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CRÓNICA:A RUA CONDE ALTO MEARIM

PROF. DOUTOR JÚLIO PINTO DA COSTA

A RUA CONDE ALTO MEARIM

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Já foi uma rua estratégica no trânsito rodoviário de Matosinhos. Ligava o tráfego que vinha de Sul ao Largo do Areal, que através da Rua da Ponte de Leça, a nascente da Alameda de Matosinhos, escoava o trânsito para Norte. A rua Conde Alto Mearim chamou-

1ª CASA DO CONDE DE ALTO MERAIM

-se antes Rua das Taipas (1855) e mais tarde rua Direita (1888). No primeiro caso, possivelmente por ter estado entaipada, como forma de conter a propagação de doenças infecciosas que afectavam os seus residentes. Como recordação desse tempo, existia ainda há alguns anos a Drogaria das Taipas, próximo do entroncamento com a rua 1º de Dezembro. Quanto à segunda designação, ao contrário da maioria dos casos conhecidos, esta artéria não ia direita à igreja. Ganhou o nome actual por aí ter vivido o Conde Alto Mearim (João José Martins Pinho), que nasceu em Matosinhos, fez fortuna no Brasil, regressou, promoveu o ensino, foi importante benemérito e morreu em Paris. Vai desde a rua Dr. Eduardo Torres até à avenida Eng. Duarte Pacheco. Mas a rua em análise foi famosa por muitas outras razões. Vejamos algumas. No fim da rua, já junto ao largo do Areal, existiu o palacete do 1º Conde de S. Salvador (João José dos Reis), mais tarde ocupado pela Legião Portuguesa. O conde nasceu em Matosinhos e morreu no Brasil, país onde enriqueceu, facto que lhe permitiu apoiar muitas instituições na sua terra natal. Aí viveu, no número 160, José Augusto Teixeira Rego, um dos mais notáveis professores da primeira faculdade de Letras do Porto. Foi Governador do concelho. Também aí residiu Manuel Jorge Forbes Bessa, ocupando o edi-

ANTIGA CADEIA - RUA CONDE ALTO MEARIM ANTIGA CÂMARA MINICIPAL DE MATOSINHOS

fício onde hoje está o colégio António Nobre, depois de ter saído do seu palacete na rua Dr. José Ventura. Na mesma rua moraram Afonso de Brito e a pintora Branca Ferraz, entre outros. Como rua importante que era, aí estiveram instalados importantes serviços públicos. Desde logo a Câmara Municipal de Matosinhos, que depois de ter estado na rua da Ponte de Leça e na Senhora da Hora, se mudou para a rua Direita (rua Conde Alto Mearim), num edifício onde também funcionou um presídio. O edifício, ampliado e melhorado, recebeu também a Junta de Freguesia, sendo agora ocupado pela Cruz Vermelha Portuguesa (Belmiro Galego). Entretanto, em Março de 1923, os paços do concelho mudaram-se para um edifício localizado em frente à rua 1º de Dezembro e aí estiveram até 1934. No mesmo edifício funcionaram, mais tarde, os Serviços Municipalizados e depois o Gabinete de Arqueologia, o Centro Joaquim Neves dos Santos, o Grupo Desportivo Dias Ferreira e outras instituições. Por sua vez, a Junta de Freguesia também mudou de local, passando para o outro lado da rua, onde esteve muitos anos. Mais a Sul, no cruzamento com a rua Dr. Filipe Coelho, ainda hoje está o bonito edifício da Casa dos Pescadores. Muito perto, do outro lado da rua, já lá não está a Tinturaria Luso Francesa. Mas esteve e foi propriedade da nora do eminente José Augusto Teixeira Rego, já aqui mencionado. Com uma extensa prole, após o falecimento do marido, a D. Antónia foi uma mulher notável, governando a Tinturaria e educando os filhos, meus amigos, uma vez que morava mesmo em frente. A rua Conde Alto Mearim, com o passar dos anos, foi perdendo importância, primeiro para a rua Brito Capelo e agora para a zona do Parque Basílio Teles. Muitos dos bonitos edifícios que aí foram construídos foram, entretanto, destruídos e a rua já não tem saída para viaturas.

