Espaço: Possíveis Diálogos

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Espaço: Possíveis Diálogos

Aline Ferreira Simão



ALINE FERREIRA SIMÃO

Espaço: Possíveis Diálogos

SÃO PAULO 2015



ALINE FERREIRA SIMÃO

Espaço: Possíveis Diálogos

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Instituto de Artes, da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, para a obtenção do grau de Bacharelado em Artes Visuais, sob a orientação do Prof. Dr. José Paiani Spaniol. Data: 27/02/2015 Banca Examinadora: ______________________________________________________ Prof. Dr. José Paiani Spaniol - Orientador ______________________________________________________ Prof. Dr. Marcelo Denny de Toledo Leite - Co-orientador ______________________________________________________ Prof. Dr. José dos Santos Laranjeira SÃO PAULO 2015



Dedico à minha mãe, Eliana Simão.



Agradecimentos

Ao orientador, Prof. Dr. José Paiani Spaniol, pela seriedade na orientação desse trabalho de conclusão de curso, pela paciência e confiança nos momentos difíceis desta jornada e, ainda pelo estímulo à minha trajetória acadêmica e intelectual em todos estes anos. Ao Prof. Dr Marcelo Denny de Toledo Leite, pela recepção em sua disciplina, “Novas Poéticas da Cenografia Contemporânea” ministrada na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo e por sua atenção como co-orientador. Ao Prof. Dr. José dos Santos Laranjeira que me acompanha desde quando ingressei na Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, cujo suporte, apoio e poesia foram fundamentais ao longo de todo o processo. Ao Prof. Dr. Sérgio Romagnolo, por proporcionar ao longo do curso,referências,dando-me subsídios para a realização desse ensaio. Ao Prof. Dr. Agnus Valente, pelos momentos e encontros compartilhados, Ao Departamento de graduação em Artes Visuais do Instituto de Artes da Unesp, à Coordenação, à Marli Batista, pela compreensão e acolhimento de minhas solicitações. À minha mãe, Eliana Simão pelo afeto incondicional, apoio inestimável, constante e sereno. Ao Edson Pochini, meu segundo pai e amigo que arregaçou as mangas e esteve ao meu lado dando o suporte que precisei. À minha irmã, Gabriela Simão, pela

coerência e estímulo nas horas difíceis. À minha companheira, Iza Alves, por lembrar-me que a vida é feita de gestos concretos e não apenas de palavras. À minha madrinha, Adriana Rodrigues, por me apoair e acompanhar em minhas escolhas. Ao meu padrinho Rodrigo Silva, por estar presente em alguns momentos. Ao arquiteto Airton Barros, por brindar-me com sua amizade, pela troca incessante de ideias, pelos encontros, quem em muito contribuíram para a elaboração e desenvolvimento deste estudo. Ao artista e amigo Marcelo Jarosz, por estar sempre presente, pela parceria firmada em todos esses anos. À Pitanga, pelos passos corajosos e olhar sublime. Aos amigos fiéis, Amândio Fernandes, Bruna Sala, Carolina Akashi, Daniel Almeida, Damares Salvatierra, Denise Machado, Ligia Freitas, Merilyn Salvatierra, Su Stathopoulos, por compreenderem minha ausência.



Resumo / Abstract

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Introdução | Espaços [Re] Encontrados

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Trabalhos Selecionados

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Intervalo entre Limites

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Vazio Subtraído

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Estudos #1, #2 e #3

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Volume Plano

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Buraco Negro

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Duas Tabúas

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Estudo #4

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Muro

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Considerações

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Bibliografia

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Resumo

Abstract

Trato nesse ensaio da minha produção nos últimos quatro anos e, assim, por meio da existente aproximação com a tridimensionalidade, o espaço como território torna-se o eixo principal de investigação.

I tract in this project my production in the last four years, as well, through the existing approach to three-dimensional, space as a territory become a main focus of research.

À vista disso, apresento os possíveis diálogos entre o descolamento, posição e lugar. Organizados em fragmentos, cada capítulo é um trabalho escolhido que melhor se relaciona com o tema da pesquisa.

In a view of this, I present the possible dialogue between the detachment, position and place. Organized into fragments, each chapter is a chosen working that correlates better with the subject of research.

Palavras-chave: Arte Contemporânea; Espaço; Instalação; Ocupação.

Keywords: Contemporary Art; Space; Installation; Occupation.

