Guia do bode n01 abril 2017

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A REVISTA DO MAÇOM

Nº 01 - ABRIL / 201 7

O GUIA DO BODE

HITLER EA MAÇONARIA

EDIÇÃO ESPECIAL DE LANÇAMENTO

Akhenatom p. 1 7

O Pavimento Qmram - Os Mosaico Manuscritos do Mar Morto p. 1 0 p. 1 4


A REVISTA DO MAÇOM

http://oguiadobode.wixsite.com/oguiadobode/masonzone

O Guia do Bode

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A REVISTA DO MAÇOM

Pavimento Mosaico p. 1 0

Hitler e a Maçonaria p. 07

Qmram - Os Manuscritos do Mar Morto p. 1 4 Akhenatom p. 1 7

Notícias e Opiniões Maçonaria em Imagens Loja Destaque Hitler e a Maçonaria Hora do Ágape Pavimento Mosaico Maçons Famosos Qmram - Os Manuscritos do Mar Morto Akhenatom Humor Maçônico

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O Guia do Bode Edição : Rosaldo Bonnet e-mail - oguiadobode@gmail.com site - www.oguiadobode.wixsite.com/oguiadobode Preço - R$ 7,50 ( exemplar avulso ) Tiragem - 1 0.000 exemplares Curitiba- Paraná - Brasil 02


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NOTÍCIAS & OPINIÕES

7ª Loja do Rito Adonhitamita é fundada no DF

Na ocasião foi eleita a Administração Interina composta pelos irmãos Ruy Ferreira Borges como Venerável Mestre, Alberto Joarez Sanches como 1 º Vigilante, Paulo Rogério Alves Rosa como 2º Vigilante, Féres de Oliveira Jáber como Orador, Valdeci Nunes do Rêgo como Secretário, Fabiano Jáber como Tesoureiro e Antoninho das Graças Estevam como Chanceler, que comandará a Loja até a sua regularização.

No dia 03 de abril, no térreo do prédio do Grande Oriente do Brasil, com a presença de 37 irmãos, foi fundada a 7ª Loja Adonhiramita do DF sendo, portanto, a 89ª (octogésima nona) Loja jurisdicionada ao Grande Oriente do DF. A Loja recebeu o nome de “Tradição e Futuro”.

O Venerável Interino enumerou os motivos que ensejaram a criação da Loja e havendo a concordância dos irmãos presentes, coordenou a aprovação das exigências legais para a sua fundação. Esta funcionará às terças-feiras, quinzenalmente, no templo “Liberdade” do GOB, que será sagrado e liberado para utilização no dia 1 5 de junho de 201 7, quando das comemorações dos 1 95 anos do Grande Oriente do Brasil. FONTE : www.gob.org.br

Loja “União Palhocense” comemora aniversário No dia 30 de março ocorreu a sessão magna conjunta de aniversário de 05 da Loja “União Palhocense”, Oriente de Palhoça, presidida pelo Venerável Mestre Ronay, com a presença do Eminente irmão Adalberto Eyng, GrãoMestre do GOB-SC, autoridades e O Eminente Grão-Mestre proferiu palestra em relação à irmãos de várias outras lojas. abertura do ano maçônico. Foram homenageados os exveneráveis mestres. O Eminente Grão-Mestre proferiu palestra em relação à abertura do ano No dia 02 de abril, dando continuidade à semana de maçônico. Foram homenageados os ex- aniversário, foi organizado pelos obreiros e cunhadas o veneráveis mestres. “Primeiro Costelaço”. Fonte : www.gob.org.br XLV ASSEMBLEIA GERAL ORDINÁRIA A abertura da XLV Assembleia Geral Ordinária da Confederação da Maçonaria Simbólica do Brasil, a CMSB, foi realizada no sábado, 2 de julho, no Teatro Gustavo Leite (Centro de Convenções), em Macéio, no estado de Alagoas. O Guia do Bode

A CMSB é uma entidade de direito civil sem fins lucrativos que congrega todas as 27 Grandes Lojas dos Estados Brasileiros. A sua Assembleia Geral Ordinária é realizada sempre no mês de Julho e a cada ano em um estado diferente. É um evento que recebe representantes da família Maçônica de todos os estados do país e trata dos mais diferentes temas de interesse interno e da sociedade, sempre objetivando a unidade das Grandes Lojas e políticas de atração visando o bem estar da Pátria e da Humanidade. 03


NOTÍCIAS & OPINIÕES

Doação para Casa do Maçom A Casa do Maçom João Baroni se mantém, única e exclusivamente de doações de Lojas Maçônicas e de Irmãos particularmente, de todas as potências e de todo o Brasil. Existe a modalidade de Sócio Colaborador, conforme cartão de autorização anexo, onde a Loja ou o sócio particular, estipula uma doação mensal, bimestral, trimestral, semestral ou anual, no valor que achar conveniente. Com essa autorização, a Casa emite os boletos que serão pagos no Banco. Também, no boleto abaixo, o contribuinte poderá doar quando quiser a quantia que desejar. Ainda, se desejar poderá depositar na conta corrente Ag. 6621 -4 C/c 9954-6 Banco do Brasil

PLENÁRIO DO EGRÉGIO TRIBUNAL ELEITORAL DO GRANDE ORIENTE DE SÃO PAULO DIVULGA ORIENTAÇÕES PARA AS ELEIÇÕES DAS LOJAS DA JURISDIÇÃO Em Sessão realizada no último dia 04 de abril, o Egrégio Tribunal Eleitoral do GOSP editou – como costumeiramente faz nos anos de eleições no âmbito do GOSP – regras para as Eleições das Administrações, Oradores e Deputados Federais e Estaduais das Oficinas, em maio próximo, com base na legislação eleitoral vigente, e demais dispositivos legais. Secretaria Estadual de Comunicação e Imprensa Irmão Sérgio Ayres da Silva Filho Secretário Estadual de Comunicação e Imprensa Adjunto – GOSP 04


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MAÇONARIA EM IMAGENS

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LOJA EM DESTAQUE

Templo Maçônico Detroit ­ O maior do mundo

O templo Maçônico de Detroit é considerado o maior templo do mundo, está situado no " Cass Corridor " de Detroit,Michigan, na Temple Street N° 500. O edifício serve como lar de várias organizações maçônicas, incluindo a Loja do Rito de York do Soberano Colégio Maçônico da América do Norte, existem também várias salas de alojamento, escritórios, e espaços de refeições, bem como um hotel projetado na torre para os membros visitantes. O Edifício ocupa uma quadra inteira na Temple Street.O Teatro é um espaço para concertos, shows da Broadway e outros eventos especiais. O Arquiteto George Mason projetou o teatro, que contém um palco de 1 80 m². Grande parte da pedra, gesso e metal usados no interior do edifício foi projetado e executado pelo escultor arquitetônico Corrado Parducci. As trÊs figuras sobre a entrada principal foram feitas por Leo Friediander, enquanto o resto da considerável escultura arquitetoica no exterior era de Bill Gehrke.

