.com.br Figura 29 Diagrama com os setores da economia criativa - Ministério da Cultura Figura 30 - Participação da moda nas etapas da cadeia têxtil - Ministério da Cultura Figura 31 Mapeamento dos estabelecimentos ligados á confecção em São Paulo em 2010, onde destacamse os aglomerados do Brás e Bom Retiro - Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano Figura 32 Foto da edição de 2016 da SPFW - ffw.com.br/spfw Figura 33 Foto da edição de 2016 da SPFW - ffw.com.br/spfw Figura 34 Batavia Industrial Center (Fonte www.batavianewyork.com) Figura 35 Dados sobre as Incubadoras de Empresas no Brasil - Aprotec Figura 36 Diagrama da distribuição do programa de uma incubadora, elaborado pela prefeitura de Barcelona - Generalitat de Catalunya Figuras 37 e 38 Senai espaço da moda em Nova Friburgo – RJ - firjan.com.br/senai-espaco-da-moda Figuras 39 e 40 Casa Firjan - www.firjanindustriacriativa.com.br Figuras 41 e 42 Complexo do Senai Francisco Matarazzo no Brás – SP - textil.sp.senai.br
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Figuras 43 e 44 Senac Lapa Faustolo - www.senac.com.br Figura 45 Localização do projeto 22@ na cidade de Barcelona - Google Earth Figuras 46 e 47 Visão aérea do 22@ e edifício Media TIC - www.22barcelona.com Figuras 48 e 49 Incubadora Glóries - Site Barcelona Activa Figuras 50 e 51 Planta do térreo e primeiro pavimento da incubadora Glòries - Ayuntament de Barcelona Figuras 52 e 53 Incubadora Almogavers Business Factory - La Granja Design Figuras 54 e 55 Plantas da Almogavers Business Factory - La Granja Design Figura 56 Localização do projeto Paris Rive Gauche em Paris - Google Earth Figuras 57 e 58 Vista aérea do projeto em 2003 e 2013, respectivamente - www.parisrivegauche.com Figura 59 Edifício La Halle Freysssinet antes de sua reconversão - www.lesitedelevenementiel.com Figuras 60 e 61 Acesso principal do edifício e perspectiva interna das áreas de trabalho www.1000startups.com Figura 62 Perspectiva da divisão do programa - www.1000startups.com Figura 63 Perspectiva do plano Paris Rive Gauche após sua conclusão - Parisrivegauche.com Figura 64 Localização do Distrito do Design em Buenos Aires - Google Earth Figura 65 Rua principal do CMD onde ocorrem feiras e eventos sociais - www.iscicities.org Figura 66 Planta do Pavimento Térreo - Flores Barreiro Arquitectos Figura 67 Planta do Pavimento Superior - Flores Barreiro Arquitectos Figura 68 Fachada art deco e acesso principal ao edifício - Acervo próprio Figura 69 Atelier de modelagem - Acervo próprio Figura 70 Laboratório de fabricação digital (fablab) - Acervo próprio
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Figura 71 Perspectiva do conunto - Flores Barreiros Arquitectos Figura 72 Perspectiva da incubadora - Acervo próprio Figura 73 Diagramas - Acervo próprio Figura 74 - Intenções de projeto - Google Earth Figura 75 Levantamento do uso do solo - Gegran Figura 76 Levantamento do gabarito das construções - Gegran Figura 77 Implantação do projeto - Acervo Próprio Figura 78 Elevação da passarela metálica - Acervo próprio Figura 79 Elevação das lojas sob rampa - Acervo próprio Figura 80 Perspectiva da passarela em treliça metálica Acervo próprio Figura 81 Perspectiva da praça com comércio sob rampa - Acervo próprio Figuras 82 a 95 - Desenhos do projeto (Plantas, cortes e elevações) - Acervo próprio Figuras 96 a 102 - Fotos do modelo físico - Acervo próprio Figura 103 - Perpectiva noturna do edifício da incubadora - Acervo próprio Tabela 1 Números de empregados da Industria criativa no Brasil, por áreas e segmentos - 2004 e 2013. Firjan, 2014 Gráfico 1 PIB Criativo estimado e sua participação no PIB total brasileiro de 2004 a 2013. - FIRJAN, 2014
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LISTA DE ABREVIATURAS ANPROTEC
Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores
CMD
Centro Metropolitano del diseño
CONDEPHAAT
Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico Arqueológico, Artístico e Turístico
CPTM
Companhia Paulista de Trens Metropolitanos
FIESP
Federação das Indústrias do Estado de São Paulo
FIRJAN
Federação das Indústrias do Rio de Janeiro
PDE
Plano Diretor Estratégico
OUC
Operação Urbana Consorciada
SEBRAE
Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas
SENAC
Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial
SENAI
Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial
SMDU
Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano
ZEIS
Zonas Especiais de Interesse Social
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