O Amigo do Samba I

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Maio / Junho 2011 - Edição nº 01 - ano 1

O Amigo do Samba

Editorial Ser um amigo do samba significa louvar, preservar, cultivar e valorizar o nosso ritmo mais tradicional. Significa amar e respeitar um ritmo que é muito mais que isso. É muito mais que um estilo musical, é uma maneira de se viver. Ser um amigo do samba, hoje, é lutar pelo que é nosso, buscando fazer com que esta essência não se dissipe, jamais se perca. Nesta primeira edição de “O Amigo do Samba”, publicação bimestral do Movimento Cultural @migosdosamba.com, pretendemos nos valer deste importante instrumento de divulgação e conscientização que é um jornal para atingirmos de maneira ainda mais enfática e ampla nosso objetivo: elevar ao mais alto patamar o nosso SAMBA. Podemos ver, hoje, grandes manifestações de amor ao samba. Em São Paulo, Mauá, Campinas, Santos, Porto Alegre, Florianópolis, Belo Horizonte, Uberlândia, Rio de Janeiro e outras cidades, a chama - que jamais se apagará - ganha cada vez mais contorno de fogaréu. E como é bom ver, ouvir e sentir isso. Diariamente, podemos crer na força do samba. Diariamente podemos ver sambistas bem-intencionados caminhando juntos nesta árdua batalha. E são, realmente, grandes batalhadores. Eis que o samba ganha mais um importante espaço. É maio de 2011, mês dos trabalhadores. É hora de seguir a luta. Caminhando com altivez para cumprirmos nossa meta de ver o samba lá em cima. Estamos conseguindo.

As Crianças do Morro Em 2001, a partir de uma roda de samba nasce uma esperança...A esperança de que meninos e meninas “pedintes”, trabalhadores e trabalhadoras de uma sociedade violenta, injusta, hipócrita, desigual e implacável, voltasse a ser apenas meninos e meninas. Que brincassem, estudassem e que, minimamente, tivessem seus direitos respeitados... Nossa Esperança recebe o nome de Crianças do Morro!! A esperança vem em forma de atividades lúdicas, de brincadeiras, alimento, respeito e atenção. Uma atenção que logo de inicio se transforma em carinho! Drika e as crianças E qual e quanto é o carinho de quem vê estes pequenos representando e cantando Cartola, Paulo da Portela e Candeia? Como se sentia o “povo do samba” ao assisti-los na interpretação da vida e dos Sambas de Breque de Geraldo Pereira? Empunhando o canto de Zé Keti? Lembro-me como hoje o dia em que Tio Hélio se emocionou ao vê-los cantando em sua homenagem, e pergunto-me: Quem dos presentes não se emocionou? Saindo dos anos passados e chegando aos dois últimos, 2009 e 2010, vivemos nossa esperança em forma de muito trabalho. A montagem e apresentação de PERIFERIA, Peça que retrata as violências nas comunidades, o descaso político e social, a falta de Políticas Publicas e a visão dos jovens que não estão alheios a todos estes problemas, nos deu um grande ânimo e a sensação de dever cumprido! As apresentações trouxeram em seu repertório Aloísio Machado, Padeirinho, os já citados Paulo da Portela, Zé Keti e Candeia. Trouxe também a poesia de Serginho Poeta, Pablo Neruda e outros. O Maracatu do Nação Zumbi também se juntou ao espetáculo em forma de declamação. Realizamos apresentações no Ponto de Cultura – Projeto Gente; Projeto Nosso Samba; Ação Educativa – Amigos do Samba.com; Samba do Beco; Samba da Feira, Sarau do B; dentre outros locais. Durante estes 10 anos as alegrias seguiram, e com elas vieram as tristezas... perdas de pessoas importantes, de crianças e adolescentes para o tráfico, o banditismo e a gravidez precoce! Perdemos também para o desinteresse e para a falta de compreensão de adultos. No entanto, nenhuma das perdas fora mais importante do que os ganhos que tivemos! As crianças viraram adolescentes, e os adolescentes, jovens! Jovens comprometidos com a ética social e cultural. Alguns não mais participam do Crianças do Morro, mas não os perdemos! Estão trabalhando e estudando, seguindo suas vidas! Salve Luiz Gustavo, nosso sempre Menino Gu. Salve Walliston e Géssika, salve todos os outros que estão num caminho de busca pelo melhor! Aos que ainda fazem parte, e não são poucos, estamos numa luta linda e incansável para a continuidade do Trabalho. Faço questão de citar os nomes dos incansáveis: Ivan, Davi, Pablo, Edilson, Evelyn, Yasmim, Maria Alice, Marcio, Jefferson, Welington, Elton, Gabriel, Andreia, e todos os que neste momento me fogem o nome, mas não o semblante, não o amor.. O Crianças do Morro persistirá com seu trabalho de inserção, reinserção; cultural, sambístico e social enquanto houver amor; e enquanto houver amor, haverá samba; e”enquanto houver samba a alegria continua”!!! Por Drika Souza


