Retrospectiva do Ano / Personalidades do Ano 2016

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SUPLEMENTO RETROSPECTIVA DO ANO 2016 - Este suplemento faz parte integrante da edição nº 1288 deste jornal e não pode ser vendido separadamente

SEMANÁRIO REGIONAL

Jornalistas de O MIRANTE elegem Personalidades do Ano 2016 A presidenta da Fundação José Saramago, Pilar del Río, foi escolhida pela redacção de O MIRANTE como Personalidade do Ano. A ela juntaram-se outras personalidades representativas de diversos sectores de actividade: Associação de Futebol de Santarém, Conservatório de Música de Santarém, Centro de Reabilitação e Integração Torrejano (CRIT), Pedro Ribeiro, presidente da Câmara de Almeirim, Cegada Grupo de Teatro, Associação Recreativa e Cultural Amigos de Samora, Inês Henriques, Forcados Amadores de Tomar, António Cruz Costa e Anabela Freitas, presidente da Câmara de Tomar. Rui Vitória, treinador do Sport Lisboa e Benfica, foi escolhido como Personalidade do Ano Nacional. Odete Silva, deputada e presidente da direcção dos Bombeiros da Póvoa de Santa Iria, é Personalidade do Ano a Título Póstumo. A cerimónia realiza-se no Centro Cultural do Cartaxo no dia 2 de Março às 18 horas.


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Personalidade do Ano Vida

Empresário António Cruz Costa

“Para mim quem pode trabalhar e não trabalha é um criminoso” É proprietário da Inducol - Indústria de Peleteria Cruz Costa, S.A em Amiais de Cima, Santarém. O seu negócio, com excepção de um período inicial em que vendia fruta da família à saída da missa, sempre foram as peles. Mesmo durante o tempo em que cumpriu o Serviço Militar Obrigatório só deixou de fazer negócios quando foi mobilizado para a guerra colonial em Angola. Diz que sem a família e sem os trabalhadores nunca teria chegado ao que chegou. Às vezes pensa parar de trabalhar aos oitenta anos mas pela forma que o diz não acredita que o faça. Ana Isabel Borrego Até quando vai continuar a trabalhar? Estou reformado há 14 anos mas continuo a trabalhar todos os dias. Por vezes penso em parar quando fizer 80 anos mas não fixei nenhuma meta. Enquanto tiver saúde e capacidade vou manter-me ocupado. Faz-me bem ocupar a mente. Não tenho sábados nem domingos mas não me queixo. Gosto muito de trabalhar. Costumo utilizar uma metáfora que sintetiza bem o que penso: Uma pessoa que pode trabalhar e não trabalha é um criminoso porque está a desperdiçar as suas capacidades. Gosto de ensinar aos outros aquilo que sei e que aprendi ao longo da vida e vou continuar a fazê-lo. Como é que se concilia a gestão da empresa com a vida familiar? Só foi fácil por-

Uma grande vontade de ser independente O empresário António Cruz Costa tem uma carreira profissional de quase setenta anos e não pára de trabalhar. Natural de Amiais de Cima, concelho de Santarém, revelou desde muito cedo qualidades de empreendedor e uma grande vontade de ser independente e de organizar a sua própria vida. Aos onze anos de idade acertou com a mãe o seu primeiro negócio. Aos domingos ia na bicicleta com fruta que apanha-

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que tenho uma mulher exemplar ao meu lado que sempre me deu apoio. A minha esposa teve sempre muita paciência para as ausências que a vida empresarial exigiu de mim. Nem sempre fui um pai e marido tão presente quanto gostaria porque a empresa ocupa-me grande parte dos dias mas a minha esposa sempre compreendeu e sempre me apoiou. Tive muita sorte porque se fosse outra mulher, com outra personalidade, teria sido complicado. Às vezes brigamos mas fazemos logo as pazes porque não conseguimos estar zangados um com o outro muito tempo. (risos). A Inducol vai continuar sempre a ser uma empresa familiar? Esse é o objectivo. Os meus filhos nasceram e cresceram na empresa. Já cá trabalham e o neto, que em criança também vinha para aqui com o pai, também. Isto já lhes está no sangue. Acredito que

va nas árvores da propriedade da família e ia vendê-la à saída da missa. Aos 14 anos começou a vender peles de ovelha e foi no ramo dos curtumes que acabou por se impor. Mesmo o Serviço Militar Obrigatório só lhe prejudicou o percurso empresarial quando foi mobilizado para a guerra colonial em Angola. Enquanto a tropa foi nas Caldas da Rainha alugou um armazém naquela localidade, visitava clientes nas horas livres e arranjou dinheiro para tirar a carta e comprar um carro. É dono da Inducol - Indústria de Pelete-

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eles vão fazer um bom trabalho quando eu já cá não estiver. Nada é seguro, a vida está em constante mudança e tudo pode mudar de um momento para o outro, mas eles estão preparados e sabem tudo o que é necessário para não deixar a empresa morrer. Nunca pensou transferir a empresa e a sua vida dos Amiais de Cima para uma cidade? Gosto de viver na aldeia e visitar grandes cidades europeias e do mundo. Gosto de conhecer outras formas de vida. Estamos sempre a aprender e a evoluir enquanto seres humanos. Quando vou à América fico a olhar para ver se posso implementar na minha terra o que eles têm lá mas chego sempre à conclusão que temos tudo. Vivemos num pequeno paraíso e nem sempre nos damos conta disso. Já se rendeu às novas tecnologias? Já aprendi a desbloquear o telemóvel porque agora é mais fácil mas não me adaptei ao computador. Cheguei a ter um na secretária mas foi por pouco tempo. Faz-me impressão estar um dia inteiro em frente ao computador. Faz-me confusão não saber e ter que ir ver ao computador quanto é que um cliente me deve, por exemplo. As novas tecnologias são boas mas põem as pessoas burras como portas. (risos). Estamos muito dependentes do computador e não acho isso saudável. Porque é que não gosta que digam de

ria Cruz Costa, S.A, localizada na sua terra natal e a partir dali negoceia nos quatro cantos do mundo. Fornece ou já forneceu materiais para marcas como Chanel, Prada, Longchamp, Hérmes ou Louis Vuitton. Diz que o sucesso se deve a todos os que trabalham consigo e ao apoio da família, nomeadamente da esposa, Maria Trindade e dos seus dois filhos. António Cruz Costa só estudou até à quarta classe. Os tempos eram outros, a família precisava da ajuda dele e o pai comprou-lhe uma enxada para ir trabalhar para o campo. O empresário lembra-se que a

si que é um “self made man”. Alguém que atingiu o sucesso partindo do nada? Afinal isso é verdade. Nunca gostei de ouvir os empresários gabarem-se de terem começado do nada, num tom de vitimização. Muitas vezes os chamados ‘empresários de sucesso’, e as suas respectivas empresas, andam muito nas bocas da comunicação social e são extremamente elogiadas mas desaparecem ao fim de dez anos de actividade. As empresas são muito vulneráveis. Hoje estão bem mas amanhã, por uma série de circunstâncias várias, podem cair e morrer. Pode acontecer a qualquer empresário, mesmo os que têm muito sucesso neste momento. Acredito muito nos empresários que trabalham bem e que são empreendedores sem fazerem alarde disso. A minha filosofia empresarial é ser discreto e estar na sombra. Não gosta de se auto-elogiar nem de receber grandes elogios. Nós não somos ninguém e muito menos bons empresários se não forem os nossos funcionários. Eles são o elemento mais importante de qualquer empresa. Se eu puser na cabeça que o mais importante sou eu não tenho a mínima dúvida que a empresa descamba. Nunca teria conseguido alcançar tudo o que tenho hoje em dia sem os meus funcionários e a minha família. Como se sobrevive às crises? Com muito trabalho, persistência e não baixando a cabeça. Acreditando sempre que vamos conseguir ultrapassar os problemas. O segredo do nosso sucesso deve-se à confiança que os nossos clientes têm em nós. Se o cliente tem confiança compra. Se não tem confiança não compra e vai procurar outro fornecedor que lhe dê essa garantia de qualidade. Temos que tratar bem os nossos clientes e para isso temos que lhe fornecer produtos com o máximo de qualidade. A qualidade é o mais importante e para a ter há que trabalhar com dedicação todos os dias. Houve algum momento em que teve medo que a sua empresa fechasse portas? O facto de ter passado pela vida militar deu-me uma grande formação de carácter e força interior. Os meus pais já me tinham dado essa boa formação mas na vida militar esses valores foram cimentados. Aprendi a respeitar os superiores e os camaradas. Aprendi a nunca deixar ninguém à minha espera. Aprendi muita coisa importante que apliquei durante toda a minha vida profissional. E também aprendi a perder o medo. A confiar em mim e a arriscar. Depois de ter estado cerca de três anos na Guerra do Ultramar e ser obrigado a

área da matemática era bastante cultivada lá em casa porque a família fazia contas à vida todos os dias para conseguir ter dinheiro até ao fim do mês. Outra coisa que não existia na altura da sua juventude eram as comunicações como hoje as conhecemos. Aos vinte anos, quando foi mobilizado para Angola esteve muito tempo impedido de falar com a família. Diz que quando voltou nem tinha a certeza se a namorada ainda estava à espera dele. Apesar de tudo teve sorte. Maria Trindade esperou por ele e estão casados até hoje.


ir para locais onde sabia que podia morrer a qualquer momento foi muito importante. Se consegui ultrapassar aqueles momentos terríveis consigo enfrentar tudo. O facto de ter estado tão perto da morte deu-me uma grande humildade que me deixou capaz de enfrentar qualquer adversidade. Quais são os vossos principais clientes? Trabalhamos com a Chanel, Prada, Longchamp, Hérmes. Também trabalhamos com várias empresas americanas como por exemplo a Louis Vuitton. Mas não se pense que foi fácil conquistarmos estes clientes porque não foi. É muito difícil lá entrar e ter acesso às pessoas certas. Como conseguiram chegar a estes clientes? Com muito trabalho, empenho, luta e sem nunca desistir. Tínhamos outros clientes e essas grandes marcas viram a nossa qualidade nos produtos que lhes fornecíamos. E também a encontravam nas feiras internacionais de todo o mundo onde costumamos ir. Eles decidiram experimentar e gostaram. É o reconhecimento do nosso trabalho mas todos os nossos clientes são importantes, desde os mais pequenos aos maiores. As peles já tiveram melhores épocas. As peles perdem terreno sempre que há uma crise financeira. As peles são um produto de luxo. Além disso, temos as questões ecológicas o que tem sido terrível para o negócio. Quem compra muitas peles são clientes de países árabes, onde há muito dinheiro mas é um tipo de venda que também depende muito do clima, quando faz frio compra-se mais peles do que quando está calor. Por isso é que costumo dizer que o trabalho, que nos dá prazer, às vezes também nos dá sofrimento porque nem sempre é fácil vendermos toda a produção. Temos que nos precaver para aguentar os meses menos bons do negócio.

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Personalidade do Ano

Política Masculino

Pedro Ribeiro

“A minha política é de proximidade, seriedade e sustentabilidade” Era muito jovem quando decidiu ter actividade política. Partilhou a vontade com o pai e foi o ex-presidente da Câmara de Almeirim, Joaquim Sousa Gomes, que apadrinhou a sua entrada no universo socialista. Diz que nunca teve o sonho de ser deputado mas de ser autarca. Foi eleito presidente da Câmara Municipal de Almeirim em 2013 e diz que sentiu o peso da responsabilidade. António Palmeiro Qual foi a sensação da primeira vez que se sentou na cadeira de presidente? Lembro-me do dia, da tomada de posse mas não me recordo bem da sensação em concreto, porque foi um dia de emoções. Mas senti o peso da responsabilidade. Já fazia parte da vereação mas saber que a partir daquele momento seria o responsável máximo foi algo que me deixou a pensar. Este era mesmo um sonho de criança ou as coisas foram acontecendo? Foram acontecendo. Entrei na vida política num momento em que era primeiro-ministro

Autarca por vocação que não quer depender da política A cumprir o seu primeiro mandato como presidente da Câmara Municipal de Almeirim, Pedro Ribeiro tem afastado quaisquer dúvidas sobre a sua capacidade para o exercício do cargo. Equilibrou as contas municipais e liquidou todas as dívidas a fornecedores; tem investido na área da educação; tem recuperado estradas municipais; adquiriu equipamento para responder a necessidades a nível de obras públicas para as quais não há fundos comunitários, criou incentivos para a fixação de médicos e implementou uma programação cultural que, além de apoiar as iniciativas locais, tem apresentado espectáculos de qualidade no ci-

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Aníbal Cavaco Silva, que teve uma maioria absolutíssima em 1991. Na altura havia uma série de questões importantes para a juventude e tinha uma visão diferente daquela que era a do então Governo. Depois surgiu a hipótese de entrar para a assembleia municipal, quando tinha amigos que sonhavam ter lugares em Lisboa, como deputados por exemplo. Nunca tive essa ambição e sempre gostei muito mais do trabalho autárquico, apesar de ter tido convites para trabalhar no Parlamento Europeu e até era muito interessante em termos financeiros. Agora que chegou ao ponto máximo da política autárquica já pode estar dis-

neteatro da cidade, com destaque para o Festival Guitarra d’Alma que se afirmou já anualmente e tem vindo a afirmar-se como o grande festival da guitarra portuguesa a nível do país. Pedro Miguel César Ribeiro, 43 anos feitos no dia 14 de Fevereiro. Nesse Dia dos Namorados, em que os restaurantes da cidade se enchem de casais enamorados, o autarca socialista já ficou sem comemorar o aniversário porque não tinha mesa nos restaurantes. Não é casado de papel passado porque entende que a vida que faz não seria diferente se tivesse uma certidão de casamento. Pai de um filho de 16 meses. Um nascimento que marca o início das suas funções de presidente de câmara, com que sonhava desde miúdo, e para o qual começou a trabalhar em 1991, quando entrou para a JS. Tem um percurso de luta e de trabalho

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ponível para outros cargos. Não sei o que vai acontecer mas não me vejo a ter outras funções, enquanto puder vou ser autarca. Entrou para o PS porque queria ser político? Porque já sonhava ser presidente de câmara? Na altura já fazia parte da Juventude Socialista e revia-me nos ideais do PS, entendendo que eram os melhores para uma sociedade mais justa. Tive a sorte na altura aparecer muita gente que impulsionou a Juventude Socialista e fazia-se muita coisa. Ninguém consegue andar 25 anos nesta vida por obrigação. Na vida autárquica ou se vai aos sítios e está-se com as pessoas porque se gosta ou não se aguenta mais de um ano. Foi o ex-presidente da câmara que lhe abriu as portas da política? Em jovem frequentava o salão de jogos Grupo 4 onde me encontrava com muitos dos meus amigos, que eram da JSD. Irritava-me não poder fazer nada e falei com o meu pai se conhecia alguém que me pudesse levar para a JS. O meu pai falou então com o presidente Sousa

que começou na colagem de cartazes para as campanhas eleitorais. Ao fim de dois anos já tinha um lugar na assembleia municipal. Em 1997 entrou para vereador. No mandato seguinte passou a vereador a tempo inteiro. Chegou a vice-presidente da câmara e durante esse tempo só esteve um ano afastado da câmara por causa de um desentendimento com a chefe de gabinete do então presidente e seu padrinho político. Esteve um ano como adjunto do governador civil de Santarém e regressou à autarquia para serenar os ânimos do desentendimento entre o presidente Sousa Gomes e o então vice-presidente, Francisco Maurício, salvando a honra do convento, porque apesar de tudo era em Pedro Ribeiro que Sousa Gomes mais confiava. Pedro Ribeiro assume que não precisa da política para viver mas é a vida autárquica que lhe enche as medidas, assumin-

Gomes (já falecido) que me mandou apresentar na sede do partido. É mesmo necessário manter ligação com colectividades e ser mesmo presidente dos bombeiros? Tive várias ligações a colectividades que fui deixando quando iniciei o mandato de presidente da câmara. A relação com os bombeiros é especial e sempre consegui manter uma separação de poderes. Comecei por ser dirigente dos bombeiros numa altura em que não estava na câmara e criou-se uma ligação. Que motivações tem para prosseguir a actividade política? Principalmente o contacto com as pessoas. Por isso faço atendimento aos munícipes duas vezes por semana. Mas também poder intervir no nosso concelho ao nível das obras e das acções. A motivação é fazer coisas que são importantes para o concelho onde nasci. No fim do percurso como presidente está a ver-se num lugar mais calmo como o de presidente da assembleia municipal? Continuo a ser funcionário da Autoridade Tributária (Finanças) e em última análise é para onde regresso. Mas tendo em conta a idade que tenho e se fizer os três mandatos que a lei permite, ainda serei alguém com uma idade relativamente nova na altura, não me choca continuar a participar em listas autárquicas para outras funções. Quais são as suas principais frustrações diárias? A burocracia e o não conseguir que as coisas andem ao ritmo que gostaria. Continua a haver uma série de gente em Lisboa que não faz a mínima ideia das leis que faz e do que complica a vida aos autarcas. Neste momento assiste-se a uma vontade de toda a gente em produzir legislação para deixar uma marca como político mas tem influência negativa na consolidação de processos. Sabe-se que faz tudo para que as pessoas não tenham uma má imagem de si. Isso é uma questão de gestão eleitoralista? É uma gestão de proximidade. Sou um pouco perfeccionista e se fazemos bem o nosso trabalho é normal que as pessoas não digam mal. Aprendi muitas coisas com o anterior presidente e lembro-me que, quando entrei na câmara, aos 23 anos, como vereador, ele disse-me: Se achas que vens mudar

do que é funcionário das Finanças para onde regressará quando acabar o seu tempo na política. É católico, teimoso e tem a mania do perfecionismo. Tem primado por mostrar uma boa imagem da política. Tem o mesmo carro há 16 anos, continua a frequentar os mesmos locais onde sempre foi antes de ser presidente e em 2005, quando fez o interregno nas funções autárquicas, tinha direito a receber 18 mil euros de subsídio de reintegração mas não pediu o dinheiro. Pedro Ribeiro, eleito com maioria absoluta, é também presidente da Comunidade Intermunicipal da Lezíria do Tejo, que agrega 11 municípios. É um autarca que não se esconde e que diz o que tem a dizer quando é preciso garantir os direitos das populações, como aconteceu recentemente quando exigiu melhores condições no Hospital Distrital de Santarém.


o mundo, desengana-te que ele não se muda de um dia para o outro. Faz o teu trabalho e se for bem feito as pessoas vão reconhecê-lo. Mas também há uma tendência natural de as pessoas dizerem mal do que não conhecem e por isso tento explicar tudo o que se vai fazendo. Passa o tempo a ver obras, a visitar instituições, a ir a praticamente todas as iniciativas. É um presidente sem vida pessoal? Dedico muito do meu tempo à actividade política. Habituei-me a um determinado ritmo mas consigo ter momentos fora da vida política e, felizmente, ainda consigo conviver com os amigos. Ainda vou conseguindo convidar amigos para almoçar ou jantar em minha casa e até cozinho a refeição. Almoço ou janto muitas vezes em casa dos meus pais e confesso que se não fosse assim passava muito tempo sem os ver. O ser pai pouco tempo após ser presidente mudou a sua forma de agir ou de pensar? Ser pai aumenta a responsabilidade. E ter um filho dá-me uma perspetiva diferente da vida, relativizando algumas situações e problemas. Porque é que não tem motorista, assessor de imprensa e anda quase sempre sozinho? Os motoristas da câmara estão afectos a outros serviços que são mais necessários, por exemplo no transporte de crianças. Às vezes até me fazia falta um motorista porque chego a fazer milhares de quilómetros por mês mas não tenho sentido essa necessidade. Já me aconteceu algumas vezes ir com alguém ao lado e passar por motorista da pessoa quando vou a reuniões. Quanto à comunicação sou muito chato nisso e prefiro ser eu a fazer. O que é que mudou no concelho sabendo-se que as principais, obras foram feitas pelo seu antecessor. Estamos a fazer

investimentos, alguns complementares. Depois dos centros escolares era necessário recuperar as escolas mais antigas. Estamos a fazer investimentos com a perspectiva de serem sustentáveis, como a ponte em Benfica do Ribatejo que tem um efeito importante na agricultura. Recuperámos uma forma de estar de presença nas iniciativas e de total abertura. Também demos um carácter diferente à cultura, com mais ofertas. O que estamos a fazer é com uma estratégia de futuro. Que tipo de política acha que está a fazer? Uma política de proximidade, séria e sustentável, para que quem venha a seguir não tenha que se preocupar com questões financeiras e com obras que não tenham utilidade. Quando fechar o ciclo de presidente o que é que gostava mais de ter concretizado? Almeirim é conhecida em áreas como o vinho, a gastronomia, a agricultura e temos a fábrica da maior empresa agroalimentar. Gostaria de conseguir criar condições para as centenas de milhares de pessoas que procuram a nossa gastronomia tenham mais condições e possam por exemplo a dormir por cá. Esta aposta é importante para a economia local. Outra área fundamental é a educação e queremos ter cada vez mais qualidade nesta área através de

mudanças estratégicas. Diz-se que é teimoso e que tenta fazer prevalecer sempre a sua ideia. É verdade que sou teimoso mas também chato e tenho um feitio difícil. São características que vou tentando dominar reconhecendo que tenho esses defeitos. Mas isso não é problema porque para não me aturarem as pessoas esforçam-se para entenderem comigo. É mais aliciante ser presidente de câmara ou presidente da Comunidade Intermunicipal da Lezíria do Tejo? O trabalho da comunidade intermunicipal não exige uma permanência de proximidade mas dá uma visão global de uma região. Os dois cargos complementam-se. Um presidente de câmara que é presidente da comunidade intermunicipal fica com uma visão vasta do território, o que também é importante para as decisões que toma no seu concelho.

