Especial Ascensão e Feira de Maio 2014 (Edição 1143 - 22-05-2014)

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ECONOMIA

22 de Maio de 2014

Especial Ascensão

Sem eles não havia espectáculo mas os seus nomes não aparecem

Novos negócios apresentados pela Nersant Associação está a prestar apoio técnico e consultoria especializada 16

Duopneus comercializa pneus e dá assistência Filipe Alcobio mantém tradição familiar e aposta na qualidade e segurança. A empresa está sedeada em Almeirim 11

Entidade de Turismo quer equipamentos acessíveis a todos

A ERT está a promover acções junto dos agentes privados e públicos 13

Aquapolis recebeu Mercado Ribeirinho

Dinamização da Tagus em parceria com o município de Abrantes 17

O motorista do presidente da câmara que chegou a encarregado geral

Identidade Profissional

Fernando Brás é funcionário na Câmara Municipal da Chamusca desde os 16 anos 9

Feira centenária na Azambuja

Centenária Feira de Maio realiza-se este ano entre 29 de Maio e 2 de Junho. Ao todo serão cinco dias de actividades ligadas à tauromaquia. A tradicional homenagem ao campino e a noite da sardinha assada são os pontos altos da festa 12

XIX

André Tavares, licenciado em Marketing, adjunto de director de Centro Comercial 10

Grau de Prova troca valor de matrícula por ajuda aos mais carenciados 16 CLASSIFICADOS

Três Dimensões

Professores capacitados para dinamizar EmpCriança 15

XVII

“Para as famílias da Chamusca a Semana da Ascensão é uma espécie de segundo Natal”

Nersant incentiva empreendedorismo no ensino básico

EMPREGOS

José Laranjinha, Manuel João Faustino, José João Faustino, Manuel João Sequeira e António João Santo, são o núcleo principal de uma equipa que chega a ter doze pessoas, a quem estão entregues as operações logísticas essenciais de qualquer tourada que se realize na praça, que este ano completa 95 anos de existência, propriedade da Santa Casa da Misericórdia. 2


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ESPECIAL ASCENSÃO 22 MAIO 2014

Sem eles não havia espectáculo mas os seus nomes não aparecem nos cartazes das touradas A equipa que trabalha na sombra da praça de toiros da Chamusca para que os artistas brilhem na arena foto O MIRANTE

José Laranjinha, Manuel João Faustino, José João Faustino, Manuel João Sequeira e António João Santo, são o núcleo principal de uma equipa que chega a ter doze pessoas, a quem estão entregues as operações logísticas essenciais de qualquer tourada que se realize na praça, que este ano completa 95 anos de existência, propriedade da Santa Casa da Misericórdia.

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Textos: Alberto Bastos Fotos: Fernando Vacas de Jesus

o cartaz das corridas de toiros da Semana da Ascensão da Chamusca, que se realizam a 29 e 31 de Maio, figuram os nomes dos cavaleiros tauromáquicos, dos cabos dos grupos de Forcados, das ganadarias que fornecem os toiros e da banda de música que anima a festa mas, como é normal, seja em touradas, jogos de futebol ou concertos, não há qualquer referência a quem trabalha nos bastidores para que os artistas possam brilhar e os espectadores divertirem-se. José Laranjinha, Manuel João Faustino, José João Faustino, Manuel João Sequeira e António João Santo, são o núcleo principal de uma equipa que chega a ter doze pessoas, a quem estão entregues as operações logísticas essenciais de qualquer tourada que se realize na praça, que este ano completa 95 anos de existência, propriedade da Santa Casa da Misericórdia. Preparam bancadas, redondel e curros, recebem os toiros que vão ser lidados, alojam-nos e colocam-nos nos pela ordem de entrada em praça, soltam-nos e recebem-nos quando terminam as correrias atrás dos cavalos e as investidas contra os forcados. Separam-nos dos cabrestos no regresso aos curros e fazem-nos entrar na camioneta que os há-de levar de volta aos campos, abrem as portas para as saídas e en-

trabalho. José João Faustino, José Laranjinha, Manuel João Faustino, Manuel João Sequiera e António João Santo, a equipa que trabalha na sombra para que tudo corra bem nas corridas de toiros na Chamusca tradas dos cavaleiros. Unidos numa espécie de irmandade em que a amizade e o gosto pela perfeição, pelos touros e pela tourada são o cimento que os une. Respeitam-se e respeitam a hierarquia que foi criada ao longo dos anos. Nos curros ninguém faz seja o que for sem receber indicações de José João Faustino, conhecido por José Ruço, alcunha que lhe foi dada em criança por causa da cor do cabelo. O irmão, Manuel João, Carteiro de alcunha devido à antiga profissão, recebe e emite as guias de transporte e pesa os animais. O trabalho de José Laranjinha é feito antes e depois dos espectáculos. É ele que tem a chave da praça e trata da sua manutenção. Manuel Sequeira, conhecido por Segunda-feira, ajuda na abertura das portas para a entrada e saída dos cavaleiros. António Santo, que alguns tratam por Lua Cheia e outros por Cabecinha, participa, com outros, na abertura das portas dos locais onde os toiros aguardam a sua vez de mostrar a valentia. Os textos que se seguem ajudam a perceber quem eles são e quais os seus percursos de vida

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foto O MIRANTE


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Quando saiu da escola não quis ser pintor mas agora passa muitas horas nas pinturas Há quinze anos que José Laranjinha faz a manutenção da praça de toiros da Chamusca

