terapia vol. 1
rob gordon marina kurcis mario cau
S達o Paulo, 2013
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Copyright 2013
©
by Mario Cau/ Rob Gordon/ Marina Kurcis
EDITOR-ASSISTENTE Daniel Lameira COORDENAÇÃO EDITORIAL Nair Ferraz PROJETO EDITORIAL Mario Cau ROTEIRO Rob Gordon Marina Kurcis Mario Cau ARTE Mario Cau LETRAS Felipe França e Mario Cau PROJETO GRÁFICO Maria Paula Ferraz Dias REVISÃO Equipe Novo Século
Esse livro foi produzido com recursos obtidos por financiamento coletivo, no site Catarse, entre agosto e setembro de 2013. www.catarse.me
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Gordon, Rob Terapia, vol. 1 / Rob Gordon, Marina Kurcis, Mario Cau. – Barueri, SP: Novo Século Editora, 2013. 1. Histórias em quadrinhos I. Kurcis, Marina. II. Cau, Mario. III. Título. 13-11895
CDD-741.5 Índices para catálogo sistemático: 1. Histórias em Quadrinhos 741.5
2013 IMPRESSO NO BRASIL PRINTED IN BRAZIL DIREITOS CEDIDOS PARA ESTA EDIÇÃO À NOVO SÉCULO EDITORA CEA-CENTRO EMPRESARIAL ARAGUAIA II Alameda Araguaia, 2190 - 11o andar Bloco A - Conjunto 1111 CEP 06455-000 www.novoseculo.com.br atendimento@novoseculo.com.br
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Intro “i couldn’t sleep last night, you know the blues is walking ‘round my bed…”1 1
Good Morning Blues - Leadbelly
Como um leitor alucinado de quadrinhos, sempre me emocionei com roteiros bem elaborados, daqueles em que você lê várias vezes a mesma história e consegue entendê-la de diversas formas diferentes. Como um músico e pesquisador do Blues, na primeira vez em que li Terapia, nem consegui curtir direito a história, pois a quantidade de citações de Blues que encontrei me surpreendeu imensamente. Cada citação de música, artista, capas de discos e livros transformam o livro em uma homenagem à toda a cultura do Blues, abraçando do mais óbvio até artistas desconhecidos. Na minha segunda leitura, consegui me distanciar da minha obsessão pelo Blues. Mais uma vez me surpreendi; não era um enredo, mas sim uma avalanche de sentimentos e sensações que eu acredito que todos nós temos em alguns momentos da vida, de um jeito ou de outro: uma certa sensação de que nós, como indivíduos, não sabemos direito como nos encaixar em nossa sociedade e, às vezes, nem mesmo em nossa família. As mudanças das técnicas de ilustração de página em página são como a oscilação dos sentimentos do personagem e o universo fantasioso dos quadrinhos se aproxima do nosso, onde nossa percepção é alterada pelos nossos sentimentos. Mario Cau demonstra essa versatilidade, sem perder sua personalidade e seu traço marcante. Porém, foi na terceira vez em que li que me defrontei com uma das minhas questões pessoais mais significativas: o que leva
um cara, em plenos anos 2000, a curtir uma música que data do início do século passado? O que tem de tão formidável neste tal de Blues que faz com que eu escute, toque, cante e me identifique com estas canções até hoje? No meu estudo das canções do Blues, aprendi que tudo se trata do povo que as escreveu: os negros norte-americanos. Esse povo que, na época, tinha uma vida ainda mais sofrida do que hoje, totalmente excluído da sociedade, cantava letras sobre seus sofrimentos e suas alegrias, a forma como viviam, como amavam e como sonhavam. Vejo o Blues como uma forma que os negros norte-americanos encontraram para gritar para o mundo sobre quem eles eram um grito afirmando sua identidade. Talvez seja a hora de gritarmos também: “More than a hundred years have passed Since it’s happened in the ol’ Dockery Farms But the old song called the Blues Is still making up my mind”2 Tradução: “Mais de cem anos se passaram Desde que aconteceu nas velhas fazendas Dockery Mas a velha canção chamada de Blues Continua fazendo a minha cabeça” 2 Dockery Farms – Paulo Gazela e Eduardo Rosa. Composição que homenageia a fazenda do interior do Mississipi de onde se tem registro das primeiras manifestações do Blues.
paulo gazela - Gaitista e vocalista, é reconhecido como o maior nome do Blues da região de Campinas. Com mais de 14 anos de experiência e pesquisa sobre o estilo, hoje encabeça três projetos: o quarteto Paulo Gazela Blues Band com a qual gravou o seu primeiro disco, o Dockery Duo e seu mais novo projeto, a Big Band Blues.
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se a alma passeia no blues, esconde-se na sombra. Mas o que dizer de um cara que mergulha em si mesmo em suas sessões de terapia, se encontrando, se perdendo e se encontrando novamente nos caminhos dos significados da existência? Em que lugar estará a vida que ele tanto procura? Se o blues é o banzo, a tristeza, a saudade e a melancolia, é também o fluxo da vida que insiste – apesar de todo blues – em se agitar em tormentas e fascínios que fluem através do tempo que passa. Se o mergulho nas sombras do inconsciente a princípio assusta a mente consciente com sua escuridão, faz retornar a um lugar que mesmo sendo o início de tudo é ainda desconhecido. O vazio em que o personagem principal se aproxima diversas vezes faz o leitor dessa instigante HQ encontrar seu próprio vazio, mas este rapaz em terapia também pode levá-lo a reconhecer seu eu mais profundo e até libertá-lo da noite escura da alma através de seus embates... No olhar da Psicologia Analítica a depressão, o vazio, a melancolia pode ser um caminho do eu para resgatar no inconsciente - pessoal e coletivo- o que foi esquecido, reprimido, negligenciado e num mergulho ainda mais profundo, o que nunca foi vivido, potenciais nunca antes reconhecidos pela consciência. E aí se encontra o criativo, a animação com a vida.
O blues nasceu também para protestar e trazer alívio e é o caminho que o herói desta HQ fantástica se inspira para viver sua própria vida. Protesta contra a paralisação, o tédio e a mesmice que sente e enfrenta suas dúvidas e medos com tanta profundidade em seu processo psicoterapêutico. Ler esta obra me fez reviver momentos de encruzilhada e de tédio e ao mesmo tempo de inspiração e alegria, inclusive em minhas próprias longas psicoterapias. A psique, suas diversas facetas, seus funcionamentos com dinâmicas paradoxais que levam a caminhos tortuosos, e também às experiências renovadoras e prazerosas, é ainda pouco conhecida ou pouco explorada pela maioria das pessoas. Esta obra, que nasceu na internet e agora vira livro, tem fundamental importância para ajudar na compreensão do que é uma psicoterapia, pois revela aos leitores como é estar em uma, e o quanto isso pode ser benefício. Pois através deste processo, é possível encontrar suas forças em lugares antes nunca navegados. Parabéns aos autores pela realização deste livro. Pelas suas ideias originais e corajosas, e imagens tão belas.
Ana Lucia Pandini Psicóloga, psicoterapeuta, doutoranda em Psicologia e professora universitária.
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