Retrospectiva 2014 (1183 - 26-02-2015)

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AS NOTÍCIAS E AS PESSOAS QUE SUPLEMENTO RETROSPECTIVA DO ANO 2014 - Este suplemento faz parte integrante da edição nº 1183 deste jornal e não pode ser vendido separadamente

SEMANÁRIO REGIONAL - DIÁRIO ONLINE

MARCARAM

2014

As matérias principais deste suplemento são as entrevistas feitas às Personalidades do Ano escolhidas pelos jornalistas da redacção de O MIRANTE. Os jornais têm a obrigação de noticiar tudo o que se destaca da normalidade e não apenas os factos negativos. O MIRANTE cumpre essa missão diariamente, no papel e na Internet e, por mais que digam que a desgraça vende mais que a excelência, preferimos sempre distinguir esta última.


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O MIRANTE Retrospectiva do Ano 2014 - 26 Fevereiro 2015


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Personalidade do Ano

Vasco Luís de Mello Presidente do Conselho de Administração do Hospital de Vila Franca de Xira

“A adesão dos profissionais ao nosso projecto foi fantástica” A escolha do presidente do conselho de administração do Hospital de Vila Franca de Xira, Vasco Luís de Mello para Personalidade do Ano 2014 teve em conta a qualidade, eiciência e organização, demonstrados ao longo do ano e com particular incidência durante o grave surto de Legionella em Novembro. O Hospital, que é uma parceria do Estado com o Grupo José de Mello Saúde, contribuiu de forma signiicativa para a melhoria do Serviço Nacional de Saúde na sua área de intervenção. Alberto Bastos O ano passado o Hospital de Vila Franca de Xira esteve em destaque por causa do surto de Legionella. Como viveu essa situação e que ensinamentos recolheu? Foi uma situação vivida com bastante intensidade. Foi tudo muito rápido mas fomos capazes de mobilizar toda a gente num curto espaço de tempo. Houve um grande em-

Um gestor preocupado com a falta de solidariedade Vasco Luís de Mello é um dos administradores do Grupo José de Mello Saúde e o presidente do conselho de administração e da comissão executiva do Hospital de Vila Franca de Xira desde Junho de 2011, quando o mesmo passou a ser uma Parceria Público Privada. Nasceu na Suíça a 11 de Dezembro de 1964, licenciou-se em Engenharia Mecânica na Universidade Católica de Louvaina, na Bélgica, e realizou, posteriormente, um Master in Business Administration. Antes de trabalhar na área da saúde trabalhou no sector bancário. Casado, pai de cinco filhos, não se considera um viciado em trabalho

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penho de toda a equipa deste hospital mas os nossos profissionais sozinhos não teriam sido capazes de fazer face ao surto. Houve necessidade de uma articulação e de uma comunicação muito fluida com os diferentes hospitais do Serviço Nacional de Saúde, isso foi crítico. Se não fosse isso este hospital tinha colapsado. Essa foi uma das grandes aprendizagens e correu bem.

embora reconheça que gosta muito do que faz a nível profissional o que, por vezes, gera alguns desequilíbrios entre a sua vida pessoal e profissional. Definese como optimista e uma das suas preocupações é a falta de solidariedade tanto entre países como entre pessoas. Orgulha-se do papel social do Hospital e do Grupo José de Mello Saúde, nomeadamente através da concessão de bolsas de estudo, apoio a projectos de investigação e apoios a Instituições de Solidariedade Social. Lançou a constituição de um Banco de Ajudas Técnicas estando a decorrer a recolha de material como cadeiras de rodas, canadianas, camas articuladas, andarilhos e outros. Considera que o principal segredo de uma boa gestão é saber escolher as pessoas certas para cada lugar. Apesar de tudo o que já conseguiu implementar

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Penso que tinham preparados planos para situações de crise mas uma coisa são os planos e outra é a realidade. Como já disse os profissionais do Hospital não foram suficientes. Tivemos que chamar outros profissionais de outros hospitais, nomeadamente dos hospitais do Grupo (José de Mello Saúde). Vieram médicos de Braga, por exemplo, para nos apoiar na urgência porque as pessoas ao fim de uns dias estavam exaustas. Vieram camas de Cascais. E a certa altura tivemos que começar a transferir doentes para outros Hospitais da zona de Lisboa. Foi também importante a gestão da comunicação interna e a comunicação com os órgãos de comunicação social. Uma das áreas de maior impacto público do hospital é a urgência. Em Junho de 2011 numa entrevista a O MIRANTE disse que gostaria de ter uma equipa do pró-

a nível do Hospital de Vila Franca de Xira não dá mostras de abrandar. Quer prestar mais e melhores serviços, reforçar a ligação à população, fazer daquela unidade hospitalar uma das mais seguras do país. Nunca se cansa de elogiar os colaboradores e de realçar o orgulho que todos têm em trabalhar onde trabalham. O Hospital Vila Franca de Xira obteve no ano passado a Acreditação pela Joint Commission International (JCI), a mais prestigiada organização acreditadora na área da saúde, a nível mundial, consolidando o seu compromisso de prestador de cuidados de saúde de excelência e de melhoria contínua da qualidade e segurança do doente. Vasco Luís de Mello é coleccionador de fósseis de ouriços e também tem uma vasta colecção de documentos e objectos relacionados com o Grupo CUF. No

prio hospital naquela valência em vez de recorrer a pessoal de empresas prestadoras de serviços. Conseguiu esse objectivo? Não consegui completamente mas também, internamente, concluímos que não deveríamos ter as dotações do serviço de urgência todas completas com uma equipa fixa, porque temos necessidades que variam ao longo do ano. Nós temos mais necessidades nos três meses de Inverno e temos menos necessidades nos períodos de Verão. Temos que ter uma base fixa e depois ter capacidade para ir buscar os prestadores de serviços para completar quando temos esses picos. É esse o nosso modelo. Está satisfeito com a equipa fixa que o Hospital tem na urgência? A equipa evoluiu de uma forma fantástica. Nós temos uma equipa de urgência como nunca tivemos. Agora essa equipa não está formatada para surtos e para as afluências extraordinárias que eles geram. Mas seria um acto de má gestão se tivéssemos sempre uma equipa preparada para receber mais trinta ou cinquenta por cento de doentes do que aqueles que recebemos habitualmente. Segundo o contrato com o Estado foi obrigado a ficar com mais de 90 por cento do pessoal do Hospital. Como correu essa parte? Acabámos por ficar com todo o pessoal porque precisávamos. Não houve pessoas que tenham ficado sem o seu emprego. Como se integram tantos trabalhadores numa nova filosofia de trabalho e noutra organização e gestão? A mudança começou no Hospital Reynaldo dos Santos onde estivemos durante cerca de dois anos antes de virmos para aqui. A adesão dos profissionais do Hospital Reynaldo dos Santos ao nosso projecto foi fantástica. Não houve resistências? Resistências não houve. Houve receios. Houve receios nossos e receios das pessoas que lá estavam em relação a nós. Mas a partir do momento em que demos novos meios às pessoas, em que apostamos nelas e que reconhecemos as suas capacidades, elas aderiram.

Hospital de Vila Franca de Xira criou um pequeno Museu onde reuniu fotos, documentos e objectos que permitem conhecer a história daquela Unidade Hospitalar. Adepto das novas tecnologias, está a desenvolver num pequeno espaço do Museu, uma zona de entretenimento digital, através da qual é possível aos visitantes, nomeadamente aos mais jovens e aos mais joviais, fazerem-se fotografar em diversos papéis como médicos ou enfermeiros, por exemplo, e enviar a foto, de imediato, para o e-mail que pretenderem. Gosta de ir aos serviços do hospital para visitar as pessoas que lá trabalham e não evita locais como o bloco operatório apesar de confessar que não gosta de ver sangue e continua, tal como em criança, a ter algum medo de agulhas.


A partir do momento em que demos novos meios às pessoas elas aderiram

Estamos a falar de cerca de oitocentos trabalhadores... O que viemos propor foi um edifício novo, com novos equipamentos e novas condições de trabalho. Propusemos coisas positivas. Não escondemos que o projecto era exigente, que o calendário era apertado e que isso exigia trabalhar mais. Mas explicámos que, no final, iríamos ter um hospital melhor. E nesta altura as pessoas têm orgulho do sítio onde trabalham. Consegue dar às pessoas o mesmo estatuto de compensações? Tínhamos 780 colaboradores quando chegámos e hoje temos 1100, ou seja, mais trezentos postos de trabalho. Houve também pessoas que se reformaram. Hoje, se olharmos para os colaboradores, já só temos cerca de metade que vieram do antigo Reynaldo dos Santos. Quanto aos novos tivemos o cuidado de adoptar regras de compensação semelhantes às das pessoas que cá estavam. Não quisemos criar um grupo distinto com condições distintas. Têm falta de pessoal? Os concursos para determinadas especialidades também fecham sem candidatos como acontece noutros hospitais? Isso não acontece porque não precisamos de abrir concursos. Podemos contratar directamente, dentro dos limites definidos. Temos contratado de forma prudente à medida que a actividade vai crescendo. E cresceu muito. Onde cresceu mais? Nós estamos a fazer o dobro das consultas que o hospital fazia e o triplo das cirurgias. Isto não se faz sem

pessoas. Este ano ainda vamos ter que reforçar o pessoal em algumas áreas mas o grande salto foi nos últimos dois anos. Têm que negociar anualmente, com a ARS, o volume de actividade. Como têm decorrido essas negociações? Têm sido negociações difíceis como se pode imaginar. O contexto em que o país vive não permite acomodar orçamentos muito grandes. Este hospital é um hospital que passou a ter algumas especialidades que não tinha, é normal que tenha crescido em termos de orçamento mas também passou a prestar serviços que não prestava antes e passou a atender pessoas que antigamente não vinham aqui a este hospital. Hoje estamos, de facto, a atender as populações dos cinco concelhos e isso obriga-nos a acomodar um aumento do orçamento. Houve um crescimento, por exemplo,

do número de partos. Não foi por terem nascido mais bebés na região. Antes esses bebés iam nascer noutros hospitais. Conseguimos convencer as pessoas que era bom nascer aqui. Tivemos um aumento de cerca 24 por cento ao nível dos partos. O senhor é um adepto das novas tecnologias em termos pessoais. Calculo que o Hospital também tenha uma actualização constante a esse nível. Não podemos estar alheios aos desenvolvimentos em termos de novas tecnologias e temos introduzido várias inovações. Tem orçamento para isso? As novas tecnologias não são forçosamente mais caras. Algumas são mais caras mas também trazem maior facilidade em gerir. Nós agora, por exemplo, estamos a desenvolver todo o sistema informático que é utilizado pelos médicos e ao nível da enfermagem. Está a ser

desenvolvido um módulo onde os médicos e os enfermeiros podem, através do seu ipad, ter acesso a todos os registos. Isto permite aos médicos andarem junto dos doentes, no hospital, com acesso a toda a informação em qualquer altura. A receptividade do pessoal às inovações tem sido muito boa. O Hospital não é obrigado a usar o software do Ministério da Saúde? Na gestão clínica não. Há coisas que estão ligadas ao Ministério da saúde, como o sistema da Consulta a Tempo e Horas e também temos a ligação com os centros de saúde mas na gestão de recursos humanos; na gestão dos materiais o software é o do grupo. É o que utilizamos em todos os hospitais do Grupo José de Mello Saúde. E já temos uma massa crítica interessante e bastante “know-how”. Actualmente quase toda a informação está no sistema.

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Personalidade do Ano Política - Masculino

Miguel Borges Presidente da Câmara Municipal do Sardoal

“Quando os serviços da câmara fecham as pessoas vão bater-me à porta de casa” Miguel Borges é presidente da Câmara do Sardoal desde inais de 2013 depois de ter feito um mandato como vice-presidente. Professor de Educação Musical na vila onde se radicou há cerca de 18 anos, o autarca é um exemplo de quem luta para combater a interioridade num concelho no limite norte do Ribatejo. Já conseguiu que um curso superior seja leccionado no Sardoal e outro está a caminho. Lutador, diz que está na política como está na vida: com humildade, coragem e empenho proissional. António Palmeiro Como é que um professor se meteu na política? Foi a convite de um outro professor que conhecia o meu trabalho na escola e que era o anterior presidente da câmara, Fernando Moleirinho. Quando não estamos na vida política temos tendência a criticar, a dizer que as coisas estão mal e é nossa responsabilidade enquanto cidadãos de respondermos a estes convites. Não ficou assustado? Tive sempre uma participação cívica e cultural bastante activa desde o tempo de estudante. Quando aceitei

Sem fato nem gravata mas sempre com muita música A ligação de António Miguel Borges ao Sardoal começou há cerca de 26 anos quando começou a colaborar com o GETAS - Centro Cultural do Sardoal, no qual foi director do grupo coral. O presidente da Câmara do Sardoal, eleito pelo PSD em 29 de Setembro de 2013, nasceu a 24 de Agosto de 1965 em Abrantes, cidade onde residiu durante a sua infância e parte da juventude. Miguel Borges sucedeu a Fernando Moleirinho, do mesmo partido, de quem foi vicepresidente, e com o qual mantém contacto

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este desafio, depois de falar com a família, tinha 34 anos e um passado que me custou muito a construir, com muito trabalho e sacrifício. Estou na política como estou e sempre estive na vida: com humildade, com coragem e empenho profissional porque temos que encarar esta actividade como uma profissão. Também era de andar nas manifestações de professores? Participava como músico em manifestações do primeiro de Maio mas de resto nunca andei em manifestações porque nunca calhou. As pessoas têm o direito, conquistado com o 25 de Abril, de se manifestarem. Mas não partilho dos exage-

regular. Miguel Borges, que entrou na política em 2009, fixou-se na vila, no limite norte do Ribatejo, com a esposa e os quatro filhos (três raparigas e um rapaz) há 18 anos quando começou a leccionar Educação Musical no Agrupamento de Escolas do Sardoal. Tem um curso de composição e foi director musical da extinta Orquestra Ligeira de Abrantes e da Filarmónica União Sardoalense. Teve desde cedo uma participação cívica activa e não lhe custou entrar na política. O grande desafio de Miguel Borges, e aquele que assume como uma luta permanente, é contrariar a interioridade do concelho. E o autarca sente na pele os custos dessa interioridade a começar

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ros que às vezes existem nas manifestações e que chegam a roçar a comédia, o folclore. As pessoas em grupo às vezes expõem-se de uma forma que não dignifica a sua classe profissional. Tem pena de não ter tempo para se dedicar à música? Tenho muitas saudades, por vezes. No meu gabinete tenho muitos discos e enquanto profissional ouvia a música a que era obrigado, agora ouço a que me dá prazer. Consigo agora desfrutar da música de outra forma. Mas continuo a tocar todos os domingos na missa. Os grandes centros têm mais oportunidades. Não se sente frustrado? O importante é lutar e manifestarmo-nos. Há dois anos não passava pela cabeça de alguém haver um curso superior no Sardoal (de Técnico Superior Profissional de Produção Artística para a Conservação e Restauro) e neste momento estamos a trabalhar para que no próximo ano passem a existir dois cursos. Se tudo correr bem este ano vamos ter uma loja do cidadão garantindo que nenhum serviço

pelo facto de no seu gabinete a rede de telecomunicações ser fraca, apesar de estar a pouco mais de uma hora de Lisboa pela auto-estrada. Não gosta de touradas e nunca assistiu a uma corrida ao vivo. É uma pessoa informal e só usa fato e gravata quando tem mesmo de ser por razões protocolares. Tem um perfil na rede social Facebook onde publica essencialmente notícias sobre o Sardoal e a actividade da câmara, além de partilhar vídeos de músicas. Aos 13 anos trabalhou nas férias de Verão num armazém para conseguir comprar uma guitarra. É uma pessoa crítica em relação à política e aos investimentos que se fizeram em algumas zonas e que continuam a fazer-se.

público sai do concelho. Consegue ser ouvido nos centros de decisão? Consigo, graças às minhas técnicas vocais (riso). Mas exige o dobro do esforço porque temos de fazer o trabalho normal de uma câmara e depois temos de lutar constantemente contra a desertificação e angariar investimentos para o território. Mas são os resultados desta luta que nos vão permitir daqui por uns tempos dizer que valeu a pena. Consegue tirar “a farda” de presidente da câmara? Nos meios pequenos o prolongamento do nosso gabinete é a nossa casa. Quando os serviços da câmara fecham as pessoas, com muita frequência, vão bater à nossa porta. Esta proximidade é uma vantagem. É importante conhecer os munícipes pelos nomes, as famílias que apoiamos pelos nomes. O que lhe apetece dizer quando ouve as pessoas dizerem que os políticos só querem tacho? Que uma árvore não faz a floresta. Há pessoas com receio de irem para a política por causa disso. É completamente injusto. Conheci gente muito boa que tem lutado pela causa pública. Qual é o seu ídolo na política? Há um homem que admiro há muitos anos que é o ex-Presidente da República, Ramalho Eanes. Sempre o considerei um exemplo, alguém que esteve sempre para servir. Ao contrário do que se possa pensar ele não é assim tão austero como parece e tem grandes momentos de humor. Considero-o um grande político. Outra figura, que acho curiosa, é Winston Churchill, que teve de muito bom e de menos bom. Leio com muito gosto tudo o que sai sobre a sua vida. Há outros homens que admiro pela sua coerência, como o histórico dirigente do PCP, Álvaro Cunhal, e não tenho problemas em dizê-lo mesmo não concordando com as suas ideias. Foi uma pessoa que sofreu por uma causa na qual acreditava e isso deve merecer a nossa consideração. E o primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, que tem aplicado cortes também nas autarquias? Tem crescido a minha admiração por ele. Quando se está nesta vida não se pode fazer só aquilo que os outros querem que façamos. O primeiro-ministro

Considera que muitas obras nunca deviam ter existido por serem obras de fachada. Diz que respeita a experiência das pessoas e que não tem a pretensão de ser o dono da verdade absoluta. A sua ligação à música começou aos seis anos a tocar e cantar no coro da Igreja de São João, em Abrantes. É um católico crítico dos que pedem a Deus mas que não fazem nada para que as coisas aconteçam e considera que a sorte não cai do céu. Miguel Borges lida bem com o humor mesmo quando é visado. Confessa que achou piada quando alguns funcionários lhe chamaram a atenção para o facto de ser o único presidente de câmara que conduz um carro mais pequeno do que ele.