Este edifício de estilo neo-gótico, desenhado pelo arquiteto George Mason e construido nos anos 20, é um dos marcos da cidade americana de Detroit e é conhecido como o maior Templo Maçônico do Mundo. A rigor, o Templo Maçônico Detroit e não é um templo, mas um conjunto arquitetonico composto por 28 secções, distribuidas por três divisões: a Torre Ritualistica, o Grande Auditório (a segunda maior sala de teatro dos EUA) e o Shrines Club. A Torre Ritualistica, entre outros espaços funcionais, secções para a actividade simultânea de 50 grupos maçônicos e corpos rituais, uma catedral (a Scotish Rite Cathedral), com capacidade para receber 1 600 pessoas, dois salões destinados à realização de banquetes e outros eventos, etc

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HITLER E A MAÇONARIA

Hitler e a Maçonaria Esta é uma dúvida comum, se Adolf Hitler era maçom, e muitas vezes, aqueles que buscam este tipo de conhecimento, são induzidos ao erro por conta de inúmeras teorias conspiratórias equivocadas e fantasiosas. O problema sobre estas "Teorias conspiratórias" é que muitas delas são mal embasadas e fazem este assunto cair no ridículo. Deve-se a isto o fato do assunto despertar interesse e curiosidade, e muitos autores que visam apenas o lucro na venda de livros, e outras mídias, tornam o assunto fantasioso buscando lucrar com o imaginário popular. É bem verdade que muitos estudiosos e escritores que abordam sobre as "Sociedades Secretas" são bastante sérios, até mesmo alguns romances que falam sobre teorias conspiratórias, tratam do assunto com muita seriedade e de forma muito bem fundamentada, como por exemplo o romance de Umberto Eco "O Pendulo de Foucault"; durante a narrativa desta ficção são ditas várias verdades sobre as chamadas "confrarias", mas o próprio autor alerta que seria uma tolice acreditar que tudo que é dito no seu livro. Mas como disse, vários destes destes autores e estudiosos não são la tão sérios, nem tão comprometidos com os fatos, estas por vezes afirmam sem nenhum critério que Adolf Hitler era maçom. O problema é que realmente Hitler teve contato com a Maçonaria, mas num segundo momento O Guia do Bode

passou a perseguir e combater os maçons. Então não podemos simplesmente rotular Hitler de maçom sem antes entender melhor o que aconteceu, até para que não sejamos levianos e desrespeitosos com os muitos maçons deram suas vidas lutando contra o Nazismo. Mas então vamos entender um pouco do contato que o tirano nazista teve com a Maçonaria e analisarmos o assunto sem ufanismos. Primeiro é importante salientar que a Maçonaria alemã sempre foi mais chegada a uma vertente mística mais sombria. A Maçonaria é uma sociedade bastante plural com várias vertentes, e existe em boa parte dos seus ritos, um forte componente místico, mas parece que na Alemanha desde tempos remotos, esta vertente mística tendia para um misticismo bem sombrio. Acreditasse que a Maçonaria é herdeira direta da antiga ordem dos "Cavaleiros Templários", e já na Idade Média, os templários germânicos eram diferentes. Tanto é assim, que eles tinham outra ordem chamada "Ordem dos cavaleiros Teotónicos" E aqui um fato muito interessante, quando Hitler partiu para invadir o leste Europeu e a Rússia, ele chamou de "Operação Barbarossa". Barbarossa era o 07


HITLER E A MAÇONARIA apelido do Imperador Frederico I que criou a ordem dos cavaleiros teotónicos, e que invadiu junto com os cavaleiros templários, o leste Europeu por volta do ano 1 200. Isto significa que quando Adolf Hitler num segundo momento passou a perseguir os maçons, ele estava evocando uma oposição aos antigos templários enquanto por outro lado enaltecia a ordem teotónica. Ainda sobre os Teotónicos, tudo indica que eles eram bem próximos dos templários, mas levaram sua visão mística para uma vertente bem mais sombria, e outra curiosidade foi que durante séculos na Idade Média, eles ocuparam a região conhecida como "Transilvânia" e isto explica porque tal região na Europa guarda tantos segredos ocultos. Contudo tanto a ordem dos templários como a dos teotónicos foram extintas, mas os templários se reinventaram a partir da Escócia e da Inglaterra na forma dos "irmãos maçons livres", e provavelmente Adolf Hitler teve interesse em se aproximar deles pois seria a única porta para o conhecimento místico que ele desejava. Sendo assim, muito antes de ser eleito governante na Alemanha, Hitler teve contato com dois maçons que devem te-lo iniciado nesta que é a maior confraria que se tem conhecimento.

Rudolf von Sebottendorff O primeiro foi Rudolf von Sebottendorff, um

importante membro da loja alemã e um homem muito voltado para o misticismo e o esoterismo, ele era adepto da Teosofia de Helena Blavatsky. Sebottendorff conheceu Hitler através de Dietrish Eckart, este por sua vez era amigo de Hitler de longa data, ambos eram anti semitas, e Eckart

fora iniciado na maçonaria por Sebottendorff e ambos iniciaram a Adolf Hitler.

Dietrish Eckart

Tanto Eckart e Sebottendorff eram muito voltados para o misticismo e juntos, participaram da organização de outras duas sociedades ocultas voltadas para o misticismo. A "Thule" uma ordem oculta que visava buscar poderes místicos, a maioria dos seus participantes eram companheiros de loja maçônica e levaram também a Hitler para compor esta ordem.

Thulle Society

Alguns anos depois eles organizaram outra sociedade secreta com objetivos místicos chamada "vrill". A Vril reunia mulheres que tinham poderes místicos e eram conhecidas como feiticeiras. Naquela época Hitler já tinha ascendido ao poder e levou vários importantes membros da "SS" Nazista para serem membros "Vrill". 08


A REVISTA DO MAÇOM A Vrill por sua vez se distanciou muito dos ideais maçônicos e se descolou da da loja. Uma curiosidade sobre a Vrill é que no filme "Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal" de 2008 dirigido por Spielberg e produzido por George Lucas uma personagem representada pela atriz Cate Blanchet simbolizava exatamente estas mulheres que faziam parte da "Vrill", ligadas ao partido nazista que buscavam poderes sobre naturais. Mas voltemos a Dietrish Eckart e Rudolf von Sebottendorff. Acredita-se que ambos levaram Hitler a ingressar na Maçonaria e em seguida nestas duas sociedades místicas. Mas E conforme Hitler mergulhava no misticismo junto com Eckart e Sebottendorff ele deixou a maçonaria de lado, e num segundo momento, já no governo, ele passou a combater a maçonaria por aceitar Judeus e cristãos, e como dissemos, fechou as lojas, perseguiu e matou maçons. Uma curiosidade sobre Dietrish Eckart e o caráter demoníaco da parceria que ele fez com Adolf Hitler, é que em determinada época, quando Hitler começou a ascender ao poder, Eckart se dizia o novo "João Batista" numa alusão clara a Hitler como sendo um novo cristo (ou um anticristo), e ele seria seu profeta que antecedeu o messias, assim como João Batista antecedeu Jesus. Os conspiracionistas dizem que a maçonaria tirou proveito da queda de Hitler para ascender ainda mais, instituições como a ONU e o FMI sempre foram defendidas pelos maçons e tornaram-se realidade com o fim da 2a. Guerra, até mesmo o olho de Horus (aquele olho dentro de uma piramide) passou a constar na nota de um Dolar, sendo importante símbolo maçônico passou a constar na nota da moeda americana após o fim da guerra. Então, os conspiracionistas afirmam que Hitler, sua ascensão e sua queda faziam parte de um plano pré fabricado para que os ideais macônicos crescessem ainda mais.

