A arquitetura e a sua Auto-suficiência|Parque Natural de Montesinho, Bragança

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UNIVERSIDADE LUSÍADA DO PORTO

A Arquitectura e a sua Auto-suficiência Parque Natural de Montesinho, Bragança

Daniel Oliveira

Dissertação para o grau de mestre

Porto, 2011



Agradecimentos

Aos meus Pais, Irmão, Família e Amigos. À Cristina, ao Mário, à Maria João, à Tânia, ao meu orientador Professor Doutor Jorge Barbosa e a todos os outros com quem partilhei, vivi e experienciei factos que de uma maneira ou de outra foram relevantes para o desenvolver deste trabalho.



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Pensamento

“Podemos reinventar a escrita, a arte, o design, a moda e a arquitectura. Podemos reinventar a economia, o direito, a sociologia e todas as outras criações humanas. O mesmo não acontece ao ar, à água e ao solo.” in: (TAVARES, 2008)


Resumo A presente dissertação baseia-se num caso prático desenvolvido na disciplina de Projecto III, que tinha como proposta a criação de um Campus de Experimentação e Investigação. Com base no estudo dos recursos e das sinergias, assim como no levantamento topográfico efectuado no Parque Natural do Montesinho, procura-se reduzir a macro escala do núcleo de aldeias, criada pelos percursos ecológicos e energéticos desenvolvidos para o caso prático. Deste modo, é-se fiel à ideia de criar infraestruturas de apoio aos trajectos de passagem das populações autóctones e dos visitante. Por outro lado, reflete-se o tema Arquitectura e a sua Auto-suficiência no Parque Natural do Montesinho em Bragança, sendo que se apresenta um estudo que tem por objectivo a criação de um abrigo ecológico na zona da barragem de Serra Serrada. Situado no nordeste do país, a poucos quilómetros da fronteira entre Portugal e Espanha, o local proposto demonstra-nos que as linhas que separam as realidades, sejam elas físicas, políticas, culturais ou temporais são, de facto, linhas tracejadas (porque ilusórias) que o pensamento aceita por mútuo acordo. Fisicamente, as cordilheiras e os vales que compõem o Parque Natural sustentam um ecossistema assente numa bacia hidrográfica comum aos dois países. A política de partilha de recursos e a entreajuda são a principal razão da sobrevivência e prosperidade das comunidades existentes, o que permitiu também que se desenvolvesse uma forte identidade local, que se sobrepõe às diferenças linguísticas e educacionais dos dois países. Por fim, a linha do tempo desenha-se na viagem entre os grandes centros urbanos. No sopé desses planaltos conduz-se o tráfego das pessoas e mercadorias do mundo que corre para além do caminhar dos pastores. A união desses caminhos, desse urbanismo contemporâneo com a ruralidade das nossas tradições e da

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sustentabilidade do nosso futuro, é a base deste estudo e a grande possibilidade de preenchimento do tracejado das fronteiras, de forma a transformá-las num caminho possível de ser percorrido. Aliar, através do design, o meio envolvente com as funções tradicionalmente atribuídas ao abrigo nesta região montanhosa e fronteiriça, foi o desafio que permitiu que a noção de natureza enquanto fonte de sustentabilidade energética fosse explorada através de uma abordagem conciliadora. Além de se assumir como um projecto ecológico e sustentável, o estudo proposto procura recuperar saberes do passado que a evolução da construção colocada ao serviço da massificação ignorou e marginalizou. Global é, assim, a energia necessária para a travessia do Homem enquanto viajante de uma fronteira instantânea entre o seu passado e o seu futuro. A energia que provém de ambos os lados da fronteira e que permite o preenchimento dos hiatos do tracejado na forma de abrigo. Local é o berço natural onde se desenvolve a reutilização dos excedentes do viajante, através da integração do que é tecnologia inerte em componente viva do ecossistema. Glocal1 é o resultado do estudo e da observação que potenciou os recursos humanos e energéticos em peça arquitectónica.

Palavras-chave Arquitectura eco-eficiente, Biodiversidade ecológica, Energias Renováveis, Habitar. 1

É um conceito que denomina a mistura das técnicas globais com o local. “Pensar globalmente, agir localmente.” (RICHARDSON, 2007)

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Abstract This thesis is based on a case study developed for the discipline of Project III, in which it was proposed the creation of a Campus for Investigation and Experimentation. Based on the resources studies, the synergies and the topographic survey done for the Natural Park of Montesinho, this document aims to reduce the macro scale of the core villages, created by the ecological and energy routes that were developed for this practical case. Therefore, it is loyal to the idea of creating infrastructures to support the passage for the native populations and visitors. On the other hand, it reflects the theme of architecture and its self-sufficiency at the Natural Park of Montesinho in Braganรงa, and it presents a study that aims to create an eco-shelter at the dam of Serra Serrada. Located at the northeast of the country, a few kilometers from Portuguese and Spanish borders, the proposed site shows us that the lines between realities, whether physical, political, cultural or temporal are, indeed, dashed lines (because it is illusionary) that our mind accepts by mutual agreement. Physically, the ridges and valleys that make up the National Park support an ecosystem based on a common watershed that connects the two countries. The policy of sharing the resources and the mutual support are the main reason for the survival and prosperity of the existent communities, which also allowed to develop a strong local identity, that overlaps the linguistic and educational differences of the two countries. Finally, the timeline is being drawn on the journey between the major urban centers. The foot of this upland leads to the traffic of people and goods from the world that runs beyond the path of the pastors. The union of these paths, of this contemporary urbanism with the rurality of our traditions and the sustainability of our future, is the basis for this study and the high possibility of completing the dashed

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borders in order to turn them into a possible route to be travelled. Trough the design the environment is connected to the functions traditionally assigned under this mountainous border region, was the challenge that allowed the notion of nature as a source of sustainable energy when explored through a conciliatory approach. Besides to act as a sustainable and ecological project, the proposed study seeks to recover the knowledge of the past that the evolution of construction serving the masses had ignored and marginalized. This way, global is the energy required for the crossing of Man as an instant traveller between the boundary of its past and its future. The energy that comes from both sides of the border and that allows the filling of the dashed gaps into shelter forms. Location is the natural cradle where it is developed the reuse of the traveller’s waste, through the integration of inert technology into a component of living ecosystem. Glocal2 is the result of the study and observation that has potentiated the human resources and energy into an architectural piece.

Keywords Ecological eco-efficient architecture, ecological biodiversity, Renewable Energy, Living. 2

Ii is a concept that nominates the fusion of the global technics with the place “To think globally, to act locally.”Pensar globalmente, agir localmente.” (RICHARDSON, 2007)

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Índice geral Índice de figuras, mapas e diagramas/quadros

o XV

1.0 Introdução

003

2.0 Casos similares de referência

011

3.0 Parte I Enquadramento Trás-os-Montes e Alto Douro (província) 3.1 Caracterização, região de Trás-os-Montes e Alto Douro

033

3.1.1 Breve enquadramento histórico

035

3.1.2 Meio físico e humano

037

3.1.3 Habitação

041

3.1.4 Monumentos

043

3.1.5 Artesanato e traje

043

3.1.6 Costumes, música e teatro

045

3.1.7 Gastronomia e vinhos

047

3.2 Parque Natural de Montesinho

049

3.2.1 Localização

049

3.2.2 Morfologia e clima

049

3.2.3 Ocupação Humana

051

3.2.4 Património

053

3.2.5 Percursos Pedestres

055

3.2.6 Práticas comunitárias

055

3.2.7 Fauna e flora

057

3.2.8 Acerca do parque

061

3.3 Barragem da Serra Serrada

063

0XI


XIII

4.0 Parte II Natureza e Energia na Arquitectura 4.1 Arquitectura Sustentável (breve enquadramento no tempo)

071

4.2 Energias renováveis na Arquitectura

087

4.2.1 Sol e Arquitectura

095

4.2.2 Água e Arquitectura

101

5.0 Parte III Caso de Estudo

109

6.0 Conclusão

133

7.0 Bibliografia/Webgrafia

137

anexos I - Decreto-lei Criação do Parque Natural de Montesinho

XXI

II - Agenda 21

XXXIV

III - Campus de Investigação e Experimentação

XXXIX

IV - Síntese biográfica dos autores de referência

LIII

V - Películas Cinematográficas VII - Informações oportunas

LV LVII


Índice de figuras, mapas e diagramas/quadros Figuras 2.0 Casos similares de referência Figura 1 – Colocação e sobreposição de pneus. pág. 10 Fonte: http://www.facebook.com/photo.php?fbid=424903119723&set=a.424902659723.201253.55295359723&type =3&theater Figura 2 – Inserção da habitação na paisagem. pág. 10 Fonte: http://www.facebook.com/photo.php?fbid=124157529723&set=a.124157189723.103888.55295359723&type =3&theater Figura 3 – Painéis solares inseridos na fachada de uma Eartship. pág. 12 Fonte: http://www.facebook.com/photo.php?fbid=124158914723&set=a.124158629723.103889.55295359723&type =3&theater Figura 4 - Sistema de recolha das águas. pág. 12 Fonte: http://www.google.pt/imgres?q=earthship+water&hl=ptPT&rlz=1C1GGGE_enPT403PT403&biw=1366&bih=634&tbm=isch&tbnid=JYMMbfzX5v8yxM:&imgrefurl=http://flickriver .com/photos/tags/earthship/interesting/&docid=YS-vrKITdgwhM&imgurl=http://farm4.static.flickr.com/3153/2650752394_7cf88e6781.jpg&w=500&h=333&ei=50wCT-IN8To8QPzpPCiAQ&zoom=1&iact=rc&dur=284&sig=116739891819415481117&page=6&tbnh=134&tbnw=177&start= 96&ndsp=19&ved=1t:429,r:15,s:96&tx=102&ty=74 Figura 5 – Interior de uma Earthship. pág. 12 Fonte: http://www.facebook.com/photo.php?fbid=55936399723&set=a.55936319723.67258.55295359723&type =3&theater Figura 6 – Desenho da concepção. Turbinas de vento montadas entre o edifício e a sua torre de elevador convertem a energia eólica em energia eléctrica. pág. 16 Fonte: Rogers, 2001, pág. 98 Figura 7 - Testes de laboratório de túnel de vento mostram que as turbinas geram energia, sob diferentes condições de ventos dominantes. pág. 16 Fonte: Rogers, 2001, pág. 99 Figura 8 - Diferentes fases de construção da estrutura. pág. 18 Fonte: http://sanyo.com/solar/solarark/construction/ Figura 9 - Vista geral com a fachada iluminada. pág. 18 Fonte: http://inhabitat.com/solar-ark-worlds-most-stunning-solar-building/ Figura 10 - Alçado Oeste. pág. 20 Fonte: El Croquis nº111, 2002, p.45. Figura 11 - Inserção de um conjunto de módulos, em madeira, na paisagem. pág. 24 Fonte: http://www.cannatafernandes.com

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Figura 12 - Imagem de conceito. pág. 26 Fonte: http://www.nbaa.pt/P_PUBLICO/concurso/07_china/china-pt.htm 3.0 Parte I Figura 13 - Santuário de Panóias (Vila Real). pág. 34 Fonte: http://distritodevilareal.blogspot.com/2009_05_01_archive.html Figura 14 - Santuário de Panóias (Vila Real). pág. 34 Fonte: http://parm-moncorvo.blogspot.com/2008_04_01_archive.html Figura 15 - Domus Municipalis de Bragança. pág. 36 Fonte: http://img92.imageshack.us/i/domusmunicipalisbragana1am.jpg/ Figura 16 - Zona de carvalhos, localidade de França. pág. 36 Fonte: produção própria Figura 17 - Zona de vinhas em socalcos e o Rio Douro. pág. 38 Fonte: http://letraseconteudos.blogspot.com | 01.04.2011-16h.40m Figura 18 - Casa Transmontana. pág. 40 Fonte: produção própria Figura 19 - Castelo de Bragança (desenho de Duarte D’Armas, 1509). pág. 42 Fonte: http://historia-e-arte.blogspot.com/2010/04/castelo-de-bragança.html Figura 20 - Fotografia aérea do Castelo e zona envolvente da muralha (década 60, séc. XX). pág. 42 Fonte: http://historia-e-arte.blogspot.com/2010/04/castelo-de-braganca.html Figura 21 - Os Pauliteiros de Miranda. pág. 44 Fonte: http://www.bigviagem.com/pauliteiros-de-miranda-em-monchique-portugal/ Figura 22 - Os Caretos do Entrudo. pág. 46 Fonte: http://ideiascomimagem.no.sapo.pt | 04.04.2011-16h.19m Figura 23 – Diversidade de produtos gastronómicos. pág. 46 Fonte: (da esquerda para a direita) http://mediaserver.rr.pt | 15.04.2011-18h49m http://www.mariajoaodealmeida.com | 15.04.2011-18h51m http://www.xixoncafe.com | 15.04.2011-18h57m http://i.olhares.com | 15.04.2011-19h01m http://c6.quickcachr.fotos.sapo.pt | 15.04.2011-19h04m http://portugalcultural.net | 15.04.2011-19h09m http://2.bp.blogspot.com | 15.04.2011-19h13m Figura 24 - logótipo do Parque Natural de Montesinho. pág. 48 Fonte: http://forum.trasosmontes.com/viewtopic.php?f=5&t=472 Figura 25 – Pombal. pág. 50 Fonte: produção própria

XVII


Figura 26 - Percurso e paisagem no Parque Natural de Montesinho. pág. 54 Fonte: produção própria Figura 27 - Alguns exemplos da fauna existente no Parque Natural de Montesinho. pág. 56 Fonte: (da esquerda para a direita, de cima para baixo) http://2.bp.blogspot.com | 15.04.2011-19h23m http://2.bp.blogspot.com | 15.04.2011-19h25m http://farm6.static.flickr.com | 15.04.2011-19h27m http://www.alchata.es/wp-content | 15.04.2011-19h28m http://www.bobperryonline.co.uk | 15.04.2011-19h30m http://www.naturfoto.cz/fotografie | 15.04.2011-19h31m http://www2.lubw.baden-wuerttemberg.de | 15.04.2011-19h33m http://farm5.static.flickr.com | 15.04.2011-19h34m http://www.environmentalevidence.org/Images | 15.04.2011-19h35m http://1.bp.blogspot.com | 15.04.2011-19h36m http://www.club100.net/species | 15.04.2011-19h38m http://www.fiskbasen.se/images/ | 15.04.2011-19h39m http://upload.wikimedia.org/wikipedia | 15.04.2011-19h41m Figura 28 - Bosque ripícola, localidade de França. pág. 58 Fonte: http://emlinharecta.com.sapo.pt | 15.04.2011-19h58m Figura 29 - Perspectivas panorâmicas do local proposto. pág. 64 Fonte: produção própria 4.0 Parte II Figura 30 – Ilustração do Homem primitivo no seu abrigo. pág. 70 Fonte: http://www.pequenoguru.com.br/imagens/020810.jpg | 19.05.2011-17h40m Figura 31 – Transformação de matéria-prima. pág. 72 Fonte: http://www.ciflorestas.com.br/arquivos/n_carvao_perigosa_11409.jpg | 19.05.2011-17h41m Figura 32 – Betão armado é um material de construção que se tornou um dos mais importantes elementos da arquitectura do século XX. Diferencia-se do betão devido ao facto de receber uma armadura metálica responsável por resistir aos esforços de tracção, enquanto o betão resiste à compressão. pág. 74 Fonte: http://www.superinertes.pt/sys_manutencao/library/imgs/noticias/betaopronto/zoom/spi-betao-04.jpg | 19.05.2011-17h45m Figura 33 – A comunidade hippie era parte do que se convencionou chamar movimento de contracultura dos anos 60. Adoptavam um modo de vida comunitário ou estilo de vida nómada. Viam as corporações industriais e os valores sociais tradicionais como parte de um estabelecimento único, e que não tinha legitimidade. pág. 76 Fonte: http://3.bp.blogspot.com/_rD3Sl19mjDU/TKFGM5n3q4I/AAAAAAAAAq4/FpxzTlliDkA/s1600/woodstock_csg022. jpg | 19.05.2011-17h51m

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Figura 34 – Poluição. O seu significado é a “acto ou efeito de poluir; contaminação do meio ambiente.” pág. 78 Fonte: http://www.planetaselvagem.com.br/v1/noticia/img/500x500/emissoes_de_poluentes.jpg | 19.05.2011-17h-53m Figura 35 – Centro Pompidou. pág. 80 Fonte: http://www.google.pt/imgres?q=earthship+taos&start=69&num=10&hl=ptPT&biw=1366&bih=677&tbm=isch&tbnid=4P6TAfT_Xr7YvM:&imgrefurl=http://www.taosrealestatebroker.com/sol_ship .html&docid=n20kNev3sZ_gMM&imgurl=http://www.taosrealestatebroker.com/listing%252520images/sol_ship/PRIMWEB.jpg&w=650&h=488&ei=m0gLT67dGsbZ8APsrcWNBg&zoom=1&iact=hc&vpx=1066&vpy=222&dur=167&hovh=19 4&hovw=259&tx=177&ty=121&sig=116739891819415481117&sqi=2&page=5&tbnh=142&tbnw=188&ndsp=18&ved= 1t:429,r:11,s:69 | 12.07.2010-14h35m Figura 36 – Earthship. pág. 80 Fonte: http://www.rpbw.com/ | 12.07.2010-14h40m figura 37 – A actividade humana é a principal responsável pelo aquecimento do planeta. pág. 86 Fonte: http://www.enciclopedia.com.pt/articles.php?article_id=852 Figura 38 – Cabe ao arquitecto contribuir para a harmonia entre a construção e o ambiente. pág. 92 Fonte: http://ecochemist.net/2010/11/22/conceitos-para-construcao-de-uma-eco-casa-arquitetura-sustentavel/ Figura 39 – A energia renovável é aquela que vem de recursos naturais como o sol, o vento, a água, o calor e as marés. pág. 94 Fonte: (da esquerda para a direita) http://www.nasa.gov/mission_pages/sunearth/news/News060711-blast.html http://adeuslenine.blogspot.com/2011_04_01_archive.html http://downtoearthmother.com/2010/10/07/water-water-everywhere/ http://antoniopereira.net/produtos/avicultura/casca-de-arroz.html http://energias-alternativas.webnode.pt/geotermica/ http://andreastwocents.blogspot.com/2011_01_01_archive.html 5.0 Parte III Figura 40 (conjunto) – Imagens dos conteúdos do nosso conceito. pág. 110 Fonte: produção própria. Figura 41 (conjunto) – Perspectivas panorâmicas da proposta (integração na paisagem). pág. 116 Fonte: produção própria. Figura 42 (conjunto) - Perspectivas panorâmicas da proposta (constatação pontual). pág. 118 Fonte: produção própria.

