TFG Avenida Paulista - Roteiro de Arquitetura

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Avenida Paulista Roteiro de arquitetura Marina Nardin Prado

Trabalho Final de Graduação



Avenida Paulista Roteiro de arquitetura

Universidade de São Paulo Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Trabalho Final de Graduação 2012 Marina Nardin Prado orientadora

Mônica Junqueira de Camargo


Agradecimentos Agradeço aos meus pais que me deram apoio em todos os momentos desta caminhada; À professora Mônica Junqueira que gentilmente me orientou neste trabalho; Aos meus amigos e aos meus professores da FAUUSP que me acompanharam durante estes cinco anos.


Índice Introdução ___________________________ pág. 7 Contexto histórico ______________________ pág. 9 Estudos de caso _______________________ pág. 12 Referências ___________________________ pág. 30 Projeto gráfico ________________________ pág. 34 Considerações finais ___________________ pag. 49 Bibliografia ___________________________ pág.51


“Em nenhuma outra avenida em São Paulo podemos constatar de forma mais evidente essa afirmação: as lembranças são mais duradouras do que o cenário construído” Benedito Lima de Toledo Álbum iconográfico da Avenida Paulista. São Paulo, 1987


Introdução O presente trabalho procura apresentar e despertar o interesse pela arquitetura que se desenvolveu, por mais de um século, na “mais paulista das avenidas”. Avenida que aqui é compreendida como multiplicidade e contraste, pois enxergá-la apenas como centro financeiro é descartar todas as outras vocações que a tornam única no contexto da cidade. Dentre os motivos pelos quais se escolheu estudar a Avenida Paulista nesse trabalho, destaca-se a sua capacidade de sintetizar um período significativo de transformações sofridas pela cidade de São Paulo, durante o qual observou-se desde a ocupação horizontalizada de áreas que já não eram mais vistas como centrais até a gradativa substituição dessas moradias unifamiliares pela verticalização. A Paulista ainda guarda registros de todas essas etapas, o que nos permite, numa caminhada linear, observar diversos momentos da arquitetura paulistana. A análise destes edifícios selecionados é realizada neste roteiro de forma sucinta, sem nenhuma pretensão de exaurir o assunto, buscando pontuar algumas questões que possam servir como base para a visitação das obras e que sejam capazes de catalizar o interesse por esses edifícios que, em muitos casos, já fazem parte do cotidiano do observador, mas que passam despercebidos. Assim, este trabalho é um convite para explorar a cidade e apreendê-la de uma outra forma, pois para conhecer a arquitetura é fundamental vivenciá-la.

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Contexto histórico “A cidade de São Paulo é um palimpsesto – um imenso pergaminho cuja escrita é raspada de tempos em tempos, para receber outra nova, de qualidade literária inferior, no geral. (…) Capaz de criar uma Avenida Paulista, única por sua posição na cidade e insubstituível em sua elegância, para aos poucos destruí-la minuciosa e repassadamente. E sem remorso.”

Inauguração da Avenida Paulista – Aquarela de Jules Martin, 1891

Loteamento da Avenida Paulista – TOLEDO, Benedito Lima de. Álbum Iconográfico da Avenida Paulista. São Paulo, 1987

Benedito Lima de Toledo São Paulo: três cidades em um século. São Paulo, 1981

Inaugurada em 1891, foi idealizada pelo engenheiro agrônomo Joaquim Eugênio de Lima que adquiriu, junto aos seus dois sócios, terrenos localizados ao longo de uma trilha já existente. Desse loteamento surge a Avenida Paulista como uma resposta urbana para a grande efervescência da metrópole no final do século XIX e no início do XX, atendendo aos barões do café e à classe burguesa que surgiu com a industrialização. Desde o projeto do loteamento, a Avenida Paulista já tinha destaque dentre as demais, sendo que as outras ruas possuíam dimensões menores do que as dela. O local de implantação também foi cuidadosamente escolhido, atendendo às demandas da elite que considerava as regiões altas da cidade como sinônimo de salubridade, conceito bastante difundido e valorizado na época. Tais condições também remetem à posição de mirante, permitindo uma vista muito interessante de boa parte da cidade. Os imensos lotes foram ocupados inicialmente pelas mansões em estilo eclético dessa parcela rica da população, que, nos primeiros anos, as utilizavam mais como segunda residência, pois a avenida ainda não dispunha de água, luz e esgoto – coisas com as quais aquela classe já estava acostumada. 9


Contexto histórico

Em meados da primeira metade do séc. XX, a paisagem do local começou a se transformar. Concomitante ao processo de expansão urbana que acontecia em São Paulo e devido à quebra da bolsa de valores de Nova Iorque, em 1929, muitas famílias deixaram de ter condições de manter suas residências na Avenida Paulista e foram obrigadas a vendê-las, o que deu início ao processo de demolição dos casarões e verticalização do local, uma vez que os compradores tinham interesse nos amplos terrenos – passíveis de abrigar edifícios de alto padrão – e não nos im óveis existentes. Os novos edifícios construídos na Avenida foram projetados segundo os princípios modernos, que passaram a simbolizar no Brasil progresso e identidade nacional, tentando se opor ao estilo eclético dos antigos casarões que tanto remetiam aos modelos europeus. A ideia de modernização, que mascarava o real objetivo lucrativo, foi utilizada como justificativa para a demolição dos palacetes que, até então, caracterizavam a Paulista. Os primeiros edifícios foram construídos com uso exclusivamente residencial, mas, aos poucos, outros usos foram surgindo – inicialmente o comércio no térreo desses conjuntos e, a partir da década de 60, a instalação de grandes empresas. Dessa forma, a região passou a condensar diversas funções que antes eram encontradas no centro histórico e o centro de poder da cidade foi passando, progressivamente, de lá para o eixo da Paulista, que, na década de 70, consolidou-se como novo centro. Nos anos que se seguiram, os edifícios construídos na região seguiram uma estética pós-moderna e voltada ao international style, com a instalação de muitas sedes de bancos e outras importantes instituições, além do fortalecimento de importantes âncoras culturais, como o MASP, o que foi fundamental para a consolidação da avenida como ícone.

