Nuncaét arde pararecomeçar
Br a s i l
I n i c i a ç ã oCr i s t ãp a r aAd u l t o s
PARÓQUI A
NOSSA SENHORA DO
Aul a2-2 ºs e me s t r e / 2 0 1 1
Apostila do Curso de Iniciação Cristã de Adultos
! ! ! ! ! ! ! ! ! AULA 02 ! ! ! ! !
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3ª Edição - 2011
Paróquia Nossa Senhora do Brasil
Aula 02 - Creio em Deus Pai, Criador do Céu e da Terra ! Nosso estudo da Doutrina Católica começa pelo Credo. Iremos analisar cada um dos artigos de nossa fé, aprofundando-nos no seu significado. ! O Credo não é uma oração, mas uma profissão de fé. Sua formação se deu ao longo de muitos anos e envolveu a discussão de eminentes teólogos da Igreja. Professamos nossa fé hoje utilizando duas formulações do Credo: o Símbolo dos Apóstolos e o Credo Niceno-Constantinopolitano). Abaixo apresentamos os dois símbolos: !
Símbolo Niceno-Constantinopolitano! !
!
!
Símbolo dos Apóstolos!
Creio em um só Deus, Pai todo-poderoso,
Creio em Deus Pai, Todo-Poderoso,
Criador do Céu e da Terra,
Criador do céu e da terra;
De todas as coisas visíveis e invisíveis. Creio em um só Senhor, Jesus Cristo Filho Unigênito de Deus,
e em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor,
nascido do Pai antes de todos os séculos: Deus de Deus, luz da luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro; gerado, não criado, consubstancial ao Pai. Por Ele todas as coisas foram feitas. E por nós, homens, e para nossa salvação desceu dos Céus. E encarnou pelo Espírito Santo,
que foi concebido pelo poder do Espírito Santo, nasceu da virgem
no seio da Virgem Maria.
Maria;
e se fez homem. Também por nós foi crucificado sob Pôncio Pilatos;
padeceu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado;
padeceu e foi sepultado.
desceu à mansão dos mortos;
Ressuscitou ao terceiro dia,
ressuscitou ao terceiro dia;
conforme as Escrituras; e subiu aos Céus,
subiu aos Céus;
onde está sentado à direita do Pai.
está sentado à direita de Deus Pai Todo-Poderoso,
De novo há-de vir em sua glória
de onde há de vir a julgar os vivos e os mortos.
para julgar os vivos e os mortos; e o seu Reino não terá fim. Creio no Espírito Santo,
Creio no Espírito Santo,
Senhor que dá a vida, e procede do Pai e do Filho; e com o Pai e o Filho é adorado e glorificado: Ele que falou pelos Profetas. Creio na Igreja una, santa, católica e apostólica.
na Santa Igreja católica, na comunhão dos Santos,
Professo um só batismo para a remissão dos pecados.
na remissão dos pecados,
E espero a ressurreição dos mortos
na ressurreição da carne,
e vida do mundo que há-de vir .
na vida eterna.
Amém.'
Amém.
! O católico deve saber de cor esses símbolos, pois reúnem os artigos centrais da sua fé. Mas não basta memorizar, o desafio é incorporar cada uma das verdades que o Credo explicita na própria vida. Precisamos saber explicar o sentido de cada um dos artigos do Credo e saber refutar as objeções que comumente se levantam contra eles. Apesar de ser o ponto final de uma série de discussões teológicas que aconteceram nos primeiros séculos do cristianismo, não podemos cair na ilusão de que o trabalho teológico, ou seja, o trabalho de reflexão, está finalizado. Para cada um de nós que se defronta com o Credo pela primeira vez, ele é o ponto de partida. Devemos ser muito gratos a todos aqueles que tanto estudaram e rezaram para que o Credo fosse formulado e chegasse até nós hoje. Mas tanto mais os honraremos se trilharmos o caminho que eles trilharam e procurarmos compreender profundamente tudo o que faz parte da nossa confissão de fé. ! A própria palavra ‘Credo’, quem em latim significa ‘Creio’, nos compromete. Declarar que se crê significa que aquele conteúdo revelado foi assumido por nós como verdade. O ato de fé, segundo Santo Tomás de Aquino, é um “pensar com assentimento”, ou seja, é um ato do nosso pensamento que capta uma verdade não pela evidencia imediata do objeto conhecido, mas porque a vontade se inclina a aceitar o conteúdo apreendido como verdade. Portanto, para crer é preciso querer e quando dizemos: ‘Creio’, estamos expressando nossa voluntariedade livre, que adere à verdade revelada. Um só Deus, Pai Todo-Poderoso !
