TCC Projeto Experimental Revista S.E. São Borja Anos de Glória

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ARQUIVO PESSOAL DE

L UIZ ALBERTO

EDIÇÃO HISTÓRICA

TUDO SOBRE A HISTORIA DO CLUBE QUANDO ESTEVE NA 1° DIVISÃO DO GAÚCHÃO

POLACO

MANO

PESSOAL DE

PAULO CORRÊA

PESSOAL DE

ARQUIVO

PESSOAL DE

Os grandes jogadores revelados

ARQUIVO

ARQUIVO

Tri-campeão do interior

Entrevista com o Ex-goleiro Mano



Editorial

Q

uando decidi mos produzir a revista S.E. São Borja Anos de Glória tivemos como objetivo principal registrar jornalisticamente, a história de um dos clubes do futebol gaúcho mais destacados na década de 80. Entendíamos que uma história tão importante e rica não poderia ficar no esquecimento, por falta de um documentário. Considerando que muitos personagens importantes que fizeram parte dessa história já faleceram, sem terem a oportunidade de conhecer um trabalho jornalístico amplo. Numa cidade que tem uma identificação histórica com o futebol, as gerações recentes até o momento só ouviram falar algumas vezes que São Borja tinha uma das melhores equipes do interior do estado. A partir da circulação desse exemplar terão a oportunidade de saber com detalhes a história do clube desde a funda-

ção até o último ano na elite do futebol gaúcho. Também conhecerão todos os grandes jogadores revelados para os maiores clubes do futebol brasileiro. Os detalhes da oportunidade histórica que poucos clubes do interior tiveram, a de jogar no Maracanã. Essa edição não só mostrará o futebol de São Borja, mas também a mobilização da cidade, como era sua economia e a política num regime de ditadura. Destacará o espírito coletivo das pessoas influentes na época, quando apoiavam o futebol apenas pelo amor, sem nenhum outro tipo de interesse. Neste momento em que estão tentado reativar o futebol profissional na cidade, acreditamos que esse trabalho possa contribuir com a prosperidade da proposta. Através do conhecimento do passado vitorioso, mesmo em épocas diferentes pode-se inspirar as atitudes positivas para os dias atuais.

EXPEDIENTE

03 ´ INDÍCE O4 | FUNDAÇÃO Como nasceu o bugre

06 | ADMINISTRAÇÃO Time do Boi e do Arroz

08 | PLACAR 48 Mil Km atrás da bola

10 | SÉRIE C O Bugre no Maracanã

13 | ENTREVISTA Ex-goleiro Mano

14 | TÍTULOS Tri-campeão do interior

18 | GRANDES JOGADORES O celeiro de grandes jogadores

20 | CONTRA A DUPLA GRENAL Gauchão era decidido em São Borja

22 | QUEDA PARA A SEGUNDA DIVISÃO O último ano da elite do Gauchão

COLABORADORES

Trabalho acadêmico de conclusão de curso Comunicação social – jornalismo. Professor orientador: Me Marco Antônio Bonito. Editor chefe: Nelson Nicolli. Reportagem: Nelson Nicolli. Diagramação: Fabiano Neu.

Jeferson Balbueno, Renato Ferigollo, Everton Dalenogare, Adir Machado e Luiz fernando Manassi.


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Fundação

ARQUIVO PESSOAL DE EDOM AZAMBUJA

COMO NASCE

Sport Club Cruzeiro, 1976.

CRUZEIRO + INTERNACIONAL = SO

A

cidade de São Borja tem uma identificação com o futebol muito antiga. Desde a década de 1940 os desportistas são-borjenses se dividiram entre torcedores do Sport Clube Internacional e Sport Clube Cruzeiro. Os dois clubes existentes na época foram rivais cerca de quatro décadas em disputas de campeonatos estaduais de amadorismo e depois profissionais. O famoso clássico Inter-Cruz travou disputas acirradas neste período mobilizando um grande publico de torcedores. “A rivalidade em São Borja entre Inter e Cruzeiro era comparada a de Inter e Grêmio”. Lembra o ex-presidente do Cruzeiro Edom Azambuja. Em 1975 o Internacional estreava no Campeonato Gaucho da primeira divisão profissional. Seu Estádio General

Vargas precisava ser aumentado e de iluminação. Enquanto isso o Cruzeiro construía o Estádio Vicente Goulart desde 1973. Seus jogos eram disputados em seu acanhado estádio, existente no quarteirão aos fundos do Colégio Getúlio Vargas no centro da cidade.

CONSTRUÇÃO DO

VICENTÃO

Como necessitava de uma novo estádio o Cruzeiro começou a construir o Vicente Goulart através de uma parceria com a Prefeitura Municipal. Segundo o Presidente do clube na época Edom Azambuja o prefeito José Pereira Alvarez disponibilizou o maquinário e a mão-de-obra para a construção, enquanto entrou com o material

Construção do estádio Vicente Goulart, 1973.

da obra. O resultado dessa união foi a construção de um dos mais amplos estádios do interior do estado com capacidade para 14.800 pessoas. O Vicentão como é chamado foi inaugurado no dia 22 de fevereiro de 1976 ano em que o cruzeiro profissionalizou-se. A inauguração foi an-


Fundação

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ARQUIVO PESSOAL DE JORGE SANTA MARIA

EU O BUGRE?

Sport Club Internacional, 1976.

OCIEDADE ESPORTIVA SÃO BORJA ARQUIVO PESSOAL DE EDOM AZAMBUJA

tes da partida entre o Cruzeiro e o Internacional de Porto Alegre campeã brasileira de 1975. O grande publico presente, mais de 10.000 torcedores assistiu o capitão colorado, o chileno Elias Figueroa inaugurar a placa do novo estádio. A partida foi 2x0 vencida pelo Inter.