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Yves Klein , Salto no Vazio, 1960.


Introdução Espaço [Re] Encontrados Nos últimos anos, meu interesse pela percepção1 espacial tem aumentado. Tenho como divisor de águas o L.O.T.E2 e suas experiências para além das fronteiras do espaço acadêmico proporcionada. Na edição do ano de 2012 em parceria com o Fábio Delduque, criador do Festival de Arte Serrinha3 , através de verba parlamentar da prefeitura de Atibaia e apoio do Instituto de Artes da Unesp, realizamos uma imersão artística de seis dias na Fazenda Serrinha, reunindo quarenta discentes e três docentes. Essa experiência obrigou-me a rememorar o famoso, Salto no vazio4 (1960), de Yves Klein. Solto no ar, o artista projetase para além da prática do ateliê, posto isso, estabelece a mudança de posição praticamente instantânea, é inserido no contexto geográfico. Ao romper o véu espesso dos territórios, a percepção de mundo se amplia no instante em que se lança em direção à rua, e, se confrontando com o ilimitado de todas as direções, Klein chama a atenção para as contingências desse novo espaço a ser explorado e em proporção suas potencialidades. Compreendo sua obra nesse contexto tal qual um preâmbulo, por definição, como algo que introduz, a partir do salto, um caráter significativo próprio em um território distinto. Saltar consiste,afinal, em assumir o risco, saltar nos impulsiona para longe, para que possamos percorrer o sentido do transformar. Em todo começar, há uma exigência de esperança e uma ameaça de fracasso, daí, seguir em frente e começar, de fato, é arriscar, tecer e construir. 1 Entende-se aqui percepção como o ato ou efeito de perceber de acordo com o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. 2 L.O.T.E – Lugar, Ocupação, Tempo, Espaço é um Projeto de Extensão Universitária de Departamento de Artes Visuais do IA - UNESP. Trata-se de uma iniciativa dos artistas Agnus Valente, José Spaniol e Sérgio Romagnolo, coordenadores do projeto, no sentido de investir como artistas, e proposições de arte-vivência. 3 Trata-se de um laboratório aberto a experiências artísticas que têm na natureza a matéria principal, uma obra em contínuo processo de construção - nas oficinas, nos debates, nos encontros informais, nos períodos de residência artística -, em que se estimulam a produção e as múltiplas possibilidades de interação entre as artes, e delas com a paisagem. 4 Fotomontagem de Harry Shunk a partir de performance de Yves Klein à Rue Gentil-Bernard, Fontenay-aux- Roses, em outubro de 1960.

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Apresento um mapeamento perceptivo específico, realizado a partir da observação de certas latências do mundo ao meu redor. Os procedimentos aqui adotados se envolvem com a fruição ou reação daquilo que me rodeia e são conjuntos de observações pessoais. Desta maneira, gostaria de destacar os conceitos pertinentes aos termos utilizados no presente ensaio: “Espaço: possíveis diálogos”: - Espaço: “Distância entre dois pontos, ou a área ou os volumes entre os limites determinados”.5 - Território: “Extensão considerável de terra”.6 - Posição: “Local onde uma pessoa ou coisa está colocada; disposição, arranjo. Situação espacial de um corpo, definida em relação a um ou vários pontos de referências fora dele”.7 - Lugar: “Espaço próprio para determinado fim. Parte delimitada de um espaço; espaço ocupado; sítio”.8 - Campo: “Lugar amplo. Domínio; esfera; âmbito. Campo de ação”. 9 Essas definições irão nortear esse ensaio, sendo abordadas sempre dentro do âmbito do meu trabalho, tendo em vista a complexidade do tema. A arte diz respeito a algo que não pode ser explicado por palavras ou descrição literal [...] a arte é revelação em vez de informação [...] A arte diz respeito COMO não ao O QUÊ, não ao conteúdo literal, mas ao desempenho do conteúdo factual. O desempenho- como ela é feita- este é o conteúdo da arte.10

A citação alude à impossibilidade de justificar certos fenômenos em arte, manifestados dentro da esfera do indizível. 5 HOUAISS, Antonio; VILLAR, Mauro Salles. Dicionário Houaiss da língua portuguesa.Rio de Janeiro: Objetiva, 2009, p. 267. 6 Ibid. p. 632. 7 Ibid. p. 520. 8 Ibid. p. 402. 9 Ibid. p. 121. 10 Joseph Albers citado em DUBERMAN, Martin. Black Mountain: An Exploration in Community. Chicago: Northwestern University Press, 2009, p 67.


