A Lei o Sábado e o Domingo

Page 1

LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sテ。bado e o Domingo

A LEI, O Sテ。ADO E O DOMINGO Leandro Bertoldo


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo

Dedico este livro ao grande amigo, orientador, conselheiro e professor

Pedro B’ärg


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo

“O povo de Deus tem uma obra especial a fazer em reparar as brechas feitas em Sua lei; e quanto mais nos aproximamos do fim, tanto mais urgente se torna essa obra. Todos quantos amam a Deus mostrarão que Lhe trazem o sinal pela guarda de Seus mandamentos” (II TS, 503)

Ellen Gould White Escritora, conferencista, conselheira, e educadora norte-americana. (1827-1915)


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo

“E agora digo-vos: Dai de mão a estes homens, e deixai-os, porque, se este conselho ou esta obra é de homens, se desfará. Mas, se é de Deus, não podereis desfazê-la; para que não aconteça serdes também achados combatendo contra Deus” (Atos 5:38-39).

Gamaliel Doutor da Lei Conselheiro do Sinédrio Judaico Mestre do apóstolo Paulo de Tarso (Século I)


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo

Sumário Dados Biográficos Prefácio Chave de Abreviaturas Introdução 1. Introdução 2. Interpretações contraditórias 3. A falta de mandamento bíblico 4. A melhor defesa é o ataque 5. A filosofia do domingo 6. Considerações finais Capítulo 1 Os Dois Concertos 1.1 Introdução 1.2 A abolição do Antigo Concerto 1.3 A instauração do Novo Concerto 1.4 A mudança da lei 1.5 As leis que foram mudadas 1.6 Considerações finais Capítulo 2 A Lei e o Novo Concerto 2.1 Introdução 2.2 O vigor da lei de Deus 2.3 A lei e as transgressões 2.4 Exemplos bíblicos 2.4 As duas leis em levítico 2.5 As duas leis em Isaías 2.6 Considerações finais Capítulo 3 As Ordenanças Cravadas na Cruz 3.1 Introdução 3.2 Ordenanças cravadas na cruz 3.3 Uma lei que consistia em ordenanças 3.4 Ordenanças que nos era contrária 3.5 Ineficácia das ordenanças 3.6 Considerações finais Capítulo 4 Um Sábado Cravado na Cruz 4.1 Introdução 4.2 Comer e beber 4.3 Espécies de sábados 4.4 Os sábados e as sombras 4.5 Os sábados cerimoniais 4.6 Sombras das coisas futuras 4.7 O sábado e a sombra


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo 4.8 Os cerimoniais de holocaustos 4.9 Quem Paulo tinha em mente 4.10 Considerações finais Capítulo 5 Questões Sobre o Sábado 5.1 Introdução 5.2 A origem do sábado 5.3 O sétimo dia 5.4 O sábado abominado 5.5 Oséias e o sábado 5.6 O sábado esquecido 5.7 A distinção entre lei moral e cerimonial 5.8 A classificação de conceitos 5.9 Considerações finais Capítulo 6 A Lei em Gálatas 6.1 Introdução 6.2 A lei que nos serviu de “aio” 6.3 Remindo os que estavam debaixo da lei 6.4 O rudimento fraco e pobre 6.5 Alegoria dos dois concertos 6.6 Separados de Cristo 6.7 Considerações finais Capítulo 7 Paulo e a Lei 7.1 Introdução 7.2 Uma glória transitória 7.3 Colossenses e o sábado 7.4 Indiferenças entre os dias 7.5 Um mandamento “ab-rogado” 7.6 O Santuário e os Dez Mandamentos 7.7 Todo o conselho de Deus 7.8 Considerações finais

Capítulo 8 Controvérsias Sobre o Sábado 8.1 Introdução 8.2 O sábado e as espigas 8.3 Davi e os pães da proposição 8.4 O sábado e os sacerdotes no templo 8.5 É lícito fazer bem nos sábados 8.6 O Senhor do sábado 8.7 Considerações finais Capítulo 9 Jesus e o Sábado 9.1 Introdução 9.2 O paralítico e a cama 9.3 O sábado e a cura 9.4 O Pai trabalha até agora


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo 9.5 O sábado e a circuncisão 9.6 Seria Jesus um pecador 9.7 Considerações finais Capítulo 10 Os Cristãos e o Sábado 10.1 Introdução 10.2 Jesus guardou o dia do sábado 10.3 Fuga de Jerusalém 10.4 As discípulas guardaram o sábado 10.5 Paulo guardava o sábado com os judeus 10.6 Paulo ensinava os gentios no sábado 10.7 Paulo disputava nos sábados 10.8 Paulo guardou o sábado com os gentios 10.9 Considerações finais Capítulo 11 Jesus e a Lei 11.1 Introdução 11.2 Jesus não revogou a lei 11.3 Jesus veio para cumprir as profecias 11.4 O sábado e o sétimo dia da semana 11.5 O sábado perdido no tempo 11.6 O sábado e a expressão “para sempre” 11.7 Os cerimoniais e a expressão “para sempre” 11.8 Considerações finais Capítulo 12 O Primeiro Dia da Semana 12.1 Introdução 12.2 A ressurreição de Jesus 12.3 As portas cerradas no primeiro dia da semana 12.4 Os cristãos de Troas e o primeiro dia da semana 12.4.1 Os cristãos de Troas e o partir o pão 12.4.2 Os cristãos de Troas e o culto religioso 12.5 O caso da coleta para os santos 12.6 Considerações finais Capítulo 13 A Bíblia e o Domingo 13.1 Introdução 13.2 Santidade de todos os dias 13.3 A observância de todos os dias 13.4 O dia de Pentecostes 13.5 O Concílio de Jerusalém 13.5.1 A falta de citação dos mandamentos 13.6 O “dia do Senhor” bíblico 13.7 Considerações finais Capítulo 14 A Bíblia e o Dia do Senhor 14.1 Introdução 14.2 “Kyriaké hémerà” e o sábado


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo 14.3 Transposição literária 14.4 O “dia do Senhor” na escatologia 14.5 Qual dia da semana é o “kyriaké hémerà” 14.6 “Kyriaké hémerà” e o domingo 14.7 Dia do Senhor e os Pais da Igreja 14.8 O vocábulo latino 14.9 A Vulgata Latina de Jerônimo 14.10 Considerações finais Capítulo 15 O Domingo e os Pais da Igreja 15.1 Introdução 15.2 Rancores contra os judeus 15.3 Justino e Inácio 15.4 Testemunho de Justino 15.5 Constantino entra em cena 15.6 Considerações finais Capítulo 16 A Imposição do Domingo 16.1 Introdução 16.2 Decreto dominical de Constantino 16.3 Os camponeses 16.4 A transferência do sábado 16.5 Concílio de Laodicéia 16.6 Carta do Papa Gregório I 16.7 Considerações finais Epílogo Bibliografia Endereços


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo

Dados Biográficos “Enquanto nos contentarmos com um conhecimento limitado, não estaremos habilitados a obter mais claras visões da verdade. Aquele que prega a palavra da vida precisa dedicar tempo ao estudo da Bíblia, e ao exame do próprio coração”. Ellen Gould White (OE, 251).

Leandro Bertoldo é natural do Estado de São Paulo, nascido na cidade de São Paulo, em 1959. Foi o primeiro dos dois filhos do casal José Bertoldo Sobrinho e Anita Leandro Bezerra. Casado com Daisy Menezes Bertoldo. Tem uma filha de nome Beatriz Maciel Bertoldo. É dono dos queridinhos, lindinhos, fofinhos, docinhos e engraçadinhos da casa: Fofa, Pitucha, Calma e Mimo. O autor é escrevente, cientista, escritor, palestrante e professor. Seus livros são conhecidos em todo o Brasil e fora dele. Até o presente momento possui publicado vinte e um livros direcionados para diversas áreas, como Física, Matemática, Química, Teologia e Poesia. No início da década de oitenta, quando ainda era graduando no curso de Ciências Exatas e Tecnológicas, na Universidade de Mogi das Cruzes – UMC, desenvolveu muitas de suas principais teses científicas em Física, Matemática, FísicoQuímica e Linguística. Mais tarde, bacharelou-se em Direito pela mesma Universidade. Atualmente é funcionário do Poder Judiciário do Estado de São Paulo. Devido às intensas atividades evangelísticas da professora Célia Regina de Souza Xavier e dos cursos bíblicos ministrados por seu ilustre esposo Valdir Gonçalves Xavier, Leandro converteu-se ao cristianismo em 23 de abril de 1986. Foi preparado para o batismo pelo distinto professor Pedro B’ärg entre julho/1986 a setembro/1987. Foi batizado pelo dedicado e esforçado pastor Davi Marski em 26 de setembro de 1987. Incentivado pela professora Ozilda Pereira Moreira, Leandro tornou-se professor da Escola Sabatina e, por influência do diretor da Escola Sabatina, Antonio Prado Júnior, também se tornou professor da Classe Bíblica, a princípio supervisionado pelo professor Pedro B’ärg. A seguir, sob orientação do diretor de Ação Missionária, Antenógenes Negrão, engajou-se nas atividades evangelísticas organizadas por sua denominação. Leandro realizou – junto com a sua namorada Daisy Menezes – durante três anos consecutivos, trabalhos missionários no bairro da Vila Industrial, cidade de Mogi das Cruzes – SP., distribuindo folhetos de casa em casa e ministrando estudos bíblicos aos mais diversos interessados. Posteriormente, junto com o saudoso amigo Paulo César Mazanti (1967-2008) realizou, com excelente aproveitamento, durante dez anos ininterruptos, trabalhos evangelísticos em classes bíblicas, residências, igrejas e na Favela do Gica. No primeiro semestre de 1999, Leandro Bertoldo, Paulo Mazanti e Moacir dos Passos, atendendo à solicitação do amigo Edson Felix, realizaram aos domingos uma série de conferências bíblicas na nova igreja de César de Souza, e que foi concluída com grande sucesso.


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo Em 07 de fevereiro de 2004, Leandro e Paulo conceberam um modelo e estilo próprio de classe pós-batismal, a qual passaram a coordenar em conjunto. Atualmente, essa classe vem sendo dirigida por Leandro Bertoldo e Nilton Satio Murakami. Leandro também é Coordenador de Classes Bíblicas e tem recebido auxilio dos professores Cínthia Passos Assumpção Pedroso, Maurício Epiphânio, Maurício Shoji Kimoto, Moacir dos Passos, Nilton Satio Murakami e Willians Roberto da Silva. Desde o seu batismo, Leandro tem assumindo cargos direcionados para diversas áreas. Foi Secretário do Ministério Pessoal, Tesoureiro, Professor da Escola Sabatina, Promotor de Literatura, Professor da Classe de Visitas, Ancião e Coordenador de Classe Bíblica. Atualmente vem coordenando as classes bíblicas da igreja onde congrega.


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo

Prefácio “O sábado é sempre o sinal que distingue os obedientes dos desobedientes. Com magistral poder tem Satanás procurado tornar nulo e inútil o quarto mandamento, a fim de que o sinal de Deus seja perdido de vista. O mundo cristão tem calcado sob os pés o sábado do Senhor e observa o sábado instituído pelo inimigo. Deus, porém, tem um povo leal a Ele. Esta obra deve ser levada avante da maneira devida”. Ellen Gould White (CS,2352)

A presente obra de conteúdo eminentemente “apologético” está alicerçada na profunda experiência que o autor possui, há quatro lustros, como professor de estudos bíblicos. Apenas a título de esclarecimento, a “apologética” é um ramo da Teologia tem por objetivo a defesa da confissão de fé contra ataques desferidos por seus adversários. De maneira simples, didática e objetiva, o escritor faz uma veemente defesa bíblica dos principais versículos que abordam o tema da “lei de Deus” e do “santo sábado do Senhor”. Assuntos que são polêmicos no mundo cristão. Essas questões são assaz inquietantes para todos aqueles que estão considerando a observância do santo sábado. “Muitos existem que jamais compreenderam as reivindicações do sábado bíblico e o falso fundamento sobre o qual repousa a instituição do domingo”. (II TS, 318). Neste livro, o autor proporciona ao seu público ledor um estudo sistemático e profundo sobre a extensão e a eficácia da lei e do sábado nos dias de hoje. Identifica pelas Escrituras Sagradas qual é o verdadeiro “dia do Senhor”. Também demonstra, exclusivamente, pela Palavra de Deus qual é o dia sagrado de descanso e de culto religioso estabelecido pelo próprio Criador do Universo. Esta obra é indispensável para pesquisas e estudos bíblicos. Na elaboração deste livro, o autor procurou, na medida do possível, pautar-se pelo célebre argumento dialético conhecido pelo nome de "Navalha de Ockham", princípio de que diante de duas interpretações iguais, a mais simples é a correta. Didaticamente dividido em dezesseis capítulos, o livro trata sucintamente dos principais temas relacionados com a lei, o sábado e o domingo. Em linhas gerais, a obra trata da relação existente entre o decálogo com o Antigo e com o Novo Concerto; considera as espécies de ordenanças que foram cravadas na cruz; avalia algumas passagens paulinas sobre a lei e que são de difícil interpretação; analisa algumas questões que são levantadas contra o sábado; ajuíza a atitude de Jesus perante o sábado; também trata da guarda do sábado pelos primeiros cristãos; analisa as passagens bíblicas que, supostamente, estariam defendendo a guarda do domingo; realiza uma profunda análise sobre o termo “kyriaké hémerà” e mostra a origem pagã do domingo. Sob a perspectiva das regras da Hermenêutica Sacra, cada capítulo desta obra proporciona ao leitor, com fundamento exclusivo nas Escrituras Sagradas, uma profunda análise lógica dos versículos bíblicos apresentados. Tudo com o objetivo de esclarecer as principais controvérsias levantadas contra a santa lei de Deus e contra o sábado bíblico.


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo Convém lembrar que todas as palavras em negrito apontadas nesta obra indicam a ênfase dada pelo autor. Também esclarece que as repetições de alguns argumentos são inevitáveis, haja vista a sua ampla aplicação. Enfim, é o sincero desejo do escritor que muitas mentes sinceras e espiritualmente esclarecidas possam enxergar e sentir a pujança das verdades defendidas nas páginas desta singela obra.


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo

Chave de Abreviaturas AA BS CPPE CS CS DTN E EF FEC FO GC HR ME PP PR OE RH RP RR ST T TS VE VJ

– – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – –

Atos dos Apóstolos Beneficência Social Conselhos, Professores, Pais e Estudantes Conselhos Sobre Saúde Cristo em Seu Santuário O Desejado de Todas as Nações Educação Eventos Finais Fundamentos da Educação Cristã Fé e Obras O Grande Conflito História da Redenção Mensagens Escolhidas (Vols. I-III) Patriarca e Profetas Profetas e Reis Obreiros Evangélicos Review and Herald E Recebereis Poder – Meditação Matinal Reavivamento e Seus Resultados Signs of the Times Testimonies (Vols. I-IX) Testemunhos Seletos (Vols. I-III) Vida e Ensinos Vida de Jesus


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo

Introdução “Em cada cidade há agentes satânicos organizando, ativamente, em partidos os que se opõem à lei de Deus. Professos santos e descrentes confessos tomam posição ao lado desses partidos. Não é este o tempo de o povo de Deus mostrar-se medroso. Não nos podemos permitir estar fora da guarda um só momento”. Ellen Gould White (VIII T, 42)

1. Introdução Contrariando a clareza meridiana da Palavra de Deus, os antagonistas do sábado – “querendo ser doutores da lei, e não entendendo nem o que dizem nem o que afirmam” (I Timóteo 1:7) – através de intricados argumentos, completamente contrários às Escrituras Sagradas, procuram por todo tipo de suposições fantasiosas – abater o sábado bíblico e defender a observância antibíblica do domingo pagão. Os adversários do sábado aproveitam maliciosamente o fato indiscutível de que nas epístolas do apóstolo Paulo e em muitas outras partes das Escrituras Sagradas “há pontos difíceis de entender, que os indoutos e inconstantes torcem e igualmente as outras Escrituras, para sua própria perdição. Vós, portanto, amados, sabendo isto de antemão, guardai-vos de que, pelo engano dos homens abomináveis, sejais juntamente arrebatados, e descaiais da vossa firmeza” (II Pedro 3:16-17). Esses “homens abomináveis” deliberadamente torcem o verdadeiro sentido das palavras de Deus porque eles não encontram nas divinas Escrituras nenhum registro, mandamento, ordem ou qualquer respaldo bíblico ordenando ou insinuando explicitamente ou mesmo implicitamente a observância do domingo, o qual tem a sua origem exclusivamente na tradição do paganismo romano do “dia do Sol”. Contra a clara letra da Bíblia Sagrada, os adversários da verdade envidam todos os esforças para colocar o domingo no lugar do santo sábado, o qual o Senhor estabeleceu por Sua soberana autoridade e vontade. Com essa atitude os inimigos do sábado trocam meia dúzia por nada ou seis por zero. “Pois mudaram a verdade de Deus em mentira” (Romanos 1:25). “Com os ensinadores protestantes há a mesma pretensão de autoridade divina para a guarda do domingo, e a mesma falta de provas bíblicas”. (GC, 579). Os adversários do sábado claramente manipulam os versículos bíblicos, privilegiando passagens obscuras e descontextualizada para confundir o público. A bem da verdade, o domingo é uma planta que não foi plantada por Deus em Sua Igreja. Conforme Jesus Cristo afirmou: “toda a planta, que meu Pai celestial não plantou, será arrancada” (Mateus 15:13). Por essa razão os santos do Altíssimo são identificados nas Escrituras Sagradas como sendo aqueles que “guardam os mandamentos de Deus e a fé de Jesus” (Apocalipse 14:12).

2. Interpretações contraditórias Com o único propósito de tornar a sua teologia e os seus argumentos sobre a tradição da guarda do domingo pagão mais favorável e plausível aos olhos dos fiéis e do


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo público em geral, os inimigos da santa lei de Deus atacam o sábado bíblico sem nenhum critério hermenêutico e de forma totalmente mal-intencionada. Os adversários do sábado costumam empregar todos os tipos de tolices que possam imaginar, fantasiar ou inventar para contradizer os mais claros e lúcidos ensinos sobre a lei e o sábado. Eles são especialistas em somar “dois mais dois” para chegar à conclusão irrefutável de que o resultado é cinco. São expertos em ignorar as mais claras evidências bíblicas apresentadas sobre a validade da lei e do sábado. De forma inescrupulosa e inconsequente, os “indoutos e inconstantes” antagonistas das verdades bíblicas empregam contra o “santo sábado do Senhor” alguns argumentos que são totalmente risíveis, ridículos, falsos, contraditórios e até mesmo antibíblicos, os quais atentam seriamente contra a boa fé dos próprios adversários do “santo sábado do Senhor”. Note a seguir algumas das contradições existentes nas mais acariciadas pérolas dos adversários da santa lei de Deus: a) o argumento de que o Novo Testamento repete todos os mandamentos do decálogo menos o sábado é falso, haja vista que o mandamento do sábado é repetido no Novo Testamento em mais de sessenta passagens; b) o argumento de que o domingo é biblicamente o dia do Senhor é falso, sobretudo porque a Bíblia Sagrada afirma explicitamente que o sábado é o dia do Senhor; c) o argumento de que todos os dias são iguais contradiz o argumento de que os cristãos devem guardar o domingo? d) o argumento de que Paulo ensinou que todos os dias são iguais é falso, simplesmente porque Paulo combateu os heréticos que pensavam desse modo; e) o argumento de que Oséias profetizou a abolição do sábado é falso, haja vista que o profeta anunciou que sábado cessaria apenas para os israelitas porque eles cessariam de existir como nação; f) o argumento de que basta guardar um dia qualquer entre sete é falso, porque a Bíblia Sagrada estabelece que o sábado é o sétimo dia da semana; g) o argumento ardiloso de que a lei e o sábado findaram com João Batista contradiz o falso argumento de que a lei e o sábado foram cravados na cruz; h) o argumento que Jesus não guardava a lei do sábado contradiz o argumento de que Jesus veio para cumprir a lei; i) o argumento de que os Dez Mandamentos foram abolidos na cruz, contradiz o fato irrefutável de que Jesus e os apóstolos ensinaram por preceito e exemplo a observância dos Dez Mandamentos; j) o argumento de que o sábado é do judeu é antibíblico, sobretudo porque as Escrituras Sagradas ensinam que o sábado é do Senhor; k) o argumento de que os gentios nada tinham com o sábado contradiz o registro bíblico que obriga os gentios a guardarem o sábado; l) o argumento de que o sábado perdeu-se no tempo é equivocado, especialmente porque os adversários dos sábado sabem identificar qual dia da semana corresponde ao domingo; m) o argumento de que “kyriaké hémerà” refere-se ao domingo é falso pelos seguintes motivos: primeiro: “kyriaké hémerà” não indica nenhum dia específico da semana; segundo: as Escrituras jamais relacionaram “kyriaké hémerà” ao primeiro dia da semana; terceiro: os apóstolos jamais empregaram “kyriaké hémerà” quando se referiam ao primeiro dia da semana; quarto: a palavra domingo é de origem latina, mas o Novo Testamento foi escrito em grego; quinto: as Escrituras Sagradas relacionam “kyriaké hémerà” exclusivamente ao sábado bíblico, jamais o relacionou ao domingo pagão. Apesar de todas essas discrepâncias, muitas outras tolices irrefletidas como essas são veementes defendidas pelos adversários do “santo sábado do Senhor”.

3. A falta de mandamento bíblico A verdade cristalina é que as suposições dos inimigos da lei de Deus contra o “santo sábado do Senhor” são extremamente fantasiosas porque não estão em real


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo harmonia com o exato e perfeito conteúdo axiológico da Palavra de Deus. Seus argumentos contra o “sábado do Senhor” são insatisfatórios porque distorcem o verdadeiro sentido da mensagem bíblica. Suas interpretações sobre o domingo pagão estão totalmente alienadas da realidade e do universo das divinas Escrituras. Seus ensinos desprezam o contexto imediato e mediato do texto bíblico. Sua hermenêutica abandona os mais elementares princípios bíblicos, os quais contradizem abertamente os seus argumentos capciosos. A verdade pura e cristalina é que o sábado é mandamento bíblico, mas o domingo pagão não tem nenhum fundamento ou respaldo na Palavra de Deus. Quem ensina tal coisa não é qualquer ser humano, mas sim as próprias Escrituras Sagradas, que foram divinamente inspiradas pelo Espírito Santo (II Pedro 1:21). “Os cristãos não deveriam receber outras doutrinas senão as que se apóiam na autoridade das Sagradas Escrituras” (HR, 324). (História da Redenção, 342). Deste modo – na falta de um claro mandamento bíblico ordenando explicitamente a santificação do domingo – os detratores do santo sábado buscam por todos os artifícios dar uma aparência bíblica e cristã a esse dia de origem pagã. Para tanto, eles procuram relacionar ou vincular o domingo a alguns eventos bíblicos “politicamente corretos” que se deram no primeiro dia da semana. Mas, a bem da verdade é que tais eventos escriturísticos, por mais grandiosos, extraordinários ou maravilhosos que possam ser, não servem de critério ou norma válida para demonstrar ou provar que o domingo é um dia sagrado ou que deve ser observado por todos os cristãos como mandamento bíblico. Mesmo porque nenhuma mensagem bíblica “é de particular interpretação” (II Pedro 1:20). Por essa razão é fundamental que haja uma clara determinação divina ordenando a santificação do domingo. É absolutamente necessário que haja um claro “Está Escrito” ou um expressivo “Assim diz o Senhor”, fato este, que não ocorre com o domingo pagão. Destarte, o episódio de Jesus ter instituído e celebrado a Santa Ceia no quinto dia da semana, não permite inferir que esse dia deve ser observado com propósito sagrado. De igual forma, o fato de Jesus ter decidido morrer pela humanidade no sexto dia da semana, não permite inferir que esse dia deve ser observado com propósito sagrado. O fato de Deus ter criado o homem no sexto dia da semana, não permite inferir que esse dia deve ser observado com propósito sagrado. Igualmente, o fato de Jesus ter descansado na sepultura no sábado, não permite inferir que esse dia deve ser guardado com propósito sagrado. O fato de Deus ter criado o céu e a terra no primeiro dia da semana, não permite inferir que esse dia deve ser observado com propósito sagrado. Na verdade os antigos patriarcas e profetas nunca consideraram sagrado o primeiro dia da semana. Diante do que foi exposto, o fato de Jesus ter ressuscitado no primeiro dia da semana – por uma questão de coerência – não permite inferir que esse dia deve ser observado com propósito sagrado. Em todos esses casos, excetuando o dia do sábado, falta um claro mandamento divino ordenando explicitamente a observância de qualquer um desses dias. Os argumentos dos adversários do sábado não estão somente em desalinho com os fatos bíblicos, mas também em direta oposição a eles. Caso o domingo pudesse ser guardado com base num fato bíblico, então qualquer dia pode ser guardado com base num fato bíblico, inclusive o dia do sábado. É simplesmente uma questão de consistência e bom senso: um equilíbrio intelectual e espiritual que falta aos adversários do “santo sábado do Senhor”, que querem distorcer as Escrituras Sagradas a todo custo. Mas, como afirma o apóstolo Paulo: “se alguém ensina alguma outra doutrina, e se não conforma com as sãs palavras de nosso Senhor Jesus Cristo, e com a doutrina que é segundo a piedade. É soberbo, e nada sabe, mas delira acerca de questões e contendas


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo de palavras, das quais nascem invejas, porfias, blasfêmias, ruins suspeitas” (I Timóteo 6:3-4).

4. A melhor defesa é o ataque Os inimigos do sábado bíblico jamais passariam pelo teste realizado pelos bereanos, que “foram mais nobres do que os que estavam em Tessalônica, porque de bom grado receberam a palavra, examinando cada dia nas Escrituras se estas coisas eram assim” (Atos 17:11). Os adversários do “santo sábado do Senhor” seriam sumariamente reprovados pelos bereanos e considerados como heréticos e falsos profetas, simplesmente porque as Escrituras Sagradas nada ensinam sobre a observância do domingo. Os oponentes do santo sábado sabem muito bem, que a melhor defesa do domingo pagão, consiste em atacar o sábado bíblico. Sua técnica contra o santo sábado consiste no seguinte: “umas poucas palavras das Escrituras são separadas do contexto, o qual, em muitos casos, mostraria ser o seu sentido exatamente o contrário da interpretação a elas dada; e tais passagens desconexas são pervertidas e usadas em prova de doutrinas que não têm fundamento na Palavra de Deus” (GC, 539). Qualquer pessoa, um pouco mais esclarecida, pode notar como os antagonistas do sábado tem formulado muitas invenções e suposições contra o “santo sábado do Senhor”, mas quase nada tem a dizer em defesa do domingo, a não ser criar uma série de fantasias homiléticas em torno do primeiro dia da semana, numa inútil tentativa para justificar a guarda do domingo pagão. Para essas pessoas Jesus tem uma mensagem: “em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos dos homens” (Mateus 15:9). As Escrituras Sagradas deixam claro que o sábado é um dia abençoado e santificado por Deus desde a fundação do mundo, para ser observado por toda a humanidade. Quando o gênero humano estava perdendo a verdade divina de vista, o Senhor fez questão de repetir o mandamento do sábado, colocando-o no centro de uma lei moral para ser observado por todos os santos. Posteriormente, os profetas exortaram o povo de Deus a não perderem de vista a guarda do sábado. Jesus e os apóstolos ratificaram em seu viver a observância do santo sábado. Mas, e o domingo? Bem, o estudo e a leitura das Escrituras Sagradas mostram claramente que o domingo nunca foi um dia abençoado ou santificado por Deus. A bem da verdade, o domingo nem sequer é mencionado na Bíblia Sagrada. De fato, o domingo pagão é uma contrafação do sábado bíblico. A doutrina do domingo é indefensável com as armas da Palavra de Deus, razão pela qual os antagonistas do sábado, em vez que empregarem a rigorosa e objetiva ciência da Hermenêutica Sacra, costumam empregar a arte subjetiva da Homilética Sacra para abater o sábado bíblico e defender a guarda do domingo, cujas origens se perde no seio do paganismo. Como diz o Espírito Santo nas Escrituras Sagradas: “À Lei e ao Testemunho! se eles não falarem segundo esta palavra, nunca verão a alva” (Isaías 8:20). A triste realidade é que poucos querem de fato seguir o princípio escriturístico insistentemente pregado por Jesus Cristo como base de qualquer ensino: “Que está escrito na lei? Como lês?” (Lucas 10:26). “Está escrito” (Mateus 4:4: 21:13; Lucas 22:37 etc.).

5. A filosofia do domingo


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo Diante das artimanhas dos inimigos do “sábado do Senhor” e da ausência de um claro “Assim diz o Senhor” ou um de expressivo “Está Escrito” para justificar a guarda do domingo, é muito oportuno lembrar a advertência proclamada pelo apóstolo Paulo: “Tende cuidado, para que ninguém vos faça presa sua, por meio de filosofias e vãs sutilezas, segundo a tradição dos homens, segundo os rudimentos do mundo, e não segundo Cristo” (Colossenses 2:8). Essa advertência paulina, mais do que nunca, é necessária nos dias de hoje, porque a filosofia do domingo e as tradições dos homens alicerçadas nos rudimentos do mundo, podem até mesmo apresentar alguma aparência de verdade aos olhos dos homens, mas não estão verdadeiramente fundamentadas nas sóbrias e justas palavras de Cristo. Os rudimentos do mundo não possuem o fundamento sólido de um claro e expressivo: “Assim diz o Senhor”, razão pela qual o Espírito Santo adverte: “Há caminho que parece direito ao homem, mas o seu fim são os caminhos da morte” (Provérbios 16:25). Os antagonistas do sábado sabem muito bem que eles não teriam a menor chance em defender o domingo pagão num confronto honesto e honrado com a verdade bíblica, empregando exclusivamente e rigorosamente as Escrituras Sagradas e as regras da ciência da Hermenêutica Sacra. “Porque nada podemos contra a verdade, senão pela verdade”. “Sabendo primeiramente isto: que nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação” (II Coríntios 13:8; II Pedro 1:20). Os adversários do sábado do Senhor devem ser enfrentados unicamente com a Bíblia, e somente a Bíblia. Quando acuados pela tremenda força das verdades bíblicas, os adversários do sábado, obstinadamente, costumam empregar várias evasivas, tais como desviar de um assunto para outro, desvirtuar o tema do debate, torcer os textos bíblicos, fantasiar o assunto em pauta, ignorar sistematicamente as replicas, partir para ataques pessoais e valer-se de muitos outros subterfúgios semelhantes a estes. Aqueles que procuram desesperadamente encontrar supostas bases bíblicas para a abolição do “santo sábado do Senhor”, quando não existe nenhuma, correm o risco de perderem de vista uma verdade fundamental em sua vida espiritual cristã. Cuidado! Alguns que não conservaram a fé e a boa consciência na verdade divinamente revelada “fizeram naufrágio na fé” (I Timóteo 1:19).

6. Considerações finais Em geral as pessoas são fáceis de serem manipuladas por “homens abomináveis”, principalmente porque elas possuem pouco estudo, pouca leitura, pouco conhecimento e pouco senso crítico. A verdade é que, diante do desenvolvimento cultural e tecnológico dos dias de hoje, boa parte da população mundial é semianalfabeta. As poucas pessoas que lêem não sabem realmente interpretar o que está lendo; as que sabem interpretar não possuem o menor senso crítico do que está lendo, e as que possuem senso crítico pecam por falta de conhecimento universal. A maioria das pessoas faz pouco uso de suas poderosas faculdades mentais. Pesa ainda sobre todos, o fato indiscutível de possuírem uma certa tendência natural para a credulidade. Razão pela qual, elas são facilmente levadas “em roda por todo o vento de doutrina, pelo engano dos homens que com astúcia enganam fraudulosamente” (Efésios 4:14). Desde que o pecado entrou no mundo, a obra de engano passou a imperar sobremaneira entre todos os homens e persistirá até a “consumação dos séculos”. Nossa única salvaguarda contra os erros, enganos, equívocos, mentiras e falsidades que se insurgem diariamente contra as verdades bíblicas está unicamente em estribar-se no correto estudo das Escrituras Sagradas. Devemos permitir que o Espírito Santo nos


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo ensine, e que a Bíblia Sagrada seja a nossa única regra de fé, bem como intérprete de si mesma. “Mas temo que, assim como a serpente enganou Eva com a sua astúcia, assim também sejam de alguma sorte corrompidos os vossos sentidos, e se apartem da simplicidade que há em Cristo” (II Coríntios 11:3). Por essa razão a presente obra vem a lume com o objetivo de apresentar e demonstrar ao publico ledor a verdade fundamental sobre a lei, o sábado e o domingo. Tudo analisado, fundamentado e contextualizado dentro do universo das Escrituras Sagradas e nas regras da Hermenêutica Sacra “porque nós não somos, como muitos, falsificadores da palavra de Deus” (II Coríntios 2:17). “Quando os que receberam a interpretação falsa da Palavra examinam com decidido esforço as Escrituras, no intuito de conhecer o que é a verdade, o Espírito Santo lhes abre os olhos do entendimento, e a Palavra é para eles uma nova revelação. O seu coração é despertado com uma nova e viva fé, e vêem na lei divina coisas maravilhosas. Os ensinos de Cristo têm para eles uma amplitude e um sentido que nunca antes compreendiam”. (CPPE, 430).


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo

Capítulo 1 Os Dois Concertos “O quarto mandamento tem sido pisado a pés; por isso, somos chamados para reparar a brecha na lei de Deus e defender o sábado profanado”. Ellen Gould White (VE, 86)

1.1 Introdução A Bíblia Sagrada menciona a existência de vários concertos que Deus fez através dos tempos com o Seu santo povo (Deuteronômio 29:1; Efésios 2:12). Ela também faz referência a concertos individuais que o Senhor fez com muitas outras pessoas no decorrer da história sagrada (Gênesis 9:17; 17:13; Levítico 26:42 etc). Em geral, as Santas Escrituras mostram claramente a existência de dois concertos, conhecidos pelo nome de “Antigo Concerto” e “Novo Concerto” ou “Antiga Aliança” e “Nova Aliança”. Tais concertos (alianças) também são conhecidos pelo nome de “Antigo Testamento” e “Novo Testamento”. Estas denominações não devem ser confundidas com as designações que servem para intitular as Escrituras Sagradas produzidas antes e depois de Cristo (Antigo e Novo Testamento). A Bíblia Sagrada mostra claramente que o “Antigo Concerto” foi abolido e substituído pelo “Novo Concerto”. O Antigo Testamento (Concerto/Aliança) estabelece a expiação de pecados pelo sangue de animais e o Novo Testamento (Concerto/Aliança) estabelece a expiação de pecados pelo sangue de Cristo. As Escrituras Sagradas também deixam bem claro que a base comum do Antigo Testamento (Concerto/Aliança), tanto quanto do Novo Testamento (Concerto/Aliança) é o célebre “Concerto do Decálogo”: os Dez Mandamentos. Este concerto vigora para santificar os crentes (João 17:17), mostrar aos homens o que é pecado (Romanos 3:20; 7:7) e condenar o pecado (Romanos 6:23). Este concerto foi inteiramente ratificado por Jesus e pelos santos apóstolos, que ensinaram e praticaram os seus preceitos sagrados, a ponto de ser repetido nos livros do Novo Testamento em mais de 200 passagens bíblicas. Através dos Dez Mandamentos, o Espírito Santo convence “o mundo do pecado, e da justiça e do juízo.” (João 16:8). Uma vez convencido do pecado, o homem reconhece que está condenado e perdido por causa de suas transgressões contra os “mandamentos de Deus”, somente então ele é levado pelo Espírito Santo a crer em Cristo para receber o perdão de seus pecados. “De maneira que a lei nos serviu de aio, para nos conduzir a Cristo, para que pela fé fôssemos justificados” (Gálatas 3:24). “A lei revela ao homem os seus pecados, mas não provê remédio. Ao mesmo tempo que promete vida ao obediente, declara que a morte é a consequência para o transgressor. Unicamente o evangelho de Cristo o pode livrar da condenação ou contaminação do pecado. Deve ele exercer o arrependimento em relação a Deus, cuja lei transgrediu, e fé em Cristo, seu sacrifício expiatório. Obtém assim ‘remissão dos pecados dantes cometidos’ (Romanos 3:25), e se torna participante da natureza divina” (RR, 12).


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo 1.2 A abolição do Antigo Concerto O autor do livro de Hebreus é claro, claríssimo ao afirmar que o Antigo Concerto foi mudado. Esse concerto consistia na expiação de pecados pelo holocausto de animais ministrado pelo sacerdócio levítico. “Porque todo sumo sacerdote, tomado dentre os homens, é constituído a favor dos homens nas coisas concernentes a Deus, para que ofereça dons e sacrifícios pelos pecados” (Hebreus 5:1). Mas qual foi a mudança ocorrida? Quem fez a mudança? Quando essa mudança aconteceu? Bem, as Escrituras Sagradas informam que o sacerdócio levítico havia se levantado segundo a ordem de Aarão, mas foi abolido e substituído pelo sacerdócio de Cristo, que se levantou segundo a ordem de Melquisedeque. A palavra “ordem” neste texto tem o sentido de sociedade religiosa cujos membros seguem rigorosamente as regras estabelecidas por sua organização sacerdotal. Observe o que diz as Escrituras Sagradas: _________________________________________________________________ Hebreus 7:11-12 – “De sorte que, se a perfeição fosse pelo sacerdócio levítico (porque sob ele o povo recebeu a lei), que necessidade havia logo de que outro sacerdote se levantasse, segundo a ordem de Melquisedeque, e não fosse chamado segundo a ordem de Aarão? Porque, mudando-se o sacerdócio, necessariamente se faz também mudança da lei”. ___________________________________________________________________ Note o que afirmam os dois versículos supra mencionados: “se a perfeição fosse pelo sacerdócio levítico... que necessidade havia logo de que outro sacerdote se levantasse”? Portanto, um novo sacerdócio levantou-se para ocupar o lugar do sacerdócio predecessor. “E assim todo sacerdote aparece cada dia, ministrando e oferecendo muitas vezes os mesmos sacrifícios, que nunca podem tirar pecados; mas este, havendo oferecido um único sacrifício pelos pecados, está assentado para sempre à destra de Deus” (Hebreus 10:11-12). Essa mudança de sacerdócio não é novidade alguma para quem estuda a Bíblia Sagrada, sobretudo porque o profeta Daniel havia anunciado, muitos séculos antes, a abolição do Antigo Concerto de sacrifício de animais e a inauguração do Novo Concerto pelo Messias vindouro. Observe o que diz o santo servo de Deus: _________________________________________________________________ Daniel 9:27 – “E ele firmará um concerto com muitos por uma semana: e na metade da semana fará cessar o sacrifício e a oferta de manjares”. _________________________________________________________________ Uma análise contextual mostra que o profeta Daniel está se referindo ao Messias, que firmaria um Novo Concerto com muitas pessoas por uma semana profética (sete anos). Que na metade da semana (3,5 anos) faria cessar o Antigo Concerto de “sacrifício” de animais e “ofertas de manjares” ministrados pelos sacerdotes levitas no “santuário terrestre”. Observe que o profeta Daniel faz questão de dizer claramente qual é o concerto que o Messias faria cessar. Trata-se do concerto relacionado com o cerimonial religioso de “sacrifício e a oferta de manjares”, realizado pelo “sacerdócio levítico”.


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo “Como acima diz, Sacrifício e oferta, e holocaustos e oblações pelo pecado não quiseste, nem te agradaram (os quais se oferecem segundo a lei). Então disse: Eis aqui venho, para fazer, ó Deus, a tua vontade. Tira o primeiro, para estabelecer o segundo” (Hebreus 10:8-9). Uma análise contextual mostra claramente que o termo “primeiro” é uma referência ao Antigo Concerto de expiação de pecados pelo holocausto de animais; e, a expressão “segundo” é uma referência ao Novo Concerto de expiação de pecados pelo holocausto de Cristo. Nenhuma referência é feita ao concerto do decálogo ou ao santo sábado, que foi abençoado e santificado por Deus na fundação do mundo, colocado no coração do decálogo, ensinado pelos profetas, observado pelos santos do Altíssimo, ratificado por Jesus e pelos santos apóstolos.

1.3 A instauração do Novo Concerto Em cumprimento à profecia anunciada pelo profeta Daniel, o Messias firmaria um concerto com o Seu povo durante a “última” das setenta semanas proféticas (Daniel 9:27). Esse concerto é conhecido universalmente pelos nomes de “Novo Concerto”, “Novo Testamento” ou “Nova Aliança” e tem por base o próprio sangue do Messias. Observe o que diz as Escrituras Sagradas: _________________________________________________________________ Mateus 26:28 – “Porque isto é o meu sangue, o sangue do Novo Testamento, que é derramado por muitos, para remissão dos pecados”. _________________________________________________________________ Sabemos que, por ocasião da morte do Messias – o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (João 1:29 e 36) – o “Antigo Concerto” de remissão dos pecados pelo sangue de animais perdeu totalmente a sua eficácia, passando a vigorar o “Novo Concerto” de expiação de pecados por meio do sacrifício de Cristo, que “se entregou a si mesmo por nós, em oferta e sacrifício a Deus, em cheiro suave” (Efésios 5:2). Conforme Daniel havia profetizado, a morte de Cristo ocorreu exatamente na metade da última das setenta semanas proféticas. Com a Sua morte cessou definitivamente a eficácia do cerimonial religioso levítico, que era realizado no “santuário terrestre” (Hebreus 8:13-9:1). Observe o que testemunha o evangelista Mateus:

Mateus 27:51 – “E eis que o véu do templo se rasgou em dois, de alto a baixo; e tremeu a terra, e fenderam-se as pedras”. ___________________________________________________________________ “Na primavera de 31 d.C., Cristo, o verdadeiro sacrifício, foi oferecido no Calvário. Então o véu do templo se rasgou em dois, mostrando que a santidade e significação do serviço sacrifical desapareceram. Chegara o tempo de cessar o sacrifício terrestre e a oblação” (DTN, 233). O véu que separava o lugar santo do lugar santíssimo no santuário terrestre (Êxodo 26:33) se rasgou de alto a baixo, expondo aos olhos curiosos o lugar santíssimo. Com a manifestação desse fenômeno sobrenatural, Deus pôs fim ao Antigo Concerto de expiação de pecados por meio do holocausto de animais, que eram realizados, através do ministério sacerdotal levítico, no santuário terrestre.


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo Com o fim do Antigo Concerto, entrou em vigor o Novo Concerto de expiação de pecados por meio do holocausto de Cristo, que foi realizado uma única vez em benefício de toda a humanidade. “Doutra maneira, necessário lhe fora padecer muitas vezes desde a fundação do mundo; mas, agora, na consumação dos séculos, uma vez se manifestou, para aniquilar o pecado pelo sacrifício de si mesmo”. (Hebreus 9:26).

1.4 A mudança da lei É claro que, com a mudança de sacerdócio levítico para o sacerdócio de Cristo, também se tornou absolutamente necessária a mudança da lei, especialmente porque se trata de “ordens” sacerdotais totalmente distintas. Mas qual lei foi mudada? O que foi mudado? Quando a lei foi mudada? É evidente que a lei mudada não tem nenhuma relação com o decálogo, sobretudo porque os Dez Mandamentos não possuem a função de realizar a purificação do pecado de nenhum ser vivo. As Escrituras Sagradas deixam bem claro que a lei mudada é aquela que regulamentava todo o aparato do ritual de expiação de pecados pelo holocausto de animais do ministério sacerdotal levítico, que era ministrado junto ao santuário terrestre. Seria totalmente contraditório supor que o livro de Hebreus estaria ensinando a mudança do decálogo, quando todo o restante do Novo Testamento torna a repetir incisivamente os Dez Mandamentos e advoga a sua eficácia na vida de todo o crente. Aliás, o próprio livro de Hebreus afirma explicitamente que a lei mudada é aquela relacionada com o sacerdócio levítico, e não com os Dez Mandamentos. Observe o que está escrito no texto sagrado: “mudando-se o sacerdócio, necessariamente se faz também mudança da lei” (Hebreus 7:12). Destarte, a mudança de sacerdócio acarretou a mudança da lei do sacerdócio levítico para a lei do sacerdócio de Cristo.

1.5 As leis que foram mudadas As Escrituras Sagradas demonstram claramente e de forma abundante que a lei mudada é aquela relacionada com o ritual de purificação dos pecados pelo holocausto de animais, a qual passou do sacerdócio levítico para o sacerdócio de Cristo. Note as mudanças que a lei cerimonial sofreu, conforme registrada pelo próprio autor do livro de Hebreus: Hebreus 2:17-18 – Diferentemente da lei sacerdotal levítica, convinha que Jesus Cristo, “em tudo fosse semelhante aos irmãos, para ser misericordioso e fiel sumo sacerdote naquilo que é de Deus, para expiar os pecados do povo. Porque naquilo que ele mesmo, sendo tentado, padeceu, pode socorrer aos que são tentados”. Hebreus 4:15 – Diferentemente da lei sacerdotal levítica, “não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; porém um que, como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado”. Hebreus 5:9-10 – Diferentemente da lei sacerdotal levítica, sendo Jesus Cristo consumado, “veio a ser a causa de eterna salvação para todos os que lhe obedecem. Chamado por Deus sumo sacerdote, segundo a ordem de Melquisedeque”.


