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ISBN: 978-85-98387-20-8
Expediente Conselho Editorial Bernadete Teixeira Joana Alves Rita Ribeiro Silvestre Rondon Curvo Orientação do Projeto Gráfico Joana Alves Organizadores Rogério de Souza Roxane Sidney R. de Mendonça Projeto Gráfico e Diagramação Carolina Moraes Santana Marina Campos Takeishi Desenvolvimento da Marca, Capa e Índice Mariana Rena Priscila Lie Sasaki Revisão de Texto Patrícia Pinheiro Estudos Gráficos Inicias Aline Ribeiro Lucas Amaral Matheus Maciel Colaboradores Bianca Oliveira Camila Deschamps João Cézar Oliveira Sofia Coeli Coordenação do Centro de Estudos em Design da Imagem Rosemary Portugal Apoio Laboratório de Design Gráfico - Escola de Design/UEMG Realização Núcleo de Fotografia e Design- Escola de Design/UEMG Editora Emcomum Estúdio Livre LTDA ISBN: 978-85-98387-20-8
APRESENTAÇÃO Tangerine é uma publicação virtual do Núcleo de Fotografia e Design (NUDEF), pertencente ao Centro de Estudos em Design da Imagem da Escola de Design da Universidade do Estado de Minas Gerais (ED/UEMG), que nasceu da vontade de revelar a fotografia como objeto de design e afirmar suas interfaces com as artes. O objetivo deste espaço é divulgar os melhores trabalhos em fotografia, produzidos pelos alunos da ED/UEMG e, eventualmente, de seus professores, além de apresentar fotógrafos que encontramos pelos nossos olhares atentos e que julgamos desenvolver trabalhos autorais ainda pouco conhecidos, mas que merecem ser expostos. O conceito de Tangerine partiu da premissa fundamental das atividades do Núcleo: as experimentações que são os testes, as tentativas e os exercícios fotográficos. O primeiro número da Tangerine é muito mais que o nosso # 1. É o resultado de dois anos de trabalho, dedicação e persistência, entre idas e vindas de alunos e colaboradores do núcleo, até conseguirmos atender às nossas expectativas de uma publicação em fotografia com qualidade gráfica e visual e que buscaremos aprimorar ao longo de nossa caminhada. A cada número da Tangerine será um horizonte descortinado, a partir de pesquisas visuais e descobertas de trabalhos relevantes em fotografia, dentro e fora de nosso grupo. Agradecemos a todos os alunos e professores que acreditaram nesse projeto e que ajudaram na sua concretização. Em especial, agradecemos às alunas Marina Takeishi e Carolina Santana, equipe do NUDEF responsável por essa publicação, e à Professora Rosemary Portugal, coordenadora do Centro de Estudos em Design da Imagem, que sempre incentivou a concretização do nosso trabalho. Agradecemos ainda à professora Joana Alves e ao apoio do Laboratório de Design Gráfico da ED/UEMG pelas orientações das alunas envolvidas no projeto gráfico da Tangerine.
EDITORIAL texto por: Roxane Sidney
Imaginar é preciso; fotografar simplesmente não é preciso. É necessário imaginar, mas fotografar simplesmente não é preciso. Isso porque apenas o ato de clicar o botão de uma máquina fotográfica não é uma necessidade. Mas fotografar pode, também, ser imaginação, uma entrega pessoal e individual, uma forma de representar o mundo. Neste ponto, falo da fotografia em seu sentido mais amplo, não apenas aquela direcionada para exibir e promover a autoimagem, registrar momentos e lugares por onde passamos, ou o que fazemos em nosso dia a dia. Muitas vezes, nesses casos, quem fotografa nem se lembra do motivo de produzir tais imagens. Fotografar vira um vício inconsciente: eu fotografo para me inserir neste mundo das imagens técnicas, porque todos fotografam e preciso ser visto nas redes sociais, pelos inúmeros amigos virtuais, para me expor e expor outras pessoas. Quando passamos a viver em função das imagens que criamos, sem nem ao menos refletir o que estamos fotografando, que mensagens estamos transmitindo de nós próprios, dos outros e do mundo que vivemos, estamos desvirtuando o que entendemos por fotografia. Flusser, em seu texto de 1983, “Filosofia da Caixa Preta”, chama este processo, que vivemos na atualidade, de “idolatria”, quando o homem passa a viver em função das imagens e, apesar de conseguir lê-las, não mais é capaz de imaginá-las, isto é, de codificar fenômenos do mundo em imagens e ser capaz, também, de decodificar imagens que o mundo nos apresenta. Quando não somos mais capazes de imaginar, criar imagens que oferecem um espaço interpretativo aos que as vêem, estamos apenas “adorando” as imagens que criamos, estamos alienados nesse mar de imagens. A fotografia é, hoje, uma mania que contagia multidões e embriaga aqueles que se recusam a refletir sobre o sentido daquilo que produzem e as imagens que consumimos. Ela é tão popular que se torna mais fácil achar quem saiba fotografar, antes mesmo de saber ler e escrever. Se por um lado voltamos ao mundo das imagens, que se aproxima do período anterior à escrita, por outro estamos perdendo o caráter mágico das imagens, tão essencial para a compreensão de suas mensagens.
