Ciúme patológico
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Giorgia Matos
CIÚME PATOLÓGICO PASSANDO DOS LIMITES
TALENTOS DA LITERATURA BRASILEIRA
São Paulo, 2017
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Ciúme patológico Copyright © 2017 by Giorgia Matos Copyright © 2017 by Novo Século Editora Ltda.
coordenação editorial Vitor Donofrio aquisições Cleber Vasconcelos
edição de texto Tássia Carvalho
editorial João Paulo Putini Nair Ferraz Rebeca Lacerda
diagramação e capa Vitor Donofrio
Texto de acordo com as normas do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (1990), em vigor desde 1o de janeiro de 2009.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip) Matos, Giorgia Ciúme patológico: passando dos limites Giorgia Matos Barueri, SP: Novo Século Editora, 2017. (Coleção talentos da literatura brasileira) 1. Ciúme 2. Emoções I. Título 17‑1425
cdd‑152.48
Índice para catálogo sistemático: 1. Ciúme 152.48
novo século editora ltda. Alameda Araguaia, 2190 – Bloco A – 11o andar – Conjunto 1111 cep 06455‑000 – Alphaville Industrial, Barueri – sp – Brasil Tel.: (11) 3699‑7107 | Fax: (11) 3699‑7323 www.gruponovoseculo.com.br | atendimento@novoseculo.com.br
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Dedico este livro a meus familiares que tanto me auxilia‑ ram para que eu realizasse o sonho de escrevê‑lo. Eles fo‑ ram essenciais nessa caminhada, agindo como meus gran‑ des motivadores e incentivadores; pessoas que acreditaram e que estavam sempre dispostas a me ajudar. Em especial ao meu esposo Marcos, que sempre este‑ ve ao meu lado, lendo cada capítulo e dando sua opinião. Ao meu filho Thales, que me dava ânimo nos momentos de cansaço falando como faríamos o marketing, e ao meu filho menor Marquinhos, que com pouca idade soube en‑ tender que a mãe nem sempre poderia estar presente nos momentos em que era solicitado. Aos meus pais, Célia e Moacir, por quem eu tenho grande amor e admiração; eles foram a base de toda minha educação e os responsáveis por eu me tornar a pessoa que sou hoje.
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Agradecimentos
Gostaria de agradecer imensamente aos doutores Genecy Leal (psicanalista), Veronildo Siqueira (psicanalista) e Carol Costa Júnior (neuropsicólogo), que dedicaram seu precio‑ so tempo concedendo‑me entrevistas para que eu pudesse me embasar no entendimento dessa patologia e, com isso, permitiram a conclusão, com respaldo acadêmico, deste li‑ vro. Muito obrigada pela atenção, pela informação e pela disponibilidade. Por último e não menos importante, agradeço às pes‑ soas que me mandaram e‑mails e me ligaram contando os próprios casos e os de outras pessoas sobre episódios de ciúme doentio. Toda essa ajuda me conduziu de uma forma única a tra‑ balhar com mais dedicação e paixão à conclusão desta obra, que durou precioso tempo, mas que, acredito, saiu confor‑ me planejado.
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Sumário Prefácio
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Apresentação
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1. BREVES COMENTÁRIOS SOBRE O CIÚME
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2. CIÚME CONSIDERADO NORMAL
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3. CIÚME PATOLÓGICO. O ciúme além do limite aceitável, quando se torna um problema
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4. A ARTE IMITA A VIDA. A Síndrome de Otelo
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5. BORDERLINE. O que há em comum entre o ciúme patológico e o transtorno da personalidade borderline
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6. CIÚME COMO CONSEQUÊNCIA DA SÍNDROME DE ABANDONO. O ABANDONO SOFRIDO NA INFÂNCIA
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7. E O PARCEIRO? COMO FICA E COMO ELE PODE INTERFERIR?