Certa que não tenho intenção de explicá-la, o que fazemos não importa mais do que a maneira como fazemos, desse modo, só o esforço pode dar uma significação à altura do que buscamos. Todos os meus movimentos no espaço vivido se completam nesse alternar, dado pelo óbvio do ir e vir. Tudo acontece com o movimento, na passagem de um território a outro, no transitório. Assim, quando assumimos a transição como metodologia, deflagramos um lugar imaginário que não há permanência e, com esse caráter de transformação constante, percebe-se o seu propósito. A partir do deslocamento, articula-se o sistema das relações espaciais. Em cada caso, porém, significa que me distancio do meu ponto de repouso, mas essa distância é entendida somente temporariamente, depois retorno ao ponto de partida, e essa é a única garantia de que daqui a pouco partirei novamente. Tudo que me cerca é de certa maneira reconstruído, mesmo que o deslocamento seja em pequenas escalas, tal qual entre uma rua e outra, tudo se reestrutura a partir do novo olhar. Ao olhar, somos parte integrante do que é olhado, e o espaço nos responde com uma versão inesperada e diferente daquela que depositamos sobre ele. O enigma dessa experiência é a história do nosso olhar. Aqui encaro a história como o significado do trajeto para ver além do que acreditamos ser verdade no contexto espacial, realidades que apenas existem quando nos permitimos perceber o que em geral não reconhecemos. .

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Planta Baixa, 2012, nanquim sobre papel, 19 x 25 cm. Imagem digitalizada do caderno de anotaçþes.



Trabalhos Selecionados

Nos anos de 2012 e 2013, participei do L.O.T.E. (Lugar, Ocupação, Tempo, Espaço). O presente evento propõe a ocupação de espaços no Instituto de Artes da UNESP1 . Como parte do regulamento , o “lote” é escolhido pelo próprio participante, a partir de uma mapa de localização disponível no ato da inscrição. Ainda que a efetivação do trabalho se dê no espaço, sempre gostei de pensar através do raciocínio do desenho, a princípio, em pequenas escalas, outras vezes, ampliado para melhor visualizar o que se está pensando. É uma maneira de organizar as ideias, como primeiro contato, que independentemente de qual for o fato que evoca tal ação, aspira não a uma réplica do que está no entorno, mas, àquele mundo mais impalpável, que está na mente. A mão dança livre sobre o papel e os materiais estão sempre ao alcance, caneta, lápis, bloco de notas. Inevitavelmente, o processo começa através dele. Entretanto, é comum que no momento da passagem para a construção do trabalho a visualização prévia seja totalmente transformada. O contato com o material e suas dificuldades construtivas revelam gestos, e, ao ser manipulado, pode gerar um novo trabalho ou corresponder a uma situação não muito próxima daquela que originou esse pensamento. O desenho, por vezes, informa outros procedimentos, - não como uma regra, apenas, por necessidade -, e a representação gráfica do trabalho, por sua vez, poderá indicar novos desdobramentos. É nesse momento que ocorrem outras formas de representação, a maquete revela-se no decorrer do processo como instrumento do desenho, como no trabalho Vazio Subtraído2 , realizado em 2013 no quinto andar do Instituto 1 Localizado Na Rua Bento Teobaldo Ferraz, 271. Barra Funda, São Paulo 2 Vazio Subtraído, 2013, fita adesiva branca, madeira e tijolos, intervenção, dimensõe variáveis.

