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história Da freguesia

FICHA TÉCNICA Director Fernando Santos Graça Redacção Fernando Santos Graça fernandosantosgraca@clix.pt Sílvia Inácio Martins silviainaciomartins@gmail.com Fotografia António Peleja Fernando Santos Graça Sílvia Inácio Martins Grafismo e Informática António Peleja Área Comercial e Publicidade comercial@olouletano.pt Editor SJS - Sociedade Jornalística do Sul, Lda

Alte em história

Período paleolítico

Composição e Paginação António Peleja Impressão Litográfis, Lda Litográfis Park, Pavilhão A, Vale Paraíso, 8200 – 557 Albufeira Telf. 289 598 500 | Fax 289 514 679 Telm. 96 647 82 05 Distribuição 10.000 cópias Propriedade SJS - Sociedade Jornalística do Sul, Lda Sítio da Franqueada 8100-Loulé Apartado: 1197 loulemagazine@olouletano.pt Periodicidade: Trimestral Foto Capa: António Peleja

Fontes de consulta: Divisão de Cultura e História Local da CM Loulé; Junta de Freguesia de Alte; “As Mouras Encantadas e os Encantamentos do Algarve”, de Francisco Xavier d’Athaíde Oliveira, edição Noticias de Loulé, Janeiro de 1996; “Monografia do Concelho de Loulé”, de Francisco Xavier d’Athaíde Oliveira; “Loulé no Século XX – A Primeira República, 1910 a 1926”, Volume II de Isilda Maria Renda Martins, edição CM Loulé, em 2004; “Loulé no Século XX, Volume III, A Segunda República, 1926 a 1968”, de Isilda Maria Renda Martins, edição Câmara Municipal de Loulé, em 2005; “Algarve, 100 Anos de República, 100 Personalidades, 1910/2010”, da autoria de António Rosa Mendes e Neto Gomes, edição Governo Civil de Faro, Novembro 2010; “Quem foi Quem? 200 Algarvios do Século XX”, de Glória Maria Marreiros, edições Colibri, Dezembro 2000; Revista Al-‘ulyã, do Arquivo Histórico Municipal de Loulé, nº1, 1992; Revista Al-’ulyã, do Arquivo Histórico Municipal de Loulé, nº8, 2001/02; I Congresso do Concelho de Loulé, edição Casa da Cultura de Loulé, 1991; “Alte, na roda do tempo”, de Isabel Raposo, editado pela Casa do Povo de Alte, em Março de 1995; “Guia do Construtor, Espaço Cultural de Alte”, da autoria de Isabel Raposo (coordenação) e Vanda Silva, edição Loulé, Fevereiro de 2004; “Conversando a Vida Toda”, de José Cavaco Vieira, num trabalho de pesquisa e coordenação de Hélder Raimundo, edição da Câmara Municipal de Loulé, de 2003; “A Emigração de Algarvios para e Sudoeste da Andaluzia 1834/1910”, de Renato Costa, da Estar Editora, Outubro 2002; Rotas e Caminhos do Algarve, edição Turismo do Algarve, 2009; “Loulé – Memórias e Identidade”, da Hestia Editores, 2004; Pólo Museológico Cândido Guerreiro e Condes de Alte; Jornal “Ecos da Serra”; jornal “A folha de Alte”.

Pelo território que é, hoje, a freguesia de Alte, até à data da criação freguesia de Benafim, em 1988, passaram, ao longo dos tempos, diversos povos e culturas, muito deles de origem continental vindos do Norte e da zona mediterrânica, chegados pelo litoral sul, que ali se confrontaram e cruzaram entre si e com as populações pré-existentes. Contudo, os mais remotos datam do Período Neolítico, comprovado pelos vestígios deixados pelas comunidades de agricultores e pastores, e que terão ocupado a região cerca de 4.000 anos a.C. São comunidades com economia agro-pastoril e semi-nómadas, que se abrigavam e enterravam os seus mortos em grutas. Viviam em pequenos povoados.

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mapa

ALTE

Loulé 01 – Nossa Srª da Piedade 02 – Zona Histórica de Loulé Igreja Matriz Igreja Nª Srª da Conceição Pólo Museológico dos Frutos Secos Castelo Galeria de Arte do Convento Espírito Santo Monumento Engº Duarte Pacheco 30 – Igreja Santa Luzia Alte 03 – Aldeia Igreja Matriz Fonte Grande Fonte Pequena Pólo Museológico do Esparto Pólo Museológico Cândido Guerreiro E Condes de Alte Ameixial 04 – Igreja Matriz 05 – Anta da Pedra do Aldagar 06 – Casas Circulares Almancil 07 – Igreja de São Lourenço 08 – Centro Cultural de São Lourenço 09 – Estádio Algarve 10 – Quinta do Lago 11 – Vale do Lobo Benafim 12 - Igreja Matriz 13 – Quinta do Freixo Boliqueime 14 – Igreja Matriz Quarteira 15 - Mercado do Peixe 16 - Galeria de Arte da Praça do Mar 17 - Igreja de Nª Srª da Conceição 18 - Igreja de São Pedro do Mar 19 - Avª Infante Sagres 20 - Ruínas Romanas do Cerro da Vila 21 - Casino de Vilamoura 22 - Marina de Vila Moura

Fonte: CML

Querença 23 – Igreja de Nª Srª da Assunção 24 – Sítio Classificado da Fonte Benémola

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Salir 25 – Ruínas do Castelo de Salir e Pólo Museológico 26 – Igreja de São Sebastião 27 – Sítio Classificado da Rocha da Pena Tôr 28 – Igreja de Stª Rita de Cássia 29 – Ponte Romana


história da freguesia / as origens

Na gruta denominada Igrejinha dos Mouros (entre a Rocha da Pena e Soidos) foram descobertos vestígios pré-históricos, e entre o Sitio Classificado da Rocha da Pena (freguesia de Salir/ Benafim) e a Igrejinha dos Soidos, foi identificado o povoado de Paniachos ou Paniais (hoje Quinta do Freixo), atribuído a este período e descrito por Sebastião Philippes Martins Estácio da Veiga (Antiguidades Monumentaes do Algarve, Imprensa Nacional, Lisboa 1887, vol.II, p.383), como contendo umas casas arresadas de forma circular e elipsoidal com fundações de pedra e argamassa de terra.Foram, também, encontrados, vários machados de pedra polida no morgado de Alte, Monte da Júlia e Fonte Santa. Com o desenvolvimento da revolução tecnológica, (o fabrico de instrumentos de metal), iniciou-se o Calcolítico ou Idade do Cobre, a que se seguiu a Idade do Bronze, que perdurou no Sudoeste da Península Ibérica até ao século VIII a.C. Esta zona do interior do concelho de Loulé está fortemente vinculada a uma ocupação neolítica e de consolidação do sistema agro-pastorial, na chamada etapa inicial da neolitização (entre meados do V e do IV milénio a.C.). Segundo dados arqueológicos inventariados, este quadro da pré-história de Loulé está profundamente marcado por quatro aspectos essenciais: os povoados, os monumentos megalíticos, as grutas naturais e um conjunto vasto de achados dispersos.

a Igrejinha dos

Soidos

Na Carta Pre-histórica, publicada por Estácio da Veiga (volume 1, das suas Antiguidades Monumentaes do Algarve), esta freguesia está registada como sede das antigas civilizações prehistóricas (paleolítica, neolítica e dos metais). Da primeira, e mais antiga civilização, são datadas a Igrejinha dos Soidos e o Poço dos Mouros; da segunda os instrumentos de pedra polida encontrados na Fonte Santa (Alte) e nos Paniachos; e da terceira, ainda, a Fonte Santa e Alte, onde foram encontrados instrumentos isolados da Idade do Cobre, sepulturas por inumação e minas em trabalho antigo no sítio da Atalaia. Entre as dezenas de grutas que persistem no concelho de Loulé, e cuja cronologia e características carecem de um estudo mais aprofundado, destaca-se a Igrejinha dos Soidos (Alte). É, seguramente, uma das apelativas designações toponímicas das mais importantes cavernas da freguesia de Alte e que terá merecido a visita do naturalista inglês Charles Bonnet, por volta de 1850, fazendo-lhe pertinentes referências no seu estudo. Segundo ele, este algar está localizado a norte da aldeia de Alte (vertente sueste da Rocha dos Soidos) e a sua designação é derivável da aparência das estalactites serem semelhantes a colunas de um edifício religioso e da disposição dos compartimentos da gruta, definidos por uma ampla galeria e pequenas divisões comparáveis a uma pequena igreja. “No lugar denominado Sobradinho, acha-se a entrada desta caverna, ao nível do chão, e é tão apertada que

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origens

só com dificuldade se vence a sua passagem. Para ali se entrar é melhor levar luzes. É grandiosa, de forma circular e de abóbada muito elevada à feição de cúpula, que constitui a primeira câmara. As estalactites assaz grossas e separadas umas das outras formam com as estalagmites umas colunas semelhantes às das igrejas. Para o lado nascente há diversas passagens que se dirigem às cavidades baixas e estas parecem capelas. Em razão de tal configuração deram os habitantes das localidades próximas a esta caverna o nome de Igrejinha, considerando a grande sala como nave central e as câmaras contíguas como capelas”, considerou Bonnet, que não encontrou ossos humanos, apesar das escavações efectuadas, ao que Estácio da Veiga contrapõe com uma possível ocupação neolítica, a julgar pelos instrumentos encontrados dessa civilização nesta freguesia. Ainda, e baseado nas informações difundidas no Inventário das Cavernas Calcárias de Portugal (de Barros Machado 1948), entretanto reforçadas por Isilda Martins, (na sua clássica Arqueologia do Concelho de Loulé), a freguesia de Alte é, também, possuidora de mais um algarão (Sumidouro dos Lentiscais), sendo, todavia, a Igrejinha dos Soidos a mais curiosa e de mais nomeada. Esta gruta, foi alvo de escavações arqueológicas, dos quais resultou um espólio relativo às ocupações do período Neolítico e Calcolítico, merecendo, pois, um reconhecimento especial por parte de investigadores de nacionalidade inglesa e alemã no âmbito de expedições naturalistas e de interesse científico

da Idade dos

Metais

Este território, também, foi ocupado por populações da chamada Idade do Bronze, no período Bronze Final,

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que decorre entre cerca de 1500 e 1100 a.C., a julgar pelos vestígios arqueológicos encontrados (necrópoles). Foram identificados e reconhecidos, por Estácio da Veiga, vestígios tumulares, nomeadamente, uma necrópole no sítio da Fonte Santa (Alte), como pertencente à Idade do Bronze do Sudoeste Peninsular, que já não subsiste. Era constituída por várias sepulturas ou cristas de pequenas dimensões de planta quadrangular, formadas por lajes toscas, vasos cerâmicos e alguns instrumentos de cobre e pedra. Sobre este estudo, já reconhecido por Estácio da Veiga, (1878), a arqueóloga e historiadora louletana Isilda Martins, reforçou a ideia de que daqui seriam oriundos os artefactos líticos que o barão Maltzan adquiriu e se encontram em Freiburg (Alemanha): duas enxós, uma goiva e um machado de pedra polida, bem como um “escopro de cobre de rude fabricação”. Também, nesta freguesia, foram encontradas várias peças de cobre, da civilização do Bronze, que utilizava a técnica da fusão dos metais e o rito funerário da incineração. Na Soalheira, no âmago da serra, foram identificados vestígios de uma antiga civilização. Semelhante à jazida de cobre encontrada na Vendinha do Esteval (1862), e narrada por Estácio da Veiga, é o jazigo (cobre) da Atalaia de Alte, “devido à mesma emissão de porphyros e de serpentinas que trouxe consigo o minério de cobre (engenheiro Ferreira Borges), e porque, próximo do Serro das Ferrarias a oeste da mina, há muitas escoriaes antigas, é evidente que o minerio foi naquelle ponto depurado para fundição”. Relatos antigos (finais do século XIX) dão conta de terem sido encontrados numerosos machados, cunhas de cobre e outros objectos de cobre não identificados entre Alte e Paderne, na zona da Atalaia (a 1,5 km de Stª Margarida), pertencentes à colecção do Sr. Júdice dos Santos, mas que os descobridores as terão vendido a peso, ou em troca de géneros alimentícios, aos compradores de metais usados e caldeireiros.

romanização de

Alte

Depois dos fenícios, das influências gregas e do imperialismo cartaginês, seguiu-se a colonização romana na região algarvia, que se estendeu durante oito séculos (século II a.C. ao século VI d.C). Foi desenvolvida uma rede de estradas de diferentes categorias ligando os diversos aglomerados. Como Salir e Messines eram dois importantes aglomerados romanos, por onde passavam duas das três vias que ligavam o litoral algarvio às planícies alentejanas e às bacias do Sado e Tejo, uma delas passava pelo território da actual freguesia de Alte, permitindo o escoamento dos produtos das comunidades e vilas instaladas à beira-serra: Vila do Zambujal, Vila Verde do Valle, Quinta do Morgado e Quinta do Freixo. A tradição oral refere a existência de vilas na toponímia antiga em locais onde se têm encontrado abundantes vestígios arqueológicos romanos e muçulmanos. É o caso da antiga Vila Verde do Valle (hoje Santa Margarida), onde foi encontrada uma ânfora romana de origem bética (século II, d.C) e depositada no Museu Municipal de Arqueologia de Loulé, assim como restos de um aparelho romano – opus signinum – patenteados na estrutura da arruinada ermida local. Da Vila do Zambujal (Cerca do Zambujal) foram identificados inúmeros testemunhos romanos, assim como uma necrópole, supondo-se ter existido um povoado, ou uma villa Romana dada a sua proximidade com a mina da Atalaia. Nas Águas Frias e Mortórios há indícios de terem sido encontradas necrópoles ou sepulturas romanas isoladas. Na vertente virada a norte, numa pequena elevação e perto da fonte velha (Fonte Santa), foram encontrados múltiplos achados da romanização, desde uma ruína romana (abobadada) a restos de canalização, hoje enterrados. Documentos antigos referem a existência de dois túneis junto da fonte, que o padre Luís Cardoso, em 1747, refere que “o situado a nascente chega à vila de Loulé


origens

(…) e o que vai para poente chega à cisterna da cidade de Silves”, e confirmado por alguns agricultores da zona. Também, a Quinta do Morgado (Alte) terá sido ocupada na época romana. No Cerro das Pedreiras (margem esquerda da ribeira), onde se encontra hoje o campo de futebol (de Alte), foi encontrada uma sepultura deste período, contendo ossos, um jarro de cerâmica, um pote e um anel de bronze. De assinalar, ainda, que nas minas da Atalaia foi encontrada “cerâmica romana”, de acordo com o Volume da Carta Arqueológica de Portugal, coordenado por Teresa Marquesa, da iniciativa do então IPPAR, publicado em 1992. Santa Margarida, Fonte Santa e Quinta do Freixo (então Alte) integram as oito estações arqueológicas arroladas por Isilda Martins, como possuidoras de inúmeros achados arqueológicos, datados do domínio romano em Loulé.

os

muçulmanos No período muçulmano, Alte tornou-se um povoado fortificado. Nesta zona, abundam muitos vestígios da presença muçulmana. Os camponeses tecem-lhes muitas referências, desde os achados arqueológicos às lendas moiramas. Após terem conquistado o Império Visigótico, mantiveram, durante muitos séculos (de 711 a 1247), o seu domínio no Sudoeste da Península, o Garb-al-Andaluz, sendo pois, o último povo a dominar a região, até à “reconquista” do Algarve pelo reino de Portugal. Na beira-serra, os muçulmanos ocuparam as antigas villae romanas para edificar os povoados de agricultores. Segundo o Arquivo da Casa d’Alte, consultado por Isabel Raposo, “numa vertente soalheira do sopé do cerro da Rocha

Maior, existira um ‘alcazar’, ou paço muçulmano, onde os senhores d’Alte terão habitado nos séculos XIII e XIV, depois da “Reconquista”. Frente a ele, passa o antigo caminho público que liga Esteval dos Mouros e Monte Brito à aldeia de Alte e a S. Bartolomeu de Messines, servindo, ainda, o sítio da Calçadinha, topónimo que permite pensar tratar-se de uma via antiga. Os mulçumanos desenvolveram novas técnicas agrícolas e as culturas da alfarrobeira, amendoeira e figueira, e generalizaram o uso da taipa, sendo introduzida a açoteia ou varanda. Na serra, as comunidades muçulmanas eram auto-suficientes, viviam dispersas pelos montes ou em pequenos povoados de pastores e agricultores, caso na antiga Vila Ruiva (Corte Bucho), onde foram recolhidos vestígios arqueológicos. Supõe-se que, aqui, existiriam assim como no Zambujal, sepulturas cobertas por lajes. Esta seria uma povoação rural ou alcaria muçulmana. Ainda no período islâmico, os muçulmanos, e

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origens

perante o avanço da conquista cristã, implantaram uma rede de fortificações de taipa, podendo uma delas ter sido implementada no cabeço denominado Castelo. No que respeita à toponímia de Alte, ela foi em grande parte substituída depois da “Reconquista”. Nesta freguesia persistem alguns topónimos com aquela origem, como Alcaria do João, Atalaia (ponto elevado ou fortificação de onde se vigia), Esteval dos Mouros e outros.

a reconquista

cristã Após longos avanços e recuos, a “Reconquista Cristã” deu-se, contando com a preciosa colaboração dos Cavaleiros da Ordem de Santiago, liderados por D. Paio Peres Correia, ao serviço do rei D. Afonso III. As terras algarvias são conquistadas ao domínio muçulmano, fundando-se, assim, “o Reino de Portugal e dos Algarves”. Com a “Reconquista” do Algarve muçulmano, alguns agricul-

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tores muçulmanos recebem regalias dos monarcas portugueses para assegurar a ocupação das terras. Estes distribuem terras aos conquistadores que os apoiaram na luta contra os “infiéis” para assegurar o seu povoamento. E assim surgiram os grandes domínios senhoriais, como o senhorio d’Alte (atribuído a João Gomes de Ribadeneuyra, quarto filho do capitão de Ribadeneyra, que se distinguira na luta contra os mouros, na Batalha de Navas de Tolosa, 1212), e que se manteve até ao século XX. Os senhores feudais são detentores, além dos melhores terrenos, dos principais meios de produção (moinhos, azenhas e lagares).

as suas

origens Dizem os antigos, que as origens da povoação de Alte devem-se a uma lenda, que, também, originou a Igreja Matriz, e que alguns consideram facto histórico. A mesma deve-se a

um desentendimento entre uma lavradora (do Freixo Verde) muito rica na região e o pároco, quando um dia este esqueceu-se dela para a missa, ao contrário do que era habitual na celebração da eucaristia. Então, ela informada do caso pelos fiéis (que regressavam a suas casas), voltou-se para a criadagem que a acompanhava e disse: “Alto! Aqui mandarei edificar uma igreja”. E efectivamente aí (onde é agora o Povo de Alte), mandou erguer a igreja, mais tarde Matriz da freguesia com a mesma denominação, que com o tempo foi alterada, sendo hoje Alte. Para outros autores (Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira), o topónimo de Alte provém da “Água de Alte” ou “Água do Alto”, redução de “água que cai do alto”, em referência à queda de água que cairia desde tempos antigos no local, onde no século XVII, foi construído o Vigário, e pela abundância de água que brota nesta região. Uma outra hipótese é aventada para a origem daquele topónimo, e registada no Arquivo da Casa d’Alte. Dizem que o topónimo procede antes da resposta de D. Afonso III a João Gomes Ribadeneyra, quando este lhe pede a mão de Dona Mor Mendes (formosa filha


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de um rico-homem), em recompensa pela bravura de que dera provas na batalha contra os mouros: “Alto, miras, mas mais alto que um Rei te vi hoje na batalha!”. Apesar dos estudos de investigação feitos, desconhece-se de qual, a dos altos deriva Alte, mas consta-se que João Gomes terá sido cavaleiro em 1249, na mesma data em que lhe foi atribuído o senhorio d’Alte, que se manteve, durante mais de sete séculos, na sua descendência. Outros investigadores defendem que a palavra Alte é muito genuína, muito por culpa do sotaque serrenho, onde se “engolem” os finais das palavras.

a visita dos

Visitadores Na Visitação da Ordem de S. Tiago à freguesia de S. Clemente lê-se, entre 1517 e 1518, que o templo hoje cor-

respondente à Igreja Matriz de Alte, pertencia a esta freguesia. Na visitação seguinte, datada de 1534, é, ainda, referida como ermida pertencente à freguesia de S. Clemente, surgindo, porém, na de 1554, como Matriz de Nossa Senhora da Conceição de Alte. Cerca de uma década mais tarde, em 1565, registaram os visitadores o seguinte: “Visitamos a capella, que é da invocação de N.S da Assumpção, de tres naves. Tem a capella de abobada e sobem ao altar-mór por cinco degraus. Tem um retábulo dourado de quatro paineis, pintado e nelle um encrusamento em que está a imagem da N. Senhora, de vulto, velha e gastada do tempo, com um vestido de tafetá azul. Em baixo, um sacrario, onde está o S. Sacramento, forrado de setim e dentro delle um cofre forrado do mesmo. Visitamos o corpo da egreja; a nave do meio está forrada de bordos sobre arcos de alvenaria e columnas de pedra, e foi acrescentado depois da visitação passada (1518) (…) Esta capella está três legoas distante da matriz de Loulé, e tem duas ribeiras no caminho, e

está a uma legoa de Paderne, e duas de Boliquême. Achamos por capellão Francisco Mendes, clérigo do Abito de S. Pedro, e os freguezes lhe pagam três moios e meio de trigo. Achamos que o capellão é obrigado a dizer missa todos os domingos, dias santos de guarda e todas as segundas-feiras e sabbados do anno e administrar os sacramentos. Esta capella está junto da aldeia, que será de 70 vizinhos, e em toda a freguezia com a aldeia haverá duzentos freguezes”. Este era um circuito percorrido pelos Visitadores D. Pedro de Menezes e João Fernandes Barregão que fez transparecer a importância que a Ordem de Santiago dava às Igrejas que lhe pertenciam. Era de inegável importância para o estudo da época quinhentista no Algarve. Por sua vez, em 1847, cerca de 200 anos depois, o Padre Luís Cardoso, organizador do célebre “Diccionário Geográfico”, o qual daria, também origem ao inquérito de 1758, conhecido pelas “Memorias Paroquiais”, registava idênticas considerações sobre o templo.

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a essência da freguesia

a criação da

freguesia

Em toda a região algarvia assiste-se no século XVI a uma reorganização do território. São criadas novas freguesias, incluindo no vasto termo de Loulé. As localidades escolhidas para sede de freguesias eram as de maior importância populacional e económica. Surgiram, então, Boliqueime, Alte, Salir, Querença e Ameixial. Deste modo terminava um largo período em que a freguesia de São Clemente de Loulé abrangia todo o termo. Isto obrigou, naturalmente, à construção de novos templos, igrejas paroquiais ou matrizes. Mais recentemente, em 23 de Maio de 1988, foi criada a freguesia de Benafim, que se separou da de Alte, pela lei nº54/88. De acordo com o quadro das freguesias do Algarve e do concelho de Loulé, que estiveram integradas, em diversas épocas, noutros municípios, registe-

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se que Alte, sempre, pertenceu a este concelho, se bem que nos Censos de Pina Manique (1798), pertencesse à comarca de Tavira, contrastando, por exemplo, com Boliqueime que, após Decreto de 6 de Novembro de 1836, foi agregada ao concelho de Albufeira (na reorganização dos concelhos do distrito de Faro), vindo posterior e definitivamente para o de Loulé.

a

heráldica

A ordenação heráldica do brasão, bandeira e selo da freguesia de Alte foram publicados no Diário da República, nº83/99 III Série, de 9/4/1999. O brasão representa um escudo de ouro, aspa azul carregada de uma aspa de coticas ondada de prata e acompanhada de quatro montes de verde. Coroa mural de prata de três torres e listel branco, com a legenda a negro: “Alte – Loulé”. A bandeira é verde, com cordão e borlas de ouro e verde, sendo a haste e lança de ouro. O selo, nos termos da lei, apresenta a legenda: “Junta de Freguesia de Alte – Loulé”. A autoria dos símbolos heráldicos é de Luís Moreira (GEPHA).

como se

constitui Situada no interior-centro do Algarve, no extremo noroeste do concelho de Loulé e na parte sul da Serra do Caldeirão, a freguesia de


a essência da freguesia

Alte estende-se por terras serranas e do barrocal, ocupando uma superfície aproximada de 97 km 2. Com uma paisagem tipicamente mediterrânica, delimitada a norte pela freguesia de S. Barnabé (Almodôvar), a nascente por Salir (Loulé), a sudeste por Benafim (Loulé), a sul por Paderne (Albufeira) e a poente por S. Bartolomeu de Messines (Silves). É atravessada, de poente para nascente, pela Estrada Nacional 124, e dista da sede do concelho, cerca de 25 quilómetros, da capital do distrito (Faro), 40 km, e da estação de caminho de ferro (S. Bartolomeu de Messines), 11 km. A população da freguesia, segundo Censos de 2011, é de 1.987 habitantes, ao passo que os Censos de 2001, registava 2.177 pessoas. Esta freguesia é cruzada pela ribeira que possui idêntica denominação, possuindo aqui as suas nascentes e indo desaguar na ribeira de Paderne. Aquando da sua criação, a freguesia de Alte comportava duas aldeias chamadas Benafim Grande e Benafim Pequeno, hoje, pertencentes à recém-criada freguesia de Benafim.

como se

caracteriza a típica aldeia de Alte Alte continua fiel às suas origens. Como diria o poeta Cândido Guerreiro, Alte nasceu no aconchego de quatro cerros que a rodeiam: Galvana, Francilheira, Castelo e Rocha Maior. O casario branco do povoado antigo, que foi crescendo em redor da Igreja Matriz, erguida na margem direita da ribeira de Alte, nos finais do século XIII, conserva muito do seu encanto, apesar das transformações das últimas décadas, nomeadamente nos últimos 40 anos. As imaculadas casas estão integralmente associadas ao cultivo das terras e às actividades locais. Nas ruas românticas da aldeia, de trepantes calçadas tradicionais e empedradas,

pátios e coloridas floreiras de sardinheiras, ecoou durante muito tempo o som das maças de pisar o esparto, e que marcou a vivência económica e social de toda a freguesia. É um dos locais privilegiados pela natureza. No centro da aldeia, destaca-se a Igreja de Nossa Senhora da Assumpção, com um magnífico portal manuelino. É a mais antiga referência histórica de Alte. Não muito distante, localiza-se a pequena ermida de S. Luís. A poucos metros, e através de um traçado inconstante, deparamos com os parques da Fonte Pequena e da Fonte Grande.

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economia

actividades

económicas Quem visita Alte, procura conhecer os circuitos comerciais dos produtos locais, nomeadamente o artesanato. Destaque para os trabalhos feitos em esparto, madeira, cerâmica e doces tradicionais feitos à mão. Nas margens frescas da ribeira florescem algumas hortas com legumes, milhos, cereais, vinhedos e laranjeiras, com que os serrenhos completam a sua subsistência. Olhando ao longe, a agricultura de sequeiro dos socalcos do barrocal constitui elemento marcante da paisagem da freguesia de Alte. Produz alfarrobas, amêndoas, figos, azeite, vinho, trigo, cevada, grão, milho e cortiça (em pequena quantidade). Possui serviços e comércio que se concentram na aldeia-sede. À economia predominantemente agrícola, e assente em práticas herdadas de tempos remotos, associa-se a produção de aguardente de medronho, mel e doçaria. Por aqui, ainda, se podem observar pequenos rebanhos de ovelhas e cabras, se bem que se tenha assistido a um forte despovoamento dos pequenos lugares dispersos.

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festividades

Festas e

romarias

As festas e romarias são uma boa ocasião para os visitantes interessados em conhecer uma terra e as suas gentes. Ocorrem geralmente no Verão, depois das colheitas, e aquando da estada das férias dos emigrantes. Em Alte realiza-se a festa de Nossa Senhora da Assumpção, (a padroeira da Igreja), no dia 15 de Agosto. Esta festividade acontece desde 1962, então dedicada aos soldados das ex-colónias e, agora, aos emigrantes. Na aldeia, tem lugar, também, a 17 de Setembro, a Festa de Nossa Senhora das Dores (padroeira da freguesia) e S. Luís. Após a missa, na Igreja Matriz, realiza-se a procissão com os andores das imagens dos dois santos homenageados, seguida da filarmónica, percorrendo as principais ruas da aldeia. Destaque, ainda, para os Festejos do 1º de Maio e de S. João. Noutros sítios da freguesia, as iniciativas são das colectividades locais. Em Monte Ruivo, acontece a Festa da Juventude, organizada pelo GD Serrano, com a realização de vários jogos recreio/tradicionais e animação musical. Nas Sarnadas, são realizadas as Festas de Verão. Santa Margarida e Águas Frias perderam as suas festividades. As actividades pascais têm, igualmente, forte notoriedade nesta aldeia, segundo as “praxes” de uma velha tradição. Por estas bandas, o S. Martinho é largamente festejado. Destaque, também, para o Carnaval de Alte (com desfile de carros alegóricos e grupos de foliões), que atrai milhares de visitantes. Os carros são construídos e decorados pelas populações das diferentes localidades da freguesia e a animação complementa-se com os bailes de Carnaval e concursos de máscaras. Os bailes da Pinha (Páscoa) e do 1º de Maio são muito participados. O baile da Pinha, tal como o nome indica, tem como objectivo abrir a pinha, que está pendurada no tecto do salão de baile e que contém várias prendas. O casal que

abrir a pinha é nomeado rei e a rainha do baile, feito na altura da Páscoa e sem data certa. As festas da Fonte Grande, (no 1º de Maio), são antiquíssimas e mobilizam milhares de forasteiros. A Semana Cultural de Alte, anteriormente denominada Semana das Artes e da Cultura, é, presentemente, uma das iniciativas mais marcantes e emblemáticas desta freguesia. Destaque, ainda, para a noite de Halloween, a cargo da Juventude Altense, e para o passeio/maratona de Btt, organizado pela Escola Profissional de Alte, constituindo já um dos maiores eventos betetísticos a nível nacional, marcando o início da Semana Cultural.

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feiras

as feiras

e

mercados

Os dias de festa são, também, dias de feira. Estes dias são espaços de sociabilidade por excelência, designadamente das comunidades rurais, e assumem um papel fundamental na economia camponesa ou rural. Hoje, as feiras e mercados proporcionam aos produtores a apresentação e venda dos seus produtos: gado, cereais, produtos hortícolas e de transformação (mel, queijos e artesanato diverso). Do lado dos compradores permite o abastecimento quotidiano ou sazonal das despensas. Mais recentemente, diversos mercados assumiram facetas diferentes. Nestes espaços, vende-se de tudo, desde roupa, calçado, plásticos, artesanato urbano. Concorrem mesmo com as lojas tradicionais. O tipo de vendedores e compradores também se alterou. Da parte dos primeiros podemos encontrar antigos agricultores, ex-emigrantes e até estrangeiros. Em relação aos segundos, vêem-se, com frequência e em grande número, visitantes exteriores, turistas e estrangeiros. Alte acolhe gente de

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todo o lado, com os olhos postos no artesanato, no comércio, nos doces tradicionais. A Feira Franca de Alte a ter lugar, anualmente, a 17 de Setembro, é uma das mais ricas iniciativas desta aldeia. Os mercados mensais funcionam em Alte (Largo José Cavaco Vieira) todas as terceiras quintas-feiras do mês, e no Azinhal (à entrada da aldeia), no último sábado de cada mês.


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as essências turísticas

Quando o betão é alternativa? A Casula Domus é uma verdadeira habitação, com um ou dois quartos. Possui excelentes áreas de repouso e de circulação, ao ponto de uma cadeira de rodas se movimentar sem dificuldades no seu interior. Os materiais assentam nos pré-fabricados de betão. Sejam pérgolas, travessas, bancos ou mesas, os produtos destacam-se pela impressionante semelhança com a madeira. A diferença está na manutenção, durabilidade e preservação da natureza. Quanto à beleza final não irá encontrar diferença. Ficará impressionado com o aspecto visual e rapidez na aplicação.

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Venda e Assistência Técnica E.N.125 – Sitio do Conseguinte Nº 477A - 8125-019 Quarteira Tel/Fax: 289 328 760 Telem. 917 204 710/967 075 482 www.louleportas.com e-mail: louleportas@gmail.com


Património histórico

em

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património histórico

A Igreja Matriz de Nossa Senhora da Assumpção

Esta Igreja, consagrada a Nossa Senhora da Assumpção, é o edifício histórico mais emblemático da freguesia de Alte e um dos pólos que estruturou o crescimento da aldeia. Terá sido fundada nos finais do século XIII, sofrendo diversas transformações ao longo dos séculos XVI e XVIII, nomeadamente depois do terramoto de 1755. Dizem os registos, que foi mandada edificar por Dona Bona Ribadeneyra (mulher de Garcia Mendes de Ribadeneura, 2º senhor d’Alte e 1º vidama do Algarve), em acção de graças por seu esposo ter regressado da oitava cruzada da Palestina (Isabel Raposo, “Alte na roda do tempo, 1995). No Arquivo da Casa d’Alte, há documentos que confirmam a existência desta Igreja no século XIV, a partir de moedas com a efígie de D. João I encontradas numa escavação feita aquando da reparação da torre do relógio (Zé d’Alte, Conversando, in Ecos da Serra, nº57, 1982). O templo, então construído, refere-se seguramente a uma capela particular, que não estava sujeita à jurisdição do Bispo de Silves, nem à Ordem Militar de

Santiago, detentora do padroado dos templos existentes no termo de Loulé. Só assim, se justifica não vir incluída na listagem dos benefícios taxados em 1321, respeitantes a templos localizados no Bispado do Algarve. Sabe-se, também, que este primitivo templo já existia aquando da Visitação das Ordens de Santiago, de 1517/18, tendo os Visitadores dado conta que seria uma simples capela, sendo incorporada, nos princípios do século XVI, na Ordem Militar de Santiago. Na Visitação de 1534, continua a ser uma ermida pertencente à freguesia de S. Clemente de Loulé, cujo mordomo, Jerónimo Matoso, é morador na aldeia de Alte, e em 1554, o templo aparece referenciado, nas visitações quinhentistas, como Igreja Matriz, sede da recém-criada freguesia de Nossa Senhora da Assumpção de Alte, segundo atestam documentos da época (Visitação de Igrejas Algarvias da Ordem de Santiago, 1554, ed. ADEIPA, 1988). Cedo se afirmou como sede da freguesia de Alte e nem o terramoto de 1755 a fez desmoronar, não obstante

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património histórico

os danos sofridos, que, prontamente, foram reparados. A última grande campanha de obras foi realizada em 1829, conforme data referida no centro da tarja que serve de remate ao portal principal do templo, quer no frontispício da igreja (construção de uma nova empena em massa e abertura de um janelão emoldurado de cantaria e rematado por um frontão triangular), quer no interior do templo (engrossamento das arcarias e colunas e colocação de novos retábulos de madeira em diversas capelas). O interior é de três naves, com colunas atarracadas e revestidas tijolo para suporte do peso. Do formulário manuelino sobressai a cobertura abobadada da capela-mor do edifício (três arcos e represas de pedraria da região) e o portal principal (sobrearco e pilares de pedraria), e nele uma tarja com uma cruz e os Mistérios da Paixão. Os azulejos figurativos, azul e branco, que revestem o tecto e paredes desta capela,são do século XVIII, de traça barroca, e alusivos a factos bíblicos. Tem duas sacristias e duas pias de água benta (manuelinas). No altar-mor está a Nª Sª da Assumpção (orago da Igreja), ladeada pelos altares do Santíssimo Sacramento (lado esquerdo da capela-mor) e de Nª Sª do Rosário (lado direito), todos em talha dourada. Juntam-se-lhes mais seis

mais interessantes encontram-se nas paredes laterais e na cobertura da capela-mor, representando anjos músicos rodeados por nuvens e cabeças de serafins, e provavelmente, colocados, na primeira metade do século XVIII, pelos irmãos Borges. No seu exterior destaca-se o portal manuelino e dois óculos barrocos.

