Voz do Pampa - Edição 1

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SÃO BORJA EDIÇÃO 1 NOVEMBRO/2019

SITUAÇÃO INSALUBRE DE TRABALHO GERA RISCOS À SAÚDE DE CATADORES

EDITORIA SAÚDE


EDITORIAS 4 ESTADO 8 EDUCAÇÃO 14 SAÚDE 20 OPNIÃO 26 ESPORTE 34 +ECOA

EXPEDIENTE Edição: Professora Dra. Vivian Belochio Diagramação: Otávio Ramos Vetores: Reprodução da Internet Produção: Andressa da Cruz, Camila Beque, Camila Dalla Vecchia, Carlos Catelan, Danilo Xavier, Dionatan Farias, Emília Sosa, Enoc Júnior, Fabrício Eluan, Gabriel Neves, Izadora Casquero, Jessica Marian, João Batista, Jonathan Karter, Leonardo Barros, Laura Diullius, Luís Paulo Schimidtt, Manuel Neto, Marjony Hendges, Otávio Ramos, Ranieri Soares, Regiane Cordova, Roger Dalcin, Sarah Christine, Thiago Paiva, Victor Eduardo Oliveira, Victória Mello, Vitória Farinha, Vivian Ayala, Volnei Oliveira e Wellington Quevedo Componente Curricular: Produção de Jornal




ESTADO

Agronegócio, Economia e Política são três fatores diretamente interligados em São Borja, RS. Sendo dependentes em seu funcionamento, tudo aquilo que é fruto de ações do Estado e afeta os cidadãos são-borjenses foi planejado para ser englobado nesta única editoria. Nesta reportagem abordamos aspectos do agronegócio, atividade que existe desde a criação do município, que afetam diretamente a economia da cidade. Índices de quantidade de renda, dados históricos e atividades realizadas em defesa das lavouras são algumas informações disponíveis no texto.

Por Camila Dalla Vecchia, Danilo Xavier, Gabriel Neves, João Batista e Marjony Hendges


Agronegócio gera riqueza e tem grande relevância para a economia de São Borja

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A orizicultura agora predomina na agricultura sãoborjense, atividade que acompanha o município desde sua fundação

mbora tenha sido conhecida por sua alta produção de linho e trigo, 76,18% da produção agrícola atual de São Borja, RS, é de arroz, segundo o banco de dados IPEADATA, que administra esses índices regionais. O secretário da Agricultura e Meio Ambiente do município, Fábio Fronza, explica que o comércio da cidade é pequeno, portanto, boas safras são determinantes em sua fluidez econômica, devido à dependência local da agricultura. Para auxiliar nessa atividade, a prefeitura auxi-

lia com projetos e financiamento de pequenos produtores, que não se enquadram nos padrões dos grandes agricultores de arroz ou trigo, por exemplo, além de realizar a manutenção de estradas, as quais possibilitam o transporte da safra de grandes empresas do agronegócio no município. Já o IRGA (Instituto Rio Grandense de Arroz) presta auxílio aos grandes agricultores regionais através de sugestões da manutenção do cultivo, muitas vezes buscando soluções baseadas no uso de produtos orgânicos.

História agricultora: do gado do passado às commodities de hoje Segundo informações disponibilizadas pela Prefeitura de São Borja (através do endereço <www. saoborja.rs.gov.br>), a atividade agrícola é um dos pilares que sustentam o município desde seus primórdios. Fundada em 1682, como uma redução jesuítica para a introdução do gado espanhol na região, São Borja começou com a agropecuária, além da catequização do povo nativo guarani, como principal atividade. A monitora do Museu Ergológico da Estância de São Borja, Rosangela Fernandes, mantém o local destinado à preservação da cultura local, que comprova a apropriação de técnicas e produtos de cultivo indígenas na produção agrícola regional. O chimarrão, por exemplo, surgiu do consumo da erva-mate nas reduções jesuíticas pelo povo local. Rosângela conta que “os índios [guaranis] tinham grandes ervais de erva-mate”. Além disso, a tecnologia do cocho, um tronco grande de árvore com uma fenda em sua superfície, foi apropriada para o armazenamento de alimentos ou água para animais e muito utilizada nos primórdios da pecuária sul-rio-grandense.

Além de Terra dos Presidentes, São Borja já obteve o título de “Capital do Trigo” e, antes, sediava a maior produção de linho do Brasil, segundo o secretário da Agricultura e Meio Ambiente, Fábio Fronza. Embora a maior produção, hoje, seja de arroz, Fábio explica que a rotatividade de commodities produzidas aqui depende da valorização do produto agrícola e, como recentemente o arroz não tem sido muito lucrativo, devido aos baixos custos e a grande área necessária para sua produção, além da divisão cada vez maior da terra de produção agrícola em menores propriedades rurais, a soja está lentamente passando a ser produzida em substituição à orizicultura. Embora a produção agropecuária sempre mude seus produtos devido às diferentes exigências do mercado, é improvável que as atividades rurais deixem de ser o alicerce principal que mantém vivo o munícipio. Segundo a prefeitura, “São Borja é uma terra de oportunidades [para o agronegócio], pois possui um dos melhores climas e solos do continente para a agricultura e está situada em uma área geográfica privilegiada para o ramo da logística, tendo um dos serviços aduaneiros mais rápidos e eficientes do Mercosul, através do Centro Unificado de Fronteiras (CUF).”


Auxílio e proteção às lavouras pelo IRGA Diferente da Secretaria da Agricultura e Meio Ambiente, que mantém o foco no auxílio e na manutenção de atividades de agricultura familiar, o Instituto Rio Grandense do Arroz(IRGA), presta apoio aos grandes produtores rurais da região. Fundado em 1928, na gestão presidencial de Getúlio Vargas, a organização é uma autarquia estadual que reúne técnicos em agricultura e agropecuária e tornou-se centro de referência em pesquisa, inspeção rural e transferência de tecnologia, especialmente na área da orizicultura, que é o cultivo de arroz. As lavouras fazem uso de inseticidas para conter as pragas com base na média nacional e, em São Borja, não é diferente. Segundo o técnico orizícola do Instituto Rio Grandense do Arroz (IRGA), Marconi Severo, a cidade segue um padrão de quantidade. Marconi explica que alguns agricultores fogem do ideal, mas o instituto só é avisado em casos urgentes. “Produtos agrícolas, agrotóxicos, venenos (...) independente da nomenclatura, são produtos de alto custo e, normalmente, as pessoas tentam fazer algum mane-

jo, para não desperdiçar dinheiro e tempo, porque isso pode acarretar por um prejuízo na lavoura”, afirma. O técnico explica que vendedores da rede privada, na maioria dos casos, recomendam a aplicação de agrotóxicos, mas o IRGA procura aconselhar a manutenção da lavoura de forma mais orgânica e sustentável. “Nós fazemos o contrário. Sempre que possível, não recomendamos a aplicação e tentamos suprir a necessidade da planta de outra forma [...] Ano passado, tivemos um caso de lagarta em uma lavoura aqui da região. O dono entrou em contato, com um vendedor de inseticidas, que prontamente recomendou a aplicação do produto. Quando nos chamou, explicamos que esse tipo de lagarta estava em final de ciclo e apenas a aplicação de ureia resolveria, sem grandes problemas na produção e com economia”.

