Bullying e assédio moral O uso da força para intimidar
A palavra Bullying, de origem inglesa é cada vez mais pronunciada entre pais e professores, nas escolas. Mas o que realmente isso significa? Quais suas causas e consequências, no que tange o psíquico do agressor e agredido? Como devemos agir diante disso? O Bullying se caracteriza pelo uso de poder ou força para intimidar, excluir, humilhar, violentar fisicamente, pressionar psicologicamente outro indivíduo que parece mais frágil, passivo. Isso tudo por considerar o outro diferente, estranho. Existe uma a idéia de que essa práti-
ca ocorre apenas entre crianças. Realmente se torna evidente com maior facilidade nas escolas, pois o ambiente reúne diferentes personalidades e idades, e estes estão se experimentando em sua vida social. Porém, podemos observar também entre adultos que muitas vezes sofrem com Assédio Moral ou Abuso moral, pressão ao ter prazos de entrega de trabalho, humilhação por parte da chefia. De acordo com Leymann, o assédio moral desenvolve-se em uma situação hostil, em que um ou mais indivíduos coagem um
terceiro indivíduo de tal forma que ele é levado a uma posição de fraqueza psicológica. O Assédio Moral tem provocado uma quantidade crescente de ações judiciais contra empresas de todos os setores. Os responsáveis pela empresa na maioria das vezes nem têm conhecimento da ocorrência do problema até receber uma intimação judicial. Em princípio, a empresa é responsável pelo que ocorre no seu ambiente, inclusive nas relações entre chefe e funcionário e também entre os próprios colegas de trabalho. Além do prejuízo financeiro, o assédio moral provoca a queda de rendimento profissional e, muitas vezes, alteração no clima do ambiente de trabalho de toda a equipe. Precisamos refletir o que levam esses indivíduos a agirem dessa forma diante de um outro sujeito, aparentemente mais frágil? Por que tanta dificuldade em aceitar as diferenças? A idéia que
se tem é que quem mais sofre é o agredido, a vítima de Bullying ou do Assédio Moral, e realmente estes sujeitos se deprimem, têm crises de ansiedade, estresse, somatizações, abuso de drogas... Mas é fundamental entender que o praticante de Bullying e do Assédio Moral também está em sofrimento psíquico e que é necessário acompanhamento psicológico tanto quanto o agredido. A família, a escola e/ou o local de trabalho necessitam de auxilio para saber como lidar com ambas situações e poder amparar estes sujeitos em sofrimento. Assim é importante estarmos atentos as atitudes das pessoas que nos cercam... familiares, amigos, colegas etc, como está seu comportamento? Quais são seus grupos de amigos, na escola, no trabalho quanto na internet? Ficar atento a mudanças de comportamento é CUIDAR...e cuidar é sem dúvida uma grande prova de AMAR.
Bruna Dassoler Scandolara
Daniela Demski Adário
Nadine T. Pilotto Fabiani
Diz-me com quem andas... É de responsabilidade dos pais acompanhar os passos dos filhos para evitar e combater o bullying. Se o acompanhamento for negligenciado, a família poderá estar produzindo, sem saber, um agressor ou uma vítima Gabriele Siqueira
O bullying, palavra popularizada há pouco tempo, tem gerado ampla discussão na sociedade. Meios de comunicação divulgam seguidamente casos de violência relacionados ao bullying. Os números vêm crescendo a cada dia e se tornando cada vez mais alarmantes. Por isso, instituições de ensino, órgãos políticos ligados a educação ou até mesmo iniciativas privadas tem tomado posicionamentos. Em Erechim a Secretaria Municipal de Segurança Pública e Proteção Social realiza palestras em escolas sobre o tema. Como evitar, de que forma tratar com os envolvidos, tanto agressores quanto vítimas, são assuntos delicados que requerem atenção e comprometimento. Segundo a assistente social da Secretaria Municipal de Segurança Pública e Proteção Social, Cláudia Pires, os trabalhos já são realizados há mais de dois anos pelo órgão, justamente com o objetivo de orientar, pois a questão é puramente educacional. Ela comenta que uma de suas preocupações é que os órgãos estaduais e federais ainda não tenham investido em capacitação aos profissionais sobre esse tema. Claudia cita exemplos de casos mostrados na mídia, onde profissionais definem certos tipos de violência como bullying, quando na verdade são casos isolados. Ela define como preocupante essa situação, pois os profissionais responsáveis, que deveriam ser bem treinados, acabam confundindo situações de violência isolada com bullying. “Por que uma criança xingou a outra não significa que seja bullying. As pessoas estão misturando muito. As punições são aplicadas em qualquer caso