Os retábulos

altares laterais (dois na nave direita, S. Sebastião e Almas e quatro na esquerda, Senhor Jesus, Senhora de Lurdes, Senhora das Dores e Morgado de Alte). É, também, neste templo que se encontra um dos poucos vestígios renascentistas de todo o concelho de Loulé. O intradorso da capela lateral dedicada a S. Sebastião está revestido com azulejos de superfície lisa (policrome), identificados por Santos Simões como exemplares de fabricação sevilhana do último quartel do século XVI, misturados com outros da primeira metade do século XVI. Porém, os azulejos

As quatro capelas laterais do lado do Evangelho foram ornamentadas com talha entre 1751 e 1789, período em que vigorou na região algarvia o formulário Rococó. Desses retábulos, sobressai o da capela do Morgado, em cujo remate se ostenta o brasão dos Condes de Alte. Trata-se de um exemplar mais erudito, com planta em perspectiva côncava, estrutura tetráslila com banco, corpo e ático. As colunas têm o fuste compósito e o vocabulário ornamental acusa duas fases distintas: uma com concheados e cabeças de anjos e outra mais tardia, provavelmente resultante de uma intervenção oitocentista. Os outros retábulos são mais modestos. Apresentam planta plana, estrutura tetráslila (sem colunas), prolonga-se a talha pelo arco. Dos nove

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património histórico

retábulos, que ornamentam as capelas deste templo, somente o de Nossa Senhora do Monte do Carmo se integra na época barroca, tendo sido construído entre 1735 e 1751 (formulário “joanino”). “Desconhece-se o responsável pelo desenho e feitura da talha. Todavia, há indícios de ser de um artista farense, provavelmente Tomé da Costa, genro e continuador da oficina de Manuel Martins. Apesar de se tratar de um exemplar de modestas dimensões utiliza a tipologia mais frequente no Algarve” (Francisco Lameira). Os retábulos de talha das capelas de Nª Sª do Rosário e de S. Francisco, que ostenta o brasão dos Condes de Alte, são, também, bons exemplos da arte do século XVIII.

As imagens De entre o núcleo de imaginária existente na Igreja Matriz de Nª Sª da Assumpção de Alte, composto por 15 exemplares de madeira, destaca-se a imagem de Stª Margarida. Outrora era o orago de uma pequena ermida, com o mesmo nome, situada nos arredores de Alte. Colocada no retábulo colateral desta Igreja, a imagem de Santa Margarida (184cm x 50cm), pelas suas características formais e iconográficas, constitui uma belíssima

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escultura de madeira, policromada/prata, da época barroca, atribuída ao segundo quartel do século XVIII. De acordo com o parecer de Francisco Lameira, que propõe o ilustre escultor farense Manuel Martins como obreiro desta peça escultórica, é de referir o dinamismo sugerido pela posição curvilínea do corpo e dos braços da Santa e pelo dragão de cauda agitada e boca aberta. Para além da palma de mártir, sobressai o dragão fantasiado de grandes dimensões, que está sob os seus pés, atributo comum aos primeiros evangelizadores de uma região idólatra (Francisco Lameira e Pedro Serra, A Igreja Matriz de Alte, CM Loulé). Realce, também, para as imagens de St. Teresa, (século XVI) e Nª Sª do Rosário (século XVIII). Num anexo desta Igreja, onde se expõe um pequeno núcleo museológico de arte sacra, encontram-se duas telas maneiristas (quinhentistas), onde surgem representados S. Lourenço e S. João Baptista, provavelmente oriundas do retábulo da capela lateral de São Sebastião e substituídas no decurso de uma remodelação artística oitocentista. Apesar de se desconhecer a identidade do mestre que as pintou, elas foram seguramente executadas, nos finais do século XVI, por uma oficina da região algarvia, pois, segundo aqueles historiadores, apresentam semelhanças a uma tábua existente na Igreja Matriz de Santiago (Tavira). Destaque, ainda, para as telas da vida de São Luís, (rei de França), encontrada numa ermida de Alte, sob a invocação do respectivo santo, sugerem um programa pictural proto-barroco.


património histórico

Capela de São Luís de Alte Ignora-se a data certa da ermida de S. Luís, mas sabe-se que a cabeceira foi mandada construir no final do século XIV ou início do XV, sofrendo alterações que lhe deram o carácter actual de templo rural e ao gosto do século XVIII. De estilo barroco, localiza-se dentro da povoação. No Arquivo da Casa d’Alte, consta que a capela foi mandada construir por Álvaro Mendes de Ribadeneyra, 6º senhor d’Alte (início do século XV), no “sítio que foi achado seu filho, Pêro Mendes, ainda menino, folgando com dois ursos que não lhe fizeram danos”. Entretanto, nos seus estudos, o Padre Luís Cardoso aponta a data de 1747, como a referência mais antiga ao edifício. Estruturalmente, esta

capela só tem uma nave com cobertura de duas águas. A fachada principal e a torre sineira são, também, de estilo barroco e cunho popular. No seu interior, pode-se ver o altar-mor de estilo barroco de talha dourada e quatro telas da vida de S. Luís, criação de um pintor popular de Alte (século XVIII), trabalhos retomados em 1990. Neste ano, foi, igualmente, consertado o retábulo da capela-mor, tendo sido encontrada uma pintura antiga (não identificada), ao gosto renascentista, representando molduras rectangulares, colunas com elementos florais e a cabeça de um anjo. Isto poderá significar que este edifício foi construido em duas fases: primeiro a cabeceira e nos séc. XVII e XVIII a nave e o corpo lateral (duas divisões) para a sacristia e residência do ermitão. No arco triunfal, foram encontradas pinturas com motivos florais. Nos princípios dos anos 80, foi instalado, (no corpo lateral), um pequeno museu com objectos de uso doméstico e utensílios agrícolas (assim como uma colecção de bonecos descrevendo a vida na aldeia e que constituíram a exposição permanente, montada nos anos cinquenta na Casa do Povo). Posteriormente, neste espaço, foram construídas duas instalações sanitárias. Em 1890, e segundo o Livro de Actas das Sessões da Junta da Paróquia da Freguesia de Alte, sabe-se de uma doação à Junta da Paróquia pelo “Governo de Sua Majestade” para recuperação do interior da capela. Como edifício histórico e cultural, constitui um dos pontos de referência na aldeia e marca o percurso que liga a Igreja Matriz às fontes. Está classificado como Imóvel de Interesse Público, no Plano Director Municipal de Loulé.

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património histórico

Ermida de Santa Margarida Santa Margarida é uma das aldeias integrantes da freguesia de Alte. Em tempos possuiu uma ermida, dedicada a esta Santa, e que segundo a tradição, é mais antiga do que a paroquial, pois que se diz ter sido sede de uma vila (Villa Verde e Valle ou Villa Verde do Valle). Desta primitiva matriz da freguesia, são, apenas, visíveis os esqueletos da sua estrutura. Não é mais do que uma capela em ruínas. Contudo, o Arquivo da Casa d’Alte revela dados contraditórios quanto à sua fundação. Os registos dizem que a ermida (Santa Margarida), terá sido fundada na primeira metade do século XIV pelo 3º senhor d’Alte, João Mendes de Ribadeneyra, e será posterior à Igreja Matriz de Alte, fundada pelo seu pai, o 2º senhor d’Alte, ao contrário do que reza a lenda sobre a fundação da aldeia. Dizem tratar-se de um edifício erguido sobre um templo mais antigo, muçulmano ou mesmo romano. Sabe-se, apenas, que com o terramoto de 1755, a ermida ficou parcialmente destruída e as pedras do arco e da abóbada da capela ficaram desencaixadas, mas em 1758, já se encontrava reparada, de acordo com as respostas do pároco de Alte (1758), ao questionário nacional sobre os estragos provocados pelo terramoto (Francisco P. Souza, 1919). Todavia, em 1844, e não se conhecendo as causas, encontra-se

de novo em ruínas. A paróquia pretende aforá-la (com o seu adro) a um lavrador, o que não concretiza devido à contestação dos habitantes. Em 1846, o Conde de Farrobo, empresário da mina de cobre da Atalaia (situada nas proximidades), requer a compra “do dito pardieiro” para nele instalar a forja e arrecadação de materiais da mina (Páginas da História de Alte, in Ecos da Serra). A Junta da Paróquia e a Câmara, a quem aquele submete o parecer, não tinham todavia competência legal para vender os bens da Igreja, os quais haviam passado para a posse do Estado. Com a vitória dos liberais, compete a este vendê-los ou aforá-los (em 1844). O Conde recorre então ao Governador Civil, que oficia a Câmara, requerendo a venda “de uma antiga ermida da mesma freguesia (Alte) hoje demolida” (1846). Pese embora o despacho positivo, não existem documentos que confirmem a sua venda: ou por não ser clara a propriedade do edifício, ou por o Conde de Farrobo ter desistido da sua compra face à insustentabilidade do projecto de exploração da mina de Atalaia. A ermida continuou a degradar-se e as suas pedras foram sendo levadas para a construção de casas e calçadas do povoado. A capela-mor acabou por ruir. Há cerca de duas décadas, a população resolveu lançar mãos à sua reconstrução. Reerguerem-se as paredes, mas as obras não foram avante. Entretanto, foi decidido que a ermida passaria para a Igreja, a qual irá investir na sua recuperação, tendo sido já elaborado um projecto de arquitectura. No Plano Director Municipal (PDM) de Loulé, é proposta a sua classificação como Imóvel de Interesse Concelhio.

Quem era Santa Margarida

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A história antiga diz que Santa Margarida de Antioquia é, também, invocada na Europa Oriental, como Santa Marina, Filha de um sacerdote pagão e idolátra, foi educada por uma ama extremamente católica e seguiu o caminho do cristianismo que a levou à santidade. Julgada pelo “crime de ser cristã”, o martírio da jovem Margarida foi terrível e o seu sofrimento tão grave e profundo que a ela se acrescentam factos lendários: visitada no cárcere por Satanás, em forma de um dragão que a engoliu, conseguiu sair do seu ventre, firmando contra ele o crucifixo que trazia nas mãos. Acabou por morrer decapitada no dia 20 de Julho de 290, com a idade de quinze anos. Santa Margarida é invocada pelas mulheres grávidas e pelas pessoas com problemas de estômago.


Cenários com

História

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cenários com história

Pólo Museológico Cândido Guerreiro e Condes de Alte Cândido Guerreiro e da família dos Condes de Alte, através de colecções bibliográficas, documentais e iconográficas. Junto a estes bens patrimoniais apresenta-se o espólio etnográfico, que contextualiza os espaços culturais de Alte, desde o quotidiano à música, passando pelas festas e danças. Trajes, alfaias agrícolas, instrumentos musicais e fotografias são alguns dos objectos que podem ser apreciados. Constituem espólio pertencente à Casa do Povo de Alte, ao Grupo Folclórico e Etnográfico e a particulares, por cedência ou empréstimo. Este espaço, também, é local privilegiado para leitura (periódicos, livros e documentos) e realização de encontros, conferências, exposições, conversas, espectáculos musicais e recitais. O Pólo está inserido na Rede Concelhia de Museus, coordenado pela equipa da Divisão de Cultura e Património Histórico da Câmara Municipal de Loulé. O antigo edifício senhorial dos Condes de Alte transformou-se em Pólo Museológico, no âmbito do Projecto de Reabilitação Urbana (PRU) levado a efeito na aldeia pela Câmara de Loulé, cujos trabalhos importaram em cerca de 400 mil euros, num projecto do arquitecto Luís Guerreiro. O objectivo passou por tornar este edifício num museu temático, integrando igualmente exposições nas áreas da música, dança, traje, teatro popular e iconografia rural com elementos recolhidos pelo Grupo Folclórico da Casa do Povo ao longo de mais de 60 anos de existência. Apresenta o percurso vivencial e parte do espólio do poeta

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cenários com história

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cenários com história

O “hospício” Este edifício foi identificado há muito tempo como a “Casa do Hospício”, mandado edificar por D. Constança, na primeira metade do século XIV. Manteve até hoje a sua traça original, não tendo sofrido grandes alterações ao longo dos séculos, excepto para o duplo beiral datado do século XVI, entre outros pequenos acrescentos. Trata-se de uma casa térrea com amplas divisões, ligadas por um corredor (em comboio) e com uma chaminé rendilhada. No século XIX, o “hospício” serviu de habitação permanente aos feitores da Quinta do Morgado, tendo sido utilizado, também, como residência temporária dos senhores d’Alte até princípios do século XX. Por alguma razão, alguns autores, nos finais do século XIX, consideravam ser o “paço dos senhores d’Alte”, muito embora o povo lhe chamasse, desde tempos antigos, a “Casa do Hospício”. Justificavam aquela nomenclatura por os Condes d’Alte, e quando vinham passar tempos a esta povoação, serem “extremamente esmoleres” para com os necessitados, “acudindo-lhes e agasalhando-os”, ou, supostamente, pela existência no local de uma albergaria medieval (Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira). A “Casa dos Condes d’Alte” ou “Casa do Hospício”, destaca-se pelo seu desenho e história. Também nos velhos calhamaços e dicionários de geografia, alguns estudiosos não encontraram nada que justifique aquela designação, pois não consta, em tempo algum, que, ali, tivesse existido um “hospício”. As armas e o brasão da nobre família dos Condes d’Alte, estão inseridas no retábulo de talha dourada da “Capela do Morgado” da Igreja Matriz de Alte. Foi adquirido pela Câmara Municipal de Loulé, para ser reconvertido em museu-biblioteca, mantendo-se a linguagem arquitectónica tradicional e local.

O Morgado de Alte

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O Morgado de Alte, pertencente à condessa de Alte, localiza-se nesta freguesia. Tem uma fonte abundantíssima, denominada Fonte Grande, que “rega e fertiliza todas as suas terras baixas, faz moer seis moinhos de água e forma uma queda de água/cascata denominada Pego ou Pulo do Vigário”. Em tempos esta condessa tinha, ainda, outra herdade denominada “Paniais ou Freixo Verde”, agora localizada na freguesia de Benafim. Aquando da entrada da nova lei respeitante à definição das propriedades rústicas e urbanas, o jornal “Povo Algarvio”, datado de 16/10/1909, reproduzia declarações do sr. Catarino (então feitor do morgado d’Alte) de que a propriedade (na serra) permanecia intacta, apesar da abolição dos morgados. Enquanto no litoral, o ex-morgado de Quarteira, neste mesmo tempo, fora objecto de inúmeras desanexações e vira a sua dimensão original reduzida a menos de metade.


cenários com história

O desvio da ribeira

Na Corografia do Reino do Algarve, datada de 1841, João Baptista da Silva Lopes, dava conta da existência nos arredores de Alte, de um grande pego (“Pego ou Pulo do Vigário”), no qual vem precipitar-se a ribeira, caindo de um despenhadeiro com cerca de 24 metros de altura. Documentos da época referem que o fidalgo Duarte de Melo Ribedeneyra (18º senhor d’Alte), mandou fazer, nos finais do século XVII, importantes obras na ribeira. Foi então construído um canal de cantaria, “furando um rochedo que tem 10 varas (11 m) de altura e 20 braças (44m) de comprimento” de cobertura em abóbada e com “clarabóias de espaço a espaço para promover a ventilação e dar luz (Silva Lopes, 1841). Segundo ele, “foi a ribeira encaminhada a este sítio por Duarte de Melo Ribadeneyra Corte Real, administrador do Morgado da família dos Monizes Telles de Aragão, o qual, em 1690, mudou o curso primitivo da ribeira (passaria mais a levante), para o “Tanque Grande”, com o objectivo de regar o “Pomar da Mina” (hoje “Pomar do Morgado”), fazer moer os moinhos próximos a Alte e para outros usos beneficiários para a aldeia e aldeãos. Já em 1747, o Padre Luís Cardoso fazia referência a este lugar e a esta fonte, de “muitas e boas águas, das quais se valem os moradores (…) para regar suas hortas e para moerem trigo e cevada”. Ao mesmo tempo mandou construir como obra de embelezamento, a “Queda do Vigário”.

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cenários com história

Os senhores d’Alte (séculos XIII a XIX)

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Segundo o Arquivo da Casa d’Alte, com a ruína rápida do castelo, os senhores d’Alte terão habitado o “alcazar”, ou paço muçulmano, que se situaria na margem esquerda da ribeira, até que João Mendes de Ribadeneyra (3º Senhor d’Alte, cavaleiro real como seu avô João Gomes), nele terá afogado sua esposa D. Constança, acusada de traição. Contudo, e de acordo com o Arquivo, o paço teria sido outro edifício, mandado construir na segunda metade do século XIV, depois da morte de D. Constança. Seu filho, Pero Gomes de Ribadeneyra (5º senhor d’Alte, cavaleiro das hostes de D. Nuno Álvares Pereira), mandou erigir o paço, mas, somente, ficou concluído no segundo quartel do século XV, no tempo do seu neto Pero Mendes (7º senhor d’Alte e vidama do Algarve), que esteve envolvido nas guerras contra Castela e piratas mouros. Do paço, “que o terramoto de 1755 danificou bastante”, ficou um portal alto e um segundo portal senhorial, de que, hoje, não se conhecem vestígios. Durante muitos anos, e enquanto funcionavam os dois moinhos das “Hortas do Paço”, as colunas serviam para atar machos e mulas para carregamento da farinha. Álvaro Mendes (6º senhor d’Alte), mandou construir no inicio do século XV, muitas casas na aldeia, em terrenos pertencentes a esta ilustre família. No século XVI era Jorge Mendes de Ataíde (12º senhor d’Alte), e Manuel de Ataíde de Sarre, seu bisneto (17º senhor d’Alte) foi, como seu pai, alcaide-mor em Albufeira, em 1641, participando activamente, entre 1637 e 1640, no movimento contra o último rei espanhol (dinastia dos Filipes). O filho Duarte de Melo Ribadeneyra (18º senhor d’Alte) foi nomeado capitão da tropa de cavalaria, em 1694, e esteve ao serviço de D. Pedro II, na guarnição do Reino do Algarve. Trata-se do referido “Fidalgo d’ Alte”, assim chamado pela riqueza que demonstrou na corte e pelas benfeitorias que realizou nos seus morgados, nomeadamente no desvio da ribeira de Alte e na construção do chamado “Tanque Grande”. Além das obras atrás descritas, mandou restaurar nos finais do século XVII, ou inícios do XVIII, o antiquíssimo paço da sua família, e beneficiou a Igreja da vila que por seus avós fora edificada e dotada. Duarte de Melo viveu em Alte, os últimos anos da sua vida, tal como os seus três sobrinhos que lhe seguiram no morgadio e morreram na aldeia sem deixar descendência, o último em 1748. Depois da destruição do paço, mais nenhum dos senhores d’Alte voltou a fixar-se no povoado, passando a residir no antigo hospício. Até esta data, os senhores d’Alte eram cavaleiros: dois foram vidamas, um foi deão da Sé de Silves e três foram alcaides-mor (um em Loulé, João Mendes de Ribadeneyra, 8º senhor d’Alte, no final do século XV, e dois em Albufeira). Nos finais do século XVII, passam a ocupar cargos importantes na corte. O 25º senhor d’Alte foi conselheiro da Real Fazenda, e seu filho João Carlos da Franca Horta Telles Machado da Franca Ribadeneyra, ocupou o mesmo cargo nas cortes de Turim e Nápoles, recebendo em 1851, de D. Maria II, o título de primeiro Visconde de Alte, e em 1870, o de primeiro Conde de Alte, criado por D. Luís I, rei de Portugal, por decreto de 4/6/1868, por carta de 12/9/1870. Residiu em Faro, no actual edifício do Governo Civil de Faro. Sucedeu-lhe, seu neto, João Carlos da Franca Horta Machado de Ribadeneyra e Aragão Corte Real, segundo Conde de Alte e de Marim (1905), que doou a sua biblioteca a Alte. A herdeira do morgadio fora sua irmã, que o legou a duas filhas, as quais em 1979, o venderam ao actual proprietário (Sr. Albuquerque).


Aldeia

típica

Alte Alteééapontada apontadacomo comouma umadas dasaldeias aldeias mais maistípicas típicaseebonitas bonitasde dePortugal, Portugal,tendo tendo aa sua sua origem origem na na ocupação ocupação romana. romana. É, É, também, também, defendida defendida como como aa “capital “capital do do turismo turismo do do interior”, interior”, pelo pelo facto facto de de ser ser uma umadas dasaldeias aldeiasmais maisvisitadas visitadasda daregião região algarvia. algarvia. LOULÉ

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turismo

Na primeira metade do século XX, Alte gozava de ilustre reputação, quando chegou à final do concurso nacional das “aldeias mais portuguesas de Portugal”, em 1938. As ruas estreitas do centro histórico, com as suas escadinhas ou escadarias de calçada peculiares aprimoradas com lindos tufos de flores coloridas, mantêm muito do seu carácter, reforçado nas casas caiadas, nas janelas e platibandas debruadas a cor, nos beirados, nas chaminés rendilhadas e na tranquilidade envolvente. Justifica, pois, um passeio a pé, pelas ruas/ruelas da Barroca, Igreja, Pisadoiros, Nova da Ribeira e Estrada da Ponte e travessas do Largo da Igreja e Escadinhas da Barroca para apreciar estes pormenores pitorescos da arquitectura tradicional e os muros caiados de branco (Barroca). Do património histórico/cultural há a destacar a Igreja Matriz (rica pela sua talha dourada e azulejaria barroca, abóbada quinhentista, porta e pia baptismal manuelinas), a capela de S. Luís e as ruínas da antiquíssima ermida de Santa Margarida. Recomenda-se, ainda, uma visita à Casa da Memória d’Alte, onde funciona o posto de turismo e o Pólo Museológico do Esparto. Os

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seus espaços envolventes são encantadores e constituem magníficos “postais turísticos” do genuíno e verdadeiro Algarve. Alte tem inúmeros atractivos que merecem uma visita demorada, desde a ribeira e fontes ao Largo do Moinho da Levada e Queda do Vigário, passando pelo moinho de água das Águas Frias (ribeira do Arade), que até há bem pouco tempo moía os cereais sob método ancestral. Destaca-se, também, o Museu Regional (de Alte)e o minimuseu rural de Malha Ferro, (Assumadas), que guarda antigas alfaias agrícolas e objectos de uso doméstico tradicionais, as bonitas chaminés (rendilhadas) de Monte Brito e Esteval dos Mouros, o Miradouro das Boiças (405 m) e da Rocha dos Soidos (467 m), escavada por ampla gruta. Daqui, pode-se observar uma vasta paisagem sobre o ondulado da serra, tendo o mar no horizonte sul. A aldeia abandonada da Rocha Amarela (esquecida no meio de colinas), as antigas minas de cobre da Atalaia e Cerca da Mina (exploradas em tempos pré-históricos), as fontes, as levadas, os açudes e os muitos moinhos de água e de vento são exemplos do antigo e riquíssimo


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turismo - as fontes

passado altense. Localizada na continuidade do barrocal louletano, Alte é uma região com bastante água, atravessada pela ribeira com o mesmo nome. O seu caudal é alimentado por duas fontes que despontam junto ao coração da aldeia, a Fonte Grande (Olho de Boi) e a Fonte Pequena. A sua beleza e envolvência natural são, agradavelmente, realçadas por quantos visitam este cenário. São nascentes que durante séculos foram local de encontro das mulheres da aldeia para encherem os cântaros de água, lavarem a roupa e cavaquearem. Eram das principais fontes de alimentação da população local. Hoje, são um local aprazível, fresco e decorado com frondosas árvores, mesas e bancos de pedra, convidando a bons passeios, a momentos de lazer

ou a bons piqueniques, nomeadamente aos fins-de-semana. Estas águas, fizeram, em tempos passados, mover os nove moinhos da aldeia, existentes ao longo do seu curso, curtir o esparto e regar as pequenas hortas e pomares nas suas várzeas. As fontes são, pois, o ex-líbris da povoação. Aqui respira-se um Algarve diferente, às portas do Caldeirão, e onde “as ondas do mar são substituídas pelas ondas dos cerros entrecortados por vales”, num dos quais se espraia o novo anfiteatro serrano. É um óptimo lugar para descansar à sombra das árvores e aproveitar a frescura agradável.

A Fonte Grande

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É um dos mais bonitos postais ilustrados da aldeia cultural de Alte. Ambientalmente rica, esta fonte é geradora de águas cristalinas e cercada por um majestoso arvoredo (choupos e faias). Abasteceu durante os períodos de grande seca, não só a população da aldeia, como a de localidades próximas do barrocal, serra e até do Baixo Alentejo (Almodôvar). A Fonte Grande é uma verdadeira piscina natural e um lugar muito apreciado pela água potável e boa para a saúde do corpo. Outrora de margens inclinadas e terra solta, este espaço é, também, palco dos tradicionais festejos do 1º de Maio e dos festivais de folclore, que dão movimento, cor e alegria a toda esta região. Ao longo dos anos recebe a visita de milhares de turistas, nacionais e estrangeiros, atraídos pela beleza da paisagem fresca e bucólica. Hoje, e após vários melhoramentos, este espaço local é aproveitado por muitos para se banharem nas suas límpidas e frescas águas. Sempre foi musa inspiradora para poetas, que se “refugiaram” neste recôndito lugar cheio de histórias e curiosidades, de conversas e cantos em noites de luar.


turismo - as fontes

A Fonte Pequena Este aprazível e refrescante local junto à ribeira foi aproveitado para ser prestada homenagem ao poeta Cândido Guerreiro, e onde se podem ler alguns dos seus mais conhecidos sonetos. Aqui, o verde e a frescura convidam o visitante a um saudável descanso. É, ainda hoje, um dos lugares de passeio preferidos pelas gentes da terra e por muitos forasteiros. Antigamente, as pessoas iam para a fonte nas noites de luar e lá conversavam, contavam histórias e cantavam. No final dos anos 40, o lugar

da Fonte Pequena foi renovado, a bica encostada ao paredão que suporta o acesso à Fonte Grande, as margens da ribeira foram amuralhadas e foi criado o parque de merendas. Até há poucos anos, e antes de haver água canalizada na aldeia, a nascente da Fonte Pequena (ou das Bicas) continuava a ser procurada por: “mulheres e raparigas com bilhas de barro à cabeça ou nos quadris” e “os homens com seus burros e muares, trazendo dois a quatro cântaros de zinco enfiados em cangalhas de madeira “ (E. Rodrigues Soja, Ecos da Serra, 1986).

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turismo - requalificação

Queda do Vigário

Também chamada “Pego ou Pulo do Vigário”, a Queda do Vigário é uma das obras de embelezamento da aldeia a visitar. Esta cascata ou queda de água da ribeira de Alte despenha-se a pique a 24 metros de altura, caindo num grande lago, que se assemelha a um alguidar, num local de grande beleza natural. Como referem alguns textos antigos, é de supor que esta já existisse no local aquando da fundação de Alte, sendo, alvo de grande e dispendioso empreendimento para a época, que só a riqueza do fidalgo d’Alte permitia. E ficou tão bem feita, que o terramoto de 1755 não a danificou. Antigamente era local de passeio para o “Pomar de Cima” e para o Vigário. Era romaria nos dias de descanso. No lago pescava-se e os jovens banhavam-se. As pessoas passeavam aos domingos à tarde ou em dias de festa pelo caminho que de Alte conduz ao Vigário, ao longo da margem direita da ribeira, encoberta por canaviais, juncos e loendros floridos, avenas e amoras silvestres. Era o percurso que dava acesso aos seis moinhos situados a jusante da Estrada Nacional, bem como às hortas arrendadas da Quinta do Morgado e daí a Monte Brito. Era outrora a via percorrida pelos habitantes de Alte rumo aos hortejos, à moenda da farinha e às fontes, em busca da água que escasseava nas redondezas. Hoje, os moinhos estão abandonados e caem em ruínas. Recentemente, o espaço sofreu remodelações, tornando-o, ainda, mais aprazível e propício a momentos de lazer. O acesso faz-se, após o estacionamento, junto ao cemitério, numa descida de cerca de 300 metros, situando-se pouco abaixo da aldeia.

Requalificação de Alte premiada O Projecto de Reabilitação Urbana da aldeia de Alte foi distinguido com um galardão especial atribuído pela Comissão Instaladora do Turismo do Algarve, no âmbito da primeira edição dos Prémios Algarve Maximus, em cerimónia realizada no Casino de Vilamoura. Com o objectivo de valorizar aquela que já foi uma das mais típicas aldeias de Portugal, a Câmara de Loulé investiu seis milhões de euros no Plano de Reabilitação de Alte, que visou a criação de infra-estruturas de saneamento

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básico, rede viária e equipamentos e requalificação de espaços públicos considerados ex-líbris da aldeia. Entre as 24 acções levadas a efeito, destacam-se a criação de acesso e arranjo do espaço envolvente à Queda do Vigário, criação de um Anfiteatro ao ar livre na Fonte Grande, construção de Biblioteca e Pólo Museológico, construção de um Centro Infantil, criação de um Parque Infantil e recinto para jogos tradicionais, arranjos em vários arruamentos e melhorias ao nível do saneamento básico.


turismo - simbolos marcantes

A Rua dos Pisadoiros Nesta rua juntavam-se as mulheres para pisar o esparto (primeiramente demolhado nas águas da ribeira), extraindolhe a parte lenhosa, a casca mais grossa. O som dos maços (pilões) de madeira ecoava pelas ruas desde as primeiras horas da madrugada até ao nascer do sol. À noite, nos serões à lareira ou nos pátios da aldeia, torciam, entre mãos calosas, a fina e delicada baracinha. Havia aqui três grandes pedras em calcário, onde se pisava o esparto, designadas por pisadoiros. Hoje, somente, se pode ver um pedaço de uma delas, num dos cantos da parede da Rua dos Pisadoiros. Os painéis de azulejos, aqui colocados, contam um pouco a história e a manufactura do esparto na aldeia de Alte. O desenho é de Vítor Borges e os azulejos foram executados por Vítor Cassanheira, na Cerâmica d’Alte. Durante muito tempo, este foi o ganha-pão de quase todos. O esparto teve tanto impacto na região que, ainda, hoje existe esta rua dos (Pisadoiros), em memória de todos aqueles que passaram os dias a amassar as fibras com um pilão gigante, assim como um Pólo Museológico que retrata esta actividade.

Verde predomina Nesta freguesia serrana são variados os verdes, assim como é diferente a brisa que transforma o pólen dos cardos e o cheiro do rosmaninho. Julga-se que, existem, nestes matos, mais de 300 espécies de plantas, muitas delas medicinais ou aromáticas. Por aqui, proliferam as trepadeiras das rosa-albardeiras, e as delicadas orquídeas selvagens. Esta zona possui uma diversificada e riquíssima flora, com muitas espécies endémicas e muitas outras medicinais e aromáticas. Possui alguns pomares de sequeiro rodeados por valados, onde se desenvolve a cultura da alfarrobeira (certonia siliqua), da oliveira (olea europaea), da amendoeira (prumus dulcis) e da figueira (ficus carica), o grande sustento da economia tradicional local. Pode ser também observado o Jacinto-do-Algarve (bellevalia hackelii), um dos símbolos naturais do barrocal algarvio. E naturalmente, o sobreiro e o medronheiro, donde se extraem a cortiça e o medronho, importantes fontes de rendimento destas populações.

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turismo - as espécies faunísticas

Observação de aves

A freguesia de Alte possui uma importante zona para observação de aves, integrada num roteiro ornitológico desenvolvido pela Câmara Municipal de Loulé para desenvolver este segmento turístico. O percurso desenvolve-se entre as aldeias do Zambujal e Águas Frias, totalmente ladeado pela Ribeira do Arade. Ao longo deste troço (do Arade) é possível encontrar uma vegetação propícia à presença de muitas aves ribeirinhas. É uma zona de nidificação de espécies migradoras, como o papa-figos (oriolus oriolus), a andorinha-daurica (hirunho daurica), o abelharuco (merops apiaster) e o picanço-barreteiro (lanius senator) e de residência da pega-azul (cyanopica cyana). A poupa (upupa epops), o pica-pau-pequeno-malhado (dendrocopos minor) e a coruja-do-mato (strix aluco) são outros habitantes desta área florestal, que escolhem as cavidades das árvores para aí instalarem os seus ninhos. Paralelamente, o visitante pode passear à beira desta ribeira e desfrutar da belíssima paisagem que esta zona oferece, assim como conhecer estes dois pequenos aglomerados habitacionais implantados nos contrafortes da Serra do Caldeirão. No emaranhado conjunto de rochas nidificam muitas aves, nomeadamente rapinas. Grutas e algares são abrigo de colónias de morcegos, particularmente na Igrejinha dos Soidos (Rocha dos Soidos), a alguns quilómetros para oeste de Alte. Trata-se de uma caverna natural, que constitui um excelente habitat para duas espécies de morcego em vias de extinção: o morcego-de-peluxe (miniopterus schreibersii) e o morcego-rato-pequeno (myotes blythii). No século XIX, acreditava-se que entrar na gruta trazia a má sorte. Hoje, é proibido. Nesta região residem cerca de 120 espécies de aves, incluindo o gaio (garrulus glandarius), a águia-de-

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asa-redonda (buteo buteo), a raríssima águia de Bonelli (hieraaetus fasciatus) e o grande bufo-real (bufo bufo). O tordo-ruivo-comum (turdus ilkiacus) e a garça-cinzenta (ardea cinerea) são visitantes de Inverno, enquanto no Verão, uma das aves nidificantes mais coloridas é o abelharuco, que escava longos túneis em solos arenosos para construir o ninho. Faunisticamente, com sorte, poderá ver a gineta, o gato-bravo, a raposa, o javali, o saca-rabos, a salamandra, o corvo ou a águia-cobreira, além das espécies comuns (coelho, lebre e perdiz). Recentemente, a Associação Almargem, em parceria com o Instituto de Solidariedade e Cooperação Universitário (ISU), promoveram um passeio nocturno na Via Algarviana (de Benafim a Alte), de forma a proporcionar a identificação do canto das aves nocturnas.


turismo - percursos pedestres

A Via Algarviana Este percurso pedestre e ciclável, com cerca de 300 quilómetros, que atravessa o interior da região do Algarve, (de Alcoutim ao Cabo de S. Vicente) tem dois troços de passagem na freguesia de Alte. Assim, o primeiro (7º sector, Salir-Alte), inicia-se em Salir. O percurso desenvolve-se muitas vezes ladeado por antigos muros de pedra (valados), que, ainda, limitam hortas e propriedades locais, atravessando alguns aglomerados habitacionais. Por aqui, é possível visionar engenhos hidráulicos, actividades agrícolas e o pastoreio que ainda impõe as suas marcas na paisagem local. O sector termina acompanhando a ribeira de Alte, chegando assim às Fontes Grande e Pequena. Este percurso tem uma extensão de 16,2 quilómetros, de fácil grau de dificuldade e com uma duração (aproximada) de 5 horas. Há disponibilidade de água e mercearias locais. O segundo troço (8º sector, Alte-S. Bartolomeu de Messines) arranca no coração da aldeia (junto às fontes). Tomando a direcção do sítio do Montinho, o itinerário atravessa a aldeia e rapidamente entra na paisagem rural. Pomares de sequeiro (amendoeiras, alfarrobeiras e figueiras) preenchem o cenário em torno do percurso, juntamente com pequenas hortas de regadio e casario disperso. Em Perna Seca, o percurso passa por um trilho estreito, privilegiando o contacto com a natureza. A vegetação adensa-se e o caminhante chega a uma pequena ribeira, ladeada por freixos e loendros. Após a sua travessia, o percurso dirige-se até à aldeia da Torre, onde o artesanato ainda tem especial importância, e daí segue para Norte, passando junto à Fonte Santa, ladeando pela direita o Monte Rocha de Messines. Daí segue em direcção à Portela (Messines) e S. Bartolomeu de Messines, cumprindo uma distância de 19,3 km.

e no Esteval dos Mouros A Rocha Amarela é o nome do cerro que, a sul, domina a aldeia de Alte, e, também, nome de um pequeno aglomerado populacional abandonado desde a década de 70. Da aldeia obtém-se uma excelente panorâmica. O trilho de acesso serpenteia suavemente ao longo da encosta, arrimado por muros de pedra calcária sobreposta que caracterizam o barrocal algarvio. Nas encostas pedregosas com afloramentos calcários, de acesso difícil, cresce a piteira, a palmeira-anã e o esparto, e quando as amendoeiras estão em flor as vistas são soberbas, podendo avistar-se o planalto da Rocha da Pena. Nestes vales planta-se a vinha, pomares de citrinos, alternando de certa forma a paisagem local. Por entre a vegetação é possivel encontrar-se antigos fornos de cal abandonados e em ruínas.

nas Águas Frias Este percurso desenrola-se na parte mais a norte da freguesia de Alte, (fronteira com o Alentejo) e abrange duas zonas distintas: uma zona ao longo da ribeira do Arade e outra na Serra do Caldeirão. O trilho serpenteia ao longo da margem da ribeira. Podem ver-se hortas e pomares, utilizados principalmente numa agricultura de subsistência complementada com outras actividades. Podem observar-se, também, açudes e levadas, bem como um moinho de água que foi remodelado para casa de habitação, sendo ainda visíveis a mó, que moía e triturava os cereais, e a caldeira para o abastecimento de água ao moinho. Já na zona da serra observam-se belas paisagens.

