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ARTIGO MODA
Desafios da Indústria da Moda
Somos uma indústria impactante, com muitos elos em diferentes tamanhos e estágios; temos muitos avanços sustentáveis e ao mesmo tempo muitos desafios a encarar.
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Muito tem-se falado de que a indústria da Moda é a segunda indústria mais poluente do mundo, uma falácia, que de tanto ser repetida virou uma verdade. O fato é que esse estudo nunca foi realizado para sabermos nosso real ranking, mas isso não apaga o fato de que somos uma indústria impactante, e o pior, é que por sermos uma indústria muito fragmentada, com muitos elos em diferentes tamanhos, estágios e consciência temos ao longo dessa cadeia muitos avanços sustentáveis e ao mesmo tempo muitos desafios a encarar.
Atualmente a produção anual de peças de vestuário gira em torno de 150 bilhões, das quais 24% são vendidas em liquidação e, devido à superprodução visando maiores lucros, 30% nem chega a ser comercializado terminando em aterros ou incineradores.
Porém, existe o lado positivo dessa indústria que, segundo dados da consultoria Gherzi e Euromonitor, responde por 3% do PIB mundial com faturamento de USD 2,4 trilhões, gerando 300 milhões de empregos ou seja 10% das pessoas empregadas no mundo.
No Brasil, o setor têxtil e de confecções gera aproximadamente 1,5 milhões de empregos diretos e 8 milhões de empregos indiretos, sendo responsável por 16,4% dos trabalhadores do país, sendo o 2º maior empregador industrial, respondendo por 5,5% do PIB nacional, sendo o 4º maior produtor de vestuário, com uma produção ao redor de 6 bilhões de peças ano e 5º maior produtor têxtil. (Dados: Iemi/relatório modefica)
Falando especificamente da indústria do Jeans, minha especialidade nos últimos 30 anos, uma indústria com mais de 150 anos, com muitos elos envolvidos, da agroindústria ao varejo, com um alto impacto ambiental, mas caminhando à passos largos rumo à uma indústria mais sustentável.
Vamos aos fatos:
O impacto médio na produção de um 1,2 m de Denim, o tecido necessário para a fabricação de uma calça Jeans, ainda segundo a consultoria Gherzi é de 3kw/hora mais 0,5 Kwk para lavar o jeans, o que corresponde a de 10 a 12h do consumo energético anual de uma pessoa, que segundo a ONU é em média 2.400 Kwh.
Em termos de consumo de água, na produção do Denim são consumidos aproximadamente 40l/kg, o que resulta em 20l/jeans e na lavanderia, o consumo em processos tradicionais é de em média 40l/calça, portanto em torno de 60l/calça jeans, sendo que comparativamente o consumo diário de água de uma pessoa é de 123l (ou 45m³/ano – fonte ONU).
Como o Jeans é um produto que não requer muita lavagem caseira, isso faz dele um produto bastante adequado e sustentável.
Agora, se analisarmos de forma mais ampla, considerando a pegada hídrica do produto desde a plantação do algodão até seu descarte, esses números ficam um pouco mais impactantes.
Maria José Orione, diretora acadêmica da Denim City
DIVULGAÇÃO VICUNHA
No mundo, o consumo de água necessário para um par de jeans é de 15.000l, pois a grande maioria dos países necessita irrigar artificialmente o algodão. Já no Brasil, 92% do algodão, segundo a Associaçao Brasileira dos Produtores de Algodao (Abrapa), é produzido em regime de sequeiro, ou seja, sem irrigação artificial, dependendo apenas da irrigação proveniente das chuvas, o que nos dá uma vantagem competitiva e sustentável, pois nosso consumo é de ¼ do consumo mundial.
Segundo um levantamento realizado pela Ecoera no movimento a Moda pela Água, a pegada hídrica de um jeans no Brasil é de 5.196 l/ calça, sendo 80% desse volume proveniente do plantio do algodão e o 2º maior volume é o das lavagens caseiras realizadas pelo consumidor até o final da vida útil do produto.
Um outro ponto polêmico neste assunto é justamente sobre o algodão, pois existe muita desinformação a esse respeito. A Abrapa desenvolve há mais de vinte anos um trabalho muito sério e responsável que culminou na fusão dos projetos ABR (Algodão Brasileiro responsável – Certificação Brasileira para unidades produtivas de algodão) e BCI (Better Cotton Iniciative - Certificação internacional da cadeia produtiva do algodão, presente em 23 países do mundo), fazendo do Brasil o maior produtor mundial de algodão sustentável do planeta.
PEGADA HÍDRICA ECOERA
Ainda assim, ao pensarmos nos conceitos de ESG (Environmental, social, and corporate governance) não podemos continuar a produzir e a gerir as empresas de moda como sempre fizemos. Estamos diante de uma situação premente e de um paradoxo imenso, pois as empresas estão sempre buscando crescimento de volumes e de receita. No entanto o planeta não suportará esse movimento de superprodução contínua. Será necessário portanto será necessário uma mudança de mentalidade da indústria e do consumidor, em busca de uma alternativa sustentável para o FAÇA, UTILIZE E DESCARTE, a busca de um novo sistema de produção que abandone o círculo vicioso do preço e encontre um círculo virtuoso de qualidade, durabilidade e valor em toda a cadeia de moda, com transparência e salários justos.
Possivelmente a resposta a médio longo prazo seja a Economia Circular: Fechando o ciclo: Reduzir, reutilizar, reparar, reciclar, utilizando os resíduos como matéria-prima para outro produto, aplicando o Design para durabilidade (eco-design) e evitando o uso abundante de recursos.
Porém, como ainda estamos muito distantes disso no Brasil, precisamos começar a conscientizar o consumidor e a indústria de que mesmo o objetivo estando distante é necessário dar os primeiros passos na direção correta, sendo hoje mais sustentável que ontem, fazendo os primeiros movimentos rumo à sustentabilidade, pois, parafraseando Robert M. Lilienfeld e William
L. Rathjeo, em seu livro ‘Use Less Stuff:
Environmental Solutions for who We
Really are’: "O melhor caminho para produzir qualquer impacto ambiental nao é reciclar mais, mas produzir e descartar menos".