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talentos da literatura brasileira
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Darkson: o pirata das trevas
Copyright © 2016 by Marcos Perillo Copyright © 2016 by Novo Século Editora Ltda. aquisições
Cleber Vasconcelos produção editorial
imagem da capa
SSegovia Editorial
Anderson LA, Curitiba, PR www.naturezamorta.com
preparação
Paulo Franco diagramação
capa
Marina Ávila
Abreu’s System revisão
Julio Talhari Adriana Bernardino Texto de acordo com as normas do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (1990), em vigor desde 10 de janeiro de 2009.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip) (Câmara Brasileira do Livro, sp, Brasil) Perillo, Marcos Darkson : o pirata das trevas / Marcos Perillo. – Barueri, SP : Novo Século Editora, 2016. (Coleção Talentos da literatura brasileira) 1. Ficção brasileira I. Título 16-0661 CDD-869.3 Índices para catálogo sistemático: 1. Ficção brasileira 869.3
novo século editora ltda. Alameda Araguaia, 2190 – Bloco A – 11º andar – Conjunto 1111 cep 06455-000 – Alphaville Industrial, Barueri – sp – Brasil Tel.: (11) 3699-7107 | Fax: (11) 3699-7323 www.novoseculo.com.br | atendimento@novoseculo.com.br
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Agradecimentos
A
gradeço aos meus pais, pois sem eles Darkson não nasceria. Agradeço à minha querida princesa e esposa, Marcella, por há tanto tempo aguentar minhas maluquices, dentre elas a de escrever este livro. Ao meu filho, pois com ele aprendi o significado de amor incondicional. Por fim, agradeço às cervejas puro malte, ao velho e bom rock ’n’ roll e ao mar, pois sem essa tríade as inspirações jamais aconteceriam.
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Sumário
Prólogo................................................................... 9 1 O nascimento....................................................... 13 2 Abutres, malditos abutres!................................. 21 3 Darkson, Handless, seus piratas e o Last Voyage..................................................... 27 4 A última festa........................................................ 43 5 Um encontro no fundo mar............................... 53 6 O prenúncio.......................................................... 59 7 A maldição............................................................ 65 8 Captain Darkson, o pirata das trevas............... 69 9 A primeira de todas as vítimas: Barba Negra, o demônio dos mares................. 73
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10 O mundo das trevas............................................ 81 11 Mais uma lua cheia.............................................. 85 12 Troia....................................................................... 91 13 Eu quero meu filho.............................................. 99
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Prólogo
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inda me lembro do dia que entrei em um tradicional café de Curitiba para tomar um expresso, pós-almoço, antes de voltar para o segundo tempo do trabalho. O local eu já frequentava com certa assiduidade, mas naquele dia havia algo de diferente nele. Na parede, uma exposição de quadros trazia várias imagens de caveiras, motos, carros e temas de rock ’n’ roll. Aquilo era exatamente a minha cara! Então pedi o telefone do artista para o atendente de bar, que prontamente me entregou. Fiz contato ainda sentado no balcão, tomando meu pequeno café. — Alô. É o Anderson? — perguntei. — Sim, sou — respondeu uma voz do outro lado da linha. 9
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— Cara, acabei de ver a sua exposição e gostei muito. É o seguinte — emendei —, acabei de construir uma casa de praia e quero colocar um painel pintado por você como sendo a peça principal da sala. Tem que ser algo de mais ou menos 2 por 1,5 metro. — Ok — falou ele. — Mas qual é o tema? — Sei lá — respondi. — Só sei que tem que ter mar, barco… pode ter caveira, mas tem que ter cores. Lembre-se de que é para uma casa de praia. Se ficar muito dark, não vai ficar legal. — Já entendi — falou ele. — Deixa comigo. Um mês depois, ele me ligou falando que o quadro estava pronto e que eu podia ir à sua casa para ver. No entanto, eu ainda não sabia o tema. Quando cheguei e olhei o enorme painel de madeira pintado, fiquei maravilhado. Um enorme galeão pirata estava envolto em gigantescos tentáculos que o puxavam para o fundo, colocando-o em uma situação de iminente naufrágio, enquanto um lindo pôr do sol compunha o fundo. Uma cena surreal, totalmente inesperada para a eventual tripulação que estivesse a bordo do poderoso galeão pirata. Era exatamente o que eu queria! Já com o quadro na casa de praia, eu não parava de fitá-lo e pensar: “Está faltando algo. Essa cena não está completa”. Mas eu não sabia o que faltava. Um dia, de repente, veio-me um estalo. Estava faltando o 10