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turismo - espaço urbano

O casario branco

As casas, em Alte, são simples e caiadas de branco, com ornamentos originais em coloridos azuis, ocres, terracota e vermelho. A brancura das paredes, que ressalta nas construções da aldeia, recorta-se nos tons verdes, castanhos e ocres dos cerros. Eram outrora caiadas as casas por altura das festas – Natal, Páscoa, Maio e Setembro – e nesse acto ficavam melhor protegidas dos raios solares. Caiavam-se as paredes exteriores, o beiral e o interior de toda a casa, ficando assim “mais bonita e desinfectada”. Em ocasião de morte por tuberculose, juntava-se um pouco de lixívia à cal, e assim era garantida a purificação total do quarto onde o doente tinha permanecido. Pintava-se com pincéis

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de palma, colhida no campo, ripada com um garfo e atada com um pau. A cal utilizada na caiação é obtida através da extinção com água da cal viva. Era colocada de molho antes de caiar, para evitar estalar na parede. Ia-se buscar a cal viva aos fornos que havia nas proximidades da aldeia. Textos do séculos XIX e XX referem a existência de fornos de cal na freguesia (zona do barrocal), onde o calcário e a lenha eram mais abundantes, nomeadamente no sítio da Atalaia e nas proximidades do miradouro das Boiças, onde repousam as bases circulares de pedra. Eram dedicados a Nossa Senhora da Assumpção, padroeira da Igreja Matriz de Alte.


turismo - espaço urbano

As chaminés rendilhadas A chaminé rendilhada ocupa, em geral, uma posição central na casa, como central é a cozinha onde é aberta. Eleva-se acima da cumeeira do telhado, afirmando a sua presença volumosa e ornamental, quer seja de traço cilíndrico ou prismático, quadrado ou rectangular, simples ou elaborado. Desde há longos anos, que o seu valor estético é reconhecido, tendo servido de cartão de apresentação da aldeia em guias turísticos regionais. São mesmo um símbolo da região de que muitos moradores destas antigas casas (na sua maioria já idosos), se podem orgulhar, pelo que, ainda, as procuram conservar e não as deixar estar à mercê do tempo. Noutros casos, as antigas chaminés de Alte (consideradas as mais bonitas da região) foram destruídas em obras de transformação e modernização que se têm realizado na zona antiga de Alte. Muitos altenses dizem que “havia muitas chaminés lindas e antigas, mas deitam com elas abaixo. Eu tenho saudades de muitas delas”, recorda um altense. No nº 25 da Rua Poeta Cândido Guerreiro, logo a seguir à casa onde nasceu o poeta, pode-se contemplar uma chaminé tradicional algarvia, datada de 1832 (ver pág. 23), num prédio devoluto e em estado de abandono. Esta casa e chaminé mereciam ser recuperadas e preservadas.

Platibandas A existência da platibanda, como parapeito de protecção da cobertura em terraço, é antiquíssima. O seu número aumentou na aldeia em meados do século XX, com a generalização do uso de lajes de cimento e o aumento do número de açoteias. A platibanda, como guarda do telhado, surge nos finais do século XIX no Algarve. Em Alte, os exemplos, ainda, presentes datam da primeira metade do século XX. As primeiras platibandas,

com modelos decorativos do neoclássico e neobarroco misturados com a fantasia popular, surgem, na aldeia, nas casas antigas mais ricas do tipo urbano burguês. Destaque, também, para as janelas de peito e de sacada de casas antigas, algumas delas com varandins protegidos com guarda de ferro forjado, ricamente trabalhado. As janelas mostram, por vezes, uma pequena guarda de ferro forjado e alegretes de pedra.

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à conversa ...

com

Eugénio Guerreiro

A aldeia de Alte é bonita.

Situada no centro do Algarve, a freguesia de Alte conta com uma área de 97 Km2 e cerca de 2000 habitantes. A Loulé Magazine esteve à conversa com Eugénio Guerreiro, presidente da Junta de Freguesia de Alte, para saber um pouco mais sobre esta freguesia…. Como caracteriza a freguesia de Alte? É uma freguesia com alguma riqueza, quer em termos de património, quer em termos de qualidade de vida, porque oferece uma grande diversidade (barrocal/serra). A aldeia de Alte, enquanto sede e motor de desenvolvimento desta freguesia, é importante devido à sua actividade turística, que embora esteja mais fraca nos últimos anos devido à conjuntura económica mundial, faz movimentar vários sectores, como o comércio.

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à conversa ...

Quais são os principais pontos turísticos da freguesia? É a aldeia de Alte, porque esta é bonita, em termos arquitectónicos, em termos de património construído. Depois temos as igrejas, a ribeira, as fontes, tudo isto faz de Alte uma aldeia muito atractiva. Temos depois algumas infra-estruturas de apoio, como é o caso do Posto de Turismo, Pólo Museológico do Esparto, Pólo Museológico Cândido Guerreiro e Condes de Alte que contribuem para essa oferta e para a afirmação de Alte.

A nível cultural o que poderá ainda ser feito pela dinamização da aldeia? O desenvolvimento da freguesia não passa só pela cultura e infelizmente nos anos mais decisivos para que Alte pudesse ter crescido isso não foi acautelado, não ouve visão nesse sentido, nomeadamente a nível da Câmara Municipal de Loulé e Junta de Freguesia de Alte que não fez o esforço necessário, ou não defenderam, na altura, aquilo que deveria ter sido defendido. Volto à velha questão do PDM que entrou em vigor em 1995.AíAlte poderia ter dado um salto em termos quantitativos porque foram anos de desenvolvimento económico, em que havia dinheiro e uma actividade, em termos da construção, significativa em que nós poderíamos ter fixado na freguesia uma série de casais e população activa, que, hoje, seriam determinantes para a vitalidade de Alte. E dou um exemplo: em toda a freguesia de Alte, e nomeadamente na envolvente da sede de freguesia, não foi acautelada uma única zona para fazer uma urbanização habitacional ou até mesmo empresarial. Isto são questões decisivas para o desenvolvimento de uma terra, porque se nós tivéssemos aqui 30/40 casais jovens, população activa a viver em Alte já se pode imaginar a dinâmica que isto teria. É isto que nos fazia falta, a parte cultural e turística também é importante mas quanto a mim, não podemos viver só disso e quando há estas crises que afectam o turismo nós sentimos muito mais do que se as coisas fossem mais equilibradas e sustentáveis. Em termos turísticos poderemos dinamizar melhor os equipamentos que já temos, poderão ser melhor potenciados. É lógico que a Junta de Freguesia tem muitas limitações nesse sentido porque esses equipamentos nem sequer são nossos e por parte da Câmara de Loulé poderia haver uma maior dinâmica, e uma maior aposta, não só em Alte como em todos os outros sítios. Seria bom criarmos uma Galeria de Arte, aqui em Alte. Temos espaço para o fazer. Existe um edifício da Câmara, que precisa de ser recuperado mas que dava para fazer uma Galeria de Arte, onde poderíamos ter uma exposição permanente dos artistas da terra. Existe o Daniel Vieira que tem uma obra significativa e interessantíssima e utilizaríamos uma outra área para outro tipo de exposições. Havia, também, muito a fazer em termos de dinamizar o artesanato local. Não é fácil, mas penso que com algum trabalho isso consegue-se. O nosso problema é que termos muitas limitações, e cada vez mais. Eu tinha uma ideia para Alte que achava magnífica, não sei se será possível pô-la em prática… E que ideia é essa? Passa por reformular todo o edifício onde funcionou a Junta de Freguesia antigamente, passaríamos para lá o posto de turismo, com uma zona ampla em termos de edifício, com área de exposição e a nível de esplanada exterior permitiria desenvolver espectáculos com músicos, folclore, acordeonistas, artesãos a trabalhar ao vivo, entre outros.

Passeios Pedestres são uma aposta para desenvolver o turismo de natureza

Em termos turísticos, a Fonte Grande continua a ser o cartão de visita de Alte? A Fonte Grande é, sem dúvida, uma das principais atracções de Alte, sobretudo no Verão. Temos excelentes condições: um grande parque de merendas que dá para cerca de 200 pessoas sentadas; um anfiteatro ao ar livre; a zona de “piscina natural” da água da ribeira. Temos muito cuidado e trabalho com esta zona, para preservá-la. As pessoas sentem-se cá bem. Temos sanitários, grelhadores, as pessoas trazem a comida e fazem piqueniques e tomam banho na ribeira. Que projectos existem para a promoção do turismo de natureza? Nós temos uma candidatura, que efectuámos em parceria com a Almargem, para um percurso pedestre e que já está todo marcado. Estamos a aguardar a aprovação, têm havido problemas devido aos fundos e não foi aprovado ainda. De qualquer forma, se não avançar através do financiamento avançará através da Junta de Freguesia. Nós iremos investir nisso. Já deveria estar mais avançado, porque queremos ter esse percurso como complemento à oferta turística e aos caminhantes da Via Algarviana. Penso que no próximo Inverno, de uma maneira ou de outra, isto andará para a frente.

Os estrangeiros em Alte A freguesia de Alte tem uma importante presença de estrangeiros residentes (172), ajudando no desenvolvimento da economia local. Esteval dos Mouros é a localidade da freguesia de Alte com mais presença estrangeira: em 117 habitantes, 26 são cidadãos estrangeiros, segue-se Monte Brito (17) e Barranco dos Fojos (8). A aldeia-sede regista (33).

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lendas e superstições

É sobretudo na tradição oral e nas lendas, que persiste a memória da presença muçulmana nesta região. Em vários lugares da freguesia conta o povo do aparecimento de formosas mouras encantadas, que possuem outros tentadores tesouros igualmente encantados. Na freguesia de Alte, podem-se rememorar curiosas lendas dos “agarenos”. Também, nesta zona, imperam as superstições, se bem que menos acentuadas do que as “Mouras Encantadas e os Encantamentos”, muito pródigas em Alte, ou não fosse esta povoação habitada pela raça muçulmana, e outras raças, que em remotas épocas ali dominaram e ganharam maiores raízes.

Soidos

A três quilómetros da povoação de Alte, há uma grande caverna denominada “Igrejinha dos Soidos”, cuja origem se prende, talvez, ao tempo em que foi habitada pelos trogloditas. Dela, Carlos Bonnet, engenheiro notável inglês, fez detalhada descrição. Ainda assim, e desde longa data, que há referências a “mourinhos encantados”. Dizem existir dois grandes buracos, sempre cheios de água. Segundo as tradições locais, o buraco do lado nascente se “comunica subterraneamente

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ao castelo mourisco de Loulé”, e “o do lado do poente à cisterna arruinada de Silves”, que por estes “condutos subterrâneos” se comunicavam os mouros, quando ambos os castelos lhes pertenciam.

As lendas dos cerros Segundo as lendas dos sítios que circundam a povoação, cada um dos cerros que a cercam está minado e nas

habitações interiores ficaram encantadas famílias mouras por ocasião da sua expulsão desta província. Ainda hoje, conservam de memória os versos que os “infelizes sarracenos entoavam a chorar”, quando foram forçados a sair: “Adeus Julia e Juliana/Rocha da Pena, Cabeço de Câmara/Onde ficou a nossa dinheirama”. Aqueles versos significam, no dizer do povo, que no interior dos cerros deixaram os mouros escondidos os seus tesouros. E esta crença está tão arreigada que, há largos anos, a alta noite, foi no cerro da Julia (localizado entre Alte e a Rocha da Pena) encontrado um sujeito a cavar sob uma rocha, em procura de dobrões mouriscos.


lendas e superstições associativismo

Farrobeirão

Albufeira, Faro e Olhão, os concelhos algarvios onde existe uma maior concentração de africanos. ANeste APALGAR, Algarve, sítio não no longe do Povo de Alte, aparece várias Albufeira, Faro e Olhão, osvezes consurgiu da necessidade de uma à meia-noite e ao meio-dia, uma celhos algarvios onde existe estrutura associativa capazuma de formosa moura encantada. Em maior concentração de africaapoiar as comunidades destes tempos uma certa senhora chenos. Ana APALGAR, Algarve, países região. Foino fundada em gara a ver a de moura. Sem crer surgiu da necessidade de uma 1999 e tem mais um milhar de em bruxas e mouras encantadas, estrutura associativa capaz de associados, na sua grande maioter visto “debaixo de uma apoiar as comunidades destes riaadiantou angolanos. Culturalmente, a alfarrobeira, no Farrobeirão, uma países na região. Foi fundada APALGAR dinamiza várias em acsenhora muito formosa e gentil 1999 e tem mais de um milhar de tividades nomeadamente na área (…) estava vestida de preto, era associados, na sua grande maio-e da música, pintura, artesanato alva como a neve e de uma aparia angolanos. Culturalmente, a cinema, bem como a realização rência extremamente agradável APALGAR dinamiza várias de ecolóquios temáticos, dando insinuante” Segundo ela,acesta tividades nomeadamente na área a conhecer a riqueza cultural de lenda já era falada no tempo dos da música, pintura, artesanato e África e a sua ligação à cultura seus avós, e que assustada, pelo cinema, bem como a realização portuguesa. O FestÁfrica é o seu pai, nunca mais se aproximou de colóquios temáticos, dando seuda evento mais marcante. Tra- o dita árvore, nem comentou ata-se conhecer aa riqueza cultural de decom uma iniciativa detambém, cariz caso sua avó, que, África a sua ligação à culturaa cultural que pretende divulgar sabiaedesta moura encantada. portuguesa. O FestÁfrica é o música e a cultura africana e que seu eventotodos mais os marcante. Trase realiza anos e atrai ta-se de uma iniciativa de cariz milhares e pessoas a Quarteira. cultural que pretende divulgar a música e a cultura africana e que se realiza todos os anos e atrai milhares e pessoas a Quarteira.

Lenda de "130."3 Santa Margarida "130."3

0T QSPNPUPSFT EBT .BSDIBT 1PQVMBSFT EF 2VBSUFJSB

Em0T QSPNPUPSFT 1995, dá-se a oficialização das marchas populares de EBT .BSDIBT 1PQVMBSFT No sítio Santa Margarida, Quarteira, um de antiga e marcante EF 2VBSUFJSB três quilómetros a nascente tradição local, e a recém-criadade Alte, também há muitas referênAPROMAR ProEm 1995, (Associação dá-se a oficializacias à “moirama”, quando ali, em motora Marchas Populares ção dasdas marchas populares de épocas antigas, estava fundada de Quarteira) passa a ser a Quarteira, um antiga e marcante principal entidade impulsiotradição local, e a recém-criada nadora dos Santos Populares APROMAR (Associação Pronesta cidade, com o apoio da motora das Marchas Populares CM Loulé e JF. Além da chade Quarteira) passa a ser a ma organizativa e de prestar principal entidade impulsiocolaboração às marchas partinadora dos Santos Populares cipantes – oito –, em 2009, nesta cidade, com o apoio daa APROMAR umchados CM Loulé e conseguiu JF. Além da ma organizativa e de prestar colaboração às marchas participantes – oito –, em 2009, a APROMAR conseguiu um dos

a vila de Vila Verde do Valle. feitos mais marcantes suas Acerca desta aldeia, das conta-se edições. Chegou a acordo com que havia uma rapariga chamada a RTP para a transmissão televiMargarida, muito bonita e de siva faz marchas na famílias pobres, em quedirecto, queria ser RTP e mais RTPI. Foram minutos de feitos das suas freira, mas omarcantes seu pai tinha planos forte promoção para Quarteira. edições. Chegou apara acordo mais ambiciosos ela. com Este Recorde-se quecasasse as primeiras a RTP para televiqueria quea transmissão ela com o marchas populares foram orsiva faz em directo, na filho demarchas um rico lavrador da zona. ganizadas em 1970. Em as 1991, RTP e RTPI. Foram minutos de Margarida nunca aceitou exio desfi le foi organizado pela já forte promoção para achava Quarteira. gências do pai, pois que extinta ADEC (Associação para Recorde-se primeiras tinha vocaçãoque paraas “servir Deus” o eDesenvolvimento Económico marchas populares foram ornão queria casar com ninguém. eganizadas Cultural). em a1970. 1991, Para castigar filha eEm para que o ela desfi le foi organizado pelaele já mudasse a sua decisão, extinta ADEC (Associação para mandava Margarida ir sozinha o para Desenvolvimento o mato apanhar Económico palmas. Um e dia Cultural). o pai resolveu seguir a filha para saber se não haveria outro motivo, que a levasse a aceitar os castigos, que lhe dava, sem que se queixasse Aí, EmelaMaio de 2006,sequer. um grupo viu Margarida a apanhar as deelejovens quarteirenses fundou palmas, quando subitamente a Associação Dinamika para desurgiu à sua frente uma gigansenvolver o projecto “Quarteira te serpente. Muito assustada, Activa”, em termos de um animação Em Maio de 2006, grupo Margarida recuou, mas logo no de praia. Desde aí, dedicaram-se de jovens quarteirenses fundou mesmooutros instante apareceu uma projectos inovadoaa vários Associação Dinamika para deluz do céu e ouviu uma voz res, nomeadamente senvolver o projectoo “Quarteira “Quarteira divina que lhe disse: - “Não Surf Project”. O projecto “Boa Activa”, em termos de animação tenhas medo Margarida! PõeOnda” outro aí, bom exemplo. de praia.é Desde dedicaram-se lhe o pé em cima que ela não Segundo os seus responsáveis, “é a vários outros projectos inovadote faz mal.” E assim foi. Desde um projecto com fundos europeus res, nomeadamente o “Quarteira esse dia, o poio, pai de Margarida que visa dará a nível psicoSurf Project”. O projecto “Boa nunca mais a castigou, pois lógico e éfísico-motor, bairros Onda” outro bom aos exemplo. tinha constatado com os seus mais carenciados”. Pujantemente, Segundo os seus responsáveis, “é próprios olhos, elaBairro seria uma estão a trabalhar no da um projecto comque fundos europeus “Santa”. A notícia Abelheira, com pessoas dospsico0 aos que visa dará poio, a espalhou-se nível rapidamente, e a aldeia passou 100 anos, onde realizam uma série lógico e físico-motor, aos bairros a ser conhecida pela aldeia de de actividades: viagens à neve, mais carenciados”. Pujantemente, Santa Margarida, conservando passeios de btt, acampamentos, estão a trabalhar no Bairro da esse nome ainda hoje.dos 0surf, visitas a museus, palestras, Abelheira, com pessoas aos mergulho, entre outras. São, ainda, 100 anos, onde realizam uma série organizadores festas deàsolidade actividades:deviagens neve, riedade. OdeFestival Surfóreggae é passeios btt, acampamentos, uma das suas iniciativas. A surf, sede visitas a museus, palestras, funciona num espaço cedido pela mergulho, entre outras. São, ainda, autarquia. Conta, essencialmente organizadores de festas de solidacom o apoio da Câmara Municipalé riedade. O Festival Surfóreggae euma da Junta de Freguesia. das suas iniciativas. A sede funciona num espaço cedido pela autarquia. Conta, essencialmente com o apoio da Câmara Municipal e da Junta de Freguesia.

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Castelo O cerro do Castelo continua a ser um mistério para muita gente, nomeadamente arqueólogos e investigadores, quando à possível existência de um castelo, e em que a tradição nada esclarece, por não existirem vestígios de ruínas. Todavia, diz o povo que existia no tempo dos mouros uma grande fortificação, datada de época muito anterior. Por outro lado, o Arquivo da Casa d’Alte, redigido no início do século XIX, refere a existência de ruínas no “cabeço que se chama Castelo”, onde supostamente terá existido uma estrutura fortificada semelhante aos castelos de Paderne e Salir (taipa), integrada num conjunto de pequenas disposições defensivas daquele eixo. Apesar das pesquisas feitas pelo arqueólogo Mário Varela Gomes não foram encontrados vestígios, pese embora alguns locais terem confirmado a existência de “uns alicerces de casas (…) já muito destruídos” de que não se conhecem rastos. A existir, tratar-se-ia

de um pequeno castelo ou dispositivo amuralhado, construído pelos árabes no século XII, como parte integrante de uma defesa para as suas hostes implantadas em terras outrora habitadas pelos Celtas. Certo, porém, é que nada de conclusivo se conhece deste micro-topónimo local. Unicamente, são conhecidas esporádicas afirmações dos locais quanto ao suposto “castelo” ou por este cabeço se assemelhar geologicamente a um “castelo”, que dá o nome a um dos quatro cerros que cercam a sede da freguesia e que é cantado em versos populares. Sabe-se, sim, através de documentações subsistentes da época baixo-medieval, que o senhorio da região, após a reconquista cristã, pelos finais do século XIII, teria sido abrigo a João Gomes de Ribadeneyra (fidalgo que se encontraria ao serviço do célebre Mestre da Ordem de Santiago, D. Paio Peres Correia) e que Manuel Ataíde Ribadeneyra (17º Senhor d’Alte, e alcaide-mor de Albufeira) transformaria a região serrana de Alte, num reforçado pólo de resistência ao domínio espanhol, após a morte do seu pai (1639).

Outros sítios com encantamentos No sítio dos Mortórios (Alte) foram encontradas muitas sepulturas com objectos de barro dentro, e de que existe, ali, um forno de cal, onde aparece uma moura encantada, segundo a lenda da localidade. No sítio de Braganções, os locais referem-se à existência de um prédio urbano, cujo portal de entrada estava formado por uma pedra, onde havia uma inscrição, cujo alfabeto era completamente desconhecido. Os vizinhos diziam que eram letras dos mouros, assim como se referem ao aparecimento de mouras encantadas. No sítio da Soalheira, há vestígios de ter sido, em épocas remotas, teatro de muito antiga civilização. Ali conta-se que “certo proprietário do sítio mandou arrancar uma velha azinheira, e encontrou-lhe parte das raízes numa sepultura. Os trabalhadores, na suposição de que, ali, estivesse escondido algum tesouro, destruíram tudo. Não encontraram o que desejavam e antes ficaram convencidos de que a cova não passava de um ninho de mouros, tão extravagantes e desusados eram os objectos encontrados”. Ao sul de Alte, está o Esteval dos Mouros, denominação que traduz a existência de mouros, quando estes aqui dominaram, resumindo-se as lendas aos ocupantes do castelo de Paderne, localizado proximamente.

Na Cerca do zambujal e 44 LOULÉ magazin

Também, este sítio é cenário de lendas de mouras encantadas. O agricultor Francisco Belchior, (Torre), relata uma versão recente de um


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encantamento de uma “moira”. “Além na Cerca do Zambujal há uma oliveira com uma daroeira e um pote de dinheirão (…) Contava a minha madrinha que havia lá um encantamento (…) O meu padrinho sonhou três noites a fio com o encantamento, sem dizer nada a ninguém. Na terceira noite levanta-se e diz para a mulher o acompanhar, e foram ao local das oliveiras. Ao olhar para elas, vê uma grande serpente a enrolar-se numa oliveira e a guardar um pote de dinheiro! Apanha tamanho medo, que se lhe arrepiam os cabelos, caindo-lhe o chapéu da cabeça. Assustado, diz à mulher que ‘é um encantamento que está além, ia para o desencantar, mas já não vou’”, adianta. Dizem, que para desencantar a “moira”, ele tinha de deixar a serpente enrolar-se à roda da sua cintura, e deixar que esta lhe desse um beijo nos seus santos olhos. Belchior, e com base na avó e de alguns antigos agricultores, refere, ainda, a existência, na Cerca do Zambujal, de uma grande porta da “moirama”, com um grande túnel (abóbada e pedra), ligando a fonte à antiga vila do Zambujal.

A lenda da Igreja Matriz de Alte Esta lenda confunde-se com a história da aldeia de Alte. Contase que havia uma lavradora muito rica do Freixo Verde, que ia todos os domingos e dias santificados à missa à aldeia de Vila Verde do Valle (Santa Margarida), pois não existia, ainda, a povoação e a igreja em Alte. A missa nunca começava sem a presença da dita senhora e seus serviçais. Mas um dia ela atrasou-se muito e o capelão (estipendiado pela lavradora) começou a dar a missa sem a sua presença. A caminho da Villa, com os seus criados, e pensando, sempre, que iria a tempo de assistir à sagrada missa de Domingo, ela encontrou alguns dos seus fiéis, que já vinham de regresso. Espantada ao ver as pessoas a caminhar

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Lendas e superstições

para casa, perguntou-lhes: “- De onde vindes?” E eles responderam. “- Nós vimos da missa! Pois, a srª demorouse demasiado e o sr. capelão resolveu iniciar a missa sem a vossa presença, pois a assistência estava muito agitada com a demora!” Muito escandalizada com o facto, a dona do Freixo Verde voltou-se para os seus serviçais e disse em voz alta: “-Alto! Ordeno que se funde aqui uma igreja e ela será sede de uma freguesia!” E assim foi feito. Designaram o nome da nova aldeia pela palavra da dita morgada, Alto. Com o passar dos tempos, a palavra primitiva foi transformada em Alte, como é hoje conhecida. Esta, lenda, serviu de mote, em 2010, à exposição de fotografias antigas de Alte (pelas ruas da aldeia) – ‘Alte Aqui’, realizada pelo jovem Jorge Graça.

Fonte Santa No sítio da Fonte Santa (Alte), uma lenda foi traduzida em versos populares, sobre a epígrafe “A Fonte das Almas”, que o investigador Estácio da Veiga coligiu num pequeno romance, referenciando que a Senhora do Rosário é uma imagem de muita devoção e procurada com

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empenho na Igreja Matriz. Era uma fonte que jorrava água fresca, que ficou conhecida pela população local, como “Fonte Fadada” ou “Fonte das Almas”. Costumavam dizer que a Santa Virgem Mãe do Rosário guardava lá dentro as “almas puras como a água”. Reza a lenda, de que um rochedo escarpado se transformou em fonte de água fresca e cristalina, ante as palavras divinais da Virgem Mãe (Mãe de Jesus), de forma a saciar a sede do Menino que transportava, numa tarde escaldante de Maio, num caminho rodeado de estevas e sem olho de água próximo. A partir daqui, esta fonte ganhou e deu vida a tudo o que se acercava à sua volta, desde alecrins, manjeronas e rosas de toda a casta. A “Fonte das Almas”, a “Fonte Fadada” ou a “Fonte Santa” é como, no Algarve, o povo denomina o singelo romance-lenda (cristã), assinado por Estácio da Veiga. De acordo com o monografista d’Athaíde Oliveira, o Milagre da Senhora do Rosário está muito presente no documento escrito. Sem grandes confirmações acerca desta tradição popular e da localidade, foi decifrada a Fonte Santa como lugar da freguesia de Alte, pois “dá-se a coincidência de não ficar muito longe da Senhora da Orada (Albufeira), para quem a Virgem tecera uma capela de mirto e rosas, pouco antes de transformar um bronco rochedo em fonte de água cristalina”. Conta-se que não é anterior ao século XVII.

O prémio real Estando El-Rei D. Afonso III ocupado em correrias (…) no cerco do Castelo d’Alte (alguns textos referem que se tratava do cerco ao Castelo de Paderne, mas segundo o arquivista da Casa d’Alte, o castelo d’Alte foi conquistado antes do de Loulé, aonde terá chegado ainda antes da rendição do castelo de Paderne) houve uma grande batalha nas fraldas da serra (1249), em que D. Afonso foi derrubado do seu cavalo pelos mouros. João Gomes (Ribadeneyra) que o seguia (…) empenhado na sua defesa, teve a ventura de ferir de morte o “Miramolim” dos mouros e livrar El-Rei. À noite na sua tenda, D. Afonso perguntou a João Gomes como lhe poderia mostrar a sua mercê. Este, pediu-lhe que lhe desse por mulher Dona Mór Mendes, filha menor do Rico Homem (D. Mem Garcia), que entretanto, se recusara a dar por aquele ser um mero escudeiro, sem solar e riqueza. Contestando, D. Afonso fez de João Gomes um cavaleiro real, e para além do castelo de Miramolim (dado por direito), juntaria por senhorio todas as terras que pudesse, de sol a sol, fechar na sua carreira. Antes da manhã, João Gomes partiu no melhor cavalo d’El-Rei para a aventura. Sabendo da intenção


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de D. Mem Garcia de o matar (numa cilada preparada no cerro do Espargal), Dona Mór conseguiu avisar João Gomes. Então, numa rocha gravou uma cruz no sítio, (Cruz do Morgado), de onde havia partido. Pela fralda da Rocha Branca, passou pelo pé do cerro do Espargal, tomou Penafina, a Rocha do Mar (Rocha dos Soidos), as naves, as alcarias, a Vila Verde e ao sair do vale lhe fraqueja o cavalo, abrindo-se a terra, donde brotou uma fonte “Santa” de boas águas com que se repôs o cavalo. Depois de se acolher a Nossa Senhora da Assumpção e, com a sua ajuda, apertou o cavalo, que deu um salto de um monte ao outro, ganhando logo a rocha de onde havia partido, e ali lhe caiu morto o cavalo. Este sítio foi baptizado por “Saldo do Cavaleiro”. E assim, João Gomes ganhou um formoso senhorio com boas águas correntes, vales muito férteis, serras de muito arvoredo e uma formosa noiva com quem casou. Nesta lenda, descrita no Arquivo da Casa d’Alte, constam os sítios que delimitaram o senhorio d’Alte: Cruz do Morgado (Cruz dos Termos), Rocha Branca (Rocha Amarela), Penafina (Benafim), Rocha do Mar (Rocha dos Soidos), Nave (Nave), Alcaria (Alcaria do João), Vila Verde (Santa Margarida), Fonte Santa e Salto do Cavaleiro.

ouvem gemidos e onde às vezes aparece toda de branco vestida a sombra de D. Constança”, segundo registo no Arquivo da Casa d’Alte. Ainda, e segundo esta fonte, Pero Mendes de Ribadeneyra (5º senhor d’Alte) se terá retirado para a gruta dos Soidos em meados do século XIV, onde, numa grande capela subterrânea, viveu muitos anos de vida de eremita e foi tido como Santo. Antes de aqui se recolher, teria morto em cruel batalha, no Cerro das Covas (Atôr), o fidalgo João Madeira (Alte) “com todos da sua criação” para vingar a honra e a morte de sua mãe (D. Constança), que aquele acusara de traição ao marido.

O buraco da Texugueira Depois de violenta guerra civil, os liberais saem vitoriosos em 1834. São depostos os miguelistas, e seguem-se as perseguições a estes. É, então, que é reorganizada na serra algarvia a guerrilha miguelista, sob o comando do Remexido. Instalou-se a insegurança nas povoações da serra

e beira-serra, submetidas a repentinos assédios da guerrilhada. Muitos lavradores são mortos, ou forçados a abandonar os montes. No sítio da Torre, a agricultora Maria Belchior, conta que “os guerrilheiros passavam com os cavalos, corriam os montes todos, onde apanhavam as pessoas. Faziam judiarias, cortavam os peitos às mulheres, pegavam nas criancinhas e jogavam para dentro do fogo a arder. Outros atavam as pessoas aos rabos dos cavalos e lá iam com elas a arrastar…Quando eles estavam a passar, as pessoas daqui iam-se esconder nos buracos e mato cerrado da rocha da Texugueira... As mulheres procuravam ir, sempre, a casa, fazer a comida, sem serem vistas. Caso contrário, estavam desgraçadas”. “Um dia, uma tal mulher estava fazendo as papas, quando ouviu os cavalos. Ao entrarem em casas, um deles ainda ameaçou a velhota com uma espadeirada, que outro contrariou, ao mesmo tempo que a velha lambia o colheiro das papas. Ela foi, depois, ter com a família com o tacho à cabeça”, refere, citando uma outra situação passada noutra casa, em que queriam matar a mulher que lá vivia. “Como eles aparentavam ter fome, tratou de lhes arranjar de comer e de lhes encher a barriga. Depois, foram embora, sem lhe fazerem mal”. Outros contam, que viram os seus montes incendiados pelos miguelistas.

Lenda do alcazar Por indústria do fidalgo, João Madeira e Frei Marcos, João Mendes, estando na guerra com Castela, denuncia que D. Constança procedia contra sua honra. Volta aforrado a Alte, entaipa as portas e as janelas do “alcazar” e para lá desviou a ribeira, morrendo nela afogada sua esposa, seu filho menor, seus criados e por engano, Frei Marcos, que dera a denúncia falsa, como depois se reconheceu. Nas ruínas do “alcazar “existe, “um tanque sob o qual corre uma grande casa subterrânea, onde se

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factos e curiosidades

Orografia Esta freguesia tem dentro da sua área geográfica, elevados cerros. O mais conhecidos é a Rocha dos Soidos, a 467 metros sobre o nível do mar, fazendo parte do sistema calcário do barrocal. Do seu cume, se avista o mar e se vislumbra toda a freguesia. Tem uma belíssima vista panorâmica. A Rocha Amarela, a 315 m, a Francilheira (a nordeste de Alte), a 273m, a Rocha Maior ou Bella Vista, a 405m, o Castelo, a Atalaia, a 216m, o Cerro do Azinhal, a 423 m e a Gralheira, a 316m são outras elevações. O próprio templo está a 206,92 m de altura, e a margem da ribeira junto à aldeia altense, a 184,25m, tendo ao redor os cerros da Galvana, Francilheira, Castelo e Rocha Maior, um dos motes inspiradores do poeta Cândido Guerreiro. A Rocha dos Soidos é a zona mais elevada da freguesia, tendo outrora servido de referência dos navegantes.

