O Estado Verde - Edição 22403- 09 de dezembro de 2014

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ANO VI - EDIÇÃO No 367 FORTALEZA - CEARÁ - BRASIL Terça-feira, 9 de dezembro de 2014

AGROTÓXICOS

Somos os maiores consumidores

Usar químicos para controlar pragas e doenças, é uma prática comum em fazendas do mundo inteiro. Mas, atualmente, os campeões mundiais no uso de agrotóxicos são os brasileiros, cabendo a cada um o consumo médio de 5,2 litros de veneno agrícola por ano. Páginas 6 e 7

MUDANÇA CLIMÁTICA

ÁGUA

São 33 páginas elaboradas por negociadores, reunidos em Lima. O “paper” apresenta diversos elementos que deverão estar presentes no novo acordo e dá opções para o País escolher, na hora da discussão diplomática. Página 3

Sobre a seca, o problema da escassez do recurso hídrico em São Paulo, é muito mais do que uma crise hídrica. A má gestão da Sabesp é apenas uma, dentre as causas dos extremos que a seca tem imposto em grande parte de nosso País. Página 12

COP 20 divulga primeira versão do novo acordo climático

Mais do que uma crise hídrica, uma crise ambiental


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VERDE

Coluna Verde TARCILIA REGO tarcilia_rego@terra.com.br

POR QUE TANTO VENENO?

O Brasil é campeão mundial no uso de agrotóxicos. De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e com a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), é preciso se “mobilizar frente à grave situação em que o Brasil se encontra, de vulnerabilidade relacionada ao uso massivo de agrotóxicos”. A opção clara da política agrícola brasileira pelo agronegócio é a grande responsável pela situação. Em 2013, o mercado de agrotóxicos rendeu US$11,5 bilhões. O lucro se concentra em seis grandes empresas transnacionais: Monsanto, Basf, Syngenta, Dupont, Bayer (fabricante do gás letal usado pelos nazistas) e a Dow, que até hoje não reconhece sua responsabilidade sobre Bhopal. CLIMA Por solicitação do deputado Sarney Filho (PV-MA), a Comissão do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável promove audiência pública, quinta-feira (11), para discutir o 5º Relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), da ONU, divulgado em novembro. Para o parlamentar, a situação é urgente e evidencia que a emissão de GEE´s tem aumentado em função do crescimento econômico e populacional. As mudanças climáticas têm alcançado níveis sem precedentes nos últimos 800 anos, desde a era pré-industrial, mostrando que, apenas entre 2000 e 2010, a produção de energia por queima de combustíveis fósseis, foi a responsável por 47%, a indústria por 30%, o transporte por 11% e as construções por 3% das emissões globais dos gases responsáveis pelo efeito estufa. 7 CEARÁS Foi com prazer que participei como representante da sociedade civil, através do INVEXP, braço de responsabilidade social do jornal O Estado, dias 2,3 e 4 de dezembro, no Centro de Eventos, do Seminário 7 Cearás - Consolidação e Validação das Propostas do Plano de Governo do recém-eleito governador, Camilo Santana. Trabalhei no Grupo Ceará Sustentabilidade e ali, no subgrupo Energia. Tive oportunidade de interagir com excelentes profissionais da área de meio ambiente, com atuação no setor público e privado, empenhados na construção de um novo Ceará. Valeu! DESASSOSSEGO Festa da Praia Principal da Vila de Jerico-

Verde

acoara poderá não acontecer. A justificativa é a poluição sonora. O parecer do Ministério Público do Estado do Ceará, através da Promotoria de Justiça de Jijoca de Jericoacoara, atende a Ação de Obrigação de Não Fazer, movida pela Associação das Pousadas de Jericoacoara (Apjeri) contra a Associação de Vendedores Ambulantes de Bebidas e Lanches de Jericoacoara. Segundo a Apjeri, além do excesso do ruído, o evento traz transtornos de todas as ordens aos moradores e hóspedes de Jeri, como poluição da praia, falta de segurança pública, perturbação ao sossego e poluição sonora. Quem dera o MP tenha o mesmo olhar para o que acontece na Praia de Iracema, nada diferente de Jeri. Morar nesta região, especialmente, próximo ao Aterrinho, virou pesadelo, não temos, sequer, muitas vezes, o direito de dormir ou transitar livremente pelas ruas do bairro. No último 30/11, os moradores do entorno foram acordados às 6h30 da manhã, com um som ensurdecedor, transmitindo o Circuito Sesi 2014. Foram duas horas de zoada, o “cerimonialista” mais parecia transmitir um rodeio... Ainda tem gente que associa o evento à Responsabilidade Social. BOLSA FAMÍLIA São Paulo vai acolher estrangeiros no programa federal. A medida pode beneficiar até 50 mil imigrantes, entre haitianos, bolivianos, paraguaios, peruanos, e africanos de diversas nacionalidades. Reflexão: “Um bom chefe faz com que homens comuns façam coisas incomuns.” Peter Drucker.

AGENDA VERDE 09 DE DEZEMBRO DE 2014 Dia Internacional Contra a Corrupção

• Hoje o mundo todo reflete sobre a Corrupção lembrando que, enquanto houver corrupção, não haverá desenvolvimento, muito menos justiça social. Para o Secretário Geral da ONU, Ban Ki-Moon, “a corrupção é uma barreira para conquistar os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio e precisa ser levada em conta na definição e implementação de uma forte agenda de desenvolvimento pós-2015”.

10 DE DEZEMBRO DE 2014 Dia da Declaração Universal dos Direitos Humanos

• 10 de dezembro é o Dia Internacional dos Direitos Humanos. A data foi instituída em 1950, dois anos após a Organização das Nações Unidas (ONU) adotar a Declaração Universal do Direitos Humanos (DUDH) como marco legal regulador das relações entre governos e pessoas. Com esse ato, mais do que celebrar, a ONU visava destacar o longo caminho a ser percorrido na efetivação dos preceitos da declaração. A Declaração é um documento marco na história da humanidade. Elaborada por representantes de diferentes origens jurídicas e culturais de todas as regiões do mundo, foi proclamada pela Assembleia Geral ONU, em Paris, em 10 de dezembro de 1948, através da Resolução 217. Ela estabelece, pela primeira vez, a proteção universal dos direitos humanos. Portanto, neste 10 de dezembro, façamos uma reflexão sobre o papel a ser exercido pelo cidadão, pelo Estado, enfim, por cada um de nós no avanço e na efetivação das garantias consolidadas pela Declaração dos Direitos Humanos.

