DIÁRIO DA MANHÃ - Passo Fundo, 6 e 7 de agosto de 2011
Os Filhos Desta Terra
Os Filhos Desta Terra Passo Fundo 5 e 6 de agosto de 2011 - Especial
Um retrato de algumas das personagens que fazem a história de Passo Fundo
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DIÁRIO DA MANHÃ - Passo Fundo, 6 e 7 de agosto de 2011
EDITORIAL
A formação social de Passo Fundo
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ais do que fatos históricos, a criação do perfil de uma região depende das pessoas que nela se fixam. Em Passo Fundo não é diferente. A formação histórica e social do município tem origem na contribuição de quatro grupos: o índio Kaingang, como habitante nativo; o negro; o imigrante europeu; e os descendentes da miscigenação desses grupos. No livro: “Cultura & Educação Popular” organizado por uma equipe do Itepa em conjunto com um grupo de professores da UPF, há 19 anos, o material descrevia os aspectos sociais baseados nas questões espiritual (religião, cultura e política) e material (trabalho e economia). Mesmo passadas quase duas décadas do escrito, muitos aspectos se repetem, numa demonstração da importância das culturas, da imigração, enfim, das pessoas na história de uma cidade. Na publicação é descrita a dificuldade de obtenção de detalhes sobre a historicidade social da cidade antes de 1827, pela escassez de documentos históricos e de bibliografia. Mesmo assim demonstra com clareza a riqueza da história registrada, dos ciclos de imigrantes e da contribuição social que até hoje é destaque. Passo Fundo é terra de homens bravos, corajosos e de sucesso. Muitos nomes de grande referência no país e no mundo nasceram ou tiveram aqui a sua ascendência. Neste caderno, que comemora o aniversário de 154 anos do município, o jornal Diário da Manhã traz alguns destes grandes nomes que fizeram e fazem a história da cidade. Que criaram aqui suas raízes, seus vínculos e que ainda contribuem para o desenvolvimento. São profissionais que dedicaram sua vida para qualificar a construção histórica da cidade.
Boa leitura! A redação
Expediente: Diretora Presidente: Janesca Maria Martins Pinto Diretora vice-presidente: Ilânia Pretto Martins Pinto Diretora Comercial: Eliane Maria Debortoli
Editora: Rosângela Borges Wink Reportagens: Jonas Lima, Gabriela Miranda, Liliana Crivello, Bruno Philippsen, Beatriz Scariot, Kleiton Vasconcelos, Rosângela Borges Wink Diagramação: Marcelo Lange
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CHEFE DE COMPILAÇÃO
Até os 100 anos na organização de leis “Tenho o levantamento das leis desde 1947 até a presente data. Inclusive divididas por assunto. Se alguém me perguntar sobre meio ambiente e mananciais, em 10 minutos eu entrego 70 ou 80 leis referentes a esse assunto”, é o que afirma Eluyr José Reschke que trabalha na Divisão Legislativa da Câmara dos Vereadores
XXFOTO REPRODUÇÃO
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Foto da época em que Reschke foi vereador, entre entree1972 1972 1976e 1976
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Tenho o levantamento das leis desde 1947 até a presente data. Inclusive divididas por assunto. Se alguém me perguntar sobre meio ambiente e mananciais, em 10 minutos eu entrego 70 ou 80 leis referentes a esse assunto
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luyr José Reschke tem 84 anos. É contador, formado em Ciências Jurídicas e Sociais, e aposentado desde 1978. No entanto, desde então não parou de trabalhar em função de diminuição de sua aposentadoria. E não em qualquer função, seu Reschke (como é conhecido) é uma verdadeira enciclopédia viva sobre as leis municipais. Reschke é exvereador, foi candidato a vice-prefeito e trabalha há 15 anos na Câmara dos Vereadores. “Trabalho há 15 anos na Câmara, fui vereador durante uma legislatura, em 1972 e trabalhei 6 anos na prefeitura, como chefe de gabinete do prefeito Fernando Carrion, entre 1983 e 1989. Fiquei um tempo fora da cidade e em 1997 voltei para a Câmara”, afir-
ma seu Reschke. No Legislativo Reschke exerceu diversas funções, como a diretoria da Câmara, durante a gestão do vereador Valdir Mendes e posteriormente em várias funções. Atualmente é chefe da seção de compilação e consolidação de documentos da Câmara dos Vereadores. Apesar da idade avançada, seu Reschke demonstra uma lucidez invejável e está sempre na Divisão Legislativa da Câmara, atrás de projetos de lei e suas máquinas de escrever. Mas se engana quem pensa que a falta de digitalização de seu trabalho atrapalha na localização das leis. “Tenho o levantamento das leis desde 1947 até a presente data. Inclusive divididas por assunto. Se alguém me perguntar sobre meio ambiente e mananciais, em 10 minutos eu entrego 70 ou 80 leis referentes a esse assunto”, explica Reschke. Ele afirma, inclusive, que tem leis sobre a UPF que nem a instituição deve ter: “tenho o levantamento de todas as leis sobre a universidade, desde 1950, quando a Câmara dos Vereadores autorizou o então prefeito Armando Annes a fazer uma fiança em favor da prefeitura e iniciar o trabalho da Universidade de Passo Fundo. “
XX FOTO BRUNO PHILIPPSEN
Seu Reschke está sempre na Divisão Legislativa da Câmara, atrás de projetos de lei e suas máquinas de escrever
Sobre a criação do hospital César Santos, por exemplo, seu Reschke afirma ter todos os documentos, desde a criação, até hoje. Toda essa organização dos textos, além de sua lucidez, Reschke atribui ao trabalho: “me aposentei com 10 salários mínimos e agora ganho 4 salários. Essa defasagem muito grande obriga os aposentados a trabalharem. Entretanto, acredito que o trabalho é dignificante e pretendo, se Deus quiser, trabalhar até os 100 anos.”