Edifíciosde apartamentos novos e os antigos casarões – Acervo Eletropaulo, 1957

Edifícios comerciais da década de 80 – Foto: Marina Prado

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Contexto histórico

Manifestação de professores no MASP – Foto: Carolina Iskandarian/ G1, 2008

A Paulista surgiu já com uma imagem simbólica muito forte, representando a elite oligárquica da cidade e, até hoje, simboliza aspectos selecionados – tais quais riqueza, trabalho e grandiosidade – que são expostos e reproduzidos pelo governo como forma de publicidade, sendo capazes de concretizar o reconhecimento de São Paulo. Essa visão claramente oculta as outras faces da cidade e os problemas que possui, de forma geral inerentes às metrópoles capitalistas. Apesar dessa simbologia, o que de fato foi capaz de transformá-la num ícone foram as apropriações que ela sofreu até hoje por parte de uma série de forças sociais que vão desde as sedes dos grandes bancos até as associações de classes trabalhadoras e movimentos estudantis. Mais do que os grandes bancos, são justamente essas outras forças e os espaços culturais locados na avenida que têm o poder de fortificar e fixar o ícone, pois dão movimento ao seu espaço e o conectam à cultura de sua época.

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Estudos de caso Para compor este roteiro, foram estudados 15 edifícios que estão dispostos ao longo da Avenida. A seleção dessas obras foi feita buscando enfatizar a visão de Paulista a que é trabalhada neste guia, considerando a existência de múltiplos usos e de diversos períodos históricos. Assim, foram selecionados algumas edificações da primeira fase de ocupação da Avenida - as residências unifamiliares, o hospital e o grupo escolar - retratando a presença da arquitetura eclética e visando a valorização desse patrimônio histórico que foi tão ameaçado e destruído no local. Além disso, foram escolhidas obras de arquitetura moderna e outras mais contemporâneas que revelam as diversas vocações da Paulista na atualidade. Dentre elas, destaca-se a de centro financeiro, concentrando instituições bancárias e sedes de grandes empresas, tais quais as agências dos bancos Safra e Itaú (cujo edifício originalmente pertencia ao banco Sul Americano), a sede da FIESP e a do grupo Gazeta, que, abrigando sua antena de rádio, também simboliza a presença desse elemento tão característico do local. Outra atividade que aparece com destaque no trabalho é a de centro cultural. Além do Masp, principal referência quando se fala em cultura na Av. Paulista, encontramos também a Casa das Rosas - que abriga uma biblioteca municipal; o Instituto Cultural Itaú e outros que não ocupam um edifício inteiro mas contribuem muito na formação desse cenário, como o Centro Cultural FIESP (no edifício sede da fundação), o complexo da Reserva Cultural (localizado no edifício Cásper Líbero) e algumas áreas no térreo do Conjunto Nacional. Embora a ocupação residencial não seja um dos usos predominantes na Avenida Paulista contemporânea, esse tipo de edifício foi abordado diversas vezes neste roteiro devido principalmente à qualidade arquitetônica de seus representantes. 12


Se tratando de um trabalho de graduação em arquitetura, a questão do valor arquitetônico e estético foi considerada fundamental e, dessa forma foram escolhidas cinco obras com usos residencial e misto: os edifícios Paulicéia, Anchieta, Três Marias, Nações Unidas e Conjunto Nacional. No que diz respeito à análise destas obras selecionadas, seu desenvolvimento foi estruturado procurando, a princípio, conectar cada edifício ao contexto geral da Avenida, abordando a questão histórica ou as particularidades de cada um em relação aos demais. Após essa primeira introdução, cada obra foi analisada de forma mais independente, com destaque para suas características mais interessantes. Além disso, cada estudo de caso conta com um cabeçalho de informações-síntese, tais quais nome do edifício, data e autor do projeto e tipo de uso da edificação. Tais textos foram produzidos e pensados para atingir um público alvo bastante diversificado. Dessa forma, deseja-se que a linguagem utilizada e as informações neles contidas sejam passíveis de serem apreendidas por um leitor leigo interessado em arquitetura mas também úteis ao estudante da área. A seleção 15 obras pode ser uma amostragem relativamente pequena dentre cerca de 125 edifícios que formam o eixo; contudo, creio que a expressividade de cada uma delas torne suficiente a quantidade de estudos que foram realizados para compor o roteiro, considerando ainda que esse número foi em grande parte determinado pelo tempo que se dispunha - o período de um TFG - e que, certamente, tantos outros mereceriam atenção caso houvesse a possibilidade de continuação desse trabalho. Na tentativa de contemplar mais algumas obras interessantes, outros 19 edifícios foram destacados no guia a partir da inserção de algumas informações básicas sobre os mesmos, como nome, data de projeto, arquiteto e tipo de uso. 13


Estudos de caso A seguir encontra-se reproduzida na íntegra a coletânea de textos que compõem este roteiro. Os edifícios foram organizados em ordem cronológica de construção com a finalidade de enfatizar, para o leitor, a gradativa transformação pela qual a Paulista passou.

