Especial Ascensão 2015

Page 1

Desafios da agricultura em debate em Santarém “Agricultura - Novos desafios e enquadramento” é o tema de uma conferência organizada pela Moneris que vai ter lugar no dia 18 de Maio, uma segunda-feira, no Convento de São Francisco, em Santarém, a partir das 15h00. A ministra da Agricultura, Assunção Cristas, vai presidir à sessão de abertura do encontro, logo após as palavras de boas vindas a cargo do CEO da Moneris, Rui Almeida (na foto). Segue-se um painel

de intervenções a cargo de oradores como o director distrital de Finanças, José Isaac de Carvalho, o responsável do Instituto de Financiamento da Agricultura e Pescas (IFAP) Luís Souto Barreiros e o presidente da direcção da Agromais e da Anpromis, Luís Vasconcellos e Souza. Em análise estarão temas como a política fiscal aplicada à actividade agrícola, a internacionalização da agricultura portuguesa e o PDR 2020.

Economia

07 de Maio de 2015

Águas do Ribatejo perde mil clientes devido à crise e perda de população Em dois anos a Águas do Ribatejo perdeu mil clientes. O relatório da empresa dá a entender que a baixa se deveu à perda de população que tem migrado e emigrado para outras paragens 10

Expopele em Alcanena ficou abaixo das expectativas

“Sempre quis ser dono do meu próprio negócio”

Em Alcanena existem algumas das melhores indústrias de curtumes do mundo e é no concelho que estão 55 das 61 empresas nacionais do sector 15

Nersant apresenta central de compras às empresas do Ribatejo

Luís Sousa Bibi empresário, Tomar 9 Três Dimensões

A Nersant - Associação Empresarial da Região de Santarém criou uma central de compras - Gesinov Negócios 15

Century 21 Casas do Gótico vai abrir Mais Perto vai em Almeirim, Torres Novas e Cartaxo

alargar horário e disponibilizar serviços de padaria e charcutaria

Uma mais valia para Alpiarça e um estabelecimento que colabora em iniciativas de solidariedade 12 Empresa da Semana

O médico oftalmologista que não pensa na reforma Devido a ter consultório em quatro localidades, Luís J. Figueiredo só atende por marcação 10 Identidade Profissional

Encontro de integração de novos elementos decorreu nas Portas do Sol em Santarém de forma positiva e muito participada 13

Clínica Médica Dentária Salvadente comemora 28 anos Na Salvadente fazem-se todos os tratamentos dentários, desde reconstituições a remoções ou limpeza dentária 14

Ascensão é na vila da Chamusca

De 9 a 17 de Maio a Chamusca volta a estar em Ascensão. Esta edição é em parte dedicada à tradicional festa da Chamusca e conta com a colaboração dos mais importantes agentes locais ligados à vida cultural e económica da vila 2

Especial Ascensão


2

ESPECIAL ASCENSÃO 2015 07 MAIO 2015

Uma festa que é sempre festa porque é uma festa do povo De 9 a 17 de Maio a Chamusca volta a estar em Ascensão

Quem não for da Chamusca e quiser festa só tem que rumar à vila porque a festa é permanente. Uma espreitadela ao programa, disponibilizado no site da câmara, pode ajudar a organizar a deslocação mas ir sem nada programado também é boa opção. A festa da Ascensão na Chamusca faz-se “de costas ou de barriga” porque é uma festa verdadeiramente popular. Este ano tem um programa de nove dias, de 9 a 17 de Maio, e os sites de meteorologia apenas apresentam dois dias nublados, embora sem chuva. Quarta-feira, dia 15 e Quinta-Feira da Ascensão. O resto dos dias vão ser de bom tempo, com temperaturas entre os 27 graus de máxima e os 18 graus de mínima. O programa, por ser vasto e variado, deu origem a subprogramas. Touros, fados, folclore, tasquinhas, artesanato e a vertente religiosa porque, na Quinta-Feira da Ascensão celebra-se o momento relatado no Novo Testamento em que Jesus Ressuscitado foi elevado ao céu, na presença de onze dos seus apóstolos. Na Chamusca e em muitos outros municípios do Ribatejo, Quinta-Feira de Ascensão é feriado municipal e há a tradição de ir ao campo colher espigas, flores campestres e ramos de oliveira para fazer ramos que se guardam em casa de um ano para o outro para, segundo a tradição, dar sorte, saúde e felicidade aos moradores.