Estou no PSD porque acredito naquilo que o partido defende e, mesmo estando ligado a uma organização política, posso discordar e dizer que o caminho tem de ser outro

tem tido uma coerência ao longo do mandato que tem surpreendido os mais cépticos e tem criado uma imagem de homem de Estado, que nos últimos anos não temos tido. É o cidadão Miguel Borges a falar ou o militante do PSD? É o Miguel Borges. O meu pensamento é independente. Estou no PSD porque acredito naquilo que o partido defende e, mesmo estando ligado a uma organização política, posso discordar e dizer que o caminho tem de ser outro. É uma pessoa bem-disposta e divertida. Isso é importante para tomar decisões? É importante para quebrar, por vezes, momentos de tensão. No primeiro ano de mandato os funcionários municipais deram-me um diploma onde diziam que canto pelos corredores da câmara. Há momentos para tudo.

Por vezes temos que tomar medidas duras mas é importante termos a noção que a vida continua e que a seguir vem outro problema e enquanto ele não chegar temos de andar bem-dispostos. Já pensou no que vai fazer quando sair da câmara? A única coisa que tenho garantida é o meu lugar na escola como professor de educação musical. Quando tiver que regressar será com muito gosto. E se continuar com a disponibilidade mental e força que tenho actualmente estarei completamente disponível para continuar a ajudar politicamente o meu concelho e a região. Como gostaria de ficar lembrado pela população após deixar estas funções? Gostaria de ser reconhecido como alguém que passou por aqui e se preocupou com as pessoas e as ajudou, seja na acção social, na educação, na cultura.

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Personalidade do Ano Política - Feminino

Júlia Amorim Presidente da Câmara Municipal de Constância

“Fico revoltada quando dizem que os políticos são todos iguais” Júlia Amorim é uma mulher de convicções para quem a velha palavra de ordem “a luta continua” faz mais sentido do que nunca. Após completar o seu primeiro ano como presidente da Câmara Municipal de Constância, reconhece que o cargo a levou a ter as costas mais largas e sobrecarregadas de responsabilidade. Diz que não é fácil conciliar a vida pessoal e familiar com a actividade autárquica e que, com a vida acelerada de hoje, falta-nos tempo para pensar e planear. João Calhaz Já tinha uma vasta experiência autárquica quando chegou a presidente de câmara. Quais foram as alterações mais substanciais que se verificaram no seu quotidiano? Foram várias, tanto a nível pessoal como das funções que desempenho. Apesar de procurar descentralizar quer no trabalho quer nas responsabilidades, é uma experiência diferente, porque as pessoas ainda se centralizam muito na figura do presidente, neste caso

Uma autarca reivindicativa e ligada à realidade Nas últimas eleições autárquicas, Júlia Amorim tornou-se a primeira mulher a liderar a Câmara Municipal de Constância. Antes foi presidente de junta de freguesia, vereadora e vice-presidente do município, sempre eleita pela CDU. Militante comunista num concelho onde o PCP tem reduzida expressão para lá das eleições autárquicas, a autarca considera que esse ideal está cada vez mais actual. Assume-se como feminista moderada a quem não falta espírito reivindicativo e considera que os políticos devem passar pelos problemas do dia a dia, sob pena de perderem o contacto com a realidade.

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da presidente. Depois, por outro lado, há muitas competências atribuídas ao órgão presidente. No fundo, tenho as costas um bocadinho mais largas e sobrecarregadas com responsabilidade. E a nível pessoal o que mudou? Temos de estar disponíveis 24 horas por dia, que é assim que me sinto. Conciliar a vida pessoal, a vida familiar e as funções autárquicas não é realmente fácil. Ainda tem tempo para cozinhar ou para tratar da casa? Tenho que ter. Cos-

Júlia Amorim nasceu no dia 29 de Junho de 1963 em Constância, tendo feito quase toda a sua vida na vila natal, com excepção do tempo em que estudou na Universidade de Aveiro, onde se licenciou em Biologia e Geologia, e dos poucos anos em que deu aulas em zonas mais distantes. Casada e mãe de uma filha, esta professora de profissão diz que sempre procurou encontrar um ponto equilíbrio de modo a nem ser mãe galinha nem ser mãe ausente. “Tento conciliar sempre. Temos a responsabilidade de cuidar deles. Se nos afastamos dessas vidas do dia a dia perdemos o contacto com a realidade. E esse é um erro de muitos dos nossos políticos, deixam de estar próximos dos problemas das pessoas”. No pouco tempo que ainda leva de

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tumo cozinhar ou passar a ferro, por exemplo. Não temos empregada doméstica mas tentamos orientar-nos. E sobra-lhe tempo para mais alguma coisa? Tenho que ter tempo para estar com a Teresa (filha) e o Carlos (marido). Ainda anteontem saí da câmara às 20h30 e fui com eles ao cinema, porque tinha assumido esse compromisso. E também gosto de estar com a minha mãe, com os meus irmãos e sobrinhos. É preciso ter tempo para a família. Quando ouve dizer que os políticos são todos iguais fica revoltada ou não liga a isso? Fico revoltada, irritadíssima. A política e os políticos existem para prestar um serviço público e, como em todas as actividades, há bons e maus. Não é correcto dizer-se que são todos iguais porque em todas as forças políticas, independentemente dos ideais e convicções ideológicas, há pessoas que são sérias e outras que não.

mandato como líder do município, Júlia Amorim tem-se distinguido pela sua postura reivindicativa. Tem tomado posições firmes contra o encerramento de serviços públicos e prosseguiu a luta pela melhoria das condições na ponte que faz a travessia sobre o Tejo no seu concelho. “Acho que quando as pessoas não estão bem servidas e estão a prejudicá-las devemos ser reivindicativos. Naturalmente com boa educação, mas devemos transmitir o que sentimos”, diz. E não se importa de remar contra a corrente, como aconteceu recentemente quando foi a única presidente de câmara do Médio Tejo a não assinar o protocolo com o Governo para a criação de Espaços do Cidadão nos seus concelhos. Pessoa de pose serena e discurso tranquilo, diz que nunca definiu metas

Nem os políticos são todos iguais nem as políticas são todas iguais. Os munícipes costumam ligar-lhe ou bater-lhe à porta de casa? Costumam ligar-me, bater à porta de casa, mandar-me mensagens privadas para o Facebook, abordar-me na rua, no supermercado, em todo o lado... Quais são as queixas mais comuns que ouve dos cidadãos? As queixas que mais ouço - e que por vezes não são directas e gostava que fossem - têm sobretudo a ver com o espaço urbano. Creio que quem vem de fora nota diferenças em relação a outras terras, porque o espaço está arrumadinho, está limpo, mas neste momento estamos sem três jardineiros e há alturas em que as coisas ficam com um ar desmazelado. E as pessoas notam e queixam-se. Eu também não gosto e é algo que me aborrece, porque gostava que as coisas estivessem melhor. É uma autarca adepta das novas tecnologias e das redes sociais ou prefere o contacto presencial? Sempre que posso prefiro falar, até pessoalmente do que ao telefone. O contacto pessoal agrada-me muito mais. Quanto às redes sociais, não tenho Twitter nem Instagram, tenho apenas Facebook. Mas reconheço que as novas tecnologias têm sido uma ferramenta muito útil. Tem ideia de quanto tempo passa por semana em reuniões? Em reuniões não sei, mas ao serviço da câmara chego a trabalhar 70 horas por semana, contando com sábados e domingos. Numa reflexão que fiz internamente conclui que tenho de me disciplinar, porque assim não pode ser. Quanto à questão propriamente dita, há realmente muitas reuniões de trabalho e cada vez mais fora do município, e admito que muitas delas, depois de espremidas, são pouco consequentes. O que me dá a sensação de que se chega ao fim do dia e não se tem o trabalho feito. E depois falta tempo para outras coisas, como planear e pensar, que é o que acho que está a faltar muito a todos. Por vontade do seu marido e da sua

na política e que as coisas foram simplesmente acontecendo. Foi das primeiras mulheres a entrar na política activa em Constância. “Lembro-me de o meu pai não achar grande piada por eu andar a colar cartazes à noite no meio só de homens. E eu já tinha 28 ou 29 anos...”, diz com humor. Acredita que ajudou a abrir caminho à participação feminina nessas lides e nas últimas autárquicas, a lista da CDU para a Assembleia de Freguesia de Constância tinha mais mulheres do que homens. Mas não tem preconceitos nem fundamentalismos em relação às questões de género. “Tanto me dou bem a trabalhar com homens como com mulheres. Têm é que ser pragmáticos no que estão a tratar, haver organização e disciplina”, afirma.


Ainda não mudou muita coisa a favor da igualdade de género. Em termos da nossa Constituição e da legislação as coisas estão bem, mas depois não se cumprem filha ainda estava na política? Estava. Eles ainda não me disseram para me vir embora (risos). Aceitam bem, embora por vezes leve uma reprimenda por estar a chegar ao limite físico e terem receio que não me aguente. Mas nunca me pressionaram para deixar a política, até porque eu procuro corresponder. Tem saudades dos tempos em que dava aulas? Tenho. Ia gostar muito de voltar a dar aulas. Sempre gostei muito da faixa etária do sétimo ao nono ano. O ano passado houve uma viagem ao estrangeiro com miúdos do 9º ano de Constância, Sardoal e Mação, organizada pelos três municípios, e acabei por ir também. Gostei imenso. Este ano só não vou se não tiver saúde. É militante comunista. Continua a acreditar nos amanhãs que cantam? Continuo. Acho que nada é perfeito. Os homens não são perfeitos e na implementação dos seus ideais também não são perfeitos. Mas continuo a achar que só avançamos com ideais e com convicções. O que a faz ser comunista hoje em dia, numa sociedade capitalista e virada para o consumo? É isso mesmo. É preciso contrariar essa tendência. Cada vez é mais fácil ser-se comunista. Há um grande preconceito em relação ao comunismo e eu cresci com ele. Cresci a ouvir dizer que na União Soviética não havia liberdade reli-

giosa, que aquilo era tudo mau, que os comunistas iam acabar com isto tudo. Esta foi a minha juventude. A palavra de ordem “a luta continua” diz-lhe alguma coisa? Mais do que nunca. Vale sempre a pena lutar quando há razões para isso. Considera-se uma pessoa reivindicativa? Acho que quando as pessoas não estão bem servidas e estão a prejudicá-las devemos ser reivindicativos. Naturalmente com boa educação, mas devemos transmitir o que sentimos. Quando começou na vida autárquica havia muito menos mulheres nessas funções. O que mudou na nossa sociedade para se viver uma realidade substancialmente diferente? Ainda não mudou muita coisa a favor da igualdade de género. Em termos da nossa Constituição e da legislação as coisas estão bem, mas depois não se cumprem. Falta a parte prática. E não é por acaso que no novo quadro comunitário de apoio vão existir programas para fomentar a igualdade de género. Quer dizer que os homens continuam a mandar. Também não é bem assim, mas na maioria dos casos é isso que acontece. Se pensarmos nas empresas, a maioria tem homens a dirigi-las. Nas escolas, onde a população docente é maioritariamente femi-

nina, a maior parte dos cargos de direcção é ocupada por homens. Nas autarquias a mesma coisa. Mas é verdade que alguma coisa mudou. Dá-se melhor a trabalhar com mulheres ou com homens? Tanto me dou bem a trabalhar com homens como com mulheres. Têm é que ser pragmáticos no que estão a tratar, haver organização e disciplina. Considera-se uma feminista? Se me perguntasse isso em 1990 eu, sem hesitar, dizia que sim. Hoje considero que ainda há muitas conquistas das mulheres por alcançar, mas gostava mais de me considerar uma defensora da igualdade de género. Houve alguma evolução nas mentalidades e penso que esta luta pela igualdade tem de ser de homens e de mulheres. Considero-me feminista mas dentro deste contexto, sem o radicalismo das décadas de 1960 ou 1970.

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Personalidade do Ano Tauromaquia

Escola de Toureio José Falcão Vila Franca de Xira

“Sem touradas mistas em Portugal vão perder-se muitos jovens talentos” A escola de toureio José Falcão, de Vila Franca de Xira, tem dado a conhecer ao mundo os novos talentos da festa brava e quer continuar a melhorar o seu trabalho. António José Inácio, 66 anos, é o presidente da escola. José Manuel Rainho, 53, um dos seus directores mais dinâmicos. Juntamente com o maestro Victor Mendes, que ensina os mais pequenos, são a coluna vertebral da instituição. Os dirigentes dizem que a festa precisa de um abanão, lamentam que os cartéis sejam bastante repetitivos e que os empresários não apostem mais em corridas mistas, que são onde os jovens talentos podem brilhar. Filipe Matias São uma escola de Vila Franca de Xira. Como é a vossa relação com a cidade? António José Inácio (AJI) - Temos uma óptima relação com a cidade e sentimos que somos muito acarinhados, quer pela população quer pelas tertúlias e os aficionados. Sabemos que sentem por nós um grande orgulho e isso é bom mas também nos cria uma grande responsabilidade. Ao longo dos anos temos levado bem longe e elevado bem alto o nome da terra. A nossa escola tem estado

O maior capital da escola é o entusiasmo de alunos, mestres e dirigentes Fundada a 11 de Agosto de 1984, no décimo aniversário da morte do seu patrono no decurso de uma tourada em Espanha, a Escola de Toureio José Falcão de Vila Franca de Xira é uma das principais escolas do país no ensino da arte tauromáquica e a única em Portugal a pertencer à Associação Espanhola de Escolas de Tauromaquia. A abertura da escola deveu-se ao empenho de um grupo de bandarilheiros e gente da terra, que se juntava para praticar na antiga lota de venda de peixe

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em vários pontos do país e do estrangeiro, nomeadamente em Espanha e França, onde temos sido vencedores de alguns eventos. Isso quer dizer que a técnica que aplicamos e o esforço muito grande do Victor Mendes têm compensado. Todos os alunos saem daqui matadores ou é preciso um talento especial para vingar? José Manuel Rainho (JMR) - O nosso principal objectivo é fomentar a prática do toureio, especialmente o toureio a pé. Mesmo que não consigamos fazer de

da cidade. Assim que a escola abriu portas foram várias as dezenas de jovens que logo quiseram aprender a mexer com o capote e a muleta. Um dos momentos de crescimento deu-se quando os bandarilheiros Jorge Domingos e Jacinto Fernandes começaram a dar treinos aos mais jovens. Em Outubro de 1996 foi constituída uma sociedade entre a Câmara de Vila Franca de Xira, o Clube Taurino Vilafranquense e a junta de freguesia da cidade, permitindo à escola crescer e ter uma fonte mais regular de financiamento. Com um orçamento anual na casa dos 66 mil euros a Escola de Toureio José Falcão ensina a arte de tourear a mais de dezena e meia de jovens, de várias idades