Hidrografia As ribeiras do Arade e de Alte são as mais importantes linhas de água que atravessam esta freguesia do concelho de Loulé. Ao longo dos tempos, estas ribeiras têm semeado vida pelos campos que atravessam, valorizado os prédios marginais e feito moer centenárias azenhas e moinhos de água. A primeira atravessa o norte da freguesia, junto à estrada que liga o povoado de Águas Frias ao Zambujal, serpenteando entre colinas e regando as várzeas com as suas águas represas de antigos açudes (aqui é visível o recém-construído açude das Águas Frias). A segunda nasce na Quinta do Freixo (sítio dos Paniachos ou Paniais), correndo em leito sinuoso, tomando o nome de ribeira de Paneais ou Paniais. Ao chegar às proximidades de Alte, segue entre margens direitas e alimenta-se das águas da Fonte Grande. Corre então entre penedos, salta de açude em açude, passa a Fonte Pequena segue até à represa do Moinho da Levada, alcança o Salto da Ponte (Estrada Nacional) e percorre

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mais 300 metros até se precipitar na Queda do Vigário. Encaminhando-se para levante, recebe a ribeira dos Fojos (Barrocal dos Fojos) e vai juntar-se à Ribeira de Algibre (após um curso de cerca de 14Km de extensão) até chegar a Paderne, formando depois a Ribeira de Quarteira, como é conhecida na parte mais meridional. A pequena Fonte Santa (Alte) é, também, contribuinte. O ribeiro dos Fojos, o ribeiro das Águas Frias e o ribeiro do Zambujal são igualmente considerados.

Hidrologia A freguesia de Alte é possuidora de bastas fontes de água potável muito apreciada pelos locais e visitantes. As fontes de Alte são as mais importantes. Outrora, a Fonte Santa abastecia uma significativa parte da população altense. Por toda a freguesia estavam (ou estão) assinaladas as fontes/poços de Vale de Beja, Assumadas, Casas, Monte Ruivo, Cascalheira, Monte


factos e curiosidades

das Sarnadas, Macheira, João Andrés, Conqueiros, Serro, Arneiro, Termos, Zambujal, Arez, Ronceiro, Santa Margarida, Soidos e Águas Frias. Além destas águas comuns, Alte possui, também, um importante e abundante lençol freático, integrado no eixo Querença/ Silves.

População Até há poucos anos, Alte foi considerado um dos aglomerados populacionais mais importantes do interior algarvio, inserido numa gola que se estende desde o Cabo de S. Vicente até ao Guadiana, na denominada beira-serra. Em 1565, cerca de 250 anos depois da presumível fundação da Igreja

Matriz, e um século depois da hipotética criação da capela de S. Luís, o Povo de Alte tinha 70 freguezes (a freguesia registava 200) documento da Visitação da Igreja Matriz de Alte, pelos mestres de S. Tiago. Viviam na meia-encosta descendo da Igreja até à margem direita da ribeira, em direcção ao antigo paço, que se situaria então no limite oeste do povoado. Desde aquela data, a aldeia cresceu, quase duplicando em dois séculos: em 1758 tinha 130 fogos (metade do número de agregados familiares residentes em 1991). Entre 1758 e 1950, em quase dois séculos, a população quase triplica e a aldeia cresce. Em 1747 (data do Diccionario Geográfico do Padre Luiz Cardoso), registava 489 fogos, e no Mappa Geral Estatístico relativo ao “anno económico” de 1864-1865, 719 fogos.

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factos e curiosidades

Em 1890, Alte registava 4.846 habitantes, sendo 2.491 masculinos e 2.355 femininos. Entre 1911 e 1981, assistiu-se às seguintes variações na população residente em Alte: 3.313 pessoas (1911), 4.658 (1940), 4.148 (1960), 2.923 (1970) e 2.449 (1981) para uma área de superfície de 145,7 km2 (inclui Benafim). Em 1991, a freguesia de Alte tinha 2.352 habitantes (Censos 91). A população cresceu aceleradamente até 1950, atingindo 7.120 fregueses, mas até 1970, registou-se um acentuado decréscimo, a que não é alheio o pendor da emigração. Ainda assim, entre 1940 e 1981, apresentava uma considerável densidade popula-

cional. Entre 1950 e 1991, Alte perdeu apenas 44%. Enquanto a freguesia de Quarteira registava, em 1991, uma densidade populacional de 334,8 hab/km2, a freguesia de Alte tinha, apenas, 25 hab/km2. Alte possui ainda uma elevada taxa de envelhecimento (38,7% de pessoas com mais de 65 anos), com natural redução da taxa de natalidade (10,5% de jovens menores de 18 anos, em 2011). De acordo com estes Censos de 2011, a freguesia de Alte regista 891 famílias, 1.987 residentes (983 homens e 1004 mulheres), 208 menores de 18 anos, 768 maiores de 65 anos e 172 estrangeiros. A aldeia-sede regista

417 residentes (139 maiores de 65). Seguem-se Santa Margarida com 138, Esteval dos Mouros 117, Monte Brito 115, Monte da Charneca 81, Azinhal 78, Sarnadas 74, Soidos 73, Águas Frias 64 e Monte Ruivo 59.

Moléstias endémicas Em 1850, um estudo de Charles Bonnet, repartia o concelho de Loulé em três áreas distintas quanto à acção das moléstias endémicas. Enquanto a primeira se centrava na faixa litoral, a segunda estava focalizada na zona do barrocal, (de 150 a 300 metros) e a terceira zona, de 300 metros até ao limite do concelho pelo lado norte (serra), desaparecem as moléstias endémicas, excepto, e isso raramente, nas aldeias encostadas às ribeiras, onde existiam águas estagnadas e alagamentos de esparto, ou tremoços a adoçar. Esporádica e exoticamente, surgiam, também, de anos a anos, as chamadas febres tifóides, sem no entanto, serem classificados de moléstias endémicas desta freguesia.

As minas

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Parece não ser assente que os fenícios ou cartagineses exercessem na antiga Ibéria a indústria mineira, a julgar pela escassez de registos ou trabalhos que se lhes possam atribuir. Já dos romanos encontram-se muitas provas, nomeadamente minas de cobre e ferro. Em Alte foram encontrados muitos vestígios dos seus trabalhos de exploração. O monografista Ataíde Oliveira registara, no final do século XIX, nesta freguesia, doze minas de cobre, sendo depois de Querença, a freguesia do concelho de Loulé com maior número de jazidas. Em 1868, foram registadas 9 minas de cobre na


factos e curiosidades

freguesia. Em 1890, foi registada mais uma mina de cobre. Em 1895, foram registadas mais duas minas de ferro e mais duas de cobre. Em 1897, registou-se mais uma mina de manganés. Tendo como base documentos da Idade do Cobre, Estácio da Veiga diz, em finais do séc. XIX, que uma das principais minas de cobre de Alte foi primitivamente explorada na última fase do período neolítico. Acerca do minério (cobre) destas minas d’Alte, o engenheiro Ferreira Borges disse: “…é da mais subida lei que tem aparecido no país”. Entre as muitas minas de cobre registadas, as principais centravam-se na Cerca da Mina e na Atalaia, a 1,5Km de Santa Margarida, antigamente exploradas pelo conde de Farrobo, sem se saber, ao certo, até onde chegou essa exploração. Talvez, tenham sido as últimas em actividade. Esta freguesia possuía, também, importantes explorações (pedreiras) de ardósias. Em 1905, o francês Jesus Boudriot, tencionou explorar as minas de Alte, Salir e Querença, sem, no entanto, o conseguir.

Rede viária No último quartel do século XIX, o concelho de Loulé era atravessado por duas estradas distritais (Faro-Lagos e TaviraLagos) e possuía cinco estradas municipais, entre as quais uma para a povoação de Alte. Na segunda metade do século XIX, os efeitos da Revolução Industrial entoaram e assistiu-se aos melhoramentos da rede viária. A ponte sobre a ribeira de Alte já existia em 1840 e a estrada nacional que liga Alte a Loulé foi aberta a “macadame” no terceiro quartel do século XIX. Nesta altura, a ligação de Alte a S. B. Messines, somente, ficou

concluído o troço pertencente ao concelho de Silves, sendo a parte de Loulé concretizada depois da República, depois de cerca de 40 anos de reclamações. Nos caminhos para a serra, a circulação fazia-se a pé e os transportes possíveis eram os burros, machos e cavalos. Durante largos anos, Alte lutou pela construção de um acesso à estação de caminho de ferro de S. Bartolomeu de Messines. Era uma das legítimas aspirações do povo altense”. Em 1908 foram expropriados os terrenos para este lanço, e após turturantes anos de espera quanto ao desencandear das obras, as mesmas foram concluídas graças a acções do Dr. Cândido Guerreiro junto das autoridades competentes no que foi acompanhado com o empenho pelo digno presidente da vila José Fernandes Guerreiro”, notícia “O Povo Algarvio”. Alguns anos depois, Paulo Madeira insiste na matéria, adiantando que a falta de infraestruturas rodoviárias era um dos principais problemas das gentes d’então. Uma década depois, o “Ecos de Loulé (8/2/1920) conta que foi concedida uma verba de 200 contos para elaboração do estudo (reparação) da estrada Benafim/Alte, devendo-se aos esforços do tenente-coronel Águas, deputado pelo Círculo de Silves. Em 1920, Alte reclamava a falta de arranjos das ruas, e do estado lastimável da entrada na povoação, ao mesmo tempo que a Junta pedia “um subsídio (…) para poder pagar as despesas feitas com o calcetamento das ruas d’aquela povoação, visto ser-lhe inteiramente impossível satisfazer tal importância, devido ao precário estado financeiro em que se encontra”. Em 1926, o presidente da Junta dirige-se à Câmara, expondo a conveniência de ser aberta uma rua na margem direita da ribeira, desde a ponte até S. Luís, única maneira de se dotar a povoação com uma entrada acessível a carros.

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Praga de gafanhotos Em sessão de 14 de Maio de 1755 acordou a Câmara que os moradores das freguesias do Ameixial, Salir, Alte e Querença fossem obrigados, pena de 500 reis, a entregar ao Escrivão da Câmara um alqueire de gafanhotos, quando a pessoa fosse cabeça do casal de quatro pessoas, e meio alqueire quando de menos pessoas. Em 27 do mesmo mês e ano, duplicou a quantia de gafanhotos, que seriam entregues ao escrivão, e por este mandados enterrar. A praga de gafanhotos tinha aumentado na região.

Eclesiástico No século XIX, o concelho de Loulé possuía um vigariado da vara, com párocos colados a Salir, S. Clemente, Alte, Almancil e Ameixial, e parocos encomendados em S. Sebastião (Loulé) e em Boliqueime. Havia coadjutores em S. Clemente, S. Sebastião, Salir, Alte e Boliqueime. No Inventário das Confrarias do Concelho de Loulé,

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mandado elaborar por José dos Santos Gallo (Administrador do Concelho), estava mencionada a Confraria do Santíssimo Sacramento (Alte). Aquando da Separação do Estado das Igrejas, (1911), foi criada em Loulé, uma Comissão Concelhia de Inventário, composta por um homem bom de cada paróquia. Alte estava representada por Isidoro Rodrigues Pontes. Entre outros, o padre Bernardo Luís, Amadeu Ramos, Leonel, Diogo Ramos, Rufino, Francisco da Costa Rita, José Rosa e Jorge Vicente Ramos, foram párocos desta freguesia e deixaram muitas saudades. Nas últimas décadas, a paróquia de Alte foi liderada pelo padre Armando Amâncio que esteve nove anos nas paróquias de Alte, Ameixial e Querença, antes de se transferir para as paróquias de S. Sebastião de Lagos e Odeáxere. Entretanto, e em sua substituição, foi nomeado, em Agosto de 2008, o padre Carlos de Matos, como pároco das paróquias de Alte, Ameixial e Querença. Veio das paróquias da Luz de Tavira e Santo Estêvão.

Administração local Ainda naquele século, a comarca de Loulé tinha uma conservatória

privativa. Tinha ainda, a respectiva autoridade administrativa, um secretário e um amanuense, e mais três juízes de paz: 1º compreende as freguesias da vila, Querença, Boliqueime e Almancil; o 2º, Alte; e o 3º Salir e Ameixial. Na sessão de 31 de Dezembro de 1807 foram eleitos para desempenhar no ano de 1808, os cargos de oficiais na Administração Local do Concelho de Loulé, Manuel Guerreiro (Povo de Alte) para Juiz de Vintena da Freguesia de Alte e João José Guerreiro (Povo de Alte) para Escrivão dos Testamentos da Freguesia de Alte. Recorde-se que, nesta época, a vila e o termo de Loulé integravamse na comarca de Tavira.

Instrução pública No último quartel do século XIX, e além das escolas particulares pagas pelos chefes de família, o concelho de Loulé tinha nove escolas públicas, (sexo masculino) e quatro (feminino). “Antes da República só havia uma escola na aldeia-sede para toda a freguesia, frequentada por grande número de crianças. O seu funcionamento é deficiente, e em quinze anos, apenas cinco rapazes fazem o exame da quarta classe, e quinze da terceira” (O Aldeão, em 1913). Depois de alguns anos de reivindicações locais, o novo Regime constrói uma nova escola em Alte e outra em Benafim Grande, mas nenhuma na serra. A situação voltou a piorar nos anos vinte com o encerramento, por alguns anos, das duas escolas de Alte (masculina e feminina), funcionando apenas a escola oficial de Benafim Grande e a escola móvel do Espargal para uma freguesia de 7.000 habitantes. O Estado atrasa-se no pagamento da renda ao senhorio de um dos prédios e o outro cai em ruínas por falta de manutenção, sendo reaberta uma destas escolas, em 1925. A partir de meados dos anos


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50, é construída a escola nova em Alte. São criadas mais dez escolas no interior da freguesia e abrem algumas escolas para adultos (Zambujal), no âmbito do Plano dos Centenários, concebido pelo Governo da Nação, em 1940. A partir de 25 de Abril de 1974, foi criada a Telescola de Alte, com o apoio da autarquia.

Projecto da barragem cancelado Com base no Inventário do Cadastro das Infra-estruturas Hidráulicas e de Saneamento Básico foram identificadas três unidades hidráulicas, para uso de rega ou combate a incêndios. São as barragens/açudes do Córrego da Picota (Barranco de Santa Margarida), terra de rega; Fontaínhas (Ribeira do Arade), terra de rega; e Vale das Poças (Barranco do Gavião), terra de rega. Entretanto, em Santa Margarida, o projecto de construção de uma barragem no vale da Macheira que iria alagar cerca de 100 hectares de terrenos pouco férteis, (pertencentes a cerca de 50 proprietários), ficou sem solução, apesar das vantagens reclamadas pelos residentes: o incremento da actividade agrícola e o fomento da pesca e recreio. O financiamento da construção seria suportado pelos fundos comunitários, mas tratandose de uma barragem de interesse local, servindo um pequeno número de habitantes, as indemnizações aos proprietários dos terrenos alagados não eram abrangidas. A constituição de uma associação, (futura proprietária da barragem, e responsável pela conservação e exploração da obra), poderia ser uma solução. Teria de estabelecer um acordo com os donos dos terrenos alagados e os beneficiários. Este projecto inseria-se na generalização de novas técnicas de obtenção de água para rega.

Chuva diluviana Nos livros do registo paroquial da freguesia de Alte encontra-se uma “Memória”, que diz: “Em dia 3 de Maio de 1844, das onze horas até às duas da tarde, choveu na área desta freguesia, com tanta abundância, que pareceu um dilúvio. Formou-se o temporal, dos lados de S. Bartolomeu de Messines, uma parte desencadeou-se e cortou pelos sítios da Julia, Benafim Pequeno, Freixo e Penina, e outra parte pelas Águas Frias e Zambujal. E foi tanta a água que choveu em tão curto espaço de tempo, que causou pasmo á gente mais velha da povoação. Encheu a ribeira extraordinariamente; o pomar do capitão José Cândido foi assaltado pela água, e galgou a ponte, indo espraiar-se em enorme corrente pela Varzea. Parecia tudo um mar até às paredes da povoação. Inundou o pomar onde mora o José

Martins, rasgou toda a terra e avançou contra as propriedades vizinhas. Não há exemplo de tamanho dilúvio e em tão pouco espaço de tempo”.

A guerrilhada Tendo o Visconde de Molellos ordenado a Remexido e ao major Camacho se reunissem e combinassem, no máximo acordo, em fazer uma aclamação de D. Miguel em terras do Algarve, dirigiu-se o Remexido a Almodôvar, onde se achava Camacho, e aí combinaram descer ambos ao Algarve, encarregando-se Remexido de fazer essa aclamação em Albufeira e em todas as terras a barlavento desta vila, e Camacho de fazer igual aclamação em Loulé e em todas as terras a sotavento desta vila. Em 19 de Julho de 1833 entrou Remexido com a sua

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gente em S. Bartolomeu de Messines. Camacho, somente, entrou em Loulé no dia 24. Era sabido, em Loulé, que a guerrilhada se organizava na serra (Alte e Salir), e que incluía indivíduos que gostavam de praticar cenas próprias de tarimbeiros nos pequenos povoados do interior. E Alte sofreu alguns desses ataques, sobretudo por parte dos homens do Remexido. A 21 ou 22 de Julho, chegou a Loulé, o Rocheta (Quinta do Freixo), a contar e prevenir os seus moradores de que uma grande guerrilhada que pretendia entrar na vila, depois de a terem cercado. Os graciosos não deram crédito ao honrado velho, e só mais tarde, quando se viram efectivamente cercados, um dos moradores se lembrou das informações do supra-mencionado. Era tarde demais. Nessa altura, muita gente foi assassinada tanto na vila, como nas freguesias do município. Desse mesmo modo, foi morto em Albufeira Joaquim Cândido, filho de Alte. Este homem revelou-se um herói em Albufeira. Alguns paisanos vendo quão brioso e valente era aquele cidadão escolheram-no para comandante. Bateram-se todos com valentia, até que lhes faltou pólvora e balas. Assinada a capitulação, recolheu-se Cândido a casa do padre Neto, da mesma vila, mas ali o foram os guerrilheiros buscar e o assassinaram a tiro.

Homenagens a Cândido Guerreiro Em Setembro de 1920, a Câmara de Loulé recebeu um ofício da Junta de Freguesia de Alte informando querer prestar uma homenagem, embora simples, ao ilustre Poeta Cândido Guerreiro, filho daquela terra. Resolveu, por unanimidade, na sua última sessão, e confirmada pela Comissão Municipal, dar à rua Nova de São Luís, o nome da rua Dr. Cândido Guerreiro. Em 1932, o Dr. Cândido Guerreiro,

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ex-presidente da Câmara de Loulé, foi agraciado com o oficialato da Ordem de Santiago da Espada, destinado a galardoar os seus méritos artísticos e literários. Em 1944, a Câmara de Loulé instituiu os Prémios Municipais destinados a galardoar os estudantes melhor classificados, naturais do concelho, filhos de pais louletanos ou que tenham residido, pelo menos, 10 anos consecutivos no mesmo. Aos alunos do 1º ciclo liceal era atribuído o Prémio Cândi-

do Guerreiro. Refira-se, ainda, que este foi o primeiro altense a tirar um curso universitário, sendo recebido em triunfos pelos seus conterrâneos. Formou-se em Coimbra, em Direito, mas nunca esqueceu as suas origens. Em Alte, sua terra natal, existe a Escola Profissional “Cândido Guerreiro” e um monumento erigido na Fonte Pequena, de homenagem ao poeta altense, inaugurado a 1/5/1955. À memória do Grande Poeta foram gravados interessantes sonetos.


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Saneamento básico As questões de saneamento básico geraram sempre fortes preocupações junto das gentes da aldeia e dos responsáveis pelas juntas de freguesia e do Município de Loulé. Até ao primeiro quartel do século XX, a Câmara limitava-se ao restauro dos poços públicos (como o de Benafim Grande, em 1920) e à limpeza e arranjo das fontes públicas (Santa Margarida e Benafim, em 1922), o que, naturalmente, não chegava para contentar as pessoas. O povo de Alte, em 1925, através do jornal local (A Folha de Alte) revolta-se: com a falta de equipamentos públicos e de outros investimentos que saciassem as necessidades dos locais. Depois do 25 de Abril de 1974, a autarquia de Loulé começou a dispor de mais verba para investir na modernização do concelho. Nos últimos 20 anos foram instaladas na aldeia as redes de água e de esgotos, com ligação ao domicílio (1981), bem como a ETAR (Estação de Tratamento de Águas Residuais) (1989). A partir deste ano, a Câmara disponibilizou um carro de limpeza

para a recolha do lixo dos caixotes distribuídos pela aldeia.

Gripe pneumónica Quando eclodiu a Gripe Pneumónica no Concelho de Loulé, o número de Facultativo do Partido, no “Quadro de Pessoal” da Câmara estava, desde há seis anos, reduzido a dois médicos o Dr José Bernardo Lopes e o Dr. António Duarte Lima Elias, sabendo, que o primeiro era além de Facultativo do Partido, Subdelegado de Saúde, Administrador do Concelho e Presidente da Comissão Administrativa Municipal (1918). Nesse tempo, faleciam muitas pessoas por mês, por falta de assistência médica em todo o concelho de Loulé. Em Alte aconteceram muitas mortes e surgiram muitos protestos por parte dos altenses. Um dos protestos partiu José M. de Oliveira Ramos, residente em Alte, dizendo que “o facultativo pertencia visitar semanalmente aquela freguesia e há dezasseis meses que não o faz, apesar de ter grassado ali ultimamente a gripe pneumónica que

fez tantos casos fatais ocasionais, não havendo assistência médica e agora grassou a varíola”. O Dr Bernardo Lopes deixou oficialmente o cargo de presidente da Comissão Administrativa no dia 2 de Janeiro de 1919, e o Dr Duarte Lima pediu a exoneração de Facultativo do Partido a 9 de Julho do mesmo ano, tornando a situação mais problemática. Refira-se que, o primeiro desempenhou um papel corajoso no combate a Peste Pneumónica.

Caixas postais em Alte Por solicitação dos povos do sítio do Espargal (Alte), a Câmara resolveu apresentar ao Ministro do Fomento o estabelecimento de uma “Caixa Postal “no mencionado sitio e apresentar à Administração Geral dos Correios e Telegrafo pedido de instalação de uma estacão telefónica e um telegrafo/postal no Povo de Alte, por reconhecer que é um melhoramento indispensável ao grande desenvolvimento comercial da freguesia. Em 1922, o jornal “A Folha de Alte” refere que o” telégrafo apesar

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das promessas políticas ainda não foi instalado”. No ano seguinte, recorda que Alte tem uma estação telegráfica desde 1916…”mas apenas no “Diário do Governo”. O jornal “Progresso” noticia, em 4/3/1923, que em Loulé ninguém se interessa pela instalação de uma rede telefónica. A partir de 1925, seria, então, criada a estação telefónica e telegráfica de Alte, sem no entanto ser concretizado o projecto da linha férrea de Messines a Tavira, servindo os povoados da beira-serra de Alte, Salir, Querença, S. Brás, Santa Catarina e Santo Estêvão.

“A Musa” Trata-se de uma escultura em mármore branco e cinzento da autoria do escultor Vítor Picanço. Simboliza a musa da Ribeira de Alte “Naia”, nome atribuído pelo poeta Emiliano da Costa. É, simultaneamente, uma homenagem à mulher altense, com relevo para as lavadeiras que neste local lavavam as suas roupas. Foi inaugurada em Abril de 2007. Localiza-se na Fonte Pequena. Contudo, esta obra parece dividir os altenses, quer idosos, quer jovens, que dizem destoar do contexto paisagístico local. Uma figura escultórica de uma mulher junto de uma pedra de lavar adequava-se melhor, asseguram. Também, a ribeira do Arade, na zona das Águas Frias e Corte Bucho, era muito procurada pelas lavadeiras locais para lavarem e branquearem as suas “farpelas”. E mantiveram estas milenares práticas, até há bem pouco tempo, quando começaram as despertar as canalizações de água e as máquinas de lavar roupa.

Política Em campanha eleitoral, Paulo Madeira foi a Alte acompanhado de Manuel Martins Farrajota. “Alte está farta de ser desprezada

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pelos mandões de Loulé, que prometem estradas e ruas, que nunca serão feitas nem consertadas. Alte vai libertar-se da tutela desses mandões, organizando muito brevemente a sua Comissão Paroquial Republicana (…)” e inaugurando na mesma ocasião o Centro Republicano Altense (jornal O Povo Algarvio, nº42, de 2/7/1910). A implantação da República, deu origem a um certo período de euforia política vivida, particularmente, na aldeia de Alte, promovido pelo director de “O Povo Algarvio”, onde (Paulo Madeira), realizou um comício de propaganda republicana que contou com quase todos os habitantes da freguesia, lotando o vasto adro da igreja paroquial local. Tomando a palavra, Paulo Madeira indicou para presidir António Vaz Mascarenhas, presidente da Comissão Municipal de Silves, escolhendo para secretários os altenses Manuel da Palma Vieira e Isidoro Rodrigues Pontes. Refira-se, também, que as primeiras eleições autárquicas para a Câmara de Loulé (9/7/1913) contaram com a participação do altense Francisco Xavier Cândido Guerreiro, um dos 24 cidadãos eleitos vereadores efectivos. Com a implantação da República, constitui-se em Alte o Registo Civil, sob a direcção de Isidoro Pontes, Sebastião Sequeira, Francisco Machado e Manuel Rodrigues Caixeiro (militantes republicanos), que passaram a chefiar, também, a Comissão Administrativa da Junta da Paróquia, (depois Junta de Freguesia), e criam em 1916, um Sindicato Agrícola e a Caixa de Crédito Agrícola Mútuo. O Centro Republicano Altense, adere em 1912, ao Partido Democrático então no Governo. Os monárquicos aderem, na aldeia, ao Partido Evolucionista Republicano. Os dirigentes das duas forças políticas na aldeia de então – republicanos e monárquicos – pertencem ao mesmo grupo social de comerciantes e proprietários agrícolas. A família Nunes, por exemplo, pertencia ao Partido Monárquico. Eram proprietários da casa, onde é hoje, a Casa d’Alte, mandada construir no final do século XIX.

Grupos sociais O Morgado de Alte e o da Quinta do Freixo (então incluída na freguesia) eram as únicas grandes propriedades existentes nos finais do século XIX. Neste período, grande parte dos domínios dos Condes de Alte está já dividida e aforada, cujo aforamento viria a ser abolido depois do 25 de Abril (Março de 1976). Os senhores d’Alte, que não vivem na aldeia desde finais do século XVIII, conservam sob o seu domínio as terras mais ricas (Quinta do Morgado). Um feitor ocupa-se destes prédios e arrenda as pequenas courelas da sua extensa horta às gentes da aldeia e de lugares vizinhos. Os lavradores mais abastados possuem médias e grandes explorações de solos férteis, (na beira-serra e barrocal) e algumas propriedades foreiras (Naves e o vale de Santa Margarida). Produzem em abundância os frutos locais, fabricam azeite e semeiam leguminosas e cereais. Cabras, ovelhas, vacas, cortiça e aguardente completam a riqueza da terra. Os mais ricos vivem na aldeia-sede e acumulam os lucros da venda dos frutos secos e cereais, com a indústria artesanal do esparto. Em 1913, Isidoro Pontes, então vereador da Câmara de Loulé, ao tomar conhecimento de uma postura aprovada na sua ausência, que ditava o lançamento de impostos sobre o consumo de artigos de esparto e palma, demite-se, considerando que “se pretende matar a freguesia que

tão poucos recursos conta e que vive exclusivamente desta pequena indústria” (O Aldeão, 1913). Nos anos vinte, cresce o número de industriais de esparto, que passa de menos de meia-dúzia (nos primeiros anos da República) para mais de dúzia e meia, instalados em Alte, Benafim Grande, Santa Margarida, Esteval dos Mouros e Espargal. Nos sítios mais distantes da serra, como Águas Frias e Corte Bucho, as famílias semeavam o linho e teciam o soriano. No barrocal, os mais pobres trabalhavam os fios que tiravam da própria piteira, depois de demolhadas, enxugadas e ripadas.

Altenses emigrantes Com o progressivo desaparecimento dos destinos de Espanha e de Gibraltar dos registos dos passaportes, os emigrantes portugueses procuraram rumar a outras paragens desde o segundo quartel do século XIX até aos anos trinta do século XX, dirigindo-se sobretudo do Algarve, para os países sul-americanos, em especial Brasil e Argentina. Da freguesia de Alte registaram-se várias saídas. Mas, e de acordo com o Fundo do Governo Civil, Livro de Registos dos Passaportes, entre 1901 e 1910, verifica-se, apenas, a saída de dois altenses: um em 1901 e outro em 1908. Geralmente, era sobretudo gente ligada às pequenas pro-

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priedades, artesãos e empregados do comércio. Nos anos 30 e 40, a emigração diminui na freguesia de Alte para o que terá contribuído a “Campanha do Trigo”. Entretanto, as migrações internas continuam para os campos e para as minas do Alentejo, zonas industriais do Sul e Centro do país, e pedreiras nos arredores de Lisboa. Esta voltou a registar um acentuado crescimento nos anos 50-70, especialmente para, França, Alemanha, Canadá, Austrália, Argentina e Estados Unidos, países de acolhimento de muitos emigran-

tes altenses que procuram melhores condições de vida.

A aldeia fantasma Cenário de história mais recente é a Rocha Amarela, aldeia abandonada do barrocal. Dos seus quinze ou vinte fregueses, só restavam quatro nos finais

dos anos setenta, quando Zé d’Alte (José Vieira) os foi entrevistar para a coluna “Conversando”, no Ecos da Serra. “Não temos caminho, não pode vir aqui um médico em caso de necessidade, água só a quatro quilómetros nas fontes de Alte (…) Os habitantes têm saído quase todos, uns para o Povo de Alte, outros para outros lados. Já somos velhos (…) mas se arranjassem o caminho, em vida, não andaríamos aos trambolhões aí com as pedras e, na morte, seria mais fácil trazerem-nos para Alte”, confessaram na altura. O caminho não foi arranjado e os seus últimos moradores, já velhos, acabaram por partir, um a um. Da aldeia em ruínas, podem-se observar casas antigas com as respectivas estruturas de apoio (fornos, palheiros, pocilgas e cabanas), de paredes de pedra e barro vermelho. Hoje, existe um bom acesso mas a aldeia está mergulhada numa solidão espectral e fantasmagórica.

PDM de Alte

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No Plano Director Municipal (PDM) de Loulé, aprovado em 1994, o núcleo urbano antigo de Alte é classificado como um dos espaços culturais do concelho, juntamente com Boliqueime, Querença, Salir e S. Lourenço de Almancil e com a zona histórica de Loulé (artº59). O objectivo visa a preservação, recuperação e reabilitação das características da malha urbana e da linguagem arquitectónica destes antigos povoados, tal como se apresentavam em meados do século XX. Em Alte, não foi até à data elaborado nenhum Plano de Salvaguarda, mas foi lançado em 2000 pela Câmara Municipal de Loulé, com o apoio do Mecanismo Financeiro do Espaço Económico Europeu, o Projecto de Reabilitação Urbana de Alte (PRUA), que inclui duas acções que visam especificamente a recuperação do património construído da zona antiga de Alte, onde se realça a colocação de cabos subterrâneos, remoção de antenas e de cabos exteriores, assim como a elaboração de um manual ou guia do construtor.


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Edifícios de interesse patrimonial Além dos edifícios históricos mais emblemáticos, Alte possui outros com particular interesse e que marcam o seu espaço cultural, devendo igualmente ser preservadas as suas características arquitectónicas. Nesse sentido, é sugerida a classificação de Imóveis de Interesse para a antiga Casa do Povo de Alte, a casa de Lurdes Madeira (na Rua da Igreja), a Casa d’Alte, a casa com pátio fronteiro no Largo da Igreja, a Casa do Poeta Cândido Guerreiro, a casa principal do Largo José Graça Mira e a casa onde viveu Isidoro Pontes. O antigo lagar sobre a ponte (onde foi construído um 1º andar da habitação dos proprietários) e as casas antigas, nomeadamente do tipo urbano burguês com molduras e soco em pedra, foram igualmente referenciados.

Altenses desentendidos Uma história que apaixonou os louletanos de outros tempos foi o caso despoletado por dois altenses: João de Deus, director do jornal “O Aldeão”, e o Dr. Cândido Guerreiro, então presidente da Comissão Administrativa Municipal de Loulé. Corria o ano de 1912, e logo nos primeiros números do periódico, dito acérrimo “defensor dos interesses locais”, João de Deus escreveu um artigo sobre a estrada entre a então vila de Loulé e a povoação de Alte, acusando a Câmara Municipal de Loulé de ser responsável pela não construção da obra. Nesse artigo, o jornalista, além de reivindicar a estrada, também acusava de corrupto o presidente do Município. Dias depois, Cândido Guerreiro e João de Deus encontraram-se, frente

a frente, e o presidente da Câmara deu ordem de prisão ao jornalista. Este, só foi solto, volvido meio-dia, tendo escrito depois um outro artigo, insultando ainda com mais vigor o autarca, dizendo que os seus actos eram um atentado à liberdade de imprensa. O caso foi a tribunal e a sentença recaiu não sobre João de Deus, mas sobre o presidente da Câmara de Loulé, acusado de ter utilizado indevidamente o seu cargo. Cândido Guerreiro foi, por esse facto, obrigado a pagar uma multa de um conto de réis, na altura uma grande fortuna. Esta foi uma das

batalhas travadas entre este jovem republicano e Cândido Guerreiro, mais tarde acusado de ter vendido “os votos ao inimigo”. É esta a faísca que incendeia a chama das acusações d’”O Aldeão” ao presidente da Comissão Administrativa Municipal, que chama várias vezes a depor e dá voz de prisão a João de Deus, cansado de vir de macho de Alte a Loulé. Se Cândido Guerreiro passou à história como poeta, João de Deus ficou esquecido nas brumas do tempo, que nunca tolerou os poderes distantes e as promessas descaradas e não cumpridas.

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Fundação da banda filarmónica de Alte Segundo antigos testemunhos, a banda filarmónica de Alte foi fundada pelo Padre Bernardo Luís (pároco local), nos anos 20 do século passado. Como reunia grandes conhecimentos musicais, resolveu fundar a banda, reunindo um grupo de altenses conhecedores de música, ou que manifestassem interesse na sua aprendizagem. Mais tarde, e aquando da colocação do Padre Amadeu Ramos, nesta paróquia, este passou a assumir a sua orientação, surgindo depois o sr. Domingos (irmão da mãe do D. António Carrilho, Bispo do Funchal), que sabia de música, ficando a reger a banda durante alguns anos. De acordo com Lurdes Madeira, esta banda “ainda durou um certo tempo. Era muito requisitada e corria todo o Algarve, pois, nesse tempo, não havia muitas filarmónicas na região, e esta era uma das principais”. Também, José do Vale recorda-se de espreitar os ensaios da banda numa casa que “existia no adro da Igreja”. “Seriam para aí uns quinze elementos e usavam instrumentos acobreados. Todos sabiam de música, e essa banda tocava em casamentos e funerais (música fúnebre).

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Desconheço, quando e como a banda acabou”. A extinção ocorreu quando muitos dos seus integrantes foram para a tropa ou rumaram para outras paragens. Os instrumentos dispersaram-se: uns pela Casa do Povo, outros ficaram na casa de particulares.

