Design, Educação & Infância encontros e histórias no caminho de pesquisa
Memorial de projeto-conclusão do Departamento de Artes e Design no curso de Design em Comunicação Visual da PUC-Rio. Autoria: Nina Bruno Malta. Orientadora: Roberta Portas. Orientadora de Anteprojeto: Izabel Oliveira Tutor: Fábio Lopez Rio de Janeiro, dezembro de 2018.
E de braço dado, saímos os dois pisando em charcos, em descuido de meninos que sabem do mundo a alegria de um infinito brinquedo. ESTÓRIAS ABENSONHADAS, MIA COUTO
sumário Era uma vez....
Objetivos conceituais
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Objetivos formais
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Estudos e experimentos
30
3 5
Proposta
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A Jornada O brinquedo e o brincar
Gracinhas
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Espaço-nave
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Escolarização tradicional no Brasil
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A indústria de Brinquedos
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Educação como resistência
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Corpo no mundo
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Corpo na escola
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Contar história
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O Encontro
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Personagens
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ExperimentAÇÃO
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A conquista
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Agradecimentos
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Anexos
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Baú do tesouro
59
3
Era uma vez...
Este projeto-conclusão se debruça na pesquisa sobre o encontro entre Design, Educação e Infância. A motivação, a primeira razão que conduz esta pesquisa são intenções pessoais para com o futuro. Acredito na função educacional do Design e no seu potencial de inovação social e cultural de maior abrangência. Unido à natureza semelhante da educação, vislumbro catalisadores de um mundo melhor. Procurei experienciar a amplitude da educação no brincar, no brinquedo, na arte, no museu, na escola e no Design. Dessa forma, constato que hoje, desde o início da pesquisa, estou querendo viver sobre aquilo que trato, no que gosto de chamar de metodologia empírico-investigativa em que o trabalho de campo, a pesquisa no papel, no digital, a frequência em cursos, palestras compõem o repertório sobre o qual este projeto se ocupa. A história permeia a intenção de início ao fim que poderia começar com: Era uma vez a curiosidade... – aguardando otimista um final feliz. O caráter experimental do projeto me fez resgatar a criança que existe em mim. Estive por inteiro numa investigação fluida de afeto, resistência e sonho. Em tempos desalumiados como os que estamos vivendo hoje, sonhar alcança um outro viés de necessidade – se acomoda no pensamento utópico, no horizonte da busca, da inquietude, da curiosidade. Questões que, para mim, dificilmente se separam do que o Design propõe indagar e que a brincadeira oferece em sua natureza.
4 Entendo que brincando alcançamos esse estado de espontaneidade e otimismo que eu, enquanto designer, transbordo em afirmar que projetei brincando. Ampliei meu entendimento de projeto quanto à pesquisa, à busca, à sede e à fome pelo saber e entender o caminhar em suas encruzilhadas. O resultado físico desse trabalho são experimentos, frutos de análises, bibliografias, conteúdos de cursos e seminários que oferecem de forma singela o que aprendi pondo meu corpo, mente e espírito nesses locais. Aprendi que a experiência é incalculável e é nela que mergulho mais profundamente: propondo experiências sensíveis para a contação de histórias com embasamento do Design. Portanto, a harmonia entre os experimentos e a pesquisa configuram meu projeto final que trata do contar, do narrar palavras que não se gastam, porque quanto mais brincamos com elas, mais novas e oxigenadas elas ficam. Viva a cultura da infância! Viva a cultura popular!
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Proposta
Experimentar o Design no contar de histórias para crianças a fim de potencializar a experiência narrativa.
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A Jornada Caminhos de pesquisa O brinquedo e o brincar Nas andanças feitas pela presente pesquisa, encontrei com a potência do brincar. Vi e li registros de meninos e meninas dando conta do próprio brinquedo vindo da fonte mais óbvia e descuidada: a natureza. A infância é algo precioso, uma manifestação da natureza e precisa ser valorizada, assim como sua prática mais pura, o brincar – É preciso brincar para afirmar a vida (HORTÉLIO, 2008). A espontaneidade e o potencial que moram na criança são qualidades profundas que busco e nas quais me espelho até crescida como hoje. A cultura lúdica são todos os elementos da vida e dos recursos à disposição das crianças que permite construir o faz-de-conta (BROUGÈRE, 2016). Quero estimular a vitalidade, por meio de dimensões lúdicas, brincando, explorando, vendo, criando, experimentando. Segundo depoimentos de educadoras no vídeo ‘Territórios do Brincar: diálogos com escolas” o brinquedo não estruturado exige uma atividade interna que provoca diretamente a criatividade. O não estruturado, nesse caso, significa brinquedos não-prontos e que normalmente não possuem essa função inicial. Neste vídeo, educadores admitem o quanto insconscientemente negligenciavam o poder da observação e das atividades livres, não direcionadas, dentro das escolas. Isso, de alguma forma, expressa o quanto as escolas tradicionais não previlegiam o brincar na sua potência educacional.
6 Por meio de práticas pedagógicas como aumentar o tempo de recreio, iniciar a freqüência escolar formal a partir dos 7 anos, relacionar as matérias em aulas interdisciplinares e considerar a influência da arquitetura escolar nos alunos, a Finlândia ocupou por quatro anos consecutivos o topo do ranking do Programa Internacional de Estudantes (Site G1, 2013). Esse dado comprova que o tempo para brincar e medidas integradas na aprendizagem são pontos altos que merecem atenção. No Brasil, o Brincar Livre vem cada vez sendo mais adotado dentro de espaços escolares que acreditam que essa liberdade contribui em muito para o desenvolvimento de competências cognitivas, motoras e sócioemocionais. Ao brincarem, as crianças estão a todo tempo estimulando seu potencial criativo e despertando o conhecimento polivalente. Infelizmente, essa prática ainda se manifesta tímida em instituições de ensino pontuais pelo país.
Brincando, a criança traz consigo traços do seu imaginário, e seus brinquedos são produto da cultura material da sociedade que a gerou. Enquanto ela crê, sonha, deseja, fantasia, inventa a partir de seu mundo significativo, o brinquedo vai acompanhando as transformações que estão ocorrendo no mundo. (MEFANO, 2005)
Ref. 59
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Escolarização tradicional no Brasil As escolas tradicionais de hoje, infelizmente, encontram-se reféns da avaliação nacional para ingresso no ensino superior, o ENEM. Essa prova que mede os conhecimentos adquiridos em todo Ensino Médio funciona como um aparelho de pasteurização da sabedoria já que parte do princípio que todos aprendam da mesma forma, o mesmo conteúdo com o mesmo ritmo ignorando as infinitas maneiras do saber e da sensibilidade única de cada aluno, além das especificidades geográficas e culturais próprias de cada região do país. Esse mecanismo contribui para uma educação desinteressante, gerando uma alta taxa de evasão escolar, principalmente no Ensino Médio, e por conseqüência aumento do trabalho informal e sucateamento da profissão de educador e de estudante. Segundo Eduardo Suplicy, vereador de São Paulo, em fala no pilotis da PUC no mês de Junho de 2018, por meio da educação de qualidade é possível elevar os padrões de justiça de uma sociedade, principalmente uma tão desigual quanto à brasileira.
Ref. 49
A antecipação do aprendizado formal gera diversos reflexos negativos na criança como a baixa auto estima e principalmente, a redução do tempo do brincar que contribui na má absorção do conhecimento e no subdesenvolvimento de habilidades diversas. Portanto, um caminho para uma educação primária de qualidade é valorizar o brincar e o processo de aprendizagem de cada estudante no qual podem ser identificadas suas singularidades.
9 Felizmente, algumas escolas no Brasil e no mundo têm optado por essa nova abordagem como a Escola da Ponte em Portugal, a Green School em Bali na Indonésia, a Escola Municipal Amorim Lima em São Paulo, a Escola Livre Inkiri na Bahia, Cidade-escola Ayni no Rio Grande do Sul, entre outras. Observa-se que todas valorizam seus espaço externos e convidam para o contato com a natureza, favorecendo a educação através da autonomia e do afeto. Quanto aos currículos, não diferentes dos que existiam há cem anos, mantém um sistema escolar seriado, testado em avaliações a partir de um conhecimento acumulativo um tanto quanto enciclopédico priorizando o saber racional-científico, inferiorizando a contribuição que a cultura popular tem a oferecer. O currículo é o encontro da escola com o mundo, e em tempos líquidos, como sugere Bauman (2007), o conhecimento não é mais cumulativo, mas navegável. Por isso, se já dizia Fernando Pessoa que navegar é preciso, que embarquemos juntos a resistir de braços dados com a educação para que contando histórias, por exemplo, possibilitemos um ambiente mais lúdico, sonhador e afetivo para preparar cidadãos ativos, críticos e curiosos no mundo. O mundo nunca está pronto, mas é possível entendêlo para amortecer seus impactos. Todavia, a padronização do ensino evidente na política atual contribui para a pasteurização, o adestramento e a limitação dos movimentos das crianças, resultando em adultos domesticados, obedientes e sem senso crítico (JORDY, 2007) (LIMA, 1989). Acredito que o trabalho criativo, coletivo e o processo investigativo, atuam como instrumentos de oposição ao equipamento de dominação normativa. Considerando o aspecto comercial da educação, não posso deixar de abordar algo tão infeliz quanto: a indústria de brinquedos.