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HITLER E A MAÇONARIA Particularmente acho isso um exagero, eles lutaram contra Hitler e sua tirania, e depois foram oportunistas, e aproveitaram a guerra para ganhar influencia no contesto global. Sendo assim, é leviano dizer que Hitler era maçom, até mesmo em respeito a vários deles que morreram nas mãos deste tirano, mas é inegável que os aspectos místicos da maçonaria atraíram pessoas que conduziram Hitler na direção da mais pura bruxaria satanica, que fez dele o maior facínora de todos os tempos.

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HORA DO ÁGAPE

Harmonização de Cervejas

A Dicas gerais de harmonização Cervejas leves acompanham comidas leves, enquanto cervejas mais fortes, intensas e encorpadas harmonizam melhor com comidas mais pesadas e gordurosas Pense em Ales como Vinho Tinto e Lagers como Vinho Branco. Como as Ales são fermentadas em temperaturas mais altas, normalmente são de aromas e sabores mais complexos. Lagers, por serem fermentadas em temperaturas mais baixas, são normalmente mais leves, com aromas e sabores mais suaves. Outro comparativo válido é pensar em cervejas de alto amargor como se fossem vinhos bem ácidos ou com bastante tanino. Quanto mais escura a cerveja, mais escura deve ser a comida da harmonização. Cervejas escuras recebem essa cor dos maltes escuros, que normalmente têm um sabor mais tostado e algumas vezes mais adocicado, que combina bem com os mesmos sabores das comidas bem assadas ou grelhadas. Quanto mais picante for a comida, mais lupulada e amarga deve ser a cerveja. O lúpulo consegue cortar bem o efeito das pimentas, permitindo que você consiga sentir melhor os sabores tanto do prato quanto da cerveja. Deixe que a região seja seu guia. Cervejas e comidas originárias da mesma região quase sempre funcionam bem juntas. É importante ter atenção especial à sequência em que são servidas as cervejas. Se você planeja servir cervejas de diferentes estilos, prefira começar com as mais leves, tanto em sabores quanto em álcool, evoluindo para cervejas mais complexas e encorpadas no final. O mesmo vale para cervejas secas e doces. Comece pelas secas. O objetivo é que os sabores mais intensos não atrapalhem ou sobreponham os sabores mais leves. Também evita que as pessoas sintam-se pesadas ou sonolentas logo no início da harmonização.

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PAVIMENTO MOSAICO

Pavimento Mosaico

Em todas as Lojas maçónicas regulares está presente, em todo ou em ocorrem as sessões de Loja, um pavimento mosaico, constituído por um con e negros, colocados alternadamente entre si. O símbolo remete claramente para a dualidade – mas também para a harmonia entre os opostos. Cada quadrado de uma das cores está rodeado de quadrados da outra cor. É assim frequente referir-se ao recém-iniciado que o pavimento mosaico representa a sucessão entre os dias e as noites, o bem e o mal, o sono e a vigília, o prazer e a dor, a luz e a obscuridade, a virtude e o vício, o êxito e o fracasso, etc.. Mas também a matéria e o espírito como componentes do Homem. Ou, simplesmente, recordar que, como resulta da lapidar equação de Einstein, a matéria é composta por massa, mas também por energia.

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PAVIMENTO MOSAICO

O dualismo provém de antigas tradições humanas. A civilização suméria dotava os seus templos de piso em pavimento mosaico, que só podia ser pisado pelo sacerdote no mais alto grau da hierarquia e só em dias de eventos importantes. Convencionou-se que o Santo dos Santos do Templo de Salomão teria um pavimento mosaico. A filosofia pitagórica postulava que o UM se transformava em DOIS refletindo-se a si próprio e separando-se, original e reflexo, sendo assim o UM o princípio criador estático e o representando o DOIS a dinâmica da Criação. A interação entre o UM e o DOIS gerou o TRÊS, a Criação. Esta resultou, assim, da interação entre o estático e o dinâmico. De onde resulta que a dualidade é fecunda, que é necessária a presença da dualidade para haver criação. Mas resulta ainda mais do que isso: não basta que exista dualidade, tem que haver interação entre os opostos para que a criação aconteça. Não bastam dois opostos estáticos; é necessário que esses dois opostos sejam dinâmicos e interajam entre si. Não basta, assim, a dualidade, é necessária a polaridade. O pavimento mosaico recorda-nos assim que a vida é feita de contrastes, de forças opostas que se influenciam entre si, e que é através dessa influência mútua que ocorre a mudança, o avanço, a evolução. No fundo, a antiga asserção de que toda a evolução se processa através do confronto entre a tese a a antítese, daí resultando uma síntese, que passa a constituir uma nova tese, que se defrontará com outra antítese até se realizar uma nova síntese, que é um novo recomeço, assim e assim sucessivamente numa perpétua evoluçãoe Assim sendo, o que tomamos por mal, por desagradável, o que procuramos evitar, sendo-o assim, não deixa, porém, de ser necessário – pois é do confronto desse mal com o bem, do que queremos evitar com o que de conservar, daquilo que nos desagrada com parte do solo da sala onde gostaríamos que nos conforta, que resulta avanço, mudança, njunto de quadrados brancos aquilo tendencialmente progresso (tendencialmente, porque nada se deve tomar como garantido: por vezes, a mudança Assim sendo, o que tomamos por mal, por desagradável, o que procuramos evitar, sendo-o assim, não deixa, porém, de ser necessário – pois é do confronto desse mal com o bem, do que queremos evitar com o que gostaríamos de conservar, daquilo que nos desagrada com aquilo que nos conforta, que resulta avanço, mudança, tendencialmente progresso (tendencialmente, porque nada se deve tomar como garantido: por vezes, a mudança mostra-se retrocessoe). Nesse sentido, o bem, por si só é estático e estéril. O bem só evolui em confronto com o mal. É desse confronto entre ambos que resulta algo, é esse confronto bipolar que é fecundo. Aliás, em bom rigor, só podemos definir o bem em confronto com o mal, tal como necessitamos da sombra para bem apreender o que é a luze Se Adão permanecesse no Paraíso, ainda hoje Adão seria Adão e 11