07 MAIO 2015 ESPECIAL

Kumpania Algazarra, Blasted Mechanism e Padre Borga...para a sossega Também há duas noites de fado no palco principal da festa Em termos de animação musical a festa abre com a música endiabrada dos Kumpania Algazarra. Uma música que é uma louca mistura de sons de todo o mundo. É no palco principal, Palco da Ascensão, a partir das 22h00 de dia 9, sábado. O Padre José Luís Borga fecha o ciclo de apresentações naquele palco, no dia 17, domingo. Outros artistas que por ali irão passar são os Blasted Mechanism na quarta-feira, dia 13, Fernando Correia Marques, na Quinta-Feira de Ascensão e David Antunes & Midnight Band com os convidados Simone de Oliveira, Manuel Melo e Nuno Barroso, na sexta-feira, dia 15. Todos os espectáculos mencionados têm início marcado para as 22h00 no cartaz mas é bom lembrar que a pontualidade britânica está num fuso horário diferente da hora portuguesa. O fado passa por vários espaços da festa mas também sobe ao palco principal. Raquel Tavares no sábado, dia 16, e Dora Maria com os convidados Jorge Benvinda dos Virgem Suta e o Mestre da Guitarra Portuguesa, Custódio Castelo. A festa entra todos os dias pela madrugada dentro com a animação do Palco da Juventude que começa a funcionar quando todos os outros locais se começam a esvaziar. Meia-noite, uma, duas, três, quatro horas da matina, que há quem praticamente só durma umas horitas de manhã durante a Ascensão, para já não falar dos que vão directamente da festa para o trabalho.

Tasca do fado e largadas de toiros com folclore pelo meio Há um espaço permanente de fado na Ascensão. É no antigo Centro de Artesanato, que se transforma em Tasca do Fado (de quarta a sábado a partir da meianoite). Por lá vão passar José da Câmara,

foto arquivo O MIRANTE

Maria Amélia Proença, Sara Correia e o grupo português de Flamenco, Rumba e outros cantares, 300 And Friends. Na quarta-feira, dia 13, a partir das 21h00, há uma noite de fados na União Desportiva da Chamusca. A mostra de folclore e etnografia do concelho é na tarde de Quinta-Feira de Ascensão, no Palco Principal. A Manga das Largadas vai funcionar todos os dias menos na quinta-feira.

ASCENSÃO 2015

3

Ir apanhar a espiga e ver os toiros a entrar na vila Quinta-feira de Ascensão começa com o ritual de ir ao campo apanhar a espiga. A partida está marcada para uma hora (07H30) que só motiva madrugadores ou aqueles que estão a regressar a casa depois de uma madrugada de cerveja e convívio, com alguns disparates à mistura. Depois do regresso do campo, pelas 10h00, há uma celebração religiosa. Bênção dos Dons, da Terra e dos Animais, na Igreja matriz da Chamusca. Nessa altura já se começa a juntar muita gente na rua direita de S. Pedro (um traço da Estrada Nacional 118 que atravessa a vila, onde vai ser feita a recriação da entrada tradicional dos toiros que iriam ser lidados na corrida da tarde. Agora os toiros que entram não são os que vão participar na tourada mas alguns que são utilizados neste género de recriações. Enquanto a multidão espera a passagem dos toiros escoltados por campinos e outros cavaleiros que irão ser provocados por entusiastas da festa brava ao longo do percurso até à Praça de Toiros, os grupos musicais, Charanga Rambóia e Xaral’s Dixie, andam de um lado para o outro a tocar para animar o povo. Depois da passagem dos toiros a festa amaina porque é hora de almoço. À tarde há quem vá à tourada e à noite há petiscos nas tasquinhas ou jantar nos restaurantes ou em casa de amigos e depois é tempo de música e convívio.