O primeiro artigo, seguindo o Credo Niceno-Constantinopolitano, reza o seguinte:
“Creio em um só Deus, Pai Todo-Poderoso, Criador do Céu e da terra, de todas as coisas visíveis e invisíveis”. ! Na Carta aos Romanos, São Paulo escreve: “As perfeições invisíveis de Deus — não somente seu poder eterno, mas também a sua eterna divindade — são claramente conhecidas, através de suas obras, desde a criação do mundo” (Rm 1, 20). Isto significa que podemos conhecer muitas coisas de Deus através de sua criação. De fato, mesmo antes da revelação judaico-cristã, os homens chegaram a um profundo conhecimento sobre Deus, como nos atesta a filosofia grega, por exemplo, ao dizer que Deus é a forma suprema do ente ou o Motor-Imóvel do Universo. ! No entanto, o homem por si mesmo encarou a divindade de formas contraditórias ao longo de sua história. Não foram poucos os povos que creram em diversos deuses (politeísmo), ou que identificaram a Deus com elementos da natureza, ou simplesmente
negaram a existência de Deus. Como falávamos na aula anterior, o diferencial da tradição judaico-cristã é esse movimento de Deus em direção ao homem, revelando-se e ajudando a debilidade humana a conseguir um conhecimento mais profundo do próprio Deus. ! O Deus que se revela é próximo ao homem, interessado pela sua vida. Na filosofia grega Deus é o ser supremo, mas distante do homem, visto por muitos inclusive como alheio à vida humana. A revelação nos aproxima de Deus até culminar com o próprio Cristo Jesus nos apresentando Deus como Pai: “pois o próprio Pai vos ama”, nos disse Jesus no Evangelho de São João. ! Nosso Senhor também nos revelou que Deus é um em três Pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo. O CIC 261 diz o seguinte: “O mistério da Santíssima Trindade é o mistério central da fé e da vida cristã. Só Deus pode dar-nos o seu conhecimento, revelando-Se como Pai, Filho e Espírito Santo”. Como compreender a Trindade em Deus? A Santíssima Trindade e o Todo Poderoso ! A fé na Trindade animou a Igreja desde seus primórdios. Jesus Cristo nos revelou o Pai, sua própria divindade e a divindade do Espírito Santo que enviou sobre a Igreja nascente depois de sua Subida aos Céus. No começo do cristianismo, a compreensão da Trindade foi crescendo na medida em que a reflexão filosófico-teológica se aprofundava, culminando na monumental obra de Santo Agostinho (354-430), o De Trinitate, onde encontramos ainda hoje um dos cumes da reflexão trinitária. Por volta do século V ou VI, foi elaborado um ‘símbolo trinitário’, uma profissão de fé na Trindade, que é atribuída a Santo Atanásio, ainda que saiba-se hoje que não é de sua autoria (não obstante, entrou para a história como Símbolo Atanasiano). Essa profissão de fé desde o séc. IX era rezada na festa na festa da Santíssima Trindade e nos exorcismos. Confira o texto completo do Símbolo Atanasiano na primeira leitura complementar ao fim dessa aula. ! Se você leu o texto complementar, viu que ele enuncia diversas verdades sobre a Trindade, mas não procura compreender porque isto é assim. Compreender a profundidade do mistério é uma tarefa árdua, que exige muita profundidade teológica e muita oração. Santo Agostinho chegou a dizer, falando sobre a Trindade: “em nenhum assunto mais perigosamente se erra, em nenhum a busca pela verdade é mais laboriosa e a descoberta mais frutuosa” (De Trinitate I, 3). Nesta apostila não temos condição de realizar essa busca, mas recomendamos no futuro esse livro de Santo Agostinho, bem como as explicações de Santo Tomás sobre a Trindade: são valiosíssimos.
