O Significado Simbólico da Flora e Fauna na Pintura de Josefa de Óbidos e Baltazar Gomes Figueira

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Seminário O Valor Universal de Óbidos | 11 e 12 de Setembro 2009

Título do Projecto:

A Linguagem Simbólica da Natureza. A Flora e a Fauna na Pintura Seiscentista Portuguesa

Autora: Sónia Talhé Azambuja

Orientadores de Mestrado: Prof. Doutor Vítor Serrão (FL-UL) e Prof. Doutor José Carlos Costa (ISA-UTL)

Palavras-chave: Pintura; Simbolismo, século XVII, Flora; Fauna.

A Dissertação de Mestrado intitulada A Linguagem Simbólica da Natureza. A Flora e a Fauna na Pintura Seiscentista Portuguesa tem por objectivo principal a interpretação do significado intrínseco da pintura portuguesa do século XVII a partir de uma seriação de cento e sessenta e seis peças que possibilitaram a interpretação da simbólica da flora e da fauna nelas representadas e, mais em concreto, a identificação plena de cento e vinte e quatro espécies de flora e sessenta e quatro espécies de fauna. A tese consiste do estudo da produção pictural seiscentista portuguesa através da análise da obra de pintores como Baltazar Gomes Figueira (1604-1674), Josefa de Ayala e Cabrera (Josefa d’Óbidos, 16301684), Bento Coelho da Silveira (c. 1630-1708) e André Reinoso (c. 1590-1650), entre outros.

No nosso estudo comprovamos que as espécies mais representadas têm uma evidente conotação simbólica, como a rosa (Rosa sp. L.) símbolo de amor e da Virgem Maria e a açucena (Lilium candidum L.) símbolo de pureza e da Virgem Maria, que são as duas


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espécies de flora mais representada na pintura de século XVII em Portugal. Outras plantas frequentes são o cravo (Dianthus caryophyllus L.), denominado por “flor de Deus”, símbolo do amor e da Virgem Maria, a anémona (Anemone coronaria L.), símbolo de sofrimento e morte e da Paixão de Cristo, o jasmim (Jasminum officinale L.), símbolo de alegria e da Virgem Maria, a palma (Phoenix dactylifera L.), símbolo da Vitória, a erva-da-Trindade ou amor-perfeito (Viola tricolor L.), símbolo da Santíssima Trindade e das Cinco Chagas de Cristo, as ginjas (Prunus cerasus L.), símbolo do Sangue do Redentor e as uvas (Vitis vinifera L.), símbolo da Eucaristia e emblema de Cristo. Em relação aos animais temos o cordeiro [Ovis aries (Linnaeus, 1758)], símbolo da Paixão de Cristo, a pomba [Columba livia (Gmelin, 1789)], símbolo do Espírito Santo, o peixe símbolo ancestral de Cristo, o lúcio [Esox lucius (Linnaeus, 1758)] e o robalo-baila [Dicentrarchus punctatus (Bloch, 1792)] símbolos da Luz Divina, o pintassilgo [Carduelis carduelis (Linnaeus, 1758)] e o pintarroxo [Carduelis cannabina (Linnaeus, 1758)] emblemas cristológicos e o cão [Canis lupus familiaris (Linnaeus, 1758)], símbolo da fidelidade.

A interpretação do significado moral desta linguagem cifrada da natureza assenta na tradição que considera o mundo natural como reflexo de instância divina projectada no desígnio dos homens. A simbologia da natureza parece não resultar somente do significado que a cultura de cada época pretendeu atribuir-lhe, mas antes de um sentimento superior que se expressa, nas mais variadas dimensões, através dessa mesma natureza. A descodificação do simbolismo das plantas e dos animais na arte contribui para o entendimento profundo das obras de arte, na medida em que permite a interpretação do seu conteúdo ou o seu significado intrínseco, designadamente no campo da Iconologia enquanto sentido imagético e da História Natural enquanto testemunho privilegiado. O


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estudo das bases de dados organizadas pelo corpus em que esta dissertação se estrutura permite certificar que o papel interventivo de artistas como Baltazar e Josefa (ambos herdeiros de uma forte cultura naturalista sevilhana) face à natureza foi tudo menos inocente, pela extrema fidelidade que as suas pinturas revelam e pela exactidão desse mundo natural que, à luz dos valores contra-reformistas, surge tocado pela esfera do divino.