4

ESPECIAL ASCENSÃO 2015 07 MAIO 2015

Chama-se Victor Moedas e não vai ser cabeça de cartaz nas Festas da Ascensão É o acordeonista mais velho da Chamusca e a música foi sempre a sua casa

Trabalhou toda a vida na construção civil mas o cimento da sua vida foi amassado quando comprou um acordeão velho e aprendeu a tocar. Tira da caixa o seu Ranco António, um acordeão italiano que diz ser uma espécie de Mercedes dos acordeões. Senta-se numa cadeira e olha para a plateia com o ar de simpatia que traz sempre a bailar no rosto. São duas e meia da tarde e o público é sénior. Vão ser duas horas de grande animação no Lar da Santa Casa da Misericórdia do Entroncamento. O artista toca tudo e acompanha todos com mestria e profissionalismo. Sejam os amigos Carlos Nascimento e Fátima Mendes que estão habituados a cantar ou vários espontâneos que saíram dos seus lugares para ir lá à frente mostrar os seus dotes. Victor Moedas fez 68 anos em Março. Nasceu na Chamusca e sempre viveu na Chamusca com excepção do tempo em que cumpriu o, então obrigatório, serviço militar. Recruta em Vila Real de Trás-os-Montes, especialidade em Chaves e dois anos em Moçambique. A música começou cedo. O pai, Custódio Moedas, ensinou-o a tocar gaita de beiços e ele na escola já entretinha os colegas nos intervalos. Depois, aos 16 anos, nos tempos livres, tinha aulas

de solfejo com um músico e acordeonista chamado António Pereira Durão. “Desde miúdo que gostava do acordeão. Quando comecei a ganhar o meu dinheiro fui ter aulas com esse professor que estava na Chamusca. Era eu e outros. Ele ensinou-nos solfejo e nós andávamos a juntar dinheiro para comprar os nossos próprios instrumentos. Infelizmente ele foi-se embora lá da terra antes de começarmos as aulas práticas. Acho que foi para o estrangeiro. Nunca mais o vi”, conta Victor Moedas. O professor foi embora mas ele não tirou da cabeça a ideia de tocar acordeão. Comprou um usado pouco tempo antes de ir para a tropa e foi na tropa que aprendeu a tocar mas sem mestre. Na recruta ainda havia outro acordeonista que sabia mais que ele pois já tocava numa banda. Em Moçambique ficou por sua conta. Não gastou munições ao Estado mas teve um episódio complicado com uma mina que rebentou debaixo de um “Unimog” onde viajava. As sequelas estão a afectá-lo mais agora que antes. Ouve mal do ouvido esquerdo. Criado com os bisavós paternos, Custódio Simão Moedas e Maria das Dores Santos, de quem sempre ouviu dizer que tinha ascendência nobre, acredita que os genes da música talvez tenham vindo em maior quantidade do lado materno. “ A minha mãe, Maria Helena de Jesus Castelão,


07 MAIO 2015 ESPECIAL cantava muito bem. O meu avô materno era percussionista numa banda que existiu na Chamusca, já lá vão setenta anos”. Quando voltou da guerra, voltou ao trabalho na construção civil e iniciou uma carreira paralela como músico. “Regressei em Junho de 1971. Passados poucos dias de cá estar fui fazer um baile na véspera do S. João. Lembro-me que se saltava a fogueira. A partir daí nunca mais parei. Tirei a carteira profissional e aos fins de semana fazia bailes, casamentos, festas, baptizados...tocava em todo o lado. Ganhei o dinheiro suficiente para não ter de emigrar em alturas em que a construção civil andava por baixo”, confessa. Nos primeiros três anos tocava a solo. Depois contratou um baterista para o acompanhar. Mais tarde formou um conjunto com o seu nome. “Victor Moedas mais dois” e “Victor Moedas mais três”. Para não haver baralhações acabou por escolher um nome mais sofisticado para o grupo. “Sadeon”. Sorri e explica: “É o meu nome lido da esquerda para a direita”, explica. Mais tarde comprou equipamento de amplificação para tocar ao ar livre e nunca mais parou. E para que não se pense que tocar é trabalho leve explica que os bailes antigamente chegavam a durar até ao nascer do sol. “Ganhava-se dinheiro mas era