XXI


Diagramas 2.0 Casos similares de referência Diagrama 1 – Earthship de categoria compacta. pág. 14 Fonte: http://www.google.pt/imgres?q=plan+earthship&hl=ptPT&rlz=1C1GGGE_enPT403PT403&biw=1366&bih=634&tbm=isch&tbnid=n3QcSXSZnphoPM:&imgrefurl=http://www.b uilditsolar.com/Projects/SolarHomes/Earthship/Earthship.htm&docid=DUcShsTzSsWQ9M&imgurl=http://www.builditsola r.com/Projects/SolarHomes/Earthship/PkgEarthship01.png&w=366&h=178&ei=plICT_7ILZTz8QOdpIDNCg&zoom=1&ia ct=hc&vpx=179&vpy=266&dur=1672&hovh=142&hovw=292&tx=160&ty=64&sig=116739891819415481117&page=1 &tbnh=81&tbnw=167&start=0&ndsp=23&ved=1t:429,r:6,s:0 Diagrama 2 - Earthship de categoria modular. pág. 14 Fonte: http://www.google.pt/imgres?q=earthship+plan&hl=ptPT&rlz=1C1GGGE_enPT403PT403&biw=1366&bih=634&tbm=isch&tbnid=a293I6Urz9Z3sM:&imgrefurl=http://www.digi talministries.us/page19.html&docid=SWoXBUQCNXMuHM&imgurl=http://www.digitalministries.us/image/earthship_plan -web.jpg&w=600&h=413&ei=xFACT4r1CpPE8QO_jbGBBw&zoom=1&iact=rc&dur=210&sig=116739891819415481117 &page=1&tbnh=107&tbnw=173&start=0&ndsp=23&ved=1t:429,r:20,s:0&tx=41&ty=66 Diagrama 3 - Diagrama conceptual. pág. 20 Fonte: El Croquis nº111, 2002, p.43. Diagrama 4 - Diagrama de calor e energia. Diagrama de água. pág. 20 Fonte: El Croquis nº111, 2002, p.42. Diagrama 5 - Corte esquemático das infra-estruturas. pág. 22 Fonte: http://www.cannatafernandes.com Diagrama 6 – Diagramas energéticos. pág. 26 Fonte: http://www.nbaa.pt/P_PUBLICO/concurso/07_china/china-pt.htm (adaptação própria) 4.0 Parte II Diagrama 7 - Desenvolvimento sustentável combina três âmbitos distintos. Ambiental, Social e Económico. pág. 82 Fonte: http://www.ampla.com/sustentabilidade/compromissos.html | 19.05.2011-17h-56m Diagrama8 – Solstício - momento em que o Sol alcança, no movimento anual aparente, qualquer dos dois pontos da eclíptica mais afastados do equador celeste (ponto solsticial de Junho e ponto solsticial de Dezembro), e onde parece estacionar alguns dias ( a) Solstício Verão, c) Solstício Inverno). Equinócio - momento em que o Sol, no movimento anual aparente, corta o equador celeste, fazendo com que o dia e a noite tenham igual duração (b)Equinócios). pág. 84 Fonte: http://www.edp.pt/pt/sustentabilidade/ambiente/alteracoesclimaticas/saibamais/Pages/FontesdeEnergia.aspx Diagrama 9 - Transformação de energia. pág. 88 Fonte: http://pt.scribd.com/doc/24815370/A-Arte-de-Projetar-Em-Arquitetura-NEUFERT Diagrama 10 – Ciclo de vida dos materiais. pág. 90 Fonte: produção própria.

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Diagrama 11 - A fotossíntese inicia a maior parte das cadeias alimentares no Planeta Terra. Sem ela, os animais e muitos outros seres, seriam incapazes de sobreviver, porque a base da sua alimentação estará sempre nas substâncias orgânicas proporcionadas pelas plantas verdes. pág. 96 Fonte: http://oliveirabred.wordpress.com/2009/12/13/a-paz/ (trabalhado sobre) Diagrama 12 – Solução passiva. a) Ganho directo. b) Ganho indirecto: parede de trombe ventilada. pág. 98 Fonte: http://www.baukultur.pt/canais.asp?id_canal=142 Diagrama 13 – Solução activa. Diagrama de transferência de energia para água quente sanitária. pág. 98 Fonte: produção própria Diagrama 14 – Distribuição do consumo de água numa habitação. pág. 102 Fonte: http://www.graf.pt/Informa%C3%A7%C3%B5es%C3%9Ateis/tabid/61/Default.aspx 5.0 Parte III Diagrama 15 – Diagrama conceptual. pág. 113 Fonte: produção própria Diagrama 16 – volume fixo + volumes suplementares. pág. 113 Fonte: produção própria Diagrama 17 – Conteúdo programático. pág. 113 Fonte: produção própria Diagrama 18 – Diversidade tipológica. pág. 113 Fonte: produção própria Diagrama 19 - Multiplicação tipológica por módulos/volumes. pág. 113 Fonte: produção própria Diagrama 20 – Diagrama esquemático de recolha das águas. pág. 120 Fonte: produção própria Diagrama 21 - Pormenor Vertical. Secção do reservatório de água. pág. 120 Fonte: produção própria. Diagrama 22 – Diagrama esquemático do orientação solar com a indicação dos painéis solares. pág. 122 Fonte: produção própria Diagrama 23 – Diagrama esquemático dos vãos envidraçados. pág. 124 Fonte: produção própria Diagrama 24 – Diagrama esquemático das lâminas de sombreamento. pág. 126 Fonte: produção própria

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Quadros 2.0 Casos similares de referência Quadro 1 – No tempo… pág. 29 Fonte: produção própria 3.0 Parte I Quadro 2 – No tempo… pág. 67 Fonte: produção própria

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Mapa

XXIX

2.0 Casos similares de referência Mapa 1 – No sítio… pág. 29 Fonte: produção própria 3.0 Parte I Mapa 2 - Portugal. Localização da província de Trás-os-Montes e Alto Douro, local de estudo. pág. 32 Fonte: produção própria Mapa 3 - Localização da província de Trás-os-Montes e Alto Douro (a), distrito de Bragança e do Parque Natural de Montesinho (b). pág. 48 Fonte: produção própria Mapa 4 - Altura (a), temperatura (b) e precipitação (c) (valores médios anuais). pág. 48 Fonte: (a) - http://www.igeo.pt/atlas/Images/Cap1/Cap1c_p42.jpg |02.04.2011-18h04m (adaptação própria) (b) - http://terrinhas.no.sapo.pt/images/temperatura.gif | 02.04.2011 - 17h45m (adaptação própria) (c) - http://terrinhas.no.sapo.pt/images/precipitacao.gif | 02.04.2011-17h45m (adaptação própria) Mapa 5 - Painel informativo do Parque Natural de Montesinho. pág. 60 Fonte: produção própria Mapa 6 - Localização do distrito de Bragança (a), cidade de Bragança, aldeia de Montesinho, local proposto e cursos de água mais próximos e significativos (b). pág. 62 Fonte: produção própria 4.0 Parte II Mapa 7 – Índice de pobreza da água. pág. 100 Fonte: http://noticias.r7.com/tecnologia-e-ciencia/noticias/indice-de-pobreza-da-agua-ajuda-a-analisar-uso-do-recursonatural-em-cidades-secas-20100818.html 5.0 Parte III Mapa 8 – Planta conceptual. O trajecto a vermelho assinala a linha que estrutura e orienta a localização dos módulos propostos. pág. 108 Fonte: produção própria


1.0 Introdução


1.0 Introdução

1.0 Introdução

Localizada no Nordeste transmontano, em zona raiana, a barragem da Serra Serrada apresenta-se como um local árido, englobado numa região de difícil acesso. A inexistência de indústrias de relevância e o carácter disperso dos núcleos populacionais, que vêem, dessa forma, os serviços serem centralizados na capital de província, revela comunidades que vivem sobretudo de agricultura de subsistência e pequenas explorações pecuárias. Este conjunto de características permite que a área em que o local de estudo se insere revele um ecossistema em que as consequências da acção humana sejam residuais. Esta é, actualmente, uma das poucas regiões do país em que a figura do “pastor” existe e se afirma como um “agente” unificador das comunidades, uma vez que junta rebanhos de diferentes aldeias no seu caminhar da serra em busca de pastos. Apesar de, na Primavera, a renovação da natureza permitir a realização de percursos de menor amplitude, a secura do Verão, o frio chuvoso do Outono e o rigor do Inverno levam a que os pastores precisem de se ausentar por vários dias no exercício das suas funções, como comprova a análise dos dados recolhidos durante a realização do estudo. O local está situado num planalto localizado a mais de mil metros de altitude, em que a amplitude da temperatura apresenta uma enorme clivagem ao longo do ano, mas também ao longo do dia. Esta dicotomia também se verifica ao nível da precipitação que é abundante nos meses de inverno e escassa no Verão. Para além deste facto, a barragem aparece como um factor de convergência das populações das localidades em seu torno, que percorrem os caminhos e os trilhos de acesso dos técnicos à represa, de forma a encurtarem as distâncias que separam as suas povoações. Esse caminho é predominantemente realizado a pé ou em veículos de tracção animal, devido às características do terreno. Isto resulta da fraca densidade populacional evidenciada no estudo realizado.

003


1.0 Introdução

Para além das populações, outros frequentadores regulares do espaço são os técnicos responsáveis pela manutenção da central hidroeléctrica e do dique, elementos do Parque Natural e utilizadores recreativos que, normalmente, provêm de regiões afastadas do local e que demoram vários dias na execução das suas tarefas. Este tipo de afluência torna indispensável a criação de uma infra-estrutura de apoio que se adeque às características únicas do local. Um abrigo que, sendo um organismo inerte, faça prevalecer o conceito do design sobre a valência estética, possibilitando o habitar com determinada qualidade e conforto num ambiente inóspito, de forma auto-suficiente, através da sua inserção no ecossistema. Tendo como base o estudo efectuado, a área em questão dispõe de uma quantidade de horas de exposição solar que praticamente dobra as registadas nos países com maior utilização de energia solar, o que permite a instalação de painéis solares na estrutura proposta e torna premente o uso de lâminas de sombreamento. A instalação, em território espanhol, de uma vasta área de turbinas eólicas também possibilita o uso de energia limpa, em caso de esgotamento das baterias de armazenamento da energia captada nos períodos de maior exposição solar. A dualidade visual deste espaço, cujo planalto desenha o contorno de uma fronteira entre a natureza e a tecnologia, entre o passado e o futuro, entre o habitável e o inóspito, entre Portugal e Espanha, converge naturalmente na bacia hidrográfica criada pelo dique. A conceito do estudo passa por tentar juntar os factores de divergência perceptiva em mais um elemento arquitectónico una os pontos a tracejado da fronteira do caminho do viajante. Explorar um conceito baseado na modularidade e na portabilidade, permite vencer as barreiras naturais e a escassez de acessos. Transformarmos um contentor industrial no corpo principal do edifício permite que o seu transporte possa ser feito por via aérea e que a sua instalação se faça pela mesma via ou por por via terrestre através de um processo bastante simples. Se a ele juntarmos uma base ligeiramente mais estreita, que sirva de reservatório, percebemos que o conjunto cria a ideia visual

005


1.0 Introdução

de se assemelhar a uma árvore. A anexação dos módulos de zona húmida e zona de repouso, transforma visualmente o conjunto numa turbina eólica. O aproveitamento da energia solar do território nacional e a captação e filtragem de água para uso sustentável e o fornecimento de energia por parte do parque eólico dissipa ainda mais as linhas de fronteira. O resultado final é uma casa

sustentável, feita através da reutilização de materiais e que funciona como um kit de sobrevivência. Na concepção deste estudo, baseamo-nos nos princípios desenvolvidos por Michael Reynolds que, nos seus projectos, explora perfeitamente a teoria desenvolvida por mais uma equipa de arquitectos, a MRDV, que advoga que a tecnologia e a

natureza não precisam de se excluir mutuamente, podem perfeitamente reforçar-se uma à outra, através do reaproveitamento dos excedentes da sociedade tecnológica. Através do estudo desenvolvido, das visitas ao local e da observação percebemos as suas características. Através da leitura e consulta de livros e investigação de artigos de opinião, bem como do debate de ideias, desenvolvemos esta proposta que tem por objectivo proporcionar um habitat ecológico que permita uma diversidade tipológica, portabilidade, rapidez de montagem, multiplicação dos espaços, auto sustentabilidade, investigação e promova uma atitude ecológica em relação ao ambiente em que se insere. A explanação do estudo será realizada em quatro capítulos. Primeiro serão apresentados os casos de referência. No segundo capítulo será realizada a contextualização. Depois introduzir-se-à o tema da criação de um conceito arquitectónico através da relação entre a natureza e a energia. Por fim explorar-se-à o caso prático.

007



2.0 Casos similares de referĂŞncia


Figura 1

Figura1 – Colocação e sobreposição de pneus. Figura2 – Inserção da habitação na paisagem.

Figura 2


2.0 Casos similares de referência

011

2.0.1 Michael Reynolds3 | Eartship Bioarquitectura | 1972-presente “Uma Earthship é uma casa sustentável feita através da reutilização de materiais.”4 São concebidas e construídas, literalmente, por Michael Reynolds e pelas pessoas que habitam nas comunidades ecológicas, que se deslocam a qualquer local do planeta para as erguer, se forem chamados para o efeito. Para além da reutilização, as construções Earthship são caracterizadas pela utilização

de

materiais

e

aplicação

de

tecnologia

sustentável. Todas

estas

características quando conciliadas, garantem, em alguns casos, a completa autonomia

000

da habitação, podendo-se implantar em praticamente qualquer ambiente a adaptar-se a qualquer clima, desde o calor do deserto às zonas muito frias, em grandes altitudes.5 A grande massa térmica das paredes, juntamente com a correcta orientação solar do edifício, permite manter o interior estável, mesmo nos períodos em que a temperatura exterior é extrema. A massa térmica permite, também, acumular a energia solar durante o dia, que depois é libertada para o interior, assim que a temperatura ambiente desce. Juntamente com este sistema, as Earthship possuem dispositivos de ventilação simples, que podem ser manipulados para assegurar o conforto térmico e a renovação do ar interior, tais como portas e janelas, presentes nas paredes e na cobertura. Em climas mais quentes, pode-se recorrer a outros sistemas de regulação térmica, como o arrefecimento pelo solo, cuja ideia é captação de ar exterior e a sua posterior condução, por tubos enterrados, para o interior do edifício.6 “Quando o ar

viaja pelo tubo […] transmite parte do seu calor para o solo que o envolve, entrando na casa como ar arrefecido…” 7 Ao nível dos materiais naturais, há a destacar o uso do adobe, que é utilizado como complemento entre a sobreposição dos pneus e como revestimento, no interior e 3 4 5 6 7

Biografia no Anexo IV | Película Cinematográfica no Anexo V (Garbage Warrior) (www.earthship.com, 2011) – Tradução livre (TRUYENS) (TRUYENS) (Companhia de Arquitectura e Design)

000


Figura 3

Figura 3 – Painéis solares inseridos na fachada de uma Earthship. Figura 4 – Sistema de recolha das águas. Figura 5 – Interior de uma Earthship.

Figura 4

Figura 5


2.0 Casos similares de referência

exterior da habitação, o que, para além de garantir uma imagem mais cuidada da casa, permite que esta se integre na paisagem em que está inserida. Não devemos esquecer que estas construções se encontram implantadas em ambientes naturais e, como tal, caso as paredes não fossem alvo de um acabamento eficaz, a construção ficaria com uma imagem agressiva e descontextualizada. A madeira é, igualmente, um material natural amplamente utilizado, geralmente, assumindo funções estruturais. As Earthships acomodam, também, tecnologia de vertente ecológica, que garante aos edifícios as condições necessárias para o seu funcionamento, enquanto residência. “Pode ser construídas em qualquer parte do mundo, em qualquer clima e ainda fornecer energia solar, captação de água, tratamento de esgoto contido e produção sustentável de alimentos.”8 A energia eléctrica é fornecida por painéis solares e a água, captada das chuvas e degelo da neve, é posteriormente acumulada em reservatórios e reutilizada para várias tarefas, segundo uma série de processos. Como se sabe a quantidade de água potável no planeta é limitada, o que levou Reynolds a investir fortemente na utilização sustentável deste elemento natural – depois de ter sido recolhida da cobertura, é transportada para uma cisterna, onde é armazenada e tratada, sendo posteriormente distribuída pela casa. A água usada nas tarefas domésticas é reutilizada para regar as plantas e vegetais, no interior da residência, e que por sua vez, ajudam a purificar o ar e controlar a temperatura. Em algumas situações, os vegetais também servem de alimento para os habitantes. O líquido que não é usado pelas plantas é transportado para um reservatório mais pequeno, que abastece a sanita. As águas negras daí resultantes são encaminhadas para uma fossa séptica exterior, fechada por um vidro, para ajudar a aquecer o interior e acelerar o processo orgânico de decomposição. O excedente é encaminhado para o ar livre, onde é consumido pelas ervas e outra vegetação local.9 Como se pode constatar, o conceito

8 9

(www.earthship.com, 2011) – Tradução livre (TRUYENS)

013


Diagrama 1

Diagrama 1 – Earthship de categoria compacta. Diagrama 2 – Earthship de categoria modular.

