Ed. 03 Junho 2014 - O Mirante

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Junho - 2014


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Editorial A Copa do Mundo em curso é, sem dúvida, o maior palco e vitrine da diversidade cultural presente. São pessoas de línguas, hábitos e mentalidades distintas que se juntam para desfrutar da alegria, deslumbramento e da sempre renovada emoção do futebol. Atores e espectadores que se reúnem no espaço físico dos estádios, conectados à distância por mais de um bilhão e meio de telespectadores.

As nossas organizações estão também se tornando, cada vez mais, em comunidades plurais e globalizadas. Mesmo que sejam escassas as pessoas estrangeiras, vamos encontrar nelas a marca do mesmo fenômeno: pessoas de origens diversas, raças, crenças, valores, competências, opções sexuais, estilos e gostos. Também cada vez mais variados estão se tornando os públicos externos das empresas: clientes e fornecedores, a comunidade próxima e a longínqua. Fará grande diferença neste contexto a nossa capacidade de interagir e conectar, com mente e coração abertos, com todas essas pessoas. Se no ambiente profissional o objetivo comum é obter sinergia e resultados profissionais, a melhor atitude é estarmos despidos de ideias preconcebidas para construir elos, parcerias e trabalho conjunto. Não importa se grandes variações existem na herança biológica, geográfica ou cultural das pessoas à nossa volta. Claramente a nossa cidadania não é mais apenas local. A “aldeia global” nos torna cúmplices de uma humanidade multifacetária que busca seu lugar ao sol e que precisamos saber respeitar, promover e valorizar. Nessa edição, Claudia Vicente nos convida a pensar sobre as mudanças que devemos fazer onde todas as transformações verdadeiramente começam: o nosso eu mais profundo. Por sua vez, Paulo Couto – nosso consultor que juntamente com outros da nossa equipe atua como coordenador de programas de intercâmbios, propõe um caminho de aprendizagem nessa pluralidade cultural. Por fim, Rodolpho Rocha – fundador da Dorsey Rocha e educador por opção profissional, como prefere ser chamado, nos fala de uma prática cada vez mais frequente nas empresas: a do multiplicador interno. Participe de nossa enquete sobre o que lhe desperta a vontade de ir ao trabalho.

Viaje você também nessa jornada global: bom proveito! omirante@dorseyrocha.com

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Agentes Multiplicadores legitimação de um esforço de mudança

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uito mais do que fora alardeado nos fins do século XX, as corporações adentraram o novo milênio diante de um quadro de grandes mudanças (sociais, políticas, tecnológicas, mercadológicas) que ameaçam sua própria sobrevivência. Metaforicamente, podemos comparar as organizações a uma companhia de teatro que tem a cada dia a responsabilidade de ensaiar e apresentar uma nova peça em um local novo, para um público que lhe é desconhecido. Nesse cenário de grande turbulência, as organizações buscam definir e percorrer novos trajetos na interminável busca de adaptação. As organizações que demostram ser bem-sucedidas apresentam um modelo de atuação que combina eficiência, velocidade e grande flexibilidade.

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Rodolpho Rocha

Sócio-Fundador Dorsey Rocha & Associados


Fator crítico de sucesso dessas instituições é o desempenho global dos seus componentes em todos seus extratos que evidenciam, além de elevada competência técnica, um forte comprometimento com os destinos da organização. Eles sabem que a Cia. se propõe a fazer, os colaboradores demonstram concordância e definem sua contribuição para que tudo isso possa ocorrer. Mas essa adesão forte, voluntária e consciente não acontece ao acaso, não é combustão espontânea. Essa atuação homogênea é decorrente de um esforço deliberado que relaciona o desempenho da organização a um permanente esforço de aprendizagem. Nesse processo contínuo de adaptação às novas realidades profissionais de diversas áreas são “convocados” para atuar como multiplicadores, acelerando e tornando mais vibrante e homogêneo o processo de aprendizagem organizacional.

Mas afinal quem é esse agente multiplicador, qual sua origem, o que ele faz? Normalmente o profissional que exerce esse papel conhece profundamente a empresa e gosta de fazer assim. Uma curiosidade quase infantil o conduz para conhecer a organização, suas origens, seu mercado, suas unidades, enfim... Ele é um estudioso incansável. Não há necessariamente a correlação absoluta entre tempo de casa e conhecimento da empresa, o que o caracteriza é mais o estado de prontidão e de alerta para as diferentes realidades da organização. Nessa postura de permanente aprendizado, o multiplicador se identifica muito com os valores, as crenças, os princípios éticos da Empresa.Essas condições lhe conferem grande credibilidade: as pessoas em todos os departamentos tendem a acreditar em suas propostas, em suas análises. Isto o faz um formador de opinião, pois os indivíduos veem em seus atos uma profunda coerência entre sentir-pensar-falar-agir.