A FUSÃO Em 1977 o Internacional local tinha uma equipe muito forte para disputar o gauchão da 1ª divisão, mas necessitava de investimentos em seu estádio. Enquanto o Cruzeiro possuía um dos maiores estádios e estava sem recursos para investir na qualificação de sua equipe. Neste contexto as duas direções através de seus presidentes Edom Azambuja do Cruzeiro e Silberto Grusthmacher do Inter lançaram a idéia de fazer a fusão dos dois clubes para a disputa do Gauchão daquele ano. A idéia foi bem aceita pela maioria dos integrantes da direção dos dois clubes, porem a torcida dos arqui-rivais eram totalmente contra fusão. Edom lembra que até um avião sobrevoava a cidade largando panfletos com a frase: diga não a fusão.

O jornalista José Antônio Degrasia lembra que na reunião para se discutir a fusão, o General Serafim Dorneles Vargas, patrono do Sport Clube Internacional entrou no meio da reunião, protestando aos gritos contra a fusão. Mesmo com forte resistência no dia 14 de Janeiro de 1977 foi criada a Sociedade Esportiva São Borja para representar a cidade no Gauchão daquele ano. O clube ficou com dois Estádios e a Equipe qualificada com a base de jogadores do Internacional completando com os melhores do Cruzeiro. O presidente eleito foi o senhor Ovídio Baptista. As cores do clube foi o branco que era duas camisas mais o vermelho do Inter e Azul do Cruzeiro. A partir daí dava inicio o clube da Fronteira-Oeste e das Missões que mais fez História no futebol Gaucho.


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Administração

TIME DO BOI E DO ARROZ Agropecuaristas davam sustentação ao clube da fronteira-oeste que mais se destacou

ARQUIVO PESSOAL DE

EDOM AZAMBUJA

Time que fez melhor campanha de sua história no Gauchão, 1980.

D

esde a fundação do clube em 1977 até o inicio dos anos 80, a cidade de São Borja vivia um contexto econômico muito favorável. Sua economia tinha como base a produção de arroz e a pecuária. Era uma época em que o poder econômico estava distribuído harmonicamente entre mais de cem agricultores e pecuaristas. Diferente dos dias de hoje onde está concentrada entre meia dúzia de indústrias de cereais. E era exatamente este poder econômico distribuído harmonicamente que dava sustentação ao clube. Os cerca de 100 conselheiros, a maioria pecuaristas, agricultores e comerciantes, economicamente bem sucedidos contribuíam de forma significativa para a sustentação do Bugre. “No início do ano, um dava vinte novilhas, outro quinhentos sacos de arroz, outro mil e assim

por diante. Depois que se juntavam todos esses produtos era feito um grande leilão para arre-

cadar recursos ao clube”, lembra o jornalista Degrazia. Os colaboradores investiam com interesse apenas pelo amor ao futebol da terra e a satisfação de proporcionar alegria e orgulho a comunidade samborjense. A harmonia do Conselho Deliberativo do São Borja, nesse período onde o regime político do país era de ditadura, refletiu diretamente dentro do campo. Veja as melhores campanhas no campeonato gaúcho:

1980: 6º lugar (melhor campanha da história do clube) 1981: 7º lugar 1983: 8º lugar

HINO DA SOCIEDADE ESPORTIVA SÃO BORJA



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Placar

48 MIL KM

ATRÁS DA BOLA

As viagens desse time no Campeonato Gaúcho equivalem a bem mais do que uma volta ao redor da terra.

Roteiro feito pelo São Borja em 810 horas de viagens.

E

ste foi o título da reporta gem publicada pela princ-i pal revista de esportes do país, a Placar, em outubro de 1.980. O percurso percorrido pelo São Borja de 41.200 km, dentro do Estado, e alcançando a classificação para o hexagonal do Campeonato Gaúcho chamou a atenção dos jornalistas da Placar. Que vieram até a cidade conhecer a história do clube e acompanhar a equipe em uma dessas viagens para fazerem a reportagem. A revista foi quem revelou estes recordes impressionantes de viagens. Foram 810 horas na es-

trada e com os mais 6.400 km percorridos no hexagonal chegou ao total de 48.000 km rodados de ônibus. A revista destacou que esta distância superou em 1.124 km a circunferência da Terra. “Em sete meses, é seguramente o time profissional do Planeta que mais viajou neste período”, revela o texto da Placar. O jornalista Emanuel Mattos e o fotógrafo da Placar viajaram com o Bugre de São Borja até Santa Maria e depois até Rio Grande no ônibus “Mimoso” para relatarem a dificuldade do percurso de mais de 1.800 km (ida e volta). O jornalista destacou que

a alegria dos jogadores pela classificação às finais superava o cansaço e que ninguém reclamava nada. O técnico Rui Peixoto explicou a razão da harmonia: “Ninguém de fora de São Borja assina contrato conosco sem antes receber uma explicação sobre distâncias e dificuldades. O cara entra na briga consciente”.

TIME DE MACHOS Foi essa definição dada por Emanuel ao São Borja para explicar tantos fatos apurados na viagem: “O centroavante titular Ilo se recuperava da segunda fratu-


Placar ra na perna; Enoir engessou a perna duas vezes e está aí; Betinho, que teve o maxilar fraturado por um tijolo atirado por um torcedor do Farroupilha, lamentou não poder viajar; o goleiro Mano sofreu comoção cerebral neste campeonato e já está de volta”. A reportagem teve três páginas de destaque na revista, com várias fotos, e um texto com bastante humor informando o apelido dos jogadores e do preparador físico Luiz Alberto. “Brucutu (ronca mais que o motor no “Mimoso”), o milagreiro que faz o time correr apesar de tantas viagens”. Chamou a atenção do jornalista também o zagueiro Aguiar que levou no bagageiro do “Mimoso” portas, folhas de zinco e caixas de cerâmica que ganhou em São Borja onde pretendia levar de Rio Grande para Santa Vitória do Palmar onde estava construindo sua casa. O texto encerra dizendo "“Mimoso” vai chegando a mais um destino, levando o heróico Bugre das Missões, o valente Cigano dos Pampas”, após 14 horas de viagem. Fotos: Revista Placar

Alegria da classificação para as finais supera tudo.