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em a chave da praça de toiros da Chamusca e é ele que trata da manutenção daquele espaço. É assim há década e meia. Faz limpezas, pequenas reparações, caia e pinta o que é necessário. José Laranjinha passa muitas horas sozinho, com o chilrear dos pássaros como música de fundo, num local que apenas conseguimos imaginar cheio de aficionados da festa brava a aplaudir os seus artistas preferidos que muitas vezes actuam ao som de vibrantes olés e de passe-dobles tocados pela banda. Funcionário da câmara municipal, trabalha na praça de toiros nas horas livres, por gosto. Há quem goste de ir à pesca ou de ver televisão. Para José Laranjinha o maior entretém é a quase centenária praça, propriedade da Santa Casa da Misericórdia. “Nasci a 7 de Maio de 1959, na rua Anselmo de Andrade, conhecida por rua da Formiga. A parteira foi a dona Rosa. Tenho uma irmã mais nova que eu cinco anos. Tenho a chave há mais de 15 anos. Comecei por ajudar o António Mira. Foi assim durante cinco ou seis anos. Depois ele adoeceu e acabou por falecer. O senhor Provedor, Fernando Barreto, perguntou-me se eu queria ficar e aceitei. Agora trato dos assuntos com o senhor Manuel José Moedas que é a pessoa da Misericórdia que tem a praça à sua responsabilidade”. Não é por dinheiro que José Laranjinha faz o que faz. É por gosto. Por dedicação. Há pessoas que chamam a si tarefas que sentem ter-lhes sido destinadas. “Não sei explicar melhor. Faço o que faço porque gosto de fazer. Sei que já há poucas pessoas assim. Aqui a praça tem um grupo de amigos. Eles só lá vão nos dias da corrida. Fazem um trabalho que não se vê. Pesam e separam os animais, ordenam-nos nos curros, abrem-lhas as entradas para a arena e recolhem-nos depois de lidados. Eu passo por lá com frequência. Já pintei a trincheira, caiei o muro. Pintei as portas. Está quase tudo a postos para a corrida de Quinta-feira de Ascensão”. Ri-se com gosto quando se lembra que depois de sair da escola foi aprender a profissão de pintor mas desistiu ao fim de um ano. “Como não gostava daquilo fui trabalhar para o campo. Depois fui dar serventia a pedreiros e dali para a câmara. Comecei com 16 anos. Para fazer o ensino básico foi um castigo. Saí da escola com 14 anos. Já era quase professor!” volta a rir-se com vontade. A conversa com O MIRANTE decorre ao fim da tarde num café da vila cheio de pessoas que quase têm que gritar para se fazer ouvir, emparedadas entre o som da televisão e o barulho infernal do moinho de café que en-

gole todas as conversas de cada vez que começa a funcionar. A história da ida à tropa é outra das que José Laranjinha conta com gosto. “Fui às sortes a Coimbra em Janeiro de 1979. Fiquei apto. Passado algum tempo foi um GNR a minha casa dizer para me apresentar no posto. Cheguei lá e disseram-me que passava à reserva. Nessa altura pagava-se uma taxa anual até se fazer 45 anos. Eram 60 escudos. Decidi pagar tudo de uma vez. Fui bruto. Passados dois ou três anos a taxa foi abolida e fiquei sem o dinheiro”. Foi trabalhar para a câmara no final daquele ano, a roçar ervas. Tinha 22 anos. Casou aos 28. “Casei, não. O padre Diogo é que me casou”. Conta que foi forcado durante vinte anos. Durante esse tempo partiu umas costelas e um pé. Agora arranja tudo bem arranjadinho mas já não salta para a arena ao som do cornetim. “Já uma vez pintei as bancadas todas. Dividir os lugares e fazer a numeração foi o mais custoso. Andei ali de cócoras, dias e dias”. E a quem passará a chave da praça quando já não puder ou quiser fazer mais o que lá faz? “Não sou insubstituível mas não sei quem me irá substituir”

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O veterano da equipa abre as portas aos cavaleiros É o veterano da equipa. Tem 73 anos e na Chamusca conhecem-no por Segunda-feira, alcunha que era do pai e que lhe foi passada por herança. Nos documentos figura o nome de baptismo, Manuel João Malaquias Sequeira. “Não sei porque chamavam Segunda-feira ao meu pai. A mim chamam-me esse nome por ser filho dele”. No currículo profissional, que começou a escrever aos 9 anos, quando saiu da escola, figuram ocupações como a de guardador de gado e domador de éguas bravias. “Na Casa Norberto Pedroso cheguei a amansar éguas que eram enviadas para o trabalho no campo”, diz à porta da praça de toiros da Chamusca, antes de posar com os restantes elementos da equipa que trabalha na sombra dos bastidores para que os artistas brilhem na arena e os espectadores se sintam bem nas bancadas. Gosta de touradas. Sempre gostou. Conhece os cavaleiros tauromáquicos de lhes abrir as portas por onde entram para enfrentarem os toiros e conquistarem aplausos. Já lhes ouviu expressões de felicidade em tardes e noites de glória. Já os viu saírem cabisbaixos, desiludidos e furiosos em momentos de má fortuna. Ao

Estar “concentradíssimo” para que tudo corra às mil maravilhas

Manuel João Malaquias António João Moedas Sequeira a quem Santo é filho único chamam Segunda-feira de um filho único

foto O MIRANTE

jornalista que lhe pergunta se nunca foi forcado; se nunca agarrou um animal pelos cornos, responde com um meio sorriso de satisfação. “Quando era mais novo agarrei muitos bezerros para serem marcados com o ferro das casas agrícolas onde trabalhei”.