Diagramaa 2


2.0 Casos similares de referência

de auto-suficiência para Reynolds vai muito além da simples reutilização dos materiais.

015

“Pneus, garrafas de vidro ou plástico, latas de refrigerantes, embalagens recicláveis muitos diriam montanhas de lixo sujando a paisagem, mas nem todos sofrem da limitação da imaginação sem limites. Na Califórnia, na década de 70, indo contra todas as convenções, um arquitecto chamado Michael Reynolds viu possibilidades onde outros não viam restos.”10 O arquitecto sustenta que toda a habitação deve ser pensada para ser completamente autónoma e não depender de quaisquer fontes externas. A variedade de construções Earthship reflecte-se em diferentes escalas e formas, de maior ou menor complexidade, com grande variedade de plantas e pormenores construtivos para cada caso. De um modo sucinto podemos classificar os modelos em 2 classes principais: categoria compacta e modular.11 As habitações de categoria compacta são as mais económicas, fáceis e rápidas de construir. Têm geralmente, forma rectangular, e constroem-se com recurso a uma parede estrutural de pneus, que envolve todo o edifício, deixando apenas uma fachada envidraçada, virada a sul.12 A categoria modular, como o nome indica, tem por base a repetição de módulos espaciais. As habitações deste tipo têm, por norma, planta simétrica, com a sala de equipamentos técnicos ao centro. A partir deste núcleo, desenvolvem-se os módulos, de forma circular, que se vão agregando entre si, conforme os espaços necessários. Oferecem maior conforto térmico do que os modelos compactos, uma vez que cada espaço se encontra individualmente revestido com massa térmica. Esta categoria pode ser dividida em sub-categorias, onde as formas podem variar dependendo de diversas condicionantes, como o local e a vontade do destinatário da

10 11 12

(Folha do Nordeste) (TRUYENS) (www.earthship.com, 2011)

000


Figura 6

Figura 7

Figura 6 - Desenho da concepção. Turbinas de vento montadas entre o edifício e a sua torre de elevador convertem a energia eólica em energia eléctrica. Figura 7 - Testes de laboratório de túnel de vento mostram que as turbinas geram energia, sob diferentes condições de ventos dominantes.


2.0 Casos similares de referência

obra.13

Além

destas

classificações,

existem

outras

secundárias,

com

propriedades específicas. São elas a categoria nautilus, de planta em espiral, híbrida, onde são árias as configurações espaciais possíveis, e retrofit, que consiste na adaptação das técnicas atrás descritas, a construções pré-existentes.14 “ O método de construção das Earthship tem vinda a evoluir há mais de 40 15

anos.”

2.0.2 Richard Rogers16 partnership | Edifício de escritórios | Tóquio, Japão | 1993 A presente solução arquitectónica resultou da pesquisa para um conjunto de escritórios em Tóquio, cujo objectivo foi explorar a ideia e conceito de auto-suficiência energética. Pretende reduzir ao mínimo a energia exigida por um edifício, iluminando todos os espaços com luz natural. Todas as zonas que não têm luz natural, como porões e espaços mais internos, são iluminados por energia concentrada e canalizada por cabos de fibra óptica, com uma circulação subterrânea de água para arrefecer a estrutura do edifício. A fachada voltada a sul é toda revestida com vidro electrónico, que reflecte quando o sol brilha, impedindo a entrada de luz directa e torna-se transparente quando as condições climatéricas estão menos favoráveis. A utilização de programas de computador, desenvolvidos para a indústria aeronáutica, permitiu desenvolver um fluxo de ar através e ao redor de todo o edifício. Com esta inovação pode testar-se as inúmeras formas de usar os ventos dominantes para uma melhor retirada do ar, no edifício. Foi adoptado o princípio utilizado nas asas de um avião, para ajustar a forma do edifício, de modo a que o vento se movesse mais 13 14 15 16

(TRUYENS) (TRUYENS) (www.earthship.com, 2011) - Tradução livre Biografia no Anexo IV

017


Figura 8

Figura 9

Figura 8 - Diferentes fases de construção da estrutura. Figura 9 - Vista geral com a fachada iluminada.


2.0 Casos similares de referência

rápido nas suas superfícies. Turbinas localizadas entre o edifício e a sua torre adjacente, aceleram os ventos dominantes, convertendo a energia eólica em energia eléctrica, usada durante o dia para serviços no edifício, e durante a noite canalizada para os cabos de alta tensão da cidade. O consumo de energia anual deste edifício foi medido, e demonstrou que obteve total auto-suficiência energética, produzindo a mesma quantidade de energia que consumia. Este projecto é a prova de que a tecnologia, particularmente o computador, aliada à arquitectura e engenharia, revoluciona o processo de projectar edifícios com baixo consumo energético.17

2.0.3 Solar ark sanyo | Laboratório e Museu Solar | Gifu, Japão | 1998.2001 Com o projecto Solar Ark (Arco Solar), o grupo Sanyo Electric procurou apresentar à humanidade a importância de uma energia limpa. Centrado em questões e problemas ambientais, foi desenvolvido todo um processo onde as pessoas pudessem sentir a importância vital do meio ambiente, bem como o prazer e a maravilha da ciência. Com este equipamento, a Sanyo actua no sentido de consciencializar e alertar problemas do ambiente e questões associadas à energia solar através do desenvolvimento de várias actividades, exposições e workshops. Estes eventos têm como principal objectivo cultivar o interesse em questões energéticas e ambientais. Situa-se em Gifu, no Japão, é um edifício com uma concepção e imagem muito forte, com uma enorme estrutura ultra-leve em forma de asa, coberta com mais de 5000 painéis fotovoltaicos. Estes painéis geram energia capaz para o intitular de auto-

17

(RICHARD & GUMUCHDIJAN, 2001) p.98 e 101.

019


Diagrama 3

Figura 10

Diagrama 4

Diagrama 3 - Diagrama conceptual. Figura 10 - Alรงado Oeste. Diagrama 4 - Diagrama de calor e energia. Diagrama de รกgua.


2.0 Casos similares de referência

suficiente. Tem 315 metros de comprimento e 37,1 metros de altura. A fachada é aproveitada como screen-wall com a incorporação de 72.200 LEDs. A estrutura tem como base um pequeno núcleo central habitável, com 126,6 metros de comprimento. É aqui que se encontra o conteúdo programático do projecto. É um museu, com várias áreas e temáticas relacionadas com o sol, rodeado de um espelho de água, incluindo fontes e dois tanques, cada um deles com uma cascata. A manutenção da água é feita com um sistema desenvolvido também pela Sanyo, que limpa a água constantemente, além de prevenir o crescimento de bactérias (legionella) causadoras de doenças pulmonares graves. Também no exterior encontra-se uma área reservada para eventos ao ar livre, tais como demonstrações científicas e mini corridas de carros solares, entre outras actividades.18 2.0.4 MVRDV19 | Pavilhão Holanda | Hannover, Alemanha | 2000 Esta proposta reflecte a realidade na Holanda. É um país de grande densidade populacional que combina padrões elevados de bem-estar social com uma grande tradição democrática. Pode ser o primeiro exemplo de um país que sempre moldou o ambiente que o rodeia às suas necessidades. Está em constante crescimento territorial, ganhando cada vez mais terra ao mar. Poderá ser criado, não só aumentando a largura do país, mas através de uma expansão vertical. Foi uma proposta deste atelier para a Feira Mundial de Hannover 2000, que teve como tema principal a ecologia. È uma simples crítica à tecnologia e à sociedade consumista, ao asfalto e à maquinaria. Este edifício constituído por uma base quadrangular de 40 metros e uma altura de 50 metros, pretende criar um misto de natureza, dando ênfase à produtividade e à artificialidade da natureza: a tecnologia e a natureza não precisam de se excluir

18

(Panasonic) (Obvious) 19 Biografia no Anexo IV

021


Diagrama 5

Diagrama 5 - Corte esquemรกtico das infra-estruturas.


2.0 Casos similares de referência

mutuamente, podendo perfeitamente reforçar-se uma à outra. O programa está organizado em vários pisos, e ao mesmo tempo é um símbolo de artificialidade. Providencia espaços públicos nos diversos pisos funcionando como extensão do espaço público já existente. Com esta organização, o piso térreo ganha outra dimensão e importância, sendo possível uma permeabilidade completa com a sua envolvente. Assume-se como um verdadeiro espaço público dividido em vários pisos. É um programa pouco explorado ou inexistente o que significa que este projecto funciona como laboratório, que não só rentabiliza área e espaço, como também poupa energia, tempo, água e infra-estruturas. “É criado um mini-ecossistema. É um kit de sobrevivência.”20 Testa também as qualidades existentes, tentando explorar soluções para a falta de luz e terra, construindo novas relações e conexões, pela sua densidade e diversidade de funções. É portanto um símbolo para a natureza multifacetada da sociedade.

2.0.5 Fátima Fernandes e Michele Cannatá21 | Módulos Auto-Suficientes | 2003 O caso em análise tem como principal objectivo a implantação em locais que não sejam permitidas mutações profundas em termos construtivos ou onde não é praticável e possível o acesso a infra-estruturas e consensualizar para formas alternativas de construção. Houve preocupação na defesa de uma arquitectura virada para questões de sustentabilidade. A pretensão e o desejo do desafio foram o de dar resposta a um número elevado de situações em que o factor tempo associado ao processo e apuramento da construção é de grande importância. Foram desenvolvidos princípios e conceitos como mobilidade, polivalência, polifuncionalidade, autosuficiência energética e infra-estrutural, recorrendo a metodologias processuais de

20 21

(El Croquis, 2002) p.43. Biografia no Anexo IV

023


Diagrama 5 - Corte esquemรกtico das infra-estruturas.

Figura 11


2.0 Casos similares de referência

recuperação e armazenamento de energia e o emprego de tecnologia de ponta. Pela identidade do projecto, o modulo base pode ser considerado como um elemento primário de um sistema complexo, capaz de produzir situações urbanas de tipo completamente novo relativamente aos conceitos tradicionais de urbanização. Consideramos possível, através de várias combinações e das possibilidades associativas destes módulos, realizar condições de habitabilidade em áreas particularmente valiosas do ponto de vista ambiental e paisagístico na perspectiva de um uso mais atento do território. É um equipamento de cariz minimalista, interrmodular, mutável e versátil no que diz respeito à função, construção, transporte e implantação. Tem 27 metros quadrados (3 metros de largura por 9 metros de cumprimento), responde às necessidades básicas de um indivíduo (habitação temporária, posto de vigia), a facilidade de articulação entre módulos permite criar espaços de maior diversidade funcional (bar/quiosque), a forte componente tecnológica, uma vez que a sua estrutura física foi concebida para albergar as necessárias ligações e redes de comunicação (“praça virtual”) e o facto de ser 100% autónomo nas suas infraestruturas, rede eléctrica, águas, saneamento e de construção, o seu transporte pode ser por camião ou helicóptero, não oferecendo assim qualquer trabalho no local da sua instalação, determinam as suas principais características. Traduz uma solução inovadora para o tema da habitação provisória, na perspectiva da produção industrial de artefactos compatíveis com a defesa do ambiente, dos seus recursos e com desenvolvimento económico, social e cultural da nossa civilidade. Na perspectiva de utilização permitirá uma grande flexibilidade e versatilidade no uso do território com inserção de formas de urbanização qualificada e sem características destrutivas dos recursos e do ambiente.

025


Figura 12

Diagrama 6

Figura 12 - Imagem de conceito. Diagrama 6 – Diagramas energÊticos.


2.0 Casos similares de referência

Para contextualizar o desafio, foram materializados dois exemplos. Um em madeira e outro em metal, com a associação de outros três materiais, acrílico, vidro e veludo. Contudo, o resultado arquitectónico e a qualidade do projecto, conseguiram conciliar a relação da contemporaneidade com o tema da sustentabilidade.22

2.0.6 nbAA - nadir bonaccorso23 | casa sustentável | 2007 Esta proposta, do atelier nbAA de Nadir Bonaccorso tem como premissas e associação, a habitação sustentável e as características especiais do território e a cultura do local. Estas levam-nos a uma melhor compreensão e conhecimento de necessidades específicas. Conceptual, física e materialmente, a proposta divide-se em duas partes/volumes, a máquina sustentável e o espaço habitável. O primeiro contém todos os serviços e áreas técnicas, e está profundamente ligado ao terreno, mostrando-se através de chaminés de forma ritmada. Estas possibilitam a iluminação e ventilação natural para instalações sanitárias e cozinha, trabalhando como base para a tecnologia solar activa que necessita de diferentes inclinações. A ligação com o volume habitável é feita através de corredores. Entre estes, encontram-se pátios com diversas temáticas que permitem iluminação e circulação de ar. O segundo está orientado a Sul e é servido pelo primeiro. Tem a mais-valia de assumir variadas formas e dimensões (espaço habitável personalizado) consoante as exigências do cliente. São evidentes algumas torções no volume, de modo a tirar partido e apreciar as melhores vistas que a paisagem envolvente oferece. Este projecto foi premiado na China, no concurso internacional de arquitectura e sustentabilidade Solar Design 2007.24

22

(Arquitectura e Vida, 2003) | (Cannata & Fernandes arquitectos) Biografia no Anexo IV 24 (nbAA premiado na China, 2007) (China-Concurso Internacional Solar Design Competition) 23

027


Esta pรกgina permanece em branco propositadamente.


2.0 Estado da questão

029

No tempo…

Quadro 1

No Sítio…

Mapa 1



3.0 Parte I Enquadramento TrĂĄs-os-Montes e Alto Douro

(provĂ­ncia)


mapa 2

Mapa 2 – Portugal. Localização da província de Trás-os-Montes e Alto Douro, local de estudo.


3.0 Parte I Enquadramento Trás-os-Montes e Alto Douro (província)

3.1 Caracterização

3.1 Caracterização, região de Trás-os-Montes e Alto Douro Situada no extremo nordeste do país, a província de Trás-os-Montes e Alto Douro ocupa uma área de 11.832 km² e é constituída pelos distritos de Vila Real e Bragança. As suas fronteiras são: a norte e a leste a Espanha; a oeste, as províncias do Minho e Douro Litoral; a sul, a província da Beira Alta. Apesar da sua designação administrativa oficial, considera-se que a província de Trás-os-Montes e Alto Douro propriamente dita, é toda a região que fica fora das margens do rio Douro. Também se costuma dividir esta província em duas regiões: A Terra Quente - nas margens do Douro - e a Terra Fria - nas serras do Barroso, Montejunto, Montesinho, Nogueira, Bornese, ainda, nas Terras de Bragança, Miranda do Douro e Mogadouro. Regiões de altas serras e montanhas separadas por profundos vales onde correm rios de inacessível navegabilidade e com o planalto de Bragança a servir de topo a outros menos importantes planaltos, a província de Trás-os-Montes apresenta curiosos e originais aspectos paisagísticos, ecológicos, humanos e sociais. Trata-se de uma província que devido às condições naturais do seu território e do seu clima, apresenta características muito especiais: as suas populações, encarceradas entre o rio Douro e altas serranias viveram vários séculos isoladas e separadas dos seus vizinhos, os que lhes conferiu um arcaísmo de modos de vida e maneiras de ser ainda patentes em algumas práticas de comunitarismo, nos seus usos e costumes, no aspecto, quer sobranceiro e castrejo das suas cidades e vilas, quer rude das suas aldeias. Terra violenta e dramática, na região do nordeste, de vinhedos e doces socalcos, nas margens do douro, Trás-os-Montes oferece ao visitante inúmeros aspectos paisagísticos, culturais e sociais que a tornam diferentes das demais províncias portuguesas.

033


figura 13

figura 13 e figura 14 – Santuário de Panóias (Vila Real).

figura 14


3.0 Parte I Enquadramento Trás-os-Montes e Alto Douro (província)

3.1 Caracterização

3.1.1 Breve Enquadramento Histórico Escavações, pesquisas, e estudos arqueológicos têm demonstrado que toda a região que hoje constitui a província de Trás-os-Montes e Alto Douro já era povoada desde a mais recuada pré-história como testemunham as ruínas do santuário rupestre (mais tarde romanizado) de Panóias. Nessa região também se fixaram, como em toda a Península Ibérica os celtas invasores que ali se fundiram com as populações locais por eles submetidas e assim formaram algumas das tribos celtibéricas que, mais tarde, acabariam por ser incluídas na Lusitânia e que nos deixaram vestígios nos seus inúmeros castros.

25

Contudo, apesar da nudez do território, definido por uma muralha natural de serras, por inúmeros castros, e da agressividade combativa das populações, os Romanos acabariam, no primeiro século da nossa era, por submeter as populações e ocupar militarmente toda a região. De tal ocupações são ainda hoje testemunho alguns troços da Via Imperial que, passando pela serra do Gerês, ligava Bracara Augusta (Braga) e Asturica Augusta (Astorga) e de outra estrada romana que ligava aquelas duas cidades passando por Aquae Flavia (Chaves) e Bragança, troços onde ainda deparamos com grande número de restos de colunas, marcos militares, e pontes. Embora em menor escala do que outras populações ibéricas, a região não deixou de receber influencias dos romanos. Sabe-se igualmente, que os Romanos exploraram algumas termas e minas da região e que a mesma foi cristianizada por missionários vindos de Roma.26 Quando no séc. III, a Península Ibérica é invadida por povos bárbaros germânicos já toda esta região estava cristianizada o que não impediu que a mesma

25

castro – nome masculino; lugar fortificado das épocas pré-romana e romana, na Península Ibérica, que era um povoado permanente ou apenas refúgio das populações circunvizinhas em caso de perigo, também designado crasto, castelo, citânia, cividade, cristelo, etc; castelo antigo. (Do lat. castru-, «fortaleza») Fonte: (Infopédia) 26 (SILVA & TAVARES)

035


figura 15

figura 16

figura 15 - Domus Municipalis de Braganรงa. figura 16 - Zona de carvalhos, localidade de Franรงa.