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Samba na Pedra Branca “-Ary porque não armamos um samba lá em casa?” Foi a partir desta frase despretensiosa, dita por mim em algum samba qualquer, que começou a germinar o Samba na Pedra Branca. A ideia nunca foi a de organizar um megaevento, tampouco uma festa que gerasse lucro. Para tanto, pediríamos aos freqüentadores que trouxessem o que fossem beber (o que, afortunadamente, quase sempre consiste em uma caixa de cerveja). Alguns ainda trazem cachaças e outros destilados. Tudo é colocado junto, num canto em que quem quiser, é só pegar. E assim

foi por três edições. Da segunda edição para cá, a matriarca da casa, que atende por “Dona Ana”, preocupada com o bem-estar desses “nêgo beberrão” se dispôs a preparar deliciosos caldos. Para dar aquela rebatida. Outro pedido feito aos frequentadores, é para que tragam seus respectivos instrumentos. E assim se forma a roda. Conforme vão chegando, a batucada vai engrossando. O clima é de descontração e confraternização. Se um sambista sai da roda, já tem um pronto para substituí-lo.Não é a toa que quando o samba

esquenta, demora a acabar. Na última edição, a casa no longínquo bairro da Pedra Branca abrigou mais de 150 pessoas. Algumas presenças especiais abrilhantaram um pouco mais a noite. Foi o caso de Dona Inah, que mesmo sem a ajuda de um microfone, cantou na roda, no gogó mesmo, e encantou os presentes. Hamiltão também disparou altas pedradas no seu melhor estilo “João Nogueira”. Outro nome que merece destaque nesta terceira edição é o do Tuco, que atendeu prontamente ao convite feito pelo Ary de lançar o belo disco “Tuco & Ba-

talhão de Sambistas” no SPB. É importante dizer que o Samba na Pedra Branca não sairia se não fosse o empenho do Fel, do Ary, da Cris e do Washington (o chefe), na organização. E também da supracitada “Dona Ana” no comando dos comes. De certa forma, há que se agradecer a todos que comparecem. Nada seria possível sem a colaboração de todos. O samba é feito do povo, e para o povo. O Samba na Pedra Branca não é diferente. Trata-se uma roda feita por, e para pessoas que amam o samba. Por Murilo Mendes

As fases do trabalho no contexto histórico

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primeiro registro histórico que temos do trabalho se deu com a Era Glacial, pois antes desse período nosso antepassado mais primitivo tinha tudo ao seu alcance. Morava nas copas das árvores e ali mesmo colhia os frutos que lhe serviam de alimento.Viu-se obrigado a virar nômade, a defender-se dos predadores e a caçar, tarefa esta que tinha de ser diária, pois não havia como prever se daria certo ou não. Como podemos ver, manterse vivo exigia muito esforço. Houve um tempo em que o homem vivia em comunidade, dividindo tudo o que produzia e, por esse motivo, não havia divisão ou luta de classes. Quando o primeiro homem percebeu que acu-

Por Francisca Pereira da Silva

mulando bens podia subjulgar o outro, começou a elaborar mecanismos de dominação através de ideologias. Assim, em toda a história da humanidade, uma imensa massa de miseráveis se viu dominada por uma pequena classe de privilegiados. Estes têm os meios de produção, e os demais, a força de trabalho. Uma coisa inexiste sem a outra. No Brasil, ao pensarmos nesse tema, não há como não fazer o recorte racial. Isso porque, em sua formação, a mão de obra escrava foi a base da economia. E, com a abolição, não houve a preocupação de fazer ajustes a fim de integrar dignamente essas pessoas na sociedade. Antes disso foram marginalizadas, fato esse que repercutiu nas

gerações posteriores causando enorme desigualdade social. Ainda fazendo o recorte, a mulher - em especial a negra, é quem mais trabalha dentro desse processo por conta da dupla jornada. Há um consenso equivocado de que o brasileiro trabalha pouco, tendo a malandragem como sua principal característica. Essa idéia não procede, pois o Brasil está entre os países com maior carga horária do mundo. Essa ideologia foi elaborada para justificar nosso atraso social. Toda nação desenvolvida superou seu atraso através da educação, conosco não será diferente, portanto é preciso investir recursos públicos e tempo em tal questão. A implantação da redução da jornada de trabalho sem

