TFG - Centro Cultural Nordeste

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CENTRO CULTURAL NORDESTE - ccNe Danilo dos Santos Amaral



UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO - UNICID ARQUITETURA E URBANISMO TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DANILO DOS SANTOS AMARAL

CENTRO CULTURAL NORDESTE - ccNe

CULTURA E ARQUITETURA COMO MEIOS DE INTEGRAÇÃO URBANA

ORIENTADOR: TIAGO COLLET SÃO PAULO 2019



AGRADECIMENTOS Primeiramente quero agradecer a Deus e minha família, sobretudo meus pais, Dulce e Elias, e minha irmã, Rosana, que me apoiaram desde sempre e me deram as bases e incentivos necessários a todas as minhas conquistas, inclusive de me tornar um arquiteto e urbanista. Agradeço também ao meu orientador Tiago Collet, por todos os ensinamentos, dedicação, paciência e confiança, durante esse projeto e em muitos outros durante o curso. Aos demais professores do curso de Arquitetura e Urbanismo e colaboradores da Unicid. Aos meus amigos e companheiros de curso, principalmente Antônia, Jéssica, Márcia e Rosiele, pela amizade, apoio e pelas noites em claro fazendo trabalhos ou simplesmente celebrando a nossa amizade. Um agradecimento especial a Vadeí, pelo apoio, conforto, paciência e companhia. À MGA Mineração e Geologia Aplicada e todos os colaboradores, pelos ensinamentos e oportunidades proporcionados. Muito obrigado.



RESUMO O seguinte projeto tem como função primordial integrar a cultura nordestina à cidade de São Paulo, de forma a diminuir preconceitos e ampliar as relações socioculturais. O centro cultural também tem como um de seus objetos primordiais promover a requalificação de parte dos bairros da Sé e do Brás, no entorno do rio Tamanduateí e do Mercado Municipal, sendo esses um dos elementos básicos no entorno do projeto. Parte dessa requalificação ocorre através da alteração do fluxo de veículos e pedestres, de forma a minimizar os impactos das barreiras urbanas presentes na região. Assim, propõe-se um túnel para veículos e uma passarela de inclinação suave para pedestres, capazes de transpor o rio e ambas as vias marginais da Avenida do Estado, além de proporcionar uma conexão direta entre os dois bairros. O projeto arquitetônico possui entre os mais proeminentes condicionantes critérios, elementos de conforto térmico, fruição pública e circulação fluída, áreas de convivência e de contemplação da paisagem urbana, entre outros. Dessa forma, o projeto procura ser acolhedor através da promoção de espaços abertos e de um programa dinâmico e diversificado, porém mantendo o fator cultural como principal eixo de projeto. Além de tudo, os principais eixos de desenvolvimento do projeto são a integração e a transformação da sociedade, promovendo o bem estar social através da cultura e da arquitetura, criando novas formas de convivência, educação e entretenimento e, sobretudo, ampliando o relacionamento humano e diversidade sociocultural, as relações com a cidade e o respeito. Palavras chave: cultura, nordestino, integração social, cidade, requalificação urbana, arquitetura.


ABSTRACT The following project has as its primary function to integrate northeastern culture with the city of São Paulo, in order to reduce prejudice and broaden sociocultural relations. The cultural center also has as one of its primary objects to promote the requalification of part of the Sé and Brás neighborhoods, around the Tamanduateí River and the Municipal Market, being these one of the basic elements in the surroundings of the project. Part of this requalification occurs by changing the flow of vehicles and pedestrians, in order to minimize the impacts of urban barriers present in the region. Thus, a vehicle tunnel and a gentle pedestrian walkway capable of crossing the river and both marginal avenues of the Estado’s Avenue are proposed, as well as providing a direct connection between the two neighborhoods. The architectural project has among the most prominent conditioning factors, elements of thermal comfort, public enjoyment and fluid circulation, living areas and contemplation of the urban landscape, among others. Thus, the project seeks to be welcoming through the promotion of open spaces and a dynamic and diverse program, while maintaining the cultural factor as the main project axis. Moreover, the main axes of project development are the integration and transformation of society, promoting social well-being through culture and architecture, creating new forms of coexistence, education and entertainment and, above all, expanding human relationships and sociocultural diversity, relations with the city and respect. Keywords: culture, northeastern, social integration, city, urban requalification, architecture.


LISTA DE FIGURAS Fig. 1: Escultura em barro de Severino Vitalino ................................................................................ 23 Fig. 2: Cena do filme O Homem que Virou Suco, de 1979 ............................................................ 24 Fig. 3: Presença da cultura nordestina no centro da cidade de São Paulo .............................. 29 Fig. 4: Xilogravura como forma de expressão artística do nordeste ........................................... 30 Fig. 5: Imagem de satélite da área do projeto e entorno ............................................................. 47 Fig. 6: Rua próxima a área do projeto e vista de parte do Mercado Municipal ....................... 48 Fig. 7: Mapa de localização do terreno e área de estudo no município de São Paulo. ........ 50 Fig. 8: Mapa de localização do Terreno ........................................................................................... 51 Fig. 9: Mapa de Zoneamento ............................................................................................................. 54 Fig. 10: Mapa de Uso e Ocupação do Solo..................................................................................... 56 Fig. 11: Mapa de Gabarito .................................................................................................................. 57 Fig. 12: Zona Cerealista e verticalização do bairro do Brás .......................................................... 58 Fig. 13: Mapa de Densidade Demográfica .................................................................................... 59 Fig. 14: Mapa de Áreas Verdes .......................................................................................................... 60 Fig. 15: População total ....................................................................................................................... 61 Fig. 16: Parque Dom Pedro II se encontra subutilizado e em situação de abandono ............. 62 Fig. 17: Largo do Pari se encontra degradado ............................................................................... 62 Fig. 18: Rio Tamanduateí se encontra poluído e funcionando como barreira urbana ........... 63 Fig. 19: Mapa de Hipsometria.............................................................................................................. 65 Fig. 20: Mapa da cidade de São Paulo de 1897, mostrando o Rio Tamanduate ..................... 66 Fig. 21: Fluxo intenso de veículos em cruzamento da Av. do Estado com a Av. Senador Queirós .................................................................................................................................................... 67

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Fig. 22: Mapa de Hierarquia Viária ..................................................................................................... 69 Fig. 23: Mapa de Sentido Viário .......................................................................................................... 70 Fig. 24: Velocidade comercial média dos veículos do sistema de transporte (km/h). ............ 71 Fig. 25: Mapa de Mobilidade Urbana ............................................................................................... 72 Fig. 26: Vista do Mercado Municipal de São Paulo, nas imediações do lote ............................ 73 Fig. 27: Mapa de Equipamentos Públicos ......................................................................................... 74 Fig. 28: Mapa de Equipamentos Culturais ........................................................................................ 75 Fig. 29: Vista da região da Sé, localizado em terreno elevado no centro da cidade ............. 77 Fig. 30: Silhueta do Centro vista a partir da estação de metrô Pedro II, .................................... 78 Fig. 31: Colina da Sé e principais pontos focais no entorno da área do projeto. ..................... 79 Fig. 32: Museu Catavento, vizinho a área do projeto .................................................................... 80 Fig. 33: Rio Tamanduateí e principais áreas verdes no entorno da área do projeto. .............. 81 Fig. 34: Corte urbano da área no entorno do lote ......................................................................... 82 Fig. 35: Mapa com análise da região no entorno do terreno ...................................................... 85 Fig. 36: Rua no interior na área do projeto com pouco movimento aos fins de semana ....... 86 Fig. 37: Mercado Municipal e Avenida Senador Queirós .............................................................. 86 Fig. 38: Edificações subutilizadas em uma das quadras do projeto ............................................ 87 Fig. 39: Edificação abandonada em uma das quadras do projeto ........................................... 87 Fig. 40: Largo do Pari e Avenida do Estado ..................................................................................... 88 Fig. 41: Avenida do Estado, rio Tamanduateí e vista da área do projeto ao fundo ................ 88 Fig. 42: Diagrama de orientação solar em determinados períodos do ano .............................. 89 Fig. 43: Cais do Sertão Luiz Gonzaga ................................................................................................ 91 Fig. 44: Centro Cultural São Paulo...................................................................................................... 92 Fig. 45: Fachada da Praça das Artes vista a partir da Rua Conselheiro Crispiniano. ............... 93

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Fig. 46: Entorno imediato da Praça das Artes. ................................................................................. 95 Fig. 47: Conservatório Dramático e Musical de São Paulo. ........................................................... 96 Fig. 48: Fachada do Cine Cairo. ........................................................................................................ 97 Fig. 49: Imagens de satélite do lote mostrando a requalificação do lote.................................. 98 Fig. 50: Croqui original mostrando o conjunto de volumetrias da Praça das Artes. ............... 100 Fig. 51: Planta do térreo demostrando os cheios e vazios da edificação................................ 101 Fig. 52: Programa ................................................................................................................................ 103 Fig. 53: Esquema mostrando os espaços de fruição pública. .................................................... 104 Fig. 54: Concreto aparente pigmentado utilizado no projeto.................................................... 105 Fig. 55: Vista do Cais do Sertão Luiz Gonzaga. .............................................................................. 107 Fig. 56: Mapa esquemático .............................................................................................................. 108 Fig. 57: Croqui da implantação feito pelos autores do projeto. ................................................ 109 Fig. 58: Implantação metropolitana. ............................................................................................... 111 Fig. 59: Corte mostrando os cheios e vazios presentes na volumetria. ..................................... 112 Fig. 60: Cobogós de 1m x 1m remetendo ao sertão nordestino. ............................................... 113 Fig. 61: Diagrama mostrando integração sociocultural proposta pelo museu ....................... 114 Fig. 62: Programa do Cais do Sertão Luiz Gonzaga. .................................................................... 115 Fig. 63: Concreto pigmentado ocre ................................................................................................ 116 Fig. 64: Perspectiva virtual do projeto do Centro Administrativo de Tallin. ............................... 117 Fig. 65: Diagrama mostrando a nova localização da sede da prefeitura. .............................. 118 Fig. 66: Imagem de satélite com a localização da área do projeto. ....................................... 119 Fig. 67: Centro Administrativo de Tallin............................................................................................ 120 Fig. 68: Centro Administrativo de Tallin............................................................................................ 121 Fig. 69: Proposta de espaço público ............................................................................................... 122

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Fig. 70: Desenvolvimento volumétrico do projeto ......................................................................... 123 Fig. 71: Diagrama mostrando a utilização de iluminação natural no projeto. ........................ 123 Fig. 72: Vistas proporcionadas pela volumetria do projeto. ........................................................ 124 Fig. 73: Layout do programa ............................................................................................................. 125 Fig. 74: Área verdes (pátios).............................................................................................................. 125 Fig. 75: Planta mostrando a disposição dos núcleos e pilares estruturais. ................................ 126 Fig. 76: Acesso principal ao CCSP. .................................................................................................. 129 Fig. 77: Diagrama mostrando os principais vetores ...................................................................... 131 Fig. 78: Mapa esquemático mostrando os meios de acesso ao CCSP. .................................... 132 Fig. 79: Vista interna de uso de um dos espaços do CCSP ......................................................... 135 Fig. 80: Vista de parte do jardim elevado ...................................................................................... 136 Fig. 81: Programa de necessidades................................................................................................. 138 Fig. 82: Programa de necessidades ................................................................................................. 139 Fig. 83: Principais eixos de circulação interna ............................................................................... 140 Fig. 84: Croqui feito durante visita ao CCSP mostrando a fachada .......................................... 142 Fig. 85: Sistema de rampas utilizadas no CCSP .............................................................................. 143 Fig. 86: Perspectiva do projeto ......................................................................................................... 145 Fig. 87: Croqui desenvolvido durante elaboração do projeto. .................................................. 146 Fig. 88: Imagem de satélite do terreno e entorno. ....................................................................... 148 Fig. 89: Situação do local do terreno sobre imagem de satélite. .............................................. 148 Fig. 90: Configuração atual do terreno. ......................................................................................... 149 Fig. 91: Croqui ...................................................................................................................................... 149 Fig. 92: Configuração proposta do terreno após o projeto ........................................................ 150 Fig. 93: Diagrama de integração urbana ...................................................................................... 151

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Fig. 94: Estudo preliminar da passarela sobre o rio Tamnduateí ................................................. 151 Fig. 95: Croqui com a proposta final da passarela ....................................................................... 152 Fig. 96: Diagrama de fruição pública.............................................................................................. 153 Fig. 97: Concepção intermediária ................................................................................................... 155 Fig. 98: Concepção final ................................................................................................................... 156 Fig. 99: Estudos iniciais ........................................................................................................................ 157 Fig. 100: Estudos iniciais ...................................................................................................................... 158 Fig. 101: Croquis com a concepção volumétrica ........................................................................ 159 Fig. 102: Concepção intermediária da volumetria....................................................................... 160 Fig. 103: Concepção volumétrica ................................................................................................... 161 Fig. 104: análise de possibilidades volumétricas considerando fatores de insolação ............ 163 Fig. 105: Concepção final da volumetria ....................................................................................... 164 Fig. 106: Diagrama de composição da fachada. ........................................................................ 164 Fig. 107: Concepção preliminar da volumetria do projeto ......................................................... 165 Fig. 108: Diagrama de conforto térmico (insolação e ventilação). .......................................... 166 Fig. 109: Diagrama de setorização .................................................................................................. 167 Fig. 110: Definição do programa e layout ...................................................................................... 168 Fig. 111: Definição do programa e layout ...................................................................................... 169 Fig. 112: Programa .............................................................................................................................. 170 Fig. 113: Definição da infraestrutura do teatro .............................................................................. 172 Fig. 114: Definição do funcionamento do teatro e do sistema estrutural ................................. 173 Fig. 115: Áreas de convivência. ....................................................................................................... 174 Fig. 116: Residência nordestina tradicional, enfatizando a presença do alpendre. .............. 175 Fig. 117: Diagrama de acessos ......................................................................................................... 177

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Fig. 118: Circulação horizontal. ........................................................................................................ 178 Fig. 119: Diagrama de circulação vertical e conexões ............................................................... 179 Fig. 120: Estudo preliminar das escadarias ..................................................................................... 180 Fig. 121: Estudo preliminar da rampa .............................................................................................. 181 Fig. 122: Comportamento estrutural ................................................................................................ 182 Fig. 123: Diagrama do sistema estrutural ........................................................................................ 183 Fig. 124: Estudo da influência dos pilares em V no projeto ......................................................... 184 Fig. 125: Estudo da influência dos pilares em V no projeto ......................................................... 185 Fig. 126: Estudo preliminar da passarela entre os blocos ............................................................. 186 Fig. 127: Estudo do sistema estrutural da passarela ...................................................................... 187 Fig. 128: Estudo preliminar do paisagismo ...................................................................................... 189 Fig. 129: Modulação do piso............................................................................................................. 190 Fig. 130: Estudo preliminar do piso ................................................................................................... 191 Fig. 131: Estudo dos cobogós de policarbonato ........................................................................... 192 Fig. 132: Estudo da modulação dos painéis................................................................................... 193 Fig. 133: Modulação dos painéis da fachada ............................................................................... 193 Fig. 134: Estudo preliminar do guarda-corpo ................................................................................. 194 Fig. 135: Modulação do guarda-corpo .......................................................................................... 195 Fig. 136: Estudo preliminar do guarda-corpo da passarela ........................................................ 196 Fig. 137: Estudo preliminar do guarda-corpo da passarela ........................................................ 197 Fig. 138: Praça das Artes .................................................................................................................... 239 Fig. 139: Mercado Municipal............................................................................................................. 240 Fig. 140: Rio Tamanduateí ................................................................................................................. 243 Fig. 141: Mercado Municipal e Avenida Senador Queirós .......................................................... 244

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LISTA DE TABELAS Tabela 1: Principais parâmetros de ocupação do solo da ZC ..................................................... 53 Tabela 2: Ficha técnica da Praça das Artes. ................................................................................... 94 Tabela 3: Ficha técnica do Cais do Sertão Luiz Gonzaga .......................................................... 108 Tabela 4: Ficha técnica do Centro Administrativo de Tallin ........................................................ 118 Tabela 5: Ficha técnica do CCSP. ................................................................................................... 130 Tabela 6: Áreas do projeto ................................................................................................................ 198 Tabela 7: Índices urbanísticos do projeto ....................................................................................... 199

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LISTA DE SIGLAS ABC - municípios de Santo André, São Bernardo do Campo e São Caetano BIG - Bjark Ingels Group CA - coeficiente de aproveitamento CAbas - coeficiente de aproveitamento básico CAmax - coeficiente de aproveitamento máximo CAmin - coeficiente de aproveitamento mínimo ccNe - Centro Cultural Nordeste CCSP - Centro Cultural São Paulo CET - Companhia de Engenharia de Tráfego CPDOC - Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea CPmax - cota-parte máxima CPmin - cota-parte mínima GAB - gabarito de altura máxima CPTM - Companhia Paulista de Trens Metropolitanos DEINFO - Departamento de Produção e Análise de Informação DEUSO - Coordenadoria de Legislação de Uso e Ocupação do Solo DPE - Defensoria Pública do Estado de São Paulo FCHT - Fundação Centro Tecnológico de Hidráulica GTD - Gerência Técnica do Censo Demográfico IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IPHAN - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional MASP - Museu de Arte de São Paulo

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METRO - Companhia do Metropolitano de São Paulo N1 - Via Estrutural de Nível 1 N2 - Vias Estruturais de Nível 2 N3 - Vias Estruturais de Nível 3 QA - quota ambiental PE - Pernambuco SEADE - Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados SESC - Serviço Social do Comércio SF - Secretaria da Fazenda SMC - Secretaria Municipal de Cultura SME - Secretaria Municipal de Educação SMS - Secretaria Municipal da Saúde SMSP - Supervisão Geral de Abastecimento SMSU - Secretaria Municipal de Segurança Urbana SMT - Secretaria Municipal de Mobilidade e Transportes SMUL - Secretaria Municipal de Licenciamento SP - São Paulo SPTrans - São Paulo Transporte SSP - Secretaria da Segurança Pública SVMA - Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente TO - taxa de ocupação TP - taxa de permeabilidade ZC - Zona de Centralidade ZEIS - Zona Especial de Interesse Social

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SUMÁRIO INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 25 1. CULTURA ........................................................................................................................................ 31 2. ESTUDOS URBANOS ....................................................................................................................... 49 2.1. Legislação e análise urbana ....................................................................................................... 52 2.2. Leitura da paisagem urbana....................................................................................................... 76 2.3. Análise do lote e entorno ............................................................................................................. 84 3. ESTUDOS DE CASO ........................................................................................................................ 93 3.1. Praça das Artes .............................................................................................................................. 93 3.1.1. Ficha técnica .............................................................................................................................. 94 3.1.2. Inserção urbana ......................................................................................................................... 94 3.1.3. Implantação ............................................................................................................................... 98 3.1.4. Forma: Volume e Paisagem ..................................................................................................... 99 3.1.5. Função: Programa e Fluxograma .......................................................................................... 102 3.1.6. Estrutura: Análise estrutural...................................................................................................... 105 3.2. Cais do Sertão Luiz Gonzaga .................................................................................................... 107 3.2.1. Ficha técnica ............................................................................................................................ 108 3.2.2. Inserção urbana ....................................................................................................................... 108 3.2.3. Implantação ............................................................................................................................. 109 3.2.4. Forma: Volume e Paisagem ................................................................................................... 112 3.2.5. Função: Programa e Fluxograma .......................................................................................... 114 3.2.6. Estrutura: Análise estrutural...................................................................................................... 116 3.3. Centro Administrativo de Tallin .................................................................................................. 117 3.3.1. Ficha técnica ............................................................................................................................ 118 19


3.3.2. Inserção urbana ....................................................................................................................... 118 3.3.3. Implantação ............................................................................................................................. 120 3.3.4. Forma: Volume e Paisagem ................................................................................................... 122 3.3.5. Função: Programa e Fluxograma .......................................................................................... 124 3.3.6. Estrutura: Análise estrutural...................................................................................................... 126 3.4. Centro Cultural São Paulo (CCSP) - visita técnica ................................................................. 129 3.4.1. Ficha técnica ............................................................................................................................ 130 3.4.2. Inserção urbana ....................................................................................................................... 130 3.4.3. Implantação ............................................................................................................................. 133 3.4.4. Forma: Volume e Paisagem ................................................................................................... 134 3.4.5. Função: Programa e Fluxograma .......................................................................................... 137 3.4.6. Estrutura: Análise estrutural...................................................................................................... 141 4. PROJETO ...................................................................................................................................... 147 4.1. Partido arquitetônico .................................................................................................................. 147 4.2. Reconfiguração do espaço urbano ........................................................................................ 147 4.2.1. Requalificação urbana ........................................................................................................... 147 4.2.2. Integração urbana................................................................................................................... 150 4.2.3. Fruição pública ......................................................................................................................... 153 4.2.4. Implantação e masterplan ..................................................................................................... 153 4.3. Volumetria..................................................................................................................................... 154 4.3.1. Concepção volumétrica ........................................................................................................ 154 4.3.2. Cheios e vazio / Horizontalidade ........................................................................................... 162 4.3.3. Conforto térmico (insolação e ventilação) ......................................................................... 165 4.4. Setorização e programa ............................................................................................................ 166

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4.4.1. Setorização ................................................................................................................................ 166 4.4.2. Programa ................................................................................................................................... 167 4.4.3. Áreas de convivência.............................................................................................................. 175 4.5. Circulação .................................................................................................................................... 176 4.5.1. Acessos ....................................................................................................................................... 176 4.5.2. Circulação horizontal............................................................................................................... 177 4.5.3. Circulação vertical e conexões............................................................................................. 179 4.6. Sistema estrutural ......................................................................................................................... 182 4.6.1. Sistema estrutural do centro cultural ..................................................................................... 182 4.6.2. Sistema estrutural da passarela.............................................................................................. 187 4.7. Paisagismo .................................................................................................................................... 188 4.8. Modulações.................................................................................................................................. 190 4.8.1. Modulação do piso .................................................................................................................. 190 4.8.2. Modulação dos painéis da fachada .................................................................................... 192 4.8.3. Modulação do guarda-corpo ............................................................................................... 193 4.8.4. Guarda-corpo da passarela .................................................................................................. 195 4.9. Áreas do projeto e índices urbanísticos ................................................................................... 198 4.9.1. Áreas do projeto ....................................................................................................................... 198 4.9.1. Índices urbanísticos .................................................................................................................. 199 4.10. Implantação............................................................................................................................... 201 4.11. Plantas ......................................................................................................................................... 203 4.12. Cortes .......................................................................................................................................... 219 4.13. Elevações .................................................................................................................................... 223 4.14. Detalhe construtivo ................................................................................................................... 225 4.15. Perspectivas................................................................................................................................ 227

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4.16. Maquetes .................................................................................................................................... 235 CONCLUSÃO................................................................................................................................... 241 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................................... 245

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INTRODUÇÃO


Fig. 1 (capa anterior): Escultura em barro de Severino Vitalino. (http://www.artesanatodepernambuco.pe.gov.br/pt-BR/mestres/severino-vitalino-mestre/mestre, acesso em 17/11/19). Fig. 2: Cena do filme O Homem que Virou Suco, de 1979 (direção de João Batista de Andrade), ilustrando a presença do nordestino em relação a sociedade paulista. (http://almanaquevirtual.com.br/o-homem-que-virou-suco/, acesso em 17/11/19).