A REVISTA DO MAÇOM feliz com sua nudez, mas inapelavelmente boçal. Foi o mal da expulsão do Paraíso que obrigou Adão a deixar de ser mera criatura e passar a ser homem; ou seja, a Humanidade só evolui porque sempre necessitou de se confrontar com o perigo, com a fome, com a necessidade, em suma, com o mal, e teve de superar todos os sucessivos obstáculos para atingir sucessivos patamares de bem, de satisfação, sempre confrontada com novos perigos, obrigando a novas superações. É ao superar os sucessivos obstáculos com que se depara que o Homem se supera a si mesmo. O Pavimento Mosaico não é um espaço estático. É um caminho, com luzes e sombras, com espaços agradáveis e veredas desagradáveis, com seguranças e perigos. Ficar num quadrado branco e dele não sair não leva a lado nenhume É necessário enfrentar a dualidade com que nos deparamos, suportar a polaridade inerente a tudo o que nos rodeia e, afinal, inerente a nós próprios ee fazer-nos à vida! Se tomarmos mais opções certas do que erradas, teremos mais sínteses brancas do que negras e desbravaremos um caminho de avanço. Se ou quando (porque é quase que inevitável que esse quando, muito ou pouco, cedo ou tarde, sempre apareçae) enveredamos por opções erradas, acabamos por cair em sombria síntese e deparar com retrocesso e não com o desejado progresso. Mas ainda assim, a solução não é ficar onde se foi parar, com receio de novo retrocesso: é prosseguir com nova síntese, efetuar nova opção, desejavelmente que se revele boa, para melhor sorte nos caber. E assim, em perpétuo movimento, em contínua progressão de inesgotáveis sínteses, o homem avança desde a sua tese inicial até à sua derradeira síntesee que, do outro lado da cortina descobrirá que não foi um fim, mas apenas um novo recomeço, uma nova tese para, noutro plano, se confrontar com fecunda antítesee Um simples pavimento mosaico serve de ponto de partida para a mais profunda especulação. Basta atentar e meditar e estudar e trabalhar dentro de si mesmo, juntando a intuição à razão (outra dualidade; ou melhor, polaridade, de fecunda potencialidadee). O Pavimento O Guia do Bode

PAVIMENTO MOSAICO Mosaico, se atentarmos na sua perspetiva dinâmica, recorda sempre ao maçom que o principal do seu trabalho não se efetua na Loja, na execução do ritual, na realização de tarefas de Oficial, na discussão de pontos de vista. O principal do seu trabalho faz-se no confronto de si consigo próprio, no uso frequente e equilibrado das duas grandes ferramentas de que dispõe naturalmente, a sua Razão e a sua Intuição, para trilhar sozinho os seus caminhos (e descobrir que, afinal, encontra frequentemente outros nos cruzamentos a que vai chegando). Por isso, o maçom deve reservar sempre uma parte do seu dia para efetuar a mais fecunda atividade que pode efetuar: pensar, meditar, especular. Tem as ferramentas. Só precisa de as usar. Dia a dia. E quanto mais as usar e quanto mais frequentemente as usar, mais fácil é esse uso, mais gratificante é o seu trabalho. Também dentro de cada um de nós há um pavimento mosaico, disponível para o percorrermos e nele ir tão longe quanto cada um quiser e puder! Rui Bandeira

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Luiz Gonzaga

Luiz Gonzaga nasceu em Exu, Pernambuco, em 1 3 de dezembro de 1 91 9. Foi um compositor popular. Aprendeu a ter gosto pela música ouvindo as apresentações de músicos nordestinos em feiras e em festas religiosas. Sabendo que o rádio era o melhor vínculo de divulgação musical daquela época (1 941 ) resolveu participar do concurso de calouros de Ary Barroso onde solou sua música “ Vira e Mexe” e ganhou o primeiro prêmio. Isso abriu caminho para que pudesse vir a ser contratado pela emissora Nacional. No decorrer de vários anos, Luiz Gonzaga foi simbolizando o que melhor se tem da música nordestina. Ele foi o primeiro músico assumir a nordestinidade representada pela a sanfona e pelo chapéu de couro. Cantou as dores e os amores de um povo que ainda não tinha voz. Nos seus vários anos de carreira nunca perdeu o prestígio, apesar de ter se distanciado do palco várias vezes. Os modismos e os novos ritmos desviaram a atenção do público, mas o velho Lua nunca teve seu brilho diminuído. Quando morreu em 1 989 tinha uma carreira consolidada e reconhecida. Ganhou o prêmio Shell de Música Popular em 87 e tocou em Paris em 85. Seu som agreste atravessou barreiras e foi reconhecido e apreciado pelo povo e pela mídia. Mesmo tocando sanfona, instrumento tão pouco ilustre. Mesmo se vestindo como nordestino típico (como alguns o descreviam: roupas de bandido de Lampião). Talvez por isso tudo tenha chegado onde chegou. Era a representação da alma de um povo...era a alma do nordeste cantando sua história...E ele fez isso com simplicidade e dignidade. A música brasileira só tem que agradecer...

MAÇONS FAMOSOS foi escolhido o Pernambucano do Século XX. Maçonaria Em 03 de abril de 1 971 , o Ir.·. Luiz Gonzaga é iniciado na Maçonaria, na A.·.R.·.L.·.S.·. "Paranapuan" Nº 1 477, do Grande Oriente do Brasil, Or.·. da Ilha do Governador, do Rito Moderno" ou "Francês". Elevado ao Grau de Companheiro Maçom, em 1 4 de dezembro de 1 971 e Exaltado ao Grau de Mestre Maçom, em 05 de dezembro de 1 973. Tendo como seu "padrinho" o Ir.·. Florentino Guimarães, membro do quadro da Loja "Paranapuan". Na Maçonaria dos Altos Graus ou Filosóficas, foi iniciado no Grau 4, em 1 9 de agosto de 1 984. No Sub.·. Cap.·. "Paranapuan", jurisdicionado ao Supremo Conselho do Brasil para o R.·.E.·.A.·.A.·.. A música "Acácia Amarela" nasceu em 1 981 . O Ir.·. Luiz Gonzaga, achando oportuna uma homenagem musical à Maçonaria, elaborou a letra e o tema musical. O Ir.·. Orlando Silveira deu algumas sugestões e harmonizou a melodia. Concluído o trabalho, a gravação foi feita em 1 981 , e incluída no elenco do CD "Eterno Cantador", da etiqueta "BMG-RCA", com arranjo de "Orlando Silveira e execução vocal de Luiz Gonzaga". O G.·.A.·.D.·.U.·. nos seus desígnios, requisitou o Ir.·. Luiz Gonzaga para uma outra missão. Sofrendo de Neoplasia Maligna (Câncer de Próstata Metastático), passou 41 dias internado no "Hospital Santa Joana", na cidade de Recife. Agravados seus males físicos, viajou para o Oriente Eterno na madrugada de 1 .° de agosto de 1 989, com 76 anos de idade, em conseqüência de parada cardíaca por pneumonia. Sob comovente manifestação popular, seu corpo foi velado na cidade do Recife, Capital do Estado de Pernambuco, e transportado inicialmente para a cidade de Juazeiro do Norte, no vizinho Estado do Ceará, onde recebeu as bênçãos do Padre Cícero de quem era muito devoto, e daí para sua cidade natal, em Exu, interior de Pernambuco, onde foi sepultado. Fonte:Texto Luiz Gonzaga - Pernambucano do Século XX, 13