e não existe um trabalho educativo, nem na família e nem na escola” destaca. Porém, diagnosticar a causa dessa violência e saber o que ela pode gerar é importante para prevenir situações futuras. A escola tem que ter o conhecimento de todos os fenômenos da violência pra poder intervir, mas, segundo a assistente social, isso é papel fundamental da família. “A família tem que acompanhar o seu filho. Aquilo que eu sempre falo escola é para ensinar, e a família para educar. Então o que a gente vem trabalhando é isso, que as famílias têm que ter o conhecimento de todos os tipos de violência. Maus tratos, negligência bullying, o que você não quer pra você, você não pode querer pro outro” acrescenta. Cabe aos pais observar seus filhos, notar se há mudança de comportamento e ao mesmo tempo propiciar um ambiente harmonioso para que essa criança possa crescer e se desenvolver de maneira saudável. Entretanto, se os casos começarem a acontecer é importante que a família esteja atenta para diagnosticar e lidar com a situação. A enfermeira Danusi Marceli Grando, que também participa das palestras ministradas em escolas, comenta que a criança vítima de bullying apresenta tanto mudanças comportamentais quanto físicas. Se o adolescente emagreceu, chega em casa atrasado, com dor de cabeça, começa a falar que não quer ir para escolas, são sinais de alerta. Claudia destaca que o acompanhamento deve ser diário. Saber com quem o filho anda, conferir os cadernos, se interar das atividades e manter um diálogo aberto com os filhos. “Aquela família que se abstém do cotidiano do filho, não sabe o que está produzindo, ela pode estar produzindo uma vítima ou um agressor. Tanto a vítima quanto o agressor precisam de acompanhamento. O agressor pela própria situação que essa família deve estar passando, por que ninguém agride ninguém sem alguma razão”. O abandono ou descaso pode gerar consequências de-
sastrosas. Um exemplo disso é o caso que aconteceu em Realengo, em abril desse ano, quando um ex-aluno da escola, que foi vítima de bullying, invadiu e atirou e matou vários adolescentes. Claudia comenta que esse é o típico caso de abandono. Abandono da escola que não notou a doença (esquizofrenia) que ele possuía. Abandono da família, quando a mãe morreu, ele perdeu o vínculo com os familiares, e abandono até mesmo da área da saúde, onde ele teria começado a se tratar, porém desistiu e os profissionais não buscaram trazê-lo de volta. Segundo Cláudia, o adolescente que é vítima do bullying pode ser um agressor em potencial. “Ele vai engolindo, engolindo as agressões e acaba se tornando uma bomba, prestes a explodir. É nesse momento a importância do profissional, tanto do psicólogo, do assistente social, do médico, do enfermeiro do pediatra que acompanha essa criança, e principalmente da família”. Nas palestras ministradas pela equipe da secretaria, Claudia comenta que é normal os adolescentes falarem que já presenciaram casos de bullying, ou até mesmo dizer que já foram vítimas. Para os que testemunham, a orientação é de que não fiquem indiferentes, que procurem professores, coordenadores e denunciem os agressores. Até mesmo em casa, a situação deve ser comentada com os pais, para que esses saibam o que se passa na escola. Dessa forma, é importante que a escola busque realizar atividades voltadas ao tema, para conscientizar e orientar os alunos. Além disso, Claudia destaca que os professores devem ser capacitados para diagnosticar a situação. “Quando ocorre o bullying na escola, aquilo tem que ser interrompido o mais rápido possível. Senão vão ocorrer outras situações paralelas e a escola não vai conseguir dar conta. Deve-se cortar o mal pela raiz. A escola deve ser rápida, ter autoridade e ao mesmo tempo ela tem que ser amiga e repassar confiança para a criança” finaliza.