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VÍTOR OLIVEIRA TRATA-SE DE UMA PERSONALIDADE QUE DISPENSA APRESENTAÇÕES. AOS 64 ANOS DE IDADE, O TREINADOR PORTUGUÊS CONTA-NOS MAIS SOBRE QUEM É O “REI DAS SUBIDAS”

VÍTOR OLIVEIRA

“UMA PESSOA ABSOLUTAMENTE NORMAL, COMO MUITAS OUTRAS CRIADAS EM MATOSINHOS”

OS AMIGOS MAIS ÍNTIMOS, POR VEZES, AINDA BRINCAM COM O “CABEÇUDO”

Nascido em Matosinhos, a 17 de Novembro de 1953, e filho de “pessoas ligadas ao mar”, Vítor define-se como uma “pessoa normalíssima”. Conta-nos que durante a feliz infância que teve, a praia de Matosinhos era o “centro comercial” dos dias de hoje. “Foram tempos muito felizes e nos quais vivíamos muito mais em sociedade que nos dias de hoje, até porque não haviam tantas opções para nos divertirmos”. “Quer fosse Verão ou Inverno, a praia era o ponto de encontro”, revela, lembrando as fugas à polícia para não serem multados por andarem descalços na rua. Por outro lado, viviam com grande liberdade e com muita segurança. Até aos 15 anos, o basquetebol era a modalidade praticada, no Leixões. “Não podíamos entrar no futebol antes. Assim que cheguei a essa idade entrei e desde então nunca mais parei”. Coincidindo com a prática do desporto, a nível profissional, Vítor entrou para a faculdade, na área de Engenharia Eletrotécnica. Ao fim de 4 anos e meio feitos de curso, surge o primeiro contrato profissional. A mudança para o Algarve, a nível financeiro, era bastante vantajosa, mas, por outro lado, não dava grande espaço para que continuasse com os estudos. E Vítor escolheu o futebol, deixando os estudos em “banho Maria”. Ao fim de 5 anos ainda tentou voltar a estudar, mas a paragem tinha trazido dificuldades para acompanhar a matéria e nunca mais voltou às salas de aula. O resto é história de um dos treinadores com melhor currículo em Portugal.

VÍTOR OLIVEIRA (NA FILA DE CIMA , QUARTO A CONTAR DA DIREITA) NO CLUBE DO CORAÇÃO

O “Frota”, alcunha dada pelo padrinho, é pessoa com bastante abertura e muito “terra-a-terra”. “Nunca percebi porque motivo é que me chamavam Frota. Uns anos depois, fiquei o cabeçudo. Os meus amigos diziam que era por ter a cabeça grande, outros porque defendiam que eu pensava muito bem”. Os amigos mais íntimos, por vezes, ainda o tratam dessa forma. No entanto, hoje em dia essas alcunhas foram substituídas pela “Rei das Subidas”. Durante toda a carreira desportiva, quer como jogador, quer como treinador, o Leixões foi e é o clube que mais o marcou. “Já passei por muitos clubes, onde fui muito bem tratado e alguns deles ganhei uma grande simpatia. Mas o meu clube do coração é o Leixões”. Começou a carreira no Estádio do Mar e passou ainda por Paredes, Famalicão, Sporting de Espinho, Sporting de Braga e Portimonense. E é em Portimão que surge a oportunidade de ficar como técnico principal do clube.

O MEU CLUBE DE SEMPRE FOI O LEIXÕES

NÃO ESTOU NADA ARREPENDIDO DO PASSO QUE DEI. FOI UMA OPÇÃO MUITO FELIZ.

Tínhamos chegado ao final da temporada de 84/85. Tinha feito uma boa época e estava convencido que ia continuar. O presidente chamou-me e apresentou-me a possibilidade de assinar como treinador. Manuel José era quem ocupava o cargo e ia sair para o Sporting, indicando o meu nome como quem o deveria suceder no comando do clube. Hesitei em aceitar e sugeri dois nomes: Raul Águas e Álvaro Carolino. O presidente não aceitou a minha recusa e poucos dias depois acabei por ficar com o lugar”. No ano de estreia no comando técnico de um clube, Vítor e o Portimonense acabaram no sétimo lugar da tabela, a 8 pontos da Europa.