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8. Casos reais de crises de ciúme patológico
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9. O que dizem a psicanálise, a psicologia e a psiquiatria
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9.1 A fala do psicanalista
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9.2. O psicólogo entrando em ação
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9.3. Quando o psiquiatra se faz necessário
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10. DICAS DE COMO MANTER O CIÚME SOB CONTROLE
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11. APRENDA A MEDITAR DE UMA FORMA SIMPLES
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12. AUTO‑HIPNOSE NO COMBATE AO CIÚME
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BIBLIOGRAFIA
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Prefácio
Este livro fornece informações do que é mais importante a saber sobre ciúme patológico. Apesar de ser uma obra pe‑ quena, não deixa de dar informações precisas, diretas e cer‑ teiras sobre o tema em questão. Realmente este livro é de surpreender pela simplicidade com que aborda o assunto ao mesmo tempo em que não foge em momento algum do que foi prometido. Uma abordagem sistêmica e completa. Bem alicerçada, embasada e com qualidade ímpar. A cada capítulo, adentra um conhecimento novo e pre‑ ciso, escrito com uma maestria de tirar o chapéu. No decorrer do livro, a autora aborda não apenas o ciú‑ me normal, pelo qual todos passamos um dia – estranho seria se não passássemos –, mas também o ciúme pato‑ lógico, além de tecer explicações do que seria cada um e apresentar vários casos reais de ataques de ciúme, colhi‑ dos por ela própria, a fim de depois analisar os motivos que levaram o indivíduo a ter determinadas atitudes mais extravagantes, no que se refere ao enlace amoroso, para, enfim, falar minuciosamente dos tratamentos psicológi‑ cos, psicanalíticos e psiquiátricos, inclusive citando fontes como DSM‑5 e CID‑10.
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Ciúme patológico
Aconselho todos a se deleitarem nesta obra, obter co‑ nhecimentos úteis e utilizá‑los para seu objetivo maior, qual seja, paz de espírito e tranquilidade mental para você e para os que o rodeiam. Prof. Dr. Veronildo Andrade de Siqueira Psicanalista
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Apresentação
Apresento este livro não como um livro comum, mas como uma fórmula para você se tornar uma pessoa segura e con‑ fiante, despreocupada e que nem sabe mais o significado da palavra ciúme. No entanto, antes que todos esqueçam o significado da palavra ciúme, discorrerei bastante sobre ele, para que não reste dúvida do que há por trás do termo. Em vez de tentar descobrir sobre o assunto por conta própria e passar o resto da vida sofrendo, aproveite que já realizei o trabalho completo e o apresento aqui pronto, e ganhe um tempo precioso de sua vida, desfrutando cada momento com seu ou sua amada. Eu seria muito egoísta se não compartilhasse esse aprendizado com outras pessoas que sofrem o que eu também já sofri. Eu nem sempre fui uma mulher tranquila, com vida suave, despreocupada e sem estresse, que não se preocupa quando o marido sai. Iniciei minha trajetória de vida amo‑ rosa como uma ciumenta de carteirinha. Era uma mulher ciumenta que sofria e fazia os outros sofrerem. E, como se ainda fosse pouco, compartilhava meu sofrimento, minhas angústias, meus medos, meus dissabores com minhas ami‑ gas. Com isso, descobri que algumas delas, talvez a maioria,
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também eram ciumentas. E ciumentas realmente exagera‑ das. Escutei histórias de impressionar qualquer autor de li‑ vro de suspense. Foi bom saber que eu não estava sozinha nessa história. Ouvi histórias de sofrimentos por ciúmes que me chocavam, deixavam‑me completamente perplexa ima‑ ginando como permitimos que esse martírio atinja tal ponto. Depois de anos sofrendo esses incômodos emocionais, descobri que as coisas não precisavam ser bem assim e que esse estado de angústia constante tinha tratamento. Sendo assim, resolvi procurar ajuda. Foi então que busquei a aju‑ da profissional de um psicanalista e, a partir daí, comecei um longo estudo de autoconhecimento e autodescoberta, podendo reeditar minhas neuroses e enfim ter uma vida de qualidade. No entanto, tudo