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SAPATEIRO
Botas Gabriel: Em meio a
XXFOTOS ARQUIVO PESSOAL
Seu Gabriel na época em que trabalhava com funcionário em uma sapataria
Há 59 anos Nevi Adi Gabriel, deu início a uma história promissora na sapataria que levou seu sobrenome e hoje é uma das mais tradicionais da cidade
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udo começou em 1962. Depois de ser ajudante de sapateiros desde os 16 anos, o rapaz de visão então com 27 anos resolveu ter seu próprio negócio, já que havia aprendido o ofício de sa-
Primeiro local em que se instalou a sapataria, num prédio alugado em 1962
pateiro. Ele comprou todos os artigos de uma loja localizada na mesma avenida onde hoje está instalada sua moderna loja de mais de 200 metros quadrados. Foi assim, arregaçando as mangas que ele confessa ter conseguido atingir seus objetivos como empresário do ramo de calçados. Alegre, de uma visão invejável para os negócios, unindo muito trabalho – ele ainda ajuda a fabricar calçados mesmos aos 75 anos – que seu Gabriel
da famosa loja “Botas Gabriel”, no bairro Vera Cruz construiu uma carreira de sucesso e que já dura quase seis décadas. Dedicação, amor pela profissão e muito trabalho fizeram de Nevi Gabriel um lutador. Casado com Edilia Lusa Gabriel, a quem ele considera “sua pérola rara” e pais de um casal, sendo o filho Laerson Gabriel hoje seu braço direito, ele diz estar realizado com a vida que teve e que permanece vivendo ao lado de quem ama e fazendo o que gosta.
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couros e histórias
Gabriel em sua loja no trabalho que realiza até hoje
Ele mostra os acessórios para a fabricação de botas e sapatos, carros chefe da sapataria
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XXFOTOS ROSÂNGELA WINK
A nova loja montada com a ajuda do filho Laerson: modernidade e sucesso
O filho não queria ser sapateiro Nevi conta que quando ainda jovem, seu filho Laerson nem cogitava a possibilidade de se tornar sapateiro e dar continuidade aos negócios do pai. “Ele não queria trabalhar comigo. Um pouco pela minha maneira exigente de ser, porque eu sempre cobrava muito empenho de todos inclusive dele”, disse seu Gabriel. Mas o destino ainda tinha preparado uma visita inusitada que mudaria tudo. Há seis anos Laerson foi pela segunda vez à Itália e na viagem conheceu uma sapataria italiana. Resultado: ficou encantado. Ele gostou de tudo ficou realmente fascinado e quando retornou tinha decidido
seguir a profissão do pai. Eles já atuavam juntos há 15 anos mas nestes últimos seis começaram mais unidos uma caminhada que faria do negócio algo ainda mais promissor. “A cabeça jovem inova, traz novo fôlego as coisas. Laerson trouxe ideias, novidades e o mais importante de tudo: muita vontade. Assim começamos uma trajetória juntos o que me deixa muito feliz porque sei que minha luta não foi em vão, que a sapataria terá continuidade e que deixei um bem precioso para meus descendentes”, diz emocionado seu Gabriel.
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DIÁRIO DA MANHÃ - Passo Fundo, 6 e 7 de agosto de 2011 XXFOTO JONAS LIMA
JOÃO SALTON
Vinho, vidros, madeiras e lembranças A história de João Salton, filho, neto e bisneto de ex-prefeitos da cidade. Hoje dono de uma das maiores vidraçarias da região, conta um pedaço da sua historia interligada aos fatos que marcaram parte dos 154 anos do município.
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a parede do escritório, alguns pedaços da historia de Passo Fundo
contadas em fotografias. Historia essa que casualmente confunde com a sua própria. João Salton, 63 anos, filho e neto e ex-prefeitos da cidade. Foi criado entre vinhos, madeiras e vidros. Hoje dono de uma das maiores vidraçarias da região, seu nome fora dado em tributo ao avô. Seus antecessores trabalharam e construíram politicamente uma parte da historia do município. E é através de uma mistura de nostalgia com esperança que reluz nos reflexos da memória deste homem, que podemos entender um pouco do que foi a historia de Passo Fundo através de seus olhos. João é filho de Wolmar e Helena Salton, sua família pelo lado paterno veio para Passo Fundo oriunda de Bento Gonçalves. O Avô, João, fora um dos fundadores da fábrica de vinhos Salton, hoje nacionalmente conhecida. No início da década passada, resolveu vender sua parte na sociedade com os irmãos para tentar a sorte em Passo Fundo, trabalhando com madeira. Já estabelecido, em 1928, ele e mais dois sócios fundaram a madeireira Salton. A empresa que nasceu na rua Nascimento Vargas, expandiu-se com pouco tempo e partiu para o ramo da serraria . Com a extinção do material as atividades foram se alternando. O avô de João teve um filho, Wolmar, seu pai. Sua mãe fora neta de Gervasio Lucas Annes, advogado, jornalista e político brasileiro, fundador da Colônia do Alto Jacuí, que deu origem aos municípios Não Me Toque e Tapera. Gervásio faleceu em 1917 e hoje é lembrado através de uma estátua localizada na praça Tamandaré. O avô materno de João, Armando Araújo Annes, participou do crescimento de Passo Fundo através do comércio e agropecuária em uma fazenda onde plantava e criava gado. O patrimônio na época situava-se no local em que hoje é localizado a Vila Annes. Antes de possuir a fazenda, Armando Annes, gostava de trabalhar com comércio, tentando a sorte em Porto Alegre. Depois viajou dois anos pela Europa em 1912, mas com o inicio da Primeira Guerra Mundial, em 1914, o governo suspendeu os navios de transporte de cargas e passageiros. Acabou voltando para Passo Fundo. Envolveu-se com Política, foi três vezes prefeito. Sendo duas eleito e uma vez nomeado. A paixão da família pelo vidro começou em 1978. João explica que antigamente, no Brasil, os comerciantes tra-
João relembrou fatos que marcaram a cidade através de fotografias estampadas seu escritório
balhavam com vidro que outras pessoas revendiam. Com a abertura para exportação, o ramo vidraceiro começou a prosperar. O empresário iniciou sua vida estudantil no Colégio Conceição e mais tarde migrou seus estudos para a Escola Estadual Nicolau de Araújo Vergueiro (EENAV). Se formou em direito em 1973 pela Universidade de Passo Fundo (UPF). Casou-se em 1974 e hoje é pai de dois filhos (Wolmar e Luciana). Ao ser questionado sobre o que ainda faltaria para Passo Fundo prosperar cada vez mais, ele prontamente relembra as varias etapas de construção do