! Quando proclamamos que Deus é ‘Todo Poderoso’, nos referimos à sua onipotência. O Salmo 115 diz de Deus: “Faz tudo quanto lhe apraz”. Deus exerce seu poder em conjunto com sua paternidade: “Serei para vos um Pai e vós sereis para Mim filhos e filhas, diz o Senhor todo poderoso” 2 Cor 6,18. Tudo dispõe para nosso bem, perdoa nossos pecados e se permite o mal é para dele tirar um bem. A criação ! A criação é o fundamento de todos os desígnios de Deus e o princípio da revelação que culmina com Cristo (cfr. CIC 279). Deus criou o mundo para compartilhar sua vida íntima de amor e comunhão entre as Pessoas da Trindade. ! “No princípio, Deus criou o céu e a terra” (Gn 1, 1). Assim começam as Sagradas Escrituras, no livro do Gênesis. Muitas pessoas se indispõem com o relato da criação tal como apresentado nesse primeiro livro da Bíblia, argumentando que a ciência já desbancou tal visão do mundo. Invocam as teorias científicas do Big-Bang, da Evolução, como ‘provas’ que desqualificariam a visão cristã da criação. ! Quem, no entanto, faz tal objeção, prova apenas sua própria ignorância. O relato da Criação no livro do Gênesis não tem a pretensão de ser um relato científico. Possui antes uma “linguagem de imagens”, que por meio de diversos ‘simbolismos’ evidenciam realidades muito além do que um relato literal o poderia fazer (cfr. CIC 390). Existem dois relatos da criação no começo do Gênesis. Um complementa o outro e ambos dão testemunho de verdades fundamentais sobre o mundo criado e sobre o ser humano. Antes de prosseguir a leitura da aula, sugerimos que leiam esse relato na segunda leitura complementar. Assim, as referências que fizermos ao texto ficarão mais claras. ! “No princípio...” ! “No princípio Deus criou o Céu e a Terra”. Esse primeiro verso da Bíblia se articula de modo impressionante com o primeiro verso do Evangelho de São João, em que lemos: “No princípio era o Verbo...”. Estas frases nos ensinam que o mundo não é fruto do acaso, mas foi criado por Deus do nada. Antes de existir na realidade, o mundo existia, digamos assim, na ‘mente’ de Deus. Um outro modo de colocar isso é dizer que o mundo era uma possibilidade em Deus antes de ser criado. Vamos elaborar mais o raciocínio. ! Supondo que a teoria do Big-Bang esteja correta, ou seja, que o mundo tenha surgido de uma ‘explosão’ inicial de energia condensada, seu desenrolar a partir do
momento inicial até hoje supõe a validade universal das leis da física durante todo o processo. No entanto essas leis precisam preexistir ao próprio fenômeno físico, pois são a razão da inteligibilidade do mesmo, do contrário, não ocorreriam. ! Assim, mesmo antes da matéria e da evolução física da mesma, devem existir as leis que regem seu comportamento, ou dito de forma mais rigorosa, deve haver uma inteligibilidade prévia que explica o processo. Por exemplo, sabemos que se juntarmos H₂ + ½ O₂, temos H₂O. A validade da lei que rege a interação dessas duas substâncias, tal como expressa na fórmula apresentada, deve preexistir às próprias substâncias particulares, do contrário, quando elas se encontrassem, não ocorreria a reação tal como observamos. A observação da realidade consegue chegar a leis que regem seu comportamento, leis mais ou menos exatas, dependendo do fenômeno. Supondo que são totalmente exatas, elas apenas colocam em evidência o racional prévio à própria matéria Temos que, portanto, uma visão completamente materialista do universo simplesmente não faz sentido. A razão de ser do mundo criado, seu logos 1, subsiste a todas as coisas, remontando ao próprio Deus. ! O mais incrível dessa explicação é perceber que no começo do Evangelho de São João, o evangelista utiliza-se de expressões similares ao início do Gênesis, mas completa o relato da criação fazendo referência a esse logos divino. Assim lemos em Jo 1,1-3: “No princípio era o Verbo [logos no grego original], e o Verbo estava junto de Deus e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio junto de Deus. Tudo foi feito por meio dele, e sem ele nada foi feito de tudo o que existe”. O Verbo é o logos divino, a razão de todas as coisas e o princípio de existência de tudo. ! São João nos ensina que o “Verbo era Deus, (...) e se fez carne”, referindo-se a Jesus Cristo. Concluímos que Deus fez tudo por meio do Filho. São Paulo testemunha a mesma coisa ao dizer na Carta aos Colossenses: “Nele [seu Filho muito amado, imagem de Deus invisível] foram criadas todas as coisas nos céus e na terra, as criaturas visíveis e as invisíveis (...): tudo foi criado por ele e para ele” Col 1, 16. Confira nas leituras complementares um texto muito interessante que dá mais detalhes dessa explicação. ! O primeiro relato da Criação !
Voltando ao relato do Gênesis, vemos como se explica a criação de todo o mundo,
até culminar com a criação do homem. Deus prepara o cenário, digamos assim, para sua 1
No termo grego significa palavra ou verbo, mas na filosofia ganhou o significado de ‘princípio cósmico da Ordem e da Beleza’.