Baltazar Gomes Figueira e a filha Josefa d’Óbidos representaram essencialmente as plantas e os animais existentes na paisagem envolvente da Lagoa de Óbidos e seus arredores. São testemunho fundamental da História natural, para além do seu rico testemunho artístico. E no momento em que está em curso a candidatura de a Óbidos Paisagem Cultural da Humanidade, consideramos que a representação de espécies características da flora e fauna da região representadas na pintura há mais de trezentos anos pelos pintores obidenses Baltazar Gomes Figueira e sua filha Josefa d’Óbidos constitui um importante documento histórico, cultural e científico. Realçamos o olhar atento à natureza na obra de Baltazar e Josefa, cujo rigor do desenho por vezes se aproxima da ilustração científica.

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Referencia Bibliográfica: AZAMBUJA, Sónia Talhé – A Linguagem Simbólica da Natureza. A Flora e a Fauna na Pintura Seiscentista Portuguesa. Dissertação de Mestrado em Arte, Património e Restauro apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Lisboa: [s.n.], 2005 [texto policopiado].


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Publicação: AZAMBUJA, Sónia Talhé – A Linguagem Simbólica da Natureza. A Flora e a Fauna na Pintura Seiscentista Portuguesa. Lisboa: Nova Vega, 2009 (no prelo).

Nota Biográfica Sónia Talhé Azambuja (n. 1974) é Assistente Convidada de Arquitectura Paisagista, desde 2008, no Instituto Superior de Agronomia da Universidade Técnica de Lisboa (ISA-UTL), onde se licenciou, em 2000, em Arquitectura Paisagista. Em 2006, obteve o grau de Mestre em Arte, Património e Restauro pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (FL-UL), com a dissertação “A Linguagem Simbólica da Natureza. A Flora e Fauna na Pintura Seiscentista Portuguesa” orientada pelo Prof. Doutor Vítor Serrão e Prof. Doutor José Carlos Costa (ISAUTL). Actualmente desenvolve, na mesma Faculdade, o seu Doutoramento em História, na especialidade de Arte, Património e Teoria do Restauro (2006-2011), com o tema “O Naturalismo Simbólico: a Natureza e a Paisagem na Pintura Portuguesa dos Séculos XV e XVI”, sob orientação do Prof. Doutor Vítor Serrão (FL-UL) e da Prof. Doutora Teresa Andresen (Faculdade de Ciência da Universidade do Porto). Entre 2002-2007, foi Docente Convidada na licenciatura em Arquitectura Paisagista da Universidade do Algarve, onde coordenou as cadeiras de História da Arte dos Jardins e de Estética da Paisagem. Orientou diversos trabalhos e teses de final de curso de Arquitectura Paisagista. Tem sido consultora em projectos de investigação do Instituto de História da Arte da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Foi Assistente de Coordenação dos Projectos Europeus: Culture 2000 Program – Plants in European Masterpieces (2001-2003) e Raphael Program – Paradisos: New Life for Old Gardens (2000-2001), desenvolvidos no Jardim Botânico da Ajuda e no Instituto Superior de Agronomia da Universidade Técnica de Lisboa, em cooperação com vários centros de investigação e universidades europeias. Tem apresentado várias palestras e comunicações em congressos nacionais e internacionais, tendo publicado diversos artigos e capítulos de livros. Foi eleita em 2009 membro português do ICOMOS-IFLA International Scientific Committee on Cultural Landscapes.


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