Animação musical Para além da filarmónica, existiram, também, ainda, nesta aldeia, a Academia de Música de Alte e a Orquestra Altense. A primeira foi fundada por José Cavaco Vieira, no início da década de 30 (século XX), após ter estudado música em Lisboa. Praticava música de corda, ministrada por um maestro, que se deslocava, uma vez por semana a Alte, para ensinar os rapazes da terra, nas instalações da Caixa Agrícola. Isidoro Pontes era o principal executante (tocador de viola, violino e bandolim). Norberto Machado (tocador de flauta na antiga filarmónica), Aurora Graça Mira (poetisa popular e violino), Alfredo da Cruz Madeira (guitarra portuguesa), José Francisco Madeira (viola e clarinete), José Renda (viola) eram, igualmente, executantes. De salientar, a presença, neste agrupamento, de uma senhora, circunstância notável numa aldeia

portuguesa, nos anos 20/30. Alguns destes músicos tocavam, também, na, então, formada “Orquestra Altense” ou “Grupo Musical Altense”. Era chamada, muitas vezes, para animar os bailes até altas horas da madrugada, executando tangos, valsas, polcas e mazurcas. No campo da composição musical, Isidoro Pontes (que frequentou a Escola Académica de Lisboa) compôs algumas valsas e a música do dueto denominado “Fonte Grande, fonte airosa” e “Vigário”.

“Os topes” Na aldeia de Alte, é possível encontrar “os topes”, talvez o único exemplar do Algarve, de uma dança das menos dançadas pelo povo português, no dizer do especialista Tomás Ribas, que a descreve como presente, apenas no Baixo Alentejo. Esta dança é acompanhada por um instrumental simples, de harmónica e castanholas, e executada apenas por um músico. Os cantos lúdicos, as serenatas, de instrumentos de corda, (em tempos ouvidas na aldeia de Alte), as cantigas satíricas, os bailes de S. João e os romances novelescos, preferencialmente recitados em “tom morto” ou cantados nos serões invernosos à lareira são referenciados. Entre as cantigas satíricas, destacamos o espécime registado em 1982, na aldeia dos


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Soidos (Alte), de origem conventual, intitulado “As Freiras de Santa Clara”, colhido por Hélder Raimundo e Daniel Vieira, investigadores de temas de etnografia e antropologia.

Alte recebe Presidente da República A aldeia de Alte engalanou-se para receber a visita do Presidente da República, Almirante Américo Tomás, em 1966, aquando de uma das viagens ao Algarve, acompanhado dos ministros do Interior (Santos Júnior) e das Obras Públicas. Vindo de Messines, onde tinha ido inaugurar a estrada para S. Marcos da Serra, o Chefe do Estado apeou-se à entrada da povoação altense, onde se encontravam o presidente da CM Loulé, pároco da freguesia, presidente da Comissão Concelhia da U.N., membros da Junta e Regedor desta freguesia, Grupo Folclórico de Alte e muito povo que se acumulava pelas ruas da povoação. Depois de rápidos cumprimentos, o Presidente da República quis seguir a pé até ao local da Fonte Pequena, num percurso marcado por uma passadeira de verdura e flores. Aos lados das ruas e em todas as janelas pendiam as mais bonitas e ricas colchas. Chegado ao pequeno parque da Fonte, onde se encontravam dezenas de crianças das escolas da freguesia e professoras, o Chefe do Estado foi acolhido calorosamente, tendo sido cantado o hino nacional. Seguidamente foi descerrada uma lápide comemorativa da sua honrosa visita a esta aldeia e foi-lhe oferecida uma lembrança constituída por dois cântaros de cobre, feitos em Alte, e um quadro com um recanto típico da aldeia, também, confeccionado por curioso artista local. A Junta de Freguesia agradeceu a visita do Supremo Magistrado da Nação e o Grupo Folclórico de Alte exibiu números de dança regional. Neste dia, e segundo “A Voz de Loulé”, nº359, de 15/11/1966,

Camponenses altenses em plena actividade agrícola Alte “esteve na berlinda das festas de recepção”.

O Concelho de Messines A edição nº4 do “O Aldeão” (15/10/1912), publicou uma carta aberta aos povos de Messines, S. Marcos da Serra e Alte, de João de Deus, director deste quinzenário republicano independente. Dizia assim: “Depois de proclamada a República, os povos de Messines, S. Marcos da Serra e Alte tiveram a soberba iniciativa, de quererem fundar um concelho com sede em Messines, por ser esta a povoação mais central e comercial, e além d’isso a que mais vantagens

ofereciam para o meio concelhio, n’um afinco inimitável trabalharam de comum acordo, para a mesma causa, angariando assignaturas para a fundação do mesmo, visto 2 terços da população de cada freguezia, ser o suficiente para levar a efeito tão importante melhoramento e assinaram n’um vivo entusiasmo, os abaixo assinados, que permanecem, ou metidas n’alguma gaveta, ou desceram perpetuamente no abismo insondável do esquecimento. Porém, consta-nos que os mesmos abaixo assinados, estão amassados e muito bem engavetados, com pesadas pedras em cima. Ciente de que houve “um jogo fútil e desprezível no engravatamento dos manuscritos (abaixo assinados) que de Messines, S. Marcos da Serra e Alte se juntaram para serem entregues ao ministro do Interior”, o autor confessa que “eles foram abafados pela vóz possante do cacitismo desbragado e aviltante, que ainda pretende criar raízes, no seio da sociedade atual”.

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Repartição de Fazenda do Concelho de Loulé. Estes contribuíram para o rendimento colectável (avaliado) de 169.320;488 reis, totalizado neste concelho e para o valor predial (total) de 3.383.409;760 reis. Nesta altura, o concelho de Loulé registava 4.163 prédios urbanos e 61.585 prédios rústicos. O alojamento familiar, segundo o Tipo de Alojamento e Forma de Ocupação por Freguesia, em 2001, registava na freguesia de Alte 3,03% em alojamentos clássicos, 3,33% em barracas, e 2,14% em outros, em termos de alojamentos ocupados, havia 4,18% em residência habitual, e 1,67% em uso sazonal/secundário. Registava 4,61% de alojamentos vagos. Entretanto, os Censos de 2011 dão contra da existência de 1.526 edifícios (864 ocupados e 662 vagos), e 1586 alojamentos, que alojam 891 famílias e 1987 residentes.

Os cavaleiros de “Loas” As cerimónias festivas de Nossa Senhora das Dores e de S. Luís contam sempre com uma forte participação do povo e com a prestável colaboração de cavaleiros trajados de branco com faixas a vermelho e azul (o que diz as “loas”) e com miltras (feitas pelos altenses) estreladas à cabeça, que citam as “loas”, prece em versos religiosos dedicados à Senhora das Dores. Geralmente, são seis os cavaleiros participantes, originários de vários pontos da freguesia.

Peixe médico em Alte Em 2010, os altenses tomaram conhecimento do projecto “Turismo Medicinal”, vitorioso da 1ª edição do concurso “Realize o Seu Sonho”, promovido pela associação Acredita Portugal, fundada em 2008. O projecto, delineado por Rodrigo Capoulas,

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assenta na construção e exploração de uma unidade de “Turismo Medicinal”, na freguesia de Alte, onde pode tratar a psoriase e outras doenças dermatológicas pelo peixe-médico (garra-rufa). A ideia surgiu aquando de uma deslocação à Turquia para tratar de um problema de saúde de uma familiar, a partir do tratamento do peixe garra-rufa. “E como a minha família possui alguns terrenos na região de Alte, aos quais não temos dado qualquer utilidade, percebi que tinha em mãos uma oportunidade de negócio, e simultaneamente, retirar algum valor para a minha família, para a comunidade local e região”, confidenciou Rodrigo Capoulas ao site da Acredita Portugal. Resta-lhe, agora, obter fontes de financiamento, licenciamentos e valorização técnica do projecto.

Alojamento No ano de 1565, a freguesia de Alte possuía 200 fogos e a aldeia sede 70, contra 562 vizinhos da vila de Loulé e 1000 da cidade de Faro. Em 1886, por exemplo, Alte possuía 547 prédios urbanos e 8.416 rústicos inscritos na

Cafés O primeiro café na aldeia surgiu nos anos cinquenta num estabelecimento que também era mercearia. Contudo, nos anos sessenta, foi aberto o “Belo Horizonte”, que passou a ser lugar de reunião dos homens da oposição ao regime fascista. O Café Central, com a mesma clientela, é aberto em 1970, por um emigrante. A maioria dos restantes serviços de comes e bebes fora aberta nos anos oitenta, por pessoas que viveram fora da aldeia, ou emigrantes em França, Canadá ou Alemanha, migrantes no litoral ou em Lisboa, ou estrangeiros.

Embelezamento da aldeia A aldeia-sede beneficiou, durante o Estado Novo, do dinheiro enviado pelos emigrantes altenses (maioritariamente no Brasil), bem como da colaboração da comunidade às inicia-


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tivas da Junta de Freguesia de então. “Os Amigos de Alte” empenhavamse no embelezamento da terra. José Cavaco Vieira, face à inexistência de fundos municipais, soube canalizar os rendimentos do cemitério para o melhoramento da aldeia. Foram, então, calcetadas quase todas as ruas do povoado, foram feitos diversos ajardinamentos e muros de suporte com bancos corridos e foram arranjadas a Fonte Pequena e a Fonte Grande.

Iluminação pública Com o dinheiro público, em 1958, foi instalada a rede eléctrica na aldeia que substituiu o uso de candeeiros de petróleo e candeias de azeite. As lanternas antigas foram reaproveitadas passando a alumiar o Largo da Igreja. Em 1994, foram instalados em todas as ruelas novos candeeiros ao estilo desses antigos. Todavia, a sua localização não foi cuidada e a

instalação revelou-se desastrosa: as fachadas brancas das casas foram atravessadas por fios e cabos eléctricos grossos e negros.

Escolas Muitos republicanos opunham-se ao modelo tradicional de escolas primárias separadas por sexos, preconizando a sua conversão em escolas mistas, cuja autorização seria consagrada na Lei de 29/3/1911. Em Alte, passou-se o seguinte: “Os pais pressionaram o Inspector Escolar de Faro, a criar uma escola do sexo feminino à revelia da Câmara, e em 18/8/1911, este solicita ao Município que informe se a escola (sexo feminino) de Alte está em condições de ser provida, pois seria de grande benefício para a população da freguesia”. Em 19/8/1911, a Câmara responde ignorar se a escola está ou não em condições de ser provida, por não ter sido consultada para o efeito, e que fora o Inspector que resolveu criar a escola sem a ouvir. Entretanto,

a 19/12/1912, a Junta da Paróquia de Alte informa de que há dois anos foi criada a escola do sexo feminino, sem que fosse “imposta a concurso por falta de mobília e de arranjos na casa que está destinada”.

Instrução Primária Um dos maiores entraves à execução da lei da “Instrução Primária” foi o deficit de edifícios escolares. Para a autarquia descapitalizada, a construção de novos edifícios afigurava-se impraticável e as rendas, dos poucos imóveis disponíveis, eram elevadas. As escolas de Alte não funcionavam por falta de instalações. Em 1912, no Inventário das Escolas Primárias, Alte registava as escolas fechadas por ameaçarem ruir, e, ainda, nos anos de 1923 e 1924, a Câmara lamentava que, por falta de edifícios, encontravam-se encerradas as escolas primárias do Povo de Alte, e possuindo ali, o Estado entre outros, o edifício da antiga

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residência paroquial (Rua do Cura), do mesmo Povo, propunha, ao Ministério da Justiça, a solicitação, por arrendamento, a cedência do referido edifício para instalação das ditas escolas. Estas escolas foram finalmente instaladas na antiga residência paroquial – edifício indicado como em condições de nela se ministrar a instrução (não tardou que fosse encerrado por reconhecer igualmente que o mesmo ameaçava ruína). Entretanto, o deputado Sousa Coutinho conseguiu 5.000$00 para o arranjo das escolas, “mas é muito pouco, pelo que se vão organizar festas para conseguir mais dinheiro”, noticia o jornal local. Alte chegou a ter onze escolas primárias (Alte, Torre, Sarnadas, Águas Frias, Azinhal, Monte Ruivo, Monte da Charneca, João Andrés, Monte Brito, Esteval dos Mouros e Santa Margarida) em pleno funcionamento. Hoje, apenas, funcionam a Escola do 1º ciclo de Alte (com Jardim-de-Infância) e a Escola Profissional de Alte “Cândido Guerreiro”.

Altenses mortos ao serviço da Pátria Em Janeiro de 1923 foi constituída uma Comissão que se propõe erigir lápides comemorativas de homenagem aos Mártires Louletanos da Primeira Guerra Mundial – nas campanhas de África e França, 1914-1918 – colocadas na fachada principal do edifício dos Paços do Concelho de Loulé. Como mortos em França, constam os nomes dos soldados altenses Francisco Joaquim, Justo Martins e Justo Rosa, e Manoel Silvestre, que faleceu em Moçambique. Também, em Alte, os mortos da freguesia não foram esquecidos. Desse modo, existe um símbolo religioso de homenagem aos falecidos altenses. Localiza-se na Avenida 25 de Abril, no coração da aldeia.

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Moinhos de água A Direcção de Hidráulica Agrícola pretendeu fazer um Inventário Nacional de Motores Hidráulicos e respectivo tempo de laboração. Com esse objectivo foi enviado um Questionário a todas as câmaras do País.

Estas encarregaram os regedores das freguesias de proceder à sua elaboração, que decorreu nos meses de Abril e Maio de 1912. Na freguesia de Alte foram inventariados seis moinhos, pertencentes à Condessa d’Alte (funcionavam todo o ano), dois moinhos pertencentes à viúva de Vale Judeu (id), um moinho pertencente à viúva Neutel (Messines, id), o moinho da Sanguinheira, pertencente à viúva Nunes, deste Povo (funciona três me-


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ses), o moinho do Areeiro, pertencente a Francisco Soares (id.) e o moinho das Águas Frias, pertencente a Filipe Coelho (id). Como recursos hídricos, foram também inventariados e colocados num questionário lavrado pela Inspecção dos Serviços Administrativos da 4ª Divisão do Exército, duas fontes públicas existentes na sede da freguesia de Alte – as Bicas e a Fonte Grande (a nascente mais importante do concelho de Loulé). Em toda a freguesia de Alte existiam 16 moinhos de vento, sendo o seu rendimento, por um período de 24 horas, muito variável.

Mercado do Peixe Desde há largas décadas, que as instalações para a comercialização do peixe na aldeia de Alte têm causado enormes dores de cabeça às entidades responsáveis pela freguesia. Em 1920, por exemplo, o presidente da Junta de Freguesia informa a Câmara que “a verba calculada para o reparo dos arcos da praça é de cem a cento e cinquenta escudos”. No ano de 1923, chegam à Câmara mais dois ofícios da Junta solicitando uma urgente providência no sentido de ser reparado o mercado do peixe daquela povoação, que se encontra em completa ruína. Finalmente, em 1924, a Câmara delibera mandar reparar, com a maior urgência, o Mercado do Peixe, que estava completamente arruinado. Actualmente, Alte dispõe de um Mercado do Peixe e da Fruta, inaugurado há cerca de 16 anos. Possui três bonitos painéis de azulejos da autoria da Horta das Artes.

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Genealogia Segundo o 2º volume da Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, a palavra Alte é descrita de várias formas. Está associada a nomes de pessoas, galerias de arte e sítios portugueses. Assim, temos: - “De Mestre Estêvão, morador na cidade de Beja, e de sua mulher Branca Esteves, nasceu o Dr. Bernardim Esteves de Alte, e parece que também Mateus Esteves de Alte, dos quais descendem os deste apelido, tomador da Quinta da Salsa de Alte, que ficava no termo da vila de Serpa, que teve como fidalgo Bernardim Esteves (título atribuído pelo rei D. João II, em carta de 21/2/1550), e cujo privilégio se estende à sua filha D. Branca de Alte, casada com D. Simão Gonçalves Preto, que foi chanceler-mor do reino. O brasão de armas deste fidalgo tem, na parte inferior, a palavra Alte”. Da Enciclopédia “Joana Mendes de Alte” extrai-se que se trata de uma dama portuguesa (natural de Faro), que, aquando do cerco de Mazagão, ali acudiu, com três filhos que tinha, num navio seu. Temos, ainda, Dalila d’Alte Rodrigues, como autora de livros, no sítio do Livro, na Internet. O nome de Alte surge também agregado aos títulos de nobreza de duas personalidades que desempenharam cargos de considerável importância: João Carlos da Horta Teles

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Machado da Franca foi o primeiro Conde de Alte (ministro de Portugal nas Cortes de Roma, Turim e Nápoles) e seu filho, José Francisco da Horta Machado da Franca, 2º Visconde de Alte (ministro de Portugal em Washington/EUA). Salvo os Condes de Alte, que eram os senhores do Morgado, e mesmo esses raramente, os demais, provavelmente, não têm qualquer ligação à aldeia. Desconhece-se, pois, a razão de Alte surgir como apelido destes nomes. Alte é, também, nome de uma galeria berlinense – “Alte National Galerie”, que integra os corredores virtuais da Google Art Proejct. Geograficamente, a palavra Alte está associada a um lugar na freguesia de Santo André (Santiago do Cacém) e a um outro na freguesia de Sapardos (concelho de Vila Nova de Cerveira).

Festa do 1º de Maio A Festa do 1º de Maio (Dia do Trabalhador) é uma das festas mais intensamente vividas na freguesia de Alte. É mesmo uma tradição popular ancestral. Em 1925, e segundo o jornal “A Folha de Alte”, Alte

era a “rainha da festa”, ao ponto da Câmara deliberar escolher o 1º de Maio para ser feriado em todo o concelho de Loulé. Em 1975, por exemplo, os relatos da época davam conta da presença de cerca de 15 mil pessoas que cobriam completamente a parte plana e o anfiteatro dos dois montes que formam o estreito vale da Fonte Grande. Os destaques centravam-se nos grupos folclóricos e numa grande quantidade de burros carregados com vistosos tabuleiros (oferendas) recheados de comidas e bebidas, conduzidos de arreata pelos rapazes e raparigas do folclore. Uma das vozes dizia que “até os burros colaboram e ajudam à Festa! Isto só em Alte”. Recuando no tempo, e reportando-nos aos anos 20, a véspera era considerada a noite de bruxas. Nesse dia, logo de manhã, as pessoas levantavam-se muito cedo para atacar os “Maios” ou os “mau-olhados”, com um copo de aguardente e um figo de Maio enceirado nas ceiras. À tarde, grupos de famílias e de amigos, composto de rapazes e raparigas, levavam para a Fonte Grande, as merendas (presunto, ervilhas com ovos, arroz doce polvilhado com canela, cavacas e carrasquinhas confeccionadas pela senhora Mariana Alminha, e cozinhadas no formo de “poia” da Tia Maria Guerreira e do Tio Joaquim Lenha, e vinho da Nave do Barão). Depois, havia as danças e os cantares do


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Grupo Folclórico de Alte. A festa ganhou maior relevo a partir dos anos 40, logo após a grande seca que abalou todo o sul de Portugal. Recorde-se que, este movimento reivindicativo teve início nos Estados Unidos da América, no IV Congresso das Trade Unions (Chicago, 1884).

…e as Festas de S. João Na véspera de São João, os altenses faziam uma fogueira com rama de alecrim que os moços e moças iam buscar aos cerros. Os rapazes e raparigas, depois da fogueira ateada, saltavam-na nove vezes e o fumo, perfumava a povoação. Quase no final da queima do alecrim, as moças iam buscar as alcachofras (guardadas) e passavam-nas noves vezes pela chama lenta, colocando-as num vaso com terra e assim ficavam durante toda a noite. Na manhã do dia seguinte, iam vê-las. Se a alcachofra estivesse florida significava sorte para o namoro. Se não florisse, a rapariga ficava triste. Na mesma ocasião, elas derretiam chumbo nas brasas da fogueira e deitavam-no para dentro de uma vasilha com água. O chumbo tomava diversas formas, pensando descobrir a profissão que teria o seu futuro namorado. Também, escreviam nomes masculinos em papelinhos que enrolavam e passavam nove vezes pela chama da fogueira. Eram as chamadas escolhas da sorte. Depois da fogueira apagada (à meia-noite), o povo rumava, em romagem, à Fonte com as suas bilhas, que enchiam com água de S. João e que consideravam milagrosa para a saúde e beleza do corpo. As raparigas conservavam um gole de água na boca e no regresso da Fonte, ainda, passavam nove vezes por cima dos restos da fogueira, percorrendo algumas ruas para ouvirem as palavras “sim” ou “não” de pessoas que estivessem a conversar. Se ouvissem o “sim” era sinal de que o casamento estaria próximo e firme. Se ouvissem o “não”, deitavam-se tristemente. Faziam-se os mastros de S. João, colocando no mastro maior a charola e o Santo, feito com massa de farinha de trigo, açúcar, ovos e olhinhos de pimenta. Por várias ruas, entoavam-se as cantigas de S. João.

Radialistas da RDP em Alte No primeiro trimestre de 1984, Rafael Correia e Gomes Rocha, radialistas e realizadores do programa “Um lugar ao Sul” da Rádio Difusão Portuguesa (RDP), estiveram, em serviço profissional, em Alte. Entre os entrevistados, destaque para Joaquim dos Santos (o poeta das Sarnadas) e o João Esperança (o caiador de Alte). Os radialistas apreciaram a quantidade de água que nasce na fonte (Grande), o facto das lavadeiras lavarem a roupa na ribeira (por não existir lavadouro público), do pouco cuidado destas em manterem a ribeira limpa, a possibilidade desta ser transformada em piscina natural junto à nascente da Fonte Grande (alimentada com a sua água pura e salutar) e sobre as festividades do 1º de Maio. Estes radialistas concluíram a

sua reportagem para a Antena 1, ouvindo algumas das vozes locais (Maria do Rosário, Dora Maria, Valéria Neto, Fernando Soares e José Vieira), acompanhadas pelo Germano Madeira (acordeonista) e rouxinol da Fonte Grande.

Forno de Nossa Senhora No cerro da Francilheira localizam-se as ruínas do Forno de Nossa Senhora (um forno de cal), assim chamado porque as pessoas que o exploravam tinham a obrigação de contribuir com 60 arrobas de cal para a Igreja de Nossa Senhora da Assumpção de Alte, cada vez que utilizavam o forno. Entretanto, e entre este lugar e a Quinta do Freixo pode-se encontrar as “Cadeirinhas do Descanso”,

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assim conhecido entre os altenses pelo facto de existirem aí umas rochas parecidas com bancos ou cadeiras, e onde as pessoas, que antigamente iam à lenha, colocavam os seus feixes de lenha e descansavam, sentando-se noutras. Neste cerro existe uma rocha chamada “Penedo Gordo”.

Festa de aniversário do Bispo No início da década de 40 (século XX), na ocasião do aniversário dos 50 anos do Bispo do Algarve (D. Marcelino António Maria Franco), um grupo de altenses movimentou-se no sentido de angariar fundos a favor das acções da igreja católica. O prior, de então, pediu aos paroquianos duas coisas: uma seria constituída por orações, sacrifícios, missas, esmolas, boas obras, penitências e comunhões, donde se faria um ramalhete espiritual para se oferecer, também; a outra coisa era dinheiro. A julgar por um interveniente, este serviria para compensar as muitas despesas com o Seminário, que “não pode viver só de esmolas”. “Se há freguesias que têm obrigação de contribuir para a sustentação do Seminário, Alte é uma delas. Isto porque, nestes últimos tempos (1943) já saiu um padre que é filho de cá (Alte) e agora estão dois seminaristas a estudar. E não pagam a sua formação. E por isso somos nós todos que temos de ser generosos”, confessou um outro paroquiano numa das iniciativas da Igreja. E como uma das preocupações do Bispo era o Seminário, o prior de Alte disse que só “ficava bem aos altenses contribuir, nesta ocasião, para aliviar um pouco essa tarefa”. As ofertas generalizaram-se pelas freguesias. Assim, “cada freguesia, no dia 25 de Julho de 1943, oferece ao sr. Bispo (para custear as despesas do Seminário), a importância que cotizar”. A palavra foi transmitida para todos os vizinhos católicos. Apesar de não ter sido um bom ano agrícola, a verdade é que muitos altenses participaram, quer com produtos agrícolas, quer com algum dinheiro amealhado ao longo dos anos. Tudo em prole do sentimentalismo católico e da boa acção de graças.

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Congressistas em Alte Em 19 de Abril de 1949, realizou-se, em Lisboa, o Congresso Internacional de Geografia, que contou com a presença de ilustres professores universitários de vários países do Mundo. Alte foi a terra escolhida para convívio e almoço desses congressistas, que se realizaria na Fonte Grande. Nessa época, Mário Lyster Franco escreveu sobre essa visita: “Constitui uma jornada honrosa para o Algarve a visita a Alte de membros do Congresso Internacional de Geografia”. O sucesso foi, tão, retumbante, que, após o almoço regional por Alte exclusivamente servido e preparado, que se realizou na Fonte Grande, abrilhantado por acordeonistas e por exibições do Grupo Folclórico local, o professor Nils Nielsn (dinamarquês), propôs aos seus confrades, que um representante de cada uma das nações presentes (na sua própria língua) agradecesse ao povo o carinhoso

acolhimento, que lhes dispensaram. Na rubrica “Conversando” (no Ecos da Serra, 1981), Zé d’Alte diz que os participantes ficaram encantados com as danças, os cantares, a hospitalidade e a alegria das gentes da terra. O Dr. Aires de Lemos Tavares (presidente da CM Loulé) presidiu ao almoço. Findo o qual, os visitantes percorreram, detidamente, a aldeia, visitaram a Casa do Povo (com o seu pequeno museu) e saborearam os doces regionais.

Jornalistas em encontro regional No dia 30 de Maio de 1981, teve lugar, na Casa do Povo de Alte, o V Encontro da Imprensa Regional Algarvia, que reuniu cerca de 40 jornalistas, o presidente da CM Loulé, vereadores, Radio Difusão Portuguesa e representantes do Ministério das Finanças e dos Transportes e Comunicações. A iniciativa englobou uma visita à aldeia de Alte, à Quinta do

Dois animados acordeonistas altenses


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mérito, foi nesta tarde, um desastrado (…) outros perderam uma bela ocasião para ficarem em casa…a fazer contas de cabeça”, noticia a “A Folha de Alte”, a 15/9/1923. No final, vencedores e vencidos participaram num delicado copo de água, na sede da Filarmónica Restaurador Padernense. Nessa altura, os rapazes treinavam-se onde calhava. Faziam das ruas e largos campos de jogos e muitas vezes estilhaçavam as vidraças dos vizinhos mais próximos.

Água medicinal Senhoras trabalhando o esparto numa das ruelas de Alte Freixo e à Fonte Grade. Na ocasião foi prestada homenagem a José Francisco da Graça Mira, um dos homens da terra e ligado ao jornalismo, já que foi director de “A Folha de Alte”, e que trabalhou persistentemente em prole da terra, até então mergulhada na imobilidade dos seus filhos e na obscuridade temporal.

Galeria dos presidentes Após a implantação da República, a freguesia de Alte já teve sete presidentes de Junta. Isidoro Rodrigues Pontes foi o primeiro presidente eleito após a implantação da República, e José Cavaco Vieira lidera no número de mandatos, exercendo o cargo, ininterruptamente, de 1936 a 1975. Seguiram-se-lhes, Analide Martins Lourenço (1975-1985), Ovídio Manuel Dores Alves (1986-1988), Analide Martins Lourenço (1988-1989) e Rui Manuel Martins de Sousa (1990-2001). Eugénio Manuel Coelho Guerreiro, actual presidente da JF, lidera desde 2002.

por 5-0. Nesse dia, os rapazes, que compunham a equipa altense, puseram-se a marchar rumo a Paderne, acompanhados por um “belo rancho de senhoras que cheias de graça e fascinadores sorrisos, incitavam aquelas almas a vencer o perigo, que já de antemão ameaçava”. O cronista registou que o grupo levou duas horas no caminho põe entre estreitos caminhos e veredas, sendo recebidos com a maior das amabilidades pelos padernenses. O pontapé de saída foi dado pela “mademoiselle” Constança Alves Vieira, de Paderne. Da equipa, que alinhou com um simples camisola branca, apenas se sabe que Nunes Guerreiro foi um dos jogadores utilizados. “Ele, que noutras ocasiões soube portar-se à altura do seu

Num artigo assinado, em Outubro de 1923, n’”A Folha de Alte”, José da Graça Mira conta que “a três quilómetros da povoação (Alte) existe uma bela nascente de água medicinal, cuja análise, feita há pouco tempo, veio demonstrar ser uma das melhores para as doenças do estômago, intestinos, fígado e vias biliares. Esta nascente é pertença de um grupo de indivíduos desta localidade que, infelizmente, a par da sua boa vontade não dispõe de capitais necessários para a devida exploração. Por todas estas razões, Alte poderia ser um centro invejado e dos mais prósperos do país, mas para isso seria necessário que gente das Finanças, por aqui, passasse e de perto observasse as vantagens incalculáveis, que adviria da exploração de tantas riquezas naturais.

Futebol em Alte Na década de 20 (século XX), existiu, em Alte, o Grupo Foot-Ball Altense. Relatos da época dão conta da realização de um jogo amigável em Paderne, em Agosto de 1923, tendo a agremiação de Alte perdido com o Sport Clube Paderne,

Casal altense no debulho do cereal

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conversando com...

Luís Filipe Madeira

“Alte faz parte da minha ‘higiene’ diária”

É um dos filhos mais ilustres da freguesia de Alte. Filipe Madeira trilhou um longo caminho de sucesso, fundamentalmente no contexto político. Hoje, está reformado da actividade política pública e partidária, se bem que seja de assinalar a sua participação como mandatário distrital de Manuel Alegre, nas últimas eleições para a Presidência da República. Presentemente, divide o seu tempo entre o escritório de advocacia de Loulé e Alte, que faz questão de visitar regularmente. Ao falarmos desta aldeia, os olhos deste altense brilham de intensidade.

Que recordações guarda dos seus tempos de infância de Alte?

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Guardo muito boas memórias de Alte, terra onde nasci, cresci e iniciei os meus estudos. Não é fácil enumerá-las. A aldeia, o ambiente, os amigos, as brincadeiras de criança fazem parte do meu imaginário. No entanto, há uma, que recordo vivamente. Em 1945, e em ano de eleições para a Assembleia Nacional, houve um grupo de pessoas que começou a gritar, ‘queremos pão, queremos a liberdade’. Estava lá a GNR. Rapidamente, o esquema de segurança foi reforçado, as ruas foram ocupadas e não se podia transitar sem um salvo-conduto. Eu era uma criança de cinco anos, que assistiu a tudo isso. Fiquei muito emocionado ao ver as pessoas da minha aldeia serem agredidas à coronhada e detidas. Não se tratava de uma questão política, resumia-se, sim, a um reboliço pontual da sociedade, que deixou marcas. Ao fim de dois meses, essas pessoas foram soltas, mas essa situação marcou-me muito.


conversando com...

Como se sente em Alte? Sinto-me como se estivesse no ventre materno. É o meu território, assim como é Loulé. Para mim, ir a Alte faz parte da minha ‘higiene’ diária. Apesar de ter estudado e de me ter formado fora do Algarve, sempre que podia vinha a Alte, aos fins-de-semana e nas férias escolares. Mesmo quando exerci funções oficiais, após a mudança política verificada em Portugal, nunca deixei de visitar a minha terra, onde tenho a minha família e da minha mulher.

beba água purificada

Como eram as suas brincadeiras? Eram iguais às dos miúdos do meu tempo. Brincava-se à deserta, ao guarda-mula, ao berlinde, ao pião, à biarda e às escondidas, entre outras. A deserta era o jogo mais radical. Era um paintball primitivo. Ainda se recorda dos seus amigos de infância? Sim. Lembro-me da maior parte dos que andaram comigo na escola primária, em Alte, outros se calhar já me esqueci. Nessa época, a escola primária tinha duas salas – uma para rapazes e outra para raparigas - que era no actual edifício da residência paroquial, onde funcionavam quatro classes com cerca de 100 alunos. Alguns deles vinham de longe, a pé, pois não havia estradas. Outros vinham descalços, à chuva e ao frio. Como não havia cantina escolar, traziam uns cestinhos de casa, com umas azeitonas, um bocado de pão e umas sardinhas fritas. E assim se alimentavam. Eram tempos difíceis, que é bom recordar. Nesse tempo, a vida dos pobres de hoje, era a vida dos ricos de então.

água é vida

O curso que escolheu foi opção sua, ou por imposição dos seus familiares? Foi opção minha. A partir do 5º ano, chamado terceiro ciclo, tinha que escolher, consoante as alíneas. Fui para Direito, que tinha a alínea E. Viveu uma vida académica atribulada nomeadamente com a crise académica de 1962. Quer comentar? Eu era um activista de política, e sempre que havia situações contestatárias ao regime, estava nesse grupo. Em 1962, aconteceu uma crise terrível, mas completamente diferente da que viria a acontecer em 69. Na de 62, estava no poder o governo do Salazar. Tinha-se iniciado a guerra do Ultramar, um ano antes, em 1961. Enquanto em 69, estava o Marcelo, que, apesar de tudo, já não tinha aquele ‘músculo’ e o ‘cassetete afiado’ do anterior governante. Basta ver, que em 69 não tenho a ideia de ver estudantes expulsos de todas as escolas do país, o que não aconteceu em 62, especialmente em Coimbra, onde Salazar não perdoou que a sua

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Universidade tivesse estudantes contestatários. Eu fui um dos estudantes expulsos. As coisas correram mal para mim, fui para a tropa (quatro anos) depois da expulsão, finda a qual acabei o curso.

Gosto de tudo, da aldeia em si, da sua envolvência, do ambiente, e especialmente das pessoas.

Sente-se realizado profissionalmente como advogado? Não. Sinto que fiquei muito aquém do que perspectivava. A minha vida de advogado foi interrompida. Tinha acabado o curso em 1968, fiz o estágio de dois anos, e comecei a advogar em 70. A minha vida na advocacia tem alguns entorses. Após o 25 de Abril houve uma mudança política no país e na minha vida. Apostei na política, o que naturalmente não se poderia compatibilizar com a carreira de advogado. Tive que aceitar o cargo de governador civil por fortes exigências superiores, o que me obrigou a deixar a advocacia. Depois, foram 25 anos como deputado, afectando seriamente a minha carreira de advogado. Hoje, não posso imaginar se teria sido um bom advogado ou não. Sei que não sou um bom advogado. Dessa experiência na advocacia, para que lado pende mais a balança? Estou satisfeito com o que fiz, mas gostaria de ir um pouco mais longe. Poderia ser melhor advogado, e até mesmo ter um bom escritório. Como militante socialista, e após o 25 de Abril de 1974, exerceu vários cargos de governação política. Foi uma experiência marcante? Foi. Fui para o turismo, porque me exigiram, por ser natural do Algarve e conhecer a região. Nessa altura, o problema era recuperar a imagem do turismo e estabilizar as empresas de turismo que estavam intervencionadas (Torralta, Quinta do Lago, Vale do Lobo, Grão-Pará e Hotel Montechoro, ainda em construção). O Hotel Montechoro foi uma das experiências mais enriquecedoras e marcantes que vivi como SE Turismo, quando foi resolvido um contencioso grave entre os sócios e os trabalhadores da empresa. Outra das situações em que tive de intervir foi no Grupo Torralta, entre a Empreital e os trabalhadores. Numa das ocasiões, os trabalhadores da Empreital resolveram cercar a torre J (Alvor) e o caso resolveu-se com a acção da GNR, que conseguiu dispersar os trabalhadores e desocupar a torre. Para mim, foi uma coisa muito dolorosa, pois nunca pensei, na minha vida, dar ordens para reprimir trabalhadores. Turisticamente, Alte está subaproveitada em relação a outras aldeias nacionais. Concorda? Sim. Poderia estar melhor, sem, no entanto, haver o turismo de massas. Penso que faz falta um empreendimento turístico com um campo de golfe, camas hoteleiras, moradias de luxo e outras infra-estruturas que pudessem captar novos segmentos de turismo. Alte precisa de ter mais turismo e de qualidade. Precisa de dar a conhecer as suas potencialidades.