uma vida dura”. Toca tudo o que é preciso tocar. Gosta de música popular e nos últimos anos tem sido solicitado para tocar com músicos de fado, guitarristas e violas. Também acompanha fadistas a solo quando é preciso. Só uma vez se atreveu a compor. Foi em parceria com Manuel da Silva Santos. Fizeram, na década de 70, o hino do Grupo de Forcados Amadores da Chamusca, que ajudou a fundar. Quem fez a letra foi a poetisa chamusquense Maria Manuel Cid. O hino foi apresentado na Quinta-Feira de Ascensão de 1985. Sobre a sua passagem pelos forcados diz que foi discreta. “Sou fundador do grupo mas nunca arrisquei pegar um touro. Tinha medo. Eu era uma espécie de figurante”. Em criança ia com o pai à corrida de Quinta-Feira de Ascensão. E continuou a ir. A festa da Ascensão é a sua festa. Nunca subiu ao palco principal mas tocou em muitos outros pequenos palcos e continua a tocar. Do que também se orgulha é de ajudar os outros com a sua música. Já tocou e continua a tocar gratuitamente em colectividades, associações, festas de solidariedade. E também deu a mão a muitos músicos jovens da terra. Ensinando-os e cedendo-lhes equipamento de som, por exemplo. “Há uns que me agradecem. Há outros que já não se lembram ou fazem

que já não se lembram mas o que conta para mim é saber que fiz tudo o que pude pela minha terra”, declara. O primeiro acordeão vendeu-o para comprar outro. Actualmente tem quatro. Não se cansa de elogiar o instrumento. “O acordeão toca tudo. Para mim é um instrumento completo. O piano também toca tudo mas não é portátil”, defende. Gosta de tocar com bons músicos porque, diz, os músicos limitados o limitam. “Com os melhores podemos mostrar o que valemos. Os outros nem sabem ouvir o que estamos a fazer”, defende. Quanto ao futuro diz que sente que o acordeão é um instrumento com futuro. “Há muita gente jovem a aprender e muitos deles têm futuro”. O filho, Bruno Moedas, estudou música e licenciou-se. É militar e toca na orquestra. Primeiro-sargento, diz o pai com orgulho. “E continua a estudar. Está a acabar psicologia e já anda a pensar noutro curso. Acho que nasceu para estudar”, diz. A seguir acrescenta: “Acho que faz bem!”. O ano passado Victor Moedas perdeu duas pessoas muito importantes. Primeiro a acordeonista Eugénia Lima e uns meses depois a mãe. “Eram da mesma idade. Faleceram aos 88 anos”, diz, enquanto a tristeza lhe passa pelos olhos e o queixo descai um pouco, na direcção da camisa preta que veste.

ASCENSÃO 2015

5


6

ESPECIAL ASCENSÃO 2015 07 MAIO 2015

Poizo do Bezouro na Chamusca até ceias serve durante a Ascensão Fernando Santos passou da farmácia para a restauração e avia “remédios” para tristezas

A Couve a Soco e a Carne à Pinéu são a marca da casa onde tudo remete para a festa brava. Bandarilhas de chocos ou de porco, Ferro da Casa, Chicuelina de Bacalhau, Bife à Campino... é só pedir. Na fachada do restaurante, do lado direito, pintada de azul em azulejos brancos está uma quadra. “Poiso do besouro castiço/De paredes engalanadas/Onde tudo é alusivo/A dias de grandes touradas”. Do lado esquerdo

a ementa numa caixa de madeira envidraçada anuncia os pratos mais famosos da casa, como a Couve a Soco com Bacalhau Assado e a Carne à Pinéu, a par de outros com nomes alusivos à festa brava. “Bandarilhas de