INTRODUÇÃO Vivemos em uma cidade multicultural, influenciada pela presença das mais diversas culturas do país e do mundo. No entanto, mesmo contribuindo para esse mosaico social, muitas culturas são relegadas à margem da cidade, subestimadas e desvalorizadas. A cidade de São Paulo, ao longo da história, foi moldada pela presença das mais diversas culturas, se sobrepondo aos povos indígenas já presentes na antiga região de São Paulo de Piratininga. Inicialmente, a cidade foi formada pela presença de portugueses e africanos ainda no período colonial, porém, com o fim da escravidão, a sociedade paulistana se viu diante de um novo e grande fluxo migratório. No fim do século XIX os empresários paulistas necessitavam de mão de obra para as imensas plantações de café e centros industriais, e com isso ocorre a entrada de diversos povos europeus e asiáticos na cidade, redefinindo dramaticamente a população urbana. No entanto, com a ascensão financeira desses povos, o mercado se vê novamente necessitado de trabalhadores, e como solução a isso se inicia o grande fluxo de habitantes do nordeste brasileiro, ocupando as periferias da cidade e contribuindo ainda mais para a riqueza cultura e social da cidade. E ainda hoje continua a ocorrer na metrópole a chegada de diversos outros povos, inclusive bolivianos, sírios e nigerianos, ampliando as matizes culturais e demonstrando que a metamorfose urbana da cidade continua pujante. Um dos povos que mais contribuíram para a diversidade cultural de São Paulo foram os nordestinos, presentes, sobretudo, nas regiões dos extremos leste e sul da cidade. Essa riqueza cultural é ainda mais intensa pelo fato do próprio Nordeste ser uma região diversificada, onde cada estado possui cultura, sotaque e gastronomia próprios. Chegando à cidade mais intensamente entre os períodos do governo Vargas e início

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da década de 1990, a fim de trabalhar em indústrias e posteriormente na construção civil e serviços, essa população foi obrigada a viver às margens da cidade, habitando regiões afastadas do centro e de seus benefícios, longe da elite e vista por muitos apenas como trabalhador braçal e com pouco valor intelectual. Grande parte dessa exclusão ocorre, principalmente, devido à políticas que pouco contribuíram para a integração adequada dessa população à cidade, seja através de mecanismos sociais de desvalorização cultural ou de poucos investimentos em políticas urbanas de inclusão e requalificação das regiões já habitadas. Tudo isso, junto com a ignorância a respeito da cultura e história dos povos nordestinos, resulta em um amplo quadro de preconceito, estereótipos, desinformação e desinteresse, contribuindo ainda mais para a exclusão desse povo e definindo uma barreira urbana e social entre as diversas culturas e regiões presentes na cidade de São Paulo. A arquitetura não tem apenas por função proporcionar um edifício, mas além de tudo tem por finalidade transformar a sociedade e integrar a cidade, contribuindo para o seu desenvolvimento e devendo ser justa para todos. Sendo assim, o projeto arquitetônico proposto tem como uma de sua finalidades principais aproximar realidades distintas, proporcionando que a sociedade paulista redescubra a cultura nordestina, mas dessa vez de forma mais completa e realista, desmistificando conceitos equivocados já tão saturados e totalmente excludentes. Também tem como um de seus principais objetivos fazer com que a sociedade perceba a importância da população nordestina no cenário cultural e como esse povo contribuiu para a cidade se tornar a maior e mais importante metrópole brasileira. Outro ponto de grande relevância, e talvez o mais importante, é apresentar a cultura nordestina às demais culturas presentes na cidade, integrando-as e respeitando cada peculiaridade. Sendo assim, o projeto propõe-se a criar um centro cultural aberto a toda a cidade,

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capaz de evidenciar a cultura nordestina através de exposições artísticas, música, literatura, gastronomia, além de diversas outras manifestações culturais e históricas associadas ao Nordeste. Além de tudo, o projeto será fundamental para revitalizar a região onde se encontra, transformando o entorno e ampliando a dinâmica cultural da cidade como um todo. Além de priorizar a cultura em si, um centro cultural pode ser definido como um espaço capaz de informar e discutir os mais diversos temas, de forma dinâmica e democrática. Sendo assim, também tem por finalidade proporcionar espaços de múltiplo uso e integração sociocultural, através de debates, atividades, exibições e diversas manifestações populares, requalificando o ambiente urbano no entorno e definindo novos fluxos culturais na cidade. Para que isso ocorra será fundamental a criação de espaços capazes de atender todas as camadas da população, com lazer, informação e aprendizado, simultaneamente, proporcionando, além de tudo, manifestações artísticas populares e comércio de mercadorias oriundas da cultura nordestina. Também é importante salientar a importância do projeto dentro do contexto urbano, valorizando a permeabilidade de pedestres, amenização de impactos sociais, devido às barreiras urbanas existentes na região, melhoria do fluxo viário no entorno e requalificação urbana do bairro do Brás, região central, onde o projeto localiza-se, próximo a diversos outros edifícios de grande importância cultural, como o Mercado Municipal, o SESC Parque Dom Pedro II e o Museus Catavento, ampliando as opções de cultura e lazer e definindo a região como um importante polo cultural da cidade. Quanto à escolha do terreno, foi cogitado, inicialmente, o bairro de São Miguel Paulista, região localizada no extremo leste da cidade, que abriga um grande número de

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famílias nordestinas e com poucas ofertas culturais. No entanto, a escolha dessa região, mesmo proporcionando mais opções de cultura a seus habitantes, ainda não conseguiria resolver o problema a que de fato se propõe, uma vez que manteria a cultura nordestina afastada do centro e pouco contribuindo para a integração cultural da cidade e diminuição do preconceito. Tendo isso em vista, a opção foi definir uma região no centro da cidade, que apresentasse diversos problemas urbanos, assim optou-se por duas quadras localizadas no bairro do Brás, vizinhas à avenida do Estado e do rio Tamanduateí. A região encontra-se bastante degrada e com muitos casos de violência, mesmo estando localizada próximo a importantes centros de comércio, diversas opções de mobilidade urbana e centros de cultura e lazer. No entanto, mesmo com toda a infraestrutura e equipamentos urbanos, a região ainda encontra-se bastante degrada, necessitando urgentemente de políticas capazes de ampliar o movimento sociocultural da região, nos mais diversos horários. Quanto aos lotes onde se localizará o projeto, atualmente ainda existem construções, porém bastante degradas e a grande maioria voltada para comércio diurno e estacionamento, contribuindo para um baixo fluxo de pedestres a noite e aos fins de semana. Assim, essas edificações serão desapropriadas e o comércio existente mobilizado, eventualmente, para o próprio centro cultural. Dessa forma, proporciona-se um empreendimento cultural capaz de revitalizar seu entorno, ampliar o fluxo constante de pedestres, desmistificar preconceitos e estereótipos, ampliar as relações socioculturais e, sobretudo, valorizar as tradições de um povo intimamente conectado à história da cidade de São Paulo.

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CULTURA


Fig. 3 (capa anterior): Presença da cultura nordestina no centro da cidade de São Paulo. (Foto de Luis Nascimento - https://medium.com/@luisfelipe_71676/ s%C3%A3o-paulo-em-fotos-5b3c63607ff0, acesso em 17/11/19). Fig. 4: Xilogravura como forma de expressão artística do nordeste - xilogravura de J. Borges. (http://historiasecenariosnordestinos.blogspot.com/2013/03/j-borges-e-xilogravura-pernambucana.html, acesso em 17/11/19).


1. CULTURA Para muitas pessoas, pode ser difícil sair da sua terra de origem rumo ao desconhecido, à cidade grande industrializada, começar tudo de novo. No entanto, esse novo se apresenta como esperança de tempos melhores, de desenvolvimento, de segurança e de conforto. Ainda no final do século XIX e início do XX, o Brasil acolhe um dos maiores fluxos migratório do mundo, pois “as transformações ocorridas na dinâmica da economia brasileira – particularmente a partir da expansão da cafeicultura na região Sudeste – ressignificaram os interesses pela imigração” (PAIVA, 2013, p.36), mudando drasticamente a cultura das principais cidades brasileira, sobretudo a cidade de São Paulo1. Nesse momento de intensos fluxos imigratórios, a cidade viveu seu primeiro surto industrial, baseado sobretudo nas indústrias têxteis e alimentícias, que ocuparam as várzeas por onde passavam as ferrovias, constituindo as grandes regiões operárias de São Paulo: as orlas ferroviárias no leste, oeste e sudeste. Nesses bairros – Lapa, Bom Retiro, Brás, Pari, Belém, Mooca, Ipiranga – formaram-se também as primeiras colônias de imigrantes. (ROLNIK, 2017, p.21).

As políticas da época visavam basicamente inserir esses imigrantes da indústria cafeeira, sendo função do governo estadual arcar com os custos do transporte desde o Porto de Santos até o destino final2, ficando claro o interesse político no fluxo imigratório. No entanto, esse cenário começa a mudar a partir da década de 1930, devido principalmente a crise da cafeicultura, o refluxo da imigração, políticas de incentivo a

É importante salientar que a cidade de São Paulo, até então sem muito protagonismo no restante do país, já possui influências de diversas outras culturas, as quais se podem citar a indígena, que já habitavam a região antes mesmo da colonização, e a portuguesa e africana, advindos ainda no período colonial. 2 Odair da Cruz PAIVA, Histórias da (I)migração, p.50. 1

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entrada de trabalhadores nacionais em São Paulo e controle imigratório do governo Vargas. Considerando esses fatores e visando baratear os custos da produção do café, surge uma nova mão de obra, mais acessível e economicamente mais viável, os trabalhadores nacionais, sobretudo os nordestinos 3. E novamente a política é autor decisivo dessa transformação, pois “após os anos 30, o governo criou a Inspetoria do Migrante, pois a necessidade de mão-de-obra no Sudeste era muito grande. Este órgão fazia a seleção de trabalho e fornecia-lhes as passagens, dirigindo-os para São Paulo.” (GALHARDO, 2007, p.3). Porém, a cidade se vê novamente em meio a uma nova alteração da sua cultura, contribuindo drasticamente para o aumento da densidade demográfica e ampliação dos limites físicos urbanos, não sendo culpa exclusiva do fluxo migratório dos nordestinos, mas relegando esses novos habitantes às periferias e favelas que começavam a imergir na então recém-instaurada metrópole, contribuindo para a segregação social e espacial de uma população trabalhadora historicamente sofrida. Problema esse que se observa ainda nos tempo atuais, no qual a base trabalhadora da cidade se encontra cada vez mais afastada do centro urbano. “Foram os o nordestinos que vieram para suprir a carência, construindo as moradias, nas quais não iriam habitar.” (GALHARDO, p.4). A sedução fácil de uma teoria de convivência harmoniosa e divertida é negada, entretanto, pela geografia socioeconômica das origens. Se, no princípio do século XX, o centro da cidade era genuinamente brasileiro e os bairros operários eram estrangeiros, hoje a periferia popular é nordestina. Quanto mais distante e precária a periferia, mais negra, mulata e migrante. (ROLNIK, p.41).

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Ibid, p. 108.

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Considerando isso, torna-se mais difícil a relação dos migrantes nordestinos com a população local, e de certa forma com a cidade como um todo, assim: Os nordestinos são apontados como culpados pela explosão demográfica da cidade, no velho argumento liberal-conservador que “culpa” pessoas, causadoras da “poluição” paulistana. É o modo de ver o nordestino, de forma intolerante e seletiva, que nega as condições estruturantes do crescimento: a cidade aumentou em habitantes, mas aumentou também em riquezas, não estabelecendo vínculos entre os dois crescimentos. (SPOSATI, 2001, p.186 apud (GALHARDO, p.5)4.

Porém, o preconceito e a segregação social dos migrantes na cidade aumentaram ainda mais ao longo dos últimos anos. “Por vezes são compreendidos como intrusos pela sociedade de recepção, dado que adensam e materializam a presença do outro, do estrangeiro, do invasor, daqueles que portam costumes, hábitos e culturas singulares, incômodas ou perigosas.” (PAIVA, p.135). Mas a ausência de políticas públicas eficientes e capazes de solucionar a problemática dos moradores urbanos marginalizados contribui drasticamente para essa segregação e desequilíbrio socioeconômico, surgimento de assentamentos irregulares e, consequentemente, uma cidade menos democrática, na qual: As principais preocupações dos governantes políticos eram equilibrar o orçamento, prover a defesa coletiva, impor obediência a regras universais e a garantia comum do bem-estar individual, além de cuidar da capacidade de produção do capital e da força de trabalho locais, tudo isso combinando com a noção de que as elites econômicas e culturais são de fato tão territoriais quanto o poder político do Estado e, como este, empenhadas em engajar a população residente no território sob soberania estatal. (BAUMAN, 2000, p.105) 4

SPOSATI, Aldaíza. O Desejo de São Paulo. Revista Novos Estudos. São Paulo: CEBRAP, 1996.

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Dessa forma: A própria população urbana, largada a seu destino, encontra soluções para seus maiores problemas. Soluções esdrúxulas é verdade, mas são as únicas que estão a seu alcance. Aprende a edificar favelas nas morrarias mais íngremes fora de todos os regulamentos urbanísticos, mas que lhe permitem viver junto aos seus locais de trabalho e conviver como comunidades humanas regulares, estruturando uma vida social intensa e orgulhosa de si. (RIBEIRO, 1995, p.204)

O preconceito, a princípio, se origina no medo do desconhecido, e assim muitos paulistas viam os nordestinos, como desconhecidos. Dessa forma, aqueles que tanto contribuíram para o desenvolvimento da metrópole se veem marginalizados e vítimas do preconceito da elite paulista, ao contrário dos imigrantes europeus ou japoneses. As representações mais comuns constroem a ideia de uma cidade marcada positivamente pela presença europeia (as ondas migratórias predominantes do século XIX e início do século XX) e “invadida” por nordestinos pobres e analfabetos na segunda metade do século passado. Esse imaginário não tem correspondência com a realidade: por um lado, grande parte dos imigrante europeus chegou analfabeta e em estado de absoluta miséria à cidade; por outro a migração nordestina é muito mais heterogênea do ponto de vista econômico do que o preconceito nos permite ver. Em meio a imensa maioria de trabalhadores da cidade – nas mais diversas atividades e profissões – encontramos nordestinos, mineiros, paulistas, paranaenses... Por que, então, insistir no estereótipo do nordestino “peão”, “doméstica” ou “baiano”? (ROLNIK, p.128).

Isso demonstra que os nordestinos, mesmo sendo um grupo heterogêneo composto por pessoas atuantes nas mais diversas profissões, ainda presencia situações de preconceito e estereótipos em relação às suas origens, ampliando ainda mais as distâncias socioculturais.

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Quanto a presença e localização dos nordestinos na cidade de São Paulo, esses se encontram nas mais diversas regiões, sobretudo em periferias das zonas sul e leste, no entanto “o bairro de São Miguel Paulista foi paulatinamente transformado em território nordestino a partir dos anos 1930” (PAIVA, p.135). Inclusive essa região é marcada por ruas e praças com ligação direta com a cultura nordestina, sobretudo a Praça Padre Aleixo Monteiro Mafra, popularmente conhecida como Praça do Forró, e a Avenida Nordestina. Ocorre também que a presença nordestina foi fundamental e decisiva para a configuração atual da metrópole, penetrando nas mais distintas regiões e constituindo novos territórios na cidade, isso porque: Os territórios da migração nordestina em São Paulo – presentes também em bairros da zona sul, como Santo Amaro – talvez sejam os que absorveram levas sucessivas de migrantes por mais tempo. Ao contrário da migração italiana, espanhola, portuguesa e japonesa, cuja intensidade se circunscreve num período mais restrito, a entrada de nordestinos em São Paulo foi intensa durante mais de quatro décadas. Isso conferiu a esses territórios certa perenidade no ambiente urbano, uma vez que foram retroalimentados por sujeitos oriundos da mesma região. (PAIVA, p.140).

Por apresentar um número maior de nordestinos e consequentemente possuir maiores contornos da sua cultura, esses territórios se tornam mais receptivos e atraentes a novos migrantes que chegarem à cidade. São esses territórios que “possuem a função de manter unidos elementos de ligação do migrante com suas origens ao passo que se distanciam e se transformam no âmbito da sociedade de recepção.” (PAIVA, p.146). E é nesse contexto que as metrópoles tem a oportunidade de adquirir uma população heterogênea e maior riqueza cultural. Na paisagem urbana, particularmente em cidades como São Paulo, a permanência de fluxos migratórios e a consequente inserção de novos sujeitos 35


mantém viva e renovada a presença dos territórios migrantes. Esses territórios nos impõem o desafio (salutar) da convivência com aqueles que consideramos – muitas vezes erroneamente – como “diferentes de nós”. Sua presença nos possibilita a constituição de uma sociedade mais plural, diversa, democrática e tolerante... enfim, mais humanizada. (PAIVA, p.146).

A cultura nordestina, diferente da imagem socioeconômica que muitos imaginam a respeito da região Nordeste, possui uma “diversidade de sons” e uma riqueza cultural multifacetada, mas aberta à inovação5. A cidade de São Paulo possui diversas regiões com oferta de produtos e gastronomia nordestina, entre eles o Largo da Concórdia, no Brás, onde: (...) concentram-se muitas lojas de discos de músicas nordestinas, ponto de encontro de produtores de canções e literatura de cordel; armazéns de comidas e ingredientes vindos de todas as regiões do Nordeste como carne de sol, manteiga de garrafa, condimentos, pinga, pimenta, feijão de corda, rapadura, que se misturam às selas, às sandálias de couro, ao gibão, às ervas, aos remédios da terra, e outros signos nordestinos, expostos à poluição da cidade. (GALHARDO, p.4)

Outro ponto de importante relevância da cultura nordestina é a sua religiosidade, tão forte que se encontra arraigada no cotidiano do povo e manifestações artísticas, inclusive em esculturas de barro, literatura de cordel e cantorias6, próprios e proeminentes da região Nordeste. Pode-se deduzir então que muito do preconceito em torno dos nordestinos ocorre do fato de não se conhecer profundamente sua cultura e história, ou ainda de ignorar sua Soledad GALHARDO, Os conterrâneos nordestinos na metrópole de São Paulo: seus símbolos, sua memória e seus mitos, p.12. 6 Manifestação artística na qual “os cantadores alternam-se na criação de estrofes sobre uma melodia previamente conhecida por ambos, e acompanham musicalmente um ao outro com o dedilhar da viola.” (SAUTCHUK, 2009, p.10). 5

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importância à sociedade brasileira como um todo, e mais especificamente à sociedade paulistana, que como se pode perceber, possui os nordestinos como um dos principais pilares da sua formação cultural. Tendo isso em mente e percebendo o abismo sociocultural que separa a cultura nordestina dos demais habitantes da capital paulista, propõe-se não simplesmente um centro cultural, mas um projeto arquitetônico que seja capaz de integrar esses dois mundos tão distintos e tão próximos, que possuem a cidade como elemento comum, logo um centro cultural com a missão de integrar a cidade e as mais diversas culturas urbanas associadas a ela, considerando o fato da cultura paulista sofre mutações constantemente, se alimentando e se atualizando de cada nova cultura que se instala na cidade. “Só a antropofagia nos une. Socialmente. Economicamente. Filosoficamente.” (ANDRADE, 1970, p.13). Dessa forma, ao receber as mais diversas culturas, a cidade amplia sua diversidade cultural, e é justamente o fato de absorver novos contextos socioculturais que a cidade reafirma sua posição de metrópole cada vez mais conectada e constituída por diferentes povos, de diferentes partes do mundo. Assim, propõe-se eliminar, senão minimizar, a ignorância sobre a cultura de um povo que tanto contribuiu à riqueza cultural da metrópole paulistana. Contudo, migrar para um novo território, com uma sociedade distinta, muitas vezes requer abandono de diversos fatores intrínsecos à sua cultura, ou seja, muitos nordestinos, ao chegar à cidade de São Paulo, se veem obrigados a integrar-se e absorver novas tradições, se distanciando da sua identidade cultural de origem. Porém: (...) A desculturização é perda, mas também doação. O novo meio ambiente opera como uma espécie de detonador. Sua relação com o novo morador se manifesta dialeticamente como territorialidade nova e cultura nova, que interferem reciprocamente, mudando-se paralelamente territorialidade e cultura, e mudando o homem. Quando essa síntese é percebida, o processo

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de alienação vai cedendo ao processo de integração e de entendimento, e o indivíduo recupera a parte do seu ser que parecia perdida. (SANTOS, 2007, p.83)

Um centro cultural vai além de transformar a paisagem e os marcos da cidade, pois um dos seus objetivos mais importante é justamente a integração entre os mais diversos grupos habitante da região que o circunda, pois: (...) Os espaços culturais permitem a descoberta do conhecimento e o acesso às atividades relativas à informação, discussão e criação. O centro de cultura é um espaço que deve construir laços com a comunidade e os acontecimentos locais, funcionando como um equipamento informacional, no qual proporciona cultura para os diferentes grupos sociais, buscando promover a sua integração. (NEVES, 2013, p.1)

Sendo assim, pode-se definir que informação, discussão e criação são as principais funções de um centro cultural, traduzidos através de um projeto de arquitetura e arranjos de urbanismo, adequados e capazes de promover sua viabilidade. O centro cultural: (...) pode ser definido pelo seu uso e atividades nele desenvolvidas. Podendo ser tanto um local especializado, de múltiplo uso, proporcionando opções como consulta, leitura em biblioteca, realização de atividades em setor de oficinas, exibição de filmes e vídeos, audição musical, apresentação de espetáculos, etc, tornando- se um espaço acolhedor de diversas expressões ao ponto de propiciar uma circulação dinâmica da cultura. (NEVES, 2013, p.2)

Fica evidente a real função do objeto arquitetônico apresentado, transformar a sociedade, criando espaços suficientemente capazes de promover essa transformação e causando o mínimo de impacto possível no contexto urbano, respeitando cada singularidade entorno e a identidade da cidade onde está inserido. Em relação a esse espaço tão importante no contexto arquitetônico e urbano, e o que realmente define a

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arquitetura pode ser sintetizado no fato de que “ser o protagonista da arquitetura não é apenas arte nem só imagem de vida histórica ou de vida vivida por nós e pelos outros; é também, e sobretudo, o ambiente, a cena onde vivemos a nossa vida.” (ZEVI, 2009, p.28). Logo, não importante tanto o edifício construído, mas os espaços por ele delimitados, pois “são os homens que vivem os espaços, são as ações que neles se exteriorizam, é a vida física, psicológica, espiritual que decorre neles. O conteúdo da arquitetura é o seu conteúdo social.” (ZEVI, p.189). E esses espaços devem integrar- se harmoniosamente à metrópole, sendo acessíveis, livre e receptivo para aqueles que estejam fora e acolhedor, seguro e interessante para aqueles que estejam dentro. E dessa forma, não apenas expondo a cultura, mas ensinando a todos as mais diversas faces e nuances dessa cultura. O espaço está para a arquitetura concebida como arte, como a literatura está para a poesia; constitui sua prosa e lhe dá a caracterização. Para falar em termos de crítica formalista, é objeto dos símbolos visuais mais adequados, mais ajustados à arquitetura. Principalmente porque no espaço coincidem vida e cultura, interesses espirituais e responsabilidade sociais. Porque o espaço não é só cavidade vazia, “negação de solidez”: é vivo e positivo. Não é apenas um fato visual: é, em todos os sentidos, e, sobretudo num sentido humano e integrado, uma realidade vivida. (ZEVI, p.217).