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Personalidade do Ano

Política Feminino

Anabela Freitas - Presidente da Câmara Municipal de Tomar

“Não sou pessoa de me queixar e quando é para trabalhar não ando com rodeios” Anabela Freitas nasceu em Tomar e estudou em Tomar. Deixou os estudos para começar a trabalhar, aos 19 anos, no Instituto de Emprego e Formação Profissional. Cuidou de uma irmã mais nova sete anos que vive actualmente no Canadá. Desde cedo que se habituou a ser independente e considera-se uma pessoa pragmática. Viveu sempre em Tomar mesmo quando trabalhou como Técnica de Emprego em Salvaterra de Magos e Torres Novas ou quando foi deputada à Assembleia da República. Alberto Bastos Foi deputada antes de ser presidente de câmara. Gostaria de voltar um dia à Assembleia da República? Sinceramente não. Aprendi imenso e entre o poder legislativo e o poder executivo é este último que me agrada mais. Aqui posso ver as coisas a serem feitas. O que ganhou até agora em termos pessoais e políticos com esta experiência como presidente da câmara? Estou sempre a aprender. Aprendi imenso. Quando nos candidatamos temos uma percepção das coisas mas depois nem tudo é como imaginávamos. A câmara foi gerida durante dezasseis anos pelo PSD. Teve muitas resistências quando começou o seu mandato? Cla-

Há muito mais para ver em Tomar do que o Convento de Cristo Anabela Freitas (PS) é a primeira mulher a exercer o cargo de presidente da Câmara Municipal de Tomar. Eleita em 2013, numa altura em que as câmaras em geral passavam por dificuldades económicas, não tendo capacidade para lançar grandes obras, optou por investir os parcos recursos no que sentia fazer mais falta aos cidadãos, nomeadamente o arranjo de estradas e pequenas obras nas freguesias. Ao mesmo tempo foi

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ro que tive. Estamos perto de Fátima mas não houve milagres. Encontrei resistências e ainda há resistências. As pessoas já por si são resistentes às mudanças e é pior nestas circunstâncias. Qual foi o problema mais complicado? É normal que quem mande sejam os políticos porque é para isso que são eleitos. Os políticos ouvem os técnicos mas são eles que decidem. Os técnicos executam, independentemente de serem dirigentes ou não. Aqui havia uma certa inversão desses papéis e mesmo hoje em dia, passados três anos, ainda há resistências. As coisas não se mudam de um dia para o outro. Ter técnicos que não se identificam com quem decide é complicado. Pessoalmente defendo as câmaras mono colores (de uma só cor política). Quem ganha as

desenvolvendo trabalho na área do turismo e na promoção de valores históricos e culturais de forma a aumentar a auto-estima da população. Soube aproveitar apoios para dar maior visibilidade à Sinagoga, como forma de atrair mais visitantes à cidade, que parecia ter apenas o Convento de Cristo e vai requalificar o monumento e implementar uma outra gestão do mesmo. Conjugou esforços com outras entidades para potenciar a ligação da cidade ao universo Templário e deu grande atenção à Festa dos Tabuleiros, conseguindo que a mesma recebesse o troféu de Melhor Evento Público realizado

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eleições escolhe a sua equipa. Claro que isso, se vier a ser feito, implica dar mais poderes de fiscalização às assembleia municipais. E quem chega a uma câmara tem que ter também dirigentes que se identifiquem com as orientações dadas. Não posso estar aqui a mandar fazer determinada coisa e ter dirigentes a emperrarem em vez de resolverem. A nível de confiança política por vezes também surgem problemas. No seu caso teve pelo menos dois. O seu ex-chefe de gabinete e o vereador Rui Serrano que chegou a ser vice-presidente? Em campanha prometi trabalho, trabalho e trabalho. E para se levar este barco a bom porto é preciso muito trabalho. E, portanto, ou as pessoas estão alinhadas com o objectivo ou então quem perde não é a equipa mas o concelho. E por isso houve que resolver esses problemas. As pessoas foram eleitas ou nomeadas para se focarem nos problemas e para os resolverem e não para andarem a passear e a passar falsas imagens. Esta equipa está cá para trabalhar. Não se lhe ouviu uma queixa pública durante esses dois processos mas não deve ter sido fácil. Perdi a minha mãe muito cedo e tive que tratar de mim e da minha

em Portugal. Avançou para alguns dossiers difíceis como o do saneamento básico, uma vez que cerca de quarenta por cento do concelho não tem cobertura, incluindo zonas da própria cidade e conseguiu negociar fundos comunitários para a cidade num valor superior a 5 milhões de euros, que lhe vão permitir fazer a requalificação da Avenida Nuno Álvares Pereira; da Levada; da Várzea Grande, e do Flecheiro, uma zona junto ao rio Nabão há muitos anos ocupada por famílias de etnia cigana. A gerir uma câmara sem maioria absoluta, Anabela Freitas teve capacidade pa-

irmã mais nova. Deixei os estudos para ir trabalhar. Não sou de me queixar. Na vida podemos sentar-nos e dizer que o mundo está todo contra nós ou tentar encontrar soluções para os problemas, custe o que custar. Eu nestas coisas não ando com rodeios. Tenho sentimentos mas considero-me combativa. Gosto de trabalhar. Não sente que, por vezes, as coisas andam muito devagar? É verdade. Em matéria autárquica, por vezes, as coisas andam demasiado devagar para o meu gosto. Estamos num espartilho legislativo que não permite avançar mais rapidamente. Para quem assiste às reuniões de câmara, e não são só as de Tomar, são muitas vezes, exasperantes. Passamos horas a discutir muita coisa e por vezes o essencial não é discutido. Isso é verdade. Mas pronto, faz parte da política. Não vale a pena lamentar-me. Não é coisa que se resolva porque há mais pessoas envolvidas e estamos em democracia. E eu já sabia que era assim. A CDU tem um programa diferente do PS em Tomar mas o seu entendimento com o vereador Bruno Graça tem funcionado. Em que é que assenta a vossa relação? Sobretudo no respeito mútuo. Trabalhamos nas áreas em que temos pontos em comum ou que podemos encontrar soluções em comum e naquilo em que não temos pontos em comum não há afrontamentos. Não podemos estar de acordo em tudo e sabemos isso muito bem. O vereador Bruno Graça é muito pragmático. Se temos um problema para resolver focamo-nos na resolução. E daí as coisas terem funcionado bem. Percebo que daqui até às eleições terá de haver uma demarcação maior mas isso é óbvio e não levo a mal que assim seja. Em Outubro de 2012 o PS, que então estava na oposição, chumbou o recurso ao PAEL (Programa de Apoio à Economia Local) por parte do anterior presidente de câmara de maioria PSD. Tinha-lhe dado jeito ter entrado na câmara com muito menos dívida a fornecedores. Poderia ter encontrado uma situação mais aliviada mas o que é certo é que as grandes dívidas não estavam na relação apresentada à câmara e à assembleia mu-

ra negociar com o vereador da CDU um entendimento mínimo que lhe garantisse alguma estabilidade e mostrou firmeza política quando teve que enfrentar problemas com elementos da sua equipa. Despediu o chefe de gabinete quando percebeu que o mesmo lhe estava a tentar sabotar o trabalho, pondo também fim à relação afectiva que mantinha com ele há anos e conseguiu provocar a demissão do vereador do seu partido que a tinha deixado de apoiar. Apesar da situação conturbada e da pressão de uma oposição aguerrida agiu sempre sem tibiezas nem hesitações mostrando uma invulgar resiliência e recusando fazer-se passar por vítima.


nicipal. Não foi um erro de estratégia do PS se é o que está a sugerir. O que havia eram dívidas de 5, 50 euros e coisas assim, o que revela que houve má gestão. Dívidas dessas vão-se pagando. Não são precisos planos especiais. A Câmara de Tomar é uma das câmaras a nível nacional que demora mais tempo a pagar a fornecedores e o atraso tem vindo a aumentar. Por causa de dois processos que estão em tribunal de dívidas elevadas que foram registadas como dívidas a curto prazo. São acções que totalizam mais de um milhão de euros. Enquanto não houver decisão judicial o problema vai manter-se e até agravar-se devido aos critérios utilizados para medir o tempo médio de pagamento. Na verdade o nosso prazo médio de pagamento a fornecedores, sem essas duas dívidas, é de 50 dias. A recuperação da Sinagoga e a sua promoção é uma das tarefas em que mais se tem empenhado. O que foi feito e o que irá ser feito para dar a merecida visibilidade a esse importante património? De há três anos para cá temos participado na Feira de Turismo de Telavive para divulgar a nossa Sinagoga e temos tido resultados. Este ano, para além dos contactos com um conjunto de operadores turísticos que trabalham exclusivamente com sinagogas e produtos judaicos, o senhor embaixador de Portugal em Israel também organizou na sua residência um encontro com empresários americanos e israelitas que se mostraram interessados em investir em Tomar na área do imobiliário, nomeadamente na aquisição de imóveis para reabilitação. A Câmara de Tomar tem aprovada uma candidatura a fundos comunitários para obras de reabilitação da Sinagoga. Mas havia também um apoio da Noruega. O Estado norueguês tem um programa de apoio a um conjunto de países da União Europeia na área cultural e patrimonial. Foi-nos atribuída uma verba de 135 mil euros que vai ser utilizada na parte imaterial e na área ligada ao espaço museológico que vamos implementar. Quando vão ser feitas as obras? Comprometemo-nos com os operadores turísticos a só começarmos após a Páscoa Judaica (este ano coincide com a Páscoa Católica). A Sinagoga esteve durante anos a funcionar num sistema improvisado. Era um antigo funcionário municipal que tinha a chave do monumento e que o abria e fechava e editava materiais promocionais. Era o senhor Vaz que já faleceu e a esposa, a dona Teresa, deu continuidade. Os meus antecessores deveriam ter feito algo mais. A Sinagoga é do Estado. Está na posse da Direcção Geral do Tesouro e Finanças. Há três anos que estou a tentar que passe para a posse do município, o que faz todo o sentido. Se isso se concretizar a gestão vai ser da câmara em conjunto com a Associação dos Amigos da Sinagoga. Se não se concretizar a gestão vai ser tripartida. Município, Associação e Direcção Geral do Tesouro e Finanças. Quan-

do tivermos as obras terminadas temos que implementar o modelo de gestão. O concelho de Tomar também é daqueles a nível nacional que menos cobertura de saneamento tem. Tem uma candidatura aprovada de cerca de dois milhões de euros mas é daquelas obras que não ficam visíveis. São obras necessárias e temos que as fazer. A taxa de cobertura de saneamento no concelho é de 58 por cento. Quase dentro da cidade, em Palhavã, as obras vão ser feitas pela câmara, sem apoio comunitário. É uma empreitada na ordem dos 600 mil euros. Do Portugal 2020 tem aprovadas candidaturas de mais de cinco milhões de euros no total. A Levada, a Várzea Grande, o Flecheiro... A Levada era um projecto do anterior executivo mas que estava parado. Tivemos que andar a contra-relógio para não perdermos o financiamento. Ainda é QREN (Fundos do Quadro Comunitário anterior). E no Quadro Comunitário actual? No Portugal 2020 o que está pronto para começar brevemente, para além da Sinagoga, é a reabilitação do quartel dos bombeiros e a recuperação de um conjunto de casas no centro histórico que são propriedade do município. Vamos também intervir no Aqueduto dos Pegões para estabilização de quatro pilares

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e limpeza sobretudo do conjunto mais visível. Temos também aprovada a requalificação da Avenida Nuno Álvares e vamos construir um centro de apoio à família que será para trabalhar com as famílias de etnia cigana. Continuamos com a reabilitação das casas nos nossos bairros sociais e vamos fazer a requalificação da Várzea Grande. Falou das famílias de etnia cigana. O Flecheiro não é só um problema de obras. É muito mais que isso. São vários problemas. Está a ser revisto o plano de pormenor e nessa altura é que se vai dizer o que vai ser feito ali, após a retirada da etnia cigana. É um espaço junto ao rio e tem que ser devolvido para usufruto da população. Todos os seus antecessores disseram o mesmo... Nenhum dos meus antecessores tirou de lá uma única família cigana e eu já tirei algumas e daqui até à obra vou tirar as outras. Isso é bom de dizer... Toda a integração das pessoas de etnia cigana tem que ser acompanhada de um plano social. Não adianta estarmos a recuperar casas e a dizer “tomem lá, está aqui uma casa, vão para lá”. Não. Os direitos e deveres têm que ser muito bem delineados, muito bem explicados e não podemos ter coração mole quando algum dos deveres não seja cumprido. Muitos casos ali no Flecheiro são casos de polícia.

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Personalidade do Ano

Associativismo

Associação Recreativa e Cultural Amigos de Samora - ARCAS

“As pessoas envolvem-se muito nas actividades mas pouco nas questões directivas” Dora Coutinho é a presidente da comissão administrativa, formada na sua maioria por mulheres, que gere a ARCAS – Associação Recreativa e Cultural Amigos de Samora. A colectividade é actualmente responsável pelos maiores eventos organizados naquela cidade do concelho de Benavente, incluindo as festas da cidade, o carnaval e o festival de gastronomia. Filipe Matias Porque motivo se começou a interessar pelo associativismo? Sou sócia da ARCAS desde a sua fundação mas desde 2008 que tenho passado por várias direcções e, mais tarde, pelas comissões administrativas que têm mantido a ARCAS de porta aberta. Esta comissão já dura há algum tempo e foi-se mantendo porque não quisemos deixar a colectividade num vazio. É um grande gozo organizar os eventos que organizamos todos os anos, onde se destaca a festa da cidade, o carnaval e o festival gastronómico. Eles ajudam a promover tanto a freguesia de Samora Correia como o concelho de Benavente. É um orgulho enorme sentir que estamos a promover a nossa cultura e as nossas tradições. A promover o espírito ribatejano.

Uma associação nascida para a rádio A Associação Recreativa e Cultural Amigos de Samora (ARCAS) representa da melhor forma o espírito empreendedor da jovem cidade de Samora Correia que consegue ser moderna sem nunca rejeitar o seu passado e as suas tradições. O corso carnavalesco de Samora Correia, reconhecido como o maior e mais animado da região do ribatejo, é a iniciativa com maior projecção da colectividade, que nos últimos anos tem sido presidida por Dora Coutinho. A ARCAS – Associação Recreativa e

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São praticamente só mulheres na comissão. Têm um olhar diferente para os eventos que os homens não conseguiam ter? Apesar de serem mulheres a comandar os destinos da ARCAS neste momento há muitos e muitos homens que colaboram voluntariamente nos eventos. Sozinhas não conseguiríamos montar tudo porque requer imenso trabalho e felizmente a comunidade tem-nos apoiado muito. Os homens e as mulheres complementam-se. Uns sem os outros não fazem as coisas tão bem. Mas admito que nós mulheres temos outro sentido para estas questões da gastronomia, por exemplo. As mulheres também conseguem colocar em prática várias coisas ao mesmo tempo e são bastante dinâmicas. Qual o principal valor que vos une? A amizade. Temos uma enorme amizade

Cultural Amigos de Samora, de Samora Correia, concelho de Benavente, foi fundada a 10 de Abril de 1986 e é uma associação sem fins lucrativos vocacionada para a defesa dos costumes e tradições samorenses. Fundada com o objectivo de concorrer a uma frequência de rádio na altura da criação das rádios locais, legalizando a Rádio Iris, estação emissora da localidade, evoluiu para o figurino actual graças à mobilização que gerou na comunidade e apostou na defesa dos costumes e tradições de Samora Correia. Além de noites de fados, festas de passagem de ano e festas camperas, a ARCAS

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umas pelas outras e somos todas de Samora Correia. Temos uma grande vontade de fazer um pouco mais pela nossa terra e oferecer as nossas actividades à comunidade. A grande maioria das mulheres que está nesta equipa já extinguiu os limites do mandato. Temos pena de não podermos fazer mais. Mas a verdade é que às vezes, por muita vontade que haja, não se consegue fazer mais. Fizemos o que achámos que seria o melhor para a comunidade. Saímos de cabeça erguida e com trabalho feito. Ficam alguns sonhos por concretizar mas sem verba é impossível. Gostávamos, por exemplo, de dar uma nova dinâmica à festa de Samora Correia; de ter outros artistas com maior pujança nacional e de fazer outras actividades na parte taurina. Mas sem dinheiro é complicado. Sentem que a comunidade reconhece o vosso esforço? Acreditamos que sim. Até porque o maior orgulho que levamos daqui é termos feito parte desta associação e termos feito com que as pessoas viessem até Samora Correia. Sentirmos o orgulho de ver as pessoas a gostar das nossas festas e a ajudar com isso a colocar Samora Correia no mapa.

é conhecida sobretudo por três grandes eventos que, anualmente, atraem milhares de pessoas àquela cidade. São eles o carnaval de Samora, o festival de gastronomia da lezíria ribatejana (em Julho) e as festas em honra de Nossa Senhora da Oliveira e Nossa Senhora de Guadalupe. Em 1992 a ARCAS foi reconhecida como instituição particular de solidariedade social e adquiriu o título de pessoa colectiva de utilidade pública. Em 2004, depois de estar em funcionamento há cinco anos, foi formalmente inaugurada a nova sede da associação com uma guarda de honra de campinos a cavalo e a fanfarra dos bombeiros voluntários. A sede, situa-

Qual é o evento que acham mais difícil de organizar? Seguramente as festas de Samora Correia. Têm uma complexidade muito grande devido às diferentes situações que vão acontecendo ao longo da festa. Temos as entradas de toiros, picarias, corridas, a parte popular da festa com os ranchos e os concertos da Praça da República, os desfiles etnográficos e a noite da sardinha assada. É muito complexa e são cinco dias de loucura para quem organiza. Não se pára nesses dias e ficamos todos completamente esgotados. É a iniciativa que dá mais trabalho e implica maior sentido de responsabilidade mas é uma festa que vai ao encontro do que é o nosso passado, a nossa história e ao mesmo tempo permite vislumbrar o futuro. A ARCAS está há muitos anos com uma comissão administrativa. Os sócios não querem saber da colectividade? É curioso porque na realidade as pessoas envolvem-se muito nas actividades mas muito pouco nas questões directivas. Podem não querer dar a cara e liderar mas quando se trata de ajudar nos eventos não falta gente. Somos uma associação que nunca pára o ano inteiro. Se parassem... Seria uma grande perda para Samora e para a região. A associação dá uma enorme dinâmica à freguesia, não tenho dúvidas disso. Temos um movimento associativo bastante forte no concelho, não apenas nesta parte cultural como também na parte desportiva. É importante envolvermos as associações porque ao fazermos isso estamos a envolver as pessoas. Quando se trabalha com espírito abnegado e com amor à causa as coisas saem melhor. É importante envolver as pessoas nestas actividades. O concelho de Benavente é uma terra de gente muito unida. Sentem isso no dia-a-dia da colectividade? Sim, Samora Correia e Benavente têm esta tradição do associativismo; das pessoas quererem fazer algo pela sua terra e dinamizá-la e isso é muito importante. Há um sentimento de partilha e envolvência pelas colectividades. O associativismo organizado como há trinta ou quarenta anos deixou de existir? Não. Mas as pessoas às vezes têm al-

da num pavilhão, alberga todo o espólio do carnaval e das festas, dispõe de vários gabinetes, sala de reuniões e um bar com cozinha, sendo um imóvel avaliado em mais de 250 mil euros e construído por iniciativa de um conjunto de voluntários e com o apoio da câmara municipal e da população local. A actual comissão administrativa é composta sobretudo por mulheres com Teodora Coutinho na liderança. Mas integram o grupo também Emília Marujo, Esmeralda José, Liliana Parreirinha, Lucinda Martins, Rogério Justino, Vítor Parreirinha, Gabriel Tavares e Mário Almeida.


gum medo da responsabilidade. A mensagem que deixo é para não terem medo de participar activamente também na gestão. Cada um de nós deve dar um pouco à comunidade e o associativismo é o melhor veículo para podermos dar um pouco de nós à sociedade. Se cada um abdicar um bocadinho do seu tempo disponível para dar à sociedade as coisas melhoram. E se há tanta gente a trabalhar nas iniciativas também pode haver nos órgãos directivos. As festas não podem ser feitas por profissionais? Se o associativismo fosse pago não era associativismo. Não faz qualquer sentido ser pago. Perde-se o espírito de entreajuda e entrega. Hoje em dia as pessoas vivem uma vida mais atarefada e por vezes pode tornar-se difícil no fim de um dia de trabalho ainda vir despender tempo com as associações mas às vezes se

deixarmos um pouco o sofá durante a noite e ao fim-de-semana e viermos encontrar um grupo de amigos para fazer algo em prol da terra isso é uma excelente motivação. Fazer parte das associações e dar um pouco de nós à nossa terra é fantástico. Onde encontram motivação para abdicarem da vida pessoal em prol da comunidade? O grupo de trabalho tem de ser bom, tem de ser um grupo de pessoas que se dêem bem e sejam amigas porque vão estar muito tempo juntas. É o nosso caso. A motivação é chegarmos no final do trabalho, quando estamos cansados e exaustos, e vermos o resultado final. Vermos Samora Correia cheia de gente numa terça de carnaval ou nas noites da sardinha assada. Vermos as pessoas a aderirem aos eventos é a maior motivação que podemos ter. Sentir que estão a gostar e que há alegria.

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Personalidade do Ano

Nacional

Rui Vitória Treinador do Sport Lisboa e Benfica

“Trabalho para ser melhor porque o que fiz no passado já está desactualizado” A vida de Rui Vitória mudou muito desde que passou a treinar o Sport Lisboa e Benfica mas a sua postura enquanto homem não se alterou. Diz que é uma pessoa muito feliz porque fez três coisas que sempre sonhou fazer: jogar futebol como profissional, tirar o curso superior de Educação Física e ser treinador. Tem os pés assentes na terra e sabe que o sucesso não dura sempre. Diz que mais que treinador é um ser humano e é também dessa forma que olha para os jogadores com quem trabalha. António Palmeiro a gestão do jogo e de ter sido capitão de Começou a jogar futebol aos nove anos com que motivação? Acompanhava o meu pai a assistir aos jogos do Alverca e ganhei muito cedo o bichinho do futebol. Jogava à bola na rua e depois fui jogar para as escolinhas. Era um jogador que foi crescendo na zona central do campo. Tinha uma posição de médio centro e gostava de organizar o jogo e fazer passes longos, que me dava muito prazer. Era mais um jogador tecnicista do que outra coisa. Foi nessa altura que começou a ter o sonho de ser treinador? O facto de desde muito cedo jogar na zona central do campo, de ter alguma capacidade de controlar

Um treinador de bem com a vida O MIRANTE elegeu Rui Vitória como Personalidade do Ano - Nacional devido ao seu percurso de sucesso como treinador de futebol mas o prémio é também atribuído pelas suas qualidades humanas e pelo facto de nunca ter alterado a sua postura apesar dos inúmeros êxitos profissionais e do relevo mediático que obteve. Esta é a segunda vez que O MIRANTE atribui uma distinção ao treinador natural de Alverca. Rui Vitória recebeu o Prémio Personalidade do Ano na Área do Desporto/2007. Nascido a 16 de Abril de 1970 o actual

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equipa deu-me uma visão. Depois fiz uma licenciatura em Educação Física. Não tinha pensado tirar outro curso? Sou uma pessoa muito feliz porque fiz três coisas que queria fazer: jogar futebol, tirar o curso superior de Educação Física e ser treinador. Foi o que idealizei e consegui. O facto de ter estes objectivos facilitou-lhe o percurso ou teve que trabalhar muito para conseguir? Nunca fui de grandes sonhos. Fui tendo sonhos que sabia que se podiam realizar no imediato. Nunca tive um objectivo a longo prazo. As coisas foram acontecendo de forma natural e esse é um grande trunfo que acabei por ter. Tem sido assim ao longo da vida. Uma vez

treinador do Sport Lisboa e Benfica é licenciado em Educação Física. Foi jogador até aos 32 anos, altura em que começou a trabalhar como treinador, contratado pela União Desportiva Vilafranquense. Depois treinou o Centro Desportivo de Fátima, o Futebol Clube Paços de Ferreira, o Vitória Sport Clube de Guimarães e agora o Sport Lisboa e Benfica, clube onde já tinha estado a treinar os juniores de 2004 a 2006. No primeiro, como treinador da equipa sénior do clube da Luz, ganhou o campeonato. Depois de ter promovido o Fátima à Segunda Liga, Rui Vitória levou o Paços de Ferreira à final da Taça da Liga, que perdeu para o Benfica. Ganharia uma Ta-

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disse que um dia ainda gostava de ouvir o hino da liga dos campeões. Um amigo, por brincadeira, mandou-me o hino para o telemóvel. Agora já ouvi várias vezes o hino enquanto treinador. Foi treinador dos juniores do Benfica. O que é mais fácil: treinar os mais novos ou os seniores? Estive dois anos nas camadas jovens por opção, porque precisava de passar por essa realidade, com dois objectivos: saber o que pensavam os jovens numa fase de transição para seniores e ter o conhecimento de um clube grande e como é que os jogadores do clube pensavam. Foi uma experiência quase em forma de formação mas a minha paixão foi sempre o futebol sénior. Como é que conseguiu em cerca de quinze anos de carreira como treinador nunca ter sido despedido? Estou muito bem com a vida e trabalho diariamente para cada dia ser melhor e tenho a consciência de uma coisa que me parece importante. Quando se faz uma coisa muito bem feita essa coisa não se pode repetir durante muitos anos. Pelo menos no futebol. O que fiz no ano passado já está desactualiza-