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QMRAM - OS MANUSCRITOS DO MAR MORTO

Qmram ­ Os Manuscritos do Mar Morto

Qumran é um sítio histórico e arqueológico localizado na Cisjordânia. Encontra-se a uma milha da margem noroeste do Mar Morto, a 1 2 km de Jericó e a cerca de 22 quilômetros a leste de Jerusalém, em Israel. Situado na fissura do Mar Morto entre dois barrancos profundos, em uma área onde atividades tectônicas são frequentes e a precipitação média anual é muito baixa. O meio ambiente atual é árduo e difícil para o cultivo, mas foi precisamente o clima árido e a inacessibilidade do local que contribuiu significativamente para preservação de estruturas e de materiais arqueológicos encontrados na região, como por exemplo: cisternas, salas de banhos rituais, cerâmicas, refeitórios.Nessa região há aproximadamente 330 dias de sol por ano e praticamente não há precipitações. O ar é tão seco e quente que a água das evaporações é seca imediatamente no ar, criando uma névoa e resultando em um cheiro de enxofre. Qumran tornou-se célebre em 1 947 com a descoberta de manuscritos antigos que ficaram conhecidos como os Manuscritos do Mar Morto. Em 1 947, os primeiros manuscritos foram encontrados em uma caverna às margens do Mar Morto por um jovem beduíno que cuidava de um rebanho de ovelhas. A notícia do achado espalhou-se rapidamente após a venda e aquisição dos primeiros manuscritos. De O Guia do Bode

De imediato a comunidade científica interessou-se pelo achado. A “Escola Bíblica e de Arqueologia Francesa de Jerusalém” desenvolveu pesquisas em Qumran e arredores desde o final da década de 40 até 1 956. O chefe da equipe, no período de 1 951 a 1 956 foi o frei francês Roland Guérin de Vaux (1 899-1 971 ). Aproximadamente 930 fragmentos de manuscritos hebraicos, aramaicos e gregos foram encontrados em onze cavernas em Qumran, datando de 250 a.C. ao século I da Era Cristã. O assentamento foi construído no período helenístico durante o reinado de João Hircano, 1 34-1 04 a.C. O assentamento de Khirbet Qumran começou em 1 86 antes da Era Cristã e se estendeu até o ano 70 da Era Cristã. A arqueologia distingue três fases de ocupações: 1 . Junto a uma aguada fortificada do séc. VIII-VII a.C., ocorre uma ocupação essênia modesta antes de 1 50 a.C. Sob Alexandre Janeu, as instalações são ampliadas consideravelmente, passando a ser uma “fortaleza dos piedosos”. A estrutura comportava 200 a 300 pessoas. A colônia é abandonada após um terremoto em 31 a.C. e a um incêndio. 2. Ocupação sob Arquelau (4 a.C. – 6 d.C.), com ampliação das fortificações e reforço da segurança. A destruição das fortificações ocorre em 68 d.C pelo exército romano, antes porém a monumental biblioteca é transferida às pressas 14


QMRAM - OS MANUSCRITOS DO MAR MORTO para as cavernas das imediações. 3. Guarnição romana (68 – 1 00 d.C.): base de operações dos seguidores de Bar Cochba, na II Guerra Judaica (1 32-1 35 d.C.). Desde a descoberta dos Manuscritos do Mar Morto, aproximadamente entre os anos 1 947-1 956, muitas escavações foram realizadas em Qumran na busca de manuscritos antigos. A maioria foi escrito em pergaminhos e alguns em papiros. Foram encontrados escombros de cisternas, cemitérios e locais de banhos de purificação judaica, juntamente com uma sala de jantar, bem como fornos de cerâmica e uma torre. Muitos estudiosos acreditam que o local foi o acampamento de uma seita judaica, provavelmente os essênios. De acordo com algumas estimativas, o complexo abrigava até 200 homens sobrevivendo do círculo Judaico de oração em privacidade, celibato, em direta oposição aos sacerdotes do templo em Jerusalém. O local serve quase que como uma perfeita elucidação das implicações práticas da doutrina deixadas nos escritos desta seita. Os pergaminhos foram encontrados em uma série de onze cavernas ao redor do assentamento. Datam do terceiro século a.C. até 68 d.C. Alguns estudiosos afirmam que as cavernas foram as bibliotecas permanentes da seita, devido à presença de vestígios de um sistema de prateleiras. Outros estudiosos acreditam que algumas cavernas também serviram como abrigos domésticos para aqueles que viviam na área. Alguns estudiosos acreditam que alguns desses textos descrevem as crenças dos habitantes de Qumran, que, podem ter sido os essênios ou o asilo para os adeptos da tradicional família dos zadoquitas contra o sacerdote/rei Hasmoneu. Inquestionavelmente, a “biblioteca dos essênios” foi a maior riqueza arqueológica encontrada durante o século XX. Demonstra a rica atividade literária do Segundo Templo, a cultura judaica da época bem como as diferentes visões teológicas existentes dentro do judaísmo. A biblioteca contém alguns livros ou obras em um grande número de cópias, mas outros são representados apenas fragmentariamente por meros pedaços de pergaminho. Há dezenas de milhares de fragmentos de rolagem. O número de composições diferentes representado é quase um mil, e estão escritas em três línguas diferentes: hebraico, aramaico e grego. Há menos acordo sobre os detalhes do que contém a biblioteca de Qumran. De acordo com muitos estudiosos, as principais categorias representadas entre os Manuscritos do 15


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QMRAM - OS MANUSCRITOS DO MAR MORTO

Mar Morto são:

Diferentemente deste rolo, a maioria deles é constituída apenas por fragmentos, com menos de um décimo de qualquer dos livros. Os livros bíblicos mais populares em Qumran eram os Salmos (36 exemplares), Deuteronômio (29 exemplares) e Isaías (21 exemplares). Estes são também os livros mais frequentemente citados nas Escrituras Gregas Cristãs. Embora os rolos demonstrem que a Bíblia não sofreu mudanças fundamentais, eles também revelam, até certo ponto, que havia versões diferentes dos textos bíblicos hebraicos usados pelos judeus no período do Segundo Templo, cada uma com as suas próprias variações. Nem todos os rolos são idênticos ao texto massorético na grafia e na fraseologia. Alguns se aproximam mais da Septuaginta grega. Os Rolos do Mar Morto ajudam até certo ponto a compreender o contexto da vida judaica no tempo em que Jesus pregava. Fornecem informações comparativas para o estudo do hebraico antigo e do texto da Bíblia. Mas o texto de muitos dos Rolos do Mar Morto ainda exige uma análise mais profunda.