Além disso, é de grande importância a definição do centro cultural como marco urbano e ponto de encontro, um espaço aberto e conectado com o meio em que está inserido e um espaço público disponível a toda população. Isso se faz ainda mais necessário devido à temática do centro cultural de expor e informar sobre a cultura nordestina, minimizando preconceitos, pois a cultura nordestina tem como símbolos mais evidentes a participação popular e a integração social. E a cidade de São Paulo há muito já convive com esse tipo de arquitetura, conectada à tradição racionalista e abstrata que:

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(...) teve seu modelo culminante na audácia estrutural e no espaço sem hierarquia do Museu de Arte de São Paulo (MASP, 1957-1968), de Lina Bo Bardi. (...) Para o mesmo espaço, Reidy havia concebido, em 1952, um Museu de Artes Visuais de planta triangular, com uma divisão e uma planta baixa similares àquelas do projeto que Lina Bo Bardi criaria logo em seguida. Para o MASP, a arquiteta brasileira de origem italiana criou uma museografia impactante e polêmica, radicalmente popular e realista, concebida quando voltou de sua estância em Salvador, na Bahia (...) (MONTANER, 2003, p.39)

Na cidade de São Paulo já existem diversos locais relacionados à cultura nordestina, principalmente casas de show e lazer7, restaurantes e comércios de produtos nordestinos, as chamadas “casas do norte”. No entanto, esses estabelecimentos não conseguem solucionar adequadamente o problema da integração cultural, uma vez que são voltados quase que exclusivamente para os próprios nordestinos ou apenas buscam lucros através de suas atividades culturais, não expondo efetivamente os artistas e costumes da cultura nordestina e a forma como interagem com a metrópole. As casas de show já não apresentam com tanta frequência cantores oriundos da tradição nordestina, artistas plásticos e escultores são apresentados apenas eventualmente, e muitas vezes fora do contexto que os originou, artesanato e produtos gastronômicos são apenas para comercialização e muitas outras manifestações culturais ainda são ignoradas ou desconhecidas por grande parte da cidade. Considerando tudo isso, se faz de fundamental importância a criação de um centro cultural na cidade de São Paulo capaz de evidenciar todos os fatores da cultura e história nordestina dentro da sociedade paulista, pois “quem entra num centro cultural deve viver experiências significativas e rever a si próprio e suas relações com os demais.” (NEVES, 2013, p.3). Assim, um centro cultural

Soledad GALHARDO, Os conterrâneos nordestinos na metrópole de São Paulo: seus símbolos, sua memória e seus mitos, p.6. 7

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deve ser um ambiente de troca de conhecimentos e tradições, de informação e aprendizagem, um local onde as pessoas possam conviver com diferentes culturas, ampliando as relações humanas e reforçando a importância da diversidade sociocultural. Contudo, a cultura nordestina é intrínseca à paulista e os nordestinos são elementos vitais da sociedade paulistana. Logo, de acordo com Renata Ribeiro Neves (2013, p.3): Existe a precisão de assegurar a relação entre centro de cultura e a realidade local, não havendo a possibilidade de se fazer cultura distanciada e fora da realidade onde se encontram os grupos sociais, deve-se, portanto, obter vínculos com a comunidade e os acontecimentos locais. Entretanto, esses espaços precisam estar antenados com as necessidades e formulações culturais características do mundo contemporâneo, com a importância da informação e do conhecimento, atuando também como equipamento informacional.

Sendo assim, é fundamental que o centro cultural, sobretudo enquanto objeto expositor, consiga informar e atualizar a sociedade, revelando uma cultura pouco vivenciada pela população. “O ritual de acesso ao museu comporta a rememoração da experiência primordial e do significado inicial: uma caixa que é franqueada para que, sob um olhar atento, vá se revelando um saber escondido até aquele momento.” (MONTANER, p.28). Tendo isso em mente, as principais funções do centro cultural podem ser organizadas através de três requisitos básicos: informar, discutir e criar, reunindo um público heterogêneo e promovendo ação cultural. A arquitetura de centros culturais só se justifica através da sua interação com a sociedade, possibilitando a criação de espaços democráticos e condizentes com as funções sociais a que se dispõem, viabilizados através de alguns atributos, no qual:

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O primeiro atributo está relacionado às existências de vários acessos, diminuindo a inibição das pessoas, provocado pelo sentimento de invasão que pode acontecer se um espaço não lhe for receptivo. A idéia de acessibilidade se estende, deparando-se com acessos em continuidade com os espaços públicos, assim facilitando a ligação para qualquer parte da edificação. A democratização dos espaços no centro de cultura advém da sua organização em volta de um espaço central – praça, traduzido em um local de convívio “democrático e fluído”. O terceiro relaciona-se à integração visual dos ambientes e suas respectivas atividades, um requisito ambiental muito rico e importante, já que, provoca a participação no espaço programado. (NEVES, p.6)

Dessa forma, percebe-se então a importância de um programa de necessidades eficiente e capaz de promover uma área de convivência e reunião do público, mesmo porque: A reunião do público disperso em locais como ateliês de exposição, auditório ou em qualquer outra atividade cultural, tornou-se uma questão desafiadora na organização espacial dos centros de cultura. Para isso, é exigido no programa de necessidade do espaço cultural, ambientes que possam provocar a reunião dos usuários, por meio de áreas de convivência (restaurantes, lanchonetes, cafés, etc.), transpassando harmonia através de apresentações artísticas e horários de estudo e pesquisa. Esses espaços podem funcionar fora do horário de atendimento do centro, tornando-se, assim, flexíveis, canalizando-o em um ponto centralizador de encontros. (NEVES, p.7)

Essa análise é fundamental para a definição dos espaços necessários a um centro cultural, determinando o programa de necessidades, que deve ser desenvolvido e organizado, conforme os requisitos básicos do centro cultural de informar, discutir e criar, de forma que, de acordo com Neves (2013, p.10): As atividades programáticas exercidas nos espaços culturais resultam em uma composição de ambientes como: bibliotecas, salas de Internet, teatro, salas 42


de exposição, entre outros (verbo informar); espaços de convivência e eventos, lanchonetes, salas de reunião, salas de jogos, etc, (verbo discutir); salas de múltiplo uso, ateliês, oficinas de arte, etc, (verbo criar); podendo contar também com ambulatórios, consultórios de odontologia, além de quadras de esportes e piscinas. Para atrair mais freqüentadores, o centro cultural deve se adaptar à tecnologia virtual, com salas de Internet, cibercáfe, ambientes interativos, galerias multimídias e temáticas.

Outro fator fundamental à implementação de um centro cultural é o partido arquitetônico e a forma como se adequa à topografia e ao entorno urbano. Assim: A topografia, a localização do terreno, exerce uma forte influência na concepção do partido arquitetônico, o qual proporciona destaque para as melhores fachadas, implantação de ambientes no subsolo ou com vistas panorâmicas para o exterior. Com essa influência, os centros culturais possuem um equilíbrio formal, tanto na horizontalidade quanto na verticalidade, gera um diálogo com o entorno. (NEVES, p.10).

Todos esses fatores refletem diretamente na forma arquitetônica do centro cultural, além dos espaços internos e externos, assim como na volumetria como um todo, que devem ser pensadas de acordo com as necessidades urbanas e do entorno imediato, valorizando o contexto sociocultural a que se dispõe, constituindo um novo marco urbano e cultural da cidade. Isso não deve ser traduzido apenas como elemento estético, pois a função da arquitetura é ainda mais ampla, sendo importante salientar sua importância no que se refere às transformações urbanas e as novas formar de conectar culturas, características indispensáveis do centro cultual em relação à formação e integração do povo nordestino na capital paulista. Dessa forma, então:

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(...) a arquitetura do museu se transforma em uma gigantesca escultura; espera um público que busca um objeto singular que cause impacto, surgindo do mundo dos seres vivos ou do repertório onírico do subconsciente; contentores que, por eles mesmos, se convertam em espetáculo arquitetônico, em estímulo para os sentidos. (MONTANER, 2003, p.26).

Outro fator importante dos centros culturais é sua implantação dentro do contexto urbano e a forma de interação entre ambos, pois: A grande maioria dos centros culturais estão localizados nos centros urbanos, em locais estratégicos que visam o crescimento da cidade, proporcionando melhorias para os bairros que o circundam. Promovendo a renovação de lugares ditos degradados, integrando culturalmente com as comunidades. Os novos edifícios buscam a sua implantação em locais de fácil acesso, tendo como observação os fatores históricos e as características do entorno. (NEVES, p.10).

A arquitetura é capaz de promover novas formas de se conectar com a cidade e ampliar as já existentes, criando novas formas de experimentar o urbanismo. Com isso: (...) Com o tempo, a chave do museu consistiu em conferir urbanidade, representatividade e vida coletiva. Os museus e a coleções converteram-se em polo de atração, turístico, mas decisivo, enquanto também se consolidavam como elemento básico para conseguir que os cidadãos se sentissem membros de uma cidade que dispõe de cultura e capacidade recreativa. (MONTANER, p.150)

Dessa forma e pensado em facilitar a acessibilidade e promover melhorias para o entorno, o centro cultural se localizará no bairro do Brás, região central da cidade que atualmente se encontra bastante degrada, mas que possui um forte valor histórico e de fácil acesso, sendo assim o “uso do edifício e do espaço público implica na verificação das condições de reabilitação do seu entorno imediato” (GUIMARAENS e IWATA, 2001), o que

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eventualmente ocorrerá com a implantação do edifício. Além disso, o terreno onde se localizará o centro cultural está próximo de importantes ícones culturais da cidade, como o Mercado Municipal, o SESC Parque Dom Pedro II, o Museu Catavento, entre outros, contribuindo, futuramente, para a implementação de um novo eixo cultural na região central da cidade de São Paulo. Contudo: O museu e o centro cultural vieram, sob inúmeros pontos de vista, transformar, de novo, o centro de cidade em praça de comércio. Nesta praça, o mercado de arte e cultura resgata uma dimensão apenas aparentemente perdida: aquela que, ao estabelecer o constante uso do "espírito", garante a sobrevivência dos artistas ao mesmo tempo em que assegura a ordem futura. De outro lado, é inegável que as mudanças sociais, políticas e econômicas induzindo a dinâmica da cultura e de seus suportes físico-espaciais, encontraram, nas áreas centrais em arruinamento, os lugares ideais para o exercício da construção de novas expressões do dito "quanto mais se muda mais se permanece". (GUIMARAENS e IWATA, 2001).

Porém, para que a implantação do centro cultural seja efetivada, se faz necessário a utilização de duas quadras e uma rua, a qual eventualmente funcionará como permeabilidade urbana, exclusiva a pedestres. Nessas quadras, que já são objeto de interesse público, pois, se encontram dentro dos limites da Operação Urbana Centro, existem edificações bastante degradas ou subutilizadas, com presença de comércios, que poderão ser integrados no próprio projeto arquitetônico. Essas edificações, a fim de uma plena implantação do projeto e requalificação das quadras, serão desapropriadas, mas como mencionado, integradas ao centro cultural. Sendo assim, o objeto arquitetônico tem função de revitalizar e reorganizar a seu entorno, repensando a forma como as pessoas consomem e manifestam a cultura. Logo, os fatores responsáveis peça deterioração do bairro devem ser analisados e supridos adequadamente pelo projeto proposto.

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Por fim, é fundamental

salientar a grande importância de transformação

sociocultural e urbana promovidas pelo centro cultural, contribuindo à integração da sociedade paulista, difundindo o respeito, inclusão, conhecimento e valorização das tradições nordestinas e história do seu povo, inclusive, perante a diversidade cultural da cidade, além de contribuir para o desenvolvimento e requalificação de umas das regiões mais importantes do centro da cidade. A arquitetura deve ser concebida como elemento transformador e fundamental às transformações ocorridas dentro do contexto urbano, contribuindo para o desenvolvimento e evolução humana, implementando espaços democráticos e intimamente condizentes com a realidade local e necessidades de sua população. É necessário ter consciência que: A instância de uma moderna história da arquitetura é colocada por todos os fatores vivos do mundo contemporâneo: pelo direcionamento coletivista do pensamento social, pelo nascimento, pela evolução da psicologia científica, pela trágica constatação extraída da experiência de duas guerras de que a própria existência material dos documentos relativos à edificação da nossa cultura arquitetônica depende da solução dos nossos problemas atuais, da moderna crítica figurativa, dos esforços integradores do pensamento filosófico e da identificação, adquirida na teoria quando não nos fatos, entre cultura e sistema de vida; e, sobretudo, pela arquitetura moderna que, aprofundando os problemas espaciais, indica aos historiadores e aos críticos o segredo e realidade da arquitetura. (ZEVI, 2009, p.217)

Dessa maneira, a arquitetura se mostra essencial para a transformação da sociedade, e não apenas como um elemento estético perante a cidade, mas um meio capaz de transformar, promover e ampliar a história e o conhecimento humano e redimensionar os contextos sociais e culturais, respeitando e valorizando as diversidades individuais e coletivas e criando assim uma nova forma de viver a cidade e todos os elementos que a constituem. 46


ESTUDOS URBANOS


Fig. 5 (capa anterior): Imagem de satélite da área do projeto e entorno. (Google Earth, 2019). Fig. 6: Rua próxima a área do projeto e vista de parte do Mercado Municipal. (Arquivo pessoal).


2. ESTUDOS URBANOS A cidade é objeto vivo e mutável, que se adapta constantemente a qualquer transformação ou influência que possa ocorrer na sociedade, e a arquitetura, como objeto da transformação humana, é por si só capaz de transformar o ambiente urbano ao qual se insere, porém, acima de tudo, também é capaz de absorver e adaptar-se às mais diversas influências da cidade onde se localiza. Dessa forma, é fundamental definir o objeto arquitetônico levando em consideração o ambiente urbano e as características socioculturais no qual se insere, realizando para isso diversos estudos urbanos que possam impactar diretamente na concepção projetual e no programa arquitetônico e urbanístico como um todo. Um centro cultural, por possuir características arquitetônicas complexas e dinâmicas consegue, dessa forma, redefinir o contexto urbano e social em diversos níveis. Para tanto, é fundamental definir uma localização coerente e a realização de estudos urbanos que justifiquem sua implantação. Esses estudos são realizados através da análise de mapas, dados estatísticos, legislação urbana, entre outros, de modo a oferecer um quadro geral do ambiente urbano e permitindo um estudo analítico e preliminar do local onde o projeto será implantado. A área do centro cultural equivale a duas quadras localizadas na região central da cidade de São Paulo, mais precisamente no distrito do Brás, mas contíguo ao limite do distrito da Sé, que também será influenciado diretamente com a implantação do projeto (fig. 7 e 8). Para a definição do perímetro da área de estudo são utilizados vias de maior relevância e barreiras urbanas, de modo a proporcionar uma análise mais completa da

49


região e dos equipamentos culturais vizinhos ao centro cultural proposto. Assim, a área de estudo é definida pela linha de trem da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), as ruas Monsenhor Andrade, do Gasômetro e Carneiro Leão, no Brás, a Radial Leste, as ruas Tabatinguera e Quinze de Novembro, na Sé, e a Avenida Prestes Maia, na Luz. Dentro do perímetro encontram-se importantes marcos da cidade, como o Parque Dom Pedro II e a Praça da Sé, o Rio Tamanduateí, a Avenida do Estado e Rua 25 de Março, entre outros, além de diversos pontos de mobilidade urbana e de concentração cultural.

Fig. 7: Mapa de localização do terreno e área de estudo no município de São Paulo. (SF, 2018).

50


51 Fig. 8: Mapa de localização do Terreno. (Adaptado de Google Earth, 2019).


2.1. Legislação e análise urbana Inicialmente, é importante apresentar e analisar o zoneamento da cidade de São Paulo no qual o terreno está inserido, para, a partir disso, efetuar a análise da legislação urbana vigente e dos parâmetros de ocupação do solo. De acordo com o mapa de zoneamento (fig. 9), o terreno encontra-se na ZC (Zona de Centralidade), que de acordo com o Art. 9º, da Lei nº 16.402/16 (Parcelamento, Uso e Ocupação do Solo): (...) são porções do território voltadas à promoção de atividades típicas de áreas centrais ou de subcentros regionais ou de bairros, destinadas principalmente aos usos não residenciais, com densidades construtiva e demográfica médias, à manutenção das atividades comerciais e de serviços existentes e à promoção da qualificação dos espaços públicos (...)

Assim, o local de implantação do projeto é propício à implantação de um centro cultural capaz de abrigar diversos usos, inclusive comercial, e de promover requalificação urbana da região. Ainda de acordo com a Lei nº 16.402/16, a área está inserida no perímetro da Operação Urbana Centro, que “estabelece programa de melhorias para a área central da cidade, cria incentivos e formas para a sua implantação”. Em relação aos parâmetros de ocupação do solo a lei estabelece, no art. 56, os seguintes: coeficiente de aproveitamento (CA), dividido em mínimo (CAmin), básico (CAbas) e máximo (CAmax); taxa de ocupação (TO); gabarito de altura máxima (GAB); recuos mínimos; cota-parte máxima de terreno por unidade (CPmax); cota-parte

52


mínima de terreno por unidade (CPmin)8; taxa de permeabilidade (TP); e quota ambiental (QA)9. A lei também dispõe, no art. 57, sobre a necessidade de “promover melhor relação e proporção entre espaços públicos e privados”, sobretudo através de fruição pública e fachada ativa, por exemplo. Definido o perímetro da zona, onde se encontra o terreno, e os parâmetros estabelecidos, os resultados são apresentados através da seguinte tabela:

Parâmetro de ocupação do solo

Descrição

Zona de Centralidade

CAmin

coeficiente de aproveitamento mínimo

0,3

CAbas

coeficiente de aproveitamento básico

1

CAmax

coeficiente de aproveitamento máximo

2

TO

taxa de ocupação máxima

0,70

GAB

gabarito de altura máxima (metros)

48

CPmax

cota-parte máxima de terreno por unidade

não se aplica

TP

taxa de permeabilidade

0,25

CA

Tabela 1: Principais parâmetros de ocupação do solo da ZC. (Lei nº 16.402, de 22 de março de 2016 - Parcelamento, Uso e Ocupação do Solo).

