Boletim Extraordinário da Editora Secreta

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Textos, desenhos e direção de arte: Odyr - Dez. 2010




cartas do front

Amigo, colegas, gentis estranho(a)s: Reza a anedota familiar de que eu arrastava livros pela casa antes de saber ler. Desenhava neles ou fingia ler para impressionar a empregada. (Eu sei, é lamentável.) Cresci numa casa com livros. E brincando na tipografia do meu pai, entre montanhas de papel e máquinas que pareciam robôs do século XIX. Não é de se espantar que eu acabasse fazendo livros. Começei desenhando nos livros, acabei desenhando livros, como diretor de arte. Agora, como quadrinista, desenho histórias que viram livros. O primeiro, Copacabana, com roteiro de Lobo, lancei em 2009 pela Desiderata. O segundo, com roteiro de Angélica Freitas, vai sair pela Companhia das Letras, em 2011. Mas livros demoram. Anos, como você vê. Com um desejo de publicar de forma mais imediata, relatos curtos ou continuados e de criar objetos interessantes impressos,

criei uma editora. A Editora Secreta. Não é (só) uma gag, ela existe legalmente, ainda que sem sede, capital, posses, meios ou qualquer outro eufemismo para dinheiro. É uma editora de autor e do autor. Numa versão gentil dos futuros possíveis, quiçá ela poderia editar colegas talentosos. Mas por enquanto, esse boletim pneumático ilustrado, impresso em pixels, é sua primeira comunicação com seus leitores imaginários. Saludos. Odyr Editor invisível



www.oinstrumento.wordpress.com

Um folhetim


O instrumento Novela de formação, autobiografia inventada, diário do artista; O Instrumento é um experimento e uma história em construção. É um experimento para mim como história, porque está sendo escrita enquanto está sendo es-

crita e um experimento com o formato de publicar online. Que vem do meu desejo de fazer mais curto o caminho entre minha mesa e o leitor. Que assim pode ver o que estou desenhando agora e não em um ou dois anos no futuro, essa incógnita.


Boletim Extraordinário

A história, que por nenhum motivo explicável, se passa em um século XIX inventado, toma o instrumento literal como metafórico e se move ao redor do processo de se tornar um artista. Começou como uma fábula mui-

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to breve, contada na linguagem mais mínima, mas mas quando entendi do que se tratava, não consegui ver um fim à vista para ela. Então, ela vai ser criada em público, como os artistas são. No ar dia 06 de dezembro.

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O instrumento

Making of

(Express達o pavorosa.)


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O instrumento Making of

Um dos problemas de desenhar uma história em ordem são as transformações que seu desenho inevitalmente sofre. O prólogo tinha uma linguagem tanto verbal quanto visual extremamente minimalista. Os esboços eram torturados como sempre, mas a finalização pretendia eliminar tudo isso numa síntese olímpica. Poucos dias depois meu eu real assumiu a história e foi-se a limpeza.


Boletim Extraordinário

Depois uma aguada apareceu do nada. Depois manchas, ruído, imprecisões. Lá pelas tantas você se conforma em ser quem você é. Mas é mais do que isso - é parte de um processo pelo qual estou passando de aceitar a imperfeição, o lápis difuso, a mão que borra.

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E de, em última instância, parar de apagar meus rastros, abandonar essa prática envergonhada dos quadrinhos de esconder seu processo. E publicar quadrinhos que não escondem que foram feitos por humanos.


O instrumento Making of


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Mas o Houdini não era mágico? Ele era. E uma figura fabulosa, que já gerou uma quantidade de livros, filme e histórias em quadrinhos. E levou meus primeiros leitores, aqueles que pegam os originais nas mãos, a me fazer a pergunta acima, que também pode lhe ocorrer, já nas primeiras páginas. Essa não é, não pretende em absoluto, ser uma história sobre Houdini.

Houdini é tomado aqui como o que ele já é - um personagem de nosso imaginário, vago e amplo como Robin Hood ou o Lobo Mau. Me veio por acaso, mas gosto do deslocamento, do procedimento surrealista clássico de substituição. Aliás, vale dizer, também não é uma história sobre música. Melhor ler e decidir sobre o que é.





Post Scriptum: Essa foi a edição inaugural e monoteísta do boletim. É também uma espécie de carta para os amigos, dizendo que estou feliz em meu estúdio no fim do mundo, trabalhando muito. Tenho vários projetos em andamento, mas eles são longos, então o boletim, a história online e a editora são maneiras de compartilhar coisas que ainda vão levar um tempo para existir fisicamente. É um momento incrível para os quadrinhos no Brasil e estou feliz de fazer parte dele. Gostaria que a próxima edição fosse mais ecumênica e fizesse um pouco por colegas talentosos o que fiz aqui por mim - reportar do front onde são produzidas as narrativas gráficas do futuro. Mas vou evitar fazer promessas aqui. Nos vemos quando nos vermos. Um 2011 fabuloso a todos.





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