11 DE DEZEMBRO DE 2014 Dia Internacional das Montanhas

• Data foi instituído pela Assembleia Geral das Nações Unidas. É um dia importante para celebrar a conservação e desenvolvimento das montanhas, de forma equilibrada.

14 DE DEZEMBRO DE 2014 Dia do Engenheiro da Pesca

• O profissional foi homenageado no Brasil, pela primeira vez, de forma oficial, em 2013. A homenagem foi garantida no calendário cívico brasileiro pela presidente Dilma Rousseff, ao sancionar em junho de 2013, a Lei de nº 12.820. A data é uma alusão à colação de grau da primeira turma de engenheiros de pesca no País, em 1974, em Pernambuco..

15 DE DEZEMBRO DE 2014 Dia do Jardineiro

• Um jardim bem cuidado atrai animais e colabora para a proteção do meio ambiente. Ao cultivar árvores e plantas, é possível contribuir para a melhora dos problemas ambientais enfrentados pelo planeta. A profissão de jardineiro, apesar de antiga, passou a ter importância econômica no Brasil, somente nos últimos 25 anos. Parabéns aos jardineiros que embelezam a cidade.

O “Verde” é uma iniciativa para fomentar o desenvolvimento sustentável do Instituto Venelouis Xavier Pereira com o apoio do jornal O Estado. EDITORA: Tarcília Rego. CONTEÚDO: Equipe “Verde”. DIAGRAMAÇÃO E DESIGN: Rafael F. Gomes. MARKETING: Pedro Paulo Rego. JORNALISTA: Jessica Fortes. TELEFONE: 3033.7500 / 8844.6873


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VERDE

MUDANÇA CLIMÁTICA

COP 20 divulga primeira versão do novo acordo climático em Lima

São 33 páginas elaboradas por negociadores, reunidos no Peru. Mas para Christina Figueres, os cortes nas emissões já feitos ou previstos, não vão conter o aquecimento em 2ºC até 2050 DIVULGAÇÃO

POR TARCILIA REGO tarciliarego@oestadoce.com.br

A

capital Lima, do Peru, está sendo a capital global dos esforços contra as mudança do clima. Na manhã de ontem (8), representantes de 190 países reunidos na Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas divulgaram a primeira versão do rascunho do acordo global para reduzir emissões de gases-estufa e, com isso, conter os efeitos da mudança climática no planeta. O texto, de 33 páginas, foi elaborado pelos copresidentes da COP a partir dos negociadores. Eles negociam desde o último dia primeiro. O “paper” apresenta diversos elementos que deverão estar presentes no novo acordo e dá opções para o país escolher na hora da discussão diplomática. O texto base do “novo protocolo”, instrumento legal ou resultado acordado com força legal terá que ficar pronto até maio de 2015 e deverá incluir disposições sobre corte de emissões de gases, adaptação à mudança climática, reparação por perdas e danos causados por desastres naturais, finanças, desenvolvimento e transferência de tecnologia, capacitação e transparência de ação e apoio. O novo tratado substituirá o de Kyoto e tem que ser assinado em 2015, na COP 21, em Paris, e entrar em vigor em 2020. O principal objetivo da 20ª Conferência das Partes (COP 20) da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima,

sem dúvidas, é produzir um novo tratado que vai substituir, a partir de 2021, o Protocolo de Kyoto, criado em 1997 para obrigar nações desenvolvidas a reduzir suas emissões em 5,2%, entre 2008 e 2012, em relação aos níveis de 1990. O novo texto precisa ser finalizado e aprovado pelos governos até a próxima Conferência do Clima, que acontece daqui a 12 meses, em Paris. CENÁRIO Até a definição do novo documento final, muitas interrogações serão colocadas: Quanto cada país terá que cortar de emissões? Que governos precisarão receber ajuda por danos sofridos em desastres naturais ou para a prevenção deles? Quanto de dinheiro será doado? De onde virá o investimento? Como será o desenvolvimento ou a transferência de tecnologias voltadas à redução das emissões? Como as nações vão se adaptar a uma possí-

vel nova realidade climática? A meta é sair do Peru com o rascunho do novo acordo global, mas para tal as questões acima e muitas outras ainda devem ser discutidas e definidas. E é a partir de hoje (9), que as negociações entram em uma nova fase, com a participação dos ministros de Estado em um cenário que parece favorável se consideramos que os dois maiores emissores de gases de efeito estufa do planeta, a China e os Estados Unidos, apresentaram compromissos importantes rumo a uma redução substancial de suas emissões nas próximas décadas. BRASIL Mesmo que esses anúncios não sejam tão ambiciosos como o necessário, eles são sinais importantes da disposição desses países para enfrentar o desafio climático. Neste contexto a ministra do Meio Ambiente do Brasil, Iza-

bella Teixeira, confirmou presença na conferência de Lima. Mas, o contexto brasileiro não é tão favorável, a partir dos dados do Sistema de Estimativa de Emissões de Gases do Efeito Estufa (SEEG), as emissões do País aumentaram 7,8% em 2013, mesmo com o baixo crescimento apresentado pelo país no ano passado (2,6%). AQUECIMENTO NÃO SERÁ CONTIDO Segundo o IPCC, é preciso diminuir entre 40% e 70% do total de gases lançados até 2050 e zerar essa taxa até 2100. Em entrevista ao Portal G1, secretária-executiva das Nações Unidas para o Clima, Christina Figueres, disse que os esforços apresentados até o momento por diversos países, incluindo Brasil, não “fecham a conta do clima”. Ou seja, os cortes nas emissões já feitos (incluindo as metas voluntárias ou cumpridas dentro do Protocolo de Kyoto) ou previstos pelos governos não vão conter o aquecimento em 2ºC até 2050. Gases de efeito estufa como o dióxido de carbono (CO2) são liberados, principalmente, na queima de combustíveis fósseis, mas também com o desmatamento e outras atividades humanas. Caso isso não seja reduzido, segundo o IPCC, fenômenos extremos como secas, enchentes, degelo dos polos e aumento do nível dos mares serão mais frequentes. A temperatura média da Terra já subiu 0,85ºC com relação à era pré-industrial.