De maneira simbólica, a escola expressa muitas coisas sobre nossa relação com a aprendizagem e sobre como o conhecimento, de todo tipo, pode promover integridade ou ruína. (EL LIVBRO DE LOS SIMBOLOS, 2011)
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Crítica à indústria de brinquedos A indústria de brinquedos atende a demandas adultas por serem o público comprador direto. O consumidor do produto - aquele que interage com o brinquedo - na realidade, é usado como canal afetivo entre os pais, e o mercado se preocupa principalmente com o lucro. Segundo o pesquisador e educador Gandhy Piorsk, os materiais frios, artificiais como o plástico, principal componente dos brinquedos industriais, inibem a imaginação da criança que não reconhece o percurso da matéria. As diferentes texturas contribuem no entendimento do espaço e dos materiais. Por isso, a brincadeira deve preferencialmente acontecer ao ar livre contatando a natureza e o que ela oferece, promovendo o brincar analógico. Em uma palestra com a designer Bruna Madureira da marca de brinquedos para bebês SkipHop, foi exposto um dado “surpreendente” no qual há aproximadamente 10 anos, 40% das crianças brasileiras nunca tinham tido um brinquedo. Bem, primeiro, o dado da Abrinq,colocado pela designer, envolve apenas brinquedos industrializados e isso não excluí o fato de que para brincar o brinquedo não é imprescindível, mas um objeto que pode conduzir à brincadeira. O mercado está produzindo brinquedos com cada vez mais tecnologias, estímulos táteis, visuais, sonoros que podem gerar o que é chamado de “brinquedo nocivo”, aquele que parece divertido, mas, a longo Ref. 43
11 prazo, desencadeia maus hábitos e mal educa indiretamente a criança. O penico fabricado com suporte para Ipad - o Ipotty, é um exemplo. Uma atividade que demanda concentração total da criança é interferida por algo supérfluo que vende a proposta de ensinar crianças a fazerem suas necessidades com menos intervenção dos pais (imagem ao lado).
Portanto, acredito que, unindo Design e Educação, é possível ampliar possibilidades de troca de conhecimento em propostas práticoexperimentais como alternativa ao formato tradicional da experiência na escola, valorizando o processo e refutando as ofertas lucrativas das empresas de brinquedos.
Mário Adler, herdeiro e antigo dono da fábrica de brinquedos Estrela, é considerado o criador do Dia das Crianças. Segundo a página virtual do jornal Estadão de São Paulo (2010), a Associação Comercial de São Paulo afirma que o movimento dessa data só perde para o Natal, Dia das Mães, Pais e Namorados. Em 2009, 1 bilhão de 2,5 bilhões ganhos pelos 440 fabricantes do setor foram faturados nessa data – “Acreditávamos que seria uma ação de marketing interessante para incrementar o negócio, mas não tínhamos a menor noção da importância que iria adquirir com o tempo”, diz Adler. Na metade dos anos 1960, a Estrela, maior fabricante de brinquedos na época, iniciou uma campanha institucional conjunta tentando convencer grandes empresas de São Paulo como as Americanas a aderir à campanha publicitária do Dia das Crianças. De início, teve de bancar todas as despesas já que os varejistas não confiavam nesse movimento. Como podemos ver hoje em dia, a proposta deslanchou e hoje alcança não só fabricantes de brinquedo, mas também os mercados de roupas e de eletrônicos. Isso é apenas uma pista sobre o quanto a indústria pode ser um tanto diabólica, comercializando a infância e usando sua vulnerabilidade para lucrar com brinquedos e/ou objetos industriais. Produtos esses que em diversos casos promovem a erotização e objetificação das meninas, a super valorização da aparência (BECKER, 2015) por meio das suas propagandas e marketing. Reforça Lydia Hortélio – “A criança vem sendo “domesticada” de acordo com os interesses comerciais da televisão. A solução é fazer os meninos conviverem com outros meninos, levar as crianças para a natureza, pois um projeto extraordinário da própria evolução está contido em nós”.
Ref. 61
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Educação como resistência Em tempos de uma política instável e frentes conservadoras crescentes, entendo a educação como principal ferramenta de resistência. A utopia é o horizonte, como diz Paulo Freire e, dessa forma, devemos caminhar em sua direção e ultrapassar os mecanismos de dominação que nos colocam diariamente, considerando o impossível como possibilidade. A escola, que segundo Ernest Bloch, é a utopia concreta, deve estar em exercício constante de coesão de princípios e valores, praticando socialmente uma educação democrática, frisando o viver coletivo. Essas condutas contribuem diretamente no movimento de conquista pela educação que atua contra a civilização, a unificação e a distorção dos costumes locais impostos por padrões euroamericanos de funcionamento, ainda hoje presentes no neo-colonialismo.
Por sua natureza e vocação, o conhecimento interdisciplinar do Design e da Educação pode contribuir com suas metodologias e práticas, ao articular saberes e vivência juntos aos espaços e tempos da educação. (COUTO, 1997)
Presença também observada envolvendo as altas taxas de evasão escolar que insistem em ser atribuídas à razão econômica, mas que não passam do fator étnico, no qual, especialmente crianças e jovens negros não se entendem representados nas instituições de ensino, principalmente as públicas, que vêm sofrendo um processo de sucateamento progressivo. O apagamento das referências afrobrasileiras dos currículos escolares, por exemplo, é um dos indícios de que a educação no Brasil possui princípios excludentes. Isso também envolve as populações originárias, ribeirinhas e as demais comunidades não urbanas do país.
Esse entendimento se expandiu para mim quando frequentei por 4 dias o seminário “Educação e Resistência” que inspira o título desse subcapítulo. Tive contato com profissionais da área que compartilharam opiniões de acordo com seu campo de atuação e, esse encontro foi fundamental para que eu pudesse construir um panorama realista da educação nos dias de hoje, pela perspectiva de quem a vive. Frequentemente o educador Paulo Freire foi citado, confirmando que sua vida e obra estão inscritas no imaginário pedagógico do século XXI. Seu trabalho, de fato, intenciona uma educação como resistência às tentativas débeis de uma governância negligente no nosso país. Exemplos recentes desses indícios de descaso foram as ocupações das escolas pelos estudantes secundaristas em 2016 e os incêndios nos alojamentos da UFRJ e no Museu Nacional neste 2018 (foto ao lado). A interpretação humanista, dialógica e afetiva da educação são compromissos levantados por Freire que, na minha interpretação, muito se assimilam no que compreendo como Design. Nesta maneira colaborativa de construir conhecimento que baseio minha postura de pesquisa, valorizando o posicionamento crítico e também a contribuição essencial do diálogo na relação entre projetista e usuário, entre educador e educando. Absorvi nas falas do seminário e em leituras posteriores, que a observação comportamental das crianças sobrepõe o necessário e atinge o indispensável, para que a troca aconteça horizontalmente e a aprendizagem se estabeleça baseando-se nos alicerces do diálogo. A palavra “diálogo” se repete porque se encontra como eixo central de uma educação democrática que visa o falar com a criança e não para a criança (SAUL e GODÓI, 2011). Abraçando essas novas concepções e resgatando a prática da observação participante, fundamental em anteriores práticas projetuais do Design na academia, procurei um espaço no qual pudesse aplicar esse proceder e desenvolver a pesquisa. Ref. 63
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Corpo no mundo Pesquisa prática Ao longo do processo de pesquisa, procurei de maneira empírica me aproximar daquilo que investigo. A seguir, algumas experiências nas quais, com o olhar, as mãos e o pensamento do Design, estive disposta a aprender e a beber de várias fontes. Disciplina ‘Brinquedo e o Brincar’ PUC Rio Com Vicente Barros na PUC-Rio (2017.2). Ao longo do curso é sugerido que tenhamos um caderno de anotações chamado “Grudado”, que ao final de cada aula deveríamos registrar aquilo que ficou “grudado na gente”, ou seja, o que ficou de aprendizado. Lá fiz alguns passo-apassos para construção de brinquedos e fiz anotações diversas sobre o tema. Com Vicente, aprendi que a partir de materiais que normalmente descartamos é possível construir brinquedos que fazem sorrir. Este foi o primeiro estímulo para que eu escolhesse esse caminho de projeto. Oficina Boneca Abayomi Com Lena Martins na Casa das Pretas (junho/2018). Lena é artesã e bonequeira desde os anos 80. Contando histórias, usa seu artesanato como instrumento de fortalecimento da auto-estima e valorização da cultura negra. Começou a dar oficinas de bonecas para escolas com o “lixo local”: palha de milho. Esse processo resultou no que hoje é conhecido como boneca Abayomi. Em encontros semanais Lena ensinou variações da “boneca preta sem cola e sem costura”. Com Lena, reaprendi a beleza do fazer pequenezas com as mãos e a potência do encontro entre mulheres, criando uma atmosfera de acolhimento e cuidado. Barangandão
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Palestra com Ivana Jaregui Espaço Cria (18/05/2018). Ivana Jaregui é uma das fundadoras da Escola Livre Inkiri em Piracanga, sul da Bahia. Os principais valores são a autonomia e a liberdade, idealizada pelo educador José Pacheco. Aqui seguem algumas anotações que tomei como aprendizado do encontro: | Educação Viva e Consciente | Não é na cabeça que se guarda uma vivência, é no coração e, não escolhemos qual guardar. | Esquece o resultado e se entrega ao caminho. Seminário Educação e Resistência Escola Oga Mitá (19, 20, 21, 22/09). O seminário foi organizado pela escola em comemoração aos seus 10 anos de existência. Me deparei com estudiosos e pesquisadores das mais diversas áreas do conhecimento como filosofia, sociologia, literatura e economia contemplando a educação de acordo com seu embasamento. A cada dia uma descoberta e a ampliação de entendimento de mundo. Foi realmente uma vivência gratificante estar nesse ambiente rico em informação, luta e sonho. Oficina com Marcela Carvalho de bordado Hall do DAD (Abril, 2018). Nesse workshop ‘Desenho com fio e palavra’, reconheci o potencial da costura como forma de linguagem. A mesa comprida cheia de mãos curiosas me fez reconhecer essa maneira de contar história. Aprendi que não só a palavra consegue dizer mas também os pontos, costuras e caminhos que escolhemos fazer com a agulha.