Esta publicação propõe voltarmos para tempo mágico das imagens, oferecendo ao receptor uma liberdade de interpretação, ao mesmo tempo que quem fotografa está consciente de sua abstração da realidade, que sua fotografia é uma mediação entre o que pensa e o mundo que o cerca e não imagem descartável. Esta última, produzimos sem nem saber o que de fato queremos e nem para onde elas vão após mergulharem no mar de milhares de outras fotografias que passam a se esconder no fundo dos arquivos pessoais de nossos computadores, tablets ou celulares. As fotografias que ora apresentamos foram pensadas, imaginadas e materializadas por seus autores. Por isso, insistimos que fotografar e saber apreciar a fotografia, mas não idolatrá-las, exige uma entrega individual, necessária para se poder apreciar e codificar o mundo em que vivemos em imagens e, também, para um tempo de magia, em que nosso olhar se volta, insistentemente, para a imagem, buscando decodificar a mensagem transmitida. Essa entrega vai além da busca pelo mero registro, induz a uma fotografia que expressa sentimentos e comove quem a vê, que representa e comunica algo que não poderia ser dito em palavras. Nesse sentido, selecionamos, para inaugurar o primeiro número de Tangerine, trabalhos que são, em sua essência, autorais, a princípio, sem fins comerciais, que revelam uma poética pessoal e podem ser interpretados como obra artística, uma forma de extravasar sentimentos e olhares, representando um ser no mundo, ou sonho, uma imaginação. Estes trabalhos não se preocuparam em retratar uma realidade literal, uma cena, simplesmente. Foram selecionados por evidenciar que a fotografia pode muito mais do que apenas registrar pessoas e acontecimentos. Através do fotografar, podemos recuperar a nossa capacidade de imaginar. O ato de fotografar em si, não é preciso. Nem é preciso porque não é este ato que torna a fotografia uma imagem imaginada; nem é preciso porque estabelece uma relação de liberdade entre o emissor e receptor da mensagem codificada em imagem. Convidamos, ao nosso publico, se permitir um tempo mágico, que possibilita essa entrega ao mundo das imagens.
ÍNDICE
08.
AUTORRETRATO
40.
DIAMANTINA
56.
FOTOMONTAGEM
68.
GALERIA
82.
VIAGEM PARA ÍNDIA
98.
O SEGREDO DOS TEUS OLHOS
108.
IMAGINARY BIRDS
124.
PIN-HOLE
AUTORRETRATO texto e fotos: Larissa Grace
Autorretrato é, para mim, uma válvula de escape! Uma forma de libertação e de encontro. É como esperar por alguém que não conheço, mas que sei que chegará, mesmo que sem data ou hora marcada. E quando menos espero, um personagem, em forma de desejo, preenche a minha mente e surge em meio aos pensamentos cotidianos, ganhando vida através de tintas, maquiagens e adereços. Às vezes basta olhar para fora, às vezes basta olhar para dentro, e procurar pelos meus medos, angústias, sonhos, fantasias, verdades e mentiras... e libertá-los. Cada um destes com uma cor, uma personalidade, uma identidade e uma história diferente. Me auto-fotografo com o intuito de criar algo que ainda não exista na minha realidade. É uma forma de externar partes de mim: partes de que eu talvez queira lembrar depois ou de que talvez apenas queira me livrar. No fundo, me autorretratar é como olhar para um espelho e poder conhecer um novo alguém que sempre eternizo com a fotografia.