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todos os nossos alunos matadores de toiros pelo menos tentamos. Acima de tudo queremos que cresçam como homens e se não saírem matadores de toiros queremos que saiam como grandes aficionados. Isso é o mais importante. Não é qualquer um que consegue atingir um nível elevado e chegar a matador de toiros. Nisto não há só a teoria e a prática, tem de haver também talento. E depois, claro, projectar um matador não depende só da escola. Podemos levar o miúdo até ao picadeiro mas a partir daí o trabalho tem que ser feito com um apoderado, um empresário. Quando se apresentam no estrangeiro que palavras ouvem? JMR – Somos sempre muito bem recebidos e eles sentem a nossa afición. Naturalmente estão muito mais avançados que nós, com melhores condições. Mas damos sempre o nosso melhor. Só com muito gosto e paixão se consegue fazer o melhor por estes alunos e por esta grande paixão. Às vezes damos por nós a assistir a uma prova dos rapazes, a olhar para

e oriundos de vários pontos da região. Desde 2004 que a escola ocupa umas instalações no Cabo de Vila Franca de Xira, propriedade da Companhia das Lezírias, através de um protocolo. O espaço tem sofrido obras de manutenção e melhoramento. O pequeno tentadero, com bancadas, tem permitido à escola realizar também algumas iniciativas onde os jovens aprendizes de toureiro podem mostrar aos aficionados os seus dotes e capacidades. A dedicação dos dirigentes e financiadores da escola ao longo dos anos já começa a dar frutos, com a escola vilafranquense a ser elogiada no mundo tauromáquico como uma das melhores do país naquele género.

o relógio porque ainda temos milhares de quilómetros para fazer de regresso a casa. É necessária muita dedicação. Os empresários e as praças reconhecem o mérito do vosso trabalho? JMR - As escolas têm muita força e responsabilidade na recuperação da tauromaquia. Infelizmente os jovens são os mais prejudicados pela redução de novilhadas e de corridas mistas em Portugal. No nosso país temos bastantes complicações ao nível do toureio a pé. Além das aulas, praticamente não há mais nada. Faz falta aparecer um talento, um novo matador, uma figura que atraia público. Se estes matadores tivessem mais oportunidades e toureassem mais vezes de certeza que teriam mais sucesso. Ninguém é um fenómeno se não tourear. É como o Ronaldo. Ele não seria o que é hoje se não jogasse. Sem praças em Portugal e na região que apostem no toureio a pé os talentos nunca chegam a vingar. A corrida mista deveria imperar em Portugal, como aconteceu nos anos 60 e 70, até morrer porque as empresas começaram a ser geridas por empresários mais ligados aos forcados. Há falta de vontade dos empresários em realizar corridas mistas? JMR – O que podemos dizer é que elas não são organizadas e assim não há oportunidades. Não é com um matador a tourear três corridas por ano que se faz uma figura. AJI – As autarquias têm também um peso importante nesta matéria, porque em muitas situações depende ou não delas próprias a iniciativa de realizar alguns eventos que permitam à juventude mostrar-se aos aficionados, como acontece com as novilhadas, por exemplo. Basta haver um pouco de afición da parte de quem gere as autarquias que apoiam a Festa. Como se explica as praças cada vez mais vazias? JMR – Como acontece em qualquer espectáculo são os artistas que atraem público. Mas, verdade se diga, que actualmente o poder de compra das pessoas também baixou bastante e isso tem muito peso. Neste problema quem tem de dar a cara têm de ser as pessoas que fazem parte da tauromaquia. É no Ribatejo e no Alentejo que está a força da tauromaquia. É preciso todos lutarmos e trabalharmos em prol dela. Como

Alguns dos antigos alunos fazem carreira na tauromaquia. São exemplos disso António Jorge Ferreira, conhecido por TóJó, e Nuno Casquinha, matadores que já levam além-fronteiras o nome da escola José Falcão e de Vila Franca de Xira. Em breve, também Manuel Dias Gomes, outro aluno da escola, vai tirar a alternativa. A maioria dos bandarilheiros profissionais que impera na tauromaquia nacional são também oriundos da escola José Falcão. A escola participa também em cerca de três dezenas de eventos por ano e os treinos são dados pelo Maestro Victor Mendes, uma figura de topo do toureio a nível internacional.


Montar um espectáculo destes tem custos significativos. É importante haver também uma articulação entre os empresários e os proprietários das praças. Se houver vontade de ambas as partes as coisas podem melhorar se vê pelas audiências das transmissões televisivas das corridas, ainda há quem goste de ver corridas. AJI – As coisas têm de se alterar, sobretudo ao nível dos empresários e dos ganadeiros. Tem de haver uma maior articulação entre todos. Muitas praças ainda estão na posse das Misericórdias e elas têm também um papel importante. Montar um espectáculo destes tem custos significativos. É importante haver também uma articulação entre os empresários e os proprietários das praças. Se houver vontade de ambas as partes as coisas podem melhorar. É preciso começar a incentivar mais a tauromaquia nos concelhos onde ainda se pratica pouco. As praças desmontáveis são uma boa solução. Têm opinião sobre os cartéis? JMR - Os cartéis são muito repetitivos. A festa tem de ter outra dinâmica, precisa de um abanão. Precisa que apareçam novas figuras do toureio, claro. Mas os empresários não estão isentos de culpas. Não podemos andar a montar sempre o mesmo cartel num raio de 50 quilómetros, apresentando sempre os mesmos nomes. Se num ano houver, por exemplo, 20 corridas mistas, porque não passar para 40? Já que se fazem 200 ou 300 corridas? É que são muito poucas as corridas mistas onde intervenham novilheiros e matadores. As escolas de toureio são suficientemente apoiadas? AJI – Infelizmente não

tanto como desejaríamos. O orçamento da escola é de 66 mil euros. Para desenvolver as nossas actividades com melhores condições para os nossos alunos e técnicos, gostaríamos de ter pelo menos o dobro. Do dinheiro que recebemos 60 mil são da câmara, seis mil euros da junta de freguesia e depois conseguimos ao longo do ano angariar mais algumas verbas através de uma ou outra iniciativa que vamos fazendo aqui na escola. Em termos financeiros um dos objectivos da escola é continuar a crescer e reunir mais meios financeiros para melhorarmos as nossas instalações e fazermos melhor o nosso trabalho. O pavilhão onde os jovens treinam de Inverno não é o que gostaríamos que fosse. Também gostávamos de ter uma viatura própria porque fazemos milhares de quilómetros todos os anos. Tentámos o ano passado obter fundos para isso junto da câmara mas não conseguimos, por isso vamos tentar novamente este ano. A parte económica é sempre a mais difícil mas é extremamente aliciante o trabalho de voluntariado que se faz numa escola destas, para se chegar onde se chega e ter os êxitos que temos. Só nos falta aparecer a tal figura. Tenho um grande orgulho em ter a equipa e o professor que hoje temos connosco. Acredito que com a paixão de todos conseguiremos levar a escola a um bom porto.

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Personalidade do Ano Cultura Masculino

Canto Firme de Tomar Associação de Cultura

“Queremos desassossegar mais pessoas e aumentar a ligação à comunidade” Simão Francisco, 26 anos, actual presidente da direcção da Canto Firme - Associação de Cultura, não é adepto de uma gestão de “Terra Queimada”. Sabe que o património de trinta e cinco anos de actividade é valioso e quer aproveitar o melhor que foi feito e evitar repetir o que não correu bem. Mas tem ideias próprias e quer agitar as águas. O ano passado trouxe actividades para a rua e levou outras a vários locais. Está a reorganizar a contabilidade e a base de dados dos associados. Tem projectos em carteira e não se importa de errar porque acha que pior que errar é não tentar. Elsa Ribeiro Gonçalves A nova direcção da Canto Firme tomou posse há pouco mais de um ano. Era obrigatório fazer mudanças? O que mudou desde então? Foi um ano que mais pareceu uma década (risos). Tínhamos uma imagem muito antiquada e tentámos transformar o

“O que se faz aqui dentro não deve ser só nosso” “É bom estar entre amigos” continua a ser a frase mais repetida dentro da Canto Firme - Associação de Cultura de Tomar, que comemorou 35 anos de existência a 18 de Fevereiro, num momento em que se encontra numa fase de rejuvenescimento e de maior abertura à comunidade. A direcção liderada pelo jovem Simão Francisco decidiu transformar uma colectividade, encarada por muitos como algo elitista e encerrada em si própria, numa colectividade mais arejada e sem receio de se mostrar ao

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que já existia em algo mais apelativo. Concordámos, em uníssono, que estava na hora da Canto Firme sofrer alterações e começámos por mudar o Logotipo. Também fizemos algumas mudanças no hall de entrada na sede. Ainda mantemos as fotografias e os cartazes antigos nas paredes mas a nossa

mundo. Com apenas 26 anos, o actual presidente da direcção quer espalhar mais cultura, agitar mais consciências, semear mais conhecimento e desassossegar cada vez mais as pessoas. Para Simão Francisco a Canto Firme tem que reforçar a sua ligação à comunidade. Alguns dos principais sinais de abertura foram dados o ano passado. A colectividade já organizou diversos concertos de rua, tocou nos Transportes Urbanos de Tomar, criou a Orquestra de Sopros do Médio Tejo, participou na Festa Templária, promoveu a Festa da Música e dinamizou um ciclo de concertos nos claustros do Convento de Cristo. Com cerca de dois mil associados,

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ideia passa por criar um espaço-museu para aquele espólio, colocando no seu actual lugar informações actualizadas relativas às nossas iniciativas e informações úteis para alunos e professores. Vai surgir uma nova colectividade? Não falaria numa “nova” Canto Firme, falaria numa Canto Firme Jovem. Somos herdeiros desta história de 35 anos e não podemos deitar fora uma coisa tão rica. Queremos pegar no bom trabalho que já foi feito, melhorá-lo e torná-lo consistente. Queremos também perceber o que não correu bem para não voltarmos a cometer os mesmos erros. Ganhar métodos, sobretudo. O que é que distingue a Canto Firme das outras associações culturais? Sabemos que temos pouca variedade mas o pouco que temos é bom. Não podemos perder objectivos

há já alguns anos que a Canto Firme ministra Cursos Profissionais de Música, em parceria com a Escola Secundária Jácome Ratton de Tomar, mas é no seu Conservatório de Artes, sedeado no edifício-sede (que tem 14 salas de aulas e um auditório para 250 pessoas) que se encontra o palpitar do seu coração. A instituição, que conta com 40 colaboradores, entre professores e funcionários, abrange neste momento cerca de 320 alunos, distribuídos por Tomar, Mação e Vila do Rei. Tem um Coro Misto, composto por 60 coralistas, que continua a ser dirigido pelo maestro António de Sousa, o sócio número 1 da colectividade, uma Orquestra de Cordas e uma Oficina de Teatro com cerca de 20 actores.

nem a noção do trabalho que esses objectivos nos dão a conquistar. Quando qualquer pessoa se empenha naquilo que está a fazer os frutos aparecem. Fazemos uma gestão inteligente da associação, que já vinha de antes, que é de ter pouco mas bom, sempre através do trabalho. Uma associação tem que ter sócios. Como é que está a Canto Firme a este nível? Temos, actualmente, cerca de dois mil sócios. Quando chegámos sentimos necessidade de fazer uma melhor gestão do ficheiro de associados e do controle das quotas. As anteriores tentativas não foram bem sucedidas. Neste momento temos uma pessoa quase a tempo inteiro com esse sector que é fundamental. Também fizemos a centralização da contabilidade. Como temos dois projectos diferentes de financiamento (o ensino articulado/vocacional e os cursos profissionais) o que acontecia é que tínhamos duas empresas a trabalhar, cada uma num destes financiamentos. Optamos apenas por uma empresa que, neste momento, faz a gestão da contabilidade da associação. O Coro Misto, a Oficina de Teatro e o Conservatório de Artes são as vossas apostas estratégicas ou existem outros caminhos a desbravar? Tentamos ser justos naquilo que fazemos nestas três valências mas temos que apostar mais no marketing. Temos que fazer uma maior divulgação da imagem da própria instituição. Na vertente da “venda do produto” penso que já demos um passo em frente mas estamos a anos-luz de outras associações. É uma das falhas que estamos a tentar colmatar, daí termos decidido criar, com a prata da casa, o Gabinete de Produção e Comunicação que não existia até agora. Pretendemos no futuro vir a contratar alguém que se dedique exclusivamente a esta área. Como é que se convence um jovem a vir estudar música ao invés de ir jogar futebol? Neste momento o nosso trabalho de sensibilização e captação passa muito pela demonstração ao vivo do que fazemos e ensinamos. Vamos às escolas, creches e jardins-de-infância e realizamos concertos em diversos sítios para tentar chamar a atenção dos mais jovens. Por exemplo, todos os anos fazemos um concerto em Ferreira do Zêzere no qual chamamos as Filarmónicas a participar. Através disto já conseguimos captar mais jovens mas para avançarmos com outras formas de captação teríamos que ter mais verbas do que aquelas de que dispomos actualmente. Qual é o maior desafio para um dirigente associativo? O maior desafio de qualquer associação de cultura é ligar a mesma à comunidade, promover actividades diferentes das que já são feitas por outras associações ou fazê-las de forma diferente e, acima de tudo, inovar. Qual foi o pior momento? Tivemos três meses de ordenados em atraso nas escolas do ensino artítico e sempre na expectativa que tudo se iria resolver no dia seguinte. Passávamos o tempo a tentar descobrir como podíamos motivar as pessoas para virem trabalhar. Chegámos ao ridículo de já


Temos um sonho, desde o início, que passa por ajudarmos no processo de integração da comunidade cigana de Tomar nos rirmos de nós próprios. O mais curioso, é que há quatro anos que as escolas do ensino artístico vivem com este problema de sucessivos atrasos. Há dois anos chegámos a ter cinco ordenados em atraso. Mas só este ano quando as escolas da região de Lisboa e do Algarve sofreram na pele o mesmo problema é que houve uma euforia de manifestações artísticas. Que projectos gostavam de ver realizados? Temos um sonho, desde o início, que passa por ajudarmos no processo de integração da comunidade cigana de Tomar. Pretendiamos promover uma troca de experiências culturais que façam aquelas pessoas sentirem-se mais inseridas na comunidade para que a comunidade as sinta de outra forma. Também queremos avançar com projectos que mexam mais com a comunidade. Achamos que mais do que conseguirmos fazer muito boa música ou música erudita, é possivel transformar quem nos rodeia. Queremos criar uma associação comunicativa, que promova o debate de ideias e que

envolva a comunidade num crescimento de ideia de sociedade. Queremos, e já está em andamento, abrir a Canto Firme a novas linguagens musicais, como o Jazz e vamos criar um Curso Livre de Teatro. Ter apenas 26 anos tem funcionado como uma vantagem ou uma desvantagem? Acho que é uma vantagem porque nesta idade ainda somos malucos (risos). Não temos medo de arregaçar as mangas e de errar porque sabemos que podemos vir a aprender com os nossos erros. Tem algum episódio mais caricato para partilhar? Há um que me marca. Não sei porquê mas até ao dia 9 de Janeiro de 2014, altura em que tomei posse, era o Simão e agora passei a ser o Dr. Simão. É algo que me choca um bocadinho porque eu não tirei Medicina. Sou apenas o Simão, que está à frente da Canto Firme.