Município. Na época, disse ele, Passo Fundo possuía um orçamento muito pequeno o que criava uma grande barreira para conseguir dinheiro e construir o local desejado pelos moradores. Wolmar Salton se deslocou até o Rio de Janeiro para visitar o então Presidente da República Juscelino Kubistchek e o Vice João Goulart. O motivo do encontro seria justamente a tentativa de arrecadação de verba para construção do pavilhão. Através deste feito foi conseguido dinheiro para a construção do local. “Me marcou muito pela alegria do meu pai em conseguir realizar um desejo da população que queria de qualquer XXFOTO ARQUIVO
Ex-prefeito Wolmar Salton assina permuta para terminal de combustíveis
município que vivenciou. “Passo Fundo se espichou muito, tu sai para dar uma volta e percebe, lá longe, um novo aglomerado de casas se formando. Mais trabalho para o poder executivo que tem q levar água, asfalto, infra-estrutura, mas isso significa o crescimento desta terra tão querida por todos. Se as pessoas estão aqui, constituindo família é porque gostam daqui”, relatou. Uma lembrança marcante da vida de João Salton foi em 1957, quando estudava no Colégio Conceição, tinha nove anos e Passo Fundo estava prestes a completar 100 anos. Seu pai, Wolmar Salton, já prefeito da cidade, adentrou no ramo da política sob influencia do sogro. Enquanto prefeito conseguiu verba para fabricar um pavilhão por reivindicação dos moradores que queriam uma festa para comemorar o aniversário do
forma um local para festejar o centenário do município. A festa foi muito grande, algo atípico para Passo Fundo, até então. Vieram diversas pessoas de fora para celebrar junto com moradores”, relatou. O empresário lembra-se de quando seu pai foi eleito pela segunda, uma das grandes coisas que fizeram pela cidade, foi a retirada dos trilhos e a permuta para construção da Avenida Sete de Setembro. Com a abertura várias empresas de distribuição de gasolina e óleo diesel se estabeleceram na cidade, aumentando o retorno do município. ”Foi uma luta muito grande”, lembrou ele. No decorrer do ano de 1979, o pai de João, Wolmar Salton, teve problemas de saúde e devido a complicações, veio a falecer deixando a prefeitura sob o comando do então vice-prefeito Firmino
da Rocha Duro. Ao ser perguntado sobre a forma em que vê Passo Fundo na atualidade, responde com um sorriso no rosto, que para alegria e satisfação de todos que aqui vivem, o município se desenvolveu bastante. Para ele, com a vinda de indústrias pesadas, nos últimos anos, houve um engrandecimento da cidade, aumentando a renda do município. O empresário acredita que a cidade prosperou muito através deste aspecto econômico. Ele vê a implantação das indústrias como um fator de suma importância pois gera vários empregos, o que é importante para os moradores da cidade e da região, pois percebe que é muito bom ver toda a população fazendo parte deste processo, pois todos constituem a mesma história. Uma contribuição muito grande para o desenvolvimento da cidade, na sua opinião, foi a UPF. Lembra de uma época que houve, com a chegada de pessoas de fora, um impulso na cidade que estava parada neste sentido. Hoje, Passo Fundo possui vários centros médicos especializados em quase todas as áreas. Para ele, a cidade é um exemplo capacitação médica, no interior do Estado. Diz que com a implantação da Universidade de Passo Fundo, houve uma grande demanda de capacitação de profissionais. “Profissionais capacitados teoricamente ganham mais, geram maior renda que conseqüentemente ajuda na economia do município. A exemplo de grandes cidades do interior do estado, que possuem a base da sua economia na indústria como Bento Gonçalves e Caxias, pode-se perceber que a cidade que possui indústrias tende a crescer, pois tudo ao redor cresce”, opinou. João Salton acredita ser bom festejar o aniversario do município. O povo deve sentir que cidade esta ficando mais velha, mas não antiga. Sabe que vem crescendo cada vez mais com a contribuição da população e daqueles que fortaleceram o município tanto na parte política quanto na indústria, comercio, agricultura. “Depois de tantos anos vivendo nesta cidade, tenho certeza que Passo Fundo é muito boa de se viver. Nasci, cresci, servi ao exercito e me formei, e hoje vejo que cada esforço meu dos meus antepassados para fazer a cidade desenvolver, valeu a pena. Eu enquanto morador desta cidade só tenho a desejar muitos e muitos anos de prosperidade e progresso, e gostaria que cada morador desta terra pensasse da mesma forma para juntos sustentar esta terra sólida e promissora para todos nós. Parabéns Passo Fundo”, finaliza João Salton.
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ZÍLIO PAVAN
Passo Fundo é só progresso” XXFOTO JONAS LIMA
As palavras de Zílio Pavan, advogado que reside no município desde 1978, exemplificam sua visão do município, suas ambições para o futuro, as lembranças da cidade que o acolheu e a satisfação de fazer parte da historia desta terra
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Zílio Pavan, morador de Passo Fundo desde 1978
Passo Fundo – 1978 Segundo ele, nunca um cidade o acolheu tanto. A boa e velha Passo Fundo do final da década de setenta era governada pelo então Prefeito Wolmar Antônio Salton (pai de um dos homenageados deste caderno). Cidade dona de uma boa infra-estrutura para a época, Zílio decidiu aqui ficar. Foi trabalhar no bairro Petrópolis. Fez faculdade de direito na Universidade de Passo Fundo (UPF). Estava prestes a conseguir o diploma quando, um dia antes de se formar, se inscreveu na Receita Federal. Prestou concurso, foi aprovado e chamado oito anos depois. Neste meio tempo casou-se e teve três filhos. Dois deles que no futuro viriam a seguir a profissão do pai. Em abril de 1996 por tramites legais, cerca de 50% dos trabalhadores da Receita se aposentaram com medo de perder a chance futuramente. Zílio foi uma dessas pessoas. Aposentou-se na Receita Federal em dois de abril daquele ano. Segundo ele, ao se aposentar, pensou que todo seu esforço e estudo adquiridos ao longo da vida poderiam servir para ajudar as pessoas de alguma forma. Foi então que com a parceria de mais dois sócios abriu um escritório de advocacia tributaria. Montaram parcerias em Passo Fundo, junto com grupos de Novo Hamburgo, Porto Alegre, Santo Ângelo e Balneário Comburiu, onde possuem escritório próprio. Foi assim que surgiu uma das maiores redes de escritórios associados de advocacia. Com conhecimento de causa de quem já mora em Passo Fundo há 33 anos, Zílio relata que a coisa que mais gosta no município, sem duvida alguma, é o povo que aqui vive. “Passo Fundo é muito dinâmico idealista, tem tudo para não chegar ao final pela natureza do povo que esta sempre inovando”.