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Res. Franco de Mello – 1905

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Antônio Fernandes Pinto Residência No. 1919 – Próximo à Al. Min. Rocha de Azevedo Não há acesso público ao interior do edifício

Projetada pelo engenheiro português para a família de Joaquim Franco de Mello, um barão do café, a residência é um dos poucos remanescentes da primeira ocupação residencial da avenida. Foi tombada pelo Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do estado de São Paulo) em 1992, o que garantiu sua existência até os dias atuais. Conhecida também como Casa 1919, apresenta em seu projeto arquitetônico influências do classicismo francês, possuindo um medalhão no arco principal da fachada, típico do estilo, e um torreão na extremidade oposta, do qual era possível avistar a baixada do rio Pinheiros, uma vez que a Paulista se localiza numa das cotas mais altas da cidade. Embora projetadas em estilo eclético, as casas dessa fase também guardavam algumas tradições da arquitetura rural, ligadas à origem dos seus ocupantes, tais quais os jardins em frente à casa e a horta nos fundos. Além disso, um tratamento especial era destinado ao hall de entrada, que fazia a ligação entre os espaços sociais da casa e preservava a intimidade dos moradores. Na ausência de obras de manutenção ou restauro, a casa chegou até o presente momento em um estado elevado de deterioração, sendo ocupada apenas eventualmente e servindo como um registro da forma como o patrimônio histórico foi tratado durante a evolução da avenida.

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Estudos de caso

Hospital Santa Catarina – 1906, 1952 e 2002

A edificação construída em estilo eclético abriga aquele que foi primeiro o hospital particular da cidade. Sua localização na avenida forma uma espécie de eixo junto a outros importantes hospitais da região. Inicialmente era composto apenas por um edifício principal e por uma capela localizada mais ao fundo do lote, ambos em estilo eclético. Contudo, desde a data de construção, o prédio passou por diversas alterações em suas instalações e também sofreu modificações em seu uso. Em 1952, o edifício recebeu seu primeiro bloco anexo, locado atrás do prédio principal e que pode ser apenas parcialmente observado a partir da Paulista. Essa nova edificação foi construída segundo um estilo contemporâneo à época e com a finalidade de abrigar a Escola de Auxiliares de Enfermagem Santa Catarina. O mais recente anexo do hospital foi concluído em 2002, o que permitiu a ampliação das alas de atendimento. Projetado com linhas simples e revestido com placas de vidro e de mármore, revela-se elegante sem ofuscar a presença do edifício mais antigo. As fachadas principais de ambos, dispostas lado a lado, voltam-se para a Paulista e revelam um interessante contraste que ressalta as transformações pelas quais a avenida passou em um século.

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www.hsc.org.br

Antonio Rapp, Jorge Przirembel, Adolpho R. Morales e Fábio Sá Moreira Hospital No. 200 - Esquina com a R. Teixeira da Silva Acesso controlado ao interior do edifício


Estudos de caso

Grupo Escolar Rodrigues Alves – 1907

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Escritório Ramos de Azevedo Escola estadual No. 227 – esquina com a R. Teixeira da Silva Acesso controlado ao interior do edifício

A edificação abriga a única escola pública da Av. Paulista, sendo também um dos primeiros exemplares de arquitetura escolar da cidade com base nos novos programas governamentais da época, os quais consideravam a necessidade de edifícios projetados especificamente para a educação. Projetado em estilo eclético, sua fachada é composta por elementos neoclássicos, conforme era usual na época. Os ornamentos que compõem seu desenho – com destaque especial para os diferentes tratamentos das janelas – refletem a preocupação com ritmo e hierarquia na constituição do conjunto. Em seus dois pavimentos, o edifício concentra os diversos usos da escola, tais quais as salas de aula e as funções administrativas. A construção posterior de um galpão no fundo do lote foi necessária para complementar esses usos, abrigando quadras esportivas e seus respectivos ambientes de apoio. Foi tombado pelo Condephaat em 1985 e passou por restauro de 2003 a 2005. O uso da edificação foi mantido e atualmente a escola atende alunos do Ensino Fundamental e da Educação de Jovens e Adultos.

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Estudos de caso

Casa das Rosas – 1928

A Casa das Rosas é um dos poucos casarões remanescentes da primeira fase de ocupação residencial da Av. Paulista, durante a qual essa tipologia de palacete foi tão característica do local. Diferentemente de tantas outras casas da época, foi preservada até os dias atuais, sendo tombada em 1985 pelo Condephaat. Esta permanência permite ao transeunte observar os contrastes que compõem a Avenida uma vez que, ao fundo do lote, pode-se ver o edifício Parque Cultural Paulista, que foi projetado visando uma convivência harmoniosa com o edifício tombado. A residência, projetada já tardiamente em estilo eclético, apresenta uma fachada que agrega elementos arquitetônicos franceses, enquanto o interior da edificação é ainda mais diversificado, combinando elementos decorativos típicos de outros estilos. O imóvel apresenta espaços grandes e cerca de 30 cômodos no edifício principal, os quais se dividem claramente em área social, íntima e de serviços. A edificação é cercada por amplos jardins de roseiras, o que conferiu à residência o nome de Casa das Rosas. O alargamento da Paulista na década de 70 reduziu as dimensões do jardim, mas boa parte deste ainda permanece e pode ser observada. Restaurada no final da década de 80, abriga agora o centro cultural “Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura”, o qual conta com uma biblioteca temática de poesia e desenvolve diversas atividades gratuitas abertas ao público. 18

www.sampaonline.com.br

Escritório Ramos de Azevedo Centro cultural (originalmente residencial) Construtora Marino Barros – restauro 1989 No. 37 – Próximo à R. Leôncio de Carvalho Aberto de ter. a sab. 10h/22h; dom. e feriados 10h/18h


