October Doom Magazine Num 68

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LANÇAMENTOS + RESENHAS + SHOWS + MATÉRIAS + ENTREVISTAS

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ANOS

MAGAZINE ANO III

TREVISTA EN

Nº68

ESPECIAL

MOTHERSHIP

MATAKABRA

BRUTALLIAN

SATURNDUST

FUOCO FATUO

ESPECIAL: CENA MEXICANA


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EDITORIAL By October Doom Entertainemnt

68

A October Doom Magazine é resultado da parceria e cooperação de algumas pessoas e iniciativas, que trabalham em função de um Underground Brasileiro mais forte e completo, além de vários individuos anônimos que contribuem compartilhando e disseminando este trabalho.

/octoberdoomzine Editor Chefe: Morgan Gonçalves Diretor de Arte: Márcio Alvarenga (noisejazz@gmail.com) Chefe de Revisão: André Nespoli Tradutor: Elyson Gums COLABORADORES: Aaron Pickford: Correspondente Inglaterra Billy Goate: Correspondente EUA Edi Fortini: Fotografia e Redação Erick Cruxen: Redator (Labirinto) Fábio Mazzeu: Redator (Lively Water) Fabrício Campos: Redator Gustav Zombetero: Redator (Stoned Union Doomed Leandro Vianna: Redator (A Música Continua a Mesma) Matheus Jacques: Redator (SUD e The Melting Stone) Merlin Oliveira: Redator (Governator Insane e Duna, Brisa e Chama Nicollas Loos: Redação e Fotografia Rafael Sade: Redator (LastTime Produções) Raphael Arízio: Redator Roman Tamayo: Correspondente América Latina LINKS: octoberdoom.com

OctoberDoomOfficial

octoberdoom.bandcamp.com

PARCEIROS:

/FuneralWedding /DoomedStoned

/SUDORDER

/lododesign

/A-Música-Continua-a-Mesma

Uma vontade imensa!

A

October Doom Magazine é o resultado disso: Uma vontade imensa. Vontade de ver o doom metal se fortalecer ainda mais no cenário brasileiro, de ter mais shows e mais festivais acontecendo todos os finais de semana, faça chuva ou faça sol, de ter cada vez mais bandas gringas desembarcando nas nossas terras e de dar o devido respeito e reconhecimento aos músicos brasileiros. Mas isso não basta! Além de toda a vontade que há dentro de cada um de nós, da equipe ODM e dos produtores, bandas e gente do meio, é necessário algo mais. Estamos nos preparando para nos tornar a primeira revista dedicada do doom metal na América Latina em versão Impressa. Para isso, uma série de mudanças e ajustes vêm acontecendo nos últimos meses. Agora que quase tudo está encaminhado, convocamos nossos leitores mais fiéis para fazer parte desse movimento, e passarem a ser assinantes da nossa revista para nos ajudar a elevar ainda mais esse trabalho, para juntos alcançarmos patamares internacionais. Fiquem atentos que mais informações serão divulgadas em breve. Enquanto isso, aproveitem esta edição histórica com King Diamond, que se segue nas próximas páginas.

ESTAMOS NOS PREPARANDO PARA NOS TORNAR A PRIMEIRA REVISTA DEDICADA DO DOOM METAL NA AMÉRICA LATINA EM VERSÃO IMPRESSA.”

Obrigado e boa leitura

/The-Sludgelord

#FeelTheDoom MORGAN GONÇALVES CONTATO: contato@octoberdoom.com

Facebook.com/morgan.goncalves.1 EDITOR CHEFE


SUMÁRIO RESENHA

6 ENTREVISTA

O DEATHCORE PERNAMBUCANO

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ALBUM ‘BACKWATER’ DOS ITALIANOS TRAZ UM FUNERAL DOOM CONSISTENTE

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ESPECIAL

CENA MEXICANA DE MÚSICA ARRASTADA

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RESENHAS

A VIAGEM AOS ANOS 70 DA BANDA AMERICANA EM SEU NOVO TRABALHO

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ENTREVISTA

ARTE E MÚSICA DE RODRIGO BUENO

ENTREVISTA + RESENHA METAL NORDESTINO EM ALTA

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RESENHA

RESENHA DE ANGRY VOICES, DO AFFRONT

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ENTREVISTA UMA GRANDE REVELAÇÃO

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TREVISTA EN

ESPECIAL

ENTREVISTA + RESENHA

A VIAGEM ENIGMÁTICA DO NOVO ALBUM DO SATURNDUST

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ENTREVISTA

POR

Raphael Arízio

raphael@blacklegionprod.com

M COM TRÊS ANOS DE ESTRADA, O MATAKABRA JÁ ESPALHA SUA IRA EM FORMA DE MÚSICA PELAS TERRAS QUENTES DO NORDESTE BRASILEIRO 6

atakabra é mais uma nova banda que vem se destacando em nosso underground. Com apenas o EP intitulado Prole lançado, esses pernambucanos vêm surpreendendo o público headbanger com sua mistura de metalcore e grandes doses de death metal. Vamos saber do vocalista Rodrigo Costa e do baixista Rafael Coutinho como foi a recente tour de promoção do novo trabalho e como andam os preparativos para próximos lançamentos.


October Doom Magazine: Vocês recentemente terminaram a turnê do Prole que passou por algumas cidades nordestinas. Como foi a repercussão perante o público e como a banda recebeu essa resposta? Rafael Coutinho: A resposta

tem sido positiva e imediata em cada cidade que passamos. Na primeira música a gente já sente reação do público. Nossa proposta bate muito bem com a galera que gosta de fazer roda e bater cabeça incansavelmente. Muitos dos bangers curtem isso, principalmente a geração nova. Toda essa energia da galera é o reflexo do que fazemos em palco. Apesar de o nosso estilo ser pesado e brutal, somos simples e preza-

mos pelo respeito entre as bandas e o próprio público, e isso nos fez ganhar um respeito, também, a mais da galera de cada cidade que passamos. Fizemos boas amizades e bons contatos. Com certeza plantamos muito bem as sementes nessa tour do Nordeste.

Passados a tour e o lançamento do EP, quais as lições que vocês tiraram desse ciclo? Estão satisfeitos com o resultado alcançado? Rafael Coutinho: A filosofia do

“faça você mesmo” é uma das coisas mais importantes que procuramos pôr em prática. Uma ideia romantizada para praticamente todo músico que lança um trabalho autoral, ODM | A octoberdoom.com

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ENTREVISTA

CADA VEZ MAIS A GENTE TEM MESCLADO VERTENTES QUE GOSTAMOS COMO DEATH, BLACK E O DJENT QUE É UM ESTILO NOVO, SEM PERDER A ESSÊNCIA DO PESO QUE COSTUMAMOS PASSAR.” RODRIGO COSTA - MATAKABRA

apostando que ele foi bem feito, é que as oportunidades vão surgir espontaneamente. Nós decidimos não esperar. Foi uma decisão vista como bastante assertiva quando decidimos ir em busca de produtores e bandas para firmar os eventos da Prole Maldita. Foi necessário dar o primeiro passo em direção a cada cidade, mesmo que as condições não chegassem em nenhum momento no ideal. Dormimos em estúdios, dirigimos em praticamente todas as viagens, mas o cansaço sempre era compensado com a recepção e a repercussão dos shows. Tocamos na maioria dos estados do Nordeste, fizemos amizade com muitas bandas que estão se esforçando de maneira muito semelhante e o resultado desse primeiro passo é a certeza que a prole está crescendo.

Durante os shows, o Matakabra tocou algumas músicas novas.

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Qual a intenção de tocar esses sons antes de seu lançamento? Como o público respondeu a isso? Rodrigo Costa: Tocamos algumas músicas novas e a ideia é mostrar ao público o gostinho do que virá no futuro album. Cada vez mais a gente tem mesclado vertentes que gostamos como death, black e o djent que é um estilo novo, sem perder a essência do peso que costumamos passar. Parando para pensar, todos os shows da banda foram de músicas novas. Antes do EP ser lançado, já possuíamos um repertório de cinco músicas autorais e apenas um cover. Então não podemos dizer que sabemos o que é fazer um evento no qual o público conheça todas as músicas (risos). É realmente marcante quando tocamos as músicas já lançadas e podemos ver a galera com a letra na ponta da língua. Porém, ver a reação do público ao ouvir uma música nova, com uma estética sonora

MATAKABRA PROLE (EP)

2016

que o EP não abarcou, vai além... É o momento do primeiro contato com uma música nossa que vai além da expectativa que eles tinham. O importante disso é poder mostrar de maneira completa onde a Matakabra quer chegar em suas músicas.

A maioria dos shows de vocês tem sido no Nordeste. Qual a principal dificuldade enfrentada para fazer shows fora da sua região?


FICHA ORIGEM

Pernambuco Brasil

GÊNERO Deathcore

FORMAÇÃO 2014

Rafael Coutinho: Deslocamento. Como dissemos acima, as condições das viagens por aqui foram negociadas. Porém, em nenhum momento chegamos a sair no vermelho ou dar um passo maior do que nossas pernas. O Brasil é um país grande, e o Nordeste em tamanho já equipara o deslocamento que seria feito entre três ou quatro países da Europa. Aqui não existe um circuito construído para bandas de metal moderno, e isso falando do Nordeste. Então a grande questão é: como podemos sair daqui de maneira que os custos básicos possam ser pagos? Como somos uma banda nova, ainda conquistando nosso espaço, sempre vai existir a incerteza de quem produzir um show nosso como algo viável

ou não. Então, quando se trata de shows underground diferente de grandes festivais, a maior dificuldade é a locomoção. O país é extenso e geralmente shows underground não têm tanto apoio e verba como os festivais grandes para custear o transporte. Muitas vezes temos que negociar com o produtor do evento a melhor maneira para ambos lados.

Hoje em dia todos sabemos que o underground nordestino é muito forte e cada vez mais bandas tem feito tours por seu território. Qual a opinião da banda sobre o cenário da sua região? Quais as bandas que se destacam em sua opinião? Rafael Coutinho: Existem vários

festivais fortes aqui no NE: Abril Pro Rock (PE), Forcaos (CE), Palco do Rock (BA), DoSol (RN). Neles, ao longo de sua história, o metal conseguiu o seu lugar e força. Isso fortalece a região como um todo. Em relação a uma ideia de cenário, bandas que têm um apelo mais tradicional nas vertentes do metal conseguem uma boa rotatividade, isso principalmente para as que vêm de fora. No nosso caso específico e com uma cena que dialogamos mais, existe agora um momento de construção. Mesmo com um pé muito firme, para quem conhece todo o nosso repertório, no metal tradicional é evidente a influência que temos de bandas de metal moderno. Pertencemos por identificação do público a uma cena do metalcore. Nas conversas que tivemos ao longo da tour, é perceptível o crescimento que essa cena específica tem conseguido. Porém, algo ainda muito mais simbólico, em comparação com a estrutura de outros cenários. Rodrigo Costa: A cena de metal em geral na região Nordeste realmente é forte, e o que faz isso ser assim é o fato de o público ser fiel. A maneira que o headbanger curte um show é diferente de qualquer outro estilo. Realmente ele veste sua camisa preta e vai curtir o show pra valer. Essa é a vibe. E no Nordeste tem banda pra caramba, antigas e novas que atualmente vêm trabalhando bastante, se unindo cada vez mais e fazendo com que esse mo- ODM | A

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ENTREVISTA

TEMOS INFLUÊNCIAS DE BANDAS COMO DYING FETUS, MESHUGGAH, CARNIFEX E THY ART IS MURDER.” RODRIGO COSTA - MATAKABRA

vimento não pare, por isso que, para mim, quanto mais bandas, melhor. E eu não poderia deixar de citar nossos amigos da Cangaço, Desalma, Hate Embrace, Discórdia, Necrohunter, Saga HC, Scream, Hodus, Psych Acid, In No Sense, Cronimos, Heavenless, Exille Alef e muito mais. Se eu fosse citar todas que eu conheço da região, iria cobrir uma página inteira (risos). São bandas que estão na correria e mostram um ótimo trabalho que deveria ser reconhecido no Brasil inteiro.

Nas músicas do EP podemos ver uma forte influência de death metal. Isso é algo que pode se tornar mais forte com o tempo? Quais são as influências da banda? Rodrigo Costa: Na verdade, essa influência vem rolando nas novas composições cada vez mais, (porque)

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é uma linha que casa muito bem com a Matakabra. Temos influências de bandas como Dying Fetus, Meshuggah, Carnifex e Thy Art Is Murder. A música “Cativeiro”, que lançamos no início de maio, já é um retrato disso. O Prole foi apenas um recorte das nossas músicas e estilo. Para quem, da mesma maneira que nós, gosta de metal extremo e simpatiza com o que surge de novo no estilo, o álbum vai ser um presente.

O Matakabra se mostra bem ativo nas redes sociais, sempre interagindo com seus fãs e os mantendo informados sobre suas novidades, além de forte divulgação de seus shows e bandas parceiras. Hoje em dia qual a importância da internet para a música na visão de vocês? O que ela pode trazer de bom e ruim? Rafael Coutinho: O que ela traz

de bom é a primeira coisa que vem à mente: ela dá um alcance extremamente horizontal para qualquer novo artista. Falando especificamente do Facebook, é extremamente simples criar uma estratégia de marketing, sem necessariamente depender de terceiros para projetá-la. O público da banda

está aí, disposto não só a ouvir e conhecer o seu trabalho, mas de fazer parte da construção de uma história. É muito bom perceber isso e receber o retorno em tempo real. O desafio é descobrir como encontrá-lo de maneira mais eficaz. Porém, o que pode ser visto como ruim é a existência de uma apatia ao vivo ou algo pior, o não apoio presencial. É mais fácil curtir um vídeo ou um post na frente da tela do PC ou celular, mas outra coisa é dar aquela força ao vivo. Antigamente, para ver um show, ou você contava com a sorte dele ser exibido na MTV, e até em um download quando a internet ajudava, ou você saia de casa para isso. É mais fácil olhar para as bandas que sou fã pela internet, e isso infelizmente cria um comportamento mais preguiçoso nesse aspecto.

Passado esse tempo de seu último lançamento e devido às novas músicas sendo tocadas ao vivo, vocês pretendem lançar novo material em breve? Dessa vez será um disco completo? Rafael Coutinho: Lançamos a

música “Cativeiro” recentemente, pois queríamos registrar nossa energia ao vivo e mostrar um trabalho novo. Po-


rém, ela não é o principal lançamento desse ano. Durante o processo de composição, duas músicas se aproximaram bastante na temática das letras e na estética do instrumental, sendo inclusive o que fizemos de mais experimental até agora. Vamos lançá-las já nesse segundo semestre, será nosso segundo EP. Infelizmente ainda não estamos com estrutura suficiente para a produção com disco que idealizamos. Ele vai ficar para o ano que vem.