O cansaço e a diversão, em 810 horas de viagem.

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Série C

São Borja no campo do Maracanã Em pé : Mano, Antonio Carlos, Cito, Clóvis, Aguiar e Julio Cezar. Agachados: Muller, Enio Costa, Ilo, Canega e Morça,

ARQUIVO PESSOAL DE MANO

Após rodar 48 mil kilômetros pelo Rio Grande no ônibus “Mimoso” na disputa do gauchão chegou a vez do Bugre pegar o avião rumo a Taça de Bronze.

O BUGRE NO

MARACANÃ F oi no ano de 1981 que o São Borja ganhou projeção nacional com a dis puta da Taça de Bronze. Foi o representante gaúcho na série C do Campeonato Brasileiro, chegando até as fases finais. Foi um dos poucos times do interior gaúcho que teve o privilégio de jogar no Maracanã.

A campanha A Taça de Bronze do ano de 1981 teve a participação de 24 equipes do país, divididos em doze grupos de dois, com jogos de ida e volta. O São Borja era o único representante do Rio Grande do Sul após. a conquista do torneio Seletivo

Primeira fase

Jogo de ida: 08/03/81- domingo São Borja 0 X 0 Joaçaba (SC) Jogo de volta: 15/03/81- domingo Joaçaba (SC) 1 X 3 São Borja

Segunda fase Jogo de ida: 21/03/81- sábado (Florianópolis) Figueirense (SC) 1 X0 São Borja Jogo de volta: 26/3/81- quinta-feira (São Borja) São Borja 3 X 0 Figueirense (SC)

Na semi-finais, restaram seis equipes, que foram divididas em dois grupos de três para a disputa de um triangular, sendo que o campeão de cada chave iria para a final. A chave do São Borja teve como adversário o Olaria (RJ) e Dom Bosco (MT).

Fase semi-finais

1ª rodada: 2/04/81- quinta-feira (São Borja) São Borja 2 X 0 Olaria (RJ) 2ª rodada: 05/04/81- domingo (Rio de Janeiro) Olaria (RJ) 2 X0 Dom Bosco (MT) 3ª rodada: 08/04/81- quarta-feira (Cuiabá-MT) Dom Bosco (MT) 2X 2 São Borja 4ª rodada: 12/04/81- domingo (Rio de Janeiro) Olaria (RJ) 1X 0 São Borja 5ª rodada: 16/04/81- quinta-feira (Cuiabá-MT) Dom Bosco (MT) 1 X0 Olaria (RJ) 6ª rodada: 05/04/81- domingo (São Borja) São Borja 0 X 0 Dom Bosco (MT)

No grupo do São Borja todos acabaram com 4 pontos, classificando para a final Olaria por ter


Série C

O Olaria foi o campeão da Taça de Bronze, ganhando na final do Santo Amaro (PE). 1º jogo: Olaria (RJ) 4 X0 Santo Amaro (PE) 2º jogo: Santo Amaro (PE) 1X 0 Olaria (RJ)

São Borja não foi para a final por detalhe Com uma equipe qualificada e bem entrosada, o São Borja fez uma grande campanha na Taça de Bronze . Jogadores, imprensa , dirigentes e torcedores que se fizeram presentes são unânimes

Jogadores descendo do avião em Cuiabá - MT . ARQUIVO PESSOAL DE J.A. DEGRAZIA

O goleador da competição foi o atacante Müler do São Borja e Fabinho do Santo Amaro (PE), ambos com 5 gols.

em afirmar que o clube só não foi afinal porque foi roubado no jogo do Maracanã com o Olaria. “Nosso time eliminou o Figueirense, uma das equipes mais fortes da competição, com uma vitória de 3 a 0 no Vicentão”, lembra o goleiro Mano. Com a classificação para semi-finais, os jogadores do São Borja tiveram que enfrentar pela primeira vez uma viagem de avião. Foi para Cuiabá (MT). “Os jogadores estavam todos nervosos, mas o alvo preferido das gozações era o zagueiro Aguiar”, diz Mano. O momento mais marcante da competição foi sem dúvida o jogo do Maracanã. São Borja e Olaria fizeran a preliminar de Vasco e Fluminense. Com um empate, o São Borja iria para a final, somando com o empate conquistado na última rodada com o Dom Bosco (MT) em casa. O resultado estava sendo alcançado até os minutos finais da partida quando o árbitro mineiro Alvimar Gaspar dos Reis marcou um pênalti polêmico. O narrador da Rádio Cultura José Antônio Degrazzia definiu o jogo como “uma roubalheira”. O atacante do Olaria simulou uma falta e o juiz marcou. Antes disso, ele já havia expulsa-

ARQUIVO PESSOAL DE PAULO CORRÊA

uma vitória a mais que os outros. O São Borja ficou em segundo, na frente do Dom Bosco, por ter melhor saldo de gols.

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Placar Eletrônico do Maracanã.

