O segredo de Water Castle

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Maurício Chaim

O SEGREDO DE WATER CASTLE

TALENTOS DA LITERATURA BRASILEIRA

São Paulo, 2014

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Copyright © 2014 by Maurício Chaim Coordenação Editorial Letícia Teófilo Diagramação Luís Pereira Foto de Capa © alexbutscom | Fotolia.com Capa Thiago Sousa | all4type.com.br Preparação Vânia Valente Revisão Giacomo Leone Novo Século Texto adequado às normas do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (Decreto Legislativo nº 54, de 1995)

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Chaim, Maurício O segredo de Water Castle / Maurício Chaim. -- Barueri, SP : Novo Século Editora, 2014. -- (Talentos da literatura brasileira) 1. Ficção brasileira I. Título. II. Série. 14-12351 CDD-869.93 Índices para catálogo sistemático: 1. Ficção : Literatura brasileira 869.93

2014 IMPRESSO NO BRASIL PRINTED IN BRAZIL DIREITOS CEDIDOS PARA ESTA EDIÇÃO À NOVO SÉCULO EDITORA LTDA. Alameda Araguaia, 2190 – 11º andar – CJ 1111 CEP 06455‑­000 – Barueri – SP Tel.: (11) 3699‑­7107 – Fax (11) 3699‑­7323 www.novoseculo.com.br atendimento@novoseculo.com.br

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Dedico esta obra a todas as pessoas que me incentivaram e, principalmente, aos meus filhos Giovana, Melina, Murilo e minha mulher Alessandra. Que esta obra sirva como exem‑ plo de que, com dedicação, podemos alcançar tudo aquilo que sonhamos.

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Agradeço a todos aqueles que de alguma forma me apoiaram e me incentivaram: amigos, parentes e patrocinadores. Mas agradeço principalmente a meus pais pelo ensinamento de uma vida inteira; e à minha família, minha mulher e meus filhos que são e serão sempre a base e o sentido da minha existência.

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1 A VIAGEM

Vamos, Mariana, se apresse senão perderemos o voo – gritou Fernanda, da sala. – Já estou quase pronta, mãe – respondeu Mariana. – Calma, Fernanda, temos tempo suficiente, o avião só sairá às onze da noite e ainda são duas da tarde – comentei, tentando amenizar a situação, mas foi em vão. – Pra você tudo tá sempre tranquilo né, Ico… – Ico era meu apelido e como todos me chamavam. Muitas vezes me esquecia de que me chamava Frederico. Durante dezessete anos de casados, várias férias, inúme‑ ras viagens, já deveria estar acostumado, mas Fernanda, como sempre, ficava superestressada, checando se não tínhamos es‑

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quecido nada, gritando com as crianças que já deveriam estar prontas e que deveriam ter começado a se arrumar na hora marcada. Nunca desistia de tentar fazer as coisas serem perfei‑ tas, mas isso dificilmente acontecia. Confesso que, algumas vezes, me dava vontade de de‑ sistir das viagens, tamanha a confusão para sair de casa. No fim, sabia que tudo daria certo. O lado bom da história era que o estresse passava rápido. Era só aguardar um pouco e logo aquele sorriso lindo vinha à tona, com aqueles olhos verdes arredondados, brilhando como duas esmeraldas, ca‑ belos castanho-claros, com algumas luzes que faziam dela uma mulher de bela aparência, para mim, a mais bela de to‑ das. A sua personalidade era muito forte, sempre querendo que tudo e todos se enquadrassem no perfeito. Depois de vários anos, eu já sabia como equilibrar e apaziguar esses momentos, ora conversando, ora me calando, aguardando o tão esperado equilíbrio, que me fazia transbordar de tama‑ nha felicidade. Fernanda era professora de Artes Plásticas em uma escola pública, onde lecionava no período da manhã. No período da tarde trabalhava praticamente como motorista das crianças, levando e buscando em várias atividades, como aulas de inglês, tênis, artes marciais etc. Ela se esmerava para que a formação das crianças se estendesse não só ao que elas queriam e bus‑ cavam, mas também no que achava que era preciso e deveria ser seguido. Mariana, dos três filhos, era sempre a mais enrolada e sempre a última a estar pronta. Talvez, por causa da idade, quatorze anos. Nunca sabia que roupa vestir, que sapato usar, que penteado fazer. Pedia opinião a todos, mas dificilmente