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Personalidade do Ano Associativismo

AREPA Associação Recreativa do Porto Alto

Uma colectividade unida onde as pessoas fazem questão de não se acomodar Foi na casa do actual presidente da direcção que nasceu a Arepa (Associação Recreativa do Porto Alto) há vinte e dois anos. José Lameiras, actualmente reformado, conta que a ideia partiu do sogro e que este queria criar uma colectividade para fomentar o desporto e a cultura de que todos se pudessem orgulhar. O objectivo era ambicioso mas foi plenamente atingido. As actividades são muito diversiicadas; a união entre os responsáveis é exemplar e os cerca de novecentos associados têm as contas em dia. Ana Isabel Borrego Que balanço faz dos vinte e dois anos da Arepa (Associação Recreativa do Porto Alto)? Compensadores e eu sei do que falo porque a colectividade nasceu em minha casa. Conheço tudo da Arepa. Claro que há anos melhores e outros piores mas o balanço é muito positivo. Não temos conflitos com ninguém. Os elementos dos órgãos sociais são todos como uma família. Nunca tivemos problemas em arranjar dirigentes. Acho

A solidariedade para com os mais desfavorecidos sempre foi uma bandeira da Arepa A AREPA - Associação Recreativa do Porto Alto, no concelho de Benavente, nasceu oficialmente no dia 17 de Fevereiro de 1993 e é hoje uma das mais emblemáticas colectividades da região. Com uma enorme ligação à comunidade e um grupo de dirigentes e activistas unidos e empenhados, tem contribuído para a promoção da cultura e do desporto através de uma dúzia de diferentes secções. Tem novecentos associados e mais de 500 atletas e dançarinos repartidos por 12 secções, nomeadamente futebol, BTT, cicloturismo, andebol feminino,

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que o nosso sucesso resulta da nossa união. Se a Arepa nasceu em sua casa isso quer dizer que é presidente vitalício? Não. De maneira nenhuma. Sou presidente há nove anos e cheguei à presidência através do sistema de rotatividade que implementámos. Uns vão entrando, outros saíndo e houve uma altura em que me calhou a mim. (risos) Qual foi, até agora, o momento mais marcante da sua presidência? Foi o que se passou com a inconcebível multa que

futsal, danças de salão, natação, karting, música, kickboxing, taekwondo e rancho folclórico. Em 2014 as danças de salão foram o orgulho da colectividade, com um dos pares adultos a conquistar o primeiro lugar do campeonato nacional, a Taça de Portugal e o Ranking. Há cerca de quatro anos a classe de nove anos conquistou o vice campeonato em dois anos consecutivos. Além da sua sede, que funciona como um verdadeiro ponto de convívio da terra e centro cultural e recreativo, a AREPA dispõe ainda do Campo de Futebol Acílio Rocha, das Piscinas Municipais de Samora Correia e do Pavilhão Desportivo do Porto Alto para a prática das diversas modalidades. A colectividade também tem tido um papel relevante na promoção do ensino e na actividade social. A Arepa foi criada e planeada na casa

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nos foi aplicada pelas Finanças. Recorremos a advogados e conseguimos reaver o dinheiro todo com juros. Estamos a falar de 110 mil euros. Foi um momento mais triste da minha vida enquanto dirigente porque não faz sentido que os organismos do Estado façam estas coisas aos seus cidadãos mas também foi o mais feliz porque conseguimos provar que tínhamos razão. Outro momento muito feliz foi a inauguração do novo campo de futebol que começou a funcionar recentemente. É impulsivo ou racional? Por vezes sou impulsivo mas consigo ser suficientemente sensato quando se trata de defender o que consideramos ser o melhor para a colectividade. Mas as coisas não podem ser feitas friamente. Sem paixão também não existe o prazer da conquista. Quer na colectividade, quer em casa ou no emprego, temos que ter paixão. Se não vestirmos a camisola não vamos longe. Temos que ter entusiasmo.

do actual presidente da associação, José Lameiras. O seu sogro, que foi sempre muito bairrista, queria criar uma colectividade para fomentar o desporto e a cultura, da qual todos se pudessem orgulhar e ele e a esposa ajudaram, assim como outros amigos. Natural de Santarém, mas a viver no Porto Alto há quase três décadas, José Lameiras fazia parte do Clube de Cristo, associação scalabitana, e com a sua experiência deu uma ajuda na criação dos estatutos. A AREPA tem uma filosofia de gestão baseada na amizade e no trabalho voluntário. O trabalho é virado para a população. Para além da cultura e do desporto, a direcção da AREPA aposta também na educação e valorização dos atletas e das camadas mais desfavorecidas da população.

Algum dia se arrependeu de se dedicar ao associativismo? Como na Arepa existe união e uma boa gestão, sempre senti que tem valido a pena esta dedicação. Arranja tempo para esta actividade? Era delegado de vendas e estou reformado há sete anos. O meu tempo é dedicado à Arepa. De manhã vou ao campo de futebol, bebo um café, a seguir passo pela rouparia para falar um bocadinho com o responsável e se for preciso dou-lhe uma ajuda. Quando é preciso abastecer as carrinhas de gasóleo, normalmente às segundas ou terças-feiras, vou fazê-lo. Se for preciso ir à câmara municipal ou à junta de freguesia vou. À tarde venho para a sede da colectividade, vejo o correio, trato de vários assuntos. Depois passo novamente pelo campo de futebol. Estou sempre em cima do acontecimento. O que se ganha numa actividade destas? Eu ganhei amigos. Bons amigos. E isso é algo muito valioso. É fácil recrutar jovens e atletas para todas as modalidades? Os atletas que temos vieram por sua iniciativa. Também há alguns que se vão embora para experimentar outras coisas mas muitos acabam por voltar. A vida moderna tem muitos atractivos mas ainda há jovens e pessoas mais velhas que gostam de fazer desporto ou gostam de dançar e por isso vêm para cá. Quais são os objectivos da Arepa para este ano? Procuramos fazer pelo menos igual ao que fizemos no ano anterior mas é claro que o objectivo é fazer melhor. Não nos podemos acomodar. Só com ambição podemos alcançar o sucesso e construir uma colectividade de referência. Quais são, actualmente, as maiores dificuldades? Não temos dificuldades por aí além. Quando vim para a Arepa fiz sempre questão que as instalações estivessem o mais dignas possível e conseguimos. Sempre considerei importante ter uma boa frota automóvel e actualmente temos sete carrinhas em óptimo estado. Claro que gostava de ter outras modalidades como hóquei em patins e atletismo, por exemplo. A crise não gerou nenhuma crise? As nossas contas são muito claras e temos sem-


Tentamos ser sempre muito activos. Também temos uma regra. Todos os que praticam uma modalidade na Arepa têm que ser sócios da associação. Cada sócio paga 1,25 euros por mês mas há quem pague mais pre saldo positivo. Esse é o segredo e é por isso que o nome da Arepa é respeitado. Conseguimos fazer créditos porque as instituições sabem que não ficamos a dever. Aqui não entrou a crise. Como é que conseguem atrair novos sócios? Temos cerca de novecentos associados com as quotas em dia e cada um de nós procura incentivar outros a serem sócios. Tentamos ser sempre muito activos. Também temos uma regra. Todos os que praticam uma modalidade na Arepa têm que ser sócios da associação. Cada sócio paga 1,25 euros por mês mas há quem pague mais. Cada um paga o que pode ou o que quer. É assim que se consegue manter a colectividade viável. Por exemplo, se os jogadores de futebol precisam de camisolas os pais é que compram. A Arepa é como uma família em que contamos com o apoio e colaboração dos pais dos atletas e dos próprios atletas. Só assim se consegue gerir uma casa com meio milhar de desportistas. Além disso cada secção vai organizando iniciativas para angariar dinheiro. Tem algum intercâmbio fora de Portugal? Há 12 anos que vamos a França participar em torneios de futebol. Este ano vamos em Maio, com a equipa de 16 anos. Vamos e regressamos de autocarro. É uma experiência enriquecedora. Se eu for este ano, será

a décima vez e tenho a certeza que vai ser muito bonito porque os portugueses que vivem em França recebem-nos sempre de braços abertos. Até dormimos nas suas casas. Praticou alguma modalidade na juventude? Pratiquei futebol. Era defesa direito no Clube de Futebol Cruz de Cristo, na Portela das Padeiras, em Santarém, onde nasci e fui criado. Além da quota para o clube pagávamos também uma quota para a equipa. Também fiz ciclismo. Adorava bicicletas e acho que podia ter sido um bom corredor de bicicletas mas o Sporting Clube de Portugal não colaborou. Fui lá para fazer testes mas não me chamaram. Tive muita pena porque se me dessem oportunidade limpava aquilo tudo. Eu era um Joaquim Agostinho, não tenho dúvidas. Sabia o que valia nas bicicletas. Foi uma desilusão não ter sido chamado.

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Personalidade do Ano Cultura Feminino

Ateneu Artístico Cartaxense

“O Ateneu é a galinha e os alunos são os pintainhos” Fundado a 1 de Dezembro de 1880, o Ateneu Artístico Cartaxense é uma referência ao nível da formação desportiva de crianças e jovens no concelho do Cartaxo. A associação tem hoje 1455 associados e 566 alunos distribuídos por mais de uma dezena de modalidades. Um projecto sólido alimentado pela dedicação e empenho de dirigentes, professores, pais e alunos. Maria João Rodrigues iniciou o seu segundo mandato como presidente da colectividade. Mariana Apolónia Como surgiu o Ateneu Artístico Cartaxense? O Ateneu Artístico Cartaxense surgiu de uma ideia de várias pessoas da terra. Foi fundado a 1 de Dezembro de 1880 e dedicava-se sobretudo à promoção do desporto amador e de actividades culturais e recreativas. Inicialmente chamava-se Grémio Artístico Cartaxense. Tinha um forte cariz social, era um ponto de encontro. Hoje toda a gente pode sair e ir à discoteca. Na altura para as meninas conseguirem sair diziam que vinham para o Ateneu e assim era tu-

Uma associação ao serviço da formação desportiva da comunidade do Cartaxo O Ateneu Artístico Cartaxense nasceu a 1 de Dezembro de 1880 pela mão de um conjunto de ilustres da terra motivados pela vontade de promover o desporto amador, a cultura e as actividades recreativas. Um projecto que tornou o Ateneu numa referência ímpar ao nível da formação desportiva de crianças e jovens no concelho do Cartaxo. A ginástica é uma longa tradição na história do Ateneu Artístico Cartaxense, que hoje oferece uma formação diversificada nas áreas de motricidade,

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do muito mais fácil. Havia bilhar, snooker e campeonatos de ping-pong. Qual a importância do Ateneu na educação e formação dos jovens do concelho? O Ateneu é uma peça fundamental. No concelho do Cartaxo é provavelmente o único sítio onde se consegue realmente dar uma formação desportiva a crianças e jovens, sobretudo ao nível da ginástica. Ao aprenderem ginástica e ao ganharem gosto pelo desporto estão a ganhar bases sólidas para a vida adulta. Costumo dizer que o Ateneu é a galinha e os alunos são os pintainhos.

tumbling, trampolins, aerosaltos e ginástica de manutenção. Apesar de a ginástica fazer parte do ADN da associação, a oferta desportiva não se fica por aqui. Ao seu dispor, a comunidade tem outras nove modalidades: a pesca desportiva, o triatlo, a natação, o basquetebol, o ballet, as danças modernas, as danças de salão, o ténis e o judo. A associação tem hoje 1455 associados e 566 alunos distribuídos pelas mais de uma dezena de modalidades leccionadas por um quadro de 18 professores. A participação dos ginastas João Fernandes, Isabel Barba e José Nunes no 23º Campeonato do Mundo de Ginástica por Grupos de Idade, que decorreu na cidade de Daytona Beach, Estados Unidos

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As pessoas estão cada vez mais desligadas do associativismo? Fazemos com que os pais sejam associados mas para alguns é mesmo uma obrigação. A questão do pagamento de quotas preocupa imenso a colectividade porque há sócios que efectivamente cumprem o pagamento e pagam a quota certinha todos os meses mas também há muitos que se desleixam e estão durante anos sem pagar. Ou seja, reconhecem a importância da colectividade mas não se envolvem. O que nos falta é esse envolvimento das pessoas. A sua participação num projecto de que efectivamente gostam mas ao qual não dão muita atenção. O cariz cultural do Ateneu ainda está vivo? Infelizmente foi-se perdendo muita coisa com o tempo. O Museu de Miniaturas e a biblioteca, que existem no primeiro andar, estão praticamente inutilizados. Os pais vêm deixar os meninos, alguns aproveitam e estão um bocadinho no bar ou simplesmente esperam pelos filhos. Tirando isso, há só

da América, foi o grande destaque do Ateneu Artístico Cartaxense em 2014. O triatlo foi também motivo de orgulho ao alcançar o 2º lugar a nível nacional. No basquetebol, as equipas do Ateneu destacaram-se com bons resultados a nível regional, apesar de a modalidade existir apenas há dois anos. Em 2015, as expectativas da associação estão viradas para a natação e para o ballet. Duas modalidades que têm vindo a crescer e a atrair cada vez mais atletas. Para além da sede, no Largo Vasco da Gama, no Cartaxo, fora de portas a colectividade dispõe ainda do Pavilhão Desportivo do INATEL e das Piscinas Municipais do Cartaxo para a prática das modalidades de basquetebol, triatlo e natação.

três ou quatro sócios que vêm ver os jogos de futebol e outros que continuam a vir beber o café e ler o jornal depois de almoço. Como chegou à presidência do Ateneu? Sou associada do Ateneu desde os nove anos quando ainda existia a figura do sócio infantil. Fui praticante de ginástica rítmica, frequentava o bar e acabei por nunca me afastar do Ateneu. Mais tarde, os meus filhos frequentaram também aulas de ginástica e ténis. Era um namoro antigo este convite para integrar a direcção (risos)... Acabei por entrar para os órgãos sociais em 2009. Entretanto em 2011 fiz parte da direcção e em 2013 assumi a presidência. É a primeira presidente mulher no Ateneu. Qual o peso deste cargo na sua vida? É um orgulho conseguir continuar a história desta colectividade e proporcionar condições a todos estes miúdos que frequentam o Ateneu diariamente. Nunca quis isto para promoção pessoal, nem para dizer “eu sou a presidente”. Aliás, não consigo dizer “eu faço”, mas sim “nós fazemos” porque tudo é desenvolvido em conjunto por toda a direcção. Sinceramente gostava de ter mais disponibilidade... Acho que o Ateneu precisa de ter um director disponível para estar cá a qualquer momento e eu nem sempre consigo por questões profissionais. Quando um dia quiser deixar a presidência vai ser fácil encontrar novos candidatos? Não, nunca é fácil. Isto acaba por funcionar como uma empresa e mesmo que não apareça ninguém novo, tenho que assumir na mesma as funções até aparecer uma nova equipa para formar direcção. Nós tentamos sempre junto dos pais angariar novas pessoas mas as pessoas não têm disponibilidade ou vontade e outras não têm tempo. Costuma-se dizer que quando a crise chega a primeira coisa onde os políticos cortam é na cultura e no desporto. Concorda? Aqui foi muito antes de a crise chegar. O município estabelecia um protocolo anual com as várias colectividades do concelho no sentido de as subsidiar mas desde 2010 que não recebemos qualquer tipo de apoio. Sabemos que o poder local não tem dinheiro e o grande apoio tem vindo da parte da

Com uma forte ligação à comunidade local, a colectividade promove regularmente iniciativas, nomeadamente o Desfile do Rei e da Rainha das Vindimas, a Atnarte (feira de artesanato durante as festas da cidade), saraus de ginástica e eventos de solidariedade. O Ateneu tem sido ao longo de 134 anos um projecto sólido alimentado pelo associativismo e pelo empenho dos dirigentes, professores, pais e alunos que, em equipa, trabalham diariamente para garantir o sucesso da colectividade. A formação desportiva de jovens e seniores e a valorização dos atletas são as prioridades da direcção do Ateneu, presidida por Maria João Rodrigues, que a 31 de Janeiro iniciou o segundo mandato.


O município estabelecia um protocolo anual com as várias colectividades do concelho no sentido de as subsidiar mas desde 2010 que não recebemos qualquer tipo de apoio

Junta de Freguesia do Cartaxo. A maior parte das empresas portuguesas não tem política de mecenato. O Ateneu tem patrocinadores privados? Temos o apoio de alguns patrocinadores privados, mas não existe efectivamente um grande investidor. As nossas receitas vêm essencialmente da quotização, das mensalidades dos atletas que servem para pagar os ordenados dos professores, de donativos e eventos de solidariedade. Se não fosse o trabalho conjunto que é feito entre alguns pais mais dinâmicos e a direcção, no sentido de organizar eventos, claro que uma colectividade destas nunca mais conseguia ter dinheiro para suportar tudo. São sempre precisos novos equipamentos porque estes são materiais de desgaste rápido e, por exemplo, um trampolim custa na ordem dos cinco, seis mil euros. Que desafios se impõem ao Ateneu? Estou na direcção há quatro anos e coincidiu exactamente com o período de maior crise. De facto o nosso maior receio era que as pessoas não conseguissem suportar o pagamento das mensalidades e retirassem os filhos das aulas. Felizmente, tem-se conseguido superar essa situação. O que muitas

vezes acontece é que as pessoas acabam por reduzir o número de vezes de treino por semana para conseguirem manter as inscrições e é legítimo que assim seja. Estamos sempre atentos caso haja alguma situação que mereça uma atenção especial da nossa parte e claro que contamos com a ajuda dos professores nesta tarefa. Na maior parte das cidades e vilas do interior a ligação dos jovens às colectividades cessa quando ingressam no ensino superior ou entram no mundo do trabalho. É assim no Cartaxo? Isso irremediavelmente acaba por acontecer. Eles entram na faculdade e começam a ter as suas vidas em outros locais como Lisboa, Porto ou Coimbra. A maioria deles deixa de praticar as modalidades e os que não o fazem, começam a praticar nas cidades onde estão a estudar e já não voltam para o Ateneu.