ARQUIVO PESSOAL DE MANO

Jogadores de São Borja no avião indo para o Rio de Janeiro.

do o centro-avante Ilo do São Borja. O goleiro Mano lembra que a jogada não oferecia perigo algum de gol. “Era uma bola que estava saindo para a linha de fundo”. O lance gerou indignação também do comentarista da Rádio Tupi do Rio de Janeiro Ademir Menezes, jogador da seleção brasileira da Copa de 1950. “Vocês vieram lá do Rio Grande do Sul para o Rio para serem roubados desse jeito. O pênalti foi uma vergonha”. Fez questão de exclamar Menezes na Rádio Cultura na hora do lance, lembra Degrazia. Com a derrota no Maracanã bastava o São Borja vencer o Dom Bosco em casa para ir à final. O problema maior foi que o Bugre estava com seu ataque (setor mais forte da


Série C

12 equipe) todo desfalcado. Teve que improvisar jogadores de meia e até juniores para a partida. Estavam fora Vadinho, Ilo e Morça no ataque e mais o meia Ênio Costa. “A equipe não conseguia finalizar, só tinha Armandinho”, lembra Degrazzia.

Dirigentes do Dom Bosco queriam vender a partida

ARQUIVO PESSOAL DE J.A. DEGRAZIA

Manoel Moreno e José Antonio Degrazia na Cabine do Maracanã.

Degrazia lembra que o São Borja só não venceu o Dom Bosco porque os dirigentes não aceitaram a proposta dos representantes do time matogrossense, de vender o resultado do jogo”. Um representante do time do Mato Grosso me procurou na cabine do Vicente para que eu mandasse o recado para a direção do São Borja para acertar o resultado da partida. A equipe do Dom Bosco não tinha ambi-

ção na competição”. Degrazia disse que mandou o recado para a direção do São Borja, que não aceitou porque acreditavam que venciam ao natural. Degrazia afirma ainda que os ex- dirigentes do São Borja negam o fato até hoje.”Dizem que isso é lenda”. O volante Fernando lembra que o assunto foi muito comentado entre os jogadores na época depois da partida, mas que ninguém confirmou o fato.


Entrevista

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EX-GOLEIRO MANO

“Tenho o maior orgulho de ter sido o goleiro do São Borja” FOTO: JEFERSON BALBUENO

Ex-goleiro Mano

U

m dos maiores ídolos do São Borja nos anos 80, considerado na época pelo goleiro Benites do Internacional e Seleção Paraguaia e pelo goleiro Leão do Grêmio e da Seleção Brasileira como o melhor goleiro do Interior do Estado. José Anderson Martins conhecido como Mano, por sete anos seguidos defendeu a S.E. São Borja sendo o goleiro de mais tempo no clube. Jogou também no Internacional de POA e nos Santos de São Paulo. Mesmo nascido em Santo Ângelo se considera um samborjense por ter vindo para cá desde criança para a cidade. Em entrevista em sua loja de molduras, fala sobre sua carreira deixando evidente seu amor pelo São Borja . S.E. São Borja - Qual o momento feliz mais marcante quando jogaste no São Borja? Mano: Têm vários. Mas o que eu

lembro mais é de ter jogado pelo um clube do interior a primeira vez no Maracanã. Também o título invicto do torneio seletivo para a taça de bronze e a vitória sobre o Inter por 2 a 1 em 1980 quando o Vicentão estava cheio. Tenho o maior orgulho de ter sido o goleiro do São Borja S.E São Borja - Como que o São Borja superava as dificuldades das viagens longas em campeonatos de sete meses e fazia boas campanhas? Mano: Eu acho que era a vontade psicológica que tínhamos de querer jogar e vencer. O São Borja era um time diferente dos outros, era mais aguerrido de todos. Eu lembro de uma vez que saímos de manha cedo daqui para jogar a noite em Santa Cruz do Sul, uma viagem de 450 Km. O “mimoso” (ônibus do São Borja) quebrou duas vezes na estrada e quando chegamos no estádio a equipe do Avenida já estava em campo. Nos fardamos dentro do ônibus, cansados, jogamos e ainda vencemos. S.E São Borja - em que goleiro você se inspirou quando começou a carreira? Mano: Eu admirava muito o Scheineider do Internacional e outros goleiros que vi jogar aqui em São Borja. O Alcino, o Celso do Guarany de Bagé, o Oswaldo também do Guarany e o Manga do Internacional e Grêmio. Quando fui para o Internacional o Scheineider foi meu treinador de goleiro. S.E São Borja -O que faltou para ter mais sucesso na carreira? Mano: Todo jogador profissional pensa em um dia em jogar num time grande e depois na Seleção Brasi-

leira e ser Campeão Mundial. Quando tive a oportunidade de ir para a Seleção disputar uma Olimpíada em 1984 fui cortado por lesão. Apesar disso eu não me sinto incomodado e nem perco o sono por causa disso. Já me sinto satisfeito de ter saído do interior e ter jogado em duas grandes equipes. Quantos gostariam de ter estado no meu lugar? S.E São Borja - Já teve a oportunidade de ser técnico? Mano: No ano passado um dirigente do Flamengo de Alegrete me procurou em São Borja me convidando para assumir a equipe no ano seguinte para a disputa da segunda divisão do campeonato gaúcho. Ele me disse que o técnico que dirigiu a equipe deles veio de São Paulo e ganhava R$ 15 mil mensais e a equipe foi mal. Nesse ano o Flamengo estava endividado e não disputou o campeonato. S.E São Borja - Pensa em ser técnico de futebol? Mano:Ué, se tiver oportunidade estou aí, não tenho medo de encarar o desafio. Mas também não vou para qualquer time para ganhar uns R$ 5 mil. S.E São Borja - Acredita na volta do São Borja no futebol profissional? Mano: Da forma como as pessoas estão tocando clube hoje, não. O grupo que está administrando não representa a sociedade de São Borja, pois é só um grupinho e não existe conselho deliberativo, já vai para o terceiro ano e só estão revelando jogadores para os outros times. É preciso reestruturar o Conselho e quadro Social para ter representatividade.


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Títulos

TRI-CAMPEÃO

DO INTERIOR Foram três títulos conquistados pelo São Borja em competições da FGE com equipes do interior do Estado.