ça de Portugal ao Benfica como treinador do Vitória de Guimarães. Nessa altura o jornal italiano “Gazzetta dello Sport” apelidou-o de “treinador mágico”. Depois de ser contratado pelo Benfica começou a perceber que a sua vida não ia ser a mesma e lembra que chegou a ter vizinhos a baterem-lhe à porta de casa às nove da noite só para tirarem uma fotografia com ele. É um homem fiel às raízes e aos valores e por isso manteve sempre a sua residência no concelho de Vila Franca de Xira, até há pouco tempo, por necessidade de estar mais perto do Seixal, onde se situa o centro de estágios do clube. Nos poucos tempos livres que tem gosta de estar com a família e de desanuviar

do e essa é a minha visão permanente. Eu e a minha equipa técnica tentamos sempre arranjar novas soluções e esse é um trunfo. Não me aconteceu ser despedido a meio de uma época mas pode acontecer um dia porque a vida de treinador é mesmo assim. Não sou diferente dos outros nesse aspecto. Costuma dizer que às vezes é preciso meter uma pedra no coração. É esse o segredo para se ser respeitado na profissão? Às vezes podemos começar a ficar condicionados pela emoção. Todos temos afectos mas nesta profissão temos de ser muito racionais. Quantas vezes gosto muito do jogador e sei que merece estar na equipa mas tenho de decidir em função do que é melhor para a equipa e não do que eu gosto. Percebeu isso quando começou a treinar o Vilafranquense e muitos dos jogadores tinham sido seus colegas? Quando treinava o Vilafranquense fui jogar com o Porto para a Taça de Portugal. Tinha que optar entre dois guarda-redes e um deles era e é o padrinho da minha filha. Era fácil ir atrás das emoções mas acabei por decidir por quem achava que me dava garantias e ficou o meu compadre Paulo Xavier de fora. A sua esposa é professora de educação física. Ela dá-lhe opiniões técnicas ou opiniões sobre os jogos? Falamos até achar que podemos falar. Ninguém conhece a nossa profissão no nosso contexto como nós e, às vezes, as sensibilidades das outras pessoas não são iguais às nossas. O treinador entende uma série de coisas que a maioria das pessoas não entende e às vezes conversar sobre determinadas matérias pode perturbar-nos. Passou por vários clubes e continuou com residência em Alverca até entrar no Benfica. É uma pessoa muito ligada às raízes? Era o meu ponto de abrigo. Agora mudei para mais próximo do Seixal para estar perto do local de trabalho. Mas costumo ir a Alverca, onde tenho família. Quando treinou o Centro Desportivo de Fátima foi alguma vez ao Santuário pedir protecção? Gostava de lá ir mas não com esse intuito. O facto de treinar o Fátima fez também com que não estivesse excessivamente agarrado a essa ideia. Estando lá parece que não havia tanta necessi-

estando sempre atento ao mundo que o rodeia. Gosta de ver uma telenovela ou um filme, descontraidamente mas quando lê escolhe livros técnicos de desporto. Foi professor de Educação Física e chegou a tocar bateria mas apenas como forma de descarregar energias. É casado com Susana Barata com quem tem três filhos, duas meninas e um menino. Rui Vitória é também pai de uma jovem de 17 anos de um primeiro casamento. Gosta de olhar para o futuro sem prazo nem obsessão mas com a ideia de que há sempre coisas para fazer melhor e para conquistar. O seu objectivo é trabalhar dia-a-dia com alegria, sentindo-se uma pessoa de bem com a vida.


dade de ir ao santuário mas ia quando entendia e calhava. Sou católico não praticante e tenho fé. Qual é a qualidade necessária para se ser um treinador de sucesso? Há vários modelos de treinador. Não há um perfil tipo. Temos exemplos de pessoas bem-sucedidas na profissão com formas diferentes de ser, de estar e de treinar. O que me parece determinante é não perder a noção de que atrás de um treinador ou de um jogador está sempre um ser humano. O treinador, na minha perspectiva, não pode lidar com os jogadores apenas como profissionais mas também como seres humanos. Tem que ter sempre presente que está a lidar com homens. Tem de estar também inerente a postura, a capacidade de gerir recursos humanos e estar permanentemente actualizado em relação ao futebol e aos treinos. Não temos obrigatoriamente de ser especialistas em determinada área mas temos de ter conhecimentos alargados de várias áreas. Por vezes sente-se mais psicólogo do que treinador? O treinador em determinados momentos tem de ser um psicólogo, em outros um pai, mas também um chefe, um treinador, um professor. A primeira pessoa que tem intervenção psicológica com os jogadores é o treinador. Mesmo estando calado está a intervir sobre os jogadores. Tem uma imagem de pessoa reservada mas dizem que é bom conversador e que já animou muitas viagens de grupo. Quando é para trabalhar é para trabalhar, quando é para brincar é para brincar. Quem souber isto em qualquer equipa está no caminho certo. Somos pessoas, temos emoções, sentimentos e temos de saber utilizá-los. Como é que conseguiu lidar com a situação dos seus pais falecerem num aci-

dente de viação antes do primeiro jogo como treinador? Foi um momento muito difícil mas muito importante na minha vida particular e profissional. Arranjei mecanismos de ultrapassar aquele momento trágico e que me reforçou enquanto homem e profissional. E têm sido um grande suporte na minha carreira porque eles estão sempre presentes. Adoro falar dos meus pais. Na generalidade passa uma imagem de pessoa calma. Nunca se irritou a sério? Ou consegue controlar isso? Quando tenho de me irritar, irrito-me. Tenho a preocupação de me controlar e na maior parte das vezes consigo-o mas quando tenho de extravasar as minhas emoções não tenho problemas em fazê-lo. Só não o faço em público. Quem está num clube tem uma responsabilidade acrescida e a imagem que se passa para o exterior é fundamental. Muita gente se revê no treinador do seu clube e tenho sempre o cuidado de passar imagens positivas, de valores, de posturas correctas. Faz parte também da minha maneira de ser. O que é que o mediatismo que agora tem mudou na sua vida? Não vou às compras e não é porque não gostasse de ir. Faço a minha vida normal mas sem estar tão exposto. Faço alguma selecção dos sítios onde vou com a família. Mas tenho de dar graças a Deus pela profissão que tenho e pelo clube onde estou. O mediatismo faz parte da profissão e ainda bem que acontece, porque é sinal que estou a ser reconhecido e houve evolução na minha carreira. É preferível isso a estar num sítio em que não seja conhecido. O que acha de o facto de a região não ter equipas na primeira divisão? É uma pena mas é uma consequência do fenómeno social que temos. A vida ficou difícil, pa-

ra os clubes também. Numa equipa de craques há jogadores que são mais importantes que o treinador? Estamos num mundo em que deixou de fazer sentido que o treinador é o chefe e tem os seus empregados. O Cristiano Ronaldo, por exemplo, é um jogador estratosférico. Temos que aceitar as coisas como são e há jogadores com um peso enorme nas sociedades, nas economias, nos clubes… temos de saber posicionarmo-nos e assim as coisas ficam perfeitamente claras. Considera-se o melhor treinador português? Não! Considero-me um treinador que tem tido uma evolução permanente e que está sempre atento e a querer melhorar. A minha preocupação é ser melhor no dia-a-dia e estar bem comigo próprio, ser uma referência. A minha ambição e diária é ser sempre melhor que ontem.

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Personalidade do Ano

Pilar del Río Presidenta da Fundação José Saramago

“A região ainda não interiorizou que tem o único Nobel português da literatura” Pilar del Río é a Pilar del Río que os portugueses conhecem há trinta anos. A sevilhana rebelde e frontal que casou com José Saramago mas que nunca foi “a mulher” de José Saramago e que agora também não é “a viúva” de José Saramago mas apenas a Pilar. Traduziu livros de Saramago para espanhol mas quando fala com portugueses fala espanhol e quer que os seus interlocutores falem português. Assim, explica, nem ela destrói a língua de Saramago nem nós assassinamos a língua de Cervantes. É a presidenta da Fundação José Saramago e se por distracção ou hábito a tratamos por a presidente, é bem capaz de nos chamar “néscios”...sem contemplações! Alberto Bastos Há a Casa dos Bicos em Lisboa, a Casa de Lanzarote e há um pólo meio esquecido da Fundação José Saramago, situado na sua terra natal, a aldeia da Azinhaga. Imagino que pense algumas vezes sobre o que fazer para dar vida àquele lugar. Não só penso como estamos a trabalhar para isso. Vamos passar aquele pequeno pólo para uma antiga escola (junto ao jardim), que foi recuperada pela junta de freguesia. É um lugar onde há espaço para um auditório onde podem ser feitas conferências, exposições e muito mais. Tem uma grande sala para biblioteca, mais duas peque-

A mulher que não esquece que tem uma rua com o seu nome na aldeia d’ “As Pequenas Memórias” A jornalista e tradutora, Pilar del Río, presidenta do Conselho de Administração da Fundação José Saramago, foi escolhida por O MIRANTE como a Personalidade do Ano 2016. A distinção de O MIRANTE é uma forma de salientar a sua total dedicação à divulgação da obra do único No-

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nas salas. Tudo tem estado a ser preparado. Tem sido difícil? Nós tínhamos um projecto que era muito mais ambicioso, que era passar a biblioteca da aldeia para o novo pólo da Fundação mas isso não foi possível concretizar. Vai ser uma coisa distinta do que estava inicialmente sonhado mas vai ficar também muitíssimo bem. O que queremos é que o pólo da Azinhaga da Fundação José Saramago tenha muita actividade. Que tenha iniciativas. Que lá vão estudantes, visitantes...muitos visitantes. Quando a sede estiver definitiva, como nós queremos, vai ser um pólo de atracção grande para visitantes. A percepção que se tem é que o maior

bel da literatura portuguesa, com quem foi casada, e o facto de continuar a trabalhar para que o pólo da Fundação instalado na terra natal do escritor, a Azinhaga, concelho da Golegã, ganhe a importância que merece ter como centro cultural da região. Nascida em Espanha, Pilar del Río tem nacionalidade portuguesa desde 2010, ano do falecimento de Saramago e tem o seu nome gravado numa rua de Azinhaga e no coração das gentes dali que não esquecem o seu papel na reaproximação do escritor às suas raízes. Em 2006, José Saramago aceitou que o seu livro “As pequenas Memórias” tives-

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problema do pólo de Azinhaga em termos de atractividade é o facto da sede da Fundação José Saramago ser tão perto, em Lisboa. Mesmo assim há grupos que vão a Azinhaga e quando as condições forem melhores, irão muitos mais. Quando houver um lugar para conviver, fazer conferências, exposições e outras iniciativas, como vai haver na escola, estamos certos que as pessoas irão. O que Saramago escreveu sobre a sua infância dava para criar, por exemplo, um roteiro na zona da Azinhaga? Está já feito. Há um roteiro e agora vão ser colocadas as placas nos locais. Foi feita uma selecção de textos a figurar em cada uma delas. Do Paul do Boquilobo até à aldeia. A escola; a casa dos avós; a oficina do sapateiro...está tudo feito. Quando vai ser inaugurada a nova sede do pólo de Azinhaga da Fundação e a Rota Saramago? O presidente da Junta de Freguesia de Azinhaga, Vítor Guia, está a trabalhar no projecto. Houve alguns problemas que já foram ultrapassados e vai ser inaugurado muito em breve. (Dia 8 de Abril, sábado, de acordo com informação dada a O MIRANTE pelo presidente da junta). Esta ocasião de encontro, propiciada

se lançamento nacional na sua terra, influenciado por Pilar del Río e foi também ela que o levou a mudar de ideias sobre a aceitação de lhe ser feita uma estátua em vida, para colocar em frente à sua casa memória de Azinhaga, algum tempo depois de ter recusado idêntico pedido feito por outra entidade de outro concelho. Apesar de saber português, tendo traduzido livros de Saramago para espanhol, Pilar del Río opta por falar espanhol com os portugueses porque, explica, não quer “destruir” o nosso idioma. Pelo mesmo motivo pede para os portugueses falarem português com ela. “Penso que com um

por O MIRANTE, está a ser o apoio último que estava a faltar. É um apoio que vai ser muito importante para a consolidação da rota de Saramago no Ribatejo porque não podemos dizer que é somente em Azinhaga. Há outros lugares e essa rota deverá estar sinalizada em toda a região porque as pessoas para irem a Azinhaga têm que saber que em Azinhaga existe algo. Aí já não será a Fundação José Saramago a fazer. Não pretendam que a Fundação faça tudo. Isso deverá ser uma reclamação da pessoas. Deverá ser a região a dizer: nós também temos cá Saramago. E então quando as pessoas virem as indicações da rota Saramago, casa Saramago, Fundação Saramago tenderão a procurar e a ir visitar. Na região não há qualquer iniciativa que aproveite o facto de ali ter nascido o único Nobel português da literatura. A Fundação José Saramago tem sido contactada para participar ou colaborar com alguma iniciativa? Sinto muito mas as pessoas, as entidades da região, ainda não interiorizaram que têm o único Nobel português da literatura. Não temos qualquer petição ou pedido de câmaras municipais, juntas de freguesia, etc...acho que ainda não se deram conta que José Saramago é um valor cultural, moral e económico. Se isso tivesse acontecido já haveria anúncios nas estradas, por exemplo, a dizer: Benvindo. Está entrando na terra de José Saramago. Aqui nasceu o Prémio Nobel. Até nos restaurantes poderia ser utilizado esse factor. Fotografias. Um prato regional José Saramago... Não vai tomar essa iniciativa de... Se é querido, é querido. Eu nunca vou pedir nada. Mas tem tido iniciativas? Eu não peço. Ofereci soluções e algumas delas não foram atendidas. Eram soluções generosas. Dinamizar a Azinhaga, dinamizar a escola, com um projecto, com o meu envolvimento pessoal dentro do possível. Unir esforços. Uma pessoa que vá ler num encontro na biblioteca que é um local onde as pessoas se podem sentar e conversar. Que houvesse outras pessoas a trabalhar nas iniciativas...lamentavelmente não se conseguiu avançar. Na vida de Pilar del Río há alguma

pouco de esforço nos conseguimos entender”, costuma sublinhar. Natural de Sevilha é a mais velha de 15 irmãos tendo sido uma espécie de segunda mãe. Era jornalista quando em 1986 decidiu vir a Lisboa após ter lido O Ano da Morte de Ricardo Reis de José Saramago, para conhecer os locais da cidade descritos no livro. Encontrou-se com o escritor e embora não tenha sido amor à primeira vista foi nessa altura que começou a relação entre os dois. Pilar tinha 36 anos e Saramago 63. Casam dois anos depois e vão viver para Lanzarote em 1993. O resto da história é conhecida.


aldeia? Nasci em Sevilha. Em criança vivi em Granada. Depois voltei a Sevilha. Não há nenhuma Azinhaga na minha vida. A minha mãe sim, era de uma pequena terra chamada Castril. Foi feito um acordo de geminação entre Castril e Azinhaga mas Castril era a terra de minha mãe. Tem uma rua com o seu nome na Azinhaga. O que significa isso para si? Sabe de mais alguma rua a que tenha sido dado o seu nome? Não há mais nenhuma rua com o meu nome. Ninguém mais foi tão “maluco” ao ponto de pôr o meu nome numa rua. Fiquei estupefacta quando decidiram fazer isso! Não sei porque o fizeram. Na altura foi-lhe explicado que era uma forma de lhe agradecerem por ter ajudado a reforçar a ligação de José Saramago à sua terra natal. Gosto dessa ideia e gosto que fique registada porque é verdade. Há muito tempo que ele não ia lá. Ele dizia que não queria ir porque já não conhecia lá ninguém. Era por humildade e nós conspirámos muito para que a apresentação do livro “As Pequenas Memórias” fosse na Azinhaga e ele só me pedia, “Pilar não me faças isso”. Ainda por cima estava doente. Mas foi e o lançamento do livro foi uma festa enorme. Aquele dia, que era também o dia do seu 84º aniversário, foi um dia tremendo, tremendo. As pessoas todas à sua volta e ele, “não me largues por favor. Estão a dobrar-se-me os joelhos”. Foi horrível mas ele aguentou como um herói. Ele era um herói. (Saramago, bastante debilitado, chegou a Azinhaga dia 16 de Novembro de 2006 às 18 horas e depois de múltiplas iniciativas, ainda estava a autografar o livro já passava da meia-noite). Quais as diferenças essenciais entre a maioria dos portugueses e dos espa-

nhóis? Ou será que a globalização e a massificação já acabaram com quase todas as diferenças? Há alguma sobriedade portuguesa que se nota mais mas no fundo os grupos humanos são muito parecidos. As massas quando vitoriam uma equipa de futebol fazem-no da mesma maneira e enlouquecem da mesma maneira e os amigos quando se encontram comportam-se da mesma maneira. Eu não acho diferenças. Nós, seres humanos, somos muito parecidos. Tudo o que queremos é que gostem de nós. Queremos comer, ter a nossa casa, não passar frio ou calor demasiado. Somos iguais. Eu não gosto muito de nacionalidades. Somos pobres diabos todos unidos. Em alguns sítios, para além de jornalista e tradutora, é também apresentada como escritora. O que tem editado? Tenho por aí algumas coisas mas sempre de jornalismo. Alguma vez, quando vivia com José Saramago, pensou em escrever um livro? Houve uma época em que senti a necessidade de responder a um livro de José Saramago com um outro livro e acarinhei essa ideia mas logo me dei conta que não era possível. Encontrar um grande escritor num século é quase milagroso. Encontrar dois escritores numa casa é impossível. Qual era o livro a que gostaria de ter respondido? Gostava de ter respondido a determinadas afirmações que Saramago faz no livro O Ano da Morte de Ricardo Reis. Pensei responder a Ricardo Reis. Mas noutra altura também pensei responder a Flaubert que escreveu Madame Bovary. Pensei um dia que podia escrever algo intitulado: “Sim senhor Flaubert, Madame Bovary é você”. Mas isto são coisas que se dizem e se pensam mas não se fazem.

Nunca mais pensou nisso depois do desaparecimento físico de José Saramago? Não. Um escritor numa geração já é difícil mas dois escritores numa mesma família, não dá. Já saiu todo o espólio de Saramago da Fundação José Saramago? Disse a seguir à assinatura do protocolo com a Biblioteca Nacional: “Antes sabia onde estava tudo. Agora abro as gavetas e estão vazias”. Cumpriu-se uma vontade de Saramago e Portugal ficou mais rico mas para si, como foi? O desconforto mantém-se? A transferência de todo o espólio é um processo que vai durar alguns anos mas é claro que fica um vazio. Mas gostei do discurso de António Costa. Pareceu-me um discurso absolutamente corajoso e inteligente, principalmente quando se referiu à liberdade. José Saramago lutou sempre pela liberdade e a a liberdade de Saramago foi responsável pela doação do espólio. (António Costa disse: “José Saramago pertenceu a uma geração a quem a escrita foi muitas vezes reprimida, a quem o Estado quis calar e censurar, libertar o espólio, doando-o à Biblioteca Nacional, é uma última homenagem à liberdade”) Vai precisar de ir à Biblioteca Nacional de vez em quando para ver o que lhe falta agora nas gavetas? Não vou precisar assim tanto. Tenho isto tudo interiorizado. Antes era normal. Era entrar e encontrar-me com os papéis todos os dias. Era normal, como é normal que um filho conviva com a mãe. De repente, um dia, a mãe morre e o filho sente um vazio. O que vai são papéis. José Saramago era quem me amparava e quem protegia a minha vida. E claro, me sentia protegida, tudo bem. Quando já não está é quando sinto o vazio, claro.

O MIRANTE

Gosta de touradas? Assisti a algumas corridas de touros mas nesta altura da minha vida não gosto que nenhum animal sofra e até sou vegetariana. Prefiro comer alface ou grão a comer filhos de outros animais, de seres vivos. E os seus amigos aficionados? Como se dá com eles? Não tenho só amigos aficionados. Tenho amigos toureiros. António Luís Spartacus foi o ano passado com a sua companheira a minha casa passar uma semana. Tenho muitíssimos amigos toureiros e sabem que eu não compartilho o gosto pelas corridas mas somos amigos na mesma. Claro que quando me falam que estão cultivando um campo para uma ganadaria eu digo que era melhor fazerem arroz. Eles dizem...lá estás tu, Pilar. Está desanimada com o jornalismo? Eu nunca estou desanimada com o jornalismo. Estou desanimada com os jornalistas. Com os jornalistas que são demasiado respeitosos com as empresas que lhes pagam. Os jornalistas são necessários. Acho que os devemos respeitar. Mas eles contam pouco o que vêem. Contam mais o que se diz. Não gosto do jornalismo de declarações. Foi inaugurado e o fulanito disse e o outro respondeu...isso é só replicar o que foi dito. Não gosto. Gostava que os jornalistas fossem mais ousados, mais valentes. Gosto dos jornalistas que fazem jornalismo. Consegue ser optimista? Não. Optimista nada. Consigo confiar no valor do ser humano. Acredito que valemos muito mais do que acreditamos valer. Que somos fortes. Que podemos gritar. Acredito que podemos vencer impérios e inclusivamente o sistema, se quisermos. Mas outra coisa é estarmos adormecidos. Adormecidos não vencemos nada.