Há sessenta, setenta ou oitenta anos era mais fácil encontrar famílias numerosas do que actualmente mas também as havia. António João Moedas Santo, de 63 anos de idade, é filho único. O seu pai também o era. De há uns anos para cá compensa esse esta-

tuto fazendo parte da irmandade dos amigos dapraça de toiros da Chamusca. Ajuda a arrumar os toiros e cabrestos nos curros, abre as portas para entradas e saídas de artistas e de animais. Está no grupo pela sua competência e empenho e acima de tudo pela amizade que reina entre todos. A sua infância confunde-se com as dos outros companheiros. Fez a quarta classe e a seguir foi trabalhar no campo. Primeiro com o pai que fazia agricultura por conta própria. Depois por conta de outros. Trabalhou anos e anos com animais e nunca nenhum o aleijou. Nem nessa altura nem agora, embora já tenha apanhado uns sustos “quando o gado é manhoso”, explica. Gosta de touradas. E gosta particularmente de ver actuar os cavaleiros tauromáquicos mas quando está a trabalhar na praça da Chamusca, seja em Quinta-feira de Ascensão ou noutro qualquer dia da temporada, não se distrai. “Vou espreitando o que se está a passar na arena mas não dá para seguir uma actuação do princípio ao fim com atenção. Estou mais concentrado naquilo que me incumbiram de fazer. Tudo tem que correr muito bem”, declara.


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O carteiro que agora recebe “encomendas” bravas com mais de 400 quilos de peso Manuel João Faustino controla as guias de transporte e faz a pesagem dos toiros

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ndou durante trinta e três anos a entregar cartas por conta dos CTT. Foi de tal forma que ganhou a alcunha de Carteiro. Agora, nos dias de tourada, Manuel João Faustino está do outro lado da porta dos curros da praça da Chamusca preparado para receber encomendas. Normalmente são sete e cada uma pesa mais de quatrocentos quilos. Sete toiros, seis efectivos e um “sobrero”, que serão lidados na arena pelos toureiros e pegados à força de braços pelos forcados. O chefe da equipa dos curros da praça da Chamusca é o irmão mais novo, José Faustino, a quem chamam José Ruço por, em criança, ter o cabelo de um loiro quase branco. “Foi o meu irmão que me levou para o ajudar. Faço a pesagem dos touros e trato das guias de transporte. Qualquer animal que entre ou saia da praça tem que ter uma guia. Isto agora está mais leve. Quando houve o problema da Língua Azul (doença que afecta os animais ruminantes) os toiros tinham que ir numa camioneta selada. Tínhamos que passar guias da desinfecção de tudo”. Durante a corrida ajuda no que é preciso. A puxar através de cordas, as portas dos cubículos onde os toiros esperam a sua vez de entrar ou a separar os animais já lidados, dos cabrestos (machos castrados que conduzem os toiros para fora das arenas), por exemplo. “Fomos criados entre animais. Fazemos aquilo por carolice. Antes saltávamos para onde era preciso. Agora vamos com mais calma. Já não dá para saltar...só se for de escadote”, brinca. Conta que enquanto jovem, ao serviço da Casa Norberto, chegou a trazer toiros para as touradas da Herdade dos Salgados no Porto

Alto, para as praças da Chamusca, Santarém Barquinha, Tomar. Viagens a cavalo que duravam três ou quatro dias. Manuel João Faustino já se reformou dos CTT há sete anos. Agora é taxista por conta própria. Quando nasceu o pai era maioral numa casa agrícola e foi numa quinta da freguesia de Ulme que viu a luz do dia pela primeira vez, aconteceu a 17 de Março de 1948. “Nasci eram quatro e vinte da tarde, diz a minha mãe”. Festeja os anos duas vezes porque o padrinho estava na Alemanha e só o registou quando regressou, um mês mais tarde. E registou-o no Chouto. Outros tempos e outras burocracias. Agora o que vale é a data que está nos documentos oficiais. Agora e quando foi para a escola, ou quando foi para a tropa. A maior parte do tempo de tropa foi passado em Angola. “Assentei praça na Figueira do Foz, vim para Santarém para a Escola Prática de Cavalaria e depois fui formar Batalhão em Estremoz. Tinha 21 anos quando fui para Angola. Até essa altura tinha trabalhado sempre no campo”, explica. “Estive 16 meses em Luanda e 8 na cidade do Luso. Primeiro era motorista do Comandante do Batalhão e depois fui motorista da família dele. Ainda me lembro da matrícula do carro, MG-91-14. Era um Volkswagen 1300. Na altura era um carro moderno”. A trabalhar no campo desde os 14 anos, não quis voltar ao campo quando acabou o serviço militar. Concorreu

para os CTT e para a Guarda Fiscal. Foi aceite nos dois lados mas nos CTT começava a 10 de Março de 1974 e na Guarda Fiscal apenas entraria dois meses depois. Decidiu não esperar e foi carteiro num tempo em que os carteiros palmilhavam muitos quilómetros a pé e o único meio de transporte disponibilizado era a bicicleta. Num tempo em que a maioria das portas não tinha número de polícia e os chefes não aceitavam que o carteiro regressasse com uma carta por entregar

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“Desde que os touros chegam à praça até irem embora nunca os perco de vista” Nos dias de tourada o único patrão dos curros é o José João “Ruço” Faustino