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de Artes da Unesp. Assim também em outros casos, como Duas Tábuas3 e Muro4 , a maquete é utilizada para visualizar situações que serão construídas, admitidas na qualidade de ensaio para intervenção futura, momento em que unificam-se as proporções, os volumes, o possível modo que o observador se relacionará com a obra. Esses pequenos modelos funcionam como a materialização da ideia, - mesmo sabendo que de fato ela se materializará no espaço escolhido -, são insubstituíveis, são a maneira mais completa5 de imaginar as coisas que ainda não existem. De certa forma, todos os materiais são protagonistas da mesma relação entre eles, não consigo hierarquiza-los, apenas relacioná-los. O que interessa, na realidade, é a possibilidade poética que possa existir entre suas várias características. Tal como quando a fita adesiva aparece no trabalho, ela está lá como fita adesiva mesmo e não como alguma coisa que quer ser representada por outro material que não seja esse. Não há uma questão secundária na escolha dos materiais, tudo é importante, tudo é uma conjunção poética de todas as suas partes, de maneira que nenhuma (única) parte é melhor do que a outra. Vejo tudo como um todo. Meus esforços vão em direção de um objeto recíproco, no qual todas as partes sejam tão significantes quanto o todo que resulta dessas partes. Logo, a ocupação no espaço pré-existente deflagra os aspectos da criação, portanto nos fornece chaves para a possibilidade de habitá-los6 e ocupá-los. Esse fato, captado por diversos autores, aparece de modo talvez até inconsciente em seu uso linguístico e, com isso, muitas vezes, ganha um significado adicional, não mais limitado ao habitar uma casa. Contudo, bem por esse motivo, o conceito também parece apropriado para descrever uma modificação geral e profunda no sentimento espacial, que surge da discussão com o existencialismo. O homem aprende novamente a habitar seu mundo.7

3 Duas tábuas, 2014, madeira e fita adesiva de alumínio, 200 x 100cm. 4 Muro, 2015, fita adesiva zebrada, dimensões variáveis. 5 Optei por utilizar o adjetivo completo, pois a maquete dos trabalhos referidos possui todas as qualidades exigidas para a realização dos mesmos, contém as dimensões do espaço onde serão inseridos, proporção, volume. 6 Habitar como determinacyão especial, passer, ficar, encontrar-se. 7 BOLLNOW, Otto Friedrich. O Homem e o espaco. Tradução Aloísio Leoni Sschmid. Curitiba: Editora: UFPR, 2008, p. 135.


Dessa forma, existe uma aproximação com a tridimensionalidade, à vista disso, o espaço é tomado como território de investigação, abordado como suporte para o desenvolvimento e construção dos trabalhos. Ocupar um espaço não se trata de impor projetos, mas da produção de sentidos. Investigo situações oferecidas pelo próprio espaço, quase sempre provisórias. 23


Intervalo entre limites, 2013, dois espelhos e cinco trilhos de alumínio, instalação, dimensões variáveis.


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VladĂ­mir TĂĄtlin, Contrarrelevo de Canto, 1914-1915.


Intervalo entre Limites

Com a relação de semelhança da cor e os reflexos presente na superfície polida de cada um - alumínio e o espelho -, a experiência dada pelo mundo e a experiência apresentada pela linguagem são apenas uma das inquietações presente neste trabalho. Penso o espaço como possibilidade de tornar aparente a metamorfose no exato momento de sua transição, tornase praticável uma de suas definições, distância entre pontos. Exemplificado pelo momento em que, ao ver uma flor, sabemos que está crescendo diante de nossos olhos, no entanto, não vemos o seu movimento. Olhar para aquela flor incorpora a ideia do crescimento constantemente, a beleza vegeta, relacionada a algo que não vemos, mas sabemos. Intervalo entre limites1 é este momento entre dois materiais semelhantes por suas características de leveza, brilho e reflexos, que se distanciam apenas no tempo e no espaço. Como se fosse finalmente possível isolar nesses ângulos, o estado intermediário que se insinua entre a lagarta e a borboleta. O ritmo das barras de alumínio, colocados na vertical e diagonais, ultrapassa as dimensões territoriais do espelho, demonstra a minha afinidade pelo Contrarrelevo de canto de Vladímir Tátlin, pois, o cabo esticado entre as paredes estabelece o canto como limite escolhido da obra. É possível e desejável notar as ambivalências que restringem as escolhas dos materiais em ambos trabalhos. Nas obras de Tátlin, principalmente em seus relevos e pinturas de cantos, pode-se observar que as estruturas eram feitas de materiais industriais, tais como metal, madeira, vidro, e incorporavam enquanto material escultórico, um espaço tridimensional real. 1 Apresentado em agosto de 2013 na galeria do Instituto de Artes da Unesp, na exposição coletiva Reincidência Paralela.

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Já em Intervalo entre Limites2, os materiais utilizados partem da ordem do cotidiano, tal como o espelho e os trilhos que, a princípio, eram utilizados para pendurar cortinas. Essa aparente contradição define as intenções e os valores que cada material escolhido tenciona.

2 Intervalo entre Limites, 2013, dois espelhos e cinco trilhos de alumínio, instalação, dimensões variáveis.


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Estudos para o trabalho Intervalo entre Limites, 19 x 25 cm. Imagem digitalizada do caderno de anotaçþes.