Boneca Enredada
Boneca Abayomi
Roda de conversa ‘Política é coisa de criança?’ Casa da Rosinha (outubro, 2018). A casa da Rosinha funciona como um espaço literário para crianças e bebês e também como uma creche parental. Lá, ouvi sobre o lugar de fala da criança e o poder da influência do adulto nessa relação. Aprendi muitas referências de leituras infantis que introduzem o assunto ‘política’ de maneira leve e inteligente. Além, de descobrir a prática de leitura para bebês que segundo Rosinha, entendem muito mais do que imaginamos.
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Oficina Boneca Enredadas com Miriam Miranda Centro Sebrae de Referência do Artesanato Brasileiro (Semana de Sustentabilidade e Meio Ambiente no Rio de Janeiro, junho/2018). A oficina é idealizada pela psicóloga e artesã Miriam Miranda que inspirada por Lena Martins e suas bonecas Abayomi, criou as “Enredadas”, bonecas feitas de malha, sem costura. Parte do projeto é criar uma “Rede de Amor” na qual os longos braços e pernas da boneca servem para amarrar os membros de outras bonecas formando uma rede. A cada oficina Miriam convida os participantes a somarem na rede com sua nova boneca confeccionada na oficina. Com Miriam, aprendi a a potência da criação coletiva e achei bacana ela oferecer um kit no final para que possamos fazer uma em casa e guardar de lembrança. Palestra Arte-Educação com Hélio Rodrigues Arte Ação Brasil (26/05/2018). Hélio Rodrigues é artista plástico e arte-educador do Rio de Janeiro e atua desde os anos 70, coordenando diversos projetos e iniciativas na área. Aqui seguem algumas anotações que tomei como aprendizado do encontro: | Ouvir a criança e devolver com arte, ampliando o olhar, desenvolvendo e fortalecendo identidades e habilidades por meio da arte. | Valorizar a particularidade no pensar, agir
e solucionar. | Fortalecer a auto-estima e o auto-conhecimento. | Desenvolver inteligência emocional. (Se referindo à Arte-educação).
Curso AIEDUC (Artes Integradas para Educação Infantil) Curso no Instituto Tear (Abril-Junho/2018). Nesse curso composto por diversos módulos, ministrados por diferentes professores, tive contato com, em sua maioria, mulheres atuantes do campo da educação infantil. Foi muito interessante compor esse grupo de pessoas engajadas e crentes na força da educação. Tive acesso às mais diversas maneiras de conduzir atividades para educação infantil, partindo de estímulos musicais, corporais, criativos e experimentais. A cada sábado a oportunidade de aprender brincando, vivenciando práticas pedagógicas. Curso AIEDUC (arquivo pessoal)
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Corpo na escola Pesquisa de campo
A fim de me aproximar do universo da educação infantil e, dessa forma estabelecer contato com a criança e sua natureza, entrei em contato com algumas escolas da cidade para realizar uma metodologia introdutória de contextualização de projeto: a observação participante. Essa observação se dá por meio de uma investigação cotidiana que usa da neutralidade como veículo de melhor absorção das atividades observadas a fim de que não haja pré-julgamentos ou julgamentos pré-determinados. A escola que visitei por 5 dias foi o Espaço Cria que trabalha com crianças de 9 meses à 6 anos de idade.
Na contemporaneidade, a epistemologia do Design caminha em direção à renovação das questões sociais, interconectando-se com o utros campos teóricos e práticos em relações de trocas. (JORDY, 2007)
O Espaço Cria localiza-se no Cosme Velho e ocupa uma grande casa. As crianças são divididas por Ciclos, separadas das demais apenas dos bebês de 10 meses a 2 anos. O restante das crianças compartilha os espaços e os maiores aprendem regras de convivência de respeito e servem de exemplo para os menores. O Ciclo I é composto por crianças de 2 a 4 anos e o Ciclo II de 4 a 6 anos de idade. A proposta do Espaço é que as crianças brinquem livremente e percorram as salas de leitura, de artes, de “corpo” onde ocorrem aulas de judô, capoeira e circo e a sala que chamam de “Toca” onde ficam fantasias, adereços e outros brinquedos como panelinhas, cavalinhos, bonecas e etc. Em cada uma dessas salas, encontram-se os “Guardiões” que são os educadores responsáveis por aquela área, e são eles que estão
18 diariamente com as crianças. Existem também, os “Inspiradores” que, algumas vezes na semana, por volta de 2 ou 3 vezes, ocupam uma das salas e propõem brincadeiras ou atividades em que as crianças podem participar ou não, dependendo da sua própria escolha. O Espaço Cria existe desde 2015, portanto, uma escola bastante nova que coloca o contato com a natureza e o brincar livre como seus maiores princípios. A seguir, vou descrever minhas observações feitas em um caderno de mão e aqui transcritas dia-a-dia. Dediquei de 3 a 4 horas por dia no turno de 13 às 17horas. O grupo que eu acompanhei é composto por aproximadamente 20 crianças em sua maioria de 3, 4 anos e poucos de 2 e 5 anos (Ciclo I e II). Nesse período busquei observar em relação às crianças: - habilidades manuais - período de atenção - interesses - como cada faixa etária se comporta Em relação aos educadores: - forma que propõem a atividade - forma que finalizam a atividade - como e quanto interferem - como lidam com o desinteresse A maioria dos registros das observações estão divididos em duas partes: a primeira com uma descrição de alguma atividade específica observada; a segunda, com anotações gerais sobre o dia sem que necessariamente estejam vinculadas a essa atividade.
DIA 1 Quem: “Inspiradora de cultura popular e musicalidade” Atividade observada: Papier mâché Onde: Ateliê de artes (mais acima do quintal) Crianças de 3-4 anos pintam, colam papier maché numa estrutura instruídos pela professora, para construir o Boi da festa junina da escola. Não têm muito tempo de concentração e a professora faz o acabamento Antes do fim da atividade ter sido declarado, as crianças já se dispersam. Acredito que por essa atividade ser realizada num espaço afastado dos demais, as crianças não têm ao que recorrer e querem logo descer para o pátio onde se encontra o balanço, o velocípede e demais brinquedos. Anotações gerais: | Trânsito livre entre espaços | Mudam de ocupação em no máximo 20 minutos. | Educadores se abaixam à altura da criança e encostam a mão em seu peito quando precisam falar algo importante que é necessária a atenção da criança, principalmente para resolver algum conflito entre elas.
19 DIA 2
Desenho referente ao Dia 1
Quem: “Inspiradora de cultura popular musicalidade” Atividade observada: Atividade de Boi Onde: “Toca” Por estar chovendo, a “Inspiradora” de cultura popular e musicalidade resolveu levar o boi - do ateliê de artes para a “Toca” - que estavam construindo para a festa junina para brincarem e cantarem as músicas que iriam apresentar na festa. Ela começou a atividade perguntando “O que vocês acham de...?”. Ela começou contando uma história em que as crianças eram os personagens: “Quem vai ser o dono da fazenda?” “Quem é o médico?”. Por meio da história contada em tom teatral e incluindo as crianças nela, todos pareciam entusiasmados em ouvir e participar. Outro fator que acredito ter contribuído para a concentração física e mental de quase todas as crianças se deu por ter acontecido logo depois do lanche. As crianças se reúnem em grandes mesas e se acalmam comendo suas merendas e sossegam um pouco os ânimos depois da refeição. Anotações Gerais: | Dia de chuva – Usam galochas e capas de chuva e brincam ao ar livre | Naturalmente se reúnem em grupos de no máximo 4. | Autônomos – Educadores deixam que eles façam algo sozinhos para, em seguida, dar assistência. Em diversos casos, as crianças falam “não sei” ou “não consigo”, mas na realidade conseguem e por isso, os educadores respondem “Consegue sim. Por que você não tenta?” - Normalmente funciona. Quando não, os educadores interferem para ajudar. | “Você já guardou o que usou?” – Finalizam a atividade guardando o que usaram, quase nunca por vontade própria.