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o comandante dos curros nos dias de tourada na praça da Chamusca. Chega ao local antes de toda a gente para conferir mais uma vez o que já preparou antecipadamente. Está presente quando os toiros chegam e nunca os perde de vista até que são embarcados na camioneta para o regresso. Foi ele que escolheu os homens que trabalham consigo. O irmão e mais dez. A maioria é pessoal da velha escola. Disciplina baseada no respeito, concentração e perfeição no trabalho. Ninguém faz nada sem ele ordenar. José João Oliveira Faustino é um homem do campo. Nasceu a 26 Outubro de 1953 numa quinta, cresceu no campo e continua a trabalhar no campo. Fez tropa no fim da guerra colonial. Foi a Angola já depois do 25 de Abril. A sua especialidade era atirador mas nunca teve que atirar contra ninguém. “Nunca pensei ir. Só quando me vi no avião é que me convenci. Fui a 26 de Junho de 1975 e vim no dia 7 de Novembro do mesmo ano. A independência foi a 11. Cheguei a estar algum tempo no Lobito mas a maior parte do tempo foi passado em Luanda. A cidade estava um caos. Havia lixo por todo o lado e tiroteio entre as várias facções. Nós íamos acompanhar as pessoas às suas casas para recolherem o que lhes pertencia. Depois ficávamos a guardá-los nos quartéis até embarcarem. Nessa altura passei muitas noites a dormir no chão”. A voz é ligeiramente arrastada. Conversamos num quintal. Apesar de serem seis e meia da tarde há um galo que canta de cinco em cinco minutos. “Já lá andei a fazer uns arranjos nos curros. Lavei as pias, mexi a terra e arranjei umas tábuas que um “pardal” partiu o ano passado com uma marrada”, conta. Ajeita o boné e acrescenta: “No dia da corrida dou uma regadela à arena. Os animais saem um a um da camioneta que encosta à porta de entrada, passam pela balança e seguem

para os compartimentos. O sobrero é o primeiro. Ao meio dia é o sorteio. Depois do sorteio coloco-os nos compartimentos pela ordem que vão entrar em praça. É preciso muita atenção e concentração. Actualmente, quando saem da praça, depois de lidados, vão logo para a camioneta. Têm que embarcar rapidamente porque enquanto estão ali na zona de entrada, não pode entrar outro para a arena”. Abre a carteira que traz no bolso de trás das calças e tira de lá um recorte de O MIRANTE. Mostra uma fotografia de alguns toiros entre cabrestos, tirada no antigo tentadero da antiga Casa Norberto Pedroso. “Estes foram os que fugiram. Foi em 1993, no único ano em que participei a cavalo na entrada de toiros da Ascensão”, conta. “O que eu sofri. Andei horas no mato atrás deles. No ano a seguir já não participei porque fiquei a tomar conta dos curros. Antes disso eu já ajudava na praça desde 1978”. Aprende-se com tudo o que nos acontece na vida. Para além da fuga dos toiros José João Faustino tem mais uma história exemplar para recordar. Foi no ano em que os animais entraram na praça trôpegos e a babarem-se. Nesse ano, por insistência de um amigo, deixou os animais sozinhos e em vez de comer a bucha que tinha levado foi ao almoço oferecido pela câmara municipal. Foi a primeira vez e a última. Alguém drogou os touros na sua ausência. “O sobrero e o sexto toiro que estão mais afastados da entrada, foram os únicos que saíram bem. No fim da corrida fui despejar e lavar as pias e no dia a seguir as tábuas à volta estavam todas brancas como se lhes tivessem posto cal. Só tive pena que não tivessem investigado o assunto para se descobrir o culpado”, desabafa. Nasceu com o cabelo loiro, quase branco e por isso ganhou a alcunha de Ruço. Nunca gostou da escola. A sua paixão eram os animais. O ar livre. “Nasci no Junco de Bai-

xo, junto a Ulme. Depois fomos para a Murta e mais tarde para as Trevas. Não fiz exame da 4ª classe. Fugia da escola para ir para a ‘tralhoada’ (bois bravos que depois de lidados eram usados para os trabalhos de campo). A minha mãe vinha-me pôr à escola. Quando chegava ali ao Areal (entrada sul da vila da Chamusca) pensava que eu já não voltava para trás e ia-se embora. Assim que ela se afastava eu subia pelas terras do Pedro Mira, passava no mal cozinhado, cu aberto e quando ela chegava a casa já lá estava minha mala. Ia ter com o meu pai ao campo só para andar a cavalo na grade atrás dos bois. Ele não me dizia nada.”

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Praça de touros da Chamusca comemora 95º aniversário Quinta-feira, dia 29 à tarde, e sábado, 31 à noite, com toiros da Chamusca e do Ribatejo Este ano é um ano de datas redondas. Os Forcados Amadores da Chamusca fazem quarenta anos e os Forcados Amadores do Aposento da Chamusca fazem trinta anos. Ambos os grupos vão estar na arena. A organização anuncia “preços do século passado”. Marcos Bastinhas, Duarte Pinto e J. Salgueiro da Costa, são os cavaleiros que figuram no cartaz da corrida de Quinta-feira da Ascensão, 29 de Maio, marcada para as cinco da tarde. Para pegar os toiros da ganadaria Irmãos Dias, que cresceram e se desenvolveram nos campos onde antigamente se faziam os exemplares da casa Norber-