a redução de salário vem atender ao menos um desses propósitos, que é o tempo, além de abrir novos postos de trabalho. Esse feito já aconteceu na década de 80, onde a jornada de 48 horas semanais foi reduzida para as atuais 44 horas. Ainda é preciso lutar para reduzi-la a 40 horas. Esse debate está muito atrasado no Brasil, haja vista que ele aconteceu inicialmente na Europa, no período pós guerra. Independente de qualquer coisa, é fundamental que o trabalhador se conscientize de seus direitos e se organize, pois só assim é possível avançar.


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TUCO E SEU BATALHÃO Nesta entrevista para o jornal O Amigo do Samba, o sambista Tuco conta um pouco da sua trajetória, o amor pelo “samba de terreiro” e o lançamento do cd “Peso é Peso” Como nasceu a ideia do CD Peso é Peso e como se deu a formação de repertório? Primeiramente, nasceu a ideia de formar um conjunto onde eu passasse a ser o intérprete dos sambas e, daí, consequentemente, registrar um trabalho com sambas antigos de compositores poucos conhecidos - Peso é Peso. Sempre gostei muito dessa vertente do samba “de Terreiro” e consegui organizar, junto com o Alfredo Castro, o Batalhão de Sambistas, nome que foi dado ao grupo formado especificamente para me acompanhar, sendo uma espécie de regional, mas com mais instrumentos de percussão. O Repertório foi se formando ao longo de alguns meses, após a escolha definitiva do grupo, e com apoio dos amigos de samba, como Fernando Paiva, Janderson, Lo Ré e Alfredão. Procurei trazer diversos sambas inéditos que aprendi com Cristina Buarque, Monarco e Nelson Sargento, além de partituras que haviam sido transcritas em livros, como o samba e a marcha de Paulo da Portela «Não se Deve Contar Glória» e «Aí Vem a Primavera». Como seria difícil imprimir a minha ideia em 25 faixas, acabei me adaptando a 18. Gostaríamos de ter registrado muito mais coisas... Fica pra próxima. Como, quando e onde começou a cantar? Na época, quem foi ou foram seus mestres e incentivadores? Talvez tenha começado pela necessidade de cantar as músicas que eu aprendia e queria ver nas rodas de samba. Mas foi ao longo de alguns anos que pude perceber que tinha uma facilidade pra cantar. O amadurecimento posso dizer que foi a partir do ano 2000. Toda minha inspiração se resume ao disco da Velha Guarda da Portela «Passado De Glória», àqueles sambistas e compositores: Manacéa, Mijinha, Alberto Lonato, Caetano, Paulo da Portela, Ventura... O último tinha uma voz muito marcante, foi a minha referência maior. Depois vieram outros, como Monarco e até mesmo Francisco Alves, que ja é de uma outra geração, mais antiga mas que, de toda forma, sempre me marcou muito também. Isso porque meu avô sempre cantava as músicas que Chico Alves gravou. Há algum tempo, a Folha de S.Paulo publicou uma frase sua que causou certa polêmica. Você gostaria de esclarecer o episódio para nós, que não vamos tirar sua declaração do contexto? Olha, não há muito o que comentar daquilo... Ele inverteu as opiniões em favor de uma polêmica, mas, na verdade, não acrescentará em nada ficarmos esmiuçando essa questão... Prefiro nem comentar.

Na atual situação da indústria fonográfica e do rádio nacional, com predominância de música internacional ou descaracterizada, você acha possível que o samba volte a ter o grande apelo comercial de outrora? E isso é importante? Penso que não... Acho difícil conter essa concepção atual da indústria fonográfica. Mas o samba pode sim conquistar mais espaços e ser mais valorizado. Não sei dizer se ele teve alguma vez «apelo comercial». Acredito que na Rádio Nacional, lá no Rio de Janeiro, hoje em dia deve-se ter aqueles momentos em que se ouve a nossa música de qualidade, numa proporção pequena mas pelo menos se ouve. Veja só... Liguei pro Monarco um dia e ele me disse: «Ô Tuco, há alguns dias ouvi as músicas do Paulo da Portela que voce gravou e também aquela que cantamos juntos», e ainda acrescentou, brincando: «Estou ficando famoso». Então é isso, nem adianta sonhar com um cenário diferente, o importante é continuar fazendo coisas boas, porque pode ser que uma hora ou outra alguém se interesse em divulgar mais essas coisas boas, que às vezes estão escondidas por ai.