Espaço para considerações finais e agradecimentos: Já acompanhávamos o trabalho feito pela October Doom, por isso é um prazer imenso dar essa entrevista agora para vocês. Estamos construindo nossa história em cada decisão de ir atrás do que queremos, porém é impossível negar que as bandas que criamos vínculos, os fãs e produtores, também são responsáveis pelo que está sendo feito. Tem novidade para sair em breve! OD | A

PROJETO GRÁFICO DESIGN noisejazz@gmail.com

LINKS https://www.facebook.com/matakabra/ https://matakabra.bandcamp.com/releases MATAKABRA TV Matakabra

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ENTREVISTA FELIPE DALAM

GUITARS/VOCALS/ SYNTHESIZER

SATURNDUST LANÇOU RLC E ESTÁ DE VIAGEM MARCADA PARA O PSYCHO LAS VEGAS POR

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Morgan Gonçalves

morgan.g@octoberdoom.com

om sete anos de estrada, o Saturndust é um prodígio na cena stoner/space/doom brasileira. Os caras já abriram para bandas como o Mars Red Sky, Stoned Jesus e Samsara Blues Experiment, e estão agora lançando seu segundo full-lenght. Além disso, estão com data marcada para levar o rock chapado das nossas terras rumo à gringa. Já tive até o prazer de vê-los tocando ao vivo e, após adiar por mais tempo do que gostaríamos, finalmente trazemos pra vocês uma entrevista com o vocalista e guitarrista Felipe Dalam. Se liga!


FICHA ORIGEM São Paulo Brasil

GÊNERO

Psychedelic Doom/Stoner

CURRENT MEMBERS

Felipe Dalam Guitarra, Vocal e Sintetizadores Guilherme Cabral Baixo Douglas Oliveira Bateria/FX

October Doom Magazine: Salve, Felipe, eu li que você já compunha, mas como foi que você, Guilherme e o Douglas se juntaram pra formar o Saturndust?

FORMAÇÃO

Felipe Dalasam: A saída do Frank deixou uma lacuna, e o Guilherme é amigo meu de uns anos já, apresentei muito material a ele e admiro o empenho que ele mostra. Posso chamá-lo de padawan, já que ele “representou” desde que assumiu o posto.

Sons of Water (2012)

Antes do homônimo, vocês lançaram o EP Sons of Water, em 2012, que apesar de já ter alguns dos seus riffs desconcertantes era, na verdade, uma pequena amostra do que o Saturndust poderia fazer. Como foi a concepção e o retorno dos canais de mídia?

2010

Na época, eu tinha 19 anos, a coisa mais foda que rolou foi o Mike Scheidt (YOB) e o Ben Ward (Orange Goblin) postando um som nosso nos perfis deles, e alguns shows que rolaram naquele tempo. Nada de mais.

No início de 2015, vocês lançaram o primeiro álbum completo, que acabou ganhando bastante visibilidade na cena internacional. Como foi perceber o crescimento do Saturndust nesse meio tempo? O nosso disco abriu muitas portas e sou orgulhoso demais disso até hoje. Jamais quis estar em um grupo só pra aparecer como vejo muita gente, usar um visu retrô, fazer fotos, clipes, ter "vida de rock", turnês ou coisas assim. Queria apenas criar, expressando-me de acordo com o que sinto, e gravar, o restante veio como consequência mágica que, com o passar do tempo, notei que fizeram por merecer em ex-

JAMAIS QUIS ESTAR EM UM GRUPO SÓ PRA APARECER COMO VEJO MUITA GENTE, USAR UM VISU RETRÔ, FAZER FOTOS, CLIPES, TER “VIDA DE ROCK.” FELIPE DALAM - SATURNDUST

periências magníficas para nós. Somos gratos a cada pessoa que comprou o álbum via internet, LP, CD ou qualquer material nosso. Ter um suporte assim me deixa realmente feliz.

Nos últimos anos, a banda participou de vários eventos abrindo para nomes gigantes da cena. Como essas experiências contribuíram para o Saturndust? Show é show. Jamais desmerecendo essas bandas, principalmente o Mars Red Sky que são amigos nossos e tocamos diversas vezes juntos, mas é como tocar com qualquer outra banda. Existem exemplares de música boa aqui que já tocamos juntos que foi tão honroso e algumas vezes de mais "aprendizado".

Ainda sobre o disco de estreia, ele foi lançado nos EUA pela Helmet Lady Records, algo ainda raro entre bandas brasileiras. Como isso aconteceu e quais marcas esse lançamento deixou na história do Saturndust? Ter um álbum lançado em LP é muito foda. Álbuns são como a verdadeira linha do tempo da sua expressão artística, cada um marca um período de tempo da sua vida. ODM | A octoberdoom.com

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ENTREVISTA

FELIPE DALAM

GUITARS/VOCALS/ SYNTHESIZER

Há uma relação de parceria bem bacana entre o trio e a produtora Abraxas. Como rolou esse link entre vocês? São amigos nossos, eu vejo assim. Deram um suporte tremendo nos últimos tempos, somos agradecidos.

A cena stoner tem crescido bastante no Brasil. Como vocês veem esse movimento, principalmente no sentido da música torta no país? Não nos importamos com hypes de determinados gêneros. Gostamos sim da organização/união que já vêm há tempos crescendo mais e mais por meio de produtoras, amigos e as bandas.

O segundo disco, RLC, lançado em 17 de abril, soa mais pesado e cadenciado que o homônimo de es-

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treia. Como foi a concepção dele, isto é, quais influências externas vocês colocaram nas músicas? Poderia citar referências, mas não houve nada específico. Ando mais focado em ambientação e experimentalismo nas composições e pretendo explorar isso ainda mais nos próximos trabalhos, rumando independentemente disso à nossa real identidade como "artistas" de acordo com o que somos: meros humanos-escória do universo. “Negative-Parallel Dimensional” abre demostrando as amplitudes da existência e da própria obra, indo do lento ao inexistente contemplativo, à velocidade que o caos pode chegar em meio à adoração do desconhecido (que pra mim é a resposta à origem de tudo), processo natural que forma toda a complexidade de tempo e espaço. “Astral Dominion” e “Saturn 12.c”

NÃO NOS IMPORTAMOS COM HYPES DE DETERMINADOS GÊNEROS. GOSTAMOS SIM DA ORGANIZAÇÃO/ UNIÃO QUE JÁ VÊM HÁ TEMPOS CRESCENDO.” FELIPE DALAM - SATURNDUST

foram escritas durante um mesmo período, e ambas têm o sentimento de finalmente mostrar um possível encontro ao equilíbrio e soluções a questionamentos: não existe mais “um”, existe o “todo”. “Time Lapse of Existence” é a insignificância e as origens que nos moldam até a dissipação. Somos uma parte complementar. Interpretações simples pessoais de cada ouvinte também formam o caráter do álbum. Gosto de saber o que as pessoas acham, pois cada tema


SATURNDUST - Foto por Diogo Vasconcellos

SATURNDUST SATURNDUST

2015

representa um agrupado de sentimentos. O álbum não foi planejado, as composições começaram assim que o nosso primeiro disco foi lançado e já estávamos tocando 4/5 das músicas no final de 2015, antes do Gui e do Douglas entrarem. O corpo da música “RLC” já estava pronto desde 2013, por exemplo. Elas ganharam alguns aprimoramentos em 2016 e o processo de gravação foi finalmente iniciado.

em forma primal significa “Red Light Chamber” e há outros significados importantes para a sigla que prefiro não revelar. O desconhecido atrai o que busca o conflito gerando a transmutação. São gerados universos mentais, dimensionais ou meras folhas caindo sobre o chão com o vento. A faixa-título é o lugar que o álbum se encontra e, mesmo que ela não siga muitos padrões, ela é o caminho.

O disco é cheio de mensagens, códigos, siglas. A faixa “RLC”, por exemplo, não encontrei nada que fizesse referência a isso na letra da música. Afinal, o que significa RLC? E o Código Morse (aqui se preferir não digo que é Morse), como se aplica a tudo isso?

O ano não chegou nem na metade e muita coisa já aconteceu para a banda. Grandes eventos, lançamento do segundo disco e ainda tem muita coisa pra rolar. Como anda a agenda e os planos da banda para o resto do ano? Vimos que vocês vão tocar no gigantesco Psycho Las Vegas 2017. Como está essa expectativa?

Uma contextualização óbvia do trabalho nunca foi o intuito. “RLC”

LINKS https://www.facebook.com/saturndustofficial/ https://saturndust.bandcamp.com/ TIME LAPSE OF EXISTENCE (LIVE) Saturndust

Altíssima. Eu sou o tipo de cara que ficaria quieto até estar presente lá, só aí anunciaria. Mas não tem como não ficar emocionado com algo assim. Iremos finalmente viver algo que não parece uma simulação e sim o real.

Este espaço é cedido à banda para mensagens aos fãs do Saturndust. Fique à vontade. Muito obrigado à ODM e a todos que tem dado suporte a nós. Novidades de merch e mídias físicas em breve. E já estou compondo para um novo material que já tem um possível nome. Abraços. octoberdoom.com

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RESENHAS

UMA LINGUAGEM UNIVERSAL O PSYCHO STONER DO SATURNDUST É UMA MENSAGEM CAPTADA E ENTENDIDA PELO MUNDO POR

Nicollas Loos

contato@octoberdoom.com

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iretamente de São Paulo, um dos grupos mais prolíficos do meio experimental nacional, o Saturndust está de volta com o novo RLC, lançado este ano após um intervalo de quase dois desde o último disco, Saturndust, de 2015. Produzido em parceria com a produtora Abraxas, uma das líderes nacionais no que diz respeito ao rock experimental e psicodélico, o álbum por si só já nasceu um sucesso absoluto. Marcando talvez o auge da experimentação sonora, RLC representa uma verdadeira viagem cósmica. Com seis músicas, que mesclam o doom, o stoner e o metal experimental, o trio encabeçado pelo guitarrista, vocalista e responsável pelo sintetizador, Felipe Dalam, arrasta o ouvinte a uma outra dimensão. Com um baixo pesadíssi-

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mo, Guilherme Cabral faz com que você sinta a vibração das cordas e o baterista Douglas Oliveira não perdoa os pratos para transmitir a emoção da percussão. Destaques para as faixas “Astral Dominion” e “Time Lapse of Existence” que, com seus sintetizadores marcantes, levam o ouvinte a sentir a energia das distantes galáxias pulsando ao seu redor. Outra canção interessante e que merece a sua atenção é “Saturn 12.c” que poderia facilmente ser a trilha sonora de qualquer seriado sci-fi ou filme de exploração espacial. Com certeza este lançamento vai fazer a sua cabeça e te fazer abrir os olhos para a cena nacional, que ganha cada vez mais espaço no exterior. Discão, que vale cada segundo de viagem! ODM | A

SATURNDUST RLC

2017

BRASIL 1 - Negative-Parallel Dimensional 9’24’’ A 2 - Astral Dominion 8’49’’ A 3 - RLC 12’13’’ A 4 - Titan 3’43’’ A 5 - Time Lapse Of Existence 11’26’’ A 6 - Saturn 12.c 12’30’’


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TREVISTA N E

ESPECIAL

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O

REI DIAMANTE RETORNA AO BRASIL COM SEU PIOR PESADELO

APÓS RECUPERAR SUA SAÚDE, KING DIAMOND RETORNA AO BRASIL TOCANDO NA ÍNTEGRA O CLÁSSICO ÁLBUM ABIGAIL, CONSIDERADO UM DOS MELHORES DISCOS CONCEITUAIS DA HISTÓRIA DO HEAVY METAL POR

Edi Fortini

edi.fortini@gmail.com /EdiFortini

A

Raphael Arízio

raphael@blacklegionprod.com

Fabiano Cruz e Dimitri Brandi Colaboradores

pós anos difíceis que incluíram uma complicação seríssima de saúde, se podemos assegurar algo a respeito do dinamarquês Kim Bendix Petersen é que ele ainda tem muita história para contar. Seja com o glorioso Mercyful Fate ou com a teatral carreira solo com o King Diamond, Kim nos deixa um legado riquíssimo, quer você goste de sua música ou não. ODM | A octoberdoom.com

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TREVISTA EN

ESPECIAL

E

ncabeçando o Liberation Festival que acontecerá em São Paulo no mês de junho, Diamond ressurge de forma gloriosa trazendo um cenário fantástico para recontar a história de Abigail. Para celebrar esse retorno, batemos um papo com o vocalista e você lê agora tudo o que ele nos disse. Além disso, também temos mais algumas matérias especiais sobre Abigail e sua influência em outros estilos do som pesado. Nada mais justo do que dedicarmos essas matérias especiais e a capa desta edição à volta do grande Rei. Vida longa ao Rei Diamante! Vamos lá!

October Doom Magazine: Você influenciou tantas gerações com sua música, letras, religião e estética obscura. Como você vê tamanha influência hoje? Há algo que você ainda quer conquistar para sua carreira? King Diamond: Sim, totalmente.

Mesmo na música há certas coisas que não fizemos ainda. King Diamond é o grande quadro e nós temos feito isso por tantos anos, mas ainda não o terminamos. Ainda há coisas para se trabalhar na música e algumas delas acontecerão no nosso próximo álbum de estúdio porque há muito o que se fazer ainda e há muita coisa acontecendo. Agora estamos trabalhando num Blu-ray/DVD que terá dois

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AINDA HÁ COISAS PARA SE TRABALHAR NA MÚSICA E ALGUMAS DELAS ACONTECERÃO NO NOSSO PRÓXIMO ÁLBUM.” KING DIAMOND

shows completos: um show de 2015 da turnê de Abigail nos EUA e um outro a céu aberto em 2016 na Europa. Será o mesmo show que vocês verão. Nós já terminamos o DVD e ele sairá ainda neste ano. E, depois que o lançarmos, começaremos a trabalhar num novo álbum de estúdio. Mudamos algumas coisas que para nós foi ótimo: tenho meu próprio estúdio em casa e isso para mim quer dizer muito. Posso ir lá quando estou inspirado, não preciso reservar um estúdio. Posso entrar

lá às quatro da manhã, posso compor partes da guitarra quando quero. É uma grande diferença ter seu próprio estúdio e poder trabalhar quando você se sente melhor. E esperamos muito disso, estamos tentando voltar ao estilo dos discos antigos, com o mesmo timbre de voz. Conversamos com o Roberto Falcao, que foi o engenheiro de som em álbuns como Conspiracy e também The Eye, para usar todas as configurações que ele usou e então tentaremos dar o mesmo tratamento aos vocais. São projetos muitos interessantes para o futuro. Vamos tocar em apenas três, até esse momento, apenas três shows de aniversário de Abigail. São Paulo, México e Las Vegas terão os três shows de aniversário e no restante do tempo estaremos trabalhando no estúdio.

Nós seremos muito sortudos em ter esse show por aqui. Isso é ótimo!