3.0 Parte I Enquadramento Trás-os-Montes e Alto Douro (província)

3.1 Caracterização

tivesse sido sucessivamente integrada nos reinos suevo e visigótico e, mais tarde, nos reinos godo-cristãos encravado entre o Minho, berço do condado portucalense e do futuro Portugal e os reinos de Leão e Castela, a província de Trás-os-Montes iria ser teatro das lutas travadas entre os exércitos de D. Afonso Henriques e dos dois leoneses acabando por ser integrada no Condado Portucalense. A partir de então, Trás-os-Montes jamais deixou de ser terra portuguesa. Da fé cristã das populações transmontanas são testemunho as rudes capelas românicas e as Sés catedrais de Lamego e Bragança igualmente românicas; e dessas lutas senhoriais são também testemunho os inúmeros castelos que ainda hoje se erguem na região fronteiriça, assim com a Domus Municipalis de Bragança (um dos nossos raros monumentos civis do séc. XII) é testemunho da vida dos nossos burgos medievais.

3.1.2 Meio físico e humano O clima da província de Trás-os-Montes e Alto Douro é caracterizadamente continental: invernos frios e verões escaldantes. Região de altas serras separadas por profundos vales onde correm rios de difícil navegabilidade e com o planalto de Bragança a servir de topo, apresenta ela características ecológicas muito especiais: nas vertentes ocidentais, há alguns revestimentos de pinhais que sobem até grandes altitudes enquanto as vertentes orientais apresentam um escasso revestimento florestal e amplas áreas de cultivo de cereais, particularmente de centeio. Em algumas zonas, os bosques de castanheiros e carvalhos e os olivais emprestam à paisagem estranhas tonalidades de verde; e as excessivas alterações de temperatura e humidade, na linguagem comum, dividiram a província em duas grandes regiões: a Terra Quente e a Terra Fria: Região de rochas graníticas mas também de xistos, cristalinos e argilosos, calcários e quartzos, sendo o seu subsolo rico

037


figura 17

Figura 17 - Zona de vinhas em socalcos e o Rio Douro.


3.0 Parte I Enquadramento Trás-os-Montes e Alto Douro (província)

3.1 Caracterização

em volfrâmio, estanho, chumbo, crómio, zinco e, em diminuta percentagem, cobre, ouro e prata. A grande riqueza agrícola desta província é a vinha, pois é a região do famoso Vinho do Porto; contudo, o cultivo do centeio, do trigo, do milho de produtos hortícolas é de significativa importância tal como a oliveira, o castanheiro, a amendoeira, o carvalho, o pinheiro e a figueira são de igual importância. As principais espécies animais são o coelho, a perdiz, o pombo bravo e a codorniz. Como riqueza pecuária destacam-se o gado bovino (com particular destaque para a raça barrosã, logo seguida da raça maronesa e da raça mirandesa) sendo algo significativa a criação de gado vacum e do gado lanígero. Nas serranias transmontanas abundam o lobo, o javali, a raposa, a fuinha, a águia e em menor escala, a lontra. Os rios transmontanos – o Douro, o Cávado, o Rabagão, o Tua, o Pinhão, o Corgo e o Tâmega – são ricos de sável, lampreia, bordalo, truta e enguias. A diversidade do conjunto de circunstâncias que caracterizam fisicamente a região social e humanamente as populações determinou a divisão da província em várias 18 sub-regiões. A expressão “Alto Douro” referente às duas margens do rio Douro nos distritos de Vila Real e Bragança, só se tornou oficial em 1756 com a criação da Companhia Geral da agricultura dos vinhos do Alto Douro. Os socalcos dos vinhedos em anfiteatro e as tradicionais “quintas durienses” que se estendem ao longo das margens do rio Douro, os bosques que sobem as encostas dos montes, os bucólicos vales, as terras dos planaltos e as altas e pedregosas escarpas das montanhas caracterizam em toda a sua violência e grandiosidade as terras transmontanas. A propriedade no Alto Douro está divida, havendo contudo grandes propriedades – quintas – cujos proprietários nem sempre nelas vivem. O Douro apesar de ser navegável até quase à fronteira, tem uma navegabilidade perigosa devido aos seus acidentes. Era através deste rio que os barcos rabelos traziam o Vinho do Porto até às caves da cidade Gaia.

039


figura 18 – Casa Transmontana.

figura 18


3.0 Parte I Enquadramento Trás-os-Montes e Alto Douro (província)

3.1 Caracterização

3.1.3 Habitação O povoamento da província de Trás-os-Montes e Alto Douro é do tipo aglomerado, ou seja, é composto por um grupo de habitações agarradas aos flancos das serras ou no alto dos montes e tem uns desenvolvimentos que podemos considerar circular. De uma maneira geral, as ruas são estreias e por vezes são talhadas directamente nas rochas que formam o solo. Estas pequenas ruas dão serventia às habitações e aos currais, sendo por isso regularmente percorridas pelo gado a caminho ou de volta das pastagens. Não se pode afirmar que a habitação do distrito de Vila Real seja idêntica à de Bragança; é neste último que encontramos a típica casa transmontana. No distrito de Vila Real a habitação assemelha-se, de uma maneira geral, à habitação minhota destacando-se, contudo, pela sua imponência e pelo seu aspecto barroco, as grandes casas das grandes quintas. Para melhor entendermos, explicamos estas razões em seguida: a casa transmontana, construída em pedra de granito, é composta de dois pisos de planta quadrada ou rectangular e escada exterior; o piso de baixo é destinado a cortes, currais de gado e lojas para armazenamento de produtos e alfaias agrícolas, enquanto o primeiro andar, chamado sobrado, se destina a habitação propriamente dita: um, dois ou três quartos e uma ampla cozinha. As chaminés são rudimentares e os telhados, de duas ou quatro águas, são de telha caleira, placas de xisto, lousa ou colmo. Algumas casas mais humildes são de granito mal aparelhado e o xisto é utilizado sem argamassa ou reboco. É no andar do espaço habitacional, que se abre uma varanda coberta e construída em madeira que sai fora do corpo da casa designada balcão. Algumas casas de lavoura têm, à sua volta, uma série de variadas pequenas construções destinadas a várias tarefas agrícolas, por exemplo espigueiros, sequeiros e eiras.

041


figura 19

figura 20

Figura 19 – Castelo de Bragança (desenho de Duarte D’Armas, 1509). Figura 20 – Fotografia aérea do Castelo e zona envolvente da muralha (década 60, séc. XX).


3.0 Parte I Enquadramento Trás-os-Montes e Alto Douro (província)

3.1 Caracterização

3.1.4 Monumentos Não são na província de Trás-os-Montes e Alto Douro numerosos os monumentos de grande e imponente porte; contudo, pode ela orgulhar-se de ser uma das mais ricas regiões do País em documentos pré-históricos, em ricas casas solarengas que são hoje belos exemplares da arquitectura civil portuguesa, em castros e castelos, em edifícios religiosos de várias épocas. Destes destacam-se em Bragança: o Castelo e Torre de Menagem (séc. XV), entre outros existentes com data entre o séc. XII e o séc. XVIII.27

3.1.5 Artesanato e traje As condições climatéricas e físicas da região de Trás-os-Montes e Alto Douro e o seu passado histórico moldaram os modos de vida, os usos e os costumes e a maneira de ser das suas populações que, separadas largos séculos das populações vizinhas e do contacto dos grandes centros, retiveram práticas cerimoniais, festividades, usos e costumes muito arcaicos que fizeram de toda esta província uma das mais ricas e originais regiões etnográficas e folclóricas de Portugal. Na província de Trás-os-Montes e Alto Douro ainda é possível deparar com primitivas formas de trabalho artesanal que proporcionam a confecção de objectos de grande beleza: a olaria de Bisalhães e Vilar de Nantes; a cultura e tecelagem do linho, cestaria, os ferros, o artesanato de Bresas; a tecelagem da lã, o artesanato de madeira, e cerâmica. O interior do distrito de Vila Real, bem como todo o distrito de Bragança é, sem dúvida, uma região onde encontramos os mais arcaicos e curiosos trajes populares do País. Região dura e violenta onde a vida exige grande esforço humano, não admira que tal dureza, tal esforço, se reflictam nos trajes das suas gentes. O típico chapéu 27

(SILVA & TAVARES)

043


figura 21 – Os Pauliteiros de Miranda.

figura 21


3.0 Parte I Enquadramento Trás-os-Montes e Alto Douro (província)

3.1 Caracterização

abarretado, a jaleca e o calçado de surrobeco, as polainas grosseiras e as sólidas botas dão ao trajo masculino uma originalidade que vem de longe. Também o trajo feminino é aqui rude e nobre: lenço cobrindo a cabeça, blusa ou casaquinha sóbrias, ampla e bem rodada saia, mantelete em volta do tronco. Esta é a região das imponentes e antiquíssimas capas de honra, de complicado corte e bordado trabalhado, usadas por homens e mulheres e, igualmente das coroças, ampla capa com cabeção confeccionada em palha de colmo, bem como dos curiosos trajos dos pauliteiros de Miranda e Cércio.

Costumes, música e teatro É Trás-os-Montes e Alto Douro, região de usos e costumes cuja origem se perde nos tempos mas que reflectem o complexo etnocultural desta província e das suas gentes. Os trabalhos agrícolas em que se destacam a poda das videiras, as lavras e as colheitas, as rogas com os seus cânticos e as suas danças, as vindimas, as lagaradas de vinho e azeite e a apanha da azeitona; a Festa dos Reis; os caretos do

Entrudo, as pulha do Carnaval; serrar da velha, as impressionantes encomendações das almas ou vias-sacras pela Quaresma; as vezeiras do Verão; a Feira dos Pucarinhos; as orações contra as trovoadas e de acção de graças, a “chega” de bois do Barroso, entre outras.28 As condições climatéricas e físicas da região de Trás-os-Montes e Alto Douro, o seu passado histórico, como já referimos, moldaram os modos de vida, os usos e os costumes e a maneira de ser das suas populações que, separados largos séculos das populações e do contacto dos grandes centros, retiveram práticas cerimoniais, festividades, usos e costumes muito arcaicos que fizeram de toda esta província uma das mais ricas e originais regiões etnográficas e folclóricas de Portugal.

28

(SILVA & TAVARES)

045


figura 22

figura 23

figura 22 – Os Caretos do Entrudo figura 23 – Diversidade de produtos hortícolas.


3.0 Parte I Enquadramento Trás-os-Montes e Alto Douro (província)

3.1 Caracterização

Encontram-se nesta província alguns dos mais arcaicos exemplos musicais e coreográficos não só do país como, musicalmente de toda a Europa. A música e as danças da região testemunham eloquentemente a imponente grandiosidade do meio físico, o isolamento do território e das populações, a nudez dos modos de vida e a maneira de ser das suas gentes. Em toda a sua região vamos deparar com cânticos religiosos e de trabalho, velhos romances, cantigas e modas de bailar. São melodias, onde sobressai um profundo sentimento nostálgico. A fauna pastoril, as violas, o tambor e a caixa, a gaita-de-foles e por vezes o bombo são os instrumentos mais característicos da região. Entre as danças, algumas de cariz antiquíssimo e forte pendor guerreiro o recorte litúrgico e ritualista, poderemos destacar: a célebre e impressionante dança dos pauliteiros de Miranda, cuja origem terá sido, possivelmente, a lírica dos Gregos herdada pelos Romanos. A província de Trás-os-Montes e Alto Douro é, sem dúvida, a mais rica região de Portugal no que se refere a teatro popular tradicional ainda hoje representado e cujos espectáculos são aqui designados de várias maneiras: comédias, autos, esterlóquios e diálogos. Encontramos aqui exemplos de todos os tipos deste velho e teatro popular ibérico: autos religiosos, autos guerreiros e cavalheirescos e autos sociais.

Gastronomia e vinhos Sem dúvida que a mais elaborada e suculenta culinária de Portugal se encontra na província de Trás-os-Montes e Alto Douro. Terra de cria de porcos, de famosos enchidos e famosas carnes fumadas e curadas, região cerealífera, hortícola, e de puríssimo azeite, natural é que a sua culinária assente em tais produtos. Ao longo das duas margens do douro, nos distritos de Vila Real e parte do de Bragança estende-se a região dos vinhos do Douro, ou seja, do famoso Vinho do

047


figura 24

(a)

(b)

Mapa 3

(a)

(b)

(c) Mapa

Figura 24 - logótipo do Parque Natural de Montesinho. Mapa 3 - Localização da província de Trás-os-Montes e Alto Douro (a), distrito de Bragança e do Parque Natural de Montesinho (b). Mapa 4 – Altura (a), temperatura (b) e precipitação (c) (valores médios anuais).


3.0 Parte I Enquadramento Trás-os-Montes e Alto Douro (província)

3.1 Caracterização

Porto. As características climatéricas da região, a natureza do terreno e o método de tratamento das videiras, do fruto e do líquido constituem os principais factores que fizeram do vinho do Porto o mais célebre de todos os vinhos generosos do mundo. São inúmeras as marcas de vinhos do Porto e algumas são já mais que centenárias. Como em todas as regiões de desenvolvida actividade agrícola, pecuária e artesanal são inúmeras as feiras de Trás-os-Montes e Alto Douro.

3.2 Parque Natural de Montesinho 3.2.1 Localização O Parque Natural de Montesinho fica situado no extremo nordeste de Portugal Continental, na região de Alto Trás-os-Montes, no distrito de Bragança. O Parque é limitado a Sul, grosseiramente, por uma linha que liga Bragança e Vinhais; e a Oeste, Norte e Leste pela fronteira com Espanha. Esta fronteira pode ser atravessada por estrada através dos postos fronteiriços da Moimenta, do Portelo ou de Quintanilha, ou a pé, se visitar a aldeia de Rio de Onor, por cujo interior passa a linha de fronteira.

3.2.2 Morfologia e clima Caracterizada pelos relevos suaves, resultantes de formações geológicas ligadas aos xistos do Silúrico e às rochas básicas ante-câmbicas. As suas altitudes desenvolvem-se entre os 438 metros, no rio Mente, no extremo ocidental e os 1431 metros na Serra de Montesinho. Sob o ponto de vista climático o Parque Natural de Montesinho insere-se numa região mais vasta de clima sensivelmente homogéneo, a Terra Fria Transmontana. A esta região, caracterizada por Invernos longos e frios e Verões curtos e quentes, a sabedoria popular atribui, através dum ditado popular, “nove meses de Inverno e três meses de inferno”. Na área do Parque, a temperatura

049


Figura 25 – Pombal.


3.0 Parte I Enquadramento Trás-os-Montes e Alto Douro (província)

3.2 Arque Natural de Montesinho

média oscila entre valores de 3 a 5 ºC no mês mais frio e entre 20 a 21 ºC no mês mais quente. A temperatura média anual é superior na parte Este do Parque mas diminui com a altitude29. A pluviosidade é elevada e, de um modo geral, é maior na parte Oeste do Parque e na Serra de Montesinho. As quedas de neve são frequentes entre Dezembro e Março, podendo registar-se, nas zonas altas, 40 a 50 dias com precipitação de neve por ano. Nas restantes áreas neva em média 10 a 20 dias por ano. Evidenciando as variações do solo e do clima, a paisagem, sempre verde na parte Oeste e Central, torna-se mais agreste na parte Oriental, onde a pluviosidade é mais escassa.

3.2.3 Ocupação Humana A

ocupação

humana

do

território

remonta

a

tempos

pré-históricos

testemunhados por inúmeros vestígios arqueológicos. Dos tempos proto-históricos

30

são referidas cerca de três dezenas de povoados fortificados, “castros” da Idade do Ferro. A romanização desta área implicou grandes alterações na estrutura e organização do território, que passou a estar integrado numa circunscrição administrativa designada de ciuitas Zoelarum, uma vez que a etnia que já ocupava este território era a dos Zoelas31. No século XII, com D. Afonso Henriques, surgiu o Reino de Portugal e, a pouco e pouco, foi-se consolidando a actual estrutura territorial. Actualmente todo o território do Parque Natural de Montesinho está fortemente humanizado, localizando-se os principais aglomerados populacionais em zonas de meia

29

(Parque Natural de Montesinho) Proto-História é o período da Pré-História anterior à escrita, mas que nos é permitido conhecer por ser descrito em algumas das primeiras fontes escritas. Praticamente coincide com a Idade dos Metais. Denomina a época de transição que se seguiu, quando as sociedades agrárias reuniram os primeiros elementos para a posterior aplicação da escrita. Sua principal característica foi a substituição da tecnologia da pedra pela do metal. 31 Os zoelas (em latim, zoelae) era um povo pré-romano da Galiza. Sem ser a sua localização precisa, os testemunhos epigráficos situam-nos na fronteira entre Zamora e Trás-os-Montes e Alto Douro, configurando um das populações de maior extensão territorial conhecidos da península Ibérica. Algumas fontes situam-nos especificamente entre o rio Douro e o rio Sabor, com o centro em Mogadouro. 30

051


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3.0 Parte I Enquadramento Trás-os-Montes e Alto Douro (província)

3.2 Arque Natural de Montesinho

encosta ou em vales abertos e ensolarados. A arquitectura é simples, tendo sido utilizados, no passado, os materiais da região, como os xistos ou o granito, e as madeiras de carvalho e de castanheiro. Em termos arquitectónicos destacam-se, ainda, as estruturas complementares às actividades agrícolas, nomeadamente os pombais (“existem cerca de 3700”)32 e os moinhos de água.