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo Hebreus 6:20 – Diferentemente da lei sacerdotal levítica, “Jesus, nosso precursor, entrou por nós, feito eternamente sumo sacerdote, segundo a ordem de Melquisedeque”. Hebreus 7:14 – Diferentemente da lei sacerdotal levítica, é “manifesto que nosso Senhor procedeu de Judá, e concernente a essa tribo nunca Moisés falou de sacerdócio”. Hebreus 7:17 – Diferentemente da lei sacerdotal levítica, de Jesus “assim se testifica: Tu és sacerdote eternamente, segundo a ordem de Melquisedeque”. Hebreus 7:22-24 – Diferentemente da lei sacerdotal levítica, “de tanto melhor concerto Jesus foi feito fiador. E, na verdade, aqueles foram feitos sacerdotes em grande número, porque pela morte foram impedidos de permanecer. Mas este, porque permanece eternamente, tem um sacerdócio perpétuo”. Hebreus 7:26-27 – Diferentemente da lei sacerdotal levítica, “nos convinha tal sumo sacerdote, santo, inocente, imaculado, separado dos pecadores, e feito mais sublime do que os céus. Que não necessitasse, como os sumos sacerdotes, de oferecer cada dia sacrifícios, primeiramente por seus próprios pecados, e depois pelos do povo; porque isto fez ele, uma vez, oferecendo-se a si mesmo”. Hebreus 8:2 – Diferentemente da lei sacerdotal levítica, Jesus Cristo é “ministro do santuário, e do verdadeiro tabernáculo, o qual o Senhor fundou, e não o homem”. Hebreus 8:6 – Diferentemente da lei sacerdotal levítica, Cristo alcançou um “ministério tanto mais excelente, quanto é mediador dum melhor concerto, que está confirmado em melhores promessas”. Hebreus 9:11-12 – Diferentemente da lei sacerdotal levítica, “vindo Cristo, o sumo sacerdote dos bens futuros, por um maior e mais perfeito tabernáculo, não feito por mãos, isto é, não desta criação. Nem por sangue de bodes e bezerros, mas por seu próprio sangue, entrou uma vez no santuário, havendo efetuado uma eterna redenção”. Hebreus 9:15 – Diferentemente da lei sacerdotal levítica, Jesus Cristo “é Mediador dum novo Testamento, para que, intervindo a morte para remissão das transgressões que havia debaixo do primeiro testamento, os chamados recebam a promessa da herança eterna”. Hebreus 9:24-26 – Diferentemente da lei sacerdotal levítica, “Cristo não entrou num santuário feito por mãos, figura do verdadeiro, porém no mesmo céu, para agora comparecer por nós perante a face de Deus. Nem também para a si mesmo se oferecer muitas vezes, como o sumo sacerdote cada ano entra no santuário com sangue alheio. Doutra maneira, necessário lhe fora padecer muitas vezes desde a fundação do mundo: mas agora na consumação dos séculos uma vez se manifestou, para aniquilar o pecado pelo sacrifício de si mesmo”. Hebreus 10:11-12 e 14 – Diferentemente da lei sacerdotal levítica, “todo o sacerdote aparece cada dia, ministrando e oferecendo muitas vezes os mesmos sacrifícios, que nunca podem tirar os pecados. Mas este, havendo oferecido um único sacrifício pelos


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo pecados, está assentado para sempre à destra de Deus. Porque com uma só oblação aperfeiçoou para sempre os que são santificados”. Observe que em nenhum momento o decálogo ou o sábado foram mencionados ou insinuados. Mesmo porque os Dez Mandamentos não purificam o pecado de ninguém, razão pela qual eles não são cerimoniais. Os Dez Mandamentos tão-somente definem o que é pecado (I João 3:4), indicam ao homem o que é pecado (Romanos 3:20; 7:7) e condena o pecado (Romanos 6:23). Mas, esses mandamentos jamais tiveram a função de expiar o pecado, especialmente porque “sem derramamento de sangue não há remissão” (Hebreus 9:22). É evidente que o decálogo continua vigorando para os cristãos de todas as épocas, principalmente porque o pecado ainda continua sendo praticado e os homens continuam sendo condenados à morte pela transgressão da lei. Caso a lei de Deus tivesse sido abolida não haveria mais pecadores na face da Terra, especialmente porque “onde não há lei também não há transgressão” e “o pecado não é imputado, não havendo lei” (Romanos 4:15; 5:13).

1.6 Considerações finais “Satanás não pôde impedir o plano da salvação. Jesus foi crucificado e ressuscitou no terceiro dia. Mas Satanás disse a seus anjos que ele faria mesmo a crucifixão e ressurreição servirem a seus intuitos. Concordava com que aqueles que professavam fé em Jesus cressem que as leis que regulavam os sacrifícios e ofertas judaicas cessaram por ocasião da morte de Cristo, caso pudesse levá-los mais longe e fazê-los crer que a lei dos Dez Mandamentos também morrera com Cristo”. (Primeiros Escritos, 215). O Senhor Jeová foi muito explicito e objetivo ao declarar em alto e bom som para quem quiser ouvir que foi com Levi que Ele fez o Seu concerto. O Concerto de Decálogo abrangia todas as pessoas, mas aos levitas coube com exclusividade absoluta o concerto do exercício do ministério sacerdotal de expiação de pecados pelo sangue de animais, realizado junto à tenda da congregação. Observe o que diz a Bíblia Sagrada: Malaquias 2:4-6 – “Então sabereis que eu vos enviei este mandamento, para que o meu concerto seja com Levi, diz o Senhor dos Exércitos. Meu concerto com ele foi de vida e de paz, e eu lhas dei para que me temesse, e me temeu: e assombrou-se por causa do meu nome. A lei da verdade esteve na sua boca, e a iniquidade não se achou nos seus lábios: andou comigo em paz e em retidão, e apartou a muitos da iniquidade”. Malaquias 2:7-8 – “Porque os lábios do sacerdote guardarão a ciência, e da sua boca buscarão a lei, porque ele é o anjo do Senhor dos Exércitos. Mas vós vos desviastes do caminho, a muitos fizestes tropeçar na lei: corrompestes o concerto de Levi, diz o Senhor dos Exércitos”. Hebreus 7:5 – “E os que dentre os filhos de Levi recebem o sacerdócio têm ordem, segundo a lei, de tomar o dízimo do povo, isto é, de seus irmãos, ainda que tenham saído dos lombos de Abraão”. Hebreus 7:11 – “De sorte que, se a perfeição fosse pelo sacerdócio levítico (porque sob ele o povo recebeu a lei), que necessidade havia logo de que outro sacerdote se


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo levantasse, segundo a ordem de Melquisedeque, e não fosse chamado segundo a ordem de Aarão?” Deuteronômio 10:8 – “No mesmo tempo o Senhor separou a tribo de Levi, para levar a arca do concerto do Senhor, para estar diante do Senhor, para o servir, e para abençoar em seu nome até ao dia de hoje”. Números 25:13 – “E ele, e a sua semente depois dele, terá o concerto do sacerdócio perpétuo; porquanto teve zelo pelo seu Deus, e fez propiciação pelos filhos de Israel”. Números 18:21 – “E eis que aos filhos de Levi tenho dado todos os dízimos em Israel por herança, pelo seu ministério que exerce, o ministério da tenda da congregação”.

Estas, e muitas outras passagens bíblicas apresentadas no livro de Hebreus mostram claramente que o concerto de expiação de pecados pelo holocausto de animais foi deixado aos cuidados dos levitas. Somente eles poderiam exercer o ministério sacerdotal e ninguém mais. Todavia, os Dez Mandamentos deveriam ser praticados por todas as pessoas, em todas as épocas, e não somente pelos sacerdotes levitas. “‘O Senhor separou a tribo de Levi para levar a arca do concerto do Senhor, para estar diante do Senhor, para O servir e para abençoar em Seu nome’. Deuteronômio 10:8. ‘Meu concerto com ele foi de vida e de paz, e Eu lhas dei para que Me temesse, e Me temeu. ... Andou comigo em paz e em retidão e apartou a muitos da iniqüidade’. Malaquias 2:5-6” (E, 148).


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo

Capítulo 2 A Lei e o Novo Concerto “Deus declarou que o sétimo dia é o sábado do Senhor. Quando ‘os céus e a Terra foram acabados’, Ele exaltou este dia como um memorial de Sua obra criadora. Repousando no sétimo dia ‘de toda a Sua obra que tinha feito’, ‘abençoou Deus o sétimo dia, e o santificou’ Gênesis 2:1-3’”. Ellen Gould White (PR, 180)

2.1 Introdução “A mente deve prestar obediência à régia lei da liberdade, a lei que o Espírito de Deus grava no coração e torna clara para o entendimento. A expulsão do pecado tem de ser o ato da própria alma, pondo em exercício suas faculdades mais nobres. A única liberdade que a vontade finita pode desfrutar consiste em estar em harmonia com a vontade de Deus, cumprindo as condições que tornam o homem participante da natureza divina, livrando-se da corrupção das paixões que há no mundo” (RP, 59). Nos versículos bíblicos que se seguem, podemos observar que o autor do livro de Hebreus faz uma clara referência ao Antigo e ao Novo Concerto. _________________________________________________________________ Hebreus 8:7-8, 10,13; 9:1 – “Porque, se aquele primeiro fora irrepreensível, nunca se teria buscado lugar para o segundo. Porque, repreendendo-os, lhes diz: Eis que virão dias, diz o Senhor, em que com a casa de Israel e com a casa de Judá estabelecerei um novo concerto. Porque este é o concerto que depois daqueles dias farei com a casa de Israel, diz o Senhor; porei as minhas leis no seu entendimento, e em seu coração as escreverei: e eu lhes serei por Deus, e eles me serão por povo. Dizendo Novo Concerto, envelheceu o primeiro. Ora, o que foi tornado velho, e se envelhece, perto está de acabar. Ora também o primeiro tinha ordenanças de culto divino, e um santuário terrestre”. ________________________________________________________________ Esse escritor, divinamente inspirado, afirma que, se o primeiro concerto (Antigo Aliança) de expiação de pecados pelo sacrifício de animais fosse irrepreensível, nunca se teria buscado lugar para o segundo concerto (Nova Aliança) de expiação de pecados pelo sacrifício de Cristo. Observe que no Novo Concerto, Deus colocaria as Suas leis – as que tinham sido negligenciadas pelos antigos judeus – no entendimento (compreensão) e a escreveria no coração do Seu povo santo. A implantação do segundo concerto implicou no envelhecimento e no fim do primeiro. Mas para que todos soubessem qual foi concerto que envelheceu e acabou, o autor do livro de Hebreus fez questão de dizer explicitamente que “o primeiro tinha ordenanças de culto divino, e um santuário terrestre”. Quando esse escritor sacro diz, textualmente, que o primeiro concerto “tinha ordenanças de culto divino”, ele está deixando bem claro de que não estava se referindo


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo ao concerto do decálogo, mas estava tratando do cerimonial religioso ministrado pelo sacerdócio levítico, com seus múltiplos sacrifícios de animais de expiação de pecados pelo sangue de animais, os quais eram realizados exclusivamente no “santuário terrestre”. Com a morte de Cristo, entramos na era do Novo Concerto (Mateus 26:28), onde os Dez Mandamentos (Êxodo 34:28; Deuteronômio 4:12-13; 10:4), também chamados por Paulo de “lei de Deus” (Romanos 7:22 e 25; 8:7), não foram abolidos, mas sim, colocados na compreensão do cristão e também escrita em seu coração. Tanto é verdade que Jesus Cristo e os santos apóstolos – por preceito e exemplo – ensinaram sobre o dever do cristão observar a lei de Deus. Reportando-se àqueles que estão vivendo na carne e que não obedecem à lei de Deus, Paulo afirmou o seguinte: “Porquanto a inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem, em verdade, o pode ser. Portanto, os que estão na carne não podem agradar a Deus” (Romanos 8:7-8). Disso deduz-se que a inclinação do espírito se sujeita à lei de Deus, enquanto que a inclinação da carne não se sujeita à lei de Deus. Caso a lei de Deus tenha sido abolida, então a qual lei o santo apóstolo está fazendo referência? Que fique bem claro, o “Novo Concerto” não trata da expiação de pecados pelo “sangue de animais”, mas cuida com exclusividade absoluta da expiação de pecados pelo “sangue de Cristo”. O decálogo (dez palavras) é uma lei comum em ambos os concertos. Especialmente porque essa lei aponta para o pecado, o qual somente pode ser purificado pelo derramamento de sangue, haja vista que “sem derramamento de sangue não há remissão” (Hebreus 9:22). Destarte, antes da cruz o pecador era purificado de todos os seus pecados (transgressão da lei) exclusivamente pelo sangue de animais. Após a cruz o pecador é purificado de todos os seus pecados (transgressão da lei) exclusivamente pelo sangue de Cristo (I João 1:7).

2.2 O vigor da lei de Deus “Muitos ensinadores religiosos afirmam que Cristo, pela Sua morte, aboliu a lei e, em virtude disso, estão os homens livres de seus requisitos. Alguns há que a representam como um jugo penoso; e em contraste com a servidão da lei apresentam a liberdade a ser desfrutada sob o evangelho. Não foi, porém, assim que profetas e apóstolos consideravam a santa lei de Deus... A declaração de que Cristo por Sua morte aboliu a lei do Pai, não tem fundamento. Se tivesse sido possível mudar a lei ou pô-la de parte, não teria sido necessário que Cristo morresse para salvar o homem da pena do pecado” (RR, 11).

Jeremias 31:31-33 – “Eis que dias vêm, diz o Senhor, em que farei um concerto novo com a casa de Israel e com a casa de Judá. Não conforme o concerto que fiz com seus pais, no dia em que os tomei pela mão, para os tirar da terra do Egito; porquanto eles invalidaram o meu concerto, apesar de eu os haver desposado, diz o Senhor. Mas este é o concerto que farei com a casa de Israel depois daqueles dias, diz o Senhor: Porei a minha lei no seu interior, e a escreverei no seu coração; e eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo”. _________________________________________________________________


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo Admitindo a absurda hipótese de que toda a lei – moral e cerimonial – foi cancelada na cruz, então qual da “minha lei” seria escrita no coração dos adoradores que estariam vivendo sob a égide do Novo Concerto? Se a lei foi abolida na cruz, então por que Paulo ensinou que “pela lei vem o conhecimento do pecado” (Romanos 3:20)? Conjeturando que a lei foi abolida na cruz, então por que o pecado é definido pela Bíblia Sagrada como transgressão da lei (I João 3:4)? Presumindo que a lei foi abolida na cruz, então por ainda existem pecadores, posto que “onde não há lei também não há transgressão” e “o pecado não é imputado, não havendo lei” (Romanos 4:15; 5:13)? Cuidando que a lei foi abolida na cruz, então por que o salário do pecado é a morte (Romanos 6:23)? Cogitando que a lei foi abolida na cruz, então por que adulterar ou matar são tidos como transgressões da lei (Tiago 2:11)? Julgando que a lei foi abolida na cruz, então por que Paulo escreveu que “não conheceria a concupiscência, se a lei não dissesse: Não cobiçarás” (Romanos 7:7)? Supondo que a lei foi abolida na cruz, então por que Paulo disse que a inclinação da carne “não é sujeita à lei de Deus” (Romanos 8:7)? Acolhendo a suposição de que a lei foi cravada na cruz, então por que Jesus e os santos apóstolos repetiram e praticaram os preceitos do decálogo? A resposta para todas essas perguntas é muito simples: Primeira, a “lei de Deus” jamais foi abolida. Segunda, Deus jamais afirmou que Ele escreveria no coração dos crentes “novas leis”, mas faz questão de deixar bem claro a Jeremias de que se tratava das mesmas leis que os antigos judeus conheciam muito bem (Jeremias 31:31-33), mas que não estavam em seu entendimento ou escrita em seus corações. Caso se tratasse de outras leis ou leis diferentes, Deus estaria fazendo acepção de pessoas, promulgando leis impossíveis de serem guardadas no coração para um determinado grupo de indivíduos e proclamando outras leis possíveis de serem guardadas no coração para outro grupo de pessoas. Desse modo, o Senhor Jeová estaria dificultando a salvação para algumas pessoas e facilitando para outras. Mas a Bíblia Sagrada ensina claramente que o Senhor Jeová não faz acepção de pessoas: (Deuteronômio 10:17; Atos 10:34; Romanos 2:11; I Pedro 1:17). “Duas espécies de peso, e duas espécies de medida, são abominação para o Senhor, tanto uma cousa como outra” (Provérbios 20:10). Ademais, as Escrituras Sagradas deixam bem claro que na cruz, com a morte do “Cordeiro de Deus” (João 1:29; 36), foi definitivamente cancelado o concerto do cerimonial religioso do sacerdócio levítico, e não o concerto dos Dez Mandamentos, que foram ensinados por Jesus e pelos santos apóstolos por preceito e exemplo. O concerto do sacerdócio levítico tinha uma função totalmente diferente do concerto do decálogo. Enquanto o primeiro apontava para a morte de Cristo e realizava a expiação do pecado por meio dos holocaustos de animais, o segundo apontava para o pecado e condenava o pecador (transgressor) à morte.

2.3 A lei e as transgressões “Após o pecado e queda de Adão, nada foi tirado da lei de Deus. Os princípios dos Dez Mandamentos existiam antes da queda, e eram de caráter adequado à condição de uma ordem de seres santos... Foi estabelecida então um sistema que requeria o sacrifício de animais, para que se mantivesse diante do homem caído aquilo que a serpente fizera Eva descrer: que a penalidade para a desobediência é a morte. A transgressão da lei de Deus tornou necessário que Cristo morresse como sacrifício, possibilitando assim ao homem escapar da penalidade, sendo ainda preservada a honra da lei de Deus.” (CS, 22).


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo Gálatas 3:19 – “Logo, para que é a lei? Foi ordenada por causa das transgressões, até que viesse a posteridade a quem a promessa tinha sido feita; e foi posta pelos anjos na mão de um medianeiro”. _________________________________________________________________ Note que o versículo em análise nada diz sobre os Dez Mandamentos. Mas, fala claramente sobre uma lei que “foi ordenada por causa das transgressões”; uma lei que ficaria vigorando “até que viesse a posteridade”. Ora, somente existe “transgressões” se anteriormente existir alguma lei para ser transgredida: “onde não há lei também não há transgressão” (Romanos 4:15). É impossível transgredir uma lei que não existe: “o pecado não é imputado, não havendo lei” (Romanos 5:13). Portanto, a lei que “foi ordenada por causa das transgressões” tem que ser, obrigatoriamente, diferente da lei dos Dez Mandamentos. A edição da Bíblia Almeida Revista e Atualizada coloca no lugar da palavra “ordenada”, a expressão “adicionada”. A palavra “adicionar” quer dizer “acrescentar”, “acrescer” ou “juntar”. Mas qual lei foi “adicionada” ou “ordenada por causa das transgressões”? Ora, o pecado é definido biblicamente como sendo a transgressão da lei moral (I João 3:4). Então se segue que a lei adicionada ou ordenada por causa das transgressões da lei moral é a lei cerimonial de expiação de pecados pelo holocausto de animais, ministrada pelos sacerdotes levitas no santuário terrestre. Essa lei deveria ficar vigorando até “que viesse a posteridade”, isto é Cristo.

2.4 As duas leis em levítico A lei cerimonial era a única que “foi ordenada por causa das transgressões” da lei moral. Ela era a única que possibilitava a expiação dos pecados que resultavam da transgressão dos Mandamentos de Deus. A título de exemplo de lei “ordenada por causa das transgressões” da lei moral, considere a seguinte passagem bíblica:

Levítico 4:27-29 – “E se qualquer outra pessoa do povo da terra pecar por erro, fazendo contra algum dos mandamentos do Senhor, aquilo que se não deve fazer, e assim for culpada. Ou se o seu pecado, no qual pecou, lhe for notificado, [Lei Moral] então trará por sua oferta uma cabra fêmea sem mancha, pelo seu pecado que pecou. E porá a sua mão sobre a cabeça da expiação do pecado, e degolará a expiação do pecado no lugar do holocausto [Lei Cerimonial]”. __________________________________________________________________ Caso a lei moral – que foi transgredida – fosse censurável, então no lugar de ser ordenada uma outra lei por causa das transgressões daquela, deveria a lei moral ter sido revogada. Mas, não foi isso que ocorreu. Nos versículos supra mencionados, podemos vislumbrar a existência de duas espécies de leis. Uma que é “transgredida” pela prática contrária a algum dos mandamentos do Senhor (Levítico 4:27 – Lei Moral) e outra que “foi ordenada por causa das transgressões” para fazer “expiação” do pecado através do holocausto de


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo animais, os quais eram realizados no lugar onde estava localizado o santuário terrestre, sob a supervisão dos sacerdotes levitas (Levítico 4:29 – Lei Cerimonial). Quando Cristo expirou na cruz, o ministério sacerdotal levítico, também conhecido como Antiga Aliança ou Testamento, foi definitivamente abolido (Daniel 9:27; Mateus 27:51; Colossenses 2:14,16-17), passando a vigorar em seu lugar, o ministério sacerdotal de Cristo, também conhecido como Nova Aliança ou Novo Testamento.

2.5 As duas leis em Isaías A transgressão dos Dez Mandamentos levou o Senhor a ordenar o estabelecimento da lei cerimonial de sacrifício de animais. O simbolismo da expiação de pecados pelo holocausto de animais era uma sombra que apontava para o sacrifício do “Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (João 1:29). O profeta Isaías fez uma clara distinção entre a lei moral e a lei cerimonial quando escreveu o seu livro:

Isaías 56:6-7 – “E aos filhos dos estrangeiros, que se chegarem ao Senhor, para o servirem, e para amarem o nome do Senhor, sendo deste modo servos seus,todos os que guardarem o sábado, não o profanando, e os que abraçarem o meu concerto [Lei Moral]. Também os levarei ao meu santo monte, e os festejarei na minha casa de oração; os seus holocaustos e os seus sacrifícios serão aceitos no meu altar [Lei Cerimonial], porque a minha casa será chamada casa de oração para todos os povos”. _________________________________________________________________ Nos versículos supra mencionados podemos constatar que Isaías fazia questão de distinguir duas espécies de leis, caso contrário o profeta estaria sendo redundante. O profeta fez referência à lei moral quando fala dos estrangeiros guardando “o sábado, não o profanando, e os que abraçarem o meu concerto” (Isaías 56:6) e também fala da lei cerimonial quando diz que “os seus holocaustos e os seus sacrifícios serão aceitos no meu altar” (Isaías 56:7). A lei do ministério sacerdotal levítico de holocausto de animais vigoraria “até que viesse a posteridade” (Gálatas 3:19), isto é “o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (João 1:29). Quando Cristo expirou na cruz, cessou definitivamente a eficácia do ministério sacerdotal levítico no santuário terrestre, passando a vigorar o ministério sacerdotal de Cristo no santuário celestial.

2.6 Considerações finais “A Bíblia com suas preciosas gemas de verdade não foi escrita para o sábio somente. Ao contrário, destina-se ao povo comum; e a interpretação que lhe dá o povo comum, quando auxiliado pelo Espírito Santo, harmoniza-se melhor com a verdade como é em Jesus. As grandes verdades necessárias para a salvação tornam-se claras como a luz meridiana, e ninguém errará o caminho exceto os que seguem seu próprio juízo em vez da vontade de Deus, claramente revelada.” (VT, 331). Observe a afirmação que o Novo Testamento faz sobre a abolição do Antigo Concerto, o qual era ministrado pelo sacerdócio levítico no santuário terrestre, e que se referia exclusivamente à expiação de pecados pelo holocausto de animais:


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo Hebreus 7:11-12 – “De sorte que, se a perfeição fosse pelo sacerdócio levítico (porque sob ele o povo recebeu a lei), que necessidade havia logo de que outro sacerdote se levantasse, segundo a ordem de Melquisedeque, e não fosse chamado segundo a ordem de Aarão? Porque, mudando-se o sacerdócio, necessariamente se faz também mudança da lei”. Hebreus 7:19-21 – “(Pois a lei nenhuma coisa aperfeiçoou) e desta sorte é introduzida uma melhor esperança, pela qual chegamos a Deus. E visto como não é sem prestar juramento (porque certamente aqueles, sem juramento, foram feitos sacerdotes. Mas este com juramento por aquele que lhe disse: Jurou o Senhor, e não se arrependerá: Tu és sacerdote eternamente, segundo a ordem de Melquisedeque)”. Hebreus 7:22-24 – “De tanto melhor concerto Jesus foi feito fiador. E, na verdade, aqueles foram feitos sacerdotes em grande número, porque pela morte foram impedidos de permanecer. Mas este, porque permanece eternamente, tem um sacerdócio perpétuo”. Hebreus 8:5-6 – “Os quais servem de exemplar e sombra das coisas celestiais, como Moisés divinamente foi avisado, Estando já para acabar o tabernáculo; porque foi dito: Olha, faze tudo conforme o modelo que no monte se te mostrou. Mas agora alcançou ele ministério tanto mais excelente, quanto é mediador dum melhor concerto, que está confirmado em melhores promessas”. Hebreus 8:7-8 – “Porque, se aquele primeiro fora irrepreensível, nunca se teria buscado lugar para o segundo. Porque, repreendendo-os, lhes diz: Eis que virão dias, diz o Senhor, em que com a casa de Israel e com a casa de Judá estabelecerei um novo concerto”. Hebreus 8:13; 9:1 – “Dizendo Novo Concerto, envelheceu o primeiro. Ora, o que foi tornado velho, e se envelhece, perto está de acabar. Ora também o primeiro tinha ordenanças de culto divino, e um santuário terrestre”. Hebreus 9:9-10 – “Que é uma alegoria para o tempo presente, em que se oferecem dons e sacrifícios que, quanto à consciência, não podem aperfeiçoar aquele que faz o serviço. Consistindo somente em manjares, e bebidas, e várias abluções e justificações da carne, impostas até ao tempo da correção”. Hebreus 9:15-17 – “E por Isso é Mediador dum novo Testamento, para que, intervindo a morte para remissão das transgressões que havia debaixo do primeiro Testamento, os chamados recebam a promessa da herança eterna. Porque onde há Testamento necessário é que intervenha a morte do testador. Porque um Testamento tem força onde houve morte; ou terá ele algum valor enquanto o testador vive?”. Hebreus 9:18-21 – “Pelo que também o primeiro não foi consagrado sem sangue. Porque, havendo Moisés anunciado a todo o povo todos os mandamentos segundo a lei, tomou o sangue dos bezerros e dos bodes, com água, lã purpúrea e hissope, e aspergiu tanto o mesmo livro como todo o povo. Dizendo: Este é o sangue do Testamento que Deus vos tem mandado. E semelhantemente aspergiu com sangue o tabernáculo e todos os vasos do ministério”.


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo Hebreus 10:1-4 – “Porque, tendo a lei a sombra dos bens futuros, e não a imagem exata das coisas, nunca, pelos mesmos sacrifícios que continuamente se oferecem cada ano, pode aperfeiçoar os que a eles se chegam. Doutra maneira, teriam deixado de se oferecer, porque, purificados uma vez os ministrantes, nunca mais teriam consciência de pecado. Nesses sacrifícios, porém, cada ano se faz comemoração dos pecados. Porque é impossível que o sangue dos touros e dos bodes tire os pecados”. Hebreus 10:8-9 – “Como acima diz, Sacrifício e oferta, e holocaustos e oblações pelo pecado não quiseste, nem te agradaram (os quais se oferecem segundo a lei). Então disse: Eis aqui venho, para fazer, ó Deus, a tua vontade. Tira o primeiro, para estabelecer o segundo”. Portanto, diante das contundentes provas apresentadas por todos os versículos bíblicos retro expostos, ficou claramente demonstrado que a “lei ordenada por causa das transgressões” refere-se com exclusividade à lei de expiação dos pecados pelo holocausto de animais. Jamais se referiu ao decálogo ou ao “santo sábado do Senhor”. A lei cerimonial de expiação de pecados pelo sangue de animais vigoraria até que viesse a posteridade, que é Cristo. Quando então tal lei seria completamente cumprida na vida de Cristo e abolida com a crucifixão de Jesus. Nada mais claro e certo!


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo

Capítulo 3 As Ordenanças Cravadas na Cruz “Vi que o mandamento do sábado não fora pregado na cruz. Se assim fosse, os outros nove mandamentos teriam sido também, e teríamos a liberdade de violá-los todos, assim como violamos o quarto”. Ellen Gould White (VE, 93)

3.1 Introdução Observando o Novo Testamento, podemos constatar que algumas leis mencionadas no Antigo Testamento tinham que ser praticadas até o momento da morte de Cristo, sobretudo porque os crentes eram tutelados por elas até a vinda de Cristo, enquanto que outras leis deveriam ser observadas, mesmo após a morte de Cristo, especialmente porque os crentes são santificados por elas. As leis que deveriam ser observadas até o momento da morte de Cristo eram aquelas que estavam relacionadas com a expiação de pecado por meio do holocausto de animais, as quais estavam ao encargo do ministério sacerdotal levítico e eram realizadas no santuário terrestre. Elas eram sombras (Hebreus 8:5; 10:1) que apontavam para a morte do “Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (João 1:29). “E, sendo ele consumado, veio a ser a causa de eterna salvação para todos os que lhe obedecem” (Hebreus 5:9). As leis que deveriam continuar sendo obedecidas, mesmo após a morte de Cristo, são aquelas que estão relacionadas com a santificação do homem, também conhecida como lei moral. Essa lei é a norma de conduta estabelecida por Deus para ser praticada tanto pelos crentes do Antigo como do Novo Testamento. Ela é o padrão pelo qual o caráter do crente é aferido. A lei moral foi praticada por preceito e exemplo por Jesus Cristo e pelos santos apóstolos em diversas ocasiões. “Com efeito: Não adulterarás: Não matarás: Não furtarás: Não darás falso testemunho: Não cobiçarás: e se há algum outro mandamento, tudo nesta palavra se resume: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo” (Romanos 13:9). Supondo que a lei de Deus foi abolida com a morte de Cristo, então concluímos que os crentes não podem mais cometer qualquer espécie de pecado; pois, “onde não há lei também não há transgressão” e “o pecado não é imputado, não havendo lei” (Romanos 4:15; 5:13). Como não comentem pecado não necessitam de perdão ou de um advogado junto ao Pai, e nada tem para confessar diante de Deus. Deste modo, a negação da lei implica na total destruição do plano da salvação. “Ninguém se engane com a crença de que pode tornar-se santo enquanto voluntariamente transgride um dos mandamentos de Deus. Um pecado cometido deliberadamente faz silenciar a voz testemunhadora do Espírito e separa a pessoa de Deus” (RR, 16).

3.2 Ordenanças cravadas na cruz


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo O apóstolo Paulo ensina explicitamente que Cristo cravou na cruz a “cédula que era contra nós nas suas ordenanças”. Observe o que diz o santo apóstolo:

Colossenses 2:14 – “Havendo riscado a cédula que era contra nós nas suas ordenanças, a qual de alguma maneira nos era contrária, e a tirou do meio de nós, cravando-a na cruz”. ____________________________________________________________________ Diante dessa afirmativa podemos levantar as seguintes questões: O que são ordenanças? O que Paulo entendia pelo vocábulo “ordenanças”? Quais são as “ordenanças” que Paulo estava se referindo? Em que contexto as Escrituras Sagradas empregam a expressão “ordenanças”? Bem, vamos verificar qual é o significado da palavra “ordenanças”. É evidente que o sentido, significado e conteúdo axiológico dessa palavra deve ser procurada somente na Bíblia Sagrada. Ela é, com exclusividade, nossa única regra de fé. “Não há doutrina correta além da que se conforma com a Palavra divina. ... O Senhor proíbe o ensino de qualquer outra doutrina. ... As Sagradas Escrituras devem ser explicadas por outros textos mais claros; ...este santo Livro é, em todas as coisas necessárias ao cristão, fácil de compreender e destinado a dissipar as trevas” (GC, 203). Então, vejamos: Êxodo 12:43 – “Disse mais o Senhor a Moisés e a Aarão: Está é a ordenança da páscoa; nenhum filho do estrangeiro comerá dela”. Êxodo 39:37 – “O castiçal puro com suas lâmpadas, as lâmpadas da ordenança, e todos os seus vasos, e o azeite para a luminária”. II Reis 17:37 – “E os estatutos, e as ordenanças, e a lei, e o mandamento, que vos escreveu tereis cuidado de observar todos os dias: e não temereis a outros deuses”. I Crônicas 15:13 – “Pois que, porquanto primeiro vós assim o não fizestes, o Senhor fez rotura em nós, porque o não buscamos segundo a ordenança”. Ezequiel 44:8 – “E não guardastes a ordenança das minhas cousas sagradas; antes vos constituístes, a vós mesmos guardas da minha ordenança no meu santuário”. Ezequiel 44:14 – “Contudo, eu os constituirei guardas da ordenança da casa, em todo o seu serviço, e em tudo o que nela se fizer”. Ezequiel 44:15 – “Mas os sacerdotes levíticos, os filhos de Zadoque, que guardaram a ordenança do meu santuário, quando os filhos de Israel se extraviaram de mim, se chegarão a mim, para me servirem, e estarão diante de mim, para me oferecerem a gordura e o sangue, diz o Senhor Jeová”. Ezequiel 44:16 – “Eles entrarão no meu santuário, e se chegarão à minha mesa, para me servirem, e guardarão a minha ordenança”. Ezequiel 48:11 – “E será para os sacerdotes santificados dentre os filhos de Zadoque, que guardaram a minha ordenança, que não andaram errados, quando os filhos de Israel se extraviaram, como se extraviaram os outros levitas”.


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo Hebreus 9:1 – “Ora também o primeiro tinha ordenanças de culto divino, e um santuário terrestre”. Diante dos versículos retro mencionados fica claro que a palavra “ordenanças” é citada em muitas outras porções das Escrituras Sagradas. É digno de nota observar que a maioria dessas citações faz referência aos cerimoniais religiosos do antigo culto divino do sacerdócio levítico. Evidentemente, o apóstolo Paulo – eminente doutor das Escrituras Sagradas – tinha em mente que as “ordenanças” são tão-somente as leis cerimoniais de holocausto de animais, os quais eram sacrificados no pátio do santuário terrestre. Como prova dessa afirmação, verifica-se que em outra epístola, Paulo esclarece que o primeiro concerto (Antiga Aliança) “tinha ordenanças de culto divino, e um santuário terrestre” (Hebreus 9:1). Portanto, mais uma vez fica claro que as “ordenanças” eram cultos divinos que estavam relacionados com a expiação de pecados pelo holocausto de animais, os quais eram realizados no “santuário terrestre”. Nas Escrituras Sagradas os vocábulos “ordenança” ou “ordenanças”, são aplicadas às leis cerimoniais relacionadas ao sacerdócio levítico. Nenhuma delas nomeia o decálogo de ordenanças ou insinua que o sábado bíblico é uma ordenança. Na maioria das vezes, em que as Escrituras Sagradas se refere ao decálogo ou a qualquer um de seus mandamentos, ela emprega expressões, tais como: “lei de Deus” (Romanos 7:22; 7:25; 8:7), “mandamentos” (marcos 10:19; Lucas 18:20) ou “mandamentos de Deus” (Apocalipse 12:17; 14:12). Mas, nunca empregou a expressão “ordenanças” para designar o decálogo ou a qualquer um de seus mandamentos. Além disso, é claro que Paulo jamais considerou que as “ordenanças” fossem os Dez Mandamentos ou o sábado semanal, sobretudo porque, em muitas outras passagens bíblicas, o próprio apóstolo defende por preceito e exemplo a observância da lei e do “santo sábado do Senhor”. Caso o apóstolo Paulo estivesse considerando que a lei e o sábado eram “ordenanças” que foram abolidas na cruz, então ele estaria na contra-mão do restante das Escrituras Sagradas, bem como estaria contradizendo os seus próprios escritos. O que, logicamente, não é o caso.

3.3 Uma lei que consistia em ordenanças

Efésios 2:15 – “Na sua carne desfez a inimizade, isto é, a lei dos mandamentos, que consistia em ordenanças, para criar em si mesmo dos dois um novo homem, fazendo a paz”. _________________________________________________________________ Nesse versículo, Paulo afirma explicitamente que Cristo “desfez” a “lei dos mandamentos”. Ocorre que na Bíblia Sagrada existem centenas de leis e mandamentos. Então, a qual lei Paulo estaria se referindo? Bem, observe como o santo apóstolo responde a essa pergunta: “a lei dos mandamentos, que consistia em ordenanças”. Ora, como sabemos, “a lei dos mandamentos, que consistia em ordenanças” nada mais era do que a lei cerimonial do sacerdócio levítico. Tal afirmativa advém do fato de que o próprio apóstolo, no livro de Hebreus, ensina claramente que o primeiro


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo concerto tinha “ordenanças”, “culto divino” e “santuário terrestre” (Hebreus 9:1). Portanto, está claro que as ordenanças eram os cerimoniais do culto divino realizados no santuário terrestre através dos holocaustos de animais. Ademais, as Escrituras Sagradas fazem vinte e duas referências sobre o termo “ordenança” ou “ordenanças”. Todavia, nenhuma delas ensina, sugere ou insinua que se trata dos Dez Mandamentos ou do santo sábado. Na realidade, essas referências deixam bem claro que as “ordenanças” estão diretamente vinculadas às leis cerimoniais, as quais regiam as atividades do sacerdócio levítico no santuário terrestre. Destarte, havia a ordenança da páscoa (Êxodo 12:42); as lâmpadas da ordenança (Êxodo 39:37); ordenança do santuário (Ezequiel 44:8); sacerdotes levitas que guardavam a ordenança do santuário (Ezequiel 44:15) etc. Além disso, as Escrituras Sagradas fazem uma clara distinção entre “ordenanças”, “estatutos”, “lei” e “mandamento” (II Reis 17:34). Isto indica que o termo “ordenanças” é um nome bem específico e distinto dos demais, o qual não engloba “estatutos”, “leis” e “mandamentos”, caso contrário os escritores bíblicos estariam sendo redundantes em seus escritos. Portanto, a mencionada “lei dos mandamentos, que consistia em ordenanças” não é de forma alguma a lei dos Dez Mandamentos. O que Paulo está fazendo é uma referência às ordenanças das leis cerimoniais, com os seus múltiplos holocaustos de animais realizados no santuário terrestre, sob a supervisão dos sacerdotes levitas. O decálogo é uma lei moral que define o que é pecado. Portanto, os Dez Mandamentos não realizam a expiação dos pecados, não purificam o pecador, não perdoam o transgressor, não justificam pessoa alguma de seus pecados e nem salvam aqueles que praticam o pecado, porque essa não é a sua função. A verdade é que “se Adão não tivesse transgredido a Lei de Deus, nunca teria sido instituída a lei cerimonial” (ME, I, 230). Nunca é demais lembrar que o sábado foi santificado (separado) na criação do mundo, bem antes da entrada do pecado. Portanto, o sábado não é uma lei cerimonial, haja vista que não realiza a expiação do pecado de ninguém. Além do mais, o sábado faz parte integrante dos Dez Mandamentos. Por ser moral, o sábado foi colocado no coração do decálogo, que é uma lei moral. Assim, existe o dever do cristão de guardar os Dez Mandamentos, os quais foram praticados por preceito e exemplo no Novo Testamento por Jesus Cristo e pelos santos apóstolos. Como o sábado é um desses mandamentos, então segue-se que os cristãos também precisam guardá-lo.

3.4 Ordenanças que nos era contrária Paulo afirma que a “cédula” tirada do nosso meio e cravada na cruz “era contra nós” em suas ordenanças. Também afirma que essa cédula “de alguma maneira nos era contrária”. Observe o que diz as santas Escrituras:

Colossenses 2:14 – “Havendo riscado a cédula que era contra nós nas suas ordenanças, a qual de alguma maneira nos era contrária, e a tirou do meio de nós, cravando-a na cruz”. _________________________________________________________________ Mas, qual era a “cédula” mencionada na Bíblia Sagrada que de alguma maneira nos era contrária? Certamente não se tratava dos Dez Mandamentos, conforme as razões a seguir elencadas: 1ª) o pecado não existe onde não há lei; a abolição da lei implicaria


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo na abolição do pecado; 2ª) Paulo estaria entrando em contradição, especialmente porque em muitas passagens bíblicas ele defende vigorosamente a observância dos Dez Mandamentos (Romanos 3:20; 7:7); 3ª) o decálogo é contrário ao comportamento dos ímpios, dos injustos e dos pecadores e não contrário ao comportamento dos justos, dos puros e dos santos, que vivem em harmonia com os preceitos da lei. “A lei mantém o transgressor em sujeição, mas o obediente está livre” (ST, 18 de julho de 1878). Observe o que o apóstolo Paulo afirma sobre a lei de Deus:

I Timóteo 1:9-10 – “Sabendo isto, que a lei não é feita para o justo, mas para os injustos e obstinados, para os ímpios e pecadores, para os profanos e irreligiosos, para os parricidas e matricidas, para os homicidas. Para os fornicários, para os sodomitas, para os roubadores de homens, para os mentirosos, para os perjuros, e para o que for contrário à sã doutrina”. __________________________________________________________________ Então, qual era a “cédula” que de alguma maneira nos era contrária em suas ordenanças? A resposta está indicada na própria Escritura Sagrada. Observe: I Samuel 15:22 – “Porém Samuel disse: Tem porventura o Senhor tanto prazer em holocaustos e sacrifícios, como em que se obedeça à palavra do Senhor? eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar; e o atender melhor é do que a gordura de carneiros”. Salmos 51:16-17 e 19 – “Porque te não comprazes em sacrifícios, senão eu os daria; tu não te deleitas em holocaustos. Os sacrifícios para Deus são o espírito quebrantado; a um coração quebrantado e contrito não desprezarás, ó Deus. Então te agradarás de sacrifícios de justiça, dos holocaustos e das ofertas queimadas; então se oferecerão novilhos sobre o teu altar”. Eclesiastes 5:1 – “Guarda o teu pé, quando entrares na casa de Deus; e inclina-te mais a ouvir do que a oferecer sacrifícios de tolos, pois não sabem que fazem mal”. Isaías 1:11 e 15 – “De que me serve a mim a multidão de vossos sacrifícios, diz o Senhor? Já estou farto dos holocaustos de carneiros, e da gordura de animais nédios; e não folgo com o sangue de bezerros, nem de cordeiros, nem de bodes. Pelo que, quando estendeis as vossas mãos, escondo de vós os meus olhos; sim, quando multiplicais as vossas orações, não as ouço, porque as vossas mãos estão cheias de sangue”. Jeremias 6:19-20 – “Ouve tu, ó terra! Eis que eu trarei mal sobre este povo, o próprio fruto dos seus pensamentos; porque não estão atentos às minhas palavras, e rejeitam a minha lei. Para que pois me virá o incenso de Sabá e a melhor cana aromática de terras remotas? vossos holocaustos não me agradam, nem me são suaves os vossos sacrifícios”. Oséias 6:6 – “Porque eu quero misericórdia, e não o sacrifício; e o conhecimento de Deus, mais do que os holocaustos”. A lei cerimonial do sacerdócio levítico “de alguma maneira nos era contrária” porque no Antigo Concerto os amantes do pecado cometiam todos os tipos de


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo atrocidades e, posteriormente, ofereciam sacrifícios de animais visando alcançar a expiação dos seus pecados, mas sem o devido arrependimento ou mudança de atitude. Tal situação criava um círculo vicioso. Muitos supunham que tinham plena liberdade para pecar, bastando depois oferecer os holocausto de animais para purificação dos seus pecados. Os pecadores impenitentes haviam degenerado o sentido do cerimonial de holocausto de animais a uma mera formalidade, sem maiores consequências espirituais. Foi por essa razão que o Senhor afirmou: “Já estou farto dos holocaustos de carneiros, e da gordura de animais nédios; e não folgo com o sangue de bezerros, nem de cordeiros, nem de bodes” (Isaías 1:11).

3.5 Ineficácia das ordenanças Por que a cédula cravada na cruz “era contra nós nas suas ordenanças”? Por que essa cédula “de alguma maneira nos era contrária”? As Escrituras Sagradas falando o primeiro concerto de holocausto de animais, afirma que “se aquele primeiro fora irrepreensível, não se teria buscado lugar para o segundo” (Hebreus 8:7). Portanto, a “cédula que era contra nós nas suas ordenanças” era totalmente repreensível. Discorrendo sobre o sacerdócio levítico, o autor do livro de Hebreus afirma que: “De sorte que, se a perfeição fosse pelo sacerdócio levítico ... que necessidade havia logo de que outro sacerdote se levantasse ... ?” (Hebreus 7:11-12). Logo, a “cédula que era contra nós nas suas ordenanças” refere-se ao sacerdócio levítico, o qual não trouxe nenhuma perfeição. Falando sobre a lei cerimonial, o livro de Hebreus afirma que “a lei nenhuma coisa aperfeiçoou” (Hebreus 7:19). Logo, a “cédula que era contra nós nas suas ordenanças” não aperfeiçoou coisa alguma. Está escrito que os sacrifícios de animais realizados no santuário terrestre “é uma alegoria para o tempo presente, em que se oferecem dons e sacrifícios que, quanto à consciência, não podem aperfeiçoar aquele que faz o serviço” (Hebreus 9:9). Por conseguinte, a cédula “era contra nós nas suas ordenanças” porque não pode aperfeiçoar aquele que faz o serviço religioso. Também está escrito que os sacrifícios de animais oferecidos no santuário terrestre não pode aperfeiçoar aqueles que se chegam a esses serviços: “porque, tendo a lei a sombra dos bens futuros, e não a imagem exata das coisas, nunca, pelos mesmos sacrifícios que continuamente se oferecem cada ano, pode aperfeiçoar os que a eles se chegam”. (Hebreus 10:1). Portanto, a cédula “era contra nós nas suas ordenanças” porque não pode aperfeiçoar os que a eles se chegam. Finalmente podemos acrescentar o fato de que a cédula “era contra nós nas suas ordenanças” (Colossenses 2:14) “porque é impossível que o sangue dos touros e dos bodes tire os pecados” (Hebreus 10:4).

