Julho 2016

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juLho 2016

Dez Vistas de Jacques Rivette | História(s) do Cinema Argentino | Absolutamente Bowie Edgardo Cozarinsky – Realizador Convidado | Filmes Portugueses Legendados | double bill | história permanente do cinema português | foco no arquivo | Cinema na Esplanada


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juLho 2016 | Cinemateca Portuguesa-Museu do Cinema

SALA M. FÉLIX RIBEIRO DEZ VISTAS DE JACQUES RIVETTE

f fÍNDICE Sala M. Félix Ribeiro Dez Vistas de Jacques Rivette História(s) do Cinema Argentino Double Bill Encontro com Béla Tarr ETIC – Escola de Tecnologias, Inovação e Criação A Cinemateca com o Curtas Vila do Conde Outras Sessões de Julho

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Sala M. Félix Ribeiro | ESPLANADA Absolutamente Bowie

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Sala Luís de Pina Edgardo Cozarinsky – Realizador Convidado Filmes Portugueses Legendados Foco no Arquivo História Permanente do Cinema Português Moving Cinema | Cineclube das Gaivotas

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CINEMA NA ESPLANADA: Absolutamente Bowie Quatro Vezes Billy Wilder A Cinemateca com o Doclisboa’16 – Sessão de Antecipação

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CALENDÁRIO

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No final de janeiro deste ano perdemos Jacques Rivette, nome maior da “nouvelle vague”, nome maior do cinema moderno, nome maior do cinema europeu do último meio século. Rivette esteve no centro da revo‑ lução crítica operada a partir das páginas dos Cahiers du Cinéma durante a década de cinquenta, juntamente com outros futuros cineastas como Godard, Truffaut ou Rohmer. Como eles passado à realização na viragem dessa década para a seguinte, Rivette praticou o cinema mais “excêntrico” de entre todos os representantes da “nouvelle vague”, numa “excentricidade”, tremendamente pessoal e idiossincrática, que o tempo mais não fez se não adensar, e que resultou nalguns dos filmes mais “radicais”, em todos os sentidos que a palavra pode conter, de toda a modernidade cinematográfica, como é o caso dessas obras imensas, inesgotáveis, que são OUT 1 e L’AMOUR FOU. Rivette, como crítico e depois já como cineasta, muito discorreu sobre a ideia de “mise en scène”, apresentada por ele como um “segredo”, o “segredo por trás do segredo”, que foi a expressão que puxámos para título do Ciclo integral que lhe dedicámos em 2008. Agora, nesta evocação “in memoriam” seis meses depois da sua morte, faremos um percurso mais curto por alguns momentos especialíssimos da sua obra, dos primeiros filmes aos derradeiros – uma pequena viagem, com dez paragens, pelo labirinto Rivettiano, feito de narrativas fugidias e carregadas de mistério (o “complot”, derivado da sua admiração por Lang, era uma das figuras ficcionais preferidas de Rivette), feito do confronto entre o artifício (teatral, por exemplo) e a realidade rugosa e material (do Tempo e da duração, elementos especialmente trabalhados pelo cineasta), feito de uma singular mistura de austeridade e sentido de diversão (o humor, que não se destaca habitualmente muito, é um condimento sibilino de muitos filmes seus), feito de uma maneira de realçar a presença e o trabalho dos atores que era, ela própria, um “segredo” que Rivette levou com ele. Do núcleo central da “nouvelle vague”, e depois das mortes de Truffaut, Demy, Chabrol, Rohmer, Marker, Resnais, era um dos últimos. Quando Jean­‑Luc Godard morrer, daremos o último “hurrah”.

f fAGRADECIMENTOS Béla Tarr; Edgardo Cozarinsky; João Botelho; João Pedro Rodrigues, João Rui Guerra da Mata; Jorge Silva Melo; Luís Filipe Rocha; Margarida Cardoso; Monique Rutler; Pedro Costa; Pierre­‑Marie Goulet; Guy Borlée (Il Cinema Ritrovato); Salete Ramalho (Curtas Vila do Conde); Cíntia Gil, Miguel Ribeiro, Joana Sousa (Doclisboa); Teresa Garcia, Maria Maranha (Os Filhos de Lumière Associação Cultural), Cineclube das Gaivotas; Pedro Sena Nunes (ETIC); Luísa Veloso, Frédéric Vidal, João Rosas; Sofia Sampaio (CRIA, ISCTE­ ‑IUL), Sérgio Bordalo e Sá; Maria do Carmo Piçarra (Rede Aleph­ ‑Rede de Ação e Investigação Crítica da Imagem Colonial), Inês Dias Cordeiro; Maria Capelo; Bryony Dixon, Fleur Buckley (British Film Institute); Jon Wengström, Johan Ericsson (Svenska Filminstitutet); Carmen Accaputo (Cineteca di Bologna); Nicola Mazzanti, Clementine de Blieck (Cinematek); Palos Abel (Magyar Film Archiv); Juha Kindberg (Kavi / Kansallinen Audiovisuaalinen Instituutti, Helsínquia); Laura Argento, Maria Coletti (Cineteca Nazionale, Roma); Julia Gibbs (University of Chicago).

f fCapa

THE MAN WHO FELL TO EARTH de Nicolas Roeg

CÉLINE ET JULIE VONT EN BATEAU

f fDia 1, Sexta­‑ feira, 15:30 | Dia 4, Segunda­‑ feira, 21:30

Cinemateca Portuguesa­‑Museu do Cinema Rua Barata Salgueiro, 39 ‑­ 1269­‑059 Lisboa, Portugal Tel. 213 596 200 | Fax 213 523 189 cinemateca@cinemateca.pt | www.cinemateca.pt

Programa sujeito a alterações

Preço dos bilhetes: 3,20 Euros Estudantes/Cartão jovem, Reformados e Pensionistas ‑­ > 65 anos ‑­ 2,15 euros Amigos da Cinemateca/Estudantes de Cinema ‑­ 1,35 euros Amigos da Cinemateca / marcação de bilhetes: tel. 213 596 262

Horário da bilheteira:

Segunda­‑feira/Sábado, 14:30 ‑­ 15:30 e 18:00 ‑­ 22:00 (Cinema na Esplanada até 22h30) Venda online em cinemateca.bol.pt | Não há lugares marcados Informação diária sobre a programação: tel. 213 596 266 Classificação Geral dos Espetáculos: IGAC

PARIS NOUS APPARTIENT

NOROÎT

de Jacques Rivette

de Jacques Rivette

com Betty Schneider, Gianni Esposito, Françoise Prévost, Jean­‑Claude Brialy

com Bernadette Lafont, Geraldine Chaplin, Kika Markham

França, 1961 – 135 min / legendado eletronicamente em português | M/12

Com DUELLE, NOROÎT forma o par de filmes efetivamente concretizados de uma trilogia que Rivette pensara com o nome “Scènes de la Vie Parallèle”. Prolongando­‑se o universo mitológico já visto em DUELLE (uma das personagens é a “filha do Sol”), encontramos uma história de vingança, totalmente no feminino, entre duas chefes de bandos de piratas rivais (Lafont e Chaplin).

A primeira longa­‑metragem de Jacques Rivette contém já vários temas da obra futura do autor de L’AMOUR FOU: o gosto pelo “folhetim”, com as “sociedades secretas”, intrigas e conspirações, numa sucessão labiríntica onde não é raro o espectador confundir­‑se. Mas aqui, nesta história de um segredo que se esconde atrás da morte de um homem, e no mundo do teatro em que os outros circulam, “o suspense reside mais no confronto das personagens, na criação de uma atmosfera… do que na progressão de uma intriga” (Bertrand Tavernier).

Biblioteca

f fDia 1, Sexta­‑ feira, 21:30 | Dia 7, Quinta­‑ feira, 15:30

Sala 6 X 2, Sala dos Carvalhos e Sala dos Cupidos

CÉLINE ET JULIE VONT EN BATEAU

Segunda­‑feira/Sexta­‑feira, 12:30 ‑­ 19:30 Segunda­‑feira/Sexta­‑feira,12:30 ‑­ 19:30 ‑­ entrada gratuita

de Jacques Rivette

Livraria LINHA DE SOMBRA

com Juliet Berto, Dominique Labourier, Barbet Schroeder, Bulle Ogier, Marie­‑France Pisier

Segunda­‑feira/Sexta­‑feira, 13:00 ‑ 22:00, Sábado, 14:30 ‑­ 22:00 Espaço 39 Degraus: Restaurante­‑Bar, Segunda­‑feira/Sábado, 12:30 ­‑ 01:00

Transportes: Metro: Marquês de Pombal, Avenida | bus: 736, 744, 709, 711, 732, 745

Cinemateca Júnior | Salão Foz, Restauradores

Horário da bilheteira (11:00 ‑­15:00) | Venda online em cinemateca.bol.pt Adultos ‑­ 3,20 euros; Júnior (até 16 anos) ‑­ 1,10 euros Ateliers Família: Adultos ‑­ 6,00 euros; Júnior (até 16 anos) ‑­ 2,65 euros

Transportes:

Metro: Restauradores | bus: 736, 709, 711, 732, 745, 759 salão foz, praça dos restauradores 1250­‑187 lisboa tel. 213 462 157 / 213 476 129 - cinemateca.junior@cinemateca.pt

f fDia 4, Segunda­‑ feira, 15:30 | Dia 28, Quinta­‑ feira, 19:00

França, 1974 – 192 min / legendado eletronicamente em português | M/12

Viagem ao “outro lado do espelho” em que Julie é o Coelho Branco que leva Céline (Alice) para o seu mundo fantástico de magia e histórias rocambolescas. A frescura, a irreverência e o sonho (e a memória dos grandes “serials” americanos) no mais acessí­vel e divertido filme de Rivette. Acessibilidade e diversão que não são – nada – incompatíveis com o facto de CÉLINE ET JULIE VONT EN BATEAU ser uma das mais elaboradas e “abstratas” experiências narrativas do cineasta francês.

França, 1976 – 145 min / legendado eletronicamente em português | M/12

f fDia 5,Terça­‑ feira, 19:00 | Dia 19, Terça­‑ feira, 19:00 L’AMOUR FOU de Jacques Rivette com Bulle Ogier, Jean­‑Pierre Kalfon, Josée Destoop França, 1967 – 252 min / legendado eletronicamente em português | M/12

O teatro e a vida num dos mais extraordinários filmes de Rivette. A encenação e os ensaios da Andrómaca de Racine vão a par com a crise que se instala entre o encenador e a mulher, uma das intérpretes da peça, que passa por violentos confrontos e uma tentativa de suicídio. Uma experiência radical de Rivette, usando o 16 mm e o 35 mm para os dois “mundos” que filma e liga de forma perfeita.


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SALA M. FÉLIX RIBEIRO f fDia 6, Quarta­‑ feira, 21:30 | Dia 11, Segunda­‑ feira, 15:30 LE PONT DU NORD de Jacques Rivette com Bulle Ogier, Pascale Ogier, Pierre Clémenti França, 1981 – 129 min / legendado eletronicamente em português | M/12

Talvez o filme em que a figura do “complot”, tão cara às construções narrativas de Rivette, mais se aproximou de um ensaio sobre a paranoia. É a história de uma mulher, ex­ ‑terrorista, tornada claustrofóbica pelos anos passados na prisão, e do encontro dela com uma jovem que percorre Paris à procura dos “Max”, obscuros inimigos que têm a aparência de leões. Este par central de personagens é interpretado por Bulle Ogier e pela sua filha, a infeliz Pascale, que viria a morrer na véspera de fazer 26 anos. Regresso de Rivette, depois do seu “eclipse” nos finais dos anos setenta.

f fDia 7, Quinta­‑ feira, 21:30 | Dia 14, Quinta­‑ feira, 15:30 MERRY­‑GO­‑ROUND de Jacques Rivette com Maria Schneider, Joe Dallessandro, Danielle Gegauff França, 1977­‑78 – 160 min / legendado eletronicamente em português | M/12

Descontando a não concretizada primeira versão de MARIE ET JULIEN (que tinha Albert Finney e Leslie Caron), MERRY­ ‑GO­‑ROUND tem o mais estranho elenco de qualquer filme de Jacques Rivette: Maria Schneider, acabada de sair do ÚLTIMO TANGO de Bertolucci, e Joe Dallessandro, nunca verdadeiramente saído da “fábrica” de Andy Warhol. Formam um par, criado pelas circunstâncias, que se lança por Paris fora à procura de uma mulher desaparecida. Terminado em 1978, o filme estreou apenas em 1983.

f fDia 8, Sexta­‑ feira, 21:30 | Dia 18, Segunda­‑ feira, 15:30

o mais popular em muitos anos. Vagamente adaptado de uma história de Balzac, LA BELLE NOISEUSE estrutura­‑se num “duelo” entre um pintor (Michel Piccoli) e o seu modelo (Emmanuelle Béart). E o filme é tanto sobre o que passa, epidermicamente, através dessa relação, tensa e desgastante, como uma espantosa reflexão sobre a criação artística e o “segredo” das grandes obras de arte. A apresentar na versão DIVERTIMENTO, que mais do que como simples remontagem foi encarada por Rivette como uma versão “alternativa”, com implicações no ponto de vista narrativo, muito mais próximo aqui do da personagem de Béart do que da de Piccoli. DIVERTIMENTO é exibido pela primeira vez na Cinemateca.

f fDia 9, Sábado, 21:30 | Dia 20, Quarta­‑ feira, 15:30 LA BANDE DES QUATRE

f fDia 13, Quarta­‑ feira, 21:30 | Dia 22, Sexta­‑ feira, 15:30 LE COUP DU BERGER de Jacques Rivette com Virginie Vitry, Jacques Doniol­‑Valcroze, Jean­‑Claude Brialy França, 1956 – 28 min / legendado eletronicamente em português

36 VUES DU PIC SAINT­‑LOUP

O Bando das Quatro de Jacques Rivette

36 Vistas do Monte Saint­‑Loup de Jacques Rivette

com Bulle Ogier, Benoit Régent, Inês de Medeiros

com Jane Birkin, Sergio Castellitto, André Marcon

França, 1988 – 160 min / legendado em português | M/12

França, 2009 – 84 min / legendado em português

Teatro, conspirações, segredos – LA BANDE DES QUATRE desenvolve­‑se como “súmula” absolutamente “rivettiana”. Quatro amigas, alunas da mesma escola de teatro, e os encontros com um estranho que as avisa do perigo que corre uma quinta rapariga, colega delas. Visto de hoje, LA BANDE DES QUATRE é um filme que faz a ponte entre o Rivette austero e “ensaístico” dos anos setenta e oitenta, e o dos anos noventa, um pouco mais claro e mais fluidamente narrativo (algo a que não será alheio o par de argumentistas formado por Pascal Bonitzer e Christine Laurent, doravante colaboradores frequentes de Rivette).

duração total da projeção: 112 min | M/12

f fDia 11, Segunda­‑ feira, 19:00 | Dia 21, Quinta­‑ feira, 15:30 NE TOUCHEZ PAS LA HACHE

LA BELLE NOISEUSE – DIVERTIMENTO

de Jacques Rivette

A Bela Impertinente de Jacques Rivette

com Jeanne Balibar, Guillaume Depardieu, Bulle Ogier, Michel Piccoli

com Emmanuelle Béart, Michel Piccoli, Jane Birkin

França, Itália, 2007 – 137 min / legendado eletronicamente em português | M/12

França, 1991 – 130 min / legendado eletronicamente em português | M/12

Uma tragédia balzaquiana? O penúltimo Rivette tem generais oitocentistas, freiras apaixonadas, cartas, bailes, escândalos,

Um dos filmes mais célebres do cineasta francês, e certamente

raptos. Revisitando de modo contidamente irónico o “drama romântico de guarda­‑roupa”, Rivette não se afasta do seu perpétuo gosto pelos artifícios e convenções teatrais, sobretudo quando põem em sofisticado diálogo os homens e as mulheres. Um dos mais belos filmes da década de 2000, “tout court”, com Jeanne Balibar e Guillaume Depardieu (filho de Gérard) em interpretações estarrecedoras.

O último filme de Jacques Rivette, que já estava muito doente quando o realizou, retoma alguns dos seus temas fundamentais e, na sua enorme serenidade “paisagística”, reenvia para algumas das suas experiências dos anos setenta. O palco (neste caso o de um circo) como o cenário “perigoso” onde tudo se arrisca e tudo se expõe; e, na história de Birkin e Castellito, os “movimentos” amorosos feitos de aproximações e esquivas. Um muito belo fecho de obra. A abrir a sessão, LE COUP DU BERGER, primeira realização profissional de Rivette, conta um jogo amoroso, “em que só uma principiante poderia perder”, assim como só um principiante no jogo de xadrez pode ser vencido pelo “xeque do pastor” do título. A fechar o Ciclo, uma “vista” do início e do fim da obra de Jacques Rivette, na mesma sessão.