Seja no ramo do serviço, indústria ou comercio, a população, segundo ele, é vista como persistente e trabalhadora. Pai orgulhoso dos três filhos, dois homens e uma mulher, Zílio estampa um sorriso no rosto ao falar sobre cada um deles. O primeiro fez pós-doutorado nos Estados Unidos e hoje trabalha exclusivamente com computação. O segundo filho formado direito, trabalha na firma do pai, seguindo os passos que um dia foram dados por ele. A filha caçula, também formada em direito, persegue a magistratura. Todos Passo-fundenses.
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Não se tinha grandes ambições na cidade, mas todos queriam educação, segurança, bemestar, moradia, e parece que se perdeu um pouco com o passar do tempo.
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m homem que veio de fora e adotou Passo Fundo como sua cidade natal. Zílio Pavan reside há mais de 30 anos em Passo Fundo. Aqui estudou, formou-se em direito, por anos foi auditor da Receita Federal, constituiu família e hoje é sócio de uma das maiores empresas de advocacia tributaria que atende vários municípios do sul do país. Zílio é o décimo quinto filho de uma família de 16, sendo 15 homens e apenas uma mulher. Nasceu na cidade de Aratiba, próximo ä Erechim. Família italiana tradicional, para os Pavan, o último filho homem era encarregado de continuar os trabalhos do pai na lavoura. Se para o pai o trabalho já era rotina, para o pequeno e franzino Zílio era algo incapaz de ser executado em decorrência do pouco avantajado porte físico. Como o filho só ficaria com a família se tivesse condições de prosseguir os trabalhos na agricultura, o pai resolveu deixar o filho estudar. Apesar de já saber ler e escrever com nove anos, seus estudos foram transferidos nos anos seguintes para o Seminário do município de Tapera. Dedicou-se parte de sua vida somente aos estudos. Em 1961 fori transferido para o Seminário de Erechim onde recebeu convite para realizar cursos posteriores em Roma, na Itália. Na pressão de deixar os pais, que não poderia voltar a ver por dois anos, o medo surgiu e Zílio fugiu do seminário que estudava com 16 anos. O menino decidiu se mudar para Veranópolis e fazer curso de Ciências Contábeis. No quinto semestre entrou para a política estudantil e se candidatou para presidir a União Municipal dos Estudantes Veranenses (UMESV). Com a oportunidade, Zílio foi convidado para ser secretario de educação dos estudantes da instituição. A partir de então, houve convites para representar Veranópolis na União Gaucha dos Estudantes Secundários. Mesmo impossibilitado de se candidatar por tempo de colégio (Zílio estava prestes a se formar no segundo grau) resolveu recomeçar novamente os estudos secundários em concurso para Escola Técnica de Agricultura de Viamão. A sede de querer sempre mais, impossibilitou o jovem de estacionar seu foco em um único ponto. Decidiu-se então iniciar um estágio e veio o convite para trabalhar na Assembléia Legislativa onde assessorou Celso Marquezani. Nos oito anos seguintes, Zílio trabalhou no magistério em Erval Grande. Em 1978 fez concurso para Escolas Polivalente. Foi então que Passo Fundo entrou na sua vida.
Apesar de gostar de viver em Passo Fundo, Zílio Pavan sabe que é preciso pensar nas próxima gerações que aqui viverão. Para ele, falta pensar sobre Passo Fundo para os dias de amanhã, não se atendo apenas no “hoje”.
“Precisamos pensar o que queremos para a cidade daqui a 20 ou 30 anos. Precisamos pensar um pouquinho mais longe. É preciso fugir do dia a dia e planejar o amanha. Seja no meio de transporte, no desenvolvimento pluvial, expansão em nível de indústria ou território municipal. Ë preciso pensar no futuro e investir antes que ele chegue. Gente tem, falta dar valor ao que temos aqui”, disse Zílio. Ao lembrar do passado enche os olhos de nostalgia e relata que em 1978, Passo Fundo era para ele como o paraíso. Segundo Zilio, na época em que aqui se estabeleceu a cidade proporcionava segurança, praças para passear com a família,amigos, possuía também dois times de futebol. Lembra-se que em nível cultural havia uma ascensão muito grande, pois a cidade comportava quatro casas de espetáculo. Segundo ele, os moradores tiveram um bom passado pelo tranqüilidade que cada um vivia. “Não se tinha grandes ambições na cidade, mas todos queriam educação, segurança, bem-estar, moradia, e parece que se perdeu um pouco com o passar do tempo”, relatou Zílio Pavan Ao ser questionado sobre o que faltaria de emergencial para a cidade, o advogado foi enfático ao dizer que um ponto crucial que deveria ser abordado de forma enérgica pelos órgãos competentes seria a segurança de Passo Fundo. Para ele, hoje é difícil viver com tranqüilidade, mas aconselha pessoas de fora a virem para Passo Fundo e aqui se estabelecerem pela possibilidade de expansão. Em sua visão, Passo fundo é visto hoje como um centro de busca de estudos e isso se expande em melhor qualidade dos serviços prestados a comunidade. Sobre a infraestrutura do município, acha que se pensarmos para mais longe, a cidade tem tudo para dar certo. É preciso,segundo ele, colocar os pés no chão e tentar melhorar o que temos aqui hoje, para deixar como legado para as futuras gerações uma cidade limpa, organizada, e muito bem planejada. “É preciso pensar em investimento e não só pagar incêndio. Passo Fundo pode se tornar logo uma metrópole. Com o que temos aqui hoje, falta muito pouco para Passo Fundo tomar o primeiro lugar dentro do estado, no quesito referência. Passo Fundo é só progresso”. Um homem de fala tranqüila e de atitude no olhos, Zílio Pavan, hoje um morador de Passo Fundo que enraizou seus sonhos, objetivos e crenças nesta terra, diz com toda a maestria e segurança de que conhece sua cidade para as pessoas que aqui vivem continuarem trabalhando, pois há lugar para todos. “Continuem confiando no nosso município pois há possibilidade da cidade se tornar uma potencia muito maior do que ela já é. Quem quiser vir para cá, venha pois espaço sempre tem”.