3.6 Considerações finais “O sistema típico de sacrifícios e ofertas foi estabelecido para que, através desses rituais o pecador pudesse discernir a grande oferta, Cristo. Mas os judeus estavam tão cegos pelo orgulho e pecado que apenas alguns deles podiam ver mais do que a morte de animais como expiação pelo pecado; e quando veio Cristo, a quem essas ofertas prefiguraram, não puderam reconhecê-Lo” (RH, 06 de maio de 1875).


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo As ordenanças de sacrifício de animais tornaram-se totalmente ineficazes para purificar o pecador por culpa exclusiva do próprio transgressor da lei de Deus. Em vez de se arrepender e abandonar definitivamente o pecado, o transgressor da santa lei de Deus continuava impenitente, vivendo na prática do pecado e do mal. Eles raciocinavam que, no momento em que bem quisessem, poderiam se purificar de seus pecados por meio do cerimonial dos sacrifícios de animais. A possibilidade de alcançar facilmente a expiação dos pecados pelos holocaustos de animais, tornava os pecadores empedernidos e mais depravados na transgressão dos preceitos morais oriundos dos Dez Mandamentos. Esses pecadores impenitentes ofereciam os sacrifícios de animais e esperavam alcançar a purificação de seus pecados – não porque estivessem sinceramente arrependidos ou desejassem corrigir-se do caminho do mal – mas com o fundamento do ritual da expiação através do holocausto dos animais. No decorrer do tempo esse ritual havia se tornado numa mera formalidade a ser seguida ao pé da letra sem a devida compreensão do seu profundo significa espiritual. Essa distorção da vontade do Senhor Jeová levou o profeta Samuel a proclamar que “obedecer é melhor do que o sacrificar”. As Escrituras Sagradas mostram claramente que em várias ocasiões o Senhor recusou os sacrifícios oferecidos por Seu povo por causa da falta de sincero arrependimento e genuína conversão. Nessas ocasiões o Senhor os advertia de que, a menos que fossem misericordiosos uns para com os outros, Ele não se agradaria dos seus holocaustos e, portanto, não haveria purificação de pecados. A falta de arrependimento e de conversão por parte do pecador, bem como a crença simplista de que bastava realizar o sacrifício de animais para alcançar a purificação de seus pecados, trabalhava contra o próprio pecador impenitente, razão pela qual essa cédula, que era contra nós em suas ordenanças, ter sido tirada do meio de nós e cravada na cruz.


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo

Capítulo 4 Um Sábado Cravado na Cruz “Quando foram postos os fundamentos da Terra, também foi posto o fundamento do sábado. Foi-me mostrado que se o verdadeiro sábado houvesse sido guardado, jamais teria havido um incrédulo nem ateu. A observância do sábado teria preservado da idolatria o mundo”. Ellen Gould White (VE, 86)

4.1 Introdução “Aqueles que por sua interpretação humana fazem com que a Escritura enuncie o que Cristo jamais colocou nela, debilitando sua força, fazendo que a voz de Deus, ouvida em instruções e advertências, testifique mentiras, a fim de evitar o inconveniente suscitado pela obediência às reivindicações de Deus, têm-se convertido em letreiros que apontam na direção errada, para falsos caminhos que conduzem à transgressão e à morte” (FEC, 387). Empregando a passagem bíblica de Colossenses 2:16-17, os antagonistas do sábado, com suas interpretações tendenciosas, supõem de forma imediatista e simplista que o apóstolo Paulo está falando da abolição do “sábado semanal”.

Colossenses 2:16-17 – “Portanto ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo beber ou por causa dos dias de festa, ou da lua nova, ou dos sábados. Que são sombras das coisas futuras, mas o corpo é de Cristo”. _________________________________________________________________ Os adversários do sábado, através dessa passagem bíblica – querem por que querem – contradizer mais de sessenta versículos bíblicos registrados no Novo Testamento que apontam para a obrigatoriedade da observância do sábado semanal como um mandamento bíblico, e que deve ser observado por todos os cristãos verdadeiramente genuínos. “Mediante falsa interpretação mostram uma cadeia de argumentos que aparentemente lhes apóiam a posição. Mas seus fracassos mostram que são falsos profetas, que não interpretam devidamente a linguagem da inspiração. A Palavra de Deus é verdade e certeza; mas os homens lhe têm pervertido seu significado. Esses erros têm trazido má fama à verdade de Deus para estes últimos dias” (I TS, 505). Por meio dessa única passagem escriturística, os antagonistas da verdade, querem desmentir o fato bíblico incontestável de que Jesus e os primeiros cristãos guardavam o “santo sábado do Senhor”, em total obediência ao mandamento de Deus. Com essa singular passagem bíblica, os oponentes da lei de Deus querem contrariar o fato escriturístico de que o apóstolo Paulo guardava o sábado junto os seus compatriotas judeus (Atos 13:14-15; 17:2; 18:4 e 11), com os prosélitos gentios (13:42 e 44) e entre os gentios pagãos (Atos 16:13).


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo Através dessa passagem bíblica, os inimigos do “sábado do Senhor”, inadvertidamente, contradizem o texto sagrado do Novo Testamento, o qual ensina claramente que “qualquer que guardar toda a lei, e tropeçar em um só ponto, tornou-se culpado de todos” (Tiago 2:10). As Escrituras Sagradas não contém contradições. As contradições estão na falta de compreensão das mensagens bíblicas e nas interpretações tendenciosas que os homens apresentam em defesa de “suas idéias” pré-concebidas. Em toda interpretação é necessário levar em consideração todo o contexto – imediato e mediato. Jamais se pode interpretar isoladamente uma passagem bíblica sem levar em consideração todas as demais. Não é possível que a “interpretação” de uma única declaração dita isoladamente contradiga todo o ensinamento geral das Escrituras Sagradas.

4.2 Comer e beber Quando o versículo bíblico fala de “comer”, “beber”, “dias de festas”, “lua nova” ele está claramente se referindo a preceitos cerimoniais. Então por que supor gratuitamente e apressadamente que Paulo está falando da abolição do sábado moral e não do sábado cerimonial? Por que não admitir que Paulo está fazendo referência à abolição de todo o aparato cerimonial que estavam por traz do “comer”, “beber”, “dias de festas”, “lua nova” e dos “sábados”?

Colossenses 2:16-17 – “Portanto ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo beber ou por causa dos dias de festa, ou da lua nova, ou dos sábados. Que são sombras das coisas futuras, mas o corpo é de Cristo”.

Nunca é demais lembrar para o fato bíblico de que o sábado não é uma lei cerimonial, haja vista que ele não possui a função de purificar o pecado de nenhuma pessoa. Além disso, o sábado foi abençoado e santificado por Deus na criação, antes mesmo da entrada do pecado no mundo. A verdade é que todo o conteúdo axiológico do versículo em análise, “é uma alegoria para o tempo presente, em que se oferecem dons e sacrifícios que, quanto à consciência, não podem aperfeiçoar aquele que faz o serviço. Consistindo somente em manjares, e bebidas, e várias abluções e justificações da carne, impostas até ao tempo da correção” (Hebreus 9:9-10).

4.3 Espécies de sábados Como o Antigo Testamento faz referência à existência de várias espécies de sábados, então é perfeitamente lícito fazer a seguinte pergunta: qual espécie de “sábado” Paulo está fazendo referência em Colossenses 2:16-17? Bem, como as Escrituras Sagradas devem ser interpretadas sistematicamente pelas próprias Escrituras Sagradas, então temos que verificar o que elas ensinam a respeito das diversas classes de sábados registrados em suas páginas:


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo 1º. O Sábado Moral

Êxodo 20:8-11 – “Lembra-te do dia do sábado, para o santificar. Seis dias trabalharás, e farás toda a tua obra. Mas o sétimo dia é o sábado do Senhor teu Deus: não farás nenhuma obra, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu animal nem o teu estrangeiro, que está dentro das tuas portas. Porque em seis dias fez o Senhor os céus e a terra, o mar e tudo que neles há, e ao sétimo dia descansou: portanto abençoou o Senhor o dia do sábado, e o santificou”.

2º. O Sábado Cerimonial

Levítico 23:31-32 – “Nenhuma obra fareis: estatuto perpétuo é pelas vossas gerações em todas as vossas habitações. Sábado de descanso vos será; então afligireis as vossas almas: aos nove do mês à tarde, duma tarde a outra tarde, celebrareis o vosso sábado”.

3º. O Sábado da Terra

Levítico 25:2-4 – “Fala aos filhos de Israel e dize-lhes: Quando tiverdes entrado na terra, que eu vos dou, então a terra guardará um sábado ao Senhor. Seis anos semearás a tua terra, e seis anos podarás a tua vinha, e colherás a sua novidade. Porém ao sétimo ano haverá sábado de descanso para a terra, um sábado ao Senhor: não semearás o teu campo nem podarás a tua vinha”.

Diante do exposto, fica claro que as Escrituras Sagradas advogam a existência de três espécies de sábados, a saber: o “sábado semanal”, o “sábado cerimonial” e o “sábado da terra”. Todavia, quando os adversários do sábado lêem Colossenses 2:16, eles concluem apressadamente e gratuitamente que o versículo está tratando do sábado semanal. Sem nenhum fundamento nas Escrituras Sagradas, afirmam que o sábado semanal é “sombra de coisas futuras”. Porém, nada mais equivocado!

4.4 Os sábados e as sombras Jamais se deve esquecer o fato bíblico de que o sábado semanal foi dado na criação do mundo, bem antes da entrada do pecado, para ser observado por toda a humanidade. Portanto, o sábado semanal não é “sombra de coisas futuras”, sobretudo porque ele não é uma lei cerimonial de expiação de pecados. Esta sim apontava para o sacrifício expiatório do “Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (João 1:29).


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo O sábado semanal não é sombra de coisas futuras porque ele é um memorial da criação do mundo. Portanto, O sábado aponta para o passado – a criação – e não para o futuro. Observe: “Lembra-te do dia do sábado, para o santificar... Porque em seis dias fez o Senhor os céus e a terra, o mar e tudo que neles há, e ao sétimo dia descansou: portanto abençoou o Senhor o dia do sábado, e o santificou” (Êxodo 20:8 e 11). Nunca é demais reafirmar a grande verdade bíblica de que todo o contexto de Colossenses 2:16-17 refere-se exclusivamente a “comer”, “beber”, “dias de festa”, “lua nova”, que eram atividades ligadas exclusivamente às leis cerimoniais do sacerdócio levítico. Então por que razão não ajuizar que Paulo também está tratando dos cerimoniais sabáticos? Por que não considerar que o santo apóstolo está abordando os rituais realizados nos “dias de festa”, “lua nova” e nos “sábados”? Com toda certeza, Paulo está se referindo exclusivamente aos cerimoniais religiosos de sacrifício de animais realizados nesses dias sagrados pelos sacerdotes levitas, e não ao próprio dia do sábado, haja vista que o santo apóstolo ensinou por preceito e exemplo a prática e a observância do sábado. Caso Paulo estivesse se referindo à abolição do sábado semanal, então os seus escritos e todo o restante do Novo Testamento estariam em contradição. O apóstolo Paulo andou observando o “santo sábado do Senhor” tanto entre os judeus como entre os gentios (Atos 13:14-15; 13:42 e 44; 16:13). Além disso, o apóstolo dos gentios ordenou a Igreja a seguir o seu exemplo: “Sede também meus imitadores, irmãos, e tende cuidado, segundo o exemplo que tendes em nós, pelos que assim andam”... “O que também aprendestes, e recebestes, e ouvistes, e vistes em mim, isso fazei; e o Deus de paz será convosco” (Filipenses 3:17; 4:9). Ora, quem anda guardando o sábado, dá exemplo para guardar o sábado.

4.5 Os sábados cerimoniais As festas cerimoniais são as seguintes: Páscoa (Números 28:16); Pães Asmos (Números 28:17); Pentecostes (Êxodo 23:16 e 34:22; Números 28:26); Trombetas (Números 29:1); Expiação (Números 29:7) e Tabernáculos (Êxodo 23:16; Levítico 23:34; Números 29:12). No meio dos vários dias festivos ligados aos cerimoniais religiosos havia alguns dias específicos, que eram exclusivamente dedicados ao descanso. Tais dias festivos de descanso eram designados pelo nome de “sábados” (Levítico 23:31-32), mormente porque a palavra sábado quer dizer “descanso”, “repouso” ou “cessação da atividade”. Nesses dias exclusivos, especialmente designados por Deus para descanso, localizados entre os dias das festas cerimoniais, o povo do Senhor deveria refletir no perdão dos pecados que o holocausto dos animais proviam através da vinda futura do Messias. Jesus é o Messias, o Cordeiro de Deus, que veio ao mundo e proveu o perdão dos pecados para todos os que crêem no evangelho. Tradicionalmente, os dias de descansos cerimoniais – sábados cerimoniais – registrados nas Escrituras Sagradas são os seguintes: 1º Festa da Páscoa – Sábado Cerimonial: 15º dia do primeiro mês (Levítico 23:5-7). 2º Festa dos Pães Asmos – Sábado Cerimonial: 21º do primeiro mês (Levítico 23:8). 3º Festa de Pentecostes – Sábado Cerimonial: 50º dia desde a Páscoa (Levítico 23:1516 e 21). 4º Festa das Trombetas – Sábado Cerimonial: 1º dia do sétimo mês (Levítico 23:2325).


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo 5º Festa do dia da Expiação (Yonkipur-Grande yoma) – Sábado Cerimonial: 10º dia do sétimo mês (Levítico 23:26-32). 6º Festa dos Tabernáculos – Sábado Cerimonial: 15º dia do sétimo mês (Levítico 23:24-36). 7º Festa dos Tabernáculos – Sábado Cerimonial: 22º dia sétimo mês (Levítico 23:39). No original hebraico a palavra “descanso” – relacionada aos dias festivos – está registrada como “shabbath”, que significa “sábado”. A expressão “sábado” é reproduzida, nas passagens bíblicas dos dias festivos, por grande número de tradutores das Escrituras Sagradas, como “Matos Soares”, “Figueiredo” etc. Portanto, a Bíblia Sagrada, além de definir o sábado semanal, também define como sendo dias de sábados alguns dias específicos, perfeitamente determinados entre os dias das festas cerimoniais. A diferença entre o sábado semanal e o sábado cerimonial é que o primeiro é um dia fixo na semana, enquanto que o segundo é um dia fixo no mês. Como o apóstolo Paulo disciplina a observância da lei de Deus em Romanos, capítulos 7 e 8, então podemos deduzir que o versículo de Colossenses 2:14 não está fazendo referência aos Dez Mandamentos. Mesmo porque a “cédula” mencionada em Colossenses não é a “lei de Deus” (decálogo), mas sim as ordenanças cerimoniais realizadas pelo sacerdócio levítico, como se pode observar pela leitura do versículo que se segue:

Colossenses 2:14 – “Havendo riscado a cédula que era contra nós nas suas ordenanças, a qual de alguma maneira nos era contrária, e a tirou do meio de nós, cravando-a na cruz”.

Repetindo, o decálogo não é uma lei cerimonial, simplesmente porque ele não realiza qualquer espécie de expiação ou purificação de pecado. Sua função exclusiva consiste em indicar o pecado e condenar o pecador à morte. Todavia, as ordenanças da lei cerimonial de holocaustos de animais realizavam a expiação do pecado cometido pelo pecador arrependido. Mesmo porque “sem derramamento de sangue não há remissão” (Hebreus 9:22). Mas, os Dez Mandamentos não possuem sangue para ser derramado a favor de qualquer pecador. Claro está que a hermenêutica do versículo supra em análise – por interpretação sistemática – não se aplica a nenhum dos mandamentos do decálogo, o qual não trata das ordenanças, a que se limita o âmbito do versículo de Colossenses.

4.6 Sombras das coisas futuras O texto bíblico de Colossenses 2:16-17 menciona o “comer”, “beber”, “dias de festas”, “lua nova” e os “sábados” como sendo “sombras das coisas futuras”. Observe o que diz o texto de Paulo:

Colossenses 2:16-17 – “Portanto ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo beber ou por causa dos dias de festa, ou da lua nova, ou dos sábados. Que são sombras das coisas futuras, mas o corpo é de Cristo”.


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo A pergunta crucial que se faz é a seguinte: o que realmente o apóstolo Paulo estava querendo dizer com a expressão “sombras das coisas futuras”? O que abrange o conceito das “sombras das coisas futuras”? Em que contexto Paulo empregou a expressão “sobras das coisas futuras”? Paulo, certamente não estava fazendo referencia à abolição do sábado, uma vez que ele mesmo andava guardando o sábado (Atos 13:42 e 44; 16:13). Também não estava se referindo à abolição da lei, haja vista que ele pregava a sua observância (Romanos 7:7, 12, 14, 16, 22, 25; 8:7-8). Para compreendermos o que significa a frase: “sombras das coisas futuras”, temos que procurar saber, pelos escritos do próprio apóstolo Paulo, qual era o seu entendimento a respeito do conteúdo da palavra “sombra”, sobretudo porque ele empregou tal expressão em algumas outras passagens bíblicas do Novo Testamento. Observe:

Hebreus 8:5 – “Os quais servem de exemplar e sombra das coisas celestiais, como Moisés divinamente foi avisado, estando já para acabar o tabernáculo; porque foi dito: Olha, faze tudo conforme o modelo que no monte se te mostrou”.

Hebreus 10:1 – “Porque, tendo a lei a sombra dos bens futuros, e não a imagem exata das coisas, nunca, pelos mesmos sacrifícios que continuamente se oferecem cada ano, pode aperfeiçoar os que a eles se chegam”. ___________________________________________________________________ Destarte, as frases: “sombra das coisas celestiais” ou “sombra dos bens futuros” são expressões semelhantes à frase registrada em Colossenses: “sombras das coisas futuras”. Também está claro, pelos textos apresentados, que a expressão “sombras das coisas futuras” está relacionada exclusivamente com “coisas celestiais”, “tabernáculo”, “modelo”, “imagem”, “sacrifícios” etc. A sombra das coisas futuras “é uma alegoria para o tempo presente” (Hebreus 9:9). Eram “figuras das coisas que estão no céu” (Hebreus 9:23). Portanto, sob a ótica das Escrituras Sagradas, a frase “sombras das coisas futuras” é uma clara referência ao sacerdócio levítico com suas leis cerimoniais de expiação de pecados pelo sacrifício de animais realizados no tabernáculo terrestre, as quais eram as sombras das coisas celestiais e apontavam para o corpo de Cristo. “Consistindo somente em manjares, e bebidas, e várias abluções e justificações da carne, impostas até ao tempo da correção” (Hebreus 9:10). Paulo tem em mente, os rituais do Antigo Concerto quando fala de “comer”, “beber”, “dias de festa”, “lua nova” ou “sábados”. Os cristãos foram exortados por Paulo, nessa passagem de Colossenses a não voltarem às praticas desse tipo de sobras, as quais apontavam para a futura obra de redenção que seria realizada pelo Messias vindouro. É digno de nota observar que em nenhum momento o “decálogo” ou o “sábado semanal” são mencionados como sendo “sombras das coisas futuras”. Portanto, mais uma fez fica claro que Paulo está se referindo às leis cerimoniais do sacerdócio levítico, que de fato eram sombras que apontavam para a obra redentora do Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo.


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo 4.7 O sábado e a sombra Paulo, em Colossenses 2:16-17, não está falando da abolição do próprio dia do sábado, mas está falando da abolição dos holocaustos de animais realizados nos “dias de festa”, ou da “lua nova”, ou nos “sábados”. Observe as seguintes razões: a) Paulo não está abordando a abolição do sábado semanal porque ele fez questão de acrescentar a frase: “que são sombras das coisas futuras”, para mostrar que estava se referindo à lei cerimonial. Sendo que o livro de Hebreus é explícito em dizer que as “sombras” mencionadas por Paulo tem relação direta com as leis cerimoniais para expiação de pecados por meio do holocausto de animais ministrado pelo sacerdócio levítico no santuário terrestre; b) Não se trata da abolição do sábado semanal porque, além de existir três espécies distintas de sábados, o sábado semanal não se encaixa na definição bíblica de “sombra” apresentada em Hebreus. Mesmo porque o sábado do sétimo dia da semana foi dado na criação do mundo, antes da entrada do pecado, portanto não é uma lei cerimonial de expiação de pecados pelo sangue de animais; c) O versículo de Colossenses não está considerando a abolição do sábado semanal, simplesmente porque Paulo está falando de comidas e bebidas do cerimonial religioso de holocaustos que eram realizados nos dias de festa, lua nova e nos sábados. “Que é uma alegoria para o tempo presente, em que se oferecem dons e sacrifícios que, quanto à consciência, não podem aperfeiçoar aquele que faz o serviço. Consistindo somente em manjares, e bebidas, e várias abluções e justificações da carne, impostas até ao tempo da correção” (Hebreus 9:9-10); d) O apóstolo Paulo não está abordando a abolição do sábado semanal porque o decálogo, do qual o sábado faz parte, não expia pecado de ninguém, mas apenas aponta e condena do pecado. Porém, os holocaustos de animais expiavam os pecados e apontavam para o sacrifício expiatório de Cristo. Foi por essa razão que João Batista fez a seguinte afirmação sobre Jesus: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (João 1:29). e) Como já foi dito, o sábado semanal não é sombra de coisas futuras, simplesmente porque ele foi estabelecido por Deus como um memorial da criação do mundo, que ocorreu em seis dias. O sábado é o dia em que a humanidade é chamada a lembrar da obra da criação e adorar o criador do Universo. Observe o que diz a Bíblia Sagrada: “Lembra-te do dia do sábado, para o santificar... Porque em seis dias fez o Senhor os céus e a terra, o mar e tudo que neles há, e ao sétimo dia descansou: portanto abençoou o Senhor o dia do sábado, e o santificou” (Êxodo 20:8 e 11). O sábado do sétimo dia da semana deve obrigatoriamente ser observado nos dias de hoje por todos os homens, tanto quanto era obrigatório ser observado pelos antigos habitantes do mundo.

4.8 Os cerimoniais de holocaustos


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo Então, quais são os cerimoniais religiosos relacionados com o comer ou beber, dias de festa, lua nova, ou sábados, que são “sombras das coisas futuras”? Bem, como “a Palavra de Deus é todo-suficiente regra de fé e prática” (GC, 186), vejamos o que ela tem a dizer sobre o assunto em questão: As Escrituras Sagradas registram os holocaustos que eram realizados nos dias de festa, luz nova, ou sábados. 1º Holocaustos dos dias de festa: “Porém no mês primeiro, aos catorze dias do mês é a páscoa do Senhor. E aos quinze dias do mesmo mês haverá festa: sete dias se comerão pães asmos. No primeiro dia haverá santa convocação: nenhuma obra servil fareis. Mas oferecereis oferta queimada em holocausto ao Senhor, dois bezerros e um carneiro, e sete cordeiros dum ano; ser-vos-ão eles sem mancha” (Números 28:16-19). 2º Holocaustos da lua nova: “E as suas libações serão a metade dum him de vinho para um bezerro, e a terça parte dum him para um carneiro, e a quarta parte dum him para um cordeiro: este é o holocausto da lua nova de cada mês, segundo os meses do ano” (Números 28:14). 3º Holocaustos do sábado: “Porém no dia de sábado dois cordeiros dum ano, sem mancha, e duas décimas de flor de farinha misturada com azeite, em oferta de manjares, com a sua libação. Holocausto é do sábado em cada sábado, além do holocausto contínuo, e a sua libação” (Números 28:9-10). Esses holocaustos são mencionados em muitas outras passagens bíblicas: I Crônicas 23:31 – “E para cada oferecimento dos holocaustos do Senhor, nos sábados, nas luas novas, e nas solenidades, por conta, segundo o seu costume, continuamente perante o Senhor”. II Crônicas 2:4 – “Eis que estou para edificar uma casa ao nome do Senhor meu Deus, para lhe consagrar, para queimar perante ele incenso aromático, e para o pão contínuo da proposição, e para os holocaustos da manhã e da tarde, nos sábados, e nas luas novas, e nas festividades do Senhor nosso Deus: o que é perpetuamente a obrigação de Israel”. II Crônicas 8:12-13 – “Então Salomão ofereceu holocaustos ao Senhor, sobre o altar do Senhor, que tinha edificado diante do pórtico. E isto segundo o dever de cada dia, oferecendo segundo o preceito de Moisés, nos sábados e nas luas novas, a nas solenidades, três vezes no ano: na festa dos pães asmos, e na festa das semanas, e na festa das tendas”. II Crônicas 31:3 – “Também estabeleceu a parte da fazenda do rei para os holocaustos, para os holocaustos da manhã e da tarde, e para os holocaustos dos sábados, e das luas novas, e das solenidades; como está escrito na lei do Senhor”. Esdras 3:5 – “E depois disto o holocausto contínuo, e os das luas novas e de todas as solenidades consagradas ao Senhor; como também de qualquer que oferecia oferta voluntária ao Senhor”. Neemias 10:33 – “Para os pães da proposição, e para a contínua oferta de manjares, e para o contínuo holocausto dos sábados, das luas novas, para as festas solenes, e para


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo as cousas sagradas, e para os sacrifícios pelo pecado, para reconciliar a Israel, e para toda a obra da casa do nosso Deus”. Ezequiel 45:17 – “E estarão a cargo do príncipe os holocaustos, e as ofertas de manjares, e as libações, nas festas, e nas luas novas, e nos sábados, em todas as solenidades da casa de Israel: ele fará a expiação pelo pecado, e a oferta de manjares, e o holocausto, e os sacrifícios pacíficos, para fazer expiação pela casa de Israel”. A semelhança desses versículos com aquele anunciado pelo apóstolo Paulo aos Colossenses são inegáveis e incontestáveis. Eles trazem a exata e perfeita idéia do que o apóstolo Paulo tinha em mente quando escreveu a sua epístola aos Colossenses. O comer e o beber estão relacionados com “as ofertas de manjares, e as libações”. Já os “dias de festa, ou da lua nova, ou dos sábados” estão relacionados com “os holocaustos dos sábados, e das luas novas, e das solenidades”. Foi desses versículos que Paulo extraiu as passagens de Colossenses 2:16-17. Diante do exposto fica claro que as atividades cerimoniais que estavam por traz dos “dias de festa, ou da lua nova, ou dos sábados” nada mais eram do que os holocaustos de animais realizados nesses dias. São os holocaustos de animais – que apontavam para o Cordeiro de Deus – que foram cravados na cruz. Eles sim, são “sobras das coisas futuras”, porque apontavam para o corpo (carne e sangue) de Cristo. Destarte, Paulo está afirmando o seguinte: “Portanto ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo beber ou por causa [dos cerimoniais] dos dias de festa, ou da lua nova, ou dos sábados. Que são sombras das coisas futuras, mas o corpo é de Cristo” (Colossenses 2:16-17). Por conseguinte, conclui-se que a expressão “sombras das coisas futuras” não se refere propriamente à santificação do dia do sábado, mas sim aos cerimoniais de “holocaustos” de animais realizados nesse dia, os quais, com a morte de Cristo, foram definitivamente abolidos (Daniel 9:27; Marcos 15:38).

4.9 Quem Paulo tinha em mente A quem o apóstolo Paulo estava se referindo quando escreveu: “Ninguém vos julgue”? Pelo contexto do Novo Testamento podemos compreender que se tratava do conflito existente entre os cristãos gentios convertidos por Paulo e os cristãos judaizantes: “Alguns, porém, da seita dos fariseus, que tinham crido, se levantaram, dizendo que era mister circuncidá-los e mandar-lhes que guardassem a lei de Moisés” (Atos 15:5). Esses cristãos judeus estavam querendo impor aos cristãos gentios alguns dos preceitos do Antigo Concerto que haviam sido abolidos com a morte de Cristo, tais como circuncisão, comidas, bebidas e cerimoniais de holocausto de animais que ocorriam nos “dias de festa, lua nova e sábados”. Os judaizantes “eram tardos em discernir que todas as ofertas sacrificais não tinham senão prefigurado a morte do Filho de Deus, em que o tipo encontrou o antítipo, depois do que os ritos e cerimônia da dispensação mosaica não mais eram obrigatórios” (AA, 189). Porém, como os cristãos estão debaixo do Novo Concerto, eles não deveriam participavam mais de tais cerimoniais, os quais foram definitivamente abolidos com a cruz. Portanto, Paulo declara enfaticamente, em detrimento aos judaizantes, para que os cristãos não levassem em consideração o fato de que alguns homens os estavam


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo julgando por não mais praticarem tais rituais: “ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo beber, ou por causa dos dias de festa, ou da lua nova, ou dos sábados". Em outras palavras, o apóstolo Paulo está dizendo o seguinte: “Portanto ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo beber ou por causa dos” ... “holocaustos do Senhor, nos sábados, nas luas novas, e nas solenidades” (Colossenses 2:16-17; I Crônicas 23:31). Portanto, mais uma fez fica perfeitamente comprovado que Paulo não está condenando a observância do sábado, mas sim os rituais de comidas, bebidas e holocausto de animais que eram realizados nos dias de festa, na lua nova, ou nos sábados. “Consistindo somente em manjares, e bebidas, e várias abluções e justificações da carne, impostas até ao tempo da correção” (Hebreus 9:10).

4.10 Considerações finais Ao compreenderem o profundo significado do evangelho de Cristo, muitos cristãos judeus abandonaram a prática dos holocaustos de animais, das ofertas de manjares, da circuncisão, das comidas e bebidas que eram realizados desde os tempos remotos pelo povo judeu, e que apontavam para o corpo do Messias. Apesar da eficácia de todos esses cerimoniais religiosos ter sido, definitivamente, cessada na cruz, a verdade é que havia alguns poucos cristãos, chamados judaizantes, que ainda continuavam praticando alguns desses rituais, e ensinavam outros a fazer o mesmo: “se vos não circuncidardes, conforme o uso de Moisés, não podeis salvar-vos” (Atos 15:1). Foi por essa razão que o apostolo Paulo foi levado a declarar firmemente: “Portanto ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo beber ou por causa dos dias de festa, ou da lua nova, ou dos sábados. Que são sombras das coisas futuras, mas o corpo é de Cristo” (Colossenses 2:16-17). “E também havia ofertas para os sábados, luas novas e solenidades especiais” (CS, 32). Que fique bem claro o que foi abolido na cruz foi o Antigo Concerto com os seus cerimoniais de holocausto de animais, comidas e bebidas, alguns dos quais ocorriam nos dias de festa, na lua nova, ou nos sábados. Mesmo que Paulo estivesse se referindo ao sábado semanal, ainda assim ficou claramente demonstrado que a abolição ocorrida na cruz foi a do cerimonial religioso dos holocaustos de animais realizado nesse santo dia (Números 28:9-10) e não a abolição do próprio dia do sábado, o qual foi consagrado por Deus na primeira semana da criação, antes mesmo da entrada do pecado no mundo, ou da instituição de qualquer lei cerimonial, ou da existência de qualquer judeu sobre a face da Terra e que, mesmo após a cruz, foi observado pelos santos discípulos e apóstolos do Senhor Jesus Cristo. É claro que, se o homem nunca houvesse desobedecido a Deus, comendo do fruto da árvore da ciência do bem e do mal, toda a humanidade nunca teria se desviado da verdade e estaria guardando o sábado até aos dias de hoje, e isto desde o princípio do mundo, ocasião em que Deus consagrou o sétimo dia da semana.


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo

Capítulo 5 Questões Sobre o Sábado “Deus viu que um repouso era essencial para o homem, mesmo no Paraíso. Ele necessitava pôr de lado seus próprios interesses e ocupações durante um dia dos sete, para que pudesse de maneira mais ampla contemplar as obras de Deus, e meditar em Seu poder e bondade. Necessitava de um sábado para, de maneira mais vívida, o fazer lembrar de Deus, e para despertar-lhe gratidão, visto que tudo quanto desfrutava e possuía viera das benignas mãos do Criador”. Ellen Gould White (PP, 48)

5.1 Introdução Na criação do mundo, antes mesmo da entrada do pecado, o Senhor nosso Deus abençoou e santificou o sétimo dia da semana para ser observado por toda a humanidade. Santificar é a mesma coisa que “consagrar”. Portanto o Senhor consagrou o sétimo dia da semana já na fundação do mundo. A palavra “santo” na língua hebraica é qadosh e em grego é hagio que etimologicamente significam “ser separado”. Portanto, o sétimo dia da semana foi separado, pelo próprio Senhor, dos demais dias para ser observado com um propósito sagrado por todos os seres humanos. O sétimo dia da semana deveria ser observado tanto por Adão e Eva como também por todos os seus descendentes, porque a palavra “santificar” não teria nenhum sentido, se ninguém tivesse a obrigação de observar o sétimo dia da semana. No próprio ato do Senhor em “santificar” o sétimo dia da semana, está implícito o comando divino para o homem observar esse dia. Destarte, está claro que Adão e Eva foram os primeiros seres humanos a observarem o sábado bíblico no sétimo dia da semana. Tanto o sábado, como a semana de sete dias, tem sua origem na criação do mundo. Essas duas instituições se mantêm unicamente pela vontade soberana de Deus. O período semanal de sete dias não tem nenhuma relação com qualquer movimento dos corpos celestes. Não é uma subdivisão exata do mês ou do ano. Todavia, a semana de sete dias é empregada por todas as nações do Oriente destes tempos imemoriais, e que não tinham nenhuma relação com a Lei Mosaica. Tal fenômeno atesta que essas nações herdaram a semana de sete dias como uma tradição vinda da fundação do mundo. Mas, será que nos dias de hoje os cristãos deveriam repousar de suas atividades seculares e adorar a Deus no dia do sábado? Bem, a Bíblia Sagrada e a “Associação do Sábado Bíblico”, contando com mais de quatrocentas igrejas e denominações religiosas cristãs, tais como os Israelitas da Nova Aliança, Ministério Ensinando de Sião, Igreja Batista do Sétimo Dia, Igreja de Deus, Igreja Adventista da Promessa, Igreja Adventista da Reforma, mas, especialmente os Adventistas do Sétimo Dia, ensinam que sim.

5.2 A origem do sábado


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo A origem do descanso no sétimo dia da semana remonta à fundação do mundo, ocasião em que o Senhor nosso Deus abençoou e tornou santo o sétimo dia da semana, após ter Ele mesmo descansado nesse dia. Observe o que diz as Escrituras Sagradas:

Gênesis 2:1-3 – “Assim os céus, e a terra e todo o seu exército foram acabados. E havendo Deus acabado no dia sétimo a sua obra, que tinha feito, descansou no sétimo dia de toda a sua obra, que tinha feito. E abençoou Deus o dia sétimo, e o santificou; porque nele descansou de toda a sua obra, que Deus criara e fizera”.

Na ocasião em que o Senhor Jeová resgatou a Sua Igreja da escravidão egípcia, Ele fez questão de ordenar que o Seu povo santo se lembrasse de santificar o dia do sábado, o qual havia sido estabelecido pelo Senhor desde a fundação do mundo em benefício de toda a humanidade. Quando o Senhor repetiu o mandamento do sábado, colocando-o no coração do decálogo, Ele remeteu a lembrança dos Seus adoradores à criação do mundo. Inclusive tornando a transcrever todo o conteúdo registrado em Gênesis 2:1-3. Todos sabem que o sétimo dia da semana é o último dia da semana, quando então o ciclo semanal se encerra. Então se inicia uma nova semana, com o primeiro dia da semana. “No Éden, Deus estabeleceu o memorial de Sua obra da criação, depondo a Sua bênção sobre o sétimo dia. O sábado foi confiado a Adão, pai e representante de toda a família humana. Sua observância deveria ser um ato de grato reconhecimento, por parte de todos os que morassem sobre a Terra, de que Deus era seu Criador e legítimo Soberano; de que eles eram a obra de Suas mãos, e súditos de Sua autoridade. Assim, a instituição era inteiramente comemorativa, e foi dada a toda a humanidade”. (PP, 48).

5.3 O sétimo dia Quando anunciou os Dez Mandamentos, o Senhor incluiu até mesmo os gentios (estrangeiros) na obrigação de observar o “santo sábado do Senhor”. Observe o que dizem as Escrituras Sagradas:

Êxodo 20:8-11 – “Lembra-te do dia do sábado, para o santificar. Seis dias trabalharás, e farás toda a tua obra. Mas o sétimo dia é o sábado do Senhor teu Deus: não farás nenhuma obra, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu animal nem o teu estrangeiro, que está dentro das tuas portas. Porque em seis dias fez o Senhor os céus e a terra, o mar e tudo que neles há, e ao sétimo dia descansou: portanto abençoou o Senhor o dia do sábado, e o santificou”.

O Senhor orientou o Seu povo para que não realizasse nenhuma espécie de trabalho secular nesse dia. Também deixou bem claro que o sábado é o sétimo dia da semana.


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo Note nos dois textos bíblicos abaixo selecionados que o “dia sétimo” (Gênesis 2:3) abençoado e santificado por Deus na criação do mundo é o mesmo “dia do sábado” (Êxodo 20:11): 1º) “abençoou Deus o dia sétimo, e o santificou” (Gênesis 2:3); 2º) “abençoou o Senhor o dia do sábado, e o santificou” (Êxodo 20:11). Portanto, o sábado não é um dia qualquer entre sete. Mas, segundo as Escrituras Sagradas, o sábado é o sétimo e último dia da semana. Se alguém puder mostrar nas Escrituras Sagradas a existência de um outro sétimo dia da semana que não seja último dia da semana, conhecido pelo nome de sábado, então poderemos inferir que o quarto mandamento pode estar se referindo a um outro sétimo dia da semana, além do santo sábado do Senhor.

5.4 O sábado abominado Por que razão teria o Senhor declarado a guarda do sábado abominável aos Seus olhos?

Isaías 1:13 – “Não tragais mais ofertas debalde: o incenso é para mim abominação e as luas novas, e os sábados, e a convocação das congregações; não posso suportar iniquidade, nem mesmo o ajuntamento solene”.

Resposta: O antigo povo de Deus havia se corrompido de tal maneira, que o Senhor foi levado a compará-lo a Sodoma e a Gomorra (Isaías 1:9-10). O povo santo havia abandonado e blasfemado de Deus (Isaías 1:4). Mesmo estando com as mãos sujas de sangue (Isaías 1:15), esse povo ainda insistia em realizar as práticas ritualísticas de sua religião, mas isso sem nenhum remorso, arrependimento, contrição ou genuína conversão, razão pela qual suas práticas foram condenadas pelo Senhor. A verdade é que toda e qualquer observância de preceitos religiosos estabelecidos por Deus torna-se abominável aos Seus olhos, quando praticado por ímpios ou por pecadores impenitentes. Pelo menos é isso que a Bíblia Sagrada ensina em Provérbios 15:8; 21:27; Salmos 50:16-17. Até mesmo o simples ato de orar (Isaías 1:15) ou cultuar (Isaías 1:13) é tido como abominação aos olhos do Senhor Jeová, especialmente, quando realizado por pecadores impenitentes. Do que adianta observar o sábado ou qualquer outro preceito da lei de Deus, se o pecador é contumaz e não se arrepende do mal que pratica? De que adianta o crente dizer que está debaixo da graça e viver num lamaçal de pecado? Do que adiante o cristão dizer que está salvo e voluntariamente transgredir os mandamentos de Deus? Por acaso o salário do pecado não é a morte (Romanos 6:23)? Porventura a força do pecado não e a lei (I Coríntios 15:56)? Todavia, a Palavra de Deus é clara, claríssima em dizer que, se o pecador mudar de atitude, Deus promete perdoa-lhe os seus pecados por piores que sejam (Isaías 1:1618). Então o incenso, as luas novas, os sábados e a convocação das congregações, realizadas por crentes sinceros e fiéis serão aceitáveis à divindade, porque tais práticas foram estabelecidas pelo próprio Senhor nosso Deus.


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo 5.5 Oséias e o sábado Teria Oséias profetizado a abolição da lei e anunciado a fim do sábado?

Oséias 2:11 – “E farei cessar todo o seu gozo, as suas festas, as suas luas novas, e os seus sábados, e todas as suas festividades”. ______________________________________________________________________ Resposta: Na época de Oséias o povo israelita (reino do norte) havia se apostatado da verdade. Oséias afirma que “a terra se prostituiu, desviando-se do Senhor” (Oséias 1:2). Em consequência o Senhor faria “cessar o reino da casa de Israel” (Oséias 1:4). O Senhor disse que não mais se compadeceria da casa de Israel, todavia se compadeceria da casa de Judá (reino do sul) (Oséias 1:6-7). Essa profecia teve o seu pleno cumprimento com a destruição de Israel pelo Império Assírio. Com o fim de Israel, o povo israelita foi levado para o cativeiro assírio (II Reis 17:5-6, 23-24). Somente então foi que cessou definitivamente “todo o seu gozo”. No cativeiro o povo ficou privado de realizar “as suas festas, as suas luas novas” ou mesmo observar “os seus sábados” e todas as demais “festividades”. Oséias jamais profetizou a abolição definitiva do sábado. O que ele profetizou foi que o Senhor faria “cessar” a observância dos sábados pelos israelitas porque Ele faria “cessar o reino da casa de Israel”. Nada mais lúcido! Muito embora a observância do santo sábado tenha cessado para a nação israelita (reino do norte), porque ela estaria em cativeiro e impedida de observar o sábado ou de praticar qualquer outra solenidade da lei, a verdade é que o sábado continuou sendo observado pelos judeus (reino do sul) por mais de um século, até o cativeiro babilônico. Portanto, foi somente para os israelitas que cessou “todo o seu gozo, as suas festas, as suas luas novas, e os seus sábados, e todas as suas festividades”, simplesmente porque eles cessaram de existir como nação.

5.6 O sábado esquecido Por que o Senhor pôs em esquecimento a guarda o sábado?

Lamentações 2:6 – “E arrancou a sua cabana com violência, como se fosse a de uma horta; destruiu a sua congregação: o Senhor em Sião pôs em esquecimento a solenidade e o sábado, e na indignação da sua ira rejeitou com desprezo o rei e o sacerdote”.

Resposta: Essa lamentação foi escrita por Jeremias. Ele foi um profeta que, com todas as suas forças, energias, disposição e determinação, exortou, por várias décadas, o povo Judeu (reino do sul) ao arrependimento e à conversão, mas sem obter o menor sucesso. Jeremias presenciou a destruição de sua nação pelo poderoso e impiedoso exército de Nabucodonosor. O profeta também testemunhou a retirada do povo judeu de


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo sua terra natal para ser levado em cativeiro. A tristeza do profeta era tão imensa que ele chegou a ponto de escrever uma lamentação sobre o desastroso e terrível acontecimento. Mais uma vez fica claro que Jeremias não profetizou a abolição do sábado. O que ele profetizou foi que “o Senhor em Sião pôs em esquecimento... o sábado”, não somente o sábado, mas toda a “solenidade” da lei. Tal fato ocorreu porque, estando exilado no cativeiro imposto pelo Império de Babilônia, os judeus encontrariam grande dificuldade para observar o santo dia do sábado ou praticar qualquer outro preceito da lei. Com a massa do povo judeu no cativeiro, a terra de Judá ficou totalmente devastada e desolada, com poucos habitantes e sem nenhuma organização política (II reis 24:14-15). Nessas condições, o sábado foi posto em esquecimento em Sião. Mas quando os judeus retornaram do cativeiro babilônico – setenta anos depois – eles tornaram a observar estritamente o sábado sob a supervisão de Neemias (Neemias 9:14; 10:31; 13:15-22). O que prova que o sábado não foi abolido e nem era para ser posto em esquecimento para sempre.