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aceitava alguma sugestão. Fisicamente, era uma cópia perfeita da mãe, o mesmo tom de verde nos olhos, os mesmos traços, não tinha como falar que não era filha de Fernanda. Mariana foi muito esperada, a primeira filha, a alegria de poder ver o resultado de nosso amor transformar­‑se em uma prova viva. Ela estudava em uma cidade vizinha à nossa, a 23 quilôme‑ tros e fazia o trajeto todo dia em um ônibus escolar. Saía toda manhã às seis e meia e retornava por volta das duas horas da tarde. Almoçava, descansava alguns minutos e já sentava à sua escrivaninha para estudar, às vezes, até as sete, oito, ou nove horas da noite, se necessário, parando apenas para comer ou para ir às aulas de inglês. Também treinava futsal e não perdia os treinos por nada neste mundo. Acho que se o treinador tivesse marcado algum jogo durante as férias, ela desistiria de nossa viagem para ficar e jogar. Era a goleira do time da cidade, sendo goleira titular do time das meninas no Sub­‑15 (até quinze anos), Sub­‑18 (até 18 anos) e reserva do Sub­‑21 (até 21 anos). Era impressionante uma menina gostar tanto de estudar e de esporte, o que, para nós, era uma qualidade e tanto, bem diferente de sua irmã mais nova. Melissa, com onze anos, quase doze, ao contrário de Ma‑ riana, sempre sabia que roupa vestir, qual sapato combinava, que acessório usar, raramente pedia opinião e, além de não pedir, ainda me criticava: – Pai, essa roupa está ridícula, não está nada combinando – dizia ela, deixando­‑me em dúvida e fazendo com que, na maioria das vezes, eu trocasse de roupa, pois sempre alguma coisa tinha que combinar, e eu sempre fui meio desleixado para roupas.

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Maquiagem então, nem se fale. Enquanto a gente bri‑ gava para Mariana passar um batom, tínhamos que segurar Melissa para não se maquiar toda. Seus olhos azuis-claros eram de chamar a atenção de todos, cabelos castanhos bem mais claros que os da irmã e da mãe, e bem ondulados. To‑ dos diziam que os seus traços puxaram para a minha família, apesar dos olhos azuis. Melissa também era estudiosa, não como Mariana, mas estudava o suficiente para também ter notas altas e, o tempo que lhe sobrava, em vez de esporte, gastava com as amigas, passeando pela praça da cidade. Sempre arrumada, enfeita‑ da e com tudo mais a que tinha direito de usar para ficar bonita, como se precisasse disso. Melissa tinha um charme próprio e qualquer roupa que colocasse, qualquer coisa que fizesse no cabelo, como um nó esquisito que ela dava (que só ela sabia fazer), ficava lindo. Resumindo, fazia o tipo “peruinha”. Mel, sempre com seu encanto, tinha meios de fazer prevalecer suas opiniões, criticando sempre nas horas certas, mas com razão na maioria das vezes. Desde peque‑ na, demorava a dormir, parecia até que não podia perder tempo querendo tudo ver e aproveitar. Até hoje, ela passa acordada enquanto dormimos, mas sempre espalhando a luz dos seus olhos em tudo, ora no mundo da lua, ora sob o comando. Apenas um ano mais novo que Melissa, vinha Gabriel. E como não poderia deixar de ser, totalmente diferente das meninas. Chegou com a incumbência de mudar nosso rit‑ mo, nossos valores, para melhor, é evidente. Ainda bebê, fez reviravoltas até com o avô médico, na busca e investigação do que o acometia, em um quadro instável de saúde. Foram idas