Tributos arrecadados com o Agronegócio em São Borja

Renda Bruta

Renda Percapta



EDUCAÇÃO

A editoria educação se propõe a dar visibilidade ao ensino público e privado de qualidade do município de São Borja, questionar e também instigar as demandas educacionais. Além disso, a partir dessa notabilidade à educação sãoborjense e às produções realizadas no ensino da cidade, pretende-se estimular novos e consideráveis investimentos na mesma, para também aguçar a sua qualidade e o melhor preparo dos estudantes para/com suas formações. Na matéria produzida para a editoria, procurou-se abordar a respeito da recreação infantil e seu papel dentro de espaços educacionais complementares, com enfoque no Clubinho de Criação. Sendo assim, foi buscado compreender como esse tipo de ensino se insere na vida das crianças, com base em depoimentos de pais, psicóloga e professora. Por Emília Sosa, Hendrica Carvalho, Jonathan Karter, Leonardo Barros, Roger Dalcin, Sarah Christine e Vitória Farinha


(Re)criando a infância

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Ícone do Clubinho de Criação

De que modo o Clubinho de Criação está incentivando a arte, a leitura e o desenvolvimento infantil em São Borja?

esclando o lúdico com a educação, a recreação é considerada por diversos pesquisadores e pedagogos como um mecanismo promissor para desenvolver a criatividade, a maturidade e o convívio social em crianças de todas as idades. Em São Borja, o Clubinho de Criação surgiu como uma possibilidade de estímulo de estudos sobre cultura e arte para o público infantil da cidade, com produções fílmicas, oficinas de dança e artesanatos. Após perceber a demanda dessas atividades na cidade, a publicitária Emilene Lou criou esse espaço, que oferece aulas três vezes na semana para turmas mensais de diferentes idades. Além disso, disponibiliza oficinas esporádicas, com o intuito de fomentar o conhecimento cultural e estimular a criatividade, desde a infância. Em outubro deste ano, o Clubinho da Criação ganhou o prêmio “melhor filme” por “Clubinho news: especial lixinhos abandonados”, na 8ª edição do Festival Internacional Pequeno Cineasta. Com a criação, desenvolvimento e atuação realizados pelas crianças, o clubinho foi premiado no estado do Rio de Janeiro, concorrendo na categoria Mostra Nacional Criança. O curta-metragem aborda a situação dos lixos jogados nas ruas de uma forma bem humorada. Embora exista o impasse da falta de recursos financeiros de muitas famílias para o investimento em cursos e outras atividades além da escola, os pais que têm seus filhos matriculados no espaço acreditam que o estímulo a esse tipo de educação é essencial para o desenvolvimento das crianças. A mãe de Manuela, a personal trainer Joele Pires, há dois anos no Clubinho, destaca que sua filha, que possui déficit de atenção, se desenvolveu pessoal e socialmente. “Antes, ela não falava muito. Agora, por conta dessa desenvoltura, em função das oficinas de cinema, ela não tem papas

na língua. Ela ainda fica muito insegura, conforme a matéria, mas, se tiver que ir lá falar ou explicar, ela estuda e vai”, ressalta Joele. Mesmo com o incentivo, a criatividade durante os cursos oferecidos começa dentro de casa. É quando começa o estímulo à criança. Como diz o pai de Joana, o administrador João Colla, “ela faz algumas atividades em casa, ela pesquisa no youtube, faz dobraduras, origami”. Além disso, Colla comenta que Joana se tornou mais independente e confiante, pois a filha se propõe a novas experiências. “Ela arrisca mais”, comenta. Outros pais percebem a facilidade e interesse dos filhos em atividades artísticas, e, com isso, matriculam as crianças em espaços como o Clubinho como forma de crescimento e desenvolvimento. “Minha filha sempre gostou de ler, escrever, desenhar e atuar. Por isso, vi grande potencial nela. Conheci a professora Emilene e coloquei ela no Clubinho. Com isso, ela cresceu muito”, conta a mãe de Luíza, a professora aposentada Marcene Silva. Considerando que não são todos os pais que possuem condições financeiras de fazer esse tipo de investimento na educação das crianças, no plano pedagógico das escolas públicas, existem projetos que despertam o lado criativo dos alunos. Assim como o próprio município possui proposta para esse tipo de ensino, os professores possuem autonomia para inserir essas atividades na grade curricular.

Crianças realizam variadas atividades no clubinho. Imagem: Emilene Lou


Leitura na Escola: o incentivo à criatividade A Prefeitura Municipal de São Borja desen- nados são os finalistas. Devem produzir uma peça volve, anualmente, o projeto Leitura na Escola, que de teatro a partir da história que mandaram para a incentiva o lado criativo das crianças das escolas do seleção. Uma regra importante do projeto é a parmunicípio. O projeto tem início nos primeiros me- ticipação de alunos de diferentes anos na produção ses do calendário escolar. É baseado na apresenta- do teatro. O objetivo principal é que aconteça a inção de histórias famosas da literatura infantil para tegração entre os alunos da escola. que os estudantes envolvi Contudo, a atividade não dos desenvolvam produse limita a um concurso, tos com relação aos temas mas também busca incenpropostos. Nos primeiros tivar o hábito da leitura nos três anos, as crianças criam estudantes. A supervisora desenhos a partir das hispedagógica da SMED, Ana tórias que leram e, a partir Cláudia Conceição, destado quarto ano, começam a ca que “a participação desescrever textos, de forma ses alunos contempla eles que estimulem seu lado com o vale-livro, que é um criativo. Os alunos do Enincentivo à compra de uma sino para Jovens e Adultos obra no valor de R$ 5,00”. (EJA) também participam Cabe ressaltar que o valor dessas atividades. do bônus varia de acordo O projeto têm, atualmente, O Leitura na Escocom o número de alunos 1911 participantes. Imagem: Emília Sosa la possui três etapas. A prique participam do projeto. meira consiste na realização dessas atividades de Este ano, o valor foi de R$ 5,00, pagos para 1911 produção de desenhos e textos. Após a produção, participantes. Conceição diz que encontra no proa escola faz a seleção dos trabalhos que vão para a jeto Leitura na Escola uma alternativa para desensegunda etapa. Nessa etapa, a seleção de trabalhos volver o lado criativo das crianças e dos adultos do é feita por uma comissão julgadora da Secretaria EJA, que, muitas vezes, ficam presos aos planos peMunicipal de Educação (SMED). Os nove selecio- dagógicos de exercício teórico.


As brincadeiras e as atividades lúdicas são muito importantes para o desenvolvimento psicológico, social e cognitivo da criança, através dela que ela consegue expressas sentimentos em relação ao mundo social. As atividades preparam a criança para o desempenho de papéis sociais para a compreensão do funcionamento do mundo, para demonstrar e vivenciar emoções. Para a psicóloga, Sofia Priscila Weber, as atividades lúdicas estimulam as crianças que possuem dificuldades na aprendizagem, pois auxiliam em habilidades como memorização, figuras geométricas, cores, etc. Ela ainda diz que brincadeiras como pular corda, rabiscar o chão, fabricar brinquedos com sucatas, ou seja, O clubinho da leitura estava presente na edição 2019 da feira do livro de São Borja. Imagem: Edilene Lou brincar sem utilizar brinquedos industrializados ajudam a criança a interagir com a natureza e a estimular sua criatividade sem utilizar o celular, se tornando essencial para valorizar e desenvolver habilidades e comportamentos benéficos para o indivíduo em formação.