Touro, boi, cabresto, vacão e vacona Singularidades da língua portuguesa

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MIRANTE foi à procura de algumas respostas a questões relacionadas com gado bovino ao site ciberdúvidas da língua portuguesa, em www.ciberduvidas.com e partilha os resultados com os leitores mais curiosos. A primeira dúvida surgiu com o uso de touro ou toiro. A conclusão a tirar, por muito que custe a quem gosta mais de usar uma ou outra destas palavras, é que...é igual ao litro. Diz assim: “Os Romanos receberam da língua grega a palavra “tauros”, que converteram em “taurus”. É desta última palavra que surgiram as formas touro e toiro.” E o que é um touro ou toiro? “Pois bem, é o macho adulto combativo e corpulento destinado frequentemente para lutas com os seus semelhantes ou às touradas. Antes dos combates e das touradas, são inteiros ou não castrados. Depois das touradas, alguns são castrados e destinados aos trabalhos agrícolas. Na maior parte dos casos, são destinados ao abate.” Um touro ou toiro não é um boi. Nada de confusões. “Boi é uma palavra derivada do vocábulo latino “bove”. Designa os machos destinados aos trabalhos agrícolas ou para a produção de carne. A maior parte dos machos mansos destina-se ao abate e não passa de bezerros ou de vitelos. E as fêmeas dos touros e dos bois têm o mesmo nome? “Em Portugal, as fêmeas dos touros são conhecidas como vacas bravas, e as fêmeas dos bois são designadas como vacas mansas.” E que animais são aqueles, aos quais chamam cabrestos, que entram nas arenas, depois da lide do toureiro, para atraírem o touro ou toiro para os curros? Pois bem, “cabresto é o macho castrado que, em conjunto com outros, guia as manadas de touros ou de bois mansos.” Mas há mais. “Bezerro é o filho de vaca e touro ou boi com menos de um ano de idade. Vitelo é o filho de vaca e touro ou boi com cerca de um ano de idade. Novilho é o filho de vaca ou boi com mais do que um ano de idade. Usa-se com maior frequência em relação aos touros jovens. Garraio é o filho de vaca brava e touro enquanto jovem e antes de ser corrido nas touradas.” E para finalizar falemos do vacão e da vacona. Diz o Ciberdúvidas: “Em português, só há colocação de sufixo “ão” em palavras no feminino quando não existe o masculino dessa palavra. É o caso, entre outros, de garrafa / garrafão e ponte / pontão (ponte pequena). O masculino de vaca continua a ser touro ou boi. Segundo o dicionário Aurélio, “vacão” significa campónio, rústico, lapuz; homem inútil, indolente, mandrião; homem estúpido, de curta inteligência, palerma. Nenhuma dessas definições se encaixa no aumentativo de vaca. Assim, como o aumentativo de vaca não pode ser “vacão” - por esta palavra ter um género diferente da original - utiliza-se a forma regular de aumentativos: vacona.”

to Pedroso, irão estar em praça os Forcados Amadores da Chamusca, liderados por Nuno Marques e os Forcados Amadores do Aposento da Chamusca, que têm como cabo, Pedro Coelho dos Reis. Os primeiros completam este ano quarenta anos de existência. Os segundos celebram os trinta. Na corrida nocturna de Sábado, 31 de Maio, com toiros de seis ganadarias ribatejanas (Prudêncio, Manuel Veiga, Irmãos Dias, José L.V.S. d’Andrade, Silva Herculano e Manuel Coimbra), actuam os cavaleiros Rui Salvador, João Maria Branco e Tiago Lucas. Todas as pegas estão a cargo dos Forcados Amadores do Aposento da Chamusca. Os bilhetes para o sol são a 15 euros, sombra e sol 17,5 e Sombra 20 euros.

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foto arquivo O MIRANTE

A tradicional entrada de toiros e duas réplicas mais curtas Música, largadas, tasquinhas, artesanato, gastronomia e convívio até às tantas

tradição. A entrada de toiros na Estrada Nacional 118 é um dos pontos altos da festa

Estender a festa pela vila para a aproximar do comércio local Semana da Ascensão na Chamusca de 24 de Maio a 1 de Junho

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Semana da Ascensão, a grande festa anual da Chamusca, tem nove dias e algumas novidades. A principal é o aumento da área ocupada pelas diversas actividades do programa. O presidente da câmara municipal, Paulo Queimado (PS), diz que a decisão de estender a festa a outras zonas da vila é aproximá-la do comércio local e fazer com que os visitantes conheçam um pouco mais da terra para além dos locais tradicionalmente ocupados. “Deslocámos as mangas das largadas para a rua atrás do mercado (Rua Câmara Pestana), onde há a maior parte dos cafés e do comércio. O palco fica no local habitual, junto à câmara. Temos no parque municipal os expositores institucionais. O artesanato e algumas empresas locais no largo 25 de Abril. Temos o palco da juventude e as associações a participar com as suas tasquinhas. Não queríamos continuar a obrigar as pessoas a estarem sempre concentradas no recinto da festa. A mim faz-me um bocado confusão tanta gente junta. E sempre leva-

mos os visitantes a conhecerem um pouquinho mais da Chamusca”. Uma outra novidade são duas mini-entradas de toiros, seguidas de largadas - Sábado 24 de Maio e Sábado 31, às 16 horas -, replicando num percurso mais pequeno a tradicional entrada de Quinta-feira de Ascensão que obriga ao corte de trânsito no troço da Estrada Nacional 118 que atravessa a povoação. “Os animais vêm quase do mesmo sítio, entrada sul da vila, mas não interferem com a Nacional 118. São conduzidos pelas ruas Combatentes da Grande Guerra e Miguel Bombarda e vão directos à manga das largadas. Temos muita gente ligada aos cavalos e aos toiros que gosta também deste momento do contacto directo com os animais que são as entradas e daí esta inovação...dentro da tradição. Esperamos atrair mais gente que gosta da festa brava e vamos poder mostrar o que temos de melhor na arte de bem cavalgar e de conduzir os toiros”, explica o autarca. Paulo Queimado chama a atenção para os

artistas contratados que considera serem de topo, citando José Cid e a sua Big Band, Zé Perdigão e David Antunes da banda residente do programa televisivo "5 para a meia noite". “Não podemos ter espectáculos de primeiro plano todos os dias mas temos bons espectáculos. Esta é uma festa que atrai gente de todo o país. No dia 20, terça-feira, acompanhámos o presidente da Entidade Regional de Turismo do Alentejo e Ribatejo, Ceia da Silva, num périplo pelo concelho. Mostrar-mo-lhe o património religioso, para chamar a atenção para as potencialidades do Tejo no Arripiado. Fomos a uma ganadaria assis-

