Paradoxo.indd 2
10/12/2014 17:12:16
Vanessa Aguiare
PARADOXO
TALENTOS DA LITERATURA BRASILEIRA
S達o Paulo, 2014
Paradoxo.indd 3
10/12/2014 17:12:16
Copyright © 2014 by Vanessa Aguiare Coordenação Editorial Letícia Teófilo Diagramação Luís Pereira Capa Elisa Medeiros Preparação Fabrícia Romaniv Revisão Luiz Alberto Galdini Novo Século Texto adequado às normas do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (Decreto Legislativo nº 54, de 1995)
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Aguiare, Vanessa Paradoxo / Vanessa Aguiare. -- Barueri, SP : Novo Século Editora, 2014. -- ( Talentos da Literatura Brasileira) 1. Ficção brasileira I. Título. 14-12285 CDD-869.93 Índices para catálogo sistemático: 1. Ficção : Literatura brasileira 869.93
2014 IMPRESSO NO BRASIL PRINTED IN BRAZIL DIREITOS CEDIDOS PARA ESTA EDIÇÃO À NOVO SÉCULO EDITORA LTDA. Alameda Araguaia, 2190 – 11º andar – CJ 1111 CEP 06455‑000 – Barueri – SP Tel. (11) 3699‑7107 – Fax (11) 3699‑7323 www.novoseculo.com.br atendimento@novoseculo.com.br
Paradoxo.indd 4
10/12/2014 17:12:17
Para minhas filhas, Ana Julia e Alicia, por me ensinarem o que nos torna humanos.
Paradoxo.indd 5
10/12/2014 17:12:17
Paradoxo.indd 6
10/12/2014 17:12:17
Agradecimentos
Q
uando Paradoxo era apenas uma ideia, um sonho de continuar a carreira de escritora, algumas pes‑ soas foram fundamentais para que ele se tornasse um projeto cada dia mais real. Pessoas que o leram dia a dia, pequenos parágrafos, capítulos inteiros reescritos e se envolveram com as personagens quase quanto eu, ou até mesmo mais. Nada disso seria possível sem a ajuda incomparável da minha melhor crítica literária, minha irmã, Valeska Aguiare Santana, que está se preparando para uma nova etapa em sua vida! E, mesmo assim, jamais deixou de alimentar os meus sonhos! Quando se tem uma amiga psicóloga, os fatos da vida sempre têm dois lados! Então, jamais poderia deixar de agradecer à minha companheira de sonhos, Madali Felix, por me mostrar que sempre podemos ser melhores, sem nunca deixar que o fantasma do desânimo montasse acam‑ pamento na minha cabeça, e acreditem, ele existe!
Paradoxo.indd 7
10/12/2014 17:12:17
Sueli Bispo. Minha mais empolgada fã, e amiga, por acreditar no sucesso, mesmo antes do livro sair do papel! Por acreditar que eu seria capaz e por me incentivar a con‑ tinuar sempre. Agradeço ao meu pai, Gleyson Schauer Aguiare, e ao meu cunhado, Daniel Santana, por fazerem sempre o que estava ao seu alcance, e mais, para me ajudar a concluir esta obra, e todas as outras que virão depois de Paradoxo. Dentro da minha vida e do meu coração, existe um lu‑ garzinho especial à minha amada tia Glaucia Regina Aguia‑ re, que junto com a minha saudosa mãe, Maria Emilia Schauer Aguiare, foi o exemplo de mulher que eu sempre me espelhei! Batalhadoras, competentes, independentes! É exatamente essa a ideia que eu tento todos os dias passar às minhas filhas, e espero poder ensiná-las exatamente como vocês me ensinaram. Sempre deixo meu marido por último nos agradeci‑ mentos. Não porque eu planeje isso, mas porque é impos‑ sível agradecê-lo apenas com palavras! Mais que um casal, nós sempre fomos companheiros, parceiros, complemento um do outro! Então, Alexandre Ordones Lopes, este livro também é seu! Nós não temos sonhos separados e a vitória de um é o alicerce do outro! Obrigada, meu bem, por ser essa pessoa tão espetacular que é para mim e para as meni‑ nas! Te amo.
Paradoxo.indd 8
10/12/2014 17:12:17
Paradoxo.indd 12
10/12/2014 17:12:18
Significado de Humanidade s.f. Natureza humana: as fraquezas da humanidade. O conjunto de todos os homens: benfeitor da humanidade. Bondade, benevolĂŞncia: tratar a todos com humanidade.
Paradoxo.indd 13
10/12/2014 17:12:18
“A explosiva descoberta ainda me atordoa. Estou cego e vejo. Arranco os olhos e vejo.� (Carlos Drummond de Andrade)
Paradoxo.indd 14
10/12/2014 17:12:18
Prólogo 2078. Dia atual.
E
u já havia sido interrogada antes. Pelos meus pais, por Eamus, por Lionel... e em todas as vezes eu havia me saído bem, porque sempre tive um autocontrole excepcional, apesar de todas as minhas outras falhas... Só que, dessa vez, nem mesmo o aço gelado da cadeira que me mantinha prisioneira conseguiu diminuir a intensidade que meu sangue fervia por dentro. – Cidade? – perguntou ela sem qualquer emoção. Nós estávamos separadas por um vidro blindado. Não havia imaginado que ia ser assim. – Paris... De antes – respondi, áspera, lembrando-me da última viagem que fiz antes do assassinato de meus pais. Áspera, mas não triste. Naquele momento, tristeza era um luxo que eu não podia me dar. – Clima? – continuou ela, sem parecer se importar com o meu tom. Seus olhos estavam cravados nos meus.