King Diamond: Sim, é. É algo ótimo, porque podemos trabalhar no nosso estúdio, é fácil por não ter que reservar com antecedência num outro local. Então podemos viajar e fazer shows, enviando toda a produção por navio, porque não podemos viajar junto, pois o custo seria elevado, você sabe. Mas o navio saiu de Copenhagen (na Dinamarca) no dia 13 de março, então iremos para o México primeiro onde tocaremos no início de maio e depois a produção irá também de navio direto para São Paulo para o show em 25 de junho. Por último, voltará para Houston, Estados Unidos, onde entrará num caminhão para Las Vegas, para a apresentação de 19 de agosto. Esses serão os shows e nesse meio tempo estaremos em estúdio. Normalmente não temos o costume de fazer apresentações quando estamos gravando. Mas agora poderemos, porque usamos o estúdio a qualquer momento. Já que falamos em Abigail, como o cenário das apresentações foi planejado? Como foi desenvolver o conceito? King Diamond: Foi desenvolvi-

do por muitos anos. Estávamos tocando cada vez mais músicas do Abigail, tocamos com o Slayer no Mayhem Festival em 2015, e começamos a tocar mais músicas do álbum e de repente veio: "Ei, deveríamos tocar o álbum completo". Digo, foi um sentimento ótimo que tivemos e agora que o tocamos na íntegra nós temos o sentimento de 1987 (ano de seu lançamento) dentro de nós. É muito singular e especial, e trabalhei muito em todos os elementos do show. Às vezes junto com o engenheiro de palco e com o Andy, às vezes sozinho. Eu mesmo comprei muitas das coisas que você verá no palco. Os gárgulas que comprei, foi quando encontrei um conjunto especial. Não como um direito e um esquerdo, são dois gárgulas separados que são moldados em par. Há outras coisas que desenvolvi, como as cruzes, há alguns espelhos góticos nos quais os fãs verão a plateia e se verão

neles. Parecerá para algumas pessoas que, quando vemos a plateia, algumas pessoas estarão em pé olhando para trás. Há muitos detalhes, pequenas coisas, como os cinco corvos negros. As bonecas que representam Abigail, são peças especiais que encontramos na China e elas parecem muito reais, reais demais. Há o caixão da Abigail, há muitas peças no palco e os backdrops, que teremos seis. Há um grande backdrop atrás de nós e mais dois ao lado. Usaremos conjuntos diferentes durante o show e eles mudarão algumas vezes. Há muito o que se ver ali, como quase que um teatro junto com a música. Quase.

Será um momento muito especial para você, para os fãs principalmente e para a banda. King Diamond: Com certeza

será. Vocês nunca se esquecerão, posso garantir, eu sei o quão especial será. Se eu ouvir uma das gravações do show, saberei dizer exatamente onde estava no palco, pois é tudo muito preciso, muito planejado. Quero dizer, se ouvir uma parte da música, direi: "Oh, ali eu fico na escada ao lado esquerdo enquanto estou descendo porque preciso estar num lugar exato antes do solo de guitarra começar". Não é como "Oh, levanto e canto a parte do meio de “Come to the Sabbath””, por exemplo. Eu canto no alto, bem no meio do segundo andar. Sei onde preciso estar, então tenho que ter uma boa forma para subir e descer as escadas, sabe. Tudo é muito planejado e levou muito tempo para se aperfeiçoar, mas está perfeito agora!

Você disse que é quase um teatro. A próxima pergunta era sobre isso: você já pensou em transformar algum álbum numa peça de teatro, ópera ou filme? E qual seria? King Diamond: Algumas das

FICHA ORIGEM Dinamarca

GÊNERO

Death/Doom Metal

CURRENT MEMBERS

Andy LaRocque Guitars, Keyboards King Diamond Vocals, Keyboards Mike Wead Guitars Matt Thompson Drums Livia Zita Vocals (additional) Pontus Egberg Bass

FORMAÇÃO 1985

DISCOGRAFIA Abigail (1987) "Them" (1988) Conspiracy (1989) The Eye (1990) The Spider's Lullabye (1995) The Graveyard (1996) Voodoo (1998) House of God (2000) Abigail II: The Revenge (2002) The Puppet Master (2003) Give Me Your Soul... Please (2007)

Fatal Portrait (1986)

nossas histórias ficariam ótimas num filme, sabe, mas nunca apareceu ninguém de uma produtora profissional para isso. Tive propostas de pessoas que quiseram fazer um filme B ou C de ODM | A octoberdoom.com

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TREVISTA EN

ESPECIAL

uma das minhas histórias e eu recusei, não vai acontecer. Ou será um filme de grande produção, ou não faremos. É isso. Mas pode acontecer, sabe, podemos até escrever algumas das histórias num livro, como um romance. Veremos o que o futuro nos trará. Talvez se tivermos um livro será mais fácil de ter um filme baseado nele e então teremos que decidir quando lançar, pois há muitos projetos acontecendo.

Certamente seria ótimo! Gostaria de saber sobre literatura. Do que você gosta e pesquisa para o seu trabalho. O que te influencia? King Diamond: Faz um milhão

de anos que não leio um livro, na verdade. Meu autor preferido sempre foi o James Herbert, um escritor inglês de horror. Claro, Stephen King é também um excelente autor. Há alguns outros escritores que adoro, como John Saul, mas certamente James Herbert é meu favorito. Mas não tenho lido tantos livros há uns 10 ou 15 anos. Minha experiência vem do que tenho vivenciado. Eu caminho bastante, muito mais do que você imagina, e a inspiração vem da minha própria vida, de coisas que vejo e ouço. Você pode andar por aí e ver o que as pessoas fazem, abraçar uma árvore ou outras pessoas e você pode construir sua própria vida e filosofia e isso pode me trazer uma história também. É de um misto dessas coisas que as histórias do King Diamond surgem. Muitas dela eu vivenciei. Por exemplo, o lobo na história de “House of God” é chamado Angel. Eu tive um lobo chamado Angel, era um cãozinho que tive com um ano de idade. Muitas dessas coisas são reais e eu as uso nas histórias.

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Bem, você está retornando ao Brasil após 17 anos e sabemos que talvez as últimas vezes não devem ter sido tão boas. Mas quais as boas lembranças que você tem do país? King Diamond: Não acho que

tive maus momentos por aí. Acho que foram bons. Tivemos alguns shows ótimos, mas não conseguimos levar toda a produção, sabe. Não foi como agora que poderemos levar toda a nossa produção conosco. Mas me lembro de estar sentado na praia de Copacabana bebendo meu leite de coco (NT: ele quis dizer água de coco) cortado com um facão por um cara. Nunca me esqueço dessas coisas. A comida daí, fomos levados a um restaurante em que servem aquelas carnes em lanças (NT: churrascaria). Disse à minha esposa que será maravilhoso ir ao Brasil de novo porque traremos ótimas novas lembranças. Boas lembranças, sabe. Teremos ótimas lembranças, os fãs no Brasil são incríveis! Muito incríveis, sabe. Será ótimo! Estamos muito ansiosos para tocar aí e vocês ficarão loucos com a produção!

Há alguns anos você teve sérias complicações de saúde e estamos muito orgulhosos de você e da forma como você saiu disso. Como foi o processo de retorno aos palcos? Como essa experiência impactou a vida de Kim Bendix Petersen? Você vivenciou algo de diferente que usará em trabalhos futuros? King Diamond: Sim. O próximo conceito, sem dizer muito sobre, será a respeito disso. Não posso dizer muito sobre os detalhes, tenho muitas ideias e será sobre um hospital. Não sobre mim ou o que houve comigo, mas tenho tido muitas experiências sobre passar períodos em hospitais e elas sairão com estilo de horror, naturalmente. Será uma das histórias que vocês ouvirão. Todo o processo de voltar ao lugar em que você pode se

KING DIAMOND GIVE ME YOUR SOUL... PLEASE

2007

GIVE ME YOUR SOUL... PLEASE King Diamond

tornar um ser humano foi muito longo. Foi uma grande cirurgia, mas eu não estava aqui, sabe, eu ressuscitei. Todo o meu peito foi aberto, claro, foi uma grande cirurgia cardiovascular. E depois de toda sua musculatura ser cortada, eles puseram tudo no lugar novamente. Eu mal conseguia levantar uma garrafa, um copo de café. Levou algum tempo, sabe, uns seis meses até eu conseguir ouvir música alta. Os primeiros meses foram sobre tentar sobreviver e me curar, mas depois de seis meses eu estava num show em Dallas. Meus amigos do Volbeat tocaram e fui vê-los junto com sua equipe. E foi como "uau", porque tenho um bastão no meu peito, podemos chamar assim. São na verdade três, que estão entrelaçados e mantêm a caixa torácica depois da cirurgia. Isso levou um tempo para se adaptar como um todo. Durante a passagem de som, o palco tremeu tanto que aquela coisa dentro do meu peito começou a tremer e tive que sair de lá, porque pensei que iria


TODO O PROCESSO DE VOLTAR AO LUGAR EM QUE VOCÊ PODE SE TORNAR UM SER HUMANO FOI MUITO LONGO.” KING DIAMOND

morrer. E depois de mais seis meses (um ano após a cirurgia), que foi em 20 de dezembro, o Metallica me convidou junto com mais três caras da banda para participar de seu show de aniversário em São Francisco. Fui lá sem saber exatamente como me sentiria com a questão da música alta, mas foi tranquilo. Foi ótimo pra mim, sabe. Dai tive que experimentar o que funcionaria para a voz. Parei de fumar depois da cirurgia, nunca mais fumei. Mudei completamente minha dieta. E caminho muito, como os médicos sugeriram, uns cinco dias por semana, por uns dois quilômetros. Isso é o que eles dizem que é bom para o coração e eu faço tudo o que recomendam para minha saúde. Atualmente sou mais cuidadoso em como me hidratar antes do show e cada vez bebo mais líquido. E quando o show começa, eu suo muito correndo pelo palco, subindo e descendo escadas, mas tenho dois momentos durante o espetáculo para sair e beber Gatorade. E isso ajuda muito. Não fico mais cansado após os shows. Quando tocamos há muito tempo atrás no Brasil, ficava muito cansado depois do show e era como "não fale comigo agora, preciso respirar" (NT: com voz rouca). Agora é bem diferente, me sinto muito melhor e ODM | A octoberdoom.com

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TREVISTA EN

ESPECIAL

posso conversar normalmente quando o show acaba. A respiração é diferente, a forma como respiro é melhor. Posso encher mais o pulmão e isso melhora muita coisa. A voz soa muito melhor agora do que em toda a minha carreira. Parei de fumar, faço coisas saudáveis, então quando você canta o tipo de voz que canto por muitos anos a sua voz começa a não soar mais tão bem. E muitos cantores pedem para a banda mudar o tom para poder acompanhar. Eles fazem isso porque é natural, é a natureza. Tive muita sorte, posso dizer. Sempre fumei e, agora que não fumo, limpei meus pulmões completamente, o que é ótimo. Algo positivo veio do negativo.

Os discos Abigail, Fatal Portrait e Conspiracy foram muito importantes para sua carreira solo. Como hoje você vê essa importância e quais outros álbuns você destacaria? King Diamond: Você tem razão,

esses foram álbuns muito importantes e há muitos outros, certamente. Abigail tem um lugar especial porque foi o primeiro com a temática de horror. Claro, outras bandas fizeram álbuns conceituais antes de nós, mas não fizeram álbuns de horror. E o conceito de horror veio à tona com Abigail. Também temos um conceito de música bem singular ali, assim como minha voz, era algo muito novo na época e por isso teve um grande impacto. As pessoas ouviam e pensavam "O que é isso?". O Them e o Conspiracy foram bem impactantes para a época, mas tivemos outros álbuns, como The Graveyard e The Eye, que têm ótimas histórias, que poderiam certamente se transformar em filmes, como você dis-

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CLARO, OUTRAS BANDAS FIZERAM ÁLBUNS CONCEITUAIS ANTES DE NÓS, MAS NÃO FIZERAM ÁLBUNS DE HORROR.” KING DIAMOND

se antes, além de outros álbuns como The Puppet Master, que seria um filme incrível! Gostamos muito dos nossos trabalhos e sempre demos o nosso melhor, mas não é sempre que você atinge o clima certo, o timbre perfeito e acredito que o próximo álbum terá tudo isso e será muito especial, porque temos nosso estúdio, temos esse sentimento do Abigail dentro de nós, sabe, a história será completamente diferente, mas o equipamento de gravação será como o antigo, como nos anos 1990 ou 1980. A dinâmica será muito especial, tenho certeza disso.

Musicalmente falando, sua voz e suas letras são muito complexas. Como você se descreve como um escritor?

King Diamond: Escrevo de uma forma diferente de muitas pessoas, acho que por escrever em conceitos. Só há uma forma que funciona para escrever conceitos para mim que é ter a história primeiro e só depois desenvolver o clima e os sentimentos, e só depois de começar a contar a história é que consigo desenvolver a música, pois quando escrevo as músicas já sei como será a história. Por exemplo, para o próximo disco, a história será dividida em 11 capítulos, e, decidido isso, pensamos sobre qual será o sentimento do primeiro capítulo. Às vezes pensamos como, por exemplo, que a música nove tem o sentimento perfeito para a voz da música dois, então colocamos as duas juntas para se encaixar o melhor possível. Uma vez que isso é feito, partimos para o próximo passo, para encaixar a letra, a música e a voz. É um processo longo e, quando terminamos, temos que rever tudo diversas vezes para garantir que não haverá erro, e as pessoas poderiam vir e dizer "Ei, não há sentido em dizer que você tinha cinco anos e dirigia um carro",


OCTOBER DOOM ENTERTAINMENT & STONED UNION DOOMED

você precisa se certificar de que tudo o que está dizendo faz sentido e está correto, mas é uma satisfação imensa quando termina e tudo está bem.