Estudos de caso

Edifício Anchieta – 1941

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Marcelo Roberto e Milton Roberto Edifício residencial No. 2584 – Entre a Av. Angélica e a R. da Consolação Não há acesso público ao interior do edifício

A construção deste edifício de apartamentos marca o início do acelerado processo de verticalização da Avenida que, antes da inauguração do Ed. Anchieta, era constituída apenas por residências unifamiliares. A fachada do edifício modernista é composta por elementos que se distribuem de forma alternada, sendo necessária uma observação mais atenta para compreender a lógica do conjunto. As faixas amarelas de revestimento harmonizam-se com as azuis e, mesmo com sua tonalidade pastel, dão vida à fachada. As plantas das unidades também são variadas, sendo algumas duplex enquanto outras ocupam apenas um pavimento. A vedação em tijolos de vidro disfarça o volume do térreo, deixando em evidência os pilotis e criando uma sensação de que esse pavimento é livre, embora ele não o seja. O térreo sofreu alterações em seu uso e hoje se encontra desocupado, mas já abrigou lojas e um tradicional bar da cidade, o Bar Riviera. A edificação apresentava generosos recuos das extremidades do lote, o que garantia ao conjunto grandes áreas ajardinadas. Contudo, o alargamento da Paulista, realizado na década de 70, deu fim a essa característica agradável aos moradores e à cidade.

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Estudos de caso

Edifício Três Marias – 1952

O edifício de apartamentos de alto padrão, projetado segundo princípios modernistas, é um exemplar representativo da segunda fase de ocupação residencial da avenida, durante a qual esse tipo de uso apareceu aliado à verticalização. Os volumes dispõem-se em L ao redor de um pátio interno, favorecendo a insolação e a ventilação das unidades. A diversidade dos apartamentos – cujas áreas variam – revela–se externamente, ao mesmo tempo em que os balcões em balanço, dispostos alternadamente, dão movimento ao desenho da fachada. A partir do 12° andar, os balcões deixam de se voltar para a Paulista e passam a olhar para a rua Haddock Lobo, o que resulta numa interessante composição que dá leveza ao edifício e lhe confere mais personalidade. As cores também têm um papel importante na constituição da fachada, sendo que o rosa e o azul cobrem grande parte de sua área. O térreo, que inicialmente era ocupado por residências e por um belo jardim, teve agora seu uso substituído, abrigando imóveis comerciais e uma área de estacionamento.

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Abelardo de Souza Edifício de uso misto (predominantemente residencial) No. 2239 – Esquina com a R. Haddock Lobo Acesso público apenas às lojas do térreo


Estudos de caso

Edifício Nações Unidas – 1953

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Abelardo de Souza Uso misto (predominantemente residencial) No. 620 – esquina com a Av. Brigadeiro Luís Antônio Acesso público à galeria no térreo

A execução desse projeto inaugura a presença de usos diversificados na Avenida Paulista, a qual, até então, era estritamente residencial. O Ed. Nações Unidas é o primeiro com uso misto, sendo reflexo de outros empreendimentos implantados no centro antigo da cidade e que foram bem sucedidos com programas semelhantes. Os dois volumes de unidades residenciais estão dispostos perpendicularmente entre si e contam com uma galeria comercial no pavimento térreo. Pode-se observar a preocupação formalista do projeto, que propôs a presença de diversos elementos compositivos na fachada, tais quais os cobogós amarelos voltados para a Paulista e a marquise com recortes circulares que se observa da Av. Brigadeiro Faria Lima. O tratamento cromático também é diversificado em cada bloco do edifício, sendo que uma observação atenta de todos os seus ângulos pode revelar diversos detalhes projetados pelo arquiteto. No térreo também há um mural em cerâmica do artista plástico Clóvis Graciano, completando o tratamento plástico do conjunto. A obra se insere dentro da tentativa de integração das artes, conceito bastante explorado pelos modernistas e que pode ser encontrada também em outros edifícios da avenida.

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Estudos de caso

Edifício Conjunto Nacional – 1955

O primeiro edifício da avenida a reunir escritórios junto às residências e estabelecimentos comerciais foi projetado inicialmente como um hotel. Contudo, os empreendedores da época não conseguiram visualizar o potencial da avenida para esse tipo de uso, alterando o programa. Extremamente conectado à rua, o bloco horizontal do conjunto apresenta amplas passagens que permitem adentar o edifício. O mosaico português da calçada continua no espaço interno, contribuindo com a idéia de integração. As lojas estão localizadas nesse nível térreo, assim como o espaço destinado a exposições e a rampa helicoidal que dá acesso ao jardim de cobertura – mirante para a avenida que vale a visita. A lâmina vertical, por sua vez, concentra as unidades residenciais e os escritórios. As entradas para cada tipo de uso são distintas, o que permite aos moradores acessar suas unidades em qualquer horário, enquanto o restante do edifício só é aberto em horário comercial. Durante seu uso, algumas modificações ocorreram, como a construção de lojas que reduziram a largura dos corredores e o acréscimo de um bloco sobre a cobertura, alterando um pouco a concepção original no que se refere à composição de volumes.