3.2.4 Património A ocupação deste território é longínqua. As recentes descobertas de arte rupestre de ar livre no Alto Sabor, datável do Paleolítico Superior, demonstram que este território era então já frequentado por comunidades humanas, das quais, por ora, mais nada se conhece. Contudo, os mais antigos vestígios da presença humana identificados no interior do Parque Natural de Montesinho remontam ao Neolítico FinalNeolítico Final/Calcolítico (IV e início do III milénio a. C.), relacionando-se com o fenómeno megalítico. De todos os períodos pré-históricos e históricos subsequentes dão notícia os abundantes vestígios arqueológicos e artísticos. É à Idade do Ferro e à época romana que remonta a maioria dos sítios arqueológicos inventariados. Os primeiros correspondem a povoados fortificados localizados em locais altaneiros, com sistemas defensivos relativamente simples e com marcada tendência para se distribuírem ao longo dos cursos de água. O povoamento romano apresenta-se mais diversificado, acolhendo-se em sítios com maior discrição na paisagem. Nestes períodos, de acordo com as fontes literárias antigas e a epigrafia da época romana, este foi o espaço ocupado pela etnia dos Zoelae. Sucederam-se as ocupações germânicas e muçulmana, e a partir do século XII surgiu o Reino de Portugal, não tardando muito que a actual trama do povoamento ficasse completa. Sem dúvida alguma, a longa ocupação humana deste território moldou a paisagem que

32

(RTP1, 2011)

053


Figura 26

Figura 26 – Percurso e paisagem no Parque Natural de Montesinho.


3.0 Parte I Enquadramento Trás-os-Montes e Alto Douro (província)

3.2 Arque Natural de Montesinho

hoje contemplamos e os sítios arqueológicos aqui permanecem como prova desse povoamento de outrora, marcas materiais de vidas passadas. 3.2.5 Percursos pedestres e Paisagem No Parque Natural de Montesinho é possível fazer alguns percursos pedestres e de bicicleta e observar paisagens interessantes em qualquer época do ano. "Nenhuma outra área protegida expressa tão bem o contraste das estações do ano como Montesinho."33 Essa beleza de paisagem deve-se, em grande parte, à morfologia do terreno e ao tipo de vegetação que aí existe. O carvalho, o castanheiro, a azinheira o pinheiro, entre outros são algumas das árvores responsáveis pelo festival e multiplicidade de cores que se podem observar e que muda de acordo com a época do ano. Também se pode observar algumas aves como a águia-real e o falcão, assim como alguns mamíferos como o lobo, a raposa, o veado, a lontra e o javali. Mais próximo dos cursos de água pode-se encontrar o sapo e o lagarto.

3.2.6 Práticas comunitárias A vida em comunidade foi gerando práticas peculiares de sociabilidade. Em algumas aldeias desenvolveram-se práticas comunitárias baseadas na entreajuda e na posse em comum de determinados bens e meios de produção, fruto, em grande medida, devido ao isolamento geográfico, mas que hoje pouco mais não são do que vestígios. Em Rio de Onor, por exemplo, o maneio do gado ovi-caprino continua a passar pela formação de um rebanho comum. A festa é outro aspecto da vida em comunidade. A Festas dos Rapazes (ou de Santo Estevão, por força da cristianização) da Lombada e Vinhais, ligadas ao solstício de Inverno, são das mais originais e interessantes. Debaixo do brilhantismo dos fatos

33

(National Geographic, 2004)

055


Figura 27

Figura 27 – Alguns exemplos da fauna existente no Parque Natural de Montesinho.


3.0 Parte I Enquadramento Trás-os-Montes e Alto Douro (província)

3.2 Arque Natural de Montesinho

coloridos e das máscaras fantasiosas, esconde-se uma recuada tradição fundada em práticas rituais de passagem, de integração na idade adulta, e embora este simbolismo de fundo se encontre muitíssimo diluído na actualidade estas festas do ciclo de Inverno continuam a renovar-se, longe de qualquer intenção de recriação. As festas dos padroeiros, sobretudo as que se celebram no Verão, são hoje, no entanto, o ponto alto de encontro, vivendo do regresso temporário dos emigrantes, da afluência dos amigos e dos vizinhos das aldeias próximas, embebidos de devoção e de sentir profano.

3.2.7 Fauna e flora O Parque Natural de Montesinho encontra-se entre as áreas de montanha mais importantes para a fauna a nível nacional e europeu. Uma parte muito significativa de toda a fauna terrestre portuguesa está aqui representada, contando-se cerca de duzentas e cinquenta espécies de vertebrados e reconhecendo-se uma elevada riqueza e diversidade também de invertebrados. Muitas das espécies estão ameaçadas, constituem endemismos ibéricos, são raras ou têm uma distribuição muito reduzida em Portugal. Destaca-se a importância desta área para a conservação do lobo-ibérico Canis

lupus signatu cuja preservação está dependente, entre outros factores, da manutenção das populações de presas selvagens como o veado Cervus elaphus e o corço Capreolus

capreolus. Também a toupeira-de-água Galemys pyrenaicus tem aqui condições muito favoráveis, exibindo algumas das melhores populações nacionais. O gato-bravo Felis

silvestris,

a

lontra

Lutra

lutra,

o

morcego-de-ferradura-grande

Rhinolophus

ferrumequinum e o rato-dos-lameiros Arvicola terrestris (desconhecido no resto do país) são igualmente exímios representantes dos mamíferos ocorrentes. Cerca de 170 espécies de aves, incluindo espécies raras como a águia-real Aquila chysaetos, atestam a grande diversidade e valor da avifauna presente. A víbora-cornuda Vipera latastei, o lagarto-de-água Lacerta schreiberi são alguns dos répteis e anfíbios que se podem

057


Figura 28 – Bosque ripícola, localidade de França.


3.0 Parte I Enquadramento Trás-os-Montes e Alto Douro (província)

3.2 Arque Natural de Montesinho

observar. Constitui uma área excepcionalmente favorável para a truta-de-rio Salmo

trutta, podendo-se encontrar também muitas mais espécies de peixes. A presença de numerosas espécies de borboletas raras e exclusivas do Nordeste Transmontano como a Lycaena virgaureae, assim como das únicas populações viáveis do mexilhão-de-rio

Margaritifera margaritifera conhecidas em Portugal, realça a importância desta Área Protegida também para os invertebrados. A flora e vegetação que ocorrem no Parque Natural de Montesinho destacamse, no contexto nacional, pela sua elevada diversidade e quantidade de espécies raras, entre elas diversos endemismos34 ibéricos ou lusitânicos. O complexo jogo criado pelas condições geológicas, climáticas e orográficas que imperam nesta região, associadas a uma intensa actividade humana, contribuiu para o aparecimento de variados tipos de comunidades vegetais onde é possível encontrar plantas de uma enorme beleza, singularidade e importância em termos de conservação da Natureza. A flora que ocorre sobre as rochas ultrabásicas, um tipo de rochas muito raro em Portugal e que origina solos muito selectivos e tóxicos para a maioria das plantas, é das mais importantes e peculiares do Parque. Muitas das espécies que ocorrem sobre estas rochas são exclusivas dos solos ultrabásicos transmontanos e, algumas delas, em todo o mundo, apenas aqui podem ser observadas. Os bosques autóctones, carvalhais, sardoais e bosques ripícolas35, também contribuem de forma decisiva para a diversidade botânica desta Área Protegida. Espécies raras ou pouco comuns têm como habitat preferencial os bosques de carvalho-negral, o sub-bosque dos sardoais, enquanto outras preferem os ambientes húmidos dos bosques de linhas de água. O mosaico de comunidades vegetais que 34

Endemismo - nome masculino; fenómeno da distribuição das espécies (ou subespécies) animais ou vegetais, referida a uma área restrita e mais ou menos isolada. (Do gr. éndemos, «indígena» +-ismo, ou do fr. endémisme, «id.») Fonte: (Infopédia) 35 Ripícola - adjetivo uniforme; que vive nas ribas ou proximidades dos rios. (Do lat. ripa-, «margem» +colère, «habitar») Fonte: (Infopédia)

059


Mapa 5 – Painel informativo do Parque Natural de Montesinho.

Mapa 5


3.0 Parte I Enquadramento Trás-os-Montes e Alto Douro (província)

3.2 Arque Natural de Montesinho

ocorre sobre solos encharcados nos planaltos da Serra de Montesinho e dos Pinheiros, é um dos tipos de vegetação com maior importância para a conservação da flora do Parque.

3.2.8 Acerca do parque A área das serras de Montesinho e Coroa foi escolhida para Parque Natural por reunir condições em que é visível a integração harmoniosa do homem com o meio ambiente. Foi criado em 30 de Agosto de 1979, segundo o Decreto-Lei 355/79

36

,

sendo uma das maiores áreas protegidas de Portugal. Com uma superfície de 74.230 hectares, inclui cerca de 9.000 habitantes distribuídos por 92 aldeias. É constituído por uma sucessão de elevações arredondadas e vales profundamente encaixados, com altitudes variando entre os 438 e os 1481 metros, onde as aldeias, aninhadas em pontos abrigados e discretos, passam facilmente despercebidas aos olhos do visitante ocasional.37 É constituído por três unidades paisagísticas principais: uma zona central definida e limitada pelas serras de Montesinho, Coroa e Nogueira; Lomba e Lombada. A Oeste localiza-se a Lomba e a Este situa-se a Lombada, dois planaltos mais ou menos corroídos pela hidrologia, que se enquadram no aspecto mais ou menos árido do Este Transmontano. Entre essas duas zonas existe uma outra central, mais fresca e arborizada definida pelas serras de Montesinho, Coroa e Nogueira. Região povoada desde há milénios, conserva vestígios arqueológicos em muitas das suas aldeias. Algumas, possuem ainda nas toponímias, antigos nomes de fortificações castrejas; outras, antigas propriedades rurais, exibem nomes pessoais de origem germânica, atribuídos pelos colonizadores visigodos, que conservavam o costume romano de dar às villas o nome do dominus, ou do proprietário. Após a queda do império visigodo e a

36 37

Decreto-Lei 355/79 - Anexo I (Montesinho Vivo)

061


(a)

Mapa 6

(b)

Mapa 6 – Localização do distrito de Bragança (a), cidade de Bragança, aldeia de Montesinho, local proposto e cursos de água mais próximos e significativos (b).


3.0 Parte I Enquadramento Trás-os-Montes e Alto Douro (província)

3.2 Arque Natural de Montesinho

formação da nacionalidade, uma das primeiras preocupações dos soberanos foi povoar o reino, através da distribuição de terras a fidalgos e à igreja, e da criação dum sistema de “forais” colectivos, já que as rudes condições geográficas e sociais desses tempos exigiam que toda a organização do espaço dependesse da vida em grupo. Ainda hoje, as estruturas económicas e sociais das aldeias conservam hábitos comunitários. A justificação da criação do Parque Natural de Montesinho pode fazer-se segundo as seguintes componentes: Geologia, Hidrologia, Fitossociologia, Fauna, Ecologia, Paisagem, Espeleogologia, Arqueologia, Arquitectura Popular, Profana e Religiosa, Artesanato, Costumes característicos, Crenças, Festas religiosas e profanas, Gastronomia Regional, Turismo e Recreio. Especial referência à riqueza botânica e faunística que a individualizam como a área onde é possível desfrutar dos extensos carvalhais e soutos de castanheiros ou, se preferirmos, uma natureza menos domada pelo homem. Os xistos são as rochas dominantes mas podem ainda ser encontrados granitos, rochas ultra-básicas e muito localizadamente calcários. O que dá a este Parque características únicas no nosso país é precisamente a forma

como

ao

longo

dos

séculos

as

populações

souberam

integrar-se

38

harmoniosamente na paisagem, apesar das peculiaridades geoclimáticas.

3.3 Barragem da Serra Serrada O local proposto, incide numa área de território marcado por uma paisagem de altitude (com 1486 metros, sendo a quarta maior elevação de Portugal Continental)39, caracterizada por uma extensa planície onde variam zonas com morfologia de ondulado suave e zonas de relevo acidentado, em que se destaca a Serra de

38 39

(Viagens Travel)

Idem

063


Figura 29

Figura 29 – Perspectivas panorâmicas do local proposto.


3.0 Parte I Enquadramento Trás-os-Montes e Alto Douro (província)

3.2 Arque Natural de Montesinho

Montesinho, na sua parcela ocidental. Esta orografia complexa é caracterizada pelos vales que a percorrem, onde se encaixam os cursos de água. Os mais significativos são Baceiro, a ocidente, e o Sabor. A humanização desta paisagem manifesta-se quase com timidez, concentrandose em mosaicos de hortas e folhas de centeio na proximidade das aldeias, quer abrigadas nos vales, quer perdidas na serra. São pequenos aglomerados isolados com características e traços de uma rara fisionomia tradicional, mantendo práticas comunitárias antepassadas, à excepção da zona sudeste, pela proximidade e vizinha cidade de Bragança.40 A poucos metros do local encontramos a aldeia que dá o nome à serra e ao parque. Montesinho é a aldeia mais bem conservada da zona. A paisagem, de horizontes abertos, é profundamente marcada pelos afloramentos graníticos de formas arredondadas, emergentes por entre um coberto vegetal dominado por matos (urze, carqueja, esteva, charguaço), manchas de carvalho-negral e por lameiros que ocupam as zonas ribeirinhas. Este local é propício à observação de avifauna. Ainda que muitas outras espécies aqui ocorram, podem ver-se álveola-branca, a andorinha-das-rochas e, ocasionalmente, a garça-real e o maçarico-das-rochas.41 Bem dizia Miguel Torga que o extremo nordeste do país é como um daqueles ninhos no cimo das árvores em que “a distância os torna mais impossíveis e apetecidos.”42 A Barragem, esta construída em finais da década de 80 do século transacto, cumpre o duplo objectivo de abastecimento de água a Bragança e arredores, e de produção de energia. A sua albufeira, com uma superfície de aproximadamente 31 ha,

40 41 42

(ALMEIDA, BELO, & SOARES, 2008) (Aves de Portugal) (Casas de Casares)

065


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3.0 Parte I Enquadramento Trás-os-Montes e Alto Douro (província)

3.2 Arque Natural de Montesinho

atinge 1500 metros de extensão. Constitui um ecossistema artificial, onde é permitida a pesca sobretudo à truta.43 O silêncio é quase absoluto. Só o vento assobia. O resto é horizonte.

43

(Azimute)


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3.0 Parte I Enquadramento Trás-os-Montes e Alto Douro (província)

No tempo…

Quadro 2



4.0 Parte II Natureza e Energia na Arquitectura


Figura 30 – Ilustração do Homem primitivo no seu abrigo.

figura 30


4.0 Parte II Natureza e Energia na Arquitectura

4.1 Arquitectura Sustentável (breve enquadramento no tempo)

4.1 Arquitectura Sustentável

071

(breve enquadramento no tempo)

“A arquitectura surgiu a partir das necessidades do Homem por abrigo. Logo tornou-se uma expressão fundamental da habilidade tecnológica dos objectivos sociais e espirituais. A história da arquitectura documenta a engenhosidade da humanidade, o seu senso de harmonia e os seus valores. É uma profunda reflexão das complexas motivações de indivíduos e sociedades.” In: (RICHARD & GUMUCHDIJAN, 2001)

Desde a nossa origem e com a descoberta do fogo, o Homem começou a utilizar grutas, protegendo as suas entradas com pedras amontoadas, com o objectivo de se proteger às intempéries independentemente das formas. Estes são os primeiros tipos de construção de que há indícios. A pedra, a madeira e as peles de animais, foram os primeiros materiais de construção. Mais tarde surgem os primeiros aglomerados de casas circulares feitas em lama com palha e telhados de colmo. Este aparecimento testemunha as primeiras revelações de vida em sociedade e em local fixo. Dá-se assim o inicio da civilização “e de novas formas e habitar que variam de lugar em lugar e de região em região, dando origem às distintas formas arquitectónicas que respondiam apenas às necessidades do quotidiano”44, que se crê ter começado na Mesopotâmia (VI a.C.),45 com a necessidade de desenvolver novas formas de abrigo, mais sólidos, mais resistentes e mais duradouros. A construção foi assim evoluindo através da utilização e domínio de novos materiais como a pedra, a madeira e posteriormente o ferro.46 Mais tarde, as construções passam a ser uma arte e uma forma de afirmação

44

(DIAS, 2008) Tem origem no grego “meso” (entre) e “potâmia” (rios). É uma região de interesse histórico e geográfico mundial. Trata--se de um planalto de origem vulcânica localizado no Médio Oriente, limitado entre os vales dos rios Tigre e Eufrates, ocupado pelo actual território do Iraque e terras próximas. Os rios desaguam no Golfo Pérsico e toda a região é rodeada por desertos. 46 Nasceu no Próximo Oriente nos séculos XIV-XIII a.C. Desenvolveu-se na Península Ibérica depois de 900 a.C., com a invasão dos povos celtas e as colonizações dos povos mediterrânicos (fenícios e gregos). Esta origem reflecte-se no território português, no sul com influências mediterrânicas e no norte sofre influências dos invasores celtas. 45


Figura 31

Figura 31 – Transformação de matéria-prima.