chocos, Bandarilhas de Porco, Ferro da Casa, Chicuelina de Bacalhau e Bife à Campino”. Estamos no centro da Chamusca, na travessa Dr. Félix Pereira. Os actuais proprietários da Adega Típica, Fernando Santos e a sua esposa, Ana Maria, eram técnicos de farmácia. Agora servem outros remédios para reconfortar estômagos e almas e proporcionar bem estar geral aos clientes. É Fernando Santos que fala com o jornalista. Ana Maria assim que chegou foi para a cozinha. Para o seu território. Os anos passam mas a decoração da sala principal não muda. Tudo o que tenha a ver com toiros e touradas está lá. Objectos, cartazes, fotografias... Durante a festa da Ascensão a clientela é três ou quatro vezes mais do que no resto do ano. Tem que ser posta a funcionar em permanência uma segunda sala. Almoços, jantares e ceias. Não há mãos a medir. Fernando e a esposa não vão ter tempo de espreitar a festa. Nem entradas, nem largadas, nem touradas, nem espectáculos. O filho, Filipe Santos, Engenheiro Zootécnico numa empresa do concelho de Almeirim, tira férias nesta altura mas não é para ver a festa. Junta-se aos pais e é de manhã até de madrugada sempre a trabalhar. A filha, Sofia, Engenheira Agro-Alimentar, casada com o presidente da câmara, também era uma grande ajuda, mas agora tem o tempo todo ocupado com uma cliente muito especial, a Matilde, nascida a 12 de Março. Quando tinha a farmácia, Fernando Santos era frequentador habitual do Poizo do Bezouro. E nos jantares da União, colecti-

vidade da qual foi dirigente, era ele quem tratava habitualmente da cozinha. Não está arrependido por passar a reforma no restaurante. Sente-se que gosta do que faz e que o faz com gosto. Com tanto gosto que nem se importa de passar o dia do 64º aniversário, terça-feira, dia 11, a tratar dos clientes em vez de tirar tempo para si. “Se ninguém me dissesse nada se calhar nem me lembrava que fazia anos”, diz. Gosta de todos os pratos que estão na ementa mas confessa que o seu preferido não está lá. “Gosto muito de cozido à portuguesa. De vez em quando fazemos porque temos dois pratos diários fora da ementa fixa”, explica. A carta de vinhos está reduzida aos vinhos do Ribatejo, a dois do Alentejo e aos verdes. A decisão foi tomada por causa dos clientes que, na maior parte dos casos preferem o vinho da casa que é da zona de Alpiarça. O aumento do IVA da restauração para 23% não reduziu o número de clientes mas fez aumentar a quantidade de sopa que é feita. “Há casais que pedem duas sopas e uma dose para os dois”, conta Fernando Santos. Nascido e criado na Chamusca, Fernando Santos sempre gostou de frequentar a festa da Ascensão. Gosta de ver os toiros mas nunca se meteu em confusões taurinas. A esposa é de Santarém e também aprecia o ambiente taurino. O Poizo do Bezouro não tem dia de descanso. A solução alternativa encontrada foi a redução do serviço em alguns dias da semana. A Adega Típica não serve jantares aos domingos, segundas e terças. Uma vez de quinze em quinze dias ou de três em três semanas, principalmente nos meses de Inverno, são organizadas noites de fados no restaurante. “De início fazíamos mais vezes mas os custos com os artistas obrigavam-nos a subir os preços e perdíamos clientes. Não compensava”, explica.