Agradecemos muito suas palavras e esperamos muito pelo show. Gostaria de dizer algo a mais para os seus fãs? King Diamond: Gostaria de di-

zer que é ótimo voltar ao Brasil e da forma que voltaremos, com um show completo do King Diamond. Essa é a hora certa de ver o King Diamond e vocês serão alguns dos poucos que verão o show completo, pois serão somente três apresentações. Apenas esperem e vejam. Você nunca mais esquecerão esse momento, eu garanto isso! E stay heavy! É o mais importante! Stay heavy! ODM | A

LINKS https://www.facebook.com/ kingdiamondofficial/?ref=br_rs http://www.kingdiamondcoven.com/site/

COLETÂNEA DA OCTOBER DOOM MAGAZINE, EM PARCERIA COM A STONED UNION DOOMED BANDAS QUE LANÇARAM ÁLBUNS OU EP'S A PARTIR DE JULHO DE 2016

#FeelTheDoom

GIVE ME YOUR SOUL King Diamond

octoberdoom.com

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RESENHAS

A HISTORIA POR TRAS DE ABIGAIL

A HISTÓRIA POR TRÁS DE ABIGAIL: ” ABIGAIL É UM MARCO NA HISTÓRIA DO MÚSICO DINAMARQUÊS, FOI SEU PRIMEIRO DISCO INTEIRAMENTE CONCEITUAL E MOSTROU QUE KING SERIA UM MESTRE DO HORROR POR

Raphael Arízio

raphael@blacklegionprod.com

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ing Diamond não se destaca somente pelos seus dotes como vocalista ou pelo som de suas bandas. O vocalista dinamarquês é amplamente conhecido pelas letras de seus discos solos, geralmente contando histórias de terror que deixariam os melhores autores do gênero orgulhosos devido à grande qualidade de seus contos. Inclusive, King já disse em diversas entrevistas que gostaria de ver alguma de suas histórias ser contada nos cinemas. Esse ano ele volta ao nosso país com a sua obra máxima, Abigail, sendo tocada na íntegra. Em vez de uma simples resenha do disco, vamos saber mais um pouco sobre a história contada

nessa obra. Algo que deixaria autores como Edgar Allan Poe orgulhosos. O clássico álbum de 1987 marcou a carreira do vocalista para sempre. Um disco com uma história horripilante e que sem dúvida pode ter o título de maior conto de horror da história do heavy metal. O conto de horror começa com o conde LaFey sabendo da gravidez de sua esposa. Mas o conde, desconfiado que não seria o verdadeiro pai da criança e que sua esposa o havia traído, a joga da escada de sua mansão, matando inclusive o bebê ainda no ventre da sua mãe. A data era de 7 de julho de 1777. O mais estranho é que LaFey ao ver a esposa morta tem um estranho e mórbido desejo e arranca o bebê da barriga do cadáver de sua mulher. Ainda por cima mumifica o bebê, batizando-o de Abigail. Acompanhado de um ritual fúnebre, sete cavaleiros observam Abigail em seu caixão. O desejo de todos é destruí-la com um ritual. Ela deveria receber sete golpes de estacas. Uma em cada braço, pé, joelho e a última na boca para que ela não possa renascer. Isso segundo O’Brien, líder dos cavaleiros. Anos depois o casal Jonathan LaFey e sua esposa Miriam Natias se mudam para uma velha mansão que ele tinha herdado de seu avô, que é o


tal do conde LaFey. Antes mesmo de chegarem ao seu destino, os mesmos já são alertados por sete cavaleiros negros, que param a sua carruagem lhe dizendo para voltar, pois se ficarem algo muito ruim pode acontecer. Sem ouvir os conselhos, decidem ficar na velha casa. Ao chegarem, logo percebem um clima extremamente mórbido, assustador e bem pesado. Algo bem sinistro assombrava a mansão. Ao se deitar em sua primeira noite, Jonathan percebe algo diferente, uma sombra se movendo como se estivesse viva. Mas decidiu ignorar o fato e voltar a dormir. Mal ele sabia que era sua última noite tranquila na casa. Na noite seguinte, Jonathan recebe a visita do fantasma de seu falecido avô. Após ser guiado até a tumba de Abigail pelo conde, Jonathan recebe a terrível notícia que Miriam está possuída por Abigail. E ainda por cima teria que matar sua esposa antes que tudo estivesse perdido. Como ainda não entendia direito o que acontecia, o seu avô reaparece no dia seguinte e lhe conta toda a história da morte de sua esposa e Abigail. Após esse dia, coisas estranhas começam a acontecer perto da mansão. As flores do jardim morreram de uma hora para outra, os sinos da igreja começam a tocar, mas ela estava vazia, e o mais mórbido de todos, aparece um berço vazio e ainda por cima balançando. O pior acontece quando Miriam descobre que está grávida, pois não é uma gravidez comum pois sua barriga não para de crescer e ainda por cima algo está devorando-a de dentro para fora. Completamente desesperado, Jonathan lembra das palavras do fantasma de seu avô e vê que sua esposa está possuída. Após esses acontecimentos, Abigail consegue ter total controle sobre a mente e corpo de Miriam e começa uma discussão com um Jonathan desesperado, inclusive querendo chamar um padre para exorcizar o demônio no corpo de sua esposa. Em um raro momento de lucidez, Miriam volta a si e pede para o marido joga-la da

KING DIAMOND – 1987 – Ano de lançamento de Abigail

escada, pois somente assim seria impedido o renascimento de Abigail. Quando finalmente Jonathan ia realizar o desejo de sua esposa, ele se distrai com uma estrela e ele que acaba jogado da escada por sua esposa, pois novamente Abigail volta ao controle do corpo de Miriam. Com a queda, Jonathan morre, e com isso Miriam começa a dar à luz Abigail, mas também não resiste e morre. Em meio a essa tragédia, os sete cavaleiros negros chegam à velha mansão e, ao procurar Abigail, veem uma cena horrível: Abigail estava em seu velho sarcófago onde uma vez foi mumificada comendo os restos mortais de Miriam, a mulher que a trouxe à vida novamente. Para dar fim a esse terror, os cavaleiros conseguem capturar a Abigail e a levam para a floresta, onde em uma capela vão realizar o ritual das sete estacas para, enfim, acabar com o espírito maligno. Assim termina essa história digna de mestres de terror e saída da cabeça de King Diamond. Realmente torcemos para que um dia seu sonho se realize e uma obra desse nível possa ser

KING DIAMOND ABIGAIL

1987

DINAMARCA 1 - Funeral 1’30’’ A 2 - Arrival 5’27’’ A 3 - A Mansion in Darkness 4’34’’ A 4 - The Family Ghost 4’06’’ A 5 - The 7th Day of July 1777 4’50’’ A 6 - Omens 3’57’’ A 7 - The Possession 3’26’’ A 8 - Abigail 4’51’’ A 9 - Black Horsemen 7’39’’

levada aos cinemas. Qualidade para isso ela tem. Após todos esses anos a história ainda se mostra macabra e assustadora. Não existe prova maior que o tempo para mostrar que King estava certo ao trazer essa história ao mundo em seu maior clássico. ODM | A octoberdoom.com

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ENTREVISTA RODRIGO BUENO LACRIMA MORTIS

Rodrigo Bueno: a doomed man ALGUMAS DAS MUITAS FACES DE RODRIGO BUENO POR

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Rafael Sade

rafael.doomed@gmail.com


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esigner, blogueiro, músico. A importância e a contribuição de Rodrigo Bueno para a cena underground, e principalmente para o doom metal, é gigantesca. Além de criar artes para bandas tanto nacionais quanto internacionais, também faz inúmeras entrevistas com as principais bandas do estilo. Agora, ele nos apresenta sua nova banda: Lacrima Mortis. Vamos conhecer um pouco sua história e seus planos para o futuro.

October Doom Magazine – Qual foi o seu primeiro contato com o metal e com o doom metal? Rodrigo Bueno:

de três meses, pois ele começou a fazer faculdade e não tinha tempo para as aulas. Os meus vizinhos pararam e eu Por volta de 1991, continuei. Em 1993, assim como todo montei uma banda adolescente que vai com alguns amigos, crescendo e sentindo era numa pegada a necessidade de oumais crossover, vir algo mais pesado, tocávamos músicas pois antes disso ouvia próprias e alguns muito rock nacional e covers (mal tocados, algumas outras coisas, diga-se de passacomo Guns n' Roses, gem). Volta e meia RODRIGO BUENO, Bon Jovi e Billy Idol. em casa eu relembro LACRIMA MORTIS Lembro de ter visto alno violão essa época guns trechos dos shows do Rock in Rio tosca da minha vida (risos). II na TV e ter ficado abismado com o Sepultura e o Judas Priest. Em 1992 já O Dying Embers foi a sua priestava mais familiarizado com o metal, meira banda de doom metal? pois tinha umas fitas cassete gravadas Rodrigo Bueno: Foi a primeira com Iron Maiden, e seu recente álbum que realmente levamos a sério. Em Fear of the Dark, e o Black Album, do 1994, fiz parte da Maimer, que foi a Metallica, além de Megadeth, Ratos de primeira banda de doom lá da minha Porão, Sepultura, Slayer, Napalm Death cidade no Paraná. Nessa época, fui e Black Sabbath. Em 1993 tive minha chamado pra tocar baixo, já estava experiência com o doom e foi com o com algumas ideias e letras pra pasálbum Gothic, do Paradise Lost. Como sar pro pessoal quando fui chutado eu estava acostumado com som bagada banda. Em 1996, o ex-vocalsita ceira, na metade do álbum eu acabei da Maimer e um dos fundadores me pegando no sono e no outro dia após chamou para uma nova versão dela retornar da escola resolvi dar uma nova e junto com o Ruiter Jr. Mas o grupo chance a eles, e acredito que tenha sido acabou não vingando, pois a troca de uma das melhores coisas que eu fiz. bateristas era frequente. Em 1997, a Dying Embers começou e com ela Como foi a sua entrada no meio gravamos três demos e estávamos terminando a gravação do debut quando musical?? a banda encerrou as atividades em Rodrigo Bueno: Foi por volta 2007. No meio disso teve um esboço de 1991/1992, em que eu e mais da Lacrima Mortis e uma outra chaalguns vizinhos resolvemos fazer mada Sears in Silence, que não durou algumas aulas de violão com um seis meses. conhecido nosso, mas não passou

EM 1993 TIVE MINHA EXPERIÊNCIA COM O DOOM E FOI COM O ÁLBUM GOTHIC, DO PARADISE LOST.”

Qual foi a ideia para a criação do blog Funeral Wedding? Rodrigo Bueno: Ele começou

das cinzas do meu antigo webzine, The Book of Faustus, que era voltado ao metal extremo (death/black/doom) e, após ter me decepcionado muito com os rumos que a cena black metal estava tomando naquela época (isso era por volta de 2002/2003), decidi focar apenas no doom e ali surgiu o Funeral Wedding. Mas ele teve uma vida curta, pois no final de 2004 me vi obrigado a encerrar as atividades por não ter tempo para me dedicar a ele. Em 2008 eu tentei voltar com o projeto, mas, como meu filho estava para nascer, novamente não teria como me dedicar ao blog. Apenas em 2011 que ele retornou com força total e durou até esses dias atrás, já que, devido à falta de tempo, me vi obrigado a paralisar as atividades.

Das entrevistas que você já realizou para o blog, cite três que você considera importante. Rodrigo Bueno: Foram tantas e

cada uma teve seu momento especial, não teria como citar três, seria injusto, ainda mais que começa a passar um filme na cabeça ao receber as respostas. Mas tanto as bandas nacionais, como Mythological Cold Towers, tiveram sua importância, quanto as internacionais, como Paradise Lost, Shape of Despair, Loss, Colosseum, Bell Witch e My Dying Bride. Mas uma que posso citar e sempre aparece nas buscas do blog é a que fiz com a Heike, do Draconian. Assim que a anunciaram como vocaODM | A octoberdoom.com

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ENTREVISTA RODRIGO BUENO LACRIMA MORTIS

QUEM SABE UM DIA EU CHEGUE NO NÍVEL DOS ARTISTAS QUE ADMIRO.” RODRIGO BUENO, LACRIMA MORTIS

lista, acabei fazendo um trabalho meio que de detetive para levantar informações sobre ela para conseguir fazer as perguntas. Essa é uma das que mais guardo recordações. Teve uma também que fiz a entrevista, mas não recebi até hoje as respostas, que foi com o Skepticism - sei lá, talvez tenha se perdido no limbo da internet.

Você é designer, e já trabalhou em capas e artes de bandas do cenário nacional e mundial. Como isso se iniciou a Lacrimatorium Doomed Arts? Rodrigo Bueno: Começou de

forma tímida e de uma maneira que eu pudesse expor meus sentimentos por meio de imagens, por volta de 2001/2002, e inicialmente seria para a minha banda e projetos de amigos. Mas, com o incentivo do meu amigo Wendell, da Blackseed Designs, por volta de 2004, criei um DeviantArt e decidi expor alguns dos trabalhos e ideias que estava fazendo na época. A coisa foi tomando uma proporção bacana e, como o doom já está inserido no DNA, fui voltando o meu trabalho para este nicho que é um tanto carente de artistas que consigam captar sua essência. Somente

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RODRIGO TAMBÉM É O ARTISTA por trás de vários lançamentos nacionais.

após ter me estabelecido na cidade de Blumenau (SC) é que a Lacrimatorium Doomed Arts começou a tomar as devidas proporções e comecei a me dedicar a este tipo de arte. Quem sabe um dia eu chegue no nível do Travis Smith, Dave McKean, Marcelo Vasco e Rafael Tavares, que são os artistas que admiro.

Qual você considera seu trabalho mais importante? Rodrigo Bueno: É difícil dizer

qual, pois todas elas tem seu grau de importância pessoal e profissional, mas um dos que mais me orgulho foi a capa do HellLight e também o Mythological Cold Towers, com o Sphere of Nebaddon (2016). Agony Voices foi outra banda que me deu um apoio fodido. As artes de camisetas pro Saturnus, Ataraxie e Thy Light, essas também entram.

Você também montou o FuneralCast, que é o podcast mais doom

do Brasil. Conte mais sobre ele. Rodrigo Bueno: O FuneralCast

começou com a ideia de divulgar as bandas que recebo no mailing de promos. Com o acúmulo de materiais, a maneira que encontrei de divulgar e interagir com os leitores do Funeral Wedding foi esta. Infelizmente o pessoal parece não ter absorvido muito bem essa ideia, aí o podcast acabou perecendo e, com o acúmulo de serviços que adquiri, fui obrigado a interromper. Este ano comecei novamente, mas a coisa apertou e tive que colocá-lo na geladeira. Tenho uma pauta aqui pronta só com bandas nacionais, só que falta tempo pra gravar. Assim que as coisas se estabilizarem, vou voltar a mexer com ele, pois é uma das coisas que me animam em fazer, apesar do trampo que é.

Em 2016 surgiu o Lacrima Mortis. As ideias e as influências foram quais?


Rodrigo Bueno: A Lacrima Mortis retornou à vida em 2016 com uma nova proposta e a ideia era apenas compor e gravar, sem fazer show ou qualquer apresentação ao vivo. Mas, durante esse ano que se passou, conversamos e decidimos em realizar algumas apresentações, mesmo que esse não seja o foco principal. Uma das coisas que me motivaram a montar esse projeto foi a questão de colocar em prática as composições que vim acumulando desde o fim da Dying Embers e até mesmo músicas daquela época que já não cabiam mais nela, pois havíamos migrado do death/doom para um progressive death metal.

FICHA ORIGEM Blumenal Brasil

GÊNERO

Doom/Death Metal

CURRENT MEMBERS Dread Mutilator Vokills Requiem Guitarra Baud Guitarra Reaper Bass Guitara Scavenger Bateria

O Lacrima Mortis já lançou o EP Optare Mortem via streaming e download. Como foi o processo de composição e gravação? Rodrigo Bueno: As músicas

que gravamos foram as duas últimas que apresentei para o pessoal e trabalhamos em cima delas. Mesmo tendo outras compostas e lapidadas, achamos que seria legal gravarmos essas duas, até por inexperiência com o estúdio. Por sorte, acabou ocorrendo melhor do que esperávamos. A canção “...of Desolation” foi escrita por volta de 2005/2006, e acabei finalizando-a no início do ano passado. Já a “Optare Mortem” foi escrita pouco tempo antes do festival em Pomerode (SC) ano passado e, de certa forma, nos incentivou a fazer algo um pouco mais arrastado.