Desenho referente ao Dia 2
20 DIA 3 Quem: “Inspirador” do corpo Atividade observada: Circuito Local: Sala de cima: Montou um circuito com blocos de almofada e um colchão encostado na parede. Contava histórias para que as crianças ( 3, 4, 5 anos) brincassem com os desafios do circuito. “Quem encostar no bloco vira estátua”; “Agora vocês precisam resgatar o tesouro de cima do colchão!”; “Rápido, a lava está alcançando vocês!” No meio da sala, havia um trapézio montado. O professor moveu o colchão que estava encostado na parede para que ficasse embaixo do trapézio e, rapidamente, eles estavam num navio pirata onde o colchão protetor era o oceano. Mais uma vez, a narrativa em paralelo à atividade criou muito envolvimento. Quem: Educadora de leitura e artes Atividade: Garrafas PET Local: Sala de Leitura Na sala de leitura, que também funciona como uma sala de artes, a educadora estava pedindo a ajuda das crianças que estavam por perto para que decorassem as garrafas que seriam usadas numa brincadeira da festa junina. As garrafas PET estavam cheias d’água e havia miçangas, purpurina, corante, lantejoulas e outras miudezas para que fossem misturadas na garrafa e dessem um efeito plástico ao serem derrubadas como boliche ou serem usadas como alvo de argolas. As crianças de 2 anos nem chegam perto da miçanga, escolhem a cor do corante e o que querem ver dentro da garrafa. A educadora faz e mostra à eles . Gostam de ver o efeito, a conseqüência das coisas, sorriem ao sacudirem garrafa bem fechada pela educadora. As crianças de 3 precisam de mais assessoria para despejar o corante na boca da garrafa. As crianças de 4 já conseguem ser mais cuidadosas, mas tudo precisa ser supervisionado o tempo todo. Só quando veem uma garrafa “pronta” ou sendo derrubada no chão é que entendem porque estão fazendo aquilo. Caso contrário, trocam de ocupação rapidamente..
Anotações gerais: | Narrativa como fio condutor. | Sem supervisão integral. É dada a chance de desenvolvimento espontâneo e mais natural sem tantas interferências. | Ainda não questionam muito sobre a razão das coisas: “Por que?” é raro de ouvir. Desenho referente ao Dia 3
21 DIA 4
Desenho referente ao Dia 4
No dia, não havia “Inspiradores” na escola. Acompanhei um dia de brincadeira livre. Anotações gerais: | Se eles não gostam de algo que o outro fez, são orientados a falar para o outro o que não gostou e assim, resolver o problema. | Adultos como mediadores e não “resolvedores” da situação. | Se interessam ao ver a pintura sendo feita no chão da escola – curiosos por natureza. Nesse momento fizeram muitas perguntas ao homem que pintava a bandeira do Brasil e outras decorações no chão. “Posso te ajudar?”, “O que você está fazendo?”, “Você não esta fazendo errado?”, “Por que a sua roupa é assim?”. | Só uma criança se propôs e conseguiu encher uma bexiga – as outras acharam muito difícil e desistiram.
Desenho referente ao Dia 5
22 DIA 5
CONCLUSÕES GERAIS
Nesse dia, as crianças estavam muito dispersas e, por isso, não me mantive em um espaço só. Fiquei no pátio onde há mais movimento e interação.
As habilidades manuais estão se desenvolvendo. Não consegui observar padrão de interesse em trabalhar com objetos grandes ou pequenas. São mais hábeis com atitudes “maiores” como rasgar ou colar. São atentos por curtos períodos de tempo e se distraem facilmente. Histórias, narrativas envolvem mais na atividade, principalmente se contemplam movimento físico. O educador tende a começar algo ou formar alguma decisão perguntando a opinião das crianças, fazendo-as pensar. O espaço da escola oferece em cada cômodo, uma realidade: ateliê, leitura, brinquedos, trapézios e colchões onde observei que o principal recurso que os educadores usam para envolver as crianças nas atividades é contando histórias. Inventam narrativas para uma adesão maior à proposta e para que mais meninos e meninas estejam juntos, em cooperação.
Anotações gerais: | “Chega devagar na brincadeira que, às vezes, a brincadeira já está acontecendo” | Difícil fazer grande grupo brincar junto, ainda não entendem sobre invadir o espaço do outro. Atividades manuais prontas observadas: - Colagem com folhas e areia - Papier Machê para o Boi - Colagem de penas, pedras de plástico e retalhos no chapéu de palha da festa junina - Colar papel crepom com cola branca em uma bexiga Nesse cenário, acredito que foi bastante positiva a observação no Espaço Cria já que, diferente de outras instituições, pude ver a espontaneidade da criança e seus interesses, a forma como solucionam e também arrumam problemas. Música, teatro e narrativas envolvem as crianças na atividade.
A história do boi, do pirata, da nuvem ou do cachorro disparam o interesse e convidam a embarcar no sonho. Foi uma experiência enriquecedora subir o Cosme Velho por uma semana e frequentar em 4 horas diárias a casa tão acolhedora que é a escola. O brilho nos olhos, a imaginação espontânea são sinais que só a presença transmite e a partir dessa energia e entendimento, e que eu levo o projeto à frente.
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Contar História
Desde os primórdios da humanidade, contar histórias é um dos principais veículos de transmissão de conhecimento e sabedoria popular. Hoje, diversos pesquisadores e estudiosos abordam a contação de histórias como verdadeira contribuinte para a formação de um indivíduo criativo, sensível e sociável. Nessas literaturas são tratados relacionamentos humanos primitivos como o amor, a generosidade, a raiva, a mentira, a traição e seus reflexos no comportamento, além de princípios éticos universais presentes numa mesma estrutura temática da busca pela plenitude. Essa conclusão foi feita primordiamente na pesquisa de campo feita por meio da observação participante no Espaço Cria, como mencionado anteriormente na pesquisa de campo. Em transversal, Bettleheim (1980) afirma que os contos de fadas contribuem para dar sentido à vida. Sua forma e estrutura sugerem imagens às crianças com quais elas podem estruturar seus devaneios e, assim, dar melhor direção à existência. Pertinentemente colocado pela psicanalista e professora de literatura infantil Isabel Maria de Carvalho Vieira: - As histórias de ficção, e muito especialmente as narrativas que vêm do folclore, os mitos, as lendas, os contos de fadas, se apresentam como a maneira mais significativa que a humanidade encontrou para expressar aquelas experiências que não encontram condições de se explicar no esquema lógico-formal da narrativa intencionalmente objetiva.
24 Além disso, ouvir histórias propicia o contato com a arte e, dessa meneira, desenvolve a imaginação, a observação, a linguagem oral e escrita, assim como a habilidade de dar lógica aos acontecimentos e estimular o interesse pela leitura (HAMZE, Amélia). Portanto, quero contribuir no contar de histórias envolvendo aspectos visuais e sensoriais na experiência artística do ouvir e do contar. Dessa maneira, busquei na minha infância histórias que me disparavam o sonhar. A primeira que me veio foi a do Bicho Manjaléu, história contada por tia Anastácia à Narizinho na obra tão conhecida de Monteiro Lobato o Sítio do Pica-pau Amarelo (Anexo 2). Essa história é permeada por ricos elementos a serem explorados como os peixes, carneiros, pombos, o bicho Manjaléu e a própria jornada do herói. Considerando essa jornada, é compreendido que as histórias infantis em geral seguem uma linearidade narrativa similar variando de um a dois conflitos a serem solucionados pelo herói, que ultrapassa desafios a fim de alcançar seu objetivo. Por essa razão, de início fiz uso da história de tia Anastácia como pontapé inicial para pensar “as coisas”. Contudo, essa escolha me fez refletir que não me agrada escolher uma história específica, vindo de um berço determinado. Encontrei o história da Criação Tupi-guarani (Anexo 1) e o livro Omo Obá - histórias das princesas iorubás (Anexo 3) - que tratam da gênese de aspectos da natureza em nosso planeta. Quem sabe comparar e trasnversalizar as três narrativas, bebendo de fontes tão distintas? Acredito que isso contribuiria para uma expressão ainda mais vasta das “coisas”.
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O encontro projeto intenção humanização aprender fazendo interferência reflexiva
reinvenção criatividade sensibilidade independência cultura popular socializa emoções
DESIGN
BRINCAR
troca presença experiência mensagem fortalece vínculos valoriza cultura CONTAR DE HISTÓRIAS
Entendendo a contação de histórias como uma ferramenta educativa, o brincar como uma prática pedagógica e o Design como área de estudo organizei graficamente as três áreas com as palavras-chave neste projeto.
o projeto está aqui!
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Personagens escola
brinquedo
histórias
recreador
metodologias de ensino
contador de histórias teóricos, pesquisadores e estudiosos da
A seguir, um mapeamento nuclear dos personagens desse projeto. No centro o herói/heroína e, organizados ao seu redor os canais, influências, atuantes da pesquisa e seus desdobramentos.
educador artesão
criança (3-6 anos)
material didático
mediador
práticas pedagógicas
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Objetivos conceituais
Empregar o design na construção colaborativa de uma experiência não-mecânica, lúdica e coletiva.