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Personalidade do Ano Cidadania

Grupo de Apoio de Santarém do Núcleo Regional do Sul da Liga Portuguesa Contra o Cancro

“Há pessoas com cancro que descobrem forças que não imaginavam ter” Apoiar pessoas com cancro é um tipo de voluntariado muito exigente. Implica tempo disponível mas implica muito mais que isso. O Grupo de Apoio de Santarém do Núcleo Regional do Sul da Liga Portuguesa Contra o Cancro reactivou o “Vencer e Viver”e alguns dos seus voluntários falam das suas experiências. Alguns acompanharam ou acompanham familiares com cancro. Outros sofrem eles próprios da doença. Maria Amália Ramilo, Maria do Carmo Fernandes e Abel Carreira falam das suas experiências e não deixam ninguém insensível. Ana Isabel Borrego Como é que chegaram ao Núcleo Regional da Liga Portuguesa Contra o Cancro? Maria do Carmo Fernandes (MCF) – Em 2010 foram detectados cancros ao meu marido e à minha cunhada. Ela morreu passados poucos meses e ele ainda durou cerca de três anos. Nessa altura pensei dedicar algum do meu tempo a ajudar pessoas nas

Um convite ao voluntariado de mulheres que venceram o cancro da mama O Grupo de Apoio de Santarém do Núcleo Regional do Sul da Liga Portuguesa Contra o Cancro foi criado há 25 anos mas ganhou novo fôlego e energia depois de reactivar o “Vencer e Viver” em 2013. Maria Amália Ramilo é uma das activistas do grupo, tendo agora o apoio na coordenação de Maria do Carmo Fernandes e Abel Carreira, psicólogo. Este grupo de apoio destina-se a mulheres que sofreram, ou sofrem, de cancro de mama. O objectivo é ajudar as pacientes que passam por uma fase complicada das suas vidas a melhorar a auto-estima e encarar o dia-a-dia com mais confiança. As mulheres com carências económicas podem ir à

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mesmas circunstâncias. Ele morreu em Dezembro de 2012 e em Fevereiro do ano seguinte desafiaram-me a participar no Dia Pela Vida. Aceitei porque considerei que era a iniciativa perfeita para dar início ao que tinha planeado em termos de voluntariado. Maria Amália Ramilo (MAR) – Tive um cancro da mama e no final dos tratamentos decidi que queria ajudar pessoas que esta-

sede do núcleo regional, na Avenida dos Combatentes, nº1, onde funcionava o Centro de Saúde de Santarém, buscar próteses mamárias, soutiens apropriados para próteses mamárias e perucas. As consultas de psico-oncologia estão a cargo de Abel Carreira, psicólogo, que presta serviço gratuito aos doentes. O objectivo é proporcionar a doentes oncológicos - qualquer tipo de cancro - e respectivos familiares apoio em diversas áreas incluindo a sexualidade, uma área muito sensível por todos os que passam por uma doença oncológica. Nas instalações do núcleo regional existe a chamada sala da costura onde uma dezena de voluntárias se reúne todas as semanas para fazer implantes de pano. Um género de almofadas que se utilizam logo após a mastectomia para a mulher sair “composta” do hospital. Para se ser voluntária no Grupo de Apoio

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vam a passar pelo mesmo que eu. Durante os tratamentos encontrei muitas doentes que queriam saber tudo sobre as minhas pinturas e sobre a minha peruca porque diziam que eu não tinha aspecto de quem tinha cancro. Percebi que as pessoas não se sabiam arranjar e fui dando algumas dicas de como deviam fazer para ficarem com um aspecto mais ‘saudável’. Comecei a pensar no assunto e decidi que queria ser voluntária e sentir-me útil. Tive que esperar dois anos para fazer a formação e estabilizar psicologicamente da doença. Quando fui autorizada não hesitei. Abel Carreira (AC) – Já tinha uma predisposição para ajudar as pessoas de forma individual. Tive uma pessoa na família que tinha tido um cancro e quando conheci alguns elementos do núcleo regional que andavam embrenhados na organização do Um Dia Pela Vida achei que tudo aquilo fazia

“Vencer e Viver” tem que se ter tido cancro de mama há pelo menos dois anos. A intenção é que as voluntárias possam servir de exemplo positivo a quem está a passar pela doença. “A maioria das doentes olha para a voluntária e pensa que se ela conseguiu eu também vou conseguir. Temos que ter tido cancro há pelo menos dois anos porque já nos cresceu o cabelo e podemos ser encaradas como um exemplo positivo”, explica Maria Amália Ramilo. O núcleo regional da Liga Portuguesa Contra o Cancro distinguiu-se por Santarém ter sido a primeira cidade portuguesa a ser palco da iniciativa “Um Dia Pela Vida” durante dois anos consecutivos, em 2013 e 2014. Um feito inédito e que juntou milhares de pessoas nas ruas de Santarém para participar numa causa nobre como ajudar os doentes com cancro. Foram a segunda cidade europeia a conseguir mobilizar

sentido e decidi começar a dar consultas gratuitas para poder dar o meu contributo a quem precisa. A Maria Amália está a passar por outro período difícil. Como é que se lida com um novo cancro depois de ter ultrapassado a mesma doença há alguns anos? MAR – Foi muito difícil porque queria chegar aos cinco anos livre da doença e só cheguei aos quatro. É muito complicado receber a notícia de que tenho que enfrentar novamente o mesmo pesadelo. Primeiro foi na mama e agora tenho três carcinomas diferentes no pulmão. A quimioterapia é sempre muito complicada. Psicologicamente é muito mau. Encaro estas doenças sempre como um ensinamento. As doenças avisam-me para andar mais devagar porque sou muito acelerada mas tenho dificuldade em tirar o pé do acelerador. Quando recebi a notícia fui-me abaixo, como é normal, mas estou cá para lutar e com vontade de vencer mais esta batalha. Para mim desistir não é opção. AC – Essa pergunta é muito importante. Apanho aqui muitas situações de doentes que passam por reincidências da doença e que vêem o problema amplificado. É uma situação muito má mas também revela o que de mais extraordinário têm em si. Temos encontrado pessoas que descobriram em si forças que achavam que já não tinham. O que sente quando ajuda pessoas com cancro? AC – Quando olho para os problemas das pessoas que passam pelas consultas de psico-oncologia percebo que os meus problemas são mínimos. Tenho aprendido muito com esta experiência. Em todos os casos que passam por aqui tenho visto facetas das pessoas que acompanho que são exemplos. As pessoas que vêm acompanhar os doentes com cancro às consultas de psico-oncologia também precisam de apoio psicológico? AC – Às vezes até mais que os próprios doentes. Normalmente, só se aper-

mais equipas na iniciativa de “Um Dia Pela Vida”, o que deixa muito orgulhosos todos os membros que integraram a organização. Actualmente contam com cerca de quatro dezenas de voluntários, embora nem todos estejam activos. A falta de tempo disponível é o factor principal para que alguns não possam participar sempre que lhes é solicitado. Os voluntários são divididos em três grupos: um faz a prevenção primária junto das escolas; outro trabalha de perto com os doentes; o terceiro trabalha junto da comunidade, organizando e participando em eventos solidários. Um dos objectivos do núcleo regional é fazer crescer o alcance das consultas de psico-oncologia. Têm doentes de todo o concelho de Santarém e concelhos vizinhos como Almeirim, Alpiarça, Coruche, Alcanena, entre outros.


A Liga vive essencialmente do peditório anual e depois existem iniciativas desencadeadas por voluntários cujas verbas são destinadas para o funcionamento da liga e do núcleo regional cebem da dor e do cansaço no meio do caminho do processo da doença. De que tipo de apoios é que o núcleo regional dispõe? AC – A Liga vive essencialmente do peditório anual e depois existem iniciativas desencadeadas por voluntários cujas verbas são destinadas para o funcionamento da liga e do núcleo regional. Temos ajuda logística da Câmara Municipal de Santarém que tem sido muito importante. Não dão dinheiro mas disponibilizam tudo o que precisamos. MCF – Este ano vamos comemorar os 25 anos do núcleo regional e estamos a preparar uma série de iniciativas. A primeira é na Casa do Campino e a outra no Convento de São Francisco. A autarquia disponibiliza-nos os espaços e ajuda-nos com toda a logística necessária. Também temos empresas que nos ajudam muito. As pessoas estão sensíveis e despertas para ajudar esta causa. Quais são as vossas maiores dificuldades? MCF – Os voluntários têm sempre muito boa vontade para ajudar mas às vezes é difícil conciliar os horários e o tempo disponível. MAR – Tenho uma grande dificuldade no grupo de apoio “Vencer e Viver”. Não há pessoas para fazerem formação para serem voluntárias e posteriormente apoiarem as doentes com cancro de mama. O principal requisito para ser voluntária neste grupo é ter tido cancro da mama mas não aparecem voluntárias. Éramos só duas, o que já era

pouco. Neste momento não posso estar como voluntária por causa da doença. Que tipo de voluntários há no núcleo? MCF – Temos muitos professores, empresários, reformados. As pessoas mais velhas, sobretudo quem já não trabalha, têm mais facilidade em conciliar horários do que os mais jovens. Temos jovens que querem ser voluntários mas depois torna-se mais difícil por causa das aulas. A maioria dos nossos voluntários são mulheres. O cancro assusta muita gente e mexe muito com as emoções mas ajuda-nos a ver a vida de forma diferente. Ajuda-nos a tornar os nossos problemas menores e ajuda-nos também a ver a vida de outra forma. Nem todas as pessoas estão preparadas para lidar com este tipo de doença. MAR – Ser voluntário é querer dar mas muitas vezes também acontece haver voluntários que recebem mais do que aquilo que dão.

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“Queremos que Ourém seja a maior referência nacional ao nível do futebol feminino” João Sousa, 48 anos, presidente da direcção do Clube Atlético Ouriense quer dar às jogadoras da equipa sénior de futebol feminino as mesmas condições que dá aos futebolistas masculinos e quer que as vitórias passem a ser a nível internacional. O objectivo maior, segundo ele, é fazer de Ourém a maior referência nacional do futebol feminino. Por enquanto tudo não passa de um sonho desmedido. É que nem sequer o campo municipal está operacional, seja para as raparigas, seja para todas as 17 equipas de futebol do clube. Elsa Ribeiro Gonçalves Como é que encontrou a equipa feminina do Ouriense quando aqui chegou? Até há quatro anos a equipa feminina de futebol do Clube Atlético Ouriense nunca tinha tido qualquer resultado positivo. Recordo-me que pouco tempo depois de eu ter assumido o cargo de presidente da direcção a capitã de equipa, Mafalda Baptista, me disse que, oficialmente, nunca tinha ganho um jogo. A direcção anterior não ligava ao assunto e não havia qualquer apoio. Muitos achavam que era exótico existir uma equipa de futebol feminina e pensavam que quem fosse aos jogos era mais para mandar piropos às jogadoras do que para ver futebol. Como é que a equipa conseguiu passar a bicampeã nacional em quatro anos? No primeiro ano do nosso mandato, que já começou tarde por causa da crise directiva, não conseguimos ir buscar muitas jogadoras novas mas trouxemos logo um treinador para o nosso projecto. Conseguimos ir à Final da Taça de Promoção e à Taça de Portugal. Não vencemos, mas fomos lá. Nesse ano (2010/11) ficamos em segundo lugar na nossa série mas já conseguimos derrotar a equipa campeã da série. No ano seguinte (2011/12) fomos campeãs da II Divisão Nacional e no ano seguinte (2012/13) conseguimos ser campeãs da I Divisão Nacional, tal como na época passada. Deu vitaminas à equipa? Uma coisa não posso negar: Não havia resultados mas havia amor à camisola. As jogadoras até pagavam uma mensalidade que depois deixaram de pagar. Fomos buscar algumas jogadoras a vários pontos da região para 22

integrarem um projecto de qualidade. Estamos a falar de miúdas com 15, 16 anos que têm muita garra e vontade de singrar numa modalidade que está mais direccionada para os rapazes. E onde é que foram descobrir estas jogadoras? Temos que agradecer ao Centro de Estudos de Fátima (CEF) porque tinha uma equipa de futsal que tinha bons resultados no campeonato escolar. Como algumas delas queriam jogar a nível federado fomos lá buscar duas que nos foram essenciais, a guarda-redes Daniela e a avançada Anita Santos. E depois vieram outras que já tinham estado em Ourém mas que, entretanto, tinham passado para outras equipas.

Sonhar com jogos internacionais enquanto se anda por campos emprestados A equipa feminina de futebol do Clube Atlético Ouriense foi campeã nacional de futebol feminino, venceu a Taça de Portugal e participou nos dezasseis avos da Liga dos Campeões. Foi um percurso notável de um grupo de atletas jovens e uma aposta ganha pelo clube que decidiu apostar forte naquela vertente do futebol há quatro anos, quando o actual presidente da direcção, João Sousa, ali chegou. O dirigente apostou, desde o primeiro momento, no futebol feminino porque, daquilo que conhecia enquanto

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Fomos buscar duas ao Tomar, que acabou com o futebol feminino, e outra a Abrantes. Conseguimos, também, no 2.º ano da nossa existência, ir buscar a Ana Valinho (natural de Fátima) que tinha sido campeã nacional pela União 1.º de Dezembro. Neste momento o plantel é constituído por quantas jogadoras? O plantel sénior tem 22 jogadoras, com uma média de idades de 19/20 anos. A grande maioria reside num raio de 10/15 quilómetros de Ourém mas também temos jogadoras de Tomar e Abrantes e até de mais longe porque, neste momento, temos uma jogadora de Mangualde e outra madeirense a quem damos apoio logístico. São jovens que acalentam sonhos desportivos que muitas vezes só os rapazes podem realizar. Não posso pedir a estas jovens, deslocadas das suas terras, que ainda paguem para cá andarem pelo que asseguramos as despesas com o alojamento e a alimentação. O nosso objectivo é, no mais curto espaço de tempo, pô-las em pé de igualdade com os rapazes em termos de condições. Como é que se alcança este nível de qualidade técnica na equipa? São jovens com muita capacidade física e potencial. Já tivemos vários treinadores e, desde há um ano que, esse trabalho tem vindo a ser desenvolvido pelo Marco Ramos. Penso que elas estão muito motivadas. O que lhes falta agora é passarem à fase seguinte da Liga dos Campeões. O que já alcançamos já não as motiva suficientemente. Este ano conseguimos fazer algo que nunca tinha sido

responsável da Associação de Futebol de Santarém, reconheceu que ali existia bastante potencial para ser explorado. Não estava enganado. Captou novas jogadoras para o clube, um pouco por toda a região e construiu uma equipa ganhadora. Fundado em 1949 com as modalidades de hóquei e basquetebol, o futebol só chega ao Atlético Ouriense muitos anos mais tarde. Nos últimos cinco anos, a equipa de futebol feminina, constituída por 22 jogadoras com uma média de idade de 19 ou 20 anos, passou das zero vitórias a campeã nacional. Um feito inigualável na história do clube e de uma equipa onde salta à vista o espírito de ambição e conquista. Para trás há muito trabalho, suor e até lágrimas. Depois de alcançar o pódio

Personalidade do Ano Desporto Feminino

Equipa do Clube Atlético Ouriense

feito em Portugal, que foi passar à fase seguinte da Liga Europeia dos Campeões mas mesmo isso para nós é insuficiente. Pretendemos implementar um projecto de nível internacional em Ourém. Isso consegue-se juntando mais jogadoras de elevada qualidade mas, acima de tudo, aumentando o número de treinos semanais. E têm condições para isso? Neste momento o Campo da Caridade está em obras e têm que treinar em casa alheia... Há semanas em que nem sequer sabemos se podemos treinar porque não temos campo (pausa). São situações desgastantes mas que nos ultrapassam. A realidade é o que é e está à vista de todos. Gasto muita energia com isto tudo. É essa a maior dificuldade com que se debatem actualmente? Sim. Não temos campo desde Junho, nem para treinar nem para jogar, porque se encontram a decorrer obras que são da responsabilidade do município. Andamos todos os dias a mudar

nacional pelo segundo ano consecutivo, a equipa pretende agora alcançar resultados a nível internacional. Marco Ramos, que ocupa o lugar de treinador há um ano, tenta motivar as jovens que, tal como os restantes futebolistas das várias equipas do Ouriense, têm que andar de campo em campo porque o campo municipal, denominado Campo da Caridade, continua em obras. Um dos sonhos de João Sousa passa por construir em Ourém um centro de estágios para acolher jovens raparigas que pretendam jogar futebol ao nível da competição. Aconteça o que acontecer no futuro a equipa da passada temporada tem um lugar no historial do clube e está colocada em 102º lugar no ranking europeu de equipas femininas.