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A gastronomia e a doçaria são muito particulares nesta freguesia. Quais são as suas especialidades gastronómicas? Gosto de todos os pratos típicos do campo. Os pratos de feijão, grão, milhos, papas de milho, caça, presuntos e fumeiros são os preferidos. Quanto à doçaria, tenho preferência pelos bolos de amêndoa, esquecidos, carrasquinhos, folares, folhados (de Alte) e dobradinhas. Considera-se um ilustre filho de Alte? Não. Em Alte houve alguns nomes bem mais sonantes, como Cândido Guerreiro. Para mim, o mais ilustre foi o Paulo Madeira, meu tio-avô, que era um político na República. Tinha apenas a quarta classe, mas gostava muito de escrever e escrevia muito bem.

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Desta terra, o que mais lhe agrada? Gosto de tudo, da aldeia em si, da sua envolvência, do ambiente, e especialmente das pessoas. Adoro as pessoas de Alte. Depois, temos as fontes, a ribeira, a queda do Vigário, a Igrejinha dos Soidos, os símbolos artísticos, as tradições e a gastronomia local.

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A freguesia de Alte é berço de importantes figuras, que se destacaram nas mais diversas áreas, desde a cultura à política, do desporto às artes, da etnografia ao ensino e do jornalismo à administração pública. Cândido Guerreiro (poeta), Luís Filipe Madeira e Isidoro Pontes (política), José Cavaco Vieira e Fernando Soares (etnografia/folclore), Lurdes Madeira (ensino/ jornalismo), Carlos Cabrita (desporto), Paulo Madeira, João de Deus e José Graça Mira (imprensa), e Daniel Vieira (artes), são alguns dos seus filhos mais sonantes. Destaque, ainda, para João Cravinho e Jamila Madeira (política) ligados, física e sentimentalmente, à terramãe dos seus progenitores. Outros nomes são igualmente considerados na apelidada “terra dos doutores”.

João Cravinho (destacado político)

A 19 de Setembro de 1936, nasceu em Angola, João Cardona Gomes Cravinho, conhecido político português. A sua infância foi passada na freguesia de Alte, iniciando deste modo a sua ligação ao concelho de Loulé. Concluiu a sua licenciatura em Engenharia Civil

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no Instituto Superior Técnico (IST). Posteriormente, fez estudos de economia em Yale e Oxford (Inglaterra). Do seu currículo político destaca-se a sua participação no IV Governo Provisório, enquanto Ministro da Indústria e da Tecnologia (1975), a sua acção enquanto deputado da Assembleia da República (AR) nos anos 80 e 90, e enquanto deputado do Parlamento Europeu, (1989 a 1994). Nos finais dos anos 80 foi consultor da Comissão Europeia da OCDE e da UNESCO. Foi, também, Ministro do Equipamento, do Planeamento e da Administração do Território no Governo chefiado por António Guterres (1995/1999). Para além da sua carreira política foi responsável de gabinetes do sector da indústria e docente nas áreas de Economia Industrial e das Relações

Externas. Foi autor de vários trabalhos apresentados em seminários, conferências e revistas da especialidade. O engº João Cravinho é actualmente munícipe do concelho de Loulé. Destaca-se o seu apoio enquanto governante à obra de reabilitação urbana de Alte. Em Junho de 2011, foi distinguido com a Medalha Municipal de Mérito – Grau Ouro, pelo Município de Loulé.

Cândido Guerreiro (poeta e jurista) Francisco Xavier Cândido Guerreiro nasceu em Alte, no dia 3 de Dezembro de 1871, filho de uma família de poucos recursos mas culta, que lhe proporcionou estudos.Viveu aqui até

1880, quando seu pai foi nomeado Juiz de Paz na freguesia de Estoi. Faz a instrução primária em S. Brás de Alportel, seguindo depois para o Liceu de Faro e iniciou estudos no Seminário Diocesano de Faro (1889). Com a morte do pai, (1891), desistiu da vida eclesiástica e começou a trabalhar para ajudar no sustento da mãe e de uma tia que ficaram a seu cargo. Incentivado pelo seu amigo e poeta João Lúcio, decide terminar o liceu e matricular-se na Universidade de Coimbra (1903), onde se formou em Direito, aos 32 anos (1907). Foi advogado, dramaturgo e poeta, tendo durante o período estudantil contactado com alguns ilustres, como Aristides de Sousa Mendes (o célebre diplomata que salvou judeus do holocausto da II Grande Guerra), Alberto Veiga Simões (diplomata republicano) e outros, tornando-se num republicano aguerrido e consequente. Em 1895 edita o livro de poemas “Rosas Desfolhadas”, que dedica ao poeta João de Deus. Por esta altura apaixona-se pela poetisa Maria Veleda (Maria Carolina Frederico Crispim) de quem teve um filho que perfilhou, Cândido Guerreiro da Franca. Em 1904, edita, o livro “Sonetos”, que dedica a Margarida de Sousa Costa, a quem dedica também “Erros”, editado em 1907. Casaram em 1909, e foram viver para Loulé, onde nasceram dois filhos: Agar Guerreiro da Franca e Othman Guerreiro da Franca. Trabalha como notário, na comarca de Loulé, depois de tentar a advocacia (sem sucesso), mas cedo ingressa na vida política. Em 1912, já está na linha da frente na governação do Concelho de Loulé, assumindo a presidência do Município. Durante a sua administração (de 1912 a 1918),


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o concelho ganhou grande desenvolvimento e progresso, por exemplo, na chegada da luz eléctrica e electrificação da vila, (1916) e o inicio da construção da Avenida José da Costa Mealha, estando também envolvido em algumas polémicas partidárias. Em Loulé foi, ainda, redactor do jornal “O Povo Algarvio”, e em Beja dirigiu a Casa Pia, fixando-se, a partir da década de 20 (século XX), em Faro, onde exerceu notariado, e onde pode dedicar mais tempo à poesia. Isto, após ter rejeitado a nomeação de adido da Legação Portuguesa em Haia, em 1923. Cândido Guerreiro experimenta o teatro, compondo o Auto das Rosas de Stª Maria, peça publicada pela Comissão dos Centenários, em 1940. Da vasta obra publicada, destaca-se Em Forli; Promontório Sacro; As tuas Mãos Misericordianas; Loulamitis; Uma Promessa; Avante e Santiago, (1949), pelo 7º centenário da tomada de Faro. Foi seguramente um dos mais notáveis poetas algarvios e um dos principais rostos do Algarve na primeira metade do século XX. Faleceu a 11 de Abril de 1953, em Lisboa, sendo sepultado em Faro. Todavia, e 4 de Dezembro de 2000 foi realizada a transladação para o cemitério de Alte, onde repousa. Foi agraciado pela Câmara Municipal de Loulé com a Medalha Municipal de Mérito – Grau Ouro, em 1994.

para a Universidade do Algarve. Foi um activo opositor ao Antigo Regime (ditadura de Salazar e Caetano). Aderiu ao Partido Socialista (PS), em 1974. Foi governador civil de Faro em 1974/75, sendo exonerado em Março de 1975, a fim de encabeçar a lista do PS à Assembleia Constituinte (1975). Fez parte do VI Governo Provisório, como Subsecretário de Estado do Turismo, transitando depois para o Primeiro Governo Constitucional (1976/78), como Secretário de Estado do Turismo. Foi também deputado à Assembleia da República (1976 e 1983), à Assembleia Municipal de Loulé, presidente da Sub-Comissão Parlamentar do Turismo (1979 e 1983), membro da Comissão Nacional e da Comissão Política do Partido Socialista, Secretário Nacional do PS (entre 1979 e 1981), e (1985 e 1988), membro do Gabinete de Porta-Vozes do Partido, (1986), deputado à Assembleia da República na V Legislatura, entre 1987 e 1991, e deputado ao Parlamento Europeu, de 1986 a 1989. Foi vice-presidente do Grupo Socialista do Parlamento

Luís Filipe Madeira (político e advogado) Luís Filipe do Nascimento Madeira nasceu a 30 de Setembro de 1940, em Alte. Fez os estudos primários nesta aldeia, completou os secundários no Liceu de Faro e licenciou-se em Direito pela Universidade de Coimbra. Findo o curso regressou ao Algarve, e estabeleceu-se em Loulé como advogado, sendo nessa altura, (1969), candidato a deputado pela CDE (mais tarde MDP/CDE). Em 1972, ao lado de Laginha Serafim, dita, na casa da Rua do Chiado (Faro), os conceitos

Europeu. Em Setembro de 1983, foi eleito presidente da Região de Turismo do Algarve, que exerceu durante um mandato (1983/86). Foi presidente da Assembleia Distrital de Faro (entre 1991 e 1993), e líder Parlamentar da Bancada do PS na Assembleia da República. Desempenhou, também os cargos, de Membro Titular da Comissão de Agricultura, das Pescas e da Alimentação do Parlamento Europeu, e de suplente da Comissão de MeioAmbiente da Saúde Pública e da Defesa do Consumidor. Foi Mandatário Distrital de Faro de Manuel Alegre às

Presidenciais de 2010. É casado com Maria Emília Madeira, de quem tem duas filhas: Heloísa Madeira (advogada) e Jamila Madeira (economista).

Carlos Cabrita (o veterano campeão) Carlos Manuel Cabrita nasceu no sítio do Esteval dos Mouros, Alte, em 1954 É professor de educação física na Escola Secundária de Loulé, desde 1975. Apaixonado desde sempre pelo desporto é um brilhante atleta de btt, triatlo e duatlo. É vasto o seu currículo desportivo, tendo passado por diversas modalidades. Esteve cerca de um década ligado ao atletismo no Louletano, onde foi campeão nacional de salto em altura na 2ª e 3ª divisões, campeão nacional por equipas e campeão individual da mesma modalidade a nível regional. Treinou várias atletas recordistas regionais e nacionais. Em 1988, dedicou-se ao triatlo e duatlo, tendo representado o Clube de Vela de Lagos, o Clube D. Pedro, S Faro e Benfica e o Clube de Futebol “Os Belenenses”, representando a selecção nacional no 1º Campeonato do Mundo de Triatlo (França). Durante as décadas de 90 e 2010, teve uma carreira ascendente e fulgurante nas modalidades de triatlo, duatlo e btt, obtendo êxitos e sagrando-se várias vezes campeão nacional em veteranos no btt. Em 1995 foi seleccionador nacional de btt e participou no Campeonato do Mundo. No mesmo ano classificou-se em 1º lugar em veteranos e foi o melhor português na geral absoluta na Volta à Espanha de btt, tendo representado o Louletano DC. Em 1997, foi 7º classificado no Campeonato do Mundo de Duatlo realizado em Gernica (País Basco). Em 11 de Junho de 1999, foi campeão da Europa de Duatlo, no escalão de veteranos, e foi o melhor atleta europeu 4º no Campeonato do Mundo de Duatlo (Carolina do Norte/EUA). Neste ano, a prestigiada revista “Sport Cycles” elegeu Carlos Cabrita como o atleta de btt com melhor carreira, ao lado dos ciclistas de estrada Alves

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Neste ano, a prestigiada revista “Sport Cycles” elegeu Carlos Cabrita como o atleta de btt com melhor carreira, ao lado dos ciclistas de estrada Alves Barbosa e Marco Chagas. Participou, também, seis vezes nos Jogos sem Fronteiras, tendo feito parte da equipa de Vilamoura, que no início dos anos 80 foi a primeira equipa portuguesa a vencer uma final europeia. Foi agraciado pelo Município de Loulé, em 2000 com a Medalha Municipal de Mérito – Grau Prata.

José Vieira (vida dedicada à terra natal) José Cavaco Vieira nasceu na freguesia de Alte, a 23 de Novembro de 1903. Aos 11 anos inicia a sua actividade profissional como empregado de escritório na firma de Isidoro Rodrigues Pontes (Alte). Em 1921, parte para Lisboa, onde se empregou na Sociedade Portuguesa Importadora e Exportadora, até 1930. Durante esse tempo, dedicou-se igualmente aos estudos: tirou o curso de guarda-livros na Escola Magalhães Peixoto e frequentou a Universidade Livre, onde aprendeu inglês, francês e música na Academia de Amadores de Música. Em 1936, regressa definitivamente à sua terra natal

(Alte). Nesse mesmo ano, entra como guarda-livros na Caixa de Crédito Agrícola Mútuo de Alte, ocupando alguns anos depois um dos lugares de director, cargo que exerceu até atingir a reforma (1980). Foi presidente da Junta de Freguesia de Alte durante vários mandatos e em 1938, foi um dos fundadores do Grupo Folclórico de Alte, tendo sido seu presidente durante cerca de 54 anos. Teve uma intensa actividade cultural e cívica, participando em diversos grupos teatrais, tocando instrumentos musicais, fundando a Academia de Música Altense e integrando o Grupo de Música Popular “Erva Doce”. Fundou a Casa do Povo de Alte, onde criou um museu etnográfico (um dos primeiros do Algarve), abrindo caminho para a promoção de Alte como “Aldeia Cultural”. Foi um homem dos jornais, da política, da administração, da arte e do folclore, dedicando-se de alma e coração à comunidade altense, sendo, hoje, um dos altenses mais recordados pela importante marca etnográfica e cultural deixada às gerações vindouras, perpetuado na escultura erigida em sua homenagem e inaugurada a 23/11/2003. Popularmente conhecido por “Zé Vieira” ou “Zé de Alte”, este altense, chegou a ser convidado para presidente da Câmara Municipal de Loulé, cargo que não aceitou, porque sentia-se mais realizado, trabalhando em prol da sua aldeia. Mandou plantar árvores de sombra e embelezou várias zonas na Fonte Pequena. Deve-se a ele o painel de azulejos por cima das bicas da Fonte Pequena, o monumento dedicado ao Infante D. Henrique (por detrás da ermida de S. Luís, em 1960), o monumento dedicado às Alminhas (frente ao mercado) e uma imagem de Nossa Senhora colocada na parede maior do adro da Igreja Matriz, entre outras. Da sua visão artística e ecológica, nasceram, também, algumas das suas obras mais emblemáticas


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de Alte: a escultura camoAjudante Registo Civil presença, sendodoco-autora dode Maio de 1993, a Câmara nianaagraciou-a da Fonte Grande e o “Balletts Alte. Após ter concluído livro Rose” e autorao cipal de Loulé de madeira primário sua aldeia de “As ensino Mulheres de na Salazar”, Medalha Cristo Municipal de exposto sua casa. Colaborou no editados decidiu seguir vida ecleo – Grau em Ouro. O seu ambos pela aEditorial Boletim Alte. siástica, ingressando no seestá perpetuado naParoquial Escola deNotícias. Felícia Cabrita cedo Durante 2 anos, e mais tarde minário de São José, (Faro). dária Dtª Laura Ayres, na começou a ver reconhecida a no “Ecos da Serra” (desde Maiso tarde paraao um e de Quarteira. qualidade seu passou trabalho, 1967 a 1996), que ajudou a de Almada, e posteriormente ser galardoada com o “Prémio fundar em 1967, através do para de o Seminário Maior do Cupertino Miranda”, um Patriarcado prémio de carreira,nos doOlivais. Clube Aos de 22 anos decidiuem não1992, prosseJornalistas do Porto, carreira eclesiástica lícia Maria Rodrigues Ca- ano em guir que adeu à estampa “O e regressa a Alte. Aí inicia nasceu em Quarteira, em Massacre de Wiriyamu: Os na Companhia de SeMarço de 1963, filha de Mortos funções Não Sofrem”, produto “O Alentejo”, cumpre ios. Concluída a instrução de uma guros investigação efectuada o serviço militar e em 1952 ria na vila quarteirense, em Moçambique, que foi publia Moçambique, onde is levaram-na para Lis- cado naruma Revista do Expresso. permaneceu até 1975, deonde concluiria o ensino No mesmo ano, recebeu o sempenhando cargos dário no Liceu Pedro “Prémio Fernandovários Pessoa”, na administração pública. s. É ainda no liceu que da Mapfre Vida, pelo trabalho No seu regresso da vem viver “O Ministério Sida: para Loulé, juntamente com A Revolução Perdida ade esposa seus trêsconfilhos, Sitae os Valles”, começa a participar Grupo de Amigos de Alte, onde sequente de uma nova Comissão dedesta Festas do de que era um dos membros na investigação, vez Com currículo fundadores. Além dos lega- Carnaval. em Angola, e tambémna dos artísticos e musicais, publicada na Revista Vieira viu 103 crónicas do Expresso. Após a publicadas, naqueles dois publicação de “Mutítulos, serem compilados lheres de Salazar”, a no livro “Conversando a Universidade IndeVida Toda”, trabalho de pendente galardoou-a, pesquisa e coordenação de posteriormente, com Hélder Raimundo, (edição o “Prémio Média 21”. da CM Loulé, em 2003), no Em 1996, a Casa da âmbito das comemorações Imprensa distinguiria do centésimo aniversário do a jovem quarteirense seu nascimento. Faleceu na com uma nomeação aldeia natal, 2002. a viria a sersua mordida pelo em Bordalo Pinheiro. A jornalista Foi começando agraciado pelo Municítambém tem trabalhado para ho da escrita, pio de Loulé com a televisão, borar no “Pasquim”, uma Medalha área dosendo folclore,co-autora já que havia Municipal de Mérito – Grau das séries televisivas úmeros jornais de feição fundado um Rancho“BalFolclóPrata, em 1993. “Capitão Roby” esquerdistas que, nessa letts Rose”, rico em Moçambique, foi do Ouro Negro”. pós-revolucionária, pro- e “A Febre convidado para formar um co-autora, Felícia vam pelo País. Concluído Ainda como Rancho Infantil em Loulé, outra em série para ino secundário, Felícia assinou ouma qual surgiu 1977. Este “As Mulheres do a licenciou-se em Línguas a televisão, grupo, foi dirigido, orientado retratando figuras ratura Moderna pela Uni- Século”, e ensaiado durante 32 anos doFernando século XX. Paraade Nova de Lisboa, em notáveispor Soares, interlelamente, dedicou-se também Logo a seguir foi admitidafolclore) (transpirava pretando danças e cantares à vida empresarial, exercendo jornalista no semanário da zona serranas de Alte. de sócia-gerente de uma esso”, onde permaneceu funções Fernando Soares, faleceu, firma à produção e vários anos,No até transitar dia 3 de Junho de dedicada em Loulé, a 10 de Janeirodede documentários para o semanário “Sol”, onde 1926, a freguesia de Alte 2009, e este anotelevisão. o Município No dia 24 de Maio 2010, permanece,viu sempre ligada nascer Fernando Cor- de Loulé decidiude atribuir-lhe a Câmara Municipal de Louléde nalismo dereia investigação. Soares, registado no a Medalha Municipal com– aGrau Medalha Muscaparatesdia das 14 livrarias, do mesmo mêsagraciou-a pelo Mérito Bronze. nicipal de Mérito Grau Prata. a cabrita também marca

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José da Graça Mira (intelectual de nomeada) José Francisco da Graça Mira nasceu em Alte, a 9 de Junho de 1896, e faleceu (suicídio) na mesma aldeia no dia 1 de Maio de 1936. Apesar da sua formação académica se ter cingido ao ensino primário,

director e administrador, e para o qual conseguiu a colaboração de nomes da intelectualidade algarvia: Julião Quintinha, Mateus Moreno, Lyster Franco, José Guerreiro Murta, Maurício Monteiro. O seu nome foi atribuído a um dos largos da aldeia de Alte, como “Fundador da Folha de Alte e Grande Amigo da sua Terra”.

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formou-se num jornalista de excelência e num intelectual de nomeada. Cedo começou a interessar-se pelo ideal republicano, tendo sido companheiro de escola de Francisco Paulo Madeira. Envolveu-se activamente na actividade política após a implantação da República. Colaborou assiduamente em diversas publicações periódicas da região, entre elas “O Povo Algarvio” (Loulé), “O Aldeão” (Alte como antigo secretário de João de Deus), “Ala Algarvia” (Silves-Portimão), e “O País” (Lisboa). Após a República filiou-se no Partido Republicano Português, afastando-se mais tarde (1915) da política local, considerando-a “extremamente porca”. Enquanto cumpria o serviço militar no ano de 1916, fez circular uma revista manuscrita de nome: “O Recreio”. Em 1 de Janeiro de 1922 fundou o jornal “A Folha de Alte” (activo até 1934), de que era editor,

Isidoro Rodrigues Pontes, como republicano democrático, autarca e animador cultural, nasceu em Alte, em 4/4/1889, e faleceu nesta aldeia 11/6/1938. Depois de ter feito a instrução primária em Alte, seguiu para Lisboa, onde estudou na Escola Académica. Após a implantação da República, a 10 de Outubro de 1910, recebeu na sua aldeia, a visita do Dr. Afonso Costa e de outros notáveis correligionários. O povo altense colaborou na recepção dos ilustres visitantes, tendo organizado uma festa que contou com um carro alegórico, puxado por bois, com

o nome de “Carro Triunfal”. Em 1916, fundou o sindicato e a Caixa de Crédito Agrícola Mútuo de Alte, tendo esta Instituição atingido o seu maior movimento de empréstimos aos agricultores do concelho de Loulé e das vizinhas freguesias


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de Paderne e S. B. de Messines, entre 1928 e 1931. Era uma personagem respeitável, dado à cultura, ao teatro e à música. Ensinou algumas pessoas a tocar violino, bandolim e viola. Era o principal executante da orquestra altense. Criou um grupo de música popular portuguesa fundou (1930) um grupo de teatro, (encenador) e compôs algumas músicas dedicadas às belezas naturais de Alte. Como politico, era um democrata sério, leal e fortemente dedicado ao Partido Republicano Português sendochefe desse partido na freguesia de Alte. Como membro da Junta de Freguesia entrou para essa actividade em 29 de Outubro de 1910, com Manuel da Palma Vieira, João Gomes Cravinho, Alfredo da Cruz Madeira e Francisco Carlos Palma, formando a primeira Comissão Paroquial Administrativa da Freguesia de Alte, que esteve em exercício até 27/12/1913. Esteve na presidência da JF Alte até 5 de Julho de 1926, e durante os seus mandatos, foi aberta a rua que vai da Ponte até à ermida de S. Luís, e cedeu, gratuitamente, uma faixa de terreno para o alargamento do antigo cemitério. Em 1995, a Junta de Freguesia de Alte deu o nome de Isidoro Rodrigues Pontes a uma das ruas da terra, perpetuando assim a memória e o valor cultural deste prestigiado altense. Deixou três filhos.

jornal “O Povo Algarvio” . Foi um dos principais dinamizadores e incentivadores do Centro Republicano Azevedo Silva, que era um correligionário local e funcionário superior da administração pública. Enfrentou a barra dos tribunais e a cadeia por ter levado longe de mais o seu republicanismo, tendo a seu lado Cândido Guerreiro. Foi no período anti-clerical que Paulo Madeira se envolveu em cenas de pugilato com o pároco de Loulé (Manuel Basílio Correia, S. Sebastião), dadas as convicções antagónicas. A sua defesa ficou a cargo do Dr. Alexandre Braga, ilustre advogado e deputado republicano, que não lhe exigiu, por tal serviço, um único tostão. Viu o seu jornal ser suspenso, tendo ressurgido a 12 de Março de 1910. Após a implantação da República, continuou com os seus artigos a denunciar processos de corrupção e atropelos à legalidade, culminando com o fim do jornal em 1912 e a sua retirada para a Argentina. Paulo Madeira foi, também, convidado por várias vezes para desempenhar

Paulo Madeira (propagandeador do republicanismo) Francisco Paulo Madeira nasceu em Alte, a 25 de Outubro de 1876 (segundo registo) e não a 11 de Novembro de 1877, como tem sido afirmado. Aí aprendeu as primeiras letras. Frequentou, apenas, as escolas de ensino primário. Afastado desses bancos, Madeira nunca descurou o interesse pela leitura, procurando reunir os livros dos melhores autores. Com eles, Madeira foi estudando e aprendendo a realidade da vida. Em Loulé, onde se casou e para onde foi viver, funda, em 1909 (ou 1908), o

entidades, o Ministro de Portugal (Dr. Jorge dos Santos), o Cônsul (Eduardo Pereira de Andrade), presidente da Sociedade Portuguesa de Socorros e do Centro União e representantes das sociedades locais. Foi sepultado no Panteão da Sociedade Portuguesa de Socorros, de Buenos Aires.

João de Deus (fervoroso crítico) Este altense, com apenas 20 anos, fundou o jornal “O Aldeão”, em 1912, e que só teve a duração de um ano. O primeiro número do Aldeão foi publicado em 1/11/1912, com o objectivo de alertar e reivindicar junto das autoridades competentes a conclusão da estrada de Alte. Num dos seus artigos, João de Deus acusa a Câmara de Loulé, curiosamente dirigida por outro altense (o poeta Cândido Guerreiro). As críticas e as adjectivações sucediam-se, e João de Deus e “O Aldeão” foram incómodos para a governação camarária. A partir daí, o jornal, muda de orientação política, filiando-se no Partido Republicano Democrático, liderado pelo Dr. Afonso Costa, mas acabando por se extinguir com o n º 28, publicado em 28/9/1913, sobretudo devido às batalhas verbais travadas entre o “O Aldeão” e Cândido Guerreiro. Sem estudos, João de Deus

cargos de representação social como o de Cônsul Português em Ayamonte, porém sempre os recusou. Em Buenos Ayres fundou o semanário “O Jornal Português”, órgão da colónia portuguesa na Argentina. Teve numerosa família, alguns dos seus descendentes possuíram lugar de destaque naquela República. Como poeta, deixou publicado um livro intitulado Versos Simples (1915), editado na Argentina, e dedicado à sua filha Maria do Carmo. Morreu a 25 de Novembro de 1931 e ao seu funeral compareceram entre outras

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foi um homem culto e que escrevia bem, criando à sua volta uma plêiade de jovens republicanos, escrevinhadores no jornal, entre os quais Graça Mira. Consta-se ter sido seminarista, em Faro, e que ajudou muitos jovens altenses, a crescer para os estudos e para a política. Por ser muito crítico e por falar mal de todos, João de Deus nunca foi reconhecido em Alte, nem sequer por ter ajudado a fundar um Centro Escolar e Republicano, que foi uma verdadeira escola política e cultural da aldeia. Teve quatro rapazes e duas raparigas.

Jamila Madeira (política de garra) Jamila Bárbara Madeira e Madeira nasceu a 17 de Julho de 1975, em Alte, filha de Luís Filipe Madeira. É licenciada em Economia, pelo Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG), concluíndo-o em 1997. Com a família ligada à política, cedo começou a envolver-se nesta actividade. Aos 10

anos já distribuía propaganda, mas foi na altura da revolta estudantil contra a Prova Geral de Acesso (PGA), e quando estava no segundo mandato da Associação de Estudantes da Escola Secundária de Loulé, é apadrinhada pela irmã mais velha (Heloísa), que se

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filia na Juventude Socialista (JS). Em 1994 é eleita Comissária Nacional da Juventude Socialista (abandonou em 2004) e no ano seguinte é eleita presidente da Mesa da Comissão Politica Distrital da JS/Algarve (abandonou em 2005) , membro da Comissão Politica Distrital do PS/Algarve, e ainda, deputada municipal da Câmara Municipal de Loulé), entre 1997 e 2011. Nas eleições autárquicas de 2009, candidata-se a presidente da Assembleia Municipal de Loulé, contra o actual presidente Mário Patinha Antão. Foi eleita entre 1994 e 2000 para a Comissão Política Nacional da JS e Secretária Nacional da JS foi Relações Internacionais da Juventude Socialista, sendo depois eleita Vice-presidente da União Internacional de Juventudes Socialistas (IUSY) e membro do Bureau da Organização Europeia de Juventudes Socialistas (ECOSY). Em Maio de 2000, no XII Congresso da JS, foi eleita Secretária-geral da JS (entre 2000 e 2004), tendo no ano anterior em Outubro de 1999, sido eleita deputada para a Assembleia da República pelo círculo do Algarve, aos 24 anos, entre 1999 e 2004 (VIII e IX Legislaturas), sendo a mais jovem deputada. Em 2001, é membro, decorrente do seu cargo, da Comissão Política Nacional de Recandidatura de Jorge Sampaio, a Presidente da República. É reeleita para um segundo mandato no XIII Congresso da JS, em 2002, e reeleita novamente deputada à IX Legislatura cargo que renunciou em Julho de 2004 para ocupar o cargo como deputada (PS) para o Parlamento Europeu. Recentemente, no XVIII Congresso Nacional do PS, realizado em Braga (11/9/2011), foi eleita para a Comissão Nacional, na lista do Secretário-geral António José Seguro. Presentemente, é quadro técnico da REN.

Lurdes Madeira (a dinâmica directora) Maria de Lurdes da Palma Madeira nasceu em Alte, no dia 30 de Agosto de 1917. Aos 21 anos completou o Curso de professora primária oficial,

em Lisboa. Exerceu essa profissão, primeiramente em Alte, durante um ano, depois esteve três anos no sítio do Espargal (Benafim). Voltou depois a ser colocada na aldeia de Alte, até 1979, altura da sua aposentação. Fundou o jornal “Ecos da Serra”, em 1967, juntamente com José Cavaco Vieira, mensário local de grande prestígio. Segundo ela, “o jornalinho é muito importante para esta aldeia, dinamiza muito a povoação”. Como qualquer outra pessoa, sempre foi muito amiga de trabalhar. Em tempos tratava da limpeza da Igreja e da sua ornamentação.

Deu catequeses, orientou o grupo coral da Igreja e tratava dos pobrezinhos. Foi propulsora da cantina escolar “Jacinta Marto” de Alte. Com outros altenses, criou o “Grupo de Amigos de Alte”, destinado a divulgar a cultura musical, o teatro, a tradição das “Janeiras”, grupo que fez diversos espectáculos com o objectivo de angariar donativos para a construção de um Centro de Dia e Lar da Terceira Idade de Alte. Lurdes Madeira fundou, também, a Associação Pró-Beneficência e Progresso de Alte, que deu origem à criação do Centro de Dia, Lar da Terceira Idade e Apoio Domiciliário de Alte, inaugurados em 1994. Entre 1994 e 2000, Maria de Lurdes exerceu o cargo de presidente da direcção desta Associação. Esteve, também, à frente da Acção Católica. Em 2000, foi agraciada com a Medalha Municipal de Mérito – Grau Prata, pelo Município de Loulé. Hoje, não se considera como uma mulher importante.” O que fiz foi com gosto e boa vontade, as pessoas sabem que não podia fazer tudo sozinha. Deixo obra”, destaca. É a actual directora do jornal ”Ecos da Serra”.


ilustres filhos da terra

Outras figuras Alte, também, chamada “terra dos doutores”, é, também, terra-mãe de muitas outras figuras, que se distinguiram nos mais diversos domínios, especialmente na medicina e administração pública. São eles: Estelita Leal (administração pública), Franca Leal (administração pública), Gonçalves Viterbo (medicina), Joaquim dos Santos Nunes (medicina), Raul Guerreiro (medicina, Brasil), José Francisco Nunes Guerreiro (medicina), Luís Pontes Maceta (medicina), José Rafael dos Santos Nunes (medicina), Manuel Siqueria de Figueiredo (mecicina, Brasil), Albertina Nunes (medicina), Elisa Cravinho (medicina), Maria Vitória Santos Nunes (medicina), Elmano Lerma Costa (medicina), Elmano Sousa Costa (empresário e patrono dos prémios escolares aos estudantes de Alte), Sérgio Silva (actual médico local) e Isidoro Domingues da Silva (reverendo padre). Outros nomes podem-se-lhes juntar pelo seu contributo na promoção social e cultural desta freguesia.

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artes

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artes e artistas

Jorge Graça (do vídeo à fotografia) Jorge Miguel Palma Graça, de 33 anos, é um dos jovens naturais da freguesia de Alte. Após concluir os estudos primários e secundários na região, rumou a Lisboa para se formar na área das Artes Visuais e Comunicação, especializando-se, ainda, em fotografia, de autor, na ARCO – Escola de Artes Visuais e Comunicação. Em 2010, Jorge Graça conquistou a Menção Honrosa, nos Prémios Microfilmes para Macrocausas, promovido pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, em parceria com o Clube Português de Artes e Ideais e o SAPO.PT, destinado a fomentar e distinguir a construção de objectos de imagens em movimento, no âmbito do Ano da Solidariedade, Pobreza e Exclusão Social. Graça concorreu com um vídeo feito com a D. Maria Belchior, uma das integrantes do grupo musical “Velhos da Torre”, que “era uma velhota que, na altura, vivia sozinha em casa, e eu quis, nesta curta-metragem, captar aquele seu lado mais intimista, de lavar a roupa em cima de uma pedra e de fazer a comida quase às apalpadelas, porque via muito

pouco. Como já tinha material, resolvi fazer este vídeo para este concurso e dar ênfase aquela mensagem que vai ficar para a história. Foi, precisamente, a imagem do isolamento e abandono que pretendi passar para a opinião pública”. Todavia, e antes deste prémio, este altense já havia ganho vários outros. Em 2007, foi seleccionado para representar Portugal numa “Bienal de Jovens Criadores da Europa e do Mediterrâneo” (Macedónia), conquistando um importante prémio na fotografia. Nesta área, e na ARCO, Jorge Graça conseguiu “ter uma visão diferente daquilo que já tinha quanto à maneira de fotografar e onde consegui pegar em coisas, que me preocupa e interessa, quanto ao meio rural”. Daí que, a ruralidade altense e algarvia estejam muitos presentes nos seus trabalhos de autor ou documentais. No ano passado, promoveu uma exposição de rua “Alte Aqui”, dando a conhecer actividades e personagens locais, outrora fotografadas e impressas em postais turísticos. “Nesta pequena mostra, procurei trazer as memórias antigas ao presente”, realça. Paralelamente à fotografia de autor (para livros e exposições”, Jorge Graça trabalha como técnico de vídeo e imagens numa produtora que presta serviços a vários canais de televisão.

Nelson Martins (fascinado pela cerâmica artística) Nelson Martins nasceu na freguesia de Alte, em 1976, onde desde cedo conviveu com artistas, que escolheram a região como fonte de inspiração. Nos finais de 1996, teve o seu primeiro contacto com o mundo da cerâmica ao colaborar com o atelier “Cerâmica d’Alte”, como pintor de azulejo,

permanecendo até 2001, e criando inúmeros painéis de azulejaria para comissões públicas e privadas, tanto para Portugal como para o estrangeiro. Viveu em Inglaterra, onde desenvolveu a actividade de cerâmica artística e divulgou a azulejaria portuguesa. Fundou o seu próprio atelier “Artisan Crafts”, em Bolton- Lacashire (2004), e participou em várias exposições, individuais e colectivas pela região do Noroeste de Inglaterra, tendo sido convidado por Geoff Cox para participar no prestigiado “PotFest”Festival Internacional de Cerâmica. Recentemente, regressou às suas origens e à “Cerâmica d’Alte” para dar o seu contributo às artes locais e ao dinamismo cultural da região. Em Novembro de 2010, participou numa exposição de cerâmica na Casa da Cultura de Loulé, para assinalar este seu regresso.

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artes e artistas

Cassiano Lima (o arquitecto pintor) Natural do sítio das Sarnadas, onde nasceu em 13/8/1961, José Cassiano Silva Lima, tem conquistado créditos nas artes. Formado em arquitectura, Cassiano Lima entrou no mundo das artes em 1982. Frequentou a Aliança Francesa de Paris (num período de três anos), o Instituto de Arte de Belville (Paris) e escola particular de artes e decorações, em Paris, entre outros. Adquiriu experiência na pintura com o seu conterrâneo Daniel Vieira, e em 1987

assume a coordenação de exposições na Galeria de Arte de Vilamoura, com Cruzeiro Seixas, Júlio Pomar, Olivier Brice e Vieira da Silva. Em 1993, executa trabalhos de pintura, escultura, decoração de interiores e exteriores do João Giga. Entre 1994 e 2006, participou em várias exposições individuais e colectivas no Algarve e em Espanha, destacandose a Bienal Internacional de Arte de Vilamoura, em 1996, a par dos seus trabalhos de arquitectura.