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FORTALEZA

Cidade ganha nova casa de espetáculos

PRINCÍPIO DA PARTICIPAÇÃO POPULAR NA PROTEÇÃO DO MEIO AMBIENTE THIAGO GASPAR

Empreendimento no Shopping RioMar Fortaleza conta com capacidade superior a 900 pessoas. Ainda tem locais destinados aos portadores de deficiência e obesos

O Teatro Rio Mar Fortaleza já está funcionando. A nova casa de espetáculos inaugurada no último dia 5/11 dentro do shopping, recém-aberto na Cidade, na região do Papicu, é uma parceria entre a Opus Promoções e o Grupo JCPM (João Carlos Paes Mendonça). Com capacidade superior a 900 pessoas, mais de 4 mil metros quadrados de área total, bar, chapelaria e recursos técnicos e acústicos que seguem aos padrões de qualidade O novo espaço, composto por três setores, Plateia Baixa A, Plateia Baixa B, e Plateia Alta, ainda conta com locais

CURIOSIDADE

• A palavra “teatro” deriva dos verbos gregos “ver, enxergar” (theastai). Na Grécia antiga, os festivais anuais em homenagem ao deus Dionísio incluíam a representação de tragédias e comédias. A seguir, todos os papéis eram representados por homens, pois não era permitida a participação

SERVIÇO

destinados aos portadores de deficiência e obesos. Inicialmente, teatro, irá operar em sistema de Soft Opening, período de testes e ajustes, para garantir a excelência técnica, acústica e operacional do teatro. Marcando o início das apresentações no novo palco, o musical para toda a família, Branca de Neve, foi exibido nos dias 05, 06 e 07 dezembro. Para 2015, de janeiro a março, estão previstos seis espetáculos na programação, que serão confirmados em breve, como informa a assessoria de imprensa.

de mulheres. O espaço utilizado para as apresentações, em Atenas, era somente um grande círculo. Com o passar do tempo, o teatro grego se profissionalizou e surgiram os primeiros palcos elevados. O teatro chegou a ser considerado uma atividade pagã por força do Cristianismo.

Teatro RioMar Fortaleza Rua Desembargador Lauro Nogueira, 1500 Piso L3 - Shopping RioMar Fortaleza – Papicu Fortaleza – CE (próximo à Praça de Alimentação). www.teatroriomarfortaleza.com.br

A Constituição de 1988 possui dispositivos que lhe asseguram programaticamente o epíteto que lhe deu o líder-mor da Constituinte, deputado Ulysses Guimarães, de “Constituição Cidadã”. A Lex Magna em vigor ampliou sobremodo os mecanismos de participação popular que permitem à sociedade uma atuação em defesa dos seus sagrados direitos. O meio ambiente ganhou um espaço nunca dantes observados nas Cartas Constitucionais republicanas. Ali estão assentados direitos de proteção do meio ambiente, sedimentando o liame com a legislação infraconstitucional posterior, aí ressaltadas as previsões expressas no Princípio nº 10 da Declaração do Rio de Janeiro sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, resultante da Conferência realizada na ex-capital da República em 1992. FUNDAMENTOS ESPECÍFICOS Como se tem lembrado à saciedade, a Constituição Federal do Brasil estabelece no artigo 225 os fundamentos específicos em matéria de meio ambiente, em decorrência do qual ficam assentados os direitos de todos a um meio ambiente ecologicamente equilibrado, em face do que fica estabelecido um regime jurídico define ser o meio ambiente um bem de uso comum do povo brasileiro. É, portanto, o artigo anteriormente citado que assenta a base da normatização e dos regramentos que autorizam a atuação da coletividade na proteção do meio ambiente. E mais que isto, impôs à sociedade o dever de agir para defender e preservar o nosso ecossistema. MECANISMOS DE PARTICIPAÇÃO O Direito brasileiro reconhece, em essência, três mecanismos que permitem a participação direta da população na proteção da qualidade ambiental. Em primeiro lugar, pela participação nos processos de criação do Direito Ambiental, com a iniciativa popular nos procedimentos legislativos (art. 61, caput e § 2º, da CF e arts. 22, inc. IV, e 24, § 3º, I, da CE), a realização de referendos sobre leis (art. 14, inc. II, da CF e art. 24, § 3º, inc. II, da CE) e a atuação de representantes da sociedade civil em órgãos colegiados dotados de poderes normativos (p. ex., o Conama - art. 6º, inc. II, da Lei 6.938/81, com redação dada pela Lei 7.804/89 e alterada pela Lei 8.028/90). JORNALISTA E ESCRITOR

REPRESENTAÇÃO DA SOCIEDADE Em segundo lugar, a sociedade pode atuar diretamente na defesa do meio ambiente participando na formulação e na execução de políticas ambientais, por intermédio da atuação de representantes da sociedade civil em órgãos colegiados responsáveis pela formulação de diretrizes e pelo acompanhamento da execução de políticas públicas; por ocasião da discussão de estudos de impacto ambiental em audiências públicas (art. 11, § 2º, da Resolução 001/86 do Conama e art. 192, § 2º, da CE) e nas hipóteses de realização de plebiscitos (art. 14, inc. I, da CF e art. 24, § 3º, 3, da CE). PARTICIPAÇÃO DIRETA O terceiro mecanismo é a participação popular direta na proteção do meio ambiente por intermédio do Poder Judiciário, com a utilização de instrumentos processuais que permitem a obtenção da prestação jurisdicional na área ambiental (entre todos, o mais famoso deles, a ação civil pública ambiental da Lei 7.347/85). Ainda dentro do tema da participação popular direta na defesa do meio ambiente, importa destacar os seus dois pressupostos fundamentais: a informação e a educação. Sem informação consistente e correta; e sem uma boa educação ambiental, dificilmente alcançaremos a curto ou médio prazo os objetivos almejados pela sociedade e definidos na Constituição.


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EXPOCATADORES 2014

Termina em SP encontro dos agentes da reciclagem do País

Participaram mais de quatro mil catadores de recicláveis e especialistas em gestão de resíduos sólidos, do Brasil e da América Latina. Lula e Dilma também compareceram POR TARCÍLIA REGO*