As largadas de toiros são numa manga que ocupa a rua Câmara Pestana, junto ao mercado municipal. As principais começam à meia-noite, nos dias 24, 28, 30 e 31 de Maio. Na Quinta Feira de Ascensão e no sábado, 31 de Maio, há tourada na praça da vila que este ano completa 95 anos de existência (ver notícia neste suplemento). José Cid e a Big Band fecham os festejos no dia 1 de Junho a partir das 22 horas. No dia anterior, sábado, 31 de Maio, a animação está a cargo de David Antunes and The Midnight Band. Zé Perdigão sobe ao palco com os seus convidados na sexta-feira, 30 de Maio. Na Quinta-Feira de Ascensão, 29 de Maio, a ida ao campo em romaria para a apanha da espiga está marcada para as 07h30, seguindose uma celebração católica com bênção da terra e dos animais. A tradicional entrada de toiros, que recria o momento em que os toiros que eram lidados na corrida da tarde atravessavam a vila, vindos do campo, em direcção à praça, está marcada para o meio dia. Com uma duração de nove dias a festa tem um programa muito extenso e variado. Convém por isso consultar antecipadamente o programa que está disponível no site ca câmara municipal da Chamusca e numa página do Facebook criada para o efeito.

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tir a uma tenta e servimos um beberete. A Semana da Ascensão pode ser o evento de promoção do concelho mesmo que não seja atracção turística”


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Identidade Profissional

O motorista do presidente da câmara que chegou a encarregado geral Fernando Brás é funcionário na Câmara Municipal da Chamusca desde os 16 anos O primeiro trabalho que teve foi numa fábrica de tomate. Depois andou nas vindimas, trabalhou nas obras e no serviço militar chegou a ser condutor de Salgueiro Maia. Podia ter optado por se inscrever na polícia mas preferiu ficar a trabalhar para o seu município, onde é encarregado geral. Até hoje não está arrependido das escolhas feitas.

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Ana Isabel Borrego

ernando Brás tem 51 anos e trabalha desde os 16 anos na Câmara Municipal da Chamusca, onde é encarregado geral, desde 2008, altura em que deixou de ser motorista do ex-presidente do município, Sérgio Carrinho, que deixou o cargo em 2013 depois de mais de 30 anos no activo. Antes de ingressar nos quadros da autarquia, Fernando Brás teve o seu primeiro emprego aos 16 anos na Spalil, antiga fábrica de tomate do concelho. Fernando não gostava de estudar e chumbou no oitavo ano. Um dia pediu 20 escudos ao pai, “naquela altura era algum dinheiro”, conta. Como o pai não lho deu resolveu ir trabalhar durante as férias de Verão. Depois da campanha de tomate fez uma vindima numa quinta em Vale de Cavalos. Quando esse trabalho sazonal acabou já a escola tinha começado e Fernando Brás não se tinha matriculado. Como não podia estar sem fazer nada foi à procura de emprego e encontrou-o na câmara municipal. Começou a trabalhar como aprendiz de pe-

dreiro. Com o dinheiro do primeiro ordenado (4.500 escudos) comprou um carro. “Nunca mais quis saber da escola. Preferia trabalhar e poder ganhar o meu próprio dinheiro para ter as minhas coisas”, confessa. Aos 18 anos tirou a carta de condução e começou a trabalhar com máquinas. Em cima de um “dumper” ajudava nas obras e limpeza de ruas. Entretanto foi obrigado a suspender o trabalho para cumprir o serviço militar. Esteve 16 meses na Escola Prática de Cavalaria de Santarém. Durante esse tempo chegou a servir de motorista a Salgueiro Maia, um dos símbolos da revolução de 25 de Abril de 1974. “Uma vez levei o capitão Salgueiro Maia a Alcácer do Sal (Alentejo) quando se lançaram misseis pela primeira vez em Portugal”, recorda. Nessa altura teve “várias” propostas para entrar na Polícia de Segurança Pública mas, para desgosto da mãe, nunca aceitou. Preferiu ficar na Câmara da Chamusca. “Até hoje nunca me arrependi de nada. Se voltasse atrás podia fazer algumas coisas de maneira diferente mas não me arrependo das escolhas que assumi”, afirma com convicção. Quando regressou ao trabalho, por uma série de circunstâncias, surgiu a oportunidade de ser motorista do antigo presidente, Sérgio Carrinho (CDU), que exerceu o cargo entre 1979 e 2013. Fernando Brás foi seu motorista entre 1989 e 2008. Vinte anos onde se desenvolveu uma “grande” cumplicidade entre presidente e motorista. O encarregado geral diz que o “seu” presidente foi único. “O presidente fazia questão que eu entrasse com ele e apresentava-me a toda a gente. Sentava-me ao seu lado e comia ao lado dele. Chegaram a ter reuniões de estratégia política e eu estive sempre por perto.

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Confiou sempre em mim e isso é o mais importante”, afirma. Fernando Brás confessa que lhe custou quando Sérgio Carrinho deixou a câmara. Nas horas vagas, e sempre que o ex-presidente Carrinho lhe pede, ainda faz de seu motorista. “Com todo o gosto. Temos uma óptima relação e 20 anos não são 20 dias”, diz. Desde 2008 que Fernando Brás é encarregado geral no parque de máquinas da autarquia. Actualmente é responsável por cinco

oficinas: electricidade, mecânica, carpintaria, serralharia e pintura. É também responsável por todos os transportes existentes na câmara. Nos dias que antecedem a Semana da Ascensão fica responsável por coordenar o pessoal para montar e organizar tudo o que é necessário para a festa. “O meu trabalho é colmatar as falhas para que nada corra mal. Mas este é um trabalho conjunto, eu sou apenas mais uma peça em toda a engrenagem de funcionários da autarquia”, conclui

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10 ESPECIAL ASCENSÃO 22 MAIO 2014