Gerar sorriso, brincadeira.
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O não-objeto Tentando entender a natureza desse material de apoio para contar histórias que estou propondo, entendi que o uso do material que determinaria a sua função. O contato com o material deve ser o mais amplo possível, oferecendo múltiplas possibilidades de interpretação. Por isso, pensando no que é um objeto e suas funções determinadas, encontrei o termo “não-objeto”, no texto “Teoria do não-objeto” do autor Ferreira Gullar, considerado por alguns como o manifesto do movimento neo-concreto brasileiro, este que tratava a prática artística como experiência e processo. Publicado no Jornal do Brasil em 1960, o nãoobjeto é definido como: “não é um antiobjeto mas, um objeto especial em que
se pretende realizar a síntese de experiências sensoriais e mentais [...] um corpo transparente ao conhecimento fenomenológico, integralmente perceptível, que se dá á uma percepção sem deixar rastro. uma pura aparência.”
Agrego esse juízo sobre o não-objeto como uma espécie de parâmetro projetual na concepção e confecção desses “não-objetos”, aqui referidos como “coisas”. O contato com o texto de Gullar me fez atentou para o movimento neoconcreto brasileiro que propôs uma nova forma de contato com a obra de arte. Os Bichos de Lygia Clark, os Parangolés e Penetráveis de Hélio Oitcica são apenas alguns exemplos que representam essa corrente artística. O público faz parte da obra e só a partir dessa experiência que a obra acontece. Me aproprio desses conceitos para fabricar meus experimentos que tangenciam a presente pesquisa. Ref. 62
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Objetivos formais Coloco aqui parâmetros plásticos identificados para a produção das “coisas”.
colorido sonoro
amplia
reduz
figurativo
possibilidades
abstrato
coisa
função aparente
explorável sensível
auto-explicativo
manuseável
uso determina a função
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Estudos e experimentos
Os personagens presentes nas histórias infantis são mais típicos que únicos e a fim de entender esses perfis selecionei três histórias que conseguem representar as diferentes vertentes culturais brasileiras: “O Bicho Manjaléu”, “emanjá e o poder da criação do mundo”, “O mito TupiGuarani da criação do mundo” (em anexo) Escolhi essas histórias para que eu tivesse um ponto de partida panorâmico e explorar visualidades, cor, formas e texturas nas “coisas”. Essa decisão influenciou muito no processo porque baseei a materialidade num conteúdo infantil existente na literatura. Segundo Fátima Miguez, na sua obra “Nas arte-manhas na imaginação infantil - o lugar da literatura na sala de aula”, a palavra é a ponte para o imaginário - “floresce os objetos, amanhece as coisas e, nos convida a prová-las, a recriá-las, isto é, a plantá-las nos descampado território da imaginação”. Considerando isso, comecei a rascunhar. A seguir, imagens digitalizadas do caderno de projeto estudando os personagens, cenários e possíveis formas. CONDIÇÃO: materiais muito variados em forma, textura, volume, barulhos e de fácil acesso (possivelmente reciclados, reutilizados)
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34 Esses rascunhos geraram o que eu nomeei de “Gracinhas”. Gracinhas porque intencionam o riso, a bobeira. Não significam nada e foram feitos a partir de materiais que eu tinha à mão e de forma espontânea, usando as mãos como exploradoras na.simples atitude do fazer. Minha primeira experiência foram as trouxas. O que tem dentro delas? Quero usar a materialidade como potência. Como declara Agnaldo Farias, crítico e curador de arte: se encontrar com os materiais é o mesmo que encontrar consigo mesmo, porque o material serve de alavanca pra que deflagre dentro de si processo, inteligência, raciocínio, gestos. Mesmo que ele estivesse se referindo ao projeto ‘Lugares’ da artista Stella Barbieri, amparo essa significação e de alguma forma a compreendo dentro do meu projeto.
Gracinha #1 Voil, tecido “fantasia” lantejoulas, camurça, cordilha e bolinhas perereca. (se arremessada corretamente, pula e desce escadas!)
Gracinha #2 Tecido “fantasia” lantejoulas, lã e mistura de ervas aromáticas. (se afofar perto do nariz a erva-doce aparece!)
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Gracinha #7 Brim vermelho, voil, lĂŁ e cravo. (se afofar perto do nariz o cheirinho surge!)
Gracinha #8 Voil, tecido “fantasia� lantejoulas, lantejoulas, cordilha, bolinha perereca grande e alecrim. (se aproximar do nariz tem cheirinho e pula MESMO!)
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Gracinha #5 Plástico cristal, lã, bolinhas perereca pequenas. (se arremessada corretamente, pula e desce escadas melhor que #1!)
Gracinha #6 Saquinhos de plástico 10x15cm, lantejoulas e lã. (não é tão gracinha, tá mais pra geringonça, mas fica em pé e faz barulinho!)
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“gracinhas” manipulação forma sensorial próximo demonstrativo inclusivo mais condicionado Gracinha #3 e Gracinha #4 Potinhos de vidro, conchinhas e miçangas coloridas. (cada uma com seu barulho diferente e mostram o conteúdo do som!)
38 Em seguida, despertei para a questão do espaço, dos cenários. Lugares são pontos de encontro, cruzamentos, esquinas. Onde atravessamos e somos atravessados. Como negociar espaços? Qual seria o abrigo de uma história ou para uma história? Com esses questionamentos, me veio a “espaço-nave” uma espécie de tenda com características uterinas que acolheria a história, quem quer contá-la e quem quer ouvi-la. O espaço é um componente essencial para o embarque na narrativa, com a “espaço-nave” quero abrir clareiras na cidade, convidar com afeto para um espaço-tempo de narrativa. Não posso deixar de registrar que a dedicação mais intensa nesse experimento se deve principalmente ao cenário político do Brasil. Me parece urgente tratar dessa questão por meio da união, da cooperação. É importante estarmos juntos e protegidos em tempos como esses e, que tal contar história? O objetivo da “espaço-nave”é a brincadeira desde o primeiro encontro, escolher se estará no chão ou no suspenso é uma etapa. Demanda pelo menos duas pessoas juntas para levantá-la, se for o caso. E isso é mais uma de suas características, o convite para brincar junto. A seguir, imagens-referência inspiradoras de diferentes maneiras de interpretar o espaço e o abrigo. Após essas ideias, apresento meus primeiros esquemas de estudo de sustentação da ‘espaço-nave’.
“espaço-nave” abrigo convite mergulho efeito efêmero inclusivo menos condicionado
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Ref. 56
Ref. 53
Ref. 58
Ref. 54
Ref. 57
Ref. 55
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43 A ideia de usar retalhos, vai além da economia. Queria que a própria “espaço-nave” fosse feita de histórias. Cada pano fala um pouco de onde veio e por isso, juntei minhas próprias sobras de tecido e pedi a amigos que contribuíssem para essa feitura. Recolhi tecidos de pessoas queridas e costurei um pouco de cada para que reforçasse a ideia de que para contar história é preciso que alguem conte e que alguém ouça. Fiz um pequeno modelo para testar seu comportamento. Depois de pronto, parti para a missão de costurar a verdadeira Espaço-nave. A relação do ponto, da linha, da agulha e das tramas são muito análogas a questão da narrativa, dos seus conflitos e resoluções, o que me provoca um alívio de coerência. Projetar onde cada pedaço de tecido se encaixaria no outro foi uma tarefa difícil e divertida ao mesmo tempo. Revisitar panos de carnaval e reaproveitar tecidos utilizados em projetos passados foi uma forma de contemplar o fechamento de um ciclo, me deixando satisfeita. A seguir, fotos do modelo mencionado (foto ao lado) e da Espaçonave em sua configuração atual (págs. 41, 42). Eu digo atual, porque sua natureza impede que tenha um formato final definitivo. É sempre possível que se some mais um retalho e outros adereços para divertir ainda mais a brincadeira.
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Costurei e amarrei espécies de alças no que pode ser considerada a parte interna da Espaço-Nave. Tecidos mais leves, diferenciados, “fantasia” podem ser colocados somando em textura, cor e referências no novo ambiente. Isso também permite variar a forma de uso do brinquedo que também, nem sempre precisa estar suspenso, pode estar no chão ou sobre alguma superfície. A experimentação da Espaço Nave e das Gracinhas ocorreu no Espaço Cria dia 07/12, onde realizei a observação participante. Nesse encontro espero analisar os seguintes pontos: | É realmente divertido? Faz rir? | Os acabamentos são bons o suficiente? | Qual a reação das crianças? | Quais funções elas atribuem aos brinquedos? | Elas se interessam pelos materiais? | Quais são seus comentários?
