Império de vidro by Novo Século Editora

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FLÁVIA MARCELINO

IMPÉRIO de

VIDRO TALENTOS DA LITERATURA BRASILEIRA

São Paulo, 2 017

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Império de vidro

coordenador editorial

aquisições

Vitor Donofrio

Cleber Vasconcelos

editorial

Giovanna Petrólio João Paulo Putini Nair Ferraz Rebeca Lacerda

capa

preparação

Dimitry Uziel

Fernanda Guerriero Antunes

diagramação

revisão

Nair Ferraz

Luiz Alberto Galdini

Texto de acordo com as normas do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (1990), em vigor desde 1o de janeiro de 2009. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip) Angélica Ilacqua CRB-8/7057 Marcelino, Flávia Império de vidro / Flávia Marcelino. Barueri, SP: Novo Século Editora, 2017. (coleção talentos da literatura brasileira)

1. Ficção brasileira 2. Romance policial I. Título. 17‑0052

cdd‑869

Índice para catálogo sistemático: 1. Ficção brasileira 869.3

novo século editora ltda. Alameda Araguaia, 2190 – Bloco A – 11o andar – Conjunto 1111 cep 06455‑000 – Alphaville Industrial, Barueri – sp – Brasil Tel.: (11) 3699‑7107 | Fax: (11) 3699‑7323 www.novoseculo.com.br | atendimento@novoseculo.com.br

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Ao meu amado pai, eterno herรณi (in memoriam).

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Agradecimentos

Agradeço primeiramente a meus pais, Edmir (in memoriam) e Magda, que estiveram sempre ao meu lado e me deram o melhor exemplo que eu poderia ter. Ao meu marido, Wesley, companheiro de muitos anos, sempre acreditando que eu poderia chegar aonde quisesse. Não podia deixar de citar também meus familiares, especialmente a vó Elza (in memoriam), maior apoiadora e conselheira, sempre de braços abertos para me receber. Aos grandes amigos que a infância me deu e que seguem comigo até hoje, os quais estiveram comigo nos momentos mais difíceis de minha vida e emprestaram um pouco de sua personalidade a alguns personagens: Carolina Omori, Gabriel Nunes, Guilherme Nunes, Guilherme Vieira,

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Josiéli Costa, Karen Mori, Larissa Luque e Samanta Hitomi. À querida Bárbara Neme, que, sempre presente com sua amizade acolhedora, foi a responsável por me apresentar ao amor da minha vida. Aos amigos Patrícia Navarra e Rodrigo Sprovieri, primeiros leitores e colaboradores, partes importantes deste trabalho. À minha família espiritual, por todo o suporte e carinho que me dão, meu muito obrigada. Por fim, a meus companheiros de caminhada, sempre comigo. Não vou nomeá-los, pois não é preciso.

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[...] Soa maravilhosamente. Um admirável novo mundo. Não há nada disso realmente, há? – Você não acredita nele? – O senhor acredita? – Há sempre um admirável novo mundo – disse Poirot –, mas, sabe, só para algumas categorias especiais de pessoas. As felizes. Aquelas que trazem dentro de si mesmas a criação desse mundo. (Trecho de Noite das Bruxas – Agatha Christie)

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1 Terror na madrugada

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Era madrugada fria de dezembro na cidade de Londres, entretanto o suor quente escorria pelo corpo inquieto de Oliver King, tornando o lençol – agora, encharcado – bem menos convidativo do que no início da noite. No criado-mudo ao lado da cama de casal havia apenas um vidro de calmantes pela metade e um copo de água. A TV – que ele mantinha ligada todas as noites – estava sintonizada em um canal qualquer. Não importava. As luzes e os movimentos o mantinham afastado do silêncio perturbador do quarto vazio. A decoração do quarto de King era excêntrica, porém aconchegante. As cortinas cor de vinho combinavam com a poltrona acolchoada e reclinável, que ficava ao lado de sua mesa de mogno feita sob medida, sobre a qual deixava seu laptop. Apesar de possuir um escritório no andar de baixo, constituído de uma vasta biblioteca, uma lareira e um supercomputador de última geração, 12

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ele não abria mão de levar consigo o computador portátil. Era nele que guardava seus documentos mais importantes, algumas fotos e, principalmente, pensamentos e textos de sua autoria. Oliver sempre foi fã dos livros, e encontrou na escrita uma forma terapêutica de aliviar seus fantasmas. O cômodo onde passava pouquíssimo tempo mais parecia uma sala de estar, o que era proposital, uma vez que dormir não era sua atividade preferida. O sono turbulento repetia-se noite após noite havia anos, como um filme que já foi visto um milhão de vezes. Sempre o mesmo pesadelo. Os gritos, o sangue e o corpo inerte no chão. Nesta madrugada, enquanto estava no auge do desespero, entre tremores e gemidos abafados, Oliver foi gradativamente tirado do torpor de seu sonho pelo toque estridente do telefone. – Detetive King. – Ei, chefe. Desculpe interromper seu sono de beleza. – Já passa das três da manhã, Kyle. Não podia segurar a saudade até um horário decente? Apesar de ser o único a conhecer os terrores noturnos* do detetive, o investigador Kyle *

Mais comum em crianças, o terror noturno é um distúrbio do sono, durante o qual há muita agitação e gritos. (N.E.)

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Woodstock sabia que ligações no meio da noite não agradavam nada seu chefe. Os bons anos de parceria na polícia criaram laços sólidos entre os dois, e assim eles se tornaram grandes amigos. O investigador apreciava e divertia-se com o humor um tanto quanto ácido de King, que era famoso por sua capacidade incrível de resolver casos, mas também pela inabilidade latente de convívio em sociedade. Desta vez, porém, o nervosismo tomou conta de si e Kyle mal conseguia falar sem atropelar as palavras. – É sério, Ollie. Temos um caso, e é dos quentes. Melhor você se vestir e vir logo pra cá. Não posso explicar direito por telefone. – Santo Deus, Woodstock! É Natal. Além disso, você não ia à festa na mansão daquela figurona da moda, dona de uma agência internacional de modelos? Alguma coisa parecida com Osbourne ou Morrison. Enfim, uma dessas estrelas do rock. Sem ofensas, amigo.**

** As referências são a Ozzy Osbourne e Jim Morrison, ex-vocalistas das bandas de rock Black Sabbath e The Doors, respectivamente. Quanto ao personagem Kyle Woodstock, seu sobrenome é igual ao nome do famoso festival de rock realizado numa fazenda em Bethel, no estado de Nova York (Estados Unidos), entre 15 e 17 de agosto de 1969, o Woodstock Music & Art Fair. (N.A.)

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– Muito engraçado. Sim, estou na casa de Florence Osbourne. E preciso que você pare de resmungar e venha imediatamente. – Bela tentativa, Woody. – Era assim que King chamava carinhosamente o amigo. – Mas só pode estar bêbado se acha que vou sair de casa para me juntar a essa corja de almofadinhas enfadonhos. Volte para suas taças de champanhe e me deixe... – Cale a boca e me ouça! Não estou brincando e não estou bêbado. Assassinato, Oliver! Minha anfitriã está morta... e eu encontrei o corpo.

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