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agosto/setembro 2020
50 ANOS FORUM BERLINALE Com o apoio do Goethe Institut A agitação política e a revolução de costumes dos anos 60, que culminou em 1968, teve consequências sobre os dois mais importantes festivais de cinema do mundo: o de Cannes e o de Berlim. Diante do projeto de alguns, que queriam estabelecer um Festival de Cannes off, a direção deste festival decidiu habilmente recuperá-los e incorporá-los e foi assim que surgiu em 1969 a Quinzena dos Realizadores, secção não competitiva destinada a filmes independentes. Também no Festival de Berlim surgiram muitas discussões sobre a organização e a programação, sendo esta última considerada, como em todos os grandes festivais, excessivamente voltada para a indústria, privilegiando, por conseguinte, a noção de entretenimento, ainda que de qualidade, sem dar a devida atenção aos filmes menos convencionais de cineastas mais jovens. Isto resultou numa reformulação do festival e na criação do “Fórum Internacional dos Jovens Filmes”, no qual são mostrados, numa mostra não competitiva, filmes independentes, experimentais, documentários e filmes militantes. A apresentação destas obras na secção Forum da Berlinale dava-lhes uma visibilidade extraordinária. Entre 1971 e 2001, o Forum foi dirigido por Ulrich e Erika Gregor, com uma visão ao mesmo tempo precisa e ampla, num verdadeiro trabalho de programadores: alguém que escolhe aquilo que vai mostrar, sem acompanhar modas. O documentário político e os filmes militantes ocupavam boa parte dos programas do Forum, como se pode constatar pelos filmes que propomos, todos provenientes do programa da sua primeira edição, cinco dos quais podem ser considerados como obras de militância política direta, ao passo que os demais são análises ou retratos de personalidades. O programa proposto pelo IndieLisboa de homenagem ao Forum também contém algumas ficções (os filmes de Makavejev, Med Hondo, Helke Sander) e um documentário não militante, o filme de Philip Trevelyan. Filmes que se tornaram célebres e foram realizados por cineastas igualmente célebres (Klein, Makavejev, Hondo), são apresentados ao lado de obras um tanto esquecidas, mas que permanecem vivas. Sendo um testemunho e uma interrogação sobre o estado do cinema e do mundo circa 1970, esta homenagem ao Forum convoca uma inevitável reflexão sobre o nosso presente (cinematográfico, político, social). Oito dos doze filmes programados são apresentados pela primeira vez na Cinemateca. ANGELA: PORTRAIT OF A REVOLUTIONARY
MES VOISINS
f Quarta-feira [26 de agosto] 15:30 | Sala M. Félix Ribeiro f Quinta-feira [3 de setembro] 21:30 | Esplanada
ELDRIDGE CLEAVER, BLACK PANTHER
W.R. – MISTERIJE ORGANIZMA
f Quinta-feira [27 de agosto] 15:30 | Sala M. Félix Ribeiro
MONANGAMBÉE de Sarah Maldoror
de William Klein com Eldridge Cleaver e Kathleen Cleaver
Argélia, 1968 – 15 min / / legendado eletronicamente em português
Argélia, França, 1970 – 7 5 min legendado eletronicamente em português | M/12
“O Fim do Diálogo de Membros do Congresso Pan-Africano
Ativo desde os anos 50 e conhecido sobretudo como fotógrafo, o americano de Paris William Klein também realizou diversos filmes, documentários (GRANDS SOIRS, PETITS MATINS; MOHAMED ALI, THE GREATEST) e ficções (QUI ÊTES-VOUS, POLLY MAGOO?). Quando ELDRIDGE CLEAVER, BLACK PANTHER foi realizado, o movimento das Panteras Negras, ala mais radical do movimento negro americano nos anos 60 e adversária de Martin Luther King e da sua política “integracionista”, estava no auge. Exilado em Havana, Argel (onde o filme foi rodado, por ocasião do Festival Pan-Africano) e depois em Paris, Eldridge Cleaver era, em 1970, a encarnação do revolucionário e tinha, em Argel, a possibilidade de discutir com revolucionários de outros continentes. É esta dimensão que o filme tenta explorar, enquanto Cleaver aborda a situação política americana e expõe muitas das contradições da sua personalidade, que o levariam a regressar aos Estados Unidos em 1975, após sete anos de exílio, tornar-se estilista e aproximarse de grupos religiosos e do Partido Republicano. Primeira apresentação na Cinemateca.
PHELA-NDABA
África do Sul, 1970 – 45 min / legendado eletronicamente em português
duração total da sessão: 60 minutos | M/12 A abrir a sessão, o filme de estreia de Sarah Maldoror, cineasta franco-antilhana autora de uma vasta obra e ligada a África por ter sido a companheira de Mário de Andrade, poeta e um dos fundadores do MPLA em Angola. O título do filme cita o grito de chamamento usado pelas forças anticoloniais. Filmado na Argélia com atores amadores e baseado num conto de Luandino Vieira (que passou vários anos nas prisões do regime salazarista), MONANGAMBÈE é um filme sobre a ideia de liberdade. Segue-se PHELA-NDABA, um documentário realizado clandestinamente na África do Sul por membros (brancos e negros) do Congresso PanAfricano, a organização de resistência política de Nelson Mandela. Alternando a cor e o preto e branco, material de arquivo e trechos filmados no presente, com uma narração em off esparsa e sóbria, o filme mostra de maneira pormenorizada o brutal contraste entre o tipo e o nível de vida da população branca, de um lado
e, do outro, o da população negra, mestiça e asiática. O material filmado foi levado clandestinamente para a Grã-Bretanha, onde foi montado. Trata-se de um dos primeiros documentários feitos “no terreno” na África do Sul e o seu impacto à época foi enorme. PHELA-NDABA é apresentado pela primeira vez na Cinemateca. f Sexta-feira [28 de agosto] 15:30 | Sala M. Félix Ribeiro
MES VOISINS França, 1971 – 35 min / legendados eletronicamente em português
SOLEIL Ô com Robert Liensol, Bernard Bresson, Théo Legitimus França/Mauritânia, 1970 – 1 04 min
de Med Hondo duração total da sessão: 139 minutos legendados eletronicamente em português | M/12
Instalado em Paris, o mauritano Med Hondo (1936-2019) fez-se conhecer na passagem dos anos 60 para os anos 70, por uma série de filmes em que aborda a não integração das comunidades africanas em França e a exploração de que são objeto. Foi dos primeiros cineastas a realizar, do ponto de vista do imigrante, ficções sobre o tema da imigração. SOLEIL Ô, o seu filme de estreia, foi apresentado na Semana da Crítica, no Festival de Cannes e premiado em Locarno, mas só teve distribuição comercial europeia três anos depois. O título faz alusão a um