FORMAÇÃO 2016

O futuro com o álbum completo, dividindo com as outras funções, ainda está reservado? Rodrigo Bueno: Sim, a ideia é

voltar ao estúdio e gravar as outras quatro faixas que temos compostas e junto com essas do EP formar um full-length. Estamos em contato com alguns selos e assim que tivermos uma proposta bacana, bateremos o martelo e o tão sonhado álbum se tornará realidade. ODM | A

LINKS DEMAIS TRABALHOS https://www.facebook.com/lacrimatorium.doomed.arts/ https://www.facebook.com/FuneralWedding/

CAPA DO ÁLBUM She’s Looking for Flowers Under City Light, do Bullet Course octoberdoom.com

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RESENHAS

UMA ESTREIA MAIS QUE ESPERADA O ÁLBUM DE ESTREIA DO LACRIMA MORTIS EM ANÁLISE NA OCTOBER DOOM POR

Rafael Sade

D

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2016

OPTARE MORTEM (EP)

rafael.doomed@gmail.com

as cinzas do antigo Dying Embers, principalmente em composições que restaram dele, surge o Lacrima Mortis. Formado pelos integrantes Dread Mutilator (guitarra), Baud (guitarra), Reaper (baixo) e Scavenger (bateria), o grupo de Blumenau (SC) é fazedor de um death/doom direto, gélido, com vasta influência em bandas dos anos 1990, como Evoken e Thergothon. O EP Optare Mortem, lançado em abril deste ano, apresenta três faixas, sendo que a primeira, “Introspectum”, é uma linda introdução de violão para a “... of Desolation”, canção fria e com muito peso, dona de excelente trabalho instrumental e que mostra ao mundo o motivo de o Lacrima Mortis ter vindo a vida. “Optare Mortem” é mais introspectiva, conversa muito com o funeral doom. O trabalho vocal dela ficou bastante sinistro. Do meio para o fim, a canção fica bem empolgante, podendo

LACRIMA MORTIS

BRASIL 1 - Eight Paths – Initiation 3’04’’ A 2 - Destroy the House of Ha’shem 5’28’’ A 3 - Burn the Pyre 5’52’’ A 4 - The Legion

ser considerada como o destaque do EP. Lacrima Mortis é mais uma banda que veio para somar em nosso cenário underground: músicas de excelente qualidade, clima desolador, death/doom direto e sem firulas, como deve ser e aquela mensagem deprê que não pode faltar. Aguardemos o full length.

LINKS

BANDA

https://www.facebook.com/LacrimaMortis666/ https://lacrimamortis.bandcamp.com/releases OPTAREM MORTEM Lacrima Mortis

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ENTREVISTA PABLO BARROS VOCAL

OSTRANDO M M E V N IA L L A T VARIADO O BRU E O D A S E P M O MUITO FORTE S A U IN T N O COM SEU C O IR E BRASIL QUE O NORDESTE l Arízio POR

Raphae

ionprod.com

raphael@blackleg

a d nacional. Su do undergroun e m do no en r so nd is re prom vem Brutallian é um metal tradicional com thrash , teve grande ye E de e ra th tu is on m w ótima o, Blo nu primeiro disc o. Vamos saber dos maranhe Se . os ut fr ns bo ir as s ile ai as qu br e o cenári abalho repercussão no resposta do público ao seu tr a ses como anda uardam para o futuro. ag s no s de da novi

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O


FICHA ORIGEM

São Luis - MA Brasil

GÊNERO

Thrash/Heavy Metal

CURRENT MEMBERS

Pablo Barros Vocal Lex Wave Guitarra Rayan Oliveira Bateria Fabio Matta Baixo

FORMAÇÃO 2002

A ÚNICA COISA QUE NÃO SAIU BEM COMO ESPERÁVAMOS (NO PRIMEIRO CD) É QUE GOSTARÍAMOS DE TER TOCADO MAIS VEZES FORA DO NOSSO ESTADO.” PABLO BARROS, BRUTALLIAN

O Brutallian lançou em 2015 seu primeiro álbum de estúdio. Como vocês avaliam a repercussão que ele teve? Está dentro do que esperavam? Pablo Barros: A repercussão foi muito boa.

Recebemos praticamente apenas resenhas positivas e o público em geral ficou muito satisfeito e nós também. Serviu principalmente para incluir a banda no cenário nacional, visto que apesar de estarmos na ativa há algum tempo, como não tínhamos nada lançado, foi como se fosse uma estreia mesmo. O CD figurou entre os melhores do Brasil e da América Latina em algumas mídias e isso foi muito importante. A única coisa que não saiu bem como esperávamos é que gostaríamos de ter tocado mais vezes fora do nosso estado. No segundo CD tentaremos trabalhar um direcionamento para isso.

Foram produzidos dois videoclipes para a divulgação desse disco. Como foi o processo de produção dos vídeos e qual a resposta dos fãs a esses lançamentos? Há pretensão de lançar mais material do gênero? Pablo Barros: O processo foi todo feito com

parceiros e amigos profissionais daqui que primam pela qualidade, assim como nós. Só tenho a agradecer essas pessoas, que deram contribuições técnicas e conceituais, além do próprio trabalho de filmagem e edição. Nós não tínhamos grande expectativa de muita gente visualizar, pois conhecemos o perfil do nosso público hoje, mas não podemos nos amarrar a isso. Temos que nos manter produzindo esse tipo de mídia, pois acredito que no momento que um bombar, este irá puxar os demais. Para o segundo CD iremos trabalhar ainda mais esse tipo de mídia e com a mesma qualidade. ODM | A octoberdoom.com

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ENTREVISTA PABLO BARROS VOCAL

POSSO DIZER SEGURAMENTE QUE NUNCA ESTIVE TÃO FELIZ MUSICALMENTE QUANTO ESTOU COM ESTA FORMAÇÃO E ESPERO QUE NÃO MUDE.” PABLO BARROS, BRUTALLIAN

O Brutallian é formado por músicos bem experientes no underground. Como foi a trajetória para a atual formação? Pablo Barros: Nós tínhamos

uma formação que se manteve até meados de 2010. Depois foram saindo todos por motivos parecidos, acredito eu, que foi pelo momento que cada um estava passando na vida (profissional, familiar, filhos, etc.). O primeiro a sair foi nosso baterista original, Mauro de Aquino (baterista da clássica banda de thrash Ácido); ele foi substituído por Daniel Mamede que foi embora pro Canadá e finalmente o Rayan Oliveira entrou na banda. Na verdade, eu e o Rayan já havíamos combinado que ele

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O BRUTALLIAN LANÇOU Blow On The Eye em 2015

iria ter uma banda comigo em algum momento, mas ele foi embora para São Paulo e, quando ele retornou, foi exatamente quando o Daniel foi embora, então o destino nos ajudou. Depois foi nosso baixista fundador Carlos Jacer que saiu. Eu cheguei a cogitar alguns nomes, pois foi um momento crítico, estávamos finalizando o CD. Aí várias pessoas me indicaram o Fábio Matta, e ele já estava trabalhando pra mim fazendo a arte do CD, visto que ele é um designer muito talentoso e reconhecido aqui. Fiz o convite para um teste e deu certo não só musicalmente como pessoalmente. Hoje o Fábio direciona a banda junto comigo, em termos musicais, conceitos, estilo, etc. Aí por último foi o guitarrista Rhodes Johnson que saiu da banda. Fiquei muito preocupado nessa época porque a guitarra e o vocal meio que carregam o estilo do Brutallian. Então, tinha que chamar alguém com um estilo bem característico e que conseguisse mesclar bem os estilos mais clássicos com os mais modernos. Mais uma vez, grandes amigos me indicaram o Lex Wave, e eu confesso que foi o primeiro nome que pensei porque eu já estava com um projeto

encaminhado com ele. Ele entrou na banda e fez a diferença. É o guitarrista mais talentoso com quem já toquei. Enfim, temos muita amizade com os ex-integrantes, somos como irmãos. Mas posso dizer seguramente que nunca estive tão feliz musicalmente quanto estou com esta formação e espero que não mude.

O som da banda é uma interessante mistura de vários gêneros dentro do metal, com mais ênfase em um heavy metal direto e pitadas de thrash. Quais as influências que moldam o som de vocês? Pablo Barros: Legal você citar

isso, pois é realmente o que somos. Nós todos temos um gosto amplo no que diz respeito a heavy metal e rock and roll. Gostamos muito dos clássicos e também gostamos de coisas mais pesadas e modernas. Nossa proposta é justamente fazer um som que capte a energia antiga, mas que tenha uma produção atual. O Brutallian é um liquidificador com Judas Priest, Kreator, Accept, Pantera, Black Sabbath, Led Zepellin, Slayer, AC/DC, Iron Maiden, Testament, Savatage e


SE TUDO DER CERTO, NO SEGUNDO SEMESTRE DE 2017. ESTAMOS EM PROCESSO DE PRÉ-PRODUÇÃO DO SEGUNDO CD E QUEREMOS QUE ELE SEJA UMA EVOLUÇÃO DO PRIMEIRO EM TODOS OS SENTIDOS.” PABLO BARROS, BRUTALLIAN

por aí vai. Pegamos nossas influências e tentamos dar a nossa cara com muita personalidade e pegada. Eu particularmente, enquanto cantor, tento evoluir sempre incorporando os estilos dos meus ídolos à minha forma de cantar de modo que crie minha identidade. Então, quem tem um bom ouvido, vai perceber pitadas de Rob Halford (bem óbvio), Dio, Bruce Dickinson, Eric Adams, David Coverdale, Ian Gillan, Robert Plant, Phil Anselmo, Matthew Barlow e Warrel Dane, entre outros.

O Brutallian foi fundado em 2002, mas levou um tempo considerável para conseguir lançar o seu disco de estreia. Quais foram os problemas enfrentados para conseguir chegar a esse trampo finalizado? Pablo Barros: Além das saídas

na época. Sempre foi muito claro pra gente que nosso registro deveria ser de qualidade e que conseguisse captar a energia dos nossos shows, então não podíamos queimar cartucho.

Em vista que o disco foi lançado em 2015, qual a previsão de lançamento de um novo material? Pablo Barros: Se tudo der certo,

no segundo semestre de 2017. Estamos em processo de pré-produção do segundo CD e queremos que ele seja uma evolução do primeiro em todos os sentidos.

A banda lançou em 2016 a Pain Masterbeer. Como foi elaborada essa cerveja? Comentem sobre o processo criativo, sabor e o que mais lhe vier à cabeça. Pablo Barros: Eu e Fábio tivemos essa ideia um dia, bebendo cerveja (risos). E nós conhecemos alguns fabricantes artesanais de cerveja e encomendamos a dois diferentes. Chegamos ao consenso que deveria ser uma cerveja forte de 8% de teor alcoólico. O primeiro lote foi uma puro malte e o segundo foi uma amber ale. Ambos fizeram um excelente trabalho e foi muito elogiado por todos. A arte mais uma vez foi fruto de um trabalho incrível do nosso baixista Fábio Matta. Foi um produto bastante procurado e vendido muito rápido. Para 2017 iremos produzir mais lotes.

Atualmente as redes sociais tomaram um tamanho gigantesco em todo o mundo. Como a banda enxerga isso e a internet para a divulgação de sua arte?

Pablo Barros: Nós fazemos de tudo para entregar um trabalho de qualidade tanto sonora como visual e acreditamos que essas mídias são muito importantes. Para divulgação e também para contato direto com o público. Por isso nossas artes são sempre caprichadas, assim como os clipes, além da parte musical. Pela boa repercussão de Blow on the Eye, há pretensão de fazer shows fora do Maranhão? Se sim, quais dificuldades encontraram? E tour fora do Brasil, algo em vista? Pablo Barros: Temos pretensão sim e já temos planos para realizar alguns shows em território brasileiro. Temos planos para o próximo CD que incluirão parcerias com outras bandas, tour managers, etc. Fora os convites que acontecem. Para uma turnê, temos que organizar certa logística, já que trabalhamos em meios não musicais aqui em nossa cidade, então estamos planejando tudo com muito cuidado.

Espaço para considerações finais e agradecimentos. Pablo Barros: Obrigado a vo-

cês pelo espaço e a todos da mídia especializada que estão nos ajudando e muito. Obrigado às pessoas que nos acompanham e nos ajudam nessa jornada difícil que é ter uma banda de heavy metal no Brasil. Grande abraço e HAIL BRUTALLIAN! ODM | A

LINKS https://www.facebook.com/brutallian/ BLOW ON THE EYE Brutallian

de integrantes, como já citado, havia o problema financeiro porque não tínhamos dinheiro para pagar uma gravação decente e também pela ausência de estúdios de qualidade em nossa cidade octoberdoom.com

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RESENHAS

DISCO DE ESTREIA SURPREENDE PELO PESO E VERSATILIDADE HEAVY METAL TURBINADO COM ESTEROIDES DE THRASH SURPREENDE NO DEBUT DA BRUTALLIAN POR

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Raphael Arízio

raphael@blacklegionprod.com

B

rutallian é uma banda maranhense formada em 2012 com a proposta de tocar um heavy metal com altas doses de thrash. Lançou seu debut, o Blow on the Eye, em 2015, e desde então vem recebendo bastante destaque no underground nacional. O álbum foi produzido por Felipe Hyily, Cid Campelo e pela própria banda. A arte da capa é de autoria do baixista Fabio Matta e lembra o clássico do Pantera, Vulgar Display of Power, de 1992. Após a intro “A Prelude to Aggression”, a faixa-título já começa com riffs beirando o thrash mas sem deixar o metal tradicional de lado. É uma ótima canção, com um refrão pegajoso e simples. Um ótimo começo de disco. “Black Karma” tem seu início com um belo riff e vocais que lembram Rob Halford. Seu refrão, mais uma vez pegajoso, se destaca com os coros de “out get out”. Uma das melhores músicas

da banda. “Primal Sigh” nos dá a certeza que esses maranhenses devem ser grandes fãs do Fight, pois a influência é latente. Levada matadora de bateria seguida de riffs pesados e instigantes ao vivo deve ser maravilhosa. Com seu clima à la “Planet Caravan”, do Black Sabbath, a curta “Psycho Excuse” dá uma pausa no som pesado e prepara o ouvinte para a porradaria de “You Can’t Deny Hate”, com seus riffs altamente thrash e vocais com pegada Judas Priest que dão um tom maravilhoso ao disco. Mais uma vez devemos elogiar a banda sobre os refrãos de suas músicas, pois são muito bem encaixados e altamente pegajosos. Pode ficar cansativo para quem lê a repetição de elogios aos riffs do Brutallian neste texto, mas em “Hell is Coming with Me” mais uma vez eles se destacam com sua mistura de heavy com thrash metal. “The Scoundrel” não nos deixa descansar nem um minuto com suas levadas que lembram novamente o Fight, mas com


a identidade marcada desse grupo do Maranhão, sem soar como mera cópia. Seu refrão mais melódico se contrapõe com maestria ao peso despejado em todo o trabalho. Para fechar esse grande álbum temos a excelente “Pain Masterpiece”, que mostra todas as características da banda em todo o disco: riffs pesadíssimos beirando o thrash com passagens e vocais mais melódicos, que conseguem se unir perfeitamente durante toda a música. Trata-se de um grande disco que mostra mais uma vez que o nosso underground está bem servido de bandas em todo o nosso território. Que o Brutallian possa alcançar voos ainda maiores, pois demostrou muita qualidade com esse excelente disco. ODM | A

LINK https://www.youtube.com/c/brutallian

BRUTALLIAN BLOW ON THE EYE

2015

BRASIL 1 - A Prelude to Agression A 2 - Blow on the Eye A 3 - Black Karma A 4 - Primal Sigh A 5 - Psycho Excuse A 6 - You Can’t Deny Hate A 7 - Hell Is Coming with Me A 8 - I, the Scoundrel A 9 - Pain Masterpiece

octoberdoom.com

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RESENHAS

FUOCO FATUO: OPRESSIVO E DESOLADOR

APRESENTANDO UM FUNERAL DOOM ANGUSTIANTE E SUFOCANTE, OS ITALIANOS CHEGAM AO SEU SEGUNDO TRABALHO DE ESTÚDIO, UM DOS ÁLBUNS MAIS DESOLADORES QUE VOCÊ CERTAMENTE ESCUTARÁ NESSE ANO DE 2017

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40 40

POR

Leandro Vianna

amusicacontinuaamesma@gmail.com

S

e existe uma coisa que a Itália produz muito bem, além das massas, é o tal do doom metal. Não sei se é o macarrão à bolonhesa, se é a pizza napolitana, ou se é o fato do Silvio Berlusconi ter governado o país por anos e anos (o mais provável, já que os dois primeiros itens devem ter influenciado o power metal animado e alegre das bandas de lá), mas os caras sabem fazer músicas sombrias como poucos. Esse é o caso do Fuoco Fatuo, surgido no ano de 2011 e que se envereda pelos tortuosos caminhos do funeral doom.