HISTÓRIA(S) DO CINEMA ARGENTINO EM COLABORAÇÃO COM O FESTIVAL IL CINEMA RITROVATO (BOLONHA) Depois de visitar a Argentina em 1962, o historiador do cinema Georges Sadoul escreveu que “as promessas e as esperanças são muitas num país onde o amor pelo cinema é grande”. Mas pelo facto de a Argentina ser um país essencialmente branco e, por conseguinte, pouco “exótico” aos olhos de um europeu ou de um americano, a sua rica cinematografia permanece ainda hoje pouco conhecida internacionalmente, apesar das exceções que constituíram os filmes de Leopoldo Torre­‑Nilsson na passagem dos anos cinquenta para os sessenta, o mítico filme militante LA HORA DE LOS HORNOS (Fernando Solanas e Octavio Getino, 1968) e o eco de alguns títulos posteriores ao termo do sanguinário regime militar (1976­‑83). Até finais da década de sessenta, Buenos Aires era uma das cidades mais cinéfilas do mundo, com mais salas de cinema do que a maioria das capitais europeias, onde, além da produção local, era apresentada grande parte da pro‑ dução americana e europeia. Nos anos trinta e quarenta, houve uma produção de tipo industrial, de excelente nível técnico, com filmes baseados no modelo americano, que incluíram diversas adaptações de clássicos da literatura europeia (Balzac, Oscar Wilde, Tolstoi, Zweig) e da literatura americana contemporânea (William Irish), muitas vezes com “mulheres de vestido comprido e homens de fraque”, além de comédias e adaptações da literatura local, nomeadamente filmes com gaúchos. Depois da queda do regime de Perón em 1955, floresceram os filmes de autor, com uma linguagem mais moderna, seguidos por uma nova vaga, na primeira metade dos anos sessenta e por obras de cunho não narrativo. Este Ciclo, programado por Edgardo Cozarinsky a partir de textos póstumos do crítico Alberto Tabbia, propõe “uma outra história do cinema argentino”, o que pode parecer paradoxal num contexto em que a história “oficial” desta cinematografia é pouco conhecida. Mas os oito filmes selecionados, realizados entre 1935 e 1976, abrangem todos os grandes períodos acima referidos, oferecendo, por conseguinte, uma visão panorâmica desta importante cinematografia, apesar da ausência de alguns clássicos consagrados ou contestados. Como explica Edgardo Cozarinsky, “o folclore está ausente desta escolha, assim como a todo­‑poderosa política. Qualquer tentativa de História de uma arte supõe menos um recorte do que um enfoque particular. A presente seleção quer lançar uma luz oblíqua sobre obras pouco conhecidas fora da Argentina. Filmes talvez marginais, mas nos quais passa a atmosfera de uma época ou os segredos de um temperamento individual”. Filmes que por certo surpreenderão aqueles que os venham a descobrir. Todos os filmes, em cópias novas 35 mm, são apresentados pela primeira vez na Cinemateca. Edgardo Cozarinsky, em Lisboa como “realizador convidado” da Cinemateca este mês (ver entrada respetiva), acompanha os dias iniciais do programa.

MAS ALLÁ DEL OLVIDO

f fDia 12, Terça­‑ feira, 21:30 | Dia 15, Sexta­‑ feira 19:00 MAS ALLÁ DEL OLVIDO de Hugo del Carril com Laura Hidalgo, Hugo del Carril, Pedro Laxalt Argentina, 1955 – 93 min / legendado eletronicamente em português | M/12

apresentado por Edgardo Cozarinsky na sessão de dia 12 Ator, cantor de tango (representou inclusive o papel de Carlos Gardel no cinema), realizador de um clássico do cinema argentino – o poderoso LAS AGUAS BAJAN TURBIAS (1948) –, Hugo del Carril (1912­‑89) tinha uma forte personalidade. MAS ALLÁ DEL OLVIDO é considerado um dos melhores filmes de sempre do cinema argentino. Baseado no romance Bruges­‑la­


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SALA M. FÉLIX RIBEIRO ‑Morte (1892) de Georges Rodenbach, que também serviu de ponto de partida à ópera Die Tote Stadt, de Erich Korngold, o filme narra a história de um homem que reencontra no rosto de uma prostituta os traços da sua falecida mulher. Laura Hidalgo tem algo de Ingrid Bergman e de Hedy Lamarr e a mise en scène está à altura deste melodrama “gótico”. Edgardo Cozarinsky é de opinião que, neste filme, Hugo del Carril “revelou uma parte desconhecida da sua sensibilidade e conseguiu, como ator e realizador, fazer uma obra incomparável”; ao passo que Guillermo Cabrera Infante descreveu MAS ALLÁ DEL OLVIDO com as seguintes palavras: “Realizado com um gosto visual barroco, a trama narrativa desaparece no ‘sturm und drang’ de um barroco argentino”.

f fDia 13, Quarta­‑ feira, 15:30 SANGRE NEGRA / NATIVE SON de Pierre Chenal com Richard Wright, Gloria Madison, Willa Pearl Curtiss Argentina, 1951 – 91 min / legendado eletronicamente em português | M/12

Depois de uma carreira de certo relevo em França nos anos trinta, Pierre Chenal refugiou­‑se na Argentina para fugir às perseguições antissemitas e ali realizou quatro filmes. De regresso a Paris, quis adaptar o romance Native Son, de Richard Wright, que Orson Welles levara com êxito ao teatro. Devido à impossibilidade de filmar nos Estados Unidos (além de negro, Wright era membro do partido comunista) e da falta de interesse dos produtores franceses, Chenal conseguiu realizar o filme, falado em inglês, na Argentina. Alguns exteriores foram feitos em Chicago, suscitando choques com a polícia, e os interiores filmados em estúdio, em Buenos Aires. SANGRE NEGRA / NATIVE SON teve uma distribuição restrita nos Estados Unidos, com catorze minutos de cortes, e só recentemente foi encontrada uma cópia da versão integral, apresentada à época no Festival de Veneza. O próprio autor do romance interpreta o papel principal, o de um homem levado ao crime pelas circunstâncias sociais, “trazendo grande empenho à presença da personagem” (Edgardo Cozarinsky).

f fDia 14, Quinta­‑ feira, 19:00 SI MUERO ANTES DE DESPERTAR de Carlos Hugo Christensen com Nestor Zavarce, Blanca del Prado, Florian Delbene Argentina, 1952 – 66 min / legendado eletronicamente em português | M/12

Carlos Hugo Christensen (1914­‑99) é um cineasta desigual, mas surpreendente, cuja obra mereceria reavaliação. Teve duas carreiras totalmente diferentes, num total de mais de cinquenta filmes: a primeira, entre 1939 e 1953, na Argentina; a segunda, entre 1954 e 1996, no Brasil, sendo a primeira incomparavelmente mais rica e interessante. Alguns dos seus filmes “negros”, como NO ABRAS NUNCA ESA PUERTA e LA MUERTE CAMINA EN LA LLUVIA, são obras de um autêntico estilista e fariam boa figura no cinema americano. SI MUERO ANTES DE DESPERTAR adapta um conto de William Irish, autor das histórias de REAR WINDOW (Hitchcock), THE LEOPARD MAN (Tourneur) ou THE PHANTOM LADY (Siodmak). Admiravelmente fotografado, o filme de Christensen segue a história de um rapaz de cerca de 14 anos que tenta descobrir a pista de um pedófilo assassino em série. Filme de suspense e moderno conto de fadas, SI MUERO ANTES DE DESPERTAR é um belo “filme de atmosfera”.

f fDia 18, Segunda­‑ feira, 19:00 | Dia 22, Sexta­‑ feira, 21:30 ESCALA EN LA CIUDAD de Alberto Zavalía com Eduardo Berri, Matilde Bhor, Héctor Cataruzza Argentina, 1935 – 70 min / legendado eletronicamente em português | M/12

Nos primeiros anos do cinema sonoro, a produção argentina concentrou­‑se em filmes à volta de tangos e em comédias populares. Em ESCALA EN LA CIUDAD, Alberto Zavalía (1911­ ‑88) foi um dos primeiros a procurar um tom diferente. Edgardo Cozarinsky considera o filme “audacioso, na sua atmosfera de cinefilia cosmopolita. Pairam sobre ele as sombras de DOCKS OF NEW YORK, de Sternberg, e de HER MAN, de Tay Garnett, que suscitam uma certa poesia dos portos, com um marinheiro sentimental que vem em busca de uma prostituta de que não se esqueceu”. A fotografia é de John Alton, nascido no império austro­‑húngaro e que fotografou dezoito filmes argentinos entre 1933 e 1939, antes de partir para Hollywood, onde faria uma grande carreira, sendo responsável pela fotografia, entre muitos outros, de dois dos mais celebrados filmes de Vincente Minnelli, FATHER OF THE BRIDE e TEA AND SYMPATHY.

f fDia 19, Terça­‑ feira, 15:30 HISTORIA DE UNA NOCHE de Luis Saslavsky com Sabrina Olmos, Santiago Arrieta, Sebastián Chiola Argentina, 1941 – 85 min / legendado eletronicamente em português | M/12

Luis Saslavsky (1903­‑95) foi um dos realizadores argentinos

soñar, soñar

de maior prestígio da sua geração e os seus primeiros filmes deram­‑lhe o estatuto de um cineasta culto e de bom gosto, mestre de uma narração fluida (Borges publicou um artigo elogioso sobre LA FUGA, de 1937). O ponto de partida de HISTORIA DE UNA NOCHE foi a peça Morgen ist Feiertag, estreada em Viena, em 1935, de Leo Perutz, escritor admirado por Adorno e Musil, que ficou esquecido por muito tempo, antes da redescoberta recente da sua obra. Edgardo Cozarinsky considera que “Saslasvky foi sem dúvida atraído pela personagem de um homem cínico, com um passado duvidoso, que volta a uma cidade de província, depois de uma longa ausência. O filme é uma subtil mistura de comédia sentimental e observação de costumes, com toques de humor e um ligeiro perfume de romantismo cético”. Saslavsky faria uma nova versão de HISTORIA DE UNA NOCHE em Espanha, em 1963, com Jorge Mistral, o Heathcliff de Luis Buñuel em CUMBRES BORRASCOSAS.

f fDia 20, Quarta­‑ feira, 19:00 | Dia 25, Segunda­‑ feira, 21:30 EL SECUESTRADOR de Leopoldo Torre­‑Nilsson com Leonardo Favio, Maria Vaner, Lautaro Murúa Argentina, 1958 – 75 min / legendado eletronicamente em português | M/12

Ainda hoje, Leopoldo Torre­‑Nilsson (1924­‑78) é o nome mais conhecido do cinema argentino no estrangeiro. Em 1957, com o sucesso de crítica internacional de LA CASA DEL ÁNGEL, começaria a fase mais conhecida da sua carreira. EL SECUESTRADOR, no entanto, tem diferenças importantes com os seus filmes deste período, por não se situar nos meios da alta burguesia e sim num bairro de lata, o que influencia o estilo visual da obra. O filme é baseado num conto de Beatriz Guido, em que uma criança pensa que o filho do dono da funerária que organizou o enterro do seu irmão é responsável pela morte deste. “Com uma grande liberdade que só voltaria a encontrar esporadicamente, Torre­‑Nilsson não lançou um olhar realista sobre os marginais dos bairros de lata dos subúrbios de Buenos Aires. Violentamente criticado à época pelos seus excessos, EL SECUESTRADOR é um momento único na obra dos seus autores. Dialoga como nenhum outro filme da sua época com o cinema independente dos anos dois mil” (Edgardo Cozarinsky).

f fDia 21, Quinta­‑ feira, 19:00 PLAYERS VS. ÁNGELES CAIDOS de Alberto Fischerman com Luis Barón, Leonor Galindo, Gioia Fiorentas Argentina, 1968 – 84 min / legendado eletronicamente em português | M/12

A segunda metade dos anos sessenta, quando ainda havia prosperidade económica e a situação política era tolerável, foi um período de grande efervescência e criatividade artística em Buenos Aires, sobretudo nas artes plásticas, no teatro e no cinema. Mas, observa Edgardo Cozarinsky, mesmo levando em conta este contexto, o primeiro filme de Fischerman (1937­‑95), realizador que também é conhecido pelo belo LOS DIAS DE JUNIO (1985), “trouxe uma nota discordante: improvisações, bocados de comédia musical pobre, ecos literários… O filme

parecia próximo das ruturas europeias da época, algures entre Skolimowski e Carmelo Bene, que o cineasta não conhecia”. O ponto de partida é A Tempestade, de Shakespeare, transposta para um estúdio de cinema abandonado, “onde os ‘bons’ brincam como crianças, enquanto os ‘maus’ esperam o momento de reconquistar o território”. O crítico Alberto Tabbia considera PLAYERS VS. ÁNGELES CAIDOS como “o filme mais livre, inovador e insolente de todo o cinema argentino”.

f fDia 25, Segunda­‑ feira, 19:00 SOÑAR, SOÑAR de Leonardo Favio com Gian Franco Pagliaro, Carlos Monzón, Nora Cullen Argentina, 1976 – 85 min / legendado eletronicamente em português | M/12

Leonardo Favio (1938­‑2012) começou como ator, nomeadamente em filmes de Torre­‑Nilsson, entre os quais EL SECUESTRADOR, incluído neste Ciclo. Nos anos sessenta, passou à realização com o belíssimo CRONICA DE UN NIÑO SOLO. Na primeira metade dos anos setenta, obteve enorme êxito de público com filmes em que se misturam elementos históricos e folclóricos. Em SOÑAR, SOÑAR, Favio teve a coragem de romper com estes elementos. O filme é um “road movie” sobre dois fracassados, um provinciano ingénuo (o campeão de boxe Carlos Monzón) e um pequeno escroque (o cantautor napolitano Gian Franco Pagliaro) que o arrasta para pequenas falcatruas. “É a história sorridente e triste de uma manipulação e de um amor que se desconhece e que só pode ser vivido num meio onde a ideia da homossexualidade é banida” (Cozarinsky). Distribuído quatro meses depois do sangrento golpe militar de 1976, o filme passou despercebido antes de se tornar, vinte anos depois, um objeto de culto.