M

esmo com dificuldades financeiras e a maratona de viagens longas, o Bugre surpreendeu vencendo

equipes tradicionais do Estado com e com mais recursos. O 1º título foi de Campeão Seletivo, Taça de Bronze em 1981, depois

em 1982, campeão do Torneio Incentivo e em 1985 Campeão da Taça ACEG (Associação dos Cronistas Esportivos Gaúchos).

Campeão Invicto da Seletiva para a Taça Bronze ARQUIVO PESSOAL DE MANO

uma grande festa no Vicentão que recebeu um público numeroso. Os torcedores estavam eufóricos pela conquista do primeiro título e a vaga para participar do Campeonato Brasileiro daquele ano. Era o único representante gaúcho na Taça de Bronze.

Campanha 1º turno São Borja 1 x 0 Brasil – PE São Borja 1 x 0 Guarani – BA Caxias 0 x 0 São Borja Juventude 1 x 1 São Borja

Time campeão invicto da Seletiva para Taça de Bronze 1981

O São Borja começou o ano de 1982 muito bem. Mantendo todo o plantel que fez a melhor campanha de sua história no Gauchão em 1980, a equipe entrou confiante para disputa do torneio seletivo para a Taça Bronze (Serie C do Campeonato Brasileiro). A competição contou com a participação de cinco equipes tradicionais do interior que jogavam entre si em turno e returno. So-

mente o campeão do torneio obteria a vaga para a série C. Com uma equipe entrosada e qualificada, o Bugre fez uma campanha irretocável, com cinco vitórias, 3 empates e nenhuma derrota. Somou 13 pontos, 81% de aproveitamento, o legítimo campeão invicto. O título foi conquistado na última rodada, na partida em que o São Borja venceu o Juventude em casa por 1 a 0. Foi

Returno São Borja 1 x 1 Caxias São Borja 2 x 0 Guarani Brasil 0 x 2 São Borja São Borja 1 x 0 Juventude (19/ 02/81)

Classificação 1º São Borja........13 Campeão 2º Caxias............11 3º Juventude........09 4º Guarani...........05 5º Brasil – PE......02


Títulos

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Torneio Incentivo, Campeão 100% Samborjense A Campanha ARQUIVO PESSOAL DE PAULO CORRÊA

Campanha Caxias 0 x 1 São Borja São Borja 0 x 0 Novo Hamburgo São José 0 x 0 São Borja Juventude 0 x 0 São Borja São Borja 1 x 1 Guarani - BA São Borja 1 x 0 Esportivo Brasil 1 x 1 São Borja

Time campeão do torneio incentivo 1982, exceto Altair. Em pé da esquerda para a direita: Silmar, Adailton, Mano, Altair, Jairo e Antônio Carlos; Agachados: Miltinho, Luis Alberto, Vandenir, Zé Maria e Jadil

atacante Pedrinho do futebol amador de Santiago e o zagueiro Jairo também do futebol amador, de Porto Alegre. Segundo o repórter Paulo Corrêa, que acompanhava diariamente o clube, muitos achavam que a conquista seria impossível por ser uma equipe muito jovem, a maioria estreando no profissional. Para Correa o grande responsável pelo título foi o técnico Gilberto Machado que aceitou o desafio acumulando também a função de preparador físico.

Finais 1º jogo: São Borja 2 x 0 Juventude Gols: Silmar e Jairo 2º jogo: Juventude2 x 0 São Borja

Campeão em campo neutro

ARQUIVO PESSOAL DE FERNANDO

Foi o título mais surpreendente da história do São Borja. Com um plantel de apenas 19 jogadores, com média de idade de 21 anos, sendo apenas 2 não profissionalizado pelo clube. O Bugre superou adversários de tradição e de muito mais experiência como Novo Hamburgo, Esportivo, São José e Brasil de Pelotas, que fizeram altos investimentos. A política adotada este ano de 1982, de aproveitar o máximo de jogadores revelados pela base, foi a saída encontrada pela direção para superar o déficit do ano anterior. Para isso o clube precisou se desfazer dos seus jogadores mais valorizados como Ilo, Cito, Morsa, Clóvis, Aguiar, Ênio Costa, Miller e da Costa. Dentre os remanescentes mais experientes restaram somente Mano, Silmar e Antonio Carlos. Para somar ao grupo foram contratadas apenas 3 jogadores e com baixo custo. O zagueiro Adailton, o mais velho do plantel com apenas 26 anos, o

Jogadores exibindo a taça de campeão do Torneio Incentivo no vestiário em Santa Maria

A competição foi disputada por oito equipes que jogaram entre si em turno único. São Borja e Juventude, que terminaram o turno invictos, foram os dois primeiros colocados e se credenciaram para a final.

Foi preciso jogar uma terceira partida para o título ser decidido, pois as duas primeiras tiveram resultados iguais. O local escolhido pela Federação foi o Estádio Baixada Melancólica em Santa Maria, onde vários torcedores do São Borja se fizeram presente. Segundo o presidente Edmundo Ferreira partiram de São Borja oito ônibus. Com um ambiente favorável os “garotos travessos” do Bugre, apelido dado por Degrazia, atropelaram o Juventude abrindo uma vantagem de 3 a 0 ainda no pri-


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Títulos

meiro tempo. “Nós só queríamos atacar”, lembra o meia Luis Alberto. No final dessa etapa o Juventude descontou num vacilo da zaga. No segundo tempo a equipe de Caxias marcou mais um, mas não o suficiente para tirar o título do São Borja . No final do jogo, festa em San-

ta Maria com volta olímpica, Taça na mão e gritos de “é campeão”.

mar(22), Jairo(21), Adailton(26) e Antonio Carlos(24); Belmonte(18), Luis Alberto(21) e Zé Maria (22); Murtinho(19), Vandenir(20), (Beto -18), Jadil (17). OBS: (idade dos jogadores) Gols: Luis Alberto 3, Vandenir 15, Miltinho 43 e Caio 45 do primeiro tempo, Kita 14 do segundo tempo.