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ExperimentAÇÃO
Fui recebida no Espaço Cria, e com a ajuda da diretora Mariana, escolhemos a “Toca” como o melhor lugar para coloccar a Espaço-nave, por conta das vigas do teto. Assim que prendi as extremidades da grande cobertura, as crianças que estavam ao redor se reuniram para ver de perto da novidade. “É uma cabaninha!”, “Oba! Adoro cabaninha!”. A maioria das crianças que estavam lá nesse momento tinham 3, 4 anos. Observei que assim que instalei a Espaço-nave as brincadeiras que estavam acontecendo espalhadas, se aproximaram do abrigo. Mesmo que essa reunião tenha durado pouco tempo, para mim, já foi o suficiente entender o poder de uma novidade e da “casinha”, bricadeira que se repete por gerações nas mais diversas culturas. Levei também, sobressalentes, tecidos “fantasia” de lantejoulas e deixei por perto. Em poucos minutos eles virarm luvas de super-heróis, capas e outras demais invenções próprias da criatividade infantil. Deixei a Espaço-nave voando por quase uma hora e confesso que me alegrei ao ver olhares de pesar quando fui recolhê-la. Eles não tentaram se pendurar, o que tornou o acabamento suficiente nessa circustância.
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Me surpreendi com o interesse deles pelas Gracinhas. Enquanto ajeitava a Espaço-nave deixei as Gracinhas em cima da mesa e virei as costas. Quando reparei, cada Gracinha estava com um dos pequenos que não demoraram a perceber o cheiro e a caraterística “pulante” de algumas delas. “É chocolate!”, “Não! É perfume!”, “Por que o meu não pula?”. Foi muito gratificante observar um deles muito interessado, levando todas elas de um lado para o outro na cesta de palha. Não percebi eles tentando abrir, o que é um bom resultado. Colocaram também dentro da panelinha e brincaram de comidinha. Interessante como o cheiro provoca essa função do alimento, algo que eu não havia considerado antes. Assim com a Espaço-nave houve uma leve reclamação no momento que fui recolhê-las. Esse momento aconteceu naturalmente porque tinha chegado a hora do almoço e a “Toca” fica fechada durante esse período.
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A conquista
Após essa verdadeira jornada em que embarquei na Educação com os remos do Design, entendo que seus encontros acontecem a todo tempo tornando até difícil de distinguir onde começa um e termina outro. O diálogo, o contato, o fazer, o fazer junto, a observação cuidadosa e também crítica, a experiência, o afeto e o cuidado permeiam os dois campos em sua prática e teoria. O Design me ensina que toda opinião é válida e a vivência de cada um é única. Também, que a organização de um pensamento, o planejamento e as etapas sistematizam um raciocínio que valida a investigação. A Educação me ensina uma postura horizontal de troca, em que cada potência deve ser valorizada em sua essência, de maneira democrática. A materialidade desse projeto é apenas um fruto dos infinitos possíveis de corroborar para um ambiente de aprendizagem, brincadeira e leveza na escola. O lúdico é essencial para a aprendizagem infantil e acredito que por meio de objetos férteis, mas, ao mesmo tempo simples, é possível alcançar esse estado. A cuiriosidade é um gatilho para a brincadeira enriquecedora, a descoberta é imensurável no desenvolvimento da criança. Fico muito feliz, que de alguma forma, pude contribuir para gerar risos e diversão.
Quem disse que não dá pra aprender achando graça das coisas? Conquistei à minha maneira, que é sim possível rir, sonhar e pesquisar ao mesmo tempo, tangenciando de forma experimental, as confluêcias entre Design, Educação e Infância. Considero hoje, contar histórias uma ferramenta educacional, brincar uma prática pedagógica e o Design um solo fértil capaz de oferecer e fazer crescer as mais belas formas de construir um mundo melhor.
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Agradecimentos Agradeço à minha família, minha avó Maritza, minha mãe Marize e meu pai Luiz que investiram na minha formação ao longo desses anos na PUC e sempre apoioram minha escolha profssional, me incentivando com amor, carinho e preocupação. Agradeço também ao meu irmão José pela companhia indireta nas madrugadas de trabalho à dentro. Agradeço à professora Roberta Portas por confiar no meu projeto e nunca deixar espaço para inseguranças, usando seu olhar cuidadoso e afiado para orientar da melhor forma possível essa trajetória. Obrigada pela seriedade e também pelas risadas nas manhãs de atendmento. Agradeço à professora Izabel Oliveira pelo incentivo desde o início do Anteprojeto a continuar pesquisando e explorando o assunto que propus. Seu interesse pelo meu trabalho me trouxe ainda mais força e confiança para seguir em frente, obrigada. Agradeço ao professor Vicente Barros por me mostrar os brinquedos feitos por meninos e meninas do Brasil que resgataram em mim o interesse de estudar o Brincar, a Educação e a Infância. Me espelho em sua coerência profissional, que parece trilhar brincando. Agradeço ao professor Fábio Lopez, meu tutor, que sempre demonstrou confiança no meu desenvolvimento, essencial para que o projeto mantesse consistência e qualidade. Agradeço às queridas Mariana Gama e Maria Antonia Souza por demonstrarem seriedade, dedicação e comprometimento aos seus
projetos, incluindo os além da academia, sempre pensando de maneira crítica, pertinente e questionadora. Obrigada por estarem constantemente me mostrando a potência da arte, inscrita em quase tudo que nos rodeia. O poder feminino nos une e nos fortalece. Obrigada. Agradeço aos meus amigos Miguel Prates, Luca Lin, Raphael Ximenes e Diogo Digone pelo carinho sempre disponível para desabafos, risadas e conselhos. Obrigada por estarem por perto e por serem os homens mais legais que eu conheço. Agradeço também às amigas Laura Mumic, Luisa Sader, Olívia Nielebock, Gabriela Artiles, Juliana Salvador, Nathalia Hinz, Isabella Motta por serem minhas referências de mulher. Obrigada à Lena Martins, ao Instituo Tear, à escola Oga Mitá e ao Espaço Cria pelos ambientes de acolhimento e de transmissão de conhecimento horizontal, com afeto e sorriso. Muito obrigada à artista com quem trabalho, Josely Carvalho, que me ensinou sobre a potência do olfato na arte e na vida. Agradeço pela sua acolhida materna e pela abertura para aprendizado nesses anos intensos de trabalho juntas. Muito obrigada a todos com quem encontrei, afetei e fui afetada nesse caminho que com certeza de alguma forma influenciaram esse trabalho já que a potência de cada um deixa rastros em nós e vice-versa.
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Anexos 1. O mito Tupi-guarani da criação do mundo (Ref. 45) No começo de tudo, quando não havia tempo ainda, havia Yamandu. Yamandu é “o silêncio que tudo ilumina”, é o ancestral de todos os ancestrais. Num determinado dia, dentro da própria luminosidade, Yamandu, que é mais que qualquer sol, Yamandu quis conhecer a dimensão de si mesmo. Foi quando ele se encolheu, dentro do Grande Início, se recolheu dentro de si mesmo e viu que era vasto. Yamandu quis conhecer toda a dimensão de si, então se transformou numa coruja. Não essa coruja que nós vemos agora, mas a coruja primordial. E como coruja Yamandu se viu dentro da Grande Noite e viu que era vasto. Yamandu queria conhecer a sua altura, o seu comprimento, então se transformou num colibri: Mainu, na língua guarani. E como Mainu, o colibri, Yamandu conseguiu voar velozmente em todas as dimensões de si: voou acima, abaixo e ao centro. E viu que era vasto. Então Yamandu, o silêncio sagrado, luminoso, quis conhecer a totalidade de si, foi quando se recolheu dentro de si mesmo e se transformou num gavião real, Macauã. E com Macauã ele voou na mais longe das alturas e viu a totalidade de si. Então ele pensou: “Precisamos criar mundos”. Foi então que ele cantou e do seu canto as estrelas começaram a nascer. E ele cantou, cantou e cantou, até quando num determinado momento ele disse: – Os mundos todos estão criados. Foi então que ele se recolheu dentro de si mesmo e se transformou num Grande Sol. E do ventre desse Grande Sol, Coaracy, é que nasceu Tupã. Tupã, nascido do próprio coração de Yamandu, começou a cantar ajudando Yamandu a criar os mundos.
Mas um dia Tupã sonhou com a nossa Mãe Terra. Foi quando ele criou do seu próprio pensamento um petenguá. Petenguá é um cachimbo sagrado. E através do petenguá ele soprou o espírito da futura Mãe Terra. E o espírito da futura Mãe Terra ficou viajando pelo espaço, se alongando, se transformou numa serpente luminosa e prateada. Até o momento em que ela escolheu um lugar e disse: – É aqui. E naquele lugar ela se enrodilhou e adormeceu. Ela se transformou numa tartaruga, um imenso jabuti. Algum tempo depois Tupã foi seguindo o rastro do espírito da Terra que havia sido deixado pelo espaço, no grande céu, até chegar ao lugar onde havia escolhido para adormecer e sonhar. Tupã olhou e no casco da grande tartaruga desenhou as futuras montanhas, os futuros vales, os futuros rios, desenhou as futuras cachoeiras. E pensou: “É preciso pôr alguém ali para continuar a Criação. Eu tenho muitas tarefas para fazer”. Então Tupã, do seu próprio coração, criou o nosso primeiro ancestral, Nhanderovussu, o primeiro ser humano. Só que naquele tempo ele era alado. Nós o chamamos também de Avadiquaquá, “o primeiro adornado”. E quando Tupã disse: “Vai, vai continuar a criação lá na Terra”, nosso primeiro ancestral não sabia como andar na Terra, não sabia habitar na Terra. Foi então que ele retornou a Tupã e disse: – Mas eu não sei viver na Terra. E Tupã falou: – Procure as quatro direções. Em cada direção você encontrará um “nhendejara”, um professor, um guia E Tupã foi embora. Nhanderovussu, nosso primeiro ancestral, então voltou à Terra e foi em direção ao Sul. E no Sul ele viu uma palmeira azul, Endovidju. Nhanderovussu, nosso primeiro ancestral, foi até a palmeira azul e disse:
51 – Ei , você! Você pode me ensinar alguma coisa sobre viver aqui na Terra?