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e vindas em centros médicos e consultórios, até ter fechado o diagnóstico de uma “braba” coqueluche ou “tosse comprida”, mais popularmente conhecida. Após o susto, a calmaria vol‑ tou a reinar em nosso lar. Com seu sorriso largo e carinho‑ so, Gabriel parecia ter nascido com o propósito de espalhar equilíbrio, doçura e alegria. Era uma pessoa de bem com a vida, tudo estava bom para ele, exceto o fato de estudar. Era inteligente, tirava notas boas, não sei como, mas estudar que é bom, nada. Tinha uma paixão por animais, especialmente por cavalos e passava o dia assistindo ao Animal Planet. Seu quarto era totalmente decorado com pinturas, esculturas, fotos e pôs‑ teres de cavalos. Todos os fins de semana, nós dois íamos ao sítio. Quando não íamos para passar o fim de semana, íamos passar a tarde, cuidar dos nossos cavalos, andar, lavar, curar, enfim, passávamos o dia cuidando dos animais. Com cabelos castanho-escuros e olhos bem castanhos, era de uma simpatia contagiante. Estava sempre pronto para ajudar, sempre compreensivo, sorrindo, de um gênio muito bom mesmo. Morávamos em uma pequena cidade no interior do estado. Uma cidade de 45 mil habitantes que parou no tempo, mas que tinha uma qualidade de vida inigualável. Apesar de morarmos em Pinhal, eu passava a maioria dos dias da semana longe de casa, a trabalho, dando consultoria em gestão de projetos para clientes variados, incluindo clientes internacionais que suporta‑ va remotamente. – Tudo pronto, Fer? Posso começar a carregar o carro? – perguntei para Fernanda, pois sempre gostava de saber quan‑ tas e quais seriam as malas a serem carregadas, para melhor

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acomodar e fazer com que todas coubessem no porta­‑malas do carro. – Mariana, ligue para a vó Má e pergunte se ela já está pronta. – Dona Maria ou vó Má, como carinhosamente a chamávamos era a mãe de Fernanda e também ia embarcar nesta nossa aventura de trinta dias. Sempre quisera conhecer a Europa, e essa era uma oportunidade que não poderia perder. Dona Maria morava do outro lado da rua com meu sogro e meu cunhado Fabrício, como todos os chamavam. Quando Mariana ligou, ela já estava na porta de casa com sua bagagem. Vó Má era uma jovem senhora de cinquenta e oito anos, com uma vitalidade e um bom humor de dar gosto. Sempre que possível ela nos acompanhava em nossas viagens, já que seu marido era mais caseiro e reservado. – E aí, “cumpanheiro”? Vai mudar pra Europa ou vai ficar só um mês mesmo? – brincou Fabrício quando viu todas as malas prontas para serem carregadas. “Cumpanheiro” era o modo como chamávamos um ao outro. Apesar de dizerem várias coisas dos cunhados, este era realmente um companheiro, sempre prestativo e hoje um dos incumbidos de nos levar até o aeroporto. – Já liguei para o Rodrigo, e ele já tá vindo – disse Fabrício. Rodrigo, outro “companheiro”, primo e afilhado, condu‑ ziria o outro carro, pois para levar todos nós, seis ao total, com sete malas, quase precisamos de um terceiro carro. – Ótimo! Vamos começar a carregar então, assim a gente já vai adiantando – falei para o Fabrício. Seguindo minhas orientações, começamos a carregar os carros e após um põe e tira, um vira e desvira de malas, con‑ seguimos ajustar todas.

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Como sempre, parece que calcularam a quantidade e ta‑ manho certo da bagagem, porque se tivesse mais uma caixa de sapato não caberia. Assim que fechei o porta­ ‑malas, minha mãe chegou e encostou seu carro atrás do meu. Viera se despedir. Vó I, como meus filhos a chamavam, abreviação de Iara, chegou correndo e com pressa, pois tudo o que fazia era sempre com pressa. Costumávamos dizer que ela deve ter sido médica em outra encarnação. – Graças a Deus cheguei a tempo de me despedir, estava com medo de que vocês já tivessem partido – comentou mamãe. Mamãe era viúva. Desde que papai faleceu ela morava sozinha e ficava revezando um tempo na casa de cada filho, exceto na minha, pelo fato de morarmos na mesma cidade. – Tome, não é muito, mas dá para comprar uma lembran‑ cinha – em todas as viagens que fazíamos, ela gostava de dar um dinheirinho para cada um de nós e não adiantava recu‑ sar, pois era causa perdida. Para mim, a “lembrancinha” vinha sempre acompanhada das recomendações: cuidado com as crianças, não as perca de vista etc., etc., etc. Vó I, apesar dos seus setenta e cinco anos, tinha uma saú‑ de de ferro, sempre ajudando a todos, de todas as maneiras possíveis, fosse financeiramente ou morando temporariamen‑ te com meus irmãos para ajudá­‑los nos problemas dos filhos, netos, cunhados, etc. Apesar de insistir para que nos acompa‑ nhasse, sempre dizia que alguém estava precisando dela e não podia se afastar no momento. Carro carregado, agora era só se despedir do avô. Depois de uns vinte minutos de despedida, finalmente estávamos to‑