PAULO LOPES

O

tom foi de valorização profissional. Participantes do Brasil e de outros países fizeram, mais uma vez da Expocatadores o grande encontro anual de catadores de todo o Brasil. A 5ª edição do evento recebeu, também a presidente Dilma Rousseff e o ex- presidente Lula da Silva. Nos três dias de programação (1, 2 e 3) a valorização profissional e o fortalecimento da cadeia produtiva de materiais recicláveis de forma sustentável e inclusiva ficaram no centro das discussões. As atividades ocorreram no Parque Anhembi, em São Paulo, com o objetivo de despertar novos negócios para cooperativas e redes de catadores. Em todo o País, segundo estimativas do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR), existem cerca de um milhão de catadores. A Expocatadores 2014 recebeu catadores de 14 países da América Latina, Caribe, Ásia, África e Europa, além de dez mil visitantes diários. No ultimo dia do evento (03/12), aconteceu a tradicional Solenidade de Natal dos catadores e da população em situação de rua, com presença da presidente Dilma. Após participar de reunião com o MNCR e Movimento Nacional da População de Rua, onde recebeu as pautas de reivindicações para a sua próxima gestão, a presidenta ocupou o palco da plenária principal ao lado de diversas autoridades e enfatizou o padrão de organização conquistado pelo Movimento ao longo dos últimos anos. DILMA Dilma reconheceu que ainda há um caminho de aperfeiçoamento a ser percorrido por todos os agentes do Programa, mas reafirmou as conquistas já obtidas. “Acredito que nós atingimos um padrão importante. O Cataforte tornou o Brasil diferenciado no mundo em re-

lação aos resíduos. É cada vez mais importante darmos continuidade a ele”. Segundo a Presidente, as cooperativas devem ter a mesma importância econômica que as pequenas empresas e o engajamento das prefeituras é essencial para o sucesso das políticas públicas de resíduos em âmbito nacional. O Cataforte é um programa desenvolvido pela Secretaria Nacional de Economia Solidária (Senaes) e a Fundação Banco do Brasil, promove ação de formação e assessoria técnica para o setor de reciclagem dos resíduos sólidos e já beneficiou mais de 12 mil catadores de materiais recicláveis. A chefe de Estado também homenageou a presidente da Cooperativa de Ourinhos, Matilde Ramos, a primeira organização de catadores do Brasil a ser contemplada pelos recursos do Cataforte III. “A Dilma está mais próxima de nós e deixou claro a vontade de continuar apoiando os catadores”, comemorou a catadora Matilde. Dilma também, recebeu reivindicações de catadores e população de rua na Expocatadores 2014. LULA O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva também participou do encontro e afirmou que, se morresse naquele mo-

mento, estaria feliz pela organização a que chegaram os catadores de materiais recicláveis nesses 12 anos, contra todos os que os desprezavam. “Catar papelão na rua é muito mais digno do que jogar”, disse, destacando a importância do trabalho ambiental dos catadores, ainda pouco reconhecido no País. “A profissão de vocês não é menor que a do médico, nem que a do engenheiro”, completou Lula, destacando o valor do catador, durante abertura da Expocatadores 2014, dia 1º de dezembro, em São Paulo. Lula ressaltou que os trabalhadores não devem se deixar levar por discursos antipolítica e que se mantenham firmes e organizados. “A gente só faz mesmo se a gente for cobrado. O mundo é assim”, explicou, comentando que tanto a Presidente Dilma quanto o prefeito receberão muitas reivindicações. Mas depois vão a outras reuniões e vão receber mais pedidos. “O mais esperto é o que ganha. E quem é o mais esperto? É o que cobra”, completa. O integrante da coordenação nacional do MNCR, Roberto Laureano reiterou que o Movimento acredita e defende o atual projeto político federal. “É a Presidência olhando para nós, mostrando que existimos. Queremos que os catadores continuem sendo

protagonistas desse processo e que os municípios não precisem pensar em incineração”. Ele agradeceu, também, a “audácia” da presidente Rousseff, ao dizer não à prorrogação do fim dos lixões. “Isso é a demonstração de que o Governo está conosco”. SAIBA MAIS O evento contou ainda com feira de negócios, debates, seminários gratuitos, oficinas, exposição de artes e ações educativas. Os catadores tiraram 2014 como o Ano da Reciclagem Popular. O movimento conta com o programa da reciclagem popular, que engloba todo um processo de organização dos catadores, que envolve investimentos e investimento direto. A proposta da reciclagem popular aborda a mesma metodologia da agricultura familiar, aonde o recurso vai direto ao produtor em família até aqueles organizados em cooperativa ou outro tipo de organização. Em 2014 venceu o prazo para que as cidades brasileiras elaborassem seus planos de gestão de resíduos sólidos. Mais da metade das prefeituras não conseguiram eliminar os lixões. Estima-se que o Brasil produza cerca de 190 mil toneladas de lixo por dia. *Com informações do MNCR RICARDO STUCKERT/INSTITUTO LULA


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AGROTÓXICO

Brasileiro consome 5,2 litros da substância por ano A informação foi divulgada por ambientalistas, quando foi celebrado o Dia Internacional da Luta contra os Agrotóxicos, no último 3 de dezembro. A data lembra a tragédia de Bhopal

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guerra do homem contra as pragas e doenças que atacam as lavouras, parece não ter fim. Como toda guerra, ela tornou-se um negócio, legítimo para os fabricantes das “armas”, chamadas de venenos agrícolas, agrotóxicos ou defensivos agrícolas. Na última década, elas têm ficado cada vez mais potentes, porém, com efeitos colaterais indesejáveis para os produtores, consumidores e para o meio ambiente, por isso foi necessário redobrar os cuidados com seu uso. BHOPAL Usar agrotóxicos para controlar pragas e doenças, é uma prática comum em fazendas do mundo inteiro. Mas, o Brasil é, atualmente, o campeão mundial no uso de agrotóxicos, cabendo a cada brasileiro o consumo médio de 5,2 litros de veneno agrícola por ano. O dado foi divulgado na última quarta-feira (3) por ambientalistas, quando foi celebrado o Dia Internacional da Luta contra os Agrotóxicos. A data lembra a tragédia ocorrida há 30 anos, na cidade de Bhopal, na Índia, quando uma fábrica da Union Carbide, atual Dow Chemical, explodiu, liberando toneladas de veneno no ar, matando nas primeiras horas duas mil pessoas e vitimando de forma fatal, outras milhares, nos dias seguintes. IMPACTOS Pelo ar, por terra, em diversas formulações e preparos. Os agrotóxicos fazem parte do pacote tecnológico usado na maioria das propriedades rurais brasileiras. Com o crescimento da agricultura, na última década, a venda desses produtos no País aumentou consideravelmente, situação que vem preocupando os profissionais da saúde. “Nós estamos na liderança como os maiores consumidores de agrotóxicos no mundo. Isso por conta do agronegó-

DIVULGAÇÃO

cio. Este modelo que tem sido adotado oferece vários danos tanto a saúde humana, como à biodiversidade”, explica a professora e pesquisadora, Raquel Rigotto, do Departamento de Saúde Comunitária da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará. Os impactos à saúde pública são vários porque atingem amplos territórios e envolvem diferentes grupos populacionais como trabalhadores em diversos ramos de atividades, moradores do entorno de fábricas e fazendas, além de todos nós que consumimos alimentos contaminados de acordo com Rigotto que, também, coordena o reconhecido Núcleo Tramas (Trabalho, Meio Ambiente e Saúde). Além disso, a pesquisadora ressalta que o meio ambiente também é fortemente impactado, com a extinção em massa de diversas espécies de insetos, como abelhas, repercutindo na baixa polinização das plantas e na produção de mel. Também as águas são contaminadas com moléculas absorvidas pelos animais e pelo ser humano, levando a uma série de doenças, que podem ser passadas das mães para os filhos.