Vazio Subtraído, 2013, fita de papel adesiva branca, madeira e tijolos, intervenção, dimensões variáveis.


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Gordon Matta Clark, Escrit贸rio Barroco, fotografia do quinto andar olhando para baixo,1977. Anvers B茅lgica.


Vazio Subtraído

Este trabalho foi realizado na minha segunda participação do L.O.T.E., escolho o quinto andar para ser suporte das pesquisas que estava fazendo a cerca de espaço, estrutura e deslocamento. A partir desses pressupostos, escolhi a parede em frente aos elevadores, não como espaço expositivo, mas, tornando a parede parte da própria obra, devido a relação arquitetônica aparente no andar, como as tubulações, treliças e tijolos. Quando o suporte expositivo é deslocado para o piso, perde sua funcionalidade, torna-se um objeto no espaço. Ao revelar o que há por trás do tapume, os estilhaços de um tijolo testemunha da fragilidade de sua rigidez. As espacializações presente são incertas, contrastam com o cuidado de recortar etapas, períodos, idades, presente na ideia de vestígio. A Presença afirma a ausência e em proporção, a ausência afirma a presença. A memória dos gestos circula pela intervenção realizada, que, ao mesmo tempo, põe em movimento uma cadeia de simbolismos também básicos, do histórico de cada material e dos contrastes entre suas propriedades, por exemplo, a fragmentação do espaço ordenado versus a continuidade que o deslocamento proporciona, as dobras presente devido a disposição do tapume versus a solidez da parede de tijolos. Da forma resultante, surge o título atribuído. Gostaria de destacar os trabalhos de Gordon Matta-Clark1, que através de cortes e extrações em pisos, paredes e outras estruturas, nos encaminham para a reflexão sobre a arquitetura e o lugar. A aproximação do presente trabalho com as intervenções de Matta-Clark está na relação de criar situações em 1Com uma produção bastante heterogênea, o artista estadounidense é conhecido por seus trabalhos de arte em locais específicos.

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construções arquitetônicas com funcionalidades já concebidas, como em Vazio Subtraído, onde o espaço escolhido tem a função de suporte expositivo para os alunos da univdersidade e, a partir do descolamento, alcança os períodos não documentados da memória coletiva do determinado lugar.

Maquete, Vazio Subtraído.


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Estudo #01, 2014, sisal e árvores, intervenção, dimensões variáveis.


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Estudo #1, #2 e #3

Com a intenção de ultrapassar as limitações do espaço tradicional em direção ao meio exterior, passei alguns dias em Embu-Guaçu. Percebo que as minhas noções espaciais foram alteradas pela paisagem bucólica local. Contudo, os lugares e as direções possuem um caráter próprio que não depende apenas dos pontos cardeais. O aumento do raio de ação influencia o espaço ao redor, torna-se necessário, assim, o emprego de escalas maiores, que permitem um leque de opções mais abrangentes e tal percepção só é possível por considerar o olhar como parte fundamental do trajeto. Se estivesse dentro de uma caverna no alto da montanha, saberia que a fronteira é dada pela rocha circundante, no entanto, estamos imersos no espaço aberto, não encontramos limites por paredes, sua amplitude, a falta de um único ponto de percepção fixa, nos leva até onde a vista alcança. De acordo com a etimologia grega, Horizonte significa aquilo que determina o redor. É necessário enquadrar o que é olhado. Como se ao delimitar as áreas do olhar, conseguissemos registrar suas espacialidades, a maneira como as árvores estão dispostas no espaço. Essas manifestações estão presente nos Estudos #1, #2, #3 e contribuem diretamente para o estudo do tema abordado no presente ensaio. Nos Estudos #1 e #2, utilizo materiais para demarcação que mais se adequam com a localidade em questão. O sisal remete no meu imaginário situações de uso mais rústicas, mantém diálogo com o sítio no interior de São Paulo, ao contrário da fita adesiva que considero mais relativo aos centros urbanos. Mesmo com a criação de um território demarcado visualmente, gosto de ponderar suas lacunas, a permeabilidade que ambos os materiais permitem não excluem nada, apenas organiza os planos.