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juLho 2016 | Cinemateca Portuguesa-Museu do Cinema

SALA M. FÉLIX RIBEIRO DOUBLE BILL Becos, personagens acossadas, aprisionadas, situações sem saída. Foi esta a base de escolha de filmes para as quatro sessões “Double Bill” de julho. No primeiro sábado do mês, veremos um Max Ophuls (THE RECKLESS MOMENT) seguido de um William Wyler (THE LETTER) – um espelho entre as duas portentosas Joan Bennett e Bette Davis, na pele de personagens acorrentadas a crimes que elas próprias cometeram, tornando­‑se vítimas de jogos de chantagem ou dos próprios jogos de manipulação e exuberância e poder que vão criando. Outra dupla feminina se segue: Laura Dern (INLAND EMPIRE) e Liv Ullmann (PERSONA), atrizes que acabam por ficar ca‑ tivas no próprio jogo de representação, permanecendo num limbo vago entre realidade e ficção. A terceira dupla de filmes leva­‑nos a um outro palco de total asfixia que é o palco da guerra, do aprisio‑ namento no medo e no horror, na indignação. Assim, seja na ilha de céu aberto de Bergman (“A VERGONHA”), onde a guerra chega absurda e sem aviso, seja no buraco fechado onde se escondem os prisioneiros evadidos de Rossellini (ERA NOITE EM ROMA), o único sentido, ou melhor, o único sobressalto, é o impulso da salvação. No último sábado do mês, os dois filmes são “O TESOURO DE ARNE” e IL TEMPO SE È FERMATO (belíssimo e tão pouco visto). O primeiro é uma história também de evadidos, que cobiçam um tesouro numa Suécia medieval e longínqua, e ficam retidos no gelo; o segundo é a história da relação que se estabelece entre um homem e um rapaz que se veem isolados pela neve na montanha. A óbvia relação entre estes filmes seria a de personagens isoladas pelos gelos e pelas ne‑ skammen ves. Mas a tentação será dizer, que nestes dois casos, há uma outra teia mais subtil que as “prende”. Quer pela mão de Mauritz Stiller, quer pela mão de Ermmano Olmi – e que diferença de mãos! – há qualquer coisa mais alucinada, que vem sem querer, inesperada e deslumbrada, das próprias personagens perdidas de si, no branco imenso de nevões que o tempo parou.

f fDia 9, Sábado, 15:30 THE RECKLESS MOMENT Momento de Perdição de Max Ophuls com James Mason, Joan Bennett, Geraldine Brooks, David Blair Estados Unidos, 1949 – 79 min / legendado eletronicamente em português

THE LETTER A Carta de William Wyler com Bette Davis, Herbert Marshall, James Stephenson, Gale Sondergaard Estados Unidos, 1940 – 95 min /legendado eletronicamente em português

duração total da projeção: 174 min | M/12 entre a projeção dos dois filmes há um intervalo de 30 minutos

THE RECKLESS MOMENT é um dos filmes menos conhecidos do período americano de Max Ophuls. Um “thriller” sombrio que se pode incluir no género “negro”, sobre uma mulher vítima de chantagem por ter lançado ao mar o cadáver de um homem que atormentava a filha e fora vítima de um acidente. Adaptado de uma história de Somerset Maugham, THE LETTER oferece a Bette Davis um dos seus primeiros grandes papéis de “má”, com o qual o espectador se identifica. A sua personagem é uma assassina que tenta encobrir o seu crime através de uma manipulação, argumentando legítima defesa. O filme é também um exemplo do uso sistemático da profundidade de campo que André Bazin tanto admirava em Wyler. Um clássico.

f fDia 16, Sábado, 15:30 INLAND EMPIRE Inland Empire de David Lynch com Laura Dern, Jeremy Irons, Justin Theroux, Karolina Gruszka, Jan Hencz Estados Unidos, 2006 – 180 min / legendado em português

tragédia. PERSONA é o famoso filme de Ingmar Bergman em que uma atriz emudece por razões desconhecidas e procura repouso à beira­‑mar, na companhia de uma enfermeira. Entre as duas mulheres estabelece­‑se uma relação de dependência mútua. Num dos seus dramas mais perturbantes, Bergman faz, também, uma revolução na linguagem cinematográfica.

f fDia 30, Sábado, 15:30 HERR ARNES PENGAR “O Tesouro de Arne” de Mauritz Stiller com Mary Johnson, Richard Lund, Hjamer Selander Suécia, 1919 – 100 min / m udo, com intertítulos em sueco legendados em português

f fDia 23, Sábado, 15:30

IL TEMPO SE È FERMATO

SKAMMEN

de Ermanno Olmi

“A Vergonha” de Ingmar Bergman

com Natale Rossi, Roberto Seveso, Paolo Quadrubbi Itália, 1959 – 100 min / legendado eletronicamente em português

com Liv Ullmann, Max von Sydow, Sigge Fürst, Gunnar Björnstrand

duração total da projeção: 200 min | M/12

Suécia, 1968 – 103 min / legendado em espanhol

“ O TES O U RO D E A R NE” tem aco mpan h a mento ao p iano

ERA NOTTE A ROMA

entre a projeção dos dois filmes há um intervalo de 30 minutos

Era Noite em Roma de Roberto Rossellini com Leo Genn, Giovanna Ralli, Sergei Bondartchuk, Peter Baldwin Itália, França, 1960 – 137 min / legendado eletronicamente em português

duração total da projeção: 240 min | M/12 entre a projeção dos dois filmes há um intervalo de 30 minutos

Durante uma (alegórica) guerra civil, dois músicos apolíticos retiram­‑se para uma quinta numa ilha rural. É este o ponto de partida de SKAMMEN, que se tornou num dos menos vistos filmes de Bergman. “O filme não trata de uma imensa brutalidade, ou apenas da mediocridade. Não é sobre as bombas, mas sobre a infiltração gradual do medo… mas não é suficientemente preciso. A minha ideia original era mostrar um único dia antes da guerra rebentar” (Ingmar Bergman, 1971). ERA NOTTE A ROMA passa­‑se durante os meses que precedem a libertação definitiva de Roma pelos aliados, acompanhando a fuga de três soldados de nacionalidades diferentes (um inglês, um americano e um russo), evadidos de um campo de prisioneiros. História de solidariedade, abnegação e sacrifício, que assinala o derradeiro regresso de Rossellini à Itália da Segunda Guerra.

Uma obra­‑prima, baseada num conto de Selma Lagerlöff, que mostra a que nível artístico o cinema chegara na década dez do século XX. “O TESOURO DE ARNE” tem por cenário a Suécia na Idade Média, contando a história de três evadidos que matam um fazendeiro para se apoderarem de um tesouro e ficam com a fuga cortada pela neve. Inesquecível presença feminina de Mary Johnson e imagens deslumbrantes onde se destacam as cenas do desfile fúnebre final. IL TEMPO SE È FERMATO é a primeira ficção de Olmi, realizado à revelia do produtor, a companhia elétrica Edisonvolta, que supunha que este se encontrava nas montanhas a filmar mais um dos seus documentários sobre barragens e centrais de energia. Centrado num estaleiro deserto onde se interromperam as obras de construção de uma barragem, o filme aborda a relação de amizade que se estabelece na solidão das montanhas entre dois homens, personagens interpretadas por atores não profissionais, cujos gestos e diálogos são captados em som direto e acompanhados por uma câmara sempre atenta às pequenas particularidades do quotidiano. “Desde esse primeiro filme, que tem já a perfeição de uma obra­‑prima, o método do cineasta aparece em toda a sua maturidade e pureza formal” (Tullio Kezich).

PERSONA A Máscara de Ingmar Bergman com Liv Ullmann, Bibi Andersson Suécia, 1966 – 81 min / legendado em português duração total da projeção: 261 min | M/16 entre a projeção dos dois filmes há um intervalo de 30 minutos

Em INLAND EMPIRE, uma atriz prepara­‑se para o seu maior papel de sempre, mas quando realiza que está a apaixonar­‑se pelo ator com quem contracena percebe que a sua vida real não é mais do que uma réplica da ficção que ambos estão a filmar. A sua confusão aumenta quando lhe é revelado que o filme em causa é um “remake” de uma velha produção polaca que nunca chegou a ser acabada devido a uma estranha

HERR ARNES PENGAR

IL TEMPO SE È FERMATO


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SALA M. FÉLIX RIBEIRO ENCONTRO COM BÉLA TARR Os últimos dias da presença de Béla Tarr na Cinemateca, onde esteve uma semana a apresentar filmes seus e, escolhidos por ele, filmes de outros re‑ alizadores. O programa conclui­‑se com uma sessão em que Béla Tarr estará disponível para dialogar com os seus espectadores, e pela projeção, ao longo de todo a tarde de sábado, do seu monumental SÁTÁNTANGÓ.

f fDia 1, Sexta­‑ feira,19:00 ENCONTRO COM BÉLA TARR f fDia 2, Sábado, 15:30 SÁTÁNTANGÓ de Béla Tarr com Mihály Vig,Putyi Horváth, László Lugossy, Éva Almássy Albert Hungria, 1993 – 430 min / legendado eletronicamente em português | M/12

com a presença de Béla Tarr sessão com intervalos

Um mundo travado, a ilusão da ação, a ilusão da utopia. Uma parábola totalmente evidente sobre um longo período da história de uma parte da Europa, e um filme totalmente obscuro sobre a imagem e o (seu) movimento. Um dos insubstituíveis “trabalhos sobre o tempo” por parte do cinema moderno. Sete horas e dez minutos que podem mudar a nossa visão do cinema. Ou a nossa visão. Muito possivelmente, a obra­‑prima de Béla Tarr, e o filme que mais fez pelo seu reconhecimento internacional.

sátántangó

ETIC – ESCOLA DE TECNOLOGIAS, INOVAÇÃO E CRIAÇÃO

OUTRAS SESSÕES DE JULHO

À semelhança da iniciativa realizada em 2015, em colaboração com a ETIC – Escola de Tecnologias, Inovação e Criação, a Cinemateca apresenta uma sessão com um programa de novíssimos trabalhos dos alunos da escola, ainda em fase de acabamento no fecho do programa. Trata­‑se da estreia dos filmes finais do ciclo de estudos do Curso de Cinema e Televisão da ETIC – BTEC HND (Higher National Diploma).

Programado em junho no contexto da série de sessões evocativas do trabalho de Chantal Akerman então apresentadas, LA FOLIE ALMAYER não pôde ser visto. A sua primeira exibição na Cinemateca cumpre­‑se este mês.

f fDia 14, Quinta­‑ feira, 21:30

f fDia 26, Terça­‑ feira, 19:00

PROGRAMA A ANUNCIAR

LA FOLIE ALMAYER

A CINEMATECA COM O CURTAS VILA DO CONDE EM COLABORAÇÃO COM O 24º CURTAS VILA DO CONDE A Cinemateca associa­‑se uma vez mais ao Curtas Vila do Conde – Festival Internacional de Cinema, este ano na sua 24ª edição, com a organização de três programas. Os dois primeiros contam com uma seleção dos filmes pre‑ miados nesta edição do festival, nas suas respetivas competições nacional e internacional; o terceiro é composto por três curtas­‑metragens de João Pedro Rodrigues e João Rui Guerra da Mata, por ocasião do lançamento em DVD (editado numa parceria entre Curtas Vila do Conde e a FNAC) do conjunto dos títulos de curta­‑metragem de ambos os cineastas.

f fDia 21, Quinta­‑ feira, 21:30

MAHJONG

PROGRAMA A ANUNCIAR

de João Pedro Rodrigues, João Rui Guerra da Mata

Filmes premiados na competição nacional.

com João Pedro Rodrigues, Anne Pham, João Rui Guerra da Mata

f fDia 22, Sexta­‑ feira, 19:00

Portugal, 2013 – 35 min

PROGRAMA A ANUNCIAR Filmes premiados na competição internacional.

f fDia 23, Sábado, 21:30 PARABÉNS! de João Pedro Rodrigues com João Rui Guerra da Mata, Eduardo Sobral Portugal, 1997 – 15 min

O QUE ARDE CURA de João Rui Guerra da Mata com João Pedro Rodrigues Portugal, 2012 – 27 min

duração total da projeção: 77 min | M/12 com a presença de João Pedro Rodrigues e João Rui Guerra da Mata PARABÉNS! marcou verdadeiramente a estreia de João Pedro Rodrigues no cinema português (na sua filmografia, o anterior O PASTOR é ainda um filme de escola, produzido pela Escola Superior de Teatro e Cinema). O QUE ARDE CURA é primeiro filme a solo de João Rui Guerra da Mata (antes tinha correalizado com João Pedro Rodrigues CHINA CHINA e ALVORADA VERMELHA). Realizado por ambos, MAJHONG é uma produção do Curtas Vila do Conde. Os dois últimos filmes são exibidos pela primeira vez na Cinemateca.

A Loucura de Almayer de Chantal Akerman com S tanislas Merhar, Marc Barbé, Aurora Marion, Zac Andrianasolo França, Bélgica, 2011 – 127 min / leg. eletronicamente em português | M/12

Para LA FOLIE ALMAYER, Akerman partiu do primeiro romance de Joseph Conrad (1895), ambientado nas Índias orientais, adaptando­‑o livremente para retomar a personagem de Almayer no início da década de cinquenta do século XX: um europeu que procura fortuna algures numa aldeia perdida da Malásia, onde casa e tem uma filha, vê o seu mundo desmoronar­‑se no decorrer de um percurso que Akerman olha como o de um colapso envenenado e sem tréguas. Filmou­ ‑o em grande medida no Camboja, espaço cuja respiração é um elemento fundamental, e entregou a personagem do protagonista a Stanislas Merhar, já ator de A CATIVA (2000), a sua adaptação do quinto volume de Em Busca do Tempo Perdido, de Proust. Quando apresentou LA FOLIE ALMAYER em Lisboa, em 2012, Chantal Akerman disse como entendia que o cinema tem de passar pela cabeça e pelo coração. Primeira exibição na Cinemateca.


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SALA M. FÉLIX RIBEIRO/esplanada ABSOLUTAMENTE BOWIE Não vamos lembrar a biografia, o culto, as canções, as muitas fases, na música – onde o génio invulgarmente se aliou à popularidade – como na persona que lhe foi estan‑ do “colada”, as muitas vidas ou as muitas máscaras, a efervescência, a singularidade extraída da teatralização ou das variações ou da reinvenção permanente; o modo como se tornou parte do mundo e do imaginário pop e dele extravasou, de que foi demonstração o “choque planetário” que o seu desaparecimento em janeiro deste ano provocou (altura em que correram rios de tinta, ou uma catadupa de caracteres em seu lugar). É que não é mesmo preciso, no caso de David Bowie, o “dispensa apresentações” peca por defeito. Digamos então que evocar David Bowie no cinema, David Bowie para quem o cine‑ ma foi, além de um dos “terrenos”, uma referência importante (e “toda a gente” cita em particular a de 2001 e A LARANJA MECÂNICA de Kubrick como inspiração de Space Oddity e The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars), é programar filmes em que foi ator, filmes que viveram da sua presença, filmes em que as suas canções ocuparam um lugar importante. Tomada no seu conjunto, a filmografia de Bowie é assinalável, de inúmeras participações em bandas sonoras e com um significativo lote de filmes em papeis protagonistas ou pequenas partici‑ pações que, senão primam pelo mesmo diapasão da sua obra musical, incluem uma série de títulos de culto, na maioria dos casos indissociáveis da aura conferida pela sua presença. As notas que se seguem propõem­‑se explicar as escolhas feitas, limitadas pela acessibilidade de cópias de projeção de títulos como THE IMAGE (Michael Armstrong, 1967), o filme da primeira aparição de Bowie no cinema, em terror, formato curto, recentemente libertado “em linha” no Wall Street Journal por cortesia do David Bowie Archive; ou LOVE YOU TILL TUESDAY (Malcolm J. Thomson, 1984), concebido como filme promocional em 1969 pelo então agente de Bowie. Na Cinemateca, onde Bowie teve um primeiro pequeno Ciclo em 2003 (“Cantores/ Atores”), julho é um mês Bowie, no interior escuro da sala M. Félix Ribeiro, e ao ar livre na Esplanada, em cinco projeções à sexta­‑feira.

f fEsplanada | Dia 1, Sexta­‑ feira, 22:30 f fSala M. Félix Ribeiro | Dia 5, Terça­‑ feira, 15:30 ABSOLUTE BEGINNERS Absolutamente Principiantes de Julien Temple com Eddie O’Connell, Patsy Kensit, David Bowie, James Fox, Ray Davies, Sade Adu Reino Unido, 1986 – 108 min / legendado eletronicamente em português | M/12

O título do filme (que adapta o livro homónimo de Colin MacInnes, 1958) é também o do tema da canção que Bowie para ele escreveu e se tornou um dos seus imensos êxitos. Basta lembrar: “If our love song / Could fly over mountains / Could laugh at the ocean / Just like the films / There’s no reason / To feel all the hard times / To lay down the hard lines / It’s absolutely true”. ABSOLUTE BEGGINERS, o filme, é ambientado na Londres do pós­‑guerra, na viragem para a década de sessenta, antes dos Beatles e dos Stones. Ao contrário da canção de Bowie, e do reconhecimento da sua boa prestação como ator, não foi um grande sucesso, mas o tempo deu­‑lhe um estatuto especial. É um filme indispensável numa evocação de Bowie no cinema. Primeira exibição na Cinemateca.

f fSala M. Félix Ribeiro | Dia 4, Segunda­‑ feira, 19:00 f fEsplanada | Dia 29, Sexta­‑ feira, 22:30 VELVET GOLDMINE Velvet Goldmine de Todd Haynes com Ewan McGregor, Christian Bale, Johnathan Rhys Meyers Estados Unidos, 1998 – 104 min / legendado em português | M/16

“Uma legenda inicial convida a ouvir o filme com o volume no máximo, como na capa do álbum de David Bowie Ziggy Star‑ dust and the Spiders from Mars, mas no fim o que nos parece ter visto foi um documentário em estilo kabuki que tivesse ca‑ ído por acaso nas mãos de Bertolt Brecht” (Paolo Cherchi Usai, Segnocinema). Os anos noventa foram os do reconhecimento da obra de Todd Haynes, os de POISON, SAFE e deste VELVET GOLDMINE, que reconstitui com assinalável liberdade o início do “glam rock” na Inglaterra do início da década de setenta ou, porventura mais propriamente, a sua mitologia, seguindo a história da personagem fictícia de uma “pop star”, Brian Slade, substancialmente inspirada em David Bowie. O título corres‑ ponde ao de um tema de Bowie em The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars (que este recusou que in‑ tegrasse a banda musical), sendo todo o filme atravessado por referências e alusões à cena pop musical da época.