FC PAÇOS DE FERREIRA

“O LEIXÕES FOI A SUBIDA MAIS SABOROSA DE TODAS QUE ME ACONTECEU”

É impossível ficar indiferente ao carinho e ao brilho nos olhos do técnico sempre que se fala do clube do coração. Defende que, “por direito”, o histórico clube deveria estar na primeira divisão e que só não está nesse posto por “erros nossos”. Quando diz nossos, Vítor Oliveira refere-se a todos os leixonenses, demonstrando que, apesar de já não representar o clube, ainda se sente parte da “família leixonense”. A subida à principal divisão do futebol português, na época de 2006/07, “ao fim de tantos anos de segunda liga, teve um sabor especial”. “Foi a subida mais saborosa de todas as que tive, no clube onde nasci”, refere o técnico português.

TODO O ESFORÇO A NÍVEL SOCIAL, DESPORTIVO E POLÍTICO, PARA QUE FOSSE UMA CIDADE CADA VEZ MELHOR E TODOS OS MATOSINHENSES SE PUDESSEM ORGULHAR.

SUBIDAS 1990 1996 1997 1998 1991 1997 1998 1999

2006 2007

2012 2013

2013 2014

2014 2015

2015 2016

Vítor Oliveira revela que recebeu duas propostas de clubes da Liga NOS. Mas a vontade de estar mais próximo do Norte do país e a falta de timing de uma das propostas, fez com que aceitasse o Paços de Ferreira. Clube, aliás, que já orientou e no qual alcançou a primeira subida da carreira, corria a época de 90/91. No entanto, diz-se muito contente com o projeto que encontrou na cidade da Capital do Móvel, o qual aceitou de uma maneira “completamente clara e comprometida” e que “não lhe choca nada voltar ao segundo escalão do futebol português”. Os objetivos para a nova época são os da subida, além da chegada à fase de grupo da Allianz Cup (ou Taça da Liga) já ter sido alcançada e o objetivo ser, agora, chegar o mais longe possível. Quanto ao adversário mais “querido”, define o Leixões como um sério candidato ao título, com um investimento sério e que se pudessem subir Paços de Ferreira e Leixões seria a cereja no topo do bolo.

FC PAÇOS DE FERREIRA

ENQUANTO NÃO SE CENTRALIZAREM AS RECEITAS DOS DIREITOS TELEVISIVOS, VAI CONTINUAR A EXISTIR UM GRANDE FOSSO ENTRE OS CLUBES

Nem só de táticas vive um treinador. As finanças de um clube são tão ou mais importantes, pois é nesse setor que se vão basear os planteis montados para cada temporada. E Vítor Oliveira defende que “enquanto não houver uma aproximação nas receitas recebidas por todos os clubes, em cada campeonato, continuará a haver os três crónicos candidatos ao título, quatro ou cinco a disputar lugares de acesso à Europa e o resto a lutar pela manutenção”. Por outro lado, na Ledman Liga Pro (Segunda Liga), os “orçamentos são mais equilibrados, o que gera maior equilíbrio no campeonato e incerteza no resultado”. Ainda assim, a “Liga NOS está uns passinhos acima em termos de qualidade”.

SE SUBIREM PAÇOS DE FERREIRA E LEIXÕES SERÁ A CEREJA NO TOPO DO BOLO

Neste momento, o sonho que tem passa pela subida do Paços, de forma a permitir a repetição de uma subida no clube, 28 anos depois. Na verdade, “a continuidade no futebol é algo a ser revisto ano a ano”. Isto porque “o futebol está a evoluir de uma forma negativa, ficando demasiadamente industrializado, político e comercial”. Como tal, o prazer que tem dentro da modalidade já não é o mesmo de outros tempos. Dessa forma, treinar a Seleção Nacional é carta fora do baralho, defendendo que o lugar está muito bem entregue a Fernando Santos. Ainda assim, antes do Euro 2004, surgiu a possibilidade de integrar a equipa técnica de Manuel José para comandarem os destinos de Portugal. Não aceitou esse papel e a escolha da Federação acabou, também, por recair em Luiz Filipe Scolari para selecionador português e a oportunidade desvaneceu-se. Mas é algo que não retira o sono ao matosinhense, assim como já não é opção um lugar no comando técnico de um dos três grandes.