4.0 Parte II Natureza e Energia na Arquitectura

4.1 Arquitectura Sustentável (breve enquadramento no tempo)

entre os povos, sobretudo por duas razões, a religiosa e de defesa. São testemunhos, por exemplo, os dólmens, as pirâmides do Egipto ou a Muralha da China. Com a necessidade e o desenvolver de novas técnicas, as construções começaram a ser mais exigentes, o que levou o Homem a uma exploração e aplicação de algumas ciências, como a física e a matemática. À medida que as exigências ao nível da resistência das construções aumentavam, mais complexos se tornavam os processos de transformação das matérias-primas a incorporar nos materiais de construção. Os materiais deixaram de ser aplicados tal e qual como eram extraídos da natureza, o que implicou maiores consumos energéticos e maiores dificuldades na absorção destes materiais pelos ecossistemas, aquando a sua devolução, após o fim da vida útil das construções. No inicio do século XIX, a evolução dita moderna das actividades rurais, levou ao abandono de grande parte dos recursos renováveis bem como à rejeição das técnicas eficientes até aí utilizadas. “Ao trabalho de experimentação e assimilação de todo o tipo que caracterizou a vida rural antiga, sobrepôs-se uma acção pontual, quase monodireccional e mecânica, que, se reflectirmos à escala da humanidade inteira, conduz indubitavelmente a um beco sem saída. (…) O desenvolvimento dos recursos é prejudicado pelo facto de ser dirigido por não rurais ou desruralizados, dirigido cada vez mais para o proveito prioritário das actividades industriais citadinas, numa espécie de mineralização do mundo. (…) O primeiro exemplo disto foi, no domínio energético, a substituição da madeira pela energia fóssil, isto é, o carvão. (…) A substituição dos recursos vegetais pelos recursos minerais depende de causas que remetem para o desejo de poder e segurança: a produção agrícola dispersa por numerosos produtores individuais, tem circuitos complexos, por vezes incertos (…) é mais difícil para as potências exteriores controlar a produção agrícola do que obter a concessões. A matéria parece mais fácil dominar do que os homens.” In: (EINAUDI, 1986)

073


Figura 32

Figura 32 – Betão armado é um material de construção que se tornou um dos mais importantes elementos da arquitectura do século XX. Diferencia-se do betão devido ao facto de receber uma armadura metálica responsável por resistir aos esforços de tracção, enquanto o betão resiste à compressão.


4.0 Parte II Natureza e Energia na Arquitectura

4.1 Arquitectura Sustentável (breve enquadramento no tempo)

Os resultados desta orientação não foram os melhores: houve uma dissociação geográfica entre países produtores e países utilizadores de matérias-primas, o surgimento de inúmeras tensões, o abandono de mão-de-obra qualificada e a escassa recuperação de matéria-prima. Já no fim deste mesmo século (1880), aparece o betão e as suas primeiras aplicações. Surge então um novo material de construção que ostentava ser a solução para as crescentes exigências funcionais dos materiais, da economia, da resistência e da durabilidade. “A arquitectura evolui em função do progresso técnico e social. Primeiro, pesada, com pequenas aberturas, feitas de pedra ou argila (…) Mas foi com o aparecimento do betão que a arquitectura se transformou de forma radical.)

47

Com o

passar dos anos, o Homem explana, interpreta e optimiza as características do betão, tendo corrigido alguns aspectos no que respeita ao comportamento mecânico à tracção, através da introdução de aço em varão. Aparece assim o betão armado, o material mais utilizado, hoje em dia, e que se pensava ser a solução milagrosa para todas as dificuldades e problemas da construção. Ao longo dos anos, as carências deste material foram aparecendo e aquele material que de início se julgava económico e eterno revelou as suas fragilidades: a sua durabilidade revelou-se limitada e muito dependente de dispendiosas intervenções de manutenção e regeneração; os consumos energéticos dispendidos durante o fabrico dos materiais que o compõem e durante as operações de demolição e de reciclagem, bem como a quantidade elevada de recursos naturais exigidos por esta tecnologia, revelaram-se incompatíveis com a escassa disponibilidade de recursos existentes na natureza. Surge então, já no século XX na década de 50’, uma corrente em defesa da natureza. Em constante crescimento e com o seu auge na década seguinte, a corrente de contracultura defendia uma transformação ao nível da consciência, do comportamento e das normas pré-definidas, pondo em questão os valores fundamentais estabelecidos pela cultura ocidental da

47

(NIEMEYER, 1997)

075


Figura 33

Figura 33 - A comunidade hippie era parte do que se convencionou chamar movimento de contracultura dos anos 60. Adoptavam um modo de vida comunitário ou estilo de vida nómada. Viam as corporações industriais e os valores sociais tradicionais como parte de um estabelecimento único, e que não tinha legitimidade.


4.0 Parte II Natureza e Energia na Arquitectura

4.1 Arquitectura Sustentável (breve enquadramento no tempo)

época, como o trabalho, o patriotismo, o status social e a estética modelo. É com estes princípios que se desenvolvem os primeiros ideais ecológicos.48 Deste modo, podemos avançar que o primeiro conceito relacionado com a ecologia, nasceu no seio do movimento da contracultura, como “… um instrumento de actividade política na área ambiental, que defendia uma vida alternativa à sociedade industrial tecnocrática, perspectivando um melhor relacionamento com a natureza.”49 A comunidade hippie surge neste contexto. Seguindo os seus valores culturais, esta colectividade exteriorizava uma consciência ambientalmente sustentável, também nas suas construções, utilizando componentes alternativos, sempre que possível. A reutilização era um processo constante, não só para reduzir o lixo presente na sociedade, mas igualmente para prolongar a sua vida útil e aproveitar as suas potencialidades, ao nível de custos. A crise do petróleo da década de 70’ ajudou a dar razão a estes novos conceitos emergentes, alargando esta problemática também para a esfera económica e política, iniciando-se também a discussão em torno da poupança de energia. “O público, os média e políticos estão agora cientes dos estragos que o ambiente tem vindo a sofrer como resultado da constante exploração de recursos. Como consequência desta crescente preocupação, as pessoas estão menos tolerantes com aqueles que continuam as suas actividades sem tentarem reduzir o seu impacto no ambiente. De várias formas, há uma crescente competitividade entre diversas organizações para se parecer mais preocupado com o meio ambiente do que os seus rivais.” In: (ADDIS, 2006)

48

O termo ecologia tem origem no grego “oikos”, que significa “casa” o “logos”, “estudo”. Por extensão seria o estudo da casa, ou de forma mais geral, do lugar onde se vive. Foi criado pelo cientista alemão Ernest Haeckel (1834-1919), em 1869, para designar a disciplina científica que aborda as relações entre os seres vivos e o ambiente em que vivem. 49 (CARRANZA)

077


Figura 34

Figura 34 – Poluição. O seu significado é a “acto ou efeito de poluir; contaminação do meio ambiente.”


4.0 Parte II Natureza e Energia na Arquitectura

4.1 Arquitectura Sustentável (breve enquadramento no tempo)

Ao mesmo tempo, começa a despertar a consciência social acerca da fragilidade do Planeta Terra50 e a palavra ecologia passa a ser um termo bastante utilizado, em parte também causado pela desilusão de não se acreditar já na humanidade em si, tal era o rumo capitalista e economicista que ela levava. Esta discussão ambientalista atingiu também a indústria da construção, primeiro ao nível da energia dispendida na fase de utilização dos edifícios e mais tarde ao nível da energia necessária à produção dos elementos construtivos. Nas últimas décadas, os altos índices de emissões poluentes, a escassez de certos recursos naturais e os desequilíbrios daí resultantes mantiveram a discussão na ordem do dia. “Para os arquitectos, o desafio é desenvolver edifícios que incorporem tecnologias sustentáveis, e dessa forma reduzam a sua poluição e custos de funcionamento. Três quartos do uso diário de energia nos edifícios são atribuídos à iluminação artificial, aquecimento e resfriamento, em proporções bastante semelhantes. Mas essas três funções estão agora a ser revolucionadas pelas novas práticas e tecnologias. Essa inovação já está a caminho e pode reduzir radicalmente os custos de funcionamento a longo prazo e a poluição gerada pelos edifícios.” In: (RICHARD & GUMUCHDIJAN, 2001)

Com a investigação científica, assistiu-se ao aparecimento de novas tecnologias construtivas mais compatíveis com o equilíbrio ambiental e ao ressurgimento de certas “técnicas que são apenas novas interpretações de mecanismos usados há milhares de anos”.51 Em 1987, apresentou-se uma das definições mais utilizadas do conceito de sustentabilidade, que faz parte do relatório “O Nosso Futuro Comum – Relatório Brundtland”,

publicado

pela

Comissão

Mundial

sobre

o

Meio

Ambiente

Desenvolvimento das Nações Unidas, e que o define como aquele “que satisfaz as 50 51

Película Cinematográfica no Anexo V (An Incovenient Truth) (RICHARD & GUMUCHDIJAN, 2001)Rogers, 2001, p.96

e

079


Figura 35 – Centro Pompidou. Figura 36 – Earthship.

figura 35

figura 36


4.0 Parte II Natureza e Energia na Arquitectura

4.1 Arquitectura Sustentável (breve enquadramento no tempo)

necessidades do presente, sem comprometer a capacidade das futuras gerações de satisfazer as suas próprias necessidades.”52 Um termo tão curto com um significado enorme e que é nos dias de hoje o ponto-chave para o conceito de desenvolvimento. “O desenvolvimento sustentável requer que se pense de forma holística, que se pense em sistemas interconectados complexos, que se pense nos outros – e abandonar a natureza

auto-centrada,

contemporânea.”

53

egoísta,

consumista

e

hedonista

da

nossa

cultura

A definição inicial ramificou-se em subdefinições. Estas atendem a

necessidades particulares e específicas de cada área. Aqui referimos Norman Foster + Partners e a Associação para a Informação e Pesquisa sobre as Instalações dos Edifícios (Building Services Research and Information Association – BSRIA). A primeira referência define a arquitectura sustentável como “a criação de edificações eficientes do ponto de vista energético, saudáveis, confortáveis, de uso flexível e projectados para terem uma longa vida útil.”54 (Centro Pompidou de Renzo Piano em Paris) A segunda definiu a construção sustentável como “a criação e gestão de edifícios saudáveis, baseados em princípios ecológicos e com uso eficiente dos recursos.”55 (Earthships de Michael Reynolds) “Estas definições demonstram a importância da criação de uma terminologia de referência para âmbitos específicos, como os tipos de edificação, as instalações de serviços ou os graus de desenvolvimento. A filosofia que premeia a definição da Comissão Brundtland beneficia-se de certa falta de precisão. Há uma compreensão geral e um conjunto de princípios que permitem a criação de subdefinições muito úteis, enquadradas nesse campo de grande abrangência.”56 Nos últimos anos, este conceito tem sido alvo de muito interesse, particularmente após a Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro, no ano de 1992. Este congresso,

52 53 54 55 56

(EDWARDS, 2005) pág. 20 (TAIPALE, 2010) Ibidem pág. 20 (EDWARDS, 2005)pág. 21 Ibidem pág.21

081


Diagrama 7

Diagrama 7 – Desenvolvimento sustentável combina três âmbitos distintos. Ambiental, Social e Económico.


4.0 Parte II Natureza e Energia na Arquitectura

4.1 Arquitectura Sustentável (breve enquadramento no tempo)

conhecido como Cimeira da Terra (também conhecida por ECO.92), originou o Agenda 21.57 É um programa de acção, baseado num documento de 40 capítulos, que constitui a mais ousada e abrangente tentativa já realizada de promover, em escala planetária, um novo padrão de desenvolvimento, conciliando métodos de protecção ambiental, justiça social e eficiência económica. Trata-se de um documento consensual para o qual contribuíram governos e instituições da sociedade civil de 179 países num processo que durou 2 anos. Além deste programa, resultaram desse processo mais cinco acordos: A Declaração do Rio, a Declaração de Príncipios sobre o Uso das Florestas, o Acordo sobre a Diversidade Biológica e a Convenção sobre Mudanças Climáticas.58 Esta definição tem vindo a evoluir ao longo de diversos e importantes congressos mundiais e envolve não somente a área da construção civil, mas todos os recursos necessários para o desenvolvimento das actividades humanas. É visto como um conceito amplo e complexo, no qual a arquitectura tem um papel considerável. “O conceito de sustentabilidade é mais interessante do ponto de vista intelectual, envolve maiores desafios para os profissionais e, em relação ao projecto arquitectónico, é mais exigente que qualquer outro conceito.”59 “A construção sustentável não é um modelo para resolver problemas pontuais, mas uma forma de pensar o processo de construção e tudo que o envolve. Quanto mais sustentável uma construção, mais responsável será pelo que consome, gera, processa e descarta, sendo a capacidade de prever os impactos ambientais uma das principais características. A construção sustentável é uma síntese de abordagens que associam o edificar e o habitar à preservação do meio ambiente. Para ela, convergem tendências como: arquitectura ecológica, arquitectura orgânica, arquitectura bioclimática, bioconstrução, ecobioconstrução, arquitectura sustentável, construção ecológica…” in: (ARAÚJO)

57 58 59

Anexo II (Ecol News) 18h39m (EDWARDS, 2005) pág.10

083


a)

b)

c) Diagrama 8

Diagrama 8 – Solstício - momento em que o Sol alcança, no movimento anual aparente, qualquer dos dois pontos da eclíptica mais afastados do equador celeste (ponto solsticial de Junho e ponto solsticial de Dezembro), e onde parece estacionar alguns dias ( a) Solstício Verão, c) Solstício Inverno). Equinócio - momento em que o Sol, no movimento anual aparente, corta o equador celeste, fazendo com que o dia e a noite tenham igual duração ( b) Equinócios).


4.0 Parte II Natureza e Energia na Arquitectura

4.1 Arquitectura Sustentável (breve enquadramento no tempo)

São vários os factores específicos de cada tendência, referidos na citação anterior. A implantação da obra e a sua disposição solar, a adopção de vegetação como elemento de controlo térmico e renovação do ar, a implementação de tecnologias que permitam a produção de energia e o tratamento das excedentes, são disso exemplo. A isto, acrescentam-se os materiais que são utilizados, aspecto que será um dos mais importantes no que diz respeito à sustentabilidade de uma construção. A selecção dos materiais deve estar de acordo com a geografia envolvente, ecossistema e condições climatéricas do local, entre outros factores, numa prática próxima ao da arquitectura vernacular, que é sustentada pelos valores locais. A sua escolha também deve seguir normas particulares, desde o seu primórdio, ainda em estado de matéria-prima, até ao produto final, de modo a serem reconhecidos e sustentáveis. Luís Malheiro sustenta que “os materiais são mais ecológicos quanto menor energia tiver sido gasta no seu fabrico. Existem bases de dados com a caracterização e classificação dos materiais mais relevantes usados na construção onde, por exemplo, é possível quantificar a quantidade de energia envolvida por unidade de massa e o seu potencial de reciclagem, entre outros. Uma questão diz respeito aos materiais e outra, completamente diferente, diz respeito à sua adequada aplicação e utilização. O ideal consiste em encontrar o ponto de equilíbrio, que nem sempre é fácil, entre a utilização de materiais ambientalmente amigáveis e o melhor desenho dos sistemas, sendo aqui que entram a arquitectura e as diferentes especialidades de engenharia em intensa cooperação. Por exmplo, a aplicação de materiais e concepções, ou seja, desenho, que proporcionem aos edifícios uma maior protecção

do

exterior

em

termos

térmicos

e

acústicos

que

contribuem

significativamente para a melhoria do conforto e da qualidade de vida dos seus utilizadores, reduzindo simultaneamente o consumo de energia.”60 “O futuro está aqui, mas o seu impacto na arquitectura está apenas a começar. O facto de desenvolver os

60

(LEITE & LOPES, 2005)

085


Figura 37

Figura 37 – A actividade humana é a principal responsável pelo aquecimento do planeta.


4.0 Parte II Natureza e Energia na Arquitectura

4.1 Arquitectura Sustentável (breve enquadramento no tempo)

projectos de acordo com o ciclo da natureza poderá trazer a arquitectura de volta às suas próprias raízes”61

4.2 Energias Renováveis na Arquitectura “É um facto aceite hoje em dia, que a actividade humana está a provocar um aquecimento do planeta e que os edifícios são responsáveis por aproximadamente metade das emissões de gases que geram este aquecimento global. O aquecimento, a iluminação e a refrigeração dos edifícios mediante o uso de combustíveis fosseis (como o gás, o carvão ou o petróleo) ou da electricidade, é, directa ou indirectamente, a fonte mais importante de emissão de CO2 (dióxido de carbono), o principal gás com efeito de estufa.” In: (EDWARDS, 2005)

O sector da construção, apontam vários estudos, é responsável por cerca de 20% a 30% do total das emissões de dióxido de carbono mundiais, o principal causador do efeito de estufa, que, por sua vez, é o motivo mais apontado para as alterações climatéricas que o planeta atravessa. Também “consome 50% dos recursos mundiais, convertendo-se numa das actividades menos sustentáveis do planeta. No entanto, o nosso dia-a-dia é vivido e rodeado de ambientes edificados: vivemos em casas, viajamos sobre estradas, trabalhamos em escritórios e sociabilizamos em restaurantes e bares. A civilização contemporânea depende de edificações para seu

61

(RICHARD & GUMUCHDIJAN, 2001) pág.101

087


Diagrama 9

Diagrama 9 – Transformação de energia.


4.0 Parte II Natureza e Energia na Arquitectura

4.2 Energias Renováveis na Arquitectura

resguardo e para a sua existência, mas o nosso planeta não é capaz de continuar a fornecer a actual procura de recursos.”62 Ou seja, em traços gerais, um quarto dos danos que estamos a causar à Terra advém da construção. Não a construção em si, mas o modo como ela é levada a cabo e os materiais nela utilizados. Outro aspecto de salientar e muito significativo na edificação é a eficiência energética. Desde logo por razões monetárias, com o preço do petróleo a bater novos recordes todos os dias; igualmente por razões ambientais exige encontrar e encorajar novas formas de energia, renováveis, mais baratas e ecológicas. Nos dias de hoje, praticamente todas as habitações, podem ser energético-dependentes, não implica esta aposta, na maior parte dos casos, um investimento inicial muito avultado em termos de equipamento. Porém é um investimento com retorno, a curto ou a longo prazo, em euros e em ar puro.63 “Os edifícios não necessitam de ser apenas consumidores de energia. Podem também ser produtores da mesma.”64 “Da mesma forma que esperamos que um automóvel ou um objecto técnico nos dê um determinado nível de resposta, deveríamos também esperar o mesmo dos edifícios.”65 “A energia vai passar por uma mudança do género da internet: de um sistema centralizado de grandes produtores para um sistema descentralizado de milhões de pequenos produtores/consumidores.”66 A energia está na ordem do dia. Tanto por razões ambientais, que até já merecem reconhecimento por parte do júri do Prémio Nobel, como por razões económicas, como bem podem atestar aqueles que, no final do mês, se vêem confrontados com uma factura da electricidade que não pára de aumentar. Importa por isso, procurar formas alternativas de energia mais ecológicas e económicas, para o bem das nossas carteiras e do Planeta que queremos deixar de herança aos nossos

62 63 64 65 66

(EDWARDS, 2005) pág.3 Dados em: (JN Temático, 2007) pág.3. (TIRONE, 2003) pág. 52. (YANNAS, 2005) (PIMENTA, 2009)

089


Diagrama 10 – Ciclo de vida dos materiais.

