O PRESENTE DE LARU
Nossa história começa na casa de LARU, na noite de seu aniversário de 12 anos.
Nessa casa ele vive com seu pai - um pescador, sua mãe - uma rendeira, e seus dois irmãos mais novos: MARTA com 9 anos e IGU com 7.
De aniversário seu pai lhe dá um presente bem diferente: uma cama em formato de barco, com 2 rodas grandes de carroça na parte de trás e uma rodinha menor na parte da frente, e um chapéu de comandante que era de seu avô.
O nome do barco escrito no casco é LAGUMAR.
O garoto não gosta muito, pois não deseja ser pescador.
O pai então lhe explica que quando era criança também queria escolher seu próprio caminho, e pediu a seu pai, avô de LARU, que lhe fizesse uma Cama-Barco.
Dessa maneira ele se tornaria o Comandante do Destino e poderia guiar seus sonhos para os caminhos que desejasse.
- Como assim? pergunta LARU.
E o PAI explica: - Eu queria ser o comandante do meu barco, queria que minha vida fosse guiada por mim e não por um destino qualquer.
LARU intrigado pergunta: - E como se faz isso?
- Este é “O Grande Segredo da Vida” - diz o PAI - a resposta para tudo o que passamos, para o que somos, e tudo o que virá.
- O GRANDE SEGREDO DA VIDA?
perguntam os
filhos.
- E como vamos descobrir esse segredo? - questiona LARU.
O PAI acomoda os três dentro da Cama-Barco e explica:
- Tudo começa assim: quando deitamos a cabeça no travesseiro navegamos para longe. Passeamos pelas águas do ontem, pelas águas que estão por vir, e é nessa hora que escolhemos o que vamos ser quando crescer, e aproveitamos para agradecer quando conseguir.
- Eu queria ir mais longe, descobrir o Grande Segredo da Vida e guiar meu Barco rumo ao destino que eu escolhi!
Ele percebe que as crianรงas adormeceram. Beija os filhos e com um sorriso amoroso sai do quarto.
Nesta noite, os trĂŞs irmĂŁos adormecem dentro da CamaBarco.
Inesperadamente começa uma tempestade. Muitos raios, trovões e ventos fortes transformam a atmosfera do quarto. Mas eles não acordam.
De repente, a cama começa a voar, começa a brilhar, e girando como um tornado vai parar em um lugar fantástico.
NO JARDIM A cama está no meio de um lugar muito estranho.
É quente, seco e parece um deserto.
O chão é todo rachado e o céu azulzinho. Tem flores por todos os lados. Parece ser um jardim.
Mas não é um jardim como o que encontramos por aí: o que parece ser passarinho cantando, são vozes de crianças fazendo pedidos.
E as flores não são plantadas na terra ou em vasos comuns, e sim em travesseiros.
Cada travesseiro tem uma flor, e cada flor tem uma etiqueta com um nome.
Em uma placa grande está escrito:
“Não pise nos Sonhos”
Os três ainda estão dormindo. Até que por trás da cama surge um velhote engraçado, meio amalucado, que parece ser o jardineiro.
Ele investiga a procedência do barco misterioso. Olha daqui, olha de lá, até que descobre os três dentro do barco.
Intrigado resolve acordá-los fazendo cócegas em seus pés.
LARU, IGU e MARTA sorriem com preguiça, como se estivessem sendo acordados por sua mãe, mas ao abrirem os olhos dão de cara com o estranho SENHOR e gritam.
Ele também se assusta e grita , mas logo cai em si e começa a pedir silêncio:
- Psiiiiiiiiiu , psiuuuuuuuuu, Silêncio, desse jeito vão espantar todos os Desejos!
Todos se calam.
MARTA encantada com o que vê ameaça descer do barco. LARU a repreende. IGU com muito medo, segura a irmã pelo braço.
LARU pensa que está sonhando e sugere aos irmãos que fechem os olhos e voltem a dormir para tudo voltar ao normal.
- Nada disso – diz o estranho SENHOR - Vocês caem com esse... isso... essa... coisa estranha do céu, em cima das minhas queridas plantinhas, espantam todos os desejos e ainda querem voltar a dormir? Negativo, podem ir levando esse, isso, essa...