Educação inclusiva em São Borja

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Saiba como funciona o processo de acolhimento das pessoas com deficiência nas instituições de ensino do município

direito de inclusão das pessoas com deficiência em todos os âmbitos da sociedade é garantido pelo Estado, lei Nº 13.146, que assegura e promove o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais da pessoa com deficiência, no Art. 27, encontram-se as normas que certificam o sistema educacional inclusivo no Brasil, para todos os níveis de aprendizagem com qualidade da pessoa com de-

ficiência. No contexto escolar de São Borja, dentre 60 escolas, existem 720 alunos com deficiência matriculados efetivamente, 291 são da rede municipal, 295 de escolas estaduais, 9 do instituto federal e 145 de escolas privadas, de acordo com o censo escolar do INEP de 2014. O Colégio Municipal Sagrado Coração de Jesus atualmente possui 25 alunos com deficiência matriculados. A orientadora educacional, Jânia Lencina, conta que estudantes com deficiência intelectual, múltiplas e autistas, são recebidos pelo Atendimento Educacional Especializado (AEE), e que a estrutura do ambiente escolar foi planejada para garantir a locomoção e o acesso às dependências do colégio. Na escola, são oferecidas atividades diferenciadas de apoio pedagógico e recursos como notebooks adaptados, jogos didáticos, materiais com conteúdo audiovisual e tábuas para leitura em braile.


No Colégio Estadual de São Borja (CESB), também são realizadas adaptações específicas e arquitetônicas para receber os 19 alunos com deficiência matriculados. A orientadora educacional, Ivana Corrêa, trabalha mensalmente em projetos que estimulam a inclusão entre os estudantes para que práticas de bullyng sejam evitadas e repensadas: “Eu tento sempre esclarecer que todos os alunos, independentes de ter deficiência ou não, e de ter alguma dificuldade de aprendizagem, têm o mesmo direito de serem respeitados e de frequentar o colégio, e que todos devem ajudar e serem solidários com os colegas, independente da situação”, afirma Ivana.

Equipamentos especiais auxiliam os alunos com deficiência. Imagem: Leonardo Barros

Fonte: Livro “Diversidade - Mídia e Deficiência”

Como falar corretamente sobre as pessoas com deficiência



SAÚDE

A editoria de saúde contribui e volta sua atenção para assuntos delicados de convívio social e participação dos órgãos públicos e privados no atendimento da população são-borjense. Nesta primeira edição, trazemos uma reportagem sobre o trabalho dos catadores na região e os riscos à saúde ao qual estão submetidos diariamente. Além disso, buscamos uma abordagem um pouco diferente. Aliás, falar de lixo e riscos à saúde são pautas com pouca importância para a comunidade de São Borja. Com isso, elaboramos uma história incrível com perspectivas de diferentes fontes, onde chegamos na irregularização do dinheiro para aterro em Giruá, RS, cidade onde o lixo deveria ser enviado.

Por Izadora Casquero, Manuel Neto, Otávio Ramos e Victor Oliveira


Imagem: Reprodução

Contato com o lixo pode gerar diversos tipos de doença e diminuir a expectativa de vida de catadores

Situação insalubre de trabalho gera riscos à saúde de catadores Catadores estão expostos a diversos tipos de doenças e tem que lidar com a baixa valorização e falta de projetos que os beneficiem

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m São Borja, de acordo com o Secretário de Desenvolvimento Social, Pedro Quoos, são cerca de 80 famílias de catadores que fazem a coleta de lixo seco (papelão, vidro, plástico, etc.) no lixão da cidade. O número é considerado expressivo, pensando no total da população e no fato de esse número não abranger os catadores que não buscam nenhum tipo de auxílio fornecido pela prefeitura e atuam exclusivamente de forma autônoma. Segundo Quoos, a maioria dos catadores entra nessa profissão por não conseguir um trabalho formal. Com a economia fronteiriça do município, baseada primariamente na agricultura, são poucas empresas e ofertas de emprego. Além de lidar com as dificuldades de um emprego informal des-

valorizado, o catador ainda deve encarar os altos riscos à saúde que o trabalho oferece. Os perigos, porém, não abrem espaço para o medo. É o que conta a catadora Cleusa Marli, que tem como auxílio financeiro somente o programa Bolsa Família e precisa complementar a renda com a coleta de lixo. Sua jornada acontece principalmente nas quartas, quintas e sábados, dias em que consegue encontrar mais lixo e material reciclável, e se dá principalmente pelos mercados e estabelecimentos ao redor de onde mora, no bairro da Várzea. “Eu saio e tento ter fé de que não vou me machucar ou adoecer. Não tenho medo por isso, mas riscos existem vários”, afirma Cleusa, que, para lidar com os riscos e as doenças, conta apenas com a sorte.


Projeto Sustentável é melhora condições de trabalho dos catadores na cidade Elisangela Godoy, viu-se catadora desde que perdeu o emprego como empregada doméstica. Começou recolhendo latinhas pelo bairro do Passo, na mesma situação de insalubridade na qual trabalham todos os catadores autônomos: sem luvas e sem botas apropriadas para o manejo do lixo. Esses materiais básicos para o cuidado com a saúde só passaram a ser usados quando ela entrou para o Projeto Sustentável. A iniciativa da prefeitura visa tirar os catadores de rua de suas jornadas individuais para que, em grupo, possam coletar mais lixo, com mais segurança. O projeto é coordenado pelo catador José Carlos Molina. Trabalhando na área há anos, ele foi indicado como presidente e reuniu outros catadores de rua para fazer o recolhimento do lixo no bairro do Passo e também do Centro. Após isso, o lixo é levado para a sede do projeto, onde é separado e vendido para empresas de reciclagem. Por proporcionar o recolhimento de uma grande quantidade de lixo, devido ao número de participantes do projeto e por entregarem o lixo já separado à recicladora, Maria viu seu lucro aumentar desde que entrou no projeto. Ela conta que conseguiu, inclusive, fazer uma festa de 15 anos para sua filha. Além do ganho monetário, a disponibilidade de equipamentos de segurança é um benefício para sua saúde. “Ter as luvas

para a gente usar é muito bom. Como eu estou sempre pegando muitas garrafas de plástico e de vidro, já evitei vários cortes por causa das luvas”, explica Elisangela. Por lidar muito com materiais cortantes, uma das coisas que a catadora gostaria que ocorresse é a separação das garrafas, pois mesmo com os materiais de segurança, a possibilidade de cortes ainda existe e já a afastaram do trabalho. “As luvas ajudam, mas eu já me cortei, tem vezes que não dá para evitar. Fiquei quase uma semana longe do trabalho por causa do corte. Se pudesse, tinham que separar as garrafas de vidro, colocar em outra sacola, porque vem tudo junto e o problema são os cacos de vidro”, acentua Elisangela. Molina ainda reforça o mesmo que Elisangela: “como a coleta seletiva voltou há pouco tempo aqui na cidade, quase ninguém está acostumado, mas deveria vir tudo separado, o lixo seco do lixo orgânico. Então, vai levar tempo para se acostumarem, mas facilitaria muito para gente se o lixo já estivesse separado e ajuda na prevenção de machucados, de doenças”. Atuando há 25 anos como catador, por toda a cidade e dentro do lixão, Molina lembra que o que mais sofreu foi com infecções, mas a pressão por produtividade e necessidade financeira não permitem uma recuperação satisfatória e obrigam o catador a continuar seu trabalho.