Diagrama 10


4.0 Parte II Natureza e Energia na Arquitectura

4.2 Energias Renováveis na Arquitectura

descendentes.67 Prevê-se não só a necessidade de utilizar os recursos energéticos renováveis, como também controlar bem a necessidade, o modo e a manutenção do uso de energia, tendo em conta que esta será sempre necessária ao funcionamento do edifício. É aqui que entra o papel e o contributo do arquitecto, pela oportunidade de desenhar e construir edifícios mais eficientes no uso e conservação de energia que usa. “É responsabilidade dos arquitectos proporcionar alternativas para o futuro que permitam à humanidade viver em harmonia com o seu anfitrião, o meio ambiente.”68 Verificamos anteriormente, que a indústria da construção é uma das grandes responsáveis pela destruição dos recursos do planeta, sendo que a arquitectura é, directa ou indirectamente, um dos pilares desse fenómeno. Se é verdade que a prática da arquitectura pode contribuir negativamente para o desenvolver deste problema, também é verdade que pode significar uma das primeiras armas de combate à actual situação insustentável com que nos deparamos. Segundo Brian Edwards, é certo que “a arquitectura, por si só, não pode resolver os problemas do meio ambiente do mundo, mas pode contribuir significativamente para a criação de habitats humanos mais sustentáveis.” 69A arquitectura surge, então, como ponto-chave que pode resolver alguns problemas associados a questões sociais, económicas e ecológicas, onde o arquitecto tem um papel fundamental neste processo de responsabilização e sensibilização da sociedade. O arquitecto deve equacionar todo o processo que se inicia no projecto, acautelando tudo o que envolve a construção, uso, manutenção, desconstrução, regeneração e reabilitação de um edifício, gerindo assim um ciclo de vida. “Quanto mais sustentável for uma obra, mais responsável ela será por tudo o que consome, gera, processa e elimina.”70 Este ciclo de vida traduz-se num sistema e num metabolismo circular assente na ideia de que tudo o que se produz vai gerar posteriormente resíduos e matéria e, é sempre com este pensamento de que uma 67 68 69 70

(JN Temático, 2007) (EDWARDS, 2005) (EDWARDS, 2005) (ARAÚJO)

091


Figura 38

Figura 38 – Cabe ao arquitecto contribuir para a harmonia entre a construção e o ambiente.


4.0 Parte II Natureza e Energia na Arquitectura

4.2 Energias Renováveis na Arquitectura

causa tem sempre uma consciência que o arquitecto deve repensar os processos de criação de cada objecto. “Identifica o fluxo de materiais, energia e resíduos gerados pelas edificações ao longo de toda a sua vida útil, de forma que os impactos ambientais possam ser determinados antecipadamente. Os fluxos analisados englobam a extracção de materiais e sua utilização, a reutilização, a reciclagem ou a eliminação. No final da sua vida útil, uma edificação pode ter três destinos: a reutilização das suas partes em novas construções; a reciclagem dos seus materiais, como compostos para o betão; a demolição da edificação e deposição dos entulhos num aterro sanitário.”71 É responsabilidade do arquitecto conservar e respeitar os valores da sociedade tal como o património natural e cultural das diferentes comunidades. Acreditamos que é necessário ter uma presença constante na sociedade, adquirir a experiência de viver, sentir e se aperceber dos valores e características que remontam do passado, que se manifestam no presente e ter consciência dos efeitos positivos ou negativos que a nossa actividade e trabalho poderá vir a ter no futuro destas mesmas sociedades. Actualmente consideramos que o ensino da arquitectura em muitos países, sobretudo em Portugal, não está devidamente contextualizado e identificamos algumas carências programáticas, assentes muitas vezes na obsessão na procura da forma estética, menosprezando e deixando de lado temas fulcrais como a ciência, a química e a ecoeficiência. Se considerarmos o ensino como uma fonte de transmissão de conhecimentos, como a base de aprendizagem do arquitecto, não nos parece coerente que a formação esteja descontextualizados.

71

(EDWARDS, 2005) pág.116 e 117.

relacionada com

moldes desactualizados, frágeis e

093


Figura 39

Figura 39 – A energia renovável é aquela que vem de recursos naturais como o sol, o vento, a água, o calor e as marés.


4.0 Parte II Natureza e Energia na Arquitectura

4.2 Energias Renováveis na Arquitectura

“Os edifícios deveriam inspirar e compor cidades que celebrassem a sociedade e respeitassem a natureza. A nossa sociedade actual de edifícios sustentáveis oferece oportunidade para repensar a ambição e para desenvolver novas ordens estéticas. E poderia ainda proporcionar ímpeto para um novo despertar da profissão do arquitecto.” In: (RICHARD & GUMUCHDIJAN, 2001)

As energias renováveis solucionarão muitos problemas ambientais, atrás descritos, como por exemplo as mudanças climatéricas, os resíduos radioactivos, as chuvas ácidas e a contaminação atmosférica e contribuem em termos decisivos para contrariar um dos males do século, a destruição generalizada das manchas florestais. “O essencial é, sem dúvida, a utilização de energias renováveis e a utilização de diferentes métodos de poupança energética.”72 Entende-se que “Energia renovável” é aquela originária de fontes naturais que possuem capacidade de regeneração ou renovação, ou seja, não se esgotam. Como exemplos de energia renovável, podemos indicar a energia solar, a energia eólica, a energia hidráulica, biomassa, geotérmica e mareomotriz. Estas, ao contrário das energias não renováveis, causam menor ou nenhum impacto no meio ambiente. Portanto, são excelentes alternativas ao sistema energético tradicional, principalmente numa situação de luta contra a poluição atmosférica e o aquecimento global e promovem o desenvolvimento de zonas desfavorecidas, através de investimento e do número de empregos criados. “isolados ou em combinação, os sistemas energéticos que tiram partido das fontes renováveis podem cobrir a totalidade das necessidades do utilizador.”

73

Das alternativas possíveis,

as que vamos estudar têm como elemento central natural o sol e a água.

72 73

(DISCH, 2008) (MOREIRA, 2009)

095


Diagrama 11

Diagrama 11 – A fotossíntese inicia a maior parte das cadeias alimentares no Planeta Terra. Sem ela, os animais e muitos outros seres, seriam incapazes de sobreviver, porque a base da sua alimentação estará sempre nas substâncias orgânicas proporcionadas pelas plantas verdes.


4.0 Parte II Natureza e Energia na Arquitectura

4.2 Energias Renováveis na Arquitectura

4.2.1 Sol e Arquitectura “O estudante irrequieto, cansado das aulas numa tarde de Verão, segura a lupa que usa para a sua colecção de selos e aponta-a em direcção ao pescoço do seu colega mais estudioso, sentado na carteira à sua frente, mantendo a pequena mancha de luz o mais reduzida possível. Em breve é recompensado ao ouvir um grito, assim que o calor dos raios solares concentrados aumenta suficientemente para causar uma dor aguda no pescoço do rapaz por eles atingido. Embora possa ignorá-lo, o estudante brincalhão segura na mão a solução para a crise energética do mundo de amanhã. Com efeito, o Sol poderá fornecer quantidades ilimitadas de energia – e sem quaisquer problemas de poluição.”74 Sem dúvida, qualquer fenómeno vital é o resultado da circulação da energia solar sobre o nosso planeta. Por isso a Humanidade utiliza o Sol como fonte de calor e energia praticamente desde sempre. Existem sistemas avançados de captação de energia solar, eficazes, livres de emissões e contaminantes, que permitem poupar no consumo de energia e contribuir para a manutenção do meio ambiente. Instalam-se facilmente em terraços e coberturas de habitações uni e multifamiliares, e também em recintos de utilização pública como escolas ou parques de campismo. Depois de brilhar e emitir calor durante cinco mil milhões de anos, acredita-se que o nosso Sol não chegou ainda nem a metade do seu ciclo vital. Depende de nós retirar o máximo partido como fonte de vida e energia.

75

O Sol é uma fonte de energia absolutamente limpa, não produz, por exemplo, fumo ou cinza. É a principal fonte de energia renovável. “Embora todas as fontes de energia possam ser originalmente atribuídas ao Sol, a energia solar significa geralmente a transformação da luz solar em electricidade, ou a utilização do sol para

74 75

(Digest, 1977) pág. 555 (ROCA, 2007) PÁG.31

097


Diagrama 12

Diagrama 13

Diagrama 12 – Solução passiva. a) Ganho directo. b) Ganho indirecto: parede de trombe ventilada. Diagrama 13 – Solução activa. Diagrama de transferência de energia para água quente sanitária.


4.0 Parte II Natureza e Energia na Arquitectura

4.2 Energias Renováveis na Arquitectura

aquecer água cujo vapor alimenta um gerador.”76 Energia Solar é a designação dada a qualquer tipo de captação de energia luminosa proveniente do Sol, e posterior transformação dessa energia captada e utilizável pelo homem, seja directamente para o aquecimento de água ou ainda como energia eléctrica ou mecânica. Pode ser utilizada e introduzida na concepção do edifício através de soluções passivas e activas. As soluções passivas são geralmente directas, apesar de envolverem, por vezes fluxos de conversão, entendido tecnicamente como conversão de calor em energia mecânica.77 O aquecimento é obtido à custa da radiação solar, permitindo a incidência dos raios solares sobre uma massa (o corpo acumulador, geralmente paredes ou chão no interior do edifício). Um maior ou menor aquecimento é conseguido à custa duma variação do sombreamento. A acumulação do calor obtida pela absorção da radiação solar permite armazenar o calor e utilizá-lo posteriormente, quando necessário. O aproveitamento da radiação solar pode ser obtido por ganhos directos ou por ganhos indirectos. No primeiro caso, o sol incide directamente no espaço a aquecer. É o método mais simples, existente em alguns edifícios comuns, como por exemplo escolas, edifícios de escritórios e edifícios comerciais. No segundo caso, o sol não incide directamente no espaço a aquecer, mas sim numa massa acumuladora, geralmente uma parede Trombe

78

ou tubos de água. Há cuidados a ter perante estas

soluções, a orientação (sempre que possível para o equador), o dimensionamento de vãos e o isolamento.

76

(COOPER, 1983) (COPETTO, 2006) pág. 91 78 Funcionam como radiadores gratuitos no Inverno. Têm a capacidade de acumular o calor durante o dia e transmitir de noite o calor acumulado para o interior dos espaços. 77

099


Esta pรกgina permanece em branco propositadamente.


4.0 Parte II Natureza e Energia na Arquitectura

4.2 Energias Renováveis na Arquitectura

As soluções activas são aquelas que recorrem à ajuda de dispositivos eléctricos, mecânicos ou químicos, para aumentar a eficácia da troca energética.79 Usam-se sobretudo painéis solares que fornecem calor para o aquecimento de água (existindo geralmente um sistema de apoio). A integração destes painéis nas coberturas e/ou fachadas, mostrou ser uma solução económica e eficiente. A aplicação na cobertura é a escolha com mais destaque na maior parte das soluções. Na maior parte das vezes por não fazer parte da concepção e imagem pretendida. As formas e volumetrias são a principal condicionante deste efeito. “Com a sua estética contemporânea, adaptam-se perfeitamente à linguagem hi-tech. (…) Além disso, o vidro dos painéis pode ter diversas tonalidades e a sua cor e textura podem ser modificadas para se adaptar à edificação. As soluções costumam ser atraentes e baseadas na integração entre as exigências da tecnologia fotovoltaica e a forma básica da edificação.”80 Com a tecnologia a caminhar de uma forma ascendente, a Dow Chemical desenvolveu umas telhas que recolhem duas vezes mais energia que os painéis solares tradicionais. Podem ser colocadas junto das normais, com a particularidade de usarem uma película feita de uma liga que possibilita o tal efeito energético. Existem diferentes tipos de soluções activas para o aproveitamento da energia solar térmica. As mais comuns são o colector solar para aquecimento indirecto de águas sanitárias e o colector solar agrupado a um sistema frigorífico de absorção para arrefecimento ambiente. Neste caso a água aquecida no colector serve como fonte de calor ao gerador do sistema de absorção.81 “Antevê-se, portanto, um futuro auspicioso para o uso destas tecnologias para utilização doméstica.”82

79 80 81 82

(COPETTO, 2006) pág. 91 (EDWARDS, 2005) pág, 77 e 78 (SILVA, SANTOS, & ALVES, 2003) pág. 74 (Digest, 1977) pág. 559

101


Mapa 7

Mapa 7 – Índice de pobreza da água. (2002)


4.0 Parte II Natureza e Energia na Arquitectura

4.2 Energias Renováveis na Arquitectura

4.2.2 Água e Arquitectura Embora a Terra possa ser considerada, a justo título, um planeta aquoso, devido ao facto de grande parte da sua superfície estar coberta por oceanos, a água é um recurso que está longe de ser abundante. Assim acontece porque cerca de 97% da água mundial é salgada, que não serve quer para beber, quer para a irrigação, e nem sequer para muitos processos industriais. A água doce representa apenas 3% da quantidade total. Deste, menos 0,5% estão disponíveis a partir dos rios e lagos que apesar de tudo, fornecem 80% da água usada na indústria e na agricultura em todo o Mundo. Pode parecer que as reservas de água aumentam por meios naturais como a chuva ou por meios artificiais como a abertura de poços, mas a quantidade total disponível no planeta mantêm-se constante, É continuamente reciclada por meio do ciclo da água.

83

A par do Sol, a Água também é um recurso fundamental para a espécie humana. Nos últimos anos a atenção dada a questões relacionadas com a questão energética deixou para segundo plano questões relacionadas com a água. “Potencialmente, a água é tão importante quanto a energia e a sua escassez mundial é um problema mais grave que o fornecimento de energia. Ao contrário da energia, a água actua directamente sobre a saúde e a produção de alimentos.”84 No mundo actual, uma em cada seis pessoas não tem acesso a água potável, quase metade da população mundial carece de instalações sanitárias dignas nos seus habitats e, a cada quinze segundos morre uma criança devido a alguma doença relacionada com a água. De alguma forma, cabe-nos a nós, arquitectos, considerar a água tão importante quanto a energia. A mudança dos padrões de ocorrência de chuvas é uma parte deste problema. Actualmente, consumimos mais água por habitat que em qualquer outra época e temos mais edificações que consomem água, como escritórios, escolas e as 83 84

Dados em (MORGAN, 1997) (EDWARDS, 2005) pág.97

103


Diagrama 14

Diagrama 14 – Distribuição do consumo de água numa habitação.


4.0 Parte II Natureza e Energia na Arquitectura

4.2 Energias Renováveis na Arquitectura

grande superfícies. O consumo de água por pessoa vem aumentando e, portanto, também os edifícios. “3.100.000.000.000 de litros de água são desperdiçados anualmente em Portugal.”85 Assim como ocorre com a energia eléctrica, as edificações também são responsáveis pela metade do consumo de água e os arquitectos devem enfrentar este problema também como uma questão ambiental. A nível económico apresenta também o mesmo grau de dificuldade que a de energia eléctrica. Há outra vantagem em utilizar a água como premissa para uma nova proposta. A reciclagem de água é uma forma de preservação dos recursos naturais de maior visibilidade que a conservação de energia, pois podemos segui-la, senti-la, vê-la e reutilizá-la de uma forma mais directa. A conservação de água demonstra a prática da sustentabilidade de uma forma muito tangível, dando visibilidade à sustentabilidade, o que não ocorre com os aspectos que envolvem a conservação energética. “As edificações que não respondam a este desafio deixarão de atender a questões essenciais da arquitectura so século XXI.”

85 86

Dados da (QUERCUS, 2003) (EDWARDS, 2005) pág. 108

86

105



5.0 Parte III Caso de Estudo


20 Mapa 8

10

50 (metros)

Mapa 8 – Planta conceptual. O trajecto a vermelho assinala a linha que estrutura e orienta a localização dos módulos propostos.


5.0 Parte III Caso de Estudo

Para conciliar as partes e assuntos até aqui descritos, desenvolveu-se um caso de estudo com o objectivo de planear um edifício auto-suficiente, que responda às necessidades de abrigo, reduzindo gastos ambientais e económicos. “Cabanas, domus, castelos, villas, palazzos, são denominações históricas do espaço unifamiliar. São representativas da arquitectura mais elementar, mais próxima e utilizável pelo ser humano, considerada a sua terceira pele, logo após a epiderme e a roupa que o protege do meio ambiente onde vive.”

87

A) Plano Conceptual (da proposta) A proposta assenta numa linha estruturante que percorre e se desenvolve dos pontos mais altos para os mais baixos, seguindo os pontos extremos de cada cota, sendo delineada por um distanciamento relativo ao Campus de Investigação e Experimentação,88 proporcionando assim uma transição de espaços, do mesmo para o território vazio. Deste modo, cria-se uma linha “imaginária” de referência que se prolonga pelo parque natural, criada consoante as necessidades e o desenvolvimento para o tipo de equipamentos.