O Amigo do Samba Entre os grandes intérpretes da antiga, da era de ouro do rádio, qual a sua principal referência e com quem gostaria de ter tido a honra de interpretar uma brasa? Sim, posteriormente ao conjunto da Velha Guarda da Portela aquelas vozes me encantaram. Eu tive a honra de cantar ao lado do Monarco, que é o maior intérprete de samba de terreiro que está entre nós. Mas claro, gostaria muito de ter conhecido Paulo da Portela, que também foi um eximio intérprete de samba, e Cartola. Mas sou feliz também por ter cantado com Roberto Silva, que foi daquela época. Como você vê a nova safra de compositores de samba? Olha... Eu conheço poucas pessoas que fazem samba hoje em dia, mas tenho gostado bastante das coisas que estou vendo. Comecei a frequentar lugares diferentes de um tempo pra cá e conheci gente muito boa. Até eu mesmo estou me arriscando a fazer algumas coisas, é importante fazer coisas novas sim. É muito dificil contribuir para a nossa música da mesma forma que os compositores de outrora fizeram, pois eles viviam a Escola de Samba, viviam nos morros, nos bares, e era muito

04 natural. Hoje é preciso ainda ouvir muito dessas coisas que estão somente nos discos para tentar assimilar as formas diversas, e daí naturalmente vão surgir coisas boas e sólidas, claro. O importante é cada um saber o seu lugar no samba. Uns acabam dando certo compondo, outros não, e isso é normal. Veja só, por exemplo, o João da Gente da Portela, exímio versador, mas não compunha samba e era um sambista de verdade! Tuco, o que você está achando da nova experiência de ser intérprete? A adaptação foi, ou está sendo, difícil? E quanto tempo levou para você aceitar encarar o desafio? Estou gostando bastante. É muito gratificante ver o reconhecimento das pessoas, pois o artista, seja qual for sua categoria, gosta de mostrar o seu trabalho e de ser reconhecido. Foi um pouco difícil só a primeira vez. De lá pra cá, faz 2 anos, vem sendo prazeroso. Tenho um grande amigo que vejo como um professor no palco, o Roberto Seresteiro. Eu demorei um pouco a aceitar esse desafio pois tinha na verdade um pouco de receio do que seria. Mas depois, com o apoio da família e dos amigos, encarei e tá aí. Peso é Peso!!!!

Samba na feira

Por Paulinha Almeida

Era uma manhã de domingo ensolarado, precisamente dia 17 de agosto de 2007, e num encontro casual de amigos para tomar uma cerveja no boteco do Seu Osmar em meio à feira, localizado na Avenida Eulina, precisamente no bairro Vila Santa Maria, a conhecida rua da feira. Papo vai, papo vem, entre um gole e outro, iniciou uma cantoria de alguns sambas imortalizados de mestres como Cartola, Candeia, Noel, Ismael, entre outros, e quando menos esperavam a roda de samba estava armada, executando obras memoráveis, de grandes baluartes consagrados que marcaram época, o samba tava fervendo, e em pouco tempo as pessoas que foram para o local fazer a feira estavam paradas em torno da roda

de samba, com as verduras e frutas compradas deixada de lado e sem levá-las para casa. Nascia ali o Samba na Feira. Aos poucos, alguns se arriscavam a apresentar suas próprias composições e tudo que começou na brincadeira despretensiosa entre amigos virou o projeto que hoje é conhecido como Samba na Feira, uma reunião de sambistas que ocorre há 4 anos, religiosamente no terceiro domingo de todo mês. O encontro migrou então do boteco para a feira e para montar a tenda que abriga os sambistas e o público é preciso chegar ainda de madrugada, segundo conta um dos integrantes do projeto, André Cezar. “Para garantir um bom espaço chegamos junto com os feirantes, às 5h da manhã, diz.