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No Estudo #3, prefiro identificar o repouso do olhar em uma linha imaginária, possível apenas pela “caiação de árvores”1, um hábito antigo que em muitas cidades já está em desuso. Acreditava-se que a cal evitava a proliferação de formigas e fungos em árvores, posteriormente, alguns estudos específicos identificou que a substância alcalina destrói o ecossistema da superfície das árvores. Logo, a cal só funciona por um curto período após sua aplicação, enquanto o tronco está molhado. Desse modo, é como se o instante da pintura pudesse delimitar ambos os espaços, em ambas escalas, os insetos e o olhar. Entretanto, as possibilidades e aberturas para as intervenções fazem do espaço não antes habitado um território fértil para promover deslocamentos a partir da experiência, encaminhando-a para a esfera da estética. Penso em intervenções que, por um lado, confundem com a paisagem, desta maneira convocam apenas olhares mais atentos, como acontece em Estudo #1, onde a cor do material utilizado pode ser absorvido pelo local instalado, por outro, em igual escala, promovem um estranhamento como em Estudo #3, onde a fita branca contrasta com o entorno.

1 É um termo utilizado para pinturas a base de cal.


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Estudo #02, 2014, f ita adesiva branca e árvores, intervenção, dimensões variáveis.

Estudo #03, 2014, cal sobre árvores, intervenção, dimensões variáveis.


Volume Plano, 2015 , espelho, eletrocalha parede e piso, instalação, dimensões variáveis.


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Volume Plano

Em Volume Plano é possível notar uma nova proposição da percepção do espaço ocasionada por uma breve vertigem através da incidência da luz, são sugeridas formas além das presentes no espelho, os reflexos não são táteis, apenas visíveis. Como se as arestas prolongassem verticalmente para que a permanência efêmera da imagem fosse permitida, de modo a construir nichos, relevos, lugares. O interesse pela especificidade do local se dá por gestos inacabados presente na estrutura da galeria, que ao invés de apresentar-se como concluída, possui rastros. Tal como os tijolos, que mesmo que pintados ainda deflagram sua forma e a fixação entre um e outro. A eletrocalha à trinta centímetros do piso percorre horizontalmente grande parte da galeria, é posto em suspensão o equilíbrio delicado entre o espelho e o espaço com o espaço e o observador. Ao invés de Volume Plano apresentar-se como um trabalho concluído, não renuncia a prerrogativa de constituir-se em um campo aberto, como estivesse para acontecer na frente do observador. A estrutura da galeria, o espelho instalado, a eletrocalha suspensa são fragmentos que constituem parte de um trabalho em mutação, dramatiza o ato da percepção, a experiência do olhar e a expressão do espaço e do movimento. As formas geométricas não reduzem os relacionamentos, elas o ordenam. Deste modo, o deslocamento permite olhar as coisas a partir de outro ângulo, revelando como o que parecia obscuro e abstrato seja de fato, compreensível, e é exatamente isso que é pedido: uma mudança de ponto de vista para ser lida de outra forma e entendida de outra maneira.

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Croqui para Volume Plano, 2015.


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Desenho de estudo para Volume Plano, 2015.

Volume Plano, 2015 , espelho, eletrocalha parede e piso, instalação, dimensões variáveis.


Buraco Negro, 2014, vidro serigrafado de preto, instalação, 60 x60cm.


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Kasimir MaliĂŞvitch, Quadrado Negro, 1915.


Buraco Negro

O material, ao contrário dos outros trabalhos aqui apresentados, norteou sua realização. Já estava pensando em uma materialidade no qual tivesse como característica uma superfície lisa, mas, que não fosse tão reflexiva quanto o espelho, em razão de ter trabalhado em outras ocasiões, e o principal interesse daquele momento era ter contato com um material não antes utilizado. No decorrer do ano de 2014 visitei alguma vidraçarias e lojas de materiais de construção. Em uma dessas visitas, conheci o processo do vidro serigrafado, que a princípio lembra a revelação fotográfica, a imagem ou a cor desejada é gravada em tela de poliéster e por meio da emissão luminosa é transferida para a peça de vidro. Sua aparência possibilita reflexos menos definidos, uma vez que a camada de prata aplicada é em porcentagem inferior ao espelho, constituindo de um reflexo mais sóbrio. Afinada, então, com minhas escolhas e, sob influência do que mais me fascina no universo, escolhi o título do trabalho. Buraco Negro presumi uma região no espaço que devido a atração de sua força de gravidade nada pode esquivar-se, nem mesmo as partículas que se movem na velocidade da luz. Contudo, o desejo de reter o mundo esbarra na linguagem escolhida, à vista disso, o reflexo sombrio do vidro preto apreende por alguns instantes quem o olha. Um horizonte nos é oferecido para firmarmos a visão, mas, onde quer que levemos a imaginação, depende da nossa capacidade de desafiar noções pré-concebidas e se aprofundar em territórios desconhecidos. Apesar da coincidência de forma e cor entre Buraco Negro e Quadrado Negro (1915) de Kasimir Malliêvitch, eles possuem sentido muito diferente, dado que Quadrado Negro foi realizado em uma circunstância particular, momen-