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David Libeskind Uso misto No. 2073 – Entre as ruas Padre João Manuel e Augusta Acesso público ao bloco horizontal


Estudos de caso

Edifício Paulicéia – 1956

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Jacques Pilon e Gian Carlo Gasperini Edifício residencial No. 960 – Entre as alamedas Campinas e Joaquim Eugênio de Lima Não há acesso público ao interior do edifício

O edifício Paulicéia, exclusivamente residencial, é parte de um conjunto de implantação bastante peculiar no contexto da avenida, pois ocupa, junto ao Ed. São Carlos do Pinhal, um lote que atravessa a quadra inteira até a rua que dá nome ao segundo prédio. Os dois edifícios são paralelos e distanciados por um grande vazio ajardinado de uso coletivo. As unidades residenciais do Paulicéia apresentam tamanhos diversos, mas essa característica não se reflete de forma tão visível na fachada, diferentemente do que ocorre em outros projetos da avenida. Ela é dividida em faixas horizontais uniformes que compõem um jogo cromático muito interessante, sendo essas faixas ora formadas pelas persianas de madeira, ora pelo peitoril azul e branco. A abertura – ou não – das janelas adiciona mais uma possibilidade à composição e dá um aspecto dinâmico e divertido à fachada. O Edifício São Carlos do Pinhal, que se localiza atrás do Paulicéia, é semelhante em termos de planta e fachada, apresentando, contudo, um jogo de cores diferente. O conjunto de edifícios foi tombado pelo Condephaat em 2010, o que evidencia a qualidade desse projeto da arquitetura moderna e o torna parte do patrimônio histórico do estado de São Paulo.

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Estudos de caso

MASP – 1957

O MASP é certamente uma das principais âncoras culturais da Paulista, com grande importância devido à sua arquitetura, ao seu acervo e às exposições que realiza. Mais do que isso, o museu é um dos mais representativos ícones da avenida e da cidade de São Paulo, sendo que seu vão livre é frequentemente palco de diversas manifestações socioculturais. O edifício do museu é composto principalmente por três grandes espaços: o icônico bloco de vidro e concreto, suspenso por duas vigas vermelhas bi-apoiadas, onde se concentram a pinacoteca e alguns serviços, distribuídos em dois pavimentos; a esplanada que se desenvolve no nível da Av. Paulista sob os 74m de vão livre do edifício principal e funciona como mirante voltado para o centro da cidade; além de dois níveis de subsolo, concentrando auditórios, sala de exposição e reserva técnica. O projeto inicial previa que o volume envidraçado fosse inteiro em concreto, mas o material foi alterado devido a questões estruturais, deixando o bloco mais leve. Além disso, na data de sua inauguração, os pilares e vigas que hoje são pintados de vermelho não tinham revestimento, sendo o concreto aparente. O museu só recebeu a pintura prevista no projeto original em 1990, na ocasião de seus 40 anos.

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Lina Bo Bardi Museu No. 1578 – Entre as ruas Plínio Figueiredo e Prof. Otávio Mendes Aberto de ter. a dom. 11h/18h


Estudos de caso

Banco Sul Americano – 1962

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Rino Levi Arquitetos Associados Banco No. 1930 – Esquina com a R. Frei Caneca Acesso público ao bloco horizontal

O edifício modernista é um dos marcos da chegada das atividades bancárias na avenida, colaborando para a consolidação do local como centro de poder econômico, cuja abrangência atingiu até mesmo níveis internacionais. Também é um marco na arquitetura brasileira, sendo considerada por diversos críticos como uma das mais bem-sucedidas obras da época. A edificação é composta por dois volumes principais: uma base horizontalizada e um bloco superior em formato de lâmina, tipologia que foi bastante utilizada no período. O volume inferior que ocupa quase toda a área do terreno recebe as diversas instalações do banco e, sobre ele, um terraço jardim destaca visualmente os dois volumes e permite a iluminação zenital do primeiro andar. A lâmina foi resolvida com planta livre, facilitando o planejamento do layout dos escritórios que estão localizados nesses andares. O tratamento das fachadas deste volume vai além de questões estéticas, sendo resultado de um minucioso estudo de insolação que visa proteger as áreas atingidas pelo sol. A fachada voltada para a avenida, por sua vez, é revestida com placas de mármore e barras em relevo que formam um padrão geométrico interessante e discreto. O piso da calçada, em mosaico português, apresenta um desenho que dialoga com o da fachada. No decorrer dos anos, o edifício manteve sua função embora tenha deixado de pertencer ao Banco Sul Americano, o qual foi incorporado por outra empresa da mesma categoria. 25


Estudos de caso

Edifício Cásper Líbero – 1966

A edificação que abriga a TV Gazeta e as Rádios Gazeta – além de suas respectivas torre e antena – é um exemplar representativo desse tipo de ocupação na Paulista. Uma vez que a avenida está localizada numa das partes mais altas da cidade, os prédios da avenida são, em muitos casos, suportes de antenas de comunicação. Apesar do aspecto padrão da maior parte do corpo do edifício – revestido por vidro com esquadrias metálicas – o que o diferencia dos demais é o interessante mural em alto relevo, na fachada dos primeiros pavimentos, com a palavra “Gazeta” repetida três vezes. Em sua base, uma faixa de vidro rasga o painel, garantindo a iluminação do complexo da Reserva Cultural, ali localizado e que conta com cinema, restaurante e livraria. Além do mural, outra característica marcante é a escadaria de grandes dimensões que dá acesso ao interior da edificação envidraçada, onde estão locados outros usos, como uma faculdade, um colégio, um teatro e diversas empresas da Fundação Cásper Líbero, como o jornal A Gazeta. A vasta quantidade de usos diversos no mesmo local garante ao conjunto uma enorme população e transforma a escadaria num cenário de grande dinamicidade.