07 MAIO 2015 ESPECIAL

A comida “robusta” do restaurante O Corticeiro e a história de vida do chefe Luís Vieira Começou por estar atrás de um balcão com dois anos de idade na taberna dos pais Aprendeu a cozinhar com a mãe. Esteve oito anos emigrado na Suíça com a esposa Isabel Margarida mas nunca provou comida daquelas bandas. Os seus clientes regulares são pessoas de trabalho e muito alimento. A ementa é feita a pensar neles. Cozido à portuguesa, feijoada, pernil, queixadas de porco, entrecosto grelhado, grão com bacalhau e ensopado de borrego

O

restaurante fica na estrada norte da Chamusca, do lado da Golegã, no nº 10 da Avenida Jesuíno Magano. Chama-se O Corticeiro e é conhecido de gente de muito trabalho e de muito alimento. A ementa não é copiada da “Nouvelle Cuisine” nem de qualquer programa tipo Master Chef ou similar. Ali quem manda na cozinha é Luís Vieira, natural da Chamusca de onde saiu durante oito anos para ir à Suíça, mais a esposa Isabel Margarida, ganhar dinheiro suficiente para montar o negócio. Os pratos

são robustos e honram a chamada cozinha mediterrânica. A comida do Chefe Luís Vieira, que além de chefe é gerente, barista, patrão, empregado e tudo o mais que lhe calhe em sorte, é comida caseira, aprendida com a mãe, que cozinhava na taberna que a família tinha na vila. O prato mais famoso é servido aos sábados. O famoso cozido à portuguesa, variante O Corticeiro. Outros manjares que fazem as delícias dos clientes são feijoada, pernil, queixadas de porco, entrecosto

grelhado, grão com bacalhau e ensopado de borrego. Para cada dia há uma alternativa. No dia em que O MIRANTE lá foi eram joaquinzinhos. A sala é de pé alto. Tem quadros de azulejos com cenas da retirada da cortiça dos sobreiros. Há sempre sopa para quem gosta de sopa. Pratos típicos da Chamusca como a Couve a Soco com bacalhau assado só por encomenda. Os vinhos são do Ribatejo. O vinho da casa é de Alcanhões ou de Alpiarça. Há sempre sopa. Os produtos hortícolas são fornecidos por produtores locais. Normalmente O Corticeiro só serve almoços. Jantares só para grupos e por encomenda. Durante a Ascensão o sistema mantém-se e a ementa também. O centro da vila onde se desenrolam os espectáculos fica a pouco mais de um quilómetro. Mesmo assim, na Quinta-feira da Ascensão aparece sempre mais gente. Os clientes regulares pegam ao trabalho cedo e por isso almoçam

ASCENSÃO 2015

7

A comida do Chefe Luís Vieira, que além de chefe é gerente, barista, patrão, empregado e tudo o mais que lhe calhe em sorte, é comida caseira, aprendida com a mãe, que cozinhava na taberna que a família tinha na vila. O prato mais famoso é servido aos sábados cedo. Geralmente chegam por volta do meio dia. São camionistas, pedreiros, carpinteiros. A maior parte é de fora do concelho. Luís Vieira e a esposa vieram da Suíça em 1999. Enquanto lá estiveram não provaram comida local. Cozinhavam comida portuguesa. Só assim conseguiram aguentar. “O vinho era do Cartaxo. As sardinhas eram de Peniche. Claro que comprávamos carne e cerveja mas pouco mais”, diz. Acrescenta que por ele tinha continuado emigrado porque pelo menos havia trabalho e dinheiro mas as saudades da esposa falaram mais alto. O filho de Luís Vieira tirou hotelaria e trabalha em Fátima. Já avisou o patrão que faz o 13 de Maio mas que o dia seguinte, Quinta-feira da Ascensão, vai passá-lo com os pais e os amigos na Chamusca. O filho é cozinheiro em Fátima. Chama-se Nuno Miguel, tem 25 anos e o pai bem o avisou que se fosse para hotelaria ia para uma prisão sem estar preso. Como todos os filhos, também ele não ligou ao pai e foi estudar hotelaria. “Ele deve ter pensado que eu estava a brincar mas por enquanto está contente. E eu também estou contente, até porque ele e a mulher resolveram que este Natal nos vão dar um neto como prenda”, conta. Adepto da festa brava e do convívio com os amigos, Luís Vieira poucas vezes vai ao centro da vila durante a festa da Ascensão. “Há 16 anos que não vejo a entrada de toiros de Quinta-feira. À hora que ela acontece estou no restaurante a atender os primeiros clientes”, explica.