não ocorreu da noite para o dia, foi uma jornada árdua e por vezes bem triste. Descobri que o abalo sísmico que é o ciúme constituía um sintoma que estava dentro de mim, bem guardado nas profundezas de meu inconsciente e que, para tirá‑lo de lá, eu tinha de me submeter a recordar fatos há muitos adormecidos e que estavam causando toda sorte de sentimentos inapropriados. Comecei o tratamento bastante cética, pois como relembrar o passado mudaria algo? Como com essa lembrança eu con‑ seguiria ressignificar? Entretanto, mudou sim, pois passei a ver tudo com uma clareza excepcional e hoje acho que todas as pessoas deveriam fazer análise. Se todos entendessem o imenso ganho que teriam em se submeter a um tratamento
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Apresentação
analítico, com certeza muitas atitudes seriam evitadas e a pessoa se tornaria mais assertiva em sua vida pessoal, profis‑ sional e emocional. É um ganho extraordinário. Enfim, a análise pela qual passei me ajudou de forma essencial, mostrando com clareza o que se passava em mi‑ nha mente. Compreendi o mal que os fantasmas de meu passado me causavam. Eu estava projetando minhas angús‑ tias em pessoas que não tinham culpa alguma. O problema estava em mim e em mais ninguém. Mas só enxerguei isso depois de meses de análise. Hoje, saudável emocionalmen‑ te por completo, sinto‑me outra pessoa, em paz comigo e com os outros. Continuei a escutar minhas amigas reclamando de sentirem ciúme exagerado, uma desconfiança sem fim, um sofrimento desmedido, e achei que isso não poderia ficar assim. A vida é curta, mas viver assim a torna longa. Longa de muita dor. Cansei de ficar apenas escutando e decidi que tinha de fazer algo. Se consegui um resultado plausível em minha vida pessoal e amorosa, se deu certo comigo, poderia funcionar com outras pessoas também. Até que resolvi pesquisar, estudar a respeito, envolver‑me a fun‑ do nessa problemática que assolou não só a mim, mas que atinge muitas e muitas pessoas mundo afora. Pesquisei em revistas, livros de autoajuda, de psicologia, psicanáli‑ se, psiquiatria, internet, programação neurolinguística e mais recentemente coaching pessoal. Mesmo com muito
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estudo e um eficaz tratamento psicanalítico, não me dava por satisfeita. Precisava de mais. Se eu queria realmente entender o universo dos pensamentos e sentimentos, de‑ veria ir mais afundo e fazer algo de fato profissional. Como cursava psicanálise, resolvi me aprofundar ao máximo em como Freud e outros analistas conduziam o assunto. E foi a partir daí que tive, enfim, bagagem suficiente para pro‑ duzir um material de qualidade, capaz de dar um norte na vida dos ciumentos. Resolvi, assim, compartilhar de forma clara, coesa, des‑ complicada e acessível ao público em geral o que aprendi com minha experiência, meus estudos, minha análise e meu curso de psicanálise. No entanto, mesmo com toda essa bagagem de estudo, com o tratamento analítico, com o curso de psicanálise e a vontade de, como disse antes, compartilhar minha expe‑ riência, a concretização deste livro não ocorreu de imedia‑ to. Pensei realmente em levar o plano sobre ciúme adiante quando percebi que minhas amigas e amigos, sabendo de minha experiência pessoal e minha mudança, usavam meu ombro amigo como confidente. Fiquei impressionada com como o ciúme e sua intensidade mudam de pessoa para pessoa. Observei que algumas pessoas ciumentas ao extre‑ mo tinham outros problemas psicológicos como depressão, fobias e neuroses em geral. Então comecei a ler vários livros e a pesquisar bastante também sobre esses assuntos que
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Apresentação
surgem em comorbidade, além de buscar a ajuda de cola‑ boradores das áreas de psicologia e psicanálise, compilando tudo em um livro sobre ciúme patológico, suas causas, con‑ sequências e tratamentos. Nesta obra, pretendo demonstrar a diferença entre o ciúme dito normal e o ciúme patológico, bem como suas causas, que são as mais variadas possíveis, mas cuja gran‑ de parte sinaliza para um único foco, a autoestima baixa, o grande vilão e que, muito provavelmente, surgiu de acon‑ tecimentos ocorridos em sua vida. Abordarei o tratamen‑ to psicológico, a psicanálise, que busca, com o estudo do inconsciente, a razão primária para esse sintoma e, enfim, o tratamento psiquiátrico, pois