obra-prima. Quando faz o ser humano, não apenas o trás à existência, mas o faz semelhante a Si mesmo e lhe dá o domínio de tudo: “Façamos o ser humano à nossa imagem e segundo nossa semelhança, para que domine sobre os peixes do mar, as aves do céu, os animais domésticos, todos os animais selvagens e todos os animais que se movem pelo chão. Deus criou o ser humano à sua imagem, à imagem de Deus o criou. Homem e mulher ele os criou” Gn 1, 26-27. A centralidade do ser humano mostra sua dignidade e a bondade de Deus. O faz ‘capaz de Deus’, pois é semelhante a Ele em sua própria natureza. ! A criação termina no primeiro relato dizendo que Deus descansou no sétimo dia. É um descanso contemplativo, uma admiração da própria criação. O autor do texto sagrado queria fazer referência ao Sábado judaico, dia dedicado ao serviço divino e à oração. Veremos mais adiante que a tradição cristã transfere o dia santo para o Domingo, dia da Ressurreição de Jesus, rememorando tanto o primeiro dia da criação, como a nova criação operada por Cristo ao nos redimir. O segundo relato da Criação: o Pecado Original ! No segundo relato da criação, temos a introdução de personagens específicos: Adão e Eva, a serpente, além do relato do pecado original. Esse relato fala de uma humanidade inicial criada por Deus, feita à sua semelhança, que inserida no mundo tinha domínio sobre todas as coisas. Eram seres livres, podiam se autodeterminar para um fim específico e sabiam que o único fim legítimo, o único bem em última instância, era o próprio Deus. A serpente personifica o mal, o demônio tentador, que busca convencer Adão e Eva e serem eles próprios fundamentos de si mesmos e conhecedores do bem e do mal, não precisando de Deus para isso. A árvore do bem do mal simboliza esta distância entre o Deus criador, fundamento do bem e do mal, e sua criatura, que proibida de comer do fruto dessa árvore, deve respeitar essa ordem. ! Seduzidos pela serpente, eles comem do fruto proibido e rompem a aliança com Deus. Dai sofrem as penas do seu pecado. Com o pecado original, o homem cai na desgraça da separação em relação a Deus, ficando sujeito às leis da natureza (sofrimento, suor pelo trabalho, morte). Entra no mundo a realidade do pecado, que assalta toda natureza humana, que cada um de nós é testemunha por conhecimento próprio. Deixado por si mesmo, o homem já não tem acesso a Deus, ainda que encontra em si um ‘desejo de Deus’ que o levou, ao longo da história, a diferentes manifestações de religiosidade (como vimos na primeira aula). É como se a partir daquele momento um
novo ser humano nascesse, com a culpa do pecado, ainda que não seja uma culpa moral, mas de natureza. Nós somos descendentes dessa humanidade ‘caída’. Experimentamos em nós mesmos e no mundo a desordem da natureza humana e ansiamos pela libertação desse estado. ! Mas Deus não deixou o homem só e a queda tornou-se uma ‘feliz culpa’, como canta a liturgia pascal, pois foi motivo das alianças que culminaram na vinda de Cristo, próprio Deus feito homem, único capaz de reconciliar o homem, a humanidade, com Deus. A centralidade da doutrina do pecado original está que sem ela não se compreende a doutrina da redenção. As criaturas invisíveis ! ! Vimos que um personagem central no relato da queda é a serpente. Ela personifica o demônio, anjo caído, criatura espiritual de Deus que no uso de sua liberdade decidiu servir apenas a si mesmo e não a Deus. ! No Credo fazemos referências a essas ‘criaturas invisíveis’. São todos os anjos de Deus, cuja existência temos revelada nas escrituras e manifesta ao longo da história humana em diversas ocasiões. ! Criaturas espirituais, feitas à imagem de Deus, os anjos tiveram, como os homens, um momento de decisão sobre servir a Deus ou a si mesmos, no exercício de sua liberdade (cfr. CIC 328-336 e 391-395). Os anjos que decidiram-se por Deus, formam sua corte, são enviados por Deus em missões específicas e cuidam dos homens (anjos da guarda). Os que negaram a Deus são os demônios, encabeçados por Satanás. Este é apenas uma criatura, de poder limitado, ainda que poderoso, por ser puro espírito. Desempenha um papel importante no pecado original, ao aparecer como a serpente tentadora. Exerce sua ação por ódio a Deus e ao reino de Cristo. Essa ação, que causa grandes danos ao homem e a sociedade, é permitida pela Providência divina que dirige a história. O CIC coloca no ponto 395: “A permissão divina da atividade diabólica é um grande mistério. Mas «nós sabemos que tudo concorre para o bem daqueles que amam a Deus» (Rm 8, 28)”. Principais Tópicos: - O Credo: símbolo da fé; Deus e a Santíssima Trindade; A criação do mundo; A criação do homem; O pecado original. Bibliografia: CIC 185-421; Compêndio do CIC - 33-78; Fé Explicada - pg. 20-67