A espontaneidade, fruto da relação de décadas entre os amigos sambistas, é característica marcante desta roda, que virou um ritual e hoje desponta como uma atração no bairro. Apesar de ter nascido com a proposta de difundir obras-primas de grandes baluartes do samba, já virou tradição durante os encontros o momento onde os freqüentadores têm a possibilidade de apresentar suas próprias obras dentro do contexto proposto. “É algo que reforça a identidade do Samba na Feira como movimento representativo do bairro, como voz da comunidade em formato de samba”, afirma Tito, integrante da feira. “A feira hoje é uma realidade, virou um ritual, uma celebração ao samba, é uma necessidade que se faz presente,

para quem freqüenta este ambiente de descontração, seja ela etílica ou não”, brin-

ca Ana Paula, assídua freqüentadora do Samba na Feira. Ela ressalta também o ambiente familiar, que permite atrair uma quantidade cada vez maior de gente, que se diverte com a música de qualidade. “Todos que ali estão sentem o samba em sua verdadeira plenitude e trata-se de um encontro com propósito de sempre agregar e levantar a bandeira do samba”, afirma Sergio (Peixe) integrante e amante deste projeto, é assim que se denomina. E convida a todos a conhecer, cantarolar, sambar e se deliciar no samba na feira.


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Samba na Ilha

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ui convidado para participar desta edição histórica do jornal O Amigo do Samba. Fiquei feliz, comovido, emocionado, perdido, catatônico e lisonjeado com a lembrança. Mas vamos ao que interessa. Lembro de quando eu comecei a estudar samba. Meu maior sonho era conhecer os ídolos. Coisa de fã. Sentar com Paulinho da Viola, tirar uma foto com Monarco, etc. Percebi que isso nunca ia acontecer. Pela internet, a gente começa a ter contato com pessoas de outros lugares. Acho que o blog do nosso editor, O Couro do Cabrito, era um dos que eu mais acessava. Deixava um comentário aqui, outro ali, no blog do nosso colaborador, Vermute com Amendoim, em outros, até que encontrei o blog do Terreiro Grande e vi que ia ter uma roda deles. Me deu a louca de comprar uma passagem de ônibus e ir ver. Deixei um comentário e fui. Pronto. Tudo aquilo que eu via pelo Youtube, todas as pessoas, inclusive de outras rodas como Terreiro de Mauá, Terra Brasileira e Glória ao Samba estavam lá. Eram os meus ídolos e nem sabiam. O problema é que não deu tempo de ter o sentimento de fã. Eu fui estupida e grosseiramente bem recebido por todos. Aquela minha vontade de sentar com um, tirar foto com outro, foi saciada de uma forma abismal. Me tornei amigo desse povo todo. Daqui de Florianópolis, vejo que surge uma nova sociedade. São mais de 100 pessoas, com visões, ideais, vontades, desejos muito próximos. Ver todos os grupos, todos os movimentos, todas as comunidades juntas é um prazer inenarrável. É como

se fosse o ressurgimento do samba. Ismael e a turma do Estácio, Paulo e a turma da Portela, Cartola e a turma da Mangueira, Molequinho e a turma da Serrinha, Antenor e a turma do Salgueiro, e agora a turma de São Paulo. E quando essa turma se junta, junta também o espírito daquele tempo, de amor ao samba, de vontade de fazer acontecer e, principalmente, de companheirismo e amizade. Uma verdadeira sociedade sem esteriotipação de capitalista, comunista, socialista, anarquista, ou qualquer outro ‘ista’ que exista. Apenas uma sociedade querendo um mundo melhor, à sua maneira, onde todos sabem seu lugar e sua função. Nessa linha de samba de terreiro, a turma de São Paulo conseguiu evitar um hiato de gerações, informações, mantendo contato com Tio Hélio dos Santos, Xangô da Mangueira, Monarco. Pessoas que vem desde aquela época que tanto gostamos, admiramos e respeitamos, e ensinaram muito para essa nova geração de sambistas, não só na terra da garoa, mas também no Rio, em Uberlândia, em Porto Alegre, mostrando que essa sociedade transcende o tempo e o espaço. À toda essa turma, o meu respeito. Hoje eu fico feliz em poder colocar, de certa forma, Florianópolis no mapa desta sociedade. Axé! Felicidades, um forte abraço e um grande beijo. Por Artur de Bem

Minhas andanças pelas rodas de samba mês de abril e maio

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ERRA BRASILEIRA, SAMBA DO OLARIA, PROJETO SAMBA DE TERREIRO DE MAUÁ, NÚCLEO DE SAMBA JEQUITIBÁ, GLÓRIA AO SAMBA, PROJETO NOSSO SAMBA DE OSASCO, SAMBA NA FEIRA, SAMBA NO BECO. Uma matemática exata = Gente Animada + Cerveja Gelada + Recepção de Primeira + Alto Astral + Ambiente Descontraído + Roda de Samba da Pesada = SUCESSO TOTAL. Logo que chegamos nestas Rodas, já podemos nos sentir em casa. Cada uma com o seu temperinho especial, que vai nos envolvendo. E já ficamos na expectativa esperando a próxima Roda. Vou falar dos meses de Abril e Maio, mas não posso deixar de mencionar a Homenagem ao Centenário do CHICO SANTANA, realizada pelo Gloria ao Samba no mês de Março. Nesta homenagem tivemos a presença da Neide Santana (filha do Chico Santana), da Tia Surica e