JÁ É TARDE PARA TREINAR UM DOS DITOS 3 GRANDES OU A SELEÇÃO NACIONAL

CURIOSIDADES

PRATO PREFERIDO BACALHAU

HOBBIE CONVIVER COM AMIGOS

VIAGEM DE SONHO VOLTAR A MATOSINHOS

FILME E TUDO O VENTO LEVOU

BANDA BEATTLES E SINATRA

MOMENTO MAIS MARCANTE NO FUTEBOL? FINAL DA TAÇA DE PORTUGAL BRAGA SPORTING (“EMPATAMOS” 0-4)

MAIOR DESILUSÃO? O FALECIMENTO DOS PAIS

GOLO QUE MAIS O MARCOU? GOLO DO ANDRÉ CARVALHAS AO MINUTO 93. (Freamunde vs Tondela, última jornada da Época 2014/15 – Golo do Tondela que garantiu a queda do Chaves para o terceiro lugar e a subida do União da Madeira, comandado por Vitor Oliveira, à Liga NOS)

PROFESSOR A. CUNHA E SILVA

O PASSADIÇO DA SAUDADE

Os meus irmãos vivem na Bélgica—Antuérpia, e, sempre que retornam a Leixões a primeira mirada é ao mar. Seguem de caminhada lesta, pés descalços, pelas areias finas e alouradas da praia. Depois de mordida a saudade, respiram fundo, acomodam-se, espreguiçam-se da azáfama do lá e cá da viagem. Fixam-se no espanto do ver navios e gaivotas! Apanhados pelo torvelinho da brisa morderam o isco — o peixe morre pela boca! No lá e cá da minha vida de viagens (incluindo Bruxelas) foi isso que senti quando visitei a Confeitaria Garcia. Tomei uma bica (café) e comi um pastel de nata; guloso mordi o isco, comi o pastel alourado, estaladiço, com nuances acastanhadas, a lembrar a pele tisnada pelo sol das nossas praias. O pastel de nata da Confeitaria Garcia, nas águas mil de Bruxelas, como isco em anzol, está ali à espreita, à espera dos saudosos da pátria. Aos poucos, a nata aprofunda saudades, enche o vazio, o anseio escondido entre um café e a distante aldeia, vila ou cidade, espelhada nos azulejos ou na pequena portada alentejana. O viajante, solitário ou acompanhado, cumpre o ritual: dá os bons-dias, olha em redor, lê o jornal, fala de uma mesa para outra, entra em alvoroço e leva para casa o passadiço do tempo, por onde há-de caminhar leveirinho, durante mais uns dias de trabalho. Chove em Bruxelas (ninguém leva a mal por isso)! O viajante põe o cachecol, cobre-se com o chapéu de chuva, veste o Kispo e promete: até para a semana; eu volto! Cativa do lugar, a beleza do salão de chá, quietinha e quentinha, fica à espera de vê-lo chegar! As natas já estão no forno… e o café por tirar.

PRAIA DO CABO DO MUNDO “REABRE PORTAS”

Operações de limpeza das águas e desinfeção do areal concluídas com sucesso. Agência Portuguesa do Ambiente dá “luz verde” à reabertura da praia.

A Câmara Municipal de Matosinhos, juntamente com a Agência Portuguesa do Ambiente, informou, em comunicado no sítio oficial da autarquia, o final das operações de limpeza à praia do Cabo do Mundo, em Angeiras. Desde o princípio do passado mês, após um acidente com um camião que transportava lamas da Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR), localizada em Leça da Palmeira, que a praia se encontrava interdita ao público. Uma medida de precaução, de maneira a evitar possíveis doenças e salvaguardando a saúde dos banhistas. Procedeu-se, então, aos trabalhos de reabilitação da praia por parte dos serviços municipais em conjunto com a empresa operadora da ETAR. Após a aspiração das águas que surgiram do acidente e da limpeza e desinfeção do areal, seguiram-se análises às águas balneares, sob alçada da Agência Portuguesa do Ambiente. Os resultados foram excelentes e foi permitido a reutilização da praia ao público.