a) Bíblico: Essas obras contidas na Bíblia hebraica. Todos os livros da Bíblia são representados na coleção Rolos do Mar Morto, exceto Ester. b) Apócrifo ou pseudoepígrafo: Essas obras, que são omitidos vários cânones da Bíblia e incluído nos outros. c) Sectário: Esses pergaminhos relacionados com a comunidade pietista e incluem ordenanças, comentários bíblicos, visões apocalípticas e obras litúrgicas. O grupo que produziu os pergaminhos sectários é considerado por muitos como os essênios, há outros estudiosos que afirmam que há muito pouca evidência para apoiar a visão de que uma seita produziu todo o material sectário. Além disso, há estudiosos que acreditam que há uma quarta categoria de materiais de rolagem que não é nem bíblico, nem apócrifo e nem sectária. Em sua opinião, alguns rolos de papel, nos quais se pode incluir “Canções do Sacrifício do Sábado”, são escritos que não remontam ao início da Era Cristã. Antes da descoberta dos Rolos do Mar Morto, os manuscritos mais antigos das Escrituras Hebraicas datavam da época do nono e do décimo século da era cristã. Havia muitas dúvidas sobre a confiabilidade dessas cópias. A análise dos textos encontrados mostra que os textos hebraicos eram bastante fluidos antes de sua canonização. Há textos que são quase idênticos ao texto massorético embora haja fragmentos do livro do Êxodo e de Samuel com diferenças significativas das cópias modernas. Mas o Professor Julio Trebolle Barrera, membro da equipe internacional de editores dos Rolos do Mar Morto, declarou: “O Rolo de Isaías [de Qumran] fornece prova irrefutável de que a transmissão do texto bíblico, durante um período de mais de mil anos pelas mãos de copistas judeus, foi extremamente fiel e cuidadosa”. O rolo mencionado por Barrera trata-se de uma peça com 7 metros de comprimento, em aramaico, contendo o livro inteiro do profeta Isaías. O Guia do Bode

Trabalhos do Curso de Especialização Estudos Bíblicos da Faculdade Católica de Santa Catarina (FACASC), sob a orientação da Professora Silvia Togneri. REFERÊNCIAS BERGER, Klaus. Qumran e Jesus. Petrópolis: Vozes, 1 994. Biblioteca de Qumran. Disponível em: <http://www.ibiblio.org/expo/deadsea.scrolls.exhibit /Library /library.html>. Acesso em: 11 nov. 201 3. MARTINEZ, Florentino Garcia. Textos de Qumran. Petrópolis: Vozes, 1 995. Qumran. Ministério do Turismo de Israel. Disponível em: <http://www.goisrael.com.br/ Tourism_Bra/Tourist%20Information/Christian%20T hemes/Details/Paginas/Qumran%20%20%20chr.a spx>. Acesso em: 1 3 nov. 201 3. Qumran. O mosaico israelense. Disponível em: . Acesso em: 1 8 nov. 201 3. Revista Aventuras na História. Edição 65, dezembro de 2008. Editora Abril, São Paulo. ISSN 1 806241 56. 16


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AKHENATOM

Akhenatom Filho do Faraó Amenófis III e da sua Grande Esposa Real Tiye, Amenófis IV, o rei que mais tarde será conhecido por Akhenaton, foi um dos mais enigmáticos faraós do Antigo Egipto. Amenófis IV foi responsável pelas extraordinárias reformas religiosas que ocorreram no Egipto no séc.XIV a.C., através das quais, foi firmado um marco histórico, sinal do nascimento de uma herança filosófica, que iria persistir até aos nossos dias. Estima-se que o reinado de Amenófis IV tenha começado quando ele atingiu a idade de quinze anos, e que tenha durado cerca de dezassete anos (de 1 364 a 1 347 a.C.). Pela altura em que se tornou soberano, tinha já desposado Nefertiti, nome que significa «A bela chegou». O faraó Amenófis IV, passou a sua infância e adolescência no Palácio de Malgatta, onde permaneceu até ao sexto ano do seu reinado. Desde cedo, a sua educação foi levada a cabo essencialmente pela sua mãe, a rainha Tiye, e dado que ela possuia uma enorme afinidade ao culto do Deus Sol, «Atum-Rá», uma divindade com o centro de culto em Heliópolis, certamente a rainha foi uma fonte de conhecimento inesgotável, pela qual Amenófis IV assimilou algumas das ideias que veio a utilizar na sua própria doutrina. Todavia, parte importante da sua educação foi também administrada por Amenófis filho de Hapu, um vizir que terá antes sido escriba, versado nos mistérios egípcios e que lhe terá transmitido as antigas tradições, reservadas apenas ao Faraó e a altos dignitários. Hoje, é possível afirmar com alguma segurança, que o reinado de Amenófis IV (forma helenizada do nome egípcio Amenhotep IV) terá ocorrido inicialmente em co-regência com o seu pai Amenófis III. Nos primeiros anos de governação, seu pai tê-lo-á ajudado a fortalecer o reinado e a conter as hostilidades que advinham das transformações religiosas que ia pondo em prática; no entanto, na família real não foram apenas pai e filho a assumir um papel importante na realização destas grandes reformas, a sua mãe, a rainha Tiye, e a sua amada esposa Nefertiti, juntamente com altos dignitários do reino, realizaram acções indispensáveis para assegurar

que esta inovação religiosa, pudesse ocorrer em toda a sua plenitude. Este precioso acompanhamento de Amenófis IV, no que diz respeito à sua mãe, passou por uma formação específica destinada à sua condição de regente e também por um grande equilíbrio político conseguido através de uma engenhosa diplomacia, que terá permitido alguma serenidade e a diminuição das tensões sociais ao mesmo tempo que as reformas iam decorrendo. No caso da sua esposa, foi a participação activa na celebração e difusão religiosa e também o apoio devoto que lhe deu em momentos de infortúnio, no decorrer da sua «revolução». No reino de Amenófis III, o culto de Amon era o culto predominante, e o seu clero, ganhava cada vez mais poder político, administrativo e religioso. Ao mesmo tempo que ganhava protagonismo, o clero corrompia-se e dedicava-se a práticas libertinas, ostentando também uma enorme riqueza. Adoptando uma postura materialista, o clero distanciava-se das suas funções principais e tentava dominar a cena política. O rei, temendo um eventual ataque à sua 17


A REVISTA DO MAÇOM supremacia e tentando asseverar o controlo do reino, foi delineando uma estratégia que pudesse conter a ascensão do clero de Amon. Decidiu então fomentar o renascer de Aton, uma divindade que era uma versão do deus Ré-Horakhty, que significava «Hórus no horizonte» ou «Hórus dos dois horizontes». Ré-Horakhty era representado por um disco solar e um Uraeus (um adorno em forma de serpente que é, entre outros, um símbolo das fases de um processo iniciático em que um homem profano se transforma em iniciado). Estes dois elementos iconográficos conjugados, resultariam na representação do sol nascente. O nome original de Aton era «Que viva RéHorakhty, o que se regozija no horizonte na sua identidade da luz, que está no disco solar». Sob este nome, Aton foi adorado muito antes de Amenófis III e Tutmés III, respectivamente pai e avô de Amenófis IV. Ambos tinham um culto especial a ele dedicado, e Amenófis III, o rei deificado, tinha sido já identificado com o disco solar e assumia o nome de «O deslumbrante Aton». Todavia esta divindade não tinha até então assumido, pelo menos de forma pública, um papel relevante no panteão egípcio, como teria ocorrido no reinado de Amenófis IV. O culto a Aton, que no contexto teológico de Akhenaton pretendia ser um sistema monoteísta, na prática verificou-se henoteísta, dado ter sido um sistema religioso que admitia a existência de outros deuses, colocando, no entanto, o deus Aton acima de todos os outros. Contudo, é evidente que Amenófis IV pretendia apagar a memória das outras divindades, e durante o seu reinado não se poupou a esforços para remover por todo o Egipto, as referências a outras divindades. Para esse objectivo, contou com a ajuda do seu exército, com o qual foi possível garantir, algumas vezes pela força, as reformas desejadas. Amenófis IV removeu as inscrições de monumentos que mencionavam outros deuses e alterou também as inscrições que possuiam a palavra «deuses» (forma plural) e passou-as para a palavra «Deus» na forma singular. Com estas reformas era inelutável o recrudescer da animosidade por parte do clero de Amon, em particular o que se situava em Tebas; quando Amenófis IV fez saber, que o novo culto, na sua maioria, dispensava a existência de O Guia do Bode