do Biografo João Baptista Vargens. Nem preciso dizer da magnitude que foi esta homenagem, né! Divina!!! Esta Homenagem ao Chico Santana aconteceu no clube de várzea Anhanguera. Onde acontece toda última sexta do mês o Projeto Anhanguera Dá Samba. Na primeira sexta de maio tivemos uma Roda pra ficar na história. Que foi o lançamento do CD PESO É PESO do Tuco e Batalhão de Sambistas (aliás comprem o CD que está muito bom). E como convidado para este lançamento e para participar da Roda que foi MAR AVILHOSA, que foi coisa dos Deuses. Tivemos o Mestre MONARCO... Vixi Maria!!! E segura coração, pois dia 10/06 acontecerá no Anhanguera a Homenagem ao TRIO DE OURO com Tuco e Batalhão de Sambistas, Adriana Moreira e Roberto Seresteiro. Falando no Anhanguera Dá Samba. Que é um lugar espetacular e que vicia. Lá podemos contar com o ótimo


O Amigo do Samba Samba dos Inimigos do Batente e com o carisma, humildade e simpatia do organizador deste projeto Arthur Tirone (o Favela) que é muito querido por todos. Todo mês ele leva um(a) grande convidado(a). Neste mês de maio o Anhanguera Dá Samba completou 4 anos, mas quem ganhou presente fomos nós. Pois teve como convidado o Grande Sambista Wilson das Neves...Ô SORTE!!! Muito bom o Show!!!...Aqui vai os nossos Parabéns pelo Show, pelo aniversário do Projeto Anhanguera Dá Samba, para o Arthur Tirone (Favela) e para os Inimigos do Batente. Obrigado Favela, por nos trazer estes Sambistas. A Ação Educativa toda primeira sexta de cada mês, em parceria com @migos do samba.com leva uma Roda de Samba. No mês de abril tivemos como convidada a Roda de Samba PEGADA DE GORILA e no mês de maio Barão do Pandeiro homenageando o centenário de NELSON CAVAQUINHO. E teve a participação das cantoras Daisy Cordeiro, Sueli Vargas e Jurema Pessanha. Ação Educativa um espaço contagiante e gratificante. Como diz nosso amigo Careca a Ação é uma vitrine de Samba. Quem ainda não foi conhecer está perdendo. Nesta sexta dia 03/06 a Roda convidada será o FAVELA PESADA...Rua General Jardim,660 – Das 19:00h às 22:00h. Samba dos Aniversariantes: Que é um Samba do Mês dos Integrantes dos @migos do samba.com. No mês de abril tivemos o Buraco do Sapo fazendo a festa e no mês de maio o Ricardinho do Olaria e convidados. Foi muito bacana as duas apresentações. A organização é da Wal e do Dinho (@ migos do samba.com). Show do Paulinho da Viola no Sesc Pompéia. Um dos meus sonhos realizado. Um verdadeiro mestre e bem respeitado. Que classe e elegância no palco!!! Humildade, Simplicidade Pura. Encantou a todos com o seu repertório refinado. Salve Paulinho da Viola. Show da Divina Adriana Moreira...Opa 2 Shows e Homenagens pra lá de Excelentes: Uma Homenagem a Clara Nunes e outra Homenagem ao Batatinha da Bahia. Maravilhoso os dois Shows! Galeria Olido: Apresentação do Regional Imperial. Os meninos são fortíssimos e excelentes no Choro. Se apresentaram nas quartas do mês de maio e cada quarta tiveram um convidado. Para encerrar a última quarta, contaram com o grande Seresteiro Roberto Mahn. Falando em Choro, fomos conhecer Conjunto em Retratos que se apresenta todo primeiro domingo do mês no Centro Cultural do Jabaquara às 11:00h da manhã. Muito bons também e estavam fazendo homenagem ao Pixinguinha. Saindo de lá fomos para o Samba da Laje comer a deliciosa feijoada da D. Nerosa e rever a família Silva organizadores do projeto Samba da Laje. Grande família receptiva, carismática e simpática. O Samba da Laje acontece todo último domingo