13.
15.
19.
23.
27.
37.
Larissa Grace. Estudante de Design de Ambientes na Escola de Design da Universidade do Estado de Minas Gerais.
39.
DIAMANTINA Fragmentos visuais (culturais) da cidade no século XXI texto e fotos: Zé Rocha
A EQUAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO DO OLHAR 50.000 CLIQUES DEPOIS...
Primeiro veio o olhar turista. Na cidade pela primeira vez, tudo é novidade. O dedo nervoso que embriaga na sensação que, estando em uma cidade histórica, para onde se aponta a câmera, uma boa foto resulta. Depois, veio o olhar cidadão. Alguns meses morando na cidade, a câmera está incomodada por tantas placas de trânsito e comércio, a “praga” dos adesivos de cartões de crédito, fios, postes, carros e mais carros. Os mesmos problemas de uma cidade grande em um espaço urbano reduzido. Os cliques buscam denunciar tudo isso. Outros meses, muita prosa, bom dia, boa tarde, boa noite e sorrisos de braços abertos. Passo a vivenciar a contemporaneidade de uma cidade histórica que sobrevive ao fim de suas riquezas de outrora. Sobrevivência que traça e retraça o perfil arquitetônico neste século. As imagens agora refletem o bom senso do conservar e habitar. No fim do projeto, “Fragmentos Visuais”, a cidade é o lar que me abriga, a paixão que me encanta, sou responsável por aquilo que me cativa. Conheço cada luz da manhã, a moldura das neblinas, quando chove onde nasce o arco-íris, onde as sombras se projetam na tarde e quais as luzes que adornam a vida noturna. A cidade, desinibida, me revela as intimidades de seus ângulos conhecidos. Não consigo mais distinguir os limites ou excessos do designer de formação, do fotógrafo em exercício, do cidadão. A única realidade é a soma expressa em cores, perspectivas, céus, o preto e branco, as texturas, tudo costurado em noites de cuidados (tratamentos) digitais. A imagem é o resultado fiel dos sentidos. Fragmentos visuais de um testemunho. Fragmentos existenciais. Fragmentos.
41.
47.
Zé Rocha. Professor na Escola de Design da UEMG, especialista em cinema, coordenador do Projeto “Diamantina: Fragmentos Visuais (culturais) da cidade no século XXI” e integrante do Centro de Estudos em Design da Imagem.
55.
FOTOMONTAGEM textos e fotos: Isabela Marc e Marina Takeishi
As fotomontagens traduzem, essencialmente, a ideia de ultrapassar a realidade e, neste trabalho, foram utilizadas como ferramenta para expressar sentimentos, numa simbologia visual intensificada, transtextual e poética. A fotografia ao lado, intitulada Solitude, dialoga com a noção de que o estado máximo da solidão é a ausência de si mesmo, de forma que, na imagem, o próprio reflexo representado já não está com o próprio ser. Assim, de todos, o mais solitário indivíduo é aquele que não tem sequer a própria companhia. A composição na próxima página, nominada Underwater, recorre às estéticas subaquáticas no intuito de retratar a profundidade de uma alma que, submersa em pensamentos, mergulha dentro de suas cartas. A imagem pretende, ainda, permitir que o leitor decida se essa alma será capaz de emergir até a superfície ou se, com o peso dessas “águas” e em meio à torrente, está fadada a se afogar.
Isabela Marc. Estudante de Design de Produto na Escola de Design da UEMG. Participante do NĂşcleo de Design e Fotografia.
61.
O poético, o onírico, a arte oriental. Origamis, dentro da cultura oriental, são tidos como instrumentos mágicos, em que cada formato diferente traz um sentimento e um significado em si. Partindo desse pressuposto, as dobraduras, nestas fotomontagens, fazem o papel de instrumentos que nos tiram da realidade e nos encaminham para o mais profundo imaginário, para um olhar para dentro de si mesmo e para a busca dos sonhos e da liberdade. A imaginação nos arrasta com o intuito de conhecer um outro mundo, abrir as portas e fugir, refletir sobre o nosso ser e entrar em uma jornada para que o “irreal“ também faça parte da própria realidade.