AGRICULTURA FAMILIAR Uma alternativa ao não uso dos agrotóxicos é investir na agricultura familiar, que segundo Raquel Rigotto, é quem produz 70% dos alimentos que chegam à nossa mesa. No entanto, faltam atenção e políticas públicas de incentivo a agricultura familiar e o apoio a feiras e produtos orgânicos, por exemplo. Quem produz alimentos, quem produz comida realmente no Brasil, é a agricultura familiar. No ano de 2008, mais de 50% dos agrotóxicos consumidos no Brasil foram nas plantações de soja. Essa soja é em grande parte exportada para ser transformada em ração animal e subsidiar o consumo europeu e norte-americano de carne. “Então, isso não significa alimentação para o nosso povo, significa concentração de terra, redução de biodiversidade, contaminação de água, solo e ar e contaminação dos trabalhadores e das famílias que vivem no entorno desses empreendimentos. Além das enormes perdas para os ecossistemas, o cerrado, a Caatinga e até mesmo o amazônico, que está sendo invadido pela expansão da fronteira agrícola”, disse Rigotto.

“Então, é claro que deixar de usar agrotóxico não é algo que se possa fazer de um dia para o outro, de acordo com o que os agrônomos têm discutido, mas por outro lado nós temos muitas experiências extremamente positivas de agroecologia, que é a produção de alimentos utilizando conhecimentos tradicionais das comunidades e saberes científicos sensíveis da perspectiva da justiça socioambiental. Esses, sim, produzem qualidade de vida, bem viver, soberania, segurança alimentar, conservação e preservação das condições ambientais e culturais.” AGROTÓXICOS E RISCOS A “Lei dos Agrotóxicos” nº 7.802, de 11 de julho de 1989, estabelece que os agrotóxicos somente podem ser utilizados no País se forem registrados em órgão federal competente, de acordo com as diretrizes e exigências dos órgãos responsáveis pelos setores da saúde, do meio ambiente e da agricultura. O Brasil é considerado o maior consumidor de agrotóxicos do mundo. No Brasil, o registro de agrotóxicos é realizado pelo Ministério da Agricultura, porém, a anuência da Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa) e do Ibama é requisito obrigatório para que o agrotóxico seja registrado. A Anvisa realiza avaliação toxicológica dos produtos quanto ao impacto na saúde da população. Já o Ibama observa os riscos que essas substâncias oferecem ao meio ambiente. Diferentes pesquisas apontam a relação de produtos com agrotóxicos e a saúde reprodutiva e o surgimento de diversos tipos de câncer. Os trabalhadores rurais são as principais vítimas do uso indevido de agrotóxicos. Para o consumidor final os riscos estão mais relacionados ao consumo crônico, já que algumas substâncias têm efeito cumulativo no organismo e podem vir a desencadear problemas de saúde no futuro.


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Família de trabalhador que faleceu contaminado por agrotóxico será indenizada

Recente decisão do TRT/CE condenou a empresa Del Monte Fresh Produce, localizada em Limoeiro Norte, a indenizar em R$ 100 mil por danos morais a família de um trabalhador que faleceu após contaminação por agrotóxicos. Vanderley Matos trabalhava no almoxarifado químico da multinacional e mor-

reu após três anos manuseando substâncias tóxicas. Estudos realizados pelo grupo Tramas ligam a morte do empregado ao trabalho que realizava na agroindústria. A pesquisa foi um dos elementos utilizados pela relatora do processo, desembargadora Regina Gláucia Nepomuceno, para condenar a empresa.

FIQUE SABENDO - Diversos agrotóxicos aplicados nos alimentos agrícolas e no solo têm a capacidade de penetrar no interior de folhas e polpas, de modo que os procedimentos de lavagem dos alimentos em água corrente e a retirada de cascas e folhas externas dos mesmos contribuem para a redução dos resíduos de agrotóxicos, ainda que sejam incapazes de eliminar aqueles contidos em suas

partes internas. - Soluções de hipoclorito de sódio (água sanitária ou solução de Milton) devem ser usadas para a higienização dos alimentos na proporção de uma colher de sopa para um litro de água, com o objetivo apenas de matar agentes microbiológicos que possam estar presentes nos alimentos, e não de remover ou eliminar os resíduos de agrotóxicos.


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LOGÍSTICA REVERSA

A campanha de coleta é realizada em Fortaleza

A ação acontece em várias cidades do Brasil. O objetivo é a participação dos empresários da cadeia varejo e dos parceiros técnicos. Propõem conscientização

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om o elevado uso de equipamentos eletrônicos no mundo moderno, este tipo de lixo tem se tornado um grande problema ambiental quando não descartado em locais adequados. Por possuir substâncias químicas (chumbo, cádmio, mercúrio, berílio, etc.) em suas composições, podem provocar contaminação do solo e da água. Além de contaminar o meio ambiente, estas substâncias químicas podem provocar doenças graves em pessoas que coletam produtos em lixões, terrenos baldios ou na rua. Observando isso e tentando diminuir estes impactos, a Prefeitura de Fortaleza, por meio da Secretaria Municipal de Urbanismo e Meio Ambiente (Seuma), em parceria com a Associação Brasileira de Reciclagem de Eletroeletrônicos e Eletrodomésticos (ABREE), realiza até o dia 20 de dezembro, a campanha “Se Liga Fortaleza – Seu Eletro Tem Destino”.

DIVULGAÇÃO

A ação, realizada em várias cidades do Brasil, de acordo com o gerente executivo da ABREE, Herbert Mascarenhas, tem como objetivo principal a participação dos empresários da cadeia varejo, do poder público e de parceiros técnicos na conscientização e divulgação para a população descartar corretamente seus eletros usados e resíduos deste segmento.