em alguns casos extremos será necessária a introdução farmacológica. Claro, somente abordarei o necessário para que se entenda como funciona cada tratamento, pois o responsável por aplicar a técnica e a prescrição farmacológica será o respectivo profissional. Não deixarei de apresentar também a questão da infideli‑ dade e o prejuízo que esta causa ao relacionamento. Citarei exemplos reais de ciúmes patológicos diante ou não da ocorrência de uma traição. Resolvi compilar toda a problemática sobre ciúme e es‑ crever um livro que ajude de alguma forma as pessoas que se encontram em igual situação a resolver seu dilema, pois frequentemente, por questão de puro preconceito, elas não recorrem a um profissional especializado, esperando,
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assim, que a deficiência afetiva e outras causas que com‑ põem o ciúme passem por si só, o que não ocorre, pois na maioria das vezes esse problema é uma patologia grave, necessitando de acompanhamento com psicoterapia e, às vezes, como já dito, até de medicação. Enfim, este livro foi escrito com o intuito de ajudar aquelas pessoas que, por acontecimentos que fogem à sua vontade, encontram‑se em uma situação de infelicidade amorosa provocada pelo ciúme fora de controle. No decor‑ rer da obra, explico por que digo que o ciúme é causado por acontecimentos que fogem à sua vontade. Serão escla‑ recidos muitos tópicos do porquê desse sentimento e do porquê você não ter culpa dele. Enfatizo que, infelizmente, nem todas as pessoas têm a oportunidade de procurar ajuda profissional para tentar resolver seu problema de ciúme patológico, crendo elas que se trata de um sentimento comum, pelo qual todos passam, e que não necessita de intervenção alguma. Esse equívoco é ao mesmo tempo comum e errôneo. O ciúme patológico é uma doença séria, mas felizmente tratável. As pessoas não precisam passar um precioso tempo da vida sofrendo, desnecessariamente, volto a falar, sendo que a resolução do problema está a um passo. Ciúme, traição e inveja são uma tríade presente na vida de muita gente. Neste livro, vamos elucidar o que se refere
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Apresentação
ao ciúme, pois ele está no contexto de uma porcentagem muito grande da população. Não estou dizendo que este livro resolverá todos os seus problemas, mas boa parte deles, sim, e lhe dará um norte a fim de que você entenda o que se passa em sua vida e conhe‑ ça mais de sua doença, para, se for o caso, procurar a ajuda necessária. Para algumas pessoas, o simples conhecimento do que está por trás do ciúme já será de grande ajuda para que elas façam uma reflexão sobre o que está acontecendo e mudem seu modo de pensar e seu comportamento. Por questão didática, tratarei, em alguns momentos, do ciumento no feminino com um parceiro masculino, para facilitar o entendimento. Não quero, no entanto, dizer que, necessariamente, os ciumentos são sempre, ou em maior parte, as mulheres.
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1. BREVES COMENTÁRIOS SOBRE O CIÚME
A origem da palavra ciúme vem do latim ZELUMEN, de ZELUS, “desejo amoroso, ciúme, emulação”, e do grego ZELOS, “zelo, ardor, ciúme”. O ciúme, além de ser um sentimento de cuidado, zelo, é também um sentimento desagradável de medo de que a pessoa amada venha a gostar de outra pessoa e nos abando‑ ne. O ciúme que o homem sente da mulher ou a mulher do homem vem também da lembrança de nossa infância, pois a todo momento sentíamos algum tipo de ciúme diferente. Ciúme do pai, da mãe, do irmão que nasceu, da professora da escola, dos amiguinhos. Esse sentimento nos acompa‑ nha desde tenra idade. Todos nós sentimos ciúme uma vez ou outra em nos‑ sa vida adulta. E isso, como já dito, é normal. O que não é normal é não sentir qualquer ciúme. Nesse caso, a pessoa padeceria de outros problemas, entre eles o narcisismo. Há, ainda, pessoas que acham que quem não sente ciú‑ me não ama, o que constitui outro equívoco. Quem ama