Marina Takeishi - Estudante de Design GrĂĄfico na Escola de Design da UEMG. Participante do NĂşcleo de Design e Fotografia. 67.
GALERIA Esta seção de Tangerine é destinada a divulgar trabalhos produzidos por alunos e ex-alunos da Escola de Design da UEMG. Em cada edição serão selecionadas as melhores produções em estúdio, ensaios autorais e experimentações, tendo como única exigência a originalidade e a criatividade de seus autores. Neste número revisitamos o charme dos objetos retrô, as imagens congeladas de “splash”, as experimentações com fogo, a visão macro das texturas, as fascinantes deformações conseguidas através de gotas de água e os efeitos da mistura de objetos translúcidos com a luz.
Objetos Retr么 Isabela Marc e Fernanda Portilho - Design de Produto
71.
Objeto e Luz Isabela Marc - Design de Produto Bruno Bahia e Marina Takeishi - Design Grรกfico 73.
Gotas Letícia Magalhães - Design Gráfico
75.
Splash Cristiane Leite - Artes Visuais (Licenciatura)
Texturas Helen Alves e PatrĂcia Bruggen - Design de Ambientes 77.
BoĂŞmia Bruna Avelar - Artes Visuais (Licenciatura) Isabela Marc - Design de Produto Sofia Coeli e Marina Takeishi - Design GrĂĄfico
79.
Light Painting Caroline Nobre, Matheus Maciel, Helen Aragão, Patrícia Bruggen, Aline Ribeiro e Bruna França
Fotografia e produção Lígia Albertini - Artes Visuais (Licenciatura)
81.
VIAGEM PELA
ÍNDIA texto e fotos: Roxane Sidney
85
Conhecer lugares novos e povos de culturas diversificadas nos leva a ampliar a capacidade de entendimento do ser humano e nos faz enxergar que nós somos apenas uma parcela pequena, ainda que importante, da humanidade. A magnitude do mundo é fascinante e por isso a vontade de fotografar, tentar eternizar olhares vividos. A India é instigante, chocante, um país de contrastes. As cores das roupas, tecidos e decoração em contraste com o cinza das ruas e da poluição; os templos, locais de
silêncio e recolhimento, dentro de cidades de trânsito caótico e de ruído muito acima do aceitável à saúde humana; carros importados e a alta tecnologia em informática em contraste com a pobreza, o analfabetismo e doenças já esquecidas por nós como a lepra e poliomielite. Mas mesmo assim, há beleza em tudo que vivi, pois houve sempre aprendizado. A Índia é muito mais que simbologismo e misticismo, para entendê-la melhor é preciso vivenciá-la.
89.
93.
95.
Roxane Sidney. Professora de História e Análise Crítica da Arte e do Design, doutoranda em História e integrante do Núcleo de Design e Fotografia pertencente ao Centro de Estudos em Design da Imagem na Escola de Design da UEMG.
97.
O SEGREDO DOS
TEUS OLHOS texto e fotos: Cristiane Leite
“
Não tenho mais segredos, meus olhos os revelam todos os dias... Por trás de nossos olhos, carregamos mais do que se pode ver. Trazemos uma identidade, às vezes, imperceptível. Olhe no fundo dos meus olhos e encontrarás mais que o visível. Não se assuste, você também tem verdades escondidas em seus olhos: eu as vejo. Existe, talvez, um desenho imaginário. Coloque uma lente de aumento e verás ou passarás a reparar, reparar, com delicadeza, os olhos de meninos, de homens ou de mulheres, cada um com sua forma, sua cor e sua essência. Temos nos olhos as marcas de nossa história, por isso mostreme seus olhos. Conte-me a sua história. Permita-me ver, por trás de suas pupilas dilatadas, todas as suas emoções e fragilidades. Chegue mais perto, veja por dentro daquela retina, repare no momento em que a pupila se dilata, pode ser que você encontre um segredo inesperado. Nossas verdades estão contidas em muito mais do que palavras. Repare aqueles olhos, afinal os seus podem refletir os meus.