5.7 A distinção entre lei moral e cerimonial Seria a distinção entre lei moral e cerimonial invenção daqueles que defendem o dever do cristão observar os Dez Mandamentos? Resposta: Na Bíblia Sagrada encontramos uma diferença relevante entre os Dez Mandamentos – também chamados pelo apóstolo Paulo de “lei de Deus” (Romanos 7:22 e 25; 8:7) – e as leis cerimoniais – também chamadas de ordenanças – referentes à expiação de pecados através do holocausto de animais. Com a morte do “Cordeiro de Deus”, a lei cerimonial foi totalmente abolida. Por essa razão, os cristãos não guardam a páscoa, não realizam a circuncisão e nem fazem expiação de pecados pelos sacrifícios de animais. Rituais esses, “consistindo somente em manjares, e bebidas, e várias abluções e justificações da carne, impostas até ao tempo da correção” (Hebreus 9:10). Porém, a lei moral ainda continua vigorando, por isso os cristãos guardam os Dez Mandamentos. Esta distinção está claramente exposta nas páginas da Bíblia Sagrada, inclusive os apóstolos de Jesus fizeram questão de repetir e praticar todos os Dez Mandamentos, conforme constam nas duas tábuas de pedra. Para visualizar melhor a distinção entre lei moral e lei cerimonial, considere os seguintes versículos bíblicos:

Levítico 4:27-29 – “E se qualquer outra pessoa do povo da terra pecar por erro, fazendo contra algum dos mandamentos do Senhor, aquilo que se não deve fazer, e assim for culpada. Ou se o seu pecado, no qual pecou, lhe for notificado, [Lei Moral] então trará por sua oferta uma cabra fêmea sem mancha, pelo seu pecado que pecou. E porá a sua mão sobre a cabeça da expiação do pecado, e degolará a expiação do pecado no lugar do holocausto” [Lei Cerimonial].

Nessas singelas passagens bíblicas pode-se observar claramente a existência de duas espécies de leis. Uma que é transgredida (Levítico 4:27) e outra que expia a culpa resultante da transgressão (Levítico 4:29).


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo A primeira lei, cuja transgressão resulta em pecado é a chamada lei moral, pois “todo aquele que pratica o pecado também transgride a lei, porque o pecado é a transgressão da lei” (I João 3:4). A segunda lei, que faz expiação pelo pecado através do holocausto de animais, é conhecida pelo nome de lei cerimonial, mesmo porque “sem derramamento de sangue não há remissão” (Hebreus 9:22). Esta lei era uma tipologia que apontava para o “Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (João 1:29). Diante do exemplo bíblico supra mencionado, verifica-se que a “lei moral” e a “lei cerimonial” possuem funções diferentes, muito embora sejam complementares. Por essa razão são classificadas de modo distinto. A primeira indica o que é pecado, e a segunda expia o pecado. Analisando esse simples exemplo bíblico, podemos constatar que a própria Escritura Sagrada permite fazer a distinção entre “lei moral” e “lei cerimonial”. Antes da cruz, o pecador estando com a consciência culpada pela transgressão da lei de Deus que o condena à morte, procurava realizar a expiação do seu pecado por meio do sacrifício de animais. Após a cruz, o pecador estando com a consciência culpada pela transgressão da lei de Deus que o condena à morte, procura expiar o seu pecado por meio do sacrifício de Cristo.

5.8 A classificação de conceitos O uso de palavras extrabíblica seria contrário às Escrituras Sagradas? Resposta: A metodologia de classificar e definir termos e conceito faz parte de toda e qualquer Ciência. Toda Ciência inicia-se com um processo de classificação e definição de termos e conceitos que, posteriormente, são relacionados entre si e extraída as suas propriedades e consequências naturais, levando à sua formalização. Afinal de contas, “toda verdadeira ciência não é senão uma interpretação da escrita de Deus no mundo material” (PP, 599). Para estudar a Bíblia Sagrada, nada melhor do que empregar os métodos comprovadamente bem sucedidos. A definição de termos e a classificação de conceitos é uma consequência natural e necessária da Hermenêutica Sacra, um excelente e poderoso instrumento científico para o estudo sistemático da Bíblia Sagrada. As palavras “lei moral”, “lei cerimonial”, “lei civil”, “lei criminal”, “lei de saúde” e tantas outras, não estão explicitamente registradas nas páginas da Bíblia Sagrada. Mas, elas são empregadas largamente pelos teólogos para classificar e estudar sistematicamente e didaticamente as diferentes espécies de leis existentes no Antigo Testamento. É claro que uma determinada palavra que não esteja explicitamente registrada nas páginas da Bíblia Sagrada, não a torna automaticamente antibíblica, oposta ou mesmo desfavorável aos ensinos escriturísticos. Caso contrário, muitas expressões empregadas por toda a cristandade, teriam que ser consideradas antibíblicas e, portanto, desprezadas ou abandonadas. Destarte, o título “Bíblia Sagrada” não se encontra em nenhuma das páginas das Escrituras, mas nem por isso tal nome é contrário aos ensinos bíblicos. A expressão “escatologia” não está registrada na Bíblia Sagrada, mas ela serve para designar o estudo dos últimos acontecimentos. A palavra latina “milênio” não se encontra em nenhuma parte das Escrituras Sagradas, todavia, esse termo é empregado por todos os cristãos para designar uma importante doutrina bíblica. A palavra “trindade”, “onisciência”, “onipresença” ou “onipotência” e tantas outras, também não se encontram registradas “ipsis verbis” nas páginas das Escrituras Sagradas, porém, elas


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo são largamente empregadas por toda a cristandade para caracterizar a natureza da divindade. Todas essas palavras não estão registradas na Bíblia Sagrada, mas, nem por isso, elas são tidas como antibíblicas. Então por que considerar antibíblica as palavras “lei moral”, “lei cerimonial”, “lei civil”, “lei criminal”, “lei de saúde” e tantas outras, quando elas realmente caracterizam e classificam as diversidades de leis registradas no corpo legislativo do Pentateuco?

5.9 Considerações finais Seria lícito o uso de expressões extrabíblica que exprimem as idéias contidas na Palavra de Deus? Resposta: A verdade é que o simples fato de uma palavra não estar registrada “ipsis verbis” na Bíblia Sagrada, não quer dizer que a idéia representada pela referida palavra não esteja contida nas páginas das Escrituras Sagradas. Ou seja, o vocábulo pode até mesmo não estar escrito “ipsis litteris” no Santo Livro de Deus, mas a idéia que tal vocábulo traduz ou representa pode estar claramente contida nas Escrituras Sagradas. Tal fato, torna bíblico e lícito o emprego de termos, expressões ou palavras que não estão registrados na Bíblia Sagradas, mas que traduzem perfeitamente a idéia que o texto sagrado quer transmitir. Portanto, as expressões “lei moral”, “lei cerimonial”, “lei civil”, “lei penal”, “lei de saúde” ou tantas outras, quando empregadas para classificar as idéias traduzidas pela diversidade de leis, são perfeitamente lícitas no estudo da Palavra de Deus, tanto quanto são lícitos o emprego das palavras trindade, milênio, onipotência, onisciência, onipresença, bíblico e outras. Mesmo porque as idéias que compreendem tais palavras encontram-se largamente registradas nas páginas das Escrituras Sagradas. O emprego de “expressões” que classificam as idéias contidas nas Escrituras Sagradas, torna a pesquisa das doutrinas bíblicas mais clara, consistente, racional, lógica, compreensível e exata aos olhos de todos aqueles que estudam sistematicamente as mensagens da Palavra de Deus.


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo

Capítulo 6 A Lei em Gálatas “Deus exige que Seu santo dia seja observado hoje de maneira tão sagrada como no tempo de Israel. A ordem dada aos hebreus deve ser considerada por todos os cristãos como um mandado de Jeová”. Ellen Gould White (PP, 296)

6.1 Introdução A lei foi dada por Deus aos cuidados do povo israelita pelo ministério de Moisés (Neemias 9:14). Por recusarem o sacrifício de Cristo, boa parte dos judeus continua mantendo até aos dias de hoje as suas tradições milenares, muitas das quais são criações de origem humana, herdadas das seitas dos fariseus e dos saduceus. Atualmente, esse povo ainda se orienta espiritualmente pela Lei e pelos Profetas. A “Lei” se refere aos primeiros cinco livros da Bíblia Sagrada, os quais foram escritos por Moisés, e são conhecidos pelo nome de Pentateuco. Os “Profetas” se referem aos livros escritos pelos profetas bíblicos. Portanto a expressão “Lei e Profetas” é a antiga designação para os livros divinamente inspirados que constituem o “Antigo Testamento”. Por não reconhecerem o “Cordeiro de Deus” (João 1:36), os judeus também não aceitam as boas novas de salvação anunciada no Novo Testamento (Atos 7:37), a qual havia sido veementemente recomendada pelos antigos profetas bíblicos. O povo judeu continua aguardando a vinda do Messias, mas quando Cristo aparecer, segunda vez, nas nuvens do céu, então os judeus ficarão surpresos ao constatarem que o Messias é o Senhor Jesus. 6.2 A lei que nos serviu de “aio” Teria Paulo ensinado que o decálogo nos serviu de “aio”, e que com Cristo não estamos mais debaixo do “aio”, ou seja, do decálogo?

Gálatas 3:24-25 – “De maneira que a lei nos serviu de aio, para nos conduzir a Cristo, para que pela fé fôssemos justificados. Mas, depois que a fé veio, já não estamos debaixo de aio”.

Resposta: A palavra “aio” significa tutor, curador, preceptor, que nada mais é do que a pessoa encarregada da educação de crianças (Gálatas 4:2). Porém, Paulo está falando de uma “lei” que “nos serviu de aio”.


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo Então, qual era a lei que nos tutelou para nos conduzir a Cristo, e que com a cruz deixamos de depender totalmente dela para salvação? Evidentemente tratava-se da lei que apontava para Cristo e Seu sacrifício expiatório. Mas qual era a lei que apontava para o sacrifício expiatório de Cristo para remissão dos pecados? Certamente não era a lei moral, posto que ela aponta para o pecado (Romanos 3:20; Romanos 7:7; João 3:4), mas não provê o perdão dos pecados. Além do mais, os Dez Mandamentos foram repetidos e praticados no Novo Testamento por Jesus Cristo e pelos santos apóstolos. Todavia, pelas Escrituras Sagradas, podemos constatar que a lei cerimonial do sacerdócio levítico – pela sua tipologia – era a única lei que apontava para a morte expiatória de Cristo, a qual era revelada aos antigos crentes por meio da expiação de pecados pelo holocausto de animais. Essa tipologia era tão evidente aos antigos, que João Batista chegou a comparar o sacrifício de cordeiros realizados no santuário terrestre levítico com o sacrifício de Cristo ao afirmar: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (João 1:29). Em outro passo João disse o seguinte: “E, vendo passar a Jesus, disse: Eis aqui o Cordeiro de Deus” (João 1:36). Então pode-se fazer a seguinte pergunta: de onde foi que João Batista tirou a figura do cordeiro? Certamente não do decálogo, mas da lei cerimonial levítica com os seus múltiplos holocaustos de animais. “Que é uma alegoria para o tempo presente, em que se oferecem dons e sacrifícios que, quanto à consciência, não podem aperfeiçoar aquele que faz o serviço. Consistindo somente em manjares, e bebidas, e várias abluções e justificações da carne, impostas até ao tempo da correção” (Hebreus 9:9-10). Portanto, com o nascimento e morte de Cristo, já não estamos mais debaixo do preceptor (aio). Ou seja, não estamos mais subordinados ao “Antigo Concerto” envolvendo a expiação de pecados pelo sangue de animais para perdão de nossos pecados. Mas, estamos subordinados ao “Novo Concerto” envolvendo a expiação de pecados pelo sangue de Cristo. Em outros termos: depois que a fé no antítipo (Cristo) veio, já não somos mais dependentes do tipo (holocausto de animais).

6.3 Remindo os que estavam debaixo da lei Teria Paulo ensinado que, com a vinda de Cristo, ficamos livres de observar os mandamentos de Deus?

Gálatas 4:1-5 – “Digo, pois, que todo o tempo que o herdeiro é menino em nada difere do servo, ainda que seja senhor de tudo. Mas está debaixo de tutores e curadores até ao tempo determinado pelo pai. Assim também nós, quando éramos meninos, estávamos reduzidos à servidão debaixo dos primeiros rudimentos do mundo. Mas, vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei. Para remir os que estavam debaixo da lei, a fim de recebermos a adoção de filhos”.

Resposta: Nesses versículos, o apóstolo Paulo está fazendo uma clara relação entre um “herdeiro menino” com o primeiro concerto, no qual “estávamos reduzidos à servidão debaixo dos primeiros rudimentos do mundo”.


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo O herdeiro menino está subordinado a tutores e curadores até ao tempo determinado por seu pai. A analogia é clara: o primeiro concerto, dado no início dos tempos, vigoraria até o tempo determinado por Deus. Na plenitude do tempo o Pai enviou Jesus Cristo ao mundo. Com Sua morte expiatória na cruz, passou a vigorar um Novo Concerto, que remiu aqueles que estavam aos cuidados dos rudimentos do Antigo Concerto. Em tempos remotos, os fiéis alcançavam o perdão dos pecados por meio do holocausto de animais tendo fé na vinda do Messias. De fato, o Antigo Concerto apontava para o Messias e realizava a expiação de pecados pelo holocausto de animais. Com a morte de Cristo o Antigo Concerto perdeu a sua eficácia. Em seu lugar passou a vigorar o Novo Concerto para expiação de pecados pelo sangue remidor de Cristo.

Hebreus 10:1 e 4 – “Porque, tendo a lei a sombra dos bens futuros, e não a imagem exata das coisas, nunca, pelos mesmos sacrifícios que continuamente se oferecem cada ano, pode aperfeiçoar os que a eles se chegam. Porque é impossível que o sangue dos touros e dos bodes tire os pecados”.

Hebreus 10:11-12 – “E assim todo o sacerdote aparece cada dia, ministrando e oferecendo muitas vezes os mesmos sacrifícios, que nunca podem tirar os pecados. Mas este, havendo oferecido um único sacrifício pelos pecados, está assentado para sempre à destra de Deus”.

Portanto, o Antigo Concerto foi dado ao povo de Deus, na infância da humanidade. Cristo veio para remir o seu povo da tutela do Antigo Concerto e nos adotar como filhos de Deus, mas agora sob a égide do Novo Concerto. “A condescendência e a angústia do amado Filho de Deus não foram suportadas a fim de adquirir para o homem a liberdade de transgredir a lei do Pai e sentar-se ainda com Cristo no Seu trono. Isso ocorreu para que por Seus méritos e pela manifestação de arrependimento e fé o pecador mais culpado possa receber perdão e obter força para levar uma vida de obediência. O pecador não é salvo em seus pecados, mas de seus pecados” (FO, 31).

6.4 O rudimento fraco e pobre Teria Paulo comparado a guarda do sábado a um rudimento fraco e pobre?

Gálatas 4:9-11 – “Mas agora, conhecendo a Deus, ou antes, sendo conhecidos de Deus, como tornais outra vez a esses rudimentos fracos e pobres, aos quais de novo quereis servir? Guardais dias, e meses, e tempos, e anos. Receio de vós, que não haja trabalhado em vão para convosco”.


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo Resposta: Primeiramente cabe ressaltar que na igreja dos gálatas havia dois grupos distintos de cristão: o grupo judeu e o grupo gentio. Pelo contexto do versículo considerado, Paulo não está se reportando ao grupo judeu convertido, mas sim aos gentios que haviam se convertido do paganismo para o cristianismo, e que agora estavam “conhecendo a Deus”. O santo apóstolo afirma que os gentios pagãos, antes de se converterem e “agora, conhecendo a Deus”, haviam servido aqueles que “não são deuses” (Gálatas 4:8). Tal afirmação não se aplica de modo algum aos judeus, porque depois do cativeiro babilônico e na época apostólica eles não eram politeístas ou idólatras. Com toda certeza, Paulo está se referindo aos gentios da Galácia que haviam se convertido ao cristianismo, mas que agora estavam tornando a algumas de suas antigas práticas do culto pagão. Paulo condenou esse sincretismo religioso entre paganismo e cristianismo, o qual mais tarde viria a corromper toda a igreja. “Porque já o mistério da injustiça opera: somente há um que agora resiste até que do meio seja tirado” (II Tessalonicenses 2:7). Os gentios, como religiosos que eram, serviam aos deuses pagãos. Entre os pagãos cada dia da semana era especialmente dedicado a alguma divindade em particular. Tanto é verdade que na nomenclatura pagã, cada dia da semana era dedicado a um deus em particular (Sol, Lua, Marte, Mercúrio, Júpiter, Vênus e Saturno). A seguir Paulo afirma que “agora, conhecendo a Deus” (Gálatas 4:9), como eles poderiam querer tornar a servir “esses rudimentos fracos e pobres”? Portanto, os “rudimentos fracos e pobres” referem-se aos rituais pagãos praticados em favor daqueles que “não são deuses” (Gálatas 4:8). Esses rituais eram realizados em determinados “dias, e meses, e tempos, e anos”. Por essa razão Paulo censurou-os por tornar “outra vez a esses rudimentos fracos e pobres” aos quais de novo desejavam servir. Em nenhum momento o apóstolo Paulo está fazendo referência ao sábado bíblico, mas sim exortando os cristãos gentios a deixarem definitivamente a práticas dos cultos pagãos. Dizer que Paulo estaria se referindo ao “santo sábado do Senhor” é mostrar total ignorância das mais elementares regras de hermenêutica. Especialmente aquela que afirma que todo texto deve levar em consideração seu contexto imediato e mediato. Nem de longe Paulo insinua o dia do sábado, o qual ele mesmo andava observando entre os judeus (Atos 13:14-15) e entre os gentios pagãos (Atos 16:13).

6.5 Alegoria dos dois concertos Teria Paulo ensinado que os filhos da escrava são aqueles que observam os Dez Mandamentos e os filhos da livre são aqueles que estão livres da observância do decálogo?

Gálatas 4:22-24, 30-31 – “Porque está escrito que Abraão teve dois filhos, um da escrava, e outro da livre. Todavia o que era da escrava nasceu segundo a carne, mas, o que era da livre, por promessa. O que se entende por alegoria: porque estes são os dois concertos: um, do monte Sinai, gerando filhos para a servidão, que é Agar. Mas que diz a Escritura? Lança fora a escrava e seu filho, porque de modo algum o filho da escrava herdará com o filho da livre. De maneira que, irmãos, somos filhos, não da escrava, mas da livre”.


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo Resposta: Nesses trechos bíblicos, o apóstolo Paulo assume explicitamente que está discorrendo por meio de uma “alegoria”. Mas o que é uma “alegoria”? Trata-se de uma metáfora com significado diverso das figuras de linguagem que são diretamente empregadas no texto. No texto em questão, Paulo faz uma comparação figurada entre os dois concertos com o filho da escrava e o filho da livre. O Antigo Concerto dado no monte Sinai é comparado com Agar (a mulher escrava) e o Novo Concerto é comparado com Sara (a esposa livre). Paulo afirma claramente que somos filhos da mulher livre e não da mulher escrava. Destarte, Paulo está assegurando aos judaizantes que não estamos subordinados ao Antigo Concerto dado no Monte Sinai com os seus rituais e holocaustos de animais para expiação de pecados, mas estamos debaixo do Novo Concerto, no qual Cristo se entregou em “oferta e sacrifício a Deus, em cheiro suave” (Efésios 5:2) “para aniquilar o pecado pelo sacrifício de si mesmo” (Hebreus 9:26), “havendo oferecido um único sacrifício pelos pecados” (Hebreus 10:12). “Mas que diz a Escritura? Lança fora a escrava e seu filho” (Antigo Concerto de expiação de pecados pelo sacrifício de animais), “porque de modo algum o filho da escrava herdará com o filho da livre” (Novo Concerto de expiação de pecados pelo sacrifício de Cristo). De maneira que somos filhos, não do Antigo Concerto, mas do Novo Concerto. Os primeiros cristãos estavam sendo convocados a lançar fora o Antigo Concerto e adotar o Novo Concerto. Com a morte de Cristo o Antigo Concerto de expiação de pecados pelo holocausto de animais foi totalmente abolido. Todavia, alguns cristãos judeus, ainda presos a suas tradições seculares, continuavam realizando o sacrifício de animais para expiação de seus pecados, em vez que abraçarem o Novo Concerto de expiação de pecados pelo sangue de Cristo. Foi por essa razão que o autor do livro de Hebreus foi incisivo: “Porque é impossível que o sangue dos touros e dos bodes tire os pecados” (Hebreus 10:4) ou “... sacrifícios, que nunca podem tirar os pecados” (Hebreus 10:11). Aqueles que continuassem seguindo por esse caminho estavam tacitamente negando a eficácia do sacrifício de Cristo. Nessas circunstâncias jamais poderiam herdar o reino de Deus. Caso, o apostolo Paulo estivesse fazendo referência ao decálogo, então ele estaria sendo incoerente, especialmente porque em suas epístolas ele foi muito rigoroso em citar, praticar e ordenar a observância dos mandamentos do decálogo. Observe: 1º) I Coríntios 8:4; 2º) I Coríntios 6:10; 3º) Romanos 2:23-24; 4º) Atos 16:13; 5º) Efésios 6:2-3; 6º) Romanos 13:9; 7º) I Coríntios 6:10; 8º) Efésios 4:28; 9º) Colossenses 3:9 e 10º) Romanos 7:7.

6.6 Separados de Cristo Quem observa os mandamentos do decálogo está separado de Cristo e caído da graça?

Gálatas 5:4 – “Separados estais de Cristo, vós os que vos justificais pela lei: da graça tendes caído”.


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo Resposta: O versículo bíblico em análise não afirma que aqueles que observam os Dez Mandamentos, identificados nas Escrituras Sagradas como “lei de Deus” (Romanos 7:22; Romanos 7:25; Romanos 8:7), estão decaídos da graça. Mas, o versículo citado afirma claramente que as pessoas que procuram “justificar-se” através da lei estão separadas de Cristo e caídos da graça. “Observar” a lei de Deus e procurar “justificar-se” pela lei de Deus são duas coisas completamente diferentes. “Observar” a lei de Deus implica num processo de obediência e santificação na verdade (João 17:17). Porém, “justificar-se” pela lei caracteriza um processo de salvação meritória pelas obras da lei. Neste caso, o crente encontra na observância da lei de Deus a sua única razão para ser salvo. Ora, a lei de Deus foi dada ao homem como forma de santificação, nunca como método de salvação. O próprio apóstolo Paulo afirma que “nenhuma carne será justificada diante dele pelas obras da lei, porque pela lei vem o conhecimento do pecado” (Romanos 3:20). Portanto, o verdadeiro cristão observa a lei de Deus não para ser salvo por ela. Mas, por estar sendo santificado na verdade, procura evitar a prática do pecado, pois “todo aquele que pratica o pecado também transgride a lei, porque o pecado é a transgressão da lei” (I João 3:4) e “o salário do pecado é a morte” (Romanos 6:23). “Todo transgressor da lei de Deus é pecador, e ninguém pode ser santificado enquanto viver em pecado conhecido” (FO, 30). O perdão, a justificação ou a salvação são dons obtidos unicamente mediante o sangue remidor de Cristo Jesus. Aquele que tenta justificar-se pela obra da lei tenta uma impossibilidade, pois a lei nunca teve poder ou virtude para perdoar os pecados de ninguém. A lei não é o salvador do mundo. Ela foi dada somente para indicar ao homem o que é pecado e condenar o transgressor à morte eterna. Caso a lei possuísse qualquer virtude para poder salvar o pecador, então a morte de Cristo teria sido desnecessária. Pelo menos é isso que o apóstolo Paulo afirma: “porque, se a justiça provém da lei, segue-se que Cristo morreu debalde” (Gálatas 2:21). Em outra passagem o santo apóstolo afirma o seguinte: “porque, se dada fosse uma lei que pudesse vivificar, a justiça, na verdade, teria sido pela lei” (Gálatas 3:21). O mesmo argumento também é válido para a lei cerimonial do sacerdócio levítico. Aqueles que nos dias de hoje procuram justificar-se pela lei cerimonial estão desligados de Cristo e decaídos da graça. Isso porque a lei cerimonial levítica com os seus múltiplos holocaustos de animais para expiação de pecados caracteriza o Antigo Concerto. Todavia, tal concerto foi totalmente abolido na cruz por Cristo Jesus (Daniel 9:27; Lucas 23:45; II Coríntios 3:14). Portanto, aquelas pessoas que desprezam o ministério sacerdotal de Cristo para seguirem o ministério sacerdotal levítico com seus rituais de expiação dos pecados pelo sangue de animais estão fora do alcance da graça redentora.

6.7 Considerações finais “Todo aquele que pratica o pecado também transgride a lei, porque o pecado é a transgressão da lei” (I João 3:4). “O salário do pecado é a morte” (Romanos 6:23). A maldição da lei é a morte. Foi por essa razão que “Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós; porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado no madeiro” (Gálatas 3:13). “Jesus, nosso Substituto, consentiu em sofrer pelo homem a penalidade da lei transgredida. Ele revestiu Sua divindade com a humanidade, tornando-Se assim o Filho


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo do homem, o Salvador e Redentor. O próprio fato da morte do amado Filho de Deus para remir o homem revela a imutabilidade da lei divina. Quão facilmente, do ponto de vista do transgressor, Deus poderia ter abolido Sua lei, provendo assim um meio pelo qual o homem pudesse ser salvo e Cristo permanecesse no Céu! A doutrina que ensina a liberdade, pela graça, para transgredir a lei é uma ilusão fatal” (FO, 30). “O engano de Satanás é que a morte de Cristo introduziu a graça para tomar o lugar da lei. A morte de Jesus de maneira alguma modificou, anulou ou diminuiu a lei dos Dez Mandamentos. Essa preciosa graça oferecida aos homens por meio do sangue do Salvador estabelece a lei de Deus. Desde a queda do homem, o governo moral de Deus e Sua graça são inseparáveis. Andam de mãos dadas através de todas as dispensações. ‘A misericórdia e a verdade se encontraram; a justiça e a paz se beijaram’ Sal. 85:10” (FO, 30).


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo

Capítulo 7 Paulo e a Lei “Foi mostrado que o terceiro anjo, que proclama os mandamentos e a fé de Jesus (Apocalipse 14:9-14), representa o povo que recebe essa mensagem, e ergue a voz de advertência ao mundo para que guarde os mandamentos de Deus e a Sua lei como a menina dos olhos; e em resposta a esta advertência muitos abraçariam o sábado do Senhor”. Ellen Gould White (VE, 87)

7.1 Introdução “Hoje os inimigos da verdadeira igreja vêem no pequeno grupo de guardadores do sábado, um Mardoqueu à porta. A reverência do povo de Deus por Sua lei, é uma constante repreensão aos que têm deixado o temor do Senhor, e estão pisando o Seu sábado” (PR, 605). O sábado foi estabelecido pelo próprio Senhor nosso Deus, no sétimo dia da semana, como um memorial da criação (Gênesis 2:2-3). Esse dia foi abençoado e consagrado pelo Senhor bem antes da entrada do pecado no mundo e deveria ser observado por todos os descendentes de Adão e Eva. Posteriormente, o Senhor ratificou a benção e a santificação do dia do sábado, colocando-o no coração da lei moral, a qual é conhecida pelo nome de decálogo (dez palavras) ou lei de Deus. Novamente, o Senhor fez questão de lembrar ao Seu povo santo de que o sábado deveria ser santificado por se tratar de um memorial da criação. Observe: “Lembra-te do dia do sábado, para o santificar... Porque em seis dias fez o Senhor os céus e a terra, o mar e tudo que neles há, e ao sétimo dia descansou: portanto abençoou o Senhor o dia do sábado, e o santificou” (Êxodo 20:8 e 11). O dia do sábado deveria ser observado tanto pelos israelitas quanto pelos gentios que se convertiam à verdade (Isaías 56:6-7). Na realidade, o dia do sábado deveria até mesmo ser observado pelos gentios que estivessem dentro do território israelita (Êxodo 20:10). Quando esteve vivendo na terra, Jesus Cristo tinha o “costume” de guardar o santo sábado (Lucas 4:16), conforme prescreve o mandamento divino. Jesus também profetizou que a Sua Igreja estaria guardando o “santo sábado do Senhor”, mesmo depois de decorridos quarenta anos de Sua morte e ressurreição (Mateus 24:20). Depois da morte de Cristo, as Suas fiéis discípulas continuaram guardando o sábado bíblico, conforme prescreve o mandamento divino (Lucas 23:56). Muitos anos depois da cruz, o apóstolo Paulo também continuava guardando o sábado junto com os seus conterrâneos judeus (Atos 13:14-15). Até mesmo em locais onde não havia judeus, Paulo fazia questão de guardar o “santo sábado do Senhor” entre os gentios (Atos 16:12-13). O escritor do Apocalipse afirma que ele foi arrebatado em visão no “dia do Senhor” (Apocalipse 1:10), que segundo a Bíblia Sagrada é o “dia do sábado” (Isaías 58:13).


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo Apesar das Escrituras Sagradas fervilharem de dezenas de testemunhos de que o sábado continua plenamente vigorando para os cristãos em todas as épocas, a verdade é que alguns falsos doutores e mestres, prisioneiros de antigas tradições de origem humana, fazendo o uso de filosofias e de vãs subtilezas (Colossenses 2:8), apregoam aos quatro cantos da Terra a famigerada suposição de que o sábado bíblico do sétimo dia da semana foi abolido. Mas não é isso que as Escrituras Sagradas ensinam.

7.2 Uma glória transitória Teria Paulo ensinado que a lei de Deus era transitória e, portanto, com a cruz ela se extinguiu?

II Coríntios 3:6-11 – “O qual nos fez também capazes de ser ministros dum novo Testamento, não da letra, mas do espírito, porque a letra mata, e o espírito vivifica. E, se o ministério da morte, gravado com letras em pedras, veio em glória, de maneira que os filhos de Israel não podiam fitar os olhos na face de Moisés, por causa da glória do seu rosto, a qual era transitória. Como não será de maior glória o ministério do espírito? Porque, se o ministério da condenação foi glorioso, muito mais excederá em glória o ministério da justiça. Porque também o que foi glorificado nesta parte não foi glorificado, por causa desta excelente glória. Porque, se o que era transitório foi para glória, muito mais é em glória o que permanece”.

Resposta: Nos versículos retro mencionados, Paulo está fazendo um claro “contraste” entre o que ele chama de ministério da morte ou ministério da condenação com o que ele designa como ministério do Espírito ou ministério da justiça. Em suas cogitações, o santo apóstolo asseverou que o ministério do Espírito é muito mais glorioso do que o ministério da morte. Numa clara alusão a Moisés, cujo rosto resplandecia – após receber do Senhor o decálogo e as demais leis – com uma glória que era transitória (Êxodo 34:29), Paulo afirmou que o ministério da morte veio em glória. Mas, qual era o ministério da morte que era transitório e que veio em glória? Bem, o ministério da morte era aquele que estava “gravado com letras em pedras”. Mas, o que foi gravado com letras em pedra e que veio com a glória do rosto de Moisés? A única resposta é o decálogo: “Então vos anunciou ele o seu concerto que vos prescreveu, os Dez Mandamentos, e os escreveu em duas tábuas de pedra” (Deuteronômio 4:13). Então a pergunta que se faz é a seguinte: por que a lei dos Dez Mandamentos foi chamada por Paulo de “ministério da morte” ou “ministério da condenação”? A resposta é muito simples, a lei foi chamada pelo apóstolo de “ministério da condenação” ou “ministério da morte” porque a função da lei não é a de salvar, mas condenar o transgressor da lei à morte. Tal assunto foi largamente ensinado por Paulo em seus escritos. Observe: “porque pela lei vem o conhecimento do pecado” (Romanos 3:20); “mas eu não conheci o pecado senão pela lei” (Romanos 7:7); “porque a lei opera a ira” (Romanos 4:15); “ora o aguilhão da morte é o pecado, e a força do pecado é a lei” (I Coríntios 15:56); “porque o salário do pecado é a morte” (Romanos 6:23) etc.


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo Caso Paulo estivesse condenando a lei, então ele estaria sendo incoerente, especialmente porque em suas cartas ele defende vigorosamente a validade da lei: “Não sabeis vós, irmãos ... que a lei tem domínio sobre o homem por todo o tempo que vive?”... “eu não conheci o pecado senão pela lei”... “eu não conheceria a concupiscência, se a lei não dissesse: Não cobiçarás”... “assim a lei é santa, e o mandamento santo, justo e bom”... “e, se faço o que não quero, consinto com a lei, que é boa”... “porque, segundo o homem interior, tenho prazer na lei de Deus”... “com o entendimento sirvo à lei de Deus” (Romanos 7:1, 7, 12, 16, 22 e 25). Mas, o que é o “ministério do espírito” ou “ministério da justiça”? O ministério do espírito ou da justiça é a graça, a qual estabelece o perdão dos pecados mediante o sangue remidor de Jesus Cristo. Observe o que Paulo diz a respeito do assunto: “onde o pecado abundou, superabundou a graça” (Romanos 5:20); “e libertados do pecado, fostes feitos servos da justiça” (Romanos 6:18). Como crermos no Novo Testamento, então cremos que os “pecados” apontados pela lei dos Dez Mandamentos se extinguem com o ministério da justiça operando na vida do pecador arrependido. Portanto, o que é transitório não é a lei, mas sim o pecado que a lei aponta, o qual foi expiado pela morte de Cristo, o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (João 1:29 e 36).

7.3 Colossenses e o sábado Teria Paulo declarado que o sábado semanal foi abolido na cruz?

Colossenses 2:14, 16-17 – “Havendo riscado a cédula que era contra nós nas suas ordenanças, a qual de alguma maneira nos era contrária, e a tirou do meio de nós, cravando-a na cruz. Portanto ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo beber ou por causa dos dias de festa, ou da lua nova, ou dos sábados. Que são sombras das coisas futuras, mas o corpo é de Cristo”.

Resposta: A Bíblia Sagrada aplica o termo “ordenanças” exclusivamente ao ritual religioso realizado no chamado “santuário terrestre” (Hebreus 9:1). Então podemos concluir que a “cédula” cravada na cruz refere-se ao Antigo Concerto com seus múltiplos cerimoniais de sacrifícios de animais realizados para expiação de pecados. Em nenhum momento Paulo ensina ou insinua que o sábado semanal foi abolido. O que o santo apóstolo diz é que ninguém deveria julgar os cristãos pelo fato deles não mais participarem dos cerimoniais de holocausto de animais realizados nos “dias de festa, ou da lua nova, ou dos sábados”. Paulo, divinamente inspirado, acrescenta ainda mais: “que são sombras das coisas futuras”. Ora, o Livro de Hebreus é muito claro em ensinar que as sombras das coisas futuras referem-se inclusivamente aos holocaustos de animais que eram realizados pelos sacerdotes levitas no santuário terrestre. Esses sacrifícios de animais apontavam para o corpo de Cristo, que seria dilacerado para expiar os pecados da humanidade (I Coríntios 10:16; Hebreus 10:10). Foi por essa razão que João Batista disse de Jesus: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (João 1:29).


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo Segundo a teoria clássica, os sábados mencionados por Paulo referem-se aos descansos cerimoniais que ocorriam dentro dos dias festivos, já que a Bíblia Sagrada define claramente tais descansos como sábados (Levítico 23:31-32). Além do mais, o versículo Paulino faz exclusiva referência à lei cerimonial como “comer”, “beber” “dias de festa” ou “lua nova”, que são cerimoniais. Não havendo, portanto, nenhuma razão para supor que Paulo está tratando da abolição do sábado moral.

7.4 Indiferenças entre os dias Estaria o sábado vigorando nos dias de hoje, haja vista que todos os dias são iguais?

Romanos 14:5-6 – “Um faz diferença entre dia e dia, mas outro julga iguais todos os dias. Cada um esteja inteiramente seguro em seu próprio ânimo. Aquele que faz caso do dia, para o Senhor o faz. O que come, para o Senhor come, porque dá graças a Deus; e o que não come, para o Senhor não come, e dá graças a Deus”.

Resposta: Em primeiro lugar cabe ressaltar que, na passagem bíblica considerada, Paulo não está se reportando a nenhum dia especifico da semana. Ele não tem em mente a natureza sagrada do sábado bíblico. Também não está pensando no domingo. Ou seja, em nenhum momento Paulo citou ou fez qualquer referência ao sábado ou a qualquer outro dia em particular. O que Paulo está dizendo é que os gentios romanos convertidos ao cristianismo ainda “enfermo na fé” (Romanos 14:1) estavam divididos por causa de algumas tradições. Destarte, alguns hereges faziam “diferença entre dia e dia” e outros julgavam “iguais todos os dias”. Ainda alguns criam “que de tudo se pode comer, e outro, que é fraco, come legumes” (Romanos 14:2). A mensagem central de Paulo era que os cristãos de Roma deveriam ser tolerantes para com esses conversos, que se encontravam fracos na fé. Portanto, não deveriam desprezar ou julgar aqueles que “Deus o recebeu por seu” (Romanos 14:3). Os conversos fracos na fé traziam essas tradições porque os pagãos dedicavam cada dia da semana a um deus em especial. Dependendo da natureza do deus daquele dia, eles faziam “diferença entre dia e dia”. Assim para eles cada dia possuía uma natureza diferente do outro. Por exemplo, o Imperador Constantino declarou que o “venerável” dia do Sol era o mais propício para as atividades da lavoura. Também havia na igreja de Roma outros cristãos, que julgavam iguais todos os dias. Note que as idéias de que todos os dias são iguais ou de que todos os dias são diferentes não partiram do apóstolo Paulo, sobretudo porque ele afirma explicitamente que “Um faz diferença entre dia e dia”... “outro julga iguais todos os dias”. Quando ele fala de “um” e de “outro”, o santo apóstolo está se excluindo. Portanto, está claro que essas duas crenças contraditórias foram produzidas pelos cristãos de Roma. Elas eram produtos da mente dos cristãos gentios e não do santo apóstolo. A realidade é que Paulo não tomou partido de nenhuma dessas doutrinas heréticas. O que o santo apóstolo fez foi simplesmente advertir os cristãos de Roma sobre a atitude de discórdia que estava se instalando entre eles. Apesar dessas duas heresias serem bem claras a qualquer estudante das Escrituras Sagradas, os adversários da verdade, para menosprezar o sábado, costumam


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo adotar em seus argumentos a postura herética daquele que “julga iguais todos os dias” e desconsideram a postura apóstata daquele que “faz diferença entre dia e dia”. Mas, se todos os dias são iguais, então por que o Senhor Jeová fez questão de distinguir o sábado dos demais dias da semana, abençoando-o e santificando-o (Gênesis 2:2-3; Êxodo 20:8-11)? Se todos os dias são iguais, então por que Jesus observou o santo sábado (Lucas 4:16) em detrimento aos demais dias da semana? Se todos os dias são iguais, então porque Jesus se identificou como Senhor do sábado (Mateus 12:8)? Se todos os dias são iguais, então por que Paulo guardou o sábado (Atos 16:13)? Se todos os dias são iguais, então porque muitos adversários do sábado insistem em defender a guarda do domingo? Caso o texto em questão estivesse considerando a abolição do sábado, simplesmente porque todos os dias são iguais, então aqueles que observam o primeiro dia da semana – por uma questão de coerência – teriam que abandonar a guarda do domingo, haja vista que “julga iguais todos os dias”. Supondo que todos os dias sãos iguais e que se pode guardar qualquer dia da semana, então por que os inimigos das verdades bíblicas insistem veementemente em condenar a observância do dia de sábado? Presumindo que pouco importa guardar um dia ou outro, porque alguns julgam “iguais todos os dias”, então por uma questão de lógica é melhor guardar o dia do sábado. Especialmente porque se trata do único dia que foi abençoado e santificado por Deus na criação do mundo. Dia esse que foi ratificado no coração do decálogo e que se encontra disseminado por toda a extensão do Antigo e do Novo Testamento. Portanto, se temos Deus como Senhor e honramos a Sua Palavra, então devemos santificar o dia que Ele estabeleceu por sua soberana vontade para ser guardado pelos homens. “O filho honrará o pai, e o servo ao seu senhor; e, se eu sou Pai, onde está a minha honra? e, se eu sou Senhor, onde está o meu temor?” (Malaquias 1:6). 7.5 Um mandamento “ab-rogado” Teriam sido os Dez Mandamentos ab-rogados por causa de sua fraqueza e inutilidade?

Hebreus 7:18-21 – “Porque o precedente mandamento é ab-rogado por causa da sua fraqueza e inutilidade. (Pois a lei nenhuma coisa aperfeiçoou) e desta sorte é introduzida uma melhor esperança, pela qual chegamos a Deus. E visto como não é sem prestar juramento (porque certamente aqueles, sem juramento, foram feitos sacerdotes. Mas este com juramento por aquele que lhe disse: Jurou o Senhor, e não se arrependerá: Tu és sacerdote eternamente, segundo a ordem de Melquisedeque)”.

Resposta: A pergunta que se deve fazer é a seguinte: Qual foi o mandamento “ab-rogado” que o livro de Hebreus está fazendo referência? Em qual contexto bíblico o vocábulo “ab-rogado” está sendo considerado? Bem, o próprio autor do livro de Hebreus deixa claro que ele está falando do mandamento que instituiu o sacerdócio levítico, ao afirmar que “sem prestar juramento”, os levitas “foram feitos sacerdotes”, os quais exerciam suas funções ritualísticas no santuário terrestre. Todavia, foi “introduzida uma melhor esperança” por meio do sacerdócio de Cristo.


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo Portanto, o autor do livro de Hebreus está ensinando que o Antigo Concerto ou Antigo Testamento para expiação de pecados pelo holocausto de animais foi “abrogado” (Daniel 9:27; II Coríntios 3:14). Esse concerto foi revogado na cruz por causa de sua fraqueza e inutilidade, pois a lei cerimonial nenhuma coisa aperfeiçoou. “Porque é impossível que o sangue dos touros e dos bodes tire os pecados” (Hebreus 10:4). Em outro passo o livro de Hebreus fala de “sacrifícios, que nunca podem tirar os pecados” (Hebreus 10:12). Segundo relato do Antigo Testamento, os pecadores se tornaram cada vez mais depravados na prática do pecado. Eles praticavam todos os tipos de atrocidades e, posteriormente, vinham ao santuário e ofereciam sacrifícios de animais visando a purificação dos seus pecados. Eles viam o sacrifício de animais como uma licença para pecar, especialmente porque realizavam tal cerimonial por mero formalismo, sem o devido espírito de santidade, arrependimento ou de genuína conversão. Essa situação levou o Senhor Jeová a abominar todos os rituais religiosos que eles praticavam. Observe o que diz as Escrituras Sagradas:

Isaías 1:11, 13, 15-16 – “De que me serve a mim a multidão de vossos sacrifícios, diz o Senhor? Já estou farto dos holocaustos de carneiros, e da gordura de animais nédios; e não folgo com o sangue de bezerros, nem de cordeiros, nem de bodes. Não tragais mais ofertas debalde: o incenso é para mim abominação e as luas novas, e os sábados, e a convocação das congregações; não posso suportar iniquidade, nem mesmo o ajuntamento solene. Pelo que, quando estendeis as vossas mãos, escondo de vós os meus olhos; sim, quando multiplicais as vossas orações, não as ouço, porque as vossas mãos estão cheias de sangue. Lavai-vos, purificai-vos, tirai a maldade de vossos atos de diante dos meus olhos: cessai de fazer mal”.

Na visão desses amantes do pecado, o Senhor Jeová lhes oferecia uma expiação barata que poderia ser alcançada facilmente com os holocaustos de animais. Era uma visão distorcida da vontade de Deus. Uma visão que pensava numa expiação obtida mais facilmente do que a expiação de pecados que exige arrependimento, fé e esforço diligente para resistir ao poder do pecado e vencê-lo, pois o Senhor exigia e exige santidade de Seu povo. Foi por essa razão que o autor de Hebreus foi levado a fazer a seguinte declaração: “o precedente mandamento é ab-rogado por causa da sua fraqueza e inutilidade. (Pois a lei nenhuma coisa aperfeiçoou)”.

7.6 O Santuário e os Dez Mandamentos Teria sido os Dez Mandamentos abolidos juntamente com toda a lei cerimonial, supondo que tudo fazia parte da mesma lei?

Hebreus 9:2-5 – “Porque um tabernáculo estava preparado, o primeiro, em que havia o candeeiro, e a mesa, e os pães da proposição; ao que se chama o santuário. Mas depois do segundo véu estava o tabernáculo que se chama o santo dos santos. Que tinha o incensário de ouro, e a arca do concerto, coberta de ouro toda em redor: em que estava um vaso de ouro, que continha o maná, e a vara de Aarão, que tinha


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo florescido, e as tábuas do concerto. E sobre a arca os querubins da glória, que faziam sombra no propiciatório; das quais coisas não falaremos agora particularmente”.

Resposta: Os Dez Mandamentos, escritos pelo próprio dedo de Deus nas duas tábuas de pedra, foram guardados dentro da arca do concerto. Por sua vez, a arca do concerto foi colocada no segundo compartimento do santuário chamado “santo dos santos” ou “santíssimo” (Hebreus 9:3-5). Além do concerto com o sacerdócio levítico para ministrar a expiação dos pecados pelo holocausto de animais, Deus também fez com o Seu povo o concerto dos Dez Mandamentos. Ocorre que o concerto de expiação de pecados pelo sangue de animais, que apontavam para Cristo, foi abolido na cruz (Daniel 9:27). Ocasião em que foi inaugurado o Novo Concerto, baseado na expiação de pecados por meio do sangue do “Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (João 1:29). O concerto de expiação de pecados pelo sangue de animais deveria ser ministrado exclusivamente pela tribo dos levitas, mas o concerto do decálogo deveria ser observado por todos. Ademais, o que distingue a lei moral da cerimonial não é o lugar onde ela foi guardada ou colocada, mas sim a sua função. A função da lei moral consiste em apontar e condenar o pecado. Enquanto que a função da lei cerimonial consistia em expiar o pecado pelo sacrifício de animais. Pouco importa onde a lei moral foi guardada, se foi na arca, no santuário terrestre ou em qualquer outro lugar. O que importa é o objetivo pelo qual a lei foi proposta por Deus. Nunca é demais repetir que a lei moral tem por objetivo mostrar ao homem o que é pecado e condenar o pecado do transgressor, sobretudo porque o salário do pecado é a morte. No Antigo Concerto, a solução para o problema do pecado apontado pela lei moral estava no sacrifício de animais, enquanto que no Novo Concerto a solução para o problema do pecado apontado pela lei moral está no sacrifício de Cristo.