8

ESPECIAL ASCENSÃO 2015 07 MAIO 2015

A Taverna do Areal fica junto ao local de onde saem os toiros na 5ª feira de Ascensão Polvo à lagareiro, enguias, fataça e sável também são bons pratos para aficionados

Qualidade. O prato de enguias e as sobremesas caseiras deste restaurante são famosas

Muitos pratos de peixe num restaurante farto como são os restaurantes da Chamusca. António Maia e Ana Paula recebem de coração aberto e mesmo com a festa à porta só têm olhos para os pedidos dos clientes. O polvo à lagareiro, o arroz de polvo, a fataça frita e o sável são as especialidades da Taverna do Areal. O restaurante fica à entrada da Chamusca, do lado do campo, junto à rotunda onde está a escultura de homenagem ao trabalhador agrícola da autoria de Armando Ferreira e bem perto do local de onde, na Quinta-feira de Ascensão saem os toiros que, escoltados por campinos e desafiados pelos populares, atravessarão a vila até à Praça de Toiros. O estabelecimento não passa despercebido a quem chega ou sai da vila pelas estradas nacionais 118 e 368-1. Por trás do toldo branco com as desvanecidas letras identificativas, está o café onde muitos clientes habituais passam as tardes ou os condutores param para beber a bica e seguir viagem. Mais adiante, está o acolhedor restaurante com lotação para 130 clientes. O espaço assemelha-se a uma tertúlia decorada com cartéis de corridas de touros, fotografias de touradas, cavaleiros e forcados. Nas paredes, saltam também à vista mantas ribatejanas e alentejanas e antigos adereços agrícolas que os trabalhadores utilizavam na lavoura dos campos plantados no coração do Ribatejo. António Maia e a esposa, Ana Paula, abri-

ram o estabelecimento a 10 de Outubro de 1999, depois de regressarem da Suíça onde estiveram emigrados onze anos, trabalhando no sector da restauração. Agora António é o cozinheiro e a esposa faz o serviço de sala. “Há quem diga que aqui se comem as melhores enguias das redondezas”, diz António Maia em louvor da sua mestria. As sobremesas também têm fama. O doce da casa com biscoitos embebidos em licor e café, creme de leite condensado e raspa de chocolate é o que tem mais saída. O pudim de ovos, a mousse de chocolate caseira, a serradura, o manjar do abade, o bolo de bolacha e caramelo e a salada de fruta completam a oferta. Na ementa há queijo seco, azeitonas, patés, pão e sopa do dia para entradas. Para petiscar, não falta a farinheira frita, chouriço assado, tripas, moelas ou carne de picapau. O peixe é na maioria apanhado por pescadores directamente do rio Tejo. No que toca às carnes, a especialidade é o bife à casa com molho de café, os lombinhos de porco à Areal (com molho de natas e cogumelos), molho de mostarda ou orégãos. O prato do dia com bebida e café fica a sete euros. A segunda-feira é o dia de descanso. “Durante a festa da Ascensão é sempre a bombar”, explica o proprietário. É junto à Taverna do Areal que todos se concentram para a entrada dos toiros. Os que não ousam enfrentar o toiro por ali ficam a bebericar qualquer coisa ou a comer um petisco enquanto assistem ao espectáculo. “No fim da largada parecem abelhas a entrar no cortiço”, garante António. A maioria dos clientes tem reserva feita. Na cozinha, os pratos com mais saída já estão prontos a ir para a mesa. O ensopado de borrego, lombo do cachaço no forno, bacalhau à lagareiro e o polvo são os mais requisitados na Quinta-Feira da Ascensão. Natural de Ulme, António é um fervoroso aficionado. Adora cavalos e touros mas nunca arriscou participar nas largadas. “Levar tareia por querer não é para mim”, explica a sorrir. Apesar de gostar da Ascensão e de todo o ambiente que se vive nesses dias não consegue participar na festa por estar sempre a trabalhar

.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.