06 do mês e tem o belo trabalho de arrecadar 1 kg de alimento não perecível para Comunidade. Excepcionalmente maio também teve no primeiro domingo. Eu e alguns integrantes dos @migos do samba.com, fomos conhecer o Ministério do Samba no bar Ofélia. Apresentam um repertório muito bom e dão conta do pronunciamento. Marquinhos Jaca: Ah Querido Jaca!!! Fez o lançamento do seu CD numa Roda de Partido Alto Pesado. Mas Pesado mesmo! Contou com grandes feras pra formar a Roda: Careca, Ronaldinho, Luciano Jesus, Marcelo Monserrat e o próprio Jaca....(comprem o CD do JACA, está muito bom). Todo repertório é de sua autoria e parceiros. Roda de Samba Kolombolo. Acontece no último domingo do mês na Vila Madalena. Fui neste último domingo de maio pela primeira vez. Gostei muito. É realizado num espaço aberto. Tipo uma praça. Denominada Praça do Samba. O repertório deles é Samba Paulista e é vendido feijoada preparada pelas Tias Baianas, representantes de diversas Escolas de Samba de São Paulo. Pastoras afinadíssimas. Vou citar aqui uma Roda de Samba que ainda não fui. Mas o Vicente foi e relatou o seguinte: A Roda de Samba chama-se ESCUTA O CHEIRO e está localizada em Campinas. Ele ficou admirado pela organização. Fica uma pessoa na porta entregando as comandas e tirando dúvidas sobre o projeto. Lá dentro, o “Batuque na Cozinha”. É comandado pelas mulheres, que a cada mês levam uma convidada para fazer sua especialidade. Domingo dia 17/04 foi uma senhora de Alagoas, que fez mugunzá, arroz com bacalhau e cuscuz. Porções diversas também eram servidas. Brahmas e Skol geladérrimas eram servidas rapidamente devido ao não manuseio de $$ e sim comandas. O samba acontece numa casa antiga, com quintal enorme cheio de árvores, chão batido, embaixo de uma Mangueira. Huauuuu deu vontade de conhecer....E aí vamos marcar todos e irmos pra lá... Opa! Ainda não acabou não. Ainda teve as Maravilhosas Rodas de Samba esporádicas. De clima excelente, harmonia, alegria e primazia no samba. Cito o aniversário da Drikkinha do Projeto Crianças do Morro no bar do Maurão, Samba do Caldo e aniversário do Osmar (dos @migos do samba. com), Samba da Pedra e aniversário do Ary (dos @migos do samba.com / rádio alambique), que foi na casa do Murilo Mendes. E o samba da Segunda-Feira de Carnaval, que também aconteceu no bar do Maurão, o Fala Claudionor no Bar do China e o Níver do Piruca no Terreirão do Jaçanã (casa do Pedro Romão), Chá de BebeR do Jorgera....Eita lê lê...Tudo muito bommmmmmmmmmmm. Bom estas foram as Rodas de Samba e Shows que freqüentei nos meses de Abril e Maio. Ô Glória!!! É isso aí gente! É disso que eu to falando!!! Quem perde uma Roda de Samba, perde muita coisa boa. Por Cris - @amigosdosamba.com


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Biografia de Germano Mathias Sambexplícito As vidas desvairadas de Germano Mathias, é um registro impecável deste grande sambista paulista. O livro passeia pelas principais histórias e faz um bom apanhado da carreira e dos discos lançados por ele. O grande mérito da obra está na ousadia da escrita do autor Caio Silveira Ramos. Confesso que, em um primeiro momento, soa um pouco estranha, mas depois a gente vai entrando no ritmo da coisa e aí a leitura flui que é uma beleza. Parece até que quem vai narrando a história é o

dramaturgo Plínio Marcos. Bem ao estilo daquele disco, Plínio Marcos em Prosa e Samba – Sambando Nas Quebradas do Mundaréu. Não se trata apenas de um documento que lista os fatos, datas e números mais significativos de Germano. É uma biografia, mas, pela maneira com que é contada, podia muito bem ser uma história de ficção. É claro que nada disso daria certo se o biografado não fosse quem é. O livro é daqueles que diverte na primeira leitura e embasbaca nas seguintes. Como não podia deixar de ser, uma biografia diferente para o sambista diferente. Ao terminar a leitura do livro, é difícil acreditar que Germano Mathias, depois de todo o legado que deixou para a cultura popular brasileira, viva num pequeno apartamento da CNH, ali na Vila Brasilândia. Por Murilo Mendes Livro: Sambexplícito: as vidas desvairadas de Germano Mathias Autor: Caio Silveira Ramos Editora: A Girafa Editora Ano: 2008 Preço: de R$45,00 a R$ 52,00