– Pronto, você já aprendeu comigo, agora sai.
Endovi disse: – É claro que eu posso, entra em mim e você vai aprender a viver na Terra.
E deixou Nhanderovussu no pé de uma montanha, ao leste. Nhanderovussu olhou para o alto da montanha e viu que ali tinha uma gruta, bem no alto, e dessa gruta saía uma luz que lhe chamou a atenção. E ele subiu...
Então Nhanderovussu entrou na palmeira e se tornou a própria palmeira. Foi quando sentiu pela primeira vez, através das raízes, o que era estar na Terra. E viu que era muito bom. E foi ficando, foi ficando, foi ficando... Até que um dia Endovidju disse: – Você já aprendeu muito comigo. Pode ir embora. Nhanderovussu, nosso primeiro ancestral, saiu da palmeira e foi em direção ao Norte. E no Norte encontrou uma rocha. Ele olhou para rocha e disse: – Você pode me ensinar alguma coisa sobre viver aqui na Terra? A rocha disse: – Claro. Entra em mim que você vai aprender. Então Nhanderovussu entrou na rocha e se tornou a própria rocha. E ficou meditando, olhando os poentes e os nascentes. Muito, muito, muito tempo depois a rocha disse: – Você já aprendeu comigo o que tinha que aprender. Pode continuar a sua jornada. Sai.
Quando chegou no interior da gruta ele viu que essa luz saía de uma serpente prateada, que estava sentada, enrolada no chão, e o mirava silenciosamente. Nhanderovussu perguntou: – Quem é você? Ela disse: – Eu sou o Espírito da Terra. – Ah! Então você pode me ensinar alguma coisa sobre viver aqui. – Mas é claro que eu posso. – Então me mostre. Então o Espírito da Terra foi recolhendo do próprio chão a poeira e o barro, e foi formando um assento: os dois pés ... foi formando um tronco, um corpo, uma cabeça, todo de barro. Colocou dois cristais no alto da cabeça, umedeceu com as gotas que caíam do alto da caverna e disse para Nhanderovussu: – Entra aqui que você vai aprender sobre a Terra.
Nhanderovussu saiu. E foi em direção ao oeste. Foi quando ele encontrou a primeira onça ancestral, Yauaretê. Ele disse pra ela: – Você pode me ensinar alguma coisa sobre viver aqui na Terra?
Nhanderovussu entrou naquele corpo de barro, naquele assento, e foi a primeira vez que ele conseguiu andar sobre dois pés. Ele saiu em direção à entrada da gruta porque o sol brilhava lá fora e ele viu pela primeira vez, com os olhos de cristal, todo o horizonte, e disse: – Isso é muito bonito. Isso é muito bonito.
Ela disse: – Claro. Entra em mim.
Foi então que Nhanderovussu percebeu que a Terra era maravilhosa e seu coração entoou um canto.
Foi quando pela primeira vez Nhanderovussu sentiu o cheiro da Terra, olhou a Terra com os olhos de onça, pisou na Terra com quatro patas. Andou, depois correu. E viu que era muito bom estar aqui na Terra. Então Yauaretê, a onça ancestral, disse:
A mãe Terra, que nós chamamos de Nhandessi, disse para ele: – Eu preciso te falar algumas coisas. Você tem o poder que vem da própria Terra, a qual você está portando. Você também tem o poder das águas, você tem o poder das pedras e tem o poder das plantas. Presta
52 atenção nisso. Esse é um presente que eu te dou, quando eu teci esse assento que você porta. Agora você também tem um poder maior, você tem o poder de Tupã. Preste atenção em cada palavra. Tudo que sair da sua boca é um espírito vivo. Nhanderovussu agradeceu os ensinamentos da Mãe Terra e ficou pensando em tudo aquilo enquanto caminhava olhando toda a criação que Tupã havia deixado: as montanhas, o céu, o chão. Então de repente ele olhou para o céu azul e disse: – Arara! E da palavra “arara” nasceu a primeira arara, o primeiro pássaro azul. Ele ficou espantado e disse. – Nossa! Araraí! E nasceu uma arara pequena. – Arararuna! E nasceu a arara vermelha. E começou a falar coisas que lhe vinham na cabeça: – Tucano! Mainu! Mainuí! Araponga! Da sua boca nasceram muitos pássaros. E os pássaros nasciam e voavam. E ele continuou andando e experimentando aquela sensação. Ele olhou então para o rio e disse: – Pirarucu! E nasceu o primeiro peixe. – Tambaqui! E outro peixe nascia. E foi falando muitos nomes que viraram peixes. Muitos e muitos nomes. Ele olhou para o chão e falou: – Djacaré! E ele olhou para o lado e disse:
– Panambi! Nasceu a primeira borboleta. E ele foi cantando nomes: – Paca! Tatu! Cotia ... (A cotia não. A cotia veio muito tempo depois.) E ele foi cantando, cantando, cantando nomes. Até o dia que ele olhou para os lados e viu que estavam todos os seres criados: os seres das águas, os seres do céu, os seres da terra. Ele voltou até aquela gruta e encontrou novamente com o espírito da Terra e disse: – Nanhandessi – que é “a Sagrada Mãe” – eu vim te devolver o corpo que você me emprestou, porque eu aprendi a viver na Terra e porque eu aprendi a criar na Terra. A mãe Terra disse: – Não precisa me devolver, fica contigo. É seu para sempre. Nhanderovussu falou: – Não! Mas eu devolvi para a palmeira quando a palmeira me ensinou. Eu devolvi para a rocha quando a rocha me ensinou. Eu devolvi para a onça quando a onça me ensinou. Nhandessi, a nossa mãe Terra, falou: – Não, não precisa me devolver. Precisa, não precisa... Até que a mãe Terra disse: – Olha, faz o seguinte: anda mais um pouco pelo mundo, vive mais um pouco a sua experiência nesse chão, depois quando você realmente cansar você não precisa mais vir até mim; abre um espaço em qualquer lugar e entregue esse manto que eu te dei. Então assim foi feito. Nhanderovussu desceu e continuou a cantar. Cantou durante muito tempo, cantou muitas coisas. Muitas vidas nasceram. E as vidas que foram nascendo foram fazendo amizade umas com as outras e também com Nhanderovussu. Até um dia em que ele disse:
53 – Agora eu me vou. Abriu um espaço numa clareira na floresta, entregou o manto que a mãe Terra havia lhe dado nesse espaço e ficou somente o seu espírito. E voou e se transformou no Sol. Esse Sol que nós vemos hoje é Nhanderovussu, nosso primeiro ancestral.
2. O Bicho Manjaléu (Ref. 38) Era uma vez um velho que tinha três filhas muito bonitas, mas um velho muito pobre, que vivia de fazer gamelas. Uma vez passou pela sua casa um lindo moço a cavalo; parou e declarou que queria comprar uma das moças. O velho se ofendeu; disse que por ser pobre não era nenhum malvado que andasse vendendo as filhas; mas diante das ameaças do moço teve que aceitar o negócio. Lá se foi a sua primeira filha na garupa do cavaleiro, e o velho ficou olhando para o ouro recebido. No dia seguinte, apareceu outro moço, ainda mais lindo, montado num cavalo ainda mais bonito e propôs-se a comprar a filha do meio. O velho, bastante aborrecido, contou o que tinha se passado com a primeira, e não quis aceitar o negócio. O moço ameaçou matá-lo e, também lá se foi com a segunda moça na garupa, deixando com o velho dois sacos de dinheiro. No dia imediato apareceu um terceiro moço e depois da mesma discussão lá se foi com a derradeira moça na garupa, deixando em troca três sacos de dinheiro. O velho ficou muito rico, mas sem as filhas, e começou a criar com grandes mimos um filhinho que havia nascido fora de tempo. Quando já estava na escola, esse menino teve uma briga com um companheiro, o que lhe disse: “Você está prosa por ter pai rico, mas saiba que ele já foi um pobre diabo que vivia de fazer gamelas. Está rico porque vendeu as filhas”.
