Pluvia
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Erica Azevedo
Pluvia Entre segredos & esperança
coleção novos talentos da literatura brasileira
São Paulo 2013
Copyright © 2013 by Erica Azevedo
Coordenação Editorial Diagramação Capa Preparação Revisão Dados
Letícia Teófilo Célia Rosa Monalisa Morato Beatriz Chagas Daniela Georgeto
Internacionais de Catalogação na Publicação (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
(CIP)
Azevedo, Erica Pluvia / Erica Azevedo. -- Barueri, SP : Novo Século Editora, 2013. -- (Coleção novos talentos da literatura brasileira)
1. Ficção brasileira I. Título. II. Série.
13-04283
CDD-869.93 Índices para catálogo sistemático: 1. Ficção : Literatura brasileira
869.93
2013 Impresso no BrasiL Printed in brazil Direitos cedidos para esta edição à Novo Século Editora Ltda. CEA – Centro Empresarial Araguaia II Alameda Araguaia, 2190 11º Andar Bloco A – Conjunto 1111 CEP 06455-000 – Alphaville – SP Tel. (11) 2321-5080 – Fax (11) 3699-7323 www.novoseculo.com.br atendimento@novoseculo.com.br
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O
Capítulo 01
estranho da estrada
O céu estava negro, como se as nuvens estivessem prestes a derramar uma onda de fúria por todos os lugares. Raios iluminavam suas superfícies e os trovões, com seus estrondosos rugidos, contribuíam para a atmosfera amedrontadora. O vento era violento, batendo contra as árvores como se estivesse prestes a arrancá-las pelas raízes. Em meio a esse tormento, um caminhão corria pela estreita estrada de paralelepípedos em busca de um lugar seguro. Uma doce melodia sertaneja preenchia toda a cabine. Nela, dois homens observavam a estrada pelos limpadores de para-brisa que corriam frenéticos, de um lado para o outro, abrindo caminho em meio à chuva torrencial que dificultava a visão do motorista. – É como se o mundo estivesse acabando – comentou um homem barbudo e de pele morena, sentado no banco do passageiro no instante em que um raio iluminou o céu. – Temos que sair logo daqui – disse o motorista apreensivo mudando a estação de rádio. – E parece que o tempo não vai mudar em toda Santa Catarina – dizia o locutor. – Já somam quatro dias que um temporal aterroriza os moradores de diversas cidades. Foram constatadas várias en5
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chentes e um grande número de desaparecidos, o que tem mobilizado as autoridades locais. A defesa civil pediu aos moradores que não deixem suas residências e que evitem as estradas. Aqui foi Leandro Rodrigues e as notícias da hora na sua Rádio Roteiro. Um suave som de viola ecoou pela cabine assim que o locutor terminou com o informe. – Mas que diabos é aquilo? – indagou o motorista tentando ver através do para-brisa embaçado. Uma luz azul brilhava no meio da estrada poucos metros à frente e o caminhão corria em sua direção. Quanto mais eles se aproximavam, mais ela ganhava intensidade, batendo contra seus olhos, quase os cegando. – Oh, Meu Deus... Pare! Pare agora! – gritou o passageiro repentinamente, alertando o motorista que tentava virar o volante para desviar do que estava à frente. Parado no meio da estrada, um homem encapuzado parecia petrificado no meio de todo aquele pandemônio. Sua capa prateada arrastava-se no chão e o capuz cobria seu rosto. Uma confusão se instaurou enquanto os dois homens tentavam frear e desviar o caminhão do estranho que parecia alheio ao que estava por vir. As rodas giraram no momento em que o impacto era iminente, fazendo o veículo ir para o acostamento. Um grande baque inundou o ar no mesmo instante em que a frente do caminhão era amassada contra uma árvore. – João? – chamou o passageiro acordando entre as ferragens. Sua cabeça doía e ele podia sentir que algo havia perfurado sua perna, uma dor terrível se espalhava por todo o seu corpo, denunciando os pontos afetados. Ele correu o olhar ao redor em busca do companheiro. 6
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Seus olhos se arregalaram ao vê-lo com a cabeça ensanguentada contra o capô e seu rosto, onde uma expressão de terror figurava, desfigurado pelos estilhaços de vidro. – Ai... – ele gemeu. – João, você está bem? O passageiro sentiu algo se aproximar e, com muito esforço, virou a cabeça para a própria janela de onde agora o homem encapuzado o observava. – Me... ajude – ele suplicou. – Eu... sinto... muita... dor. Ele não conseguia ver a expressão no rosto do homem que continuava misterioso sob o capuz. – Por... favor – ele disse com esforço. – Ajude-nos. O estranho esticou o braço por entre a janela do passageiro, levando-o em direção ao homem que suplicava. – O... que... você... vai... fazer? – o passageiro perguntou surpreso com a atitude do estranho. – Eu vou ajudá-lo – ele respondeu em uma voz doce. – Não se preocupe, eu vou ajudá-lo. Acabarei com a sua dor. – Obrigado – agradeceu se contraindo quando a mão do estranho tocou seu rosto. Mas ele não respondeu. Naquele momento, um emaranhado de linhas saía de sua mão indo ao encontro do rosto do passageiro, que ofegava assustado. Quando elas terminaram de se enrolar, o estranho lentamente contraiu as mãos, o que as fez se contorcerem rasgando os lugares por onde estavam. Um grito assustador invadiu todo o espaço, sendo abafado apenas pelo som de um trovão ao longe. Ninguém foi testemunha, ninguém nunca soube. Enquanto o desespero do passageiro enchia o ar, a centenas de quilômetros dali o grito de um bebê invadia uma sala de parto. 7
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