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ANO 2098 – COMPLEXO PENITENCIÁRIO LUNAR

Em uma cela individual no Setor 7 da prisão lunar, Paulo Pinheiro está deitado na cama, lendo a Bíblia concentrado, quando escuta fortes batidas na porta:

– Está na hora! – avisa o guarda Vasquez.

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Paulo então se levanta, fecha a Bíblia e aguarda, enquanto Vasquez autoriza a abertura da porta junto à central de controle. Ao sair da cela, Paulo se depara com um androide de segurança: uma máquina projetada para a contenção de detentos e manutenção de ordem na prisão, programado para resolver qualquer problema de forma rápida, agressiva e mortal. Ele permanece ao lado do guarda, imponente.

Os dois humanos e a máquina seguem devagar pelo corredor estreito e bem iluminado, sempre ajustados à gravidade artificial operante no complexo lunar. Após alguns minutos, Paulo passa em frente à cela de Jacob Seber, e o rabino lhe diz com serenidade:

– Força, Paulo! Não se esqueça de seu verdadeiro propósito: conforte a todos! Deus está no comando, sempre!

Paulo fica comovido com as palavras do amigo. Ele é escoltado até o outro lado do complexo e, ao se aproximar da ala feminina, avista Samira Cristina. De imediato e em silêncio, os dois cúmplices se correspondem com um olhar carinhoso.

Por fim, o prisioneiro é conduzido até uma grande sala, completamente isolada dos outros setores da prisão lunar. Naquele local, é possível pressentir uma atmosfera de terror que pesa o ambiente por completo.

Na enorme sala, separados apenas por uma grossa parede de vidro, vinte e quatro presos, em sua maioria oriundos de países da América Latina, estão alinhados e imobilizados em cadeiras fixas, separados em fileiras. O ambiente é tenso e todos os presos estão agitados. Em uma cabine de vidro no ponto mais elevado da sala, está o diretor da prisão, Lee Woo, mais conhecido como o Senhor Morte, sempre acompanhado de seu androide de segurança pessoal de última geração.

Do alto da cabine, Lee se dirige a Paulo com um olhar sarcástico, liga o microfone e dá início ao ritual de execução:

Vamos logo com isso. Não tenho tempo a perder!

Logo, Paulo, que é tido como o mais estimado orador cristão da prisão, se concentra e, inspirado, entoa um louvor:

– Deus é tão bom, Deus é tão bom, é tão bom para mim. Cristo é real, Cristo é real, é real para mim. Ele voltará, ele voltará, voltará para mim...

De uma forma inesperada, os presos vão se acalmando, e o silêncio toma conta do ambiente. Então, Paulo enfatiza:

– O Senhor é a minha luz e a minha salvação, de quem terei medo? O Senhor é a fortaleza da minha vida, a quem temerei?

Em nós e por nós mesmos, não temos bondade ou ato de justiça que tenhamos praticado, que nos faça aceitáveis ao Senhor. Nós somos meros pecadores! Mas o Senhor, em seu infinito amor e misericórdia, providenciou o nosso resgate: entregando o seu próprio Filho para assumir a nossa culpa na cruz! Ele morreu absolvendo os nossos pecados e ressuscitou. Ele nos perdoou e nos purificou para nos dar uma nova vida, repleta de paz! Eu não sou capaz de entender plenamente o motivo do sofrimento e da dor. Afinal, todos nós somos apenas humanos, aprisionados em nossa visão limitada, e eu não tenho justificativa ou explicação para desvendar tantos mistérios. Porém, posso afirmar que tudo que acontece em nossas vidas serve a um propósito maior. E a vida não termina aqui. Pelo contrário, para todos aqueles que aceitam Cristo Jesus como Salvador e Filho de Deus, ela é eterna, porque Ele nos aguarda em seu reino.

Nesse momento, um dos presos confessa:

– Eu sou um criminoso! Eu reconheço o mal que pratiquei a tantas pessoas, e nunca me esqueci de nenhuma delas. Eu me tornei uma péssima pessoa, e o mal me consome em todos os dias da minha vida. Peço perdão a Deus e a todos a quem prejudiquei. E, do fundo do meu coração, me arrependo de todos os meus erros e pecados.