Final São Borja 3 x 2 Juventude local: Estádio Baixada Melancólica Santa Maria Data: 06/ 05/82 São Borja: Mano(24), Sil-

Campeão da copa ACEG, o título heróico ARQUIVO PESSOAL DE LUIZ ALBERTO

Time base que ganhou a Copa ACEG 1985

Vitória no “tapetão”, derrota em casa no 1º jogo, vitória no jogo de volta, prorrogação com pênalti defendido e vitoria nos pênaltis. Esses foram os ingredientes de uma conquista dramática. O ano de 1985 começou para o São Borja novamente com dificuldades financeiras. Para obter recursos e colocar a equipe na disputa da Copa ACEG, a direção teve que sortear um automóvel Monza 0 km. Os números adquiridos pela comunidade viabilizaram o clube para participar da competição, e mais uma vez com sucesso

A Competição A Copa ACEG foi disputada por onze equipes divida em dois grupos. O grupo A com seis clubes e o grupo B, o do São Borja com cinco equipes. Os campeões de cada chave iriam para a final.

1º turno 1º Gaúcho 2 x 1 São Borja 2º São Borja 1 x 0 Pelotas 3º Inter SM 1 x 1 São Borja 4º São Borja 2 x 0 14 de Julho/Livramento

Returno 1º São Borja 0 x 2 Inter SM 2º 14 julho 1 x 1 São Borja 3º Pelotas 1 x 0 São Borja 4º São Borja 1 x 0 Gaúcho

A Final Dramática O São Borja só chegou a final com uma vitória no “tapetão”. A equipe havia terminado em terceiro lugar no seu grupo com 8 pontos, mas a direção foi ágil entrando com recuso na FGF e ganhando os pontos da partida que havia perdido na estréia contra o Gaúcho em Passo Fundo por 2 a 1. A Federação concedeu dois pontos para o São Borja pelo motivo do Gaúcho ter jogado com quatro jogadores com as inscrições irregulares. Com isso o Bugre ficou com 10 pontos junto com Pelotas, mas com uma vitoria a mais. No primeiro jogo da final o São Borja perdeu por 1 a 0 para o Novo Hamburgo em casa. No jogo de volta nem a direção acreditou que o Bugre reverteria a vantagem, tanto que não foi nenhum dirigente acompanhando a delegação , apenas o secretário executivo Edom Azambuja viajou com a equipe. Dentro de campo os jogadores fizeram jus ao apelido de “Bugre guerreiro” que nunca se entrega, vencendo a equipe de melhor campanha na competição (com 15 pon-


Títulos tos e 75% de aproveitamento) por 2 a 0. Mas como o drama estava só começando nem deu para comemorar. A rádio de São Borja que transmitia o jogo já anunciava: “São Borja Campeão”. O repórter Paulo Corrêa e seus colegas não sabiam que a final dessa competição não valia o saldo de gols. Um regulamento estranho que não se vê em nenhum outro campeonato. Era preciso vencer na prorrogação, que foi equilibrada. A dois minutos do fim da partida, um pênalti para o Novo Hamburgo cometido pelo zagueiro Escouto. Desespero dos atletas na eminência de perder o título por um regulamento injusto. Como o Bugre nunca se entrega, o goleiro Jung foi o herói naquela noite ao acer-

tar o canto do pênalti batido, fazendo uma grande defesa. “Agora é com nós”, disse o ponteiro esquerdo Jadil ao goleiro quando todos correram para abraçar. Com a prorrogação empatada veio os pênaltis. Também drama até a última cobrança. O volante Joaquim precisava acertar o último para o São Borja vencer por 4 a 3. A bola bateu nas duas traves antes de passar lentamente a risca do gol. São Borja campeão de novo, mais uma glória, um titulo que ninguém acreditava, fora os jogadores e o técnico Homero RasboldDepois da final tensa, o São Borja passou 10 horas na estrada de volta para casa. Mesmo a viagem longa não abateu a alegria dos jogadores que estavam eufó-

17 ricos dentro do ônibus “Mimoso” com a taça da copa ACEG. Final 1º Jogo: São Borja 0 x 1 Novo Hamburgo 2º jogo: Novo Hamburgo 0 x 2 São Borja Decisão nos pênaltis Novo Hamburgo 3 x 4 São Borja Gols: Luis Claudio 1º tempo e Beto 2º tempo Local: Estádio Santa Rosa – Novo Hamburgo Data: 12/06/85 Equipe do São Borja: Jung, Eduardo, Jairo, Vilmar Escouto e Luli; Zé Maria (Joaquim), Luis Cláudio e Cláudio Freitas; Catarina, Beto e Jadil.


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Grandes Jogadores

O CELEIRO DE GRA ARQUIVO PESSOAL DE POLACO

Polaco, campeão mundia sub-20, 1985.

A

Em 1980 foi a vez de o colorado comprar do São Borja o habilidoso ponta esquerda Canhotinho, para incorporar na equipe campeã brasileira invicta em 1979, junto com Falcão, Batista, Mauro Galvão, Benitez e outros. Antes disso o São Borja vendera o ponta direita Moisés para o Caxias, antes de se transferir para a Portuguesa de Desportos. Depois também saiu o lateral direito Silmar para o Grêmio campeão da América de 1983. No ano próximo foi a vez do Bugre vender para o Internacional o seu goleiro Mano e o volante Fernando. Mano foi o titular do Inter no campeonato

brasileiro de 1984, deixando na reserva Gilmar, 3º goleiro da seleção brasileira tetra campeã mundial de 1994. Neste período também foi negociado para o América do Rio e depois Fluminense o lateral e zagueiro Polaco. Em 1985 Polaco foi

ARQUIVO PESSOAL DE MANO

s fortes equipes montadas pelo São Borja na década de 80 serviram para revelar vários jogadores para os principais clubes do país, especialmente para a dupla Grenal. A maioria dos atletas que foram para as grandes equipes foi revelada pelas categorias de base do Bugre. No primeiro ano do clube, em 1977, se transferiu para o Grêmio de Tele Santana o zagueiro Cássia, negociado pelo Internacional de São Borja, pouco antes da fusão. Naquele ano o zagueiro Samborjense foi campeão gaúcho pelo Grêmio, quebrando a hegemonia do Internacional no estado.