É preciso deixar claro que esse não é um álbum para se tocar de fundo nas tarefas cotidianas de casa. Devido à sua profundidade, faz-se necessária dedicação exclusiva para sua audição, já que certos detalhes mais sutis exigem alguma atenção. Obviamente que estamos diante de um som muito arrastado, brutalmente pesado e opressivo, mas o Fuoco Fatuo agrega elementos de death e black metal à sua sonoridade, o que acaba permitindo pequenas mudanças de andamento aqui e ali, além de um aumento da velocidade em alguns trechos (mas nada exagerado). No final, é justamente esse aspecto de sua música que acaba tornando a audição “agradável”, já que apesar da longa duração das


FICHA ORIGEM Varese Italy

GÊNERO

Funeral Doom/ Death Metal

CURRENT MEMBERS

FUOCO FATUO canções aqui presentes (entre os 13 e os 17 minutos), você mal percebe o tempo passar, e, quando se dá conta, Backwater já chegou ao fim e você está dando o play mais uma vez. Os vocais de Milo Angeloni são rosnados e parecem sair das profundezas de algum sepulcro, maximizando a sensação de desolação. Ele, ao lado de Giovanni Piazza, é responsável por despejar riffs duríssimos, lentos e de um peso simplesmente esmagador, fora algumas melodias muito interessantes que surgem aqui e ali. Como o álbum foi gravado como um trio, Piazza também acumulou a função de baixista (posto hoje pertencente a Andrea Collaro), fazendo um belíssimo trabalho, enquanto o baterista Fabrizio Moalli (que saiu após a gravação, sendo substituído por Davide Bacchetta) consegue dar variação às canções nos momentos em que as mesmas aceleram um pouco, evitando que se tornem cansativas. São apenas quatro músicas, mas que valem por 40 de muitas bandas por aí. “Sulphureous Hazes” abre o álbum de forma sufocante. Os vocais rosnados, os riffs desoladores, momentos atmosféricos, tudo isso se une para criar uma sensação de vazio no ouvinte. A sensação de angústia toma conta de “Rainfalls of Debris”, assim como de “Perpetual Apochaos”, com seu clima hipnótico e assombroso. É certamente o ponto mais alto de Backwater. Encerrando, “Nemesis” faz jus ao nome e abate impiedosamente qualquer resquício de felicidade que

BACKWATER

2017

PROFOUND LORE RECORDS ITALY 1 - Sulphureous Hazes 15’53” A 2 - Rainfalls of Debris 16’06” A 3 - Perpetual Apochaos 13’20” A 4 - Nemesis 16’55”

ainda possa existir no ouvinte. E ao final da audição, tudo que sobra é terra desolada. Tem coisa melhor que isso quando falamos de funeral doom? Opressivo, como todo álbum do estilo deveria ser. ODM | A

Formação (gravação): Milo Angeloni Vocal/guitarra Giovanni Piazza Guitarra/baixo Fabrizio Moalli Bateria Formação atual: Milo Angeloni Vocal/guitarra Giovanni Piazza Guitarra Andrea Collaro Baixo Davide Bacchetta Bateria

FORMAÇÃO 2011

LINKS https://www.facebook.com/FUOCO666FATUO/ https://fuocofatuo.bandcamp.com/ RAINFALLS OF DEBRIS Fuoco Fatuo

The Viper Slithers in the Ashes of What Remains (2014)

octoberdoom.com

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ENTREVISTA PAUL WALLER VOCAL

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GRANDE Ç UMA

REVELA ÃO FRONTMAN DO OHHMS EM UMA CONVERSA SOBRE DOOM METAL E TARÔ

A

POR

Lara Noel

/DoomedStoned

presença ressoante do OHHMS tem ecoado através dos mares por três anos. Agora, recebendo elogios quase unilaterais dos críticos de música underground e cobertura de destaque de grandes como a revista Terrorizer. O repertório se solidificou com uma série incrível de shows (incluindo um encontro com um dos favoritos pessoais desse editor, Mammoth Weed Wizard Bastard). Achamos que seria um bom momento para uma conversa com o OHHMS, então mandamos nossa repórter cigana itinerante para entrevistar o vocalista Paul Waller sobre o trabalho mais expansivo do quarteto de Kent até o presente:

Angelique Le Marchand Fotos

Elyson Gums Tradução

The Fool (2017, Holy Roar Records). Além dessa troca de experiências fascinante, Doomed & Stoned tem o orgulho de apresentar belos momentos do recente Holy Roar 420 Fest, no Boston Music Room, no qual o OHHMS dividiu o palco com Bossk, Conjurer, Haast’s Eagled e Slabdragger. Essas fotografias foram capturadas pela talentosa Angelique Le Marchand, contribuinte habitual do Echoes and Dust. É a primeira vez que o trabalho dela aparece nessas páginas e adoraríamos ter a oportunidade de ver mais do trampo dela aqui no futuro. (Billy) Devemos Ou não devemos? Vamos fazer. ODM | A octoberdoom.com

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ENTREVISTA PAUL WALLER VOCAL

FOTO POR ANGELIQUE LE MARCHAND - Holy Roar 420 Fest

Ouvi o The Fool várias vezes seguidas. Primeiro full-lenght do OHHMS, certo? Paul Waller: Sim. Lançamos

dois EPs, mas eles são bem compridos. Duas músicas cada, ambas com mais de meia hora de duração. Pensamos muito sobre o que queríamos fazer em nosso primeiro álbum propriamente dito. Estamos bastante animados. Foi um longo período de trabalho para deixar pronto.

Depois de escutar o álbum, tenho que dizer que não há nenhuma encheção de linguiça. Vai em várias direções diferentes – pesado em partes, depois com momentos mais etéreos, como em “The Lovers”. É uma viagem. Paul Waller: É bem isso. Quan-

do começamos, falei pros caras, “Não ligo pro que a gente fizer, mas quero o talento dos seis primeiros álbuns do Black Sabbath aqui. Façam como quiserem, desde que não pisemos fora disso: mantenham uma melodia para que a banda não se disperse muito,

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mas podemos nos desviar o quanto os nossos instrumentais permitirem”. Mas, sim, em uma música como “The Lovers”, deveríamos ou não deveríamos fazer? Digo, o Metallica tem “Fade to Black”. “Então só faz”, pensei. Uma vez dentro desse contexto, foi tipo, “Então tá”.

Diga o que alimentou esse álbum. O que levou a ele? O que criou as letras e as trouxe plenamente à vida? Paul Waller: Nosso primeiro

EP havia acabado de ser escrito e fizemos uma turnê pra ver se a gente se daria bem como amigos, porque você precisa saber se vai “dar liga” com os outros numa banda. Nessa turnê, que foi no fim de 2014, fizemos amizade muito rápido. Em uma banda você pode ter alguns amigos próximos e outros que você não conhece muito bem, era meio isso. Naquele momento, decidimos pensar nos nosso primeiros cinco anos e falamos “Bom, o que vocês querem fazer?”. Com esse álbum, eu estava firme na ideia das cartas de tarô, com cada pessoa que

NÃO LIGO PRO QUE A GENTE FIZER, MAS QUERO O TALENTO DOS SEIS PRIMEIROS ÁLBUNS DO BLACK SABBATH AQUI.” PAUL WALLER, ((OHHMS))

comprasse o álbum tendo uma leitura de seu passado, presente e futuro. Pensei nisso e elaborei na minha cabeça por um tempo. Todo mês, recebíamos uma carta de um designer italiano que eu gosto bastante, então todo o álbum foi baseado nessas cartas e na jornada de quatro personagens diferentes contidos ali. Dois anos depois, recebemos a última carta. Com essa ideia, nós fomos lá e fizemos. Para as letras, foi fácil pra mim, porque tinha uma ideia na cabeça e uma música se ligava à outra. Foi bem divertido.

Isso é lindo. E a composição foi um trabalho em conjunto? Paul Waller: Definitivamente.

Sempre tem alguém que

ODM | A


Todo mês um novo vídeo

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ENTREVISTA

PAUL WALLER VOCAL

vem com um riff, seja eu, o guitarrista, o baixista ou o baterista. Sabemos tocar todos os instrumentos - em níveis diferentes. Digo, eu sou bem merda (risos), mas os outros caras são bons. Quando temos essa ideia de riff, construímos em torno. Acontecia de sairmos do ensaio e depois voltar “Ok, temos um riff” – como um no estilo do Melvins – e sentir por onde ele vai. Aí na semana seguinte, voltar e falar “Quer saber? Não é bom o suficiente”. Essas situações podem ser bem irritantes porque gastamos várias horas trabalhando. É complicado no ensaio, mas a gente consegue lidar. E pra ser totalmente honesto com você, prefiro estar ensaiando do que no palco, prefiro até isso a estar no estúdio. Divirto-me muito ensaiando com os caras. É tipo quando você é adolescente e coloca aquela música que você ama pra tocar no quarto e não tem ninguém em casa, sabe. Você bate a cabeça e dança que nem louco. Me sinto assim praticando, amo o que fazemos com as músicas e isso me enche de paixão. A sala onde ensaiamos é o nosso lugar.

exemplo, no fim desse novo disco tem uma música com 22 minutos de duração, “The Hierophant”. Eu gosto de Sunn O))), mas queria algo a mais, não sei exatamente o quê. Quando ouço Sunn O))), penso que podia ter algo a mais. Quando é ao vivo, é insano, mas nas gravações falta algo. Então o que podemos fazer para o drone ser mais atrativo e despertar interesse, mais do que se eu estivesse ouvindo um CD do Sunn O)))? Nosso guitarrista me direcionou ao disco Earth 2, do Earth. Ajudou a influenciar o que poderíamos fazer com o drone e foi aí que a música começou. Nasceu como um drone metal de doze minutos que tornamos interessantes, depois cortamos no meio. O guitarrista e o baixista trabalharam na música e, antes que a gente notasse, estavámos com um épico de 22 minutos nas mãos. Compor os oito últimos minutos, no ensaio, como falei, foi muito bom. Não consegui sair de lá sem baldes de suor.

Quando estão nesses momentos, como são essas descobertas com os outros membros da banda? Paul Waller: Não é muito com-

tranhas. É a minha única criação que tem a ver com sentimentos pessoais. É sobre ser silenciado, estar deprimido. Estar sozinho no mundo. Não posso falar de forma eloquente para as pessoas, então não faço. Essa é a primeira

plexo. Viajamos pelas ideias. Por

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Honestamente, é a minha música preferida do disco. Paul Waller: As letras são es-

vez que escrevi sobre isso. Então disse a mim mesmo, “Bom, o que está sozinho no universo? É um satélite”. E foi assim que me liguei a isso - a letra simplesmente saiu. Acho que em geral todo mundo sofre de certos graus de depressão às vezes, naturalmente uns mais e outros menos. Tipo, quando alguém chega e pergunta “Tudo bem contigo?”, é complicado e eu não consigo falar. Mas é muito bom tocar essa música. Quando a letra termina e vem aqueles oito minutos no final, sinto que posso salvar o mundo. Parece estranho, mas sinto a ausência, desapontamento, raiva – todas essas emoções que te colocam pra baixo e te impedem de ser a melhor pessoa que você poderia ser. Esse é o objetivo dessa música. Pra mim, esses últimos oito minutos são a melhor coisa que o OHHMS fez até agora.

Como artistas, todos temos mentes expansivas. É uma bênção e uma maldição. Acho que todos passamos por esses tempos de depressão. Faz “parte do pacote”. Paul Waller: Pois é. Tenho ami-

gos bem piores do que eu. Vejo muito no Facebook, por causa do tamanho da rede. Todo dia vejo um status megalongo de alguém que eu conheço e se mostra megadepressivo. Nem


em um milhão de anos pensei em ver isso, mas as pessoas estão falando mais sobre esses assuntos do que estavam quando eu estava crescendo. Ao mesmo tempo, é demais e eu não quero ouvir. Acho que quando você é bombardeado assim dia após dia, fica meio blasé e “Lá vamos nós”, e por aí vai... Então pensei: “Vou colocar isso tudo em uma música”. Até o momento, funcionou pra mim. Sinto-me mais forte por causa dessa música. Não vou dizer nunca, mas não tenho a intenção de escrever uma música tão pessoal de novo. Minhas músicas são sempre observacionais. Parecia o momento certo.