Monty Python, o enredo centra­‑se numa adolescente apaixona‑ da por contos fantásticos e mergulhada no mundo imaginário em que tenta encontrar o irmão mais novo, prisioneiro no palá‑ cio do rei Jareth. Ela é Jennifer Connelly; Bowie, o maligno rei. São ambos as personagens de “carne e osso” de LABYRINTH, quase inteiramente habitado por criaturas fantásticas. Jim Hen‑ son menciona a referência de Maurice Sendak neste seu filme, e houve quem a seu propósito evocasse THE WIZARD OF OZ. Bowie gravou cinco canções para o filme (Underground, Magic Dance, Chilly Down, As the World Falls Down, Within You). Pri‑ meira exibição na Cinemateca, a apresentar em cópia digital.

como alguém de “espírito indestrutível”. Takeshi Kitano surge como sargento japonês, num papel também ele marcante no percurso do ator­‑realizador.

f fSala M. Félix Ribeiro | Dia 6, Quarta­‑ feira, 19:00 f fSala M. Félix Ribeiro | D ia 8, Sexta­‑ feira, 15:30

Uma moderna história de vampiros, filmada em ambientes urbanos e realistas, e marcada pelo erotismo. É também uma das interpretações mais elogiadas de David Bowie, aqui a emprestar a sua silhueta mais ambígua ao papel de companheiro da “vampira” Catherine Deneuve. Obra de estreia de Tony Scott, THE HUNGER é hoje, para muitos, um objeto de culto. Na altura, satisfeito com o filme, um apreensivo Bowie declarou à Rolling Stone: “Devo dizer que não há nada, no mercado, que se lhe pareça. Mas preocupa­ ‑me um pouco que por vezes seja perversamente sangrento”.

MERRY CHRISTMAS, MR. LAWRENCE Feliz Natal, Mr. Lawrence de Nagisa Oshima com David Bowie, Ryuichi Sakamoto, Tom Conti, Takeshi Kitano Reino Unido, Japão, 1982 – 122 min / leg. eletronicamente em português | M/16

O primeiro filme em inglês de Nagisa Oshima tem por cenário um campo de concentração durante a Segunda Guerra Mundial, na ilha de Java, onde os japoneses mantêm prisioneiros aliados. Na personagem de um major aí prisioneiro, o papel protagonista de Bowie é um dos mais atípicos mas também mais celebrados da sua filmografia de ator, em contracena com a complexa personagem do comandante japonês interpretado por Ryuichi Sakamoto, também autor da banda musical do filme (de onde Bowie está ausente). É em boa medida a relação entre eles que marca o brutal MERRY CHRISTMAS, MR. LAWRENCE. Oshima escolheu dois “astros” da cena musical para as interpretar, referindo­‑se a Bowie

f fSala M. Félix Ribeiro | Dia 7, Quinta­‑ feira, 19:00 THE HUNGER Fome de Viver de Tony Scott com C atherine Deneuve, David Bowie, Susan Sarandon, Cliff De Young Estados Unidos, 1983 – 97 min / leg. eletronicamente em português | M/18

f fSala M. Félix Ribeiro | Dia 8, Sexta­‑ feira, 19:00 f fSala M. Félix Ribeiro | Dia 12, Terça­‑ feira, 15:30 IO E TE Eu e Tu de Bernardo Bertolucci com, J acopo Olmo Antinori, Tea Falco, Sonia Bergamasco, Veronica Lazar Itália, França, 2012 – 103 min / legendado em português | M/12

Pode resumir­‑se o enredo como o da história de um solitário

f fSala M. Félix Ribeiro | Dia 6, Quarta­‑ feira, 15:30 LABYRINTH Labirinto de Jim Henson com David Bowie, Jennifer Connelly Reino Unido, Estados Unidos, 1986 – 102 min / legendado eletronicamente em português | M/6

Coproduzido por George Lucas, o filme de Jim Henson propõe­ ‑se como uma espécie de fábula musical de aventuras. Partindo de um argumento iniciado por um esboço de Terry Jones, dos

THE LIFE AQUATIC WITH STEVE ZISSOU


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juLho 2016 | Cinemateca Portuguesa­‑Museu do Cinema

SALA M. FÉLIX RIBEIRO/esplanada adolescente de 14 anos que se refugia na cave do seu próprio prédio durante uma semana, onde encontra o subterrâneo cenário de um inesperado encontro com a meia­‑irmã. Eu e tu, diz­‑nos o título. Bertolucci filmou­‑o a partir do romance homónimo de Niccolò Ammaniti, uma década depois de THE DREAMERS e, como nesse, mas também como no inicial PRIMA DELLA RIVOLUZIONE (1964), volta à juventude. E há uma cena iluminada por uma canção de Bowie, que muito revela: Ragazzo Solo, Ragazza Sola, a versão em língua italiana da célebre Space Oddity, de Major Tom (1969). Mais rara, a versão italiana (com letra de Mogol, lançada em 1970), acompanha muita gente. Primeira exibição na Cinemateca.

acompanha a corrida dançada de Denis Lavant ao som de Bowie: Modern Love. Noah Baumbach referenciou­‑a em FRANCES HA (2012), mas, no cinema, Modern Love é a canção de Carax/Lavant. A apresentar em cópia digital.

f fEsplanada | Dia 8, Sexta­‑ feira, 22:30 f fSala M. Félix Ribeiro | Dia 25, Segunda­‑ feira, 15:30

Reino Unido, 1976 – 138 min / leg. eletronicamente em português | M/16

TWIN PEAKS: FIRE WALK WITH ME Twin Peaks: Os Últimos Sete Dias de Laura Palmer de David Lynch com Sheryl Lee, Ray Wise, Kyle MacLachlan, Mädchen Amick, David Bowie, Miguel Ferrer Estados Unidos, 1992 – 135 min / leg. eletronicamente em português | M/18

TWIN PEAKS: FIRE WALK WITH ME foi considerado uma “prequela” da famosa série de televisão de Lynch, “Twin Peaks”, no sentido em que expõe o drama que levou à morte da jovem Laura Palmer, ponto de partida para aquela série e personagem por quem o realizador então afirmou sentir­‑se apaixonado. Na altura, foi recebido como um dos seus mais estranhos e surrealistas filmes, inteiramente construído sob o signo do duplo e do desdobramento. David Bowie surge no papel de um excêntrico agente do FBI.

f fSala M. Félix Ribeiro | Dia 11, Segunda­‑ feira, 21:30 f fSala M. Félix Ribeiro | Dia 29, Sexta­‑ feira, 15:30 THE LAST TEMPTATION OF CHRIST A Última Tentação de Cristo de Martin Scorsese com Willem Dafoe, Harvey Keitel, Barbara Hershey, Harry Dean Stanton, David Bowie Estados Unidos, 1988 – 164 min / leg. eletronicamente em português | M/16

A mais polémica história de Cristo no cinema. Scorsese recorre ao romance homónimo de Nikos Kazantzakis, que se interroga sobre a natureza de Jesus Cristo, para filmar a partir de um argumento assinado por Paul Schrader. O escândalo causado pelo filme não levou em conta que THE LAST TEMPTATION OF CHRIST tem menos a ver com a hagiografia oficial do que com o próprio universo de Scorsese. Willem Dafoe e Harvey Keitel são o Jesus e o Judas de Scorsese que entregou a Bowie o papel de Pilatos. Já a música é de Peter Gabriel.

f fSala M. Félix Ribeiro | Dia 12, Terça­‑ feira, 19:00 f fSala M. Félix Ribeiro | Dia 27, Quarta­‑ feira, 19:00

f fSala M. Félix Ribeiro | Dia 15, Sexta­‑ feira, 15:30 f fSala M. Félix Ribeiro | Dia 26, Terça­‑ feira, 21:30 THE MAN WHO FELL TO EARTH O Homem que Veio do Espaço de Nicolas Roeg com David Bowie, Rip Torn, Candy Clark, Buck Henry Tinha havido os documentais ZIGGY STARDUST AND THE SPIDERS FROM MARS, de Pennbaker e CRACKED ACTOR, de Alan Yentob (1973/75), e antes deles, na primeira aparição de Bowie ator, THE IMAGE (a curta­‑metragem, de 1967, de Michael Armstrong), mas pode dizer­‑se que, ao cinema, David Bowie chegou “do espaço” neste filme de culto. É o do seu primeiro papel protagonista, o de um extraterrestre “desembarcado” no planeta azul para engendrar a possibilidade de levar água para o seu próprio planeta, que dela precisa. Baseado numa alucinante leitura do romance homónimo de Walter Tevis, é uma incursão na ficção científica totalmente marcada pela presença e o universo visual de Bowie (com música alheia). A apresentar em cópia digital.

f fSala M. Félix Ribeiro | Dia 15, Sexta­‑ feira, 21:30 JUST A GIGOLO de David Hemmings com David Bowie, Kim Novak, Maria Schell, Curt Jürgens, Marlene Dietrich Alemanha, 1978 – 105 min / legendado eletronicamente em português | M/12

Se JUST A GIGOLO é um título de má fama e foi particularmente atacado quando estreou, só os nomes do elenco convencem que é um filme a ver. Na sua última aparição no cinema (como personagem) para uma sequência em que cruza o olhar com David Bowie (só num campo / contracampo, filmados à distância), Marlene dirige uma escola para “gigolos” na Berlim dos anos vinte. Bowie veste a pele de um oficial prussiano que, de regresso a Berlim depois da Grande Guerrra, encontra trabalho no bordel dirigido pela baronesa Dietrich. É Marlene quem canta o tema do filme, Just a Gigolo. A apresentar na versão inglesa, em primeira exibição na Cinemateca.

f fEsplanada | Dia 15, Sexta­‑ feira, 22:30 f fSala M. Félix Ribeiro | Dia 26, Terça­‑ feira, 15:30 CAT PEOPLE A Felina de Paul Schrader com Nastassja Kinski, Malcolm McDowell, John Heard, Annette O’Toole

ZIGGY STARDUST AND THE SPIDERS FROM MARS

Estados Unidos, 1982 – 118 min / leg. eletronicamente em português | M/18

de D. A. Pennebaker

Além de uma sequência numa piscina, poucas são as semelhanças com o mítico filme homónimo de Tourneur, ainda que o argumento livremente se baseie na mesma história que deu origem ao filme de 1942. Referindo­‑se ao terror e ao erotismo, Schrader defendeu­‑o como um filme com “mais pele do que sangue”, e é certo que nunca Nastassja Kinski foi tão felina. A música tem a assinatura de Giorgio Moroder, incluindo a do seu tema, escrito e interpretado por David Bowie: Putting Out Fire. O mesmo a que Tarantino voltou em INGLORIOUS BASTERDS.

com David Bowie, Mick Ronson, Trever Bolder, Mick “Woody” Woodmansey, Ringo Starr, Angela Bowie Estados Unidos, 1979 – 90 min / leg. eletronicamente em português | M/12

Dos “documentários musicais” de Pennebaker são porventura mais famosos os anteriores DON’T LOOK BACK, sobre Bob Dylan, e o filme­‑concerto MONTEREY POP (1967/68). ZIGGY STARDUST AND THE SPIDERS FROM MARS, também conhecido como BOWIE 1973, fixa­‑se no registo do concerto londrino de julho de 73 que Bowie anunciou como o último dele e da banda, e foi, de facto, a sua última aparição na pele de Ziggy Stardust. Trata­‑se portanto de um filme de um grande realizador que documenta um momento mítico no percurso de David Bowie. Primeira exibição na Cinemateca, a apresentar em cópia digital.

f fSala M. Félix Ribeiro | Dia 18, Segunda­‑ feira, 21:30 BASQUIAT Basquiat de Julian Schnabel

f fSala M. Félix Ribeiro | Dia 13, Quarta­‑ feira, 19:00 f fSala M. Félix Ribeiro | Dia 16, Sábado, 21:30

com Jeffrey Wright, David Bowie, Benicio del Toro, Dennis Hopper, Gary Oldman, Courtney Love

MAUVAIS SANG

Julian Schnabel celebra a obra do americano Jean­‑Michel Basquiat (1960­‑1988), neste “biopic” em que Jeffrey Wright interpreta o protagonista e David Bowie encarna o papel do seu mentor Andy Warhol, numa “notável composição”, escreveu Roger Ebert no Chicago Sun­‑Times. Peculiar incursão cinematográfica na figura e na obra de um pintor por outro pintor (BASQUIAT foi o primeiro filme de Schnabel, amigo de Basquiat), o filme é também um interessante retrato do meio artístico nova­‑iorquino.

Má Raça de Leos Carax com Denis Lavant, Juliette Binoche, Hans Meyer, Julie Delpy, Michel Piccoli, Serge Reggiani, Hugo Pratt França, 1986 – 116 min / legendado em português | M/16

Peça fundamental do “universo Carax”, título marcante do cinema francês dos anos oitenta, em que Carax “encontrou” um lugar indissociável de “enfant terrible” e um pequeno culto, MAUVAIS SANG cruza gerações (de personagens e atores) e compõe­‑se contaminado pela ideia da transmissão, em termos narrativos mas também cinematográficos. Com Denis Lavant, alter ego de Carax, e Juliette Binoche como jovem par protagonista, a “história” constrói­‑se em redor de um vírus (alusivo ao da SIDA) que ameaça o mundo e os “amantes que fazem sexo sem sentimento”. É nos momentos em que a narrativa se “suspende” que se encontra a energia de MAUVAIS SANG, como o do inesquecível travelling que

Estados Unidos, 1996 – 106 min / leg. eletronicamente em português | M/16

f fSala M. Félix Ribeiro | Dia 20, Quarta­‑ feira, 21:30 WHEN THE WIND BLOWS Quando o Vento Sopra de Jimmy T. Murakami com John Mills, Peggy Ashcroft (vozes) Reino Unido, 1988 – 84 min / legendado em português | M/12

Baseado na novela gráfica homónima de Raymond Briggs,

que também assina o argumento, o filme de animação de Jimmy T. Murakami combina as técnicas do desenho e “stop­ ‑motion”. Pode chamar­‑se­‑lhe uma “animação catástrofe”: desatento aos idos tempos da guerra, um casal britânico de certa idade constrói um abrigo preparando­‑se para um iminente ataque nuclear. A banda musical tem Roger Waters, Genesis, Squeeze… e Bowie, que escreveu e interpreta o tema do filme, When the Wind Blows, numa segunda colaboração num filme de argumento baseado em Raymond Briggs (depois de THE SNOWMAN, 1982). Primeira exibição na Cinemateca.

f fEsplanada | Dia 22, Sexta­‑ feira, 22:30 f fSala M. Félix Ribeiro | Dia 28, Quinta­‑ feira, 15:30 THE LIFE AQUATIC WITH STEVE ZISSOU Um Peixe Fora de Água de Wes Anderson com B ill Murray, Owen Wilson, Cate Blanchett, Anjelica Huston, Willem Dafoe, Jeff Goldblum, Seu Jorge Estados Unidos, 2004 – 118 min / leg. eletronicamente em português | M/12

Steve Zissou (Bill Murray, numa das fabulosas prestações em filmes de Wes Anderson) é um marinheiro realizador de filmes, vagamente inspirado em Jacques­‑Yves Cousteau; vive rodeado de água e com alguma reticência em assumir a condição de homem adulto; comanda um barco que é simultaneamente um laboratório de cinema. Da ideia de família ao “buddy movie”, os “temas” de Anderson estão lá todos, como estão a graça e a melancolia, os atores em trupe cúmplice. E há Bowie, muito Bowie. A maioria das suas canções que compõem a banda musical ouvem­‑se em português, pelo brasileiro Seu Jorge, que também interpreta a personagem de um tripulante (chamado Pelé). “Bowie faz parte da minha infância. Sempre quis ter a música dele num filme meu, são canções que nos transportam para outro planeta, canções de aventura como este filme. O Seu Jorge inventou novas letras, tocou guitarra e nós gravámos essas canções, com o acordo de Bowie, claro” (Wes Anderson).

f fSala M. Félix Ribeiro | Dia 27, Quarta­‑ feira, 15:30 f fSala M. Félix Ribeiro | Dia 28, Quinta­‑ feira, 21:30 LOST HIGHWAY Estrada Perdida de David Lynch com B ill Pullman, Patrícia Arquette, Balthazar Getty, Robert Blake Estados Unidos, França, 1997 – 134 min / legendado em português | M/18

Um dos mais intrigantes e bizarros filmes de David Lynch, marcado por duas histórias que se completam, ao mesmo tempo que se prolongam infinitamente, sendo cada uma delas “eco” e “reflexo” da outra. A intriga ronda a personagem de um músico de jazz, que julga ser enganado pela mulher e se vê subitamente suspeito da morte dela. Dispensando decifrações, é um filme de abismos e vertigens que obrigam, sempre, a seguir em frente. A canção da inolvidável sequência de abertura, estrada fora, e que “serve” todo o filme, é de David Bowie (escrita por ele e Brian Eno em 1995): I’m Deranged.

f fSala M. Félix Ribeiro | Dia 27, Quarta­‑ feira, 21:30 f fSala M. Félix Ribeiro | Dia 30, Sábado, 21:30 INGLORIOUS BASTERDS Sacanas sem Lei de Quentin Tarantino com Brad Pitt, Melanie Laurent, Christoph Waltz, Eli Roth Estados Unidos, Alemanha, 2009 – 154 min / legendado em português | M/16

Numa sala de cinema, durante a grande estreia de um filme de propaganda nazi em que o próprio Hitler deveria marcar presença, vários grupos opositores ao regime cruzam­‑se com um objetivo comum: a destruição do Terceiro Reich. Este é o centro do inventivo INGLOURIOUS BASTERDS, em que Tarantino convoca e trabalha estereótipos das representações da Segunda Guerra Mundial. De Bowie, num momento crucial do filme, há Cat People (Putting Out Fire), e Tarantino explicou a sua escolha: “Sempre adorei essa canção e sempre me senti desapontado pela maneira como Paul Schrader a usou em CAT PEOPLE, precisamente porque não a usou – atirou­‑a para os créditos finais. Lembro­‑me de na altura ter pensado, ‘Se tivesse uma canção daquelas, construía uma cena de vinte minutos à volta dela.’ Foi o que fiz.”

f fSala M. Félix Ribeiro | Dia 29, Sexta­‑ feira, 19:00 BEST OF BOWIE de vários realizadores Estados Unidos, 2002 – 252 min / sem legendas | M/12

sessão com intervalo

Como o título indica, trata­‑se de uma compilação panorâmica da música e das interpretações de Bowie, integrando imagens registadas entre 1967 e 2002 e canções que integraram os seus álbuns entre David Bowie (1969) e Heathen (2002). Propõe­‑se neste programa como o momento para ouvir David Bowie. Primeira exibição na Cinemateca.