Campeão Mundial pela Seleção Brasileira Sub20 em Moscou. Nesta equipe eram titulares com ele Taffarel, Silas, Müller e outros. Para a equipe carioca foi o destino também do ponta João Carlos antes de passar pelo Pelotas. Para o mesmo América o São Borja vendeu seu meia Bozó, irmão do lateral esquerdo do Grêmio Paulo Cézar Magalhães, campeão da América e mundial de 1983. O Grêmio também seria o destino do ponta direita Vadinho que estava sendo negociado. Vadinho que era para muitos o mais talentoso jogador revelado pelo São Borja, rompeu os ligamentos do joelho e não pôde mais seguir a carreira. Desta equipe se transferiu mais o zagueiro Da Costa para o Guarani de Campinas e

Goleiro Mano no Internacional de Porto Alegre, 1984.


Grandes Jogadores

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ANDES JOGADORES 2

ARQUIVO PESSOAL DE FERNANDO

ARQUIVO PESSOAL DE EDOM AZAMBUJA

1

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Fernando, tetracampeão Gaúcho pelo Inter, 1984.

(1) Da Costa, (2) Bozó, (3) Canhotinho.

ARQUIVO PESSOAL DA FAMÍLIA DE SILMAR

DIVULGAÇÃO GRÊMIO

o centroavante Ilo para o Juventus de São Paulo. Já na segunda metade da década de 80 foi a vez do volante Belmonte ir para o Avaí de Santa Catarina. Nos anos 90 quando o São borja disputava a Segunda Divisão do Campeonato Gaúcho tendo menos visibilidade revelou para o Caxias e depois Curitiba o centroavante Brandão. Em 1996 o Bugre vendeu o seu atacante artilheiro Zé Alcino para o Grêmio onde foi Campeão Brasileiro daquele ano. No ano anterior havia sido emprestado para Internacional de Porto Alegre. Para o jornalista Degrazzia São Borja era um verdadeiro “Celeiro de Craques”. As vendas de jogadores ajudavam no orçamento do clube para qualificar a equipe.

Silmar, campeão da América, pelo Grêmio, 1983.


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Contra a dupla GreNal

GAUCHÃO ERA DECIDIDO EM

SÃO BORJA Em duas oportunidades que Grêmio e Inter foram derrotados pelo Bugre perderam o título Gaúcho A Dupla GreNal sempre teve muitas dificuldades para vencer o São Borja no Vicentão. O desgaste da vi-

agem de 650 km de ônibus, no máximo duas vezes por ano, cada um, era sempre a reclamação unânime.

Ignoravam aquilo que o São Borja fazia o campeonato inteiro na época em que durava sete meses.

Contra o Inter em 1980

Manchete do jornal Zero-Hora em 1980.

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om um campeonato exten so a dupla GreNal valori zava o título Gaúcho muito mais que nos tempos de hoje. Em 1980 o internacional chegou na penúltima rodada do hexagonal final com um ponto de vantagem sobre o Grêmio. A rodada antecedia o Gre-Nal e para não correr risco de perder a vantagem no campeonato com o desgas-

te da viagem, a direção colorada investiu alto no jogo contra o São Borja. Contratou 4 táxis-aéreos para levar a delegação e mais um ônibus com os massagistas, roupeiros e seguranças. O investimento foi destacado na página de esportes do jornal Zero – Hora no dia 19/11/80, dia do jogo, com a seguinte manchete: “A vitória vale investimento de C$ 1 milhão.”

A reportagem de ZH destacou que o Grêmio ofereceu uma premiação de 1 milhão de cruzeiros ao jogadores do São Borja pela vitória. Por outro lado o técnico do São Borja Rui Peixoto em entrevista para ZH garantiu que não perderia o jogo para o Inter dentro de Vicentão. “Derrota nem existe em nossas previsões. Contamos com nossos torcedores que aqui vai ser diferente”. Referindo-se sobre a goleada que São Borja havia sofrido do Inter no Beira-Rio por 6 a 1 no 1º turno. Foi com essa grande expectativa que o Internacional entrou no gramado do Vicentão que estava lotado pelos torcedores do Bugre. Quem torcia para o Inter assistia o jogo calado. Segundo a reportagem de ZH que cobriu a partida, o Internacional ficou assustado com a gana com que o São Borja encarou o jogo. Ainda mais quando Ilo marcou para o Bugre logo aos 12 minutos. A equipe colorada que tinha como base o time Campeão


Contra a dupla GreNal Brasileiro invicto de 1979 e era o atual vice-campeão da América, terminou o primeiro tempo satisfeito por não ter tomado mais uns dois gols. No segundo tempo o São Borja continuou melhor, perdendo outra oportunidade de marcar. Mas aos 36 minutos, na única oportunidade do Inter, Bira empatou calando a torcida. Quando o empate parecia ser o resultado final e um escanteio aos 46 minutos, Enoir marcou de cabeça para o Bugre “incendiando” o Vicentão. O repórter Brauner da rádio Gaúcha descrevia a reação dos jogadores do Inter: “Mãos à cintura, cabeça baixa, mão no olho, olhar no céu escuro de

Jair do Inter disputando a bola com Aguiar do São Borja.