De acordo com o site Gestão Urbana SP, da Prefeitura de São Paulo “cota parte de terreno corresponde à quantidade de unidades habitacionais segundo unidade de área do terreno. Define a densidade habitacional a partir da relação entre o número de unidades habitacionais a serem idealmente produzidas e a área total do terreno”. 9 O artigo 56 da Lei nº 16.402/16 (Parcelamento, Uso e Ocupação do Solo) explica que a quota ambiental equivale a um conjunto de regras de ocupação que visa qualificar os lotes ambientalmente, adotando como referência a eficácia ambiental de cada lote, enfatizando aspectos de drenagem urbana e cobertura vegetal. 8

53


N

Área do terreno Área de estudo

0

200

400

600

800

Operação Urbana Centro

m

1:11.000

Fig. 9 - Mapa de Zoneamento (SMUL/DEUSO, 2016 / Plano Diretor, 2016)

ZONEAMENTO (Lei nº 16.402, de 22 de março de 2016) ZEIS-3 - Zona Especial de Interesse Social 3 ZC-1 - Zona de Centralidade 1 Praças / Canteiros


Outra análise importante a ser feita acerca do território urbano é em qual área de uso e ocupação do solo o lote está inserido. De acordo com dados disponibilizados pela site GeoSampa, da Prefeitura de São Paulo, a área do projeto encontra-se no perímetro designado Comércio e serviços (fig. 10). Dessa forma, apresenta-se a necessidade de implantar no centro cultural, além de todo o programa relacionado à cultura, áreas voltadas para o comércio, sobretudo de produtos de origem nordestina, agregando potencial de desenvolvimento econômico na região, conhecida como Zona Cerealista devido a forte presença de estabelecimentos de comercialização de grãos e cereais, e valorizando os produtos nordestinos, que também já são encontrados atualmente na região do Brás. No entanto, mesmo com o intenso comércio de grãos presente na região do Brás, já se percebe empreendimentos residenciais modernos, visando criar uma maior diversidade de usos no bairro, e consequentemente transformando a paisagem urbana local. Na figura 12 é possível ver claramente os efeitos dessas transformações, na qual se pode observar a presença de imóveis antigos, destinados, sobretudo, ao comércio de grãos e cerais, sobrepujados à presenças de edifícios residenciais de grande porte. Em relação à verticalização, no mapa de gabarito (fig. 11) é nítida a predominância de edifícios mais altos na região da Sé, com predominância de escritórios, contrapondo com o Brás, que concentra um número maior de comércios e galpões, apresentando gabaritos de menores alturas. Isso ocorre, em grande parte, devido a grande limitação de usos, o que diminui drasticamente a presença de pedestres em horários alternativos - à noite e aos finais de semana, por exemplo.

55


N 0

200

400 m

1:11.000

Área do terreno Área de estudo

600

800

USO E OCUPAÇÃO DO SOLO Residencial vertical baixo padrão Residencial vertical médio/alto padrão Comércio e serviços Indústria e armazéns Residencial e Comércio/serviços

Fig. 10 - Mapa de Uso e Ocupação do Solo (SF, 2016)

Residencial e Indústria/armazéns Comércio/serviços e Indústria/armazéns Equipamentos públicos Escolas Terrenos vagos Outros Sem predominâncias


N 0

200

400

Área do terreno Área de estudo

600

800

m

1:11.000

Fig. 11 - Mapa de Gabarito (SMUL, 2004)

GABARITO DE ALTURA (pavimentos) térreo + térreo + térreo + térreo + térreo + térreo +

1 pav. (até 7m) 2 pav. (até 10m) 3 a 4 pav. (até 16m) 5 a 6 pav. (até 22m) 7 a 8 pav. (até 28m) 9 ou mais pav.


Fig. 12: Zona Cerealista e verticalização do bairro do Brás. (Arquivo pessoal).

No entanto, mesmo possuindo predominância de usos distintos, os bairros da Sé e do Brás apresentam uma baixa densidade demográfica (fig. 13), resultado direto da ausência de áreas voltadas a usos residenciais, mesmo havendo, nos últimos anos, um leve aumento da população total de ambas as regiões, como se pode observar no gráfico da figura 15. Outro fator que é importante salientar é má conservação das áreas verdes presentes na região, sobretudo no bairro do Brás. Grande parte das áreas verdes e inclusive o próprio Rio Tamanduateí, que cruza o centro do perímetro de estudo, resultam mais em problemas do que em melhorais à região, diminuindo drasticamente ofertas de lazer público à população e reduzindo a circulação de pedestres, funcionando como verdadeiras barreiras urbanas (fig. 14). 58


N 0

200

Área do terreno Área de estudo

400

600

800

m

1:11.000

Fig. 13 - Mapa de Densidade Demográfica

DENSIDADE DEMOGRÁFICA (hab./hectare) < 300 300 a 600 600 a 900 900 a 1200 > 1200

(IBGE/DPE/GTD - Gerência Técnica do Censo Demográfico e SMUL, 2010)


í am and uat e Rio T

Largo do Pari

Largo de São Bento Praça Ragueb Chohfi

Parque Dom Pedro II

Praça Fernando Costa

Praça da Sé

N 0

200

400

600

800

Área do terreno

Rio Tamanduateí

Área de estudo

Parques, praças e canteiros

m

1:11.000

Fig. 14 - Mapa de Áreas Verdes

(Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente - SVMA, 2016 / SMUL/DEUSO, 2016)


40.000 30.000 20.000 10.000 Brás

2016

2017

0 2007

2008

2009

2010

2011

2012

2013

2014

2015

Fig. 15: População total. (Fonte: Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados - SEADE).

Duas importantes áreas verdes, vizinhas ao lote, devem ser analisadas mais profundamente. A primeira é o Parque Dom Pedro II, um dos maiores da cidade e localizado na área central da cidade, oferecendo diversas opções de lazer e mobilidade, as quais pode-se citar a estação de metrô e o terminal de ônibus homônimos ao parque. No entanto, mesmo apresentando diversas opções de uso e acessibilidade, o parque se encontra muito degradado e subutilizado, com muitos problemas de abandono o que eventualmente afasta potenciais usuários (fig. 16). A segunda área é o Largo do Pari, lindeira ao lote, mas que eventualmente será incorporada ao projeto, também apresenta situação de pouca manutenção. A área se encontra em uma localização complicada, pois está situada entre a Avenida do Estado e o Mercado Municipal do Pari, dessa forma funcionando mais como uma área de carga e descarga de produtos perecíveis, sobretudo coco, do que uma praça (fig. 17). Dessa forma, é intensa a movimentação de caminhões no entorno do largo, além da poluição sonora, visual e do ar causadas pelo fluxo intenso de veículos na Avenida do Estado, e os consequentes congestionamentos. 61


Fig. 16: Parque Dom Pedro II se encontra subutilizado e em situação de abandono. (Arquivo pessoal). Fig. 17: Largo do Pari se encontra degradado e com ocorrência de carga e descarga e venda de produtos perecíveis. (Arquivo pessoal).

62


Outro problema percebido durante visita à região é a poluição das água do Rio Tamanduateí, importante eixo hídrico da região e com grande importância históricas e urbana. Atualmente o rio se encontra canalizado, subjugado por imponentes eixos viários e recebendo alta concentração de esgoto das mais diversas origens. Assim o rio se torna pouco amigável à cidade, oferecendo poucos benefícios ao bem estar urbano e principalmente

funcionando

como

uma

grande

barreira

urbana,

dificultando

drasticamente a integração da cidade e desvalorizando a paisagem urbana (fig. 18). Fig. 18: Rio Tamanduateí se encontra poluído e funcionando como barreira urbana. (Arquivo pessoal).

63


Relacionando-se diretamente com o leito do Rio Tamanduateí, fica evidente no mapa de hipsometria (fig. 19) sua influência na região, pois todo o entorno é configurado predominantemente

por

terrenos

baixos,

evidenciando

áreas

de

várzea

e

consequentemente causando diversos pontos de alagação, principalmente em períodos de chuva intensa. Uma das principais razões para isso é o fato de que: Os grandes rios – Tietê, Anhangabaú, Tamanduateí e Pinheiros – começam a sofre intervenções de retificação, por meio da construção de canais retilíneos, perdem suas curvas e meandros e têm suas várzeas ocupadas. É o início, a cada janeiro chuvoso, das inevitáveis inundações provocadas pelas cheias dos rios, que invadem as várzeas que lhes forma roubadas. (ROLNIK, p.27).

Isso também ocorre, inclusive, pela urbanização intensa no entorno do curso hídrico, que outrora possuía meandros e áreas pantanosas (fig. 20). Porém, dentro da área de estudo, também é possível encontrar trechos de maiores altitudes, sobretudo no bairro da Sé, local de origem da cidade, e onde surgiram os primeiros edifícios paulistas. Dessa formam, é possível perceber como a paisagem urbana foi remodelada ao longo do tempo, canalizando e poluindo cursos hídricos fundamentais para o desenvolvimento da cidade, e com isso causando diversos transtornos, tanto sociais como econômicos, às antigas áreas de várzea, características do território paulistano. Acompanhando o curso do Rio Tamanduateí, a Avenida do Estado é um dos principais eixos viários da cidade, interligando a região do ABC10 à Marginal Tietê, na cidade de São Paulo. A via apresente um fluxo constante de veículo e consequentemente muitos pontos de congestionamento (fig. 21), intensificado pelo complexo viário sobre o Parque Dom Pedro II e a Radial Leste. A região do ABC se refere aos municípios de Santo André, São Bernardo do Campo e São Caetano, na Região Metropolitana de São Paulo. 10

64


í am and uat e

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Rio T

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R. M

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R. 25 d e Març o

Av. S e

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N 0

200

400 m

Área do terreno Área de estudo

600

800

Rio Tamanduateí Logradouros

1:11.000

Fig. 19 - Mapa de Hipsometria

HIPSOMETRIA (m) 720 - 725 725 - 730 730 - 735 735 - 740 740 - 745 745 - 750 750 - 755 755 - 760

(SMUL/DEINFO, 2004/2014 / Fundação Centro Tecnológico de Hidráulica - FCHT e Secretaria de Desenvolvimento Urbano - SMUL, 2015)


Fig. 20: Mapa da cidade de São Paulo de 1897, mostrando o inicio da canalização do Rio Tamanduateí. (Fonte: adaptado de http://www.arquiamigos.org.br/info/info20 /img/1897-download.jpg).

66


Fig. 21: Fluxo intenso de veículos em cruzamento da Av. do Estado com a Av. Senador Queirós. (Arquivo pessoal).

Como pode ser observado no mapa de hierarquia viária (fig. 22), a área de estudo apresenta um sistema complexo de vias, se destacando a Avenida do Estado, que por integrar parte da Rodovia BR-050, é classificada como Via Estrutural de Nível 1 (N1), que são aquelas com capacidade de fazer ligação interestadual. Na área de estudo não existem Vias Estruturais de Nível 2 (N2), responsáveis por realizar ligações intermunicipais, no entanto, há um grande número de Vias Estruturais de Nível 3 (N3), responsáveis pelo fluxo entres os bairros da cidade, se destacando, principalmente, a Radial Leste, Av. Rangel Pestana, R. do Gasômetro, Av. Mercúrio e Av. Senador Queirós, essas duas últimas sendo contíguas ao lote. Contudo, também é importante analisar o mapa de sentido viário dos logradouros (fig. 23), uma vez que, por a área de estudo situar-se na região central da cidade, os sentidos das vias devem estar dispostos de forma organizada e capaz de promover um fluxo coerente com o movimento pendular de grande parte dos trabalhadores. Isso se

67


deve, sobretudo, como apresentado anteriormente, o Centro destinar-se mais a usos de comércio e serviços, despendendo intenso fluxo veículos em horários de pico em direção, principalmente, aos bairros “dormitórios” mais afastados. Algumas vias com fluxo mais intenso apresentam sentido em ambas as direções, procurando dar maior fluidez ao trânsito, das quais pode-se citar a Radial Leste e Av. do Estado, que também apresenta intenso trânsito de caminhões. Outra análise fundamental a ser feita é a questão da mobilidade urbana, que na cidade de São Paulo é definida, sobretudo, pelo transporte sobre trilhos e ônibus. Visando atender o fluxo pendular da população em horário de pico, o sistema metroviário segue o desenho radial do sistema viário, ou seja, partindo do Centro, onde se concentra um maior número de estações de metrô e trem, em direção aos bairros periféricos. No entanto, mesmo apresentando a maior rede metroviária do país, o sistema ainda não é suficiente para atender o grande número diário de usuários. Dessa forma, é possível perceber que, em relação à cidade, os níveis de mobilidade urbana ainda são baixos. Quanto os ônibus, após a criação de faixas exclusivas, a velocidade média aumentou 67,5% (fig. 24), de acordo com a Secretaria Municipal de Transportes (SMT)11. Porém, mesmo apresentado melhorias e expansões, o transporte em São Paulo ainda não é suficientemente adequado ao número total de usuário, gerando insatisfações e conduzindo parte da demanda a utilizar veículos, contribuindo, consequentemente, para o aumento dos níveis de congestionamento.

Em estudo realizado pela Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) e apresentado no site do Portal da Transparência (http://transparencia.prefeitura.sp.gov.br/Paginas/Faixas-exclusivas-aumentam-avelocidade-m%C3%A9dia-dos-%C3%B4nibus-em-67,5---.aspx). 11

68


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HIERARQUIA VIÁRIA Área do terreno Área de estudo

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1:11.000

Fig. 22 - Mapa de Hierarquia Viária (SMUL/DEINFO, 2004/2014)

Via Estrutural de Nível 1 (N1): ligação interestadual Via Estrutural de Nível 2 (N2): ligação intermunicipal Via Estrutural de Nível 3 (N3): ligação entre bairros Via Coletora Via Local


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Área do terreno

SENTIDO VIÁRIO

Área de estudo

Vias sentido centro Vias sentido bairro

800

m

1:11.000

Fig. 23 - Mapa de Sentido Viário (Google Maps, 2019)


20

15

10

5 Pico manhã

Pico tarde

0 2012

2013

2014

2015

2016

2017

Fig. 24: Velocidade comercial média dos veículos do sistema de transporte (km/h). (Fonte: São Paulo Transporte (SPTrans).

Em relação à área de estudo, há uma grande demanda de linhas de metrô e de ônibus, proporcionando um melhor acesso ao lote. No mapa de mobilidade urbana (fig. 25), fica evidente duas linhas de metrô cruzando a região, a linha 1 (Azul), sentido norte-sul, e a linha 3 (Vermelha), sentido leste-oeste. Dessas linhas encontram-se quatro estações no entorno – Pedro II, Sé, São Bento e Luz. Também é perceptível uma quantidade significativa de linhas de ônibus, sobretudo devido a existência do terminal de ônibus Parque Dom Pedro II, um dos maiores da cidade e vizinho a área do projeto, e do terminal Mercado, do Expresso Tiradentes – corredor exclusivo de ônibus, na região sudeste da cidade. Por fim, é importante salientar a importância dos equipamentos públicos vizinhos à área do projeto, além das estações de metrô e terminais de ônibus citados anteriormente.

71


Luz

São Bento

Terminal de ônibus Parque Dom Pedro II

Pedro II Sé

N

Área do terreno

MOBILIDADE URBANA

Área de estudo

Linha 1 do metrô Estações da linha 1 Linha 3 do metrô Estações da linha 3 Linhas de ônibus Terminal de ônibus Rede cicloviária

! +

0

200

400

600

800

m

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1:11.000

Fig. 25 - Mapa de Mobilidade Urbana

(CET, 2016 / SPTrans, 2015/2016 / SMUL/DEINFO, 2015 / SMT/METRO, 2018 / SMT/Secretaria Estadual de Transportes Metropolitanos , 2015)


No mapa de equipamentos públicos (fig. 27) é notável a ausência de equipamentos de serviços (Poupatempo), segurança e educação no entorno imediato do lote, assim também como equipamentos de cultura, os quais, por sua vez se concentram mais na região da Sé. Contudo, próximo ao lote existem diversos mercados municipais (fig. 26), que por sua predominância impactam diretamente na inserção do projeto, desenvolvendo, dessa forma, um intercâmbio entre os mercados e o centro cultural proposto. No mapa de equipamentos culturais (fig. 28) é possível ver mais detalhadamente os tipos de equipamentos culturais vizinhos ao lote, destacando-se os mercados municipais de São Paulo, do Pari e Kinjo Yamoto. Além disso, vizinho ao lote também encontram-se o Sesc Parque Dom Pedro II e Museu Catavento, que, eventualmente, aliados ao projeto proposto, podem constituir um eixo cultural na região do Brás, integrados aos mercados municipais, o Parque Dom Pedro II, o Largo do Pari e a Zona Cerealista. Fig. 26: Vista do Mercado Municipal de São Paulo, nas imediações do lote. (Arquivo pessoal).

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N

Área do terreno Área de estudo

EQUIPAMENTOS PÚBLICOS ! + ! +

0

200

400 m

1:11.000

600

800

! + ! + ! + ! +

Fig. 27 - Mapa de Equipamentos Públicos

Mercado municipal Cultura Educação Saúde Segurança Poupatempo

Supervisão Geral de Abastecimento - SMSP, 2017 / SMUL/SMC, 2017 / SME, 2017 / SMS, 2017 / SMSU e SSP/SP, 2015


Largo do Pari

Mercado Municipal de São Paulo Mosteiro de São Bento

Sesc

Largo de São Bento

Praça da Sé

Catedral da Sé

N 200

400 m

1:11.000

ZONA CEREALISTA

Museu Catavento Parque Dom Pedro II

Edifício Altino Arantes

0

Mercado Municipal do Pari

600

800

Área do terreno

EQUIPAMENTOS CULTURAIS

Área de estudo

Estações de metrô e terminal de ônibus Centros culturais, museus e Sesc Centros religiosos históricos Bibliotecas Mercados municipais Parques, praças e canteiros

Fig. 28 - Mapa de Equipamentos Culturais

Supervisão Geral de Abastecimento - SMSP, 2017 / SMUL/SMC, 2017 / SME, 2017 / SMS, 2017 / SMSU e SSP/SP, 2015


Através dessa análise e das demais, é possível perceber a vocação cultural da região e as facilidades de acesso, tanto de transporte público quanto de veículo, contribuindo à viabilização do projeto, que pode, assim, ampliar as opções de lazer, a circulação e permanência de pessoas e, consequentemente, a revitalização da região.

2.2. Leitura da paisagem urbana Viver na cidade não significa apenas morar, mas manter uma relação íntima com o meio urbano, criando um sentimento individual com o ambiente ao seu redor. Habitar a cidade significa desenvolver memórias da paisagem urbana, muitas vezes intrínseco a um saudosismo infantil. A cidade é capaz de imprimir as mais diversas recordações no indivíduo, promovendo uma relação e definindo sentimentos próprios a cada indivíduo. “Todo o cidadão possui numerosas relações com algumas partes da sua cidade e a sua imagem está impregnada de memórias e significações.” (LYNCH, 1960, p. 11). Assim, a forma como a paisagem urbana é desenvolvida implica diretamente no inconsciente humano, sendo fundamental uma análise profunda de seus impactos e o modo como as transformações urbanas a redefinem, constituindo novas relações. Além disso, é importante ter em mente que a cidade é um ambiente vivo e em constante mutação, e é natural que as mais diversas paisagem que a compõem sofram constantes alterações ao longo do tempo, de modo a modificarem gradativamente o meio ambiente urbano. Ao propor um centro cultural a um ambiente urbano já consolidado, embora degradado, convém de fato perceber o poder transformador dessa nova edificação, sendo

de

tal

modo,

necessário

desenvolver 76

sua

integração

às

edificações


implementadas, sobretudo aquelas com maior relevância sociocultural. A região central da cidade de São Paulo é constituída por diversos edifícios de valor histórico e cultural, os qual são determinantes à formação da identidade urbana e funcionando com verdadeiros marcos em meio à imensidão de prédios monótonos. Em relação à área do projeto se sobressai, a primeira vista à imponência de Mercado Municipal São Paulo, como principal elemento de relação urbana. No entanto, ainda mais proeminente é o impacto visual causado pelos diversos edifícios localizados na região da Sé, constituída por uma topografia elevada e a vista dos mais diversos pontos da cidade (fig. 29), se destacando a Catedral da Sé, o Edifício Altino Arantes (Farol Santander), o edifício da Secretaria da Fazenda e o Edifício Mirante do Vale, no Vale do Anhangabaú. A importância de acidente numa rua – torres, campanários, elementos que criem um efeito de silhueta, cores vivas, etc. – reside na sua capacidade de prender o olhar, impedindo-o de deslizar para longe, e evitando, desta forma, a monotonia. (...) Creio que é principalmente devido a ausência de acidentes que muitos projectos (sic) falham, não obstante uma elaboração meticulosa – uma vez convertidos em três dimensões. (CULLEN, 2008, p. 46).

Fig. 29: Vista da região da Sé, localizado em terreno elevado no centro da cidade. (Arquivo pessoal).

77


Fig. 30: Silhueta do Centro vista a partir da estação de metrô Pedro II, demonstrando possibilidades de contemplação urbana. (Arquivo pessoal).

Assim, fica evidente a necessidade de adaptar o projeto à essa paisagem tão tradicional e implícita, de modo a proporcionar ao admirador uma contemplação própria do centro da cidade, criando novas formas de se relacionar com o ambiente urbano já estabelecido. Em síntese, é fundamental proporcionar ao visitante do centro cultural, a possibilidade de poder observar e contemplar a cidade. Além disso, o próprio centro cultural deve possuir seus próprios meios de integrar-se a paisagem, constituindo volumetrias que o caracterize, mas respeitando o entorno imediato, criando uma relação coerente e enriquecendo as silhuetas arquitetônicas na paisagem urbana (fig. 30).

78


Fig. 31: Colina da Sé e principais pontos focais no entorno da área do projeto. (Adaptado de dados da Secretaria da Fazenda, 2018).

No diagrama de pontos focais (fig. 31) pode-se perceber como ocorre essa relação entre a área do projeto com a colina onde se encontra a região da Sé e os edifícios com maior destaque na paisagem urbana, reforçando a imponência da silhueta urbana sobre a cidade. Também é possível perceber na imagem acima a relação direta que o centro cultural desempenhará com o edifício do Mercado Municipal e o Museu Catavento (fig.

79


32), importantes obras arquitetônicas no contexto histórico e cultural da cidade de São Paulo. Dessa forma, é fundamental que o projeto do centro cultural possa interagir com essas edificações de forma harmoniosa, respeitando suas volumetrias, gabaritos e integração urbana, contudo, dado a proximidade, também é necessário criar uma conexão direta entre o projeto e essas edificações. Esse contexto paisagístico do ambiente urbano ganha ainda mais reforço com a proximidade com o Rio Tamanduateí e o Parque Dom Pedro II, localizados na vizinhança imediata do lote (fig. 33).

Fig. 32: Museu Catavento, vizinho a área do projeto. (Arquivo pessoal). 80


Fig. 33: Rio Tamanduateí e principais áreas verdes no entorno da área do projeto. (Adaptado de dados da Secretaria da Fazenda, 2018 e Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente, 2016).

Ao fazer uma análise da cidade de Boston, Lynch (p. 30) descreve que: As paisagens favoritas eram, geralmente, aquelas que incluíam uma área aquática ou um espaço aberto à distância. A vista abrangendo as margens do rio Charles foi diversas vezes citada e houve quem mencionasse a vista do rio até Pickney, o panorama de uma colina em Brighton ou o de Boston, vista do porto.