Queremos abrir uma Academia/Centro de Estágios para futebol feminino em Ourém. É um projecto para o qual já temos ideias concretas mas também sabemos que é algo de grande dimensão e que não depende só da nossa vontade e nunca sabemos para onde vamos. Temos 17 equipas de futebol para gerir e movimentamos mais de 300 atletas, a partir dos quatro anos até aos veteranos. As obras já deveriam ter terminado a 15 de Outubro mas o que é certo é que, por motivos diversos, tal não aconteceu. Qual foi o momento mais alto para si enquanto dirigente do Ouriense? Foi a passagem à fase seguinte na Liga Europeia dos Campeões, um feito histórico em Portugal. Claro que ganhar o primeiro título de Campeão Nacional Feminino é um marco que nunca irei esquecer. Ninguém sonhava que uma equipa, recém-chegada da II Divisão Nacional, conseguisse destronar o 1.º de Dezembro que já ganhava o campeonato há 11 anos consecutivos e não perdia um jogo há seis anos e meio. A conquista da Taça de Portugal, no Jamor, também foi um momento que nunca irei esquecer. Estava um número significativo de oureenses no estádio. Foram autocarros cheios para ajudar a fazer a festa que decorreu de uma forma muito espontânea. O objectivo passa apenas por ter uma equipa vitoriosa? Somos mais ambiciosos. Pretendemos que Ourém seja a maior referência nacional a nível do futebol feminino. Queremos abrir uma Academia/Centro de Estágios para futebol feminino em Ourém. É um projecto para o qual já temos ideias concretas mas também sabemos que é algo de grande dimensão e que não depende só da nossa vontade. Qual é a mensagem que faz questão de passar às suas jogadoras? Que tudo é possível, desde que trabalhemos para isso. As jogadoras têm duas pernas, como todas as outras e a bola é redonda. Mas também lhes digo sempre, tal como digo às minhas filhas: nós somos os melhores mas os melhores da nossa rua e na nossa rua não mora mais ninguém. Se vamos lá fora ninguém nos conhece. Por isso sermos campeões não nos subiu à cabeça. Por muito bons que sejamos há sempre alguém que é melhor que nós.

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Personalidade do Ano Desporto Masculino

Jorge Miguel Treinador de Atletismo do Clube de Natação de Rio Maior

“Já levei atletas a treze campeonatos do mundo e essa é a minha maior fortuna” Jorge Miguel foi distinguido em 2014 pela Associação Europeia de Atletismo com o prémio “Treinador de Excelência”. Especializado na área da marcha foi um dos responsáveis pelo aparecimento da modalidade no Clube de Natação de Rio Maior. Foi, durante muitos anos, treinador da atleta Susana Feitor, estando associado aos seus maiores sucessos a nível mundial. Foi também responsável pela criação do Grande Prémio Internacional de Rio Maior em Marcha Atlética. António Palmeiro Como é que nasceu a sua paixão pelo atletismo? Não sei explicar mas começou muito novo. O meu pai que era da Beira Baixa, comprou um casal na zona de Marmeleira (Rio Maior) e trabalhava com dois irmãos na agricultura. Eu comecei a desafiar os meus irmãos para corridas e a marcar percursos. Tinha curiosidade em saber o tempo que um atleta levava a percorrer determinada distância, quantos metros saltava um atleta no salto em comprimento, por exemplo. O atletismo era um sonho e nunca olhei para trás. Hoje sinto-me realizado, não em termos económicos mas no aspecto pessoal.

Com muito caminho para andar Jorge Fernandes Miguel nasceu a 20 de Setembro de 1948 em Bogas de Cima, no concelho do Fundão, mas muito pequeno foi viver para a zona da Marmeleira, Rio Maior, onde o pai comprou uma propriedade. Oriundo de uma família humilde de oito irmãos desde cedo teve que lutar para conseguir o que queria. E conseguiu concretizar o objectivo de ser treinador de atletismo porque nunca desistiu do sonho. Hoje é um dos treinadores mais reconhecidos a nível internacional e no ano passado foi reconhecido como “Treinador de

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Nunca jogou futebol, por exemplo? Fui jogador de futebol na Fundação Nacional para a Alegria no Trabalho (FNAT), actual Inatel mas ia alternando entre os jogos e umas corridas de corta-mato. Depois fiz o serviço militar na Polícia Militar, em Lisboa, onde tive oportunidade de contactar com vários treinadores de atletismo, como os professores Moniz Pereira e Eduardo Cunha, e fui aprendendo. Quando regressei ao concelho de Rio Maior, em 1972, formei uma secção de atletismo na Casa do Povo da Marmeleira, onde era atleta e orientador. Ainda se lembra da primeira prova em que participou? Foi a estafeta Santarém –

Excelência”, pela Associação Europeia de Atletismo. O prémio é atribuído anualmente aos treinadores dos atletas seniores com medalhas de ouro nos Campeonatos da Europa e a treinadores nomeados pelas suas federações, que tenham contribuído para o desenvolvimento da modalidade. Homem determinado, lembra que já levou cinco atletas a Jogos Olímpicos e diz que não quer ficar por aqui. Avesso a protagonismos, refere que o terreno onde se sente bem é a treinar. Completou com dez anos a quarta classe e começou cedo a trabalhar na agricultura. Foi também padeiro e distribuidor de pão e vendedor de rações. Recorda-se que quando Susana

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Pontével. Ia fazer o último percurso do Cartaxo a Pontével e estive mais de três horas à espera porque nos foram por no local às oito da manhã e a partida era de Santarém às 11h00. A nossa equipa ia em 12º lugar e ainda consegui ganhar uma posição. Foi uma experiência interessante. Era um bom atleta? Fui campeão nacional em segundas categorias, fui várias vezes campeão distrital em corta mato e em pista, pela FNAT (Inatel). Não fui um atleta de primeiro plano. Corri durante 25 anos e quando fiz a minha primeira maratona resolvi dedicar-me só à actividade de treinador, porque nos últimos oito anos já era um misto de treinador e atleta. Em 1980 fiz o curso de treinador através de um protocolo que Portugal tinha com a Alemanha. Acabou por ser o grande dinamizador da marcha em Rio Maior. Em 1986, Silvino Sequeira entrou para presidente da Câmara de Rio Maior e chamou-me para apresentar um projecto para desenvolver o atletismo. Éramos amigos e ele conhecia o meu dinamismo. Costumava ir a todas as festas popu-

Feitor (de quem já não é treinador) foi campeã do mundo em marcha organizouse uma festa em Rio Maior e quando ele subiu ao palco as pessoas o reconheceram por ser o padeiro. Casou aos 24 anos e elogia a esposa dizendo que foi uma pessoa que sempre o apoiou apesar de passar muito tempo fora de casa a treinar ou em competições. Apesar de actualmente se poder considerar que com aquela idade é cedo para se contrair matrimónio, o treinador diz que já estava preparado para a vida e que já trabalhava há uma década. Pessoa calma e ponderada tem na dedicação e na amizade os valores fundamentais. Considera que foi e

lares falar com os organizadores no sentido de organizar provas de atletismo. Na altura tinha a quarta classe e trabalhava como vendedor de rações. Porquê a Marcha? Comecei por fazer uma escola de atletismo e depois a secção de atletismo do Clube de Natação de Rio Maior. Na altura havia o ensino da telescola e ia às várias escolas ensinar a prática desportiva e os que tinham potencial levava-os para o clube. Organizámos o torneio das freguesias, que se mantém, e o Grande Prémio Internacional de Marcha de Rio Maior. Destes jovens apareceu a Susana Feitor que rapidamente se tornou uma atleta internacional e campeã mundial de juniores. Era treinador de todas as disciplinas e senti necessidade de aprofundar os conhecimentos na área da marcha. Um bom atleta também faz um grande treinador? Obviamente. No distrito de Santarém quase todos os atletas que se destacam vão para os grandes clubes. A minha perspectiva foi sempre criar condições a nível técnico para ter bons atletas em Rio Maior. Especializei-me na marcha para que os marchadores pudessem atingir um alto nível. Alguma vez foi convidado para treinador por um grande clube? Não, porque durante muitos anos a ideia que as pessoas tinham era de que Rio Maior tinha condições excelentes para o atletismo. O que procurei foi que outras pessoas agarrassem o projecto para que um dia, quando me for embora, lhe dêem seguimento. Como se constrói um projecto como o de Rio Maior? Tem que haver um conjunto de pessoas motivadas e um grande investimento municipal. E nada pode ser feito para ter resultados imediatos. Estou na Câmara de Rio Maior a trabalhar com o atletismo há 29 anos e se não me tivessem dado tempo não teria feito o que fiz. No início quando fui para a câmara para trabalhar no atletismo as pessoas perguntavam-se se não tinha medo de ser corrido quando mudasse o presidente. Respondia que não me importava e que estava a correr atrás do meu sonho. Qual foi o atleta que lhe criou mais desafios? Recordo os atletas dos primeiros tempos, como o Rui Piedade e a Ana Correia e que chegaram a ser dos melhores a nível nacional sem as mínimas condições, treinando

continua a ser como um pai para muitos jovens atletas. Trabalha há três décadas na Câmara Municipal de Rio Maior. Adora escrever mas não sente necessidade de escrever as suas memórias. Quando está a fazer o planeamento dos treinos gosta de ouvir música calma. Considera que tem condições para continuar a fazer brilhar os seus atletas nas competições mais importantes e sobretudo nos Jogos Olímpicos, onde já levou cinco marchadores. Tem vindo a trabalhar com sucesso com uma nova geração de atletas de que fazem parte Miguel Carvalho, Miguel Rodrigues, Inês Henriques e Mara Ribeiro.


Sempre que sentia que alguém me podia ensinar algo ia e vou à procura dessa pessoa para aprender com ela. Um treinador também tem que ter vocação na estrada. Eles fizeram-me acreditar que se existissem apoios se podia ir longe. O Rui Piedade, por exemplo, trabalhava até às 19h00 e treinava à noite. Quem é que convenceu os seus filhos a entrarem também no atletismo? Nunca os pressionei. A minha mulher não ligava ao desporto mas eles queriam ir comigo e quiseram entrar em provas a partir dos cinco, seis anos. Hoje tenho muito orgulho do facto de me ajudarem no clube. O Paulo é professor na Escola Superior de Desporto de Rio Maior e treinador e a Susana é responsável pela es-

cola de formação. Neste momento o Clube de Natação de Rio Maior tem três técnicos que são o pai e os dois filhos (risos). É mais difícil ser treinador ou atleta? É diferente. O atleta, quando começa uma prova, sabe que ganhar ou falhar depende dele. O treinador a partir do momento que é dado o tiro de partida não pode fazer nada. E fica a sentir, sem poder interferir, que alguém pode fazer render ou deitar a perder o trabalho, às vezes de anos. Ficar de fora a sofrer sem poder fazer alguma coisa faz-me muita impressão. Sinto-me impotente mas tenho que estar sempre com o atleta em todas as circunstâncias, consiga ele ou não fazer coisas fantásticas. Para fazer campeões bastam condições físicas, bons atletas e bons treinadores? Já não é assim. Hoje é essencial o apoio de médicos, fisioterapeutas, massagistas, às vezes

de psicólogos. Já se trabalha em equipa na preparação de um atleta. O que é que tem ganho como treinador? Realizo-me em termos pessoais e profissionais. Já levei atletas a treze campeonatos do mundo e essa é a minha maior fortuna. É isso que me dá satisfação. É isso que me faz andar no atletismo, não são as questões económicas. É este espírito que transmito às pessoas. Quem se sente realizado avança. Há quem tenha por objectivo na vida comprar um carro novo, o meu objectivo é fazer mais e melhor no atletismo e a minha família sempre compreendeu isso. É preciso um curso superior para se ser um bom técnico desportivo? Tive a possibilidade de contactar com um grande professor e treinador de atletismo, Vítor Reis, com quem estive em 1996 nos Jogos Olímpicos de Atlanta, que disse ao meu filho: “Nós somos

professores e o teu pai nunca deu aulas numa escola mas enquanto treinadores não lhe chegamos aos calcanhares”. O que sinto é que toda a minha vida só teve um sentido que é o atletismo. Sentia que essa era a minha vocação. E sempre que sentia que alguém me podia ensinar algo ia e vou à procura dessa pessoa para aprender com ela. Um treinador também tem que ter vocação.

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Personalidade do Ano Vida

Coronel Costa Braz Militar de Abril

“Não há heróis elegíveis do 25 de Abril” Viveu de forma intensa o antes, o durante e o depois do golpe de 25 de Abril de 1974, como militar primeiro e, depois, entre outras funções, como ministro que teve em mãos a organização das primeiras eleições livres e com sufrágio universal que se realizaram no país. Discreto, tranquilo e modesto quanto baste, o coronel Costa Braz desempenhou cargos de elevada responsabilidade e esteve ligado a muitos episódios da nossa História contemporânea, mas coloca de parte a hipótese de publicar as suas memórias. João Calhaz Em 25 de Abril de 1974, o capitão Salgueiro Maia justificou a sua adesão ao golpe militar dizendo que queria ajudar a acabar com o estado a que o país tinha chegado. Olhando criticamente para o Portugal de hoje, a que estado é que o país chegou? Não será aquilo que idealizámos mas fez-se bastante do que pensámos que seria útil que fosse feito. Nomeadamente em termos de liberdade,

Um militar de Abril com um currículo notável O Pombalinho é um porto seguro onde Manuel da Costa Braz regressa regularmente para gozar da paz campestre. Foi nessa aldeia, agora do concelho da Golegã, que nasceu em 4 de Novembro de 1934. Homem discreto, de perfil sereno, o militar aposentado fez parte da nata política e militar que emergiu da revolução de 25 de Abril que em 2014 comemorou 40 anos. O currículo do coronel impressiona pela quantidade e pela qualidade dos cargos que ocupou. Militar da arma de artilharia, integrou a comissão política do Movimento das Forças Armadas (MFA). Participou activamente na preparação do 25 de Abril, fazendo parte do grupo

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cidadania e solidariedade social. Foram essas as grandes conquistas da revolução? Acho que sim, liberdade e cidadania. Os direitos e o respeito pelos cidadãos, com “C” maiúsculo, com reflexos na Saúde, na Educação e no apoio aos fragilizados. Esses conceitos hoje são valorizados como merecem? As excepções justificam a regra. Não quero dizer que isso aconteça em todas as circunstâncias mas sem dúvi-

que elaborou o chamado Documento de Cascais e o Programa do Movimento das Forças Armadas. Após a revolução foi adjunto militar do primeiro-ministro do 1º Governo Provisório e em Maio e Junho de 1974 integrou a comissão administrativa da RTP. Foi ministro da Administração Interna nos II e III governos provisórios e nos I e II governos constitucionais, entre 1976 e 1980. Do seu caderno de encargos fizeram parte processos complexos como a organização do recenseamento eleitoral e a preparação das eleições para a Assembleia Constituinte (1975) e das primeiras eleições autárquicas (1976). Foi também o primeiro Provedor de Justiça do país, nomeado em Dezembro de 1975, e Alto Comissário Contra a Corrupção entre Dezembro de 1983 e

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da que houve uma alteração substancial. Quem se lembra do que era o país há 40 anos e olha, sob vários pontos de vista, para a situação actual encontra de facto uma enorme diferença a esse nível que nem toda a gente valoriza como devia. Que sentimento tem por ter vivido por dentro esse período revolucionário? Tenho um sentimento de grande orgulho e de grande satisfação. Vivi o 25 de Abril em três fases. Vivi o antes, porque fiz parte do grupo preparatório do movimento que fez o 25 de Abril, nomeadamente na parte conceptual, ideológica, de objectivos, etc... Depois vivi-o na execução propriamente dita e nas funções que exerci durante uma série de anos em aplicação directa dos conceitos que defendíamos. E vivi-o e estou a vivê-lo ainda, felizmente, no seguimento da própria evolução do país. Os militares de Abril têm sido bem tratados pelo regime que ajudaram a implantar? Vou responder à sua pergunta de uma forma indirecta, mas que penso responder cabalmente à questão. Penso que não há heróis elegíveis do 25 de Abril, porque serão heróis, como algumas pessoas às vezes os procuram chamar, todos aqueles que arriscaram a profissão, a família, a

Maio de 1993. Em 1997, foi nomeado presidente do Conselho Nacional para a Reabilitação e Integração das Pessoas com Deficiência. Presidiu ainda ao conselho de administração da Hidroeléctrica de Cahora Bassa (Moçambique) em representação do Estado português, entre Junho de 1993 e Abril de 1999. Costa Braz é detentor de várias condecorações nacionais como a GrãCruz da Ordem do Infante Dom Henrique (1982) e a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade (1985). A Casa do Ribatejo em Lisboa outorgou-lhe o título de “Ribatejano Ilustre” e o Estado espanhol atribuiu-lhe a Grã-Cruz da Ordem de Isabel a Católica (1978). No que toca à política sempre defendeu a sua independência partidária

carreira, a sua integridade física na procura do melhor para o seu país. Esses merecem, creio eu, pelo menos o respeito das outras pessoas. Houve quem se distinguisse mais e houve quem se distinguisse menos, ou porque tiveram mais oportunidade que isso acontecesse ou por modéstia. E houve também quem não perdesse uma oportunidade para se pôr em bicos de pés, digamos assim... Isso acontece em todos os lados e não deixou de acontecer aqui. São visíveis e notórios e não me parece que exista sobre eles o conceito positivo que, se calhar, julgam merecer. Em relação à questão anterior, dos que participaram no 25 de Abril e que desenvolveram a sua actividade no seguimento dessas ideias, nenhum quis ter benefícios especiais. Não aceitámos promoções, não aceitámos nada de recompensa a que, porventura, alguém pensasse que tínhamos direito ou merecimento. Houve um desprendimento total por parte dos militares? Houve quem quisesse que houvesse promoções e nós não aceitámos. Isto diz bastante, penso que o suficiente para que, hoje, esta geração e algumas pessoas ainda desses tempos mas que pertencem a grupos críticos sob o ponto de vista ideológico, respeitassem isso. O país tem os políticos que merece? Os países têm sempre os políticos que merecem, se o regime for suficientemente democrático. E o nosso regime é suficientemente democrático? Formalmente é. E isto acontece não só aqui mas também noutros lados. Temos aquilo que foi dito maioritariamente que queríamos. Isto tem a ver com alguns tipos de campanhas abstencionistas que vejo por aí surgirem. Essas campanhas pela abstenção incomodam-no? Considero que o abstencionismo é uma fuga à responsabilidade. O abstencionismo, o voto nulo ou o voto em branco são modos de manifestação de uma posição política pessoal mas eu considero que é uma fuga a uma escolha. E quem foge à escolha tem que aceitar quem

intransigentemente, garantindo que “sempre assim foi, mesmo quando estava no Governo”. Considerada uma pessoa moderada, mesmo quando se viviam os tempos conturbados pós-25 de Abril, integrou nessa altura o chamado “Grupo dos Nove” que reunia militares da ala moderada. Costa Braz tem orgulho nas suas raízes ribatejanas (o pai chegou a ser presidente da Junta do Pombalinho) e é apreciador de touradas, mas prefere vê-las pela televisão em casa. Confessa-se uma pessoa discreta e pouco dada a excessos emocionais. No que respeita a bairrismos também não é homem de ânimos exacerbados. Ficou satisfeito com a mudança do Pombalinho para o concelho da Golegã, mas diz continuar a gostar de Santarém.