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juLho 2016 | Cinemateca Portuguesa-Museu do Cinema

S A L A lu í s de pina EDGARDO COZARINSKY – REALIZADOR CONVIDADO Espaço aberto na programação da Cinemateca em janeiro de 2015, a rubrica “Realizador Convidado”, regressa este mês de julho, com Edgardo Cozarinsky, a quem a Cinemateca prestou uma homena‑ gem, acompanhada pela publicação de uma brochura, no longín‑ quo ano de 1997. O itinerário de Cozarinsky é peculiar. Nascido e criado em Buenos Aires, que era então uma cidade extremamente cinéfila, Cozarinsky começou por exercer a função de crítico, antes de realizar em 1969 … (PUNTOS SUSPENSIVOS), misto de diário e ensaio, em que procurava “ingenuamente, um cinema ‘absolu‑ to’”. A violenta e perigosa situação política na Argentina levou­‑o ao exílio em Paris, em 1974, por um período que se estendeu por cerca de vinte anos. Depois de realizar um filme de ficção sobre exílios diversos, LES APPRENTIS SORCIERS, Cozarinsky realizou em 1982 um dos seus filmes mais admirados, LA GUERRE D’UN SEUL HOMME, documentário não tradicional sobre o período da ocupação de França pela Alemanha nazi, no qual a banda sonora é formada essencialmente pelo diário de Ernst Jünger. Num texto do mesmo ano, Cozarinsky escreveu que “as investigações mais estimulantes do cinema atual são as que, tornando pouco nítidas as fronteiras entre ficção e documentário (aquilo que é admitido como tal) conquistam para o cinema territórios que pareciam do domínio exclusivo da palavra escrita. Quer se trate de um diário íntimo, de um panfleto ou de cartas, o filme­‑ensaio é, hoje, a forma mais livre e mais fresca de reencontrar a ficção, sem parecer Edgardo Cozarinsky © Analía-Hounie procurá­‑la”. Cozarinsky seguiu por este caminho, alternando “ficções” e “documentários”, até que em 1992 reatou com o seu país natal ao realizar BOULEVARDS DU CRÉPUSCULE, sobre franceses que se exilaram na Argentina durante a Segunda Guerra Mundial, o que lhe permitiu abordar o tema do desenraizamento e do exílio, que está no cerne da sua obra. Depois de realizar um filme sobre os cinquenta anos dos Cahiers du Cinéma, LE CINÉMA DES CAHIERS (2001), Cozarinsky passou a dividir o seu tempo entre Paris e Buenos Aires, com permanências cada vez mais longas na sua cidade natal. Reduziu a sua atividade como cineasta, para se concentrar na literatura, que sempre foi uma das suas paixões, tendo conseguido pleno reconhecimento neste domínio, com quase vinte volumes publicados nos últimos quinze anos. Os livros de contos La Novia de Odesa e Tres Fronteras, o volume de ensaios e crónicas Disparos en la Oscuridad e os romances Lejos de Donde (2009), En Ausencia de Quien (2014) e Dark (2016) são alguns exemplos da sua obra literária. Para esta rubrica “Realizador Convidado”, Cozarinsky escolheu, da sua própria obra, um filme documental e uma ficção (LA GUERRE D’UN SEUL HOMME e LE VIOLON DE ROTHSCHILD), além de três “filmes de câmara”, que ilustram a sua produção recente. Para a sua “carta branca”, elegeu o tema da noite, das aventuras urbanas noturnas, num Ciclo que intitulou “Uma Exploração da Noite”, no qual o seu próprio RONDA NOCTURNA é cotejado com clássicos de Jean Renoir, Charles Laughton, Jules Dassin e Louis Malle, ao lado de obras bem menos vistas, do brasileiro Antonio Carlos Fontoura e do iraniano Ebrahim Golestan. Edgardo Cozarinsky estará presente em todas as sessões dos seus filmes. Nas outras sessões do ciclo Realizador Convidado a sua presença será anunciada brevemente.

f fDia 6, Quarta­‑ feira, 18:30

f fDia 9, Sábado, 18:30 Uma Exploração da Noite

THE NIGHT OF THE HUNTER A Sombra do Caçador de Charles Laughton com R obert Mitchum, Lillian Gish, Billy Chapin, Shelley Winters Estados Unidos, 1955 – 93 min / legendado em português | M/12

f fDia 7, Quinta­‑ feira, 18:30

A única incursão de Charles Laughton na realização (que foi um completo fracasso comercial à época) resulta numa obra­‑prima incomparável, ponte de passagem obrigatória do cinema clássico ao moderno, com uma nova exploração da iluminação expressionista. Nesta onírica história infantil, o ogre é um assassino em série (a mais mítica criação de Robert Mitchum), perseguindo duas crianças filhas de uma das suas vítimas, até se deparar com uma adversária à sua altura, a personagem de Lillian Gish. Um dos filmes mais singulares de sempre.

f fDia 11, Segunda­‑ feira, 18:30

APUNTES PARA UNA BIOGRAFIA IMAGINARIA

CARTA A UN PADRE

de Edgardo Cozarinsky

de Edgardo Cozarinsky

Argentina, 2010 – 60 min / legendado eletronicamente em português | M/12

Argentina, 2013 – 63 min / legendado eletronicamente em português | M/12

Nos últimos anos, Edgardo Cozarinsky enveredou pelo que chamou “cinema de câmara”, feito com pequenos meios, para pequenas plateias. APUNTES PARA UNA BIOGRAFIA IMAGINARIA, estreado na Viennale, foi o primeiro destes filmes. Trata­‑se de uma montagem de materiais das origens mais diversas (atualidades cinematográficas, “home mo­ ‑vies”, trechos de longas­‑metragens do realizador, recriações de cenas imaginárias), sobre as quais pairam a voz de Cozarinsky e a música de Ulises Conti. O resultado é um autorretrato fragmentado, um “espelho em que o artista consegue retratar­‑se, sem ser por ele aprisionado” (Claudio Minghetti), num novo desdobramento de um dos temas centrais da sua obra, “a memória filmada como ficção” (Juan Pablo Cinelli). Primeira exibição na Cinemateca, a apresentar em cópia digital.

Neste filme, apresentado na Viennale e no Cinéma du Réel, Edgardo Cozarinsky investiga as origens e o percurso do seu pai, nascido numa família de “gaúchos judeus” (imigrantes que se instalaram no campo), que optou pela carreira militar e morreu quando o realizador tinha vinte anos. Um filme apresentado como “uma investigação que descobre diferentes capas de segredos e acordos tácitos, um filme sobre as contradições que estão por debaixo de toda a identidade”. O realizador define­‑o como “um filme de vozes e de imagens, algumas vindas de um passado longínquo, outras filmadas por mim nos lugares onde busquei as pegadas do meu pai” e conclui: “O detetive descobre sempre alguma coisa sobre si próprio”. Primeira exibição na Cinemateca.

RONDA NOCTURNA

f fDia 8, Sexta­‑ feira, 18:30

f fDia 11, Segunda­‑ feira, 22:00

f fDia 6, Quarta­‑ feira, 22:00

NOCTURNOS Uma Exploração da Noite

LA NUIT DU CARREFOUR de Jean Renoir com Pierre Renoir, Georges Térof, Winna Winfried França, 1932 – 75 min / legendado em português | M/12

Personagens de Dostoievski no cenário de Une Ténebreuse Affaire de Balzac, como disse Jean­‑Luc Godard. Este filme assinala a primeira aparição no cinema da personagem criada por Georges Simenon, o inspetor Maigret, interpretada pelo irmão do realizador, Pierre Renoir. Um filme estranho e elíptico, que em nada se aparenta a um filme policial “normal”, feito no início do período mais fértil e mais variado da obra de Renoir, que filma a noite e o nevoeiro como nunca tinha sido feito, como nunca mais foi feito.

Uma Exploração da Noite

de Edgardo Cozarinsky com Gonzalo Heredia, Rafael Ferro, Mariana Anghiler Argentina, 2005 – 81 min / legendado eletronicamente em português | M/12

Última longa­‑metragem de ficção realizada por Cozarinsky à data de hoje, antes dos seus “filmes de câmara”. Em RONDA NOCTURNA acompanhamos o percurso de um prostituto em Buenos Aires durante uma noite: a sua relação com os clientes, os “colegas”, a polícia, os outros habitantes da noite da cidade. À medida que a história avança, a fronteira entre o imaginário e o real torna­‑se mais ténue e o filme termina ao nascer do dia. Primeira exibição na Cinemateca, a apresentar em cópia digital.

Uma Exploração da Noite

de Edgardo Cozarinsky

A RAINHA DIABA

com Jimena Anganuzzi, Esteban Lamothe, Marita Lubos, Esmeralda Mitre

de Antonio Carlos Fontoura

Argentina, 2011 – 63 min / legendado eletronicamente em português | M/12

Brasil, 1974 – 100 min | M/12

Segundo dos “filmes de câmara” realizados à data por Cozarinsky, NOCTURNOS foi estreado na Mostra de Veneza (secção Orizzonti). Um homem vai à deriva por Buenos Aires, à noite, e encontra diversas pessoas, algumas saídas da realidade, outras das suas lembranças literárias, ao passo que os seus pensamentos interiores tomam a forma de poemas. Ao raiar do dia, um poeta fala da memória e do passado. O realizador observou a propósito deste filme: “As pessoas da noite reconhecem­‑se entre elas. A cidade é só delas. Saem para se confrontarem com a verdade escondida pela luz e revelada pelas trevas”. Primeira exibição na Cinemateca.

Segunda longa­‑metragem do seu autor, depois de COPACABANA ME ENGANA (1968), realizado num momento em que a pressão da censura afrouxava, A RAINHA DIABA é situado nos “bas fonds” do Rio de Janeiro e narra a clássica história de uma luta de poder entre um traficante de drogas e um jovem ambicioso, que procura ocupar o seu lugar. O primeiro é extremamente violento, mas também é um homossexual “flamejante”, cognominado Diaba e que se comporta como uma autêntica rainha no meio de uma corte de criminosos, da qual fazem parte vários travestis. Primeira exibição na Cinemateca.

com Milton Gonçalves, Stepan Nercessian, Odete Lara


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juLho 2016 | Cinemateca Portuguesa-Museu do Cinema

S A L A lu í s de pina f fDia 12, Terça­‑ feira, 22:00 Uma Exploração da Noite

THE NIGHT AND THE CITY Foragidos da Noite de Jules Dassin com Richard Widmark, Gene Tierney, Googie Withers, Hugh Marlowe Reino Unido, 1950 – 101 min / legendado eletronicamente em português | M/12

Magnífico filme negro, THE NIGHT AND THE CITY foi feito num momento em que Jules Dassin estava ameaçado pela “caça às bruxas” do maccarthysmo. Aconselhado pelo produtor Darryll Zanuck, Dassin tomou a dianteira e filmou esta produção americana em Londres, fixando­‑se na Europa. Um pequeno oportunista e vigarista, sempre com planos para enriquecer nas apostas, é levado a um beco sem saída quando se envolve no mundo da luta greco­‑romana e em combates falsificados. Dassin demonstra mais uma vez a sua grande capacidade para filmar em cenários naturais, como já fizera em Nova Iorque (THE NAKED CITY) e São Francisco, (THIEVES’ HIGHWAY). O resultado é uma fascinante mistura de realismo e estilização. Uma das melhores interpretações de Richard Widmark.

f fDia 13, Quarta­‑ feira, 18:30 LE VIOLON DE ROTHSCHILD de Edgardo Cozarinsky com Dainus Kazlauskas, Sergei Makovetksky, Tarno Männard França, Suíça, Hungria, 1996 – 101 min / legendado eletronicamente em português | M/12

O Violino de Rothschild (nada a ver com a célebre família de banqueiros) é uma ópera, baseada num conto de Tchékov, de um compositor soviético quase desconhecido, Benjamin Fleischmann (1913­‑41), que foi aluno de Shostakóvich e morreu no cerco de Leninegrado. A ópera, situada num “shtetl” (aldeia judia) conta a história de um fabricante de caixões, violinista amador, que lega o seu instrumento a um músico da orquestra da aldeia. Cozarinsky organizou o filme em três partes: na primeira, vemos a relação entre Shostakóvich e Fleischmann e na terceira os esforços infrutíferos do primeiro para fazer com que a ópera fosse montada, a seguir à guerra. Na parte central, Cozarinsky insere a totalidade da ópera, com cerca de quarenta minutos de música. A “filiação invisível, interminável”, segundo as palavras de Fleischmann, simbolizada pela transmissão do violino, prolonga­‑se no filme de Cozarinsky. A apresentar em cópia digital.

f fDia 13, Quarta­‑ feira, 22:00 Uma Exploração da Noite

ASCENSEUR POUR L’ÉCHAFAUD Fim­‑de­‑semana no Ascensor de Louis Malle com Maurice Ronet, Jeanne Moreau, Jean Wall França, 1958 – 84 min / legendado em português | M/12

Depois de colaborar nos primeiros filmes do Comandante Cousteau, ASCENSEUR POUR L’ÉCHAFAUD foi a estreia de Louis Malle na longa­‑metragem de ficção. Início coroado de sucesso,

THE nigth and the city

a que não faltou a atribuição do Prémio Louis Delluc. Através de uma intriga policial filmada a preto e branco e desenvolvida em ambientes “à americana” (para o que muito contribui a música de Miles Davis), usando com talento a impassibilidade do rosto de Jeanne Moreau, Malle deixava aqui a certeza de que o “novo cinema” estava prestes a chegar.

f fDia 14, Quinta­‑ feira, 18:30

f fDia 15, Sexta­‑ feira, 18:30 Uma Exploração da Noite

KHEST VA AYENEH “O Tijolo e o Espelho” Ebrahim Golestan com Taji Ahmadi, Zackaria Hashemi

LA GUERRE D’UN SEUL HOMME

Irão, 1965 – 131 min / legendado em inglês e eletronicamente em português | M/12

de Edgardo Cozarinsky narração de Niels Arestrup França, 1982 – 105 min / legendado eletronicamente em português | M/12

Magnífico filme de montagem sobre o período da ocupação da França pela Alemanha nazi durante a Segunda Guerra Mundial, LA GUERRE D’UN SEUL HOMME é formado unicamente por imagens de época (atualidades, filmes de propaganda). Recusando a voz “off” de um narrador, Cozarinsky contrapõe estas imagens a trechos do diário de Ernst Jünger, que era ao mesmo tempo um intelectual reconhecido e um oficial das forças nazis de ocupação. Neste filme magnificamente construído em quatro movimentos, Cozarinsky “propõe­‑nos uma outra maneira de olhar a História, longe das certezas e das racionalidades, quer sejam de direita ou de esquerda. Cozarinsky preferiu entregar­‑se à vertigem da História, sem dar lições, num pungente devaneio” (Jacques Fieschi). A apresentar em cópia digital.