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Celso José Maria Ribeiro Usos diversos No. 900 – entre as alamedas Campinas e Joaquim Eugênio de Lima Acesso livre ao complexo da Reserva Cultural e controlado aos demais ambientes


Estudos de caso

Edifício sede da FIESP – 1969

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Rino Levi Arquitetos Associados – edifício de escritórios Paulo Mendes da Rocha – Centro Cultural FIESP 1996 No. 1313 – Próximo à R. Pamplona Acesso público aos serviços do térreo e mezanino

Na data de implantação desse edifício, a Avenida Paulista já se caracterizava como local de convergência de grandes empresas, atraindo então a sede das entidades representativas da indústria do estado de São Paulo. Sendo este estado o principal centro industrial brasileiro, era desejado pela FIESP que o seu edifício sede fosse marcante a ponto de se transformar num ícone. O objetivo foi atingido através de seu local privilegiado de implantação e de sua forma em tronco de pirâmide – original e distinta do formato dos demais prédios da avenida. O partido de projeto, contudo, não foi meramente formalista: a disposição escalonada dos pavimentos permite andares com dimensões variáveis, o que facilita a organização dos escritórios que têm necessidades de espaço distintas. Além disso, racionaliza os fluxos, concentrando a maior parte da população na base da pirâmide e aliviando o sistema de elevadores. Todo o volume é revestido por uma grelha de alumínio que funciona como brise e disfarça o escalonamento dos pavimentos. Os pavimentos térreo e mezanino receberam intervenção de Paulo Mendes da Rocha na década de 90. Esses locais contam com teatro, sala de exposições e biblioteca pública. São encontrados também nesses níveis interessantes murais em alto relevo do paisagista Roberto Burle Marx; para observar um deles, vale a pena dar a volta no quarteirão até a Al. Santos e conhecer a outra fachada do edifício.

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Estudos de caso

Agência Banco Safra – 1984

O uso destinado a esse edifício é um dos mais comuns no contexto da Paulista. Contudo, o mesmo não pode ser dito de sua volumetria que, baixa e compacta, contrasta com a predominante verticalidade da avenida, resultado do alto valor imobiliário de seus lotes. A edificação, em vidro e concreto aparente, é estruturada com lajes em forma de grelha e torres que abrigam os elementos fixos, como escada e serviços, de tal forma que todo o restante da planta seja livre, permitindo variações no layout do pavimento. Quanto à fachada, os elementos de maior destaque certamente são as grelhas e jardineiras em balanço, presas à estrutura principal por meio de tirantes, conferindo sensível leveza à composição. O paisagismo, assim como o desenho da calçada em mosaico português, são projetos de Roberto Burle Marx e se destacam quando comparados com o restante do calçamento e arborização da avenida.

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Sidônio Porto Agência bancária No. 1063 – Esquina com a Al. Campinas Acesso livre aos serviços do banco


Estudos de caso

Instituto Cultural Itaú – 1995

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Ernest Robert de Carvalho Mange Centro cultural No. 149 – esquina com a R. Leôncio de Carvalho Aberto de ter. a sex. 10h/21h; sáb., dom., e feriados 10h/19h

A sede do Instituto Cultural Itaú é mais um edifício que, junto aos demais de mesmo uso que se localizam na Avenida, contribui para a caracterização da Paulista como um importante centro de cultura. Apesar das dificuldades encontradas para a viabilização do projeto no local, os seus idealizadores fazem questão de enfatizar as características da Avenida que motivaram a escolha, tais quais o caráter icônico do local, capaz de agregar valor à Instituição, e o fácil acesso ao mesmo, que na época já era servido por três linhas de metrô e inúmeras de ônibus. A fachada da edificação é composta por elementos vítreos e metálicos, mas se destaca dentre os outros prédios envidraçados devido à inversão na ordem de suas camadas: a parede de vidro, ao invés de se revelar na parte mais externa, como uma pele, foi posicionada por dentro da estrutura metálica. Dessa forma, a treliça que proporciona a estruturação do volume é visível a partir da rua, se traduzindo de uma forma quase didática para o observador. As treliças metálicas eram inicialmente amarelas e contrastavam com o azul dos vidros refletivos, mas foram pintadas de branco posteriormente. Para comportar o extenso programa de necessidades do Instituto num terreno de pequenas dimensões, a solução utilizada foi a verticalização. Internamente, edifício reúne quatro áreas para exposições, auditórios, biblioteca, videoteca e restaurante. Além disso, possui um mirante, localizado no 9o. andar, que permite observar a Avenida Paulista e também o centro da cidade. 29


Referências Foram analisados alguns guias de turismo e arquitetura com a finalidade de desenvolver uma maior proximidade com a linguagem utilizada nesse tipo de publicação e também para coletar elementos passíveis de aplicação no projeto aqui desenvolvido. Analisou-se o formato, as informações contidas e a forma de organização das mesmas em cada um dos guias que são bastante distintos entre si. São eles: Arquitetura: Avenida Paulista; o Guia Arquitectonica y Urbanistica Montevideo e o guia Promenades d’architecture a Paris. Além disso, foram encontradas também outras referências que não são exatamente guias, mas que contribuíram muito em termos de linguagem gráfica. Dentre essas referência, a primeira obtida foi um calendário de 2010 adquirido durante uma viagem a Barcelona que reúne, em forma de desenho, diversos projetos do arquiteto Antoni Gaudí na cidade.

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Calendário que reúne as obras de Antoni Gaudí em Barcelona


Outras referências desse tipo também foram encontradas após o início do trabalho, tais quais o Chicago Skyline, projeto do arquiteto Ted Naos, o livro Av. Paulista da artista plástica Carla Caffé e o folheto da exposição Aérea Paulista, da mesma autora, realizada na Passagem Literária da Consolação nos meses de julho a agosto de 2012.