Leituras Complementares 1 - Símbolo Atanasiano ou Quicumque Quem quer salvar-se, deve antes de tudo, professor a fé católica: Pois se alguém a não professar; integral e inviolavelmente, é certo que se perderá por toda a eternidade. ! I. A fé católica consiste, porém, em venerar um só Deus na Trindade, e a Trindade na unidade, sem confundir as pessoas, nem separar a substância; Pois uma é a pessoa do Pai, outra a do Filho, outra a do Espírito Santo; Mas uma é a divindade, igual a glória, co-eterna a majestade do Pai, e do Filho e do Espírito Santo. Qual o Pai, tal o Filho, tal o Espírito Santo; incriado é o Pai, incriado o Filho, incriado o Espírito Santo; imenso é o Pai, imenso o Filho, imenso o Espírito Santo; Eterno é o Pai, eterno o Filho, eterno o Espírito Santo. E, no entanto, não há três eternos, mas um só eterno; Como não há três incriados, nem três imensos, mas um só incriado, e um só imenso; Assim também o Pai é onipotente, o Filho é onipotente, o Espírito Santo é onipotente; E, no entanto, não há três onipotentes, mas um só onipotente. Como o Pai é Deus, assim o Filho é Deus, [e] o Espírito Santo é Deus; E, no entanto não há três deuses, mas um só Deus. Como o Pai é Senhor, assim o Filho é Senhor, o Espírito Santo é Senhor; E, no entanto não há três senhores, mas um só Senhor. Porquanto, assim como a verdade cristã nos manda confessar que cada pessoa, tomada separadamente, é Deus e Senhor; assim também nos proíbe a religião católica dizer que são três deuses ou três senhores. ! II. O Pai não foi feito por ninguém, nem criado, nem gerado. O Filho é só do Pai; não feito, não criado, mas gerado. O Espírito Santo é do Pai e do Filho; não feito, não criado, não gerado, mas procedente. Há, pois, um só Pai, não três Pais; um só Filho, não três Filhos; um só Espírito Santo, não três Espíritos Santos. E nesta Trindade nada existe de anterior ou posterior, nada de maior ou menor; mas todas as três pessoas são coeternas e iguais, umas às outras; De sorte que, em tudo, como acima ficou dite, deve ser venerada a unidade na Trindade, e a Trindade na unidade. Quem quer, portanto, salvarse, assim deve crer a respeito da Santíssima Trindade. ! III. Mas ainda é necessário, para a eterna salvação, crer fielmente na Encarnação de Nosso Senhor Jesus Cristo. A retidão da fé consiste, pois, em crermos e confessarmos que Nosso Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, é Deus e homem. É Deus, porquanto
gerado da substância do Pai antes dos séculos; homem, porquanto no tempo nasceu da substância de sua Mãe. É Deus perfeito, e perfeito homem, por subsistir de alma racional e de carne humana; É igual ao Pai segundo a divindade, e menor que o Pai, segundo a humanidade. Ainda que seja Deus e homem, todavia não há dois, mas um só Cristo; É um, não porque a Divindade se converta em carne, mas porque a humanidade foi recebida em Deus; É totalmente um, não por se confundir a substância, mas pela unidade de pessoa. Assim como a alma racional e o corpo formam um só homem, assim Deus e homem é um só Cristo. O qual sofreu pela nossa salvação, desceu aos infernos, ao terceiro dia ressuscitou dos mortos, E à cuja chegada todos os homens devem ressuscitar com seus corpos, para dar contas de suas próprias ações; E aqueles que tiverem praticado o bem, irão para a vida eterna; mas os que tiverem feito o mal, irão para o fogo eterno. Esta é a fé católica, e todo aquele que a não professar, com fidelidade e firmeza, não poderá salvar-se. Leitura Complementar 2 - Os relatos da Criação no livro do Gênesis (Gn 1-3) Primeiro relato da Criação ! “No princípio, Deus criou o céu e a terra.A terra estava deserta e vazia, as trevas cobriam o abismo e o Espírito de Deus pairava sobre as águas. Deus disse: “Faça-se a luz”! E a luz se fez. Deus viu que a luz era boa. Deus separou a luz das trevas. À luz Deus chamou “dia” e às trevas chamou “noite”. Houve uma tarde e uma manhã: o primeiro dia. ! Deus disse: “Faça-se um firmamento entre as águas, separando umas das outras”. E Deus fez o firmamento. Separou as águas debaixo do firmamento, das águas acima do firmamento. E assim se fez. Ao firmamento Deus chamou “céu”. Houve uma tarde e uma manhã: o segundo dia. ! Deus disse: “Juntem-se num único lugar as águas que estão debaixo do céu, para que apareça o solo firme”. E assim se fez. Ao solo firme Deus chamou “terra” e ao ajuntamento das águas, “mar”. E Deus viu que era bom. Deus disse: “A terra faça brotar vegetação: plantas, que dêem semente, e árvores frutíferas, que dêem fruto sobre a terra, tendo em si a semente de sua espécie”. E assim se fez. A terra produziu vegetação: plantas, que dão a semente de sua espécie, e árvores, que dão seu fruto com a semente de sua espécie. E Deus viu que era bom. Houve uma tarde e uma manhã: o terceiro dia. ! Deus disse: “Façam-se luzeiros no firmamento do céu, para separar o dia da noite. Que sirvam de sinais para marcar as festas, os dias e os anos. E, como luzeiros no