Nascido em 1922 e instalado em Inglaterra desde 1975, Ebrahim Golestan fez­‑se conhecer como escritor, antes de se lançar no cinema, em inícios dos anos sessenta, período que veria nascer uma Nova Vaga iraniana (Farok Gaffary, Darius Mehrjui, Kamram Schirdel). KHEST VA AYENEH é a primeira das duas longas­‑metragens que realizou. Filmado com uma equipa reduzidíssima, o filme segue uma história noturna: um motorista de táxi descobre um bebé abandonado no seu veículo e passa a noite em trânsito por Teerão e a discutir com a namorada o que devem fazer com o bebé. Filmado com a mistura de subtileza e precisão que caracteriza o melhor cinema iraniano, é um dos muitos filmes importantes realizados no Irão no período final do regime do Xá que têm vindo a ser redescobertos. Primeira exibição na Cinemateca.

FILMES PORTUGUESES LEGENDADOS Em 2015, a Cinemateca iniciou uma tradição de verão que agora é reto‑ mada: ao longo de uma quinzena de julho e de outra em setembro, na Sala Luis de Pina, é apresentada uma mostra eclética de filmes portugue‑ ses em cópias legendadas em línguas estrangeiras – neste caso inglês e francês. Não deixando de proporcionar a todos o reencontro com filmes representativos da nossa História (alguns aqui exibidos com frequência), o programa tem assim em mente um outro público potencial, que são os nossos visitantes estrangeiros, cinéfilos ou simplesmente curiosos desta manifestação da cultura e da arte portuguesas. Confrontando títulos e autores de épocas e registos diferentes, a regra é portanto, acima de tudo, a da própria variação, assim como a do desafio a um conhecimento mais vasto, por parte de outros públicos.

f fDia 18, Segunda­‑ feira, 18:30 ANIKI­‑BOBÓ de Manoel de Oliveira com Nascimento Fernandes, Fernanda Matos, Horácio Silva, António Santos Portugal, 1942 – 71 min / legendado em inglês | M/6

RECORDAÇÕES DA CASA AMARELA

A primeira longa­‑metragem de Manoel de Oliveira, segundo o conto de Rodrigues de Freitas, Meninos Milionários. O título é a invocação de um jogo infantil para dividir os que serão “polícias” e “ladrões”. Embora o universo seja “infantil”, os temas são “adultos”, na primeira abordagem de Oliveira à paixão, ao desejo, ao ciúme, elementos essenciais do seu imaginário futuro, aqui recontados contra o cenário


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juLho 2016 | Cinemateca Portuguesa-Museu do Cinema

S A L A lu í s de pina “realista” da zona Ribeirinha do Porto, que fora a paisagem da estreia de Oliveira em Douro, Faina Fluvial.

f fDia 19, Terça­‑ feira, 18:30

f fDia 26, Terça­‑ feira, 18:30 RECORDAÇÕES DA CASA AMARELA de João César Monteiro

poderá neste sentido justamente chamar­‑se um filme de Fonseca e Costa” (Álvaro Cunhal, março de 1996).

f fDia 29,

Sexta­‑ feira, 18:30

de Paulo Rocha

com João César Monteiro, Manuela de Freitas, Teresa Calado, Luis Miguel Cintra, Ruy Furtado, Henrique Viana, Sabina Sacchi

de Pierre­‑Marie Goulet

com Isabel Ruth, Rui Gomes, Ruy Furtado, Paulo Renato

Portugal, 1989 – 122 min / legendado em francês | M/16

Portugal, França, 1997 – 82 min / legendado em inglês | M/12

Portugal, 1963 – 85 min / legendado em inglês | M/12

RECORDAÇÕES DA CASA AMARELA, “uma comédia lusitana”, marca o nascimento de João de Deus, personagem cáustica e poética que só João César Monteiro poderia interpretar. À primeira vez, saído de um manicómio para divagar diletante por Lisboa e “dar­‑lhes trabalho”, João de Deus encanta­‑se com uma menina que toca clarinete, passa uma noite de amor sob o olhar de Stroheim em imagem pregada na parede em cima da cama da pensão e transfigura­‑se em criatura das trevas como Nosferatu no fim do filme.

Viagem pela experiência e pelas raízes de uma das mais fortes manifestações da cultura popular portuguesa – o canto polifónico alentejano. Evocando Michel Giacometti (etnomusicólogo corso cujo trabalho pioneiro em Portugal foi decisivo para o conhecimento e a própria relação dos portugueses com a sua música tradicional), o filme interroga as origens do “cante” no contexto da cultura mediterrânica, confrontando­‑o nomeadamente com a tradição polifónica da Córsega. No oposto de um documentário descritivo, trata­‑se, acima de tudo, de um filme de cumplicidades e de encontros, e sobre a admirável experiência do canto como encontro, como esta raramente foi filmada.

OS VERDES ANOS

“É a história da iniciação de dois jovens provincianos nos problemas da cidade e do amor” (Paulo Rocha), “um filme do subterrâneo contra a altura, (…) sobre a ascensão e o mergulho” (M.S. Fonseca), “a matriz do cinema português, a sua pedra angular” (João Bénard da Costa). O primeiro filme de Paulo Rocha é um olhar sobre Lisboa, desencantado, terno e amargo. O filme que, juntamente com BELARMINO, de Fernando Lopes, marca o arranque do Cinema Novo Português e o começo de uma nova geração de atores e técnicos do cinema português (o único profissional na equipa é o diretor de fotografia, Luc Mirot), foi a primeira das produções portuguesas Cunha Telles. Com diálogos de Nuno de Bragança, é também indissociável do tema original de Carlos Paredes, na sua primeira composição para cinema. Premiado no festival internacional de cinema de Locarno onde estreou em 1964.

f fDia 21, Quinta­‑ feira, 18:30 CONVERSA ACABADA de João Botelho com Fernando Cabral Martins, André Gomes, Juliet Berto, Jorge Silva Melo, Isabel Ruth, Glicínia Quartin Portugal, 1980 – 104 min / legendado em inglês | M/12

A história da amizade entre Fernando Pessoa e Mário de Sá­ ‑Carneiro numa ousada experiência de João Botelho que aposta numa estilização extrema e se apoia nos poemas e cartas de Pessoa e Sá­‑Carneiro. Alguns convidados especiais: Luiz Pacheco (Pessoa moribundo) e Manoel de Oliveira (o padre que dá a extrema unção a Pessoa).

f fDia 28, Quinta­‑ feira, 18:30 CINCO DIAS, CINCO NOITES de José Fonseca e Costa com Vitor Norte, Paulo Pires, Ana Padrão, Canto e Castro, Teresa Roby, Miguel Guilherme Portugal, 1996 – 102 min / legendado em inglês | M/12

CINCO DIAS, CINCO NOITES adapta um romance de Manuel Tiago (Álvaro Cunhal) numa revisitação dos anos quarenta portugueses e a uma história de resistência ao regime: a história de um fugitivo à polícia política que passa a fronteira a salto. O argumento é de Fonseca e Costa e Jennifer Field, a música de António Pinho Vargas. “Um filme é, em si mesmo, uma obra de arte. Com uma característica particular: a de que nele intervêm e se complementam para o resultado global muito diversas formas de criação artística. Tomar à partida a história de uma novela, mesmo que respeitando a sua mensagem fundamental não significa mera transposição da novela para o cinema. […] O filme CINCO DIAS, CINCO NOITES

POLIFONIAS – PACI È SALUTA, MICHEL GIACOMETTI

f fDia 30, Sábado, 18:30 A COSTA DOS MURMÚRIOS de Margarida Cardoso com Beatriz Batarda, Filipe Duarte, Mónica Calle, Adriano Luz Portugal, França, Alemanha, 2004 – 120 min / legendado em francês | M/12

É o filme de estreia na longa­‑metragem de ficção de Margarida Cardoso, a partir da adaptação do romance de Lídia Jorge. Evocação de Moçambique no estertor da época colonial, A COSTA DOS MURMÚRIOS segue o percurso de uma mulher (Beatriz Batarda), casada com um oficial. Entre as ausências do marido (a guerra) e a imponência da paisagem, desenrola­‑se a sua narrativa interior, história de reconhecimentos e desencantos de vária ordem. Para o ambiente hipnótico do filme muito contribui a música de Bernardo Sassetti.

f fDia 22, Sexta­‑ feira, 18:30 NINGUÉM DUAS VEZES de Jorge Silva Melo com Manuela de Freitas, Luis Miguel Cintra, José Mário Branco, Michael König, Glicínia Quartin Portugal, Alemanha, França, 1984 – 106 min / legendado em francês | M/12

Lisboa, 1983, é a segunda das vezes para as personagens deste filme. Da primeira, na mesma cidade, em 1975, sabe­‑se em elipse. Em oito anos, o país está muito diferente e os dois casais protagonistas de NINGUÉM DUAS VEZES também. Uma mala sem dona no tapete rolante de um aeroporto, Lisboa como não­‑lugar, depois de ter sido lugar de tudo. “É uma obra atravessada por imensa tristeza, muito mais do que por imensa aflição. É o filme de quando todos – e tudo – foram embora” (João Bénard da Costa).

f fDia 23, Sábado, 18:30 O SANGUE de Pedro Costa

o sangue

com Pedro Hestnes, Inês de Medeiros, Nuno Ferreira, Luís Miguel Cintra, Henrique Viana Portugal, 1989 – 99 min / legendado em francês | M/12

Primeira obra de Pedro Costa, O SANGUE é um perturban‑ te filme marcado por ecos noturnos, captados num preto e branco escuro como a noite em que maioritariamente de‑ corre, para dar a ver os fantasmas que acompanham as per‑ sonagens dos dois irmãos e da rapariga que a eles se junta. Pedro Hestnes abre o filme num dos mais belos planos do cinema português. “O que gosto em O SANGUE é o sentido da longa noite da infância que abraça tantos filmes e tantos livros americanos (…). Provavelmente o título vem de Flan‑ nery O’Connor” (Pedro Costa).

f fDia 25, Segunda­‑ feira, 18:30 CERROMAIOR de Luís Filipe Rocha com Carlos Paulo, Clara Joana, Ruy Furtado, Elsa Wallenkamp Portugal, 1981 – 89 min / legendado em inglês | M/12

Inspirado no romance homónimo de Manuel da Fonseca e noutros contos com o mesmo tema, Luís Filipe Rocha realizou um dos filmes portugueses de maior destaque na década de oitenta: retrato do horizonte sem fim e das vidas sem horizonte do Alentejo e representação do conflito entre os trabalhadores rurais e os latifundiários, acompanhando as frustrações românticas do filho de um proprietário.

FOCO NO ARQUIVO As sessões “Foco no Arquivo” de julho seguem projetos ligados à investigação e à sua relação com a coleção da Ci‑ nemateca. A sessão “Portugal de Norte a Sul: o Caso de Amélia Borges Rodrigues”, a apresentar por Sérgio Bordalo, continua o Ciclo “Viagens, Olhares e Imagens: Portugal 1910­‑1980”, organizado no âmbito do projeto exploratório “Atrás da câmara: práticas de visibilidade e mobilidade no filme turístico português” (EXPL/IVC­‑ANT/1706/2013; financiado por fundos nacionais através da FCT/MCTES). Este projeto foi desenvolvido no ANIM e no CRIA entre abril de 2014 e setembro de 2015 por uma equipa de investigadores coordenados por Sofia Sampaio (CRIA­‑IUL). No seguimento de uma programação que teve lugar durante 2015 na Cinemateca, no âmbito do projeto de investigação “WORKS – O trabalho no ecrã: um estudo de memórias e identidades sociais através do cinema”, financiado pela FCT, o novo Ciclo “Olhares do Cinema sobre o Trabalho” adota uma perspetiva mais ampla, pro‑ curando destacar formas várias de diálogo entre arquivos e cinematografias nacionais e internacionais. Procura­ ‑se refletir sobre temáticas e problemas sociais que atravessam os filmes. Ao longo de 2016, esta programação vai propondo aos espectadores visões distintas sobre aspectos como a precariedade, os espaços de trabalho ou as condições de vida. O Ciclo é dinamizado por Luísa Veloso (CIES­‑IUL), Frédéric Vidal (CRIA­‑IUL) e João Rosas. Na sessão de julho é apresentada a curta­‑metragem de propaganda salazarista COMÍCIOS ANTI­‑COMUNISTAS (1936) e dois filmes franceses sobre a greve na fábrica Rhodiaceta (Bezançon): A BIENTÔT, J’ESPÈRE (Chris Marker e Mario Marret, 1968) e CLASSE DE LUTTE (Grupo Medvedkine de Besançon, 1969). A sessão “Coleção Colonial da Cinemateca: Campo, Contracampo, Fora de Campo” prolonga as anteriormente de‑ dicadas a uma discussão continuada sobre esta importante parte do acervo fílmico da Cinemateca, organizadas em colaboração com a “Aleph ­‑ rede de acção e investigação crítica da imagem colonial”. A Aleph promove a cooperação e partilha de conhecimento entre investigadores académicos, artistas e cidadãos interessados na imagem colonial, e colabora com arquivos detentores de coleções coloniais na sensibilização para questões de acessibilidade e preserva‑ ção dos acervos. Este mês, a investigadora Inês Dias Cordeiro apresenta O ZÉ DO BURRO (Eurico Ferreira, 1971).


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juLho 2016 | Cinemateca Portuguesa-Museu do Cinema

S A L A lu í s de pina f fDia 12, Terça­‑ feira, 18:30 Viagens, Olhares e Imagens: Portugal 1910­‑1980 Portugal de Norte a Sul: o Caso de Amélia Borges Rodrigues

BRAGANÇA Portugal, 1935 – 6 min

VIANA DO CASTELO Portugal, 1934 – 8 min

GUIMARÃES Portugal, 1935 – 5 min

GERÊS Portugal, 1934 – 5 min

MOGADOURO E TORRE DE MONCORVO Portugal, 1934 – 3 min

RÉGUA Portugal, 1934 – 2 min

ALGARVE Portugal, 1934 – 10 min

HISTÓRIA PERMANENTE DO CINEMA PORTUGUÊS Como em meses anteriores, prosseguimos a revisita‑ ção do cinema aqui produzido nos finais da década de quarenta ou nos anos cinquenta, juntando­‑lhe mais uma proposta relativa às gerações surgidas depois da década de setenta.

f fDia 4, Segunda­‑ feira, 18:30

CASCAES

CANTIGA DA RUA

Portugal, 1937 – 6 min

de Henrique Campos

de Amélia Borges Rodrigues

com Alberto Ribeiro, Manuel Santos Carvalho, Deolinda Rodrigues, Luisa Durão, Maria Olguim

duração total da sessão: 45 min | M/12 sessão apresentada por Sérgio Bordalo e Sá (bolseiro de investigação do projeto “Atrás da câmara”)

Portugal, 1949 – 116 min | M/12

Esta sessão pretende dar visibilidade à cinematografia de Amélia Borges Rodrigues (1906–1945), uma açoriana radicada no Brasil que, entre 1934 e 1937, terá produzido e/ou realizado 35 filmes sobre regiões de Portugal. Os filmes foram exibidos em Portugal, no Brasil e nas colónias africanas. Segundo o artigo “Duas Portu‑ guesas que Fazem Cinema e que o Sabem Fazer Bem” do Cine­ ‑Jornal (1936), Borges Rodrigues planificava o filme, escrevia a música e fazia a montagem, enquanto a sua amiga Celeste Bas‑ tos y Lago tratava sobretudo da parte comercial. Por não cons‑ tar de nenhuma história do cinema português, não ser comum haver mulheres cineastas nos anos trinta e ter feito uma grande quantidade de filmes em tão pouco tempo (o que levanta uma série de questões: quem os pagou, porquê, com que objetivo?), a figura de Amélia Borges Rodrigues merece, sem dúvida, ser descoberta. Os filmes MOGADOURO E TORRE DE MONCORVO, ALGARVE, GERÊS, RÉGUA E VIANA DO CASTELO foram preser‑ vados no âmbito de uma colaboração com o projeto “Atrás da câmara: práticas de visualidade e mobilidade no filme turístico português”. Primeiras exibições na Cinemateca.