ENTENDA O DESCARTE

Onde posso descartar meus equipamentos sem uso ou inservíveis? Os consumidores deverão efetuar a devolução após o uso, aos comerciantes ou distribuidores, dos produtos e das embalagens a que se referem a Lei 12305/2010. (Fonte Lei 12 305/2010 – PNRS). O que os fabricantes e os importadores irão fazer com os equipamentos recebidos? Darão destinação ambientalmente adequada aos produtos e às embalagens reunidos ou devolvidos, sendo o rejeito encaminhado para a disposição final ambientalmente adequada, na forma estabelecida pelo órgão competente do Sisnama e, se houver, pelo plano municipal de gestão integrada de resíduos sólidos.

(Fonte Lei 12 305/2010 – PNRS). Devo fornecer ou manter alguma informação dos materiais que estou descartando? Com exceção dos consumidores, todos os participantes dos sistemas de logística reversa manterão atualizadas e disponíveis ao órgão municipal competente e a outras autoridades, informações completas sobre a realização das ações sob sua responsabilidade. (Fonte Lei 12 305/2010 – PNRS) QUAIS EQUIPAMENTOS POSSO DESCARTAR? Equipamentos com voltagem de até 220 v e de consumidor (aquele que não apura lucro na utilização do equipamento) e inteiro ou seus componentes (fios/controles/etc.).

“Será uma grande oportunidade de o consumidor descartar seus equipamentos de forma correta, sem precisar jogar no lixo comum, ou deixar em terrenos baldios, ou mesmo na beira de rios. Teremos pontos de descarte em vários pontos da cidade e depois nós estaremos dando uma destinação ambientalmente correta para isso, ou seja, levando para uma área de arma-

CONFIRA OS PONTOS DE COLETA - Universidade de Fortaleza (Unifor) Avenida Washington Soares, 1321 – Edson Queiroz - Loja Rabelo de Messejana Rua Coronel Francisco Pereira, 202 – loja 2013 - Escola Rebouças Macambira (Dia 09/12) Rua Cariús, 200 - Jardim Guanabara - Escola Frei Tito (Dia 10/12) Avenida Dioguinho, 5925 Vicente Pinzon - Escola Antônio Diogo de Siqueira (Dia 11/12)

zenagem segura, depois transportando até um reciclador e providenciando a reciclagem destes resíduos”, explica. Para a titular da Secretaria Municipal de Urbanismo e Meio Ambiente (Seuma), Águeda Muniz, a parceria é um importante ganho para as ações desenvolvidas pela Prefeitura diariamente quanto à conscientização e educação ambiental referente à coleta seletiva e à reciclagem. “Fortaleza está cada vez mais participativa nas ações relacionadas aos cuidados com o meio ambiente. Essa iniciativa vem incentivar ainda mais as atitudes positivas da população”. Em locais específicos estão sendo colocados contêineres identificados da ABREE para que as pessoas possam descartar seus eletros, dentre os pontos de coleta estão algumas escolas municipais de Fortaleza, nas quais caminhões farão a retirada dos materiais.

Rua Anselmo Nogueira, 655 – Bonsucesso. - Escola Presidente Kennedy (Dia 11/12) Avenida Lineu Machado, 811 Jóquei Clube - Escola Cordeiro Neto (Dia 12/12) Rua Jorge Acúrcio, 900 - Vila União - Escola Conceição Mourão (Dia 15/12) Rua Duas Nações, 550 Granja Portugal - Escola Maria Bezerra Nogueira (Dia 16/12) Avenida Contorno Norte, 710 - Conjunto São Cristóvão.


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VIDA MARINHA

Reinaugurado, espaço de proteção de ecossistemas coralíneos

O Projeto Coral Vivo Mucugê funciona desde 2012, mas acaba de passar por ampla reforma. No centro das atividades, os recifes de corais, considerados as florestas tropicais dos mares DIVULGAÇÃO

POR TARCILIA REGO tarciliarego@oestadoce.com.br

O

s corais de recifes estão vulneráveis, mas tem gente contribuindo para o fortalecimento desses ecossistemas. É o exemplo do Projeto Coral Vivo que trabalha para a conservação e uso sustentável de ambientes recifais brasileiros e que acaba de reinaugurar o Espaço Coral Vivo Mucugê, em Arraial d’Ajuda (Porto Seguro, BA). Interatividade, mostra de fotografias, painéis informativos e vídeos, complementam a coleção de colônias centenárias de esqueletos de corais expostas no Espaço, completamente reformulado, propiciando experiências de encantamento e consciência ambiental aos visitantes. As informações são transmitidas de forma lúdica. Na Tela Interativa Teia Alimentar, o uso de alta tecnologia contribui para a sensação de imersão na vida marinha da Costa do Descobrimento. “Quando o visitante toca em um dos seres marinhos, são apresentadas informações sobre seus hábitos alimentares. Caso clique na opção para eliminá-lo, é observado o impacto disso”, explica a bióloga marinha, Débora Pires, coordenadora de Comunicação do Projeto Coral Vivo, criado em 11 de outubro de 2012. Através de um jogo de interação, um grupo de personagens ensina de forma divertida, sobre o impacto das ações do homem em ecossistemas como banco de gramas, manguezal e banco de corais. “O extremo Sul da Bahia é a maior e mais rica área de recifes de coral do Atlântico Sul. Com essa exposição permanente, esperamos que o público passe a olhar para o mar imaginando o que pode estar acontecendo embaixo da superfície e, com isso, perceba a importância de preservá-lo”, destaca o biólogo marinho Clovis Castro, coordenador

geral do Projeto Coral Vivo. Todo o esforço da iniciativa Coral Vivo, patrocinada pela Petrobras por meio do Programa Petrobras Socioambiental e copatrocinada pelo Eco Parque Arraial d’Ajuda, reforça, também, a importância dos corais e algas calcárias no complexo ecossistema marinho. Segundo Castro, “eles são os principais construtores do mar” e têm uma rica e maior biodiversidade marinha, “são as florestas tropicais dos mares”. Recifes de coral estão ameaçados por causa do aquecimento do planeta. Com a continuidade do fenômeno das mudanças climáticas, os recifes de corais são impactados resultando no branqueamento das espécies. “A alga que vivia em simbiose nos tecidos do pólipo é expulsa. O processo não mata o organismo, mas deixao transpa-rente e mais vulnerável”,

explica Castro. “Aqui, o episódio já foi visto. O maior deles aconteceu no litoral do Rio Grande do Norte ao Rio de Janeiro, mas a maioria das espécies se recuperou, a água esfriou e aos poucos foram se recuperando. Eles têm capacidade de adaptação. No Oceano Índico, aconteceu um episódio mais drástico e em massa”, conta o biólogo. “Isso ocorre quando há mudanças na temperatura da água, no regime de luz ou nos nutrientes disponíveis, geralmente resultado da poluição marinha como a ocupação da orla, lançamentos de esgotos e a sobrepesca. Quanto mais recifes de corais