B) Plano Descritivo e Justificativo (da proposta) “Actualmente, mais do que estilo arquitectónico, a necessidade de uma habitação sustentável leva-nos a repensar a habitação num modo GLObal, pelo que as 87

(Vitruvius) Marcus Vitruvius Pollo, mais conhecido como Vitrúvio foi um arquitecto e engenheiro romano que viveu no século I a.C.. Foi autor de um tratado teórico e técnico detalhado, constituída por 10 livros, que sobrevive como a mais antiga e a mais influente de todas as obras sobre arquitectura. Intitulou-os como De Architectura (aprox. 27 a 16 a.C.) e durante séculos, as instruções detalhadas que continham foram seguidas em toda a extensão de tempo coberta pelo Império romano. 88 Anexo III

109


figura 40

Figura 40 (conjunto) – Imagens dos conteúdos do nosso conceito.


5.0 Parte III Caso de Estudo

características especiais do território e a cultura loCAL conduzem-nos à compreensão de necessidades específicas. Assim, arquitectura GLOCAL é o futuro.” 89 O sítio Barragem da Serra Serrada, situado no Parque Natural de Montesinho, em Bragança, pretende incontestavelmente encaixar-se neste conceito de arquitectura GLOCAL, sendo fruto de um inerente condicionamento secular da paisagem, muito característico, dado pelas óbvias condições naturais de território e de clima, mas também pelo singular estilo de vida habitacional, ainda de carácter algo isolado, compreensível pela ocupação maioritária da população entre apenas o rio Douro e as altas serras. A favor deste mesmo tipo de quotidiano, o presente caso de estudo foi pensado no ser capaz de se ancorar funcionalmente e morfologicamente na realidade deste território a nordeste do país, com o permanente objectivo de, ao constituir uma forma optimizada de nova habitação rural, reduzirem os gastos ambientais e económicos. A nossa proposta (segue em formato A3 na página seguinte) consiste então numa caixa ultra-leve orientada a Sul, um módulo habitacional combinável, de pequena escala, livre de assumir variadas formas e dimensões consoante as exigências do utilizador. “Espaço habitável personalizado: puro conforto.”90 Pela sua versatilidade, considera-se de carácter temporário, mas sempre respondendo às necessidades básicas de uma pequena família ou então de um grupo de visitantes, caminhantes, pastores ou utilizadores do campus, pelo que, dessa maneira, a habitação pretende evidenciar não mais do que o óbvio: um interior inteiramente configurável para um quotidiano

e

uma

vida

em

constante

mutação.

Assim,

estruturalmente

e

funcionalmente, a proposta pode dispor-se em três simples camadas. A camada superior constituída por uma cobertura que recolhe água da chuva e por painéis que recebem a energia solar para aquecimento e electricidade. 89 90

(Vitruvius) (nbAA premiado na China, 2007)

111





5.0 Parte III Caso de Estudo

Seguidamente, um sistema modular criado pelo espaço central básico que é o habitáculo fixo (entrada + cozinha + instalação sanitária + árvore) e os respectivos volumes suplementares (volume B associado à sala e o volume C, ao quarto) que encaixarão, com montagem rápida, de acordo com a escolha e a quantidade de volumes pretendida pelo utilizador (remeter para formato A3 da página anterior). Notese que o utilizador será, dentro das possibilidades de jogo com os diferentes volumes, o principal responsável pela organização do seu espaço, sendo-lhe por isso atribuído o papel de elemento consciente da impressão das suas escolhas e do assumir de um morar com uma narrativa pessoal, que ultrapassará o preconceito de habitação inalterável e sobretudo, semelhante para todos. E, por último, uma camada inferior que contém as instalações de filtragem de água, bombas e compostagem sanitária, também formada por uma base que levanta significativamente o corpo principal do solo e que lhe confere, para além da malha de aço que cobre o módulo, uma emergência na paisagem, uma imagem forte. No entanto, a habitação foi preferencialmente pensada no seu carácter autosuficiente, um conceito que se aplica de forma peculiar na arquitectura, que, neste caso, facilmente se evidencia pela simbologia da estrutura material intimamente ligada à ambiental: o corpo central do módulo a representar uma árvore, atributo à capacidade de renascer e fonte de criação artística para o homem, e os seus diferentes volumes suplementares associados às ventoinhas, tão aliadas à produção de energia eólica, uma energia renovável. Assim, e sempre adaptada às necessidades e às características do local, a proposta tem a capacidade de se tornar auto-suficiente em termos energéticos, já que utiliza energia criada a partir de fontes renováveis geradas no local, não consumindo mais energia do que aquela que consegue produzir. “Pretende-se então uma espécie de kit de sobrevivência. Não há, por isso, projecção e construção que prejudique o meio ambiente. Mas não necessariamente um afastamento entre a natureza e a tecnologia, muito pelo contrário,” assim nos parece.

115


Figura 41

Figura 41 (conjunto) – Perspectivas panorâmicas da proposta (integração na paisagem).


5.0 Parte III Caso de Estudo

“A tecnologia e a natureza podem perfeitamente complementarem-se e reforçarem-se uma à outra; a natureza, organizada de modo eficiente em vários níveis, providencia mais extensão à natureza já existente, assim como se pode tornar um notável símbolo da sua artificialidade.”91 Pretendemos assim obter, deste modo, não só uma concepção de um projecto arquitectónico renovador, ou seja, sensibilizado pelo aproveitamento de energia, mas também um projecto que garanta ao utilizador um nível máximo de conforto e qualidade, irresistível em termos físicos e mentais e, principalmente, um assegurar de bem-estar e segurança.

C) Plano Técnico/Operativo (da proposta) Em séculos passados a relativa falta de recursos para construir, reconstruir e manter edifícios significava que a regra sucessiva seria a conservação de energia e os aspectos locais. Hoje em dia, é impossível ignorar a crise ambiental global, a destruição da camada de ozono, o aumento do efeito de estufa, a perda da diversidade e do habitat da vida selvagem pela poluição, a desertificação e os abates florestais ou os níveis crescentes de dióxido de carbono causados pelas emissões dos sistemas de aquecimento dos edifícios e por outros contributos. As contínuas poupanças financeiras que se conseguem atingir com um desenho energeticamente eficaz e produtivo, podem ter uma importância essencial na vida diária. Os custos com o aquecimento durante o Inverno representam uma parte significativa da receita familiar e a área extra proporcionada por uma estufa de construção simples é bem-vinda por muitos lares sobrelotados, tanto por razões económicas como de espaço.

91

(El Croquis, 2002) p.43

117


Figura 42

Figura 42 (conjunto) – Perspectivas panorâmicas da proposta (constatação pontual).


5.0 Parte III Caso de Estudo

Outras razões para que os arquitectos desenvolvam e impulsionem o “desenho verde” têm a ver com a qualidade e atributo de arquitectura. Os edifícios com mais contributos naturais são os melhores. Os edifícios que têm luz natural são, em regra, mais agradáveis do que aqueles que são iluminados por meios artificiais: a ventilação natural, caso o ar puro esteja disponível a partir de um meio exterior, é mais aceitável do que aquela que é feita por meios automáticos; quanto menores forem os emissores de calor, tanto melhor. O desenho solar passivo poderá melhorar o desempenho energético do edifico em três áreas: aquecimento e arrefecimento do edifício e iluminação. A importância relativa de cada uma dessas áreas para as economias de energia varia conforme o local e a função do edifico. Sendo a diminuição do consumo de energia utilizada o factor mais importante da auto-suficiência, são também necessários planos e estratégias para reduzir o impacte ambiental noutras áreas do projecto, construção, aproveitamento e utilização do edifício. Estas últimas compreendem a produção e criação de resíduos, materiais e sistemas de construção e estruturação, bem como o consumo de recursos naturais, designadamente a água, a vegetação e o solo. Os métodos de desenho sustentável proporcionam e facilitam ao arquitecto uma possibilidade para reincorporar saberes que foram rejeitados no século passado, com consequências desastrosas. Deste ponto de vista, é incalculável a síntese que o arquitecto poderá fazer, a partir das diversas contribuições feitas por colegas, clientes e consultores. Coloca-se assim, ao exercício da arquitectura, um desafio e uma oportunidade. Propõe-se então, no presente trabalho tornar claro e simples o uso dos instrumentos e métodos disponíveis para responder às eventuais questões do “desenho verde” e da auto-suficiência na arquitectura.

119



5.0 Parte III Caso de Estudo

Esquema Energético (do Plano Técnico/Operativo)

1) Água O uso racional da água, o controle de desperdícios e a reciclagem da água são tão importantes quanto a construção de reservatórios, poços ou de outras obras hídricas, pois significam um aumento na oferta deste escasso líquido. O sistema, eficiente e simples de instalar, prevê a utilização da cobertura para captação da água da chuva, a qual, depois de passar por um filtro, permanece numa cisterna ou tanque. Estocada ao abrigo da luz e do calor, pela existência de um revestimento a polímero de borracha, a água mantém-se fresca e livre de bactérias e algas. Uma vez bombeada, a água poderá ser usada para funções diversas, tais como: descarga de vasos sanitários, rega de jardins, lavagem de pisos e carros ecológicos e todas aquelas que não incidam na utilização para consumo humano.

2) Energia Solar “Até ao aparecimento da energia eléctrica, que possibilita o uso da iluminação artificial, a vida do Homem era praticamente regida pelo sol, sendo este elemento, desde sempre dominante na concepção da arquitectura.”92 Dando atenção aos mecanismos naturais e à interacção com o clima do local onde se situa, é possível o módulo atingir um bom grau de conforto, semelhante ao que seria obtido recorrendo a meios artificiais consumidores de energia.

92

(Arquitectura Sustentável, 2003)

121



5.0 Parte III Caso de Estudo

Para além dos evidentes benefícios para o ambiente, pelo menor consumo de energia e consequente menor poluição, existem também benefícios para o utilizador, que passa a ter um nível de conforto com menores custos financeiros.

2.1) Solar Activa Existem diferentes tipos de soluções activas para o aproveitamento da energia solar. As soluções mais utilizadas são o Sistema de Solar e o Sistema Fotovoltaico. Na presente proposta foram utilizados colectores solares térmicos para aquecimento de água, assistidos por métodos de apoio que permitirão o armazenamento da energia. Tal como acontece com o reservatório de recolha de águas, estes painéis encontramse instalados na cobertura dos volumes suplementares da proposta. A conservação directa da radiação solar em electricidade dá-se pelas células fotovoltaicas, das quais se consegue converter directamente a luz em electricidade, sem peças móveis, sem fluidos pressurizados, sem elevação de temperatura, sem produção de detritos, sem ruído e sem cheiro. A produção desta energia eléctrica fotovoltaica é de elevada fiabilidade, de fácil instalação apresenta rendimentos energéticos consideráveis.

2.2) Solar Passiva As estratégias da arquitectura são adoptadas consoante a localização geográfica, dividindo-se em métodos de aquecimento e arrefecimento passivos. O aquecimento passivo consiste na utilização de elementos construtivos através de dois tipos de sistemas: ou sistemas de ganho directo que se traduzem na captação da radiação solar para o espaço interior através de envidraçados orientados a sul solução

123



5.0 Parte III Caso de Estudo

adoptada na presente proposta), ou então de ganho indirecto, que consiste na captação da energia solar através de uma parede colectora. De outro modo, a opção pelo arrefecimento passivo, passou pela utilização de lâminas de sombreamento amovíveis para melhor controlar os ganhos de calor.

3) Vidro Na presente proposta, os bons elementos envidraçados visam encontrar um equilíbrio na satisfação de necessidades que muitas vezes estão em conflito, como acontece com as funções de aquecimento e arrefecimento passivo. Por exemplo: permitir o ganho solar mas evitar a excessiva radiação solar; fornecer suficiente luz natural sem causar encandeamento; permitir uma ventilação controlada do edifício mas não deixar entrar o excessivo ruído exterior; permitir o contacto visual com o envolvente mas garantir a suficiente privacidade e proporcionar segurança. Assim, é proposto um vidro de insolação que, apesar de à primeira vista parecer um vidro completamente normal, é o vidro mais indicado para as condições climatéricas da região, sendo que este oferece mais conforto e calor do que qualquer outro sistema de aquecimento, funcionando como um acumulador, mas também radiador de calor. Este calor é produzido através de uma tira de tinta metálica condutora que se encontra no interior do vidro, esta é invisível e também sem necessidade de manutenção. As vantagens são portanto óbvias: não existe nenhum ar frio do exterior que passe pelo vidro, ao contrário do que acontece no vidro tradicional, mesmo sendo duplo.

125



5.0 Parte III Caso de Estudo

4) Sombreamento 4.1) Orientação Um módulo bem orientado é aquele em que a sua fachada longitudinal se encontra contígua ao eixo este-oeste. No Verão a fachada do módulo está voltada para a nascente (sujeita a uma insolação fraca da parte da manhã); à medida que o sol caminha para sul, os raios surgem quase perpendicularmente à fachada sul (que, com o apoio de um sombreamento, impede a entrada da maior insolação do dia); com o pôr-do-sol, os raios tornam-se cada vez mais oblíquos à fachada virada a poente (onde novamente a insolação se encontra mais fraca). No Inverno, como os dias são mais curtos e os raios solares incidem principalmente sobre a fachada virada a sul de forma oblíqua, a radiação solar incide em toda a fachada, provocando um aquecimento, sobre o módulo.

4.2) Dispositivos sombreadores Existe uma grande variedade de elementos de protecção que são aplicados pelo exterior de vãos envidraçados, para reduzirem ou controlarem a incidência da radiação solar, como exemplo: palas, beirados, toldos, portadas, venezianas, persianas, estores de enrolar, entre outros, mas nem todos estes sistemas salvaguardam os aspectos qualitativos ou estéticos pretendidos. Os dispositivos sombreadores então propostos, apesar de mais caros na instalação e manutenção, são exteriores, pois, ao interceptarem e dispersarem os raios solares antes de estes atingirem o vidro, possibilitam uma acção mais eficaz na redução de ganhos de calor.

127


Esta pรกgina permanece em branco propositadamente.


5.0 Parte III Caso de Estudo

Assim, e aliado ao sistema construtivo, o módulo propõe como sistema de protecção solar passivo, a utilização de sombreadores exteriores móveis, um sistema composto por ripas de madeira com 10cm de largura, e que deslizam em calhas laterais. O sistema contempla todos os aspectos a ter consideração: protege os vãos envidraçados da radiação indesejada; permite uma boa ventilação natural e de que se goze a vista (mesmo quando os estores estão corridos); é facilmente operável (podendo ser comandado de forma manual), para além de que permite o controlo do nível da luminosidade no interior do módulo, facilitando a criação de uma variedade de atmosferas.

129



6.0 Conclus達o


6.0 Conclusão

6.0 Conclusão

Como nota final é de referir que, baseados nos dados recolhidos sobre o local, foi possível desenvolver um estudo cuja praticabilidade é necessária e económica, capaz de servir o propósito de apoiar o trabalho desenvolvido por diversos profissionais que desenvolvem a sua actividade no Parque Natural do Montesinho e Bragança. Para além do seu lado mais concreto ser exequível, a exploração da arquitectura enquanto design que alia o conceito de sustentabilidade à funcionalidade de criar habitabilidade em ambientes inóspitos, assente na relação entre o uso de energia limpa e as características naturais do local em que se insere, acompanha a tentativa da Humanidade encontrar soluções de habitação para o futuro. No que diz respeito às soluções arquitectónicas encontradas, a solução de utilizar os materiais que, normalmente poluem um espaço natural vê atenuado o seu carácter de ruptura quando o estudo procura respeitar a tipologia da estrutura das casas da região. Num plano superior, a cobertura torna-se recolectora. Funciona como forma de sustentação energética através do uso de painéis solares e providencia água potável o que, para os habitantes da região, simboliza uma atenuação das suas rotinas austeras. Para além destes aspectos salienta-se o uso de lâminas de sombreamento. As aberturas dos seus vãos permitem manter um contacto bastante forte com o exterior e o facto de serem amovíveis ajuda a controlar a luminosidade no interior da célula. O plano central alia a noção de lar, zona húmida e quarto que compõe normalmente as casas térreas da região, com a paisagem envolvente, uma vez que evoca a forma das árvores. A zona inferior, destinada a armazenamento e compostagem sanitária, ao assumir-se como a única parte inamovível, transmite também um carácter forte à imagem da estrutura, como o da paisagem austera que o circunda.

133


6.0 Conclusão

Além de se assumir como um projecto ecológico e sustentável, o estudo proposto procura recuperar saberes do passado que a evolução da construção colocada ao serviço da massificação ignorou e marginalizou. Aproveitar os recursos da área envolvente e camuflar a novidade de forma a respeitar os sistemas ecológicos que recebam a estrutura modular torna-se a principal imagem do conjunto arquitectónico. Destaca-se uma vez mais que este edifício promove um habitat ecológico, portável e de rápida de montagem. A sua versatilidade permite a multiplicação dos espaços e promove estratégias de investigação. É auto sustentável e promove uma atitude ecológica, instigando os viajantes que utilizarem as suas instalações a repensarem a sua relação com o meio envolvente. A funcionalidade deste estudo é tão extensa como a plasticidade orgânica e versátil das características que o compõe, podendo servir de módulo para construções em zonas de calamidade ou de condição de vida extrema, se aliada princípios de compostagem ou criação de centrais de bio diesel. A instalação de ecossistemas, baseados na permacultura, no interior da construção também é uma possibilidade que tem vindo a ser trabalhada por investigadores que procuram soluções de futuro. O estudo realizado procurou respeitar sempre o compromisso para com o tema que o intitula “A arquitectura e a sua auto-suficiência, Parque Natural de Montesinho, Bragança”, estruturando-se num conceito que explorou a arquitectura como forma de mesclar a natureza enquanto fonte energética e suporte dos princípios de design que sustentaram todo o projecto. Sendo o Homem um viajante no espaço e no tempo das distâncias que o ligam enquanto ser Glocal, a dualidade abstracta das fronteiras que a sua rotina vence tornase concreta no seu caminhar. O abrigo, a habitação, é a linha que une os pontos e que estende a estrada rumo ao futuro, respeitando o passado de onde provém.

135



7.0 Bibliografia/Webgrafia


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