Pode explicar um pouco melhor o que quer dizer com “observacional”? Paul Waller: Claro. Você esco-

SABEMOS TOCAR TODOS OS INSTRUMENTOS - EM NÍVEIS DIFERENTES. DIGO, EU SOU BEM MERDA (RISOS), MAS OS OUTROS CARAS SÃO BONS. QUANDO TEMOS ESSA IDEIA DE RIFF, CONSTRUÍMOS EM TORNO.” PAUL WALLER, ((OHHMS))

lhe uma música e vou te falar sobre isso! Todas nesse disco têm essa característica, como a “The Lovers” que você mencionou antes. Estava lendo um jornal daqui da Inglaterra, chamado The Independent. Foi uma reportagem que me marcou. Quem ouve essa música pensa que é uma história de amor, uma canção romântica, mas não é. É sobre casamentos arranjados na África. Tinha um cara que teve um casamento arranjado com uma moça muito mais jovem que ele. O que aconteceu foi que durante o primeiro ano de matrimônio ela não gostava muito disso e passava muito mais tempo com seu irmão. O ciúme o fez ir até os anciões da vila e a chamá-la de bruxa. [De repente, o cão de Paul interrompe a conversa latindo. “Esse é o meu cachorro, Mister Puggles. Amo ele, mas é tão barulhento. Oi, Mister Puggles!” Nós dois rimos e depois continuamos.] Porque ele era um homem, eles ouviram. Ela foi apedrejada até a morte por causa do ciúme. Ele não sabia como se relacionar com ela, teve inveja da relação com o irmão e mandou matarem-na. Eu não tinha ideia de que bruxaria existia desse jeito nas crenças das pessoas na África. Nem ideia. Essa história me marcou e me fez

((OHHMS)) THE FOOL

2017

THE HIEROPHANT ((OHHMS))

procurar mais sobre o assunto, então aprendi que a bruxaria está em todo lugar. Achei tudo fascinante e, quando fui escrever a música, tentei encontrar alguém com um “vocal de bruxa”. Sou grato por termos encontrado a Sienna Hollihan, uma artista de folk de 19 anos que encontramos tocando junto com uma banda em algum pub por aí. Foi incrível. Passei semanas e semanas com um e-mail que não enviei para a vocalista do Blood Ceremony, Alia O’Brien. Eu estava, tipo, “Você vai ser capaz de nos ajudar? Aqui está a música. Amo sua voz e acho que seria perfeito pra ela”. Não consegui mandar. O medo de quem sabe ela não responder… Não consegui. Ainda assim, discretamente conseguimos encontrar alguém que conseguiria fazer, o que foi perfeito. Então, aí está. Essa é “The Lovers”. Te digo, é tudo observacional. Eu sento e olho ao redor. Carrego um diário comigo, essas observações me fascinam. As pessoas são estranhas, muito estranhas! ODM | A octoberdoom.com

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ENTREVISTA PAUL WALLER VOCAL

As pessoas são mesmo estranhas. Tenho de admitir que tenho o hobby de observar os outros. Paul Waller: Quando eu era mais

jovem, tinha uma música da Suzanne Vega em que ela estava sentada num restaurante olhando as pessoas do outro lado do vidro, e sinto que esse sou eu (risos). Estou só olhando as pessoas, escrevendo no meu diário. Sou um stalker esquisitão (risos).

Como isso funciona com o resto da banda? Você está falando sobre o seu diário, no qual documenta suas observações. Qual a relação dos outros integrantes com isso? Paul Waller: Eles são tranquilos.

No primeiro EP, tinha bastante coisa sobre bem-estar e direito dos animais. Havia acabado de ganhar o Mister Puggles e eu não conseguia comer mais carne. Eu comia até o dia em que o ganhei. Ele se tornou meu melhor amigo, é bizarro. Eu só não comia mais carne, sem razão clara pra isso. Escrevi uma poesia no meu diário sobre isso. Na banda, temos membros que comem carne e pensei que eles não iam curtir, mas não foi assim. Eles respeitaram a minha opinião. Eles me dão liberdade artística completamente, mas às vezes eles mudam. Tipo, às vezes estou cantando uma melodia e acabo copiando o jeito do Paul Stanley, ou Ozzy ou Bruce Dickinson - eu não sei porque faço isso. Odeio isso, mas eles sempre falam. Aí, bom, eu refaço. E sou agradecido, porque senão, meu Deus, o que ia ser desse disco? Eles nunca me disseram nada negativo sobre as letras. Essa arte que passamos tanto tempo fazendo estava ligada ao tarô e achei que seria importante ter as letras impressas ali, assim

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as pessoas poderiam ler junto com as músicas, já que os vocais são limpos. Acho que dá pra entender mesmo sem elas estarem impressas, mas às vezes essas coisas se perdem na tradução.

Acho que mesmo sem as letras impressas, “The Fool” fala por si mesmo. É bem feito e passa por várias transições que fazem parecer mesmo como ler cartas de tarô. Paul Waller: Essa é a parte mais

fantástica do processo. Uma revista do Reino Unido quis que a gente fizesse uma consulta de tarô. Depois outra, acho que a CVLT Nation, queria que a gente filmasse uma consulta também. Nunca tinha feito isso antes, o que eu mais gosto no tarô são as artes. Elas me emocionam, é maravilhoso olhá-las. Escrever esse álbum e aprender sobre isso, os artistas lendo as cartas – fiquei fascinado. Eu sou cético, assim como o baixista, e ele estava tremendo quando fomos para a nossa consulta. Não sei o que ele fez no passado, mas estava assustado. Ele levou um frasco de uísque com ele e deu alguns goles antes de começar pra se acalmar. Aí aconteceu um negócio estranho: nós dois fomos para consultas separadas, em outubro e novembro, e nós dois puxamos exatamente as mesmas cartas. Soletrou “desastre” – algo ruim ia acontecer conosco, a menos que tomássemos cuidado com as nossas ações. Então nós dois saímos de lá assim, “Naaaaah!” (risos).

Você tem algum baralho favorito? Paul Waller: Sim, um que comprei no ano passado. Acho que nos anos 1990 muitos baralhos eram de má qualidade e com artes aguadas, não gostava. Esse encontrei no fim do

EU NEM CONSIGO MAIS COMPRAR DISCOS, POR CAUSA DA COLEÇÃO DE TARÔS. É HORRÍVEL (RISOS). EU GOSTO DAS ARTES E É ISSO O QUE ME CHAMA A ATENÇÃO.” PAUL WALLER, ((OHHMS))

ano passado, com artes de um artista chamado Klimt incorporadas ao tarô. Impressionou-me bastante e você não acreditaria no quanto é bom. É o meu favorito. Tenho vários e são caros, então vou parar de comprar (risos). É, eu nem consigo mais comprar discos, por causa da coleção de tarôs. É horrível (risos). Eu gosto das artes e é isso o que me chama a atenção.

Essas artes são interessantes porque mostram o que acontece em outros planos. Acho que a arte contribui para o ato como um todo. Quando um artista consegue expressar o significado das cartas, é tão diferente... Paul Waller: Estou tão contente

com a arte desse álbum, que a arte acrescenta tanto quanto a música; formam o inteiro. Foi resultado de um processo longo, conferências entre os membros da banda e o artista. Foi difícil chegar ao ponto em que queríamos. Foram algumas tentativas até acertarmos o passo, mas sim, você está certa: é importante que tudo faça sentido. Mesmo se alguém experiente ler,


FICHA ORIGEM

Canterbury Ingralterra

GÊNERO

Doom, Sludge, Post Rock

CURRENT MEMBERS Chainy Chainy Bass Max Newton Drums Daniel Sargent Guitars Marc George Guitars Paul Waller Vocals

FORMAÇÃO a ordem das cartas pode fazer mudar. Vi isso com a pessoa que leu para mim e para o baixista, ela estava buscando inspiração nas cartas em si, nas artes e na posição dos personagens na carta. De novo, isso é algo que eu não sabia que acontecia. É fascinante, porque adoro horror, coisas sobrenaturais... Gosto, mas sou cético. Acho ainda que mesmo que eu visse algo inexplicável para as pessoas e para a ciência, eu não acreditaria. Não sei, é como se tivesse um ímã que me atrai para esses pensamentos. Acho que foi assim a minha vida toda, mesmo quando era criança e estava começando a gostar de música, horror, gore, e depois biografias espirituais e etc. Sempre esteve na minha vida, desde que eu me lembro. Como você se sente? Você também é cética em relação às cartas de tarô?

Não, na verdade, eu faço leituras das cartas. Paul Waller: Eita! Incrível. En-

tão algo do que eu disse faz sentido pra você, sobre como dá pra extrair informação apenas sobre a posição de um personagem? Acho isso fascinante.

E é. Fiz algumas leituras em que as pessoas nem sempre queriam ouvir o que as cartas tinham a dizer. De certo modo, acho parecido com a música, tem muitos álbuns que são como consultas de tarô. Pode parecer bobo, mas se você for a um show do Grateful Dead, é exatamente como a leitura: as músicas que eles tocam, o estado mental em que você fica, o jeito como tudo flui. Paul Waller: Concordo total-

mente. Criar The Fool foi um processo longo e duro, não só porque tinha que ter uma fluidez legal entre as músicas, mas também tinha que estar relacionado ao tarô. Não dá só pra jogar a porra toda junta. Tudo tinha que parecer e soar no lugar. Tem mensagens e símbolos escondidos por toda a arte do álbum. Se as pessoas quiserem explorar, elas podem. Se você não gosta muito de tarô (ou não gostou da arte), então é só colocar o CD pra tocar e balançar a cabeça. Mas pra quem quiser extrair algo, tem muito o que procurar. Foi tudo bem pensado, horas meticulosas ODM | A

2014

The World (2017)

Cold (2015)

Bloom (2014)

octoberdoom.com

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ENTREVISTA PAUL WALLER VOCAL

gastas com o meu parceiro da Itália. Não posso esperar pra ouvir as pessoas e ler as mensagens falando “Isso é uma referência àquilo?”

Algumas pessoas vão pensar nessa direção que você disse, mas outras vão para outra direção e isso é quase como uma leitura de tarô. Paul Waller: Não acredito que

você é uma leitora de tarô, isso fez o meu dia. Saber que você ouviu isso desse ângulo é perfeito, e mostra que você tem poderes psíquicos também (risos). É estranho, como se já tivesse sido lançado antes. É mais baseado em doom e stoner rock. Os caras realmente trouxeram os elementos do Black Sabbath. Tocamos “The World” em uma emissora de rádio. Alguns comentários eram, tipo, “Não entendi isso...” e uma semana depois, a mesma pessoa: “Entendi agora. Gostei”. No começo, me preocupava com as pessoas estarem, tipo, “Essa não é a banda pela qual eu me apaixonei”. Está tudo ainda talvez “mais maduro”, talvez esse seja o termo errado, mas acho que é um pouquinho por aí. Sinto que se eu fosse fã do OHHMS – e eu sou, quando estamos ensaiando sou igual qualquer outro fã

–, comprasse o disco e o colocasse para tocar, eu diria “Que porra é essa?” Por isso colocamos ganchos mais pops. Gostamos bastante dessas melodias chiclete que estamos acostumados a ouvir nas músicas pop dos anos 1980. Não tenho medo disso. [Paul canta uma melodia] Buscamos esse tipo de rima, esse ritmo, que gruda na sua cabeça. Queremos que as pessoas lembrem e procurem a fundo, porque tem muitas mensagens sutis ali no meio. Quero que as pessoas entendam.

De novo, algumas pessoas vão captar, mas outras não. Paul Waller: Sou cauteloso so-

bre isso. Como disse, muitas dessas músicas envolvem observação, como “The Lovers”. Se alguém a ouvir, vai pensar que é uma música de amor e isso pode acabar com o interesse ou visão delas sobre a música, as afastando do tópico principal da faixa. Não sei como lidar com isso. Você admite sobre o que realmente é ou mantém o segredo? Como você mesma disse, se você vir isso como leitura de tarô, é meio que como foi para ser digerido. Então, você vai tirar algo dali que é pessoal para você. Não quero colocar uma bifurcação no caminho, ou fazer as pessoas pisarem sobre pedras para que elas cheguem ao ponto em que se compreendem.

Ouvir você falar da história por trás dessa música me faz querer voltar a ela para reviver a experiência por inteiro. Paul Waller: Quando estava pro-

duzindo com Sienna e tinha que voltar pra ver como ela estava cantando essas notas, quebrava meu coração toda vez. Falei pra ela, “Você pode mudar o que quiser”, porque era uma menina de 19 anos que nunca tinha aparecido em nenhum disco antes e nunca havia pisado em um estúdio também. Eu a aconselhei a fazer o que ela quisesse e se sentisse confortável, mas ela disse “Não, gostei do que você escreveu. Vamos fazer”. Quando a ouvimos cantar, todos nos olhamos, sentindo aquele arrepio. Ela é foda. No futuro, acho que vai ser difícil, porque traz de volta a minha reação inicial à história de como nos encontramos. É uma boa história. Mesmo quando ela nem estava cantando nada, [Paul assovia uma melodia], eu ficava “Nossa. Fiquei sem ar”. Ouvi algumas gravações anteriores dela, mas nada te prepara para estar diante dela cantando. É estranho, meio “bruxólico”, algo da Terra, sabe? Gostaria de ter vocabulário pra explicar o que senti.

É uma música bem inesperada, mas funciona e está bem onde deveria estar. É bonita, mas dá para sentir uma dor no coração ali. Paul Waller: Sim, e reconheço que devo muito a ela. Foi estranho pra mim cantar naquele tom baixo, mas ela acertou em cheio. Graças a Deus a encontramos, porque senão eu ainda estaria aqui esperando para apertar o botão de enviar o e-mail para Alia O’Brien (risos).

LINKS https://www.facebook.com/OHHMStheband https://ohhms.bandcamp.com/ THE ANCHOR ((OHHMS))

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RESENHAS

UMA VIAGEM AOS ANOS 70 PRATICANDO UM HARD ROCK CLÁSSICO, COM OS DOIS PÉS FINCADOS EM QUATRO DÉCADAS ATRÁS, O TRIO TEXANO NOS FAZ EMBARCAR EM UMA AUTÊNTICA VIAGEM PELO MELHOR DO STONER POR

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Leandro Vianna

amusicacontinuaamesma@gmail.com

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arece ser indiscutível o fato de que o stoner rock vive o seu melhor momento em termos de popularidade, vide a grande quantidade de bandas que surgem a todo o momento apostando no dito estilo. Por mais que isso tenha aspectos positivos, por outro, a grande oferta acaba, de certa forma, nivelando tudo por baixo, já que grande parte desses novos nomes se limitam apenas a emular o que já foi feito por nomes consagrados. Dentro desse panorama, um nome que queira se destacar e não ser apenas mais uma em meio à multidão tem que apresentar algo muito consistente. Esse é o caso do power trio texano Mothership, formado pelos irmãos

Kyle (vocal/baixo) e Kells Juett (vocal/ guitarra) e pelo baterista Judge Smith. Formado no ano de 2010, lançaram dois álbuns de estúdio, Mothership (2013) e Mothership II (2014) e um trabalho ao vivo, Live Over Freak Valley (2016), que ajudaram a sedimentar seu caminho e crescimento dentro do underground, colocando-os em uma posição de cada vez mais destaque dentro da cena. Após a audição de High Strangeness, lançado em março deste ano, não seria exagero da minha parte dizer que esse é o passo que faltava para os colocar um degrau acima, entre os grandes nomes do gênero. Com seus dois pés muito bem fincados nos anos 1970, praticando um stoner/hard com pitadas psicodélicas que surgem para temperar mais esse caldo, o lançamento já chama a atenção de cara por sua belíssima capa. Ao bater


FICHA ORIGEM

Dallas, Texas USA

GÊNERO

Stoner Metal/ Rock

CURRENT MEMBERS

Kyle Juett Bass, Vocals Kells Juett Guitars, Vocals Judge Smith Drums

FORMAÇÃO 2010

MOTHERSHIP HIGH STRANGENESS

2017

RIPPLE MUSIC USA

II (2014)

1 - High Strangeness 3’06” A 2 - Ride The Sun 3’58” A 3 - Midnight Express 4’36” A 4 - Crown Of Lies 5’42” A 5 - Helter Skelter 3’07” A 6 - Eternal Trip 3’48” A 7 - Wise Man 2’42” A 8 - Speed Dealer 6’33”

o olho ali, você já sabe com o que irá se deparar. Se já estiver familiarizado com a discografia do trio, assim que colocar o material para tocar, irá se ligar em um segundo aspecto: esse é um trabalho muito mais “simples” que seus antecessores, já que sua duração fica em torno dos 33 minutos (os anteriores ficavam na casa dos 45). Suas canções, definitivamente, estão mais curtas, diretas e precisas, soando muito mais orgânicas. O álbum abre com a faixa-título, um ótimo e hipnótico prelúdio instrumental que deixa escancarada toda a vibe setentista do trio. Na sequência, “Ride the Sun” chega bem direta, simples, com um riff inicial pra lá de marcante e que gruda na sua cabeça de imediato, assim como o bom refrão. É dessas músicas que cativam o ouvinte já de cara.