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COMERCIANTE
Paixão pelo balcão do armazém Proprietário de um dos estabelecimentos mais antigos ainda abertos de Passo Fundo, ponto de referência na Avenida Presidente Vargas, Alcides Lazzaretti conta sua história no comércio, onde começou em 1939
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lcides Lazzaretti, 78 anos, é proprietário de armazém, açougue e churrascaria. O comércio é sua vida, segundo ele. “Eu tinha 12 anos quando comecei a trabalhar em comércio. Só trabalhei nisso.” Seu Alcides afirma que só não está atrás do balcão de seu armazém por problema de saúde. “Fazem 29 anos que estou aposentado, mas sempre estive no armazém. Só não estou agora atrás do balcão em função da minha saúde.”Nascido em Burro Preto, ainda na época em que a localidade pertencia a Passo Fundo, Alcides veio com poucos meses
morar em Passo Fundo com sua família, chefiada por Albino Lazzaretti, seu pai. “Quando meu pai veio morar para cá ele fazia selas, depois teve uma sapataria, e foi carroceiro. Em 1939 ele abriu o armazém.” Desde então o Armazém Lazaretti continua incólume na avenida Presidente Vargas, tocado agora por seus filhos. Alcides tem quatro, e dois deles seguiram os passos do pai, Levington e Nilton, que tocam a empresa que conta com açougue há 20 anos e churrascaria há 2 anos.
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XXFOTOS ARQUIVO PESSOAL
“Era tudo campo quando comecei”
Medo à noite, só de assombração
Segundo Alcides, a segurança, que é uma das maiores preocupações dos comerciantes de hoje, não era um problema. “Às vezes aconteciam desentendimentos ou brigas, mas não tinha tanto crime. Quando eu era solteiro ia caminhando a bailes lá na Petrópolis e voltava e nunca acontecia nada.” O comerciante afirma que as pessoas tinham mais medo do sobrenatural, não de criminosos como hoje. “Nosso único medo, na época, era das assombrações que diziam que apareciam (risos). De uns 20 anos para cá é que começou essa roubalheira na cidade. Antes a gente deixava a porta encostada e niguém entrava.” Somente há poucos anos atrás é que Alcides foi assaltado, mas em sua casa, localizada atrás do açouque. “O único assalto que sofri aconteceu há uns três anos, aqui em casa. Levei uma coronhada na cabeça e tive de fazer 7 pontos na cabeça.”
Alcides, avô de 7 netos, conta que estudou até o 3º ano do primário e que na época em que começou a trabalhar no armazém, a Avenida Presidente Vargas se chamava Avenida Mauá, conhecida por uma exposição de animais e outros produtos, que acontecia na região. O que, inclusive, explica o nome da vila localizada nas proximidades da Brigada Militar e da sede social do clube Industrial, chamada Vila Exposição “Eu vi todo o bairro se formar. A avenida era toda de terra. A gente via muita carroça e caminhão atolar na frente. Bem depois é que calçaram e asfaltaram.” Segundo Alcides, boa parte da região fazia compras em seu armazém, uma vez que não eram tantos armazéns na cidade, na época da abertura. Alcides e Levington Lazzaretti: comércio de pai para filho
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Crédito era na caderneta
Quando meu pai veio morar para cá ele fazia selas, depois teve uma sapataria, e foi carroceiro. Em 1939 ele abriu o armazém.
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Com tanto movimento, Alcides conta que a maneira de dar crédito para os clientes mais fiéis era a caderneta, sistema ainda utilizado em armazéns nos bairros, mas em franco declínio. “Teve épocas em que chegamos a ter 60 clientes que faziam seu rancho com cadernetas, principalmente na época em que funcionavam os frigoríficos Zé D. Costi e Planaltina, ou o curtume Ciplame. Quando a Semeato se instalou também tinha movimento, e antes mesmo, com a fábrica de pregos do Gerdau que existia onde é hoje o Bella Cìtta.”
Sobre o sistema, seu Alcides conta que sempre dava algum prejuízo, mas a maioria dos credores pagava em dia. “Quando a gente começa nesse ramo tem que esperar que vai ter prejuízo. Às vezes chegava um cliente e pedia fiado, a gente deixava e a pessoa nunca mais aparecia. Mas a maioria era gente boa.”O comerciante relembra que o armazém era muito frequentado e as pessoas que passavam pelo armazém contavam muitas histórias dos acontecimentos da região. “Dava para saber sobre acontecimentos, acidentes, mortes.”
Segundo a esposa de Alcides, Nair Lazzaretti, o armazém sempre foi a paixão de Alcides
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MÉDICO
O 50° profissional XXFOTO ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO HSVP
O pediatra passo-fundense possui 48 anos de atividades na medicina. Formado em 1963 pela UFRGS, ele foi 50º médico formado a se instalar em Passo Fundo e um dos primeiros a realizar residência médica
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udah Jorge, atual diretor médico do Hospital São Vicente de Paulo (HSVP), acompanhou marcos importantes na história da Medicina de Passo Fundo como o início do funcionamento da faculdade de Medicina em 1970. Natural de Quarai/RS, ele realizou o ensino fundamental e médio no colégio Conceição. Ao se formar ingressou na Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. “Já naquela época a UFRGS era uma faculdade de muito prestígio e que formou uma geração de médicos de alto padrão. Muitos alunos eram de Passo Fundo, o que demonstrava que o ensino das escolas daqui era muito bom”, frisa. Ao se formar, em 1963, o médico realizou residência de Pediatria no Hospital dos Servidores do Estado (HSE), no Rio de Janeiro, já que ainda não haviam residências médicas no Rio Grande do Sul. “A residência de Pediatria só era oferecida no Rio de Janeiro, Ribeirão Preto e São Paulo. Eu optei pelo Rio, porque naquela época era a capital do país e o hospital era de alto padrão”, destaca. Ao terminar os estudos , Rudah voltou a Passo Fundo para trabalhar. “Na época eu fui o médico de número 50. Predominavam aqui profissionais formados em Porto Alegre, Curitiba e alguns do Rio de Janeiro. Se comparamos com a atualidade, 80% dos médicos hoje são formados pela UPF”, afirma. Na época existiam três hospitais em Passo Fundo: o Hospital da Cidade, que foi fundado pelos maçons com o nome de Hospital de Caridade em 1914; o HSVP que foi criado em 1918 pelos católicos Vicentinos; o Hospital Municipal, criado pelo prefeito Daniel Dipp e finalizado por Wolmar Salton. A época os três hospitais possuiam 80 leitos e apenas uma sala de cirurgia cada um. Atualmente somente o HSVP possui 14 salas de cirurgia- onde são realizadas uma média de 100 procedimentos/ dia- e 617 leitos. “Quando a sala de cirurgia foi criada era algo extremamente simples, na época não tinha nem energia elétrica e as paredes eram armações de metal com vidro, para que a luz direta do sol iluminasse. Mas quando eu iniciei o trabalho já existia a energia elétrica no local”, comenta Rudah iniciou o trabalho na cidade no Hospital Municipal em 1966, depois , em 1968, começou as atividades no HSVP.