Três Dimensões

“Para as famílias da Chamusca a Semana da Ascensão é uma espécie de segundo Natal” André Tavares, licenciado em Marketing, 32 anos, adjunto de director de centro comercial É natural e reside na Chamusca, terra da qual muito se orgulha. Licenciado em Marketing, Publicidade e Relações Públicas, a experiência profissional que acumulou, a par do percurso académico, foi determinante para que subisse, degrau a degrau, na carreira que escolheu, sendo hoje adjunto do director do W Shopping, em Santarém, gerido pela empresa Jones Lang LaSalle. Não esquece os valores de humildade que os pais lhe transmitiram e considera que há sempre algo que pudemos aprender com os outros. Comecei a trabalhar em 2003, em part-time, no Centro Comercial Colombo, como auditor das lojas. Fui para Lisboa com 21 anos, para tirar o curso de Marketing, Publicidade e Relações Públicas, que terminei em 2007. Controlava, por exemplo, as vendas e a qualidade do atendimento. Quando terminei o curso fui convidado pela Sonae Sierra, que administrava o Colombo, para o departamento de Marketing, em regime de part-time, para a função de assistente de produto. Em 2008, fui convidado para integrar os quadros da empresa, ficando como assistente de marketing. Em criança dizia que queria ser jogador de futebol ou forcado. Vivo na Chamusca e tenho o prazer de privar com quase todos os meus amigos de infância. Nunca fui forcado porque a minha mãe e o meu pai sempre me travaram a seguir esse caminho mas tenho muito orgulho dos grupos de forcados da Chamusca. O seu trabalho resulta de uma união de esforços, de uma amizade constante e, no fim, saem apenas com a satisfação de missão cumprida e de que estão todos bem, algo que devemos transpor para a nossa vida pessoal e profissional. A maior festa da Chamusca é a Semana da Ascensão. Para as famílias é uma espécie de segundo Natal, em termos de re-

encontros. O facto de gostar de contactar com pessoas levou-me a seguir Humanidades. A frieza dos números nunca me conquistou. A minha formação em Marketing, Publicidade e Relações Públicas trouxe-me mais-valias importantes, não só a nível profissional, como a nível pessoal. Impulsionado pelo meu pai e pela minha mãe, ir trabalhar logo quando comecei a estudar, permitiu-me ganhar valências a nível do contacto pessoal. Não concebia, a nível profissional, fazer algo que não gostava. O W Shopping em Santarém tem a vantagem de ter vários tipos de clientes. Gosto de perceber as tendências actuais, a projecção que temos que ter para o futuro, de perceber grupos, de perceber nichos de mercado e de perceber as pessoas em si. O Marketing ensina-nos para quem devemos falar e como é que o devemos fazer e, sobretudo, como é que devemos estar posicionados, como marca, perante os olhos de quem nos visita. Ter que lidar com pessoas diariamente, quer os clientes, os lojistas ou as equipas que estão cá presentes, é desafiante porque, para cada um, temos que adequar o discurso. O que faz as empresas são as pessoas que nelas trabalham. Como comecei por baixo,

VER VÍDEO www.omirante.pt ou no canal 642649 do MEO

hierarquicamente, percebo melhor as posições dos vários trabalhadores. As pessoas têm que sentir que tenho sempre a porta aberta para as ouvir. As pessoas não são robôs. Por outro lado, tenho tido imensa sorte com as equipas com quem trabalhei, quer a nível de chefias, quer a nível dos elementos que integravam essas equipas. Apesar do objectivo final passar por ter um bom produto, a dimensão humana nunca pode ser esquecida. Sempre tive o desejo de voltar para a minha terra. Em Lisboa, onde conheci pessoas fantásticas, faltou-me sempre o cheiro a campo. Ir na rua e não haver trato entre as pessoas sempre me fez confusão. Prezo muito o descanso e a qualidade de vida que, numa grande cidade, é difícil alcançar. Aqui na região é mais fácil equilibrar o lado profissional com o pessoal. É raro o fim de semana em que não haja uma actividade cultural na Chamusca. Gostava de um dia poder contribuir com algo, em concreto, para o desenvolvimento da minha terra. Dificilmente aceitaria um cargo político. Nunca digo nunca mas, em política, só me veria a trabalhar localmente e como independente, sem a cor de um cartão a ditar o que fizesse. Adoro cozinhar e acho que é algo que faço bem. Ao fim-de-semana desligo do trabalho, embora esteja sempre contactável, e gosto de pôr o cinema em dia. Vejo sempre em casa, no

cantinho que idealizei. Joguei basquetebol na Chamusca até aos meus 14 anos e no futebol passei por todos os escalões, desde infantil a sénior. Gosto de ver as novas gerações a pegar nas tradições da Chamusca. Gosto das pessoas e do cheiro da minha terra. A única certeza que tenho da vida é que sou do Benfica, e da Chamusca, até morrer. Elsa Ribeiro Gonçalves