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Personalidade do Ano

Cultura Feminino

Conservatório de Música de Santarém

“A vida sem música seria árida como um deserto” Com mais de 500 alunos o Conservatório de Música de Santarém é uma referência pedagógica e cultural da cidade. A instituição é liderada há mais de vinte anos por Beatriz Martinho, que também esteve no núcleo fundador, já foi aluna e actualmente canta no coro. João Calhaz O Conservatório de Música de Santarém é mais do que uma organização onde se ensina música e dança? Acima de tudo é uma escola cuja vertente de ensino é arte e cultura, música e dança. O Conservatório tem paralelismo pedagógico com o Ministério da Educação e todos os alunos quando acabam o oitavo grau podem concorrer a qualquer escola superior, quer no país quer no estrangeiro. Em que medida são importantes as parcerias com escolas da cidade no âmbito do ensino articulado? São muito importantes. Temos parcerias ao nível do ensino articulado com os três agrupamentos de escolas da cidade – Alexandre Herculano, Ginestal Machado e Sá da Bandei-

Mais de trinta anos a ensinar música e a promover a cultura O Conservatório de Música de Santarém é uma cooperativa sem fins lucrativos que foi fundada em Maio de 1985 por um grupo de doze pessoas que partilhavam o gosto pela música. Actualmente tem mais de 500 alunos e cerca de 40 professores. Beatriz Martinho é, há mais de duas décadas, o principal rosto de uma instituição que ganhou novo fôlego após mudar, em 2011, para as renovadas e mais adequadas instalações, cedidas pelo município no requalificado Palácio João Afonso, no centro histórico da cidade. Essa foi uma das muitas lutas travadas

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ra. Em Agosto de 2015 foi reduzida de forma drástica a verba para o ensino articulado e tivemos que reduzir o número de alunos. Ponderámos muito sobre aquilo que devíamos fazer. Uma das hipóteses era não inscrever novos alunos no ensino articulado. Mas, consensualmente, depois de fazermos muito bem as contas, optámos por reduzir o número de alunos a entrar. Em vez de 30 passaram a ser 15 ou 16 novos alunos por agrupamento, mantendo os outros que já cá estudavam. Esse ensino é financiado pelo Ministério da Educação? Sim. O ensino articulado é uma oferta que o Ministério da Educação faz através dos conservatórios. Os alunos do ensino articulado não pagam para frequentar o Conservatório. No ano anterior a ter saído essa legislação já tínhamos suportado

pela presidente da cooperativa, que também canta no coro da instituição e já foi aluna da casa que ajudou a fundar e onde nunca ganhou um cêntimo. Beatriz Martinho é professora de ensino especial aposentada, foi dirigente sindical e actualmente dedica-se ao Conservatório a tempo inteiro. O Conservatório de Música de Santarém é uma organização dinâmica que não esgota a sua actividade no ensino da música. Regularmente, ao longo de todo o ano, realiza espectáculos na cidade onde alunos e professores expressam a sua arte perante o público. Bandas de rock, combos de jazz, música de câmara, a orquestra e os coros de jovens e de câmara são algumas expressões artísticas do trabalho ali desenvolvido e que contribuem para a dinami-

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o estudo de alguns alunos e essa situação não podia continuar. A nossa preocupação é manter o Conservatório vivo, activo, dinâmico, fazendo sempre cada vez mais com muita qualidade, mas sem colocar em causa a sustentabilidade financeira. Há a ideia de que frequentar o Conservatório, sobretudo em níveis mais avançados, é dispendioso e não está acessível a todas as bolsas. É assim? Sim, é sempre dispendioso. É sempre um encargo acrescido, por isso é que não temos aumentado as mensalidades, proporcionando assim que um maior número de crianças frequente o nosso Conservatório. E esse número tem aumentado, também devido às excelentes instalações que a Câmara de Santarém nos disponibilizou. Mas não fechamos as portas a nenhuma criança que queira aprender música, inclusivamente das instituições ou de lares, desde que sejam casos comprovados de dificuldades económicas. A realização frequente de espectáculos na cidade é uma boa forma de promoverem o vosso trabalho? É sem dúvida uma forma de promover o nosso trabalho, mas também faz parte dos objectivos do ensino da música e da dança que os nossos alunos vivam outros palcos para além do ambiente mais intimista do Conservatório. Palcos com mais público, como aconteceu nas Portas do

zação cultural da comunidade. Desde a sua fundação que o Conservatório de Música de Santarém, com paralelismo pedagógico desenhado oficialmente pelo Ministério da Educação, lecciona em regime articulado e supletivo, em parceria com escolas da cidade. Ministra os cursos básicos (do 1º ao 5º graus) e secundários (do 6º ao 8º graus) de música nos seguintes instrumentos: Piano, Órgão de Tubos, Viola Dedilhada, Violino, Violeta, Violoncelo, Guitarra Portuguesa, Contrabaixo, Flauta Transversal, Canto, Oboé, Clarinete, Saxofone, Trompete, Tuba, Trombone de Varas, Acordeão, Bateria, Percussão e Dança Contemporânea e Ballet e ainda cursos livres de baixo e guitarra eléctrica. O Conservatório de Música de Santarém é o único no país e um dos dois na Pe-

Sol, onde tivemos mais de mil espectadores, segundo a projecção que a câmara fez. A boa adesão do público é um sinal de que a cidade está desperta para o vosso trabalho e para a música? Já não falo tanto do nosso trabalho, o que poderia ser interpretado um bocadinho como sinal de vaidade, mas realmente as pessoas estão a sentir que a música faz parte integrante da formação do ser humano e, por conseguinte, dos seus próprios filhos e também dos adultos - pois temos cá alguns a aprender música. Além de liderar o Conservatório de Santarém também canta no coro. É uma vida rodeada de música. Sim. Tenho nove netos e todos eles frequentam o Conservatório. Este é um dos grandes projectos da minha vida, que abracei há 31 anos quando fui convidada para ser uma das sócias fundadoras. Sou professora de educação especial e sei como as crianças com necessidades educativas especiais se transformam com a música. É uma coisa fabulosa. As melhorias são tão notórias que chega a ser comovente. Como é que uma pessoa ligada sobretudo à música erudita convive com a música mais popularucha a que em tempos se deu a designação de pimba? Não me afecta. Sinto que a comunidade não é feita só de pessoas que gostam de música erudita e que há pessoas que gostam de outro tipo de música. Tal como há outros tipos de música de que gosto para além da erudita. Gosto muito de bandas filarmónicas, por exemplo, de as ver a acompanhar as procissões. O que é que acha de um cantor como Quim Barreiros e das letras das suas canções? Sobre isso não me quero pronunciar (risos)... Mas respeito quem aprecia. E a verdade é que em festas como as das queimas das fitas das universidades os jovens gostam e aplaudem. Por isso tenho que respeitar, porque algum dia também posso lá ter os meus netos a aplaudir, apesar de andarem no Conservatório e de gostarem de música erudita. Há ocasiões para tudo! Há gente formada em conservatórios a actuar nesse género musical. É um desperdício de talento? Não tenho nada que criticar porque a música clássica que apren-

nínsula Ibérica com o estaututo de escola associada da Unesco. Tem participado em concursos nacionais e internacionais com boas classificações, o que enche de orgulho os seus dirigentes. A qualidade pedagógica é o alicerce que dá garantias de futuro a um projecto que pretende continuar a cimentar a interligação com a comunidade numa dádiva constante de cultura e afecto. Porque, como disse Beatriz Martinho em anterior entrevista a O MIRANTE, um povo não cresce sem cultura e retirarem-lhe a cultura é um crime. É por isso que, embora seja uma cooperativa, o Conservatório de Música de Santarém tem facilitado o ensino a alguns alunos carenciados que têm um grande desejo de aprender música.


deram está com eles e nunca mais vão deixar de a sentir, de a tocar e de a ouvir. O que seria para si a vida sem música? Era quase como um deserto. Tenho duas paixões muito especiais na vida, a minha família e depois a música. Portanto com isto devem perceber o que seria a minha vida sem música. A música vive comigo desde sempre. Uma das minhas avós era professora de música no Conservatório, vivi sempre num ambiente de música e acho que não conseguia viver sem ela. Tem músicas que associa de imediato a pessoas, lugares e a determinados momentos ou fases da sua vida? Tenho, mas há uma obra que realço pela sua abrangência, porque tem músicas adaptadas ao ano inteiro, que é as “Quatro Estações”, de Vivaldi. Cada estação tem a sua beleza e em todas elas aconteceram factos na nossa vida que nos encheram de felicidade. E é tão fácil encontrar felicidade em pequeninas coisas. Eu sou feliz, por exemplo, quando venho a pé de casa até ao Conservatório todos os dias, antes das nove horas muitas vezes, e encontro pessoas que já conheço há muito tempo e a quem cumprimento. Sou feliz a cumprimentar e sou feliz quando elas me cumprimentam, me dirigem uma palavra ou quando lhes retribuo essa palavra ou as abraço.

Se lhe pedisse uma música da sua vida qual escolhia? A Quinta Sinfonia de Beethoven. Adoro! Em casa escolhe a música que ouve ou deixa o rádio escolher por si? Habitualmente escolho, porque tenho pouco tempo livre. Normalmente é ao final do dia. Gosto de estar na sala, com o meu marido, vamos lendo, vamos falando dos filhos, dos netos e da vida maravilhosa que temos. Não acorda de noite com uma música na cabeça, como acontece com algumas pessoas? Às vezes acordo com músicas na cabeça, tal como por vezes dou comigo na rua a trautear uma música qualquer. A música, a boa música, faz parte da minha essência como ser humano. A partir daí vêm os projectos todos que poderei fazer com a música e com a dança arquitectando logo aquilo que posso oferecer aos outros. Porque isso torna-me muito feliz. Aliás, é uma felicidade biunívoca - aquela que recebo ao projectar e aquela felicidade que imagino que as pessoas recebem quando lhes transmitir os projectos que aqui realizamos. É muito bom viver assim, apesar de haver projectos que não correm logo como desejamos. Mas esses arrumo-os bem arrumadinhos e vão sendo resolvidos depois. É assim que eu vivo e vivo muito feliz.

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Personalidade do Ano

Cultura Masculino

Cegada Grupo de Teatro – Alverca

“Fazer teatro é um sonho que acontece todos os dias” Com 31 anos de vida o Cegada Grupo de Teatro é uma das companhias mais activas do concelho de Vila Franca de Xira. Instalado em Alverca, no Teatro-Estúdio Ildefonso Valério, o grupo aproxima todos os anos a cultura das gentes da cidade e do concelho, afirmando-se cada vez mais como uma referência cultural. Nesta entrevista falam da importância do serviço público, dos desafios levantados pela concorrência das outras correntes artísticas e da proximidade com Lisboa que consideram ser uma vantagem. Filipe Matias Este ano apresentaram um programa ambicioso com 26 trabalhos dispostos por 60 sessões. É um sinal de que o grupo está a profissionalizar-se cada vez mais? Rui Dionísio, director artístico - De certa forma, sim, mas diria que estamos a trilhar os mesmos caminhos só que com mais vapor e força. Essas questões da profissionalização não são assim tão lineares. Conheço muita gente que é profissional e na verdade faz

Uma história de sucesso O Cegada - Grupo de Teatro tem contribuído para a educação cultural da comunidade onde está inserido, graças ao dinamismo dos seus dirigentes, ao entusiasmo inquebrantável de todos os seus membros e a uma programação eclética que tem sido bem recebida por cidadãos de todas as idades. O trabalho desenvolvido pela associação de Alverca articula educação e solidariedade e tem merecido o reconhecimento público e uma especial atenção, principalmente numa altura em que a cultura e nomeadamente o teatro são injustamente ostracizados. Na entrada para os seus trinta e um anos de actividade, o Cegada assumiu toda a programação do Teatro-Estúdio Ildefonso Valério, assim baptizado em 2013, em homenagem ao mentor da actividade teatral em Alverca e membro fun-

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um trabalho completamente amador. Houve uma metamorfose no material humano do associativismo, no tempo disponível e na vontade de fazer novas coisas com esse tempo. Nos últimos anos temos apostado em criar acções culturais novas e amplificar o que já existia. O Cegada já não se fica só pelo seu palco no centro de Alverca. Não. Dois exemplos disso são os trabalhos que temos feito com as escolas e as Noites do Pelourinho, um evento de grande envergadura que começou

dador da companhia. Criado a 9 de Março de 1986 por iniciativa de um grupo de formandos que realizara um curso de iniciação ao teatro na Casa da Juventude de Alverca, o Cegada começou por se chamar Núcleo de Teatro da Casa da Juventude e da Cultura de Alverca. Chegou a adoptar a designação Cegada Trupe de Teatro e, por fim, Cegada Grupo de Teatro. Em 1998 foi-lhe atribuído o Galardão de Mérito Cultural da cidade de Alverca e em 2000 o grupo definiu o seu enquadramento legal e fiscal, tendo sido aprovados os seus estatutos. Três anos depois morreu Ildefonso Valério, membro fundador do grupo e encenador. Em 2004 realizou a sua primeira Amostra de Teatro, recebendo 18 grupos de teatro amadores de todo o país e duas companhias profissionais, num total de 26 espectáculos. Em 2005 foi-lhe atribuído o estatuto de entidade de utilidade

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em 2013 e que muito prestigia a cidade e a companhia. Queremos ser uma companhia disponível ao público todos os dias das 21h00 às 00h00 mas também levar teatro às escolas, apresentando peças do Plano Nacional de Leitura. E esse projecto tem sido um sucesso enorme. Andamos na casa dos oito mil espectadores, é um número indicativo da receptividade que temos tido. Além disso mantemos também a formação de actores, que é muito importante. Temos trazido ao Teatro-Estúdio Ildefonso Valério, quer à programação quer às nossas criações, artistas profissionais para elevar o grau artístico. Qual é para vocês o factor basilar da cultura? Que este tipo de acções culturais que o Cegada promove e que tem sido pioneiro no concelho e no país, tenham a capacidade de se instalar e haja capacidade financeira para suportar essa sustentabilidade e financiamento, para que possam perdurar. Esse é o factor basilar da cultura. Fazer a programação para um ano inteiro é bom mas só terá repercussões na sociedade se se repetir durante 10 anos e as pessoas se habituarem a ver essa programação todos os anos para criar hábitos de ida ao teatro. Com a companhia fora do seu espa-

pública pela Assembleia Municipal de Vila Franca de Xira. Em 2006, apenas seis meses depois de se mudar para as instalações que ocupa actualmente no centro da cidade, um violento incêndio destruiu todo o equipamento e o espólio teatral da companhia. Na altura o município ajudou o Cegada a renascer, literalmente, das cinzas. Já em 2013, assinalando a entrada de uma nova era do teatro, a sua sala de espectáculos é baptizada com o nome do fundador, Ildefonso Valério. O financiamento da câmara municipal e da junta de freguesia ao longo das últimas três décadas tem sido decisivo para o funcionamento do grupo. Sempre com a missão de educar e formar públicos, tanto para o teatro em particular como para a cultura em geral, nos últimos quatro anos o Cegada acolheu mais de quatro mil espectadores na sua sala e apresentou centena e meia de espectáculos. Recentemente a secretaria

ço habitual. Somos o único grupo da Área Metropolitana de Lisboa que vai às escolas mostrar as peças. É uma forma de dar mais significado à expressão serviço público. Retiramos o que existe em teatros de referência do país e aplicamos no concelho de Vila Franca de Xira onde isso não existe. Não estamos fechados numa redoma, estamos abertos à comunidade e ao país e dormimos bem com essa responsabilidade. A proximidade com Lisboa é prejudicial ou uma vantagem? Para o público é prejudicial, para nós é bom. Há artistas de referência e com trabalho feito nos palcos nacionais com quem gostamos de trabalhar e trazer a Alverca. Se estivéssemos mais longe os custos aumentavam. Vivemos numa ilusão. A maior parte das pessoas estuda ou trabalha em Lisboa, a sensação de proximidade existe e cria um falso sentimento de pertença porque não acredito que haja pessoas que vão a Lisboa ver espectáculos se tiverem uma boa oferta no concelho. Lisboa não é uma ameaça. É o mesmo que dizer que a biblioteca nacional no Campo Grande é uma ameaça à Fábrica das Palavras. Isso serve é muitas das vezes como a desculpa perfeita para a inércia. O vosso teatro tem praticamente sempre a sala cheia de espectadores. Qual é o segredo para o sucesso? Ouvir e compreender qual é o nosso papel nesta comunidade. A nossa missão é colocar à disposição das pessoas objectos para fruição artística e cultural que façam falta e tenham sentido. Que estejam adaptados à situação económica e características históricas desta região. Gostamos sempre de ouvir as pessoas, perceber o que gostam de ver. Adoramos quando nos dizem que não gostaram de algo, isso é óptimo, leva-nos à reflexão. Na era da televisão e das redes sociais de que maneira é que o teatro é importante na oferta de algo culturalmente diferente? É importante na promoção do contacto entre as pessoas. O teatro é, acima de tudo, um espaço de debate de ideias e faz uma coisa que a televisão não faz de uma forma sistemática. O teatro mete no palco

de Estado da Cultura renovou a declaração de interesse cultural do grupo. Desde 1993 que a companhia realiza a formação de actores, actividade que mantém até aos dias de hoje. Com as peças “O Gigante Egoísta” e “O Príncipe Feliz” de Oscar Wilde, o Cegada levou o teatro às escolas, tendo as duas peças sido vistas por mais de sete milhares de alunos. Em 2013 nasceram as Noites no Largo do Pelourinho, um evento organizado em conjunto com o município que oferece à população, nos meses de Verão, concertos ao ar livre de jazz, bossa nova, música africana, balcânica e fado. Este ano mais de quatro mil pessoas assistiram aos concertos, com uma média de 467 por noite. Mais de 13 mil nos últimos quatro anos. A perspectiva da companhia é continuar a crescer de forma sustentada e indo ao encontro das aspirações culturais da comunidade.


as grandes questões humanas e filosóficas. Mete no palco aquilo que é importante que seja discutido e reflectido. Que faça as pessoas pensarem. A televisão não faz isso porque tem demasiada informação e as pessoas não a filtram nem a distinguem. Teatro que é arte nunca será entretenimento. Mas é verdade que a sociedade tem mudado e que é preciso adaptar a oferta aos novos públicos... Sem dúvida. Mas sempre se achou que um novo canal de comunicação iria exterminar os anteriores e a verdade é que os anteriores encontraram um novo espaço para coexistirem. A nossa sociedade no último século recebeu uma transformação muito maior do que nos últimos cinco séculos. A sociedade mudou muito, mais de há cem anos para cá do que de há 500 anos até hoje. Se olharmos para os nossos avós que viram nascer a televisão a cores, até aos jovens de hoje que olham para o nascimento dos hologramas e da realidade virtual, há uma questão que já conseguimos perceber. O teatro tem ainda um lugar a conquistar e a definir-se na sociedade de hoje em dia. Mas é realmente mais fácil levar a sociedade ao teatro actualmente. Ainda se confunde recreio com cultura. Diz-se que a cultura é a continuação da formação de um indivíduo quando a vida académica termina. Há futuro para o teatro? E faz sentido haver teatro à borla? A responsabilidade será sempre de quem dirige politicamente o país. Quem gere uma sala como a nossa e faz uma programação para o ano inteiro com 77 lugares disponíveis para o público não tem qualquer interesse comercial. Este número de lugares logo à partida é um mau negócio, se virmos as coisas nessa perspectiva. E essa ideia do teatro à borla é errada. Essa questão baseou-se na ideia de que tu-

do teria de ser completamente gratuito depois de 1974. Algumas pessoas que estavam afectas ao teatro entenderam que isso devia ser assim. Mas a verdade é que, tal como nos hospitais toda a gente é atendida, também aqui nós não fechamos a porta a quem não tiver condições financeiras para ver um espectáculo. Sentem-se acarinhados pela comunidade? Sim. Temos um excelente feedback das pessoas e do nosso trabalho. Um dos momentos em que mais nos aproximamos das pessoas é nas Noites do Pelourinho. Lembrámo-nos dessa actividade porque a cidade precisava de mais. Qual é o vosso maior sonho? O sonho nunca está materializado mas podemos dizer que fazer teatro é um sonho que acontece todos os dias. O maior sonho é conseguir manter a porta do teatro aberta e a companhia a apresentar espectáculos. Fazer as coisas só uma vez, receber as palmas e ir para casa sem dar continuidade não é nada. Se isto não for um projecto sustentado só serve a vaidade e há outros valores mais altos que esse. Sentimo-nos realizados com o trabalho que temos feito. Sem falsas modéstias, o maior desejo é que as pessoas que dirigem façam tudo o que esteja ao seu alcance para que isto não se perca. O Cegada é um sonho que existe desde 1986.

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Personalidade do Ano

Cidadania

Centro de Reabilitação e Integração Torrejano - CRIT

“Sempre tive vontade de contribuir para o bem de outros” José Júlio da Cunha Faustino sempre sentiu motivação para ajudar os outros. Fez parte de várias direcções do CRIT desde 2005 e quando se preparava para se dedicar mais a algumas actividades pessoais por se ter reformado, foi-lhe lançado o desafio de presidir à instituição. O pouco tempo que tinha disponível foi completamente reduzido mas ele diz que aceitou estar onde está de livre vontade e porque continua a sentir-se realizado a fazer o que faz. Paula Mourato Qual é actualmente o projecto mais importante do Centro de Reabilitação e Integração Torrejano? O novo Lar Residencial. O que temos só tem capacidade para 24 utentes e está totalmente ocupado. Temos uma parceria para a construção de um novo com a Câmara Municipal de Alcanena. Temos os projectos feitos e aguardamos que abram as candidaturas do Portugal 2020. O maior desafio é conseguirmos financiamento. Gostaria que no final do meu mandato, em 2018, o novo Lar estivesse a funcionar. Esse é um projecto aparentemente concretizável. Tem outro mais difícil de levar à prática? Há um outro que dificilmente será realizado neste mandato que é a criação de um Lar para os idosos da área

Apoio semanal a seiscentos cidadãos portadores de deficiência O Centro de Reabilitação e Integração Torrejano, CRIT, recebeu a 1 de Outubro de 1978 as primeiras 25 crianças, oriundas de cerca de duas dezenas de lugares do concelho de Torres Novas. A sua evolução no apoio a cidadãos portadores de deficiência fez com que actualmente dê apoio semanal a seiscentos cidadãos de vários concelhos, através de uma equipa de cento e dez profissionais das mais diversas áreas, gerindo múltiplos projec-

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da deficiência. E qual é o vosso desafio diário? Prestar um serviço de qualidade em todas as valências. Queremos os utentes satisfeitos com o serviço que prestamos. Aderimos há alguns anos a um programa de certificação de qualidade e conseguimos muitas melhorias. Neste momento temos entre 500 a 600 clientes semanais. Não só os internos, mas também da comunidade em serviços de hidroterapia, hidroginástica ou fisioterapia. Isso implica uma grande mobilização de meios. A principal preocupação é a sustentabilidade. Nela reside o futuro dos colaboradores e dos clientes. Uma vez que não somos subsidiados a 100% pelo Estado mas em cerca de 83% e temos de garantir o resto. O nosso orçamento ronda os dois milhões e quinhentos mil euros. Isso significa

tos de índole social. Tem cerca de três mil associados e é considerada uma instituição de referência a nível da região. O CRIT, que começou por dar apenas apoio a crianças, tendo sido formalmente constituído em Julho de 1997 como Centro de Recuperação Infantil Torrejano, funciona em instalações próprias, construídas de raiz na zona urbana da cidade. A instituição é uma das que mais pugna pela dignidade humana, contribuiu exemplarmente para fazer de Portugal um país moderno justo e solidário. A instituição é actualmente presidida por José Júlio da Cunha Faustino. Antes dele foi presidida, desde a sua fundação,