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to de extrema radicalidade com a linguagem da pintura e da escultura figurativa. Entretanto, a simplicidade da forma nĂŁo se equaciona necessariamente com a simplicidade da experiĂŞncia de ambos trabalhos.


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Duas Tabúas, 2015, madeira e fita de alumínio adesiva, instalação, dimensões variáveis. Trabalho a ser realizado. Fotografia da maquete.


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Duas Tabúas

Duas Tabúas é uma instalação proposta para uma das paredes laterais da galeria do Instituto de Artes da Unesp. Constitui-se de duas placas de madeira sobre o piso, onde o intervalo entre ambas as placas é sua própria dimensão. Com a fita de alumínio adesiva, meço sua extensão e estendendo horizontalmente em direção à parede. Se quisermos determinar a extensão matematicamente do espaço ao nosso redor, sabemos que teremos pleno êxito, podemos mensurá-lo com precisão, expressar distâncias exatas entre pontos específicos em metros ou polegadas, e representar todos esses dados numa planta, mapa, maquete, de acordo com a escala. A relação de proporção, em especial as distâncias, são representadas por exatidão e podemos lê-las com o uso do escalímetro, fita métrica, trenas quando necessário. Entretanto, é apenas quando estamos propriamente no espaço mensurado que experienciamos os limites de uma representação geográfica. Por ser um trabalho em que a própria dimensão determina sua ordem no espaço, pois não é representado por alguma unidade métrica pré-estabelecida, as tabúas de madeira ao se deslocarem de um local para outro, respeitam obrigatoriamente um intervalo equivalente ao seu tamanho. Um dos conceitos básicos na geometria, que a menor distância entre dois pontos é dada por uma reta, contudo, ao utilizar a fita de alumínio adesiva, revelo que houveram desvios para o seu posicionamento. Desta forma, lugares geograficamente bem próximos podem ser de alcance difícil, ou mesmo, infinitamente longínquos.

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Como observado por Bollnow, todas as circunstâncias espaciais são referidas mediante distância e orientação1 . Portanto, a proximidade e a distância entre as tabúas não pode ser calculada por um padrão de eixos.

Croqui para Duas Tabúas, 2015.

1 BOLLNOW, Otto Friedrich. O homem e o espaco; tradução de Aloísio Leoni Sschmid. Curitiba: Editora: UFPR, 2008, p. 290


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Estudo para Duas TabĂşas, 2015.


Maquete, Duas TabĂşas.


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Estudo #04, 2015, fita de vinil adesiva amarela, intervenção, 195 x 195 x 195 x 195 cm


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Fred Sandback , S/ TĂ­tulo, com fio acrĂ­lico preto, c.1082/2010 (Vista Parcial)


Estudo #4

Estudo #4 é uma intervenção realizada no quinto andar do Instituto de Artes da Unesp, no entanto, poderia estar em qualquer outro local no qual tem como especificidade a estrutura arquitetônica. As modificações no espaço dependem do lugar para existir e, em vista disso, são realizadas a partir de formas geométricas novas espacializações. A ação promove, a principio, noções de territorializações didáticas, é apontado o alto, o baixo, a esquerda, a direita como possibilidade de olhar. É possível estabelecer relações entre a parede e o piso através da tensão aparente da bidimensionalidade – altura e largura sendo plano em sua essência - e a tridimensionalidade, - profundidade -, Estudo #4 se estabelece tanto dentro como no meio dessas dimensionalidades, metade da forma proposta é projetada para o espaço. Pode-se, a partir da preposição apresentada, assumir afinidades com o trabalho minimalista do artista Fred Sandback 1 que, através da utilização do fio de lã acrílica, constrói e define configurações espaciais específicas. As fitas adesivas são recorrentes nos meus estudos e nos meus trabalhos, normalmente costumo comprá-las e as deixo ao alcance das mãos, dentro de uma caixa de fitas adesivas. Por vezes acabam os blocos de notas e as utilizo para fixar anotações, fotografias, referências, sobre a parede do ateliê, outras vezes faço experimentações com sua materialidade e resistência. Nesse trabalho sua permanência só foi possível devido a tensão existente entre o piso e as paredes. Entretanto, a fita de vinil adesiva amarela só consegue permanecer firme por aproximadamente 24 horas, após este período, deformações ocorrem, sua cola não adere muito bem em superfícies 1 Fred Sandback nasceu em 1943 em Bronxville, Nova York. Depois de se graduar em filosofia pela Universidade de Yale, estudou escultura na Yale School of Art and Architecture. Possui também trabalhos sobre papel – desenhos a pastel, nanquim, etc – além de esculturas menos conhecidas em forma de textos datilografados.