explica Molina, catador de lixo

Imagem: Manuel Neto

“Nós, catadores, a gente se acostuma com cortes e com alguma doença que podemos pegar, porque tem que sair para coletar, senão não tem lucro, o dinheiro não chega, aí a gente tenta ficar resistente a essas doenças”


Riscos da atividade Quando os catadores têm contato direto com muito lixo, a probabilidade de contrair algum tipo de doença é grande. Além dos mais diversos materiais orgânicos, que, sozinhos, liberam gás metano, que, se inalado constantemente, pode prejudicar o sistema respiratório, a grande quantidade de chorume é um dos maiores fatores de risco. “É impossível lidar em um ambiente completamente contaminado e sair sem doenças”, afirma o médico infectologista Anastácio Queiroz. Para realizar pesquisas relacionadas ao meio ambiente e estudar o impacto do contato com o lixo na saúde das pessoas, a médica e doutora em pedia-

tria, Marilyn Urrutia, que, hoje, atua em Uruguaiana, criou um grupo que analisa os efeitos do chorume quando entra em contato direto com os catadores. Em uma das visitas do grupo em um lixão, eles perceberam muitos riscos. “Eles são muitos expostos a contaminações, é muito fácil disso acontecer. Alguns vão para lá de chinelo e o contato com bactérias é enorme”, acentua Marilyn. Ela ainda reforça que, além do contato direto e inalação dos gases de apodrecimento dos alimentos, algumas doenças contraídas podem se tornar crônicas. Entre as principais doenças, as mais perigosas e difíceis de serem tratadas são leptospirose, dermatites, infecções gástricas e verminoses.

O tratamento do lixo em São Borja

Dados recentes expostos em um estudo feito pelo Fundo Mundial para a Natureza (WWF) mostra que o Brasil é o quarto país no mundo que mais produz lixo. São, em média, 11.355.220 toneladas por ano, ficando atrás apenas dos Estados Unidos (1º lugar), da China (2º) e da Índia (3º). Apesar disso, os processos de reciclagem e de remanufaturação ainda são baixos, tendo em vista a quantidade de lixo produzido.

os catadores são responsáveis por quase 90% do lixo reciclado no Brasil. No sul do país são cerca de 60 mil catadores em atuação, segundo o IBGE. Em São Borja, os catadores se dividem entre os garis, que trabalham com carteira assinada para a empresa Eco Verde, contratada pela prefeitura para coleta de lixo, os que participam do Projeto Sustentável no Passo, em parceria com a prefeitura, e aqueles que não possuem carteira, não fazem parte do projeto e atuam de maneira autônoma. O coordenador do Projeto Sustentável do passo, José Molina, relata que há um ano o projeto ganhou vida na comunidade trazendo muitos benefícios. Dentre eles, a criação de mais empregos. A iniciativa de um projeto nesse âmbito surgiu da tentativa da prefeitura de reiniciar a coleta seletiva no município, que ficou parada de 2015 até fevereiro de 2018. Entre as atividades e projetos que ainda estão em andamento, foi organizado um processo seletivo para criar uma equipe que já tivesse experiência na coleta e reciclagem de lixo. Na equipe, estava Molina, que há 20 anos trabalhava nas ruas de forma autônoma. Ele foi eleito o Tratamento do lixo em São Borja ainda presidente do projeto e, hoje, ajuda mais cataé precário e gera diversos problemas. Imagem: Reprodução. dores a saírem das ruas e das péssimas condiUm grupo que está envolvido diretamente ções enfrentadas no lixão. com o processo de reciclagem de resíduos é o São mais de 20 toneladas de lixo seco dos catadores. Dados do Instituto de Pesqui- ao mês que o projeto recolhe e separa. O masa Econômica Aplicada (IPEA) apontam que terial vem misturado com o lixo orgânico, já


que a separação do lixo em casa é feita por poucas pessoas. O lixo produzido na cidade de São Borja gera também uma grande preocupação para os cofres públicos. Mesmo havendo formas e projetos de reciclagem, essas despesas ainda são altas. O lixo orgânico e o que não é mais reutilizável deveria ir para o aterro da cidade de Giruá. A prefeitura tem um contrato de R$ 2 milhões por ano, para que a Companhia Riograndense de Valorização de Resíduos (CRVR) faça o transporte do lixo para o município. Porém, grande parte do lixo orgânico ainda fica no lixão do Passo,

mesmo que, desde 2015, São Borja não tenha mais permissão para utilizar o terreno. O secretário de Infraestrutura e Coordenador de Defesa Civil, Edson Ribas, falou sobre o projeto que vem sendo estudado desde 2017, junto com outras cidades da fronteira oeste, da criação de um aterro próprio e de mais fácil acesso para essas cidades. “Uma das opções é Alegrete, por ter uma boa localização, tornando mais barato o transporte do lixo tanto de São Borja quanto de Uruguaiana”, afirmou Ribas. Esse aterro sanitário fica a 140 quilômetros da cidade e não mais a 230 quilômetros, distância entre São Borja e Giruá.

Chance de lucro e segurança A insalubridade e os diferentes perigos que envolvem a coleta de lixo atingem todos que decidem realizar esse trabalho. Segundo Pedro Quoos, muitos projetos estão sendo desenvolvidos visando à reciclagem do lixo e também formas de auxiliar os catadores. Uma das ideias mais recentes é a de expansão do Projeto Sustentável. São Borja tem bairros bem separados entre si e todos possuem áreas de vulnerabilidade, de onde saem a maioria dos catadores. Uma possível expansão do projeto poderia reunir os catadores de cada bairro em cooperativas apoiadas pela prefeitura, como a que existe no Passo. Isso garantiria aos coletores autôno-

Mais de 20 toneladas são recolhidas todo mês pelo Projeto Sustentável. Imagem: Otávio Ramos

mos maior possibilidade de lucro, que se viu realidade no Projeto Sustentável. Através do projeto, ainda seriam fornecidos todos os materiais de segurança necessários para realizar as coletas, diminuindo os riscos à saúde. O principal empecilho, explica Quoos, seria lidar com a parte burocrática para conseguir um local em cada bairro, localizar os catadores e armazenar o lixo coletado. Ele cita, também, as dificuldades para conseguir coordenadores para essa possível expansão. Apesar das dificuldades, os benefícios poderiam atingir a vida dos catadores e a cidade como um todo, devido ao aumento da reciclagem.



OPINIÃO A editoria de opinião tem como objetivo trazer assuntos que geram debate na comunidade são-borjense e, então, buscar possíveis soluções para os problemas e também estimular o pensamento crítico sobre os acontecimentos da cidade. Foram desenvolvidos dois artigos de opinião, falando sobre a saúde pública e as depredações que estão afetando diretamente os patrimônios da cidade. Uma crônica sobre a Educação e duas Charges sobre a situação do garupa e da política na cidade de São Borja.