Nelson Cavaquinho: 1973 Em 1973, prestes a completar 62 anos, Nelson Cavaquinho lançava pela Odeon seu terceiro LP solo. Registro obrigatório na estante de quem gosta do bom samba. Não porque mescla grandes sucessos com músicas menos conhecidas. Nem porque Nelson aparece tocando o instrumento que lhe empresta o nome num belo choro. É obrigatório porque possui uma gravação impecável, que evidencia as belas melodias, o violão gaguejando como só ele era (e acho que até hoje foi o único) capaz de fazer, e a voz rouca que o caracterizava. Aliás, é como ele mesmo diz na contracapa da bolacha: “A minha voz você sabe, é rouca mesmo. Mas o... como é mesmo o nome daquele homem lá da América do Norte? Ah, o Armstrong ele também era rouco. Há pessoas que gostam mais da minha voz do que a de muitos cantores por aí. Não sei porque, acho que é porque eu sinto. Há cantores que mataram a minha música. Eu tenho sentimento quando eu canto.” Outro ponto alto do disco é a presença de Guilherme de Brito, parceiro mais constante e importante de Nelson. Guilher-

me participa cantando em um pequeno pout-porri os maiores sucessos da dupla. Ao contrário de Nelson, Guilherme é dono de uma voz grave e empostada, tipicamente seresteira, o que proporciona um belo e interessante contraste.

Por Murilo Mendes

Nelson Cavaquinho 1973 / 2003 Odeon / EMI


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Amigos do Samba: Uma família reunida! Por Vicente Ferreira

Lembro-me bem. Era verão de 2007 e comemorávamos 1 ano de existência. O samba estava em plena efervescência, as comunidades em plena expansão. Estávamos invadindo todas as comunidades, conhecendo, fazendo e colecionando @migos, e assim, juntando-nos à essas rodas de samba. Em comum, a vontade de fazer uma singela homenagem ao Mestre Cartola, pois não haveria tal na Mangueira, que homenageou o frevo. Em três meses alinhavamos com as comunidades, fazendo convites uma a uma, centralizando o Terra Brasileira como nosso núcleo. As comunidades visitadas e escolhidas foram: Samba de Terreiro de Mauá, Samba do Olaria, Terra Brasileira, Samba da Maria Cursi, Passado de Glória e Samba do Baú, que, apesar de aceitar o convite, foi convocada pelo Sesc a se apresentar no interior de São Paulo e não pode participar. Ainda assim, faltava outro ingrediente: a amizade e união das comunidades e de seus sambistas, que não se conheciam. Para isso, foi organizado um domingo inteiro em local neu-

tro, sendo escolhido o Bar do Laerte, o peixeiro Grã-fino, que à época estava radicado no Ipiranga. Um local ermo, porém com a mesma qualidade e alegria de sempre. Foi adquirida uma tenda com o dinheiro arrecadado em uma roda de samba que acabou dando muito trabalho, mas aí já é outra história. Cada comunidade veio trajada com suas camisetas, a roda formada ia crescendo, sambistas revezando-se entre uma cerveja gelada e peixe assado na brasa. Comoveu-nos a chegada, naquela tarde, do Samba de Terreiro de Mauá. Edinho e Kelly traziam, junto com a alegria que lhes é peculiar, a recém-nascida Olívia, que a todos encantava. Tivemos também vistantes ilustres chamados por um vizinho doente do pé, mas até estes se renderam ao clima hospitaleiro, à alegria contagiante. Deram meia-volta e retornaram ao quartel. No dia, tudo pronto, casa lotada, os sambistas em peso, a amizade já consagrada, a festa começou ao meio-dia e foi até às 21:00. Foi um domingo inesquecível.

EXPEDIENTE O Amigo do Samba é uma publicação bimestral do @migosdosamba.com

Editor-chefe: André Carvalho Conselho editorial: André Carvalho, Murilo Mendes, Ary Marcos Motta, Dinho Pinheiro e Jorge Luiz Garcia Reportagem: Drika Souza, Paulinha Almeida e Murilo Mendes Colunistas: Francisca Pereira da Silva, Cristina Pinto, Murilo Mendes e Vicente Ferreira Colaboração: Artur de Bem Revisão: Iuri Ribeiro Diagramação: Jorge Luiz Garcia Fale conosco: oamigodosamba@gmail.com


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