- Cama- Barco! - interrompe LARU.
- Cama-Barco? - pergunta o VELHOTE.
- Sim – diz LARU meio decepcionado - Uma cama que é um barco. Foi meu presente de aniversário. Pode rir se quiser.
O VELHOTE tira uma lupa do bolso e começa a analisar o veículo:
- Muito interessante... madeira maciça, dura e firme como as ideias... Parafusos fortes como a vontade... e o que não poderia faltar, é claro, o amor (referindo-se ao nome do barco, que é a junção do nome dos três LAGU-MAR).
Maravilhado ele dança e vibra, afinal nunca tinha visto uma engenhoca tão bem feita.
LARU, IGU e MARTA
acham graça da dança desajeitada do velhinho e sorriem meio tímidos.
- Iche! O vovô pirou! - exclama MARTA - e os três caem na risada.
- Ah, desculpem minha emoção! - diz o SENHOR que eu nunca tinha visto uma CAMA-BARCO antes.
é
Intrigado com a situação, LARU pergunta: - Como a gente veio parar aqui?
- Permitam me apresentar. Sou o SR TRAVESSEIRO.
- Sr Travesseiro? - Pergunta LARU - Que nome diferente!
- É engraçado! - completa MARTA - E IGU concorda rindo.
- Sabe que eu não sei por que recebi esse nome... Enfim, desejo que sejam bem vindos ao “Jardim dos Sonhos”.
- Aqui é muito lindo – diz MARTA.
SR. TRAVESSEIRO agradece e explica: - Sou eu mesmo quem cuida de tudo por aqui. Estão ouvindo estas vozes? São pedidos de crianças. Eles são as sementes, e eu sou o encarregado de pescar todos esses pedidos e plantar cada um em seu travesseiro.
- Está dizendo que seu nome é SENHOR TRAVESSEIRO, que é encarregado de pescar os pedidos e plantar nesse jardim?
- Exatamente! - exclama o VELHOTE - mas para brotar uma linda “flor de sonho”, é necessário regar com bons pensamentos!
- Eu devo ter ficado doido – diz LARU.
- E eu devo ter ficado “lelé da cuca” – diz MARTA.
IGU faz o gesto de estar louco girando os dedinhos em volta das orelhas.
- Oras, então venham ver seus “maluquinhos”, vou lhes mostrar como as coisas funcionam por aqui – convida SENHOR TRAVESSEIRO.
Finalmente eles descem do barco e acompanham o VELHOTE, que se dirige a uma flor com uma etiqueta escrito MARTA. A flor está bonita mas ainda é só um botão.
- Olhem essa flor! - ele aponta - ela brotou do desejo de uma garotinha que quer ser uma linda princesa. Mas não uma princesa normal, ela quer ser uma princesa pescadora! Vejam como esta “flor de sonho” está bonita.
- A dona deve regá-la todas as noites com bons pensamentos! Hum, mas ainda falta alguma coisinha para essa flor desabrochar. E eu me pergunto: o que será?
MARTA envergonhada disfarça e se afasta um pouco, fingindo que não é dela que o SENHOR TRAVESSEIRO está falando.
Ele segue:
- Agora vamos ver por onde andam os pedidos de vocês. Você maluquinho menor, como se chama?
IGU Intimidado se esconde atrás de LARU.
- O nome dele é IGU – diz LARU - mas ele não fala desde que levou um susto com uma onça que entrou no nosso quarto.
MARTA completa: - “mainha” diz que ele perdeu a fala foi de medo. Mas pode chamar esse medroso de Piolho!
SR. TRAVESSEIRO procura a flor murmurando:
- IGU Piolho... IGU Piolho... IGU Piolho... ah sim, aqui está. E como já era de se esperar
IGU Piolho tem o
sonho de cantar!
IGU afirma com a cabeça mas fica surpreso, afinal nunca tinha dito isso pra ninguém.
- Ele nem fala, vai cantar como? - ironiza MARTA.
LARU defendendo o irmão diz: - Mas ele não é mudo, só não fala, né Piolho?
O pequeno concorda com a cabeça e mostra a língua para a irmã.