Por Camila Beque, Carlos Catelan, Laura Diullius, Ritta Vittória, Thiago Paiva e Vivian Ayala


Crônica

Educação, o real e o ideal Há duas coisas que deveriam ser crimes negar a alguém. A primeira, é claro, seria um copo d’água a quem tem sede. A outra é a oferta de uma educação digna e de qualidade. Digo isso porque, quando vemos crianças felizes correndo pelos pátios de escolas, levando deveres para casa, não sabemos das reais adversidades que as suas famílias passaram para que elas estejam ali, tentando um futuro melhor. Em um universo utópico, a educação não seria negada a ninguém, os professores seriam valorizados e receberiam de forma justa. As crianças seriam destinadas facilmente as escolas próximas a suas residências, onde obteriam o ensino da melhor qualidade. Seus pais, avós e responsáveis aguardariam ansiosos o primeiro dia de escola de seus pequenos, sem a incerteza de que, no próximo, ano, talvez, não exista uma designação justa para os mesmos. Porém, a cada ano que passa, a realidade na educação fica ainda mais árdua. Principalmente para quem está dando os primeiros passos na alfabetização. Hoje em dia, além de as escolas não terem o investimento necessário para suportar uma quantidade significativa de alunos, os professores, que movem esse barco, recebem cada vez menos, a desvalorização não passa despercebida. Isso não é diferente em São Borja. Filas para que as famílias consigam

uma matrícula, como conta a mãe Ana Caroline Melo que foi às 4h da manhã para a E.M.E.I Luis Antonio Rigo para garantir uma vaga para seu filho de um ano e meio. O secretário municipal de educação João Carlos Reolon, afirma que apenas 750 crianças, dentro de um total de 2500, de 0 a 3 anos estão dentro das escolas infantis, já que o ensino municipal não é obrigado a ofertar vagas para o ensino infantil. O secretário conta que esse número não é só na cidade de São Borja, mas em outros municípios também. Mas que há um proposição de mudança até 2024, onde mais crianças precisarão estar dentro destas escolas, e até lá as famílias passarão por essa luta para garantir as vagas ofertadas? Não é fácil para ninguém. Pais que veem a atual conjuntura do país diante da falta de empregos buscam ofertar aos seus filhos a melhor das heranças, a educação. Porém, nem todas as famílias têm condições financeiras para custear o ensino privado, que se apresenta cada vez mais caro. A educação é a porta para um universo mais fraterno e digno. Ainda assim, falta fraternidade e empatia para com essas famílias no simples processo de inserir um filho na escola. As noites em que eles se expõem ao risco, montando barracas, ou dormindo em cadeiras de abrir, nas calçadas, em frente às boas escolas, as quais almejam para ser a porta para o futuro de seus filhos, são mesmo necessárias? Mesmo assim, não há garantia de vaga. Não há motivos para se orgulhar, por lutar tanto por algo que deveria ser cada vez mais viável, principalmente devido às circunstâncias atuais. Espero, ainda, que possamos ter como realidade o universo utópico que tanto almejamos. Camila Beque


Artigo

O descaso com a saúde pública Os últimos tempos estão sendo difíceis para o Brasil, ainda mais quando se trata da saúde pública. A cidade de São Borja não tem uma situação muito diferente. Afinal, o único hospital do município, o Ivan Goulart, já não abre seu Pronto Socorro para o atendimento de casos que não são considerados de urgência e emergência. Com isso, a população fica desamparada nas madrugadas, já que os espaços de pronto atendimento da cidade não abrem após a meia noite. Será que essa situação não representa um risco para muitas pessoas? O que resta ao cidadão sem recursos ou convênios particulares, muitas vezes, é a automedicação em casa. Com isso, a população são-borjense precisa procurar atendimento médico nas onze Unidades Básicas de Saúde as (UBS), ou até mesmo esperar nas filas quilométricas para conseguir agendar um médico. O detalhe é que estas são encontradas apenas em horários restritos, deixando

a população desamparada na madrugada. O Posto de Atendimento Médico (PAM), não quis dar entrevista a respeito dos horários de atendimento. É vergonhoso ver pessoas procurando atendimento e não encontrando, sendo que o hospital possui um prédio próprio para a Unidade de Pronto Atendimento 24 horas (UPA), que teve sua fundação no ano de 2013 e até hoje se encontra de portas fechadas. Segundo a direção do Hospital Ivan Goulart, em entrevista para o Correio do Povo, somente casos considerados de emergência e urgência serão atendidos e a atual mudança serve para desafogar a quantidade de pacientes que procuram atendimento. A média, quando o PS ainda atendia esses casos, chegava a 4,5 mil pacientes por mês. Com essa mudança, que começou no início do mês de setembro de 2019, percebe-se a ineficiência e as falhas nas gestões públicas, que não conseguem atender adequadamente às demandas de saúde da população. A cidade e os cidadãos merecem saúde digna e de qualidade, com a sua UPA 24 horas funcionando. Laura Dullius


Charge


Artigo

Promessas e ações de ano eleitoral Em menos de dois meses, o ano de 2020 começará. Com ele, virão as eleições. Os municípios se preparam para a renovação de prefeitos e vereadores. Em pequenas cidades, como São Borja, é possível observar o reflexo da tão famosa busca por votos: as construções. Nessas épocas, é comum ver cidades de interior receberem recursos que dão um legítimo pontapé ao seu desenvolvimento. Com isso, melhoram algumas ruas, suas assistências, e etc, mas essas ações precisam ser concretas e assistidas, também, durante os outros três anos. A população precisa estardispostaapesquisar,lereconheceraspropostasdecada candidato. Ir em busca do que já foi feito, principalmente pelos vereadores, para não cair nas promessas feitas quatro em quatro anos. Camila Beque

Mais do que nunca, precisamos de políticos que estejam ao lado do povo, buscando soluções para problemas reais. As pautas abordadas pela comunidade são-borjense precisam ser acompanhadas durante as propostas dos futuros candidatos. Temas como desemprego, saúde, saneamento, educação, entre muitos outros discutidos por diferentes meios, têm sido discutidos pela comunidade. O espaço de fala DOS CIDADÃOS, ATUALMENTE, é o grupo Reclama São Borja, do Facebook,No entanto, essas discussões não têm visibilidade ou reverberação. É preciso que esses anseios e demandas dos públicos sejam mais debatidos e divulgados, para que a população possa ter esperança de que uma nova São Borja pode estar prestes a se desenvolver., É essencial que, mais do que nunca, exista uma governança para uma totalidade e não apenas para pequenos grupos.

Depredações do patrimônio público: protestar em mídias sociais é suficiente? Em meio a exigências e reclamações, o povo são-borjense luta contra o descaso e a depredação na cidade. Após divulgação de atos de depredação, reclamações e lamentos foram registrados em espaços como a página do facebook Reclama São Borja porém, nada foi feito. Mas será que somente discutir em mídias sociais é luta mesmo? Cada dia mais desenvolvido, o município carece de cuidado e atenção e, assim, vai sendo impossibilitado de crescer pelos próprios cidadãos. Num momento, eles ganham novas estruturas. Logo em seguida, são depredadas. Como uma cidade pode se desenvolver, se quem deveria colaborar faz o favor de depredar, estragar e roubar? A cidade, a cada ano, vem se desenvolvendo mais, calçando as ruas, melhorando a iluminação e, infelizmente, as coisas mudam de um dia para o outro, por erro de pessoas inconsequentes. No Brasil, os casos de vandalismo vêm aumentando, mas até onde isso vai chegar? Grande parte do país torce por ruas e estruturas urbanas bem cuidadas e, principalmente, civilizadas, mas como isso vai ser concretizado, se sempre tem alguém destruindo os patrimônios e Vivian Ayala e Ritta Victoria

as relíquias que se encontram no país? Em São Borja, por exemplo, existem muitos lugares, obras e relíquias históricas. Um episódio recente é exemplo: logo após ser reformado, em 2018, o Museu Getúlio Vargas teve parte de suas estruturas danificada. Com tantas destruições, a prefeitura teve de contratar seguranças e pessoas para cuidar desses patrimônios históricos. Será que, se a população se unisse e demonstrasse a devida importância dessas estruturas, as coisas poderiam melhorar? Até onde esse descaso vai? Já basta de destruir relíquias do país, chegou a hora de ver a importância desses patrimônios para o reconhecimento e desenvolvimento do país. Infelizmente, em meio ao acontecido, a esperança vai se perdendo e as coisas ficam estagnadas. O caminho para que não tenhamos que lidar mais com isso é a luta e principalmente o exemplo. Se cada um começar com uma mínima atitude para a mudança, quem sabe, um dia, seja possível conseguir o que é desejado.