XXFoto Divulgação
Cláudia e Danusi palestrando em escola
Internet
Crianças conectadas
O uso da internet por crianças e adolescentes tem crescido a cada dia e gerado preocupações. Qual é o ponto que separa o uso saudável do prejudicial? Segundo psicóloga, todo excesso prejudica. A mudança de comportamento causada pelo avanço tecnológico é evidente em todas as classes sociais. Desde o mais jovem até o idoso, todos são atingidos por essa onda de tecnologia que se renova cada vez mais rápido. As crianças são um dos exemplos mais proeminentes quando se trata desse assunto, a grande maioria substituiu os brinquedos tradicionais por um computador, ou mais especificamente, a internet. É normal ouvir comentários de pessoas jovens, na faixa etária dos 20 a 30 anos, falando que em sua infância as coisas eram diferentes. Brincadeiras com bicicleta, boneca, jogar bola até tarde na rua, pique esconde, eram as mais populares entre a garotada. Os pais precisavam chamar uma, duas, três vezes os filhos para entrar em casa. Hoje o cenário deu uma volta de 180, é comum os pais incentivando filhos para que saiam de casa, e brinquem como uma criança “normal”. O fato é que brincadeiras de 10 anos atrás foram substituídas pelo computador. Reverter à situação é difícil, o jeito é aprender a lidar com ela. Segundo a psicóloga Dirlene Baruffi essa mudança no comportamento das crianças aconteceu devido a vários fatores. “Mudanças culturais, pais com formação diferente que disponibilizam aos filhos muitos acessos e possibilidades que não tiveram e sim, a influência dos meios de comunicação atuais, como celular com várias funções e a internet que aten-
de hoje a todos os públicos e gostos” cita a psicóloga. Dirlene destaca que essa geração é citada por alguns autores como a geração High Tech, justamente porque hoje 80% da população têm acesso à internet. “As crianças de hoje, no seu ímpeto de curiosidade dominam a tecnologia que tem disponível e ensinam muitos adultos” acrescenta. Porém todo esse “domínio” do ciberespaço também gera preocupações na formação da criança. O conteúdo acessado e o tempo que a criança gasta em frente ao computador são pontos que devem ser bem avaliados. A psicóloga comenta que o uso posi-
tivo dessa tecnologia está nas mãos dos adultos. “Os pais precisam supervisionar por onde o filho circula virtualmente, em nome da proteção e da preservação das crianças, pois da mesma forma que essa tecnologia tão fascinante, nos põe em contato em tempo real com pessoas do outro lado do mundo, também nela existem pessoas, que por trás da tela estão prontas a destruir a vida de filhos e famílias” reitera. Outro perigo citado por Dirlene são os crimes cibernéticos, como os casos de pedofilia que têm tomado conta das manchetes nos meios de comunicação. Dessa forma, ela afirma que todo pai tem o direito de acompanhar os filhos nessa trajetória, evitando problemas maiores, mesmo que possam se passar por chatos e controladores. Segundo a psicóloga é importante que o equilíbrio prevalesça: um tempo para brincadeiras interativas, reais, e outro para internet. “Tempo para leitura, diálogo em família, pintar, inventar brincadeiras, tão importante para desenvolver a criatividade; criar como se fazia tempos atrás” acrescenta. Dirlene destaca que se deve evitar que as crianças recebam tudo pronto. “As brincadeiras de faz de conta desenvolvem muitas capacidades, iniciativa, tolerância a frustração, persistência e paciência, que são fundamentais hoje, na era do “já”, do imediato”. Quando utilizada de forma abusiva ou inadequada pode trazer diversas dificul-
dades. Algumas citadas pela psicóloga são agitação, hiperestimulação, cansaço para as atividades de rotina ou até mesmo desvalorização de todas as outras atividades importantes da vida, como o estudo, em detrimento da internet ou do computador. Porém, se usada adequadamente, com a orientação de responsáveis, contribui muito para o desenvolvimento, pois é uma fonte de inúmeras informações, amplia a cultura, o conhecimento, as relações. Dirlene finaliza salientando que os excessos são sempre negativos. “Nós humanos, precisamos estar bem para usarmos a “máquina” a nosso favor e não nos deixarmos dominar por ela e o mais importante: passarmos isso com convicção aos nossos filhos”.
Psicóloga Dirlene Baruffi