JOAQUIM QUEIRÓS

FALAR COM O MUNDO SEM ABRIR A BOCA…

Andamos entretidos e distraídos com os problemas da nossa vida, deixando correr o tempo, sem olhar para o que se passa a nosso lado, não nos ocorrendo que, de um momento para o outro, zás, nem interessa a nossa existência nem a do vizinho: acaba tudo! Demo-nos a pensar nisso mesmo num dos últimos dias e nos quais tivemos a inesperada oportunidade de estarmos sozinhos, melhor, rodeados de quem não nos conhecia de parte alguma, não sabendo se éramos português ou estónio. Estávamos ali, embrulhados numa manta de anonimato. A nosso lado estava gente com ar pobre, de rico, de muito rico, de gente que transpirava saúde e de outros que se arrastavam com a fé de quem não queria que o último dia lhe batesse à porta. Pressentia-se que ali estava também gente recolhida, como nós, no sentido de pedir para si sem se lembrar do próximo e outros, não duvidamos, solicitavam a Alguém que os ajudasse talvez a demolir um seu semelhante, como se esse Alguém estivesse distraído. Vimos negar um apoio a quem não tinha forças para se erguer. Sentimos como na verdade este palco que pisamos não é nem mais nem menos que uma representação e de curta duração. Inúmeros os personagens, quanto deles julgando que o êxito e as palmas os acompanharão numa de glória eterna. Julgam-se para sempre aplaudidos e adorados. Uns tolos… Quantas vezes os aplausos são seguidos de apupos, os abraços se transformam em garrotes no pescoço… Vimos a nosso lado olhos de jovens que querem acreditar no futuro, mas as sombras negras da incerteza se atravessam no seu horizonte; vimos gente com muitos euros nos bolsos e manuseamento de cartões dourados, mas sentia-se que o seu coração batia apressado, com a mão estendida para que mais algum tempo lhes fosse concedido para ver e sentir latejar a vida. Vimos gente agarrada à fé como a derradeira tábua de esperança de ser gente por mais algum tempo. Vimos lágrimas correrem pelas faces envoltas em desespero, mas ao mesmo tempo o procurar enxugá-las com a esponja da esperança. Sentimos peitos abrirem-se despejando amarguras, mas também pressentimos muitas mentes que se abriam fazendo o despejo do seu “mea culpa”. E naquele ambiente lá estavam muitos brancos, negros, amarelos todos à procura duma existência de brancura na alma e sossego no espírito. Na serenidade, na quietude daquele ambiente era procurado o tecto que todos necessitavam para viver. Naquele mundo diferente durante quase dois dias não abrimos a boca se não a balbuciar palavras quase imperceptíveis. Não dirigimos a palavra a ninguém. Compramos o silêncio, mas ganhamos força para lutar por melhores dias. Nada melhor que nos recolhermos sozinhos a falar com o mundo, sem abrirmos a boca.

SEM ABRIGO VÃO TER NÚCLEO PARA O PLANEAMENTO E INTERVENÇÃO

IMAGENS MOESES BAUAN

A ideia é aumentar o conhecimento sobre o fenómeno, assim como melhorar e adaptar as respostas de cada caso à realidade matosinhense, rentabilizando melhor os recursos existentes.

Da 33ª Edição do Plenário do Conselho Local de Ação Social (CLAS), que pela primeira vez foi conduzida pela presidente da Câmara Municipal Luísa Salgueiro, resultou a criação do Núcleo para o Planeamento e Intervenção na População em Situação de Sem Abrigo em Matosinhos (NPISA). Este é, aliás, um projeto que surge no seguimento da Estratégia Nacional para a Integração das Pessoas em situação de Sem Abrigo (ENIPSSA), compreendido entre os anos de 2017 e 2023. Apesar do baixo número de pessoas a viver esta realidade no concelho, o fenómeno continua a ser um problema e é visto como tal pela autarquia. São cerca de 30 os cidadãos que vivem nas ruas de Matosinhos, embora muitos outros se encontrem em alojamentos temporários. O projeto será coordenado pela Câmara Municipal, ao passo que a constituição do NPSIA será por entidades do setor público e privado. São elas: Abraçoapertado – Associação de Solidariedade Social, APOB – Associação Portuguesa de Obesos e Bariátricos, Associação Abraço – Associação de Apoio a Pessoas com VIH/Sida, Associação Bairro Convida, Associação das Coletividades do Concelho de Matosinhos, Associação Desportiva, Recreativa e Social AGITARTE, Associação - A Família Girassol, DEMOS – Associação para o Desenvolvimento e Mobilização Social, Lions Clube da Lusofonia e Quinta Pedagógica Santa Isabel.

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