ESPORTE

Esporte está além de jogos de futebol, vôlei ou natação, porque esporte é toda ação, esporte é saúde. Pensando nisso, a editoria esporte do Voz do Pampa pesquisa matérias que exploram essa realidade, mostrando para o leitor todas as facetas que o exercício físico pode assumir na vida cotidiana, bem como os beneficios de ter uma vida onde há muita prática esportiva, seja ela qual for. “Esporte é saúde” é uma matéria especial, que traz o relato de uma das nossas repórteres, em primeira pessoa, para mostrar como o sedentarismo é prejudicial para o corpo. Além disso, apresenta pesquisas e explica os processos do corpo quanto às reações do corpo humano aos estímulos físicos, ou seja, o que acontece com o corpo quando nos exercitamos.

Por Andressa da Cruz, Luis Paulo Muller, Jéssica Oliveira e Regiane Cordova


Esporte é saúde Imagem: Reprodução

A importância do exercício físico alcança o bem estar não só do corpo, como também da saúde mental

P

raticar esporte é sinônimo de estimular a memória e da procura do bem estar, afirmam especialistas. Para a educadora física Jéssica Machado, “o sedentarismo é um grande mal, que afeta muita gente. A falta de atividades físicas e a comodidade que encontramos hoje prejudica muito a saúde e, infelizmente, as pessoas só percebem isso quando necessitam de ajuda médica”. Além disso, para a saúde do corpo e da mente, o esporte pode ser a prevenção, já que, ao invés de esperar a manifestação de doenças crônicas, ou de uma queda na imunidade, o corpo permanece saudável ao ter uma prática diária de exercícios. Estudo realizado por estudantes da Universidade Estadual de Goiás e do Centro Universitário UniEvangélica, publicado em abril de 2018, na Revista Brasileira de Prescrição e Fisiologia do Exercício, comprova que o exercício físico também ajuda na memória, entre outras diversas atividades cerebrais. Movimentos aeróbicos estimulam a oxigenação do cérebro, bem como aumentam a produção de proteínas, necessárias para que o cérebro continue eficiente, mesmo com o avanço da idade. Ao praticar exercícios, o cérebro reage de várias formas, produzindo diversas reações. Uma delas é a produção de ondas cerebrais, que se apresentam em baixa e alta frequência. Em pessoas sedentárias, por exemplo, o cérebro terá uma dose diária de ondas de baixa frequência, que são usadas para fazer atividades

automáticas do dia a dia, como lavar a louça, cozinhar ou, ainda, passar roupa. Já quem costuma se exercitar, terá ondas de alta frequência ativada durante a atividade, o que irá estimular o aprendizado. Além disso, a atividade física libera químicos que atuam como nutrientes necessários para o crescimento de vasos sanguíneos, o que mantém a memória executiva ativa. A atividade aeróbica também propicia um tratamento alternativo para doenças mentais, como salienta a psicóloga Denise Santos. Ao praticar algum esporte, “o organismo libera substâncias que são importantes na determinação do humor de uma pessoa. São substâncias que têm a ver com sensações de prazer, são hormônios importantes nesse sentido. O exercício físico estimula esta produção”, afirma a psicóloga. Quando há uma prática, o cérebro produz a liberação de neurotransmissores, passando de uma célula para outra a mensagem de doses poderosas de endorfina, serotonina e dopamina, que causa o bem estar, além da elevação da concentração. Porém, o exercício físico não deve ser usado somente como tratamento para doenças crônicas e mentais, mas, principalmente, como prevenção de doenças. É importante solicitar exames periódicos e, a partir dos resultados apresentados, verificar quais medidas antecipadas contra determinadas doenças podem ser praticadas, para, assim, ocorrer a conquista do corpo saudável.


É preciso alongar antes de praticar A rotina diária de uma pessoa ativa começa desde a alimentação, perpassando pelo alongamento, até chegar no esporte, ou exercício escolhido. Porém, é importante estudar como fazer uma refeição saudável, assim como testar quais alongamentos ideais para seu corpo e, principalmente, qual exercício físico você deve praticar, afinal, cada corpo tem seus limites. Para o educador físico Lucas Brum Souza, cada vez mais, as gerações atuais têm se “preocupado em unir o útil ao agradável. Buscam se exercitar de forma preventiva, e, assim, têm um retorno estético como um bônus aliado a isto”. Isso porque o exercício físico começa a ser visto como tratamento alternativo na medicina, além de ser preventivo contra doenças. Souza destaca que vê “o sedentarismo, [principalmente] dos jovens, como o grande mal”. Ele ainda ressalta que nota a “geração acima dos 30 [anos] mais preocupada com [o exercício físico como] prevenção”. Para Souza, um dos motivos desse sedentarismo a partir da geração Y pode ser o excesso de informação.

“Os jovens, e ainda ainda mais as crianças, estão muito conectados às tecnologias”, argumenta o profissional. “Qualquer atividade física é ótima para a saúde, mas precisa de orientação médica”, orienta a educadora física, Jéssica Machado. Não basta começar a se exercitar, é necessário educar o corpo para os esforços. Assim, se evita contusões. Além disso, é preciso ter um relacionamento direto com médicos, nutricionistas, educadores físicos, entre outros profissionais. É necessário “manter uma dieta balanceada, rica em proteínas, sempre procurar ser o mais natural possível e se manter rigoroso com os horários [de esporte]”, complementa Lucas Souza.

A saúde começa na alimentação Para alcançar a saúde desejada exercitando o corpo, é preciso estar atento a vários fatores do cotidiano, principalmente à boa alimentação. Conforme a nutricionista Ligia da Rocha, uma alimentação saudável influencia na saúde eficaz e, por isso, é preciso construir um cardápio de maneira ideal, o que garante maiores benefícios na prática de exercícios físicos. Segundo a nutricionista, a atividade física “é super importante, porque você se desliga totalmente da vida, com um momento para si, onde fica fazendo as atividades. É bom para o corpo, para a mente, para pensar em outras coisas, não só no trabalho e nos problemas”. Para Lígia, a restrição alimentar não deve ser praticada. “Quanto mais dizemos não, mais as pessoas querem comer”, afirma Lígia. Frequen-

temente, pacientes confundem a alimentação saudável com dietas para aceleração do bom resultado estético. “Devemos tentar fazer com que haja equilíbrio, de acordo com a alimentação de cada um”, diz a nutricionista. Ela explica que cada paciente tem um cardápio ideal, de acordo com sua cultura e desejos. A alimentação saudável não é aquela que corta gorduras e açúcares, mas sim aquela que equilibra os elementos ingeridos durante o dia, de acordo com as necessidades de cada indivíduo. Para quem se exercita, é essencial uma dieta rica em carboidratos e proteínas, mas essa alimentação deve ser administrada da forma correta, a fim de que o corpo não fique pesado antes de a pessoa começar a praticar o esporte. Antes do treino, é recomendado fa-


alimentação com proteínas, para suprir as necessidades do corpo e devolver a energia gasta. Também é necessário esperar uma hora após grandes refeições para a prática de esportes, pois podem ocorrer dores no corpo e mal estar. “Se não tem uma alimentação saudável, não haverá resultado na atividade física e ela não será prazerosa”, comenta Lígia, ressaltando a importância de um prato construído com consciência para o dia a dia.