A interação das pessoas com áreas verdes e ambientes aquáticos é tão importantes e reveladora, que em outra análise, dessa vez Jersey City e Los Angeles, observa-se que: 81


As características da paisagem na cidade, a vegetação ou a água, foram frequentemente notadas com satisfação. Os habitantes de Jersey City tinham a sua atenção concentrada nos poucos oásis verdes dos seus arredores; o de Los Angeles, muitas vezes paravam para descrever a variedade exótica da vegetação local. Alguns deles contaram os desvios diários que tornavam o caminho para o emprego mais longo, mas que permitiam passar por algum espaço verde ou panorama com água. (...) (LYNCH, p. 54).

Com isso em mente é possível afirmar o quanto áreas verdes e rios são fundamentais para ativar diversas emoções na população urbano, evidenciando a necessidade de ampliar ou criar novos espaços desse porte dentro das cidades. De uma forma geral, a região no entorno do lote é composta sobretudo por altos edifícios, na região da Sé, e galpões, comércios e sobrados na região do Brás, além da presença de rio, áreas verdes e edificações de valor histórico, constituindo uma paisagem urbana complexa e dinâmica, de fluxo intenso e profundo valor paisagístico à cidade. No entanto, o entorno imediato da área do projeto apresenta um relevo plano e edificações de porte médio e alguns de gabarito mais alto, e, além disso, apresente um eixo de ruptura formado pelo Rio Tamanduateí e Parque Dom Pedro II, como pode ser observado corte urbano (fig. 34).

Fig. 34: Corte urbano da área no entorno do lote. (Arquivo pessoal).

82


Naturalmente, a paisagem urbana é elemento essencial da cidade, e a forma como é definida implica diretamente no modo como os habitante se relacionarão com o meio ambiente em que vivem. Assim, fica evidente a importância de implantar edifício capazes de

intensificar

essas

relações,

promovendo

satisfatoriamente

o

desenvolvimento

econômico e sociocultural da cidade. A respeito disso, pode-se afirmar que: A cidade não está construída apenas para um indivíduo, mas para grandes quantidades de pessoas, com antecedentes altamente variados, com temperamentos diversos, de diferentes classes, com diferentes ocupações. As nossas análises indicam uma variação substancial no modo como as pessoas organizam a cidade, de que elementos eles mais dependem, de que forma as qualidades são mais a seu gosto. (...) Se assim for, diferentes observadores encontrarão material de percepção adaptado ao seu modo individual de olhar para o mundo. Enquanto um deles pode reconhecer uma rua com base no seu pavimento, outro pode lembrar-se de uma curva e um terceiro terá descoberto elementos marcantes de menor importância, ao longo da mesma rua. (LYNCH, p.123).

Dessa forma, é importante criar projetos na cidade capazes de integrar-se à paisagem urbana da melhor forma possível, preservando as memórias coletivas relacionadas ao bairro e concomitantemente promovendo o desenvolvimento da região, revitalizando-a quando necessário, e assim contribuindo à implementação de ambientes mais democráticos e convidativos, que respeitam a história, cultura e população da cidade, além de surgir como uma nova referência na paisagem urbana. Além de tudo, o edifício pode apresentar-se como um novo ponto de referência da cidade, capaz de agregar valor à região, e ampliando as formas como as pessoas enxergam e se relacionam com o bairro.

83


2.3. Análise do lote e entorno Á área destinada para o projeto ocupa duas quadras no bairro do Brás, na confluência de duas importantes vias do centro da cidade e próximo ao rio Tamanduateí e importantes edificações turísticas e comerciais da cidade, proporcionando um intenso fluxo de pedestres e veículos (fig. 35). Considerando as duas quadras, o terreno possui acesso de veículos em seu interior, o qual será requalificado e incluído no projeto, porém de uso exclusivo a pedestres. Mesmo apresentando um fluxo intenso de veículos e pedestres, porém em horários comerciais, aos fins de semana as ruas apresentam pouco movimento, aumentando a sensação de insegurança e desolamento (fig. 36). Esse movimento intenso ocorre, sobretudo, pela presença dos diversos pontos turísticos e comerciais, principalmente o Mercado Municipal (fig. 37). Ambas as quadras apresentam diversas edificações, no entanto a maioria se encontra subutilizadas (fig. 38) ou até mesmo abandonadas e deterioradas (fig. 39), ampliando a sensação de desolamento e justificando a necessidade de requalificação urbana da região. Além disso, o Largo do Pari, importante área verde vizinha ao terreno e que será integrado ao projeto, também se encontra bastante degradado e com intenso comércio de produtos perecíveis (fig. 40), contribuindo à sensação de insegurança no entorno. Uma das causas desses problemas ocorre, inclusive, às barreiras urbanas da região, dentre as quais a Avenida do Estado, apresentando intensos pontos de congestionamento, e o rio Tamanduateí, que se encontra canalizado e poluído, causando eventuais pontos de alagamento (fig. 41).

84


Fig. 35: Mapa com análise da região no entorno do terreno. (Adaptado de Google Earth, 2019). 85


Fig. 36: Rua no interior na área do projeto com pouco movimento aos fins de semana - foto 1. (Arquivo pessoal). Fig. 37: Mercado Municipal e Avenida Senador Queirós - foto 2. (Arquivo pessoal).

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Fig. 38: Edificações subutilizadas em uma das quadras do projeto - foto 3. (Arquivo pessoal). Fig. 39: Edificação abandonada em uma das quadras do projeto - foto 4. (Arquivo pessoal).

87


Fig. 40: Largo do Pari e Avenida do Estado - foto 5. (Arquivo pessoal). Fig. 41: Avenida do Estado, rio Tamanduateí e vista da área do projeto ao fundo - foto 6. (Arquivo Pessoal).

88


Por fim, é importante salientar que a área do projeto possui bastante iluminação natural durante todo o ano, proporcionando maior insolação e salubridade aos usuários. Além disso, o gabarito das edificações do entorno não apresenta elevações muito altas, resultando em poucas projeções de sombras no terreno (fig. 42).

Fig. 42: Diagrama de orientação solar em determinados períodos do ano. (Arquivo pessoal).

89


90


ESTUDOS DE CASO


Fig. 43 (capa anterior): Cais do Sertão Luiz Gonzaga (Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/907621/museu-cais-do-sertao-brasil-arquitetura). Fig. 44: Centro Cultural São Paulo. (Arquivo pessoal).


Fig. 45: Fachada da Praça das Artes vista a partir da Rua Conselheiro Crispiniano. (Fonte:https://www.archdaily.com.br/br/626025/pr aca-das-artes-brasil-arquitetura).

3. ESTUDOS DE CASO 3.1. Praça das Artes 93


3.1.1. Ficha técnica Ano do projeto

2006

Ano da construção

2012

Autor

Brasil Arquitetura

Local

São Paulo, SP

Área construída

28.500 m²

Tabela 2: Ficha técnica da Praça das Artes. (Arquivo pessoal).

3.1.2. Inserção urbana Localizada em uma área estratégica da cidade, a Praça das Artes se encontra na região central de São Paulo, entre o Vale do Anhangabaú e o bairro da República, importantes áreas históricas e culturais e com intenso fluxo de pessoas. Inclusive, o edifício tem como uma de suas finalidades proporcionar suporte técnico ao Teatro Municipal, que se encontra próximo. Um das principais características do projeto é a forma como se integra com o entorno, sobretudo com os edifícios históricos que permeiam toda a região e suas tradicionais ruas e avenidas (fig. 46). O edifício localiza-se vizinho ao prédio dos Correios e um de seus acessos se encontra em uma das avenidas mais importantes da cidade, a Avenida São João. Além disso, duas edificações de valor histórico foram restauradas e incorporadas ao projeto – o

94


Conservatório Dramático e Musical de São Paulo (fig. 47) e o Cine Cairo12 (fig. 48), ganhando novos usos, mas mantendo o valor histórico do objeto.

Fig. 46: Entorno imediato da Praça das Artes. (Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/626025/praca-das-artes-brasil-arquitetura).

Sendo assim, e considerando a importância cultural do patrimônio: A própria natureza do processo cultural, sempre renovado, está a indicar a importância de uma destinação mais ampla e mais fecunda para esse patrimônio, que o defina como ponto de partida para as criações culturais do presente, como um recurso fundamental para a incorporação das atividades criadoras – intelectuais e sensíveis (...). (REIS FILHO, 2014, p.194). 12

No caso do Cine Cairo apenas a fachada foi mantida e restaurada.

95


Fig. 47: Conservatório Dramático e Musical de São Paulo. (Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/626025/praca-das-artes-brasil-arquitetura).

Tão importante que manter e restaurar o patrimônio é proporcionar um uso adequado e condizente com a realidade na qual se insere, e isso pode se observar no caso da Praça das Artes, onde, ambas as edificações ganharam novos contornos e foram reintegrados ao contexto urbano contemporâneo.

96


Fig. 48: Fachada do Cine Cairo. (Fonte: https://f.i.uol.com.br/fotografia/2012/11/30/215242-970x600-1.jpeg).

Outro fator determinante à concepção do projeto é a proposta de requalificação urbana. O Centro da cidade de São Paulo tem enfrentado nas últimas décadas o esvaziamento de grandes empresas, que migraram para a região Sudeste, com isso, a região perdeu muito poder econômico e diversos lotes foram abandonados ou subutilizados, contribuindo à degradação do bairro. Dessa forma, a Praça das Artes propõe contribuir

à

requalificação

urbana

do

Centro,

promovendo

eventos

culturais

e

consequentemente circulação de pedestres. Através de imagens de satélite (fig. 49) podese perceber a transformação do lote que, em período anterior à construção do edifício, se 97


encontrava com utilização ineficiente e reclusa à cidade, e como a permeabilidade de pedestres através do lote pode contribuir à requalificação urbana.

Fig. 49: Imagens de satélite do lote mostrando a requalificação do lote, em 2008 (esq.) e em 2018 (dir.). Fonte: Google Earth (2008 / 2018).

3.1.3. Implantação O projeto se encontra implantado em terreno com suave inclinação, se espraiando pela quadra e conectado a três acessos, à Rua Conselheiro Crispiniano, à Rua Formosa, no Vale do Anhangabaú, e à Avenida São João. Essa forma de implantação contribui intensamente à circulação interna de pedestres e às conexões urbanas, reafirmando o conceito de praça, inclusive pelo fato de que dois

98


dos seus acessos se encontram em áreas voltadas exclusivamente para pedestres, proporcionando “apropriação pelo movimento” (CULLEN, 2006, p.25), onde a simples circulação de pedestres já proporciona vitalidade ao espaço. Por outro lado, por ser um espaço voltado à circulação, as pessoas tendem a permanecer por menos tempo no interior da praça, sobretudo nos espaços livres, isso pode ter como causa o fato da implantação apresentar acessos contínuos no plano e baixa diversidade de usos, benéficos à circulação, mas pouco eficiente à permanência, pois: (...) A permanência mais significante é dada, pois, pelas ruas e pelo plano, o plano permanece sob níveis diversos, diferencia-se nas atribuições, muitas vezes se deforma, mas, substancialmente, não se desloca. (...) (ROSSI, 2001, p.52).

3.1.4. Forma: Volume e Paisagem A concepção da volumetria foi crucial para o desenvolvimento do projeto, sendo que procura criar harmonia tanto com as construções históricas quanto com edifícios de maior gabarito. Dessa forma, a volumetria apresenta diversos volumes com formas variadas e dispersos por todo lote, porém conectados (fig. 50). Outro fator importante da volumetria são as diversas visuais do entorno, proporcionadas pelos vazios formados pelas estruturas de concreto aparente (fig. 51), criando enquadramentos dinâmicos da paisagem urbana, sobretudo do Vale do Anhangabaú e edifícios em seu entorno. Ainda assim, a volumetria não agride a paisagem urbana, pelo contrário, consegue implantar um novo espaço à região, livre, democrático e receptivo, de forma harmonizada e equilibrada, ressaltando o valor arquitetônico dos edifícios ao seu redor.

99


Fig. 50: Croqui original mostrando o conjunto de volumetrias da Praça das Artes. (Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/626025/praca-das-artes-brasil-arquitetura).

A volumetria disposta entre cheios e vazios é capaz de criar enclaves, resguardando os pedestres da exposição ao fluxo viário, em um ambiente tranquilo e acolhedor, delimitando um:

100


(...) espaço interior aberto para o exterior, e que permite acesso livre e direto entre ambos, (...) um recinto ou compartimento que pode ser alcançado com facilidade, embora se encontre desviado do movimento principal. Local tranquilo, onde os passos ressoam e a luminosidade é atenuada, onde se fica apartado do burburinho da rua e se disfruta, simultaneamente, o exterior, de um ponto de observação bem situado e seguro. (CULLEN, p. 27).

Fig. 51: Planta do térreo demostrando os cheios e vazios da edificação. (Fonte: adaptado de https://www.archdaily.com.br/br/626025/praca-das-artes-brasil-arquitetura).

Contudo, o vazio se torna elemento fundamental do edifício, local de encontro e de convívio, ambiente aberto e democrático, ou seja: 101


(...) o fato de o espaço, o vazio, ser o protagonista da arquitetura é, no fundo, natural, porque a arquitetura não é apenas arte nem só imagem de vida histórica ou de vida vivida por nós e pelos outros; é também, e sobretudo, o ambiente, a cena onde vivemos a nossa vida. (ZEVI, 2009, p. 28).

Sendo assim, a concepção volumétrica assume papel crucial nas conexões urbanas e na forma como a Praça das Artes se relaciona com o entorno, requalificando a paisagem urbana, mas concomitantemente respeitando a diversidade arquitetônica e histórica da região.

3.1.5. Função: Programa e Fluxograma Designada originalmente para funcionar como uma extensão e espaço de apoio ao Teatro Municipal, a Praça das Artes se tornou algo com maior significância cultural à cidade de São Paulo, oferecendo diversas opções de lazer e ensino à população, além de proporcionar um ponto de encontro e de convívio social. Tendo isso em vista, o programa se apresenta diversificado, mesmo que voltado, em sua maior parte, às atividades culturais, além de fornecer apoio técnico e espacial ao Teatro Municipal, como originalmente pensado. O programa (fig. 52), a fim de incorporar diversas atividades culturais e ampliar as opções de lazer no centro da cidade, pode ser sintetizado em três usos básicos: artístico (corpos artísticos, escolas, salas de concertos e auditório), patrimonial (discoteca e CPDOC – Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea) e serviços diversos (apoio e administração, restaurantes e estacionamento).

102


Fig. 52: Programa. (Fonte: https://www.archdaily.com.br/ br/626025/praca-das-artes-brasil-arquitetura).

Outra função determinante ao projeto é a forma como o programa é disposto na volumetria, de forma a enaltecer a permeabilidade urbana. Dessa forma, os ambientes voltados às atividades e ensino artístico e de usos mais restritos estão dispostos nos pavimentos superiores, liberando o térreo quase que exclusivamente à fruição pública (fig. 53). Proporcionar essas conexões por entre os volumes da edificação se torna essencial à revitalização da cidade, assim, demonstra-se na Praça das Artes a importância de um fluxograma racional e bem desenvolvido dentro de um espaço aberto. 103


Fig. 53: Esquema mostrando os espaços de fruição pública. (Fonte: adaptado de https://www.archdaily.com.br/br/626025/praca-das-artes-brasil-arquitetura). 104


3.1.6. Estrutura: Análise estrutural Com o intuito de liberar o térreo à circulação, os arquitetos do Brasil Arquitetura propõem vãos livres, o que requer um sistema estrutural adequado à concepção arquitetônica, com vigas e lajes mais robustas e predominando o uso do concreto aparente como material estrutural e de vedação, sendo assim: Um grande edifício em concreto aparente, pigmentado na cor ocre, é o elemento principal a estabelecer um novo diálogo com a vizinhança e, também, com os edifícios históricos existentes que, reformados, permanecem como parte integrante do conjunto. (...) (PORTAL VITRUVIUS, 2013).

Além do ocre, o vermelho também é utilizado como pigmento de concreto dos demais espaços arquitetônicos (fig. 54), facilitando a manutenção e criando uma estética mais amigável com o entorno, porém mantendo a concepção estrutural eficiente e adequada aos usos propostos. Fig. 54: Concreto aparente pigmentado utilizado no projeto, ocre (esq.) e vermelho (dir.). (Fonte: adaptado de https://www.archdaily.com.br/br/626025/praca-das-artes-brasil-arquitetura).

105


Por fim, em relação às fundações, adotou-se de um sistema estrutural complexo, sobretudo pelo fato do edifício estar localizado em área de várzea, contígua ao Vale do Anhangabaú, assim: (...) estacas de até 15 m de profundidade perfuram o solo, ancorando o prédio em rochas sólidas profundas, impedindo que a água desloque horizontalmente o prédio. Além disso, a escavação direta do solo colocaria em risco as sapatas das construções limítrofes. (...) O sistema consiste em estacas colocadas no perímetro antes da escavação, arrematadas com uma parede de concreto. Feita essa proteção, começa-se, pouco a pouco, a escavar o terreno, perfurando em certas alturas a parede com tirantes metálicos, reforçando a resistência da parede ao solo. (AU – ARQUITETURA E URBANISNO, 2013).

Dessa forma, mostra-se a importância de uma análise eficiente tanto dos elementos estruturais quanto do local onde será implantado o projeto, levando em consideração o solo, os edifícios vizinhos e o programa proposto, além, evidentemente, do estacionamento localizado no subsolo. A estrutura, no caso da Praça das Artes, tem tanto função funcional quanto estética, sendo parte primordial do projeto, e sua concepção requer eficiência e adequação ao programa, determinando volumetria, circulação e espaços de convivência, e propondo um marco arquitetônico no centro da cidade.

106


Fig. 55: Vista do Cais do Sertão Luiz Gonzaga. (Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/ 907621/museu-cais-do-sertao-brasil-arquitetura).

3.2. Cais do Sertão Luiz Gonzaga 107


3.2.1. Ficha técnica Ano do projeto

2009

Ano da construção

2018

Autor

Brasil Arquitetura

Local

Recife, PE

Área construída

5.000 m²

Tabela 3: Ficha técnica do Cais do Sertão Luiz Gonzaga. (Arquivo pessoal).

3.2.2. Inserção urbana Situado

na

orla

do

Recife Antigo, o Cais do Sertão Luiza Gonzaga tem como um de seus objetivos requalificar o bairro histórico, promovendo também um novo centro de lazer

e

cultura

à

capital

pernambucana. Fundamental também à inserção do projeto

Fig. 56: Mapa esquemático mostrando a relação do projeto com o entorno imediato. (Arquivo pessoal).

é a inclusão de alguns dos antigos galpões do porto, os quais possuem importante valor histórico referente ao desenvolvimento da cidade, servindo também como conexão entre a cidade e o mar, contextualizando com ambos (fig. 56).

108


3.2.3. Implantação O lote, por integrar galpões portuários, apresenta forma longitudinal, dessa forma, o anexo proposto acompanha essa forma, procurando manter o ritmo dos galpões. Além disso, a implantação ocorre de forma a adequar-se ao conjunto urbanístico do centro antigo de Recife, ao mesmo tempo em que procura integrar-se ao mar (fig. 57). Porém, a implantação do projeto é feita em um ambiente de grande importância histórica e cultural, já tombado por órgãos competentes, o que consequentemente descaracteriza o patrimônio e eventualmente desconstrói a identidade urbana. Isso pode ser constatado no fato de:

Fig. 57: Croqui da implantação feito pelos autores do projeto. (Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/ 907621/museu-cais-do-sertao-brasil-arquitetura). 109


Os antigos armazéns do Porto do Recife representam não uma expressão arquitetônica isolada, mas uma composição espacial de um conjunto ambiental que absorvendo as atividades e práticas sócio-culturais conferiram a identidade portuária ao Bairro do Recife, portal marítimo da cidade do Recife. (BRENDLE e VIEIRA, 2012).

Essa análise ganha maior ênfase ao passo que se observa a demolição do Armazém 10, edifício arquitetônico tombado de importância nacional, a fim de viabilizar a implantação do Cais do Sertão Luiz Gonzaga, diferenciando de outras intervenções ocorridas no Porto de Recife. Dessa forma: A autorização para a demolição do Armazém 10 foi emitida pelo IPHAN-PE usando o sofisma da “desmontagem”. No Setor de Intervenção Controlada, à exceção do projeto do Cais do Sertão Luiz Gonzaga de autoria dos arquitetos Francisco Fanucci e Marcelo Ferraz (Escritório Brasil Arquitetura), todos os projetos de adequação dos antigos armazéns do Porto do Recife tiveram que se submeter às determinações urbanísticas da Lei 16.290/97, entre eles, o Terminal Marítimo (intervenção no Armazém 7, de autoria de Andrade & Raposo Arquitetos), a Central de Artesanato (intervenção no Armazém 11, de autoria do Arquiteto Carlos Augusto Lira), além de todos os projetos de adequação dos antigos armazéns portuários desenvolvidos pela equipe técnica da Operação Urbana Porto do Recife coordenada pelo arquiteto e urbanista Zeca Brandão. (BRENDLE e VIEIRA, 2012).

Tendo isso em vista, é importante fazer uma análise cautelosa da forma como o projeto foi implantado, ou seja, se por um lado apresenta potencial de requalificação urbana, também se apresenta como elemento passível de desconstrução do patrimônio histórico. Porém, a implantação do projeto procurou integrar-se adequadamente aos armazéns remanescentes, preenchendo o terreno de forma pontual, respeitando recuos urbanos e marítimos (fig. 58). Assim, é possível afirmar que o Cais do Sertão Luiz Gonzaga 110


apresenta solução adequada à requalificação urbana, revitalizando áreas antes degradas, porém, em detrimento do contexto histórico, elemento esse crucial e intrínseco à constituição da cidade de Recife.

Fig. 58: Implantação metropolitana. (Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/ 907621/museu-cais-do-sertao-brasil-arquitetura).