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Prólogo
último passageiro daquele enorme barco pirata. Peguei o telefone e liguei para o artista. — Fala, Anderson, tudo bem? É o Marcão. É o seguinte, estou precisando que você pinte o único sobrevivente do naufrágio para mim. — Como assim? — retrucou ele. — Exatamente isso — respondi. — Quero o último sobrevivente. — Pode ser um capitão pirata caveira? — Claro — respondi. Discutimos mais alguns ajustes e desligamos o telefone. Quinze dias depois, mais uma vez ele me ligou: — Pode vir pegar o sobrevivente. Quando fui buscá-lo, um enorme quadro de um capitão caveira me esperava. Exatamente o que faltava para completar a cena na minha casa de praia. Tratei logo de pendurá-lo bem ao lado do navio, como se o capitão estivesse abandonando o barco, em fuga de algo muito terrível que acabara de acontecer. Sempre que eu ia à minha casa de praia, volta e meia eu me pegava admirando os quadros. Minha mente viajava para bem longe, e eu sempre concluía: “Existe uma longa história por trás dessas imagens. Algo que aconteceu há muito tempo. Em dimensões passadas…” Eu não sabia exatamente o que era, mas algo tinha acontecido por detrás daquelas imagens. 11
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Assim, por dois anos, refleti sobre o que teria acontecido, até que decidi me internar na casa de praia por duas semanas para colocar de pé a história. Sem cachorro, papagaio, esposa ou filho. Somente eu, o mar, as ondas, cervejas puro malte e muito rock ’n’ roll. Assim o livro nasceu. Darkson: o pirata das trevas conta a história do mais cruel e sanguinário capitão que já singrou os mares. Teve sua alma vendida ao diabo pelo seu pai quando ainda era recém-nascido. Apesar da bela educação que suas mães prostitutas lhe deram, seu destino já estava traçado. Durante mais de uma década, roubou, pilhou e assassinou como quis nos mares do mundo, até que Netuno, cansado de tanta maldade derramada em seus reinos, decidiu sequestrar e amaldiçoar a alma do terrível lobo do mar. Tão cruel e perversa quanto o próprio Darkson, a maldição de Netuno tornou o até então criminoso em um verdadeiro anti-herói, ajudando a sociedade, mesmo contra sua própria vontade. Tudo isso, tendo como pano de fundo muito sexo, drogas e uma verdadeira luta entre o bem e o mal. Espero que gostem.
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Capítulo 1
O nascimento
Agosto, 13 de janeiro de 1691, em algum lugar no Caribe.
L
á estava ela. Mais uma vez solitária naquele imenso salão de pedra escura, iluminado apenas por um lampião, que lançava luz e sombras naquele espaço sombrio. Passados 5 mil anos, ela ainda continuava exatamente do mesmo jeito que fora criada. Imune ao tempo, a maldita cadeira estava mais uma vez lá. Imponente como um trono de rei, de madeira maciça, cor de cobre escuro, detalhadamente talhada em toda a sua extensão e com seus pés e braços adornados nas pontas com marfim. Estava ela lá. Sozinha, mais uma vez. 13
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Alguém bateu na porta: toc, toc, toc. O som das aldravas batendo do lado de fora ecoou salão adentro. O metal contra a madeira produziu um soar frio e profundo, como o prelúdio de um despertar. E assim aconteceu. Sobre a cadeira, uma fina fumaça negra começou a tomar forma de repente. Pés, pernas, coluna, braços, mãos e cabeça preencheram a cadeira, dando vida ao ser que, de tempos em tempos, visitava-a. A cadeira já não estava mais sozinha. Nela, um homem negro, forte, sessenta anos aproximadamente, cabelos grisalhos, olhos avermelhados e dentes perfeitos. Estava vestindo um terno e uma camisa branca, assim como sua gravata. Suas unhas estavam meticulosamente bem-feitas, mas eram relativamente compridas. Para completar a descrição, ele tinha em sua mão esquerda uma bengala com detalhes em marfim, da mesma cor da cadeira. — Entre — respondeu uma voz rouca e áspera. — Estava esperando por você há tempos. As portas se abriram ao seu comando, com o ranger de dobradiças enferrujadas, que havia muito não eram usadas. — Estou entrando, então — respondeu uma voz arrebentada pelos castigos da vida. Era o velho Joe, um pirata alcoólatra, doente e falido, que sequer tinha mais barco para navegar. Vi14
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O nascimento
via de bicos, em especial da limpeza de barcos piratas que, volta e meia, aportavam na região. Apesar dos seus vinte e poucos anos, Joe tinha aparência de ser mais velho que seu anfitrião. Estava ali para vender a alma do seu recém‑nascido filho para alguém que nem sabia quem era. Não importava, era a última chance que ele tinha de ganhar algum. — Trouxe meu filho Kid para o senhor ver, exatamente como combinamos em nossos sonhos. Se o senhor aceitá-lo, em contrapartida, terei muito ouro e riquezas. Mulheres e álcool não mais me faltarão. É isso, não é? — Exatamente. Mas e se eu não aceitar? — perguntou a voz rouca e áspera. — Ele e eu morreremos — respondeu o entrante. — Perfeito! Impressionante como você se lembra com precisão dos nossos sonhos e das minhas palavras. Deixe-me ver a criança. O velho pirata já estendia o braço para entregar o neném quando o anfitrião o interrompeu: — Não se esqueça do ritual. Faça exatamente como te ensinei. — Ah, claro! Desculpe, estou um pouco ansioso. Joe pegou do bolso uma pequena navalha e levou até o rosto do seu filho. Sobre a face esquerda, fez um leve e pequeno corte. Nada de mais, apenas o suficiente para o sangue começar a escorrer. 15