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irregulares, ao contrário da fita de vinil zebrada, que possui resistência superior. No entanto, esse estudo foi determinante para o trabalho Muro, pois foi à partir dessa experimentação que obtive conhecimento da plasticidade e resistência da fita adesiva quando tensionada na diagonal.


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Anotações para Estudo #4, 2015.


Muro, 2014, fita de vinil adesiva zebrada, intervenção, 500 x 210 x 500 x 210 cm. Maquete da intervenção a ser realizada.


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Muro

Muro é o trabalho proposto para a convencional entrada da galeria do Instituto de Artes da Unesp, localizado no primeiro andar do prédio. Constitui-se de fita de vinil adesiva zebrada, destinada ao isolamento da área. A proposição coloca o muro não como divisor, mas, como possibilidade de relacionamento e deslocamento do observador no território, bem como uma espécie de mistura entre fora e dentro, estabelecendo novas dinâmicas em torno do limite. Contudo, define uma fronteira que se constrói fluidamente na passagem de um território a outro, a entrada principal isolada e o mezanino da galeria localizado no segundo andar. Não se trata de um território fixo, mas que se estrutura como fixo e fluxo, como passagens entre espaços que, apesar de próximos, estão cada vez mais distantes e separados, a galeria e o artista jovem, o território político e o afetivo, na problematização dos limites. Assim, a natureza do próprio trabalho como forma enunciativa postula uma sutil e potente subversão: o território não é o que o muro separa ou guarda, mas ele próprio. No projeto, esse território pode ser a passagem, a superfície, o diálogo, o bloqueio ou a visibilidade, a materialidade ou a fluidez. Território que se expande para além dos limites do que o muro contém, revelando, então, o Campo Aberto. Essas múltiplas trajetórias propostas transformam e transbordam os sentidos e modos de experimentar o espaço.

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Croqui para Muro, 2015.

Maquete, Muro.


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Considerações

Este ensaio permitiu organizar e delimitar alguns dos principais conceitos e pensamentos que estruturam a minha prática artística. O espaço é tomado como território de investigação, abordado em alguns momentos como suporte e em outros torna-se abrigo para o desenvolvimento dos meus trabalhos, apresentado através do mapeamento perceptivo observações e experimentações in loco, com a premissa, que tudo o que me cerca pode ser reconstruído. Crio intervalos, deslocamentos, formas, composições, reorganizo sensações, ao me colocar em contato com o material. Dialogo e crio espacialidades antes apenas imaginadas, agora, presente no plano. O Instituto de Artes da Unesp proporcionou um tempo/espaço para ver, discutir e produzir arte. Inspirou, também, reflexões sobre o papel do professor-artista como um investigador no ambiente, principalmente, por estar atento aos processos individuais de cada discente, indicando caminhos, proporcionando experiências significativas. O contato com o universo da arte pode reverberar na formação de indivíduos autores, criativos, críticos, sensíveis. Tendo em vista a complexidade do tema, os assuntos não foram esgotados, sinto que estou nos primeiros passos do caminho árduo da criação, portanto, esse trabalho se apresenta como fim de um ciclo e o início de uma jornada por outros desdobramentos. A continuidade virá decorrente do prosseguimento da prática artística, afinal, não me permito sequer imaginar que deixarei de realizar minha intervenções, instalações, dado que, a arte me aproxima da formação integral da minha individualidade e representa muito mais do que uma simples atividade.

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Espaço:: P ossí vei s D i á l og os

São Pa ul o 2 0 1 5


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