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Quando a sala de cirurgia foi criada era algo extremamente simples, na época não tinha nem energia elétrica e as paredes eram armações de metal com vidro, para que a luz direta do sol iluminasse. Mas quando eu iniciei o trabalho já existia a energia elétrica no local
O médico foi um dos primeiros passo-fundenses a fazer residência de Pediatria
Pediatra Rudah Jorge, atual diretor médico do Hospital São Vicente de Paulo, atua na Medicina há 48 anos
Faculdade de Medicina Em 1969 a Faculdade de Medicina foi autorizada a funcionar. De acordo com Rudah , o problema é que os hospitais da cidade não queriam realizar convênios com a universidade, já que naquela época as faculdades funcionavam junto as Santas Casas e trabalhavam com pessoas de baixa renda, que não tinham condições de pagar pelo atendimento. “Para resolver o impasse o reitor da Universidade na época, Murilo Annes, pediu para o bispo da cidade, Dom Cláudio Colling, interceder junto a direção do hospital. O bispo, com toda a sua visão e inteligência, colocou para a direção que deveriam aceitar. O diretor médico da época pediu demissão e eu assumi no seu lugar. Com o início do funcionamento da faculdade, em 1970, as coisas realmente começaram a progredir”, ressalta. Junto com a criação da faculdade, o governo federal enviou ao hospital diversos aparelhos médicos. “Isso ocorria porque os países da Europa Oriental, como Alemanha e Hungria, possuíam uma dívida com o país e esse valor foi pago com aparelhos médicos”, esclarece Rudah. Na época foram recebidos equipamentos de última geração, como incubadora e novo aparelho Raio X. “O hospital deu um salto muito grande em qualidade porque não tínhamos condições econômicas para comprar estes aparelhos. Para se ter uma idéia, antes de receber os novos equipamentos, possuíamos um Raio X que exigia que o paciente prendesse a
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de Passo Fundo
Hospital São Vicente de Paulo O HSVP é considerado pelo SUS o melhor hospital do interior do RS e o quarto de todo o Estado. Para isso a instituição passou por grandes mudanças e contou com o esforço de profissionais de diversas áreas, não somente os médicos. Rudah conta que quando iniciou o trabalho no hospital ele já possuía um caráter regional, mas precisava de muitas melhorias. “Comentei com meus colegas que tínhamos que progredir para dar conta da demanda de pessoas ,já que se o serviço não melhorasse os pacientes da região iriam buscar auxilio em Porto Alegre e não aqui.Tínhamos poucos médicos, somente três hospitais e poucas salas de cirurgia. Na época estava ocorrendo a primeira migração de filhos de imigrantes italianos e precisávamos atender bem também estes pacientes”, revela. O pediatra acabou ajudando nas mudanças, já que na época da fundação da faculdade, era diretor médico. Outro fator muito importante para o desenvolvimento do hospital foi a entrada do administrador Ilário De David que trabalha no local até hoje e tem uma grande capacidade de negociação e administração. “Ele tem uma excelente visão de negócios. Entende quando é necessário adquirir um aparelho, sabe estabelecer diálogo e o mais importante: é honesto. Esta última característica é fundamental porque não adianta realizar um bom negocio e obter lucro se esse valor não ficasse para a instituição e nisso ele é extremamente correto”, destaca.
XX FOTOS ARQUIVO PESSOAL
mou ao assumir a diretoria-médica do HSVP foi exigir que a farmácia do hospital ficasse aberta à noite. Ele lembra que na época não existia emergências, mas um serviço de ambulância que atendia a população de baixa renda chamado Serviço de Atendimento Médico Domiciliar e de Urgência (SANDU) . “Um médico de plantão atendia a população em seus domicílios e os pacientes eram trazidos para o hospital. Este serviço foi recriado agora com a SAMU”, diz.
“ Dr Rudah Jorge em sua formatura no ano de 1963
Residência médica A residência médica é uma marca forte hoje no HSVP. A instituição de saúde possui atualmente 101 médicos residentes e 13 especialidades médicas credenciadas junto a Comissão Nacional de Residência Médica do Ministério de Educação. A primeira a ser realizada no local foi de Neurocirurgia em 1976. “Começamos a formar médicos especializados para a região e também para todo o país, temos profissionais conceituados atuando em diversas regiões do Brasil”, comenta.
Médico esteve presente no lançamento do primeiro tomógrafo do HSVP
Mudanças na rotina diária do médico O pediatra conta diversas histógência. Quando chegava nas residências sempre tinha um vó que rias que representam as mudangentilmente fazia um café, o proças na rotina médica dos profisblema era conseguir dormir desionais com o advento de novas pois, eu não dormia nunca”, brintecnologias e facilidades de servica o médico. ços. De acordo com ele, em 1966 A falta de farmácias no horário quando iniciou seu trabalho, neda noite também dificultava muinhuma farmácia abria a noite, to a vida dos profissionais. “Nem além disso, não existia nenhum adiantava eu prescrever medicatrabalho de emergência na cidação, porque não poderia ser comde. Desta maneira os médicos tiprada à noite. Eu carregava os renham que ir pessoalmente até médios de urgência, como para a casa dos pacientes, indepenconvulsão, por exemplo. Já acontedente do horário, para realizar o ceu de ter que abrir o consultório atendimento “Eu era chamado, de madrugada atrás de amostras no mínimo, duas vezes por noite. grátis de medicamentos”, comenTinha que levantar da cama, trota. O problema era tão grande que car de roupa, dirigir e carregar a primeira medida que Rudah tona pasta os medicamentos de ur-
Um médico de plantão atendia a população em seus domicílios e os pacientes eram trazidos para o hospital. Este serviço foi recriado agora com a SAMU”, diz.