7.7 Todo o conselho de Deus Teria o sábado sido abolido, já que Paulo anunciou “todo o conselho de Deus”, mas não repetiu o mandamento do sábado?

Atos 20:20 e 27 – “Como nada, que útil seja, deixei de vos anunciar, e ensinar publicamente e pelas casas. Porque nunca deixei de vos anunciar todo o conselho de Deus”.

Resposta: Paulo declarou categoricamente que ensinou aos cristãos tudo que útil fosse e todo o conselho de Deus. Inclusive guardou o sábado bíblico entre judeus e gentios (Atos 16:14, 42, 44; 15:21; 16:13; 17:2; 18:4). Além disso, o santo apóstolo fez questão de ordenar a todos os cristãos a seguir o seu exemplo: “Sede também meus imitadores, irmãos, e tende cuidado, segundo o exemplo que tendes em nós, pelos que assim andam” (Filipenses 3:17).


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo Sendo o sábado útil para o cristão e fundamentado na lei de Deus, foi estritamente observado pelo apóstolo Paulo, doutor dos gentios. Por exemplo, em certa ocasião, estando entre os gentios, Paulo santificou o sábado através de um singelo culto religioso realizado à beira de um rio (Atos 16:13). Com essa atitude o apóstolo mostrou ao mundo que, como cristão, ele guardava o sábado bíblico, conforme determina o mandamento divino. Muito embora o apóstolo Paulo tenha guardado o “santo sábado do Senhor”, ele não tornou a repetir “ipsis litteris” o mandamento do sábado, conforme prescrito nas letras do decálogo. Mas a sua observância por Paulo e pelos demais cristãos, pressupõe a sua plena validade. Do mesmo modo, Paulo também não tornou a repetir “ipsis litteris” o primeiro mandamento, que proíbe o politeísmo, nem o segundo que proíbe a idolatria, ou o terceiro que proíbe o uso em vão do nome de Deus, mas nem por isso, nenhum cristão pressupõe a sua abolição. Então porque pressupor a abolição do sábado? O fato de um mandamento não ser repetido numa passagem bíblica específica não quer dizer que tal mandamento foi abolido. Caso contrário, exceto a referida passagem bíblica, teríamos que abolir toda o restante das Escrituras Sagradas. Que fique bem claro: o apóstolo Paulo jamais ensinou ou insinuou qualquer coisa sobre a santificação do domingo. Esse dia sim, mais do que nunca deveria ter sido ensinado com insistência pelo santo apóstolo, especialmente porque se tratava de uma nova doutrina que não se encontra registrada em nenhum lugar das Escrituras Sagradas, e que ainda contraria totalmente o dia de guarda que até então vinha sendo praticado de forma arraigada nas sinagogas pelos judeus convertidos ao cristianismo. Se Paulo deixou de ensinar tal doutrina é porque o domingo não é algo útil para o cristão e muito menos, conselho de Deus.

7.8 Considerações finais A Bíblia Sagrada ensina claramente que o salário do pecado é a morte (Romanos 6:23). Mas é a lei quem mostra ao homem o que é pecado (Romanos 3:20). Como o pecado ainda continua sendo praticado nos dias de hoje, concluímos que a lei de Deus continua vigorando e condenando o pecador à morte eterna. As Escrituras Sagradas afirmam que “onde não há lei também não há transgressão” e “o pecado não é imputado, não havendo lei” (Romanos 4:15; 5:13). Supondo que a lei foi abolido, então ninguém deveria ser considerado pecador. Mas, como o pecado continua sendo atribuído às pessoas, então concluímos que a santa lei de Deus continua vigorando. A própria Bíblia Sagrada ensina que Jesus e os santos apóstolos citaram, praticaram e ensinaram todos os preceitos do decálogo em mais de 150 passagens bíblicas do Novo Testamento, inclusive tornaram a repetir o mandamento do sábado em mais de 60 passagens bíblicas. Como se tudo isso não fosse suficiente para o cristão observar a lei de Deus, ainda está escrito que, no Novo Concerto, a lei de Deus – a qual os israelitas violavam – passaria a ser escrita no coração dos crentes (Hebreus 8:10). Como o sábado faz parte da lei de Deus, segue-se que ele também é escrito no coração do fiel cristão. Afinal de contas, o mandamento que ordena santificar o sétimo dia da semana faz parte dos Dez Mandamentos.


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo

Capítulo 8 Controvérsias Sobre o Sábado “A questão do sábado será o ponto controverso no grande final conflito em que o mundo inteiro há de ser envolvido”. Ellen Gould White (III TS, 19)

8.1 Introdução Todos aqueles que procuram alcançar a salvação por intermédio da observância da lei de Deus, na realidade estão totalmente fora da graça. A lei de Deus não foi dada a nenhum ser humano como método de justificação, mas sim, como método de santificação. A lei não possui qualquer caráter, virtude, poder ou mérito para perdoar ou salvar qualquer pecador. A finalidade exclusiva da lei dos Dez Mandamentos consiste em indicar ao homem o que é pecado e condenar o pecado. A respeito do assunto que está sendo ventilado, observe o que diz o apóstolo Paulo: “Separados estais de Cristo, vós os que vos justificais pela lei: da graça tendes caído” (Gálatas 5:4). “Por isso nenhuma carne será justificada diante dele pelas obras da lei, porque pela lei vem o conhecimento do pecado” (Romanos 3:20). Além da lei não possuir poder para perdoar ou salvar, também é preciso levar em consideração que, com a morte de Jesus, “o véu do templo se rasgou em dois, de alto a baixo” (Mateus 27:51), indicando a abolição do Antigo Concerto de expiação de pecados pelo sacrifício de animais. Com isso, cessou definitivamente “o sacrifício e a oferta de manjares” (Daniel 9:27), que era fundamento do Antigo Concerto. O profeta Daniel também afirmou que o Messias “firmará um concerto com muitos...” (Daniel 9:27). Destarte teve lugar o Novo Concerto, (Hebreus 8:8-10; Mateus 26:28) de expiação de pecados pelo sacrifício do “Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (João 1:29). “Os que exercem verdadeira fé em Cristo manifestam isso pela santidade de caráter, pela obediência à lei de Deus. Percebem que a verdade, assim como é em Jesus, atinge o Céu e abrange a eternidade. Compreendem que o caráter do cristão deve representar o caráter de Cristo e estar cheio de graça e de verdade”. (RH, 17 de setembro de 1895). Esclarecido o fato de que a lei não foi dada ao homem como método de salvação e que o Antigo Concerto de expiação de pecados pelo sangue de animais foi substituído pelo Novo Concerto de expiação de pecados pelo sangue de Cristo. Então, pergunta-se: qual é o propósito da lei? O propósito da lei é a santificação do homem. O sábado faz parte da lei de Deus. Ele também foi dado com o objetivo de santificar o crente. Quando Jesus esteve na Terra Ele defendeu a correta observância do sábado contra o fanatismo religioso da seita dos fariseus.


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo 8.2 O sábado e as espigas Teria Jesus consentido com a violação do sábado ao permitir que os discípulos colhessem espigas para comer, que segundo os fariseus não era lícito fazer no dia do sábado.

Mateus 12:1-2 – “Naquele tempo passou Jesus pelas searas, em um sábado; e os seus discípulos, tendo fome, começaram a colher espigas, e a comer. E os fariseus, vendo isto, disseram-lhe: Eis que os teus discípulos fazem o que não é lícito fazer num sábado”.

Resposta: Os fariseus, em seu fanatismo religioso e sem nenhum entendimento sobre o profundo significado sagrado do “sábado do Senhor”, recriminaram severamente a Jesus. A censura dos membros da seita dos fariseus estava baseada no fato dos discípulos de Jesus, ao passarem por umas searas num dia de sábado, estando com fome, colherem algumas espigas, e soltando os grãos com as mãos as comiam (Lucas 6:1). Para os fanáticos fariseus a atitude dos discípulos de Jesus era totalmente inaceitável. Para essa seita o ato de colher algumas espigas era considerado como sendo a mesma coisa que fazer o trabalho secular de colheita, e o ato dos discípulos em esfarelar algumas espigas com as mãos era tido como a mesma coisa que realizar o trabalho secular de moagem do grão. Para os fariseus, a realização dessas atividades no sábado era inadmissível. “Por tal forma haviam os judeus pervertido a lei, que a tornavam um jugo de servidão. Suas exigências destituídas de significado eram um provérbio entre as outras nações. Especialmente havia o sábado sido cercado de toda espécie de restrições destituídas de senso. Não lhes era um deleite o santo dia do Senhor, digno de honra. Os escribas e fariseus lhe tinham tornado a observância intolerável fardo” (DTN, 204). A maneira farisaica de guardar os mandamentos de Deus não tem fundamento na Bíblia Sagrada. As regras minuciosas que eles haviam estabelecido para guardar o sábado não passavam de invenção de homens. Sob a perspectiva da seita dos fariseus, a atividade dos discípulos em colher algumas espigas para comer não era algo lícito de ser realizado num dia de sábado. Essa seita extremista pouco se importava com o real estado de necessidade famélico existente entre os discípulos. Em certa ocasião Jesus foi levado a fazer a seguinte pergunta aos fariseus: “Uma coisa vos hei de perguntar: É lícito nos sábados fazer bem ou fazer mal? Salvar a vida ou matar?” (Lucas 6:9). A verdade é que os fariseus desconheciam o fato de que é “lícito fazer bem nos sábados” (Mateus 12:12) e que o sábado é um dia “deleitoso, e santo dia do Senhor digno de honra” (Isaías 58:13). Podemos observar que as controvérsias dos fariseus com Jesus nunca giravam em torno da identidade do dia sagrado de repouso. Mas sempre se referiam ao modo como o sábado deveria ser observado. Em todos os confrontos com os judeus, a atitude de Jesus foi a de descartar as tradições humanas que os fariseus haviam impingido sobre o sábado. Jesus jamais insinuou que o sábado seria abolido e nunca mencionou nada sobre a guarda de qualquer outro dia da semana.

8.3 Davi e os pães da proposição


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo Teria Jesus consentido com a violação do sábado comparando a sua guarda ao caso de Davi que comeu os pães da proposição reservados exclusivamente aos sacerdotes?

Mateus 12:3-4 – “Ele porém, lhes disse: Não tendes lido o que fez Davi, quando teve fome, ele e os que com ele estavam? Como entrou na casa de Deus, e comeu os pães da proposição, que não lhe era lícito comer, nem aos que com ele estavam, mas só aos sacerdotes?”

Resposta: Em resposta à acusação dos fariseus de que os discípulos estavam praticando uma ilicitude no sábado, ao colherem algumas espigas para comer, Jesus mostrou que não viu na atitude dos Seus discípulos nada de ilícito. Isto é evidente. Os discípulos encontravam-se em “estado de necessidade”, pois tinham fome. É claro que eles não estavam realizando nenhum trabalho secular de comércio ao pegar diretamente da plantação algumas espigas para saciar sua própria fome. Jesus, justificando o estado de necessidade famélico existente entre os discípulos, argumentou contra os fariseus que Davi, estando com fome, comeu os pães da proposição, os quais não lhe era lícito comer. Mas, por que Davi comeu os pães da proposição? Comeu porque se encontrava em estado de necessidade famélico (I Samuel 21:1-5). Do mesmo modo, era lícito aos discípulos de Jesus, no sábado colher e comer as espigas necessárias para saciar a sua fome, tanto quanto era lícito Davi comer os pães da proposição. Tanto Davi como os discípulos encontravam-se em idênticas situações de estado de necessidade famélico. Desta forma, Jesus aprovou a observância do sábado, demonstrando que o sábado não é quebrado quando alguém, em estado de necessidade, é socorrido nesse dia. “Os mestres judeus haviam estabelecido muitas regras para o povo e exigiam deles a prática de muitas coisas que Deus não havia ordenado. Até mesmo as crianças tinham que aprender e obedecer tais regras. Jesus, porém, não procurou aprender o que os rabis ensinavam. Ele cuidava em não falar desrespeitosamente desses professores, mas estudava as Escrituras e obedecia às leis de Deus” (VJ, 32). Ao contestar os fariseus, Jesus mostrou que eles vinham guardando o sábado de maneira errada, já que haviam transformado o sábado num pesado fardo, tornando o homem escravo do sábado, quando na realidade “o sábado foi feito por causa do homem, e não o homem por causa do sábado” (Marcos 2:27). Caso Jesus houvesse de fato violado a santidade do sábado Ele não teria cumprido a lei e jamais poderia ser o Salvador da humanidade, especialmente porque ao transgredir a lei seria tido como um pecador, mas as Escrituras Sagradas ensinam que Ele “não cometeu pecado, nem na sua boca se achou engano” (I Pedro 2:22). É muito importante observar que, quando acusados pelos fariseus de violar o sábado, Jesus justifica a atitude dos discípulos como algo lícito de ser realizado no dia do sábado. Em nenhum momento o Senhor Jesus declarou ou insinuou qualquer possibilidade do sábado estar sendo violado pelo ato de se alimentar nesse dia, mesmo que seja no meio de uma plantação. Só mesmo sendo fariseu!


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo 8.4 O sábado e os sacerdotes no templo Poderia o sábado ser violado por qualquer pessoa, haja vista que os sacerdotes no templo violavam o sábado para realizar os holocaustos de animais exigidos pela lei, ficando sem culpa?

Mateus 12:5 – “Ou não tendes lido na lei que, aos sábados, os sacerdotes no templo violam o sábado, e ficam sem culpa?”

Resposta: Alguns dizem que violam o sábado e ficam sem culpa porque Jesus disse que os sacerdotes no templo também violavam o sábado e ficavam sem culpa (Mateus 12:5). Quem assim pensa está equivocado, uma vez que essa excludente de ilicitude foi explicitamente estabelecida por Deus no Livro da Lei para um grupo exclusivo de pessoas. É fato consumado que os sacerdotes não realizavam qualquer “trabalho secular” aos sábados. Suas atividades aos sábados se restringiam ao ritual religioso desempenhado no Templo Sagrado. Eram atividades sagradas, determinadas pelo Senhor, para serem realizadas exclusivamente no dia do sábado. O Livro da Lei registra cuidadosamente quais eram as atividades que os sacerdotes deveriam realizar no Santuário todos os sábados (Números 28:9-10; Levítico 24:5-8; I Crônicas 9:32 etc.). A regra autorizando o trabalho sacerdotal aos sábados não era aplicada a qualquer pessoa, mas tinha validade apenas para os sacerdotes levitas. Mesmo assim somente para aqueles sacerdotes que estivessem trabalhando no Templo no dia do sábado. Suas atividades sagradas no Santuário excluíam qualquer ilicitude do sábado, especialmente porque haviam sido ordenadas pelo próprio Senhor. Jesus disse que os sacerdotes ficavam sem culpa porque cumprir preceitos sagrados ordenados por Deus, mesmo que seja no dia do sábado, não constitui em nenhuma transgressão. A transgressão consistiria em não realizar tais atividades, que são perfeitamente lícitas, posto que foram ordenadas pelo Senhor Jeová para serem realizadas especificamente aos sábados. O sábado é um mandamento moral, e ele não é quebrado quando o objetivo é fazer bem ao próximo (Mateus 12:12) ou quando a atividade realizada nesse dia é ordenada por Deus. É por essa razão que, em suas atividades religiosas, os sacerdotes no templo ficavam sem culpa, porque os seus serviços no sábado eram necessários e lícitos, e não um simples trabalho mundano. Portanto, que fique bem claro, era perfeitamente lícito no sábado praticar várias atividades cerimoniais no Templo, as quais tinham sido ordenadas pelo próprio Senhor. Entre tais atividades destacavam-se a prática dos sacrifícios de animais, a substituição dos pães da proposição, a pregação da Palavra de Deus, a leitura das Escrituras Sagradas (Atos 15:21) e tantas outras atividades realizadas no sábado (Levítico 24:8).

8.5 É lícito fazer bem nos sábados


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo Teria Jesus ensinado a violação do sábado quando curou um homem que possuía uma das mãos mirradas?

Mateus 12:10-12 – “E, estava ali um homem que tinha uma das mãos mirrada; e eles, para o acusarem, o interrogaram, dizendo: É lícito curar nos sábados? E ele lhes disse: Qual dentre vós será o homem que tendo uma ovelha, se num sábado ela cair numa cova, não lançará mão dela, e a levantará? Pois quanto mais vale um homem do que uma ovelha? É, por consequência, lícito fazer bem nos sábados”.

Resposta: Note que nesses versículos nada é discutido sobre a identidade do dia sagrado de repouso. Tanto Jesus como os fariseus estavam convictos de que o sétimo dia da semana é o santo dia do sábado. Note que nada dito sobre qualquer mudança do dia de descanso. Também que fique bem claro ao leitor que Jesus jamais condenou a guarda do sábado e muito menos insinuou a sua abolição. O que os fariseus discutiram com Jesus foi sobre o modo como o sábado deveria ser observado: “É lícito curar nos sábados?” Em resposta a essa pergunta, Jesus apresentou o argumento de que no sábado os fariseus se dariam ao trabalho de tirar uma ovelha que, porventura, houvesse caído num buraco. Então acrescentou que um homem tem maior valor do que uma ovelha. Concluindo o Seu raciocínio e respondendo à pergunta dos fariseus, Jesus pronunciou a célebre frase: “É, por consequência, lícito fazer bem nos sábados” (Mateus 12:12). Para demonstrar que Suas palavras tinham autoridade, Jesus curou a mão mirrada daquele homem. Então os fariseus, contrariados pela tremenda força daquelas verdades pronunciadas por Jesus, “formaram conselho contra ele, para o matarem” (Mateus 12:14). O sábado foi feito para ser um dia “deleitoso, e santo dia do Senhor digno de honra” (Isaías 58:13). Ocorre que os judeus da época de Jesus haviam pervertido a observância do sábado num pesado fardo, que nem mesmo eles podiam suportar. Ao observarem o sábado ao pé da letra, sem nenhum entendimento, eles se tornaram cegos espirituais e perderam de vista a noção do que é ou não é lícito realizar no dia do sábado. Na visão farisaica era lícito salvar qualquer animal que porventura houvesse caído numa cova, mas não era lícito salvar a vida de uma pessoa. Todavia Jesus se opôs a esse ensino equivocado. O Salvador ensinou claramente que no dia do sábado é lícito fazer o bem ao próximo em estado de necessidade. Fazer bem ao próximo não constitui em transgressão do “santo sábado do Senhor”. “É lícito, ou seja, está de acordo com a lei. Cristo jamais reprovou os judeus por guardarem a lei de Deus ou por honrarem o sábado” (VJ, 70). A identidade do dia de sábado nunca foi questionada por Jesus e muito menos pelos fariseus. O que eles discutiram foi sobre a “maneira” de como o sábado deveria ser observado. Para os judeus não era lícito curar no sábado, mas para Jesus era perfeitamente lícito fazer qualquer espécie de bem no dia do sábado a todos que se encontrassem em estado de necessidade.

8.6 O Senhor do sábado


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo Teria Jesus abolido o sábado quando disse que Ele “é Senhor até do sábado”?

Mateus 12:8 – “Porque o Filho do homem até do sábado é Senhor”.

Resposta: Como criador de todas as coisas (João 1:3; Colossenses 1:16-17), Jesus afirmou categoricamente que Ele “é Senhor até do sábado” (Lucas 6:5). Afirmamos que o sábado é o “dia do Senhor”, atribuindo à expressão a plenitude de sentido que Cristo lhe conferiu: “o Filho do homem até do sábado é Senhor”. Desse modo o sábado torna-se o dia sagrado do cristão, haja vista que Cristo é o Senhor do sábado. Jesus também guardou esse santo dia (Marcos 6:2; Lucas 4:16). Como Senhor do sábado, o Filho de Deus é a única pessoa competente e com autoridade absoluta para estabelecer o que é lícito ou ilícito realizar no dia do sábado. O sábado deveria ser para todos os fiéis filhos de Deus um dia “deleitoso, e santo dia do Senhor digno de honra” (Isaías 58:13). Entretanto, os fariseus haviam distorcido o verdadeiro sentido e objetivo do sábado, razão pela qual Jesus argumentou que Ele era o Senhor do sábado (Marcos 2:28). Como Senhor do sábado, Jesus estabeleceu a regra geral de que é “lícito fazer bem nos sábados” (Mateus 12:12). Foi por esse motivo que Jesus disse aos fariseus: “mas, se vós soubésseis o que significa: Misericórdia quero, e não sacrifício, não condenaríeis os inocentes” (Mateus 12:7). Portanto, somente Jesus tem autoridade absoluta para dizer aos homens o modo como o sábado deve ser guardado. Ele nunca – nem mesmo de longe – ensinou ou insinuou qualquer coisa sobre a mudança do dia de repouso. O que o Senhor fez foi condenar severamente a maneira errada e equivocada como o sábado vinha sendo guardado pela seita religiosa dos fariseus. Como Criador do sábado e Senhor do sábado, Jesus mostrou aos cristãos a maneira correta de como o sétimo dia da semana deve ser observado. Ele deixou bem claro, que a observância do sábado não impede o cristão de praticar o bem ao próximo.

8.7 Considerações finais Muitas vezes os fariseus entraram em severa polemica com Jesus por causa do sábado. Com relação a essa questão existem alguns pontos fundamentais a serem considerados: 1º) Tanto Jesus como os fariseus jamais discutiram sobre qual dia da semana deveria ser observado. Todos estavam de pleno acordo de que o dia de descanso é o sábado, o sétimo dia da semana; 2º) Jesus Cristo jamais mencionou qualquer coisa quanto a observância do primeiro dia da semana. Nunca disse que tal dia deveria ser observado como dia sagrado. 3º) O que Jesus discordava veementemente dos fariseus era a maneira como o sábado deveria ser observado.


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo Para os fariseus o sábado deveria ser guardado de forma legalista e minuciosa. Eles guardavam o sábado ao pé da letra, sem nenhum entendimento sobre o seu verdadeiro significado. Mas, para Jesus, o sábado deveria ser guardado como um dia “deleitoso, e santo dia do Senhor digno de honra” (Isaías 58:13). Jesus guardava o sábado assistindo aos cultos religiosos (Lucas 4:16), pregando o evangelho (Mateus 4:23) e fazendo bem ao próximo em estado de necessidade (Mateus 12:12). Um verdadeiro exemplo para ser seguido por todos os fiéis cristãos.


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo

Capítulo 9 Jesus e o Sábado “Fui instruída a dizer: Reuni das Escrituras as provas de que Deus santificou o sétimo dia, e leiam-se essas provas perante a congregação”. Ellen Gould White (OE, 148)

9.1 Introdução As Escrituras Sagradas ensinam claramente que o “Antigo Concerto” não era um pacto feito exclusivamente com os israelitas e ninguém mais, sobretudo porque o Antigo Concerto abrangia até mesmo os gentios que desejassem servir ao Senhor (Deuteronômio 29:10-12; 31:12; Josué 8:35; Isaías 56:6-7). De igual modo o “Novo Concerto” não é um pacto feito exclusivamente com os gentios, especialmente quando se considera o fato inegável de que Deus fez o pacto do Novo Concerto com os judeus (Hebreus 8:8-10). Todavia, do mesmo modo como fez com o Antigo Concerto, o Senhor também estendeu o Novo Concerto a todos os gentios que aceitassem o Evangelho, haja vista que tanto o Antigo como o Novo Concerto não eram pactos feitos exclusivamente com os judeus e ninguém mais. Sob a égide do Antigo Concerto, as seitas dos fariseus e dos saduceus, haviam deturpado a Palavra de Deus de tal modo, que chegaram a valer-se dos ensinos do Livro da Lei como método legalista de justificação ou salvação pelas obras. Eles seguiam tão estritamente a lei no pé da letra, que perderam de vista o seu espírito. Estando cegos, chegaram ao cúmulo de criar meticulosamente regras extrabíblicas para justificar a observância dos mandamentos de Deus. Com o passar do tempo tais regras – produto da mente humana – viraram tradições, que eram observadas de modo tão rigoroso que acabavam por desvirtuar o verdadeiro objetivo dos mandamentos de Deus. Os fariseus eram tão fanáticos quanto intolerantes. Como seita religiosa dominante, os fariseus forçavam todos a seguirem as suas crenças legalistas de salvação pelas obras da lei. Por essa razão, no presente capitulo, serão consideradas algumas das querelas levantadas pelos membros dessa seita religiosa contra Jesus Cristo. 9.2 O paralítico e a cama Teria Jesus consentido com a quebra do sábado ao ordenar que o paralítico carregasse a sua cama?

João 5:8-9 – “Levanta-te, toma tua cama, e anda. Logo aquele homem ficou são; e tomou a sua cama, e partiu. E aquele dia era sábado”.


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo Resposta: Examinando todo o contexto do versículo em questão, constata-se facilmente que Jesus era perseguido por realizar curas aos sábados. A atitude de Jesus não era de modo algum tolerada pelas seitas dos fariseus ou dos saduceus, porque os membros dessas seitas entendiam que curar era a mesma coisa que realizar o trabalho secular de medicina. Todavia, curar no sábado era algo permitido pela Lei, pois Jesus disse que é “lícito fazer bem nos sábados” (Mateus 12:12). Sabemos que Jesus não veio para contrariar a Lei, mas veio para cumpri-la (Mateus 5:17). Portanto, Jesus não estava quebrando o santo sábado e muito menos ensinando alguém a quebrar o sábado ao ordenar que o enfermo se levantasse e carregasse a sua cama. “De acordo com o quarto mandamento, o sábado foi dedicado ao repouso e ao culto religioso. Toda atividade secular devia ser suspensa, mas as obras de misericórdia e beneficência estavam em harmonia com o propósito do Senhor. Elas não deviam ser limitadas a tempo ou lugar. Aliviar os aflitos, confortar os tristes, é um trabalho de amor que faz honra ao dia de Deus” (BS, 77). Os judeus haviam censurado o homem que tinha sido curado por Jesus dizendo: “É sábado, não te é lícito levar a cama” (João 5:10). Eles diziam tal coisa por duas razões básicas: 1ª) na antiga teocracia israelita a pena aplicada por profanar o sábado era a morte por apedrejamento (Êxodo 31:14-15; 35:2); 2º) na concepção fanática dos fariseus, o simples ato de alguém levar sua cama no sábado, era interpretado por eles como sendo a mesma coisa que realizar o trabalho secular de mudança. Porém, a cama a que se referiam era apenas uma espécie de tapete que se enrolava e carregava debaixo dos braços. É por essa razão que encontramos o Senhor Jesus rompendo com a maneira fanática dos judeus guardarem o sábado e estabelecendo os princípios diretores para a correta observância desse santo dia. A verdade é que o sábado não é profanado por alguém carregar uma simples cama.

9.3 O sábado e a cura Teria Jesus violado o sábado quando curou um paralítico postado à beira do tanque de Betesda e ordenou que ele carregasse a sua cama?

João 5:8-11 – “Jesus disse-lhe: Levanta-te, toma tua cama, e anda. Logo aquele homem ficou são; e tomou a sua cama, e partiu. E aquele dia era sábado. Então os judeus disseram àquele que tinha sido curado: É sábado, não te é lícito levar a cama. Ele respondeu-lhes: Aquele que me curou, ele próprio disse: Toma a tua cama, e anda”.

Resposta: “O Santo dia de repouso de Deus foi feito para o homem, e os atos de misericórdia se acham em perfeita harmonia com seu desígnio. Deus não deseja que Suas criaturas sofram uma hora de dor que possa ser aliviada no sábado, ou noutro dia qualquer” (DTN, 207). Após curar um paralítico no sábado, Jesus ordenou-lhe levantar, tomar a sua cama e andar. Pelas tradições da seita dos fariseus, o ato de curar alguém no sábado ou carregar uma cama nesse dia, eram atividades ilícitas.


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo Mas Jesus considerou a realização de tais atividades no sábado como algo perfeitamente lícito, pelos motivos a seguir elencados: 1º) o Livro da Lei não proíbe a cura no sábado, ninguém escolhe ficar doente e muito menos escolhe o dia da doença; 2º) o que a Lei proíbe é o trabalho secular no sábado; 3º) Jesus disse que Ele veio para cumprir a Lei e os Profetas, portanto Ele não veio para transgredir qualquer mandamento, nem mesmo o sábado; 4º) Jesus ensinou que no sábado é lícito fazer o bem ao próximo em estado de necessidade; 5º) o sábado deve ser um dia “deleitoso, e santo dia do Senhor digno de honra” (Isaías 58:13). Portanto, quando Jesus curava no sábado, Ele estava exercendo uma atividade perfeitamente lícita e honrosa, em perfeita harmonia com a Lei; 6º) a cama mencionada era uma espécie de tapete, que enrolado se carregava debaixo dos braços. Portanto, não se tratava de trabalho secular. Diante do exposto fica claro que a identidade do dia de repouso não estava sendo questionada por ninguém. As discussões entre Jesus e os fariseus giravam unicamente em torno do que poderia ou não ser realizado no dia do sábado, o que era lícito ou ilícito fazer no dia do sábado. Ou seja, o que estava sendo questionado era a “maneira” como o sábado deveria ser observado. Foi por isso que Jesus, contrariando os fariseus, mostrou que era lícito curar no sábado, pois não constitui em nenhuma transgressão do sábado fazer bem ao próximo em estado de necessidade.

9.4 O Pai trabalha até agora Teria Jesus autorizado o trabalho no sábado, haja vista que Ele afirmou que “Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também”?

João 5:16-18 – “E por esta causa os judeus perseguiram a Jesus, e procuravam matálo; porque fazia estas coisas no sábado. E Jesus lhes respondeu: Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também. Por isso pois os judeus ainda mais procuravam matá-lo, porque não só quebrantava o sábado, mas também dizia que Deus era seu próprio Pai, fazendo-se igual a Deus”.

Resposta: Jesus disse aos judeus que o “pai trabalha até agora”. Ele fez tal afirmação com fundamento no princípio de que é lícito fazer bem aos sábados (Mateus 12:12). Sabemos que Pai trabalha até agora, pelo menos por dois motivos fundamentais: Primeiro, ao contrário dos homens, Deus não se “cansa nem se fatiga” (Isaías 40:28). Segundo, porque existe um estado de necessitado que somente o Pai pode suprir. Como mantenedor do Universo o Pai trabalha em benefício de todas as Suas criaturas (Neemias 9:6; Salmos 65:9-10). Conforme os ensinos de Jesus, o sábado não é transgredido quando se procura fazer um bem imediato ao próximo que se encontra em estado de necessidade. “As solicitações para com Deus são ainda maiores no sábado do que nos outros dias. Seu povo deixa então a ocupação ordinária, e passa mais tempo em meditação e culto. Pedem-Lhe mais favores no sábado, que noutros dias. Exigem-Lhe a atenção de modo especial. Anelam Suas mais preciosas bênçãos. Deus não espera que o sábado passe para lhes conceder esses pedidos” (DTN, 207). Nos versículos bíblicos em análise, os judeus queriam matar a Jesus por duas razões que lhes pareciam gravíssima: A primeira era porque – na concepção desses lideres religiosos – Jesus “quebrantava o sábado”. De fato, Jesus não guardava o sábado


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo do mesmo modo como os fariseus guardavam, com as suas tradições seculares. Para Jesus o sábado é um dia “deleitoso” e um dia para “fazer bem” e não um dia de escravidão, motivo pelo qual, o Senhor fazia questão de curar no sábado. A segunda razão pela qual os judeus queriam matar a Jesus estava baseada no fato de que Ele “dizia que Deus era seu próprio Pai, fazendo-se igual a Deus”, o que na visão dos judeus era uma blasfêmia. Nunca é demais salientar o fato de que a identidade do dia do sábado nunca foi questionada nas discussões travadas pelos judeus contra Jesus. O que os judeus questionavam era tão-somente o modo como Jesus observava o sábado. A atitude de Jesus em querer fazer bem aos sábados contrastava radicalmente com a maneira legalista dos judeus guardarem o sábado, que era feito no pé da letra da lei, sem nenhuma compreensão do seu verdadeiro sentido moral e espiritual.

9.5 O sábado e a circuncisão Seria o sábado tão insignificante a ponto de estar subordinado ao cerimonial da circuncisão?

João 7:22-23 – “Pelo motivo de que Moisés vos deu a circuncisão (não que fosse de Moisés, mas dos pais), no sábado circuncidais um homem. Se o homem recebe a circuncisão no sábado, para que a lei de Moisés não seja quebrantada, indignais-vos contra mim, porque no sábado curei de todo um homem?”

Resposta: O que é esplendido na mensagem de Jesus é que Ele deixa bem claro que os judeus, para não invalidarem o Livro da Lei, realizavam a circuncisão, mesmo que fosse no dia do sábado. Note que Jesus não os condenou e nem disse que eles estavam errados ou quebrando o santo sábado por realizarem a circuncisão nesse dia. Nem os judeus assim pensavam, porque eles sabiam que era perfeitamente licito praticar preceitos religiosos no dia do sábado. Deus havia estabelecido no Livro da Lei que todo recém-nascido do sexo masculino, deveria ser circuncidado exatamente no oitavo dia do seu nascimento (Gênesis 17:10; Levítico 12:3). A circuncisão jamais deveria ser realizada em qualquer outro dia: “O filho de oito dias, pois, será circuncidado, todo o macho nas vossas gerações...” (Gênesis 17:12). Exatamente no oitavo dia após o nascimento do bebê, o risco de hemorragia é quase nulo. “Em média, um bebê aos oito dias de idade tem mais protrombina disponível do que em qualquer outro dia de sua vida. Assim, o dia mais seguro para se efetuar a circuncisão é o oitavo, após o nascimento” (S.I. MacMillen, Nenhuma Enfermidade, p. 87). Todavia, se o oitavo dia do nascimento da criança ocorresse num dia de sábado, a circuncisão deveria ser realizada mesmo nesse dia. Deixá-lo de fazê-lo constituía em grave transgressão à ordenança do Senhor. Portanto, para que a lei da circuncisão não fosse invalidada, era perfeitamente lícito que a circuncisão ocorresse até mesmo no dia de sábado. Tanto a circuncisão como a observância do sábado eram determinações divinas. O que os judeus contemporâneos de Cristo não conseguiam entender é que Jesus ao curar um homem no


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo sábado estavam cumprindo a mesma justiça dos fariseus em circuncidar um homem no sábado. O sábado é um dia especial separado para propósitos sagrados. Não existe nenhum impedimento registrado no Livro da Lei proibindo a realização da circuncisão aos sábados. Quando os sacerdotes realizavam a circuncisão no sábado, eles não estavam realizando nenhum trabalho secular, mas estavam cumprindo um preceito cerimonial sagrado. Eles estavam realizando algo lícito, tanto quanto Jesus em realizar curas no sábado. Ambas as coisas eram da vontade de Deus. Não obstante, alguns adversários do sábado supõem gratuitamente que o “santo sábado do Senhor” estava subordinado ao cerimonial da circuncisão. Nada mais longe da verdade! Na realidade não existe nenhuma subordinação. O sábado é um dia que deve ser santificado por todos os filhos de Deus, e praticar os mandamentos de Deus nesse dia não subordina e nem quebra a santidade do sábado; muito pelo contrário, honra o santo sábado. Cumprir preceitos morais, cerimoniais ou espirituais ordenados nas Escrituras Sagradas, mesmo que seja no dia do sábado, não constitui em transgressão, já que são mandamentos do Senhor. Portanto, praticar a circuncisão, mesmo que seja no dia do sábado é algo perfeitamente lícito. Ainda mais quando se considera que Deus não estabeleceu nenhum impedimento para sua realização no dia do sábado. O que constitui ilicitude é realizar o “trabalho secular” no sábado (Êxodo 20:8-11), o que não é o caso da circuncisão. Em seu argumento aos judeus, Jesus comparou a licitude de Sua atividade em curar no sábado com a licitude da atividade do sacerdote em circuncidar um homem no sábado. Ambas são atividades perfeitamente lícitas, que não encontram impedimento nas Escrituras Sagradas. Nada mais simples e lógico!

9.6 Seria Jesus um pecador Seria verdadeiro o argumento dos fariseus alegando que Jesus não guardava o sábado?

João 9:16 – “Então alguns dos fariseus diziam: Este homem não é de Deus; pois não guarda o sábado. Diziam outros: Como pode um homem pecador fazer tais sinais? E havia dissensão entre eles”.

Resposta: Além de curar os enfermos durante a semana, Jesus também fazia questão de curá-los aos sábados. Ele assim procedia porque tinha a plena convicção de que é “lícito fazer bem nos sábados” (Mateus 12:12). Da simples leitura do versículo em questão, podemos constatar que a identidade do dia de repouso nunca foi questionada por Jesus e muito menos pelos fariseus. Todos estavam de pleno acordo, de que o sábado é o dia sagrado de descanso. O que foi veementemente questionado pelos fariseus era o modo como Jesus guardava o sábado. O fato era que Jesus não observava as tradições humanas (Marcos 7:9 e 13) que os fariseus haviam imposto sobre os Dez Mandamentos, inclusive sobre o “sábado do Senhor”.


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo O sábado em vez de ser um dia “deleitoso, e santo dia do Senhor digno de honra” (Isaías 58:13), havia sido transformado num dia de escravidão imposta pela tradição humana. Foi por essa razão que Jesus Cristo não guardava o sábado do “modo” como os fariseus desejavam que fosse guardado. As obras miraculosas de curas que Jesus realizava no sábado e o modo como Jesus guardava o sábado causaram grande impacto e indignação entre os membros da seita dos fariseus, a ponto de ficarem divididos em dois partidos: um considerava Jesus um embusteiro e outro O via como genuíno. As controvérsias levantadas pelos fariseus têm profundas consequências para a nossa compreensão sobre o sábado. O partido que considerava que Jesus não era de Deus, tinha como premissa básica que Cristo não guardava o sábado. Em contrapartida, o segundo partido achava difícil de acreditar que um pecador transgressor do sábado pudesse fazer milagres e prodígios. O fato é que o primeiro partido estava errado por dois motivos fundamentais, a saber: Primeiro, Jesus realmente era de Deus. Segundo, Jesus guardava perfeitamente o sábado, porém, não com as tradições humanas impostas pela seita dos fariseus. Caso venhamos a admitir que Jesus não guardava o sábado, então teremos que admitir que Jesus não era de Deus, sobretudo porque esta era a condição “sine qua non” imposta pelo primeiro partido dos fariseus. Caso esses fariseus pudessem reconhecer que Jesus era de Deus, então teriam de admitir que Jesus guardava perfeitamente o sábado, e que eles estavam errados no modo como até então vinham guardando esse santo dia. O segundo partido do grupo dos fariseus via em Jesus um homem genuinamente divino. Este partido estava correto em suas cogitações porque Jesus não era um pecador. Portanto, ao realizar curas no dia do sábado, o Senhor não estava transgredindo esse dia, razão pela qual podia “fazer tais sinais”.

9.7 Considerações finais Os judeus e os fariseus estavam corretos em guardar os Dez Mandamentos, inclusive guardar o dia do sábado. Mas estavam equivocados quando guardavam os mandamentos de Deus como “método” de justificação ou de salvação. Esse tema é tão importante, que nunca é demais repetir o que as Escrituras Sagradas dizem a respeito do assunto: “Separados estais de Cristo, vós os que vos justificais pela lei: da graça tendes caído” (Gálatas 5:4). “Por isso nenhuma carne será justificada diante dele pelas obras da lei, porque pela lei vem o conhecimento do pecado” (Romanos 3:20). “Que diremos pois? É a lei pecado? De modo nenhum: mas eu não conheci o pecado senão pela lei; porque eu não conheceria a concupiscência, se a lei não dissesse: Não cobiçarás” (Romanos 7:7). “Todo aquele que pratica o pecado também transgride a lei, porque o pecado é a transgressão da lei” (I João 3:4). “O salário do pecado é a morte” (Romanos 6:23). Portanto, podemos concluir que a lei de Deus não foi dada ao homem como método de salvação, mas sim como norma de santificação. A lei jamais possuiu a função de justificar ou salvar o ser humano da morte, mas sua função consiste em mostrar ao homem o que é pecado e condenar o pecador – que é um transgressor da lei – à morte eterna.


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo

Capítulo 10 Os Cristãos e o Sábado “Quem quer que obedeça ao quarto mandamento, verificará que está traçada uma linha divisória entre ele e o mundo. O sábado é uma prova, não uma exigência humana, mas a prova de Deus. É aquilo que distinguirá os que servem a Deus dos que não O servem; e em torno deste ponto sobrevirá o derradeiro e grande conflito da luta entre a verdade e o erro”. Ellen Gould White (TS, 180)

10.1 Introdução O sábado, como mandamento bíblico registrado no decálogo (dez palavras), apresenta um caráter obrigatório para os fiéis filhos de Deus de todas as épocas, sobretudo porque o apóstolo dos gentios afirmou que “tudo que dantes foi escrito para nosso ensino foi escrito” (Romanos 15:4), e “toda a Escritura divinamente inspirada é proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra” (II Timóteo 3:16-17). Conforme ensino bíblico, o dia do “santo sábado do Senhor” é um dia de adoração (Levítico 23:2; Lucas 4:16; Atos 16:13). Sua observância é uma forma de reconhecer a Deus como o soberano criador de todas as coisas, pois a Bíblia Sagrada ensina claramente que o sábado foi estabelecido como um memorial da criação do mundo (Êxodo 20:8 e 11). Portanto, para o povo de Deus é um dia de gratidão, regozijo, louvor e adoração ao criador de todas as coisas, que é o próprio Senhor Jesus Cristo: “Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez”. “Porque nele foram criadas todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades: tudo foi criado por ele e para ele. E ele é antes de todas as coisas, e todas as coisas subsistem por ele”. “Havendo Deus antigamente falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, a nós falou-nos nestes últimos dias pelo Filho. A quem constituiu herdeiro de tudo, por quem fez também o mundo”. (João 1:3; Colossenses 1:16-17; Hebreus 1:1-2).

10.2 Jesus guardou o dia do sábado Vários versículos bíblicos registrados no Novo Testamento mostram que Jesus Cristo, em obediência aos mandamentos do decálogo, santificava o dia do sábado. Ele cultuava nesse dia, ensinava a Palavra de Deus e, contrariando os fariseus, mostrava aos judeus que é lícito fazer bem aos sábados. Observe o que dizem alguns desses versículos:


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo Marcos 1:21 – “Entraram em Capernaum, e, logo no sábado, indo ele à sinagoga, ali ensinava”. Marcos 6:2 – “E, chegando o sábado, começou a ensinar na sinagoga; e muitos, ouvindo-o, se admiravam, dizendo: Donde lhe vêm estas coisas? e que sabedoria é esta que lhe foi dada? e como se fazem tais maravilhas por suas mãos?” Lucas 4:16 – “E, chegando a Nazaré, onde fora criado, entrou num dia de sábado, segundo o seu costume, na sinagoga, e levantou-se para ler”. Lucas 4:31 – “E desceu a Capernaum, cidade da Galiléia, e os ensinava nos sábados”. Lucas 6:6 – “E aconteceu também noutro sábado que entrou na sinagoga, e estava ensinando; e havia ali um homem que tinha a mão direita mirrada”. Lucas 13:10 – “E ensinava no sábado, numa das sinagogas”. Decididamente, Jesus guardou o santo sábado. Não só guardou o sábado bíblico como também observou todos os demais mandamentos do decálogo e ensinou os seus discípulos sobre a obrigação do homem em guardá-los com esmero (Lucas 18:20; Mateus 5:21-22; Mateus 5:27-28; Mateus 19:9). A verdade é que Jesus, longe de considerar a abolição da lei, acabou por ampliar o sentido espiritual e moral dos Dez Mandamentos. “No Sermão da Montanha, Cristo apresentou a Seus discípulos os princípios de vasto alcance da lei de Deus. Ele ensinou a Seus ouvintes que a lei era transgredida pelos pensamentos, antes que o mau desejo realmente fosse posto em prática. Temos a obrigação de controlar os nossos pensamentos e de sujeitá-los à lei de Deus” (RH, 12 de junho de 1888). Caso a lei de Deus tivesse sido abolida com a morte de Cristo, então por que Jesus perdeu tempo ensinando aos Seus seguidores a obrigação de se guardar uma lei caduca? Teria Jesus sido tão incoerente, a ponto de ampliar a aplicação e o sentido de uma lei, para ser praticada por Seus seguidores, quando na realidade tal lei estava na iminência de ser revogada? É claro que Jesus não estava sendo contraditório, simplesmente porque a lei não seria abolida! Jesus foi batizado por imersão, pregou o amor a Deus e ao próximo, anunciou o evangelho, instituiu e celebrou a santa ceia, lavou os pés dos discípulos etc. Em tudo isso, Jesus ordenou que a “Sua Igreja” praticasse o mesmo. O Senhor Jesus também observou as ordenanças da Antiga Aliança, como a circuncisão, a páscoa, os dias de festas e outros cerimoniais, porque Ele estava cumprindo a “Lei e os Profetas”, mas nunca ordenou que a “Sua Igreja” fizesse o mesmo. Quando Jesus morreu, Ele inaugurou o Novo Concerto para remissão de pecados com base no Seu sangue (Mateus 26:28) e revogou o Antigo Concerto de remissão de pecados com base no sangue de animais (Daniel 9:27; Mateus 27:51; Lucas 23:45; II Coríntios 3:14; Hebreus 9:18-21).