Imagem: Reprodução

zer uma alimentação leve, à base de carboidratos, o que trará os benefícios que o corpo necessita para a realização de exercícios. Também é importante comer 15 minutos antes de sair de casa, para que não ocorra mal estar. Após o treino, a nutricionista recomenda que seja feita

Dietas da moda e o perigo para a saúde se usa o jejum como forma de sacrifício ou ato de aproximação da redenção da onipotência de sua religião. Em contrapartida, o desejo de atingir um padrão estético tem feito a população aderir a dietas à base de jejum, ou radicais, que cortam os alimentos sólidos e se mantêm nos líquidos, ou que diminuem drasticamente a alimentação, o que pode ocasionar danos no corpo. “Está tendo muita dieta da moda. Recebo muitas pessoas com restrição alimentar. Isso interfere nos exames médicos, porque causa um descontrole no colesterol, triglicérides, glicose. Tudo isso porque acabam tomando escolhas erradas na alimentação. Sem orientação, acabam vendo dietas na internet”. A nutricionista adverte sobre como o corpo reage às dietas da moda.

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Jejuar, verbo conjugado em terceira pessoa, que se refere ao ato de eliminar a alimentação por horas ou dias, uma prática comum na medicina e atos religiosos, mas que se popularizam na nutrição amadora. “Agora, está na moda o jejum intermitente, que é a restrição severa de alimentos, que causa desconforto, porque causa fadiga e não gera energia suficiente para fazer atividade física. Então, se não há uma alimentação equilibrada, não terá o resultado esperado na dieta”, relata Lígia quanto à prática das dietas intermitentes. Enquanto na medicina contemporânea se exige que os pacientes pré-cirurgia façam um jejum de aproximadamente 15 horas antes da operação, existem pessoas que o praticam para fins estéticos. Na Idade Média, era comum o jejum para cumprir promessas religiosas, principalmente na igreja católica, o que ainda acontece na atualidade, porém com menos frequência. Em outras religiões, ainda


A psicóloga adverte que é necessário procurar orientação profissional, antes de começar a se exercitar. “Tem pacientes que têm limitações e tem que ser feito um trabalho em conjunto [com a equipe médica, de nutrição e de psicologia], para fazer uma análise da pessoa e ver quais exercícios ela pode fazer”, afirma Ajala. O correto é que haja uma parceria entre todas as áreas da saúde, para se atingir o bem estar desejado. A alimentação saudável também faz diferença na hora de gerar bem estar. “Ela [estimula a produção de] (...) tirosina, necessária para o corpo. É necessário ter uma alimentação saudável”, afirma a psicóloga.

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Ser sedentário, ou seja, não praticar atividades físicas, é um mau negócio. Além de contribuir para a baixa imunidade, também influência no comportamento deprimido. Apostar em exercícios físicos como prevenção da saúde física e mental é um bom investimento. Exercitar-se faz com que o corpo produza dopamina, que estimula o sentimento do bem estar. Isso faz com que ocorra o “aumento da memória e atenção”, explica a psicóloga Chaiane Ajala, sobre os fatores positivos do exercício. Porém, em contrapartida, quando não há atividades físicas, pode haver um processo contrário, como “apatia, perda de memória, fadiga, insônia, baixa libido. As pessoas reclamam de insônia e, geralmente, está associada a essa falta de atividade física, porque a atividade física acelera o metabolismo, causando um estímulo”, revela a psicóloga. Parar de se exercitar e negligenciar as necessidades básicas do corpo é um caminho negativo. Dessa forma, Chaiane Ajala afirma que “o sedentarismo é uma das causas do adoecimento mental”, pois as pessoas costumam não utilizar o exercício físico como forma de tratamento ou prevenção de doenças, mas para atingir uma imagem estética ideal.

Imagem: Reprodução

O cérebro agradece pelo exercício físico


Pé na estrada, fim do sedentarismo Antes de praticar qualquer esporte, é essencial tomar várias precauções para não machucar o corpo ou transformar algo que deve ser prazeroso em algo extremamente chato. Para isso, a estudante de Jornalismo da Universidade Federal do Pampa, Jéssica Marian, uma das autoras desta matéria, saiu às ruas para praticar uma caminhada de meia hora e relatar como seu corpo reagiu. Jéssica decidiu assumir o desafio por ser declaradamente sedentária. A intenção é experimentar, na prática, sensações e possíveis benefícios da prática de exercícios.

Jéssica modifica sua rotina para adaptar-se a uma vida mais saudável.

Imagem: Andressa da Cruz


Relato em primeira pessoa

Imagem: Andressa da Cruz

À

s 5 horas e 45 minutos da manhã de um sábado, fiz alongamentos básicos. Fiz o máximo de flexões e abdominais que meu corpo aguentou. Devo admitir, foram poucas, dada a falta de prática. Além disso, aproveitei para pular alguns polichinelos, três sessões de dez. Repeti três vezes. Antes disso, havia tomado um café, como indicado pela nutricionista Ligia da Rocha, composto por carboidratos: pão,uma maçã, uma banana e um suco natural de laranja. Depois de esperar 20 minutos, me alonguei e saí de casa às 6h. Comecei uma caminhada leve até a praça da cidade onde resido. Ao chegar lá, acelerei o passo, porém ainda não estava correndo. Após cinco voltas caminhando, resolvi dar uma volta correndo. Estava me sentindo confortável demais com o ritmo. Não consegui completar uma volta inteira, pois minha respiração estava ofegante e minhas pernas ardiam. Diminui o passo, mas continuei a andar. Desta vez, tomei um gole saudoso de água gelada. Após três voltas caminhando, resolvi tentar completar uma volta correndo e, pela segunda vez, falhei. Segui nesse ritmo, três voltas caminhando e uma correndo, sem nunca completar a volta completa pelo parque. No

entanto, depois de cinco voltas correndo, estava muito cansada. No resto da experiência, resolvi apenas caminhar, completando 40 minutos de exercícios. Neste horário, parei e sentei um pouco em um dos bancos da praça, antes de voltar para casa. Não só cumpri o desafio de me exercitar por 30 minutos, como fiquei mais tempo do que o esperado praticando. Apesar de ter me cansado muito, senti que meu dia começou mais leve e pareceu que tudo estava dando certo, afinal, estava com bom humor no dia. Ao invés do costumeiro comportamento de humor negativo que apresentava, estava revelando coisas que costumam me afetar, ou resolvendo de forma pacífica. Talvez, a produção de dopamina tenha feito bem para mim e a prática diária de exercícios físicos pode não só me tornar mais bem humorada, como aumentar a minha resistência.



+ ECOA A editoria + ECOA trabalha no intuito de ser o espaço que proporciona o encontro de multivozes. Aqui o diálogo tem voz e todos são ouvidos! A informação é levada a sério! A reportagem aborda as dificuldades encontradas por pessoas com deficiência visual em busca pela educação na universidade e escolas de São Borja. E os meios que os professores encontram para trabalhar com esses alunos especiais.