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respiração na hora do exame, imagina como uma criança vai fazer isso? Então só os adultos podiam fazer o exame”, recordou aos risos. Além disso, com a faculdade, foi necessário que mais médicos se dirigissem a cidade para dar aulas. “Depois de 1975 começamos a estimular os melhores alunos a fazerem especialização fora e voltar para Passo Fundo. Por isso muitos médicos de prestígio estão aqui até hoje. Além disso, muitas famílias acabaram vindo para cá e isso trouxe benefícios para toda a cidade”, informa. De acordo com o pediatra, a faculdade tem uma boa qualidade. “Os médicos formados aqui se colocam bem nos concursos, como o da residência médica, já tivemos alunos que ficaram na primeira colocação. Um aluno nosso foi classificado em primeiro lugar em um exame nacional do MEC e recebeu bolsa de estudo para mestrado, doutorado e curso no exterior pago pelo governo. Claro que nem todos se saem bem, porque isso também depende do comprometimento dos alunos”, frisa. Além disso, o médico afirma que a faculdade se sobressaiu na região, devido ao prestígio da Universidade de Passo Fundo também em outras áreas, como Odontologia e Direito. “A cidade sempre teve destaque no ensino e nos serviços. Inclusive até hoje não temos nenhuma outra faculdade de medicina de prestígio na região, a mais próxima é em Santa Catarina, e não acredito que esteja no mesmo patamar”, revela.
Os pacientes que não tinha condições de pagamento do serviço do hospital eram atendidos da mesma forma que ocorre atualmente. A assistência médica universal, que permitia que o Estado arcasse com os valores referentes aos pacientes, foi criada com o Instituto Nacional Assistência Médica e Previdência Social (INAMPS). “Hoje temos o SUS. Os pacientes vêm ao hospital com as ambulâncias, que podem ser dos bombeiros, SAMU, Prefeituras, e são atendidos. Começaram a surgir também os convênios, que antes não existiam, com eles os pacientes tem maior direito de acomodação nas internações no hospital”, explica. Mas o que trouxe profundas modificações na medicina foram as novas tecnologias para diagnóstico, já que naquela época o médico possuía somente alguns aparelhos básicos como estetoscópio, aparelho de pressão, otoscópio e aparelho para ver fundo de olho. “Hoje se tem mil recursos para o diagnóstico e isso ajudou muito a vida do médico que consegue analisar mais profundamente. O problema todo da medicina é o diagnóstico, porque se ele foi feito acabou o problema, porque você pode até não saber a medicação, mas é só olhar no livro”, explica. Apesar dos benefícios, o constante uso da tecnologia já está se tornando um problema no ensino de novos profissionais. “Os alunos querem só usar aparelhos para o diagnóstico. Mas a Medicina continua a mesma, o profissional precisa conversar e ouvir o paciente, porque grande parte das doenças são emocionais e muitas são viróticas, não requerem antibióticos, se curam sozinhas. Este já é um problema sério, porque os alunos começam a ter uma formação deficiente e não tem paciência para ouvir os pacientes”, frisa.
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EDUCADOR
Padre e professor P
adre desde 3 de julho de 1965. Professor desde 6 de março de 1966. A trajetória de Elli Benincá, professor, mestre em Ciências da Religião pela PUC/SP e Doutor em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e padre se funde com a história de Passo Fundo. Ele não é um passo-fundense, mas aqui plantou os frutos de uma vida dedicada ao ensino e à rElligião. Foi na década de 60 que este homem humilde, que vivia com os pais numa propriedade rural de Severiano de Almeida, chegou à capital do Planalto Médio para fazer a diferença. E fez. Depois de conviver com uma rea-
lidade de desigualdades onde descendentes de italianos e alemães era “diferentes”dos brasileiros natos, os caboclos. Elli, que era filho de proprietários de terras, descendentes de culturas estrangeiras, sentia que havia algo errado. Estudando primeiramente na escola católica cristo Rei, o padre lembra que o local não foi apenas um espaço pedagógico de aprendizagem, mas de sintetização da cultura de descendentes de imigrantes. Mais tarde, em 1953, ele ingressou no seminário Nossa senhora de Fátima em Erechim, onde integrou a primeira turma. Em 1958 começou trabalhar na mesma instituição como professor, iniciando uma carreira promissora. Em 1959 foi para Viamão, onde se deparou com realidades diferentes, onde alunos que cursavam filosofia e teologia, eram portadores das mesmas experiências. “Apesar da maioria dos colegas serem filhos de pequenos agricultores, não conviviam mais com a paz e a passividade. Contestavam, confrontavam, eram rebeldes. Já não eram aceitas pacificamente as informações como ocorria em Erechim e na escola primária. Percebi que as in-
fluências do mundo urbano e o modo de pensar com características rurais não se adequava a esta realidade”, conta. Os últimos anos no seminário de Viamão ele dedicou ao trabalho pastoral nas vilas periféricas de Porto Alegre, Passo das Pedras e Passo do Feijó, hoje cidade de Alvorada. Ele começou um trabalho popular, chamado de círculos bíblicos.
“ Elli quando foi ordenado Padre, em 3 de julho de 1965, em frente aos seus pais
Todos nós temos uma vocação para o trabalho. O específico, ou seja, o profissional, é preciso construí-lo. Pata tanto, é necessário optar pelo profissional. A opção é uma decisão interior, que, quando feita, gera uma profunda liberdade no trabalho que se realiza.