111


3.2.4. Forma: Volume e Paisagem Buscando integrar-se com os armazéns existentes, o anexo proposto pelo Brasil Arquitetura segue a mesma forma retangular do patrimônio, além da disposição do lote na própria orla. No entanto, a volumetria apresenta variações quanto ao gabarito, se elevando acima dos armazéns, o que pode comprometer a linearidade do espaço, mas, por outro lado, através de vazios, torna o térreo um espaço livre e público (fig. 59).

Fig. 59: Corte mostrando os cheios e vazios presentes na volumetria. (Fonte: adaptado de https://www.archdaily.com.br/br/ 907621/ museu-cais-do-sertao-brasil-arquitetura).

Além disso, o vão livre de 65m de comprimento do térreo é capaz de enaltecer a paisagem urbana e marítima, sendo capaz de enquadrar a cidade histórica de um lado e o oceano de outro. No entanto, o cobogó reveste a volumetria de concreto aparente de forma a tornalo mais

sutil

e integrado à paisagem, remodelando o

objeto

arquitetônico

e

proporcionando maior iluminação natural. Os desenhos utilizados nos cobogós procuram

112


sintetizar a cultura nordestina remetendo aos galhos das árvores da caatinga ou ainda ao solo ressecado do sertão, criando dessa forma elementos iconográficos da região (fig. 60).

Fig. 60: Cobogós de 1m x 1m remetendo ao sertão nordestino. (Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/ 907621/ museu-cais-do-sertao-brasil-arquitetura).

Evidentemente, mesmo apresentando uma volumetria minimalista, o Cais do Sertão Luiz Gonzaga consegue criar harmonia com o entorno, enquanto surge um novo ponto de encontro na região. Dessa forma, a importância volumétrica do objeto poder ser encontrada nos cheios e vazios e na continuidade arquitetônica do patrimônio.

113


3.2.5. Função: Programa e Fluxograma A fim de proporcionar à cidade de Recife um local onde as pessoas possam aprender mais sobre a cultural do sertão nordestino, afastado da capital e ainda desconhecido para muitos, o Cais do Sertão Luiz Gonzaga, além da revitalização urbana, tem como função primordial transpor a barreira cultural entre o interior e a capital (fig. 61), através de um programa voltado especialmente à cultura e aprendizado, promovendo, dessa forma, integração sociocultural entre ambas as regiões.

Fig. 61: Diagrama mostrando integração sociocultural proposta pelo museu. (Arquivo pessoal).

114


Além do vão livre no térreo, o programa é definido de forma a conduzir o espectador através da cultura sertaneja, para isso foi definido como acesso principal uma área de acolhimento, funcionando como recepção e área de convívio. Logo em seguida encontram-se áreas de espetáculos multimídia, pesquisa, biblioteca e exposição permanente. No bloco anexo ao armazém, situam-se as áreas de exposições temporárias e auditório, além do apoio técnico e administração. Por fim, na cobertura, localiza-se o restaurante, no qual os visitantes podem contemplar a paisagem urbana e a orla do mar (fig. 62).

Fig. 62: Programa do Cais do Sertão Luiz Gonzaga. (Fonte: adaptado de https://www.archdaily.com.br/br/ 907621/ museu-cais-do-sertao-brasil-arquitetura).

115


3.2.6. Estrutura: Análise estrutural Com dois núcleos de concreto armado nos extremos do anexo, e onde também estão localizados os acessos verticais, a estrutura teve de ser elaborada de modo a sustentar o grande vão atirantado de 65 m no térreo, uma das áreas de maior proeminência e abertura à cidade. Além disso, também precisou adequarse ao armazém já localizado no lote e tombado como patrimônio histórico, de modo a causar o mínimo impacto possível. É importante destacar o uso do concreto armado pigmentado em ocre predominando em toda a estrutura, facilitando a manutenção do edifício e procurando sintonizar os tons encontrados

no

solo

quente

do

sertão

nordestino (fig. 63). Assim, o concreto não é simplesmente um elemento estrutural, mas umas das bases do próprio partido Fig. 63: Concreto pigmentado ocre remetendo ao solo quente do sertão. arquitetônico, dialogando diretamente com o (Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/907 621/museu-cais-do-sertao-brasil-arquitetura). conceito do projeto e, além de tudo, ressaltando, de forma genérica, a iconografia da cultura nordestina.

116


Fig. 64: Perspectiva virtual do projeto do Centro Administrativo de Tallin. (Fonte: https://big.dk/#projects-tat).

3.3. Centro Administrativo de Tallin 117


3.3.1. Ficha técnica Ano do projeto

2008 (concurso)

Ano da construção

a concluir

Autor

Bjarke Ingels Group

Local

Tallin, Estônia

Área construída

28.000 m²

Tabela 4: Ficha técnica do Centro Administrativo de Tallin. (Arquivo pessoal).

3.3.2. Inserção urbana A fim de criar um novo centro administrativo em local estratégico, próximo ao Golfo da Noruega (fig. 65), a prefeitura da cidade de Tallin, capital da Estônia, lançou um concurso arquitetônico, no qual o escritório Bjark Ingels Group (BIG) foi o selecionado.

Fig. 65: Diagrama mostrando a nova localização da sede da prefeitura. (Fonte: adaptado de https://big.dk/#projects-tat). 118


Atualmente, a prefeitura se encontra localizada no perímetro da cidade medieval, afastado do mar. A ideia apresentada no concurso é criar um projeto em uma área estratégica da cidade, facilitando questões de logística e urbanismo, além de modernizar a região e criar um novo marco arquitetônico (fig. 66).

Fig. 66: Imagem de satélite com a localização da área do projeto. (Adaptado de Google Earth, 2019).

119


3.3.3. Implantação Por se tratar de um espaço voltado à administração pública, a implantação deve ser elaborada de modo a proporcionar maior envolvimento da população e ampliando noções de transparência política através da arquitetura (fig. 67). No entanto, essa transparência almejada ainda é muito incipiente na maioria dos centros administrativos, pois:

Fig. 67: Centro Administrativo de Tallin. (Fonte: https://big.dk/#projects-tat).

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Os políticos, pessoas que se supõe operarem profissionalmente no espaço público (têm seus escritórios lá, ou melhor, chamam de “público” o espaço em que estão seus escritórios), raramente são bem preparados para se defenderem da invasão de intrusos; e no espaço público qualquer um sem o tipo certo de escritório e que apareça lá em qualquer ocasião não oficialmente roteirizada, arquivada, sem direção de palco e sem convite é, por definição, um intruso. (...) (BAUMAN, 2000, p.15).

A população, a quem de fato pertencem os centros administrativos políticos, ainda é tratada como intrusa em muitas cidades, em uma contradição incoerente. A arquitetura tem então a finalidade de diminuir essa separação, aproximando o povo dos políticos que escolheu como representante, e o projeto proposto por BIG apresenta esses elementos, inclusive através da implantação, uma vez que promove integração aberta e direta com a cidade, envolvendo a população e definindo espaços públicos e democráticos (fig. 68). Fig. 68: Centro Administrativo de Tallin. (Fonte: https://big.dk/#projects-tat).

121


3.3.4. Forma: Volume e Paisagem Propondo criar um novo espaço público, BIG sugere elevar o volume, liberando o térreo ao público, livre e democrático, enfatizando a proposta de maior integração popular (fig. 69). Além de tudo, ao elevar a volumetria amplia-se a vista panorâmica em torno da cidade, intensificando o uso do espaço e criando noções de pertencimento urbano.

Fig. 69: Proposta de espaço público. (Fonte: adaptado de https://big.dk/#projects-tat).

Como mencionado, a liberação do térreo através da elevação dos volumes é um elemento crucial ao desenvolvimento volumétrico. Além disso, outros fatores contribuem para a definição da volumetria (fig. 70), como uma torre se sobressaindo aos limites do prédio, determinando, dessa forma, um marco urbano e um ponto focal, sendo possível visualizar a edificação à distância. Pontos focais, associados a outros elementos arquitetônicos, sempre foram determinantes à localização urbana. Assim: Associado com o recinto e, com este, designando a ocupação dum determinado espaço, o ponto focal é o símbolo vertical da convergência. Nas ruas mais animadas e nos largos dos mercados de vila e cidades, o ponto focal (seja coluna ou cruz) define a situação, surge como uma confirmação. “É este o local que procuravam. Páre. É aqui.” Em muitas povoações possui ainda esta clareza deslumbrante, mas em muitas outras foi-lhe retirada essa 122


função primordial pelas exigências do trânsito, que o isola, transformando-se, assim, num elemento indiferente, próprio dum “carnet” de antiquário. (CULLEN, p. 28).

Além disso, propõe-se também a manipular o térreo de forma assimétrica, a fim de permitir maior incidência de luz natural, condicionando a circulação e permanência dos visitantes.

Fig. 70: Desenvolvimento volumétrico do projeto. (Fonte: adaptado de https://big.dk/#projects-tat).

Após analisar a composição volumétrica, é fundamental analisar também os resultados de iluminação obtidos com isso, pois, por apresentar vazios em seu interior, a volumetria proporciona a criação de pátios, os quais contribuem eficientemente à maior incidência de iluminação natural nos espaços internos. Contudo, claraboias também são implantadas em algumas partes do edifício, permitindo a incidência de luz difusa nos escritórios (fig. 71).

Fig. 71: Diagrama mostrando a utilização de iluminação natural no projeto. (Fonte: adaptado de https://big.dk/#projects-tat). 123


Considerando a vista panorâmica obtida com a elevação da volumetria, é proposto ao projeto utilizar a cobertura também como espaço público, além de criar um mirante que permite visuais em diversos ângulos, proporcionando vistas democráticas. Além de tudo, também é proposto que haja visualizações dos escritórios do interior do edifício, ampliando a transparência e a forma como a população interage com o setor político (fig. 72).

Fig. 72: Vistas proporcionadas pela volumetria do projeto. (Fonte: adaptado de https://big.dk/#projects-tat).

3.3.5. Função: Programa e Fluxograma Como o projeto se trata de um centro administrativo, o programa deve contemplar dessa forma todos os departamentos e conselhos voltados à administração pública. O

124


desafio, no entanto, se encontra em como organizar esse programa de forma eficiente, sendo assim, o escritório propõe um layout poroso do programa, aumentando a integração entre os vários departamentos e criando diversos pátios por todo o edifício (fig. 73).

Fig. 73: Layout do programa. (Fonte: adaptado de https://big.dk/#projects-tat).

A implementação de vários

pátios

permite

a

criação de áreas verdes, de convívio, além de espaços dinâmicos e de integração social. Os pátios também contribuem para melhorar a incidência natura,

de

que

insuficiente

iluminação poderia

ser

devido

às

dimensões do projeto (fig. 74).

Fig. 74: Área verdes (pátios) obtidas com o layout do programa. (Fonte: adaptado de https://big.dk/#projects-tat). 125


3.3.6. Estrutura: Análise estrutural O sistema estrutural foi condicionado de forma a permitir uma distribuição mais eficiente do layout, viabilizar uma circulação dinâmica e interligar os diversos espaços presentes no centro administrativo. Para a concepção estrutural são utilizados núcleos de concreto, nos quais também se encontra a circulação vertical, além de diversos pilares dispostos em uma malha não regular, acompanhando a volumetria proposta (fig. 75).

Fig. 75: Planta mostrando a disposição dos núcleos e pilares estruturais. (Fonte: https://concursosdeprojeto.org/2009/07/03/tallin-estonia-big/). 126


Como é possível observar, os núcleos desempenham protagonismo no sistema estrutural, junto com os pilares, que mesmo seguindo uma malha regular em cada módulo, se mostram assimétricos no conjunto arquitetônico, viabilizando a volumetria e os fluxos determinados. Além de tudo, esse sistema possibilita a eliminação de paredes fixas no edifício, ampliando o espaço, valorizando o layout e proporcionando melhores visuais do espaço exterior. Assim, buscando maior eficiência do elemento arquitetônico público, a estrutura segue o conceito de permeabilidade, facilitando o acesso e promovendo maior integração dos espaços, evitando bloquear as vistas panorâmicas e o contato com o exterior, configurando aspectos democráticos e cívicos à composição arquitetônica.

127


128


Fig. 76: Acesso principal ao CCSP. (Arquivo pessoal).

3.4. Centro Cultural São Paulo (CCSP) - visita técnica 129


3.4.1. Ficha técnica Ano do projeto

1979

Ano da construção

1982

Autor

Eurico Prado Lopes e Luiz Telles

Local

São Paulo, SP

Área construída

46.500 m²

Tabela 5: Ficha técnica do CCSP. (Arquivo pessoal).

3.4.2. Inserção urbana Inaugurado em um período no qual a presença de equipamentos culturais de grande porte no país ainda era pouco expressiva, o Centro Cultural São Paulo (CCSP) foi pensado para ocupar um terreno remanescente das obras do metrô, mas inicialmente idealizado apenas como uma biblioteca. Devido ao porte de grandes dimensões do terreno e a necessidade de equipamentos culturais que integrassem as várias regiões da cidade, optou-se por um centro cultural, seguindo, inclusive, modelos já implementos em outras partes do mundo, sobretudo o Centro Georges Pompidou, em Paris, “que foi a grande referência para o Centro Cultural São Paulo” (TELLES, 2002, p.83), no qual seria possível ocupar áreas vazia da capital francesa, enquanto atendia a demanda da população por equipamentos culturais. Isso pode ser constatado no foto de que:

130


(...) após 1968 o mundo ocidental desenvolvido embarcou em um amplo processo de democratização e emancipação acompanhando o estabelecimento e desenvolvimento da sociedade de consumo e de lazer. Novas definições e formas arquitetônicas tomando caminhos diferentes, muitos dos quais conduzidos pela grande preocupação social e confiança no papel da arquitetura como um meio de retratar a sociedade. (GRAFE e LEIRNER apud TELLES, p.83).

Dessa forma e por localizar-se em uma área central da cidade e de fácil acesso, o CCSP tem a capacidade tanto de integração social como urbana, aproximando pessoas de diversas regiões da cidade e de diferentes áreas da sociedade. Isso é proporcionado através da oferta de vários tipos de atividades culturais, gerando informação, discussão e criação, elementos essenciais a um centro cultural (fig. 77).

Fig. 77: Diagrama mostrando os principais vetores projetuais do CCSP. (Arquivo pessoal). 131


Seria então fundamental que: O espaço deveria, por si só, convidar o usuário à leitura. O centro da Biblioteca deveria ser bem marcado e facilmente identificado pelo usuário. O edifício deveria receber todas as pessoas, de braços abertos, mas especialmente o cidadão comum, simples e quase sem instrução. A esse usuário é que a Biblioteca deveria ser mais atraente. Cada uma das partes do edifício deveria ter características e tratamento próprios e, ao mesmo tempo, se integrar à unidade do todo, evitando-se compartimentação, seccionamento e obstrução de áreas. (TELLES, p.221).

Dessa forma, se mostra fundamental a participação da população como elemento chave no desenvolvimento da biblioteca, que posteriormente viria a se tornar o centro cultural. Como mencionado, devido à localização estratégica, o CCSP possui fácil acesso às diversas regiões da cidade. O centro cultural possui o principal acesso integrado à estação Vergueiro do metrô, viabilizando o acesso por transporte público. Além disso, encontra-se também próximo a importantes avenidas da cidade, como a Paulista e a 23 de Maio, da qual é contíguo (fig. 78). Fig. 78: Mapa esquemático mostrando os meios de acesso ao CCSP. (Arquivo pessoal).

132


3.4.3. Implantação Com o fim das obras do metrô, um imenso terreno ficou sem ocupação imediata no bairro do Paraíso. Mas logo surgiu a ideia do projeto da biblioteca, e eventualmente do centro cultural, que deveria ocupar de forma harmoniosa todo o terreno, que se encontrava nas confluências de diversos eixos viários da cidade, o que poderia representar um obstáculo. Além disso, o terreno apresenta uma topografia acidentada, mas que, no entanto, foi utilizada com maestria pelos arquitetos. Assim sendo: O terreno longo (350 m), estreito (maior dimensão 65 m) e com grande declive (no trecho mais largo, o desnível entre ruas chega a 11.70 m) causava grande preocupação porque, teoricamente, para abrigar a coleção radial, o edifício deveria ser circular ou se aproximar do quadrado. O centro ou o “coração” da Biblioteca (catálogo geral, informações, referência geral e a coleção em livre acesso) deveria, entretanto, ocupar sempre a parte mais larga do terreno, para não correr o risco de contribuir à segmentação ou compartimentação da “cultura”. O espaço deveria ser amplo para abrigar o conhecimento como um todo, em níveis de aprofundamento. (TELLES, p.217).

A implantação de um projeto do porte do CCSP e a consequente ocupação do lugar significa a transformação de toda uma região, acarretando novas formas de vivenciar a cidade, surgindo novos sentimentos de conexão com o meio urbano e ampliando as noções de pertencimento, sendo que: A iniciativa de construção, de recuperação ou reciclagem de edifícios com fins culturais geralmente promove recuperação urbana da área próxima. Uma outra atmosfera se expande, uma nova alma do lugar (o “genius loci”) acontece após a construção do edifício e implantação do uso (...).(TELLES, p.123).

133


3.4.4. Forma: Volume e Paisagem A proposta dos arquitetos seria criar uma volumetria que causasse o menor impacto possível na paisagem urbana, ao mesmo tempo em que criasse espaços específicos de convívio entre a população. Dessa forma: (...) o edifício não poderia se impor à paisagem urbana. Deveria ser baixo, leve, convidativo e integrar-se ao terreno, incorporando seu formato e topografia. Essa postura favoreceu o cumprimento do programa, que requeria área aproximada de 48.000 m2, considerando-se a premissa de que o edifício tivesse poucos andares. O grande desnível entre a Rua Vergueiro e a Avenida 23 de Maio seria assimilado pelo próprio edifício, propiciando a criação de espaços mais protegidos da incidência de raios solares e da variação de temperatura do exterior, favorecendo a conservação dos livros e o conforto dos usuários, defendendo-os, também, da poluição sonora provocada pelo tráfego intenso de veículos nas duas vias públicas, e da própria agressividade da cidade. (TELLES, p.215).

Esses espaços, protegidos da insolação e da poluição sonora, proporcionariam usos mais amplos de atividades artísticas e democráticas, visando à integração social entre os visitantes (fig. 79). A análise e integração dos elementos do entorno foram essenciais para o desenvolvimento da volumetria, de modo a respeitar a topografia, áreas verdes já existentes no terreno e a proximidade com eixos viários. Assim: Definidas aproximadamente as interferências dos taludes e arrimos em planta, iniciou-se a distribuição das atividades no espaço disponível, tendo sempre por base o Programa Funcional, a preservação das árvores e a recomposição do talude da Avenida 23 de Maio. Com as informações e conclusões dos estudos da Comissão e com os dados do Relatório do Programa Funcional muito claros, procurou-se visualizar o espaço como se fosse o próprio leitor. Simulou-

134


se a percepção e leitura do espaço pelo leitor, e adjetivou-se esse espaço como sendo confortável, eficiente, lúdico e atraente. (TELLES, p.219).

Fig. 79: Vista interna de uso de um dos espaços do CCSP. (Arquivo pessoal).

Definidas as adaptações da volumetria em relação ao terreno, o objetivo seguinte seria a integração do projeto à paisagem urbana, dialogando de forma harmoniosa com a cidade. Contudo:

135


Sabia-se que o edifício não se fecharia jamais para a cidade, ao contrário, estabeleceria sempre o diálogo com ela, através dos acessos mais livres às atividades e de visuais externas que ofereceriam, ao usuário, referência geográfica da paisagem urbana. (...) (TELLES, p.223).

Como resultado direto dessa proposta, de respeitar e integrar a paisagem urbana, os arquitetos propõem uma volumetria com o menor impacto possível sobre o entorno, ou seja: A intenção da maior integração à paisagem urbana conduziu o projeto à criação de jardins sobre laje de cobertura parcial da rua interna, recompondo, de certa forma o terreno original. Os jardins seriam área de lazer e de contemplação da paisagem urbana local. (TELLES, p.239).

Os jardins suspensos, em contraponto ao fluxo de pedestres na rua interna, localizada no piso inferior, proporciona um local de tranquilidade e contemplação do entorno urbano (fig. 80), reafirmando a intenção de integrar o objeto arquitetônico à cidade. Fig. 80: Vista de parte do jardim elevado. (Arquivo pessoal).

136


3.4.5. Função: Programa e Fluxograma Com o intuito de proporcionar aos visitantes ambientes de relação íntima com a cultura e relações interpessoais: Os arquitetos procuraram criar ambiente que favorecesse a calma, a interiorização, e que implicasse no encontro, na contemplação e na relação de intimidade entre o “eu” do visitante e a obra. Seria oferecido ao usuário um percurso que o situasse, acolhesse e o levasse a descobrir ao mesmo tempo obras e espaço – contínuo, aberto, direto. Busca análoga aconteceu no processo do Centro Cultural São Paulo, pela intenção de oferecer ao usuário espaço confortável, leitura direta do edifício e das atividades, no percurso proposto pela rua central. (TELLES, p.105).

Adotando essa análise como referência, o programa proposto pelos arquitetos reserva à biblioteca um amplo espaço, considerando o fato de ter sido o uso inicial pensado ao projeto, espaços voltados às artes cênicas e músicas, áreas expositivas, restaurantes e comércio, além dos jardins, reserva técnica e circulação interna, onde, inclusive, também são realizadas atividades de dança, estudos, reuniões e diversas outras formas de manifestação cultural (fig. 81 e 82). Outro fato importante diz respeito à permanência e ocupação do espaço, pois: Abrigo, sombra, conveniência e um ambiente aprazível são as causas mais frequentes da apropriação de espaço, as condições que levam à ocupação de determinados locais. O facto de se assinalarem esses locais com elementos de carácter permanente pode contribuir para indicar os tipos de ocupação que existem na cidade e criar um meio- ambiente que não seja fluído e monótono, mas sim estático e equipado. (CULLEN, 2006, p.25).

137


Fig. 81: Programa de necessidades. (Arquivo pessoal).