Folheto da exposição Aérea Paulista. Carla Caffé. São Paulo, 2011

CAFFÉ, Carla. Coleção Ópera Urbana - Av. Paulista. São Paulo, 2009

Chicago Skyline. Ted Naos

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SOUZA, Edson Eloy. Arquitetura Avenida Paulista. São Paulo, 2011

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Quanto aos guias estudados, encontra-se o livro Arquitetura: Avenida Paulista, de Edson Eloy de Souza que aborda apenas, como indica seu título, os edifícios locados na Avenida Paulista. O guia também apresenta uma breve descrição sobre a história do local e sua relevância na cidade, além de fichas sobre 95 obras arquitetônicas. Tentando facilitar a compreensão do percurso, a Avenida é dividida em sete trechos, os quais contém de dois a quatro quarteirões cada. Os edifícios selecionados são marcados, nesses pequenos mapas, seguindo uma numeração que engloba a avenida toda e posteriormente são detalhados um a um. Cada uma dessas fichas de análise apresenta nome do edifício, data de construção, localização e arquiteto, além de uma breve descrição que contempla aspectos diversos, mas principalmente os que dizem respeito à linguagem arquitetônica da obra. O guia tem um formato de bloco de anotações, contando, inclusive, com páginas pautadas no interior do livro destinadas a notas do leitor-visitante. Tanto a capa quanto a contracapa se desdobram, apresentando em sequência as fotos dos edifícios estudados no guia, de acordo com sua localização na avenida. É interessante notar também que o autor fornece, no final do livro, também as versões em inglês e espanhol do conteúdo escrito, considerando a relevância e interesse da Avenida Paulista no contexto internacional.


O Guia Arquitectonica y Urbanistica Montevideo divide a cidade uruguaia em diversas regiões de interesse para o leitor. Uma delas é o eixo da Avenida 18 de Julio, relevante para o presente trabalho devido a suas semelhanças com a Avenida Paulista. Após uma introdução sobre o histórico e caráter do local, seleciona 40 edifícios, dentre os quais 14 são destacados, apresentando informações como programa, localização, arquiteto, data de construção e/ou projeto e descrição da obra com bastante enfoque nas características arquitetônicas e de inserção urbana, além da foto. Os demais edifícios contemplados pelo guia são identificados apenas com as primeiras características citadas, sem nenhuma descrição mais detalhada ou imagem. As obras são marcados num mapa único da região, localizado nas primeiras páginas de cada capítulo, enquanto, nas páginas seguintes, os edifícios são detalhados seguindo a numeração prévia.

Guia Arquitectonica y Urbanistica Montevideo

Por sua vez, o guia Promenades d’architecture a Paris, de Bert McClure e Bruno Régnier, é apresentado num formato bem diferente dos outros dois. Composto por seis folhetos que se desdobram e são agrupados num envelope, propõe roteiros temáticos pela cidade de Paris. Cada folheto apresenta um mapa da região com o percurso sugerido em destaque. Os edifícios são marcados nessas imagens e linhas de chamadas os conectam às suas respectivas informações, que destacam o principal atrativo da obra. Outras caixas distribuídas pela página fornecem informações diversas ao leitor, focando, algumas vezes, nas obras com maior destaque, embora a maioria das informações abordem assuntos comuns a mais de um edifício. As ilustrações desse guia também se diferem das demais. Enquanto os outros dois contavam com fotos gerais das obras edificadas, o Promenades d’architecture a Paris apresenta interessantes fotos e desenhos cujas escalas vão desde o detalhe arquitetônico até a volumetria completa de um edifício.

Promenades d’architecture a Paris

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Projeto gráfico O projeto gráfico para o livro desenvolvido neste trabalho foi pensado especificamente para a Avenida Paulista, tendo como inspiração algumas características próprias da região, valendo ressaltar que o resultado do projeto provavelmente seria distinto caso o guia abordasse outra área de cidade. Dessa forma, foi desenvolvido um livro sanfona que, quando esticado, reflete a linearidade do objeto de estudo, sendo que sua maior dimensão mede 2,41m. Quando dobrado, o guia adquire as dimensões de 12cmx21cm - formato que foi estudado para facilitar seu manuseio durante uma visita e, ao mesmo tempo, garantir a legibilidade das informações nele contidas. Em uma das faces dessa sanfona foram reproduzidos os textos elaborados para cada obra estudada, enquanto na outra face foram desenhadas as fachadas de todos os edifícios voltados para a Paulista, como um registro da imagem desse logradouro no ano de 2012. Nesse ponto, é importante ressaltar que tais desenhos não compõem um registro técnico da elevação desses edifícios, pois cada desenho é uma leitura - que toma certas liberdades - de sua respectiva fachada e que destaca os elementos que melhor a representam. A questão da escala de impressão foi decisiva nessa opção por um desenho que não é técnico e que brinca com as relações de escala dos elementos, uma vez que a legibilidade do trabalho ficaria comprometida caso todos os componentes da fachada fossem rigorosamente reproduzidos. Sendo assim, este trabalho não deve ser compreendido como um registro científico de cada edifício, mas sim com uma tentativa de permitir que o observador tenha uma compreensão da paisagem que caracteriza a paulista nos dias atuais. É fundamental também lembrar que essa paisagem está em constante transformação e que as obras executadas após a produção desse TFG o tornarão parcialmente desatualizado. 34

Entretanto, essa metamorfose é inerente ao objeto estudado e, apesar das mudanças que ocorrerão nos detalhes, a imagem geral que a Avenida tem hoje ainda levará algum tempo para se transformar. Ainda, esse exercício de leitura e representação da cidade não foi realizado com o propósito de registro apenas. Possui também uma finalidade prática para o usuário do guia, auxiliando na sua localização, uma vez que fornece informações como nomes de ruas e posicionamento das estações de metrô. Informa também, sucintamente, dados relativos aos projetos selecionados, tais quais nome, autor, data e tipo de uso. Para a execução dos desenhos, foram utilizadas como base imagens do Google Street View e outras fotografias tiradas no local. As linhas foram traçadas sobre essas referências no programa de edição de imagens Adobe Photoshop. Com a finalidade de propor uma hierarquia entre os edifícios da Avenida e destacar aqueles que foram analisados, utilizou-se cor na representação dos que foram objeto de estudo. Essa colorização também foi feita utilizando o programa supracitado.