”
101.
105.
Cristiane Leite. Historiadora, p贸sgraduanda em Arte Contempor芒nea e estudante de Artes Visuais na Escola de Design da UEMG.
107.
IMAGINARY BIRDS fotos e texto: Carolina Moraes Santana
Um Jardim Selvagem e sua Imperatriz. Gaiolas vazias e o som de pássaros, passos em flor desabrochando caminhos. A série Imaginary Birds, inspirada na principal temática dos contos de fadas, versa sobre o mistério, a descoberta e os segredos que existem na transformação da criança em uma jovem, e da estranheza que, muitas vezes, pontua esse período. Interessada em retratar a relação da infante consigo mesma, seus medos e desejos, não figura nenhum outro personagem além da protagonista, absorta em seu mundo-reino de jardins selvagens e bosques encantados que, se transformam tanto quanto a luz do do sol, durante o dia.
111.
113.
115.
Carolina Moraes Santana. Estudante de Design GrĂĄfico pela Universidade do Estado de Minas Gerais, colaboradora do NĂşcleo de Design e Fotografia.
123.
PIN-HOLE
CIDADÃ A fotografia, feita com câmeras confeccionadas com latas ou caixas, adquiriu um aspecto de função social na responsabilização de adolescentes que cometeram atos infracionais. As fotos, destas páginas, são o resultado da oficina sobre pin-hole, oferecida pela Oficina de Imagens, em parceria com a Subsecretaria de Atendimento às Medidas Socioeducativas de Minas Gerais, para os adolescentes que cumprem internação em centros socioeducativos. A prática possibilitou o desenvolvimento do olhar, a expressão e a re-inserção social.
“O olhar refinado do trabalho fotográfico destes jovens, por meio de sombras, reflexos, fragmentos do corpo e paisagens inacessíveis proporciona a eles um mergulho interior, desde o momento da liberação de luz na caixa escura até a contemplação das imagens reveladas. Fotógrafos e espectadores destes trabalhos fazem perguntas parecidas: O que é este lugar? Que imagem é esta? Quem são estes jovens? Por que estão neste lugar?” Expõe Bernardo Carneiro Rezende - Assessoria de Comunicação da Secretaria de Estado de Defesa Social.
127.
O SÉCULO XXI VISTO PELO FURO DO ALFINETE texto: Rogério Souza Um dos fatos mais marcantes nos quase duzentos anos da história da fotografia, foi o surgimento da tecnologia digital para captura de imagens. Ela trouxe uma nova realidade nos meios de produção fotográfica e um sem número de inovações que habitavam apenas o imaginário do fotógrafo do século XX. Constata-se uma verdadeira revolução que, para o bem ou para o mal, destituiu o fotógrafo “analógico” de seu posto, quase intocável, de detentor da técnica “mágica” de imortalizar fatos, coisas e pessoas. Verifica-se, também, que o aparecimento da nova tecnologia relegou os meios manuais de fotografar a uma prática pertencente a mentes antigas e retrógradas. O mercado não mais aceita o tempo de produção de uma foto analógica. Empresas fornecedoras foram fechadas ou mudaram seu enfoque para se ajustarem à nova demanda. Em meio a essa disputa pelo poder na fotografia atual, começa a surgir uma espécie de revival da película, papel e produtos químicos. Estudantes, artistas e amantes da fotografia tradicional retomam uma técnica que remete às primeiras câmeras do século XIX. A câmera Pin-hole é desprovida de qualquer sofisticação e traz de volta o princípio das câmaras escuras, a imagem produzida através de um furo feito com alfinete numa lata ou caixa de papelão. É espantoso constatar que esse interesse vem sendo sentido, inclusive, por uma geração que jamais teve contato com a fotografia feita a partir de processamento químico. As opiniões destes novos aficcionados coincidem com as dos antigos de que a experiência de se estar no laboratório de revelação, a “textura” e efeitos obtidos pela Pin-hole são únicos e impossíveis de serem vivenciados na fotografia digital. Aqui se vê que o suporte digital não consegue suprir a todas as demandas e necessidades criadoras e que, paralelamente à velocidade do mercado, a fotografia química ainda pode oferecer surpresas criativas.