I (2013)

“Midnight Express” é uma dessas clássicas faixas do estilo, capaz de te deixar viciado e dona de uma ótima performance na parte rítmica. Aliás, Kyle e Judge, em muitas passagens, conseguem remeter ao melhor do Black Sabbath. “Crown Of Lies” encerra a primeira metade do trabalho e, além de um riff simplesmente esmagador, se mostra bem variada, com várias mudanças de ritmo e um solo muito legal. Não se deixe enganar, apesar do nome, “Helter Skelter”, que abre a segunda metade, não se trata de um cover dos Beatles, mas sim de uma canção própria do Mothership. Ótimos riffs, uma bateria muito forte e um climão bem Kyuss dão o mote em uma das faixas mais enérgicas do trabalho. “Eternal Trip” é um interlúdio instrumental suave e dinâmico, que surge para abaixar um pouco a adrenalina e preparar para o espetacular final. Primeiro, “Wise Man”, simples, direta, com um ótimo riff e uma melodia grudenta. Por último, a espetacular “Speed Dealer”, melhor faixa disparada de todo o trabalho, uma verdadeira viagem pelo que os anos 1970 tinham de melhor para oferecer em matéria de música. Vibrante, viciante e com um belo riff. A produção é excelente, conseguindo emular bem o clima do período, mas sem soar forçado. Tudo é muito honesto e natural aqui. O trabalho vocal é excelente, digno de todos os elogios, assim como a guitarra, que soa 100% verdadeira, saída de um trabalho dos anos 1970. E a parte rítmica, essa brilha durante toda a audição. Equilibrando muito bem peso e melodia setentistas, o Mothership criou um álbum que vai agradar em cheio a fãs de formações como Spiritual Beggars, Fu Manchu, Orange Goblin, Kyuss e outras nessa linha. Certamente um dos grandes álbuns de stoner rock de 2017. OD | A

LINKS https://www.facebook.com/mothershipusa https://ripplemusic.bandcamp.com/ http://www.youtube.com/user/MOTHERSHIPUSA https://twitter.com/mothershipusa http://www.mothershiphaslanded.com/ GOOD MORNING LITTLE SCHOOLGIRL Mothership

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ESPECIAL

UM MERGULHO NA CENA STONER DOOM DO MÉXICO NA PERSPECTIVA DE ROMAN TAMAYO

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POR

Roman Tamayo

Elyson Gums

Correspondente América Latina

Tradução


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ara falar da cena mexicana de hard rock (stoner, fuzz, doom, psych, sludge e mais) temos que olhar para o passado e conhecer os pioneiros desses estilos por lá. Bandas do então chamado “rock chicano”, como Dug Dug’s, El Ritual, La Revolución de Emiliano Zapata, Ciruela, Enigma ou Medusa são chaves para o estabelecimento de uma crescente cena mexicana. Se compararmos a cena deste país com a de outros, como Chile, Brasil ou Argentina, você imediatamente percebe como é pequena. Heavy rock infelizmente é menos ouvido do que outros gêneros, como metal, o chamado “rock na sua língua” (Caifanes, Fobia, Café Tacvba). Mas os pioneiros dos anos 1970 nos ensinaram uma importante lição: toque não importa o quê, mesmo que o mundo diga que a sua música não é boa. O hard rock foi próspero nos anos 1970, mas isso não continuou na década seguinte porque a repressão do governo tornou impossível a existência de várias bandas. Nestes anos, a indústria musical do México apoiou o “Rock en Español” e com isso enterrou muitas boas bandas. Ainda assim, algumas continuaram no underground e outras encontraram suporte em outros países, como Humus, Frolic Froth, Semefo – que teve a chance de trabalhar com Paul Chain e tem fãs como Jus Osborn e Lee Dorrian. Durante os anos 1990, a cena underground era mais focada no metal e no punk. Shows eram feitos em casas ou clubes clandestinos, já que não havia espaço para esse tipo de música. Era difícil até mesmo encontrar álbuns dessas bandas mais pesadas. A troca de fitas, revistas e a criação de fanzines tiveram papel importante para o compartilhamento de música. Não era fácil

FESTIVAL Rock y Ruedas de Avándaro

ter acesso a bandas e palavras como “stoner” ou “doom” não existiam. Nomes como Argentum e Gilgamesh eram o mais próximo de Saint Vitus ou Pentagram na época. Toda cena tem seus pioneiros e, no caso do México, pode-se dizer que The Sweet Leaf e Roots foram as primeiras

a combinar os sons do heavy rock dos 1970 e o psicodélico com os traços de metal que estavam no circuito underground na época. Eram, sem dúvidas, os grupos que tinham mais fãs, porque o trabalho deles era referências para outras bandas criarem sons pesados na veia do Black Sabbath. ODM | A octoberdoom.com

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ESPECIAL

No século 21 houve um aumento nos riffs baixos e psicodelia clássica. Grupos como El Diablo, Drugster Monster, Stonefront e Powertrip fizeram conexões e começaram a tocar onde podiam. Assim, essas bandas ajudaram a criar um “circuito alternativo” focado em stoner rock, doom, psych e mais, mas nunca vendeu o suficiente. Essas bandas fizeram um esforço absurdo porque jogam contra as dificuldades de suas épocas. Algumas ainda tocam, mas a maioria desapareceu. O site Stoner Rock México, criado por Ivan Nieblas, tentou criar uma cena sólida, mas isso nunca aconteceu. Entretanto, a nova geração pôde conhecer bandas antigas e novas do underground. O endereço virtual lançou duas compilações, chamadas “Sound of Mictlan”. Em 2010, o número de grupos cresceu e a cena se solidificou. Os coletivos, blogs, festivais e pequenas gravadoras são muito úteis para a cena: Lxs Grises, Avandadoom, Doomed & Stoned, Hard and Heavy, LSDR, Concreto, Marginal, Kill Pill Klvb, Jergas Fest, etc. Esperamos que a cena mexicana um dia seja tão grande quanto a argentina ou a brasileira em termos de força e organização. BANDAS El Diablo e Kyuss

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FICHA ORIGEM

RESENHAS

Rio de Janeiro Brasil

GÊNERO

Thrash/Death Metal

CURRENT MEMBERS

M. Mictian Bass, Vocals Jedy Nahay Drums Rafael Rassan Guitars

FORMAÇÃO 2016

AGRESSIVIDADE EM FORMA DE MÚSICA DISCO DE ESTREIA DA AFFRONT, ANGRY VOICES MOSTRA O PESO E VIOLÊNCIA DA NOVA SAFRA DO DEATH METAL CARIOCA POR

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Raphael Arízio

raphael@blacklegionprod.com

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lgumas bandas já nascem grandes e com grandes expectativas sobre seu trabalho. Podemos incluir os cariocas do Affront nessa categoria. Após uma pausa do Unearthly, seu fundador e baixista, M. Mictian, agora também vocalista, começou essa nova empreitada com o guitarrista R. Rassan (também do Imago Mortis), e de Jedy Najay na bateria. O trio nos apresenta um death metal assassino com doses cavalares de thrash metal. O disco Angry Voices chegou para firmar seu nome no underground carioca com força. O disco foi produzido por Mictian e Rassan, e a dupla acertou em cheio com um som matador e sujo, mas completamente audível. A capa ficou a cargo de Marcelo Vasco, que apresentou mais uma vez uma bela arte. A porradaria tem começo com a faixa “Scum of the World”, com seus

riffs secos e brutais e um baixo homicida. Não podemos deixar de perceber logo de cara que Mictian se mostra um ótimo vocalista. A letra que fala sobre a podridão da Igreja e da política, e como conseguem dinheiro a qualquer custo, é um dos maiores destaques do disco. A faixa-título é mais direta e com uma brutalidade abundante, com riffs igualmente pesados e com certeza resultarão em rodas gigantes quando tocada ao vivo, tamanha sua qualidade e brutalidade. A música que batiza a banda, “Affront”, possui arranjos muito bem feitos, com grande destaque ao batera Jedy Najay. A porradaria aqui come solta e mostra que esses cariocas não economizaram esforços para impressionar em seu primeiro lançamento. “Conflicts”, com sua letra sobre manifestações contra governos corruptos, é mais cadenciada com Mictian se destacando com vocalizações brutais. Alguns toques diferenciados nos arranjos se mostram certeiros nessa faixa. A instrumental “Guerra sem Males”,


AFFRONT 2016

ANGRY VOICES

CIANETO DISCOS BRA 1 - Scum of the World A 2 - Angry Voices A 3 - Affront A 4 - Conflicts A 5 - Terra sem Males (Guerra Guaranítica) 6 - Mestre Barro A 7 - Religions Cancer A 8 - Under Siege A 9 - Carved in Stone A 10 Wartime Conspiracy A 11 - Echoes of the Insanity A 12 - Under Siege (Participação especial: Marcelo Pompeu)

com seu instrumental todo gravado por Mictian, é uma homenagem à Guerra Guaranítica, violentos conflitos dos índios guaranis contra tropas espanholas e portuguesas, ocorrida após a assinatura do tratado de Madri, em 1750. “Mestre do Barro”, totalmente cantada em português e que conta a história do escultor nordestino Mestre Vitalino, considerado um dos maiores artistas da arte no barro no Brasil, é o maior destaque de todo disco. Com diversas influências diferentes como, por exemplo, hardcore e música regional brasileira, misturadas ao death e thrash da Affection. “Religions Cancer” retorna à brutalidade death metal com riff bem thrash, algo que a banda consegue fazer com maestria em todas as faixas. O trabalho de guitarra, não só nessa faixa, mas em

todo o disco, é digno de respeito. “Under Siege” foi a escolhida para ser o primeiro vídeo lançado pela banda com seu death/thrash cativante. “Carved in Stone” é a faixa mais cadenciada de todo o disco. Seus momentos arrastados não deixam o peso de lado. Bateria e baixo fazem um trabalho conjunto muito bem feito e digno de destaque. A brutalidade volta em “Wartime Conspiracy”. Uma das mais rápidas de todo o disco, com bateria massacrante e ótimos riffs de guitarra. Alguns momentos mais trabalhados e melódicos quase passam despercebidos em meio à brutalidade death metal da faixa. A instrumental “Echoes of the Insanity” termina o tracklist normal do disco, dessa vez apenas com baixo e violão. Algumas influências de flamenco são sentidas nessa faixa.

Como bônus, temos novamente “Under Siege”, mas dessa vez com a participação do lendário vocalista do Korzus, Marcello Pompeu. A faixa que já era um destaque ficou ainda melhor com a mistura do vocal de Mictian com o som característico de Pompeu. O que acabou por dar uma mistura interessante que casou perfeitamente com a música. Affront estreou de maneira mais certa possível. Um ótimo disco, com uma produção impecável e com ótimas músicas com diversas influências. Algo que mostra que a banda já demostrou ter uma característica própria digna dos grandes nomes do metal nacional. Uma das melhores revelações do metal nacional nos últimos anos com certeza. ODM | A

LINKS https://www.facebook.com/affrontmetal/ https://www.youtube.com/channel/ UCSh4nTTArb8RgtDGJEyG7PQ/videos UNDER SIEGE Affront

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AGENDA AGENDA OCTOBER DOOM Uma seleção dos melhores eventos, festivais e shows que acontecem durante os próximos dias.

DIVULGUE SEU EVENTO Envie para nossa redação, as informações e links.

contato@octoberdoom.com.br

FESTIVAL NOITE DO DESERTO

FEST

14 JUN 22H O Festival Rock do Deserto já se tornou um evento tradicional da cena stoner mineira, e a “Noite no Deserto” funciona meio que como um aquecimento para o fest. Este ano, o rolê contará com as bandas Hammerhead Blues, More Beer e Utaz.

STONEHENGE ROCK BAR BELO HORIZONTE/MG https://www.facebook.com/events/1857797671209810

ABRAXAS & SPEED ROCK

17 JUN 22H Abraxas & Speed Rock levam para O Pecado Mora ao Lado uma noite grosseira embalada pelo stoner com as bandas Gods & Punks, Miss Hell e Tempo Plástico.

O PECADO MORA AO LADO – RIO DE JANEIRO/RJ

FLORIPA NOISE

15 JUN 21H O Floripa Noise apresenta as bandas Muñoz e Mar de Marte, que trazem suas paisagens sonoras em forma de psicodelia.

CÉLULA SHOWCASE – FLORIANÓPOLIS/SC https://www.facebook.com/events/115906172324843

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https://www.facebook.com/ events/305610299875191

DOOM OVER BH 2017

23 JUN 22H

STONEHENGE ROCK BAR BELO HORIZONTE/MG

O festival é dedicado às tendências mais pesadas, arrastadas e chapadas da música pesada, como doom, sludge, stoner e afins, e nesta edição traz as bandas Carahter, Pesta e The Evil. https://www.facebook.com/events/1959589000938389


Não nos responsabilizamos por mudanças ocorridas na programação

Na edição de comemoração de aniversário da Doom Nation, o duo Cassandra deixa o frio curitibano pra se esquentar na garoa paulista, na companhia das bandas Macchina e Bears Witness.

FEST

30 JUN 22H

DOOM NATION EDIÇÃO DE ANIVERSÁRIO

DISSENSO LOUNGE - SÃO PAULO/SP https://www.facebook.com/events/1711347999157598

LIBERATION FESTIVAL

SON OF A WITCH, PESTA E GRINDHOUSE EM SP

25 JUN 17H

01 JUL 20H

O fest que traz o lendário King Diamond para uma apresentação incrível tem ainda em seu line-up as bandas Lamb of God, Carcass, Heaven Shall Burn e a brasileira Test.

ESPAÇO DAS AMÉRICAS – SÃO PAULO/SP

ROCK TOGETHER STUDIO SÃO PAULO/SP Num encontro de bandas de três estados diferentes, os locais do Grindhouse recebem os potiguares do Son of a Witch e os mineirinhos do Pesta.

https://www.facebook.com/events/1788084738082925/ https://www.facebook.com/events/442467596099437


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