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que anualmente temos que conseguir meio milhão de euros. Para isso, desenvolvemos várias actividades. Há dois anos lançámos a Gala Solidária que é realizada com a participação de artistas convidados e em Dezembro tivemos a loja de Natal com o espaço oferecido no Shopping de Torres Novas. Agora a designação oficial de utentes é clientes, então pagam uma prestação? Sim. Há uma contribuição da parte da Segurança Social, no Centro de Actividades Ocupacionais, do IEFP, mas não é suficiente. Além de tudo o que angariamos ainda há as prestações familiares. No CAO, no Lar Residencial também é paga uma verba pelas famílias, em função do rendimento ‘per capita’. Tem as contas equilibradas? Não devemos nada a ninguém. Apesar da crise não despedimos nenhum dos 106 colaboradores. Estamos tranquilos mas é importante continuar a garantir essa sustentabilidade. Há mais projectos em curso? O CRIT é a entidade coordenadora do CLDS 3G (Contratos Locais de Desenvolvimento Social) em Torres Novas – Centro Local de Desenvolvimento Social - um projecto de três anos, co-financiado pelo PO ISE - Programa Operacional Inclusão Social e Emprego. Neste momento é o único projecto que temos fora das valências. Candidatamo-nos todos os anos a projectos do INR (Instituto Nacional para a Reabilitação). À medida que as candidaturas vão abrindo, vamos

pelo actual presidente da Câmara Municipal de Torres Novas, Pedro Ferreira. Um dos projectos em andamento e que poderá estar concretizado antes do fim de 2018 é um novo Lar Residencial. A parceria do CRIT para o mesmo é com a Câmara Municipal de Alcanena. O CRIT possui certificação de qualidade. Foi reconhecido como Pessoa Colectiva de Utilidade Pública em 1979, por despacho do então primeiro-ministro, Francisco Sá Carneiro e foi registado na Direcção Geral da Segurança Social como IPSS (Instituição Particular de Solidariedade Social) em 1982. Observando os princípios da solidariedade tem como

concorrendo. O que representa o CRIT para o concelho de Torres Novas? A comunidade torrejana é que poderia dar resposta a essa pergunta. A ideia que temos é que as pessoas reconhecem a importância do CRIT para o concelho nas área da deficiência e do apoio a famílias carenciadas. Conseguem dar resposta a todas as solicitações? Não. No Lar Residencial temos lista de espera. E no Centro de Actividades Ocupacionais, onde temos capacidade para 90 utentes mas apenas apoio da Segurança Social para 85 utentes, também temos lista de espera. Enquanto cidadão que se interessa por questões sociais o que é que o motivou? Sempre me interessei por estas questões e sempre fui uma pessoa de acção. Se posso contribuir para o bem de outros, faço-o. Com o CRIT tive essa oportunidade de ajudar a resolver problemas. Dedico-me porque reconheço que é um bem a favor da comunidade. Chegou ao CRIT em 2005 e o que fazia nessa época? Trabalhava na Portugal Telecom, reformei-me no ano seguinte. Nessa altura surgiu o convite. Fiquei com mais liberdade para poder apoiar a instituição e participei sempre nas várias direcções até que, por impossibilidade do então presidente que é actualmente presidente da Câmara Municipal de Torres Novas (Pedro Ferreira), assumi o cargo. Aceitou de imediato? Tive de pensar muito bem. Inicialmente até recusei mas acabei por aceitar. As direcções são compostas por voluntários e não é fácil arranjar quem queira integrá-las. Na altura, embora me custasse muito porque tinha outros projectos, acabei por aceitar o cargo. Que projectos ficaram para trás? São mais hobbies que quero manter. Quando me reformei pensei ter mais disponibilidade para eles e para acompanhar a minha esposa. Sendo presidente passo no CRIT muito mais horas do que passava quando era um simples elemento da direcção. É uma casa com muitos clientes, com muitos colaboradores, há sempre problemas a resolver, algumas dificuldades que têm de ser ultrapas-

principal finalidade promover a adaptação do indivíduo à família e com esta à sociedade, visando sobretudo a sua educação, valorização e integração sócio profissional. As respostas da instituição de Torres Novas são dadas através da valência sócio-educativa; Centro de Recursos para a Inclusão; Centro de Actividades Ocupacionais; Formação e Emprego; Lar Residencial; Centro de Apoio Familiar e Aconselhamento Parental Torrejano; Rendimento Social de Inserção; Centro de Ocupação Juvenil; Actividades de Tempos Livres e Centro Comunitário.


sadas que exigem bastante de nós. Quando sair do CRIT o que gostaria de fazer? Vou ao ginásio, jogo golfe. Gosto de ler e tenho a minha bricolage em casa. Estou a preparar um terreno para ter uma horta biológica. E depois tenho as minhas netas que quando aparecem estou sempre de serviço. Também gosto de viajar. Quase todos os anos fazia uma viagem ao estrangeiro. Interrompi isso mas quero recomeçar e tenho alguns países que gostaria de visitar. O outro sonho é de criança. Gostava de um dia conduzir um camião. O meu pai tinha uma camioneta e deixava-me pegar no volante. Mas falta-me a carta de pesados. Nos dias que correm acha que a solidariedade está a dar lugar à caridade? Acho que não. Há quem critique as cantinas sociais. Aqui no concelho, as famílias com necessidades alimentares são acompanhadas por mais que uma instituição e nós também temos uma cantina social. Alguns não concordam com este sistema, acham que é caridade, mas não vejo que seja retrocesso porque as pessoas precisam. Estamos a pensar reformular o sistema, provavelmente as cantinas vão acabar para dar lugar à entrega de géneros. Mas para aquelas pessoas sem abrigo, as cantinas vão continuar. É um acto de solidariedade que está a ser pago por todos os portugueses. Qual a sua relação com as famílias dos clientes? Quem actua nessa área são as coordenadoras das valências que no princípio do ano fazem um plano individual para cada um e aí têm a participação não só do cliente mas também da família que participa no plano de actividades. Depois há os momentos de avaliação. O meu contacto, e conheço muitas famílias, acontece essencialmente nas festas. E o ‘feedback’ que tem das coordena-

doras vai em que sentido? Existe um grande envolvimento de um modo geral. Pode haver um caso ou outro de algum familiar insatisfeito, mas genericamente todos dizem muito bem do trabalho do CRIT. Que novas exigências existem na gestão dos recursos humanos? Neste momento temos um quadro de pessoal que dá resposta a todas as valências que temos. Os critérios depende da área para onde vão trabalhar. Se possível ter experiência na área da deficiência. Qual é o maior valor do CRIT? Precisamente os recursos humanos. Considero que temos bons técnicos e esse é o maior valor. Por muito que queiramos prestar um bom serviço se não tivermos bons recursos humanos não conseguimos. Que marca gostava de deixar como presidente? Como gostaria de mais tarde ser recordado? Gostava de ser recordado como alguém que passou pela direcção do CRIT e lançou várias iniciativas inovadoras. Ao nível da motivação dos colaboradores instituímos em 2015 o Dia do Colaborador. A Gala Solidária surgiu do convite que foi feito ao Telmo Miranda para apadrinhar o CRIT. Também propus o subsídio de nascimento e começamos este ano. Demos o primeiro em Janeiro.

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Personalidade do Ano

Desporto Feminino

Marchadora Inês Henriques

A marchadora que não gosta de andar a pé Inês Henriques teve em 2016 a sua melhor prestação olímpica, sendo a única atleta a representar um clube da região nos Jogos do Rio de Janeiro, o Clube de Natação de Rio Maior. Depois de ter fixado o novo recorde do mundo dos 50 km marcha, já pensa batê-lo e estar presente nos Jogos Olímpicos de Tóquio, em 2020. Terá na altura 40 anos. João Calhaz O recorde mundial dos 50 km marcha veio dar-lhe alento extra? O final da carreira ficou mais longe? Depois dos Jogos Olímpicos tive algum tempo para reflectir se continuava ou não a minha carreira. Mas tendo em conta a época anterior, que foi excelente – bati o meu recorde pessoal por três vezes -, e pelo facto de continuar a ter muito prazer naquilo que faço, ponderei continuar. A ambição de ser mãe vai ficar adiada? Estava com a perspectiva de engravidar mas não aconteceu. E como gosto muito de desafios decidimos, com o meu treinador Jorge Miguel, tentar bater o recorde do mundo dos 50 km marcha. Já disse que quer bater o seu recorde do mundo. Está empenhada nisso? Sim. Tendo em conta a parte final dessa prova, que

“Sou uma trabalhadora nata com algum talento” A marchadora Inês Henriques foi a única atleta de um clube da região, o Clube de Natação de Rio Maior, a participar nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro de 2016 e conseguiu um brilhante 12º lugar na prova dos 20km marcha que se realizou a 19 de Agosto. Foi a sua melhor prestação em olimpíadas. Antes tinha feito um 20º lugar em Atenas (2004) e um 15º em Londres (2012). Só por esse feito conseguido aos 36 anos de idade e competindo num pelotão de 74 atletas merecia ser distinguida como Personalidade do Ano na área do despor-

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foi muito dura, sei que há erros que já não vou cometer da próxima vez, tendo em conta que a partir dos 30/35 km exagerei um bocadinho no ritmo. Estava a pensar que as pilhas não se acabavam (risos) e depois dos 38 km senti que estava com alguma dificuldade. Mas o que efectivamente me custou mais foram os últimos três quilómetros. Foi muito duro e acho que só cheguei ao fim pelo factor psicológico de querer tanto esse objectivo. Nunca parei durante os 50 quilómetros. O recorde mundial deu-lhe uma projecção mediática acrescida. A intenção era realmente valorizar a minha carreira e conseguir um feito histórico. Penso que de início, quando se começou a falar disso, não deram grande crédito a essa intenção. Mas depois, no final, houve um grande impacto. Como é que foi lidar com esse mediatismo todo nos dias seguintes? Foi difícil. O

to feminino. Mas a poucos dias de o prémio ser anunciado, a 15 de Janeiro deste ano, Inês Henriques voltou a mostrar que continua em grande forma, ao tornar-se a primeira recordista mundial oficial dos 50 km marcha com a marca de 4h08m25s. Havia um recorde anterior, estabelecido em 2007 pela sueca Monica Svensson com 4:10.59 horas mas só este ano é que a Associação Internacional das Federações de Atletismo (IAAF) abriu a distância ao sector feminino. Inês e o seu treinador de sempre, Jorge Miguel, abraçaram esse desafio ainda em 2016 e acabaram por ter êxito, acrescentando valor às carreiras de ambos e conseguindo mais um feito para o atletismo português.

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telemóvel não parava de tocar. Gosto de responder às mensagens no Facebook e cheguei a um ponto que já não conseguia gerir a situação. As pessoas vinham ter comigo na rua dar-me os parabéns, davam os parabéns aos meus pais, foi muito gratificante. De alguma forma foi também uma compensação para a minha família, que sempre me apoiou. O que passa pela cabeça de um atleta ao longo de mais de quatro horas de prova, nas alturas mais críticas? Tenta abstrair-se do sofrimento, pensar noutras coisas? Durante a prova tentei abstrair-me, porque eram muitas voltas e andei quase sempre sozinha. Tentei estar em contacto com o público. Depois, na parte final, era o querer chegar ao fim. Vi que estava dentro da marca que queria fazer. Nos últimos 500 metros lembro-me de olhar para o relógio e pensar: “OK! Só tens de terminar, vai com calma que é para chegares ao fim”. Depois de um esforço desses como é que recupera? O que fez nas horas e nos dias seguintes? No momento em que cortei a meta, tentei manter-me de pé. Estava difícil mas consegui. Ainda consegui discursar, cumprimentar as pessoas todas – foi muita gente de Rio Maior para me ver – e chorei muito, como é óbvio, porque foi uma alegria imensa cumprir o meu objectivo e do Jorge Miguel. No dia seguinte às nove da manhã já estava aqui no centro para levar massagens e seguir para Lisboa, para a Sport tv. Fui a con-

A marchadora que sempre representou o Clube de Natação de Rio Maior, concelho onde também sempre viveu, tem uma carreira destacada a nível internacional nos 20 km marcha. Para além das presenças nos Jogos Olímpicos, participou regularmente, desde 2002, nos campeonatos da Europa e do Mundo de atletismo. Nestes últimos obteve a 7ª posição em 2007, em Osaka, no Japão, e foi 11ª no de 2009, em Munique, na Alemanha. Inês Henriques nasceu em Santarém a 1 de Maio de 1980 mas marchou logo para Rio Maior, para a localidade de Estanganhola, onde a família vivia. Na escola começou a praticar atletismo, e por influência dos resultados alcançados por

duzir e até estava fresquinha. Dois dias depois é que senti mais o cansaço. Fisicamente tive de tratar algumas coisinhas mas nada de especial. Isso quer dizer que o novo ciclo olímpico ainda é para levar a sério? É. Quero ir até Tóquio. Esse é o objectivo. Eu e o Jorge Miguel tivemos isso em conta. Se verificarmos que o meu corpo não está a responder teremos de avaliar a situação. Mas se o corpo responder, sim. Se surgir uma gravidez pelo caminho descansa-se algum tempo e volta-se. Quando deixar a alta competição pensa fazer o quê? Gosto da enfermagem, é uma profissão de ajudar os outros. Mas se conseguir ficar ligada à parte desportiva e conseguir aliar as duas vertentes seria o ideal. E o Jorge Miguel também quer que eu vá tirar o curso de treinadora (risos). Por trás de um grande atleta está sempre um grande treinador? Sem dúvida alguma! Só sou a atleta Inês Henriques pelo facto de ter tido o Jorge Miguel como mentor de tudo. Para mim é o melhor treinador português de marcha, porque não foi só a Susana Feitor, não foram só os irmãos Vieira, não foi só a Vera Santos ou a Inês Henriques, ele continua a formar atletas e não é por acaso que já levou seis atletas aos Jogos Olímpicos. E começaram todos com ele. Para além das competições e dos treinos, gosta de andar a pé ou prefere o automóvel? Confesso que não gosto muito de andar a pé (risos)… Já fazemos tantos quilómetros que ter ainda de ir caminhar não me agrada muito. Prefiro correr ou marchar do que ir caminhar. Por que razão optou pela marcha e não pela corrida? Comecei em 1992. A Susana Feitor tinha sido campeã do mundo de juniores e havia muitos atletas a fazer marcha. O Jorge Miguel punha-nos a fazer de tudo e, depois, onde nos destacássemos era para onde íamos. Gostei da marcha e comecei logo a obter bons resultados. Nunca pensou em praticar outra modalidade desportiva? Antes ainda andei no basquetebol mas vi que também não crescia e que não valia a pena. Aos 12 anos fui para o atletismo e por cá fiquei. Costuma pedir ajuda divina antes das provas? Não. Acredito que existe algo superior e que nos pode ajudar mas, sem dúvida alguma, se não trabalharmos para con-

Susana Feitor, mudou para a marcha. Foi desde sempre treinada pelo técnico Jorge Miguel. Em várias entrevistas que deu a O MIRANTE sempre disse que queria acabar o curso de enfermagem e ser mãe. O curso já está feito. Extrovertida e bem disposta, Inês Henriques confessa-se uma trabalhadora nata com algum talento e não acredita em milagres quando se trata de procurar atingir as metas traçadas. No seu caso, a transpiração e a resiliência são as chaves do êxito. E é assim que vai continuar pelo menos até aos Jogos Olímpicos de Tóquio, onde poderá deixar o atletismo de alta competição pela porta grande.


cretizar os nossos objectivos não os atingimos. Não acredito nas coisas sem trabalho. Posso ter algum talento mas só cheguei onde cheguei através de muito trabalho, durante muitos anos. Ir a Fátima a pé é uma coisa que está nos seus horizontes? A primeira vez que fiz 50 quilómetros a pé foi da Estanganhola, a minha terra, até Fátima. Fiz cinco horas, por isso sabia que menos de cinco horas nessa distância ia conseguir fazer quando tentei bater o recorde. Ser atleta de alta competição obriga a alguns sacrifícios. Qual é para si o mais complicado? É uma forma de vida e eu gosto dela. Mas custa-me, por exemplo, estar muito tempo sem ver os meus sobrinhos. E eles crescem muito rápido. É óbvio que a Internet ajuda mas não é a mesma coisa. Uma das coisas boas é que se viaja muito. Viajamos muito mas não conhecemos quase nada. Neste último estágio na Serra Nevada, em Espanha, disse que era desta que ia conhecer Alhambra. Ainda não foi desta e já vou para a Serra Nevada há 17 anos. De que se vai desforrar quando deixar a alta competição? Não sei. Uma coisa a que tenho horror é de engordar, por isso vou continuar a praticar desporto e a ter cuidado com a comida. Depois, acho que também vou apreciar a parte de viajar sem responsabilidade e conhecer outras coisas. Como enfermeira gostava de fazer uma missão diferente, de voluntariado, por exemplo. Em Rio Maior há muitos jovens a praticar atletismo. Sente-se um exemplo para eles? Às vezes estou muito tempo ausente, doutras vezes não treino ao mesmo tempo mas tento sempre relacionar-me, estar com eles. Faço o torneio das freguesias em atletismo, pelo Clube de Natação

de Rio Maior, pois entendo que é importante nós atletas de alta competição estarmos ao pé dos jovens. É uma motivação para eles e dá-me gozo fazer essas provas. Tento transmitir aos jovens, e ao grupo mais restrito com quem treino, alguns conselhos. Mas já fui mais chata. Agora, às vezes, respiro fundo e já não digo nada.

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São como uma espécie de irmãos mais novos? Às vezes são mais como ‘filhinhos’. O Jorge Miguel por vezes diz-me para não ser tão ‘mãezinha’, pois eles têm que passar pelas dificuldades para se tornarem mais fortes. Somos atletas e neste meio há uma selecção natural.

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Personalidade do Ano

Desporto Masculino

Associação de Futebol de Santarém

“Os clubes aprenderam a viver com menos custos e mais adequados à realidade” O presidente da Associação de Futebol de Santarém, Francisco Jerónimo, diz que a modalidade na região está bem e recomendase. Na época passada foi batido o recorde de inscrições, que chegou aos 7300 atletas, e esta época há a perspectiva de o número ser ultrapassado. Elogia os dirigentes dos clubes, que se souberam adaptar à realidade e deixaram de entrar em loucuras, e confessa que gostava de ver um emblema da região nas competições profissionais. João Calhaz Quais são os grandes desafios do futebol distrital actualmente? Temos como meta continuar a crescer. Na época passada atingimos os 7300 atletas inscritos na Associação de Futebol de Santarém (AFS) e esta época, ainda com inscrições a decorrer, temos números que nos levam a acreditar que podemos bater esse recorde, como já tínhamos batido no ano passado. É uma aposta resultante do trabalho dos clubes e seus dirigentes. Há mais atletas inscritos, as condições dos equipamentos desportivos me-

Aposta na formação é garantia de futuro Para quem não acompanha de perto o futebol e o futsal no distrito de Santarém é difícil perceber a actividade da Associação de Futebol de Santarém sem ter, pelo menos, alguns dados quantitativos. Atletas envolvidos, masculinos e femininos, são mais de 7.300, militando em 473 equipas de 74 clubes, que disputam campeonatos distritais e nas 16 que participam em competições nacionais de futebol e futsal em diversos escalões. O reconhecimento pelo trabalho que tem vindo a ser desenvolvido no fomento do futebol de formação valeu à Associação de Futebol de Santarém, em 2016, o Prémio Promoção do Desporto Jovem Desporto atribuído pela Federeação Portu-

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lhoraram substancialmente nos últimos anos – já quase não há campos pelados na região – mas, paradoxalmente, o futebol ribatejano tem perdido expressão no contexto nacional. Neste momento só há duas equipas seniores masculinas a disputar o Campeonato de Portugal (terceiro escalão do futebol português), quando há uns anos havia pelo menos meia dúzia. Também é verdade que o número de clubes nos campeonatos nacionais foi reduzido substancialmente. Houve de facto uma quebra acentuada e nos últimos três anos tem-se estabilizado. Temos duas equipas a disputar o Campeonato de

guesa de Futebol. A Tejo Cup e os encontros e concentrações de petizes e traquinas (os escalões etários mais baixos) são exemplos dessa aposta. O ano de 2016 trouxe também a boa notícia do regresso de um árbitro do distrito ao principal campeonato do futebol nacional, de seu nome João Mendes. A arbitragem é um sector chave onde a associação tem apostado na captação e formação de jovens. O futebol feminino e o futsal são outras áreas em que se tem registado crescimento de número de praticantes, havendo ainda larga margem de progressão. Este quadro geral já permite ter uma ideia do trabalho desenvolvido pela estrutura presidida por Francisco Jerónimo e gerida por si e pela sua equipa. O presidente da Associação de Futebol de Santarém foi reeleito em Maio de 2016 para um

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Portugal e uma delas, o Fátima, vai disputar a fase de subida aos campeonatos profissionais. É um projecto que dá garantias de lutar até ao fim para chegar à II Liga e que visa, a médio prazo, atingir o patamar mais alto do futebol nacional. Seria importante para a AFS ter um clube no futebol profissional? Como é evidente. O grande crescimento tem sido no sector da formação mas ter uma equipa nas ligas profissionais seria importante, seria a ponta da pirâmide. Estamos a assistir a um ressurgimento de alguns clubes importantes da região. Alguns clubes têm apostado nisso. Temos outro clube no nacional, o Atlético Alcanenense, que está na fase de luta pela manutenção numa posição tranquila. Para o ano acredito que vamos ter mais um clube no nacional de futebol sénior, porque o campeão distrital também vai subir. A excessiva dependência financeira que houve dos municípios há alguns anos acabou e muitos clubes de futebol

segundo mandato e com ele manteve-se a maior parte das pessoas que já integravam os corpos sociais. Francisco Jerónimo, 62 anos, foi durante mais de duas décadas quadro superior da Câmara de Santarém, onde chefiou o departamento de obras municipais. Nasceu perto de Torres Novas e foi na sua terra natal, Pintainhos, que iniciou um longo percurso de ligação ao associativismo em várias frentes. Substituiu Rui Manhoso, agora vice-presidente da Federação Portuguesa de Futebol, à frente do futebol distrital. A estabilização das equipas de futebol sénior que viveram um período conturbado resultante de uma conjuntura económica extremamente desfavorável, que levou ao desaparecimento de alguns clubes com pergaminhos, foi uma dura batalha

foram obrigados a reinventarem-se, enquanto outros acabaram. Era um desfecho previsível? Passada essa fase em que houve financiamento fácil, e onde se cometeram quase loucuras, as coisas tiveram que ser reinventadas. E aí deixo uma palavra de reconhecimento aos dirigentes que foram capazes de reinventar o associativismo com muito menos dinheiro. Mas dizer que as autarquias deixaram de apoiar não é verdade. Apoiam é com regras, com contratos-programa e hoje os clubes estão a viver com menos custos e mais adequados à realidade. Havia gente a jogar nos distritais que ganhava mais no futebol do que na profissão que tinha. Isso hoje acabou. O futebol é um meio com muitas rivalidades. Isso nota-se no seio da Associação de Futebol de Santarém, nomeadamente nas assembleias-gerais, ou no essencial remam todos para o mesmo lado? Dentro do que é a nossa política de proximidade junto dos clubes, ouvimos o que cada um pensa e tentamos encontrar os caminhos e as soluções. Até agora não tem havido problemas e as assembleias são pacíficas. É uma gestão transparente e abrangente, pois nos órgãos sociais temos gente de todo o distrito e essa proximidade facilita a relação com os clubes. Temos tentado sempre soluções equilibradas, como foi o caso da revisão dos quadros competitivos. Costuma ir ver jogos de futebol ao fim-de-semana. Sim, vou sempre. Chega a haver cem jogos ao fim-de-semana… Como é que conseguem arranjar árbitros para tantos jogos ao fim-de-semana? Com o esforço do conselho de arbitragem. Hoje temos mais e melhores árbitros. São cerca de 160. É fácil captar jovens para essa actividade? Não é fácil, mas, felizmente, olhando para o panorama da arbitragem na nossa associação constatamos que são mais jovens, mais bem preparados e até com formação base mais elevada. Tem sido feito um trabalho de captação também no âmbito do desporto escolar e de vez em quan-

onde houve resultados positivos. A procura da minimização dos custos dos clubes, de forma a torná-los sustentáveis, tem sido uma preocupação constante bem como a agilização de processos para a eliminação de burocracias. A redução dos custos de inscrição dos atletas, assim como o apoio a deslocações e o apoio ao melhoramento de infraestruturas desportivas propriedade de clubes são outras frentes em que a Associação tem estado envolvida e onde os resultados positivos já merecem destaque. O reforço da ligação da Associação de Futebol de Santarém aos clubes e o permanente diálogo com os mesmos através dos seus dirigentes, bem como o apoio a nível técnico, apoiando acções de formação quer para treinadores quer para árbitros.


do lá vem mais uma fornada de miúdos. Ter um árbitro no escalão mais elevado do futebol português também acaba por ajudar a atrair mais jovens. É um grande catalisador e é um exemplo para todos os outros. O João Mendes ainda há não muito tempo aceitou o convite para arbitrar um jogo complicado do distrital entre duas equipas que lutam por lugares do topo. O futsal está em franco crescimento e ainda tem margem para se expandir, sendo mais uma modalidade para fazer concorrência ao futebol, nomeadamente ao nível da formação. O que pensa disso? Não acho que seja concorrencial. São situações diferentes. O futsal ainda é uma variante do futebol relativamente recente, que se tem projectado e tem crescido. Temos o melhor jogador do mundo e isso é importante. Temos acompanhado a aposta da federação no crescimento do futsal e recentemente promovemos mais um curso de treinadores, agora de nível 2. O futebol feminino também tem muita margem de crescimento? Sim. É uma aposta da UEFA e da Federação Portuguesa de Futebol. Temos uma equipa da região no campeonato principal (Ouriense) e duas na segunda divisão nacional (Salvaterrense e Pego). E continuamos a apostar no crescimento dessa vertente, com a organização de encontros específicos para meninas. Mas não é uma missão fácil, pois ainda há mentalidades que acham que o futebol não é para mulheres, além de que existe a concorrência de outras modalidades. Faz sentido ter policiamento em jogos dos escalões jovens? Não é uma despesa que os clubes poderiam evitar? Penso que sim. Vencemos a batalha que

durou três anos para ser possível fazer-se segurança em recintos desportivos sem policiamento, através de pessoas credenciadas pelos clubes, o que permite baixar os custos de organização dos jogos. Agora está nas mãos dos clubes implementar essa medida. Mas, curiosamente, os maiores problemas não estão nos jogos de seniores mas sim nos dos mais pequenos. O facto do seu antecessor na liderança da associação, Rui Manhoso, ser actualmente vice-presidente da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) é uma mais valia? Não escondo que tem sido importante para a AFS ter um elemento como Rui Manhoso, homem com larga experiência no associativismo e que tem sido uma grande mais valia na ligação entre a FPF e as associações. Para quando um jogo da selecção A na região? Nos tempos mais próximos não é possível. Há uma regra definida e que se percebe: a selecção nacional só joga em estádios do Euro 2004. São os estádios mais bem preparados e mais bem apetrechados para esse tipo de jogos. O Torneio do Vale do Tejo para selecções sub-21 acabou de vez? O Torneio do Vale do Tejo acabou graças a uma personalidade que esteve na Federação chamada Carlos Queiroz. Foi ele que desvalorizou o torneio do ponto de vista desportivo e acabou com ele. Não está morto e à mínima oportunidade que haja para o ressuscitar fá-lo-emos. Mas tem que ser compatibilizado com o projecto desportivo das selecções. Será um grande desafio, se tal vier a acontecer, nomeadamente no que toca à captação de patrocínios. Neste momento um dos desafios a esse nível é arranjar um sponsor para a Taça do Ribatejo.