Como podem ser identificados os multiplicadores? Para surpresa de muitos, aqueles com potencial para serem divulgadores de uma “nova ordem” são muitos e estão bem espalhados. Os profissionais - embora não necessariamente expressem isso- têm necessidade de encontrar significado no seu trabalho. Procuram situações desafiadoras, nas quais os princípios maiores devem ser esclarecidos e transformados em realidade. Essas pessoas assim tão comprometidas não estão concentradas em guetos; ao contrário, podem ser descobertas em diferentes níveis da hierarquia, nos variados “sites” da comunidade interna. O maior desafio da alta direção é descobrir esses verdadeiros talentos que estão à espera de uma oportunidade para exercer o seu papel. 04


O Líder e sua Reforma Íntima por Claudia

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Vicente

ncontramo-nos em busca constante por aprimoramentos técnicos, que aperfeiçoem nossa expertise para o cumprimento das funções, onde quer que estejamos atuando.

Então, reflito... Como ficam os aprimoramentos comportamentais? Como transformar a inteligência voltada para a execução e obtenção de resultados, ou, ao menos, destinar parte desta inteligência ao aprimoramento dos relacionamentos, partindo-se do pressuposto que, para relacionar-se bem com o próximo, seja seu subordinado, par ou, ainda, seu líder, o indivíduo deve sim avaliar-se, buscando sua própria reforma íntima! Fácil? Nada fácil. Muitos ainda esperam encontrar o “caminho das pedras” que os levem ao sucesso em seus relacionamentos, de forma fácil, rápida e sem muita dedicação.

Em cumprimento a tantas tarefas do dia a dia, gestores e líderes, executivos de organizações bem-sucedidas, criam verdadeiros celeiros de insatisfação junto às suas equipes, sem, ao menos, pensarem que, uma avaliação íntima e verdadeira de si próprios poderia ser de grande valia. As pressões não irão cessar! E o líder deverá aprimorar-se a cada dia e, mais e mais, inspirar sua equipe a obter resultados! Como reagir, então? Minha reflexão é direcionada ao quanto a melhoria em nós mesmos, líderes de equipes, poderá impactar positivamente as pessoas com as quais convivemos ou lideramos. Sem qualquer apelo religioso, menciono aqui São Francisco de Assis, respeitado por muitos, pela mensagem de paz que disseminava independentemente de religião. Sua missão consistia em praticar e pregar simplicidade e amor ao próximo, por meio da caridade. Assim, amava e respeitava todas as pessoas, suas diferenças, suas limitações. Defino-me como grande admiradora de São Francisco e, constantemente, chego a refletir sobre o papel da liderança, como precursora dos seus ensinamentos.

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“...independentemente de religião. Sua missão consistia em praticar e pregar simplicidade e amor ao próximo, por meio da caridade. Assim, amava e respeitava todas as pessoas, suas diferenças, suas limitações. “

Conhecimento técnico e expertise são muito importantes, mas por si só, não colocarão o líder em posição de destaque, se não houver disposição para, genuinamente, fazer o bem às pessoas e, consequentemente, praticar a caridade, entendendo as diferenças e as limitações, posicionando-se de forma a ajudar, a ensinar. Liderar é desenvolver, ouvir, orientar, preparar, incluir, enfim... é ter habilidade para inspirar e influenciar pessoas para que elas gerem os resultados esperados. Definitivamente, é fazer o bem ao próximo! Por isso, gestor, promova a reflexão, a autopercepção, exercitando sua capacidade de analisar seus atos e suas ações diariamente. Em outras palavras, pratique a conversa com o travesseiro de forma a analisar-se e colocar-se no lugar do outro. Só assim você conseguirá compreender as falhas que cometeu (porque todos cometemos!) e buscar saná-las, promovendo a mudança de comportamento e, consequentemente sua reforma íntima!

Claudia Vicente Diretora de RH Herbalife Brasil

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I

magine esta situação: um jovem asiático, para o qual o relacionamento entre conhecidos não envolve o toque fisíco, chega ao Brasil para um programa de intercâmbio com uma família brasileira. Ao sair da porta da alfândega verá uma tremenda “festa” e ao se aproximar cumprimentando a todos com a sua tradicional reverência, será abraçado, beijado, puxado apertado por um monte de pessoas que ele nem sabe quem são. Que pensamentos passarão por sua cabeça neste momento? Geert Hofstede, psicólogo holandês e grande estudioso dos relacionamentos humanos, teve sua curiosidade aguçada quando trabalhava na IBM, década de 1970, e percebeu que por mais que se definissem procedimentos e normas idênticas para a gestão de todas as unidades IBM ao redor do mundo, estas continuavam a ser geridas de maneira muito diferente. Ao analisar os motivos que ocasionavam esta situação concluiu que a diferença, na realidade, estava vinculada à cultura dos empregados e à cultura do país. Hofstede descreve a cultura como a programação coletiva que distingue os membros de um grupo humano de outro e que, quando em contato com diferente grupo, influencia e é simultaneamente influenciada. Neste período de Copa do Mundo, quando teremos representantes das mais diversas nações, com línguas, hábitos, religiões e organizações políticas diferentes, isto ficará extremamente fácil de observar. Porém, o que define a cultura de um povo? Ainda segundo Hofstede, se analisarmos o ser humano por meio de três aspectos principais podemos ter uma pequena ideia de como isso ocorre. Usando uma pirâmide (por que será que os cientistas gostam tanto de pirâmides?) para a representação do ser humano, ele defende que na base, onde todos somos iguais, está a natureza humana (considerada universal e herdada). Ou seja, qualquer relação sexual entre um homem e uma mulher, não importa a procedência deles, será geradora de outro ser humano. O próximo estágio é a cultura (considerada grupal e aprendida), onde cada um de nós aprende com seus grupos (pais, parentes, professores, religiosos) o que é certo e o que é errado, em função das circunstâncias, meio ambiente, carência etc. Isso irá se tornar nossas verdades, em uma forma bem simples. A terceira etapa desta pirâmide, para concluir o perfil deste ser humano, é a personalidade (única, herdada, aprendida e circunstancial).