12 ESPECIAL FEIRA DE MAIO 22 MAIO 2014

Música, festa brava e sardinha assada animam Azambuja

foto arquivo O MIRANTE

Centenária Feira de Maio realiza-se este ano entre 29 de Maio e 2 de Junho

A

tradicional homenagem ao campino e a noite da sardinha assada são os pontos altos de mais uma edição da Feira de Maio, que este ano se realiza entre os dias 29 de Maio e 2 de Junho, na vila de Azambuja. Ao todo serão cinco dias de actividades ligadas à tauromaquia, que arrancam logo no dia 29 de Maio com um dia dedicado às tertúlias. Pelas 13h00, o Jardim Urbano da vila enche-se de juventude e alegria com o almoço de convívio das tertúlias. As largadas de toiros realizam-se todos os dias: Quinta-feira às 19h00; sexta-feira, às 22h00; sábado às 18h30; domingo às 10h30 e segunda-feira, às 18h30. A inauguração oficial da feira está marcada para as 17h00, na praça do município. À cerimónia juntam-se campinos, a fanfarra dos Bombeiros Voluntários de Azambuja e os elementos das tertúlias. Segue-se a abertura, no campo da feira, do pavilhão do Artesanato e das Actividades Económicas e da “Praça das Freguesias”, que volta a concentrar atenções ao longo dos 5 dias da Feira de Maio. A praça irá acolher os visitantes com gastronomia regional e animação, proveniente de cada uma das sete freguesias do concelho. As tasquinhas estarão a cargo de diversas associações e instituições de solidariedade social, funcionando de sexta-feira a segunda-feira entre as 12h00 e a meia-noite. Um concerto com a fadista Joana Amendoeira, no Páteo Valverde, à meia-noite de 29 de Maio, é um dos pontos altos da animação musical. Este dia encerra com a Mesa da Tortura, prova de resistência e bravura na Praça de Toiros Dr. Ortigão Costa. A sexta-feira, 30 de Maio, continua a constituir um dos maiores cartazes da Feira de Maio, com a tradicional distribuição de sardinhas assadas, antecedida do cortejo de campinos com o gado pelas ruas da vila à luz de archotes, às 21h00, seguido da habitual largada de toiros. Haverá fado vadio, música itinerante e arraiais até de madrugada. Às 02h30 haverá um concerto com Ruth Marlene na praça do município. Sábado, 31 de Maio, é o Dia do Cavalo. Às 10h30 haverá aulas práticas de equitação na praça do município. Na Várzea do Valverde, a partir das 14h00 decorre a admis-

são a concurso de Modelo e Andamentos - Classe Éguas Afilhadas - Puro sangue lusitano. Às 15h00 os campinos mostram todas as suas capacidades nas provas de campo, com a condução de jogos de cabrestos e prova de perícia. A animação da noite terá uma romaria a cavalo pelas tertúlias da vila, às 21h30, e a mesa da tortura, na praça do município, às duas da madrugada. O cabeça de cartaz dessa noite será o cantor Iran Costa, que atuará na praça do município. Na manhã de domingo, 1 de Junho, Dia do Campino, vive-se o momento mais solene com a tradicional Homenagem ao Campino, na praça do município, pelas 09h30.

Este ano é homenageado o campino José Manuel Abreu Mendes. Às 17h00, haverá uma corrida de toiros à portuguesa na praça Dr. Ortigão Costa, com os cavaleiros Rui Salvador, Paulo J. Santos e Duarte Pinto e os forcados amadores de Azambuja, do Ribatejo e de Arruda dos Vinhos. Na última manhã da feira, dia 2 de Junho, os alunos do 1º ciclo do ensino básico do concelho participam em várias actividades e enchem as ruas com a sua animação e alegria na iniciativa “Feira na Vila”. Às cinco da tarde, antes da última espera de toiros, procede-se à entrega de prémios às melhores ornamentações de largos, janelas ou fachadas, e montras, na praça do município.


ECONOMIA | 13

O MIRANTE | 22 MAIO 2014 foto O MIRANTE

TRABALHO. Trabalhadores do município, como Paulo Fragoso, demoram cerca de um mês a preparar as tronqueiras e os curros para as largadas de toiros

Montar as tronqueiras da Feira de Maio em Azambuja exige esforço e dedicação Durante as largadas há sempre funcionários de prevenção porque já aconteceu os toiros partirem as traves de madeira

P

ara garantir a segurança nas actividades tauromáquicas da Feira de Maio em Azambuja há uma dezena de trabalhadores da câmara que durante um mês montam as tronqueiras. Cada barrote de madeira pesa cerca de 25 quilos e está identificado com letras e números que indicam a zona onde deve ser montado. No armazém do município há milhares de barrotes que, cuidadosamente colocados como um puzzle, permitem que o público assista às actividades taurinas. “Para levantar uma coisa destas é preciso muito esforço e vontade”, explica com um sorriso Paulo Fragoso, de 50 anos, um dos trabalhadores que monta as tronqueiras. Além de funcionário do município é também um aficionado de corpo e alma. “Quando fazemos o que gostamos o trabalho até corre melhor”, garante o funcionário. Uma carrinha do município distribui os barrotes pelas ruas, que depois vão sendo colocados um a um. Primeiro são as barras verticais, depois encaixados e aparafusados os horizontais. Em vários locais das ruas são os próprios proprietários de estabelecimentos que colocam as suas tronqueiras para salvaguardar as montras e portas das suas habitações. O trabalho mais complicado é o da montagem dos portões, que obriga a um maior esforço físico devido ao seu peso e tamanho. Muitas vezes são as últimas peças deste puzzle a serem encaixadas. Durante as actividades

há sempre uma carrinha de prevenção carregada com barrotes para algum imprevisto. Não é frequente mas já aconteceu os toiros partirem as travessas de madeiras com marradas. Durante as largadas há sempre funcionários da câmara e um carpinteiro a trabalhar. A única memória de um susto em Azambuja aconteceu há três anos, quando um cabresto conseguiu fugir de um curro e causou algum alvoroço na vila. Tudo por culpa de uma tábua defeituosa. Este ano na montagem dos curros estão Carlos Janeiro, Amílcar Marques e Ricardo

Vieira. Cada um tem uma tarefa específica a executar: um transporta painéis de madeira, o outro coloca-os no sítio e Carlos prega-os com uma precisão matemática. Carlos tem 53 anos e reside na Maçussa. Está habituado a este trabalho. Na manhã de sexta-feira pregava os últimos pregos dos curros da rua Vítor Cordon. O trabalho é pesado e exige algum esforço, admitem a maioria dos trabalhadores, que garantem ver o seu trabalho reconhecido quando a vila se enche de visitantes e as tronqueiras ficam cheias de aficionados empoleirados

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