Daniel Vieira (o multifacetado artista) Daniel Vieira nasceu em Alte, em 3 de Junho de 1937, onde reside actualmente. Por influência do pai, José Cavaco Vieira, licenciou-se em pintura pela ESBAL – Escola Superior de Belas Artes de Lisboa, especializando-se, mais tarde, em gravura com Gil Teixeira Lopes e Matilde Marçal. Ciente de que a sua vida “dava um livro”, e entre as várias profissões que teve, Daniel fala com saudade dos tempos que passou no ensino, depois de ter deixado a Caixa Geral de Depósitos. Regressou a Alte, em 1980, com “vontade de fazer cultura na minha terra”. Leccionou Educação Visual na Escola C+S de S. Bartolomeu de Messines, História da Arte na Escola Profissional Cândido Guerreiro e na Escola Profissional de Agricultura (S.B. Messines). Membro da Sociedade de Gravadores Portugueses realizou diversas exposições colectivas e individuais em Portugal e no estrangeiro, sendo galardoado com vários prémios. Em Alte, e numa das velhas casas de seu pai, concebeu e fundou a “Horta das Artes – Centro de Artes e Culturas”, projecto plural que engloba, artes plásticas, música, teatro e cinema. Em 1990, representou o concelho de Loulé nos Jogos da Paz em Marrocos, e, em 1993, participou na Semana Cultural do Algarve em

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Estrasburgo. Já recebeu vários prémios e condecorações, nomeadamente a medalha de bronze no XVIII Salão de Primavera no Casino do Estoril (1972), a medalha de prata no XI Salão de Arte Moderna do mesmo casino (1973), o prémio de aquisição da 1ª Bienal de Gravura pela SGP (1980) e Medalha de Mérito Municipal – Grau Prata, pelo Município de Loulé em 1998. Exerceu

o cargo de presidente da Assembleia de Freguesia de Alte (pelo PS), fez parte do grupo musical “Erva Doce” e projectou o teatro na sua aldeia. Há mais de trinta anos, que desenvolve trabalhos de recolha na área da música e literatura populares. Hoje, aos 74 anos, divide a sua vida entre Alte e o Bairro de Alfama (Lisboa). É um dos mais conhecidos e carismáticos filhos desta freguesia.


artes e artistas

Galerias de Arte O Pólo Museológico Cândido Guerreiro e Condes de Alte é, actualmente, o espaço mais procurado para a realização de exposições de pintura e escultura na freguesia de Alte. Ali, já se efectuaram algumas iniciativas.

Entretanto, na Rua Nova da Igreja, no 1B (no coração da aldeia), foi reaberta uma galeria de arte, trata-se da – “Off the Wall” – da responsabilidade de Susan Searle, unicamente direccionada para artistas estrangeiros nas áreas da pintura, escultura e fotografia. O Pólo Museológico do Esparto onde funciona o Posto de Turismo, na (Casa da Memória d’Alte) é outro cenário a considerar. Neste espaço museológico, podemos encontrar peças etnográficas recolhidas na freguesia, tais como obras de cerâmica, alfaias agrícolas, imagens fotográficas e objectos de preparação do esparto (planta que determinou a vivência económica e social das pessoas de Alte). É, também, palco de iniciativas de carácter expositivo.

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Museu Regional de Alte

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Natural de Messejana (Aljustrel), José está há 53 anos em Alte. Durante 60 anos trabalhou como sapateiro e ainda hoje faz uns “biscates”. No résdo-chão do pitoresco Museu ainda está a sua oficina, com a sua máquina de coser a pedal, feita pelo próprio.


Quem passa por Alte passa pelo espaço que José Saturnino da Palma desenvolveu desde 1985. O gosto por coleccionar peças vem de pequeno e até hoje, aos 79 anos. “Por volta dos 6 anos, comecei a guardar tudo o que era velho”, recorda sublinhando que ainda “tenho peças dessa altura”. “Este Museu tem de tudo. Tenho muitas peças centenárias”, revela. Muitas são as pessoas que procuram o Museu Regional de Alte, principalmente estrangeiros. São estas pessoas que incentivam José a juntar todas as peças que se atravessam no seu caminho. Para ele, um “Museu tem de ter de tudo”. O espaço traduz muitos anos de dedicação e, neste momento, o que mais aflige José Saturnino é não saber o futuro do seu espólio. “Gostava que isto ficasse em Alte, era uma recordação”. Outra possibilidade que José encontrou é a de fazer uma doação a um Lar ou Misericórdia com o intuito de “ajudar os mais pobres”.

MUSEU “Casa Rosa” Igualmente conhecido pela “Casa Rosa” é um pólo museulógico e etnográfico de Alte. Inaugurado em Maio de 1995, este mini-museu regional integra-se numa habitação tradicional da serra algarvia, apresentando uma colecção de utensílios antigos, alfaias agrícolas, uma colecção de objectos de uso doméstico e mobiliário tradicional da região. Habitualmente, está aberto durante o Verão. Localiza-se no sítio do Malha Ferro, Assumadas (freguesia de Alte).

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associativismo

Produtor de

aguardente de medronho

AGÊNCIA FUNERÁRIA ALGARVE

João Santos, profissional experiente e com 30 anos de actividade, filho do fundador e saudoso ex-proprietário da Agência Victor em Loulé e Quarteira, participa a abertura da AGÊNCIA FUNERÁRIA ALGARVE, na Rua Professor Carlos Ramos, nº 1 A (Largo de São Francisco) em Loulé, da qual é Sócio-Gerente. A AGÊNCIA FUNERÁRIAALGARVE está equipada com o mais moderno equipamento, tendo ao seu serviço pessoal com formação profissional e alto grau de sensibilidade sócio/ psicológico que lhes permite o desempenho da sua actividade dentro dos mais altos padrões de honestidade, transparência e apoio ao semelhante. A AGÊNCIA FUNERÁRIA ALGARVE presta os seus serviços de Funerais para Sepultura, Jazigo, Cremação, A nível NACIONAL e INTERNACIONAL, todos os dias do ano, 24h/dia, sendo suficiente apenas o contacto telefónico para o número de telefone no cimo da página. Prestamos ASSISTÊNCIA a serviços de OSSADAS, FLORES e MÁRMORES.

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Com destilaria na aldeia de Monte Ruivo, João Rafael é um dos sete produtores de aguardente de medronho legalizados na freguesia de Alte. Herdando o negócio da família (iniciado pelo bisavô há 100 anos), este produtor quer, agora, transmiti-lo aos seus dois filhos que o acompanham, desde a fase da colheita do fruto (por alturas de Outubro/ Novembro, quando este apresenta a cor amarela, alaranjada ou avermelhada) à rotulagem e comercialização do produto final. Rafael assegura que a qualidade dos medronhos, os cuidados com a fermentação, a destilação, seu tempo de duração e sistema de engarrafamento são alguns dos segredos herdados para uma boa aguardente de medronho, mas sempre dependendo de produtor para produtor. Por estas bandas, este produto é destilado em alambiques de cobre e sob métodos ancestrais, constituindo um verdadeiro ex-líbris desta zona serrana possuidora de bons terrenos de produção. Hoje, a sua aguardente, com certificação biológica desde 2007, pode ser consumida no mercado nacional (supermercados e unidades de restauração) e internacional (via internet). É uma das mais apreciadas aguardentes da região.


me

úsica e spectáculos

O Grupo Folclórico da Casa do Povo de Alte é o principal expoente da musicalidade altense, entoando cantares típicos e recolhidos ao longo de décadas. “Os Velhos da Torre” dão voz às tradições orais desta zona serrana. Individualmente, Ricardo Neto e César Matoso representam a nova geração do fado, ao passo que Joana Solnado afirma-se na arte de representar, dando seguimento à veia artística da família. Ao invés, o Grupo de Música Tradicional Portuguesa “Erva Doce” é já uma saudade. LOULÉ

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magazin

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música e espectáculos

César Matoso (alma fadista)

Natural de Alte, onde nasceu há 20 anos, César Ismael Barriga Matoso entrou no mundo da musicalidade aos 14 anos, quando participou no Festival da Canção do Algarve. Foi aí a sua primeira experiência séria. “Desde sempre que canto. Os primeiros contactos com a música foram no infantário e no ATL. Foi algo que sempre me fascinou, que fui trabalhando e desenvolvendo, e aos 14 anos, resolvi ir em frente, concorrendo ao Festival da Canção do Algarve”, afirma. A partir daí, começou a cantar em karaoks e a concorrer ao Concurso de Artes de Albufeira, na área da música ligeira. “Num desses concursos conheci o Valentim Filipe, que me perguntou se estava interessado em cantar fado e participar num dos concursos de fado amador. Apesar de gostar e de sempre ouvir cantar o fado, nunca o tinha cantado, porque pensava que a minha voz não se adequava ao fado. Falei com os meus pais, que me incentivaram a participar, chegando à final, numa segunda eliminatória. Fiquei motivado, comecei a cantar fado, a concorrer aos concursos e a responder aos convites que me faziam para animar as pequenas noites e convívios de fado em vários sítios da região”, lembra. Em 2010, Matoso estreou um projecto a solo, na Feira do Artesanato de Loulé. Foi o chamado “Fados do Fado”, em que cantou vários fados, desde o Camané, Amália Rodrigues, Fernando Maurício, entre outros, naquela que foi a sua “grande oportunidade” em cima de um palco, num espectáculo por si programado e orientado. Em Fevereiro deste ano, actuou para as comunidades portuguesas de Lyon e Saint Etienne (França), a partir de um convite de um produtor radicado naquele país, após ter vencido a XVIII edição do “Encontro Algarvio de Fado Vadio”, de Olhão. Venceu, também, o 12º Concurso de Fado Amador do Concelho de Vila do Bispo, com os fados “Loucura” e “Canta o Fado”, arrebatando um prémio monetário de

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600 euros. No Verão passado esteve no programa “Canta Comigo”, na TVI, em Albufeira, sendo o 4º concorrente mais votado pelo público. Confesso admirador de Camané, Ricardo Ribeiro, Amália, Marisa, Ana Moura, Beto, Paulo Gonzo, Rui Veloso, este jovem altense lançou em Dezembro de 2011 o seu primeiro trabalho discográfico, intitulado “Fado Primeiro”. César Matoso tem encantado plateias nos

vários palcos regionais, nomeadamente galas, eventos, espectáculos de festas de Verão, concursos de fado e unidades de restauração de uma ponta a outra do Algarve, mostrando o seu valor artístico. Além da componente musical, Matoso faz, também, teatro, no Ao Luar Teatro, por gostar muito da representação, na perspectiva de experimentar o teatro musical e testar o mundo das artes.


música e espectáculos

Grupo Folclórico da Casa do Povo de Alte (embaixador cultural da freguesia) Este Grupo apresenta-se como um dos mais carismáticos “embaixadores” da cultura e das tradições da freguesia de Alte. Foi fundado em 4 de Outubro de 1938, com o objectivo de divulgar os trajos, danças e cantares tradicionais da zona onde se insere e de participar no concurso etnográfico de “Aldeia mais portuguesa de Portugal”. Foi seu fundador, José Cavaco Vieira, que dirigiu este Grupo durante vários anos. É sócio fundador da Associação de Folclore e Etnografia do Algarve, sócio da Federação

do Folclore Português e está ligado ao INATEL. Ao longo da sua existência, tem levado o nome desta terra, não só por todo o País, como em diversas partes do Mundo, participando em inúmeros festivais nacionais e internacionais de folclore e nas mais variadas festas de cariz etnográfico e cultural, destacandose as suas actuações nas festas do “Mundo Português”, em 1940, e posteriormente no Teatro D. Maria, Pavilhão Carlos Lopes e Coliseu dos Recreios, entre outros. Fez, também, parte de vários Congressos de Etnografia

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música e espectáculos

em Lisboa e na Região Autónoma dos Açores. Participou no Concurso Internacional de Danças e Cantares Populares, de Madrid, em 1949, obtendo, a Medalha e Diploma de “Alto Mérito Etnográfico”, e representou o Algarve na Feira Internacional de Turismo (Madrid). Recebeu o primeiro prémio num Festival Nacional de Folclore e tem sido galardoado com diversas medalhas e taças. Do seu reportório fazem parte 25 danças (bailes) de roda simples com pares no meio, cadeados, despiques, baile mandado, topes, marcadinhas, corridinhos, ao som de toda a tocata e cantata, ou só ao som de “gaita-debeiços”, castanhola e ferrinhos, ou acordeão e ferrinhos. Os seus trajes são “Domingueiros” e de “Cerimónia”, representando, etnograficamente, uma cerimónia de casamento tradicional da zona de Alte, com cópias de trajes da época (finais do

século XIX, princípios de XX), nomeadamente no 1º de Maio de cada ano. Da representação faz parte o desfile, com a média de 35 figurantes, breve saudação dos noivos à porta de casa e baile com cantigas e danças de roda, vividas na época. Foi agraciado, em 1994, com a Medalha Municipal de Mérito – Grau Ouro, pelo Município de Loulé. Em 1999, foi galardoado com o prémio “Primus Inter Pares” pela revista “Magazine do Algarve”. Em Janeiro de 2000, recebeu a Medalha de Mérito Turístico – Grau Prata, entregue pelo Secretário de Estado do Turismo. O Grupo Folclórico de Alte editou vários discos em suporte de vinil (LP’s e EP’s). Em 1998, a Valentim de Carvalho, aproveitando um conjunto de temas que tinha dado estampa nos anos 50 e 60, editou um Compact Disc (CD) com 12 faixas a que se deu o título de “Folclore – Algarve”.

“Erva Doce”

(na defesa da música tradicional)

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O Grupo de Música Popular “Erva Doce” foi criado, em Alte, em 29 de Outubro de 1995, como parte integrante da Casa do Povo, a partir de um projecto idealizado por Sérgio Silva, Daniel Vieira, Valentina e Cila.

Iniciou a sua actividade como forma de ocupação dos tempos livres, apresentando-se ao público no dia 21 de Dezembro de 1995, na Festa de Natal da Casa do Povo de Alte. Os espectáculos sucederam-se ao longo dos anos,


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música e espectáculos

a partir daqui contabilizando mais de uma centena de actuações. Tem participações em directo na RTP e SIC, bem como várias actuações ao vivo e entrevistas em rádios locais, Rádio Renascença e RDP. O primeiro trabalho gravado aconteceu em 1986 (Edição Empresas José Cheta). Em 1987, grava o segundo trabalho “Mensagem de Amizade” (Edição Diapasão), que se esgotou através dos altenses emigrados em todo o Mundo, destinando-se os lucros no apoio à construção do Lar da 3ª Idade de Alte, e em 1993, surge em CD e Cassete “Vida de Grupo” (Edição Discossete). A primeira internacionalização ocorreu, em 1993, em França, integrados na “Embaixada Cultural do Algarve na Alsácia”. Em 1996, é galardoado pela Câmara Municipal de Loulé, com a Medalha Municipal de Mérito – Grau Prata. No dia 4 de Julho de 1998, no âmbito das comemorações do Dia do Algarve realizou quatro exibições de muito sucesso na Expo 98 (Lisboa). Recebeu, a 28 de Agosto de 1998, na “Grande Festa dos Artistas Algarvios”, o prémio “Terras de Loulé”, como melhor grupo na área da música tradicional. Em 1998, actuaram na Reunião Informal dos Ministros da NATO 98 (Vilamoura), e em 2000 marcaram presença na Conferência Internacional “Políticas e Instrumentos de Combate à Pobreza na União Europeia” (Vale do Garrão) e Conferência de Alto Nível da União Europeia sobre o combate à criminalidade” (Albufeira). Os elementos do grupo, presentemente inactivo,

são: Carlos Caetano, Daniel Vieira, Filipe Belchior, Luís Belchior, Irene Figueiredo, Isabel Santos, Valentina Silva, Ruth Gonçalves, Sérgio Silva, Sílvia Conceição, Sónia Graça, Carla Oliveira (estilista) e Maria de Deus Palma (modelista). Sérgio Silva era o director do Grupo.

“Os Velhos da Torre e Amigos” (a voz das tradições orais) O grupo começou no inicio da década de 80, do século XX, a partir de uma brincadeira com o Daniel Vieira e mais três ou quatro pessoas, no largo da Escola da Torre. Chegaram a ser 18 elementos, vindos da Torre, Fonte Santa, Paredinhas e Alte, cantavam e bailavam músicas que aprenderam com os seus avós. Não sabiam que nome a dar ao Grupo e como todos eram “velhos” e dos arredores da Torre, deram o nome de “Velhos da Torre”. Actualmente são apenas dois e encantam, com a sua boa disposição, quem os escuta. São Francisco Belchior (88 anos) e Sofia Belchior (84). Têm actuado de norte a sul do país, também já foram a Espanha e têm aparecido várias vezes na televisão. São um poço de cultura. Já gravaram

um disco, num projecto da Câmara Municipal de Loulé

“Outras Músicas Alte/Benafim/Salir” Em 2005, foi editado o 3º volume do catálogo da “Tradição Musical de Loulé”, denominado “Outras Músicas-Alte/Benafim/Salir”, que integra 47 temas musicais das referidas freguesias, como forma de preservação e divulgação da música tradicional. Essas faixas foram seleccionadas de entre cerca de duas centenas de espécimes musicais recolhidos entre 1981 e 1987, que após tratamento tecnológico adequado foram dados a conhecer, numa edição da Câmara Municipal de Loulé, no âmbito do projecto do Pólo Museológico Cândido Guerreiro e Condes de Alte. Após os discos relativos a Querença (Filipa Faísca e Irmãs) e Alte (Velhos da Torre e Amigos), Daniel Vieira, Hélder Raimundo e Maria Amália Cabrita resolveram lançar, uma terceira edição. A maioria dos informantes desses tempos, cantores e músicos com idades compreendidas entre os 60 e 80 anos, já faleceram, mas são lembrados, neste projecto, através das canções ao Menino, as janeiras de Natal e de Anos-Bons, os cantos dos Reis, as orações das novenas nos terços de Quaresma e as muitas rodas de baile. Este trabalho de recolha foi efectuado nas aldeias de Alte, Benafim, Benafim Pequeno

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música e espectáculos

e Freixo Verde (1981); Soidos, Santa Margarida, Fonte Santa, Ronceiro e Freixo Seco (1982); Penina e Monte Ruivo (1987). A concepção do projecto é de Hélder Raimundo.

Ricardo Neto (herdou veia musical) Nado em Silves, em 1980, Ricardo Neto tem ascendência de Alte, donde é natural sua mãe, tias e avós maternos. Oriundo de uma família (materna) ligada à música – a mãe (Guida), avó (Olívia) e irmão (Rui) pertenceram ao Grupo Folclórico de Alte e o avô (António Ricardo), a uma banda filarmónica (tocador de harmónica) – Ricardo herdou a veia musical, tendo o fado no sangue. Já cantou em palcos de renome: Teatro Maria Matos (1999/2000), Casino do Estoril e antiga Feira Popular de Lisboa. Além-fronteiras actuou, nomeadamente, em Annecy (França), Huelva (Espanha) e Londres (Inglaterra). Participou em programas televisivos, como “Cantigas da Rua” (Faro, 1999) e fez vários duetos. Um dos pontos altos da sua carreira foi a actuação na Praça de Touros de Tavira (2007), onde interpretou um hino à tourada, que deu nome a um dos seus singles de maior sucesso. O cantor algarvio conta com 12 discos na sua discografia, incluindo singles, que vão desde o fado à canção,

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passando pelo folclore português e música espanhola. O cantor tem como madrinha artística a actriz e fadista Alice Pires. Em 2010 lançou o seu último disco “Lembranças”. O primeiro álbum foi editado em 1998, aos 18 anos, e em 2010, lançou o seu último disco “Lembranças”. Ricardo Neto despontou para a música aos 5 anos, e aos 13 anos descobriu o gosto pelo fado, “quando saiu o disco ‘Lágrimas’ da Dulce Pontes”, confessa.

Joana Solnado (actriz reconhecida) De ascendência altense, Joana Solnado nasceu, a 21/9/1983, em Lisboa,

no seio de uma família de artistas. Filha do músico Rui Madeira (de Alte) e da escritora Alexandra Solnado, Joana cursou Ciências da Comunicação e Cultura, vertente Cinema, na Universidade Lusófona, recebeu formação em teatro com o actor Thiago Justino (seu padrasto) e frequentou o curso de Formação de Actores na extinta Universidade Moderna. Aos 14 anos, estreou-se na arte de representar com a peça “King, I Have a Dream”, dirigida por Thiago Justino, e apresentada no The Edge Festival, em Inglaterra, com a Fundação Gulbenkian. No teatro participou em projectos como “Confissões de Adolescente” (2002), a peça infantil “Olha quem está aí” (2003), entre outras. Joana Solnado popularizou-se com as suas prestações na televisão, integrando o elenco de várias telenovelas portuguesas, nomeadamente “O Último Beijo” (2002), “Morangos com Açúcar” (entre 2003 e 2005), “Tempo de Viver” (2006), “Ilha dos Amores” (2007), “Sentimentos” (2009), assim como em “Equador” (2008), “Casos de Vida” (2008), “Revelação” (2008) e “Como uma Onda” (2004/05), esta da Rede Globo. Fez, também, inúmeras peças de teatro com o grupo “Actrizes em Pijama” e entrou em duas curtasmetragens cinematográficas. Joana é actriz exclusiva da TVI e neta do recentemente falecido actor Raul Solnado. Em 2008, ganhou um prémio na Gala de Ficção Nacional da TVI. Foi vencedora do programa “Canta por Mim” da TVI (2006) e cara da “Organics” (2007).


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grupos de teatro

Teatro da Estrada O nascimento do projecto remonta a 1993, mas só a partir de 1998 é que o Grupo de Teatro se instalou em Alte e começou a desenvolver a sua intensa actividade. Com o auxílio da Associação In Loco, o grupo, constituído por cerca de 5 a 6 elementos fixos, para além dos artistas convidados, trabalha diariamente na "Horta das Artes", um local com um pequeno auditório.

Ao Luar Teatro “Por Entre Valados” foi a peça de estreia do grupo Ao Luar Teatro apresentada no âmbito do programa CENÁRIOS – V Mostra de Teatro de Loulé. Esta companhia, sedeada na antiga Escola Primária das Sarnadas, freguesia de Alte, tem um elenco composto por Célia Martins, Olga Costa e Rui Penas.

“Miralumim” Este é um Grupo de Teatro Amador de Alte que foi criado no âmbito do Projecto “Bem Me Quer” dinamizado pela Divisão de Gestão Social e Saúde da Câmara Municipal de Loulé. O “Miralumim” iniciou a sua actividade em Março de 2010, e em Setembro, estreou-se com um trabalho baseado na história de Alte, desde a integração do Algarve no Reino de Portugal até ao século XX. Todo o trabalho foi constituído durante o processo de ensaios e às investigações históricas juntaram-se as experiências dos elementos do grupo, resultando um espectáculo que de alguma forma caracteriza a visão que as pessoas de Alte têm da sua terra. O elenco é composto por Maria Julieta Guerreiro Coelho, Maria Madalena Martins Palma, Natália Coelho G. Martins, Otília Silva Gonçalves e Paulina da Silva. “Alte, água e vida”, coordenada por Pedro Monteiro é uma das peças de registo

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cultura de Alte

Alte, Aldeia Cultural

Esta aldeia típica do interior do concelho de Loulé permite um passeio no espaço e tempo cultural. A quinhentista Igreja Matriz de Nossa Senhora da Assunpção, a Casa da Memória d’Alte, o Pólo Museológico do Esparto são importantes símbolos a visitar. A Horta das Artes mostra uma oficina de artes gráficas e picturais, com dinamismo constante na cultura e artes da região. O Pólo Museológico Cândido Guerreiro e Condes de Alte revela uma colecção significativa dos espólios particulares do poeta Francisco Xavier Cândido Guerreiro e da família dos Condes de Alte. O Festival Internacional de Folclore, a Semana Cultural e a Festa do 1º de Maio dão corpo e cor à “Aldeia Cultural”, que caracteriza Alte.

“A Aldeia Mais Portuguesa” O ano de 1938 marcou decisivamente esta sede de freguesia, que ainda incluía a actual área de Benafim. Numa iniciativa do então Secretariado

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de Propaganda Nacional (SPN), projecto propagandista do Estado Novo, criado em 1933, pelo Governo de António Oliveira Salazar, e liderado pelo jornalista e escritor António Ferro, Secretário da Propaganda Nacional, foi lançado o concurso nacional “A Aldeia Mais Portuguesa de Portugal”, apresentado ao público em Fevereiro de 38, e que se ficaria pela primeira edição. Alte é a candidata do Algarve que resistiu até à fase final, sendo

visitada por um júri nacional (Luís Chaves, Armando Leça, Gustavo de Matos Sequeira e outros) a 4 de Outubro de 1938, que seria composto por cinco elementos (um etnógrafo, um folclorista, um musicólogo especializado na temática/região, um director de um museu regional e um representante da junta provincial). Neste dia, o Grupo Folclórico da Casa do Povo de Alte, apresentou-se pela primeira vez ao público. Um jornalista (Juliano


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cultura

Ribeiro), enviado especial do “Jornal de Noticias”, do Porto, ao Concurso, escreveu sobre Alte, o seguinte: “Foi uma importante manifestação cultural de todo o povo de Alte e freguesia. Alte, berço natal do poeta Cândido Guerreiro e dos quatro cerros que a cercam, foi a última aldeia visitada pelo júri (hospedado num hotel da Praia da Rocha) do concurso, ao fim de três semanas de viagens por todo o País”. Teceu palavras muito elogiosas para com Alte, que segundo ele, resumia todo o Algarve, desde a terra às suas gentes. O povo de Alte sentiu-se lisonjeiramente elogiado. E como só podia haver vencedores, o júri nacional atribuiu o primeiro prémio à aldeia de Monsanto, tendo-lhe sido atribuído como troféu um “Galo de Prata”, cuja réplica é, ainda, hoje, exibida no topo da Torre Lucano (torre sineira). O segundo lugar foi repartido por mais de uma dezena de aldeias, onde se incluía Alte. Esta participação ficou a dever-se a José Cavaco Vieira, que embelezou a aldeia no seu cenário natural, fundou o Grupo Folclórico e encenou a

Outras aldeias concorrentes As aldeias participantes neste concurso nacional foram: Carrezedo de Bucos e Vila Chã (Alto Minho), Alturas do Barroso e Lamas de Olo (Trás-os-Montes e Alto Douro), Almalaguez e Colmeal (Douro Litoral), S. Julião de Cambra e Manhouce (Beira Alta), Paul e Monsanto (Beira Baixa), Aljubarrota e Oleiros (Estremadura), Azinhaga e Pego (Ribatejo), Nª Sª da Orada e S. Bartolomeu do Outeiro (Alto Alentejo), Peroguarda e Salvada (Baixo Alentejo), Alte e Odeceixe (Algarve). A partir daqui sucedeu-se a ronda de visitas pelas aldeias seleccionadas e a selecção das melhores. Depois de algumas eliminatórias e especulações, foram escolhidas as três finalistas: Paul, Carrezedo de Bucos e Monsanto, sendo esta escolhida por maioria.

cerimónia do casamento tradicional algarvio para merecer a atenção do júri. Rezam algumas crónicas, dessa altura, que por erro de antecipação, quando os organizadores do concurso chegaram a Alte, tinha já sido atribuído o primeiro prémio a Monsanto, pois nunca julgaram que a última aldeia concorrente, (no Algarve), os viesse a surpreender com a sua autêntica e genuína apresentação. Segundo o antropólogo Joaquim de Pais de Brito, em 1980, Alte é indicada como a “segunda aldeia mais portuguesa de Portugal”, numa pequena monografia turística do Algarve. Também, no Guia do Concelho de Loulé (editado nos anos 40 pela Revista Internacional de Portimão), Alte aparece classificada em terceiro lugar no concurso de “Aldeia mais Portuguesa de Portugal”. Até há pouco tempo conservou-se na memória local com esse mesmo estatuto, registado no nome de uma das ruas do povoado, a Rua Galo de Prata, hoje (Travessa do Largo da Igreja). A partir deste con-

curso, Alte passou a figurar na galeria das aldeias mais típicas e tradicionais de Portugal. Recentemente, e por duas ocasiões, os altenses tiveram a oportunidade de recordar, ou de visionar pela primeira vez, o filme que retrata o concurso de 1938 que pretendeu galardoar “A Aldeia Mais Portuguesa de Portugal”.

Monumento a José Vieira (o símbolo cultural) A história da cultura de Alte está muito enraizada na vida e obra do altense José Cavaco Vieira. Nesse contexto, o monumento a ele erigido é o símbolo cultural mais marcante desta “Aldeia Cultural”. “O seu perfil patriarcal, suportando o seu velho guarda-chuva e abraçando o seu jornal olhará, perenemente, o habitante de Alte ou o visitante interessado na aldeia cultural, apertando solene e convivialmente a mão de quem se lhe aproxima, entregando com a palma da sua mão, o bem e a paz, que sempre defendeu e honrou” (Hélder Raimundo, na obra “Conversando a Vida Toda”). Esta obra retrata uma pessoa completa, de grande valor e que se empenhou em todas as actividades da terra que o viu nascer.

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cultura

Alte respira poesia Em Alte respira-se poesia, ou não fosse esta a freguesia onde nasceu o poeta Cândido Guerreiro. Basta ver, por exemplo, os muitos versos por ele redigidos e gravados em painéis de azulejos espalhados por vários pontos da aldeia, nomeadamente na Avenida 25 de Abril, Largo José Cavaco Vieira, Passeio Engº Duarte Pacheco (na Fonte Pequena) e Fonte Grande. Um outro testemunho espelha-se na escultura de Luís de Camões, esculpida em pedra natural, por José Cavaco Vieira, com um pequeno painel de azulejos, onde estão estampados os versos “Ao desconcerto do Mundo”, de Camões (século XVI). Foi colocada em 1970. Esta “aldeia cultural” é também fértil em poetas populares, mas que nunca ousaram publicar as suas poesias em livro, salvo nos jornais da terra, nomeadamente no “Ecos da Serra”. Joaquim dos Santos (Sarnadas), Aurora Graça Mira (Alte), José Diogo Cabrita (Lentiscais), Júlia de Jesus Rodrigues (Macheira), Fernando Sequeira Tardão (Alte), Maria Julieta (Alte), Maria Guerreiro Dionísio (Ribeira de Algibre), José do Vale (Alte), Maria da Conceição Rodrigues (Esteval dos Mouros), Graça Santos (Azinhal) entre outros. Destaque, também para Diana Nascimento, que escreveu o “hino do Grupo de Amigos de Alte” e a “Marcha de Alte” (musicada por Isidoro Pontes).

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solidariedade social

Lar é importante

valência social Na freguesia de Alte, as questões sociais são muito equacionadas pelas instituições locais. Ali, tenta-se combater o isolamento das pessoas idosas e a desertificação dos montes, apesar das muitas dificuldades sentidas pelas IPSS, nomeadamente aAssociação Pró-Beneficência e Progresso e Alte (direccionada para a terceira idade) e Centro de Animação e Apoio Comunitário da Freguesia de Alte (crianças). Também, a Casa do Povo, a Escola Profissional “Cândido Guerreiro” e a Paróquia de Alte estão particularmente atentas às vertentes sociais e educacionais dos altenses.

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O Centro de Dia e Lar da Terceira Idade de Alte, da responsabilidade administrativa da Associação PróBeneficência e Progresso de Alte (constituída em 1986), está em pleno funcionamento, desde 22 de Fevereiro de 1994. Sedeada no sítio do Poço da Antónia, com uma ampla vista panorâmica, esta é a única instituição de solidariedade social ligada à terceira idade da freguesia, contando com as valências de Centro de Dia (30 utentes), Lar de Idosos (18) e Apoio Domiciliário (30). Insere-se numa zona onde prolifera gente muito envelhecida

(cerca de 300 pessoas com mais de 65 anos), fazendo com que o Lar tenha uma vasta lista de espera (cerca de 40, para uma capacidade máxima de 18 utentes). O quadro de pessoal repartese por 21 pessoas, entre direcção, técnicos, administrativos, auxiliares, animadores e enfermeiros. O serviço exterior é assegurado por três viaturas (uma de 9 lugares e duas de cinco), por toda a freguesia e Portela de Messines. Os principais apoios são da Segurança Social, Câmara Municipal de Loulé, Junta de Freguesia de Alte, compartições dos utentes e donativos pontuais. Além dos parcos recursos económicos, a Instituição sente, também, muitas dificuldades na actividade exterior, nomeadamente as longas distâncias a percorrer para prestar o serviço de apoio domiciliário aos utentes, com muitas casas a não possuírem água para fazerem os respectivos trabalhos de higiene (pessoal e habitacional). No campo da animação, os idosos desfrutam de passeios temáticos, jornadas


solidariedade social

de convívio com outras instituições, ginástica, passeios pedestres e trabalhos manuais. A instituição perspectiva a ampliação do Lar (mais dois quartos e quatro camas), mas está à espera da aprovação do projecto pela Câmara de Loulé e Segurança Social, cujo processo decorre há mais de cinco anos. O investimento estima-se em cerca de 100 mil euros, segundo o presidente da direcção da Associação, Manuel Carvalho. Recorde-se que a primeira pedra do Centro de Dia e Lar foi lançada a 29/6/1991, pelo Secretário de Estado da Segurança Social, José Luís Vieira de Castro.

O apoio às crianças O Centro de Animação e Apoio Comunitário da Freguesia de Alte (CAACFA) é uma Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS), fundada em 15 de Junho de 1986, em reunião da população organizada pelo Projecto Radial/Instituto Politécnico de Faro, que apoiou a Associação nos primeiros tempos, na área pedagógica e sua legalização. Com a finalidade de ocupar as crianças nos seus tempos livres foi criado o ATL e criada a Rede Préescolar para integrar as crianças a partir dos três anos. Actualmente, possui as

valências de creche (36 crianças até 3 anos), jardim-de-infância (48) e ATL (30), orientadas por 5 educadoras de infância e 3 animadores. Ali, laboram 28 pessoas, entre técnicos e pessoal auxiliar. Tratando-se de um espaço sempre aberto, esta unidade disponibiliza, também, cantina e refeitório para cerca de 100 crianças do ensino básico. Paralelamente, desenvolveu a componente desportiva: atletismo, futebol e futsal. Hoje, persiste, unicamente, o futsal. O Centro tem tido uma participação regular nos campeonatos distritais e obtido bons resultados. A instituição participa, activamente, em todas as actividades promovidas pela Junta de Freguesia de Alte (Carnaval, Semana Cultural, Marchas Populares, e outras). A Instituição, presidida por Francisco Gonçalves, desde a fundação, actua geograficamente nas zonas de Alte, Benafim e Messines, nos domínios do acompanhamento, desenvolvimento local, cultura, desporto e lazer na freguesia de Alte.

Unidades de saúde Em termos de saúde, Alte possui uma extensão do Centro de Saúde de Loulé, a funcionar na Casa do Povo, com médico e enfermeira todos os dias.

Os habitantes dos montes da freguesia recebem a “visita” da Unidade Móvel de Saúde da Câmara Municipal de Loulé, de dois em dois meses, de forma a controlar com maior frequência os níveis de colesterol, tensão arterial e glicemia para despiste da diabetes.