firmamento do céu, sirvam para iluminar a terra”. E assim se fez. Deus fez os dois grandes luzeiros, o luzeiro maior para presidir ao dia e o luzeiro menor para presidir à noite, e também as estrelas. Deus colocou-os no firmamento do céu para iluminar a terra, presidir ao dia e à noite e separar a luz das trevas. E Deus viu que era bom. Houve uma tarde e uma manhã: o quarto dia. ! Deus disse: “Fervilhem as águas de seres vivos e voem pássaros sobre a terra, debaixo do firmamento do céu”. Deus criou os grandes monstros marinhos e todos os seres vivos que nadam fervilhando nas águas, segundo suas espécies, e todas as aves segundo suas espécies. E Deus viu que era bom. Deus os abençoou, dizendo: “Sede fecundos, multiplicai-vos e enchei as águas do mar, e que as aves se multipliquem sobre a terra”. Houve uma tarde e uma manhã: o quinto dia. ! Deus disse: “Produza a terra seres vivos segundo suas espécies, animais domésticos, animais pequenos e animais selvagens, segundo suas espécies”. E assim se fez. Deus fez os animais selvagens segundo suas espécies, os animais domésticos segundo suas espécies e todos os animais pequenos do chão segundo suas espécies. E Deus viu que era bom. ! Deus disse: “Façamos o ser humano à nossa imagem e segundo nossa semelhança, para que domine sobre os peixes do mar, as aves do céu, os animais domésticos, todos os animais selvagens e todos os animais que se movem pelo chão”. Deus criou o ser humano à sua imagem, à imagem de Deus o criou. Homem e mulher ele os criou. E Deus os abençoou e lhes disse: “Sede fecundos e multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a! Dominai sobre os peixes do mar, as aves do céu e todos os animais que se movem pelo chão”. Deus disse: “Eis que vos dou, sobre toda a terra, todas as plantas que dão semente e todas as árvores que produzem seu fruto com sua semente, para vos servirem de alimento. E a todos os animais da terra, a todas as aves do céu e a todos os animais que se movem pelo chão, eu lhes dou todos os vegetais para alimento”. E assim se fez. E Deus viu tudo quanto havia feito e achou que era muito bom. Houve uma tarde e uma manhã: o sexto dia. ! Assim foram concluídos o céu e a terra com todos os seus elementos. No sétimo dia, Deus concluiu toda a obra que tinha feito; e no sétimo dia repousou de toda a obra que fizera. Deus abençoou o sétimo dia e o santificou, pois nesse dia Deus repousou de toda a obra da criação. Essa é a história da criação do céu e da terra.
Segundo relato da Criação ! Quando o SENHOR Deus fez a terra e o céu, ainda não havia nenhum arbusto do campo sobre a terra e ainda não tinha brotado a vegetação, porque o SENHOR Deus ainda não tinha enviado chuva sobre a terra, e não havia ninguém para cultivar o solo. Mas brotava da terra uma fonte, que lhe regava toda a superfície. Então o SENHOR Deus formou o ser humano com o pó do solo, soprou-lhe nas narinas o sopro da vida, e ele tornou-se um ser vivente. Depois, o SENHOR Deus plantou um jardim em Éden, a oriente, e pôs ali o homem que havia formado. E o SENHOR Deus fez brotar do solo toda sorte de árvores de aspecto atraente e de fruto saboroso, e, no meio do jardim, a árvore da vida e a árvore do conhecimento do bem e do mal (...). ! O SENHOR Deus tomou o homem e o colocou no jardim de Éden, para o cultivar e guardar. O SENHOR Deus deu-lhe uma ordem, dizendo: “Podes comer de todas as árvores do jardim. Mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não deves comer, porque, no dia em que dele comeres, com certeza morrerás”. E o SENHOR Deus disse: “Não é bom que o homem esteja só. Vou fazer-lhe uma auxiliar que lhe corresponda”. ! Então o SENHOR Deus formou da terra todos os animais selvagens e todas as aves do céu, e apresentou-os ao homem para ver como os chamaria; cada ser vivo teria o nome que o homem lhe desse. E o homem deu nome a todos os animais domésticos, a todas as aves do céu e a todos os animais selvagens, mas não encontrou uma auxiliar que lhe correspondesse. ! Então o SENHOR Deus fez vir sobre o homem um profundo sono, e ele adormeceu. Tirou-lhe uma das costelas e fechou o lugar com carne. Depois, da costela tirada do homem, o SENHOR Deus formou a mulher e apresentou-a ao homem. E o homem exclamou: “Desta vez sim, é osso dos meus ossos e carne da minha carne! Ela será chamada ‘humana’ porque do homem foi tirada”. Por isso deixará o homem o pai e a mãe e se unirá à sua mulher, e eles serão uma só carne. O homem e sua mulher estavam nus, mas não se envergonhavam. ! A serpente era o mais astuto de todos os animais selvagens que o SENHOR Deus tinha feito. Ela disse à mulher: “É verdade que Deus vos disse: ‘Não comais de nenhuma das árvores do jardim? ’” ! A mulher respondeu à serpente: “Nós podemos comer do fruto das árvores do jardim.Mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, Deus nos disse: ‘Não comais dele nem sequer o toqueis, do contrário morrereis’”. Mas a serpente respondeu à mulher:
“De modo algum morrereis. Pelo contrário, Deus sabe que, no dia em que comerdes da árvore, vossos olhos se abrirão, e sereis como Deus, conhecedores do bem e do mal”. ! A mulher viu que seria bom comer da árvore, pois era atraente para os olhos e desejável para obter conhecimento. Colheu o fruto, comeu dele e o deu ao marido a seu lado, que também comeu.! Então os olhos de ambos se abriram, e, como reparassem que estavam nus, teceram para si tangas com folhas de figueira. Quando ouviram o ruído do SENHOR Deus, que passeava pelo jardim à brisa da tarde, o homem e a mulher esconderam-se do SENHOR Deus no meio das árvores do jardim. Mas o SENHOR Deus chamou o homem e perguntou: “Onde estás?” Ele respondeu: “Ouvi teu ruído no jardim. Fiquei com medo, porque estava nu, e escondi-me”. Deus perguntou: “E quem te disse que estavas nu? Então comeste da árvore, de cujo fruto te proibi comer?” O homem respondeu: “A mulher que me deste por companheira, foi ela que me fez provar do fruto da árvore, e eu comi”. Então o SENHOR Deus perguntou à mulher: “Por que fizeste isso?” E a mulher respondeu: “A serpente enganou-me, e eu comi”. ! E o SENHOR Deus disse à serpente: “Porque fizeste isso, serás maldita entre todos os animais domésticos e entre todos os animais selvagens. Rastejarás sobre teu ventre e comerás pó todos os dias de tua vida. Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela. Esta te ferirá a cabeça e tu lhe ferirás o calcanhar”. À mulher ele disse: “Multiplicarei os sofrimentos de tua gravidez. Entre dores darás à luz os filhos. Teus desejos te arrastarão para teu marido, e ele te dominará”. Ao homem ele disse: “Porque ouviste a voz da tua mulher e comeste da árvore, de cujo fruto te proibi comer, amaldiçoado será o solo por tua causa. Com sofrimento tirarás dele o alimento todos os dias de tua vida. Ele produzirá para ti espinhos e ervas daninhas, e tu comerás das ervas do campo. Comerás o pão com o suor do teu rosto, até voltares ao solo, do qual foste tirado. Porque tu és pó e ao pó hás de voltar”. ! O homem chamou à sua mulher “Eva”, porque ela se tornou a mãe de todos os viventes.E o SENHOR Deus fez para o homem e sua mulher roupas de pele com as quais os vestiu. Então o SENHOR Deus disse: “Eis que o homem tornou-se como um de nós, capaz de conhecer o bem e o mal. Não ponha ele agora a mão na árvore da vida, para dela comer e viver para sempre”. ! E o SENHOR Deus o expulsou do jardim de Éden, para que cultivasse o solo do qual fora tirado.Tendo expulso o ser humano, postou a oriente do jardim de Éden os querubins, com a espada fulgurante a cintilar, para guardarem o caminho da árvore da vida”.
Leitura Complementar ‘A cosmovisão bíblica’, trecho da aula do Prof. Olavo de Carvalho intitulada: ‘Introdução à Paralaxe Cognitiva’, dada em 26/08/20062. ! "(...) Aqueles capítulos iniciais de Gênesis, embora narrados em linguagem mítica, podem perfeitamente ser traduzidos numa linguagem metafísica na qual uma vez feita a tradução percebe-se facilmente que a mensagem do Gênesis não apenas é verdadeira mas absolutamente necessária. ! Essa tradução pode tomar mais ou menos o seguinte sentido: você imagina a formação do universo a partir de um processo puramente material, a origem da vida mais especificamente a partir do encontro entre duas moléculas que geraram um ser vivo ou a partir do encontro entre dois átomos que tiveram uma certa reação química que veio a resultar na existência dos seres vivos, e o fato é que se houve esse encontro de átomos ou moléculas que produziu esse efeito, esse efeito evidentemente é função da estrutura dos átomos ou da estrutura das moléculas e que pode ser expressa matematicamente, o que significa então que a vida resulta de uma fórmula matemática que veio se realizar a partir do instante preciso em que esses átomos ou moléculas se encontraram. Acontece que se esse encontro resultou na produção dos seres vivos ou até na origem de todo o universo físico existente, é porque essa fórmula já era válida antes do momento em que isso aconteceu, ou seja, as proporções matemáticas envolvidas já eram as mesmas e já eram aptas a produzir esse efeito em qualquer momento em que o encontro de átomos ou moléculas acontecesse; a estrutura interna dessa fórmula é evidentemente um dado puramente lógico que é válido anteriormente à sua realização material. ! Ora, esse elemento lógico precede a criação e é isso mesmo o que a Bíblia diz com “no princípio era o logos”, “no princípio era o verbo divino”, e o verbo divino não é outra coisa senão a inteligência de Deus, então o conjunto dessas relações lógicas que precedem a existência do universo e que são necessárias para que ele possa existir é a inteligência de Deus – talvez não seja toda a inteligência de Deus mas são elementos dela – e que cuja existência podemos comprovar por mera análise das condições das possibilidades da existência do próprio universo. Isso quer dizer que mesmo que a explicação de tudo seja puramente material, o fato de que seja possível explicá-la
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Este trecho é uma transcrição de aula, portanto, não tem o estilo próprio de um texto escrito. Dividimos em parágrafos para facilitar a leitura.