Então, uma condenada clama:

– Eu nem sei por que estou presa. Eu não fiz nada tão grave para permanecer nesse lugar. Mas, agora que o meu fim está próximo, só posso pedir a Deus por misericórdia, e que Ele me receba ao seu lado, junto a Jesus. Eu oro pela minha salvação e por todos que estão aqui!

Um dos condenados grita de forma estridente:

– Calem a boca, todos vocês! Seu pastor de araque! Nós vamos morrer e você fica falando de vida eterna? Não venha com essa baboseira para cima de mim!

Em seguida, outro condenado grita:

– Se Jesus é meu Salvador, peça para Ele me tirar daqui! Senão, Ele não me serve para nada!

Uma onda de desespero e raiva toma conta do ambiente. Alguns presos estão descontrolados, gritando e esbravejando. Um deles profere palavras sem sentido, enquanto outros choram e gritam em pânico. Então, o diretor Lee encara Paulo com satisfação, celebrando em silêncio aquele horror.

Ao checar o relógio, o guarda Vasquez acena para o diretor Lee, avisando que o tempo previsto para a execução está encerrado. Lee aciona o microfone e com satisfação sentencia:

Conforme julgamento da corte internacional de combate ao terrorismo, e cumprindo a sentença proferida, dou início à execução da pena de morte de todos os condenados presentes.

De imediato, do alto de sua cabine, o Senhor Morte aperta um botão vermelho no painel de comando. Em uma fração de segundo, um forte clarão toma conta do local, emitindo uma poderosa descarga eletromagnética. Quando o clarão se dissipa, restam apenas vinte e quatro montes de pó, alinhados e separados em fileiras.

Naquela noite, no refeitório comunitário da prisão, mesmo na companhia dos amigos, Paulo não consegue disfarçar a tristeza. Discreta, sempre atenta à vigilância do local, Samira segura a mão de Paulo e diz com carinho:

– Você fez o melhor que podia: deu esperança a eles.

Mesmo assim, ele se lamenta:

Eu sei, mas jamais vou esquecer aqueles rostos. Depois de tudo terminar, ainda foi horrível ver a satisfação no olhar de Lee. Eu não sei quanto tempo mais consigo aguentar essa loucura!

Foi quando Paulo, percebendo que Jacob estava alheio à conversa, desabafou:

– Você não ouviu uma palavra do que eu disse!

Desculpe, meu amigo. Eu me solidarizo com todas as pessoas que morreram hoje. Já orei por elas e continuo orando por todas as vítimas que foram executadas antes. Mas, no momento, a minha preocupação é outra!

Um dos guardas se aproxima da mesa dos prisioneiros e todos se calam. Logo, ele se afasta e retoma a sua ronda habitual pelos corredores do refeitório. Com cautela, Jacob abre uma das mãos e mostra um dispositivo camuflado sobre a palma.

– O que é isso? – Samira pergunta com curiosidade.

Jacob coloca a outra mão sobre a própria boca, para evitar a detecção das expressões labiais e sussurra:

Isso, minha cara, é nosso passaporte para sair desse inferno! Nos próximos dias, nesse mesmo horário, vamos conversar sobre o nosso plano de fuga. Se tudo funcionar conforme o planejado, e se for o desejo de Yahweh, nós sairemos daqui antes do dia da nossa execução.

Paulo e Samira se entreolham, confiantes, dando vazão a um sentimento de esperança. Nesse momento soa um alarme, avisando os prisioneiros que o horário de refeição está encerrado. Antes de sair do refeitório, Paulo contempla pela janela a visão da Terra. A imponente imagem do planeta azul flutuando no universo é linda, e ele se recorda do tempo em que era apenas um simples policial sem desconfiar das surpresas e armadilhas que o destino lhe reservava.

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Edição: 1ª

Fonte: Lora facebook/novoseculoeditora

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