depredados, adoecidos, menos riquezas e menos peixes, que alimentam-se ou abrigam-se, nos recifes que servem de habitat para milhares de espécies e ainda protegem o litoral dos impactos do oceano”, encerra. PAN CORAIS Em 2014, no Brasil, várias instituições estão envolvidas num esforço em prol da conservação dos recifes de corais, é o Plano de Ação Nacional para a Conservação dos Ambientes Coralíneos (Pan Corais) que acontece com a coordenação do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e o Coral Vivo . É um documento de pactuação entre diferentes atores-institucionais para conservar 35 áreas prioritárias ao longo da costa brasileira e está sendo elaborado com a participação de mais de 100 atores-institucionais, entre governantes, representantes de universidades e institutos de pesquisa, ONGs, pescadores, empresários de pesca e de turismo.


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SAIBA MAIS

Espaço Coral Vivo Mucugê - Exposição permanente que alia alta tecnologia com acervo de colônias centenárias de corais para sensibilizar o público sobre conservação marinha. - Cabe destacar que o Espaço Coral Vivo Mucugê fica na Costa do Descobrimento, que é uma área de maior biodiversidade marinha do Atlântico Sul. A coleção de esqueletos de colônias centenárias de corais pertence ao acervo do Museu Nacional / Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e estão emprestadas ao Projeto Coral Vivo. - Nas dependências do Espaço Coral Vivo Mucugê, fica uma loja com produtos exclusivos da marca Coral Vivo, que têm a renda revertida para ações de conservação do projeto sem fins lucrativos. - A entrada é gratuita, de segunda a sábado, das 16h às 23h. - O endereço é na Rua do Mucugê, 402, Arraial d’Ajuda, Porto Seguro, Bahia. PROJETO CORAL VIVO - O Espaço Coral Vivo Mucugê é uma das vertentes do Projeto Coral

Vivo, que atua na conservação e uso sustentável dos recifes de coral e dos ambientes coralíneos. O Coral Vivo tem o patrocínio da Petrobras por meio do Programa Petrobras Socioambiental e o co-patrocínio do Arraial d’Ajuda Eco Parque. - O Coral Vivo faz parte da Rede BIOMAR (Rede de Projetos de Biodiversidade Marinha), que reúne também os projetos Tamar, Baleia Jubarte, Golfinho Rotador e Albatroz. Todos patrocinados pela Petrobras por meio do Programa Petrobras Socioambiental, eles atuam de forma complementar na conservação da biodiversidade marinha do Brasil, e trabalham nas áreas de proteção e pesquisa das espécies e dos habitats relacionados. - As ações do Coral Vivo são viabilizadas também pelo copatrocínio do Arraial d’Ajuda Eco Parque, e realizadas pela Associação Amigos do Museu Nacional (SAMN) e pelo Instituto Coral Vivo (ICV). Mais informações sobre o Projeto Coral Vivo: www.coralvivo.org.br e www.fb.com/CoralVivo

CURIOSIDADES As Unidades de Conservação (UCs) que englobam comunidades recifais estão distribuídas em praticamente todas as principais áreas recifais brasileiras. Recentemente, foi criada também um Parque Estadual Marinho no Ceará (Pedra da Risca do Meio), porém de pequeno porte e ainda praticamente desconhecida. A maioria das espécies de corais formadoras de recifes é endêmi-

ca de águas brasileiras, ou seja, só ocorrem aqui, onde contribuem na formação de estruturas que não são encontradas em nenhuma outra parte do mundo. Fontes: Biólogo Clovis Barreira e Castro, Departamento de Invertebrados do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Ministério do Meio Ambiente


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PRESENTE SUSTENTÁVEL

Confeccione guirlandas de Natal com garrafas PET

A

s garrafas PET estão presentes no nosso dia a dia e a maneira como são descartadas, muitas vezes, vira um problema ambiental. Soma-se a isso o fato da reciclagem no Brasil enfrentar dilemas, precisando superar alguns desafios de forma a atingir níveis mais avançados em direção à sustentabilidade. Mas você de modo criativo e diferente, pode evitar o descarte do material e reaproveita-lo, totalmente, reutilizando-o na confecção de uma linda guirlanda que pode vir a ser um belo e diferente presente de Natal. E mais, você economiza recursos financeiros e naturais. Material: Garrafas PET de diversas cores; tesoura; cola; purpurina; arame;

chave de fenda; isqueiro ou fósforo.

MODELO 1 Corte o fundo das garrafas na linha desenhada na própria garrafa. Para facilitar, dê uma leve amassada na garrafa para que então comece a cortar. Para dar um acabamento arredondado queime as bordas com vela ou isqueiro ou então faça dois pequenos cortes, um em cada extremidade, e dobre a garrafa para dentro. Faça isso com todas as garrafas, a quantidade ideal para formar a sua guirlanda vai variar de acordo com o tamanho escolhido. Esquente a ponta da chave de fenda e faça um furo no fundo das peças, onde passará o arame. Passe cola e purpurina

na quantidade de garrafas que desejar e espere secar. Para proteger o enfeite, faça uma mistura de 1:2 de cola e água e passe por cima de todo o trabalho. Depois de seco, passe o arame pelos furos feitos no fundo das peças e encaixe-as conforme mostrado na galeria de fotos acima. Para finalizar basta colocar um laço.

MODELO 2 Para esta ideia os gargalos das garrafas serão a principal matéria-prima. Por isso, é possível reaproveitar as mesmas garrafas PET de onde foram retirados os fundos. Meça um palmo a partir do bico, faça a marcação com uma caneta

comum e recorte. Para uma guirlanda grande, o ideal é utilizar 38 garrafas. Porém, esse número pode variar de acordo com o tamanho desejado e a quantidade de PET disponível. Após cortar as garrafas, basta passar um fio de arame e colocar os gargalos enfileirados no mesmo sentido. Ao finalizar contorne as duas pontas do arame. O ponto desta junção deve ser coberto pelos enfeites, ou então, pode servir como gancho para pendurar a guirlanda na porta ou na parede. Para enfeitá-la basta deixar a criatividade solta e a dica é reutilizar os enfeites do ano passado, para evitar que eles sejam descartados. Fonte: http://www.ciclovivo.com.br