Continuando a resgatar clássicos há muito não vistos na Cinemateca, chega a vez de CANTIGA DA RUA, e, com ela, de Henrique Campos, que aqui realizava a sua terceira longa­‑metragem (depois de UM HOMEM NO RIBATEJO e de RIBATEJO). Vindo do teatro e iniciado no cinema como ator, este será porventura um dos realizadores mais marcantes das contradições extremas de uma geração intermédia da ficção portuguesa – aquela que, nos finais de quarenta e na década de cinquenta, almejou explorar os filões mais populares da geração anterior sem a preparação e o ímpeto modernista que tinham estado na base deles. Encorajado pelo filão, sem a formação alternativa apesar de tudo encontrada por outros no mesmo período (como Queiroga), dir­‑se­‑ia que Campos avançou para a realização assumindo como trunfos exclusivos os próprios contornos de género, as convenções regionalistas, os atores ou (como neste caso) a música. Se não outro, a obra teve reconhecimento público: feito para as canções de Alberto Ribeiro, CANTIGA DA RUA foi um dos maiores êxitos comerciais da época (porventura o maior) tornando­‑se objeto incontornável na revisitação e interrogação que aqui temos levado a cabo sobre o período.

f fDia 20, Quarta­‑ feira, 18:30

f fDia 5, Terça­‑ feira, 18:30

Olhares do Cinema sobre o Trabalho

COMÍCIOS ANTI­‑COMUNISTAS Portugal, 1936 – 20 min

A BIENTÔT, J’ESPÈRE de Chris Marker, Mario Marret França, 1968 – 40 min / dobrada em português

CLASSE DE LUTTE de Grupo Medvedkine de Besançon França, 1969 – 40 min / legendado eletronicamente em português

duração total da sessão: 100 min | M/12 sessão apresentada por Luísa Veloso (CIES­‑IUL), Frédéric Vidal (CRIA­‑IUL) e João Rosas Organizada sob o mote “legitimação versus contestação dos po‑ deres instituídos”, esta sessão contrasta o filme de propaganda COMÍCIOS ANTI­‑COMUNISTAS, que documenta as manifesta‑ ções organizadas pela ditadura portuguesa em apoio ao regi‑ me nacionalista espanhol, com duas curtas­‑metragens francesas sobre a greve na fábrica Rodhiaceta (Besançon, março de 1967). CLASSE DE LUTTE é uma primeira exibição na Cinemateca.

f fDia 27, Quarta­‑ feira, 18:30 Coleção Colonial da Cinemateca: Campo, Contracampo, Fora de Campo

O ZÉ DO BURRO de Eurico Ferreira Portugal, 1971 – 90 min | M/12

sessão apresentada por Inês Dias Cordeiro (investigadora e docente da UCLA) Camponês da metrópole, Zé do Burro comprou uma proprie‑ dade em Marrupila, local desolado no Norte de Moçambique, onde chega após múltiplos contratempos, com o seu burro Ca‑ cilhas. Porém, tem de enfrentar as ameaças e atentados de um chefe chinês, que procura lançar contra ele os habitantes da aldeia, mas Zé do Burro porfia nos seus ideais de progresso, trabalho e amor à terra, acabando por conquistar a adesão de todo o povo, incluindo o seu acérrimo inimigo. A apresentar em formato digital, numa primeira exibição na Cinemateca.

MOVING CINEMA CINECLUBE DAS GAIVOTAS EM COLABORAÇÃO COM OS FILHOS DE LUMIÈRE E O CINECLUBE DAS GAIVOTAS

Dinamizado em Portugal por Os Filhos de Lumière Associação Cultural, procurando “desenvolver estra‑ tégias inovadoras para levar os jovens a descobrir e a conhecer o cinema nacional e europeu e a desenvolver uma capacidade de análise […] que os permita ad‑ quirir a capacidade de ver e de apreciar o cinema”, o projeto europeu Moving Cinema tem sido parceiro da Cinemateca na organização e apresentação de sessões públicas. O Cineclube das Gaivotas foi formado em 2014, no mesmo contexto do Moving Cinema, com o apoio e a parceria de outras entidades e organismo. Este mês, na quarta das suas sessões públicas na Cine‑ mateca, o Cineclube das Gaivotas propõe GRAŽUOLĖ de Arūnas Žebriūnas, numa escolha que resulta de um intercâmbio com o lituano Skalvija Cinema.

f fDia 16, Sábado, 18:00 Gražuolė “A Menina” de Arūnas Žebriūnas com I nga Mickyte, Lilija Zadeikyte, Arvidas Samukas, Tauras Ragalevicius URSS, Lituânia, 1969 – 71 min / legendado eletronicamente em português | M/12

sessão apresentada e seguida de debate O título do filme de Arūnas Žebriūnas refere o nome da sua jovem protagonista de nove anos, que enfrenta a estigmatização de outras crianças na escola por supostos problemas familiares. No contexto soviético dos anos sessenta, Gražuolė (estreado em 1969) detém­‑se na relação entre pais e filhos, na vulnerabilidade das relações humanas, e na crueldade própria da infância. Conhecido internacionalmente como BEAUTY ou THE BEAUTIFUL GIRL. Primeira exibição na Cinemateca, a apresentar em cópia digital.

JOGO DE MÃO de Monique Rutler com João Lagarto, Júlio César, São José Lapa, Orlando Costa, Zita Duarte, Teresa Roby, João Calvário, Carlos Wallenstein, Isabel de Castro Portugal, 1983 – 109 min | M/12

com a presença de Monique Rutler Segunda das três longas­‑metragens realizadas até hoje por Monique Rutler, JOGO DE MÃO combina todas as recorrên‑ cias do cinema da autora com uma experiência narrativa par‑ ticular (as suas quatro histórias, lançadas pelo jogo de mão dos Robertos) que, entre outros efeitos, lhe permitem ampliar muito o espectro de representação sociológica. Filme sem centro – ou em que o centro é precisamente o de uma certa vivência quotidiana portuguesa, visível ou subterrânea –, é portanto, antes de mais, um exemplo do cinema de observação e dissecação social através do qual Monique Rutler nos olhou, de uma forma ao mesmo tempo solidária e distanciada, ao longo de cerca de uma década. Mais de vinte anos decorridos sobre a sua última lon‑ ga (e dez anos depois da última projeção de JOGO DE MÃO na Ci‑ nemateca), o que propomos é en‑ tão, mais do que a simples redes‑ coberta de um filme singular, um reencontro com um cinema que nos trouxe um olhar próprio.

jogo de mão


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juLho 2016 | Cinemateca Portuguesa­‑Museu do Cinema

esplanada CINEMA NA ESPLANADA As projeções 35 mm ao ar livre na Esplanada (39 Degraus) da Cinemateca voltam em julho, nas noites de sexta­‑feira e sábado. Às sextas, o programa é David Bowie, numa extensão do Ciclo que atravessa todo o mês “dentro de portas” evocando a marca e a presença de Bowie no cinema. Intitulado Absolutamente Bowie, o Ciclo é integralmente apresentado neste jornal na entrada respetiva, onde se podem ler as notas dos filmes programados (ver páginas 7/8). A 23, a Esplanada é palco de uma sessão de antecipação do Doclisboa’16. E os restantes sábados são Billy Wilder, “Quatro Vezes Billy Wilder”, para apresentar quatro grandes filmes de um dos grandes nomes do cinema clássico. A Cinemateca com o Doclisboa’16 – Sessão de Antecipação Anunciando mais uma colaboração entre a Cinemateca e o festival Doclisboa, em outubro, esta é uma “sessão­ ‑aperitivo” a lançar um primeiro foco sobre as retrospetivas que serão conjuntamente organizadas e apresen‑ tadas nas salas da Cinemateca. Teremos assim uma retrospetiva (organizada em colaboração com o Museo Reina Sofia, de Madrid) dedicada a um período­‑chave da cinematografia cubana, o período que se seguiu à revolução, e que fez do cinema um instrumento essencial de afirmação e intervenção política, período em que vários cineastas despontaram mas, talvez mais do que todos os outros, se impôs um nome, o de Santiago Álvarez. E uma retrospetiva de autor, o britânico Peter Watkins (nascido em 1935), ainda muito pouco divulgado em Portugal, cultor de um cinema que se coloca frequentemente nas fronteiras difusas do documentário e da ficção, e que põe em cena a questão do relacionamento do cinema com a História – mesmo que se trate de uma História imaginária, meramente hipotética, como é o caso do filme que vamos mostrar, THE WAR GAME, porventura o mais célebre trabalho de Watkins. Quatro Vezes Billy Wilder Judeu da Europa Central, Wilder (1906­‑2002) começou a sua carreira em Berlim, no período mudo, como argu‑ mentista e estreou­‑se como realizador em Paris, em 1934, com MAUVAISE GRAINE, que tem Danièle Darrieux no papel principal. Seguiu pouco depois para os Estados Unidos, “para onde teria ido de qualquer maneira, com Hitler ou sem Hitler”, como disse muitos anos mais tarde. Depois de trabalhar como argumentista, entre outros para Howard Hawks (BALL OF FIRE) e Ernst Lubitsch (NINOTCHKA), Wilder estreou­‑se na realização em Hollywood em 1942, com o atrevidíssimo e impagável THE MAJOR AND THE MINOR, que mostra, sem mostrar, um “affaire” entre um adulto e uma adolescente. Embora Wilder tenha feito incursões em outros géneros (ACE IN THE HOLE, THE LOST WEEKEND, SABRINA, SUNSET BOULEVARD, este último um dos seus filmes mais célebres), foi sem dúvida na comédia que atingiu os píncaros do génio, a tal ponto que nos anos cinquenta já era considerado o sucessor de Lubitsch, o rei da “sophisticated comedy” em Hollywood. Três dos filmes que apresentamos pertencem ao género da comédia: SOME LIKE IT HOT (em que Marilyn Monroe é confrontada com dois travestis de ocasião), THE APPARTMENT e IRMA LA DOUCE, ao passo que o quarto título, WITNESS FOR THE PROSECUTION é uma obra altamente sarcástica. Excelentes cópias em 35 mm.

some like it hot

f fDia 1, Sexta­‑ feira, 22:30 Absolutamente Bowie

ABSOLUTE BEGINNERS Absolutamente Principiantes de Julien Temple com E ddie O’Connell, Patsy Kensit, David Bowie, James Fox, Ray Davies, Sade Adu Reino Unido, 1986 – 108 min / legendado eletronicamente em português | M/12

f fDia 2, Sábado, 22:30 Quatro Vezes Billy Wilder

SOME LIKE IT HOT Quanto Mais Quente Melhor de Billy Wilder com M arilyn Monroe, Jack Lemmon, Tony Curtis, Joe E. Brown, George Raft Estados Unidos, 1959 – 120 min / legendado em português | M/12

“Ninguém é perfeito!”. Este é o filme da famosa réplica que todo o cinéfilo conhece e cita. E, se é verdade no caso das pessoas, não o é noutras coisas, como este filme, perfeito da primeira à última imagem, tanto no argumento (uma brilhante sucessão de acontecimentos e diálogos à volta de dois músicos que se disfarçam de mulheres para escapar a um grupo de “gangsters”), como no trabalho de Wilder na construção dos gags, ou no elenco em que cada ator está exatamente à altura da personagem.

f fDia 8, Sexta­‑ feira, 22:30 Absolutamente Bowie

TWIN PEAKS: FIRE WALK WITH ME Twin Peaks: Os Últimos Sete Dias de Laura Palmer de David Lynch com S heryl Lee, Ray Wise, Kyle MacLachlan, Mädchen Amick, David Bowie, Miguel Ferrer Estados Unidos, 1992 – 135 min / legendado eletronicamente em português | M/18

f fDia 9, Sábado, 22:30 Quatro Vezes Billy Wilder

IRMA LA DOUCE Irma La Douce de Billy Wilder com Shirley MacLaine, Jack Lemmon, Lou Jacobi WITNESS FOR THE PROSECUTION

Estados Unidos, 1963 – 141 min / legendado em português | M/12

Proibido em Portugal até ao 25 de Abril, IRMA LA DOUCE foi


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junho 2016 | Cinemateca Portuguesa­‑Museu do Cinema

esplanada também um “caso” no seu país de origem. Apesar de já se estar em 1963 e de a censura andar a ser “batida” aos pontos por realizadores rebeldes, a forma como se representaram as prostitutas a trabalhar, sem eufemismos para a profissão, foi considerada demasiada audaciosa. Mas todo o filme joga tanto com o que é mostrado como com o que é elidido. IRMA LA DOUCE, uma das mais divertidas, irreverentes e provocantes comédias de Wilder, foi outro “prego” no caixão do código de censura, com Shirley MacLaine como prostituta, num dos papéis da sua vida, e Jack Lemmon inesquecível na figura do polícia­‑chulo. Extraordinários cenários de Alexander Trauner, que reproduzem o bairro Les Halles em Paris em estúdio.

f fDia 15, Sexta­‑ feira, 22:30 Absolutamente Bowie

que nunca. E a única justiça é a que acaba por ser feita pelas próprias mãos. Marlene Dietrich e Charles Laughton, geniais.

f fDia 22, Sexta­‑ feira, 22:30 Absolutamente Bowie

THE LIFE AQUATIC WITH STEVE ZISSOU Um Peixe Fora de Água de Wes Anderson com Bill Murray, Owen Wilson, Cate Blanchett, Anjelica Huston, Willem Dafoe, Jeff Goldblum, Seu Jorge Estados Unidos, 2004 – 118 min / legendado eletronicamente em português | M/12

A Cinemateca com o DocLisboa’16 – Sessão de Antecipação

A Felina de Paul Schrader com Nastassja Kinski, Malcolm McDowell, John Heard, Annette O’Toole Estados Unidos, 1982 – 118 min / legendado eletronicamente em português | M/18

NOTICIERO 49 de Santiago Alvarez Cuba, 1961 – 9 min / legendado eletronicamente em português

Cuba, 1965 – 6 min / legendado eletronicamente em português

Quatro Vezes Billy Wilder

WITNESS FOR THE PROSECUTION

THE WAR GAME de Peter Watkins

Testemunha de Acusação de Billy Wilder

Reino Unido, 1965 – 48 min / legendado eletronicamente em português

com Marlene Dietrich, Charles Laughton, Elsa Lanchester, Tyrone Power

Dois filmes de Santiago Alvarez, o principal documentarista da revolução cubana. Em NOTICIERO 49, um dos muitos “boletins” produzidos em Cuba durante os anos sessenta, o cinema é o tema, evocando entre outros assuntos a nacionalização, pelo ICAIC (o instituto cubano de cinema), das distribuidoras americanas a operar no país. Em NOW!, que é um dos mais célebres filmes de Alvarez, relata­‑se a perspectiva cubana e “revolucionária” sobre o movimento pelos direitos civis das populações negras dos Estados Unidos. THE WAR GAME foi o filme da revelação de Peter Watkins. Produzido como um

Estados Unidos, 1957 – 116 min / legendado em português | M/12

Golpes de teatro e surpresas marcam o desenvolvimento desta adaptação de um conto de Agatha Christie por Billy Wilder. Trata­‑se de um filme de “suspense jurídico”, passado em Londres: quase tudo decorre na sala de um tribunal, onde um famoso advogado (Laughton) emprega todo o seu saber e artimanhas na defesa de um acusado de homicídio. Uma obra cruel sobre a irrisão da justiça, neste filme mais cega do

Absolutamente Bowie

Velvet Goldmine de Todd Haynes com Ewan McGregor, Christian Bale, Johnathan Rhys Meyers Estados Unidos, 1998 – 104 min / legendado em português | M/16

f fDia 30, Sábado, 22:30

NOW! de Santiago Alvarez

f fDia 16, Sábado, 22:30

f fDia 29, Sexta­‑ feira, 22:30 VELVET GOLDMINE

f fDia 23, Sábado, 22:30

CAT PEOPLE

telefilme por encomenda da BBC, tratava­‑se de alertar para a ameaça devastadora da guerra nuclear e dos seus efeitos. Tratando o assunto como um “documentário ficcionado”, como se um ataque nuclear tivesse mesmo sacudido a Grã­‑Bretanha, o resultado saiu tão perturbante que a BBC, considerando o filme demasiado “assustador” para ser servido ao conforto doméstico dos telespectadores, renunciou à sua exibição televisiva, lançando o filme para o circuito das salas. Com um sucesso que chegou aos EUA, onde THE WAR GAME ganhou um Óscar para melhor documentário de longa­‑metragem.

duração total da projeção: 112 min | M/12

Quatro Vezes Billy Wilder

THE APARTMENT O Apartamento de Billy Wilder com Shirley MacLaine, Jack Lemmon, Fred MacMurray Estados Unidos, 1960 – 125 min / legendado em português | M/12

Cinco Óscares para esta obra­‑prima de Billy Wilder, a quem couberam três estatuetas (produtor, realizador e argumentista), que mistura em doses perfeitas a comédia e o drama, a pureza e o cinismo. Jack Lemmon é um empregado de escritório que procura subir na hierarquia, cedendo o seu apartamento para as aventuras extraconjugais dos administradores (uma das mulheres é “igualzinha a Marilyn Monroe”, segundo o colega de Lemmon, numa pequena vingança de Wilder com a vedeta, que tivera um comportamento de… vedeta em SOME LIKE IT HOT). Até que se apaixona por uma dessas conquistas: Shirley MacLaine.