AKHENATOM Sacerdócio, a relação entre o clero e o faraó agravou-se ainda mais; O culto de Aton deveria ocorrer sempre através do rei, o sacerdote e filho de Aton. Amenófis IV seria então a expressão e o difusor da luz divina, emanada por Deus para toda a humanidade. Sem demora, no primeiro ano do reinado, Amenófis IV, ordenou a construção de um templo dedicado a Aton em Karnak, a localização exacta do templo é desconhecida, no entanto, tudo indica que esse e outros templos dedicados a Aton estivessem localizados a leste do santuário de Amon e orientados na direcção do nascer do sol. Neles estaria a representação do disco solar, conhecido como o símbolo das três fontes de adoração, a luz, a vida e o calor. Contudo, o culto, a simbologia e a doutrina de Aton tornaram-se cada vez mais complexas; particularmente na tentativa de tornar o culto de Aton a antítese do culto de Amon de forma a acentuar uma substituição definitiva. No campo da arte, a anterior concepção conservadora e a ideologia canónica de Amon, foram substituídas pela representação livre da intimidade e do forte realismo, quanto à arquitectura, os velhos templos sombrios e recônditos deram lugar a templos amplos ao ar livre, e no contexto da representação, mais uma vez o antagonismo, a quase escondida e dissimulada representação de Amon «O Oculto», dava agora origem à concepção iconográfica criada por Amenófis IV, onde Aton era retratado em espaço aberto com o disco solar acima de si, a emanar os seus raios, que terminando em forma de mãos, seguravam várias Ankhs (o símbolo da vida egípcio), oferecendo vitalidade à família do faraó, «Os raios de Aton são protectores, as suas mãos dão-nos saúde e força». No 4.º ano do seu reinado, Amenófis IV, em conformidade com a sua reforma religiosa, decide então alterar o seu nome, de Amenófis IV «Amon está contente»), para Akhenaton («eficaz para Aton» ou «Gloria para o disco solar»). Ao alterar o seu nome, Akhenaton, oficializava a ruptura com o deus Amon e oficializava a ascensão de Aton, que passava agora a ser a divindade mais importante do Egipto. No mesmo ano, Akhenaton resolve construir 18


AKHENATOM uma nova capital para o país, uma «cidade templo» que resolve chamar de Akhetaton, «O horizonte(Akhet) de Aton». O local escolhido, foi o que é hoje uma cidade árabe chamada Tel-ElAmarna, que fica situada na margem oriental do rio Nilo, na província egípcia de Al Minya. Este «horizonte de Aton», sendo edificado em terreno virgem, iria pertencer exclusivamente a Aton e nele seriam construídas as fundações que iriam acolher a sua filosofia e o seu culto. Amarna, «Akhetaton» seria construída relativamente perto de Hermópolis, a cidade que tinha como deus principal Thot, o deus da experiência e da razão, da da música e da magia, identificado na civilização grega como Hermes. Akhenaton queria porventura envolver os sacerdotes de Heliópolis nos trabalhos místicos da nova capital, eles que ao contrário dos sacerdotes de Tebas, estavam desprovidos de intenções materialistas e estariam mais interessados na aplicação e transmissão das tradições místicas. Não convém esquecer que o culto de Aton, foi no seu princípio um reviver dos costumes religiosos de Heliópolis. Foi no inverno do 6.º ano de reinado de Akhenaton, que Amarna a nova capital do Egipto, foi dada como edificada. Os trabalhos de construção permaneceram durante mais alguns anos, mas a verdade é que Akhenaton via agora materializado o seu sonho. Consoante o que pensou, escreveu e fez, cumpria agora a sua promessa. Numa das raras estelas de Amarna que não foram destruídas, podemos ler: «Eu farei Akhetaton para Aton, meu pai, neste lugar; Não a farei nem mais para o sul, nem mais para o norte, nem mais a leste, nem mais a oeste. Não ultrapassarei os limites, nem ao sul, nem ao norte, não construirei a oeste, mas a oriente, onde o sol aparece, no local onde ele (Aton) rodeou de montanhas a seu gosto(e)». Foi também possível encontrar uma descrição referente aos limites de Amarna, «Vai de uma falésia a outra, do horizonte oriental do céu, ao horizonte ocidental do céu». Remete-nos numa perspectiva de herança, para uma concepção tradicional de uma Loja maçónica, onde a «Loja Akhetaton», «se estende de oriente a ocidente, do zénite ao nadir e do sul ao setentrião». Em Akhetaton, cabia ao casal solar,

Akhenaton e Nefertiti, assegurarem os rituais e as oferendas, que permitiam à luz celeste recriar o mundo em cada um novo dia. O faraó sacerdote cuida da luz da manhã e a rainha sacerdotisa cuida da luz da tarde, perfazendo assim em dualidade complementar, o «ciclo cósmico». Akhenaton não era meramente um regente administrativo, na função de sacerdote de Aton, presidia cerimónias religiosas, que eram geralmente de cariz público, o que tornava o povo mais próximo do culto e da família real. Como Sumo sacerdote, Akhenaton partilhava a sua doutrina espiritual com quem achasse digno de a receber; pelas palavras de um dignitário podemos ler: «Akhenaton passa o dia a instruir-me, tão grande é o zelo que eu tenho a praticar a sua doutrina» e mais profere, «O meu Senhor fez-me avançar, porque eu praticava a sua doutrina; escutei a sua voz sem cessar; os meus olhos viam as suas belezas todos os dias; o meu senhor, sábio como Aton, fazia da Justiça o seu prazer. Quão próspero é aquele que ouve, a tua doutrina da vida!», é desta forma evidente que através da aprendizagem dos ensinamentos, era permitido ao dignitário o avanço para uma nova luz, uma iniciação aos «novos» mistérios. Ao grande templo de Aton na cidade Amarniana, foi atribuído o nome de «het benden – (Templo da pedra erguida)», alusão à simbologia de Heliópolis a um obelisco no qual a luz separava os dois pólos, celeste e terreno, a pedra central onde o criador se manifesta às origens da vida. Neste caso, poderíamos observar uma grande coluna monolítica, na qual estava representado Akhenaton e a família real. A família estava numa condição de veneração ao Sol, substituindo assim a versão de pedra triangular dos templos de Heliópolis, neste caso era Akhenaton a pedra angular da cidade do sol. Tal como acontecia nos outros templos, existia um caminho simbólico em direcção a deus. O fiel começaria por atravessar uma porta monumental, que servia de entrada para um largo átrio, preenchido uniformemente em cada lado por várias esfinges e um renque de arvoredo. Ao ser atravessado, daria lugar a pequenos pilares ornamentados com pequenos tecidos em forma de bandeira. Cruzar-se-iam depois grandes pátios, 19