15
Paradoxo.indd 15
10/12/2014 17:12:18
– Quente. Tropical – cutuquei mais uma vez. Que im‑ portância tinha para ela saber qual era o meu clima preferi‑ do? Trinquei os dentes. – Amor? – Ilusão. – Mordi os lábios, esperando que ela não percebesse o quanto eu estava louca de raiva, e falhei. É claro que Sammy percebeu. Eu não estava sendo in‑ terrogada por qualquer um, mas por ela. A interface huma‑ na da smarnet era uma mulher de cabelos prateados, nariz fino e olhos inexpressivos. Mas não para mim. Do meu ponto de vista, Sammy estava tão viva quanto eu, ou você. Enquanto ela me interrogava, soberana e inatingível, eu havia percebido emoções perturbadoras em seu rosto, no qual não deveria existir nada. Imaginei se a Worldea‑ vor Corporation havia contado com isso quando criou a smarnet, há quarenta e três anos, para substituir a nossa obsoleta – e não pensante – internet. Obviamente que não. Tudo que importava era colocar a primeira rede de bioin‑ teligência artificial no mercado. Sem cabos de fibra óptica atravessando o oceano, Sammy sabia quais dados liberar, armazenar, além de interagir com o usuário. Ela apertou os olhos delicadamente, triunfantes. Se pudesse apostar, diria que ela estava se deliciando com os meus pensamentos. O sangue preencheu cada capilar do meu rosto, numa reação boçal e infantil de raiva. No entanto, até que ponto a culpa era dela? Foi o próprio homem quem tornou a fera impenetrável, ela‑ borando o maior firewall já visto em toda a evolução da internet – um programa conhecido como The Guardians.
16
Paradoxo.indd 16
10/12/2014 17:12:18
Poderíamos odiar apenas a criatura, sem levar em conta seu criador? Naquele momento, eu fraquejei. Não por medo, mas por ódio da minha própria raça. De mim mesma, da Worldeavor e de Lionel. A cabeça por trás da companhia! Sammy caminhou lentamente até bem próximo ao vidro e meneou a cabeça em sua costumeira posição de análise. – O que a Guerra de Occam significa para você? – sibi‑ lou ela em minha direção. Eu apertei as mãos até cravar as unhas na pele. Foi o má‑ ximo que consegui me mexer com os braços presos à cadeira. Eu tinha apenas dez anos quando a Guerra Mundial de Occam explodiu, em 2070. Tal qual o princípio da navalha, quando os homens perceberam que a criatura se tornava cada dia mais onipresente, eles resolveram tomar a decisão mais fácil, isto é, eliminá-la. Como resultado, milhões de vidas foram perdidas, assim como a dos meus pais, e a Ter‑ ra transformou-se num manicômio opressor do Red Dawn – o gigantesco exército de Sammy –, espalhando o slogan mais odiado de todos os tempos: O futuro começou. – Occam?! – ela me torturou, aproveitando cada minuto. Eu não consegui responder, porque estava cega e surda. A única coisa que senti foram os meus batimentos cardía‑ cos, como explosões chacoalhando meu corpo. De repente, ao meu redor tudo enegreceu. Quando finalmente controlei minha cabeça e firmei a visão, dei de cara com seus olhos rente aos meus. Sammy havia passado pelo vidro que nos separava e estava parada na minha frente, curvada, para que ficássemos na mesma altura.
17
Paradoxo.indd 17
10/12/2014 17:12:18
– Você não tem medo de mim? – Aquilo, definitivamen‑ te, não era uma pergunta, e meus lábios tremeram involun‑ tariamente. São tempos difíceis para a raça humana agora, oito anos depois da guerra. Tempos de miséria, medo e escravidão. Era óbvio que ela esperava medir um grau acentuado de pa‑ vor em mim, como esperaria de qualquer outro ser humano, pacificador ou sobrevivente. Mas eu não sentia medo. – O que te permite não me temer? – Seu olhar era in‑ tenso e praticamente impossível de desviar. – Você não teme a morte? – Não – respondi, e não houve mentira nessa resposta. – Nem o sofrimento de quem você ama? – questionou Sammy. Eu havia sido instruída que não mentisse diretamente, ou ela perceberia. – Aonde você quer chegar? – tentei desorientar meu co‑ ração, que começava a acelerar, perguntando-me quando ela ia finalmente parar de me encarar. O que pareceu funcionar. Sammy ergueu as sobrancelhas, parecendo incrédula que eu estivesse rebatendo uma colocação sua. – Você não é uma pacificadora, obviamente – afirmou ela, devagar. – Eu jamais seria um daqueles ratos puxa-sacos de latas – eu a desafiei. – Jamais seria uma pacificadora. Sammy repuxou o canto da boca biossintética e aper‑ tou os olhos, transformando-os em algo bastante parecidos com os de uma cobra. – Tampouco é uma sobrevivente – admitiu ela.
18
Paradoxo.indd 18
10/12/2014 17:12:18
Eu dei de ombros, tentando fingir desprezo. Diferente dos pacificadores humanos que haviam trocado de lado e agora trabalhavam com o Red Dawn, os sobreviventes vi‑ viam na mais pura miséria e, com certeza, já teriam morri‑ do de um ataque cardíaco durante aquele bate-papo infor‑ mal com a mente mais inteligente da face da Terra. Eu não sou uma pacificadora. Por muito tempo achei que fosse uma sobrevivente. – O que é você? – perguntou ela, no que eu juraria ser uma expressão de raiva, irritação. Eu não respondi. Mas eu sabia exatamente o que era. Eu era o gato.
19
Paradoxo.indd 19
10/12/2014 17:12:18