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dos nos carros, dando início às nossas maiores férias e mais inusitada aventura que, mal sabíamos, mudaria nossas vidas. Pinhal ficava a duas horas e meia de São Paulo, onde pe‑ garíamos o avião. – São três horas, devemos chegar entre cinco e meia e seis horas da tarde, dá tempo de jantar e fazer o check­‑in tranquilo – comentei com o pessoal, com a intenção de acalmar Fernanda, para que o estresse não voltasse. Chegamos a São Paulo ainda de dia, o céu continuava azul, e o sol estava prestes a se esconder, quando começamos a descarregar as malas e nos dirigir para o balcão de check­‑in. Parecia um sonho, mas finalmente o momento de nos‑ sa tão planejada viagem havia chegado e estávamos prestes a embarcar no que deveria ser a maior aventura de nossas vidas. Pela primeira vez na minha vida, reservei trinta dias con‑ secutivos de férias para poder realizar esse sonho. Iríamos passar trinta dias viajando por toda a Europa, conhecendo cidades e pontos históricos, além de uma rota de castelos medievais, desejo este da Fernanda. Fer, como eu a chamava, sempre teve um elo com castelos, rainhas, templos medievais, filmes de guerra antiga e sempre me dizia que devia ter sido uma rainha em outra encarnação, devia ter morado em um castelo, e daí então essa paixão por castelos e a inclusão des‑ tes em nosso roteiro. Foram vários meses de preparação para esta viagem, mui‑ to estudo, planejamento, reservas, compras de pacotes turísti‑ cos. Tudo minuciosamente planejado, dia a dia. – Check­‑in feito, agora podemos relaxar, comer alguma coisa e esperar pelo voo – falei, aliviado, para o pessoal.

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Sempre que ia viajar ficava um pouco tenso em perder a hora ou que algum imprevisto acontecesse, mas depois que fazia o check­‑in, aí, sim, podia relaxar e começar a curtir. Eram sete da noite, faltavam apenas três horas para de‑ colarmos. Fomos todos comer uma pizza e já estávamos em clima de férias, o estresse da saída tinha ficado para trás, graças a Deus. Começaram a atormentar o Gabriel, dizendo como era voar de avião, mas, por mais que todos contassem, ele não conseguia se conter. Tanto ele como a Mel nunca tinham via‑ jado de avião. Os seus olhos brilhavam e mal podiam conter a euforia que sentiam, parecendo que iam explodir. Não para‑ vam de falar um minuto. Por um momento viajei sozinho na alegria das crianças e nem sei onde fui parar, até que fui acordado com um beijo. – Acorda – disse Fernanda. Acordei e trocamos outro beijo ainda mais apaixonado, como se fôssemos dois namorados de dezoito anos. Quase sempre quando isso acontecia, percebia as pessoas ao redor nos olharem, acho que deviam pensar que tínhamos acabado de nos conhecer. Sentia que tinham um pouco de inveja. Após muita conversa, boas risadas e um bom chope, estava na hora de nos despedirmos de nossos companheiros, Rodri‑ go e Fabrício, e literalmente, embarcarmos na nossa aventura. Os dois pareciam estar com mais pressa que a gente, e com certeza eu já sabia o motivo, iriam sair direto do aeroporto para alguma balada paulistana, pois aqueles dois não eram de perder viagem. – Pai, como vamos subir no avião? Tem alguma escada? – todos riram do Gabriel que nunca tinha pensado neste de‑

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talhe. A inocência e a curiosidade do Gabriel e da Melissa trouxeram uma desconcentração gostosa. Expliquei como funcionava, e ele achou “da hora”, como costumava dizer. Cada fase do embarque já era uma aventura. Mariana não perdia a oportunidade de sacanear com os ir‑ mãos e daí era só risada. Para ela, isso não era novidade, pois há um ano ela enfrentou uma viagem sozinha aos Estados Uni‑ dos para me encontrar, onde eu estava trabalhando. O incrível é que a mesma adolescente que se perde com o que vestir ou usar é a mesma que embarcou sozinha e confiante para uma viagem onde muitos adultos não conseguiriam fazer sozinhos. Quando adentramos a área de embarque e fomos para a es‑ teira de revista, Mariana disse que se a luz vermelha piscasse, os dois seriam presos na hora. Imagine a tensão dos dois, eu e Fer‑ nanda entrávamos no clima da brincadeira e deixávamos rolar. Tudo o que Mariana falava eles vinham perguntar se era verdade. A maior preocupação foi quando Mariana disse que se achassem que os dois estivessem levando drogas, eles teriam que ir para uma salinha, tirar toda a roupa para serem revistados. Felizmente, todos tiveram luz verde e lá fomos nós para o embarque. Nenhum detalhe do avião passava despercebido para Mel e Gabriel. Já no avião, a briga começou para decidir quem sentaria na janela, e, como sempre, o par ou ímpar mais uma vez nos ajudou. Propusemos uma vez cada, e quem ganhasse no par ou ímpar começaria. Mariana, por sua vez, como já tinha viajado para os Esta‑ dos Unidos, não se importou, pois, para ela, já não era novida‑ de. Sua função foi explicar todos os detalhes, botões e funções encontradas nas poltronas para os dois que testavam tudo, en‑