Sinto-me bem com o meu passado e esperançoso quanto ao futuro do meu país que, com muitos outros, desejei

aparece a seguir. O voto é um direito e um dever. Se as pessoas estiverem suficientemente consciencializadas das suas obrigações nacionais e como cidadãos, necessariamente que se obrigam a ir votar. Mesmo votando branco ou nulo, que são modos de expressão política. Os cidadãos devem sentir-se obrigados a ter voz activa na maneira como o seu país é conduzido. Isso é que é democracia. Teve uma carreira profissional bastante preenchida e viveu múltiplos episódios que se cruzam com a História do Portugal contemporâneo. Nunca pensou escrever as suas memórias? Pensar em escrever, pensei, mas tenho um problema em relação a isso. Tenho histórias escritas, não são muitas, mas apenas “para memória futura”. Episódios que se passaram comigo, a que assisti, ou coisas em que, de qualquer modo, fui interveniente ou assistente. Mas não publico coisa nenhuma. Porquê? Porque entendo que a palavra “eu” fica demasiado presente em qualquer coisa que se escreva e não gosto que isso aconteça. Além disso há também preguiça

da minha parte. Mas há realmente muitas coisas que vivi e a que assisti que não são “estórias” a começar por “e”. São histórias com “H” grande. Mais uma razão para as dar a conhecer? Tem toda a razão. Mas, aí, seja-me permitido que prevarique em relação às minhas obrigações. Tenho visto textos contando versões de acontecimentos relacionados com o 25 de Abril, nomeadamente sobre a intervenção dos autores nesses acontecimentos, que me confrangem. Não deixo no entanto, num caso ou noutro de visão muito diferenciada, de dizer ao autor qual é a minha opinião. Alguns desses textos são pura ficção? Por vezes acontece. São uma maneira tão subjectiva de ver as coisas, tão personalizada, tão a puxar a brasa à sua sardinha, tão exageradamente ideológica, que me incomoda. E eu receio cometer os mesmos erros, mesmo que em menor grau. Portanto, o que já tenho dito é que aquilo que escrevo é para as minhas netas. De uma vida agitada passou para a aposentação. Foi fácil lidar com tanto tempo livre? Fui filho único, de maneira que sempre tive uma certa capacidade para gerir as minhas solidões. Apesar de tudo não foi fácil. Porque passei de uma vida muito activa e muito responsabilizante para uma vida sem responsabilidades a nível profissional. Aconteceu que em 1998 tive um contencioso com um órgão de informação que publicou coisas a meu respeito que tive como difamatórias. Terminei o mandato funcional que tinha em 1999 e não aceitei qualquer outro enquanto a questão não fosse clarificada, o que, lamentavelmen-

te, só veio a acontecer cinco anos depois, com um acórdão da Relação dando-me inteira razão e sancionando severamente os arguidos. Mas então já eu ia nos 70 anos, um tanto tarde para as pesadas incumbências do meu agrado. Foi pena. Entretanto dediquei boa parte do meu tempo a questões relacionadas com os deficientes, presidindo gratuitamente a um Conselho Nacional pertinente. Passou a ter tempo para coisas que antes não podia fazer? Passei a ler mais do que lia, a passar algum tempo no computador, mantive os meus contactos sociais com amigos e colegas, que entretanto vão diminuindo, por força da natureza, e vou gerindo as preocupações familiares que tenho. Sinto-me bem com o meu passado e esperançoso quanto ao futuro do meu país que, com muitos outros, desejei.

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Memória de uma Personalidade Singular As pessoas com valor homenageiam-se em vida. Os seus exemplos de cidadania são eternos e devem ser recordados mesmo depois do seu desaparecimento, principalmente em alturas em que há uma crise de valores.

Este ano, para além das Personalidades do Ano, O MIRANTE vai recordar uma personalidade marcante da região que já não está entre nós. Trata-se do médico de família, Artur Barbosa, que foi director da Unidade de Saúde Familiar da Chamusca. Embora as distinções criadas pelo jornal se baseassem no pressuposto de que as pessoas devem ser homenageadas e o seu trabalho destacado em vida, a criação, ao fim de dez anos, da categoria “Memória de Uma Personalidade Singular” surge como uma tentativa de preservar exemplos de cidadania numa altura em que há uma crise de valores. O médico Artur Barbosa, director da Unidade de Saúde Familiar da Chamusca, faleceu na madrugada de sábado, 2 de Agosto de 2014, aos 57 anos de idade. Dias antes, quando se sentiu mal, o que o levou a ser internado no Hospital de S. José, em Lisboa, onde permaneceu em coma até à altura da sua morte, estava no seu posto de trabalho a dar consultas. Natural da Ilha do Fogo, em Cabo Verde, foi viver para Santarém aos 17 anos, tendo concluído o liceu naquela cidade. Entrou em Lisboa, na Faculdade de Ciências Médicas, em 1976, e após terminar o

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curso fez dois anos de estágio em Cascais, antes de ser colocado na Chamusca em 1986. Para além de director da Unidade de Saúde Familiar exercia as funções de médico legista no gabinete médico legal do Médio Tejo. Era conhecido pelo seu bom humor e pela atitude positiva perante a vida. A maior parte dos seus doentes recorda-o como um médico sempre disponível que não se importava de sacrificar o seu tempo de descanso para atender quem precisava. Estava sempre disponível para quem necessitava de ajuda. Raramente desligava o telemóvel. Costumava dizer que ser médico de família era o que mais gostava de fazer e que não se imaginava a fazer outra coisa. Numa altura em que milhares de portugueses não têm médico de família ou não têm sequer médico do Serviço Nacional de Saúde na sua área de residência é justo recordar, através do exemplo de Artur Barbosa, os milhares de jovens médicos que, no início do Serviço Nacional de Saúde, saíram do conforto das grandes cidades onde tinham feito as licenciaturas, para ir trabalhar no interior do país para dar assistência às populações, retribuindo o esforço que o país tinha feito com o pagamento dos seus estudos.

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Prémio homenagem a título póstumo

Artur Barbosa Médico de Família - Falecido a 2 de Agosto de 2014


Um resumo do muito que aconteceu na área de O MIRANTE em 2014 Legionella, derrocada nas encostas de Santarém, internacionalização das empresas, falta de médicos e roubos O MIRANTE publica anualmente, no conjunto da edição online, edição semanal em papel, Caderno de Economia e Cadernos Especiais, centenas e centenas de notícias, reportagens, entrevistas, galerias de fotografias, vídeos, textos para as mais variadas

rubricas como Cartoon da Notícia; Guarda-Rios; Cavaleiro Andante; Primeiro Plano; e-mails do outro mundo; Três Dimensões; Se eu Fosse Jornalista; Identidade Profissional... Seleccionar um conjunto de assuntos para uma retrospectiva de um ano é um trabalho

subjectivo. Cada pessoa tem a sua percepção da realidade e da importância de cada assunto. Esta selecção que apresentamos é uma das muitas possíveis. De fora ficam notícias e principalmente secções inteiras, nomeadamente as humorísticas.

Seria grave e redutor há alguns anos quando os arquivos eram unicamente em papel. Agora, em qualquer altura, cada leitor pode pesquisar, através do sistema de pesquisa do jornal ou do motor de busca do Google, por exemplo, o assunto que quiser recordar.

ter, na primeira segunda-feira de cada mês, um dia de “Tolerância de Ponto” (leia-se folga), como forma de os compensar pelos cortes salariais impostos à Função Pública pelo Governo. A medida acabou em Junho quando o Tribunal de Contas chumbou a medida do Governo mas o acontecimento ficou para a história.

desapareceu tudo ou quase tudo o que era de metal. A última estimativa de custos para a reabilitação apontava para um valor acima do milhão e meio de euros.

FEVEREIRO

Recuperar antigas casas dos oficiais de Cavalaria em Santarém custa 1,6 milhões

JANEIRO

Primeiro bebé do ano da região é filho de imigrantes chineses de Almeirim O primeiro bebé a nascer na região em 2014 foi Tony Wang, em Santarém. É o segundo filho do casal Patrícia Zhu e Mojito Wang, imigrantes chineses, que residem em Almeirim há 16 anos. Na Maternidade de Vila Franca de Xira os partos aumentaram este ano em cerca de 24 por cento. Os resultados são associados às melhores condições do serviço e também ao nascimento de muitos filhos de imigrantes. Na região nascem anu-

almente bebés de mais de duas dezenas de nacionalidades. O ano passado o número de nascimentos aumentou muito ligeiramente a nível nacional mas a maternidade de Abrantes continua a ter um número de partos que faz temer o seu encerramento, apesar das garantias dadas pelo Ministério da Saúde.

Uma folga mensal a cada trabalhador para compensar política de austeridade O despacho foi assinado a 28 de Janeiro pela presidente da Câmara Municipal de Tomar, a socialista Anabela Freitas. A partir dessa altura os funcionários passavam a

Ano após ano a degradação dos blocos de apartamentos que eram utilizados para alojar os oficiais da Escola Prática de Cavalaria acentua-se. A unidade militar foi para Abrantes em Novembro de 2006 e desde então as casas, que agora são propriedade da câmara municipal, foram ocupadas, primeiro por cães (uma peregrina ideia destinada a manter afastados intrusos) e depois por pombos, ratos e outros animais. Enquanto vão aparecendo ideias que nunca se concretizam como a venda, a utilização para habitação social ou a cedência ao Instituto Politécnico de Santarém para residências de estudantes, os apartamentos vão sendo vandalizados. A maior parte dos vidros foram partidos, bem como persianas, portas e janelas, as paredes interiores foram grafitadas,

Presidente de empresa municipal de Fátima assessor de si próprio O presidente do Conselho de Administração da Sociedade de Reabilitação Urbana de Fátima (SRU Fátima), uma das duas empresas municipais de Ourém, recebia como assessor principal de si próprio e era remunerado como tal uma vez que não podia ser pago como administrador. O presidente da câmara municipal, Paulo Fonseca, interrogado na assembleia municipal sobre o assunto que O MIRANTE tornara público limitou-se a dizer que também considerava a situação “estranha”, embora a tenha consentido. Perto do final do ano, quando a empresa foi extinta, Luís Mangas de Oliveira foi para chefe de gabinete do presidente.

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Ladrões de metais deixam ponte D. Luís entre Santarém e Almeirim às escuras Os roubos de cabos eléctricos que passam por baixo do tabuleiro da Ponte D. Luís I originaram um apagão em Fevereiro. Apesar do esforço das autoridades o roubo de metais como cobre tem continuado e totaliza anualmente mais de mil no distrito de Santarém. Há localidades que ficam sem luz ou telefones e internet durante vários dias. As empresas mais afectadas uniram-se para ajudar as forças policiais a combater aquele crime. Há vários municípios onde as estradas rurais estão interditas ao trânsito nocturno para evitar o furto de equipamentos que têm componentes de cobre. Uma limitação da liberdade de circulação que nem todos vêem com bons olhos. A Câmara de Torres Novas não aceitou um pedido de agricultores do concelho para proibir o trânsito automóvel nos campos.

“Tão cedo não vai haver estradas novas na região” O presidente da Estradas de Portugal, António Ramalho, visitou o distrito de Santarém em Fevereiro e foi claro quanto à estratégia de investimentos. Os tempos são de crise e não há dinheiro para estradas novas na região, apesar de algumas estarem previstas há quase duas décadas, como o IC 3 entre Almeirim e Chamusca, o IC9 entre Abrantes e Ponte de Sôr ou o IC10 entre Almeirim e Coruche. A prio-

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ridade da Estradas de Portugal é pagar o que deve e conservar as vias que existem. Alguns presidentes de câmara também já avisaram que não têm dinheiro para arranjar algumas das ruas e estradas dos seus concelhos que estão estragadas. Os fundos comunitários, para já, não abrangem aquele tipo de obras. MARÇO

Câmara de Abrantes oferece nove mil euros a médicos que aceitem trabalhar no concelho Primeiro a Administração Regional de Saúde (ARS) de Lisboa e Vale do Tejo torceu o nariz à ideia. Depois acabou por aceitar que a Câmara de Abrantes dê um incentivo anual de nove mil euros a cada médico que vá trabalhar para o concelho. E a autarquia alugou em Outubro por trezentos euros mensais e por um período de três anos, um apartamento destinado a receber médicos de família. Em Almeirim a oferta do município é de 500 euros mensais para pagamento do alojamento. Mas nem isso tem sido suficiente para acabar com a carência de médicos na região. Todas as semanas O MIRANTE publica notícias referentes a populações, constituídas maioritariamente por pessoas idosas, que não têm médico ou só o têm a quilómetros de distância e sem possibilidade de marcação antecipada. A saúde também tem sido terreno fértil para guerras políticas.

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ABRIL

Eleita do CDS/PP sentada com todos de pé a cantar “Grândola Vila Morena” A eleita do CDS-PP de Vila Franca de Xira, Filomena Rodrigues, foi a única pessoa que permaneceu sentada no auditório do Ateneu Artístico Vilafranquense quando foi entoada a canção “Grândola Vila Morena” da autoria de Zeca Afonso, durante as celebrações do 40º aniversário da Revolução dos Cravos. Já antes, na hora dos discursos, a autarca tinha feito um discurso crítico do período que se seguiu ao 25 de Abril de 1974. “A seguir à Primavera de Abril, seguiu-se o Verão quente de 1975. Foram os tempos da

Do que se fala quando se fala de emigração Para João Banha Oliveira, jovem de Vila Franca de Xira, a emigração deve ser encarada como algo positivo para o país, permitindo a quem sai obter conhecimentos no estrangeiro que podem mais tarde beneficiar Portugal. Aos 32 anos, a trabalhar como investigador numa empresa de biotecnologia em Berlim, capital da Alemanha, disse a O MIRANTE que a emigração não é tão má como se quer fazer crer e que verificou que no centro da Europa as pessoas estão habituadas a fazê-lo regularmente. A sua entrevista foi uma das muitas que fizemos pelo Skype a jovens da região a trabalhar noutros países.

irresponsabilidade com as nacionalizações e ocupações a rasgarem o tecido económico. Hoje teríamos uma economia mais avançada e uma sociedade mais equilibrada e justa se tal não tivesse acontecido” afirmou.

Mãe a empurrar filha em cadeira de rodas durante dez quilómetros para ir ao médico Ofélia, a mãe e Patrícia, a filha deficiente, ambas de Vaqueiros, concelho de Santarém, foram realojadas em Pernes em casa cedida pela Misericórdia após termos noticiado que a senhora tinha que andar pela Estrada Nacional a empurrar a cadeira de rodas da filha durante 10 quilómetros,

Para uma centena de hortas urbanas na Póvoa de Santa Iria concorreram 265 pessoas A Câmara de Vila Franca teve de atribuir os espaços por sorteio quando foi confrontada com a elevada adesão de 265 interessados. A procura foi motivada pelos tempos de dificuldade que as famílias atravessam, como declararam alguns dos sorteados, que vêem no cultivo de hortícolas nas hortas, com áreas entre os 20 e os 50 metros quadrados, uma forma de aliviar o orçamento familiar.

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pelo meio do trânsito da Estrada Nacional 3 para ir ao médico a Pernes porque o Centro de Saúde de Vaqueiros fechou. O alojamento, que era provisório, dura até hoje. Foi mais um de dezenas e dezenas de exemplos da acção por reacção que algumas instituições, como a Segurança Social de Santarém, praticam.