INDICAÇÃO DE LEITURA

Movimento Proparque lança livro sobre Áreas Verdes de Fortaleza

De autoria do ambientalista e jornalista Ademir Costa, o livro conta a luta de20 movimentos ambientais de Fortaleza. A obra está disponível, grátis, via internet O Movimento Proparque lança o livro “Demandas do Movimento Ambiental por Áreas Verdes em Fortaleza”. Trata-se da dissertação do Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente, de Ademir Costa, gerente de documentação da entidade. O lançamento aconteceu dia 7, durante o já tradicional Domingo no Parque, um piquenique que o movimento realiza no primeiro domingo de cada mês, à base de Chorinho [a cargo do Grupo Rytmos], brincadeiras e vivências com a natureza, no Parque Rio Branco. O lançamento constou de uma roda de conversa, no anfiteatro da área verde, quando lideranças entrevistadas na fase da pesquisa, falaram sobre a obra e sobre os 20 movimentos ambientais cujas histórias são contadas no livro. O evento encerra as

comemorações dos 19 anos (1995 a 2014) do Movimento Proparque. O livro resulta da pesquisa feita durante o mestrado no Prodema/UFC [Programa de Mestrado e Doutorado em Desenvolvimento e Meio Ambiente], entre os anos 2009 e 2011. Conta as histórias de 20 movimentos ambientais, em suas lutas para Fortaleza ter mais áreas verdes públicas. A pesquisa cobre o período de 40 anos, que vai da 1ª Conferência Mundial sobre Meio Ambiente [1972] à preparação da Conferência Rio + 20 [2012]. O autor usou os métodos da História Oral e da Observação Participante. Pessoas que viveram [e algumas ainda vivem] as lutas contaram suas experiências, fizeram suas análises, afirmaram suas conclusões.

Especialistas ouvidos consideram o desenvolvimento de Fortaleza perigoso para o presente e as futuras gerações, principalmente se consideraram o anunciado quadro de mudanças climáticas. A pesquisa foi orientada pelo Prof. Dr. José César Vieira Pinheiro [UFC/Prodema]. A banca examinadora foi composta por: Profa. Dra. Mônica Dias Martins [Presidente/UECE], Profa. Dra. Kênia Sousa Rios [UFC/Departamento de História] e Prof. Dr. Luiz Antônio Maciel de Sousa [UFC/Centro de Ciências Agrárias]. NA INTERNET Poucos exemplares da obra estarão à venda, dada a tiragem pequena, dentro da estratégia do editor, o Banco do Nordeste, de

disponibilizar a obra, grátis, em sua página para quem quiser “baixá-la” com o link: http://www.bnb.gov.br/projwebren/Exec/ livroPDF.aspx?cd_livro=259 Se alguém tiver problema com o link, peça o arquivo PDF pelo e-mail gritepeloparque@gmail.com .


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Mais do que uma crise hídrica, uma crise ambiental POR GABRIEL PARENTE* Fenômeno natural que no Brasil tradicionalmente é associado à região do Semiárido, a seca tem chamado atenção nos últimos meses pelos impactos causados em porções da região sudeste que não se inserem no conhecido “polígono das secas”. A notícia, há cerca de dois meses, de que a principal nascente do rio São Francisco, no estado de Minas Gerais, havia secado; bem como os baixos níveis e até mesmo o esvaziamento dos principais reservatórios que abastecem a capital e muitas outras cidades do estado de São Paulo (SP) nos levam a entender que o problema da água, muito mais do que uma crise hídrica, é antes de tudo um indicativo de uma crise ambiental. A despeito do grande peso que a má gestão da Sabesp desempenha como causa da crise vivenciada atualmente em SP – expressa, entre outros aspectos, pela insuficiência dos investimentos voltados à expansão dos reservatórios e à contenção da alta taxa de desperdício de água tratada ao longo das redes de distribuição – é importante ressaltar que a má gestão desta empresa é apenas uma dentre as causas dos extremos que a seca tem imposto em grande parte de nosso país, pois é bom ressaltar que grande parte do Semiárido, há mais de três anos, também vivencia uma das mais graves secas ao longo das últimas décadas. A forma como o caso de São Paulo vem sendo discutida e as principais soluções propostas expressam a forma como tradicionalmente a seca é pensada pelas autoridades e grande parte de nossa sociedade: basicamente como

DIVULGAÇÃO

uma questão de segurança hídrica. Assim como nas principais ações relacionadas aos impactos gerados pela seca no Semiárido, marcadas pelo desenvolvimento de grandes obras – como a construção de grandes reservatórios e projetos de conexão fluvial como a transposição do São Francisco – as principais soluções apontadas para a resolução da crise em SP dizem respeito a estratégias de captação de água. Primeiramente o governo paulista propôs uma revisão do modelo de compartilhamento dos recursos da bacia do vale do Paraíba, bacia que se constitui em um dos principais vetores de abastecimento do estado do Rio de Janeiro, sugestão que gerou protestos por parte do governador fluminense; posteriormente, o governo paulista divulgou um plano de construção de estações de tratamento de esgoto para a reutilização de água. Apesar de extremamente importantes

e necessárias, como forma de garantia do abastecimento de grandes concentrações urbanas, a concentração das ações referentes aos impactos da seca no desenvolvimento de grandes obras referentes à captação e a uma melhor gestão dos recursos hídricos demonstra uma percepção limitada acerca deste fenômeno climático que, conforme as previsões referentes ao processo de aquecimento global tende a se intensificar em várias regiões ao longo das próximas décadas, afetando sobremaneira o Brasil. A seca vai muito além de sua face mais visível (a falta de água), trata-se de um fenômeno natural incontornável que, se não pode ser evitado, pode ter seus impactos atenuados e isso passa necessariamente pela transformação de nosso olhar e de nossas ações perante ele. Se nossas ações relativas à seca estão profundamente marcadas pela lógica do “combate”, que tem

nas grandes obras de captação de água sua expressão máxima, devem, cada vez mais, passar a se pautar, também, pela lógica do “convívio com a seca”. Se combater a seca importa desenvolver obras de captação de água, conviver com a seca importa, entre outros aspectos, discutir e desenvolver ações de proteção de nossas florestas e de nossos mananciais que, mais dos que os grandes reservatórios, são as principais garantias para a conservação de nossos recursos hídricos e sobre este aspecto a seca da principal nascente do São Francisco nos deixa uma grande lição. De nada adiantará grande investimentos para a transposição e captação de recursos hídricos, se de forma conjunta não se discutir medidas de reflorestamento e proteção de nossos mananciais. *Gabriel Parente é historiador e i ntegrante do Movimento Pró-Árvore


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