São Borja. Não acreditavam no que viam”. Para piorar a situação do Inter, o Grêmio venceu o seu jogo em Porto Alegre contra o Juventude e foi para o

21 Gre-Nal decisivo com a vantagem que era colorada. Enquanto isso a torcida do Bugre comemorava como se tivesse ganhado um título, festa por toda cidade. N o G r e N a l d e c i s i v o o resultado foi 0 a 0 tornando-se campeão o Grêmio, graças a vitória do São Borja contra o Inter. Na volta olímpica da equipe gremista, para a surpresa de todos, estava presente comemorando com os jogadores do Grêmio o centro-avante Enoir do São Borja, que havia marcado o gol da vitória contra o Inter. Como prêmio quando chegou em São Borja ganhou a demissão da direção do Bugre.

Contra o Grêmio em 1983

Contra capa de ZH de 1983 com a foto do gol do São Borja.

No octogonal final do Campeonato Gaúcho em 1983, a cidade de São Borja aguardou com muita expectativa o jogo contra o Grêmio, que era o atual campeão da América. A equipe tricolor estava próximo dos dias de decidir o título mundial em Tóquio. Como estava com dois pontos atrás do Internacional veio com força máxima, com exceção de Renato, para vencer o Bugre. Mais uma vez está-

dio lotado num domingo a tarde e muita expectativa. Durante o jogo a equipe gremista enfrentou um adversário duro, motivado pela grande torcida. Segundo o jornal ZH, foi uma partida equilibrada, mas as melhores chances foram do São Borja. Quando o jogo se aproximava dos instantes finais com o placar de 0 a 0, veio a grande polêmica. Eram 42 minutos do segundo tem-

po quando o árbitro Roque José Gallas marcou um sobrepasso (tirolivre indireto dentro da área) do goleiro Mazarropi. Os jogadores do Grêmio ficaram inconformados partindo para cima do Juiz, enquanto a torcida comemorava como se fosse um gol, era a chance iminente da vitória contra o melhor time da América. Quase todos os jogadores do Grêmio ficaram na barreira sobre a risca da pequena área. O comentarista da Rádio Gaúcha e do jornal ZH, Ruy Carlos Ostermann, descreveu como foi a cobrança: “Djalma anunciou um toque para Canhotinho, mas inverteu para Fernando que deu um bico e fez o gol aos 44 minutos”. A torcida do São Borja foi mais ao delírio quando assistiu a expulsão de Paulo Roberto e Tarcísio do Grêmio que tentou simular um pênalti. Com a derrota do Grêmio somada com a vitória do Inter, a vantagem colorada foi para 4 pontos fez com que o técnico do Grêmio Valdir Espinoza desabafasse no vestiário: “Acabou o campeonato”.O volante Fernando do São Borja que esteve presente nas duas vitórias históricas lembrou-se das partidas: “naquele jogo contra o Inter, ganhamos um dinheirão do Grêmio. Naquela vitoria contra o Grêmio que fiz o gol foi o momento mais marcante de minha carreira”.


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Queda para a Segunda Divisão

O ÚLTIMO ANO NA ELITE

DO GAUCHÃO

Na segunda metade dos anos 80 a cidade começava a enfrentar uma grave crise econômica que refletiu diretamente no futebol, levando o São Borja para a segunda divisão do campeonato.

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São Borja foi perdendo receita para honrar compromissos. O resultado disso foi a falta de recursos para qualificar a equipe e atrasos de salários, gerando uma crise interna. O meia Luiz Alberto lembra que a equipe nunca deixou de treinar e fez “corpo mole”, mesmo com o atraso de até três meses de salários. “O time não era ruim, mas como os jogadores dependiam do salário para sustentar suas famílias, acabavam se endividando no comércio. Com isso, ficávamos abatidos para os jogos”, afirma. Outro motivo crucial apontado por Degrazia para explicar a decadência foi a política são-borjense. Com a

volta da democracia no país, em 1985, os partidos começaram a se mobilizar para as eleições locais. Com isso, os conselheiros do clube passaram a se desintegrar. “Eu não me mis-

turo com fulano que é de tal partido, diziam alguns conselheiros. Antes não se discutia política, apenas futebol”, lembra Degrazia.

FELIPÃO E CUCA: OS ALGOZES DO BUGRE A pior campanha do clube no Gauchão fez com que se mudasse de técnico três vezes com o campeonato em andamento. “Até o presidente Zanperetti teve que assumir de técnico algumas partidas”, lembra Luiz Alberto. O último jogo do Bugre na primeira divisão foi em Caxias do Sul contra o Juventude, treinado por Luiz Felipe Scolari. O São Borja dependia de um empate para escapar da segundona e o Juventude de uma vitória para se classificar às finais. O jogo foi 5x2 para o Juventude, com o meia Cuca, atualmente técnico de grandes clubes do futebol brasileiro em tarde inspirada, marcando três gols no São Borja. Com isso, o Bugre acabou na penúltima colocação da tabela, sendo rebaixado junto com o Novo Hamburgo para a segunda divisão do campeonato gaúcho. ARQUIVO PESSOAL DE PAULO CORRÊA

om exceção da dupla Gre-Nal e a dupla Caxias e Juventude, todos os clubes do futebol gaúcho que disputaram a primeira divisão um dia foram rebaixados para a segunda divisão. O ano de 1987 foi a vez do bugre. O jornalista Degrazia e o repórter Paulo Correa que acompanharam a trajetória do clube desde a sua fundação, apontaram a crise da agricultura como principal causa da decadência do São Borja. Como o clube tinha sua sustentação através dos seus conselheiros, cerca de cem, a maioria agricultores e pecuaristas, que foram se descapitalizando, o

ARQUIVO PESSOAL DE LUIZ ALBERTO

1986, uma das últimas equipes do São Borja na primeira divisão.

Paulo Corrêa e José Antônio Degrazia na cabine do Vicentão


TĂ­tulos

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