Exposição temporária À VOLTA DAS COVAS DE UM ROCHEDO desenhos de Maria Capelo f fsala 6x2 | de 9 de junho ao final de julho À Volta das Covas de um Rochedo é uma série de desenhos de pequeno formato realizados com aparo e tinta da china a partir de um fotograma do filme LAS HURDES, TIERRA SIN PAN – uma vista das montanhas escarpadas na zona das cercanias do convento Las Batuecas onde “Una muralla de ocho kilómetros rodea el convento para defenderlos de lobos, osos y jabalies”.

A partir daqui entra­‑se em território hurdano e enfrenta­‑se uma realidade concreta, estranha, violenta e miserável que, segundo Buñuel, “fazia trabalhar a imaginação”. Neste filme, em que as personagens são os habitantes de Las Hurdes e ao mesmo tempo os seus fantasmas, em que os seus gestos se confundem com os seus rastos e as paisagens são como

personagens, a paisagem surge como a define Orlando Ribeiro, “como um rosto humano, uma criação histórica onde persistem todas as marcas e, ao mesmo tempo, tudo está sempre em perigo”. Maria Capelo trabalha incessantemente sobre este fotograma de LAS HURDES, desenhando uma e outra vez para dar a ver de novo.


CALENDÁRIO |

julho 2016

1 SEXTA­‑FEIRA

9 SÁBADO

15:30 | MFR | Dez Vistas de Jacques Rivette

15:30 | MFR | Double Bill

PARIS NOUS APPARTIENT Jacques Rivette 19:00 | MFR | Encontro com Béla Tarr

ENCONTRO 21:30 | MFR | Dez Vistas de Jacques Rivette

CÉLINE ET JULIE VONT EN BATEAU Jacques Rivette 22:30 | CINEMA NA ESPLANADA Absolutamente Bowie

ABSOLUTE BEGINNERS Julien Temple

2 SÁBADO 15:30 | MFR | Encontro com Béla Tarr

SÁTÁNTANGÓ Béla Tarr 22:30 | CINEMA NA ESPLANADA Quatro Vezes Billy Wilder

SOME LIKE IT HOT Billy Wilder

4 SEGUNDA­‑FEIRA 15:30 | MFR | Dez Vistas de Jacques Rivette

NOROÎT Jacques Rivette 18:30 | LP | História Permanente do Cinema Português

CANTIGA DA RUA Henrique Campos 19:00 | MFR | Absolutamente Bowie

VELVET GOLDMINE Todd Haynes 21:30 | MFR | Dez Vistas de Jacques Rivette

PARIS NOUS APPARTIENT Jacques Rivette

5 TERÇA­‑FEIRA 15:30 | MFR | Absolutamente Bowie

ABSOLUTE BEGINNERS Julien Temple 18:30 | LP | História Permanente do Cinema Português

JOGO DE MÃO Monique Rutler 19:00 | MFR | Dez Vistas de Jacques Rivette

L’AMOUR FOU Jacques Rivette

6 QUARTA­‑FEIRA 15:30 | MFR | Absolutamente Bowie

LABYRINTH Jim Henson 18:30 | LP | Edgardo Cozarinsky Realizador Convidado

APUNTES PARA UNA BIOGRAFIA IMAGINARIA Edgardo Cozarinsky 19:00 | MFR | Absolutamente Bowie

MERRY CHRISTMAS, MR. LAWRENCE Nagisa Oshima 21:30 | MFR | Dez Vistas de Jacques Rivette

LE PONT DU NORD Jacques Rivette 22:00 | LP | E dgardo Cozarinsky Realizador Convidado Uma Exploração da Noite

LA NUIT DU CARREFOUR Jean Renoir

7 QUINTA­‑FEIRA 15:30 | MFR | Dez Vistas de Jacques Rivette

CÉLINE ET JULIE VONT EN BATEAU Jacques Rivette 18:30 | LP | E dgardo Cozarinsky Realizador Convidado

CARTA A UN PADRE Edgardo Cozarinsky 19:00 | MFR | Absolutamente Bowie

THE HUNGER Tony Scott 21:30 | MFR | Dez Vistas de Jacques Rivette

MERRY­‑ GO­‑ROUND Jacques Rivette

8 SEXTA­‑FEIRA 15:30 | MFR | Absolutamente Bowie

MERRY CHRISTMAS, MR. LAWRENCE Nagisa Oshima 18:30 | LP | E dgardo Cozarinsky Realizador Convidado

NOCTURNOS Edgardo Cozarinsky 19:00 | MFR | Absolutamente Bowie

IO E TE Bernardo Bertolucci 21:30 | MFR | Dez Vistas de Jacques Rivette

LA BELLE NOISEUSE – DIVERTIMENTO Jacques Rivette 22:30 | CINEMA NA ESPLANADA Absolutamente Bowie

TWIN PEAKS: FIRE WALK WITH ME David Lynch

THE RECKLESS MOMENT Max Ophuls THE LETTER William Wyler 18:30 | LP | Edgardo Cozarinsky Realizador Convidado Uma Exploração da Noite

THE NIGHT OF THE HUNTER Charles Laughton 21:30 | MFR | Dez Vistas de Jacques Rivette

LA BANDE DES QUATRE Jacques Rivette 22:30 | CINEMA NA ESPLANADA Quatro Vezes Billy Wilder

IRMA LA DOUCE Billy Wilder

11 SEGUNDA­‑FEIRA 15:30 | MFR | Dez Vistas de Jacques Rivette

LE PONT DU NORD Jacques Rivette 18:30 | LP | Edgardo Cozarinsky Realizador Convidado Uma Exploração da Noite

RONDA NOCTURNA Edgardo Cozarinsky 19:00 | MFR | Dez Vistas de Jacques Rivette

NE TOUCHEZ PAS LA HACHE Jacques Rivette 21:30 | MFR | Absolutamente Bowie

THE LAST TEMPTATION OF CHRIST Martin Scorsese 22:00| LP | E dgardo Cozarinsky Realizador Convidado Uma Exploração da Noite

A RAINHA DIABA Antonio Carlos Fontoura

12 TERÇA­‑FEIRA 15:30 | MFR | Absolutamente Bowie

IO E TE Bernardo Bertolucci 18:30 | LP | Foco no Arquivo | Viagens, Olhares e Imagens: Portugal 1910­‑1980 | Portugal de Norte a Sul: o Caso de Amélia Borges Rodrigues

FILMES DE CURTA­‑METRAGEM Amélia Borges Rodrigues 19:00 | MFR | Absolutamente Bowie

ZIGGY STARDUST AND THE SPIDERS FROM MARS D. A. Pennebaker 21:30 | MFR | História(s) do Cinema Argentino

MAS ALLÁ DEL OLVIDO Hugo del Carril 22:00| LP | E dgardo Cozarinsky Realizador Convidado Uma Exploração da Noite

THE NIGHT AND THE CITY Jules Dassin

13 QUARTA­‑FEIRA 15:30 | MFR | História(s) do Cinema Argentino

SANGRE NEGRA / NATIVE SON Pierre Chenal 18:30 | LP | Edgardo Cozarinsky Realizador Convidado

LE VIOLON DE ROTHSCHILD Edgardo Cozarinsky 19:00 | MFR | Absolutamente Bowie

MAUVAIS SANG Leos Carax 21:30 | MFR | Dez Vistas de Jacques Rivette

LE COUP DU BERGER 36 VUES DU PIC SAINT­‑LOUP Jacques Rivette 22:00 | LP | Edgardo Cozarinsky Realizador Convidado Uma Exploração da Noite

ASCENSEUR POUR L’ÉCHAFAUD Louis Malle

14 QUINTA­‑FEIRA 15:30 | MFR | Dez Vistas de Jacques Rivette

MERRY­‑ GO­‑ROUND Jacques Rivette 18:30 | LP | Edgardo Cozarinsky Realizador Convidado

LA GUERRE D’UN SEUL HOMME Edgardo Cozarinsky 19:00 | MFR | História(s) do Cinema Argentino

SI MUERO ANTES DE DESPERTAR Carlos Hugo Christensen 21:30 | MFR | ETIC – Escola de Tecnologias, Inovação e Criação

PROGRAMA A ANUNCIAR

15 SEXTA­‑FEIRA 15:30 | MFR | Absolutamente Bowie

THE MAN WHO FELL TO EARTH Nicolas Roeg 18:30 | LP | Edgardo Cozarinsky Realizador Convidado Uma Exploração da Noite

KHEST VA AYENEH “O Tijolo e o Espelho” Ebrahim Golestan 19:00 | MFR | História(s) do Cinema Argentino

MAS ALLÁ DEL OLVIDO Hugo del Carril

Cinemateca Portuguesa-Museu do Cinema 21:30 | MFR | Absolutamente Bowie

JUST A GIGOLO David Hemmings 22:30 | CINEMA NA ESPLANADA Absolutamente Bowie

CAT PEOPLE Paul Schrader

16 SÁBADO 15:30 | MFR | Double Bill

INLAND EMPIRE David Lynch PERSONA Ingmar Bergman 18:00 | LP | Moving Cinema Cineclube das Gaivotas

Gražuolė “A Menina” Arūnas Žebriūnas

21:30 | MFR | Absolutamente Bowie

MAUVAIS SANG Leos Carax 22:30 | CINEMA NA ESPLANADA Quatro Vezes Billy Wilder

WITNESS FOR THE PROSECUTION Billy Wilder

18 SEGUNDA­‑FEIRA 15:30 | MFR | Dez Vistas de Jacques Rivette

LA BELLE NOISEUSE – DIVERTIMENTO Jacques Rivette 18:30 | LP | Filmes Portugueses Legendados

ANIKI­‑BOBÓ Manoel de Oliveira 19:00 | MFR | História(s) do Cinema Argentino

ESCALA EN LA CIUDAD Alberto Zavalía 21:30 | MFR | Absolutamente Bowie

BASQUIAT Julian Schnabel

19 TERÇA­‑FEIRA 15:30 | MFR | História(s) do Cinema Argentino

HISTORIA DE UNA NOCHE Luis Saslavsky 18:30 | LP | Filmes Portugueses Legendados

OS VERDES ANOS Paulo Rocha 19:00 | MFR | Dez Vistas de Jacques Rivette

L’AMOUR FOU Jacques Rivette

20 QUARTA­‑FEIRA 15:30 | MFR | Dez Vistas de Jacques Rivette

LA BANDE DES QUATRE Jacques Rivette 18:30 | LP | Foco no Arquivo | Olhares do Cinema sobre o Trabalho

COMÍCIOS ANTI­‑ COMUNISTAS sem créditos de realização A BIENTÔT, J’ESPÈRE Chris Marker, Mario Marret CLASSE DE LUTTE Grupo Medvedkine de Besançon 19:00 | MFR | História(s) do Cinema Argentino

EL SECUESTRADOR Leopoldo Torre­‑Nilsson 21:30 | MFR | Absolutamente Bowie

WHEN THE WIND BLOWS Jimmy T. Murakami

21 QUINTA­‑FEIRA 15:30 | MFR | Dez Vistas de Jacques Rivette

NE TOUCHEZ PAS LA HACHE Jacques Rivette 18:30 | LP | Filmes Portugueses Legendados

CONVERSA ACABADA João Botelho 19:00 | MFR | História(s) do Cinema Argentino

PLAYERS VS. ÁNGELES CAIDOS Alberto Fischerman 21:30 | MFR | A Cinemateca com o Curtas Vila do Conde

PROGRAMA A ANUNCIAR

22 SEXTA­‑FEIRA 15:30 | MFR | Dez Vistas de Jacques Rivette

LE COUP DU BERGER 36 VUES DU PIC SAINT­‑LOUP Jacques Rivette 18:30 | LP | Filmes Portugueses Legendados

NINGUÉM DUAS VEZES Jorge Silva Melo 19:00 | MFR | A Cinemateca com o Curtas Vila do Conde

PROGRAMA A ANUNCIAR 21:30 | MFR | História(s) do Cinema Argentino

ESCALA EN LA CIUDAD Alberto Zavalía 22:30 | ESPLANADA | Absolutamente Bowie

THE LIFE AQUATIC WITH STEVE ZISSOU Wes Anderson

23 SÁBADO 15:30 | MFR | Double Bill

SKAMMEN “A Vergonha” Ingmar Bergman ERA NOTTE A ROMA Roberto Rossellini

18:30 | LP | Filmes Portugueses Legendados

O SANGUE Pedro Costa 21:30 | MFR | A Cinemateca com o Curtas Vila do Conde

PARABÉNS! João Pedro Rodrigues O QUE ARDE CURA João Rui Guerra da Mata MAHJONG João Pedro Rodrigues, João Rui Guerra da Mata 22:30 | CINEMA NA ESPLANADA DocLisboa’16 – Sessão de Antecipação

25 SEGUNDA­‑FEIRA 15:30 | MFR | Absolutamente Bowie

TWIN PEAKS: FIRE WALK WITH ME David Lynch 18:30 | LP | Filmes Portugueses Legendados

CERROMAIOR Luís Filipe Rocha 19:00 | MFR | História(s) do Cinema Argentino

SOÑAR, SONÃR Leonardo Favio 21:30 | MFR | História(s) do Cinema Argentino

EL SECUESTRADOR Leopoldo Torre­‑Nilsson

26 TERÇA­‑FEIRA 15:30 | MFR | Absolutamente Bowie

CAT PEOPLE Paul Schrader 18:30 | LP | Filmes Portugueses Legendados

RECORDAÇÕES DA CASA AMARELA João César Monteiro 19:00 | MFR

LA FOLIE ALMAYER Chantal Akerman 21:30 | MFR | Absolutamente Bowie

THE MAN WHO FELL TO EARTH Nicolas Roeg

27 QUARTA­‑FEIRA 15:30 | MFR | Absolutamente Bowie

LOST HIGHWAY David Lynch 18:30 | LP | Foco no Arquivo | Coleção Colonial da Cinemateca: Campo, Contracampo, Fora de Campo

O ZÉ DO BURRO Eurico Ferreira 19:00 | MFR | Absolutamente Bowie

ZIGGY STARDUST AND THE SPIDERS FROM MARS D. A. Pennebaker 21:30 | MFR | Absolutamente Bowie

INGLORIOUS BASTERDS Quentin Tarantino

28 QUINTA­‑FEIRA 15:30 | MFR | Absolutamente Bowie

THE LIFE AQUATIC WITH STEVE ZISSOU Wes Anderson 18:30 | LP | Filmes Portugueses Legendados

CINCO DIAS, CINCO NOITES José Fonseca e Costa 19:00 | MFR | Dez Vistas de Jacques Rivette

NOROÎT Jacques Rivette 21:30 | MFR | Absolutamente Bowie

LOST HIGHWAY David Lynch

29 SEXTA­‑FEIRA 15:30 | MFR | Absolutamente Bowie

THE LAST TEMPTATION OF CHRIST Martin Scorsese 18:30 | LP | Filmes Portugueses Legendados

POLIFONIAS – PACI È SALUTA, MICHEL GIACOMETTI Pierre­‑Marie Goulet 19:00 | MFR | Absolutamente Bowie

BEST OF BOWIE vários realizadores 22:30 | CINEMA NA ESPLANADA Absolutamente Bowie

VELVET GOLDMINE Todd Haynes

30 SÁBADO 15:30 | MFR | Double Bill

HERR ARNES PENGAR “O Tesouro de Arne” Mauritz Stiller IL TEMPO SE È FERMATO Ermanno Olmi 18:30 | LP | Filmes Portugueses Legendados

A COSTA DOS MURMÚRIOS Margarida Cardoso 21:30 | MFR | Absolutamente Bowie

INGLORIOUS BASTERDS Quentin Tarantino 22:30 | CINEMA NA ESPLANADA Quatro Vezes Billy Wilder

THE APARTMENT Billy Wilder MFR ‑­ sala M. Félix Ribeiro lp ­‑ sala luís de pina



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