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo 10.3 Fuga de Jerusalém

Mateus 24:20 – “E orai para que a vossa fuga não aconteça no inverno nem no sábado”.

Em Seu sermão profético, Jesus aconselhou os cristãos a orarem para que a fuga da destruição da cidade de Jerusalém não ocorresse no inverno ou no dia do sábado. Quando o Senhor Jesus deu tal orientação à igreja, Ele estava profetizando a destruição de Jerusalém pelo exército romano para depois de uma geração (Mateus 24:34). Fato este que ocorreu no ano 70 da era Cristã. Quando Jesus recomendou que a igreja de Jerusalém orasse para que a sua fuga não acontecesse “no inverno nem no sábado” Ele tinha em mente o sofrimento que os cristãos passariam, caso tal fuga ocorresse no inverno ou no sábado. A fuga no dia do sábado seria difícil para os cristãos por vários motivos. Primeiro, porque eles encontrariam grande dificuldade para adquirir os bens e os meios necessários à sua fuga de Jerusalém. Segundo, a santidade do dia do sábado seria violada pelo alvoroço da fuga, e muitos prefeririam morrer a quebrar o decoro do santo sábado. Terceiro, os cristãos se reuniam aos sábados para adorar no Templo Sagrado, então na iminência de um ataque inimigo, as portas de Jerusalém seriam fechadas e os cristãos ficariam presos. Quarto, o fato de estarem maciçamente reunidos em Jerusalém para cultuarem no sábado, resultaria no massacre de grande número de cristãos, pois Jesus havia profetizado que Jerusalém seria totalmente devastada e não sobraria pedra sobre pedra do Templo Sagrado (Mateus 24:2; Marcos 13:2; Lucas 21:6). “Terríveis foram as calamidades que caíram sobre Jerusalém quando o cerco foi reassumido por Tito. A cidade foi assaltada na ocasião da Páscoa, quando milhões de judeus estavam reunidos dentro de seus muros. Suas provisões de víveres, que a serem cuidadosamente preservadas teriam suprido os habitantes durante anos, tinham sido previamente destruídas pela rivalidade e vingança das facções contendoras, e agora experimentaram todos os horrores da morte à fome”. (GC, 31). Quando o Senhor orientou aos Seus discípulos a orarem para que a sua fuga da destruição de Jerusalém não ocorresse no dia do sábado ou no inverno, Ele estava admitindo tacitamente que os cristãos estariam guardando o sábado e adorando em Jerusalém, mesmo após ter decorrido quarenta anos de Sua morte e ressurreição. Segundo o Senhor, guardar o sábado numa situação de ataque inimigo e fuga seria extremamente penoso, tanto quanto seria dificultoso fugir no inverno.

10.4 As discípulas guardaram o sábado

Lucas 23:54-56; 24:1 – “E era o dia da preparação, e amanhecia o sábado. E as mulheres, que tinham vindo com ele da Galiléia, seguiram também e viram o sepulcro, e como foi posto o seu corpo. E, voltando elas, prepararam especiarias e unguentos, e no sábado repousaram, conforme o mandamento. E no primeiro dia da semana, muito de madrugada, foram elas ao sepulcro, levando as especiarias que tinham preparado”. __________________________________________________________________


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo Era o dia da preparação e o Sol declinava na linha do horizonte. Naqueles tempos, o “dia da preparação” era a designação bíblica usual para o sexto dia da semana – dia anterior ao sábado – que nos dias de hoje é conhecido pelo nome de sexta-feira. Era no dia da preparação que os crentes faziam todos os “preparativos” para receber o “santo sábado do Senhor”. Esse preparo consistia em colocar o trabalho secular e todas as atividades corriqueiras em ordem para que no dia do santo sábado não se realizasse nenhum trabalho secular que pudesse profanar a santidade do dia, o qual deve ser dedicado exclusivamente às atividades religiosas. As santas mulheres que tinham acompanhando o Senhor desde a Galiléia, presenciaram a crucifixão e a retirada do corpo de Jesus da cruz na tarde daquela sextafeira. A seguir elas acompanharam o féretro e “viram o sepulcro, e como foi posto o seu corpo”. Conforme o costume daquela época, as mulheres prepararam “especiarias e unguentos” para perfumar o corpo de Jesus. Porém não puderam retornar ao sepulcro para ungir o corpo do Senhor porque o sábado estava começando com o pôr-do-sol daquela sexta-feira. Então, aquelas santas cristãs, “repousaram, conforme o mandamento”. O mandamento observado por aquelas santas mulheres é aquele que está registrado no decálogo: “Lembra-te do dia do sábado, para o santificar... Porque em seis dias fez o Senhor os céus e a terra, o mar e tudo que neles há, e ao sétimo dia descansou: portanto abençoou o Senhor o dia do sábado, e o santificou” (Êxodo 20:8 e 11). Terminando o dia do sábado, as santas mulheres se levantaram na madrugada do primeiro dia da semana e “foram elas ao sepulcro, levando as especiarias que tinham preparado”. Aquelas leais seguidoras de Cristo jamais foram ensinadas que o sábado seria abolido com a morte do Senhor. Em vista disso, elas guardaram o sábado conforme determina o mandamento da santa lei de Deus. Na consciência dessas fiéis cristãs havia a plena convicção de que os mandamentos da lei de Deus continuariam vigorando, mesmo após a morte de Cristo, inclusive com a observância do dia do sábado. Pela simples leitura do texto bíblico constata-se facilmente que essas fiéis seguidoras de Jesus consideravam o primeiro dia da semana – dia posterior ao sábado – como um dia ordinário qualquer de trabalho secular, sem nenhum significado religioso ou sagrado, tanto é verdade que elas foram realizar no primeiro dia da semana (Lucas 24:1) aquela atividade que deixaram de fazer no santo dia do sábado.

10.5 Paulo guardava o sábado com os judeus

Atos 13:14-15 – “E eles, saindo de Perge, chegaram a Antioquia, da Pisídia, e, entrando na sinagoga, num dia de sábado, assentaram-se. E, depois da lição da lei e dos profetas, lhes mandaram dizer os principais da sinagoga: Varões irmãos, se tendes alguma palavra de consolação para o povo, falai”.

Paulo e Barnabé tinham viajado para Antioquia e, no dia do sábado, eles se congregaram com os seus conterrâneos judeus para louvar e adorar a Deus na sinagoga.


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo Ao final do culto religioso, por iniciativa exclusiva dos líderes da sinagoga, Paulo foi convidado a falar “alguma palavra de consolação para o povo” (Atos 13:15). Então, ele aproveitou a oportunidade oferecida para pregar o evangelho. Como doutor dos gentios (I Timóteo 2:7: II Timóteo 1:11), o apóstolo Paulo andava guardando e santificando o dia do sábado por preceito e exemplo. O apóstolo assim procedia porque, além de pregar a palavra de Deus, ele também praticava os seus preceitos sagrados. O fato de Paulo e de todos os cristãos (Lucas 24:53) assistirem aos cultos religiosos no dia do sábado junto ao Templo Sagrado em Jerusalém ou nas sinagogas, prova que a Igreja cristã – tanto quanto os judeus – guardavam o sétimo dia da semana como um dia especial de descanso e adoração. Nada mais natural! Pois a fonte comum de doutrina dessas duas religiões eram as Escrituras Sagradas, as quais ensinam explicitamente que o sétimo dia da semana é o santo sábado de descanso (Êxodo 20:811).

10.6 Paulo ensinava os gentios no sábado

Atos 13:42 e 44 – “E, saídos os judeus da sinagoga, os gentios rogaram que no sábado seguinte lhes fossem ditas as mesmas coisas. E no sábado seguinte ajuntou-se quase toda a cidade a ouvir a palavra de Deus”.

Depois de ter pregado o evangelho na sinagoga, os prosélitos gentios de Antioquia “rogaram que no sábado seguinte” Paulo lhes pregasse a mesma mensagem, a qual acabara de ser anunciada naquele santo sábado. Decorrida a semana, as Escrituras Sagradas registram que, “no sábado seguinte” quase toda a cidade gentílica de Antioquia havia se congregado para ouvir as mensagens da “palavra de Deus” anunciadas pelo apóstolo Paulo. Note que Paulo pregava a “palavra de Deus”, a qual ensina claramente que o dia sagrado de repouso é o sábado. Se naquele tempo o “primeiro dia da semana” fosse considerado pelos cristãos como sendo o dia do Senhor, ou mesmo um dia sagrado, então o apóstolo Paulo perdeu uma excelente oportunidade para ensinar aos “gentios” de Antioquia a se congregarem no domingo. A verdade é que Paulo, como doutor dos gentios, afirmou que “nada, que útil seja, deixei de vos anunciar” ... “nunca deixei de vos anunciar todo o conselho de Deus” (Atos 20:20 e 27). Ocorre que o santo apóstolo jamais ensinou qualquer coisa a respeito da doutrina do domingo. Portanto, o domingo não é “nada, que útil seja” e nem mesmo é “conselho de Deus”, razão pela qual Paulo jamais ensinou coisa alguma a respeito desse assunto, o qual encontra-se totalmente alienado das Escrituras Sagradas.

10.7 Paulo disputava nos sábados

Atos 18:4 e 11 – “E todos os sábados disputava na sinagoga, e convencia a judeus e gregos. E ficou ali um ano e seis meses, ensinando entre eles a palavra de Deus”.


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo Tanto quanto os judeus, o apóstolo Paulo santificava o dia do sábado, cultuando nas sinagogas, junto com os seus compatriotas judeus. Nessas ocasiões Paulo aproveitava a oportunidade, que lhe era oferecida pelos lideres locais, para pregar o evangelho aos ouvintes gentios e judeus da sinagoga. Por essa razão, “como tinha por costume, foi ter com eles; e por três sábados disputou com eles sobre as Escrituras” (Atos 17:2). Em outra ocasião Paulo ficou na cidade de Corinto durante um ano e seis meses, ensinando “todos os sábados” a “palavra de Deus”, tanto para judeus como para gentios (Atos 18:4 e 11). Isso significa que durante 78 sábados Paulo pregou sobre as Escrituras Sagradas, a qual contém o mandamento sobre a observância do “santo sábado do Senhor”, mas em nenhum momento o santo apóstolo ensinou qualquer coisa a respeito do domingo. Mesmo depois de ter evangelizado e convertidos os membros das sinagogas ao evangelho, Paulo continuou cultuando aos sábado “e ficou ali um ano e seis meses, ensinando entre eles a palavra de Deus” (Atos 18:11). Muitas vezes, acontecia que todos os membros judeus e gentios de muitas sinagogas convertiam-se a Cristo. Contudo, todos eles continuavam cultuando aos sábados na própria sinagoga. Foi exatamente essa situação que foi reconhecida pelo Concílio de Jerusalém: “Porque Moisés, desde os tempos antigos, tem em cada cidade quem o pregue, e cada sábado é lido nas sinagogas” (Atos 15:21). Para os primeiros cristãos, o cristianismo não representava uma ruptura com o judaísmo, mas era o legitimo resultado do cumprimento das profecias registradas na Lei e nos Profetas. Conforme os versículos mencionados, Paulo pregava as Escrituras Sagradas. Porém, elas não ensinam ninguém a santificar qualquer outro dia da semana que não seja o “santo sábado”. O domingo jamais foi ensinado como doutrina escriturística. A guarda do domingo jamais seria aceito pelos cristãos bereanos, haja vista que eles se pautavam exclusivamente pelas Escrituras Sagradas: “ora estes foram mais nobres do que os que estavam em Tessalônica, porque de bom grado receberam a palavra, examinando cada dia nas Escrituras se estas coisas eram assim” (Atos 17:11).

10.8 Paulo guardou o sábado com os gentios

Atos 16:13 – “E no dia de sábado saímos fora das portas, para a beira do rio, onde julgávamos ter lugar para oração; e, assentando-nos, falamos às mulheres que ali se ajuntaram”.

A Bíblia Sagrada mostra que o apóstolo Paulo, fundamentado exclusivamente na Palavra de Deus, guardava o “santo sábado do Senhor” como um dia sagrado de culto religioso e de descanso. Como fiel observador do sábado, Paulo costumava cultuar nas sinagogas junto com os seus conterrâneos judeus e, sempre que podia, aproveitava a oportunidade para evangelizar os gentios e judeus que se encontravam presentes no culto divino (Atos 18:4). Porém, na cidade de Filipos, que era uma colônia de gentios, localizada na Macedônia, não havia judeus; também não havia cristãos, sinagogas ou igrejas. Mas, mesmo assim, o Novo Testamento mostra que o santo apóstolo continuava guardando e cultuando no dia do sábado, até mesmo entre os gentios pagãos (Atos 16:13).


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo Este fato bíblico prova que, em obediência à lei de Deus, o apóstolo Paulo sempre guardou o dia do sábado como um dia sagrado de culto religioso e de repouso do trabalho secular. O falso argumento de que Paulo não guardava o sábado, mas que apenas aproveitava a oportunidade para evangelizar os judeus que se reuniam aos sábados nas sinagogas, fica totalmente desmoralizado, desacreditado e subjugado diante do fato irrefutável de que o santo apóstolo continuava guardando e cultuando no sábado, até mesmo entre os gentios pagãos. Isso fica ainda mais evidente quando se considera que Paulo pregava somente a “Palavra de Deus” e jamais ensinou qualquer coisa a respeito da santificação do domingo. Mas por que razão o apóstolo Paulo guardava o sábado bíblico entre os gentios e não o domingo? A resposta é muito simples: o apóstolo observava o sábado porque existe um claro mandamento na Palavra de Deus que ordena a santificação do sábado (Êxodo 20:8-11), porém não existe, em nenhum lugar das Escrituras Sagradas, qualquer passagem ordenando a observância do domingo.

10.9 Considerações finais Nos dias de hoje, a maioria da cristandade não guarda o sétimo dia da semana como dia de adoração e descanso. Tal fato ocorre porque os protestantes receberam o domingo como uma tradição herdada da Igreja Católica, a qual foi forjada durante a Idade Média, num período de grandes trevas morais, espirituais, culturais, heresias, apostasias e intolerância religiosa. “Grande luz foi concedida aos reformadores; muitos deles, porém, aceitaram os enganos do erro pela má interpretação das Escrituras. Estes erros foram transmitidos através dos séculos, mas embora sejam muito antigos, não têm a apoiá-los um ‘Assim diz o Senhor’. Pois o Senhor declarou: ‘Não alterarei o que saiu dos Meus lábios.’ Sal. 89:34. Em Sua grande misericórdia, o Senhor permitiu que nestes últimos dias brilhasse ainda maior luz. Enviou-nos Sua mensagem, revelando Sua lei e mostrando-nos o que é verdade” (FEC, 450). Apesar disso tudo, os antagonistas do sábado presumem, equivocadamente, que Paulo visitava a sinagoga aos sábados “somente” para evangelizar os judeus que se reuniam nesse dia para cultuar. Mas essa suposição é totalmente descabida por vários motivos, a saber: 1º) As Escrituras Sagradas jamais afirmaram que Paulo não guardava o dia do sábado; 2º) As Escrituras Sagradas jamais afirmaram que Paulo andava guardando o domingo como dia sagrado; 3º) A Bíblia Sagrada não diz que Paulo visitava a sinagoga exclusivamente para evangelizar os judeus; 4º) As Escrituras Sagradas provam que Paulo guardava o sábado entre os gentios pagãos, até mesmo em lugares onde não havia sinagogas ou judeus; 5º) Tanto os judeus como os cristãos cultuavam no sábado, sobretudo porque as Escrituras Sagradas eram a única fonte comum de doutrina, conduta e fé desses dois grupos religiosos; 6º) Tanto os judeus como os judaizantes nunca acusaram qualquer cristão gentio de estar transgredindo o sábado, muito embora tivesse muitas outras acusações; 7º) Paulo sempre discorria sobre as Escrituras Sagradas, a qual jamais ensinou qualquer coisa a respeito da doutrina do domingo. A diferença fundamental de crença existente entre os cristãos e os judeus consistia no seguinte: o grupo cristão acreditava que Jesus era o Messias anunciado na


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo Lei e nos Profetas, enquanto que o grupo judeu não acreditava em tal ensino. No seu início, a igreja cristã era maciçamente constituída por judeus. Aos olhos dos pagãos a diferença entre judaísmo e cristianismo era muito tênue. Tal fato fazia com que os governadores romanos constantemente confundissem cristãos com judeus. Quando os judeus eram perseguidos, os cristãos também sofriam as consequências. Com o crescimento da igreja, a quantidade de pagãos convertidos ao cristianismo tornou-se muito maior do que a de judeus convertidos. Com o passar do tempo, o centro da direção da Igreja passou das mãos dos cristãos judeus para os cristãos gentios. Então, para se verem livres do estigma judaico, os cristãos gentios começaram a fazer concessões doutrinárias, especialmente procurando justificar a observância de um novo dia para os seus cultos religiosos.


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo

Capítulo 11 Jesus e a Lei “Jesus guardou o sábado e ensinou Seus discípulos a guardá-lo. Ele sabia como o dia de repouso devia ser observado, pois Ele mesmo o santificara”. Ellen Gould White (VJ, 67)

11.1 Introdução A função fundamental do decálogo, também conhecido como lei de Deus, consiste em mostrar ao homem o que é pecado. Observe: “pela lei vem o conhecimento do pecado”...“eu não conheci o pecado senão pela lei”. “Todo aquele que pratica o pecado também transgride a lei, porque o pecado é a transgressão da lei” (Romanos 3:20; 7:7; I João 3:4). A lei de Deus também possui a função de condenar o pecado. Note o que diz as Escrituras: “o pecado, sendo consumado, gera a morte”...“porque o salário do pecado é a morte”... “o aguilhão da morte é o pecado, e a força do pecado é a lei” (Tiago 1:15; Romanos 6:23; I Coríntios 15:56). Supondo o absurdo que a lei de Deus – decálogo – foi abolida, então a que lei Paulo e outros escritores bíblicos estariam se referindo? Caso a lei de Deus tenha sido abolida, então não existe mais pecado no mundo e ninguém mais pode ser considerado pecador porque “onde não há lei também não há transgressão” e “o pecado não é imputado, não havendo lei” (Romanos 4:15; 5:13). É evidente que os Dez Mandamentos são totalmente imprestáveis para realizar qualquer espécie de expiação de pecado, especialmente considerando o fato inegável que “sem derramamento de sangue não há remissão” (Hebreus 9:22). Destarte, o decálogo é um concerto distinto do concerto de expiação de pecados pelo holocausto de animais realizados no santuário terrestre, sob o ministério dos sacerdotes levitas. Diante do exposto fica claro que a lei de Deus continua vigorando, simplesmente porque os homens continuam sendo condenados como pecadores. O que foi abolido na cruz foi a lei cerimonial de expiação de pecados pelo sangue de animais, as quais apontavam para o “cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (João 1:29).

11.2 Jesus não revogou a lei

Mateus 5:17-18 – “Não cuideis que vim destruir a lei ou os profetas: não vim abrogar, mas cumprir. Porque em verdade vos digo que, até que o céu e a terra passem, nem um jota ou um til se omitirá da lei, sem que tudo seja cumprido”.


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo Na época de Cristo o Antigo Testamento era dividido didaticamente em três grandes partes: “Lei”, “Profetas” e “Salmos” (Lucas 24:44). A palavra “Lei” empregada por Jesus, na passagem bíblica registrada em Mateus 5:17-18, está se referindo especificamente aos primeiros cinco livros da Bíblia Sagrada, os quais são atribuídos a Moises. Modernamente, tais livros são conhecidos pelos nomes de “Tora” ou “Pentateuco”. Quando Jesus fez referência ao vocábulo “Profetas”, Ele estava se referindo à segunda grande divisão do Antigo Testamento: os escritos dos santos profetas. Portanto, a expressão em conjunto “Lei” e “Profetas” refere-se exclusivamente às Escrituras Sagradas conhecidas como Antigo Testamento. Esclarecido o conceito de “Lei” e “Profetas”, torna-se evidente que, no trecho bíblico de Mateus 5:17-18, Jesus está ensinando claramente que o Seu propósito não era fazer nada contra as Escrituras do Antigo Testamento. De fato, assim disse o Senhor: “não cuideis que vim destruir a lei ou os profetas”. Ele também afirmou que não veio “ab-rogar” – anular, abolir – qualquer coisa do Antigo Testamento, que naquele tempo era conhecido pela designação de Lei e Profetas. Conforme Jesus disse, enquanto o Céu e a Terra durarem, nada do que está registrado no Antigo Testamento (Lei e Profetas) será omitido sem ter o seu efetivo cumprimento.

11.3 Jesus veio para cumprir as profecias Jesus afirmou que veio para “cumprir” a Lei e os Profetas. Mas, o que Ele entendia pela palavra cumprir? Cumprir o que? Bem, vamos deixar que o próprio Senhor Jesus responda a essas indagações. Observe:

João 5:39 – “Examinais as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de mim testificam”. Lucas 22:37 – “Porquanto vos digo que importa que em mim se cumpra aquilo que está escrito: E com os malfeitores foi contado. Porque o que está escrito de mim terá cumprimento”. Lucas 24: 27 – “E, começando por Moisés, e por todos os profetas, explicava-lhes o que dele se achava em todas as Escrituras”. Lucas 24:44 – “E disse-lhes: São estas as palavras que vos disse estando ainda convosco: Que convinha que se cumprisse tudo o que de mim estava escrito na lei de Moisés, e nos profetas, e nos salmos”.

Destarte, verificamos pela própria Bíblia Sagrada que Jesus veio ao mundo para cumprir – concretizar, realizar, satisfazer – as exigências e especificações das profecias bíblicas que anunciavam a Sua vinda, e que foram registradas pelos santos homens de Deus na Lei e nos Profetas (Antigo Testamento). O que Jesus veio “cumprir” tem relação direta com as profecias bíblicas que anunciavam a Sua vinda a este mundo. O “cumprir” anunciado por Jesus tem o sentido de satisfazer as exigências e especificações das profecias bíblicas a Seu respeito. Por


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo conseguinte, o sentido axiológico do “cumprir” anunciado por Jesus não tem nenhuma relação direta com o decálogo ou com o sábado, muito embora Jesus os tenha praticado com perfeição. Portanto, não se deve confundir “cumprir” com “praticar”. Somente Jesus poderia cumprir as especificações das profecias que falavam a Seu respeito. Todavia, o decálogo ou o sábado pode ser praticado por qualquer crente fiel à Palavra de Deus. Tanto é verdade que o Novo Testamento torna a repetir os mandamentos da lei de Deus para ser observada por todos os cristãos. Portanto, não foram ab-rogados por Jesus, e muito menos pelos santos apóstolos. Enquanto durarem o Céu e a Terra, tudo o que está escrito na Lei e nos Profetas terá o seu cabal cumprimento. Ocorre que na Lei e nos Profetas existem muitas profecias que ainda não alcançaram o seu pleno cumprimento tais como: o grande dia do Senhor, a vinda de Deus, o juízo divino, novo céu e nova terra, a ressurreição dos mortos etc. Portanto, nem um jota ou um til poderá ser omitido do Livro da Lei e dos Profetas (Antigo Testamento) sem que tudo venha a ter o seu efetivo cumprimento.

11.4 O sábado e o sétimo dia da semana A palavra “sábado” tem a sua origem etimológica no vocábulo hebraico “shabath”. Esse vocábulo não aponta para nenhum dia específico da semana. Tal expressão quer meramente dizer “repouso”, “descanso” ou “cessação”. Igualmente, podemos afirmar que o vocábulo “domingo”, que tem a sua origem na palavra latina "Dominica dies", também não expressa nenhum dia especifico da semana. De fato, tal expressão quer simplesmente dizer em latim “dia do Senhor”. Também podemos notar que a expressão “dia do Senhor” não indica qualquer dia em particular da semana. Então podemos fazer a seguinte pergunta: qual é o dia da semana que corresponde “biblicamente” ao dia do repouso? A Palavra de Deus – regra máxima de conduta do cristão – responde claramente a essa pergunta, sem deixar margem para qualquer espécie de dúvida. Observe:

Êxodo 20:11 – “Porque em seis dias fez o Senhor os céus e a terra, o mar e tudo que neles há, e ao sétimo dia descansou: portanto abençoou o Senhor o dia do sábado, e o santificou”. Levítico 23:3 – “Seis dias obra se fará, mas ao sétimo dia será o sábado do descanso, santa convocação; nenhuma obra fareis; sábado do Senhor é em todas as vossas habitações”. Êxodo 31:15 – “Seis dias se fará obra, porém o sétimo dia é o sábado do descanso, santo ao Senhor; qualquer que no dia do sábado fizer obra, certamente morrerá”. Lucas 23:54-56; 24:1 – “E era o dia da preparação, e amanhecia o sábado. E as mulheres, que tinham vindo com ele da Galiléia, seguiram também e viram o sepulcro, e como foi posto o seu corpo. E, voltando elas, prepararam especiarias e unguentos, e no sábado repousaram, conforme o mandamento. E no primeiro dia da semana, muito de madrugada, foram elas ao sepulcro, levando as especiarias que tinham preparado”.


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo O sábado não é um dia qualquer entre sete dias semanais. Por fundamentação bíblica e etimológica, o sábado é considerado o sétimo dia da semana. Como último dia da semana, o sábado encerra o ciclo semanal. Por exemplo, Lucas mostra que o “dia da preparação” é o sexto dia da semana. É claro que após esse dia vem o “sábado” que é o sétimo e último dia da semana. Após o dia do sábado, o ciclo semanal recomeça com o “primeiro dia da semana” (Lucas 23:5456; 24:1). Portanto, o sábado é o dia que se segue ao dia da preparação (Marcos 15:42) e antecede ao primeiro dia da semana (Mateus 28:1). Destarte, as Escrituras Sagradas apresentam uma sucessão de três dias, estabelecendo uma clara relação de um para com os demais. Pode-se observar que – como nos dias de hoje – o dia do sábado está localizado entre o sexto dia da semana e o primeiro dia da semana. Também podemos observar que “em seis dias fez o Senhor os céus e a terra, o mar e tudo que neles há” (Êxodo 20:11). Depois daqueles seis dias da semana da criação, o senhor descansou no “sétimo dia”. A Bíblia Sagrada deixa bem claro, que o Senhor descansou no último dia da semana, o qual é identificado como sendo o sétimo dia. Portanto, diante dos versículos expostos, fica claro que o sábado é o sétimo dia da semana, e não um dia qualquer entre sete.

11.5 O sábado perdido no tempo É interessante observar que algumas pessoas alegam que o sábado se perdeu no tempo. Mas, teria algum fundamento tal afirmação? Bem, para responder a essa pergunta, devemos proceder do mesmo modo como os bereanos o fizeram. Eles “foram mais nobres do que os que estavam em Tessalônica, porque de bom grado receberam a palavra, examinando cada dia nas Escrituras se estas coisas eram assim” (Atos 17:11). Então, o que diz a Palavra de Deus? Bem, as Escrituras Sagradas provam que os fariseus, tanto quanto Jesus, conheciam exatamente o dia da semana em que ocorre o “santo sábado do Senhor”. Mesmo quando sofria severas acusações por parte da seita dos fariseus, sobre o modo como o sábado deveria ser guardado, Jesus jamais os retrucou, sob a alegação de que o sábado estava perdido no tempo. Hipoteticamente falando, caso o “santo sábado do Senhor” tenha se perdido no tempo depois da cruz, então – por uma questão de coerência – temos que admitir que o domingo também se perdeu no tempo. Mas, a grande verdade é que, aqueles que dizem que o sábado se perdeu no tempo, sabem localizar precisamente qual é o dia da semana que corresponde ao domingo. Ora, se podem identificar perfeitamente qual é o dia da semana que corresponde ao domingo, então – por uma questão de lógica – também podem identificar corretamente qual é o dia da semana que corresponde ao sábado, especialmente porque o sábado é o dia que antecede ao domingo. Desta forma, fica desmoralizado o argumento ardiloso de que o “santo sábado do Senhor” se perdeu no tempo, simplesmente porque o domingo não se perdeu no tempo. 11.6 O sábado e a expressão “para sempre”


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo O Antigo Testamento afirma que o sábado deveria ser celebrado “nas suas gerações por concerto perpétuo” e “entre mim e os filhos de Israel será um sinal para sempre” (Êxodo 31:16-17). O vocábulo “perpétuo”, “para sempre” ou até mesmo o termo “eterno” são próximos e traduzem a idéia de duração indefinida. Mas, todos eles estão sempre limitados por alguma condição “sine qua non”. Por exemplo, o “fogo eterno” está limitado à condição de haver algo para ser queimado. Todavia, uma vez queimado, os efeitos desse fogo são para sempre, perpétuos ou eternos. Conforme as Escrituras, o sábado deveria ser celebrado nas gerações do povo de Deus por concerto perpétuo. Observe que o termo perpétuo está limitado por suas gerações. Portanto, enquanto houver geração de fiéis filhos de Deus na face da terra, o sábado deverá ser celebrado por eles. Tanto os judeus quanto os gentios convertidos tinha a obrigação de observar o santo sábado (Isaías 56:6). Destarte, a guarda do sábado semanal nunca terminará enquanto houver pessoas fiéis à Palavra de Deus para observá-lo. Além disso, o sábado também será lembrado na Nova Terra (Isaías 66:22-23), como um marco indicador da semana de sete dias. A Bíblia Sagrada afirma que o sábado é um sinal entre Deus e os filhos de Israel para sempre. Ora, os filhos de Israel são os descendentes de Abraão. Mas o Novo Testamento mostra que aqueles que são de Cristo também são descendentes de Abraão (Gálatas 3:7; 3:29), portanto também são filhos de Israel, e constituem o Israel espiritual. Logo, constituem a geração que celebrarão o sábado por concerto perpétuo. 11.7 Os cerimoniais e a expressão “para sempre” É claro que algumas ordenanças registradas no Antigo Testamento também foram “para sempre”, como por exemplo, a Páscoa (Êxodo 12:24). Outras ordenanças foram “perpétuas”, como por exemplo, a queima do incenso (Êxodo 30:21), o sacerdócio Levítico (Êxodo 40:15), as ofertas de paz (Levítico 3:17), a parte dos sacerdotes nos sacrifícios (Levítico 6:18, 22; 7:34, 36), o sacrifício anual de animais pela expiação dos pecados (Levítico 16:29, 31,34) etc. Mas, como foi dito anteriormente, o termo “perpétuo” e “para sempre”, na Bíblia Sagrada, está sempre limitado a alguma condição “sine qua non”. Pela leitura dos versículos mencionados, verificamos que eles se referem aos rituais da lei sacerdotal levítica. Todavia, é de conhecimento geral que as leis desse sacerdócio foram totalmente abolidas na cruz (Daniel 9:27). Em seu lugar, Cristo firmou um Novo Concerto, o qual foi ratificado com o Seu próprio sangue. Portanto, o termo “para sempre” ou “perpétuos” quando se refere à lei cerimonial está limitado até o início do Novo Concerto. Diante do exposto fica claro para todos os cristãos que os sacrifícios de animais, queima de incenso ou a guarda da páscoa “não” tem que ser continuados até aos dias de hoje, porque se referem a leis cerimoniais que findaram na cruz. Porém a guarda do sábado tem que ser continuada até aos dias de hoje porque ela não foi abolida na cruz, pois se trata de uma lei moral, dada por Deus no sétimo dia da criação do mundo, quando ainda não havia pecado, lei cerimonial ou qualquer judeu sobre a face da terra.

11.8 Considerações finais


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo As evidências bíblicas demonstram claramente que os primeiros cristãos guardavam o dia do sábado. Além das evidências escriturística, também podemos provar, pelos fatos históricos, que os primeiros cristãos observavam o dia do sábado. A História Universal mostra que a observância do sábado começou a ser efetivamente mudada para o domingo por influência do Imperador Romano Constantino e pela nascente Igreja Católica do Império Romano. Muito embora as pesquisas em documentos históricos venham a corroborar o ensino bíblico sobre o sábado, eles são totalmente dispensáveis, pois a Bíblia Sagrada é a única autoridade suprema em questão de fé e doutrina. É ela quem decide a questão da guarda do dia do Senhor. Ela é mais do que suficiente para quem crê que a mensagem da Palavra de Deus deve ser interpretada unicamente pela própria Bíblia Sagrada. Ela prova, sem dúvida alguma, que o dia do Senhor é o sábado.


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo

Capítulo 12 O Primeiro Dia da Semana “Muitos há, mesmo entre os que se empenham neste movimento em favor da imposição do domingo, que se acham cegos aos resultados que seguirão a essa ação. Não vêem que golpeiam diretamente a liberdade religiosa. Muitos existem que jamais compreenderam as reivindicações do sábado bíblico e o falso fundamento sobre o qual repousa a instituição do domingo”. Ellen Gould White (EF, 126)

12.1 Introdução Nos dias de hoje, o “primeiro dia da semana” é conhecido, numa parte do mundo, pelo nome de “domingo” que, etimologicamente, significa “dia do Senhor”. Contudo, o vocábulo domingo não é mencionado em nenhum lugar das Escrituras Sagradas. Nem poderia ser, pois a palavra “domingo” é de origem latina e a Bíblia Sagrada foi escrita em hebraico, aramaico e grego. Portanto, tal vocábulo jamais pode fazer parte da Palavra de Deus. Além disso, as próprias Escrituras Sagradas definem explicitamente o “dia do Senhor” como sendo o “dia do Sábado” (Isaías 58:13). Qualquer outra interpretação é contrária aos ensinos da Palavra de Deus, portanto antibíblica. No Novo Testamento existem apenas oito referências mencionando explicitamente o primeiro dia da semana. Apenas oito singelas passagens bíblicas e nada mais! Observe cada uma delas, conforme se encontram registradas nas páginas da Bíblia Sagrada: 1ª) Mateus 28:1 – “E, no fim do sábado, quando já despontava o primeiro dia da semana, Maria Madalena, e a outra Maria foram ver o sepulcro”. 2ª) Marcos 16:2 – “E, no primeiro dia da semana, foram ao sepulcro, de manhã cedo, ao nascer do sol”. 3ª) Marcos 16:9 – “E Jesus, tendo ressuscitado na manhã do primeiro dia da semana, apareceu primeiramente a Maria Madalena, da qual tinha expulsado sete demônios”. 4ª) Lucas 24:1 – “E no primeiro dia da semana, muito de madrugada, foram elas ao sepulcro, levando as especiarias que tinham preparado”. 5ª) João 20:1 – “E no primeiro dia da semana Maria Madalena foi ao sepulcro de madrugada, sendo ainda escuro, e viu a pedra tirada do sepulcro”. 6ª) João 20:19 – “Chegada pois a tarde de aquele dia, o primeiro da semana, e cerradas as portas onde os discípulos, com medo dos judeus, se tinham ajuntado, chegou Jesus, e pôs-se no meio, e disse-lhes: Paz seja convosco”.


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo 7ª) Atos 20:7 – “E no primeiro dia da semana, ajuntando-se os discípulos para partir o pão, Paulo, que havia de partir no dia seguinte, falava com eles; e alargou a prática até à meia noite”. 8ª) I Coríntios 16:1-3 – “Ora, quanto à coleta que se faz para os santos, fazei vós também o mesmo que ordenei às igrejas da Gálata. No primeiro dia da semana cada um de vós ponha de parte o que puder ajuntar, conforme a sua prosperidade, para que se não façam as coletas quando eu chegar. E, quando tiver chegado, mandarei os que por cartas aprovardes, para levar a vossa dádiva a Jerusalém”. Note que os versículos retro mencionados não declararam que o primeiro dia da semana é o “domingo”. Nenhum deles insinua que o primeiro dia da semana é o “dia do Senhor”. Observe que não existe qualquer mandamento ou sugestão ordenando a santificação ou o descanso no primeiro dia da semana. A verdade é que nenhum versículo bíblico mostra qualquer cristão observando, guardando ou santificando o primeiro dia da semana. Tal afirmativa se torna relevante quando se considera o fato irrefutável de que não existe nas Escrituras Sagradas qualquer “mandamento divino” ordenando a observância do primeiro dia da semana. Caso o domingo fosse “biblicamente” o dia do Senhor, então os evangelistas e os epistológrafos bíblicos se esqueceram de mencionar tal fato. Portanto, tal dia espúrio não deve ser observado pelos cristãos, especialmente porque qualquer ensino que não esteja nas Escrituras Sagradas, não faz parte do universo do verdadeiro cristão. Os versículos de Atos 20:7 e I Coríntios 16:1-3 relatam eventos que ocorreram vários anos após a morte e a ressurreição de Jesus Cristo. Todavia, é digno de nota observar que nenhuma dessas passagens bíblicas demonstra qualquer reverência por parte dos primeiros cristãos pelo primeiro dia da semana. O que essas passagens bíblicas provam é que, mesmo decorridos vários anos após a morte de Jesus na cruz, o primeiro dia da semana ainda continuava sendo conhecido e designado pelos cristãos com o nome ordinário de “primeiro dia da semana”. Esse dia, não tinha recebido por parte daqueles primeiros santos qualquer nome, menção reverente ou título especial. Isto porque, para aqueles cristãos, o primeiro dia da semana, era apenas de um dia comum de trabalho secular.

12.2 A ressurreição de Jesus

Marcos 16:9 – “E Jesus, tendo ressuscitado na manhã do primeiro dia da semana, apareceu primeiramente a Maria Madalena, da qual tinha expulsado sete demônios”.

“Os protestantes hoje insistem em que a ressurreição de Cristo no domingo fê-lo o sábado cristão. Não existe, porém, evidência escriturística para isto. Nenhuma honra semelhante foi conferida ao dia por Cristo ou Seus apóstolos. A observância do domingo como instituição cristã teve origem no ‘mistério da injustiça’ (II Tessalonicenses 2:7) que, já no tempo de Paulo, começara a sua obra” (GC, 54). Conforme a inspirada informação do evangelista Marcos, Jesus havia ressuscitado na manhã do primeiro dia da semana, e apareceu primeiramente para Maria Madalena de quem havia anteriormente expulsado sete demônios.


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo O versículo em questão não ensina que os cristãos devem observar o primeiro dia da semana com fundamento na ressurreição de Jesus Cristo. Não esclarece que o primeiro dia da semana é o dia do Senhor. Tampouco ensina que o primeiro dia da semana tornou-se um dia sagrado de descanso e adoração. Diante do exposto, fica claro constatar que os primeiros cristãos jamais ensinaram que o primeiro dia da semana deveria ser observado em memória à ressurreição de Jesus. O raciocínio de que os cristãos devem guardar o primeiro dia da semana, sob o argumento de que Jesus ressuscitou nesse dia, é baseado na simples suposição daqueles que defendem a tese da observância do domingo. Pelas regras da ciência da Hermenêutica, o artifício de relacionar um evento com outro para extrair uma terceira conclusão é um método imprestável para realizar qualquer espécie de interpretação bíblica, quanto mais para estabelecer um dogma doutrinário! Tal modo obtuso de argumentar e interpretar abre margem para qualquer pessoa “justificar”, pelas Escrituras Sagradas, qualquer espécie de ensino, por mais absurdo que seja. Destarte, podemos dizer que os homens podem casar com quantas mulheres quiserem porque homens santos de Deus, como Abraão, Davi, Salomão e tantos outros, tiveram várias esposas. Do mesmo modo, podemos afirmar que devemos guardar a quinta-feira porque foi nesse dia que Jesus instituiu e celebrou a Santa Ceia. Igualmente podemos afirmar que devemos observar a sexta-feira porque foi nesse dia Jesus, após sair vitorioso das forças das trevas, entregou-se como um cordeiro, para tirar o pecado do mundo. Também podemos ensinar que devemos descansar no sábado porque foi nesse dia que Jesus descansou de Suas obras no sepulcro. De igual forma podemos dizer que devemos santificar o primeiro dia da semana porque foi nesse dia que Jesus ressuscitou. Observar o dia do domingo ou qualquer outro dia da semana sem que haja um claro mandamento do Senhor, constitui-se em observar doutrinas forjadas por homens. Conforme ensino de Jesus, a observância do domingo não possui nenhum valor, especialmente porque se trata de uma tradição criada pelo homem, totalmente contrária aos sagrados ensinos da Palavra de Deus: “em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos dos homens” (Mateus 15:9). É digno de nota observar que o evangelista Marcos foi o único escritor bíblico que relacionou explicitamente o primeiro dia da semana com a ressurreição de Jesus. Os demais evangelistas o fazem de maneira implícita. Nenhum deles apresenta qualquer destaque especial ao primeiro dia da semana. Nenhum dos evangelistas mostra qualquer espécie de reverência pelo primeiro dia da semana. Para os evangelistas, o dia – em si mesmo – não tinha nenhuma importância sagrada. Tal dia é mencionado pelos escritos bíblicos apenas incidentalmente. Em suma, esta passagem bíblica não manda ninguém repousar, cultuar ou santificar no primeiro dia da semana com fundamento na ressurreição de Jesus Cristo. O versículo bíblico em questão nem ao menos reconhece o primeiro dia da semana como sendo o dia do Senhor. Ele apenas descreve os eventos que se deram naquele dia.

12.3 As portas cerradas no primeiro dia da semana

João 20:19 – “Chegada pois a tarde de aquele dia, o primeiro dia da semana, e cerradas as portas onde os discípulos, com medo dos judeus, se tinham ajuntado, chegou Jesus, e pôs-se no meio, e disse-lhes: Paz seja convosco”.


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo O Evangelho de João foi escrito, aproximadamente, sessenta anos após a morte e ressurreição de Jesus Cristo. Mesmo nessa época avançada da história do cristianismo, o versículo em questão mostra que o primeiro dia da semana não era tido pelos cristãos da era apostólica como “dia do Senhor”. Podemos observar que a passagem bíblica em análise não registra nenhum mandamento divino ordenando qualquer pessoa a guardar, observar ou santificar o primeiro dia da semana. Não existe no versículo a menor indicação de que o primeiro dia da semana era um dia consagrado ao descanso ou ao culto religioso. Apesar disso, inadvertidamente, os adversários do sábado afirmam que os discípulos estavam reunidos num culto religioso homenageando a ressurreição de Jesus Cristo no primeiro da semana. Mas a verdade é que o versículo bíblico em questão não afirma tal coisa. O que o versículo ensina claramente é que na tarde do primeiro dia da semana – o mesmo dia em que Jesus havia ressuscitado – os discípulos estavam reunidos, mas com as portas trancadas porque estavam “com medo dos judeus”. Mas por que eles estavam “com medo dos judeus”? A resposta é muito simples! Eles temiam ter o mesmo destino que Jesus havia tido. Foi por essa razão que eles se trancaram no cenáculo, onde Jesus havia celebrado com eles a Sua última páscoa (Lucas 22:11-16). Além do mais, naquele “primeiro dia da semana”, os discípulos não estavam comemorando a ressurreição do Senhor. Simplesmente, porque eles nem mesmo acreditavam que Jesus havia ressuscitado (Marcos 16:14). A verdade é que naquela tarde do “primeiro dia da semana”, era a primeira vez que Jesus estava se apresentando aos discípulos, após a Sua ressurreição. Mesmo assim, eles encontraram dificuldade para crer que Jesus havia ressuscitado. Portanto, concluímos que estão totalmente destituídos de fundamento, todos aqueles que afirmam que os cristãos devem guardar o primeiro dia da semana em função da passagem em bíblica acima considerada. Mesmo porque nesse versículo não existe autoridade linguística ou exegética justificando a observância do primeiro dia da semana.

12.4 Os cristãos de Troas e o primeiro dia da semana

Atos 20:7 – “E no primeiro dia da semana, ajuntando-se os discípulos para partir o pão, Paulo, que havia de partir no dia seguinte, falava com eles; e alargou a prática até à meia noite”.

O livro intitulado “Os Atos dos Apóstolos” foi escrito aproximadamente trinta anos após a morte do Senhor Jesus Cristo, pelo médico cristão de origem grega, chamado Lucas. Todavia, é incontestável o fato de que, mesmo nessa época avançada da história da Igreja, o primeiro dia da semana ainda continuava sendo designado pelos primeiros cristãos pelo nome ordinário de “primeiro dia da semana”. O doutor Lucas não diz nada sobre um suposto caráter sagrado do domingo. Esse dia não havia recebido por parte de qualquer cristão nenhum nome especial ou qualquer título venerável.