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Ele tem 47 anos de vida religiosa e há 46 é professor. Elli Benincá chegou a Passo Fundo na década de 60, morou na Catedral de 1966 a 1987 e desde 1988, há 23 anos reside na Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição. Foi jubilado pela UPF aos 70 anos de idade. Hoje ele ainda reza missas e dá aulas de metodologia pastoral no ITEPA
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Com seus 14 sobrinhos
Proferindo palestras, uma de suas habilidades de educador
A história da cidade Estudar a história de Passo Fundo sempre fascinou Elli, que confessa ter feito um esforço grande para estudar a história local e pesquisar. Ele integrou um grupo de estudos da faculdade que avaliaram não só o aspecto histórico da história, mas o contexto social. “É preciso analisar que dificilmente se faz a história sem o aspecto cultural como muitos o fazem porque a hisória tem suas curvas. As duas funções Muitos anos dedicados aos estudos paralelamente à vida religiosa deram à Elli muita experiência nas duas áreas. Sempre uni as duas funções, sendo finais de semana de práticas pastorais e durante a semana a universidade, isso por mais de quatro décadas. As questões difíceis que trabalhava da faculdade trazia para a comunidade, para a prática pastoral. Até hoje rezo missas e as duas experiências concomitantes me deram muito conhecimento.
Praticante de esportes na época do seminário
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O professor também se constrói. O Pe. Alcides Guareschi agiu pedagogicamente, no meu caso, deixando-me o tempo necessário para o estado. Hoje entendo que não investimento melhor e mais duradouro do que aquele feito no ser humano. A universidade pode prometer qualidade de ensino aos seus alunos; o ensino, porém, depende da qualidade intelectual e pedagógica do professor.
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Passo Fundo Depois de muita dedicação e uma experiência completamente diferente do que havia vivido até então, Elli Benincá chega a Passo Fundo em 1966 para assumir o cargo de professor da disciplina de introdução à filosofia na Faculdade de Filosofia da Universidade de Passo Fundo, sendo auxiliar do Pe. Alcides Guareschi na Faculdade, um de seus maiores parceiros de jornada. “Aos poucos consegui fazer a reopção pela universidade e pelo estudo. Dediquei os dois primeiros anos de trabalho ao estudo, o que considerei um verdadeiro mestrado”, diz. Conta Elli eu no começo resistiu à função, mas quando chegou à universidade foi acolhido por pessoas que deram força e o acompanharam. “Lembro sempre a todos que a troca de experiências e o trabalho em grupo é o que fazem as pessoas progredirem. Não fiz nada sozinho. Sempre tive apoio quando precisei e isto me tornou um bom profissional”. Em 1985 ele realizou o mestrado de 2000 a 2002 fez doutorado, sendo diretamente por defesa de tese.
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Ao lado de Dom Urbano Allgayer: um de seus amigos
Em 2010 Elli foi jubilado pela UPF, por seus 40 anos de trabalho na instituição e por 70 anos de idade. Na solenidade ele falou sobre os desafios dos educadores diante de uma sociedade em permanente transformação. Considerado referência por toda uma geração de profissionais que se ocupam da atuação pedagógica, Elli Benincá serve como exemplo para gerações. A homenagem da UPF culminou com o lançamento do livro “Filosofia e Pedagogia: aspectos históricos e temáticos”, organizado pelos professores da UPF Cláudio Dalbosco, Édison Casagranda e Eldon Mühl, oferecido à Benincá pelo envolvimento com a educação tanto de Passo Fundo quanto de toda a região. A obra começou a ser pensada ainda em 2005 e foi sendo desenvolvida em encontros quinzenais de um grupo de professores vinculados aos cursos de Filosofia e Pedagogia.
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ADVOGADO E PRODUTOR RURAL
Há 60 anos acompanhando o desenvolvimento da cidade XXFOTO DIVULGAÇÃO
Wentz afirma que Passo Fundo está em constante expansão, oferecendo muito a todos seus moradores e aos que nela pensam em investir
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orador do município há mais de 60 anos, Norberto Amândio Wentz, mudou-se para Passo Fundo em 1950, época em que iniciou seus estudos junto ao Instituto Educacional e concluiu o curso Técnico em Contabilidade. Posteriormente, Wentz ingressou no Banco do Brasil através de concurso público, tendo sido nomeado para a cidade de Guarporé. Porém, tendo em vista as vantagens e as grandes oportunidades que a cidade de Passo Fundo oferecia, retornou. “Após o ano de 1975, até hoje, passei a me dedicar ao agronegócio, juntamente com minha família, bem como à área jurídica, permanecendo até hoje com o escritório de Consultoria e Assessoria Jurídica no Agronegócio”, afirma ele. Segundo ele na época, Passo Fundo oferecia grandes oportunidades em diversas áreas, pois muitas delas estavam em expansão. “Diante destas oportunidades promissoras que a cidade oferecia nos ramos da agricultura e na advocacia me motivaram a permanecer por aqui. Esta escolha valeu a pena, a cidade me deu o retorno que esperava, pois aqui formei minha família, meus amigos e meus negócios”, conta Wentz. Relata ele que na época em que ingressou na faculdade, o Curso de Direito era uma das poucas oportunidades oferecidas pela instituição de ensino, tanto que me sua formatura foi pela segunda turma da Faculdade de Direito da Universidade de Passo Fundo. Já o relacionamento com o agronegócio, Wentz relata que vem de berço, pois seus pais eram agricultores e ele cresceu neste meio. “E a permanência nele deu-se em virtude de que
Norberto Wentz com a esposa Hildegar
tal segmento estava no início de uma nova era que prometia ótimas oportunidade e rentabilidade, o que de fato se concretizou”, explica.
Crescimento e o desenvolvimento do município O advogado destaca que acompanha o desenvolvimento da cidade desde 1950 e seu crescimento deu-se gradativamente. “Tanto que, hoje tornou-se uma referência em vários segmentos, como na educação, na saúde, na indústria e no agronegócio. Mas o que me impressiona, hoje, é a velocidade com que novos empreendimentos, nos mais variados ramos da economia e da indústria, evoluem. Por tal motivo, é que Passo Fundo é um pólo de referência em muitos ramos”. Para ele o mercado de trabalho em Passo Fundo está em constante expansão, oferecendo muito a todos seus moradores e aos que nela pensam em investir. “A exemplo disso, cita-se o ramo da construção civil, onde oferece inúmeras oportunidades. Além disso, as instituições de ensino da cidade formam profissionais cada vez mais preparados e capacitados para atender as necessidades e as demandas que a cidade exige”, finaliza o advogado.
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