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O homem negro pegou o recém-nascido, cujo choro era em demasia naquele momento, olhou bem em seus olhos e lentamente levou o doce rostinho ao encontro do seu. Foi até o corte de navalha, a essa altura já sangrando um pouco mais, e começou a lamber cuidadosamente. O choro do menino cessou como em um passe de mágica e ele agora descansava tranquilamente no colo do estranho senhor. Um cheiro de enxofre invadiu as narinas do homem e um sorriso despontou em seus lábios. Sua língua, vagarosa e repetidamente, lambia o sangue que manchava a pele clara do menino, de baixo para cima, de cima para baixo, enchendo a boca com o doce sabor daquele líquido vermelho. Sangue e saliva se misturando, juntos, em uma única corrente sanguínea. Após alguns poucos segundos bebendo daquele tenro sangue, o anfitrião começou a entrar em uma espécie de transe. Seu rosto demonstrava excitação, e os olhos vidrados mudaram levemente de cor, tornando-se avermelhados, quase carmim. — Eu achei! Meu filho, meu sagrado filho! O sexto filho do sexto neto! Juntos dominaremos o céu, a terra e os mares! — exclamou o negro, cada vez mais embevecido pela alegria daquele encontro. — Vá e viva ao menos mais 33 anos! Viva a vida terrena e morra como um ser humano. Então sua alma será mi16
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nha. Essa é a profecia! Mostre aos homens uma pequena prévia do que o mundo será quando nós formos os senhores de tudo! Vá e viva mais 33 belos anos! Era nítida tamanha excitação. Havia séculos que ele esperava por esse encontro que, talvez, nunca acontecesse. As sagradas escrituras diziam: “O mal será ainda muito maior quando seu rebento encontrar. O filho virá pelas mãos de um fraco e derrotado, e o cheiro do tenro sangue será sua única comprovação. Sangue e saliva farão o selo da união”. Ao sombrio homem de branco não restava alternativa a não ser invadir aleatoriamente os sonhos dos fracos e derrotados à procura do seu tão amado filho. Milhares foram ao seu encontro e nunca mais retornaram, pois não traziam o que ele queria. Talvez ele nunca encontrasse. Mas, enfim, encontrou. O pobre Joe estava estarrecido. Olhava de forma vidrada sobre toda aquela cena. O lampião a óleo de baleia que iluminava o ambiente se apagou com a rufada de vento vinda da janela. Com uma voz trêmula, o antigo pirata perguntou: — Acho que o tempo vai mudar. Posso ir embora? O trato está feito? — Sim, está. Claro que está! A partir de hoje, ganhará muito dinheiro. Mulheres e álcool não mais lhe faltarão — respondeu. — Posso ir então? 17
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— Não, espere só mais um minuto. — O homem da cadeira pegou uma espada que estava encostada na parede e entregou ao pirata. — Este é meu presente de batismo para o meu… quer dizer, para o seu filho. A partir de hoje, ela deverá acompanhá-lo onde ele estiver. Ela será sua fiel protetora. Ao menos nas próximas três décadas e meia. Com ela, nada de ruim lhe acontecerá. Handless é o nome desta espada. — O.k., combinado. Posso saber o porquê desse nome? — O tempo responderá. — Então, estou indo. O anfitrião olhou para Joe e disse de forma clara, sinistra e pausada: — A partir de hoje, o nome do seu filho passa a ser Darkson. Ninguém o conhecerá por outro que não seja esse. Joe foi em direção à porta carregando o pequeno Darkson. Após abri-la, virou-se para se despedir, mas o homem negro não estava mais lá. A cadeira estava vazia mais uma vez. Chovia no momento que saiu. Misteriosamente, tudo aquilo que tinha acabado de acontecer sumiu da sua mente. Sequer o novo nome do seu filho ele lembrava. Joe nunca mais viria a ter sonhos com aquele senhor que se apresentava pelo nome de Heller. Sobre o falido pirata, ninguém sabe direito seu destino. Dizem que abandonou o próprio filho e a 18
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O nascimento
espada em um prostíbulo vagabundo e sujo, menos de um mês depois do macabro trato. Lendas contam que ganhou fortunas trapaceando em jogos de cartas. Uísque e prostitutas sempre o acompanharam. Parece que morreu antes de chegar aos trinta. A bebida e o tabaco o corroeram até o fim. Mas ninguém sabe ao certo. O prometido foi álcool e dinheiro; não saúde. Trato feito, trato cumprido. Já sobre Darkson…
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