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo Esse dia jamais foi reconhecido pela Bíblia Sagrada como sendo o “dia do Senhor”. Tampouco foi chamado nas Escrituras Sagradas pelo nome de “domingo”. Tal fato ocorre porque os apóstolos de Jesus jamais distinguiram o primeiro dia da semana como um dia sagrado, mas o reconheciam apenas como um simples dia ordinário de trabalho secular. Naqueles tempos a contagem da duração do dia se dava “duma tarde a outra tarde” (Levítico 23:32); ou seja, de pôr-do-sol a pôr-do-sol. Nas Escrituras Sagradas, Deus jamais definiu os dias de meia-noite a meia-noite, mas sim de pôr-do-sol a pôr-dosol. Inclusive este era o entendimento do doutor Lucas, que além de ter escrito o livro intitulado “Os Atos dos Apóstolos”, também escreveu o “Evangelho Segundo Lucas”. Ocorre que em seu Evangelho, Lucas demonstra claramente que o sábado tem início quando termina a tarde da sexta-feira (Lucas 23:54-245:1). Ou seja, quando o Sol se põe na linha do horizonte, findou o dia e um novo dia passa a ter início. Portanto, como a reunião relatada no livro dos Atos dos Apóstolos se prolongou até à meia noite do primeiro dia da semana, isto significa biblicamente dizer que ela foi realizada após o pôr-do-sol do sábado, que era parte do dia que hoje conhecemos como sendo o sábado à noite, mas que, naqueles tempos, segundo a contagem das Escrituras Sagradas, era tido como o primeiro dia da semana. Foi por essa razão que Lucas afirmou que a reunião de Troas ocorreu no primeiro dia da semana.

12.4.1 Os cristãos de Troas e o partir o pão

Atos 20:7 – “E no primeiro dia da semana, ajuntando-se os discípulos para partir o pão, Paulo, que havia de partir no dia seguinte, falava com eles; e alargou a prática até à meia noite”. __________________________________________________________________ Conforme o relato feito pelo doutor Lucas, o propósito do ajuntamento dos discípulos de Troas era “partir o pão”. Mas, qual era o significado da frase “partir o pão”? Em que sentido Lucas empregou tal expressão? O que Lucas compreendia pela expressão “partir o pão”? Bem, no trecho em análise, bem como em outras passagens bíblicas escritas pelo mesmo autor de “Os Atos dos Apóstolos”, pode-se constatar que a expressão “partir o pão” é uma clara referência ao ato de fazer uma refeição.

Atos 2:44-46 – “E todos os que criam estavam juntos, e tinham tudo em comum. E vendiam suas propriedades e fazendas, e repartiam com todos segundo cada um havia de mister. E, perseverando unânimes todos os dias no templo, e partindo o pão em casa, comiam juntos com alegria e singeleza de coração”.

Portanto, está claramente demonstrado que o “partir o pão” não se refere de maneira alguma à Santa Ceia do Senhor, mas trata-se, simplesmente, de alimentar-se para saciar a fome. Logo, conclui-se que a irmandade cristã de Troas havia se reunido no primeiro dia da semana – após o pôr-do-sol de sábado – para partilhar em comum uma singela refeição noturna.


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo Também se pode constatar em Atos 27:34-38 que a expressão “partir o pão” não se refere à Santa Ceia do Senhor, mas trata-se apenas do ato de alimentar-se para restaurar as energias físicas.

Atos 27:34-36 – “Portanto, exorto-vos a que comais alguma coisa, pois é para a vossa saúde; porque nem um cabelo cairá da cabeça de qualquer de vós. E, havendo dito isto, tomando o pão, deu graças a Deus na presença de todos; e, partindo-o, começou a comer. E, tendo já todos bom ânimo, puseram-se também a comer”.

Mais uma vez fica claro que a expressão lucasiana “partir o pão” nada mais era do que uma referência ao ato de se alimentar numa refeição corriqueira. Portanto, no primeiro dia da semana, logo após o pôr-do-sol de sábado, os discípulos de Troas ajuntaram-se para “partir o pão”, isto é para participarem de um jantar com toda a irmandade cristã reunida. Contrariando as Escrituras Sagradas e admitindo a absurda suposição de que tenha sido realizada uma Santa Ceia no primeiro dia da semana, ainda assim, ela não serve de critério adequado para provar que o primeiro dia da semana era um dia consagrado ao descanso e ao culto religioso pelos primeiros cristãos. Tal argumento está fundamentado no fato incontestável de que a Santa Ceia não possui o condão de conferir santidade a qualquer dia, simplesmente porque a Ceia do Senhor pode ser realizada em qualquer dia da semana. Mas, nem por isso, tal dia é considerado sagrado, ou dia de repouso ou de culto religioso. Na verdade, o próprio Salvador do Mundo institui e celebrou a Santa Ceia numa tarde de quinta-feira, mas nem por isso os cristãos descansam, cultuam ou santificam a quinta-feira. Em suma, a Bíblia Sagrada nunca estabeleceu um dia especial para a realização da Santa Ceia. Ela pode ser realizada em qualquer dia da semana. Portanto, o argumento de uma suposta Santa Ceia, realizada pelos discípulos de Troas, não serve como critério válido para demonstrar a obrigatoriedade da santificação do primeiro dia da semana pelos primeiros cristãos.

12.4.2 Os cristãos de Troas e o culto religioso

Atos 20:7 – “E no primeiro dia da semana, ajuntando-se os discípulos para partir o pão, Paulo, que havia de partir no dia seguinte, falava com eles; e alargou a prática até à meia noite”.

Que fique bem claro, mesmo que os cristãos estivessem reunidos para celebrar alguma espécie de culto religioso, ainda assim, isto não serve de critério válido para se provar que o primeiro dia da semana era o dia sagrado pelos cristãos para cultuar. Tal argumento advém do fato de que um culto religioso pode ser realizado em qualquer dia da semana, mas nem por isso tal dia é considerado sagrado. Existem muitas denominações religiosas que realizam cultos religiosos todos os dias da semana, outras


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo realizam cultos três vezes por semana, mas nem por isso tais dias são considerados como dias santos de repouso do trabalho secular. No primeiro dia da semana, após o pôr-do-sol de sábado, estando toda a irmandade de Troas reunida para partilhar uma refeição noturna, Paulo, que seguiria viagem no dia imediato, aproveitou a oportunidade para discursar com eles pela última vez, em despedida dos irmãos, e prolongou o seu discurso “até à alvorada; e assim partiu” (Atos 20:11). Lucas somente relatou o incidente de Troas por causa da viagem de Paulo para o dia seguinte e do milagre ocorrido naquela noite com a ressurreição do jovem Eutico, pois no mais, era comum os cristãos partilharem as suas ceias numa saudável comunhão fraternal (Atos 2:42-46). No caso dos discípulos de Troas, após o pôr-do-sol do sábado, já no primeiro dia da semana, eles reuniram-se para partilharem uma refeição em comum, e como era uma ocasião especial, devido a viagem do apóstolo Paulo, a reunião foi prolongada até altas horas da noite. É digno de nota constatar que não existe no versículo em questão nenhum mandamento ordenando qualquer cristão a observar o primeiro dia da semana. Aliás, tal dia nem mesmo é chamado de domingo ou denominado de “dia do Senhor”. A grande verdade é que a santificação de qualquer outro dia da semana – que não seja o sétimo – como o sábado, é totalmente desconhecida em toda as Escrituras Sagradas.

12.5 O caso da coleta para os santos

I Coríntios 16:1-3 – “Ora, quanto à coleta que se faz para os santos, fazei vós também o mesmo que ordenei às igrejas dos Gálatas. No primeiro dia da semana cada um de vós ponha de parte o que puder ajuntar, conforme a sua prosperidade, para que se não façam as coletas quando eu chegar. E, quando tiver chegado, mandarei os que por cartas aprovardes, para levar a vossa dádiva a Jerusalém”.

Os versículos considerados mostram que o apóstolo Paulo estava levantando fundos entre as igrejas dos Gálatas e de Corinto para os santos que estavam passando por grandes necessidades na cidade de Jerusalém (I Coríntios 16:3). A fome alastrava-se em Jerusalém, “e os discípulos determinaram mandar, cada um conforme o que pudesse, socorro aos irmãos que habitavam na Judéia” (Atos 11:29). Com o mesmo objetivo, o apóstolo Paulo também havia solicitado coletas em outras igrejas. Observe o que diz o santo apóstolo: “Porque pareceu bem à Macedônia e à Acaia fazerem uma coleta para os pobres dentre os santos que estão em Jerusalém” (Romanos 15:26). Devido ao estado de necessidade que os santos estavam passando em Jerusalém, o apóstolo Paulo ordenou que, no primeiro dia da semana, cada membro da igreja de Coríntios colocassem “de parte” as suas doações, conforme a prosperidade de cada um. Essas coletas tinham um fim específico. Não era uma coleta ordinária e regular que deveria ser levada à igreja semanalmente, mas sim, conforme a tradução da Bíblia Sagrada “Almeida Revista e Atualizada”, era uma coleta extraordinária que deveria ser colocada “de parte”, mas na “casa” do doador. Paulo nem mesmo queria que se fizesse quaisquer espécies de coletas quando ele chegasse de viagem. Observe o que ele diz textualmente: “para que se não façam as


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo coletas quando eu chegar”. Mas, quando ele chegasse de viajem, tudo o que foi coletado deveria ser imediatamente encaminhado para Jerusalém, acompanhadas por pessoas idôneas, especialmente indicadas para tal atividade (Atos 16:3). Portanto, não se tratava de uma reunião religiosa no domingo, muito menos consistia em levar as coletas para a igreja no primeiro dia da semana. Simplesmente tratava-se de uma coleta extraordinária de bens materiais que deveria ser feita nas casas dos próprios doadores, em benefício dos santos que moravam em Jerusalém (Atos 11:29). Essas coletas seriam reunidas e somente encaminhadas para Jerusalém quando o apóstolo Paulo chegasse de viagem (I Coríntios 16:2-3). Aliás, os versículos em questão nem falam de igreja, descanso, culto divino ou de reunião religiosa, e muito menos menciona que os cristãos deveriam santificar ou observar o primeiro dia da semana. Em suma, nessa passagem bíblica, não existe mandamento ou qualquer fundamento bíblico que justifique a observância do domingo como dia sagrado de culto religioso e de repouso. Além do mais, levar coletas para a igreja nunca serviu de critério válido para demonstrar que o primeiro dia da semana ou qualquer outro dia é especialmente dedicado ao repouso sagrado. Especialmente porque a grande maioria das igrejas cristãs realiza dois ou três cultos religiosos por semana, e em todos eles recolhem-se os dízimos e as ofertas dos doadores, mas nem por isso tais dias de culto religioso são considerados como sagrados ou dedicados ao descanso do trabalho secular.

12.6 Considerações finais Como cristãos, fundamentados na Palavra de Deus, nós adotamos o “grande princípio protestante de que ‘a Bíblia e a Bíblia só’ é a regra de fé e prática” (GC, 243). Portanto, as Escrituras Sagradas são para os fiéis cristãos a única regra de fé, norma de conduta e doutrina suficiente e infalível. É claro que não podemos empregar as Escrituras Sagradas para “tentar” encontrar alguma base ou justificativa com o fim de defendermos algumas idéias ou doutrinas particulares ou preconcebidas. O mundo está cheio de heréticos que assim procedem e fazem mal uso das Escrituras Sagradas. A bem da verdade é que a própria Bíblia Sagrada interpreta-se a si mesma. A regra fundamental é que “a Bíblia interpreta-se com a Bíblia” através da chamada “interpretação autêntica contextual”. Fora do universo das Escrituras Sagradas, o “primeiro dia da semana” é popularmente conhecido pelo nome de “domingo”. Este nome provém do latim "Dominica dies", que etimologicamente quer dizer “dia do Senhor”. Porém, o nome “domingo” não se encontra registrado em nenhum lugar do Novo Testamento. Nem mesmo poderia estar, simplesmente porque o Novo Testamento foi escrito em grego, porém, a palavra domingo é de origem latina. Portanto, a frase bíblica “dia do Senhor” jamais poderia ser traduzida em qualquer versão da Bíblia Sagrada pela designação de “domingo”. As variantes bíblicas que substituem a frase escriturística “dia do Senhor” pela expressão latina “domingo” são tendenciosas e indignas de crédito. Elas não são traduções da Palavra de Deus, mas não passam de interpretações criadas de acordo com a própria consciência e compreensão dos intérpretes. Com tal procedimento os tradutores mudam totalmente o verdadeiro sentido da Palavra de Deus, a qual passa a dizer coisas que jamais passou pela cabeça dos escritores bíblicos originais. “Há em muitas igrejas ceticismo e infidelidade na interpretação das Escrituras. Muitos, muitos mesmo, põem em dúvida a veracidade e verdade das Escrituras. Os


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo raciocínios humanos e as imaginações do coração do homem estão minando a inspiração da Palavra de Deus, e o que podia ser recebido como garantido, é circundado com uma nuvem de misticismo. Coisa alguma aparece em linhas claras e distintas, assentada no fundamento da rocha. Este é um dos sinais marcantes dos últimos dias”. (I ME, 15).


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo

Capítulo 13 A Bíblia e o Domingo “Deus, em Sua Palavra, estabeleceu regras para ordenar o Seu culto, e que os homens não estão na liberdade de acrescentar a essas regras ou delas tirar qualquer coisa”. Ellen Gould White (GC, 289)

13.1 Introdução Os antagonistas do sábado bíblico parecem que estudam e debatem sempre pelo mesmo e antiquado catecismo. Baseados em velhas e surradas suposições, os seus argumentos, refutados centenas de vezes, ainda continuam sendo os mesmos. Afirmam, sem nenhum respaldo nas Escrituras Sagradas, que o “domingo” é o “dia do Senhor”, que está mencionado da Bíblia Sagrada. No desespero incontido de defender a causa do domingo pagão em detrimento do sábado bíblico, alguns se aventuram a interpretar ardilosamente as mais claras mensagens das Escrituras Sagradas e, depois de perverterem o verdadeiro sentido da Palavra de Deus, apelam para os teólogos e para os pais da Igreja com o objetivo de obter apoio para suas descabidas e pretensiosas suposições em defesa do domingo. A verdade é que não existe nas Escrituras Sagradas nada indicando que o domingo deve ser considerado pelos cristãos como qualquer coisa além de um simples dia comum da semana, tanto é verdade que os primeiros cristãos designavam esse dia pelo singelo nome de “primeiro dia da semana”.

13.2 Santidade de todos os dias Para desprezar a santidade que pertence exclusivamente ao dia do sábado, alguns afirmam gratuitamente e sem nenhum fundamento nas Escrituras Sagradas que todos os dias da semana são iguais. Outros asseguram que todos os dias da semana são santos. Porém, esses “doutores” estão completamente equivocados, porque a Bíblia Sagrada revela claramente que Deus abençoou e santificou com exclusividade absoluta somente o sétimo dia da semana, o qual é identificado na Palavra de Deus como sendo o dia de sábado. A leitura das Escrituras Sagradas ainda revela que nenhum outro dia da semana – nem mesmo o domingo – foi abençoado ou santificado pelo Senhor. Quando o Senhor abençoou e santificou o sétimo dia da semana, Ele estava estabelecendo claramente que nem todos os dias da semana são iguais e que nem todos os dias da semana são santos. Quem afirma que todos os dias são iguais estão na mesma situação dos cristãos heréticos de Roma, que foram advertidos pelo apóstolo Paulo porque: “um faz diferença entre dia e dia, mas outro julga iguais todos os dias” (Romanos 14:5).


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo Na verdade quem afirma que todos os dias da semana são iguais ou santos, está mostrando um total desconhecimento das Escrituras Sagradas. Mostra total ignorância do profundo significado da palavra “santo”. Porque afirmar que todos os dias são santos, quanto Deus deixa bem claro que somente o sábado é santo? Por que dizer que todos os dias são iguais, quando Deus distinguiu somente o dia do sábado dos demais dias da semana? Todas essas afirmações gratuitas estão destituídas de fundamento bíblico, razão pela qual devem ser rechaçadas.

13.3 A observância de todos os dias Para desprezar a santidade do dia do sábado existe um grupo de pessoas totalmente desavisadas que afirmam guardar todos os dias da semana. A verdade é que esse grupo está totalmente iludido, para não dizer coisa pior. Deus nunca mandou ninguém guardar ou santificar todos os dias da semana. Isso é uma impossibilidade para o ser humano, que tem tantas outras atividades ordinárias para realizar no dia a dia. Além disso, foi o próprio Senhor nosso Deus quem estabeleceu o sétimo dia da semana como um dia especial para ser observado por todos os Seus filhos. Esse dia foi especialmente separado e distinguido de todos os demais pelos seguintes atos divinos: 1º) O sétimo dia da semana foi o único dia “abençoado” por Deus; 2º) O sétimo dia da semana foi o único dia “santificado” por Deus. Ou seja, o sétimo dia da semana foi separado dos demais dias para ser, entre todos os dias, o “santo dia do Senhor”. Quem afirma que guarda todos os dias da semana, na verdade está totalmente enganado e não guarda nenhum dia. Primeiro porque demonstra visivelmente desconhecer o significado bíblico da palavra “santo”. Segundo porque, para santificar qualquer dia da semana, é absolutamente necessário abandonar todas as espécies de atividades mundanas. Isto implica em abandonar o trabalho secular, deixar de comprar, vender, comercializar, estudar nas escolas seculares etc. Terceiro, Deus nunca requereu a guarda de todos os dias da semana. Muito pelo contrário, o Senhor ordenou claramente para que todos trabalhassem durante os seis dias da semana, mas deveriam descansar e santificar somente no dia do sábado (Êxodo 20:8-11).

13.4 O dia de Pentecostes

Atos 2:1-4 – “E, cumprindo-se o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar. E de repente veio do céu um som, como de um vento veemente e impetuoso, e encheu toda a casa em que estavam assentados. E foram vistas por eles línguas repartidas, como que de fogo, as quais pousaram sobre cada um deles. E todos foram cheios do Espírito Santo, e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem”.

O derramamento do Espírito Santo deu-se no dia de Pentecostes (Atos 2:1). Ocorre que o dia de Pentecostes, desde sua instituição na antiga época de Moisés, sempre foi programado para cair num dia semanal fixo.


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo Essa grandiosa festa cerimonial judaica sempre era realizada no dia que vem após o sábado: o quinquagésimo dia (Levítico 23:15-16). É claro que o dia que sucede o sábado é o primeiro dia da semana. Tratava-se de um sábado cerimonial festivo, que foi totalmente abolido com a morte de Cristo. O derramamento do Espírito Santo, em si mesmo, é algo extraordinário e maravilhoso. Ele aconteceu várias vezes no decorrer da história da Igreja. Porém, não existe nada de extraordinário o pentecostes ter ocorrido no primeiro dia da semana, porque esse dia, desde a mais remota antiguidade, sempre foi a data cerimonial festiva designada para ser o dia de comemoração da festa judaica de pentecostes. O derramamento do Espírito Santo no quinquagésimo dia de Levítico 23:15-16, simplesmente representa o cumprimento tipológico apontado pela antiguíssima festa de pentecostes realizada no primeiro dia da semana uma vez por ano. O próprio autor do livro intitulado “Os Atos dos Apóstolos” reconhece tal fato ao afirmar: “cumprindo-se o dia de Pentecostes...”. É claro que o primeiro dia da semana não adquiriu nenhuma importância relevante ou qualquer caráter sagrado pelo fato do Espírito Santo ter sido derramado nesse dia. Em si mesmo, o dia era tão insignificante para os cristãos que Lucas nem se deu ao trabalho de mencionar que se tratava do primeiro dia da semana. Mas, fez questão de mencionar o nome de uma festa cerimonial judaica, que foi abolida com a cruz. A verdade é que nenhum acontecimento, por mais extraordinário ou grandioso que seja, pode dar ao homem o direito de mudar o dia de repouso que o próprio Deus estabeleceu por Sua soberana vontade e autoridade. Muito menos pode o homem justificar-se dizendo que guarda o primeiro dia da semana porque o Espírito Santo foi derramado nesse dia. Somente Deus, como o Grande Legislador, é quem de fato pode revogar aquilo que Ele mesmo legislou. Deus não deu autoridade legislativa a nenhum ser humano sobre as coisas espirituais. Observe que a Bíblia Sagrada não chama o derramamento do Espírito Santo de “pentecostes”. Na verdade, “pentecostes” era o nome da festa cerimonial judaica que caía no primeiro dia da semana, realizada uma vez por ano. O derramamento do Espírito Santo nunca possuiu o condão de conferir santidade ou importância a qualquer dia da semana. Mesmo porque o Espírito Santo foi derramado abundantemente em muitas outras ocasiões (Atos 4:31; 8:15-17; 10:44), e nem por isso os cristãos procuram observar os demais dias em que o Espírito Santo foi derramado.

13.5 O Concílio de Jerusalém

Atos 15:19-21 – “Pelo que julgo que não se deve perturbar aqueles, dentre os gentios, que se convertem a Deus. Mas escrever-lhes que se abstenham das contaminações dos ídolos, da prostituição, do que é sufocado e do sangue. Porque Moisés, desde os tempos antigos, tem em cada cidade quem o pregue, e cada sábado é lido nas sinagogas”.

O Concilio de Jerusalém foi convocado pela Igreja porque os cristãos judaizantes estavam apregoando entre os cristãos gentios a seguinte forma de


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo procedimento religioso: “se vos não circuncidardes, conforme o uso de Moisés, não podeis salvar-vos” (Atos 15:1). Como a circuncisão era uma lei cerimonial, tal situação causou certo desconforto, o que levou Paulo e Barnabé a “não pequena discussão e contenda contra eles” (Atos 15:2). Por essa razão “resolveu-se que Paulo e Barnabé, e alguns dentre eles, subissem a Jerusalém aos apóstolos e aos anciãos sobre aquela questão” (Atos 15:2). A Igreja em concílio, sob a orientação do Espírito Santo, decidiu proibir aos cristãos gentios de participarem “das coisas sacrificadas aos ídolos, e do sangue, e da carne sufocada, e da fornicação”. Tal determinação foi necessária porque os cristãos gentios ainda não haviam se desligado totalmente dessas práticas pagãs. Quando a Igreja decidiu não infligir aos conversos gentios “mais encargo algum”, ela estava dizendo que não seria imposto aos cristãos gentios mais nenhuma incumbência, além daquelas que eles já tinham recebido das Escrituras Sagradas, haja vista que o Concílio de Jerusalém deliberou que “Moisés, desde os tempos antigos, tem em cada cidade quem o pregue, e cada sábado é lido nas sinagogas” (Atos 15:21). Muitos judeus e gentios que assistiam aos cultos religiosos na sinagoga se converteram ao cristianismo. Todavia, esses novos cristãos continuavam se reunindo aos sábados nas próprias sinagogas, onde já estavam acostumados a cultuar. Conforme o Concílio de Jerusalém, esses cristãos ouviam “desde os tempos antigos” em cada sábado a mensagem das Escrituras Sagradas.

13.5.1 A falta de citação dos mandamentos Os antagonistas do sábado supõem que o sábado foi abolido porque o Concílio de Jerusalém não fez qualquer menção a tal prática. Mas também é digno de nota observar que o Concílio de Jerusalém também não fez nenhuma alusão ao domingo. Ora, se o sábado não deve ser guardado porque o Concílio de Jerusalém não o mencionou – então por uma questão de coerência – o domingo também não deve ser guardado porque o Concílio de Jerusalém também não o mencionou. Apesar da falta de bom siso por parte dos adversários do sábado, a realidade é que o Concilio de Jerusalém mencionou sim, a observância do sábado pelos cristãos gentios que assistiam os cultos religiosos em muitas sinagogas, quando afirmou que “Moisés, desde os tempos antigos, tem em cada cidade quem o pregue, e cada sábado é lido nas sinagogas” (Atos 15:21). Essa declaração somente tem sentido se o Concílio de Jerusalém estivesse fazendo referência aos cristãos que frequentavam as sinagogas, posto que eles não estavam deliberando sobre os judeus, mas exclusivamente sobre os cristãos gentios. O fato de algum mandamento não ser mencionado numa determinada passagem bíblica não prova que tal mandamento foi abolido. Por exemplo, o Concílio de Jerusalém não recomendou a devolução dos dízimos, das ofertas ou a observância de qualquer mandamento do decálogo, tais como “não terás outros deuses diante de mim”; “não tomarás o nome do Senhor teu Deus em vão”; “honra a teu pai e a tua mãe”; “não matarás”; “não adulterarás”; “não furtarás”; “não dirás falso testemunho”; “não cobiçarás”, mas nem por isso pressupomos que os cristãos estavam dispensados de observar tais mandamentos. Então por que pressupor que os cristãos estavam dispensados de observar o sábado, quando não estavam dispensados de observar os demais mandamentos do decálogo? Uma outra forte evidência de que os cristãos gentios guardavam o sábado está claramente demonstrado pelo fato dos judeus e dos cristãos judaizantes nunca os terem


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo acusados de quebrarem o sábado, como fizeram com Jesus. Mas eles foram especificamente acusados de não observarem a lei da circuncisão. Em certa ocasião, o apóstolo Paulo, em harmonia com a decisão do Concilio de Jerusalém, declarou a importância da observância dos Dez Mandamentos em detrimento da circuncisão ao afirmar que “a circuncisão é nada e a incircuncisão nada é, mas sim a observância dos mandamentos de Deus” (I Coríntios 7:19). 13.6 O “dia do Senhor” bíblico “Foi no sábado que o Senhor da glória apareceu ao exilado apóstolo. O sábado era tão religiosamente observado por João em Patmos como quando estava pregando ao povo nas cidades e vilas da Judéia. Considerava como sua propriedade as preciosas promessas feitas em referência a este dia. ‘Eu fui arrebatado em espírito no dia do Senhor’” (AA, 581).

Apocalipse 1:10 – “Eu fui arrebatado em espírito no dia do Senhor, e ouvi detrás de mim uma grande voz, como de trombeta”.

Isaías 58:13 – “Se desviares o teu pé do sábado, de fazer a tua vontade no meu santo dia, e se chamares ao sábado deleitoso, e santo dia do Senhor digno de honra, e o honrares não seguindo os teus caminhos, nem pretendendo fazer a tua própria vontade, nem falar as tuas próprias palavras”.

A etimologia da palavra “sábado” ou “domingo” não expressa nenhum dia específico da semana. Do mesmo modo, é importante observar que a frase “dia do Senhor” também não aponta para nenhum dia específico da semana. Todavia, analisando “biblicamente” os dois versículos retro mencionados, podemos constatar facilmente que a expressão “dia do Senhor” se refere com exclusividade ao “sábado” bíblico e não ao “domingo”. Como a Bíblia Sagrada tem a última palavra em questão de doutrina, fé e conduta cristã, então devemos formar a firme convicção de que o sábado é de fato o “dia do Senhor”, pois assim “está escrito”. Hoje em dia, o “primeiro dia da semana” é reconhecido pela maioria da cristandade como sendo o “dia do Senhor”. Mas, infelizmente, esse reconhecimento é imposto por força da astúcia do homem, da filosofia com seus rudimentos e das tradições humanas, mas não por força das Escrituras Sagradas. Onde está revelado nas Escrituras Sagradas que o “primeiro dia da semana” é o dia do Senhor? Simplesmente não existe tal escritura. Pouco importa se o primeiro dia da semana é chamado pelos homens de dia do Senhor, se o mesmo não estiver estribado nas Escrituras Sagradas. A Bíblia Sagrada nunca relacionou o “primeiro dia da semana” com a expressão “dia do Senhor”. Todavia, ela declara enfaticamente que o “sábado” é o “dia do Senhor” (Isaías 58:13). Portanto, as Escrituras Sagradas relacionam claramente o “sábado” à expressão “dia do Senhor”. “A Escritura Sagrada, porém, indica o sétimo dia e não o primeiro, como o dia do Senhor. Disse Cristo: ‘O Filho do homem é Senhor até do sábado.’ O quarto


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo mandamento declara: ‘O sétimo dia é o sábado do Senhor.’ E pelo profeta Isaías o Senhor lhe chama: ‘Meu santo dia’. Mar. 2:28; Isa. 58:13” (GC, 447). Para os fiéis filhos de Deus, tudo o que está fora da Bíblia Sagrada não faz parte do universo cristão (Atos 17:11). O domingo está fora das Escrituras Sagradas, portanto não faz parte da vida do verdadeiro cristão, cuja fidelidade e viver está norteado unicamente nos ensinos das Escrituras Sagradas (João 17:17).

13.7 Considerações finais O livro do Apocalipse contém 505 citações e ilustrações de outras partes das Escrituras Sagradas, especialmente do Antigo Testamento. Portanto, quando João mencionou a expressão “dia do Senhor”, ele estava simplesmente fazendo uma referência ao livro do profeta Isaías, o qual afirma explicitamente que o “sábado” é o “dia do Senhor” (Isaías 58:13). Também é evidente que, quando João fez referência ao “dia do Senhor” em Apocalipse 1:10, ele não estava se referindo ao domingo, simplesmente porque, tanto ele, como todos os demais escritores do Novo Testamento – mesmo decorrido vários anos após a morte de Cristo – ainda continuavam identificando o primeiro dia da semana por um singelo numeral ordinal “primeiro dia da semana”. Eles nunca designaram tal dia pelo nome de “dia do Senhor”. Também é claro que, caso João estivesse se referindo ao domingo em Apocalipse 1:10, então ele teria utilizado a expressão usual empregada por todos os escritores bíblicos: “primeiro dia da semana”. A conclusão obvia é que os primeiros cristãos jamais reconheceram ou consideraram o primeiro dia da semana como o “dia do Senhor”.


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo

Capítulo 14 A Bíblia e o Dia do Senhor “O mesmo espírito despótico que noutras eras tramou contra os fiéis há de tentar extirpar da face da Terra os que temem a Deus e obedecem à Sua lei... não podendo apresentar contra os defensores do sábado bíblico um ‘está escrito’, à falta deste, lançarão mão da violência”. Ellen Gould White (II TS, 150)

14.1 Introdução O dia do Senhor – como as Sagradas Escrituras definem o dia do sábado – relembra, no ciclo semanal, a obra da criação realizada pelo Senhor: “Lembra-te do dia do sábado, para o santificar... Porque em seis dias fez o Senhor os céus e a terra, o mar e tudo que neles há, e ao sétimo dia descansou: portanto abençoou o Senhor o dia do sábado, e o santificou” (Êxodo 20:8 e 11). O emprego da expressão “dia do Senhor” no Novo Testamento advém da plenitude de sentido que o próprio Senhor Jesus Cristo atribuiu ao termo, quando afirmou: “o Filho do homem até do sábado é Senhor” (Mateus 12:8). Destarte, a frase “dia do Senhor”, que foi registrada no livro do Apocalipse, expressa a profunda reverência que os primeiros cristãos sentiam pelo sétimo dia da semana, conhecido desde a mais remota antiguidade como sendo o “dia do sábado”. Não obstante esta verdade ser biblicamente irrefutável, alguns tendem a distorcer o verdadeiro sentido das Escrituras Sagradas ao defenderem a suposição extrabíblica de que o “dia do Senhor” mencionado em Apocalipse 1:10 é uma referência ao “domingo”. Todavia, sob a perspectiva bíblica, tal posição é injustificável e, portanto, inaceitável para os fiéis filhos do Senhor Jeová. Como herdeiros do “espírito” da Reforma Protestante, nossa fé, doutrinas e normas de conduta encontram-se baseadas unicamente nos ensinos das Escrituras Sagradas. Daí justifica o fato de termos adotado o bandeira fundamental da Reforma Protestante: “Sola scriptura”. Com relação ao dia sagrado de repouso, não importa o que os homens dizem, mas sim o que as Escrituras Sagradas dizem, e elas dizem que o sábado é o “dia do Senhor”. Ponto final! 14.2 “Kyriaké hémerà” e o sábado O Novo Testamento foi escrito em grego. A expressão grega “kyriaké hémerà” de Apocalipse 1:10 significa literalmente “dia do Senhor”. Esse vocábulo não indica nenhum dia especifico da semana. Então, a pergunta que surge nas mentes esclarecidas é a seguinte: Qual dia da semana é identificado pela Bíblia Sagrada como sendo o dia do Senhor? A própria


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo Escritura Sagrada responde explicitamente a essa pergunta afirmando que o “sábado” é o “dia do Senhor” (Isaías 58:13). Não existe em nenhum lugar das Escrituras Sagradas qualquer referência afirmando ou mesmo insinuando que o “primeiro dia da semana” é o “dia do Senhor”, o qual é conhecido nos dias de hoje pela designação de “domingo”, nome este totalmente ignorado pelas Escrituras Sagradas. A frase grega “kyriaké hémerà” é mencionada somente uma única vez no Novo Testamento. Ela é citada no livro do Apocalipse e expressa a profunda convicção que os primeiros cristãos tinham com relação ao sábado ser o dia do Senhor, sobremodo porque a expressão “kyriaké hémerà” é uma transliteração da expressão hebraica empregada pelo profeta Isaías, que afirma explicitamente que o sábado é o “dia do Senhor” (Isaías 58:13). Na época em que João escreveu o Livro do Apocalipse haviam decorrido mais de sessenta anos desde a morte de Cristo. Mesmo assim, naquela altura da história da Igreja, o “primeiro dia da semana” ainda não era conhecido ou reconhecido pelos escritores bíblicos como sendo o “dia do Senhor”. Caso os apóstolos compreendessem que o primeiro dia da semana era o dia do Senhor, então o evangelista João teria se referido ao primeiro dia da semana como “dia do Senhor” ao escrever o seu Evangelho, o qual foi produzido aproximadamente na mesma época do Apocalipse. Entretanto, o santo apóstolo se limitou a identificar tal dia por um simples numeral ordinal, “primeiro dia da semana", sem qualquer designação especial ou qualquer sentido de reverência pelo dia. Igualmente, outros escritores bíblicos, escrevendo sobre eventos que ocorreram várias décadas após a morte de Cristo, se reportam a esse dia pela simples designação de “primeiro dia da semana”, conforme registrado em Atos 20:7 e I Coríntios 16:1-3. Todos eles mostram total desconhecimento a respeito da suposição de que o “primeiro dia da semana” seria o “dia do Senhor”.

14.3 Transposição literária O apóstolo João relatou em Apocalipse 1:10 o seguinte evento extraordinário: “Eu fui arrebatado em espírito no dia do Senhor”. A expressão “dia do Senhor” também aparece em Isaías 58:13, como uma transposição literária de Êxodo 16:23, bem como de Êxodo 16:25; 20:10; Levítico 23:3 e Deuteronômio 5:14. Todas essas expressões fazem clara referência ao sábado, como sendo o “dia do Senhor”. Ou seja, a expressão “dia do Senhor” tem a sua origem na expressão bíblica “sábado do Senhor” (Êxodo 16:25; 20:10), enquanto que a expressão “santo dia do Senhor” origina-se da declaração bíblica “santo sábado do Senhor” (Êxodo 16:23). João escreveu sessenta e seis anos após a morte e ressurreição de Cristo, mas em seus escritos ele nunca se referiu ao “primeiro dia da semana” como sendo o “dia do Senhor”. Portanto, fica claro que, quando João escreveu o Apocalipse, ele estava se referindo ao dia do “sábado”, conforme a definição bíblica para a expressão “dia do Senhor”. Se João estivesse se referindo ao domingo ele teria empregado a designação bíblica usual: “primeiro dia da semana”. É bem verdade que o termo “sabbath” não aparece no Livro do Apocalipse, mas sim a sua variante “dia do Senhor”. É claro que nenhum léxico jamais poderá traduzir a expressão “sabbath” como “dia do Senhor”, simplesmente porque a palavra “sabbath” quer dizer “repouso”, “descanso”. Todavia, é fato incontestável que a frase: “sétimo dia


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo da semana”, “sábado do Senhor” ou “dia do Senhor” são expressões variantes equivalentes, pela quais a Bíblia Sagrada tem designado o santo “sabbath”. Como foi visto, as Escrituras Sagradas contém vários exemplos onde a expressão “dia do Senhor” é aplicada exclusivamente ao “sábado do Senhor”. Tal expressão jamais foi aplicada, pela Bíblia Sagrada, a qualquer outro dia da semana e muito menos ao domingo. 14.4 O “dia do Senhor” na escatologia Apenas para ficar registrado, é interessante observar que a expressão hebraica “dia do Senhor” também pode ser vertida para o grego como “hemera tou kyriou”. Tal expressão é muito diferente de “kyriaké hémerà”, que foi empregada por João no livro do Apocalipse. A diferença entre essas duas frases consiste no seguinte: A expressão “kyriaké hémerà” é uma clara referência ao sábado semanal, mas a expressão “hemera tou kyriou” trata-se de uma referência “escatologia” ao grande dia do Senhor. Portanto, as Escrituras Sagradas evidenciam a existência de duas expressões gregas distintas para a frase “dia do Senhor”. Mas, para que fique bem claro, nunca é demais repetir a diferença existente entre elas: 1º) “kyriaké hémerà”: – “dia do Senhor” – faz referência ao “sábado” bíblico – dia em que João foi arrebatado em espírito para receber parte da visão do Apocalipse. Ela designa um período certo e específico de vinte e quatro horas; 2º) “hemera tou kyriou”: – “dia do Senhor” – faz referência à escatologia bíblica – dia da segunda vinda de Cristo a este mundo Ela não designa nenhum período especifico de tempo. Mas aponta para um evento futuro que ocorrerá numa data incerta. 14.5 Qual dia da semana é o “kyriaké hémerà” O Novo Testamento revela que o “dia do Senhor” registrado em Apocalipse 1:10 foi escrito em grego no caso dativo: “kyriaké hémerà”. Etimologicamente, essa palavra grega não expressa nenhum dia específico da semana, do mês ou do ano. Essa expressão apenas quer dizer: “dia do Senhor”. Então, qual dia da semana é designado pela “Bíblia Sagrada” como sendo o “dia do Senhor”? Não existe nenhum fundamento escriturístico para questionar a sua aplicação ao sábado bíblico. Pois é a própria Bíblia Sagrada quem deixa bem claro que o sábado é o “dia do Senhor” (Êxodo 16:23; 16:25; 20:10; Levítico 23:3; Deuteronômio 5:14; Isaías 58:13; Mateus 12:8). Todavia, não existe nenhuma “evidência bíblica” de que o “primeiro dia da semana” é o “dia do Senhor”. Somente levando em consideração a força da vã filosofia e da tradição humana é que o “primeiro dia da semana” passou a ser conhecido em latim como "Dominica dies", o qual é traduzido pela expressão “dia do Senhor” de onde resulta em português o vocábulo “domingo”. Contrariando o que diz as Escrituras Sagradas, a expressão “kyriaké hémerà” pode ser empregada livremente e indiscriminadamente pelos homens para nomear qualquer dia da semana que desejarem. Principalmente porque “kyriaké hémerà” não designa nenhum dia específico. Basta que alguma pessoa mal-intencionada queira


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo designar tal dia com o nome de “dia do Senhor” e depois dizer que João foi arrebatado em tal dia. Todavia, a Bíblia Sagrada considera exclusivamente o “sábado” como sendo o verdadeiro e único “dia do Senhor”. As Escrituras Sagradas jamais empregaram a expressão “kyriaké hémerà” para designar o primeiro dia da semana (domingo), mas elas aplicam tal expressão com exclusividade absoluta ao “sétimo dia da semana”. O que é correto, posto que está em harmonia com os demais textos das Escrituras Sagradas. Somente por força de “tradições” contrarias as Escrituras Sagradas é que os homens conseguem associar o termo “dia do Senhor” ao “primeiro dia da semana”. Todavia, a Bíblia Sagrada jamais associou ou ligou a expressão “dia do Senhor” ao “primeiro dia da semana”. A Palavra de Deus é muito explicita e clara em designar o “dia do Senhor” como sendo o “sábado” bíblico. Ela também é precisa em designar o “primeiro dia da semana” por um simples numeral ordinal, sem qualquer denominação reverencial ou qualquer outra conotação especial. 14.6 “Kyriaké hémerà” e o domingo Apesar da Bíblia Sagrada ensinar claramente que o vocábulo “kyriaké hémerà” – “dia do Senhor” – é uma referência específica ao “sábado”, a verdade é que algumas pessoas, inadvertidamente, aplicam tal expressão ao “primeiro dia da semana”. Mas o fazem por conta e risco próprio, uma vez que não possuem nenhum respaldo bíblico. Não encontrando fundamento nas Escrituras Sagradas para justificar a guarda do domingo, os antagonistas do “santo sábado do Senhor” procuram basear as suas suposições em alguns escritos apócrifos e nos livros dos pais da igreja, cujas obras foram mutiladas no decorrer da Idade Média para se adaptarem aos ensinos católicos. A palavra “domingo” é de origem latina e significa “dia do Senhor” – “Dominica dies”. Mas ocorre que a palavra “domingo” nunca fez e nunca poderá fazer parte da Bíblia Sagrada, simplesmente porque o Novo Testamento foi escrito em grego e a palavra “domingo” é de origem latina. Portanto, toda vez que a expressão “kyriaké hémerà” for traduzida deverá ser vertida para o vernáculo “dia do Senhor”, sem designar qualquer dia específico. Caso contrário, estaremos diante de uma interpretação e não de uma honesta tradução. Em nenhum lugar do Novo Testamento o “primeiro dia da semana” é identificado pelo nome de “domingo”. Nem mesmo é designado pela expressão “dia do Senhor”. Ou seja, o domingo nunca foi chamado no Novo Testamento de “dia do Senhor” porque, como já foi dito, a palavra “domingo” é de origem latina e o Novo Testamento foi escrito em grego. É fato digno de nota que, desde o Gênesis até ao Apocalipse, os escritores bíblicos nunca empregaram o termo “dia do Senhor” para designar o “primeiro dia da semana”. Mas, empregaram a expressão “dia do Senhor” e outras semelhantes para designar exclusivamente o dia do “sábado”. Também se sabe que na época de Jesus e dos santos apóstolos a palavra “domingo”, designando o primeiro dia da semana, não existia em nenhuma língua do mundo. Também é certo, que o escritor do livro do Apocalipse não criou a expressão “kyriaké hémerà”, que foi vertida para o latim como “Dominica dies”. O que João fez foi simplesmente traduzir para o grego a expressão hebraica “dia do Senhor” que havia sido empregada pelo profeta Isaías (Isaías 58:13).


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo Portanto, tendo em vista que a expressão grega “kyriaké hémerà”, etimologicamente, significa “dia do Senhor”, e que a Bíblia Sagrada é a sua própria intérprete, então concluímos que tal expressão somente pode estar se referindo ao “santo sábado do Senhor”. Mesmo porque nas Escrituras Sagradas não existe a palavra domingo, e nem mesmo existe qualquer passagem bíblica relacionando ou ligando o “dia do Senhor” ao “primeiro dia da semana”. Foi somente por meio da apostasia de uma Igreja corrupta é que o termo “dia do senhor” passou a ser aplicado ao “primeiro dia da semana” e, posteriormente, com a latinização do termo, o “dia do Senhor” transformou-se no famigerado “Dominica dies” que foi vertido para o português como “domingo”.

14.7 Dia do Senhor e os Pais da Igreja Sem nenhum fundamento nas Escrituras Sagradas, alguns trechos dos livros dos pais da igreja registram a expressão “dia do Senhor”, que segundo alguns interpretes serve para designar o “primeiro dia da semana”, conhecido como domingo. Mas, como cristãos, a nossa fé está vinculada unicamente no que as Escrituras Sagradas ensinam, especialmente porque somos norteados pelo princípio basilar da Reforma Protestante: “a Bíblia e a Bíblia só”, princípio esse conhecido pela designação de “Sola scriptura”. Ora, a Bíblia Sagrada designa o sétimo dia da semana como “sábado do Senhor” (Êxodo 16:23; 16:25; 20:10; Levítico 23:3; Deuteronômio 5:14). A força desses versículos bíblicos é incontestável. Eles são contundentes em demonstrar que o “dia do Senhor” é o “sábado” e não o “domingo”, o qual nem mesmo é mencionado na Bíblia Sagrada. Além disso, pouco importa o fato da expressão “dia do Senhor” estar registrado no Antigo Testamento. O que importa é que o Antigo Testamento é inspirado por Deus e os seus conceitos servem perfeitamente para identificar e designar qual é o “dia do Senhor”. Também é fato incontestável que todos os escritores bíblicos sempre designaram o dia que hoje é identificado como “domingo” pela singela denominação de “primeiro dia da semana”. Esse dia nunca foi designado pela Bíblia Sagrada como “dia do Senhor”. Por conseguinte, caso João em Apocalipse 1:10, estivesse se referindo ao domingo, ele certamente teria repetido a designação usual conhecida por todos e largamente empregada no Novo Testamento: “primeiro dia da semana”. Mas João não o fez, simplesmente porque ele não estava se referindo ao primeiro dia da semana, mas sim ao sábado bíblico. O que João fez foi empregar a expressão “dia do Senhor” já existente nas Escrituras Sagradas (Isaías 58:13), para se referir ao sétimo dia da semana, expressão essa que jamais teve qualquer referencia ao primeiro dia da semana. Quando João escreveu o seu evangelho, aproximadamente na mesma época em que escreveu o apocalipse, ele empregou amplamente a expressão “primeiro dia da semana” sem, contudo, dar-lhe qualquer conotação sagrada. Com essa atitude, o santo apóstolo mostrou ao mundo que ele não conhecia e nem reconhecia o “primeiro dia da semana” como sendo o “dia do Senhor”.