Projecto cancelado no Azinhal Na década de 90, a Associação Social e Cultural 8 de Dezembro, do Azinhal (Alte) estava, altamente, empenhada na edificação de um centro comunitário nesta aldeia. Chegou a ser assinada uma escritura de cedência de dois prédios rústicos para o efeito (entre a autarquia de Loulé e a Associação), desenvolvido um projecto e iniciados contactos para a comparticipação da obra (Direcção Regional de Segurança Social e Câmara de Loulé). Numa das ocasiões (I Feira de Actividades da Primavera do Azinhal), o então presidente da CM Loulé, Vítor Aleixo, referiu a importância do equipamento, porque para além de “ser um espaço de integração da comunidade idosa, irá contribuir para a criação de mais postos de trabalho”. Também, a edificação de uma ermida e posto médico eram equacionados. Para tal, desenvolveram uma série de iniciativas e festas locais (Festa do Pão). Em 7/6/1997, foi lançada a primeira pedra desta obra, num terreno pertença da Associação – uma parte doada pela Igreja e outra parte adquirida – havendo inclusivamente uma considerável quantia em dinheiro depositado na Caixa Agrícola Mútuo de Alte. Estes projectos caíram por terra, para desgosto de todos quantos estiveram e colaboraram com a Associação 8 de Dezembro, que tinha, por missão, um serviço de desenvolvimento local e dinamização cultural.

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O Pastor de Alte

Antigamente, muitos eram aqueles que dedicavam a sua vida ao campo. Nos dias que correm, as profissões ligadas à terra vão caindo em desuso mas no interior do concelho de Loulé ainda existem algumas pessoas que não deixam as tradições caírem ao esquecimento. O Pastor Silvino é um desses casos…

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Este pastor tem duas raças de ovelhas: alentejana e a churra algarvia. Por ano, morrem cerca de 50 ovelhas.

Silvino dedica a sua vida a domesticar ovelhas. Natural de Alte, este pastor, que possui cerca de 400 ovelhas, confessa que este é um “trabalho muito difícil”. O calor, o tempo que passa no campo e o baixo ordenado são alguns dos factores menos positivos desta lide. “É um negócio muito fraco”, confessa. Silvino conta que começou a pastorear muito novo, em criança. Aos 14 anos resolveu mudar de profissão, aprendeu outros ofícios mas, um pouco mais tarde, voltou aos campos. Há cerca de 30 anos que Silvino não conhece outra vida e dedica-se às ovelhas de alma e coração. No Verão é mais difícil, devido ao calor. Tem de se levantar muito cedo, às 05h00, para levar as ovelhas a pastar. Regressa a casa por volta das 12h00 e às 17h30 volta novamente aos pastos, destas vez até as 23h00. Uma vida nada fácil, que Silvino confessa estar “habituado”.

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a gastronomia em Alte

A freguesia de Alte não é apenas rica em paisagem mas também em gastronomia. No interior algarvio são confeccionados alguns dos manjares mais deliciosos da região sul de Portugal. Desde os pratos de caça, ao fantástico galo caseiro guisado terminando com o tão afamado morgado, muitas são as opções. A Loulé Magazine deixa aqui algumas sugestões…

Guisado de Galo Caseiro 1 Galo com 5 Kg aprox. 3 Kg de Batatas 75 0 grs. de Cebola 250 grs. de Toucinho de porco preto 1,5 dl de Vinho tinto caseiro 10 Cabeças de cravinho inteiro 5 Raminhos de salsa 3 Colheres de azeite 2 Tomates médios 2 Cabeças de alho 2 Folhas de louro 2 Malaguetas Um pouco de noz-moscada Sangue do galo misturado com 3 colheres de água e 3 colheres de vinagre Pimentão-doce q.b. - Sal q.b.

misturar com o preparado. Começa a criar água. Quando esta tiver evaporado, para não queimar, adicione, aos poucos, mais água, até o galo estar cozido. Quando a carne começar a desligar-se do osso da perna, coloque as batatas, cobrindo-as com água. Deixe cozer tudo lentamente. Depois de cozido adicione o sangue do galo mexendo suavemente.

Jantar de Grão Arjamolho 300 grs. de Tomates maduros 200 grs. de Pão caseiro duro 1 dl de Azeite 1 Pimento verde 1 Pepino 1 Cebola 3 Dentes de alho 2 Colheres de vinagre Orégãos q.b. Sal grosso q.b. Descasque os dentes de alho e pise com sal. Tire os pés aos tomates, limpe o pimento, descasque a cebola e o pepino e corte em pedaços pequenos. Num recipiente, deite o azeite, os oregãos, água fria e o vinagre. Junte todos os outros ingredientes previamente preparados. Corte o pão em fatias ou cubos pequenos e adicione. Mexa e sirva bem frio.

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Corte o galo aos bocados e coloque de conserva no vinho caseiro cerca de 1 hora. Misture na conserva uma cabeça de alhos descascados e cortados aos bocados, louro, cominhos, noz-moscada, uma carteira pequena de pimentão doce, cabeças de cravinho, malaguetas e sal. Num tacho de barro faça um frito com o toucinho, deixando-o fritar bem, retirando-o depois. Junte o azeite e a outra cabeça de alhos, a cebola, o resto do pimentão doce e a salsa e deixe aloirar tudo muito bem. Depois junte o galo, dando-lhe voltas para o

480 grs. de Grão 300 grs. de Carne de vaca limpa 250 grs. de Batatas 200 grs. de Feijão verde 200 grs. de Abóbora 160 grs. de Arroz 150 grs. de Toucinho entremeado 150 grs. de Chouriço ou linguiça 100 grs. de Sal grosso 1 Ramo de hortelã Sal q.b. Coloque o grão a demolhar em água fria, 12 horas antes da confecção. Depois de demolhado, esfregue bem com sal grosso e lave várias vezes, para o libertar das peles. Leve uma panela ao lume com o grão e cobre-se com água. Lave as carnes e junte ao grão. Descasque a abóbora e as batatas, lave


a gastronomia em Alte

e corte em pedaços. Junte à panela e deixe cozinhar. Quando as carnes estiverem cozidas, retiram-se e deixe arrefecer. Cortam-se em pedaços. Lave o feijão verde, retire os pés e os bicos, parta em pedaços e junte tudo ao cozido. Deixe cozer até o feijão estar pronto. Tempere com sal. Lave a hortelã e junte para aromatizar. Retire um pouco do caldo e coloque num tacho à parte onde se deita dentro o arroz e deixa-se cozer durante 15 minutos. Coloque o cozido num prato e sirva com as carnes em volta.

coelho estiver frito, adicione a cabeça de alhos (com casca) e água suficiente para cozer e deixe apurar. Acompanhe com batatas cozidas e o respectivo molho do coelho.

Lebre com Feijão Branco 1 Lebre 1/2 Kg Feijão branco/manteiga 3 Cebolas grandes 2 Tomates maduros 1,5 dl de Azeite 1 dl de Vinagre 3 Dentes de alho 2 Folhas de louro 2 dl de Vinho tinto Banha q.b. Pimenta moída na altura q.b. Sal q.b Cominhos q.b. Piri-piri q.b. Coentros frescos q.b.

Morgado de Amêndoa d’Alte Coelho Frito 1 Coelho 1 kg de batatas 1 Cabeça de alho 1 dl de vinho branco 1 Folha de louro Água q.b Azeite q.b Banha q.b Sal q.b Pimenta preta q.b Prepare o coelho, cortando-o em pedaços. De seguida, tempere o coelho com os dentes de alho picados, a folha de louro partida, o vinho branco, o sal, pimenta e um pouco de água. Deixe o coelho a marinar de um dia para o outro. No dia seguinte, escorra o coelho da marinada e frite numa mistura de azeite e banha. Quando o

1/2 Kg de Açúcar 1/2 Kg de Amêndoas 500 ml de Água 4 Ovos inteiros 4 Gemas 1 Chávena de fios de ovo 1 Chávena de ovos moles 1 Chávena de gila

De véspera corta-se a lebre aos bocados e deixa-se a marinar (24h) nos ingredientes mencionados (excepto os coentros e o feijão). No dia, põe-se o tacho em lume brando, aproximadamente 1h30m a 2 horas (consoante o tamanho da lebre); 15 minutos antes, acrescenta-se o feijão (já cozido), mexe-se bem para ganhar o gosto do estufado e polvilha-se com coentros frescos na altura de servir.

Põe-se o açúcar com a água a ferver até fazer ponto pérola. Junta-se a amêndoa moída, retira-se do lume e misturam-se as gemas. Mexe-se sempre e de seguida adicionam-se os ovos inteiros. Escolhe-se uma forma, unta-se com manteiga e forra-se a mesma com papel vegetal. Coloca-se uma primeira camada de massa e reserva-se a outra metade. Recheia-se com gila, ovos moles e fios de ovos. Por fim adiciona-se a restante massa. Coloca-se no forno durante cerca de 1 hora à temperatura de 180º.

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Dobradinhas 1

6 ovos 1 Kg de farinha de trigo 1 cerveja mini 4 colheres de sopa de banha 1 colher de sobremesa de sal fino 1 - 1º Passo – derrete-se a banha 2 - 2º Passo – Bata os ovos. Depois junte a banha derretida e continue a mexer. A este preparado junte ainda uma colher de sal fino e a cerveja.

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3 - 3º Passo – Junte a farinha e amasse muito bem. 4 e 5 - 4º Passo – Estenda a massa (recomenda-se bem fina). 6 - 5º Passo – Corte em forma quadrada. 7 - 6º Passo – Fritar. 8 - No final, polvilhe a gosto com açúcar e canela.

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A residir na freguesia de Alte, Alice Afonso cedo aprendeu a fazer dobradinhas: “Tinha aí uns 15 anos quando comecei a fazer”, recorda. Este frito, muito conhecido no interior algarvio, faz a delícia de quem o prova. Alice mantém-se até fiel à receita original e costuma “jogar a mão à massa” em ocasiões especiais, como são os dias de festa.

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património etnográfico

Os moinhos de água Na freguesia de Alte podem-se vislumbrar, ainda, alguns vestígios de moinhos de água, azenhas e açudes localizados na ribeira com o mesmo nome (perto do coração da aldeia), ou na ribeira do Arade (entre Corte Bucho e Águas Frias). O moinho da Abóbada, que já existia no século XIII, é, provavelmente, o mais antigo dos nove moinhos que chegaram a trabalhar na aldeia até à primeira metade do século XX, movidos pelas águas que brotam da Fonte Grande e Pequena. Este moinho terá funcionado no leito primitivo da ribeira, antes deste ser desviado para o actual leito pelo Fidalgo d’Alte (no século XVII). De origem desconhecida (muçulmana ou mandado construir pelo primeiro senhor d’Alte), sabe-se que já laborava em 1266, aquando da concessão do foral de Loulé, onde consta a passagem do moinho de Alte e do pisão para o domínio real. O Arquivo da Casa d’Alte refere que, nos finais do século XIV, o 5º senhor d’Alte (Pêro Gomes), que pertenceu às hostes de D. Nuno Álvares Pereira, deu a um irmão mais novo (D. Martinho, 27º Bispo de Silves), “o uso e o fruto de uma azenha de Alte” e que, em 1408, D. João I entregou “a renda do moinho d’Alte” ao Condestável D. Nuno Álvares Pereira, regressando, mais tarde, à posse do morgado de Alte, talvez no século XVI, quando as crescentes necessidades financeiras da coroa obrigaram à venda de alguns dos seus bens. Dos nove moinhos existentes, laboravam sete na ribeira de

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Alte no final do século XIX, (d’Ataíde Oliveira, em 1905), na posse do conde d’Alte. Três dos moinhos estavam situados a montante da Estrada Nacional: um junto à Fonte Pequena; o Moinho da Levada (o de mais nomeada) e o Moinho da Ponte (duas moendas). Na Horta do Paço localizavam-se outros dois moinhos (provavelmente mandados construir pelo mesmo senhor d’Alte), juntando-se-lhes o Moinho da Abóbada (em ruínas) e outros três que ficam muito próximos da Queda do Vigário. Em cada moinho trabalhava um moleiro e os últimos azenheiros foram Ti Gabriel (Moinho da Ponte), Ti António Martins (os dois da Horta do Paço) e Ti Manuel Pedro (Moinho da Abóbada). Se uns acabaram em ruínas, outros foram transformados, como o Moinho da Fonte, que deu lugar a um restaurante (Fonte Pequena). Sabe-se que, este moinho tinha sido doado a um alferes de Alte, na condição de pagar um foro a Nª Sª da Glória de Benafim para todo sempre. Desse moinho existe as mós que estão a fazer de decoração à entrada do restaurante, encontrando-se as mós dos outros moinhos anteriores a servirem de mesas no outro lado da ribeira. No Moinho da Ponte foi construído um 1º andar (transformado em agência imobiliária), mantendo-se, no entanto, as moendas em funcionamento para efeitos turísticos. Do Moinho da Levada pode-se observar duas abóbadas por onde passava a água da levada que fazia girar o engenho do moinho, e sob as quais foi edificada uma habitação. É um dos locais de visita da aldeia. Os restantes moinhos estão abandonados e alguns, já sem cobertura, caem em ruínas.


património etnográfico

Os moinhos de vento No cimo de alguns cerros serranos, ainda, se podem apreciar vários exemplares de moinhos de vento, que chegaram a ter forte laboração nesta freguesia. Hoje, uns estão em ruínas e jazem esquecidos; outros foram recuperados e adaptados a novas funções. Por íngremes caminhos, ainda, se consegue chegar a eles e descortinar, por entre silvas, as suas mós. Assim, existem o moinho da Corte do Azinhal (esteve em actividade até 1970), o moinho da Seixa (quase no limite do concelho de Loulé com Almodôvar), moinho dos Curralões (renovado para habitação por estrangeiros, depois de funcionar até à década de 70), moinho das Águas Frias (ainda com a sua estrutura), moinho do Cerro da Picota do Azinhal (construído nos anos 40 para responder ao aumento da produção do cereal nos primeiros anos da “Campanha do Trigo”, mas deixando de funcionar nos anos 50), moinho do Areeiro e o moinho do Monte das Sarnadas. Alte chegou a ter 16 moinhos de vento em funcionamento.

Lagares Nos anos 50 trabalhavam três lagares em Alte. Um deles localizava-se à entrada da aldeia, sendo depois transformado em salão de baile e armazém da alfarroba. Outro situava-se junto à ponte da Estrada Nacional (activo até final dos anos 40), servindo, posteriormente, para salão de baile, cinema ambulante e oficina de motorizadas. Um terceiro, estava implantado no limite sudoeste do povoado. Foi comprado em 1957, e sobre ele, os novos proprietários construíram, nos anos sessenta, um segundo piso para habitação. A aldeia possuía, também, duas moagens: uma funcionava ao lado do segundo lagar, e a outra no centro do povoado (largo frente à Casa do Povo).

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Invisível aos olhos de muitos, a cortiça continua a ser uma das principais riquezas da Serra Algarvia. A Loulé Magazine foi até A l t e e re g i s t o u a l g u n s momentos…


Cortiça Cada vez mais escassa, a cortiça é a principal fonte de rendimento da Serra. A extracção de cortiça é um trabalho árduo e que ocorre nos meses de Junho a Agosto. A força e a técnica são dois dos requisitos exigidos na apanha desta matéria-prima e são inúmeras as suas utilizações, nomeadamente: revestimentos de solos, os isolamentos (térmi-

cos e acústicos), fabricação de instrumentos musicais, artigos de decoração, componentes para calçados e para o sector industrial de diversos segmentos (automóvel, bebidas, construção alvenaria, decoração, entre outros). De referir que a cortiça é um material de origem vegetal da casca dos sobreiros, com grande poder isolante.

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equipamentos

Escola Profissional Cândido Guerreiro

Sediada em Alte, a Escola Profissional Cândido Guerreiro foi criada em 1992, com base no pedido das forças vivas locais e da parceria, constituída para esse mesmo efeito, entre a Câmara Municipal de Loulé, a Junta de Freguesia de Alte e a Associação In Loco. Esta escola desenvolve um projecto de inovação e flexibilidade educativa, procurando ajustar os seus cursos às necessidades do tecido empresarial da região e dotar os seus formandos de competências técnico profissionais que lhes permitam o ingresso imediato e adequado ao mer-

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cado de trabalho. Envolve-se activamente na promoção e realização de eventos diversos como a Semana Cultural de Alte, passeios de BTT, Carnaval e Semin´´arios, entre outros. Todos os cursos são de nível III da UE e dão equivalência ao 12º Ano, possibilitando aos formandos a sua candidatura ao ensino superior. As novas instalações da Escola, construídas em 2007, foram co-financiadas pelo PROALGARVE, no âmbito do Eixo 3, Medida 1, em que a comparticipação financeira nacional foi suportada pela Câmara Municipal de Loulé.


a

rtesanato

Particularmente relevo merece os trabalhos de artesanato que, ainda, se executam na freguesia de Alte, nomeadamente os brinquedos e bijutaria em madeira e cortiça, que se fabricam na Torre, a cerâmica artística, na Soalheira, e os trajes inspirados no vestuário antigo modelados no sítio de Vale das Poças. Quem passa na rua de acesso à Fonte Pequena não fica indiferente ao cheiro que paira no ar vindo da loja PapaFigo, onde se vendem sabonetes naturais feitos artesanalmente por um escocês. Nas Sarnadas, os artigos de esparto, no Azinhal, os cantis de cortiça, e no monte Ruivo, as cadeiras de tabúa, já são imagens gravadas no tempo. Em Santa Margarida encontra-se o único latoeiro da freguesia, actividade que outrora teve muita importância porque se faziam os alcatruzes para as noras e os alambiques para as destilarias. Um pouco por toda a freguesia, algumas mulheres ocupam, ainda, os seus tempos livres a laborar delicadas rendas e lindos bordados. Mais moderno, são os trabalhos feitos em trapologia, feltro e material reciclado que dão expressão ao artesanato contemporâneo. Dos vários artesãos destacam-se os Brinquedos de Madeira “Da Torre”, Ivone Martins (Ponto sem Nó), Aldegundes Gomes (esparto), loja Papa-Figo (sabonetes), Nelson Martins (cerâmica artística), Maria Madalena Palma (jornal reciclado), Inácia Salvador (flores secas e papel) e Florbela Luís (artesanato contemporâneo). Das produções locais, destacamos João Martins Rafael (aguardente medronho biológica), Joaquim Palma, Guia & Pires e Sérgio Inácio (aguardente de medronho), Artur Paulino (aguardente de medronho/ mel), José Manuel Coelho (mel) e Pastelaria d’Alte e Pastelaria Água Mel (doçaria regional), Luís Rafael (peles, botas em pele).

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a magia dos brinquedos e bijuteria em madeira

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Com 22 anos de existência, a oficina "Da Torre" cria brinquedos que fazem parte do imaginário LOULÉ ine crianças. magazdas


a Se chegarmos ao pé de uma criança do século XXI com um pião de madeira, a primeira reacção vai ser: “O que é isto?” mas a verdade é que o pai desta criança brincava ao pião quando era mais novo, e depois de este lhe explicar, a criança vai querer um. Esta é uma história fictícia, mas que a Maria, a Silvina e a Ana (proprietárias da oficina Da Torre, sedeada na antiga Escola Primária da Torre, Alte.) já presenciaram dezenas de vezes. “As crianças gostam dos brinquedos de madeira até porque estes têm história. Os pais brincaram e passam esses testemunhos aos mais jovens”, conta-nos a Ana. Nesta oficina encontramos uma grande variedade de bijuteria e brinquedos, todos com uma particularidade, são feitos de madeira. Com esta matéria-prima é possível executar uma grande variedade de objectos. Um trabalho moroso, mas com uma grande percentagem de carinho à mistura. Estas senhoras dedicam os seus dias a trabalhar naquilo que mais prazer dá às crianças: os brinquedos.

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Papa-Figo A loja dos sabonetes de azeite

Situada em Alte há 6 anos, a loja de sabonetes de azeite Papa-Figo é já um ponto de referência da aldeia. K Walker, proprietário do estabelecimento o que a região tem de bom e transform mesmo em cremes. Em Portugal há ce negócio “começou com uma experiênci Alte. A localização até foi fácil de escolh ticos do Algarve, por isso escolhi esta al compra e o bálsamo para os lábios (feito que mais saída tem. E como a inovação sua última “invenção” foi um creme para Os seus produtos servem muitas vezes visita o Algarve, e até mesmo de presen é o produtor de todos os produtos da sua sente “um grande orgulho” em utiliza produtos naturais, provenientes da “sua” terra.

Azeite, amêndoa, alfazema, alfarroba, figo…

Todos estes ingredientes podem ser transformados em sabonetes ou cremes, saiba como… e 124 LOULÉ magazin


Kenny o, resolveu utilizar má-los em sabonetes, ou até erca de 20 anos, Kenny contou que este ia”, e como resultou resolveu assentar arraiais em her e Kenny explica porquê: “Alte vem em todos os guias turísldeia”, conta. Em relação aos clientes, são mesmo os turistas quem mais o com cera de abelha, óleo de amêndoa doce e óleo de coco) é o produto o é a palavra de ordem, Kenny Walker contou à Loulé Magazine que a a as mãos feito à base de lúcia-lima. “Muito bom”, sublinha. de recordação da região algarvia, para quem ntes em ocasiões especiais. Kenny a loja e confessa que ar estes

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Aldegundes Gomes (Sarnadas), 76 anos “Aprendi a trabalhar o esparto por curiosidade, tendo ao longo da minha vida feito muitos trabalhos e participado em muitas feiras de artesanato de Loulé. Era um trabalho manual muito bonito. Estes artigos continuavam a ter muita saída, se houvesse uma maior aposta no turismo e não se importasse tanto material chinês. Com o esparto, fazem-se lindos tapetes, sacos, ceirões, cordas para os vasos, galinhas e burrinhos. Hoje, já não há quem faça, porque dá muito trabalho e não é rentável”.

Maria Madalena Palma (Torre), 70 anos “Faço artesanato de jornal reciclado há cinco anos. Tabuleiros, caixinhas, galheteiros, cestas são as minhas peças. Compram as pessoas que conhecem o produto. Apenas faço as feirinhas de Alte”

Inácia de Jesus Salvador (Torre), 66 anos e 126 LOULÉ magazin

“Dedico-me aos trabalhos de flores secas e de papel crepe, de várias cores e tamanhos. Comecei há cerca de 15 anos, por mero acaso, e hoje faço variadíssimos modelos. Apenas, tenho participado nas feiras da terra. Adorei fazer um trabalho para um casamento”.


Florbela Luís

(Charneca da Júlia), 40 anos

“Nos meus hobbys, faço artesanato contemporâneo, desde 2004. Recolho títulos de notícias positivas de jornais, junto-os numa colagem e faço um quadro que chamo “Mundo Bom”. O “Espelho ao Contrário”, com uma face de azulejo, é outro dos meus trabalhos. Depois tenho sacos amigos do ambiente (pano cru), carteiras (pacotes de leite reciclados), folha de estanho aplicada em madeira e almofadas pintadas à mão, entre outras”.

Nelson Martins (Soalheira) “Faço cerâmica original e pintura em azulejos. Todas as peças têm um cunho muito pessoal e uma história. Umas baseiam-se muito nas origens da vida e representam uma linguagem. Outras representam a arte rupestre. Faço feiras, exposições e tenho um blogue na internet, onde procuro mostrar o meu trabalho ao mais diverso público”.

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Pólo Museológico do Esparto

Neste espaço museológico podemos encontrar peças etnográficas que foram recolhidas na freguesia de Alte, tais como obras de cerâmica, alfaias agrícolas e objectos de preparação do esparto, planta que determinou a vivência económica e social das pessoas desta freguesia do concelho de Loulé. Este pólo museológico permite ao visitante conhecer a aldeia de Alte através da tradição do esparto. Demolhado nas levadas da ribeira e enxuto nas suas margens, o esparto era depois pisado nas ruas e largos da aldeia, sobretudo nas Rua dos Pisadoiros. Seguidamente era feita uma fina “baracinha” da qual se faziam objectos úteis para o quotidiano.

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associativismo

N

a freguesia de Alte, a referência mais antiga ao surgimento da primeira associação centra-se na Caixa de Crédito Agrícola Mútuo de Alte, no ano de 1916, em pleno período republicano. Só 22 anos depois, em 1938, surgiu a 2ª associação (em pleno Estado Novo), a Casa do Povo de Alte, como organismo corporativo por excelência. Após o 25 de Abril de 1974, assistiu-se a um verdadeiro “boom” associativo nacional e regional, e Alte viu nascer quatro associações (GD Serrano, CDC Sarnadas, ARC Santa Margarida e GD Alte), expandindo-

se, nos anos 80, com o surgimento das estruturas de apoio ligadas à terceira idade e à infância, surgindo os projectos de edificação de um Centro de Dia e à Criança. Algumas associações têm sede própria, outras por falta de instalações, ocupam diversas escolas primárias (desactivadas) da freguesia, como a Associação Caçadores 4 Unidos (Monte da Charneca), Ao Luar Teatro (Sarnadas) ou Associação de Caçadores “Os Predadores” (Águas Frias). Entre as associações existentes, destacam-se: Clube Desportivo e Cultural das Sarnadas, Associação de Caça e Pesca das Sarnadas,

Casa do Povo de Alte

iriam aparecer em 1973. As suas actuais instalações foram inauguradas a 4/8/1972. Actualmente, as suas principais actividades são de âmbito cultural e recreativo, desenvolvido nomeadamente através do Grupo Folclórico da Casa do Povo de Alte, fundado a 4/10/1938, e do Grupo de

(aposta cultural)

Foi instituída por alvará a 11 de Maio de 1938, sendo que as restantes Casas do Povo das freguesias só

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Associação de Caçadores “Os Quatro Unidos” (Monte da Charneca), Grupo Cultural e Recreativo da Casa do Povo de Alte (Grupo Folclórico, Grupo de Música Tradicional “Erva Doce” e Juventude Altense), Grupo Desportivo Serrano (Monte Ruivo), Associação de Caçadores “Os Predadores” (Monte Ruivo), Clube “Os Terríveis de Caça e Pesca” de Santa Margarida, Associação Grupo de Amigos de Alte, Grupo Motard de Alte, Comissão de Festas da Paróquia de Alte, Centro de Animação e Apoio Comunitário da Freguesia de Alte (CAACFA), Teatro da Estrada – Associação

Cultural de Alte, Caixa de Crédito Agrícola Mútuo de Alte, Miralumin – Grupo de Teatro Amador de Alte, Ao Luar Teatro, Associação Pró-Beneficência e Progresso de Alte (APBPA), Escola Profissional Cândido Guerreiro e Junta de Freguesia de Alte (malha na laje). Outras já se “eternizaram”, como Associação Recreativa e Cultural de Santa Margarida e Grupo Desportivo e Cultural de Alte, Associação Social e Cultural 8 de Dezembro (Azinhal) ou que não se oficializaram: Amigos dos Cavalos de Alte e Grupo de Amantes do Carnaval.


associativismo

Música Tradicional Portuguesa “Erva Doce”, fundado a 29/10/1985. As suas instalações são, ainda, utilizadas pelo Centro de Saúde de Loulé, e particularmente pela Junta de Freguesia de Alte, Escola Profissional Cândido Guerreiro de Alte, Centro de Animação e Apoio Comunitário da Freguesia de Alte e Juventude Altense, entre outras entidades. A promoção social é um dos principais objectivos. Destaque também para a existência de uma Escola de Folclore com muitas crianças aderentes.

Clube Desportivo e Cultural dasSarnadas (iniciativas pontuais)

Esta colectividade foi fundada em 21 de Julho de 1983, por um grupo de pessoas que procurou dinamizar a aldeia com a realização de diversos eventos. Ao longo

dos tempos, o clube organizou Festas de Verão, bailes da pinha, festivais de folclore, desfiles de Carnaval e mini-festivais com a participação das crianças da aldeia. Graças a essas realizações, foi possível a execução de diversos melhoramentos e a construção da actual sede do clube, local de convívio dos habitantes da aldeia e dos filhos da terra. Hoje, em dia, o clube, presidido por Márcia Guerreiro, continua a organizar as Festas de Verão (Agosto), os Bailes da Pinha e de S. Martinho, entre outras iniciativas pontuais. Também a Associação de Caça, entretanto fundada, usufrui das instalações do clube, explorando o bar de sexta-feira a domingo, dinamizando e explorando, também, a zona de caça associativa das Sarnadas, que engloba vários prédios rústicos sitos nas freguesias de Alte e Benafim. O clube tem merecido a ajuda e o esforço de todos os que tentam manter vivo um conjunto de realizações, que muito têm contribuído para a valorização do movimento associativo na freguesia de Alte.

Foi fundado em 25 de Abril de 1975, como associação privada sem fins lucrativos de cariz desportivo e cultura, se bem que visse a sua fundação oficializada em 1978. Tudo começou com um grupo de amigos a organizar uma festa de Verão em 1974. Como na altura os jogos de bola faziam-se depois da ceifa

futebol do concelho fora dos aglomerados. Construíram, depois, o salão de festas. Ao longo dos anos, foram melhorando a nível de instalações e de condições, e permitindo aos jovens a prática do atletismo e futebol. Dedicaram-se, também, ao ciclocross, motocross e tiro aos pratos. Actualmente, organizam o Baile da Pinha e de Natal, a Festa da Páscoa e da Juventude (o ponto forte do clube). Participam, ainda, no Carnaval de Alte e nos Jogos Inter-Associativos da Beira Serra. Passeios de btt, festas convívio, jogos tradicionais, maratonas de

ou baldio (num restolho), um grupo de amigos sentiu a necessidade de um campo mais sério. A partir daí realizaram um peditório, festas e bailes, que despoletaram e permitiram a aquisição de terreno e a construção do campo (pelado), e desse modo aproveitar os muitos jovens da terra que jogavam futebol. A Direcção Geral dos Desportos (DGD) deu um pequeno apoio económico, a Câmara Municipal de Faro pagou as balizas e o Monte Ruivo passou a dispor do primeiro campo de

futebol são outras iniciativas, a par da secção “O Ferrolho”, que visa o restauro de motorizadas antigas. A malha na terra, vintém, malha na laje, sueca, berlinde, matraquilhos, setas, jogo do bicho, jogo do burro, sueca e três setes são jogos igualmente praticados, e que tradicionalmente distraem as pessoas de várias idades do interior. O GD Serrano, liderado por Henrique Silva, conta com o apoio da CM Loulé, Junta de Freguesia de Alte e de algumas empresas e comerciantes locais.

Grupo Desportivo Serrano (projectos de interesse)

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associativismo

Associação Grupo Amigos de Alte

(sempre com os olhos postos na terra) Foi fundada no dia 1 de Dezembro de 1967, só como Grupo de Amigos de Alte. Sendo uma associação não oficiosa, foi, entretanto, constituída em 2002, a Associação Grupo Amigos de Alte (sem fins lucrativos), tendo o pedido de Certificação de Admissibilidade, dado entrado no Ministério da Justiça, pelas mãos de Maria de Lurdes da Palma Madeira, uma das funda-

Teatro da Estrada Associação Cultural de Alte

(fomento e dinamização teatral)

Fundado em 10 de Setembro de 1997, a partir de um projecto já existente em S. B. Messines, desde 1993. Sedeado na Horta das Artes (Alte), o Teatro da Estrada - Associação Artística e Cultural de Alte “pôs os pés na estrada”, no dia 25 de Janeiro de 1998, com um grupo de jovens curiosos e apaixonados pela arte de representar. Iniciou

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doras e actual presidente. Dos seus objectivos sociais destaca-se a publicação do jornal (bimestral) “Ecos da Serra”. A construção do Salão Paroquial e de um painel de azulejos representando a lenda da fundação de Alte fazem igualmente parte dos seus propósitos, assim como a realização de obras de solidariedade social e cultural, tendo em vista a angariação de fundos para obras de interesse para a paróquia e recriação da banda filarmónica. Maria de Lurdes Madeira (Direcção), José Manuel Cabrita (Conselho Fiscal) e Maria da Conceição Cabrita (Assembleia Geral) foram os primeiros presidentes das principais estruturas directivas da nova Associação.

o seu percurso com uma acção de formação teatral, que decorreu, nos meses de Fevereiro e Março de 1998. No dia 2 de Outubro de 1998, estreou a 1ª produção teatral: “A verdade seja dita!”, com encenação de José Teiga, produção que levou a vários pontos do Algarve. No dia 23 de Abril de 1999, estreou a 2ª produção teatral: “Auto do curandeiro e outros quadros…”, de António Aleixo, também, encenado por Teiga e exibido no Algarve e Coimbra, no âmbito das comemorações do 100º aniversário do poeta. Entre 28 e 30 de Maio de 1999, numa parceria com a Câmara Municipal de Loulé e com a Casa da Cultura de Loulé, organizou o Teatralidades – Acção de teatro no interior do concelho de Loulé. No dia 24 de Março de 2000, estreou a 3ª pro-


associativismo

dução intitulada “Relógios? Para quê?”, com encenação de Pedro Santos. O Teatro da Estrada, ao longo da sua existência, em Alte, tem organizado diversos programas de animação cultural, desde noites de poesia, noites árabes, música, teatro de sombras, performances e animação de rua. Dos seus projectos faz parte, também, o núcleo de fantoches designado “Sol Poente” e de animação teatral “Vamos brincar ao teatro”, destinado às crianças que frequentam as escolas primárias da freguesia de Alte. A promoção e formação teatral, poesia, música, exposições de fotografia e pintura são, também, objectivos delineados, aliando à mística da própria aldeia e das suas gentes, todo o talento artístico de uma juventude que, por herança genética, respira a cultura e a arte de representar. O grupo era dirigido por Daniel Vieira. Ana Rosa Martins,

Célia Martins, Eduardo Silva, Hélia Guerreiro, Nelson Martins, Nídia Gonçalves, Paulo Silvestre e Sérgio Coelho foram alguns dos seus elementos.

Centro de Animação e Apoio Comunitário da Freguesia de Alte

(futsal é modalidade rainha)

Fundado a 15 de Junho de 1986, o Centro de Alte começou como jardim-deinfância e ocupação de tempos livres. Um ano após a

sua fundação foi criada a componente desportiva para combater a falta de actividades para os jovens altenses. Abriu a secção de futsal e foi um dos fundadores do campeonato distrital de futebol e futsal feminino no Algarve, apostando na formação. Dos resultados mais marcantes, destacam-se os títulos alcançados pela equipa de juniores de futsal, no campeonato distrital e Supertaça (1999). Na época de 2006/07, a equipa de juniores femininos, arrecadou a medalha de bronze na Taça Nacional. De realçar, ainda, que Alte tem fornecido muitas atletas à selecção de Portugal, como a Mica. Entre 1987 e 1992, o Centro de Alte teve vários campeões regionais de atletismo. Ana Cavaco, Sandra Cavaco, Dália Tardão, Fernando Lourenço, Pedro Domingos, Filipe Guerreiro, Ludgero, Vânia Martins, João Guerreiro, Luís Inácio, Nelson Sequeira, Rui

Correia, Leonel Martins, João Dias e Marco Cabrita foram alguns dos atletas que orgulharam o clube nas mais diversas categorias (cortamato, velocidade e saltos). Francisco José Gonçalves é o presidente do clube, desde o início, afirmando que a instituição “funciona como uma família” e “onde as portas estão sempre abertas”. Esta época, o emblema altense está representado nas competições regionais com as equipas de seniores masculinos e femininos, juniores, juvenis e iniciados masculinos, envolvendo cerca de 70 atletas federados, a maior parte deles oriundos do concelho louletano. Utilizam o Pavilhão Desportivo Municipal de Loulé, porque a colectividade não tem equipamentos desportivos, e duas carrinhas de nove lugares. Os principais apoios são da Câmara de Loulé, Junta de Freguesia de Alte e de alguns amigos.

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