138


Fig. 82: Programa de necessidades. (Arquivo pessoal). 139


Além disso, a apropriação do equipamento arquitetônico requer a definição de um programa adequado e sintonizado com as necessidades da sociedade, proporcionando um ambiente acolhedor e democrático e ondem as pessoas possam circular livremente. A circulação é parte essencial do projeto, criando uma rua interna paralela aos eixos de tráfego vizinhos, mas, nesse caso, exclusiva aos pedestres, que podem transitar livremente pelos espaços do CCSP. Evidentemente: A rua interna, espaço de transição, deveria proteger o edifício dos aspectos negativos das ruas próximas, por exemplo, ruído, tráfego intenso, ventos, e ao mesmo tempo, ser convite e preparação ao percurso. O espaço de transição seria confortável, parcialmente coberto, protegendo o usuário dos raios solares diretos e, ao mesmo tempo, possibilitando contato com a natureza através de área ajardinada, que acompanha seu percurso pelo eixo central. (TELLES, p.235).

Tendo a rua interna como eixo principal de circulação, o CCSP possui dois acessos laterais à Rua Vergueiro e um acesso direto à estação de metrô, além de diversos acessos secundários dentro do edifício (fig. 83), sobretudo pelas rampas e escadas helicoidais. Fig. 83: Principais eixos de circulação interna. (Arquivo pessoal).

140


A partir disso, é possível perceber como a disposição do programa dialoga intimamente com a circulação, se desenvolvendo continuamente com a rua interna e possibilitando um fluxo dinâmico e longitudinal por todo o centro cultural.

3.4.6. Estrutura: Análise estrutural Um dos elementos de maior composição arquitetônica do CCSP é, certamente, o sistema estrutural utilizado, pois, é protagonista na definição volumétrica e espacial. A estrutura do Centro Cultural São Paulo foi proposta como elemento participante do espaço, compondo a atmosfera pretendida de forma mais liberada, sem causar opressão espacial às atividades e ao próprio espaço – houve muito diálogo entre os arquitetos para que se obtivesse flexibilidade, por exemplo, quanto à distribuição dos pilares, sem provocar anarquia no processo construtivo. (TELLES, p.141).

A definição racional do sistema estrutural, sobretudo dos pilares de aço, proporcionam, de fato, fluidez e acolhimento ao espaço, ampliando-o e tornando o fluxo mais eficiente e prazeroso. A respeito dos pilares, chama à atenção a forma como foram definidos, rígidos e ao mesmo tempo esbeltos e inovadores, pois, cada pilar é definido com um conjunto de dois ou quatro pilares menores unidos e levemente curvados na parte superior, desabrochando à cobertura (fig. 84). Outro elemento do sistema estrutural que se destaca são as várias rampas de aço sobre a biblioteca (fig. 85), conectando os pavimentos de modo suave e racional, harmonizando com os demais elementos da estrutura e enfatizando a concepção projetual proposta para o CCSP.

141


Fig. 84: Croqui feito durante visita ao CCSP mostrando a fachada do acesso principal e detalhes da estrutura do pilar. (Arquivo pessoal). 142


Fig. 85: Sistema de rampas utilizadas no CCSP. (Arquivo pessoal).

A respeito de elementos estruturais não implementados e às vigas em balanço: A estrutura de fachada foi prevista para servir como suporte de banners, iluminação de apoio, comunicação sobre eventos, possibilitando também instalação de sistema audiovisual – painéis eletrônicos – de interação com os cidadãos. Por falta de verba esse sistema não foi instalado. No Centro Cultural

143


São Paulo, as vigas do balanço da cobertura da Pinacoteca, sobre a Avenida 23 de Maio tinham função dupla de suporte para os quebra-sóis e para “banners” de informação e divulgação das atividades culturais. (TELLES, p.109).

No entanto, considerando as dimensões do projeto, é compreensível que muitos elementos inicialmente pensados para a estrutura fossem repensados e eventualmente substituídos por outros mais acessíveis. Ainda assim, as vigas em balanço inicialmente propostas foram implementadas e funcionam como um verdadeiro ponto focal a partir da Avenida 23 de Maio, moldando e dando identidade ao edifício. Para os arquitetos: A estrutura deveria ser mais livre, partícipe da leitura do espaço, não se impor ao uso desse espaço. Não se optava pelos ideais da arquitetura moderna; não era intenção que o edifício reorganizasse o mundo, mas sim que participasse e se integrasse à paisagem e ao usuário. (TELLES, p.231).

Assim, a estrutura é parte essencial da edificação, constituindo volumes, conexões, e o ambiente como um todo. A estrutura nada tem a esconder, mas sim revelar a identidade que proporciona ao projeto. É apresentada em seu estado natural aos visitantes, convidando-os a percorre os ambientes e vivenciar o espaço.

144


PROJETO


Fig. 3 (capa anterior): Cais do Sertão Luiz Gonzaga (Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/ 907621/museu-cais-do-sertao-brasil-arquitetura). Fig. 4: Centro Cultural São Paulo. (Arquivo pessoal).


4. PROJETO

4.1. Partido arquitetônico Localizado em uma área tradicional da cidade, o Brás, o Centro Cultural Nordeste (ccNe) tem como objetivos primordiais a recuperação e integração urbana aliada a um projeto arquitetônico capaz de promover a cultura nordestina como fator intrínseco à cidade de São Paulo em espaços abertos e dinâmicos e a integração sociocultural, sendo esses os principais elementos do partido arquitetônico. Além de tudo, é importante salientar a necessidade de respeitar o entorno e a paisagem urbana, sobretudo pela importância histórica e econômica da região e o intenso fluxo de pessoas.

4.2. Reconfiguração do espaço urbano 4.2.1. Requalificação urbana A princípio procurou-se fazer uma análise geral e preliminar da região, considerando o local proposto para o terreno e as peculiaridades do entorno (fig. 88). Essa análise buscou apontar as principais características urbanas do local, sobretudo vias de acesso, edifícios notáveis e principais áreas verdes (fig. 89), para em seguida fazer uma análise socioeconômica, através de visita ao lote e dados urbanísticos, como apresentado anteriormente.

147


Fig. 88: Imagem de satélite do terreno e entorno. (Google Earth, 2019).

Fig. 89: Situação do local do terreno sobre imagem de satélite. (Adaptado de Google Earth, 2019).

148


Efetuada região

e

a

análise

da

considerando

os

levantamentos,

percebe-se

a

necessidade de, antes de tudo, desenvolver

um

requalificação possível

projeto

urbana,

notar

configuração

atual

pois

que (fig.

de é na 90)

existem poucas áreas verdes, a ausência de vias exclusivas para pedestres e imponentes barreiras Fig. 90: Configuração atual do terreno. (Arquivo pessoal).

urbanas, como o rio Tamanduateí e a avenida do estado. A fim de

solucionar esses problemas propõe-se uma configuração que respeite o pedestre e as conexões urbanas (fig. 91). Os principais pontos propostos para a requalificação urbana (fig. 92) ocorrem com o rebaixamento das avenidas Mercúrio e Senador Queirós por túnel, diminuindo os congestionamentos no cruzamento com a avenida do estado, conexão para pedestres conectando as margens do rio e dessa forma evitando eventuais acidentes, uma vez que a conexão ocorrerá acima do fluxo de veículos, criação de boulevards dentro da área do projeto e recuperação e implementação de áreas verdes.

149

Fig. 91: Croqui da requalificação urbana. (Arquivo pessoal).


Fig. 92: Configuração proposta do terreno após o projeto. (Arquivo pessoal).

4.2.2. Integração urbana Visando conectar os bairro do Brás e Sé, regiões leste e centro da cidade, respectivamente, separados por uma barreira urbana complexa - o rio Tamanduateí e o intenso fluxo de veículos na Avenida do Estado, o projeto se propõe a desenvolver a integração urbana através da passarela e do túnel viário de interligação, dessa forma, além da própria conexão urbana, a conexão entre o Centro Cultural Nordeste e o Mercado Municipal também se tornarão mais integrados, melhorando o fluxo de pedestres e desenvolvendo as atividades sociais, culturais e econômicas da região (fig. 93).

150


Fig. 93: Diagrama de integração urbana. (Arquivo pessoal).

O desenho da passarela procura proporcionar uma relação amistosa com o entorno, não sendo apenas um meio de travessia, mas ampliando as opções de pontos de encontro e contemplação da paisagem urbana, criando conexões com a rua e com os dois primeiros pavimentos de ccNe. Inicialmente, pensou-se em um desenho mais fluído (fig. 94), mas que dificultaria a acessibilidade, dessa forma, optou-se em um percurso com forma mais geométrica, criando maior integração com entorno, e inclinações suaves (inferiores a 4,99%), excluindo a necessidade de patamares (fig. 95).

Fig. 94: Estudo preliminar da passarela sobre o rio Tamnduateí. (Arquivo pessoal). 151


Fig. 95: Croqui com a proposta final da passarela. (Arquivo pessoal). 152


4.2.3. Fruição pública Buscando ampliar a integração com a cidade, o projeto propõe que o térreo seja livre, garantindo maiores opções de fruição pública (fig. 96). Dessa forma, a conexão com a rua e com os edifício e praças vizinhos ganha maior dinamismo e melhor fluidez.

Fig. 96: Diagrama de fruição pública. (Arquivo pessoal).

4.2.4. Implantação e masterplan Um dos condicionantes do projeto se deve à forma como a implantação foi definida, a qual ocupa duas quadras e se encontra circundada por diversas vias. Devido às proporções obtidas com a implantação e considerando o uso público e cultural do projeto, se torna de fundamental importância o desenvolvimento de um projeto de masterplan13,

Masterplan “é uma palavra em inglês que pode ter muitos significados. Para os profissionais estritamente urbanistas pode representar o planejamento urbano de uma cidade considerando-a como um organismo vivo - que se modifica e se altera constantemente. Para os arquitetos, o termo pode fazer alusão ao planejamento de uma cidade, ou parte dela, como fosse um grande projeto de arquitetura, menos mutável e flexível.” (http://comoprojetar.com.br/como-projetar-um-masterplan-big/, acessado em 16/11/2019). 13

153


enfatizando ainda mais o caráter de reestruturação urbana apresentado pelo projeto do centro cultural. O masterplan ocorre através de três eixos básicos, o túnel viário sob o rio Tamanduateí, a conexão com a região da Sé e do Mercado Municipal, através da passarela, e a ampliação das áreas verdes em ambos os lados do rio, criando novas configurações urbanas e opções de lazer (fig. 97 e 98).

4.3. Volumetria 4.3.1. Concepção volumétrica Ocupando duas quadras e uma praça, as quais são separadas por ruas, a configuração atual do terreno prioriza a circulação de veículos em detrimento do acesso de pedestres. Dessa forma, pensou-se em diversas soluções volumétricas, que fossem capazes de solucionar a complexidade do terreno e do entorno (fig. 99 e 100). Buscando mitigar essas questões pouco atrativas a um centro cultural e ao térreo livre voltado à fruição pública, diversos fatores foram considerados à concepção volumétrica (fig. 101, 102 e 103). Inicialmente, considerou-se justamente a fruição pública como elemento essencial à volumetria, criando circulações transversais e longitudinais por todo o lote, resultando na elevação dos volumes e liberação do térreo aos pedestres. Outro fator importante no desenvolvimento volumétrico é a relação com entorno, buscando manter similaridades de gabaritos, dessa forma, os áticos e os volumes em geral são desenvolvidos de forma a respeitar o entorno, sobretudo o Mercado Municipal, importante edifício histórico e cultural da cidade.

154


155 Fig. 97: Concepção intermediária do masterplan e implantação. (Arquivo pessoal).


156 Fig. 98: Concepção final do masterplan e implantação. (Arquivo pessoal).


Fig. 99: Estudos iniciais de implantação e volumetria. (Arquivo pessoal).

157


Fig. 100: Estudos iniciais de implantação e volumetria. (Arquivo pessoal).

158


Fig. 101: Croquis com a concepção volumétrica. (Arquivo pessoal).

159


Fig. 102: Concepção intermediária da volumetria. (Arquivo pessoal).

160


Fig. 103: Concepção volumétrica. (Arquivo pessoal). 161


A fim de ampliar as calçadas e dinamizar a circulação de pedestres, recuos maiores são adotados, reconfigurando a volumetria. Além disso, através da remodelação da volumetria, propõe-se diversidade de pavimentos e a implementação de alpendres, importantes áreas voltadas a minimizar os efeitos da insolação e proporcionar melhores condições de circulação e convívio, definindo dessa forma um novo ponto notável na região. Definido isso, propõe-se a implementação de boulevards e recintos nos eixos centrais do edifício, criando pontos de encontro e permanência no térreo, inclusive através do rebaixamento de parte do piso térreo. Esse rebaixamento também tem por finalidade proporcionar áreas de apresentações públicas e de minimizar os efeitos da poluição sonora causada pela Avenida do Estado. Considerando a importância visual do entorno, sobretudo as região da colina da Sé, a volumetria se adequa de modo a proporcionar maiores pontos de contemplação à paisagem urbana, ampliando as formas de relacionamento com a cidade. Por fim, o desenvolvimento da volumetria em forma similar a um leque, foi concebido através do estudo de diversas disposições das varandas (fig. 104), de forma a proporcionar maior eficiência de iluminação natural nos boulevards e demais pavimentos superiores (fig. 105).

4.3.2. Cheios e vazio / Horizontalidade Em relação à fachada principal proposta para o projeto, os alpendres, atuando como elemento vazio, junto ao térreo livre, e as vigas, como elemento cheio, projetam a fachada horizontalmente, debruçando suavemente o edifício em direção ao entorno urbano, enquanto os painéis de policarbonato e as colunas se contrapõem à

162


horizontalidade, projetando a fachada verticalmente, proporcionando harmonia e equilíbrio ao conjunto (fig. 106).

Fig. 104: análise de possibilidades volumétricas considerando fatores de insolação. (Arquivo pessoal). 163


Fig. 105: Concepção final da volumetria. (Arquivo pessoal).

Fig. 106: Diagrama de composição da fachada. (Arquivo pessoal). 164


4.3.3. Conforto térmico (insolação e ventilação) A volumetria diagonal e escalonada do edifício, junto com os alpendres (fig. 107), proporcionam ambientes bem iluminados, mas ao mesmo tempo bem sombreados e com bastante ventilação cruzada. Essa solução volumétrica também permite que a luz solar penetre em todos os pavimentos, inclusive no térreo e na praça de convívio no térreo rebaixado, garantindo melhor conforto térmico e maior iluminação (fig. 108).

Fig. 107: Concepção preliminar da volumetria do projeto, considerando circulação, insolação e sistema estrutural. (Arquivo pessoal). 165


Fig. 108: Diagrama de conforto térmico (insolação e ventilação). (Arquivo pessoal).

4.4. Setorização e programa 4.4.1. Setorização O ccNe é dividido em quatro blocos distintos (fig. 109) e dois níveis de subsolo para estacionamento. O primeiro bloco tem a função de abrigas salas de consultórios, a parte administrativa e as salas de apoio às exposições, como reserva técnica e restauro, além da praça de alimentação. O segundo bloco abrigas as salas e ateliês de diversas atividades artísticas. No terceiro bloco estão localizados a biblioteca, o auditório, o teatro e demais salas de apoio, sobretudo ao teatro. Por fim, no quarto bloco estão localizadas as salas de exposição, tanto temporárias como permanentes. 166


Mesmo que cada um dos quatro blocos apresentem uma volumetria independente e estrutura própria, existem diversas passarelas os conectando, resultando na unidade do projeto.

Fig. 109: Diagrama de setorização. (Arquivo pessoal).

4.4.2. Programa Considerando a setorização apresentada no projeto, o programa foi pensado de modo a manter essa proposta, mantendo, inclusive, a independência de cada bloco (fig. 110 e 111), mas procurando também proporcionar todos os ambientes necessários a um centro cultural e a infraestrutura pertinente (fig. 112).

167


Fig. 110: Definição do programa e layout. (Arquivo pessoal).

168


Fig. 111: Definição do programa e layout. (Arquivo pessoal).

169


Fig. 112: Programa. (Arquivo pessoal).

170


A fim de facilitar a circulação, tanto de pedestres quanto de ciclistas e veículos, são propostas diversas áreas de circulação em todos os níveis do edifício, sobretudo no térreo livre, e dois pavimentos de estacionamento no subsolo. Além de tudo, salas de serviços diversos

e

sanitários

estão

localizadas

em

todos

os

pavimentos,

reforçando

a

independência de cada bloco. Salas de vestiário também foram dispostas de forma estratégica, próximas às áreas de atividades físicas, administrativo e no estacionamento, próximos ao bicicletário. Com o intuito de diversificar o uso do edifício, foram reservadas salas para comércio no térreo e restaurantes na cobertura, juntos da praça de alimentação, conectada ao redário, logo acima. Ainda buscando diversidade de usos, consultórios médicos públicos são propostos no programa, a fim de proporcionar serviço à população, além de atrair mais visitantes ao espaço. As áreas de apoio às exposições e o administrativo do centro cultural estão localizadas logo acima dos consultórios, e salas de reunião estão dispostas de forma dinâmica, nos mais diversos pavimentos. Os ateliês de atividades artísticas estão dispostos em um único bloco, facilitando a organização e o fluxo. Dentre as atividades artísticas propostas é possível citar artes plásticas, escultura, artesanato, dança e música, todas voltadas às manifestações artísticas nordestinas. Além disso, o ateliê de literatura de cordel, tradicional da cultura nordestina, a discoteca e a biblioteca estão localizados no primeiro pavimento do bloco de artes cênicas. No mesmo bloco, o auditório se encontra no pavimento logo acima, junto às salas de apoio, concentração, café, bilheteira e foyer. Completando o bloco de artes cênicas, se encontra o teatro e salas de apoio, que foi planejado de forma a atender os principais requisitos solicitados às peças de teatro, dentre as quais plateia, caixa de palco, onde também se encontram o palco e as coxias, proscênio, concentração e camarins coletivos,

171


oficina, depósitos de figurinos e cenários e área de ensaios, além de um café, bilheteria e foyer (fig. 113 e 114).

Fig. 113: Definição da infraestrutura do teatro. (Arquivo pessoal). 172


Fig. 114: Definição do funcionamento do teatro e do sistema estrutural. (Arquivo pessoal).

Por fim, o bloco de exposições está dividido basicamente em quatro pavimentos voltados exclusivamente às salas de exposição, duas de exposições temporárias nos pavimentos inferiores e duas de exposições permanentes, nos pavimentos superiores. O bloco possui também salas específicas de apoio às exposições e uma conexão direta, por passarela, às salas de reserva técnica e restauro.

173


Fig. 115: Áreas de convivência. (Arquivo pessoal).

174


Fig. 116: Residência nordestina tradicional, enfatizando a presença do alpendre. (Arquivo pessoal).

4.4.3. Áreas de convivência Pode-se classificar as áreas de convivência em três tipos básicos de espaço: térreo livre, alpendres e mirantes (fig. 115). O térreo livre possui a capacidade de integração direta com a cidade, convidando a população a adentrar e permanecer no centro cultural e reforçando o aspecto da fruição pública, sendo esse um espaço aberto à cidade e onde eventualmente podem ocorrer as mais diversas manifestações culturais e sociais. 175


Os alpendres, elemento tradicional da arquitetura nordestina (fig. 116), possuem a função primordial de proporcionar abrigo e antessala em

um espaço aberto,

proporcionando as mais diversas visuais da cidade. Além disso, esses espaços funcionam também como ambientes voltados aos mais diversos usos, como espera, encontro, descanso, foyer e como áreas eventuais de manifestações artísticas e de exposições. Na cobertura estão localizados os mirantes, local destinado à permanência e socialização dos visitantes e à contemplação da cidade, e onde também se encontra o redário - área comum nas residências nordestinas, destinadas ao descanso.

4.5. Circulação 4.5.1. Acessos Os principais acessos de visitantes ocorrem através do nível térreo, conectado diretamente às ruas vizinhas (fig. 117). Esse acesso ocorre basicamente pelos elevadores, escadas de emergência e escadas rolantes, todos com bloqueios, ou através de escadarias e rampa conectados ao térreo rebaixado, onde se localiza o comércio e o acesso principal para pedestres e ciclistas ao estacionamento. O acesso de visitantes também pode ser feito através da passarela sobre o rio Tamanduateí, proporcionando à ambas as margens do rio acesso aos dois primeiros níveis superiores do centro cultural. O acesso de veículo ocorre a partir de um bloqueio localizado no segundo pavimento do subsolo, conectado diretamente ao túnel sob o rio e facilitado o fluxo de veículos ao sistema viário, sem obstruir a circulação de pedestres.

176


Fig. 117: Diagrama de acessos. (Arquivo pessoal).

4.5.2. Circulação horizontal Classificada em três aspectos básicos, a circulação horizontal procura proporcionar fluxo dinâmico e democrático aos visitantes por todo o centro cultural (fig. 118). As principais áreas de circulação aos visitantes ocorrem no térreo livre, alpendres e passarelas de conexão entre os blocos. A circulação de funcionários está condicionada às áreas correlatas às atividades administrativas e de apoio às salas de exposição. Enquanto a circulação de veículos ocorre nos dois pavimentos do subsolo, conectados ao túnel viário.

177


'Fig. 118: Circulação horizontal. (Arquivo pessoal).

178


4.5.3. Circulação vertical e conexões Sendo a fruição pública elemento principal de circulação, essa possui a capacidade de integrar horizontalmente o térreo de todos os blocos e isso significa conexão direta aos principais eixos de circulação vertical, sobretudo elevadores de visitantes e funcionários, elevadores de carga e serviço e escadas de emergência (fig. 119). Complementar a isso, há também escadas rolantes conectando o térreo aos primeiros pavimentos de cada bloco e uma escada de apoio conectando a praça de alimentação ao redário, na cobertura. Além disso, buscando facilitar o acesso ao térreo rebaixado, foram projetadas duas escadarias, que também podem funcionar como arquibancada (fig. 120) e uma grande rampa de acesso a pedestres e ciclistas (fig. 121). Para conectar os blocos, diversas passarelas foram dispostas, facilitando a integração e o fluxo dos visitantes, inclusive, uma dessas conexões tem a função de conectar as salas de exposições às salas de restauro e reserva técnica. Fig. 119: Diagrama de circulação vertical e conexões. (Arquivo pessoal).