14.8 O vocábulo latino


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo O vocábulo “domingo” não se encontra registrado em nenhum lugar da Bíblia Sagrada. Tal fato ocorre porque a doutrina herética do domingo foi introduzida no seio do cristianismo alguns poucos séculos depois da morte de Cristo e dos santos apóstolos. A própria origem latina da palavra “domingo” atesta a sua procedência romana, e não bíblica. Tal palavra foi forjada no seio de Roma através dos filósofos cristãos neoplatônicos, dos decretos dos imperadores e dos concílios da Igreja Católica do Império Romano. Portanto, o domingo não é uma doutrina divinamente inspirada pelo Espírito Santo e muito menos uma revelação bíblica. A expressão “kyriakos”, em sentido adjetivado, significa “pertencente ao Senhor”. Na Bíblia, a palavra se refere ao sábado do sétimo dia da semana, o qual explicitamente é dito que pertence ao Senhor (Levítico 19:30; 26:2; Isaías 56:4; Ezequiel 20:12). Mas os cristãos gentios pós-apóstolos aplicaram-na ao primeiro dia da semana, e posteriormente devido a enorme influência da Igreja romana a expressão foi transfigurada para o latim como “Dominica dies”.

14.9 A Vulgata Latina de Jerônimo Quando Jerônimo traduziu a Bíblia Sagrada para a língua latina, entre fins do século IV e início do século V, ele verteu a expressão grega “kyriaké hémerà” para “Dominica dies” (dia dominical) e não para “Dia domini” (dia do Senhor). Ou seja, Jerônimo “interpretou”, equivocadamente, “kyriaké hémerà” como sendo o “primeiro dia da semana”, quando na realidade, biblicamente falando, “kyriaké hémerà” é o “sétimo dia da semana”, conhecido como “sábado”. Quando Jerônimo fez essa extrapolação ele não estava traduzindo, mas “interpretando” as Escrituras Sagradas. Como a Bíblia Latina se tornou a Bíblia oficial da Igreja Católica, então todas as versões católicas para outras línguas foram traduzidas a partir da Vulgata de Jerônimo. Por serem tradução de tradução, perpetuaram o erro de Jerônimo. Daí, a versão em língua portuguesa de Antônio Pereira de Figueiredo traduzir: “Eu fui arrebatado em espírito num dia de domingo, e ouvi por detrás de mim uma grande voz, como de trombeta”. Assim também fazem muitas outras versões católicas, tais como a dos “Monges de Maredsous”, “João José Pedreira de Castro”, “José Basílio Pereira”, “Matos Soares” e outras. Todas perpetuaram a interpretação equivocada de Jerônimo, porque todas são traduções feitas a partir da Vulgata Latina, que por sua vez é uma tradução. Razão pela qual interpretam “kyriaké hémerà” como sendo “domingo”. Ao contrário de muitas traduções católicas feitas em função da Vulgata Latina, todas as traduções feitas a partir do grego traduzem “kyriaké hémerà” como “dia do Senhor”, o que está correto, pois não procuram interpretar a expressão “dia do Senhor” mas procuram simplesmente traduzir o sentido original do texto bíblico. Assim o fazem a tradução de “João Ferreira de Almeida”, “A Bíblia de Jerusalém”, “Nova Versão Internacional”, “A Bíblia Viva”, “A Bíblia na Linguagem de Hoje”, “Nova Tradução na Linguagem de Hoje”, “A Bíblia Vozes” etc.

14.10 Considerações finais A palavra “domingo” não consta nos textos originais da Bíblia Sagrada. É fato consumado que não existe nenhuma relação bíblica ligando a frase “primeiro dia da semana” com a expressão “dia do Senhor”. O “sábado” é o único dia registrado nas


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo Escrituras Sagradas que se encontra relacionado com a expressão “dia do Senhor” (Isaías 58:13). A expressão “domingo” jamais poderia ter sido empregada na Bíblia Sagrada para designar o “primeiro dia da semana”, simplesmente porque as Escrituras Sagradas foram escritas em hebraico, aramaico e grego, mas a palavra “domingo” é de origem latina. Ao contrário do domingo, o sábado é o nome bíblico de um dia exclusivo criado por Deus para servir de memorial da criação do mundo (Êxodo 20:8 e 11). A palavra sábado vem de “shabath”, que significa “descanso”. Mas o vocábulo domingo é totalmente desconhecido na Bíblia Sagrada. O sábado além de comemorar a criação do mundo em seis dias, também é um dia de descanso do trabalho secular (Êxodo 23:12; 34:21), dia de santa convocação (Levítico 23:3), razão pela qual é dia de adoração, culto e oração (Lucas 4:16; Atos 16:13). Também é dia de atividades espirituais, tais como fazer trabalhos missionários, visitar as enfermarias, os asilos, as creches, os encarcerados, suprir as necessidades dos pobres etc. “Precisamos tomar a firme posição de que não reverenciaremos o primeiro dia da semana como o sábado, pois ele não é o dia que foi abençoado e santificado por Jeová” (EF, 133).


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo

Capítulo 15 O Domingo e os Pais da Igreja “Em quase todos os concílios o sábado que Deus havia instituído era rebaixado um pouco mais, enquanto o domingo era em idêntica proporção exaltado. Destarte a festividade pagã veio finalmente a ser honrada como instituição divina, ao mesmo tempo em que se declarava ser o sábado bíblico relíquia do judaísmo, amaldiçoando-se seus observadores”. Ellen Gould White (GC, 53)

15.1 Introdução A igreja cristã, na época apostólica, nunca teve a intenção de romper com os ensinos da santa lei de Deus (Dez Mandamentos). Tanto é verdade que a Igreja Católica, desde o seu início, ainda mantém o ensino dos Dez Mandamentos, muito embora estejam corrompidos pela heresia medieval que varreu a Igreja fundada por Cristo Jesus. Caso os Dez Mandamentos tivesse sido abolido na época dos apóstolos, então não teria nenhum sentido uma igreja apóstata restaurar a observância dos Dez Mandamentos. A lógica é que a igreja corrompeu aquilo que vinha sendo observado. “A profecia declarara que o papado havia de cuidar ‘em mudar os tempos, e a lei’ (Daniel 7:25). Para cumprir essa obra, não foi vagaroso. A fim de proporcionar aos conversos do paganismo uma substituição à adoração de ídolos, e promover, assim, sua aceitação nominal do cristianismo, foi gradualmente introduzida no culto cristão a adoração de imagens e relíquias. O decreto de um concílio geral estabeleceu, por fim, este sistema de idolatria papista. Para completar a obra sacrílega, Roma pretendeu eliminar da lei de Deus o segundo mandamento, que proíbe o culto das imagens, e dividir o décimo mandamento a fim de conservar o número deles” (HR, 328). Os primeiros cristãos viam em Cristo o cumprimento das profecias bíblicas (Lucas 24:27 e 44). Eles não enxergavam o rompimento com a religião existente, e muito menos pensavam em estabelecer uma outra religião. Durante muito tempo os cristãos continuaram participando dos cultos nas sinagogas (Atos 15:21), adorando no templo (Lucas 24:53), guardando o sábado (Atos 16:13), abstendo-se de carnes imundas (Atos 10:10-16), bem como observando os demais preceitos do decálogo. O próprio Senhor Jesus Cristo reconheceu que os cristãos estariam guardando o santo sábado, mesmo depois de decorridas várias décadas de Sua morte e ressurreição (Mateus 24:20).

15.2 Rancores contra os judeus Os primeiros cristãos eram tão fiéis à lei, que “caíram na graça do povo” (Atos 2:47). Lucas testemunhou que os judeus se convertiam ao cristianismo aos milhares “e todos são zeladores da lei” (Atos 21:20). O apóstolo Paulo, doutor dos gentios,


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo testemunhou ao mundo, na presença de judeus e de gentios, que ele cria na lei e que nunca pecou em coisa alguma contra a lei. Observe o que o santo apóstolo afirmou:

Atos 24:14 – “Mas confesso-te isto: que, conforme aquele caminho que chamam seita, assim sirvo ao Deus de nossos pais, crendo tudo quanto está escrito na lei e nos profetas”.

Atos 25:8 – “Mas ele, em sua defesa, disse: Eu não pequei em coisa alguma contra a lei dos judeus, nem contra o templo, nem contra César”.

Quem introduziu a observância do domingo pagão em detrimento do sábado bíblico foram os conversos gentios de origem pagã. Muitos dos quais não tinham nenhum compromisso com a lei de Deus e alimentavam desagradáveis rancores contra os judeus e contra tudo que lembrasse o judaísmo. Esse preconceito racista contra os judeus está expresso em muitos livros dos pais da igreja. A verdade é que a mudança do sábado para o domingo não tinha o aval de Jesus, dos santos apóstolos ou das Escrituras Sagradas. Tal mudança originou-se exclusivamente pela autoridade do homem, através de suas filosofias e vãs subtilezas (Colossenses 2:8). No início do cristianismo, os primeiros cristãos, bem como os judeus descansavam e cultuavam aos sábados, conforme determina o mandamento bíblico. Com o decorrer do tempo a quantidade de gentios convertidos ao cristianismo tornou-se maior do que a de judeus convertidos. A partir de 189 d.C., os cristãos gentios de algumas localidades começaram a estabelecer um dia de repouso e culto religioso diferente daquele que vinha, até então, sendo praticado pela Igreja. Era o “mistério da injustiça” em operação (II Tessalonicenses 2:7). Posteriormente tal heresia foi ratificada em 325 d.C. pelo Concílio de Nicéia, que ordenou aos cristãos a observarem o primeiro dia da semana como “Dominica dies”, em detrimento do sábado bíblico. Agindo dessa forma, eles pensavam que estavam cortando os laços com os judeus, quando na verdade estavam se distanciado dos ensinos das Escrituras Sagradas.

15.3 Justino e Inácio Na metade do segundo século, Justino, o mártir, testemunhou que havia conhecido cristãos judeus que guardavam o sábado e pregavam tal ensino aos cristãos gentios. Isso é muito importante porque se trata de um fato histórico extrabíblico que confirma que havia cristãos guardando o sábado. Todavia, em seu livro intitulado “Diálogo com Trifão”, Justino expressou a sua opinião particular de que os cristãos judeus poderiam guardar o sábado, mas que os cristãos gentios não precisavam guardar tal dia. Ocorre que tal afirmativa não passava de uma simples opinião de Justino. Ela era destituída de qualquer autoridade, não possuindo nenhum respaldo nas Escrituras Sagradas. Na verdade a opinião emitida por Justino é até mesmo contraria à própria Bíblia Sagrada, sobretudo porque o Senhor nosso Deus não faz acepção de pessoas (Deuteronômio 10:17; Atos 10:34; Romanos 2:11; I Pedro 1:17).


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo No segundo século, um outro escritor cristão de origem gentílica conhecido pelo nome de Inácio, bispo de Antioquia, mostrou o seu total desprezo contra as práticas que ele considerava judaica. Diz ele: “É absurdo professar Cristo Jesus e judaizar. O cristianismo não precisa abraçar o judaísmo, mas o judaísmo deve abraçar o cristianismo, para que toda língua possa professar a companhia de Deus” (Aos Magnésios, X). Diante do exposto ficou claro que os primeiros cristãos guardavam os mandamentos de Deus, inclusive o dia do sábado. Tanto é verdade que foram objeto de críticas por parte de uma ala liberal composta por cristãos gentios, os quais possuíam desagradáveis preconceitos contra os judeus. Foi por essa razão que acabaram por corromper a observância do sábado, adotando a observância pagã do dia do Sol.

15.4 Testemunho de Justino Entre os anos 153 a 155 da era cristã, Justino, o mártir, escreveu a seguinte apologia em defesa do cristianismo:

“No dia dito do sol, todos aqueles dos nossos que habitam as cidades ou os campos, se reúnam num mesmo lugar. Lêem-se as memórias dos apóstolos e os escritos dos profetas... Quando a oração está terminada, são trazidos e vinho e água... Nós nos reunimos todos no dia do sol, porque é o primeiro dia, aquele em que Deus transformou as trevas e a matéria para criar o mundo, e também porque Jesus Cristo Salvador, ressuscitou dos mortos nesse dia mesmo” (I Apologia 67, 3. 7).

Justino, que era cristão de origem gentílica, chama o primeiro dia da semana de “dia do Sol”, simplesmente porque ele não conhecia esse dia por nenhuma outra designação, além da denominação bíblica usual empregada por todos os evangelistas: “primeiro dia da semana”. Em seus escritos, Justino procurou apresentar as várias atividades realizadas pelos cristãos gentios daquela comunidade no dia do Sol. Porém, é digno de nota observar que, entre tantas explicações, Justino não disse uma única palavra sobre um suposto nome cristão para o primeiro dia da semana. Ele simplesmente argumenta que o “dia do sol” é o “primeiro dia”. Em nenhum momento ele esclarece que o dia do Sol é o “dia do Senhor”. Nunca afirmou que o dia do Sol é o domingo. Jamais falou que o “primeiro dia” é o “dia do Senhor”. Seu silêncio sobre esse assunto é ensurdecedor. Cumpre observar que, se essa passagem de Justino atesta alguma coisa, então ela atesta que o nome pagão “dia do sol” é a designação usual para o “primeiro dia da semana”. Justino não fez nenhuma questão de mencionar o “dia do Sol” por nenhum outro nome especial, simplesmente porque tal nome não existia. Nada mais simples! Entre os pagãos, todos os dias da semana recebiam nome próprio, razão pela qual Justino também fez questão de identificar o primeiro dia da semana dizendo: “no dia dito do Sol”, para distinguir dos demais dias pagãos. Como se dirige aos pagãos, alguns dos quais são ferrenhos adversários dos cristãos, Justino lembra, sutilmente, que o “dia do Sol” não é uma designação de origem cristã, haja vista que ele emprega a expressão: “no dia dito do Sol”, haja vista que o nome bíblico pelo qual os cristãos conheciam esse dia é “primeiro dia da semana”, nome que também foi empregado por Justino: “primeiro dia”.


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo Caso o primeiro dia da semana fosse conhecido entre os cristãos pelo nome de “dia do Senhor”, com certeza Justino teria empregado tal argumento diante dos pagãos. Mas não o fez! Por que não o fez? Simplesmente porque o primeiro dia da semana ainda não era conhecido pelo título honroso de “dia do Senhor”. Tal dia era denominado pelos cristãos de primeiro dia da semana e entre os pagãos como “dia do Sol”. Visando justificar o culto religioso cristão no dia pagão do Sol, Justino apresenta aos pagãos o antigo e débil argumento de relacionar alguns acontecimentos bíblicos positivos, que tenham ocorrido no primeiro dia da semana. Observe a artimanha de Justino: “é o primeiro dia, aquele em que Deus transformou as trevas e a matéria para criar o mundo, e também porque Jesus Cristo Salvador, ressuscitou dos mortos nesse dia mesmo”. Destarte, dois são os argumentos de Justino: a criação e a ressurreição. Se o primeiro dia da semana tivesse que ser observado com base no argumento da criação do mundo, então os israelitas, os profetas, Jesus e os santos apóstolos guardaram o dia errado. Seguindo o mesmo raciocínio podemos afirmar que, se o primeiro dia da semana tivesse que ser observado com base no argumento da ressurreição, então Cristo e os apóstolos esqueceram de mencionar tal fato. Com base nesses dois argumentos inúteis, Justino dá mostra de sua simpatia para com o dia pagão, “dito do Sol”. Mas, na falta de um claro mandamento bíblico ordenando explicitamente a observância do primeiro dia da semana, Justino se vê obrigado a empregar o ardil de relacionar o dia do Sol com algum evento bíblico que tenha ocorrido nesse dia. Tudo isso com o objetivo de amenizar a origem pagã da observância do primeiro dia da semana pelos cristãos gentios.

15.5 Constantino entra em cena Constantino (Flavius Valerius Aurelius Constantinus) foi aclamado Augusto pelas suas tropas em 25 de Julho de 306. Tornou-se governador supremo do Império Romano, exercendo o poder supremo até a sua morte, em 22 de maio de 337. Durante os primeiros anos do seu governo ele foi um convicto adorador do “Deus Sol Invicto”. Mesmo depois de sua suposta conversão ao cristianismo, Constantino não abandonou a sua prática de adoração pagã ao deus Sol, que foi mantido como o principal símbolo de suas moedas até 315. “Constantino favoreceu de modo igual a ambas religiões. Como sumo pontífice ele velou pela adoração pagã e protegeu seus direitos” (Enciclopédia Católica). “No dia anterior ao da sua morte, Constantino fizera um sacrifício a Zeus, e até o último dia usou o título pagão de Sumo Pontífice. E, de fato, Constantino, até o dia da sua morte, não havendo sido batizado, não participou de qualquer ato litúrgico, como a missa ou a eucaristia.” (Enciclopédia Hídria). Os decretos imperiais de Constantino mostram um imperador astuto que consegue aos poucos levar o cristianismo às alturas. Observe o texto do edito de Milão que, no ano 313 d.C, concedeu plena liberdade de consciência a todos os cristãos:

“Que qualquer divindade e poder celestial que possa existir seja propício a nós... e assim que podemos conceder aos cristãos e a todos igualmente a livre escolha de seguir o tipo de adoração que quiserem”.


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo Constantino concedeu “aos cristãos e a todos igualmente a livre escolha de seguir o tipo de adoração que quiserem”. Esse foi o primeiro passo, para fazer do cristianismo a religião oficial do Império Romano. Note que Constantino, numa extraordinária manobra política, ao conceder plena liberdade religiosa aos cristãos, apresenta dois fortes argumentos para evitar qualquer oposição por parte dos pagãos: 1º) Ele estabelece que as divindades e as bênçãos do poder celestial, porventura existente, deveriam ser propícias ao Império Romano, incluindo até mesmo a divindade cristã; 2º) Constantino estabelece a igualdade para todos adorarem livremente “o tipo de adoração que quiserem”. O edito agradava aos pagãos porque podiam alcançar o favor de mais uma divindade e poder celestial abençoando o Império, e expurgava do coração pagão o receio de perderem o direito de adorar aos seus deuses tradicionais, especialmente porque Constantino concedeu “a todos igualmente a livre escolha de seguir o tipo de adoração que quiserem”. Com a sua decisão, o imperador favoreceu o cristianismo, que até então era tido como uma religião proscrita pelo Império Romano. Mas a razão de produzir o decreto era uma só: Constantino tinha no coração o desejo de unir cristãos e pagãos num único corpo doutrinário.

15.6 Considerações finais Com a cristianização do Império Romano, o “primeiro dia da semana” passou a ser conhecido, por grande parte da cristandade, pela designação de “domingo” em substituição ao nome pagão “dia do Sol”. Com a designação de “domingo”, o título pagão “dia do Sol” passou a ser revestido por uma roupagem cristã, que era mais aceitável aos religiosos da época. Alguns pais da igreja, em algumas regiões do Império Romano, que abominavam o judaísmo, passaram sistematicamente a desprezar a observância do sábado considerando-o como relíquias dos judeus, passando a cultuar no primeiro dia da semana. Para justificar “biblicamente” o culto no primeiro dia da semana, eles procuraram relacionar esse dia a alguns fatos descritos na Bíblia Sagrada. Em suas pesquisas bíblicas, eles encontraram na criação do mundo e na ressurreição de Cristo uma forma de extrapolar para a santificação do primeiro dia da semana. Algo similar também ocorreu com muitos templos pagãos, que foram transformados em igrejas. Nos nichos desses templos foram colocadas imagens de mártires cristãos. Essas imagens substituíram as antigas imagens dos deuses pagãos, que até então se encontravam nesses lugares. Destarte, as imagens dos santos bíblicos revestiram os templos pagãos com uma aparência cristianizada. “A fim de proporcionar aos conversos do paganismo uma substituição à adoração de ídolos, e promover, assim, sua aceitação nominal do cristianismo, foi gradualmente introduzida no culto cristão a adoração de imagens e relíquias. O decreto de um concílio geral estabeleceu, por fim, este sistema de idolatria papista. Para completar a obra sacrílega, Roma pretendeu eliminar da lei de Deus o segundo


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo mandamento, que proíbe o culto das imagens, e dividir o décimo mandamento a fim de conservar o número deles” (HR, 328).


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo

Capítulo 16 A Imposição do Domingo “Em quase todos os concílios o sábado que Deus havia instituído era rebaixado um pouco mais, enquanto o domingo era em idêntica proporção exaltado. Assim a festividade pagã veio finalmente a ser honrada como instituição divina, ao mesmo tempo em que se declarava ser o sábado bíblico relíquia do judaísmo, amaldiçoando-se seus observadores”. Ellen Gould White (HR, 330)

16.1 Introdução Os pais da igreja, Justino Mártir (100-165), Tertuliano (155-222), Orígenes (185-254), Atanásio e tantos outros mostram em seus escritos a existência de cristãos repousando e adorando no sábado. Eles escreveram no segundo e terceiro séculos, muito antes de existir a Igreja Católica do Império Romano. Apesar da importância dos escritos dos Pais da Igreja, eles não podem ser empregados como fonte de fé ou doutrina. Isto é obvio. Nenhum deles falou inspirado pelo Espírito Santo, nem mesmo reivindicaram o dom de profecia. Ademais, a única fonte de fé e doutrina do cristão ainda continua sendo as Escrituras Sagradas. É sabido que as obras desses grandes autores passaram a sofrer mutilações e falsificações para se adaptarem aos decretos imperiais e aos concílios eclesiásticos da Igreja Católica Romana. Muitas variantes dos textos dos pais da igreja existem até aos dias de hoje. A adulteração intencional de livros era uma atividade bastante comum naqueles tempos medievais, até mesmo em época moderna. Por exemplo, no século XVII, o livro cientifico de Nicolau Copérnico, intitulado “Das revoluções dos mundos celestes”, foi proibido pela Igreja Católica de circular e colocado no “Índex” (livros proibidos), até que as autoridades católicas fizessem as alterações que julgassem necessárias para que o livro se adaptasse à visão cosmológica da Igreja romana. Os escritores que contrariavam os ensinos da Igreja romana eram julgados heréticos e suas obras queimadas em praça pública. Portanto, os primeiros protestantes consideraram que “os ensinos dos pais da igreja deviam ser recebidos apenas quando estivessem de acordo com as Escrituras” (GC, 243).

16.2 Decreto dominical de Constantino O edito de Constantino que entrou em vigor em 3 de julho de 321 estabelecia a seguinte norma para ser observada dentro das fronteiras do Império Romano:

“Que todos os juizes, e todos os habitantes da cidade, e todos os mercadores e artífices descansem no venerável dia do sol. Aos que residem no campo, porem permita-se se entregarem livremente aos misteres de sua lavoura”.


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo Esse edito tinha por objetivo fundamental estabelecer entre cristãos e pagãos um dia comum de repouso. O dia escolhido foi o “dia do Sol” porque era um dia tradicional e sagrado para os pagãos romanos. Esse dia era, especialmente, caro para Constantino, convicto adorador do “Deus Sol Invicto”. Tanto é verdade que o próprio imperador chama esse dia de “venerável”, numa clara alusão ao seu profundo respeito e veneração pelo dia do Sol. É claro que, quando Constantino proíbe o trabalho secular nesse dia, ele está impondo honra especial ao dia do Sol. Por força desse edito, tanto judeus como cristãos que viviam dentro das fronteiras do Império Romano tiveram que se submeter ao repouso do “venerável dia do Sol”. O decreto do Imperador realizava um verdadeiro sincretismo religioso, especialmente porque determinava a guarda do dia do Sol, tanto para pagãos, como para judeus, cristãos e outros. Caso a observância do “dia do Sol” fosse uma prática normal e natural entre os cristãos não haveria a necessidade de uma lei civil impondo tal prática. Mas é interessante observar que os judeus e os cristãos jamais foram proibidos de guardar e honrar o dia do sábado. Eles, simplesmente, passaram a guardar os dois dias da semana. Essa foi a primeira lei civil legislando a respeito do repouso dominical. “Em algumas comunidades, podia-se registrar a coexistência da observância do sábado com a celebração dominical... Não faltaram, inclusive, setores da cristandade em que o sábado e o domingo foram observados como ‘dois irmãos’” (Carta Apostólica “Dies Domini”). Quando Constantino empregou e expressão “dia do Sol”, ele estava usando o nome próprio pelo qual o “primeiro dia da semana” era universalmente conhecido dentro das fronteiras do Império Romano, tanto pelos pagãos, como judeus e cristãos. Para Constantino o dia do Sol era um dia sagrado e muito especial, a ponto de considerá-lo “venerável” para ser observado pelos seus súditos. Constantino não escreveu o edito com outra expressão simplesmente porque não havia nenhuma outra expressão conhecida naquela época que honrava e glorificava o primeiro dia da semana. Tanto os judeus como os cristãos sempre conheceram o dia do Sol pelo nome de “primeiro dia da semana”. De fato, o cristão Justino, chama o primeiro dia da semana de “dia que se chama do sol”. Nunca o chamou de “dia do Senhor”. Da ótica bíblica, a expressão “dia do Senhor” sempre se referiu ao sábado e não ao primeiro dia da semana. “Este espírito de concessão ao paganismo abriu caminho para desrespeito ainda maior da autoridade do Céu. Satanás, operando por meio de não consagrados dirigentes da igreja, intrometeu-se também com o quarto mandamento e tentou pôr de lado o antigo sábado, o dia que Deus tinha abençoado e santificado (Gênesis 2:2-3), exaltando em seu lugar a festa observada pelos pagãos como "o venerável dia do Sol". Esta mudança não foi a princípio tentada abertamente. Nos primeiros séculos o verdadeiro sábado foi guardado por todos os cristãos. Eram estes ciosos da honra de Deus, e, crendo que Sua lei é imutável, zelosamente preservavam a santidade de seus preceitos. Mas com grande argúcia, Satanás operava mediante seus agentes para efetuar seu objetivo. Para que a atenção do povo pudesse ser chamada para o domingo, foi feito deste uma festividade em honra da ressurreição de Cristo. Atos religiosos eram nele realizados; era, porém, considerado como dia de recreio, sendo o sábado ainda observado como dia santificado” (GC, 52).

16.3 Os camponeses


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo O edito civil legislado por Constantino determinava que, no “dia do Sol”, os juizes, as cidades, os mercadores e artífices, cessassem o trabalho nesse dia. Porém é digno de nota observar que o edito tinha uma excludente de ilicitude. Ele não se aplicava aos camponeses, pois segundo a crença existente naqueles tempos antigos, o “dia do sol” era o dia mais propício para as atividades do campo. O edito de Constantino favorecia de modo especial o dia pagão conhecido como dia do Sol. Observe que os camponeses não foram impedidos de exercer as suas atividades agrícolas num dia que para eles era propício e especial para o cultivo. Os camponeses, que representavam a maior parte da população do Império Romano, jamais concordariam em cessar as suas atividades agrícolas num dia especial, que tinha relação direta com o sucesso do cultivo. Para honrar o “venerável” dia do Sol, Constantino proibiu que os habitantes da zona urbana não realizassem qualquer espécie de atividade secular no dia do Sol. Entretanto, para que não parecesse contraditório, o imperador permitiu que os camponeses continuassem com os seus labores na lavoura, posto que eles também estariam “venerando” o dia do Sol com as suas atividades de cultivo. Observe que, com essa atitude, Constantino mais uma vez dá mostra de sua habilidade política em administrar grupos divergentes.

16.4 A transferência do sábado “Na primeira parte do século IV, o imperador Constantino promulgou um decreto fazendo do domingo uma festividade pública em todo o Império Romano. O dia do Sol era venerado por seus súditos pagãos e honrado pelos cristãos; era política do imperador unir os interesses em conflito do paganismo e cristianismo. Com ele se empenharam para fazer isto os bispos da igreja, os quais, inspirados pela ambição e sede do poder, perceberam que, se o mesmo dia fosse observado tanto por cristãos como pagãos, promoveria a aceitação nominal do cristianismo pelos pagãos, e assim adiantaria o poderio e glória da igreja. Mas, conquanto muitos cristãos tementes a Deus fossem gradualmente levados a considerar o domingo como possuindo certo grau de santidade, ainda mantinham o verdadeiro sábado como o dia santo do Senhor, e observavam-no em obediência ao quarto mandamento” (GC, 53). Em 324, decorridos apenas três anos após Constantino ter legalizado a observância do dia do Sol, o bispo Eusébio escreveu o que eles fizeram com o sábado bíblico para poder atender mais eficazmente às determinações do decreto do imperador romano. Observe o que ele diz:

“Todas as coisas que eram do dever fazer-se no sábado temos transferido para o dia do Senhor (domingo), muito mais honrável do que o sábado”.

Mais uma vez está claramente demonstrado pelo testemunho da História Universal que a transferência da solenidade do sábado para o dia do domingo não foi realizada por mandamento bíblico, nem por ordem de Jesus e muito menos por qualquer orientação dos santos apóstolos. Mas, essa mudança foi realizada unicamente pela decisão de alguns poucos bispos cristãos de origem gentílica, que estavam ambiciosos de poder e que bajulavam a Constantino.


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo Destarte, em obediência ao decreto de Constantino, alguns líderes religiosos, como o bispo Eusébio, acharam por bem em transferir a solenidade da observância do sábado bíblico para o domingo pagão. Pasme para o que o bispo de Cesaréia disse terem feito com o sábado, após o decreto de Constantino ter sido promulgado: “Todas as coisas que eram do dever fazerse no sábado temos transferido para o dia do Senhor”. Sob o argumento subjetivo de que o domingo era “muito mais honrável do que o sábado”, Eusébio procura racionalizar o passo temerário que vários bispos deram no abismo do paganismo, ao transferirem para o dia do domingo todas as atividades que eram dever do cristão fazer no dia do sábado. É digno de nota observar que em nenhum momento as Escrituras Sagradas são citadas para justificar a mudança do sábado para o domingo. Portanto, está mais do que evidente que, nos primeiros séculos, os cristãos guardavam o sábado bíblico, muito embora algumas comunidades também observavam o primeiro dia da semana. Todavia, após a promulgação do decreto de Constantino no século IV, vários bispos mobilizaram-se para transferir maciçamente a solenidade do sábado para o domingo, sob o argumento de que o domingo era “muito mais honrável do que o sábado”. Desprezando as Escrituras Sagradas, o próprio bispo de Cesaréia confessa abertamente e sem nenhum escrúpulo, que eles transferiram as solenidades realizadas no dia do sábado para o “primeiro dia da semana”, o qual passou a ser conhecido pela designação de “dia do Senhor”.

16.5 Concílio de Laodicéia Quarenta anos após o decreto dominical civil, editado por Constantino, veio o decreto dominical eclesiástico imposto por meio do Concílio de Laodicéia. O Concilio de Laodicéia ocorreu no ano 364 na cidade de Laodicéia, localizada na Frígia Pacatina. Contou com a presença aproximada de trinta e dois bispos da Ásia Menor. A princípio, suas decisões começaram a vigorar na Síria, posteriormente em Constantinopla e, finalmente, devido aos esforços do Papa Leão IV, passou a vigorar no Ocidente. As decisões desse Concílio foram editadas no Corpus Juris Canonici. O cânon 29 do Concílio de Laodicéia estabelece a seguinte norma de conduta para todos os cristãos:

“Os cristãos não devem judaizar e descansar no sábado, mas trabalhar nesse dia; devem preferir o dia do Senhor e descansar, se for possível, como cristãos. Se eles, portanto, forem achados judaizando, sejam malditos de Cristo".

Esse edito veio a consolidar no seio da Igreja Cristã o decreto dominical promulgado por Constantino. Pelos termos do decreto eclesiástico, podemos constatar que os cristãos ainda continuavam observando o dia do sábado. Tanto é verdade que foram proibidos de descansar no sábado e ordenados a trabalhar nesse dia. Portanto, o Concilio de Laodicéia veio para estabelecer com exclusividade absoluta a observância do domingo e proibir terminantemente a observância do sábado, que até então vinha sendo observado pelos cristãos comprometidos com a Palavra de Deus.


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo A igreja de Laodicéia tinha sido motivo de especial atenção por parte do apóstolo Paulo que lhe escreveu algumas cartas (Colossenses 2:1; 4:13; 4:15 4:16). Além disso, uma das sete cartas apocalípticas foi endereçada a igreja de Laodicéia (Apocalipse 1:11; 3:14). Diante de tanta instrução, a igreja de Laodicéia estava bem estruturada nos ensinos apostólicos, razão pela qual ela guardava fortemente o sábado bíblico. É claro que a igreja guardava o sábado, caso contrário não haveria a necessidade do decreto eclesiástico proibir a observância do sábado por parte daqueles fiéis cristãos. O edito de Constantino não havia proibido ninguém de descansar no sábado ou em qualquer outro dia da semana. O que o edito havia obrigado era o descanso no dia do Sol. Portanto, o edito de Constantino não era contra o sábado, mas manifestava o primeiro passo para o estabelecimento oficial da observância exclusiva do primeiro dia da semana. É evidente que, se antes do decreto de Laodicéia os cristãos estivessem guardando regularmente o domingo, não haveria nenhuma necessidade do decreto proibir a observância do dia do sábado pelos cristãos. Nem mesmo haveria necessidade do decreto ordenar o descanso no domingo. Este fato prova sem margem de dúvida que, com o decreto de Laodicéia, o descanso do sábado foi proibido e mais uma vez o exaltado o descanso no domingo, vulgo dia do Senhor.

16.6 Carta do Papa Gregório I Aproximadamente em 590 o papa Gregório, numa carta dirigida ao povo romano, declarou que são pregadores do Anticristo todos que estivessem ensinando que não se deve trabalhar no último dia da semana. Observe o inteiro teor da carta papal:

“Gregório I, bispo pela graça de Deus, a seus amados filhos, os cidadãos de Roma: Chegou ao meu conhecimento que certos homens de índole perversa têm disseminado entre vós coisas depravadas e contrárias à santa fé, pois proíbem que se faça qualquer trabalho no sábado. Como os chamarei senão de pregadores do Anticristo?” (Epitles, b. 13:1, em Labbes and Cossart, Sacrosancta Concilia, volume V. col. 1511).

Uma análise do conteúdo dessa carta é muito significativa, pois demonstra claramente que, mesmo nesse período avançado da história do cristianismo, ainda havia na Igreja Apostólica Romana pessoas fiéis à Palavra de Deus que faziam questão de observar o “santo sábado do Senhor”. Essas pessoas também ensinavam outras a observar o sábado, abstendo de trabalhar nesse dia. O ensino da observância do sábado estava tão “disseminado” que o Papa Gregório I chegou a ponto de taxar esses fiéis representantes da verdade de “homens de índole perversa” e “pregadores do Anticristo”. Esse papa considerava o ensino da abstenção do trabalho no dia do sábado como “coisas depravadas” que, logicamente, eram ensinos “contrários à santa fé” de sua Igreja apostatada das verdades bíblicas. “As igrejas que estavam sob o governo do papado, foram logo compelidas a honrar o domingo como dia santo. No meio do erro e superstição que prevaleciam, muitos, mesmo dentre o verdadeiro povo de Deus, ficaram tão desorientados que ao mesmo tempo em que observavam o sábado, abstinham-se do trabalho também no


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo domingo. Isto, porém, não satisfazia aos chefes papais. Exigiam não somente que fosse santificado o domingo, mas que o sábado fosse profanado; e com a mais violenta linguagem denunciavam os que ousavam honrá-lo. Era unicamente fugindo ao poder de Roma que alguém poderia em paz obedecer à lei de Deus” (GC, 65).

16.7 Considerações finais Na época do Concílio de Laodicéia (364 d.C.) não havia papas. Na verdade, o primeiro papa foi Virgílio, que assumiu efetivamente essa posição no ano 538 d.C., por força do decreto do Imperador Justiniano. A realidade dos fatos históricos é que antes do decreto de Justiniano, a Igreja estava dividida entre vários bispados. Sendo que o bispado do oriente era a autoridade proeminente que dirigia o bispado do ocidente. Tanto é verdade que Libério, bispo de Roma, no século IV caiu em desgraça e, para se ver livre das acusações, teve que se reportar ao bispado do oriente. Portanto, era o bispado do oriente quem dava a última palavra e dirigia a Igreja. No Concílio de Laodicéia houve a participação de trinta e dois bispos das mais diferentes províncias da Ásia Menor. Posteriormente, com a organização da Igreja Estatal, sob o comando centralizado no bispo de Roma, as decisões do Concílio de Laodicéia e todas outras decisões provenientes dos demais concílios, que até então estavam esparsas, foram reunidas e transformadas em norma universal da Igreja Católica Apostólica Romana. Os Dez Mandamentos do Catecismo da Igreja Católica testemunham ao mundo a heresia que varreu a verdade da Palavra de Deus para fora da Igreja fundada por Jesus Cristo. Os Dez Mandamentos registrados na Bíblia Sagrada proíbem o culto a qualquer espécie de imagem e ordenam a observância do sábado. Porém, os Dez Mandamentos do Catecismo, sem nenhum fundamento bíblico, omitem o mandamento que proíbe o culto às imagens e no lugar do sábado apresenta como dia sagrado o domingo. Se a lei de Deus não estivesse vigorando para os cristãos não teria nenhum sentido a Igreja Católica adotar os Dez Mandamentos e corromper dois que lhe eram inconvenientes.


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo

Epílogo

“Na conclusão da obra de Deus na Terra, a norma de Sua lei será de novo exaltada. A falsa religião pode prevalecer, a iniquidade se generalizar, o amor de muitos esfriar, a cruz do Calvário pode ser perdida de vista, e as trevas, como um manto de morte, podem espalhar-se sobre o mundo; toda a força da corrente popular pode ser voltada contra a verdade; trama após trama pode ser formada para aniquilar o povo de Deus; mas na hora de maior perigo, o Deus de Elias levantará instrumentos humanos para dar uma mensagem que não será silenciada. Nas populosas cidades da Terra, e nos lugares onde os homens têm ido mais longe em falar contra o Altíssimo, a voz de severa repreensão será ouvida. Corajosamente, homens indicados por Deus denunciarão a união da igreja com o mundo. Com fervor chamarão a homens e mulheres para que voltem da observância de uma instituição de feitura humana para a guarda do verdadeiro sábado” (PR, 186-187).

Ellen Gould White Escritora, conferencista, conselheira, e educadora norte-americana. (1827-1915)


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo

BIBLIOGRAFIA Aulete, Caldas. Minidicionário contemporâneo da língua portuguesa/Caldas Aulete [atualização do Banco de Palavras, Conselho dos Dicionários Caldas Aulete, editor responsável Paulo Geiger]. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2004. Bertoldo, Leandro. Estudos Bíblicos Avançados. 1ª edição. Rio de Janeiro, RJ: Litteris Editora, 2006. Bertoldo, Leandro. O Sábado à Luz da Bíblia. 1ª edição. Rio de Janeiro, RJ: Litteris Editora, 2010. Bíblia Sagrada. Tradução de João Ferreira de Almeida. Edição Revista e Corrigida. Brasília: Sociedade Bíblica do Brasil, 1969. Cesaréia, Eusébio de. História Eclesiástica. Tradução: Lucy Iamakami (Livros 1 a 8); Luís Aron de Macedo (Livros 9 e 10). 1ª edição. Rio de Janeiro, RJ: Casa Publicadora das Assembléias de Deus, 1999. Christianini, A. B. Subtilezas do Erro. 2ª Edição Revista e Ampliada. Santo André, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1981. Consultoria Doutrinária. Coordenador: Rubens S. Lessa. 1ª edição. Santo André, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1979. Davis, John D. Dicionário da Bíblia. Tradução: Rev. J. R. Carvalho Braga. 16ª edição. Rio de Janeiro: Junta de Educação Religiosa e Publicações, 1990. Ehrman, Bart D. Evangelhos perdidos. Tradução: Eliziane Andrade Paiva. 1ª edição. Rio de Janeiro, RJ: Record, 2008. Estudos bíblicos: duzentos estudos que respondem acerca de quatro mil perguntas sobre importantes assuntos religiosos. Tradução: Rafael de Azambuja Butler. 1ª edição, 3ª impressão. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2003. Finley, Mark. Tempo de Esperança. Tradução: Cecília Eller Nascimento. 1ª edição. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2010. Freitas, Olmício Nascimento. Os Grandes Temas Bíblicos e o Evangelismo. 1ª edição. Itaquaquecetuba, SP: Editora Missionária “A Verdade Presente”, 2009. Gonzalez, Lourenço. Verdade Presente. 3ª edição. Niterói, RJ: Editora ADOS, 1992. Gonzáles, Lourenço. Assim Diz o Senhor... 3ª edição. Rio de Janeiro, RJ: Edição do Autor, 1986.


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo Haynes, Carlyle B. Do Sábado Para o Domingo. 3ª edição. Tatuí – SP: Casa Publicadora Brasileira, 1994. História do Homem nos Últimos Dois Milhões de Anos. 4ª edição, Reimpressão e Encadernação. Ambar, Porto, Portugal: Selecções do Reader’s Digest, 1978. Koogan/Houaiss. Enciclopédia e Dicionário Ilustrado. Edições Delta. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan, 1993. Lindsay, Gordon. Os Fatos Sobre o Sétimo Dia. Tradução: Noé P. Campos. 1ª edição. Rio de Janeiro, RJ: Graça Artes Gráficas e Editora Ltda. MacDowell, Josh; Stewart, Don. Respostas àquelas perguntas: o que os céticos perguntam sobre a fé cristã. 2ª edição. São Paulo, SP: Editora e Distribuidora Candeia, 1992. MacMillen, S.T., Nenhuma Enfermidade. 1ª edição. São Paulo, SP: Editora Vida, 1986. Marsh, Frank Lewis. Estudos Sobre Criacionismo. 1ª edição. Santo André, SP: Casa Publicadora Brasileira. Melo, Edino. 77 Verdades Sobre o Sábado e o Adventismo à luz da Bíblia. Folheto. 1ª edição. Campinas, SP: Transcultural Editora, 2008. Nichol, Francis D. Respostas a objeções: uma defesa bíblica da doutrina adventista. Tradução: Francisco Alves de Pontes. 1ª edição. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2004. Noll, Mark A. Momentos Decisivos na História do Cristianismo. Tradução: Alderi Souza de Matos. 1ª edição. Cambuci, SP: Editora Cultura Cristã, 2000. Pereira, José. A Cruz Antes da Cruz. 4ª edição. Curitiba, PR: Editora Tempos Ltda, 2003. Paulo II, João. Carta Apostólica “Dies Domini”. 1ª edição. São Paulo, SP: Paulinas, 1998. Questões sobre doutrina: o clássico mais polêmico da história do adventismo. Notas e introdução histórica e teológica por George R. Knight. Tradutor das notas: Josemir Albino do Nascimento. Edição anotada. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2008. Rinaldi, Natanael; Romeiro, Paulo. Desmascarando as Seitas. 1ª edição. Rio de Janeiro, RJ: Casa Publicadora das Assembléias de Deus, 1996. Silva, D. Peixoto da e Siqueira, José Nunes. Calendários e Leis. Folheto. Santo André, SP: Casa Publicadora Brasileira. Silva, Milton Vieira. A Verdade Sobre o Sábado. 2ª edição. Curitiba, PR: A. D. Santos Editora Ltda, 1966. http://www.bibliaonline.com.br/acf/mt/1


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sรกbado e o Domingo http://www.jesusvoltara.com.br/buscalivros.htm http://www.sbb.org.br/interna.asp?areaID=67 http://pt.wikipedia.org/wiki/Constantino_I


LEANDRO BERTOLDO A Lei, o Sábado e o Domingo

ENDEREÇOS CONHEÇA MAIS SOBRE AS ESCRITURAS SAGRADAS VISITANDO OS SEGUINTES ENDEREÇOS EM MOGI DAS CRUZES: Socorro – R. Aristóphanes Cataldo Éboli, 305 – Vl. Oliveira Botujuru – Av. Felipe Sawaya, 154 – Cl. São Paulo Brás Cubas – R. Odilon Afonso, 80 – Brás Cubas Vila Cléo – R. Celeste Amaroso Mulheise, 123 – Vl. Lavínia César de Souza – R. Pereira Barreto, 22 – César de Souza Jd. Santa Cecília – R. Massao Kakiute, 159 – Jd. Santa Cecília Jundiapeba – R. Benedito de S. Branco, 80 – Vl. Stº Antonio Mogi das Cruzes – R. Cel. Santos Cardoso, 434, Jd. Santista Sabaúna – R. Joaquim G. de Faria, 26 - Sabaúna Vila Natal – R. Desidério Jorge, 402 – Vila Natal Vila Nova Jundiapeba – R. Alfredo Crestana, 590 Jardim Margarida – R. Fátima, 115 – Jd. Margarida Biritiba Mirim – Av. Maria José Siqueira Melo, 280 – Centro Jd. dos Eucaliptos – Rua José Servulo da Costa, 777 –B. Mirim Casqueiro – Estrada Servidão, 50 – Biritiba Mirim Cocuéra – Faz. Hollancountry, Cocuéra – Biritiba Mirim Pomar do Carmo – R. das Acácias, 60 – Biritiba Mirim


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.