materialmente prova que existe uma estrutura lógica anterior à manifestação do processo material aí descrito. ! Se as pessoas do design inteligente se limitassem a dizer isso não haveria como refutá-las; o problema é que elas tentam afirmar algo mais do que isso e aí entram num terreno polêmico, mas eu creio que a pré- existência das determinações lógicas necessárias ao processo cósmico não é refutável de maneira alguma, pois no fundo eu estou dizendo que aquilo que aconteceu aconteceu porque era possível, e a possibilidade em si tinha uma estrutura lógica determinada, ou seja, a estrutura lógica das possibilidades já estava dada antes de que qualquer coisa acontecesse – podemos dizer então que essa estrutura lógica é eterna e um componente da inteligência divina. Mas dentro deste pré- enredo surgido num pré-tempo (enredo anterior ao tempo) como uma das manifestações da expressão material dessa estrutura lógica, surge também a própria vida humana; a vida humana não surge no vazio e sim dentro de um quadro de possibilidades lógicas firmemente determinado e daí decorre que a vida humana não se dá numa total indeterminação mas dentro de um conjunto de definições definidas, e dentro desse conjunto surge a narrativa bíblica que vai da criação até o apocalipse, até o juízo final, e o juízo final é a reabsorção de um processo temporal no pré-tempo. ! Toda a existência material bóia dentro da eternidade, e a eternidade é o conjunto dessas determinações lógicas que permitem a existência e o espaço temporal, então dentro desse conjunto da possibilidade universal é que existe o universo efetivamente existente e nós podemos compreender esse universo porque ele se apóia numa estrutura lógica que o transcende. É fácil você perceber por exemplo que o fato de um mais um dar dois é independente da existência deste universo, qualquer universo que existisse ou mesmo que não existisse universo algum um mais um continuaria sendo dois eternamente; as leis da aritmética elementar são exemplos desse tipo de determinações lógicas que são independentes da existência do que quer que seja e é exatamente o conjunto dessas relações que constitui o que chamamos de metafísica. ! O universo existente e portanto também a nossa vida (vida histórica humana, vida biológica) transcorre dentro de um quadro de condições metafísicas definidas, existe um cenário metafísico definido desde o pré-tempo, não é porque não era época, isso não é um momento do tempo e sim uma condição de possibilidades da existência do tempo, e dentro desse quadro existe a vida humana, portanto, não havendo a indeterminação mas a inserção da vida humana dentro desse quadro, daí decorre várias conseqüências entre as quais a existência de uma natureza humana definida que impõe aos seus portadores certas obrigações para consigo mesmos e para com a estrutura da realidade em geral.
! Note bem que a expressão religiosa do que estou falando é só uma expressão possível e não depende nem mesmo da religião, com ou sem religião seria exatamente a mesma coisa; a religião tal como nós a conhecemos é apenas um conjunto de símbolos e ritos que facilitam de certo modo a inserção consciente do indivíduo humano dentro desse quadro de condições e obrigações, o que também quer dizer que a existência de regras morais, etc. não é de invenção humana mas é a simples decorrência de uma natureza humana já anteriormente definida a qual existe dentro de um outro quadro dentro de determinações também definido. ! Em praticamente todas as civilizações conhecidas e também na civilização cristã havia sempre a consciência dessas determinações prévias, determinações de ordem metafísica que balizam a existência humana e das quais decorrem certas obrigações que o ser humano tenta interpretar e compreender, isto é, nas interpretações as várias culturas podem divergir e errar mas a existência dessas pré-condições não é em si mesma questionável - os códigos morais na existência no mundo, por exemplo, são diferentes interpretações que foram dadas a uma realidade percebida uniformemente por todos os seres humanos, por todas as culturas. A existência da natureza humana dentro de um quadro de condições determinado que de certo modo limpou a regra da sua vida é algo que nenhuma religião jamais questionou; a primeira que questiona é a chamada modernidade ocidental".