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Personalidade do Ano Tauromaquia

Grupo de Forcados Amadores de Tomar

“Aqueles segundos em que vamos agarrados ao toiro parecem uma eternidade” Marco Fernando é o actual cabo do Grupo de Forcados Amadores de Tomar. A escolha recaiu nele há três anos e foi tomada por todos. Foi uma grande honra e é uma enorme responsabilidade. Só não pesa tanto porque o grupo funciona como uma família e ele nunca está sozinho. Desde criança que é aficionado. Na altura ia com o pai a muitas corridas e gostava mais dos cavalos. No grupo encontrou valores como a amizade e o espírito de entreajuda que gostava que fossem mais cultivados em toda a sociedade. Ana Isabel Borrego O que o levou a pertencer a um grupo de forcados? O meu mundo é o campo. Gosto do cavalo e do toiro. Cresci nesse meio por isso, para mim, foi natural e fácil escolher ser forcado e entrar para o grupo de Tomar porque sempre tive um fascínio enorme pela festa brava. Tinha 15 anos e encontrei nos Forcados de Tomar a amizade e o espírito de entreajuda que devem fazer parte da nossa sociedade. Em criança lembra-se de ir às corridas de toiros? Desde pequeno que vou aos toiros. Costumava ir às corridas em Tomar, Vila Nova da Barquinha, Chamusca e

“Desde que haja toiros para pegar os forcados de Tomar vão continuar” O Grupo de Forcados Amadores de Tomar completou 60 anos de existência em 2016 e mostrou à cidade, à região e aos aficionados em geral que está bem vivo. Em termos de actividade taurina o ano foi bem preenchido e teve como ponto alto o regresso do grupo, agora liderado pelo Cabo Marco Fernando, a Lisboa, para pegar na praça do Campo Pequeno. As seis décadas de actividade do Grupo de Forcados Amadores de Tomar foram recordadas através de uma exposi-

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Santarém, durante Feira da Agricultura. Ia sempre com o meu pai, que também é um grande aficionado. Percorria a região para ver uma corrida de toiros tal era o fascínio pela festa brava. Já vibrava com o cavalo, com o toiro e com o campino. Tudo o que esteja relacionado com uma corrida de toiros sempre gostei de ver. Nessa altura já dizia que queria ser forcado? Em criança fascinavam-me mais os cavalos. Mais tarde, na adolescência, é que comecei a despertar para os toiros e para a beleza de um pega. E aí começou a vontade de querer ser forcado e também poder pegar toiros. Que idade tinha quando pegou o pri-

ção na Casa Vieira Guimarães, em Tomar, onde foi possível ver largas dezenas de artigos que falam da história do grupo, troféus, fotografias, cartazes, e outras recordações cedidas por forcados e amigos ao grupo. Foi também realizada uma exposição de pintura sobre a Festa Brava. Num ano em que a tauromaquia esteve particularmente debaixo de fogo com algumas iniciativas, nomeadamente a nível parlamentar, que tinham como objectivo limitar aquela actividade, foi importante para o sector poder mostrar, através do Grupo de Forcados Amadores de Tomar, que a tradição das touradas não está confinada à zona da Lezíria do Ribatejo. Recorde-se que Tomar integra a As-

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meiro toiro? Tinha 22 anos. Foi um momento marcante e uma experiência única. Consegui pegar à primeira tentativa. A primeira vez que se pega um toiro está-se sempre naquela ansiedade de como vai correr, se vamos conseguir fazer tudo bem feito. O que importa é que esse dia correu bem e a vontade de continuar a pegar toiros foi crescendo de dia para dia. Qual foi a pega mais difícil até hoje? Já peguei toiros das ganadarias Brito Pais, Grave, Vale Sorraia, entre outros. Não tenho muitos toiros pegados. Até agora apenas peguei cerca de meia centena mas dos que peguei ainda não houve nenhum que me tenha dado uma pega particularmente difícil. Quando pego acaba por correr bem mas esse sucesso deve-se a todo o grupo que é excelente a ajudar e a apoiar no momento da reunião com o toiro. Tem muitas mazelas no seu corpo provocado pelos toiros? Umas costelas doridas ou partidas de vez em quando mas é normal e faz parte desta actividade. Como chegou a cabo dos forcados de Tomar? Foi há três anos. A escolha do ca-

sociação de Municípios com actividade taurina e a cidade tem uma praça de toiros fundada em 1908. Figuras ilustres de várias gerações de tomarenses, algumas das quais integram os corpos sociais do Grupo de Forcados Amadores de Tomar, fizeram questão de participar nas iniciativas públicas levadas a cabo durante as celebrações do 60º aniversário. O grupo conta actualmente com cerca de trinta elementos, entre os 16 e os 41 anos. São homens de diferentes profissões como carpinteiros, empresários, engenheiros, médicos, canalizadores, advogados mostrando que a paixão pela forcadagem é abrangente. Não existe limite de idade para entrar no grupo de Tomar. Quem quiser basta participar nos treinos

bo é sempre uma decisão conjunta do grupo. Entre todos decidimos que deveria ser eu a desempenhar o cargo e dou o meu melhor todos os dias para honrar o nome do grupo e a jaqueta de forcado, que é o que fazemos todos sempre. Ser forcado e cabo ao mesmo tempo aumenta a responsabilidade? É uma responsabilidade acrescida. Um forcado só se tem que preocupar com as suas pegas e em treinar. Eu, além disso, preocupo-me com todos os elementos e, com a ajuda de alguns membros da direcção, tenho a responsabilidade de arranjar corridas para o grupo e fazer com que tudo funcione bem na gestão. Tem medo ou tem muito medo em cada pega que faz? Todos temos medo e quem disser que não tem está a mentir. O segredo é superar o medo. Como ultrapassa esse medo? Imagino que tenho dois corações. O meu e um imaginário que está fora do corpo. Canalizo todo o meu medo para o coração imaginário e vou em frente com toda a coragem para enfrentar o toiro. Temos que pôr o coração de lado e ir em frente com garra e audácia. Tem medo ao ver os seus colegas diante do toiro? Tenho receio porque alguém se pode magoar a sério, apesar de estarmos cientes disso em todas as corridas. Esse é o receio de qualquer forcado. Mas temos que pensar sempre positivo porque senão nunca saíamos de casa. Nem para pegar touros nem para fazer fosse o que fosse. Onde costumam treinar? Normalmente vamos às ganadarias que nos abrem as portas para treinarmos. Fazemos entre dez a quinze treinos por época. Os forcados têm fama de brigões e marialvas. Ainda é assim? Não é tanto como antigamente mas ainda é um bocadinho assim (risos). Agora é diferente, estamos mais voltados para a família e para o convívio entre todos. Actualmente, já se fazem, às vezes, treinos conjuntos. Dois grupos de forcados a treinarem à mesma hora, no mesmo local. Antigamente havia mais disputa, hoje somos mais amigos uns dos outros.

no início da temporada. O elemento mais novo é filho de um dos elementos mais velhos do grupo. Em média, entram três a cinco novos elementos por ano, garantindo-se assim a continuidade do grupo. Consideram-se uma família e é habitual encontrarem-se em almoços e jantares onde convivem e nos quais participam os familiares. O grupo realiza diversas actividades ao longo do ano, destinadas a angariar dinheiro para suportar as despesas. Só para o seguro mínimo obrigatório são mais de quatro mil e quinhentos euros. E ainda há que contar com as deslocações, refeições e vestuário. Apesar das dificuldades o cabo garante que o grupo sempre esteve muito activo e unido.


Onde compram as fardas? Compramos os rolos com os tecidos e mandamos fazer a uma costureira que faz a farda à medida de cada forcado. Tem superstições? Sou religioso mas não sou supersticioso. Já houve alguma lesão grave no vosso grupo? Não. O mais grave que nos sucedeu nem sequer foi a pegar qualquer toiro e felizmente ninguém se aleijou. Tivemos um acidente em 1996 quando íamos a caminho de uma corrida em França. O carro teve que ir para a sucata e tivemos que anular a nossa participação porque não conseguimos chegar ao destino. Vale a pena arriscar a vida por uma pega? Claro que sim, mas o facto de estar ali em frente ao toiro, citar o toiro, recuar com o toiro e dar uma pega histórica é o desejo de qualquer forcado. Dar emoção ao público e para nós o mais gratificante. Já decidiu até quando vai ser forcado? Enquanto me sentir bem fisica. e psicologicamente e enquanto não decidirmos quem irá dar continuidade ao nosso grupo irei continuar e dar o melhor de mim. Alguma vez algum forcado lhe pediu para não pegar depois de ter sido o escolhido para ir para a cara do toiro? Muito raramente isso acontece. Todos que-

rem pegar e ficam chateados é por não serem escolhidos para pegarem. Como é feita essa escolha? Nos treinos vemos quem tem mais aptidão, quem quer mesmo pegar, quem tem mais vontade e quais são aqueles que pegam só por pegar. Chamamos aqueles que têm mais vontade. Nas corridas com mais responsabilidade vão os mais experientes. Nas outras, vamos rodando para todos ganharem experiência. Vêem os toiros antes das corridas? O cabo assiste ao sorteio dos toiros e é aí que temos o primeiro contacto com o animal mas normalmente não dá para ver muito bem. Não ligo muito a isso porque os toiros têm que ser pegados, independentemente daquele que nos calhe em sorte. Como é que decide quem vai pegar o toiro? Normalmente, o que o toiro faz no capote e no cavalo vai fazer exactamente o mesmo com o forcado. Durante a lide a cavalo analisamos o toiro e depois decido qual o forcado que está melhor preparado para as características daquele toiro. Costumo dizer que cada toiro tem o seu forcado e só tenho que escolher o forcado que melhor se adapta ao tipo de toiro que está na arena. O que é que pensa quando está na cara do toiro?

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Parece que o toiro nunca mais pára. (risos). Aqueles segundos enquanto não chega a ajuda dos colegas parecem uma eternidade. Nós sabemos que é uma coisa rápida mas quando estamos na cara do toiro parece muito tempo. Cada um tem o seu modo próprio de citar o toiro quando está diante do animal? Normalmente cada um de nós tem o seu modo de citar o toiro. Uns são mais bonitos, mais alegres, mais vistosos. Não tem que ser igual para todos porque nem todos conseguem controlar os nervos e podem citar mais baixo ou de forma mais nervosa. Que opinião tem sobre os anti-taurinos? Devíamos dar oportunidade a essas pessoas para poderem ir ao campo ver os animais. Muito provavelmente quem se diz anti-taurino só deve ter visto uma corrida de toiros ou nem sequer viu nenhuma. Essas pessoas não têm a mínima noção do que é a vida animal no campo. Se fossem ao campo e vissem os animais e a forma como os toiros são tratados tinham uma ideia diferente do espectáculo da festa brava.

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Uma mulher simples com uma coragem invulgar A homenagem a título póstumo que O MIRANTE decidiu prestar a Odete Silva é uma forma de lembrar uma cidadã empenhada na vida da comunidade e com muita vontade de contribuir para uma vida melhor para todos. Início de Agosto de 2012. Assembleia da República em Lisboa. A jovem deputada Odete Silva está a subir um lance de escadas no interior do edifício ao mesmo tempo que uma funcionária da limpeza que transporta consigo vário equipamento. Sem hesitar tira-lhe o balde com água das mãos e sobe com ela, sorridente e a conversar. Era assim mesmo, espontânea e sem complexos, a mulher que morreu a 10 de

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Março de 2016, com 44 anos, vítima de cancro, deixando família e amigos profundamente tristes e a região mais pobre. Odete Maria Loureiro da Silva trabalhou como gestora numa empresa de distribuição de combustíveis antes de entrar para a política. Na altura do seu falecimento era Deputada, eleita pelo círculo eleitoral de Lisboa, presidente da direcção da Associação dos Bombeiros Voluntários da Póvoa de Santa Iria e presiden-

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Personalidade do Ano

Título Póstumo

Odete Silva - Deputada e Presidente da Direcção dos Bombeiros da Póvoa de Santa Iria te da concelhia do PSD de Vila Franca de Xira. Quem a conhecia bem considerava-a uma mulher leal, frontal e dialogante.


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Os principais acontecimentos do ano: CULTURA ninguém dos tempos actuais gostaria de viver mas onde toda a gente tem a tentação de visitar para perceber melhor uma parte importante da história da humanidade.

VERÃO ANIMADO EM SANTARÉM DO SOLSTÍCIO AO EQUINÓCIO Uma parada de artistas, um passeio nocturno de carros antigos, um espectáculo e fogo-de-artifício abriram, no dia 20 de Junho, o programa “Verão In.Str/2016... é um espanto!”. Uma iniciativa do município em colaboração com múltiplos parceiros que até 23 de Setembro proporcionaram uma oferta cultural diversificada no centro histórico de Santarém.

JULHO FESTA DOS TABULEIROS EM TOMAR

FEVEREIRO FESTA TEMPLÁRIA EM TOMAR

CARTOONXIRA MAIS UMA VEZ PELA MÃO DE ANTÓNIO

A Festa Templária de Tomar começou a realizar-se em Julho e não em Maio como aconteceu nos últimos anos. A Câmara de Tomar justificou esta alteração de data com o facto de em Maio, quando se realizava, não haver nenhuma ligação a uma data histórica. Em 2016 a Festa Templária realizou-se no segundo fim-de-semana de Julho (entre os dias 7 e 10) e teve uma evocação do cerco de 1190, promovido pelas tropas do rei de Marrocos, Almansor, que efectuaram um forte contra-ataque, fazendo recuar os portugueses desde o Algarve até ao rio Tejo.

A cartoonista belga Cécile Bertrand foi a convidada internacional da edição de 2016 do CartoonXira, mostra de cartoons de Vila Franca de Xira que vai já a caminho da 18ª edição. O CartoonXira voltou a realizar-se no Celeiro da Patriarcal, entre os dias 12 de Março e 8 de Abril. Nesta 17ª edição os cartoons foram da autoria de António, Bandeira, Brito, Carrilho, Cid, Cristina, Gargalo, Gonçalves, Maia, Monteiro e Rodrigo, abordando temas como o fim do governo de Passos Coelho, a tomada do poder de António Costa, as legislativas, as presidenciais, a crise dos migrantes e a União Europeia.

MARÇO

ABRIL

ORQUESTRA TÍPICA SCALABITANA FESTEJOU 70 ANOS COM CONCERTO

CÂMARA DE ABRANTES INVESTE EM MUSEU DE ARTE CONTEMPORÂNEA

A Orquestra Típica Scalabitana celebrou o seu 70º aniversário com um concerto comemorativo na Casa do Campino, em Santarém, no dia 19 de Março, dia da cidade. Um espectáculo que integrou o programa das Festas de São José. A Orquestra Típica Scalabitana foi fundada pelo maestro António Gavino em 1946 e desde então tem vindo a desenvolver uma actividade contínua com importante papel na divulgação da música e da cultura ribatejana, tendo já actuado por todo o país e também no estrangeiro.

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A Câmara de Abrantes anunciou um investimento de 1,5 milhões de euros na requalificação do Edifício Carneiro, imóvel próximo do castelo da cidade, para acolher o futuro Museu de Arte Contemporânea “Charters d’ Almeida”. O escultor Charters d’ Almeida, 81 anos, doou ao município de Abrantes uma parte significativa da sua colecção, resultado de mais de meio século de actividade artística, e de que se destacam as obras em grande escala, conhecidas por “Ci-

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dades Imaginárias”, que chegam a atingir os 40 metros de altura.

JUNHO FEIRA QUINHENTISTA EM TORRES NOVAS Em 2016 a Feira Quinhentista teve uma recriação do tempo em que as sete confrarias da região se unem para fundar a Misericórdia. O centro da cidade e a zona do Castelo foram mais uma vez transformados, remetendo os visitantes para uma época onde

De quatro em quatro anos realiza-se em Tomar uma das festas populares mais importantes do país. Ao longo de um percurso de cinco quilómetros desfilam mais de seiscentos pares das dezasseis freguesias do concelho com as mulheres transportando vistosos tabuleiros ornamentados com flores e pão, acompanhadas pelos homens também vestidos a preceito. A Festa dos Tabuleiros, de Tomar, recebeu o troféu de Melhor Evento Público realizado em Portugal em 2016.

TRADICIONAL BÊNÇÃO DO GADO EM RIACHOS As tradicionais festas da Bênção do Gado em Riachos, concelho de Torres No-


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vas, que se realizam de quatro em quatro anos, realizaram-se, em 2016, de 22 a 31 de Julho. A tradicional procissão do Senhor Jesus dos Lavradores decorreu dia 29 e no dia seguinte realizou-se o tradicional cortejo da Bênção do Gado, que leva centenas de pessoas à principal rua de Riachos.

AGOSTO FESTIVAL DOS BONS SONS EM CEM SOLDOS-TOMAR Décima edição do Festival Bons Sons na pequena aldeia de Cem Soldos, concelho de Tomar. A iniciativa atrai milhares de visitantes de todo o país e integra já o roteiro dos maiores festivais de música, tendo como principal característica, para além de se realizar numa aldeia, envolvendo toda a comunidade. o facto de o seu cartaz ser composto exclusivamente por artistas portugueses.

DEZEMBRO FALCOARIA DE SALVATERRA DE MAGOS PATRIMÓNIO DA HUMANIDADE A arte da Falcoaria em Portugal foi declarada Património Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO no dia 1 de Dezembro, no decorrer da reunião do Comité Intergovernamental para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial que decorreu em Adis Abeba, na Etiópia.

PRÉMIO CARLOS PAREDES O músico Pedro Mestre venceu a edição de 2016 do Prémio Carlos Paredes, atribuído pela Câmara Municipal de Vila Franca de Xira, que distinguiu a obra “Campaniça do Despique”.

SETEMBRO JORNADAS DA GASTRONOMIA E FEIRA DO LIVRO EM CORUCHE As Jornadas da Gastronomia e a Feira do Livro de Coruche decorrem todos os anos no Centro de Exposições da vila. As Jornadas da Gastronomia incluíram a segunda edição dos Sabores do Arroz com produtores de arroz da região.

OUTUBRO A FEIRA DE OUTUBRO EM VILA FRANCA DE XIRA Na feira anual de Vila Franca de Xira vende-se de tudo um pouco. Muitos feirantes já ali montam banca há décadas e conhecem de ginjeira as manhas dos fregueses. Os primeiros dias são para ver e é nos últimos que se faz mais negócio. As grandes novidades de 2016 foram a tenda que cobre as tasquinhas, para proteger do sol e da chuva, e ainda a remoção de um dos bares - são agora dois os que existem dentro do recinto.

FESTIVAL NACIONAL DE GASTRONOMIA EM SANTARÉM O Festival Nacional de Gastronomia (FNG) regressou a Santarém entre os dias 21 de Outubro e 1 de Novembro. A 36ª edição foi dedicada aos “sabores do mar português”. O evento, organizado pela Viver Santarém e pela Entidade Regional de Turismo Alentejo e Ribatejo, contou com a parceria do Ministério do Mar e da Secretaria de Estado das Pescas para uma programação diária dedicada aos produtos “emblemáticos” do Atlântico trazidos por nove municípios convidados.

NOVEMBRO ALMEIRIM É CAPITAL DA GUITARRA PORTUGUESA

A AUSTRA foi criada em dezembro de 1991, com o objetivo de efetuar a gestão do “Sistema de Alcanena” composto pela ETAR - Estação de Tratamento de Águas Residuais, pelos Aterros de Lamas e Resíduos Sólidos Industriais (Indústria de Curtumes) e pelo SIRECRO - Sistema de Recuperação de Crómio. Neste âmbito efetua o tratamento e controlo das emissões de efluentes das empresas, participando também na definição da estratégia ambiental do setor. Por forma a tratar os resíduos e efluentes das indústrias de curtumes, de forma integrada, a AUSTRA possui três estruturas principais:

ETAR - Sistema de Tratamento de Águas Residuais de Alcanena

Aterros de Resíduos Sólidos Industriais e Lamas

SIRECRO - Sistema de Recuperação de Crómio de Alcanena

O Festival Guitarra D’Alma regressou, pelo terceiro ano consecutivo, ao concelho de Almeirim entre os dias 18 e 26 de Novembro. O festival propôs uma semana dedicada à guitarra portuguesa com iniciativas que incluíram exposições, homenagens e uma tertúlia. O evento, único no país, terminou na noite de sábado, 26 de Novembro, com a actuação do projecto Custódio Castelo Sexteto no Cine Teatro de Almeirim.