179


Fig. 120: Estudo preliminar das escadarias. (Arquivo pessoal). 180


Fig. 121: Estudo preliminar da rampa. (Arquivo pessoal).

181


4.6. Sistema estrutural 4.6.1. Sistema estrutural do centro cultural O elemento primordial do sistema estrutural do centro cultural é o concreto armado aparente e pigmentando em tom ocre, remetendo as cores do sertão nordestino e procurando, dessa forma, harmonizar com as cores dos edifícios vizinhos, sobretudo o Mercado Municipal, além de facilitar a manutenção. O sistema estrutural do centro cultural (fig. 123) é composto por quatro núcleos em concreto armado, dispostos em cada bloco, os quais recebem apoio estrutural de diversos pilares circulares convencionais e três pilares especiais em “V” (fig. 122, 124 e 125), ambos também em concreto armado e dispostos em uma malha regular. Por fim, as vigas em concreto armado são responsáveis por transmitir a carga das lajes nervuradas aos núcleos e pilares, conduzindo-a ao solo. À exceção do concreto armado, predominante em toda a estrutura, existe uma passarela conectando dois blocos, que devido ao grande vão livre a qual seria submetida (superior a 30 m), foi projeta em treliça metálica, estrutura mais

Fig. 122: Comportamento estrutural dos pilares em V. (Arquivo pessoal).

leve e capaz de vencer maiores vãos (fig. 126).

182


Fig. 123: Diagrama do sistema estrutural. (Arquivo pessoal).

183


Fig. 124: Estudo da influência dos pilares em V no projeto. (Arquivo pessoal).

184


185 Fig. 125: Estudo da influência dos pilares em V no projeto. (Arquivo pessoal).


Fig. 126: Estudo preliminar da passarela entre os blocos. (Arquivo pessoal). 186


4.6.2. Sistema estrutural da passarela Para a passarela sobre o rio Tamanduateí, pensou-se em um sistema estrutural eficiente e capaz de vencer grandes vãos sem prejudicar o fluxo de veículos, inclusive de carga, na Avenida do Estado (fig. 127). Dessa forma, nos trechos localizados sobre a avenida, a passarela apresenta altura mínima de 5 m, possibilitando o fluxo de veículos de carga e ônibus. Fig. 127: Estudo do sistema estrutural da passarela. (Arquivo pessoal).

187


Para solucionar o sistema estrutural, foram dispostos quatro pilares em V em diversos pontos sob a passarela, os quais mantem a mesma geometria e materialidade (concreto armado ocre) dos pilares em V do centro cultural, propondo unidade e melhor integração com o entorno urbano. Apoiadas nos pilares se encontram as lajes e vigas metálicas, superando os grandes vãos e procurando causar o menor impacto possível à paisagem urbana.

4.7. Paisagismo Com a finalidade de proporcionar a requalificação urbana de uma área da cidade, o projeto de paisagismo busca não apenas o senso estético ao edifício, mas também uma área de convivência pública e integrada à cidade, principalmente pela proximidade com o Parque Dom Pedro II. Dessa forma, as áreas verdes propostas, se estendem por todo o terreno, avançam ao encontro do SESC Dom Pedro II, no lote vizinho, e do outro lado do rio, junto ao início da passarela e ao Mercado Municipal (fig. 128). Propõe-se também pequenas áreas verdes junto aos guarda-corpos dos alpendres, com plantas nativas do sertão nordestino, entre elas cactos e bromélias. Nas demais áreas verdes se encontram árvores e arbustos comuns na cidade de São Paulo, além de alguns ipês amarelos e rosas.

188


189 Fig. 128: Estudo preliminar do paisagismo. (Arquivo pessoal).


4.8. Modulações 4.8.1. Modulação do piso Para o piso, pensou-se em um desenho modular, com um aspecto similar a faixar retas e diagonais (fig. 130), as quais seguem, respectivamente, um espaçamento de 2,50 m e um ângulo de 45° (fig. 129).

Fig. 129: Modulação do piso. (Arquivo pessoal).

190


191 Fig. 130: Estudo preliminar do piso. (Arquivo pessoal).


4.8.2. Modulação dos painéis da fachada Inicialmente, planejou-se para a fachada principal do centro cultural cobogós de policarbonato (fig. 131), no entanto, devido a uma eventual maior complexidade de execução, optou-se por utilizar apenas painéis constituídos por policarbonato, que é um material mais leve e translúcido, capaz de ampliar a iluminação natural nos alpendres, além de proporcionar um efeito estético delicado e diferenciado à volumetria. Esses painéis obedecem uma modulação de 2,50 m de largura por 3,90 m de altura (fig. 132 e 133).

Fig. 131: Estudo dos cobogós de policarbonato. (Arquivo pessoal). 192


Fig. 132: Estudo da modulação dos painéis. (Arquivo pessoal).

Fig. 133: Modulação dos painéis da fachada. (Arquivo pessoal).

4.8.3. Modulação do guarda-corpo O desenho do guarda-corpo foi concebido de forma a simular o efeito de cristais, contrastando com o concreto aparente bruto, presente na estrutura, mas harmonizando com as vegetações nordestinas às quais está integrado (fig. 134).

193


Fig. 134: Estudo preliminar do guarda-corpo. (Arquivo pessoal).

194


O guarda-corpo segue uma modulação na qual cada peça obedece uma altura de 1,20 m e uma largura total de 3,60 m. No entanto, o desenho interno do guarda-corpo, e que realmente procura simular cristais, segue uma malha de 30 cm de largura por 40 cm de altura (fig. 135).

Fig. 135: Modulação do guarda-corpo. (Arquivo pessoal).

4.8.4. Guarda-corpo da passarela Para definir o desenho do guarda-corpo da passarela sobre o rio, pensou-se a princípio em um desenho mais rebuscado (fig. 136) e que inclusive apresentasse modulações com variações de forma (fig. 137), porém, buscando menor impacto do meio urbano no qual se inseria e facilitando a execução, optou-se por uma modulação mais simplificada, com peças de metal possuindo dimensões de 5,00 m de comprimento por 1,00 m de altura.

195


Fig. 136: Estudo preliminar do guarda-corpo da passarela. (Arquivo pessoal). 196


Fig. 137: Estudo preliminar do guarda-corpo da passarela. (Arquivo pessoal).

197


4.9. Áreas do projeto e índices urbanísticos 4.9.1. Áreas do projeto

CCNE Subsolo 2 - estacionamento * Subsolo 1 - estacionamento * Térreo - fruição pública * Pavimento 1 Pavimento 2 Pavimento 3 Pavimento 4 Pavimento - ático * Circulação vertical * Área construída total Área construída computável Área de projeção Área permeável Área do terreno * áreas não computáveis no CA, de acordo

ÁREA (m²) 9.032,00 8.154,00 7.405,00 7.138,00 6.646,00 6.121,00 5.643,00 2.116,00 596,00 52.255,00 24.952,00 7.726,50 3.596,00 13.845,00

com o Art. 108 do Código de Obras e Edificações, Lei nº 16.642, de 9 de maio de 2017 Tabela 6: Áreas do projeto. (Arquivo pessoal).

198


4.9.1. Índices urbanísticos

ZONEAMENTO - CRITÉRIOS ** ÍNDICE EXIGIDO ÍNDICE CALC. Zona de Centralidade 1 (ZC-1) Zona 29.952 m² Área construída considerada Coef. de aproveit. (CA) - mínimo 0,30 1,8 Coef. de aproveit. (CA) - básico 1,00 Coef. de aproveit. (CA) - máximo 2,00 Taxa de ocupação (TO) 0,70 0,56 Taxa de permeabilidade (PA1) 0,25 0,26 Gabarito de altura 48 m 32 m cultural / institucional Uso predominante aproxi. 1.200 pessoas/dia Público visitante estimado 350 Vagas de automóveis 207 Vagas de bicicletas 2 Vestiário para usuários de bicicletas 4 Elevadores de serviço ** de acordo com os quadros 3 (parâmetros de ocupação) e 3A (quota ambiental) da Lei nº 16.402, de 22 de março de 2016 - Parcelamento, Uso e Ocupação do Solo Tabela 7: Índices urbanísticos do projeto. (Arquivo pessoal).

199


200


ra ei

R. M d al sC e d en

Esc.: 1:1.250

a

0

10

R. Cantareira

20

ul Pa

IMPLANTAÇÃO / MASTERPLAN

E 40

60 m

Av. do Estado

Av. do Estado

5,00

R

2,87

osa aR

nt . Sa

%

. of 4,9

Pr R. e ed ír p u

V

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im sS e sd i=

10,00

5,00

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5,00

4,9 i=

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a im O ra ei 6,71

4,9

%

0,93

i=

Ru m ja en de liv 2,79

M e rcú rio Av .

4.10. Implantação / Masterplan

i = 4, 9%

%

4,9

i = 4, 9%

%

N



4.11. Plantas

S R P O N M J I H G

5,00

T

0 10,4

0

14,8

0 10,0

0 10,0

0 10,0

SANIT.

0 10,0

SANIT.

5,00 RECEPÇÃO

0,00

ACESSO VEÍCULOS

0

10,0

0

10,0

F

0

1

0

10,0

K

L

7,00

Q

6,80

10,0

E

-8,00 -8,00

SANIT. SANIT.

2,00

1

6,00

2

5

APOIO

,60

4

3 3,20

3

7,20

6 8,40

-8,00

7 0

10,0

8 8,25

Esc.: 1:500

9

0

5

9,25

SUBSOLO 2

10

20 m

N



S R P

M J I H G 10,0

E

10,0

F

0

0 10,0

K 5,00

T

0 10,4

0 14,8

0 10,0

O N

7,00

Q

6,80

0 10,0

0 10,0

SANIT.

0

10,0

L

SANIT.

5,00

DEPÓS. BICICLETÁRIO

0 10,0

0

10,0

0 APOIO

VESTIÁRIO

-4,00 -4,00

VESTIÁRIO

DEPÓS.

SANIT.

2,00

SANIT.

1

COMÉRCIO

6,00

2

RECEPÇÃO

COMÉRCIO

BICICLETÁRIO

3,60

4

COMÉRCIO

3,20

3

BICICLETÁRIO

COMÉRCIO

COMÉRCIO

5

7,20

DEPÓS.

6

ACESSO PEDESTRES/ CICLISTAS

COMÉRCIO SEGURANÇA

-4,00

8,40

SERVIÇOS DIVERSOS

REFEITÓRIO

7 10,0

VESTIÁRIO

0 VESTIÁRIO

8 8,25

Esc.: 1:500

9 0

5

9,25

SUBSOLO 1

APOIO

10

20 m

N



R P O N M J I H G 0 10,0

E

A

0

14,8

Q

0,00

1

0 10,0

ACESSO PEDESTRES

0 10,0

0

10,0

5,00

0,00

0 10,0

0 10,0

0 10,0

0 10,0

D ,50 C 5 0

8,00

F

0 10,0

K 5,00

L

7,00

0 10,4

B 4,5

ACESSO PEDESTRES

ACESSO PEDESTRES 0,00

0,00

ACESSO PEDESTRES

7,20

0,00

6 8,40

ACESSO PEDESTRES

7 10,0 0

8 8,25

9

TÉRREO Esc.: 1:500

0

5

10

20 m

ACESSO PEDESTRES

N



R

0 10,4 DEP.

0

P O N M

7,00

Q

14,8

APOIO

0

10,0

0 10,0

SANIT.

0 10,0

SANIT. BIBLIOTECA

J I H G 0 10,0

E

A

ATELIÊ DE LITERATURA DE CORDEL

0

10,0

0

10,0

5,00

0

10,0

0 10,0

D ,50 C 5 0

8,00

F

DISCOTECA

0 10,0

REUNIÃO

B 4,5

ATELIÊ DE ARTES PLÁSTICAS

SANIT.

ATELIÊ DE ESCUTURAS ATELIÊ DE ARTES PLÁSTICAS

ATELIÊ DE ESCUTURAS APOIO

SANIT.

5,00

2,00

EXPOSIÇÕES TEMPORÁRIAS

1

5,00

6,00

2

SANIT.

3,60

4

SANIT.

3,20

3

CONS. CONS. CONS.

5

APOIO

REUNIÃO

7,20

6

SANIT.

SANIT.

CONS. CONS. CONS.

CONS.

CONS. CONS. CONS.

CONS.

CONS.

CONS.

CONS.

CONS.

CONS.

CONS.

SANIT.

SANIT.

8,40

5,00

ACESSO PEDESTRES

7 0 10,0

ACESSO PEDESTRES

8 8,25

PAV. 1 9

9,25

Esc.: 1:500

0

5

10

20 m

N



R P O N M

7,00

Q

0 10,4 DEP.

0 14,8

0 10,0

0 10,0

12,52

SANIT.

0 10,0

SANIT.

J I H G 0 10,0

E

A

CONCENT. APOIO FOYER SANIT.

0 10,0

BILHET.

SANIT.

0 10,00

0 10,0

CAFÉ

0 10,0

D ,50 C 5 0

8,00

F

10,0

0 10,0

AUDITÓRIO

B 4,5

REUNIÃO

ATELIÊ DE ARTESANATO ATELIÊ DE ARTESANATO

ATELIÊ DE ARTESANATO

APOIO SANIT. SANIT.

10,00

2,00

EXPOSIÇÕES TEMPORÁRIAS

1

6,00

2

10,00

SANIT.

3,60

4

SANIT.

3,20

3

5

RESERVA TÉCNICA

REUNIÃO

7,20

VESTI.

VESTI.

6

SALA DE RESTAURO

8,40

RESERVA TÉCNICA

RESERVA TÉCNICA

7

10,00

ACESSO PEDESTRES

0 10,0

8 8,25

PAV. 2 9

9,25

Esc.: 1:500

0

5

10

20 m

N



R P O N

7,00

14,8

Q

0 10,4 DEP.

0

0 10,0

0 10,0

OFICINA SANIT. COXIA SANIT.

W.C.

I H G 0

8,00

A

PALCO

17,00

18,00

0

BILHET. FOYER

COXIA

CAFÉ

0

10,0

10,0

E C B 4,50

F

10,0

0 10,0

CONCENT. E CAMARINS COLETIVOS

0

10,0

D

5,50

SALA DE DANÇA SALA DE DANÇA VESTI. SANIT.

APOIO

VESTI.

SANIT.

EXPOSIÇÕES PERMANENTES

17,00

2,00

1

6,00

2

17,00

SANIT.

3,60

4

SANIT.

3,20

3

DEP.

5

ARQUIVO

ADM.

7,20

ADM.

6

VESTI.

ARQUIVO

8,40

VESTI. REUNIÃO

ADM.

7 10,0 0

17,00

8 8,25

PAV. 3 9

9,25

Esc.: 1:500

0

5

10

20 m

N



R P N

0 10,0

O

7,00

Q

0

10,4

DEP.

0 14,8

0 10,0 VESTIÁRIO

19,52

W.C. VESTIÁRIO W.C. CAMARINS COLETIVOS

22,00

H 10,0

G 0

8,00

A

DEPÓSITO DE FIGURIN.

0

10,0

DEPÓSITO DE CENÁRIOS

10,0

E C B 4,50

F

0

0

10,0

D

5,50

SALA DE MÚSICA SALA DE MÚSICA

SALA DE MÚSICA APOIO

SANIT. SANIT.

22,00

2,00

1

6,00

2

22,00

SANIT.

3,60

4

SANIT.

3,20

3

EXPOSIÇÕES PERMANENTES

RESTAURANTE

5

RESTAURANTE

RESTAURANTE

7,20

SANIT.

PRAÇA DE ALIMENTAÇÃO

6 8,40

SANIT.

7 10,0 0

22,00

8 8,25

PAV. 4 9

9,25

Esc.: 1:500

0

5

10

20 m

N



R P

7,00

Q

0

10,4

DEP.

0 14,8 APOIO

W.C.

27,00 W.C. ÁREA DE ENSAIOS

D C 5,50 0

B 4,5

APOIO

DEP.

ÁREA DE CONVÍVIO (MIRANTE)

27,00

2,00

1

ÁREA DE CONVÍVIO (MIRANTE)

6,00 3,20

3

27,00

4 SANIT.

6

27,00

8,40

SANIT. REDÁRIO ÁREA DE CONVÍVIO (MIRANTE)

7 0

10,0

8 8,25

9,25

9 5 PAV.

Esc.: 1:500

0

5

10

20 m

N



4.12. Cortes A

8,00

B

10,00

D

10,00

E

8,34

F

11,66

G

8,34

H

10,00

I

K

15,00

M

15,00

10,00

N

O

10,00

10,00

P

32,00 cobertura

22,00 pav. 4 17,00 pav. 3

10,00 pav. 2 5,00 pav. 1 0,00 térreo -4,00 subsolo 1 -8,00 subsolo 2

CORTE AA

0

5

10

20 m

Esc.: 1:500

10

9,25

9

8,25

8

10,00

7

8,40

6

10,80

4

9,20

2

12,30

1

32,00 cobertura 27,00 pav. 5

Av. do Estado

22,00 pav. 4

R. Santa Rosa

Largo do Pari

27,00 pav. 5

17,00 pav. 3

10,00 pav. 2 5,00 pav. 1 0,00 térreo -4,00 subsolo 1 -8,00 subsolo 2

CORTE BB Esc.: 1:500

0

5

10

20 m

7,00

Q

14,80

R



C 5,50 D

10,00

E

11,54

F

8,47

G

11,54

H

10,00

I

10,00

J

10,00

L

10,00

M

10,00

N

10,00

O

10,00

P

7,00

Q

14,80

R

10,40

S

32,00 cobertura

Largo do Pari

27,00 pav. 5 22,00 pav. 4 17,00 pav. 3

10,00 pav. 2 5,00 pav. 1 0,00 térreo -4,00 subsolo 1 -8,00 subsolo 2

CORTE CC

0

5

10

20 m

CORTE URBANO / PASSARELA Esc.: 1:750

0

5

10

20

30 m

R. Santa Rosa

Av. do Estado

Rio Tamanduateí

Av. do Estado

Rua da Cantareira

Esc.: 1:500



Largo do Pari

4.13. Elevações

ELEVAÇÃO OESTE

0

5

10

20 m

0

5

10

20 m

Largo do Pari

Esc.: 1:500

ELEVAÇÃO LESTE Esc.: 1:500



4.14. Detalhe construtivo 27,00 m laje nervurada de concreto armado aparente ocre

viga de concreto armado aparente ocre

viga de concreto armado aparente ocre pilar de concreto armado aparente ocre

guarda-corpo com altura de 1,20 m e estrutura de aço e vedações de vidro

vegetação nativa do sertão nordestino

22,00 m terra e cascalho

DETALHE Esc.: 1:30

0

25

50

100 cm



4.15. Perspectivas









4.16. Maquetes

235


236


237


238


CONCLUSÃO


Fig. 3 (capa anterior): Praça das Artes. (Arquivo pessoal). Fig. 4: Mercado Municipal. (Arquivo pessoal).


CONCLUSÃO Inevitável pensar na cidade de São Paulo sem associá-la aos mais diversos grupos de migrantes e imigrantes que compõem sua diversidade sociocultural. No entanto, os nordestinos, um grupo fundamental ao desenvolvimento da cidade, ainda são vistos de forma coadjuvante e inferior, relegados às margens da cidade. O Centro Cultural Nordeste possui justamente a função de aproximar e integrar a cultura nordestina à cidade, promovendo informações e desmistificando preconceitos, e, dessa forma, procurando tornar a cultura paulista ainda mais rica e diversificada. Além disso, a cidade ganha um novo vetor de desenvolvimento urbano e cultural, capaz de transformar a compreensão a cerca dos migrantes nordestinos e, consequentemente, de uma grande parcela da população paulista. Dado a complexidade e influência de um centro cultural, mostrou-se fundamental também a elaboração de um projeto de requalificação urbana da região onde se insere, criando novas possibilidades de circulação e integração urbana. Por fim, é necessário compreender a influência da cultura nordestina na cidade de São Paulo, e que deve ser divulgada, valorizada e, sobretudo, respeitada.

241


242


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


Fig. 3 (capa anterior): Rio Tamanduateí. (Arquivo pessoal). Fig. 4: Mercado Municipal e Avenida Senador Queirós. (Arquivo pessoal).


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Livros: ANDRADE, Oswald de. Obras Completas de Oswald de Andrade: do Pau-Brasil à Antropofagia e às utopias. 2. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1970. BAUMAN, Zygmunt. Em busca da política. 1 ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2000. CULLEN, Gordon. Paisagem Urbana. 1. ed. Lisboa: Edições 70, 2006. LYNCH, Kevin. A Imagem da Cidade. 1. ed. Lisboa: Edições 70, 1960. MONTANER, Josep Maria. Museus para o Século XXI. 1. ed. Barcelona: Gustavo Gili, 2003. PAIVA, Odair da Cruz. Histórias da (I)migração: imigrantes e migrantes em São Paulo entre o final do século XIX e o início do XXI. 1. ed. São Paulo: Arquivo Público do Estado, 2013. REIS FILHO, Nestor Goulart. Quadro da Arquitetura no Brasil. 13. ed. São Paulo: Perspectiva, 2014. RIBEIRO, Darcy. O Povo Brasileiro: A formação e o sentido do Brasil. 2. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. ROLNIK, Raquel. Territórios em conflito: São Paulo: espaço, história e política. 1. ed. São Paulo: Três Estrelas, 2017. ROSSI, Aldo. A Arquitetura da Cidade. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001. SANTOS, Milton. O Espaço do Cidadão. 7. ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2007. ZEVI, Bruno. Saber Ver a Arquitetura. 6. ed. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2009.

245


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Tese: SAUTCHUK. João Miguel Manzolillo. A poética do improviso: prática e habilidade no repente nordestino. 2009. Tese (Doutorado em Antropologia) - Departamento de Antropologia, Instituto de Ciências Sociais, Universidade de Brasília, Brasília, p. 1-214.

Dissertação: TELLES. Luiz B. CCSP - Centro Cultural São Paulo: um projeto revisitado. 2002. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo.

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