Edifício Anchieta Imagem Google Street View, 2011

A princípio, a imagem foi retirada do Google Street View e tratada para minimizar a distorção da lente fotográfica

A seguir, o desenho foi executado utilizando a imagem da base como referência. Nesse detalhe pode-se observar que a representação não é exata, mas procura manter as proporções originais.

O desenho final foi colorido também no Adobe Photoshop, seguindo uma linguagem que se repetirá nos demais desenhos internos e na ilustração da capa. 35


Projeto gráfico

As ilustrações foram identificadas com informações objetivas sobre os edifícios, sendo elas: nome, data e autor e tipo de uso do projeto.

As obras que foram detalhadas no estudo de caso apresentam também uma numeração que conduz o leitor ao respectivo texto no verso da folha.

Os acessos para o Metrô também foram destacados, recebendo o símbolo da empresa e o nome da estação. As ruas foram sinalizadas seguindo uma linguagem que remete aos totens da Avenida. 36


Projeto gráfico

Visando aproveitar ao máximo o papel, foram impressas duas cópias do guia em cada A0 expandido.

A frente e o verso do livro foram impressas lado a lado e, a seguir, dobradas longitudinalmente na linha tracejada.

Posteriormente foram executadas as dobras na transversal a cada 12cm, dando forma às páginas do livro.

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Projeto gráfico Nas páginas seguintes encontra-se o resultado final das ilustrações produzidas para o roteiro. Neste relatório as imagens foram dividias de acordo com as duplas de páginas que compõem o livro. Além disso, foram dispostas seguindo o sentido Paraíso-Consolação, mas é importante destacar que o projeto foi pensado para se adaptar a qualquer ordem de leitura, independentemente da extremidade da Paulista na qual se iniciará a visitação.

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Projeto grรกfico

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Projeto grรกfico

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Projeto grรกfico

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Projeto grรกfico

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Projeto grรกfico

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Projeto grรกfico

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Projeto grรกfico

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Projeto grรกfico

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Considerações finais Retomando a citação de Benedito Lima de Toledo com a qual se iniciou este trabalho, o cenário que hoje se observa na Avenida Paulista em breve não será o mesmo. Quando isto ocorrer, os desenhos realizados durante este trabalho também não mais corresponderão à realidade do local. Contudo, deseja-se que as memórias que surgirem a partir a utilização deste guia - e das viagens, dos caminhos, das anotações realizadas com o auxílio dele - perdurem por muito mais tempo. Além disso, a memória dessa época, fixada no papel em sua respectiva ilustração, permanecerá. Porque a cidade atual muitas vezes se transforma num palimpsesto, mas não se pode dizer o mesmo a respeito dos livros.

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Bibliografia Periódicos

Livros

Arquitetura e Urbanismo. São Paulo, n.46, 1993

AMARAL, Marina Barros do. Limites e possibilidades: a relação edifício/cidade na avenida Paulista. Dissertação de mestrado. São Carlos, 2007

Construção Metálica. São Paulo, n.26, 1996 Construção São Paulo. São Paulo, n.2498, 1995 Finestra Brasil. São Paulo, n.5, 1996 Habitat. São Paulo, n.57, 1959 Office Real State. São Paulo, n.42, 1996 Projeto. São Paulo, n.21, 1980 Projeto. São Paulo, n.117, 1988

ANELLI, Renato. Rino Levi: Arquitetura e Cidade. São Paulo, 2001 Associação Paulista Viva. Avenida Paulista : símbolo de São Paulo. São Paulo, 2000 CAFFÉ, Carla. Coleção Ópera Urbana - Av. Paulista. São Paulo, 2009 CONSTANTINO, Regina Adorno. A obra de Abelardo de Souza. Dissertação de Mestrado. São Paulo, 2004 MCCLURE, Bert & RÉGNIER, Bruno. Promenades d’architecture a Paris. Paris

Projeto. São Paulo, n.122, 1989

Patrimônio Cultural Paulista: CONDEPHAAT, Bens Tombados 1968 – 1998. São Paulo, 1998

Projeto. São Paulo, n.182, 1995

SIMONI, Jorge Diogo de. Avenida Paulista. São Paulo, 1983

Sites:

SHIBAKI, Viviane. Avenida Paulista: da formação à consolidação de um ícone da metrópole de São Paulo. Dissertação de Mestrado. São Paulo, 2007

www.aflaloegasperini.com.br (acesso em 05/09/2012) www.casadasrosas-sp.org.br (acesso em 05/2012) www.casperlibero.edu.br (acesso em 28/08/2012) www.fcl.com.br (acesso em 28/08/2012)

SOUZA, Edson Eloy. Arquitetura Avenida Paulista. São Paulo, 2011 TOLEDO, Benedito Lima. Álbum iconográfico da Avenida Paulista. São Paulo, 1987 TOLEDO, Benedito Lima. São Paulo: três cidades em um século. São Paulo, 1981 XAVIER, Alberto. Arquitetura moderna paulistana. São Paulo, 1983

www.sp360.com.br (acesso em 28/08/2012) 51


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