Então LARU ansioso diz que gostaria de procurar a sua flor.
- Meu nome é LARU!
- LARU? Que nome diferente! - diz SR TRAVESSEIRO.
- Olha quem fala – zomba MARTA.
Todos riem e começam a procurar pela flor, até que IGU encontra a etiqueta com o nome LARU em baixo do barco.
- Ah, que maravilha! - diz LARU decepcionado - essa... Cama-Barco esmagou minha “flor de sonho”.
- Me parece que você matou seu sonho – supõe o VELHOTE.
- Mas eu nem fiz nada - afirma LARU.
E MARTA completa dizendo: - Ele não fez nada mesmo, até disse pra “mainha” que ia ser pescador!
Desconfiado, o SENHOR pergunta se esse pedido era dele mesmo.
- Na verdade não – responde LARU encabulado.
- Aí é que está o problema – explica o VELHOTE - você matou seu sonho quando aceitou um pedido que não era seu. E assim, jogou a Cama-Barco em cima da sua flor.
- Nossa... ! exclamam surpresos os três.
- Toda vez que temos um pensamento estamos criando, o SENHOR reforรงa.
- Entรฃo, sรณ de pensar em desistir eu fiz tudo isso? pergunta LARU assustado.
- Isso mesmo – responde o VELHOTE.
- Ai! Eu tenho que tomar mais cuidado com meus pensamentos – diz MARTA.
- Sempre temos que cuidar dos nossos pensamentos – segue o VELHOTE. Eles podem nos fazer muito bem, mas também podem matar nossos sonhos. Sendo assim, numa hora boa ou ruim, mandem bons pensamentos para mim!
- Mas, e agora, o que eu faço? – pergunta LARU ainda assustado.
- Talvez seja a hora de plantar outro sonho e dessa vez cuidar bem dele – sugere SR. TRAVESSEIRO.
- Mas eu nem tenho outro desejo – responde LARU desanimado.
- Olha Sr Travesseiro – interrompe MARTA como quem não quer nada... - se ele não quiser eu posso desejar um monte de coisas, eu sou muito boa nisso viu...
- Já sei! exclama LARU. Mas é um pedido meio impossível...
- Aqui não existe o impossível – afirma o VELHOTE - se regar seu pedido com bons pensamentos, conseguirá fazer brotar um lindo sonho, e até torná-lo real.
- Estou pronto – diz LARU confiante - Eu desejo...
- Espera! Não é assim – interrompe o VELHOTE precisamos do seu travesseiro! Você trouxe ele consigo?
- Sim – responde contente LARU, correndo até a CamaBarco e trazendo o travesseiro.
- Muito bem – segue o VELHOTE -
agora me poupe
deste trabalho e plante você mesmo o seu pedido.
- Eu, mas como? – pergunta LARU.
- É muito fácil – ele explica - ajoelhe-se, aperte bem o travesseiro em seu coração, diga seu pedido ao universo com toda vontade e amor, e então estará feito.
LARU se ajoelha, fecha os olhos, abraça o travesseiro com muito amor e diz :
- Desejo ser o grande Comandante da minha CamaBarco, e junto dos meus irmãos, quero navegar atrás do “Grande Segredo da Vida”, pra assim fazer de nós a família mais feliz de todo esse mundo de meu Deus.
Em seguida, acomoda o travesseiro com a etiqueta do seu nome no chĂŁo, abre um olho por vez, e esperando para ver se algo mudou vira-se para os trĂŞs que estĂŁo parados. Quando os olhares se cruzam todos comemoram.
- E agora? - questiona LARU.
- E agora o que? - responde o VELHOTE - ah, sim! Seu pedido estรก plantado garoto. Cuide bem dele, e vรก atrรกs de tudo o que precisar para fazer seu sonho desabrochar.
- Pode deixar comigo - afirma O GAROTO.
- Agora sigam em frente e nunca se esqueçam - reforça o SENHOR:
“Numa hora boa ou ruim, mandem bons
pensamentos para mim”. Boa viagem!
- Obrigado SENHOR TRAVESSEIRO, adeus ...
Os trĂŞs entram na Cama-Barco e seguem viagem.
FIM