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cuida, zela, mas “não demonstrar ciúme” não é condição sine qua non para não amar, ou seja, não é essencial. Cito aqui algumas definições de ciúme retiradas da internet: • “Estado emocional complexo que envolve um senti‑ mento penoso provocado em relação a uma pessoa de que se pretende o amor exclusivo.” • “Receio de que o ente amado dedique seu afeto a outrem.” • “Manifestação provocada pela falta de confiança no sentimento do outro, que é transformada em medo de perder o parceiro.” • “Sentimento de possessividade em relação a algo ou alguém.” • “Sentimento gerado pelo desejo de conservar al‑ guém junto de si ou por não conseguir partilhar afetivamente essa pessoa.” • “Sentimento gerado pela suspeita da infidelidade de um parceiro.” São muitos os conceitos sobre ciúme, mas todos che‑ gam a um mesmo ponto, medo de perder o objeto amado. O ciúme é tratado desde a antiguidade como um senti‑ mento que faz parte da vida a dois. Em cada época, o ciúme teve uma conotação diferente. Nos primórdios, era uma
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maneira de o homem afastar a concorrência preservando, assim, seus genes. Para a mulher, o sentimento vinha como um sinal de preservação da prole, pois ela dependia do ho‑ mem para a caça e a sustentação da família. Posteriormente, o ciúme recebeu uma conotação mais romântica, na qual era um sentimento bonito e representa‑ va o amor, a dedicação e o cuidado. Ainda hoje é considera‑ do assim, desde que na medida certa. A verdade, porém, é que nem sempre o ciúme é conside‑ rado uma manifestação de amor, por vezes ele acomete um dos parceiros de forma exagerada, prejudicando o próprio relacionamento. Desse modo, um relacionamento amoro‑ so, que, em tese, deveria ser o cerne da felicidade entre duas pessoas, torna‑se devastado pelo poder avassalador do ciú‑ me considerado além do normal. Quando a pessoa é acometida por esse ciúme desastro‑ so, comumente abalando a vida amorosa, causando cons‑ trangimento, dor e tantos outros adjetivos que rondam a paz, ele se torna prejudicial. E não só a quem o sente, mas também ao par romântico, que se expõe a constantes bri‑ gas, desaforos e constrangimentos, sendo ele outra vítima da situação. O ciúme geralmente tem origem no inconsciente, afi‑ nal ninguém é ciumento porque quer, ninguém nasce as‑ sim (você verá mais detalhes sobre essa afirmação adiante). Esse sentimento é reflexo de baixa autoestima, complexo de
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inferioridade, insegurança, sentimentos de culpa, traumas e tantos outros fatos distorcidos em sua mente. Uma por‑ centagem significativa de nossa vida é regida pelo incons‑ ciente, e nem nos damos conta disso. Nosso coração bate sem que precise de ordem, nossas unhas e cabelos crescem sem que percebamos, uma ferida cicatriza sem nossa inter‑ ferência consciente, entre tantos outros exemplos que de‑ monstram que nosso inconsciente tem parcela significativa sobre tudo que rege nosso sentimento e pensamento, sobre nosso modo de viver, de ver as coisas, de agir… e por que não de sentir ciúme? Ciúme impulsivo, ou excessivo, ou doentio, ou pato‑ lógico (usarei os quatro termos aqui) é aquele sem moti‑ vo aparente. No entanto, mesmo quando o parceiro que‑ bra as barreiras da fidelidade, ele não pode ser encarado como motivo para agressão moral e/ou física. O casal terá de obter meios de promover uma conversa amigável com tolerância e compreensão. E, se não conseguirem superar, é aconselhável procurar ajuda profissional para auxiliá‑los nesse período em que o sofrimento abala consideravel‑ mente o romance. A dor causada por uma traição pode tra‑ zer consequências profundas na vida psíquica daquele que sofreu a traição, e talvez sem ajuda a pessoa não consiga superar de forma definitiva esse trauma. Uma traição pode ser perdoada ou não, mas o caso em questão aqui é a intensidade de ciúme, manipulação,
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perseguição e controle, antes de ocorrer a traição, que na maioria das vezes não passa de uma suposição, na qual o fato traição não foi consumado, havendo apenas mera desconfian‑ ça exacerbada que, por vezes, leva ao fim do relacionamento. No caso de homem ou mulher inescrupuloso, infiel, mentiroso, dissimulado, que tem comportamentos inade‑ quados para com seu parceiro, que de fato tem histórico de traições e mentiras, há aí a chamada desconfiança real, pois é nítida e clara a probabilidade da ocorrência de nova traição, pois, nesse caso, trata‑se de comportamentos espe‑ rados. Nesse tipo de situação, quem precisa de ajuda profis‑ sional é o parceiro infiel, já que ele é quem tem o problema. A vítima ciumenta precisará de ajuda profissional, sim, mas para recuperar a