Telef.: 249 881 338 - Fax.: 249 891 531 • Lagar do Freixo • Apartado 76 • 2384 - 909 ALCANENA • PORTUGAL E-mail: austra@austra.pt • www.austra.pt 34

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Os principais acontecimentos do ano: POLÍTICA JANEIRO ANO COMEÇA TURBULENTO NA CÂMARA DE TOMAR E A AGITAÇÃO CONTINUOU 2016 iniciou-se com grande agitação na Câmara Municipal de Tomar com mexidas na estrutura dirigente. Luís Ferreira, o todo-poderoso chefe de gabinete da presidente da autarquia foi exonerado do cargo, a seu pedido, no dia 1 de Janeiro de 2016, para assumir o cargo de técnico de informática da câmara na sequência de um concurso aberto pela autarquia. Só que o concurso foi anulado pelo Governo e Ferreira ficou sem o cargo de nomeação política e sem o emprego no município, regressando à Câmara de Alpiarça, de cujo quadro faz parte. Entretanto, desvinculou-se da bancada do PS na assembleia municipal e passou de defensor acérrimo a crítico contundente da gestão PS/CDU. Ainda no início de Janeiro, a presidente da Câmara de Tomar substitui Rui Serrano por Hugo Cristóvão no cargo de vice-presidente do município. As ondas de choque não se fizeram esperar e Rui Serrano renunciou a todos pelouros, mas duas semanas depois voltou atrás e acabou por aceitar pelouros. Em Agosto Rui Serrano entrega novamente os pelouros, desta vez irrevogavelmente, e em Novembro acaba por renunciar ao mandato. É substituído na bancada do PS pela jovem Sara Costa.

são apontadas para a decisão. António José Ganhão é membro da comissão concelhia de Benavente do PCP e, segundo o partido, “continuará a intervir e a desempenhar tarefas no plano concelhio e nacional, contando para isso com uma vasta experiência decorrente de mais de 39 anos como autarca eleito pelas listas da CDU à Câmara Municipal de Benavente e, desde Setembro de 2013 à Assembleia Municipal de Benavente”.

da Agência Portuguesa do Ambiente há mais de dois anos só por querer dragar algumas zonas do rio, trabalho que nem sequer lhe compete, à custa do esforço financeiro do município. Uma posição política forte em vésperas do segundo Fórum Ibérico do Tejo, que se realizou em Vila Franca de Xira.

versário do 25 de Abril de 1974. A situação ocorre em Abrantes, de maioria PS, Alpiarça, de maioria CDU, e Salvaterra de Magos e Tomar, de maioria PS. Nos restantes municípios onde também se realizam sessões das assembleias municipais que assinalam aquela data não há lugar a qualquer pagamento de senhas.

ABRIL

JULHO

FEVEREIRO

MARÇO

MIGUEL BORGES APROVEITA VISITA DE MINISTROS PARA ENVIAR RECADOS PARA LISBOA

JORNAL DA CÂMARA DE OURÉM ESTREIA-SE COM CRÍTICAS DA OPOSIÇÃO

PRESIDENTE DA REPÚBLICA ANUNCIA EM SANTARÉM CONDECORAÇÃO A SALGUEIRO MAIA

AUTARCAS INSATISFEITOS COM ADMINISTRAÇÃO DO HOSPITAL DE SANTARÉM

A inauguração da Loja do Cidadão do Sardoal serve para o presidente desse município enviar alguns recados para Lisboa. Miguel Borges aproveitou a presença de dois ministros para se queixar da falta de médicos e do custo elevado das portagens da A23. E ainda lamentou que a nova Loja do Cidadão não integre os serviços do Instituto de Registos e Notariado.

O novo jornal que a Câmara de Ourém começou a publicar mensalmente originou críticas da oposição logo no primeiro número. Os vereadores da Coligação Ourém Sempre (PSD/CDS) não gostaram de excertos da entrevista de três páginas do presidente Paulo Fonseca (PS), onde o autarca fez acusações à oposição.

ANTÓNIO JOSÉ GANHÃO DEIXA POLÍTICA AUTÁRQUICA AO FIM DE 40 ANOS António José Ganhão renuncia ao cargo de presidente da Assembleia Municipal de Benavente, abandonando as lides autárquicas ao fim de 40 anos. Razões de saúde

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BUROCRACIA DE LISBOA BLOQUEIA RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS NO TEJO O presidente da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira, Alberto Mesquita (PS), diz que a burocracia de Lisboa bloqueia iniciativas destinadas a resolver problemas do Tejo. E conta que está enredado numa teia

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O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, anuncia em Santarém que vai distinguir o capitão de Abril Fernando Salgueiro Maia, a título póstumo, com a Ordem do Infante D. Henrique. Durante as comemorações do 25 de Abril, o presidente da câmara, Ricardo Gonçalves, anuncia a criação do Museu do 25 de Abril e da Liberdade nas instalações da antiga Escola Prática de Cavalaria.

MAIO AUTARCAS RECEBEM PARA CELEBRAR O 25 DE ABRIL Há quatro concelhos do distrito de Santarém onde os autarcas recebem pela sua participação nas sessões evocativas do ani-

Os autarcas da Lezíria do Tejo têm vindo a revelar descontentamento com a administração do Hospital de Santarém e a insatisfação vai ganhando força. O presidente da Comunidade Intermunicipal da Lezíria do Tejo e da Câmara de Almeirim é um dos mais críticos e considera que a situação não pode piorar mais do que está, exigindo mudanças. Pedro Ribeiro pede que a administração do Hospital de Santarém se demita.

SETEMBRO ESTRUTURA NACIONAL DO PS CONFIRMA RECANDIDATURA DE PEDRO FERREIRA EM TORRES NOVAS A secretária-geral adjunta do PS, Ana Catarina Mendes, envia uma carta ao pre-


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sidente da Câmara de Torres Novas, Pedro Ferreira, reiterando a confiança no seu trabalho e confirmando a sua recandidatura ao cargo. A carta surge na sequência de um artigo do jornal Público que, sem citar qualquer fonte, anunciava que o PS tinha elencado dez câmaras municipais que considera serem “mais problemáticas” em termos de escolha do cabeça de lista para as autárquicas do próximo ano, entre as quais incluiu Golegã e Torres Novas.

PRESIDENTE DA CÂMARA DA GOLEGÃ EXCLUÍDO DE EVENTO PÚBLICO PELO ANTECESSOR O presidente da Câmara da Golegã, Rui Medinas (PS), não foi convidado para um evento na vila, organizado pelo presidente da Associação Nacional de Turismo Equestre e presidente da Assembleia Municipal da Golegã, Veiga Maltez. Uma falha protocolar que surge na sequência das conhecidas divergências entre os dois autarcas. Veiga Maltez justificou que o município estava representado por si, enquanto presidente da assembleia municipal, e que também não tinha sido convidado nenhum autarca.

AUTARCA DE OURÉM RECUSA GEMINAÇÃO COM ALDEIA DA HUNGRIA O presidente da Câmara de Ourém recusa o pedido de geminação com a aldeia de Csikvand, na Hungria, terra natal do padre Luís Kondor, que vivia desde 1954 em Fátima, onde se encontra sepultado. Paulo Fonseca justificou a decisão com o facto do governo húngaro ter tido a intenção de construir um muro para conter a vaga de refugiados vinda através da Turquia e Grécia. A decisão do presidente da Câmara de Ourém mereceu críticas por parte do vereador da Coligação Ourém Sempre (PSD/CDS), José Poças das Neves.

OUTUBRO PEDRO FERREIRA AMEAÇADO POR CAUSA DA POLUIÇÃO EM TORRES NOVAS O presidente da Câmara de Torres Novas, Pedro Ferreira (PS), diz durante uma reunião do executivo que foi ameaçado por mensagem, por e-mail e por telefone

Ricardo Gonçalves devido à acção da autarquia e de outras entidades contra a poluição na ribeira da Boa Água, afluente do rio Almonda.

REFORMADOS A MEIO TEMPO NA JUNTA DE ALVERCA LEVAM 953 EUROS MENSAIS A Junta de Freguesia de Alverca, liderada por Afonso Costa (PS), passou a ter a partir de Outubro dois mem-

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bros do seu executivo a trabalhar a meio tempo auferindo cada um 953,79 euros por mês. São 1907 euros que mensalmente saem do orçamento da junta de freguesia para pagar a jornada de trabalho de José Carlos da Silva Dias e José Manuel Pascoalinho, ambos reformados. O PCP espalhou pela cidade um documento criticando a decisão e acusando a gestão de Afonso Costa de clientelismo e interesse pessoal.

CÂMARA DE SANTARÉM EXIGE AO GOVERNO O PAGAMENTO DE DOIS MILHÕES DE EUROS A Câmara Municipal de Santarém acusa o Ministério da Educação de não cumprir com a sua parte do acordo de delegação de competências nessa área e reclama do Governo o pagamento de mais de dois milhões de euros que deviam ter sido transferidos desde 2008 até à actualidade. Autarquia liderada por Ricardo Gonçalves (PSD) diz que as verbas transferidas pelo ministério têm sido insuficientes e que tem vindo a suportar despesas que não lhe competem.

AUTARCAS EM GUERRA COM CAIXA AGRÍCOLA DA CHAMUSCA POR QUERER FECHAR BALCÕES Os presidentes das Juntas de Freguesia de Azinhaga (Golegã), Víctor Guia, e da Carregueira (Chamusca), Joel Marques, declaram guerra à Caixa Agrícola da Chamusca, que pretende fechar as suas delegações nessas localidades, por razões económicas e de redução de custos. O mais radical é o presidente da Azinhaga que manda cancelar a sua conta bancária pessoal e a da autarquia e aconselha a população a fazer o mesmo, como forma de protesto. Apesar dos protestos os balcões fecharam mesmo.

NOVEMBRO RELAÇÃO CONFIRMA QUE LÍDER DISTRITAL DO PS SE APROPRIOU DE DINHEIRO O Tribunal da Relação de Évora confirma e ainda agrava a decisão da primeira instância que condena o deputado e presidente da distrital de Santarém do PS, António Gameiro, por ter ficado com 45 mil euros resultantes da venda de um apartamento de uma emigrante na Austrália, da qual foi advogado. O político recorreu da decisão da Instância Central Cível do Tribunal da Comar-

ca de Santarém que deu como provado que este, na posse de uma procuração da cliente, tratou da venda de um apartamento dela e não lhe entregou o dinheiro.

PAULO FONSECA EVASIVO SOBRE CASO DO DONO DA RÁDIO QUE CONTRATOU PARA A CÂMARA O presidente da Câmara de Ourém, Paulo Fonseca (PS), garante desconhecer que o município que lidera tem a trabalhar como dirigente da área de relações institucionais e comunicação o dono de uma rádio local que, além do ordenado, é beneficiado com pagamentos do município à empresa através de contratos de publicidade. Uma situação que configura uma incompatibilidade à luz da Lei Geral do Trabalho em Funções Públicas.

almoço de Natal dos funcionários do município e resultou de um compromisso que assumiu com a família quando venceu as eleições em 2013. O anúncio de Rui Medinas surge numa altura em que começa a ganhar força a possibilidade de o ex-presidente da câmara, eleito pelo PS, e actual presidente da assembleia municipal eleito por um movimento independente, Veiga Maltez, ser candidato à presidência da câmara. Rui Medinas garante que a sua decisão nada teve a ver com essa situação.

ANTÓNIO RODRIGUES DEIXA LIDERANÇA DO PS DE TORRES NOVAS E DÁ MAIS UM SINAL DE DIVERGÊNCIA O presidente da comissão política concelhia do Partido Socialista de Torres Novas, António Rodrigues, renuncia ao cargo. Esse foi mais um sinal das divergências que grassam no PS local, nomeadamente entre Rodrigues e o actual presidente da câmara e camarada de partido, Pedro Ferreira, que foi durante vários anos número dois de Rodrigues enquanto este liderou o município torrejano.

DEZEMBRO RUI MEDINAS CUMPRE UM MANDATO COMO PRESIDENTE DA CÂMARA DA GOLEGÃ E SAI DE CENA O presidente da Câmara da Golegã, Rui Medinas (PS), surpreende ao anunciar que não vai ser candidato nas eleições autárquicas de 2017, após ter cumprido apenas um mandato como líder do município. A decisão foi anunciada num

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Os principais acontecimentos do ano: SOCIEDADE tarém que desabaram em Agosto de 2014. Mas durante todo o ano o processo esteve envolto em atrasos e peripécias. Só já em 2017 é que o processo foi desbloqueado porque a câmara decidiu assumir a totalidade da comparticipação da empreitada, financiada por fundos comunitários, devido à dificuldade da Infraestruturas de Portugal em obter o visto ao protocolo para a realização dos trabalhos.

Abril

HOMICÍDIO CRUEL DE ADOLESCENTE EM SALVATERRA DE MAGOS

Janeiro MORTE DE JOVEM POR FALTA DE EQUIPA MÉDICA Um jovem de Vila Chã de Ourique, Cartaxo, morreu num hospital de Lisboa, alegadamente por não ter sido operado em tempo útil a um aneurisma cerebral por não haver equipas de neurocirurgia ao fim-desemana. A morte de David Duarte, de 29 anos, causou uma onda de indignação e foram feitas mudanças no funcionamento dos hospitais da capital para se evitarem novas tragédias. Em Dezembro, um inquérito da Ordem dos Médicos, concluiu que não houve responsabilidade médica no caso da morte de David Duarte no Hospital de São José e acusou a anterior tutela, que “há muito” conhecia os problemas de escalas e nunca os resolveu.

Fevereiro ACIDENTES COM COMBOIOS No início de Fevereiro é notícia o primeiro de vários acidentes mortais com comboios na região. Neste caso uma mulher de 77 anos morreu ao ser atropelada por um comboio Alfa Pendular quando atravessava a pé a passagem de nível da Ribeira de Santarém. Um mês depois mais um acidente que vitimou uma condutora que atravessava a linha de Vendas Novas em Coruche. No mês de Abril mais um morto, desta vez em Marinhais (Salvaterra de Magos) quando um carro é colhido por um comboio na passagem de nível provocando a morte do condutor. O acidente mais grave e aparato-

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so ocorreu em Novembro, quando um comboio colidiu com um camião que transportava uma máquina, na passagem de nível da Estrada do Peso, perto do Vale de Santarém, tendo morrido o ajudante do camião e nove passageiros do comboio ficaram feridos. No mesmo mês uma mulher que atravessava a linha na Estação de Santarém, para apanhar um comboio, é trucidada por uma composição de mercadoria que circulava em sentido contrário. E em Dezembro regista-se mais um morto, desta vez na estação de Vila Franca de Xira.

POLUIÇÃO NO TEJO

Os alertas de poluição no Tejo foram uma constante ao longo do ano e no início do ano uma das iniciativas mais mediáticas foi a de um protesto de pescadores que queimaram um barco para simbolizar o fim da pesca no Tejo devido à poluição. Na iniciativa estiveram pescadores da Golegã, Azinhaga, Vila Nova da Barquinha, Ortiga (Mação) e Vila Velha de Ródão, onde decorreu o protesto. No Fórum Ibérico do Tejo, em Março, o presidente da Câmara de Vila Franca de Xira, Alberto Mesquita, queixou-se da burocracia e demora das entidades para resolverem os problemas do rio e Carmona Rodrigues, que foi presidente da Câmara de Lisboa, realçou que o Tejo está esquecido porque a administração central desconhece a realidade.

QUALIDADE DO AR NA SEGURANÇA SOCIAL

A Segurança Social pediu vários procedimentos para avaliar a qualidade das instalações em Vila Franca de Xira, depois de

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pelo menos 10 funcionários terem contraído doenças do foro oncológico nos últimos anos e outros dois terem infecções respiratórias. Num abaixo-assinado os trabalhadores pediram a intervenção das autoridades. Foi decidido fazer obras no edifício para melhorar as condições de trabalho e de qualidade do ar e os funcionários foram instalados num espaço provisório.

Março

OBRAS NAS ENCOSTAS DE SANTARÉM Em Março é lançado o concurso para as obras de consolidação das barreiras de San-

O crime mais chocante da região em que um jovem matou um adolescente em Salvaterra de Magos por motivos fúteis foi julgado no primeiro trimestre do ano e a decisão foi proferida a 22 de Abril com Daniel Neves, 18 anos, a ser condenado a 17 anos e meio de prisão pelo homicídio e profanação de cadáver de Filipe Diogo, de 14 anos. Daniel Neves estava acusado de ter matado o adolescente na noite de 11 de Maio de 2015 devido aos golpes que lhe desferiu com um tubo de metal, no corpo e na cabeça, e de ter escondido o cadáver no sótão do prédio onde o crime ocorreu. O tribunal decidiu, devido à crueldade do crime, não aplicar as medidas de atenuação de penas para jovens.

Maio

PRIMEIRO CREMATÓRIO DA REGIÃO Almeirim avança com um projecto para a instalação de um crematório numa parceria da junta de freguesia e da câmara, o primeiro na região, que está a ser elaborado. A cidade antecipou-se a Santarém, que também queria um crematório, mas a intenção foi reprovada pela oposição que tem maioria na autarquia. O Entroncamento também


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tinha um projecto idêntico que nunca avançou porque a ideia era concessioná-lo a privados, não tendo aparecido interessados.

BLOCO OPERATÓRIO DE SANTARÉM ENGUIÇADO

O secretário de Estado da Saúde anuncia o desbloqueamento das verbas para as obras no bloco operatório no Hospital Distrital de Santarém. Mas o processo, que já andava a arrastar-se nos gabinetes desde 2013, continuou a arrastar-se durante o ano e o Hospital de Santarém não aproveitou a oferta do Centro Hospitalar do Médio Tejo para a utilização do seu bloco em Torres Novas. O bloco de Santarém é antigo e não tem as mínimas condições de funcionamento. Tem sido frequente o encerramento do bloco quando os níveis de humidade são mais elevados. Só em Outubro as obras foram autorizadas pelo Governo e só no início de 2017 foi anunciado o investimento.

Junho

PRESIDENTE DA REPÚBLICA VISITOU E ELOGIOU O HOSPITAL DE VILA FRANCA DE XIRA O Hospital de Vila Franca de Xira venceu o prémio Healthcare Excellence com o projecto “capacitar para melhor cuidar”, uma iniciativa que prepara cuidadores para prestar cuidados ao domicílio a doentes em pós-operatório. Aquela distinção foi uma entre várias recebidas pela unidade hospitalar do Serviço Nacional de Saúde, gerida pelo Grupo José de Mello Saúde. Em Dezembro, por exemplo, o Hospital de Vila Franca de Xira foi um dos três nomeados do seu grupo de comparação nos prémios “TOP 5’ 16 - A Excelência dos Hospitais”, promovidos pela IASIST - empresa multinacional de benchmarking hospitalar. Em Março, o Presidente da República visitou o hospital tendo-o apontado como um exemplo de uma parceria entre o Estado e privados com resultados positivos para os cidadãos. “Os utentes sabem que podem sempre contar com o Serviço Nacional de Saúde e as parcerias público-privadas, como esta, são uma forma de defen-

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der o interesse público.”, afirmou Marcelo Rebelo de Sousa.

BEBÉ MILAGRE DE MÃE EM MORTE CEREBRAL

Um caso inédito na medicina portuguesa sensibiliza o país. Sandra Pedro, 37 anos, do Bairro das Bragadas, Póvoa de Santa Iria, concelho de Vila Franca de Xira, esteve quatro meses ligada artificialmente à vida para que o parto pudesse ser feito. A grávida em morte cerebral, que foi mantida “viva” até dia 7 de Junho. A mãe do bebé entrou em morte cerebral “na sequência de uma hemorragia intracerebral” no dia 20 de Fevereiro. A guarda do bebé foi entregue, em Outubro, ao pai, num acordo alcançado no tribunal de Vila Franca de Xira, após uma disputa parental entre o pai e os avós maternos que já durava desde o nascimento do menino.

Julho A POLUIÇÃO NO ALMONDA E A POLÉMICA COM A FABRIÓLEO Novos focos de poluição no rio Almonda e na ribeira da Boa Água voltam a gerar polémica com uma empresa de Torres Novas, a Fabrióleo, apontada como a principal poluidora do rio, quando a firma alega que há mais quem polui o ambiente, incluindo entidades públicas. A polémica é uma constante ao longo do ano depois de o município ter recusado declarar o interesse público da unidade para que esta pudesse legalizar uma parte das instalações. Em Dezembro a situação voltou a ser apreciada e a Assembleia Municipal de Torres Novas, na qual estiveram os trabalhadores da empresa, voltou a pronunciar-se contra a emissão de uma declaração de interesse público municipal à Fábrica de Óleos Vegetais.

AGOSTO RODOVIÁRIA DO TEJO APOIA BOMBEIROS EM PLENA ÉPOCA DE FOGOS FLORESTAIS A Rodoviária do Tejo, disponibilizou autocarros para transportar bombeiros de Al-

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sita do Papa Francisco a Fátima. Os autores do manifesto, onde se incluem ainda o antropólogo Carlos Simões Nuno e o padre Mário de Oliveira, também conhecido como o “padre da Lixa”, confessam a sua estranheza pela visita do Papa Francisco a Fátima em Maio de 2017, para celebrar o centenário das aparições dizendo que “o chamado ‘milagre’ dos três pastorinhos não passa de um autêntico embuste.

Dezembro

VÍRUS DA LÍNGUA AZUL NO MÉDIO TEJO

meirim mobilizados para incêndios florestais fora do concelho, nomeadamente no Norte do país, a qualquer hora e de forma gratuita.

Setembro JUDICIÁRIA DIZ QUE NÃO HÁ CRIME NO SURTO DE LEGIONELLA A Polícia Judiciária conclui no relatório final da investigação ao surto de Legionella de Vila Franca de Xira que a disseminação da bactéria através das torres de refrigeração industrial, mesmo causando perigo para a vida ou integridade física, poderá não constituir crime de poluição com perigo comum porque não há legislação específica sobre a fiscalização e verificação da legionella. Apesar disso Paulo Rocha, presidente da delegação de Vila Franca de Xira da Ordem dos Advogados, atribui pouca credibilidade ao documento da Judiciária, dizendo que é a entidade menos preparada para investigar um caso destes que infectou 403 pessoas e matou 14 em Novembro de 2014. As vítimas ainda não foram indemnizadas e o presidente da câmara tem vindo a apelar à celeridade da justiça. Entretanto foi criada uma associação das vítimas para juntos lutarem pelos seus direitos.

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Outubro MÃES ACUSADAS DE MATAR FILHOS BEBÉS O Ministério Público anunciou que deduziu acusação contra uma mulher detida no final de Março, em Abrantes, por suspeita de homicídio qualificado e profanação de cadáver do filho recém-nascido. Foi condenada em 20 meses de prisão por profanação de cadáver. O facto de não se ter feito autópsia ao cadáver do recém-nascido, porque o corpo nunca foi encontrado, não permitiu ao tribunal ter provas suficientes para atribuir a autoria da morte à mãe do bebé. Antes, em Julho, foi presa preventivamente uma jovem indiciada de matar o filho recém-nascido, encontrado no dia 25 de Junho numa zona de mato em Santarém. Ainda não há decisão sobre este caso que está para julgamento.

Novembro

MANIFESTO CONTRA VINDA DO PAPA O músico Pedro Barroso e o advogado de Torres Novas Carlos Tomé avançam com um manifesto, no qual criticam a vi-

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Centenas de ovelhas já tinham morrido neste mês na zona de Abrantes com o vírus da língua azul, tendo o veterinário do Agrupamento de Defesa Sanitário considerado que a situação é de “calamidade” para os produtores da região. Na altura estimava-se que mais de 8 mil animais estavam infectados.

ESPÉCIES EXÓTICAS ESTÃO A DOMINAR O TEJO

O investigador Filipe Ribeiro estava nesta altura a fazer uma investigação sobre as espécies exóticas no Tejo que se vai prolongar por dois anos. O investigador diz que no maior rio português existe a maior parte de espécies invasoras introduzidas em Portugal. E estas espécies, com prevalência para o siluro, que atinge dimensões e pesos consideráveis, estão a ser ajudadas pela poluição à qual são mais resistentes do que espécies nativas. Situação que está a contribuir para o desaparecimento dos peixes nativos do rio pondo em risco o ecossistema a médio ou mesmo curto prazo.

FUNCIONÁRIAS SUSPEITAS DE SE APROPRIAREM DE DINHEIRO DAS JUNTAS

Uma funcionária da Junta de Freguesia de Benavente foi acusada pelo Ministério Público de um crime de peculato, por se ter apropriado de 3.163 euros da autarquia. “De acordo com a acusação, a arguida, apropriou-se de quantias que recebeu a título de pagamento das taxas de ocupação das bancas do mercado de Benavente”. Antes já tinha sido suspensa, em Setembro, uma funcionária da Junta de Alhandra, concelho de Vila Franca de Xira, com 36 anos de serviço, suspeita de ter desviado, só neste mandato, mais de 20 mil euros. O Ministério Público está a investigar este caso.