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quanto o avião não decolava. Enquanto eles se entretinham, eu e Fer começamos a rever nosso plano para o mês. Durante os trinta dias que ficaríamos fora viajando, nossa ideia era conhecer todos os pontos turísticos mais famosos da Europa, visitar Roma, Portugal, França, Espanha e tudo o mais a que tínhamos direito e, é lógico, vários castelos, como prometido à Fernanda. Na Europa existiam inúmeros castelos, alguns em ruínas, outros recuperados para exploração turística, outros que vira‑ ram museu, enfim, castelo para ver é o que não iria faltar. Começaríamos pela Espanha, uma vez que desembarca‑ ríamos em Madri, onde já tínhamos um hotel reservado para dois dias. Levava comigo em meu laptop uma lista de contatos enorme, que havia feito com vários hotéis nos lugares onde planejávamos passar. Alguns dias estavam livres; como não per‑ cebi nenhum problema com vagas, então deixei as reservas em aberto, assim poderíamos ficar o tempo que quiséssemos ou mudar de rota, ou ainda incluir novas rotas no nosso plano, conforme nosso desejo. A ideia era não ter compromisso. Somente na Espanha, havia vários castelos. Nossa ideia era visitar no máximo meia dúzia. Entre eles o castelo de La Mota, em Valladolid, e o castelo de Monterrei, em Galiza, ambos na Espanha; o castelo de Guimarães localizado em Braga, Portu‑ gal; o castelo de La Brède, na França; e, dependendo do roteiro, mais um ou outro que aparecesse. – Pai, tá andando, pai! O avião começou a andar! – gritou Gabriel, que não se continha no assento. A euforia se misturava a um pouco de medo e mais uma pitada de adrenalina, resultando em uma sensação única. Os dois, Gabriel e Mel, não tiravam os olhos da janela.

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Quando o avião levantou voo, só se escutava os dois falando: – Olha Mel, olha o tamanho dos carros!! – Olha aquelas casas Gabriel, olha quantas luzinhas… E assim foi, ora fuçando nos botões, escolhendo uma mú‑ sica para ouvir com o fone de ouvido, ora procurando um canal para assistirem a alguma coisa, e ora olhando pela janela, quando avistavam alguma cidadezinha lá embaixo. Às primeiras cidades que avistavam, me perguntavam quais eram, mas, depois de duas ou três que respondi que não tinha mais como saber, eles desistiram de perguntar. A noite foi longa, mas tudo era novo para as crianças: os lanches, o jantar, o banheiro, as turbulências etc. Fernanda, como de costume, logo caiu no sono. Eu e Mariana fomos dormir um pouco mais tarde, depois de assistir a um filme. Gabriel e Melissa disseram que ficaram acordados até alta madrugada. Acordamos, ou melhor, fomos acordados pelos dois para nos mostrarem o nascer do sol. Um cenário maravilhoso visto das nuvens. Depois de várias fotos, fomos interrompidos pela movi‑ mentação das aeromoças servindo o café da manhã. Já eram sete da manhã e a previsão de chegada era para às nove, horário de Brasília - DF, mas, ajustando os relógios com um fuso de cinco horas, chegaríamos às duas da tarde, horário de Madri. Finalmente, chegamos a Madri. Após pegarmos nossas malas e alugarmos uma minivan para caber toda a família, nos dirigimos direto ao hotel, pois ainda faltavam algumas horas para o dia se pôr, e queríamos aproveitar cada segundo da viagem. A ideia era descansar um pouco no hotel e depois dar uma volta para conhecer algo de Madri.

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