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condição de veneração ao Sol, substituindo assim a versão de pedra triangular dos templos de Heliópolis, neste caso era Akhenaton a pedra angular da cidade do sol. Tal como acontecia nos outros templos, existia um caminho simbólico em direcção a deus. O fiel começaria por atravessar uma porta monumental, que servia de entrada para um largo átrio, preenchido uniformemente em cada lado por várias esfinges e um renque de arvoredo. Ao ser atravessado, daria lugar a pequenos pilares ornamentados com pequenos tecidos em forma de bandeira. Cruzar-se-iam depois grandes pátios, através dos quais se chegaria ao espaço mais sagrado, o grande altar. Os raios de sol chegam de todos os lados e o povo está autorizado a percorrer todas as salas do templo, situação que era anteriormente interdita e reservada apenas aos sacerdotes iniciados. No templo também está presente, a ideia da sacralização do tempo e do espaço, representada pelo simbolismo do número 365, a quantidade de pedestais construídos destinados à colocação das oferendas. As acções de culto, passam na sua maioria pelas oferendas dos melhores produtos; para glorificação do divino, Akhenaton com o seu ceptro ritualista, procede à consagração e sacralização das oferendas que assegurarão o bem estar do país e a vida dos seus habitantes. Era assim feita a comunhão entre Deus e o Homem. Na sua doutrina, Akhenaton abandona também o postulado em que a alma após a morte física. é sujeita a julgamento no tribunal de Osíris. Para os fiéis a Aton, a sua alma transforma-se O Guia do Bode

AKHENATOM

agora num «corpo astral», numa força imaterial, sendo que mais tarde os pitagóricos herdarão esta noção previamente formada por Akhenaton. Para os fiéis, a sua alma aguardará nas trevas impaciente, esperando o novo dia e a nova criação trazida pelo disco solar, e através dele, a alma voltará a nascer. A morte parece não existir e no lugar dela apenas uma metamorfose com base nas leis da eternidade. O Aton de Akhenaton representa o princípio da criação, uma matriz de energia condutora da luz dos vivos e dos mortos, o espírito que ilumina a alma humana. Aton é a consciência universal para a qual nada é impossível, e apesar de se exprimir através do Sol, Aton não se limita a ele. Aton é a energia que faz existir todas as coisas, e o Sol, apenas a forma na qual escolhe lançar a luz sobre a terra, através do seu maior esplendor. Aton é também o «olho do sol», o olho sagrado que contém a fórmula alquímica de todas as coisas, e a assumir esta forma, Aton demonstra ser a harmonia universal, na qual o homem retende participar. Para desfrutar dos seus mistérios, terá de abrir também o seu «olho interior». Aton é assim o ciclo da vida, a ressurreição dos dias; quando nascem pela manhã, com a benção da luz, da vida e do calor, e para quando seguem para uma morte temporária, assim que Aton desaparece no ocidente. Aton oferece então aos homens a boa nova, quando volta a emergir no horizonte, e revivendo todas as manhãs, volta a espalhar o seu amor pela terra, «Tu apareces na perfeição da tua beleza no horizonte do céu, disco vivo, criador da vida». 20


AKHENATOM Akhenaton pode ser considerado o percursor do monoteísmo, e através dele foram influenciadas religiões que persistem até aos nossos dias. Entre outros indícios, um exemplo curioso dessa herança, é o salmo 1 04 da bíblia, com uma estrutura que nos faz parecer estar perante uma versão do hino a Aton, da autoria do próprio Akhenaton. Muitos outros indícios repousam na própria filosofia de Amarna, receptáculo do conhecimento, de onde beberam muitos teólogos e profetas. Akhenaton deixa-nos aos vinte e nove anos, durante a sua vida foi um sonhador que se perdeu na contemplação, na poesia e na sua descoberta espiritual. No entanto foi gradualmente negligenciando o seu papel de monarca, preferindo assumir-se mais como sacerdote, do que como um regente. A política externa e interna passou para segundo plano, o que fez com que o país atingisse um estado caótico, que pôs em causa a sua soberania, e o Egipto só recuperou após a sua morte, na emergente continuidade dinástica. De Amenófis IV a Akhenaton, o culto atoniano residiu na reaproximação do homem ao divino, trazendo-lhe de volta a luz na concepção de que os homens de todas as raças nascem iguais, e deve o Homem sentir-se uno com todos elementos da natureza: minerais, vegetais, animais e humanos. Deverá o Homem igualmente, procurar a total comunhão e harmonia com Deus, honrando-se a si e aos outros. É de facto na arte, na literatura, nos textos religiosos e nas pedras monumentais que hoje «ouvimos» as palavras e as acções de Akhenaton, ecos do pensamento do faraó, que viria a morrer tragicamente, abandonado pelos seus próximos, em torno de circunstâncias políticas de extrema adversidade. No entanto, o seu sonho deixou um legado de luz, passível de iluminar o Homem, sempre que este permita que ela se reflicta no seu «disco solar» interior.

Bibliografia: Dictionary of Ancient Egypt. L.M. Araujo, 2001 The Queens of Egypt. Butles, Janet R. 1 908 As primeiras civilizações da idade da pedra aos povos semitas – “Les primiéres civilisations, Tome I. Des despotismes orientaux à la cité grecque”. Edições 70, (2009) British Museum Dictionary of ancient Egypt, Shaw, Ian ; Nicholson, Paul. (2003 Os grandes faraós do antigo Egito, Araújo, Luís Manuel Civilizações Pré-Clássicas, António Augusto Tavares (201 0) The Pharaoh’s Sun-Disc : The Religious Reforms of Akhenaten and the Cult of Aten, Sobat, Erin, 2008 Os faraós, BELER, A. G. de. [Lisboa]: Gama, 2001 . Akhenaton et Néfertiti, Le couple solaire, Jacq, Christian, 1 978 The Life and Philosophy of Akhenaten, Devi, Savitri, 1 943 Ancient Historiography, Brand, Peter , 2008 Maravilhas do Egipto. BELER, A. G. de. ,[Lisboa]: Gama, 2002. O Egipto dos Grandes Faraós – Christian Jacq – edições asa – 1 edição agosto de 1 999 – Porto O Egipto do Faraós – Jean Marc Brissaud editions ferni – geneve

Miguel Caldeira e Anabela da Costa, Agosto de 201 4.

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