autoestima que fica seriamente abalada depois de sofrer essas decepções. Também há pessoas que, mesmo com todo esse sofrimento, não conseguem se afas‑ tar do parceiro por vários motivos – o mais comum deles é a dependência financeira – que também precisam ser tra‑ balhados caso a caso. Mas essas situações específicas não estão sendo tratadas neste livro, pois aí o fato é consumado e o ciúme não surge sem motivo. Além de, nesse caso, es‑ tarmos falando de desconfiança motivada. Há também os casos de ciúme sintomáticos, ou seja, houve um fator adicional que o conduziu a tal comporta‑ mento. São causados por motivos como bebedeira, esqui‑ zofrenia ou alguma demência. Esses casos são bastante
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perigosos, pois não raro terminam em tragédia. O caso mais comum envolve homens alcoólicos que, depois de um esta‑ do alterado de consciência causado pela bebida, surtam com um ciúme exagerado e descabido agredindo física e emo‑ cionalmente a parceira. Nesse caso em específico, estamos lidando com o ciúme delirante. Depois de passada a ressaca fisiológica e moral, o homem volta a si, arrependido e com o ciúme contido. Casos assim acometem mais homens, mas não implica dizer que o oposto não ocorra. Acontece, sim, e com bastante frequência, inclusive porque existe a crença de que as mulheres são mais ciumentas que os homens. No entanto, ao contrário do que se pensa, não apenas as mulheres são acometidas pela manifestação do ciúme. Nem ao menos a probabilidade da ocorrência do ciúme manifesta‑se mais em mulheres. A balança pende para os dois lados igualmente. O que acontece é que as mulheres comentam mais, compartilham com amigas, procuram terapia etc. Quanto aos homens, eles não conseguem dar vazão a seus sentimentos com tanta facilidade. Quando questionados sobre o próprio comportamento, a resposta é geralmente o clichê: “Eu não vou procurar terapia por‑ que eu não estou doido, você é que não presta”. Enfim, a ocorrência de ciúme e o sofrimento vivido são iguais para ambos os sexos, diferenciando‑se somente na maneira de conduzi‑lo, encará‑lo e manifestá‑lo.
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Breves comentários sobre o ciúme
Algo que acho muito interessante e de suma importân‑ cia foi o que meu colaborador e amigo, o neuropsicólogo Carol Costa Júnior, me disse sobre o funcionamento do cérebro na adolescência, que é o período em que o ciúme ocorre com maior intensidade, domina mais. É mais fácil se levar à morte na adolescência do que na fase adulta, pois o cérebro não está maduro. A mielina (substância que acele‑ ra a transmissão dos impulsos nervosos a outras partes do corpo) é produzida desde o seu nascimento, mas ela só se concretiza no neurônio (célula do sistema nervoso respon‑ sável pela condução dos impulsos nervosos) e só envolve o axônio (parte do neurônio responsável pela condução dos impulsos elétricos) aos dezoito anos, por isso que se diz que a pessoa está madura aos dezoito anos. Ela atinge a maiori‑ dade, porque antes disso a velocidade da informação de um neurônio para o outro é de 40 km/h, mas, com a mielina formada, passa a 400 km/h. A partir daí é que o adolescente sabe distinguir o certo do errado por conta própria, sem necessidade de os pais es‑ tarem lembrando. Desse modo, ele responde por tudo que faz; por isso, e por outros motivos que não cabe aqui expla‑ nar, a maioridade penal ocorre aos dezoito anos. Ou seja, o adolescente não processa a informação como o adulto, por isso, quando ama, ele ama mesmo, quando é para ocor‑ rer uma tristeza por amor, ele acha que vai morrer. É tudo muito intenso. E isso leva a uma questão: Será que o ciúme
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do adolescente é tão maior assim? Ou será que é apenas o cérebro que não está maduro? Ainda há casos de ciúme provocado pela posição social do parceiro. Aquele que ganha mais supostamente detém o poder. Se é ele quem paga as despesas de casa, as despesas do companheiro e dos filhos, sente‑se no direito de ter certas atitudes hostis que não teria em outra situação. Ele não se intimida em apresentar rompantes de ciúme a qualquer mo‑ mento que desejar, achando que o outro não tem o mínimo direito de reclamar. São pensamentos equivocados e doen‑ tios, mas, como veremos, há uma explicação para tal atitude.
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