O menino voltou pensativo para casa, mas nada disse. Só quando ficou moço é que pediu ao pai que lhe contasse a história das três irmãs vendidas. O pai contou tudo e ele resolveu sair pelo mundo em procura das irmãs. No meio do caminho encontrou com três marmanjos brigando por causa duma bota, duma carapuça e duma chave. Indagando do valor daquilo, soube que eram uma bota, uma carapuça e uma chave mágicas. Quando alguém dizia à bota: “Bota, bote-me em tal lugar!”, a bota botava. E se diziam à carapuça: “Carapuça, encarapuce-me!” a carapuça encarapuçava, isto é, escondia a pessoa. E se diziam à chave: “Chave, abre!”, a chave abria qualquer porta. O moço ofereceu pelos três objetos o dinheiro que trazia e lá se foi com eles. Logo adiante parou e disse: “Bota, bote-me em casa de minha primeira irmã”. Mal acabou de pronunciar tais palavras, já se achou na porta de um palácio maravilhoso. Falou com o porteiro. Pediu para entrar, dizendo que a dona do palácio era sua irmã. A irmã soube da sua chegada, acreditou em suas palavras e o recebeu muito bem. - Mas como conseguiu chegar até aqui, meu irmão? - Por meio dessa bota mágica - respondeu ele. E contou toda a história da sua partida e do encontro com os três objetos mágicos. Tudo correu muito bem, mas assim que começou a entardecer a irmã pôs-se a chorar. - Por que chora, minha irmã? - Ah - respondeu ela - choro porque sou casada com o rei dos Peixes, um príncipe muito bravo, que não quer que eu receba ninguém nesse palácio. Ele não tarda a chegar, e mata você se o enxergar aqui... O moço deu uma risadinha, dizendo: - Não tenho medo de nada, com a carapuça mágica saberei esconder-me. O rei chegou e logo levantou o nariz para o ar farejando:
54 - “Sinto cheiro de gente de fora!” mas a rainha mostrou que não havia por ali ninguém, e ele sossegou. Tomou um banho e se desencantou num lindo moço. Durante o jantar a rainha fez esta pergunta: - Se aparecesse por aqui um irmão meu, que faria Vossa Majestade? - Recebia-o muito bem - disse o rei - porque o irmão da rainha, cunhado do rei é. E se ele está por aqui, que apareça. O irmão encarapuçado apresentou-se, sendo muito bem recebido. Contou toda a sua história, mas não aceitou o convite de ficar morando ali por ter de continuar pelo mundo em procura das outras irmãs. O rei olhou com inveja para as botas mágicas, dizendo: - “Se eu as pilhasse, iria ver a rainha de Castela.” Na hora da partida o rei deu-lhe uma escama e disse: - “Quando estiver em apuros, pegue nesta escama e diga: “Valha-me rei dos Peixes!” O moço agradeceu o presente e lá se foi depois de dizer à bota: - “Bota, bote-me na casa de minha segunda irmã”, e imediatamente se achou defronte de outro palácio, onde foi recebido pela segunda irmã, que era esposa do rei dos Carneiros. “Meu marido logo chega por ai, a dar marradas a torto e a direito, e você não escapa.” Com minha carapuça escapo - respondeu o rapaz rindo-se. E contou a virtude da carapuça encantada. E de fato foi assim, correndo tudo direitinho como lá no palácio do rei dos Peixes. Na hora da partida o rei dos Carneiros disse: “Tome esse fio de lã. Quando estiver em apuros, basta que pegue nele e diga: “Valha-me rei dos Carneiros”. Em seguida olhou com inveja para as botas mágicas. “Se as pilhasse, iria ver a rainha de Castela.”
Logo que o moço se viu na estrada, parou e disse à bota: “Bota, boteme em casa de minha terceira irmã”, e a bota botou-o no portão dum terceiro palácio ainda mais belo que os outros. Era ali o reino do rei dos Pombos, onde tudo aconteceu como no reino do rei dos Peixes e no reino do Rei dos Carneiros. Foi muito bem recebido e festejado, até que na hora da partida o rei dos Pombos suspirou olhando para as botas e disse: “Se eu pilhasse essas botas, iria ver a rainha de Castela.” Em seguida deu ao moço uma pena, dizendo: “Quando estiver em apuros, pegue nesta pena e diga: Valha-me, rei dos Pombos.” Logo que o moço se viu na estrada, pôs-se a pensar na tal rainha de Castela que os três príncipes queriam visitar, e disse à bota mágica: “Bota, bote-me no reino da rainha de Castela!” E num instante a bota o botou lá. Soube que era uma princesa solteira, tão linda que ninguém passava pela frente do seu palácio sem erguer os olhos, na esperança de vê-la à janela - mas a princesa tinha jurado só se casar com quem passasse pelo palácio sem erguer os olhos. O moço então passou pela frente do palácio sem erguer os olhos e a princesa imediatamente casou com ele. Depois do casamento a princesa quis saber para que serviam aqueles objetos que sempre trazia consigo e o que mais a interessou foi a chave de abrir todas as portas. A razão disso era haver no palácio uma sala sempre fechada, onde o rei não permitia que ninguém entrasse. Nela morava o Manjaléu - um bicho feroz, que por mais que o matassem revivia sempre. A princesa andava ardendo de curiosidade de ver o bicho Manjaléu, e certa vez, em que o rei e o marido foram à caça, pegou a chave e abriu a porta da sala do mistério. Mas o bicho feroz pulou e agarrou-a dizendo: -“Era você mesma que eu queria!” - E lá se foi para a floresta com a pobre moça ao ombro. Quando o rei e o marido da moça voltaram da caça e souberam do
55 acontecido, ficaram desesperados. Mas o dono das botas mágicas prometeu consertar tudo. Agarrou-as e disse: “Bota, bote-me onde está minha esposa” E a bota botou-o. O moço encontrou a princesa sozinha, pois que o Manjaléu andava pelo mato caçando. Minha querida esposa - disse ele - precisamos dar cabo desse monstro feroz, mas para isso é necessário que eu saiba onde é que ele tem a vida. A vida do Manjaléu está tão bem oculta que todas as tentativas para matá-lo têm falhado. Trate de saber onde ele tem a vida. A princesa prometeu que assim faria, e quando o Manjaléu voltou deu um jeito da conversa recair naquele ponto. Manjaléu desconfiou. - Ahn! Quer saber onde eu tenho a vida para me matar, não é? Não conto, não. Mas a princesa, teimosa, tanto insistiu durante dias e dias que o bicho Manjaléu resolveu contar tudo. Antes disso ele amolou, bem amolado, um alfanje, dizendo: “Vou contar onde está a minha vida, mas se perceber que alguém quer dar cabo de mim, corto sua cabeça com esse alfanje, está ouvindo?” A princesa aceitou a proposta. Ele que contasse tudo que ela ficaria com seu pescoço às ordens do alfanje, no caso de alguém atentar contra a vida do monstro. E o bicho Manjaléu então contou: “Minha vida está no fundo do mar. Lá no fundo há um caixão; nesse caixão há uma pedra; dentro da pedra há uma pomba; dentro da pomba há um ovo; dentro do ovo há uma vela, que é a minha vida. Quando esta vela se apagar eu morrerei.” No dia seguinte, quando o bicho Manjaléu saiu novamente a caçar, o marido da princesa, que estivera escondido pela carapuça, apresentouse. “E então?” - perguntou. A princesa contou-lhe direitinho tudo que ouvira do monstro. O moço dirigiu-se à praia do mar e pegou na escama dizendo: “Valhame rei dos Peixes!”. E imediatamente o mar se coalhou de peixes que
indagavam o que ele queria. - Quero saber em que ponto do fundo do mar tem um caixão assim e assim. - Eu sei - respondeu um enorme baiacu. - Ainda a pouquinho esbarrei nele. Esse caixão está em tal parte. - Pois quero que me tragam aqui esse caixão. Os peixes saíram na volada; logo depois apareceram empurrando o caixão para a praia. O príncipe abriu-o e encontrou a pedra. Como quebrá-la? Lembrou-se do fio de lã. Pegou no fio e disse: “Valha-me rei dos Carneiros!” Imediatamente apareceram inúmeros carneiros, que deram tantas marradas na pedra que a partiram. Enquanto isso, lá longe, o Manjaléu, com a cabeça no colo da princesa e o alfanje na mão, ia sentido coisas esquisitas. - Minha princesa - disse ele - estou me sentindo doente. Alguém está mexendo na minha vida. E sua mão apertou o alfanje. A princesa engambelou-o como pode, para ganhar tempo. Ela sabia que seu marido estava a procura da vida do monstro. Assim que os carneiros quebraram a pedra, uma pombinha voou de dentro e lá se foi pelos ares. O moço lembrou-se da pena, pegou-a e disse: “Valha-me rei dos Pombos!” Imediatamente o ar se encheu de pombos, que o moço mandou voarem em perseguição a pombinha. Os pombos foram atrás dela e a pegaram. O moço tomou-a, espremeu-a e fez sair o ovo. Lá longe o Manjaléu se sentia cada vez pior. Começava a desfalecer, e como não tivesse dúvidas sobre o que era aquilo foi levantando o alfanje para degolar a princesa. Mas não teve tempo. O moço havia quebrado o ovo e assoprado a vela. A mão do Manjaléu moleou - e seu olhos se fecharam para sempre.Estava o reino de Castela livre daquele horrendo monstro. O moço levou a princesa para o palácio, onde o rei a recebeu com lágrimas nos olhos. E para comemorar o grande acontecimento decretou uma semana inteira de festas.
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3. Iemanjá e o poder da criação o mundo (Ref. 46)
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