O super campeão Rui Silva passa despercebido na sua terra Campeão do mundo, europeu e nacional e medalhado numas olimpíadas, Rui Silva é um desconhecido para muita gente do concelho onde reside, o Cartaxo, sobretudo entre os mais jovens. É o preço a pagar num país onde o futebol concentra as atenções e o resto é paisagem. MAIO

Campeãs e Campeões * A equipa de futebol sénior feminino do Atlético Ouriense volta a fazer história ao revalidar o título nacional de futebol fe-

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minino. Numa época em cheio, o clube de Ourém conquista também a Taça de Portugal e apura-se para a Liga dos Campeões. * O Atlético Ouriense sagra-se campeão distrital da 1ª Divisão da Associação de Futebol de Santarém e assegura a subida ao Campeonato Nacional de Seniores. * A Associação Desportiva Fazendense, equipa de Fazendas de Almeirim, foi a grande vencedora da Taça do Ribatejo 2013/2014

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em futebol tendo derrotado o Clube Atlético Ouriense, de Ourém, por 1-0. * O Paço dos Negros sagrou-se campeão distrital de futebol do Inatel. A equipa do concelho de Almeirim bateu na final, realizada em Paço dos Negros, o Sentieiras, do concelho de Abrantes, por 4-3 após a marcação de grandes penalidades. * A União Desportiva Vilafranquense venceu o Campeonato Distrital da Divisão de Honra da Associação de Futebol de Lisboa e garantiu a subida à Divisão Pró-Nacional.

* A União Desportiva de Rio Maior venceu na tarde de sábado, 24 de Maio, a União Desportiva de Santarém por 4-1 em jogo disputado no Campo Chã das Padeiras, em Santarém, conquistando o título de campeão da segunda divisão distrital da Associação de Futebol de Santarém. A festa acabou por ser repartida, pois ambas as equipas, emblemas históricos da região, no seu regresso ao futebol sénior subiram ao primeiro escalão do futebol distrital, tal como o Barrosense.


pequeno auditório na confluência dos rios Zêzere e Tejo, os melhores, mais inovadores e mais criativos protagonistas da música portuguesa.

2002 e o único que sobreviveu de entre vários que foram criados. O sistema de troca de serviços não floresce na região. AGOSTO

JULHO

JUNHO

Plataforma Logística da Castanheira do Ribatejo chegou com vinte anos de atraso A plataforma logística da Castanheira do Ribatejo, concelho de Vila Franca de Xira, é uma plataforma “fantasma” que nunca resultou porque foi feita fora de tempo e afastada das necessidades dos operadores logísticos. Sérgio Soares, director-geral da STEF, um dos principais operadores logísticos europeus, que emprega 360 pessoas nas suas instalações em Alverca e Póvoa de Santa Iria, diz que se a plataforma tivesse sido construída há 20 anos teria sido um suces-

Banco do Tempo de Abrantes é o único sobrevivente na região

Mais um desabamento nas Encostas de Santarém e desta vez a culpa não foi da chuva

Passados 12 anos ainda se continuam a trocar rissóis pelo preenchimento de documentos ou pelo acompanhamento de uma ida ao médico, ao banco ou à farmácia no âmbito do Banco do Tempo de Abrantes, o primeiro a ser criado no país, em Janeiro de

Na madrugada de 16 de Agosto uma parte da encosta do planalto de Santarém desabou. Houve pessoas que ficaram desalojadas e o troço da Estrada Nacional 114 entre a Ponte D. Luís I e a cidade ficou interrompido até hoje. O problema dos

so e diz que o Governo de José Sócrates fez mal em tentar ocupar o lugar dos privados e promover artificialmente uma localização para as empresas.

10 de Junho em Constância sem “Encontros do Cantar Diferente” Pela primeira vez desde que tiveram início, em 1997, os “Encontros do Cantar Diferente” não se realizaram na noite de 9 para 10 de Junho porque o seu criador, Pedro Barroso estava doente e provavelmente não vai poder voltar a tocar viola. Os encontros eram uma pequena pérola cultural da região. O anfitrião levava todos os anos ao

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deslizamentos de terra nas encostas tem décadas. Já houve centenas de estudos, medições, moções, decisões, visitas de políticos, ultimatos, promessas mas nenhuma acção concreta para resolver o problema. Quando há dinheiro, como no tempo das

vacas gordas da nossa economia subsidiada por Bruxelas, não há vontade e quando há vontade há sempre a desculpa da falta de dinheiro. Está tudo na mesma e Santarém tem uma entrada a menos há sete meses.

SETEMBRO

cializado do trabalho. Na capital de distrito mantém-se o Tribunal da Concorrência, Regulação e Supervisão com competência para todo o território nacional. Este novo modelo assenta na especialização, desde a área criminal, passando pela família e menores, execuções e comércio, estas três novas no distrito. A secção com o maior número de processos é a de execuções, que funciona no Entroncamento. Passa a haver um juiz presidente para todo o distrito com poderes de representação e direcção. João Guilherme Silva foi o primeiro a ocupar o lugar.

O novo mapa judiciário explicado pelo Juiz presidente da Comarca de Santarém Com o novo mapa judiciário foi criado no distrito um único tribunal, o Tribunal Judicial da Comarca de Santarém dividido por secções que correspondem aos antigos tribunais e que inclui o antigo tribunal espe-

Fábrica das Palavras é a nova e imponente biblioteca de Vila Franca de Xira Chama-se Fábrica das Palavras por ter sido construída no local onde antes existiu uma fábrica de descasque de arroz. É a nova biblioteca de Vila Franca de Xira e foi inaugurada a 20 de Setembro. Para além das palavras também os números fazem

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a história desta obra: 5 milhões e 750 mil euros foi o montante total do investimento para pôr de pé estes sete pisos dedicados à cultura e à aprendizagem social, erigidos sobre 3200 metros quadrados de área requalificada. Desse investimento total dois milhões de euros saíram dos cofres camarários, todo o restante foi coberto pelo financiamento comunitário destinado a reabilitar aquela zona degradada da cidade, verbas que teriam sido perdidas na ausência desta candidatura.

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Baixa na Câmara da Golegã devido a processo judicial O vereador da Câmara da Golegã, Rui Cunha, que tinha sido afastado do cargo de vice-presidente do município pelo presidente, decide deixar o executivo camarário. Uma consequência do processo em que foi acusado da prática de vários crimes alegadamente cometidos enquanto funcionário judicial.

Discussões entre presidente e vereador de Alpiarça manchadas por obscenidade As trocas de “mimos” entre o presidente da Câmara de Alpiarça Mário Pereira e o vereador da oposição Francisco Cunha (PSD/MPT) nas reuniões do executivo foram um dos temas recorrentes de 2014. Rara foi a sessão em que os ânimos não se exaltaram e a 11 de Setembro a discussão descambou para o insulto. Nos minutos finais da reunião de câmara de 10 de

Setembro, Mário Pereira perdeu as estribeiras e mandou Francisco Cunha para o c***lho. A situação decorreu sem a presença de jornalistas e não faz parte do vídeo da reunião que é publicado na Internet após a sessão. OUTUBRO

Os Vinte Quilómetros de Almeirim regressaram às origens populares Dois mil e seiscentos atletas participaram na 27ª edição dos Vinte Quilómetros de Almeirim. Na prova principal Hermano Ferreira da Conforlimpa e Vera Fernandes, do Boavista de Lagoa, foram os melhores no sector masculino e feminino, respectivamente. A prova de 2014 regressou às origens, graças à crise e estiveram presentes apenas dois ou três atletas de grande nomeada, até porque não havia prémios monetários nem contabilização para Campeonatos Nacionais ou o Campeonato da Europa de Estrada. A prova valeu pelo entusiasmo dos milhares de pessoas que participaram.

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Eugénio Pina de Almeida reeleito para um último mandato no IPTomar Pina de Almeida, 48 anos, foi reeleito como presidente do Instituto Politécnico de Tomar (IPT) com o objectivo de consolidar a instituição enquanto agente estratégico para o desenvolvimento da região e torná-la conhecida a nível internacional. É o seu segundo e último mandato, somando vinte anos ligado a funções de gestão na instituição. Considera que nos últimos quatro anos o IPT ganhou mais notoriedade, fruto de uma reorganização interna que levou a cabo, e afirma que os politécnicos de Tomar e de Santarém se complementam. Em Santarém o professor Jorge Justino, reeleito em Março para um novo mandato à frente do Politécnico de Santarém, disse que, em caso de ser forçado a uma fusão optaria por Leiria.

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Estrela. Foi publicada na edição que assinalou o 27º aniversário do jornal. NOVEMBRO

A primeira grande entrevista de um primeiro-ministro a um jornal regional O MIRANTE voltou a fazer a diferença na altura do seu 27º aniversário

Só o Tribunal pode iluminar a escura situação da sempre adiada RPP Solar A Câmara Municipal de Abrantes tem a correr no Tribunal Administrativo e Fiscal de Leiria (TAFL) um processo contra a empresa RPP Solar onde reclama o pagamento de uma verba de 1.136.414 euros referente ao valor que a autarquia pagou pelo terreno de 82 hectares na freguesia de Concavada onde a empresa devia ter instalado um complexo industrial ligado às energias renováveis. Recorde-se que em 2009 a autarquia, ainda

com Nelson Carvalho (PS) como presidente, adquiriu os terrenos a um particular por uma soma superior a um milhão de euros e vendeu-os à RPP Solar por 100 mil euros, apoiando assim um projecto ambicioso que acabou por não se concretizar.

Surto de Legionella no concelho de Vila Franca de Xira provocou mais de dez mortes O surto da doença do legionário, provocada por bactérias do género Legionella, afectou mais de trezentas pessoas, principalmente nas freguesias de Forte da Casa, Póvoa de Santa Iria e Vialonga, no concelho de Vila Franca de Xira, provocando

Foi a primeira vez que o primeiro-ministro Pedro Passos Coelho concedeu uma entrevista exclusiva a um jornal regional e não há memória de outra situação idêntica. Foi, como se compreende, uma entrevista diferente das entrevistas feitas ao primeiro-ministro pelos órgãos de comunicação social de âmbito nacional. O MIRANTE tentou abordar assuntos que, apesar de não estarem na agenda política ou mediática, interessam às populações da nossa área de abrangência. A entrevista foi feita na quinta-feira, dia 7 de Novembro, a partir das 18h30 no gabinete do primeiro-ministro, no palacete da Rua da Imprensa à

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mais dez mortes. Os primeiros casos foram detectados a 7 de Novembro e os últimos a 21 do mesmo mês. Segundo o ministro do Ambiente, Jorge Moreira da Silva, o surto teve a sua origem nas torres de refrigeração da empresa Adubos de Portugal, na freguesia do Forte da Casa. A Organização Mundial de Saúde (OMS) classificou a situação como de “grande emergência de saúde pública” e descreveu-a como “incomum e inesperada”.

Nersant e O MIRANTE atribuíram Galardões Empresa do Ano Os prémios Galardão Empresa do Ano, resultado de uma parceria entre a Nersant - Associação Empresarial da Região de Santarém e O MIRANTE, foram criados com a intenção de destacar o trabalho de empresários e empresas da região e a qualidade dos premiados valoriza a iniciativa mas só pode atribuir distinções com prestígio e visibilidade quem tiver o respeito da comunidade e valor reconhecido. Em 2014 foram entregues a 25 de Novembro em Santarém. Foi a 14ª edição e coincidiu com o Nersant Business 2014 em que participaram vários empresários estrangeiros. A presidente da Associação Empresarial da Região de Santarém - Nersant, Salomé Rafael, aproveitando a presença do secretário de Estado Adjunto da Economia, Leonardo Mathias, disse esperar que os Fundos Comunitários do Portugal 2020 sejam verdadeiramente vocacionados para a economia e para as empresas uma vez que são elas que criam emprego e riqueza.

Negócios de dois milhões e meio na 3ª edição do Nersant Business A 3ª edição do Nersant Business, que decorreu entre 24 e 26 de Novembro no Centro Nacional de Exposições e Mercados Agrícolas (CNEMA), em Santarém, teve a participa-

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ção de mais de uma centena de empresários estrangeiros em reuniões de negócios com empresários portugueses. O objectivo foi estabelecer contactos para futuros negócios e parcerias empresariais. Durante os três dias foram feitas mais de um milhar de reuniões de negócios dos quais resultaram exportações no valor de dois milhões e meio de euros.

Nasce o primeiro Festival de Guitarra Portuguesa pela mão de Custódio Castelo Custódio Castelo criou o Festival da Guitarra Portuguesa em Almeirim. A primeira edição decorreu entre 22 e 29 de Novembro. O músico, compositor e guitarrista, natural daquele concelho, deu-lhe o nome de Guitarra d’Alma. Luísa Amaro, viúva de Carlos Paredes, foi uma das convidadas.

Entroncamento é a única cidade do distrito sem uma sala de espectáculos a funcionar

Câmara de Tomar está a ser governada pelo chefe de gabinete da presidente

O Cine-Teatro S. João, no Entroncamento, propriedade do município, vai continuar encerrado por tempo indeterminado. A informação foi dada pelo presidente da câmara, Jorge Faria (PS), no dia do 69º aniversário do concelho, a 24 de Novembro. Um ano antes o autarca tinha criado expectativas relativamente à reabertura da sala num curto espaço de tempo, tendo afirmado que provavelmente bastariam pequenas obras. A sala está encerrada desde Janeiro de 2010. O Entroncamento é a única cidade das nove do distrito de Santarém sem uma sala de espectáculos a funcionar.

As zonas cinzentas das leis tornam-se claras quando iluminadas pelo bom senso e pela razão. Em Tomar o chefe de gabinete da presidente da câmara, Luís Ferreira, para além de viver em união de facto com ela, é também membro da assembleia municipal, órgão que tem por missão fiscalizar os actos do executivo. A autarca, Anabela Freitas (PS), nunca se dignou dar qualquer explicação sobre o assunto mas o seu silêncio não faz desaparecer o problema que, como muitos outros, afecta a credibilidade dos políticos. Numa entrevista a O MIRANTE, o vereador João Tenreiro (PSD) disse aquilo que muita gente pensa.

Ana Gomes é campeã do mundo de Trampolim Sincronizado

A “almoçarada” de Natal da Junta de Alverca e Sobralinho paga por todos nós

A atleta Ana Gomes, do Clube de Trampolins de Salvaterra de Magos, sagrou-se campeã do mundo em Trampolim Sincronizado durante o Campeonato do Mundo de Trampolins que se realizou em Daytona Beach, nos Estados Unidos da América. A jovem de Alpiarça fez dupla com Mariana Carvalho, na categoria 15/16 anos. DEZEMBRO

Emparcelamento rural preparado pela Agrotejo/ Agromais vai mudar a face da região Ao fim de oito anos de trabalho o projecto de emparcelamento rural de Azinhaga, Golegã e Riachos vai avançar e pode seguir-se o do Pinheiro Grande e Carregueira. A notícia chegou em Dezembro. Os agricultores ficam com parcelas maiores. O número de prédios passa para menos de metade. São milhões de euros de investimento em novas estradas, furos, novos traçados de rede eléctrica e aquisição de terrenos. O presidente da Agromais, Luís Vasconcellos e Souza, deseja que tudo corra bem para benefício dos produtores e da região e não hesita em exigir outra postura da Caixa Agrícola da Chamusca que, em processos anteriores de renovação da agricultura, teve um papel fundamental mas que, fruto da política da actual direcção, não parece estar em condições de ajudar os agricultores.

A Junta de Freguesia de Alverca e Sobralinho ofereceu um almoço de Natal a colaboradores que envolveu 91 pessoas. O convívio realizou-se num restaurante em Palmela e os participantes foram transportados para o local em autocarros de uma empresa com quem a autarquia tem um protocolo. O Tribunal de Contas considera que aquele tipo de gastos é ilegal e diz que não pode constituir despesa pública uma vez que não decorre da prossecução do interesse público.

Resitejo aproveita para reciclagem mais de 90 por cento do lixo O Sistema de Tratamento Mecânico de Resíduos da Resitejo, que começou a funcionar a cem por cento em 2014, revolucionou por completo a gestão e o tratamento dos resíduos produzidos na área do Médio Tejo. Noventa e quatro por cento das 75 mil toneladas de lixo não separado que colocamos nos contentores, passou a ser reutilizado. Há pouco mais de um ano ia tudo para o aterro. Era enterrado por máquinas em alvéolos preparados para o efeito. Agora só seis por cento do lixo que produzimos tem aquele destino. Tudo o resto é reciclado ou reutilizado. A Resitejo (Associação de Gestão e Tratamento dos Lixos do Médio Tejo), situada no Eco-Parque do Relvão, na Carregueira, concelho da Chamusca, emprega 241 pessoas e labora em regime contínuo.

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