Paulo Couto

Consultor Dorsey Rocha & Associados

Voltando ao caso do jovem oriental, depois de um ano será interessante observá-lo ao retonar ao seu país. Chega achando graça e criticando tudo que vê de diferente. O grande problema é que normalmente julgamos que “se não é igual ao que aprendi, é errado”, antes mesmo de tentar entender o motivo das diferenças culturais. Estas, na maioria das vezes, são somente diferenças, nem melhores, nem piores e se deselvolvem a partir das circunstâncias que os seres humanos enfrentaram em determinada localidade. Este jovem com o passar do tempo começa a copiar nossos hábitos, a falar nosso idioma, a beijar e abraçar com naturalidade; conversa com todos, e não somente com as pessoas de sua idade, e acha tudo isso muito normal. E a diversidade cultural, neste caso terá mais uma situação interessante: ao retornar ao seu país manterá uma parte da cultura adquirida por aqui, e certamente todas as diferenças a partir daí serão analisadas com a intenção de entender sua origem, e não de causar conflitos. Suas “verdades” serão ampliadas. Sempre que estivermos abertos a entender as atitudes diferentes, sejam elas oriundas de culturas internacionais ou nacionais, estaremos dando um passo importante na prevenção de conflitos. Que tal olharmos a Copa com interesse além do futebol e apreciarmos a real possibilidade de seleções de diferentes culturas convivendo harmoniozamente no mesmo campo?

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Indica

Quem indicou: Rodolpho Rocha / Sócio-Fundador da Dorsey Rocha & Associados Por que indicou: o autor, considerado um pioneiro na abordagem criativa sobre o universo das corporações, nos apresenta as diferentes visões da organização, desde os seus precursores (Taylor, Fayol...) até as contribuições da filosofia das ciências sociais, da psicologia, da psicanálise, da cibernética, e outras. Para cada dimensão analisada, aborda suas vantagens e limitações colocando à disposição ampla bibliografia utilizada. Enfim, o livro “imagens” é uma obra para ser lida, guardada e consultada muitas vezes - tantas quanto se fizerem necessárias. Sinopse: Tem um ponto de vista claro: que a metáfora é crucial para a maneira como lemos, entendemos e damos forma à vida organizacional. Constitui um tratado sobre o pensamento metafórico que contribui tanto para a teoria quanto para a prática da administração.


ENQUETE! As pessoas interagem profissionalmente por diferentes razões. Qual é a sua razão? O que faz com que aumente a sua vontade de ir para o trabalho? 1-

Saber que lá está construindo a base de sua realização profissional.

2-

Interagir com diferentes pessoas e criar um bom grupo de convivência.

3-

Contribuir para a solução de problemas complexos.

4-

Ter uma vida saudável e cuidar melhor de suas necessidades pessoais.

5-

Sentir-se bem e construir relações significativas.

RESPONDA AQUI

AVALIAÇÃO DA PESQUISA ANTERIOR - EDIÇÃO MAIO (período maio/junho) Conhecer a própria natureza nos ajuda a controlá-la. Se você respondeu: (1) Manda quem pode e obedece quem tem juízo. (38%) Tende a acreditar que sempre um ganha e o outro perde. Por se apoiar na importância do poder e força nos relacionamentos, pode provocar distanciamento nas relações. (2) Mais vale um pássaro na mão do que dois voando. (17%) Parece crer que cada parte deve ceder um pouco. Isto leva a uma solução apenas razoável. Falta maior confiança para avançar em direção a acordos efetivos. (3) Seja como o sândalo que perfuma o machado que o fere. (1%) Possivelmente prefere conservar uma amizade a enfrentar e tratar um conflito. Embora seja um ganho no curto prazo, pode tornar o relacionamento mais frágil com o tempo. (4) Mais vale uma boa briga que um mau acordo. (39%) É provável que acredite em soluções que venham a satisfazer a todos. Busca entender as razões do outro e a apresentar as suas percepções. Um bom caminho para a construção de relações consistentes. (5) Em boca fechada não entra mosca. (10%) Talvez você acredite que em um conflito é melhor esperar passar. Como pouco se avança no entendimento entre as pessoas, maiores são as chances de que todos percam.


O MIRANTE É UM PROJETO DORSEY ROCHA & ASSOCIADOS

Conselho Editorial: Rodolpho Rocha Marta Castilho Ádrice Fernanda Marketing: Janaíra França Conecte-se conosco: WWW.DORSEYROCHA.COM


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