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Os principais acontecimentos do ano: DESPORTO ARBITRAGEM DE SAIAS A vida de árbitro de futebol não é fácil. E quando se trata de jovens e do sexo feminino as coisas podem tornar-se mais complicadas. Os piropos machistas são constantes, o respeito dos atletas tende a diminuir e a falta de balneários próprios e de equipamentos adequados são sinais de que o futebol ainda é encarado como um desporto predominantemente masculino. Ana Rita, Carolina, Ana e Inês, quatro jovens do Ribatejo norte, contaram a O MIRANTE o que as faz correr e o que as levou a enveredar por essa actividade.

SPORTING DE TOMAR VOLTA AO PATAMAR MAIS ALTO DO HÓQUEI EM PATINS O Sporting Clube de Tomar garantiu a subida à 1ª divisão nacional de hóquei em patins. No início de Junho o clube ribatejano sagra-se também campeão nacional da 2ª divisão batendo o Hóquei Clube de Valença, campeão da zona norte.

MAIO JANEIRO JOSÉ PESEIRO COM TRÊS CLUBES NUM ANO O ribatejano José Peseiro é contratado para treinar a equipa principal de futebol do FC Porto, substituindo o espanhol Julen Lopetegui. O desempenho não foi grande coisa e acabaria por ser dispensado no final da época mas o tempo no desemprego foi curto pois foi logo contratado pelo Sporting de Braga. O técnico de Coruche acabaria por sair do Minho em Dezembro, tendo dias depois assinado por um clube dos Emirados Árabes Unidos.

RUI SILVA CAMPEÃO NACIONAL DE ESTRADA ANTES DE SE MUDAR PARA O BENFICA O atleta ribatejano Rui Silva sagra-se campeão nacional de Estrada na prova de corrida que se realizou no final de Janeiro em Lisboa. O atleta, natural de Santarém e residente no Cartaxo, seria também notícia em 2016 por trocar o Sporting pelo Benfica após muitos anos de leão ao peito.

MARÇO DIOGO GANCHINHO CONTINUA A COLECCIONAR MEDALHAS O ginasta ribatejano Diogo Ganchinho conquista duas medalhas de bronze nas provas de trampolim individual e de trampolim sincronizado, esta ao lado de Diogo Abreu, na Taça do Mundo de Baku. Diogo Ganchinho, natural de Santo Estêvão (Be-

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navente), é um dos ginastas de topo do país na disciplina de trampolins, tendo estado presente nos Jogos Olímpicos Pequim2008 e Londres 2012.

equipa que, à margem das notícias, vai fazendo a diferença.

ESQUIADORA MARTA CARVALHO CAMPEÃ NACIONAL DE SLALOM E SLALOM GIGANTE

EDUARDA VIDIGUEIRA CAMPEÃ DE DUATLO

Marta Carvalho, 11 anos, sagra-se campeã nacional de slalom e slalom gigante na categoria Flocos II (-12 anos) e classificou-se em 3º lugar na geral (todos os escalões). O campeonato nacional de ski alpino decorreu na Serra da Estrela.

FÁTIMA CONQUISTA DISTRITAL DE FUTEBOL A QUATRO JORNADAS DO FIM O Centro Desportivo de Fátima garante o título de campeão distrital da primeira divisão da Associação de Futebol de Santarém, a quatro jornadas do final da prova. O Fátima foi a Santarém vencer os Caixeiros por 1-0 e conquistar assim a folga suficiente para garantir o título e a subida ao Campeonato de Portugal.

CLUBE DE ATLETISMO DA FUNDAÇÃO CEBI É UMA FÁBRICA DE CAMPEÕES O Clube de Atletismo da Fundação CEBI é uma máquina de produzir campeões. Esforço, dedicação e assiduidade aos treinos são o segredo do sucesso de uma equipa com oito anos que não tem parado de crescer e de somar bons resultados. Treinador acredita que em quatro anos vai ter 15 jovens atletas de relevo nacional. O MIRANTE foi ao treino conhecer uma

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ABRIL A atleta do Águias de Alpiarça, Eduarda Vidigueira, sagra-se campeã nacional de duatlo do grupo de idades 20-24 anos no Duatlo da Amadora numa prova intensa e marcada pela chuva e vento, que exigiram esforço redobrado a todos os atletas.

FAZENDENSE VENCE QUARTA TAÇA DO RIBATEJO E É RECORDISTA DA PROVA A Associação Desportiva Fazendense conquistou no dia 1 de Maio a Taça do Ribatejo num jogo disputado no Complexo Desportivo do Bonito, no Entroncamento. A equipa de Fazendas de Almeirim venceu o Riachense no desempate por grandes penalidades, após um empate a zero no final do tempo regulamentar, e passou a ser o clube com mais troféus, quatro.


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de Agosto com a alta voltagem do futebol profissional como árbitro do primeiro escalão. Diz-se tranquilo com o desafio e ambiciona chegar a internacional. Chegou a ser praticante de atletismo no Sporting mas teve de abandonar a modalidade por ser impossível conciliá-la com a arbitragem. O Riachense é o seu clube do coração.

FÁTIMA E ALMEIRIM VENCEM CAMPEONATO DISTRITAL DE ATLETISMO O Grupo de Atletismo de Fátima, em femininos, e a Associação 20 km de Almeirim, em masculinos, foram os vencedores a nível colectivo nos campeonatos de Santarém em atletismo. Em masculinos o

RUI VITÓRIA CAMPEÃO NACIONAL DE FUTEBOL PELO BENFICA O técnico ribatejano Rui Vitória sagra-se campeão nacional de futebol pelo Benfica. A Câmara de Vila Franca de Xira decide atribuir a medalha de mérito desportivo ao treinador natural de Alverca do Ribatejo que conquista também a Taça da Liga e a Supertaça.

FUTEBOL DO VILAFRANQUENSE REGRESSA AOS NACIONAIS A União Desportiva Vilafranquense vence o campeonato distrital de Lisboa e regressa aos nacionais de futebol. O clube acumula esse título com a Supertaça da Associação de Futebol de Lisboa.

AMOREIRA VENCE CAMPEONATO DISTRITAL DO INATEL O CCD da Amoreira, do concelho de Abrantes, sagra-se campeão distrital de futebol do Inatel de Santarém ao vencer na final a equipa do Seiça, concelho de Ourém. Num jogo disputado no Campo Dr. Agostinho Pereira Carreira, em Mação, que esteve cheio para a festa do futebol, a equipa do concelho de Abrantes conquistou o troféu Prof. Albino Maria, o terceiro da sua história.

FRANCISCO JERÓNIMO CONTINUA A SER O DONO DA BOLA NO DISTRITO DE SANTARÉM Francisco Jerónimo é reeleito presidente da Associação de Futebol de Santarém para os próximos quatro anos, 2016/2020, liderando uma lista única. O projecto “Pelo Nosso Futebol” reuniu 96 votos. O dirigente explica a O MIRANTE que nos próximos quatro anos “a sustentabilidade dos clubes é a principal prioridade para que possam crescer, garantindo a prática do futebol para mais jovens”.

OS PATOS CARIMBAM TRIPLETE NO FUTSAL AO VENCEREM TAÇA DISTRITAL O Clube Desportivo Os Patos, de Rossio ao Sul do Tejo (Abrantes), consumou o triplete no futsal distrital. Depois de terem conquistado a supertaça e o campeonato, venceram por 6-5 o São Vicentense (de São Vicente do Paul, Santarém) na final da Taça de Futsal do Distrito de Santarém que se realizou em Almeirim.

JUNHO UM ÁRBITRO RIBATEJANO NA ALTA RODA DO FUTEBOL PROFISSIONAL João Mendes foi promovido ao principal campeonato de futebol profissional. Electricista de profissão, o árbitro de Riachos (Torres Novas) passa a lidar a partir 48

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Grupo de Atletismo de Fátima foi segundo e a Casa do Povo de Alcanena terminou na terceira posição. Nos femininos, o Sporting Clube de Abrantes terminou em segundo lugar e a Casa do Povo de Alcanena fechou o pódio.

SEIÇA É CAMPEÃO NACIONAL DE FUTEBOL DO INATEL O Grupo Desportivo e Cultural de Seiça, concelho de Ourém, conquista o título de campeão nacional de futebol do Inatel ao vencer na final a equipa do Pigeirense, do distrito de Aveiro, por 2-0 num jogo disputado no Parque de Jogos 1º de Maio em Lisboa. O Seiça, vice-campeão distrital, conquista assim o seu primeiro título nacional do Inatel da sua história.

JULHO CAMPEÕES EUROPEUS DE FUTEBOL COM LIGAÇÃO À DESMOR EM RIO MAIOR O Complexo Desportivo de Rio Maior (Desmor) viveu de uma forma particular a vitória da selecção no Euro 2016. Como parceiro da Federação Portuguesa de Futebol, como centro de treinos das selecções jovens, o Complexo tem feito parte do percurso de evolução e crescimento competitivo das equipas nacionais e de jogadores que alcançaram aquele feito histórico para o futebol português. Por lá passaram, em fases de formação, Cristiano Ronaldo, Ricardo Quaresma, Rui Patrício, Bruno Alves, William Carvalho, João Mário e André Gomes, entre outros.

DEPOIS DO TÍTULO EUROPEU PEDRO MARQUES QUER SER CAMPEÃO DO MUNDO (FOTO) Jovem praticante do FC Alverca sagrou-se campeão europeu de karaté em Dublin e ainda ajudou a equipa nacional a conquistar a medalha de bronze por equipas na mesma disciplina. Pedro Marques entrou nas artes marciais aos cinco anos para disciplinar o temperamento rebelde e a receita resultou. O jovem de 19 anos residente em Alhandra, concelho de Vila Franca de Xira, já tem um palmarés assinalável e aponta agora para o título mundial.

AGOSTO

ATLETAS DA REGIÃO NOS JOGOS OLÍMPICOS A comitiva portuguesa que participou nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro em Agosto integrou 11 atletas com ligações à

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NOVEMBRO VILAFRANQUENSE TOMBAGIGANTES CHEGA AOS OITAVOS DA TAÇA DE PORTUGAL nossa região, de diversas modalidades, destacando-se desde logo a representação de Rio Maior na marcha atlética, que apresentou quatro nomes: os irmãos João e Sérgio Vieira, o estreante Miguel Carvalho e Inês Henriques. A marcha contou ainda com a presença de Pedro Isidro, de Azambuja. Ainda no atletismo, a vilafranquense Vera Lúcia Barbosa competiu nos 400m barreiras, e Miguel Arraiolos, de Alpiarça, estreou-se no triatlo olímpico, tal como João Pereira, que tem ligações ao concelho de Vila Franca de Xira. Nos trampolins, Ana Rente, de Tomar, cumpriu as suas terceiras olimpíadas consecutivas, e David Rosa, de Fátima, no BTT, as segundas. Já a promissora Francisca Laia, de Abrantes, faz a sua estreia na canoagem. João Pereira, 5º na prova de triatlo, e a marchadora Inês Henriques, com um 12º lugar nos 20km marcha, tiveram os desempenhos mais relevantes.

VILA FRANCA DE XIRA É FANTÁSTICA PARA A VOLTA A PORTUGAL Presidente da câmara manifestou intenção de continuar a acolher o evento. A organização não poupou nos elogios a Vila Franca de Xira e o público compareceu em bom número, quer no Parque Ur-

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bano do Cevadeiro, onde decorreu a partida, como nas principais artérias das restantes freguesias do concelho por onde os ciclistas passaram. Volta é para ficar, diz Alberto Mesquita.

SETEMBRO FERREIRA DO ZÊZERE CAMPEÃO NACIONAL DE TRAIL POR EQUIPAS O Clube de Atletismo de Ferreira do Zêzere (CAFZ) conquista o título de campeão nacional de Trail por equipas, após vencer no dia 4 de Setembro, individual e colectivamente, o “Trail do Sor” que decorreu na zona de Ponte de Sor. A prestação do Clube de Atletismo de Ferreira do Zêzere em Ponte de Sor foi categórica, classificando 5 atletas nos 9 primeiros lugares.

FC ALVERCA ENCAIXA 410 MIL EUROS PELA FORMAÇÃO DE RAFA SILVA O Futebol Clube de Alverca vai encaixar 410 mil euros com a transferência do futebolista Rafa Silva do Sporting de Braga para o Benfica, provenientes do mecanismo de solidariedade da FIFA que atribui uma percentagem do valor da transferência aos clubes de formação.

O União Desportiva Vilafranquense (UDV) juntou o nome à lista de tomba-gigantes da edição 2016/2017 da Taça de Portugal ao derrotar por 1-0 em casa o Paços de Ferreira na 4ª eliminatória da Taça de Portugal. Foi a primeira vez que o UDV venceu uma equipa do 1º escalão e igualou dessa forma o melhor registo de sempre na competição. Na ronda seguinte a equipa ribatejana foi eliminada pelo Vitória de Guimarães, no Minho, por 1-0, num jogo em que deu excelente réplica.


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Os principais acontecimentos do ano: ECONOMIA MAIS UMA INCINERADORA DE RESÍDUOS HOSPITALARES NO ECO-PARQUE DO RELVÃO Depois de muitas burocracias e bastantes atrasos devido a questões relacionadas com o licenciamento entrou em funcionamento o Centro Integrado de Valorização e Tratamento de Resíduos Hospitalares e Industriais (CIVTRHI), no Eco-Parque do Relvão, na freguesia da Carregueira, concelho da Chamusca. Apesar das facilidades concedidas pela Câmara da Chamusca para a instalação de sistemas de tratamento de resíduos no seu território o Governo não incluiu as acessibilidades ao Eco-Parque nos investimentos prioritários para 2017.

Agosto PEDIDOS PARA PLANTAÇÃO DE NOVA VINHA NA REGIÃO AQUÉM DAS EXPECTATIVAS A região vitivinícola do Tejo, que abrange o distrito de Santarém, foi das menos dinâmicas em termos de pedidos de área para a plantação de nova vinha. Ao todo, na zona dos vinhos do Tejo, foram pedidos cerca de 130 hectares para plantar nova vinha mas podia ter sido solicitada mais área pois

Janeiro

Junho

UNICER ANTECIPA FECHO DE FÁBRICA DE REFRIGERANTES DE SANTARÉM

ROQUES VALE DO TEJO QUER CONTINUAR A CRESCER E TEM PROJECTOS PARA CONCRETIZAR

A Unicer anunciou a 8 de Janeiro a decisão de antecipar o encerramento da fábrica de refrigerantes de Santarém para o final do mês, três meses mais cedo do que a data que estava inicialmente prevista.

Março MAÇÃO RECONHECIDO COMO BOM EXEMPLO NA GESTÃO FLORESTAL O primeiro-ministro António Costa sublinhou em Mação, durante as cerimónias de comemoração do Dia Internacional da Floresta, a importância do ordenamento florestal para minimizar riscos de incêndio e destacou Mação como sendo um bom exemplo do trabalho desenvolvido no âmbito florestal.

Abril GUIA DE RESTAURANTES CERTIFICADOS DA LEZÍRIA RIBATEJANA Foi dado o primeiro passo para a criação do Guia de Restaurantes Certificados da Lezíria Ribatejana. O presidente da Entidade Regional de Turismo do Alentejo/Ribatejo, Ceia da Silva, reuniu a 19 de Abril, na Casa do Brasil, em Santarém, com autarcas da sub-região da Lezíria do Tejo e empresários do sector para dar a conhecer esse projecto. A adesão dos restaurantes é voluntária e gratuita mas há regras que têm que ser cumpridas. A disponibilização de produtos da região é uma dessas exigências.

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Durante a apresentação do novo Talisman, um topo de gama da Renault, o administrador da Roques Vale do Tejo, Frederico Roque, lembrou que a empresa continuou a investir durante o pior período da crise económica e anunciou que essa filosofia de crescimento é para manter. A Roques Vale do Tejo foi fundada a 2 de Janeiro de 1971. É o concessionário Renault mais antigo da Península Ibérica e é também o concessionário Dacia e Isuzu. Esté presente em Santarém, Vila Franca de Xira, Torres Novas e Rio Maior.

Julho ÁGUAS DE SANTARÉM ANUNCIA INVESTIMENTOS NO VALOR DE 57 MILHÕES DE EUROS A reabilitação da Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) de Santarém, que deve ocorrer até 2020, é uma das intervenções mais relevantes do plano de investimento da empresa municipal Águas de Santarém até 2046 e tem um custo de cinco milhões de euros. A obra deve estar concluída até 2020 e o valor está incluído num pacote de 26,8 milhões de euros destinados à rede de saneamento básico do concelho, aos quais se juntam mais 30,2 milhões de euros para o plano de investimentos no sistema de abastecimento de água.

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não houve restrições à plantação por parte da região vitivinícola como aconteceu no Alentejo, no Douro e na Madeira.

uma empresa que comercializa bebidas espirituosas de forma inovadora utilizando veículos transformados.

Setembro

CTR DE SAMORA CORREIA ELEITA EMPRESA DO ANO PELA NERSANT E O MIRANTE

PRÉMIOS EUROPEUS DE PROMOÇÃO EMPRESARIAL PARA A NERSANT A Nersant - Associação Empresarial da Região de Santarém foi distinguida pelo IAPMEI pelas suas intervenções nas áreas do empreendedorismo e apoio à internacionalização. Os resultados do concurso nacional dos Prémios Europeus de Promoção Empresarial 2016 foram divulgados numa cerimónia que decorreu no Museu do Oriente, em Lisboa, presidida pelo ministro da Economia, Manuel Caldeira Cabral. De entre os mais de 50 projectos a concurso, o júri, constituído por especialistas e reconhecidas personalidades do mundo empresarial português, distinguiu o trabalho que tem vindo a ser realizado pela Nersant nas categorias de “Investimento nas Competências Empreendedoras”, através do Sítio do Empreendedor, e na área de “Apoio à internacionalização das empresas”, com o projecto ExportRibatejo.

AGROMAIS REFORÇA INVESTIMENTO NA ZONA DO ALQUEVA Com a participação da Agromais a empresa Plus Alqueva inaugurou as suas novas instalações de comercialização de factores de produção para a agricultura em Ervidel. A inauguração ocorreu na sexta-feira, 23 de Setembro de 2016, tendo estado presentes mais de 150 agricultores e parceiros. Na região do Alqueva a Agromais e as suas participadas realizaram entre 2013 e 2016 um conjunto de investimentos, que ascendem a cerca de 10 milhões de euros.

ADIRN COMPLETOU VINTE E CINCO ANOS DE EXISTÊNCIA A ADIRN - Associação para o Desenvolvimento Integrado do Ribatejo Norte - tem trabalhado em prol do desenvolvimento do território que abrange, apoiando projectos em áreas como restauração, alojamento e espaço rural, património rural, serviço social, centros de dia e centros de recuperação, jardins-

A CTR, empresa especialista no desenvolvimento e fabricação de soluções inovadoras de higiene e cuidado do lar, foi eleita pela Nersant e por O MIRANTE como Empresa do Ano nos galardões Empresa do Ano. Ter uma equipa competente, motivada, empenhada e à altura dos desafios lançados pelos clientes é o segredo do sucesso da CTR, situada em Samora Correia, concelho de Benavente. A empresa foi fundada em 1991 por Pedro Queiroz Vieira que já tinha experiência na indústria de componentes electrónicos.

-de-infância e outras actividades económicas. Promove também produtos locais e animação turística com a realização de festas e eventos como a Festa Templária em Tomar.

POLITÉCNICO DE TOMAR CELEBRA PROTOCOLO COM GOVERNO DO CONGO O Instituto Politécnico de Tomar (IPT) e o Ministério do Ensino Técnico e Profissional, da Formação Qualificante e do Emprego da República do Congo assinaram um protocolo de cooperação que vai abrir as portas do IPT a 45 jovens estudantes congoleses. O acordo visa “dar resposta às necessidades de formação, ao aprofundamento de conhecimentos e à melhoria de competências tecnológicas e profissionais dos estudantes daquele país africano.

Outubro DINÂMICA DA NERSANT ELOGIADA DURANTE ENCONTRO INTERNACIONAL DE NEGÓCIOS O ministro adjunto, Eduardo Cabrita, que representou o Governo no Nersant

Business - encontro internacional de negócios que decorreu de 24 a 26 de Outubro em Tomar fez vários elogios à Associação Empresarial da Região do Ribatejo que conseguiu reunir no encontro centenas de empresários de vinte e seis países. “A Nersant tem uma dinâmica empresarial impressionante que desenvolve e projecta a região do Ribatejo, o que é muito bom para o país e soube, em tempos de crise, reforçar a sua actividade associativa”. Durante os três dias d a iniciativa realizaram-se cerca de um milhar de reuniões de negócios.

Novembro ANTIGA ALUNA DA ESCOLA PROFISSIONAL DE CORUCHE NA WEB SUMMIT Josélia Godinho, antiga aluna da Escola Profissional de Coruche (EPC), esteve presente na Web Summit de Lisboa graças ao um projecto inovador de empreendedorismo. Josélia Godinho e o seu sócio, Carlos Travessa, foram os pais da CaipiJoca’s,

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Pedro Queiroz Vieira administrador da CTR, Empresa do Ano, iniciativa conjunta da Nersant e de O MIRANTE

DEZEMBRO SAGRES REAFIRMA A SUA LIGAÇÃO A PORTUGAL ATRAVÉS DA NOVA IMAGEM A Cerveja Sagres apresentou em Dezembro uma nova imagem que reforça o escudo como o elemento central da marca. Foi a primeira mudança na imagem da marca desde 2012. A alteração mais visível está no rótulo em papel das garrafas, que passa a assumir o formato de escudo, abandonando o formato oval que perdurava desde 1989. O próprio escudo, presente no logótipo da marca, mas também no rótulo e na gargantilha das garrafas, foi retocado, surgindo com uma pequena alteração no seu formato e com uma maior presença da cor verde, aproximando-se mais das cores da bandeira nacional. Para além disso, o logótipo da marca passa a incluir a expressão “Desde 1940”, o ano de lançamento da marca.

RECORDE DE EXPORTAÇÕES DE CORTIÇA É BOA NOTÍCIA PARA CORUCHE A cortiça atingiu em 2016 o recorde de exportações com 950 milhões de euros e em 2017 estima-se que chegue aos mil milhões de euros. A informação é da Associa-

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ção Portuguesa da Cortiça (APCOR). Uma boa notícia para o concelho de Coruche onde se localiza grande parte do montado de sobro do país e está implantado o Observatório do Sobreiro e da Cortiça.

REFORÇO DOS INCENTIVOS PARA A INSTALAÇÃO DE EMPRESAS EM ABRANTES A isenção da Derrama para quem quiser investir em Abrantes, em micro negócios, com volume de negócios não superior a €150.000. Foi um dos programas de incentivo ao investimento lançados em 2016 pela câmara municipal. Paralelamente mantém-se o programa “Mais comércio no centro” que apoia a implementação de novos projectos comerciais, apoiando os investidores em 50% do valor da renda até ao limite de €250/mês e pelo período máximo de 12 meses. Outro incentivo que se prolonga para 2017 é o do incentivo à compra e instalação de lotes ou parcelas no parque industrial de Abrantes (em Alferrarede, junto ao nó da A23) e nas zonas industriais localizadas no Pego (junto à Central) e no Tramagal (na proximidade da Mitsubishi), através de preços reduzidos de 1,50 euros por metro quadrado para lote industrial e cinco euros no caso dos lotes destinados a comércio e serviços.

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