Por Dionatan Farias, Enoc Júnior, Fabrício Eluan, Ranieri Soares, Volnei Oliveira e Wellington Quevedo


As dificuldades do ensino para pessoas cegas

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Pessoas cegas encontram dificuldades para acessar o ensino público de São Borja

m escolas e instituições de ensino em São Borja, conforme dados apurados das escolas estaduais de São Borja, são minoria os estudantes com baixa visão ou cegueira. Igualmente, são poucas, ou inexistentes, as estratégias para o atendimento desses estudantes. É o que indica a declaração de profissionais da área consultados para a composição desta matéria. Quando questionados sobre a questão, tanto representantes de escolas quanto de universidades, destacaram a aparente falta de preparação antecipada para o ensino adequado desses estudantes que precisam de materiais adequados e de profissionais capacitados. Único aluno cego da Universidade Federal do Pampa, o estudante de Ciências Políticas, Gabriel Merçoni tem dificuldade em

encontrar em braille os livros estudados nas aulas. Para superar essa dificuldade, que limita seu aprendizado, os professores encaminham os textos para o Núcleo de Inclusão e Acessibilidade (NINA). Cabe ao setor fazer a adaptação, para que possam ser lidos no computador.

Cegos e seus desafios nos estudos Entretanto, esse não é o único desafio encontrado por Merçoni A infraestrutura é outro fator que o impossibilita de ser mais independente no campus, visto que é difícil se orientar e andar sozinho pelo ambiente. O estudante explica que nem sempre as dificuldades prevalecem. Segundo ele, os professores têm se adaptado bem para ministrar as aulas e fazer as provas. Para Merçoni, essas experiências têm sido muito prazerosas para ambas as partes. Mas ele ressalta que parece faltar um curso preparatório para os professores se qualificarem. A própria universidade precisa preparar os professores para encarar essas situações, para que possam passar seu conheci-

Gabriel, 22, se esforça para estudar diante dificuldades. Imagem: Desconhecido

mento de forma igualitária a todos seus alunos, diferentemente de deficiência ou não, para que todos cheguem ao final do percurso da formação superior. Merçoni não era o único estudante cego da Universidade Federal do Pampa. A estudante de direito, Rafaela Ferreira, acabou optando por trocar a Unipampa pela faculdade Anhanguera. Para ela, a Unipampa, tinha fragilidades” de algumas partes. As principais questões abordadas por ela são relacionadas ao material disponível, e de professores para que muitas vezes deixam de mandar o material


adequado de estudo, para que ela pudesse estudar, e até mesmo acompanhar os demais colegas. Essas e outras questões influenciaram ela a deixar Unipampa. Alguns não sentem tanta dificuldade com a questão do estudo, como é o caso de Rosiane Cordova, que não viu na sua formação

a acessibilidade como empecilho, mas teme ir para uma universidade , pois pode encontrar essa dificuldade. “Acho que dificuldade todo mundo tem, mas não eram tantas assim. Na hora dos trabalhos, algumas dificuldades, mas, às vezes, fazia sozinha, outras vezes em dupla. As provas eu fazia na forma oral: a professora perguntava e eu respondia”. Mesmo sem estar estudando, Rosiane pensa em cursar uma faculdade no futuro, mas teme os maiores desafios da faculdade, como a acessibilidade, e pensa que, para começar sua graduação, a faculdade precisa capacitar melhor os professores, para que eles saibam como se portar. A intenção não é fazer a adaptação para o deficiente visual, mas permitir que os docentes se adaptem à pessoa com deficiência. Rosiane ainda atribui à desinformação dos professores em relação ao estudo acessível as carências existentes atualmente. Além disso, também acredita que pode existir negligência do poder público, que, segundo ela, não disponibiliza a esses profissionais informações e capacitação suficiente Ela também aponta as questões culturais. Para ela, é comum que as pessoas não incluam muito os diferentes.

A força do querer: CAM ajudando na educação A coordenadora do Centro de Atendimentos Multiplus (CAM), Ivani Lima, conta que o objetivo do Cam é dar atendimento e assessorar as professoras que estão nos centros de Atendimento Educacional Especializado (AEEs) . Ela explica que, em cada escola do município, existe uma sala de AEE. Lima explica que essas salas que foram montadas pelo MEC e que existem dois tipos de sala. As do tipo um são para os deficientes e as do tipo dois são destinadas para os cegos. As salas são equipadas para o atendimento desses estudantes com materiais didáticos elaborados, para as necessidades dos alunos e também com professoras especializadas. A partir dessas salas de AEE, os professores, junto com os pais, encaminham os alunos para o CAM.

Hoje, na cidade de São Borja, o CAM possui 17 alunos, cegos ou com baixa visão. Desses 17, 13 estão integrados às Escolas Municipais. A professora Alcina que é especializada em educação especial, está há dois anos no Centro de Atendimentos Múltiplos (CAM) e trabalha no auxílio a crianças com cegueira e baixa visão. Diz ter entrado no ramo da educação especial devido ao gosto. “O retorno que se recebe dos alunos é muito especial, ver eles vencendo barreiras, inseridos com mais autonomia na sociedade, não tem retorno financeiro que pague isso”. Para a educadora, a principal dificuldade de ensinar um cego, acima da questão dos materiais, ainda ocorre quando se leva uma pessoa para ensinar o uso da bengala na rua e não se tem acessibilidade, além de as pessoas olha-


rem com um ar de pena, sem uma conscientização. Em relação à baixa formação nesta área, a professora percebe que parte da inclusão está caminhando lentamente, porque não é todo profissional que está disposto a se comprometer e fazer aquele trabalho com o aluno. A professora ainda relata que tem vários profissionais abraçam a causa, porém, outros não tomam essa atitude, devido à própria situação do dia a dia ou da pessoa mesmo. “Nas escolas, eu vejo que não se existem muitos materiais, até porque, quando a escola oferece os devidos materiais, os alunos não usam, até por negligência deles mesmos. s vezes, as professoras não sabem o que fazer, então, nós, por exemplo, do município, damos assistência, mas, e se estiver em outro lugar? Por exemplo, a máquina de braille deveria estar na sala de aula e a gente vê que até nas universidades isso não acontece”, comenta Alcina. Em relação à idade para o começo da formação

com o braille, a professora diz que tudo depende de como o aluno é trabalhado e acredita que, quanto antes, mais fácil desenvolver a aceitação e ajuda no desenvolvimento. Esse é o caso de um aluno dela, de três anos de idade, que segundo a professora, é super desenvolvido. A professora conta que desde nova, já no seu primeiro ano de vida, a criança foi orientada de forma brilhante p el o s pais, e sempre foi instigada a aprender mais e mais. No censo demográfico de 2010, “45,6 milhões de brasileiros declararam ter alguma deficiência”. O número representa 23,9% da população do país. Entre as deficiências declaradas, a mais comum é a visual, atingindo 3,5% das pessoas. Segundo o Conselho Brasileiro de Oftalmologia, existem cerca de 1,2 milhões de cegos no Brasil. A lei n.º 13.146/2015 se destina a assegurar e promover, em condições de igualdade, o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais por pessoa com deficiência, visando à sua inclusão social e cidadania. Ainda assim, estudo da Universidade de Brasília (UNB) mostra que 74% das pessoas cegas em nosso país ainda não são analfabetas.




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