Especial Natal

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O MIRANTE | 23 Dezembro 2009

O MIRANTE S E M A N Á R I O

Campanha “Mimos de Natal” em Ourém angaria 300 oferendas Presentes foram encaminhados para a Comissão de Protecção de Menores, que os entregará aos mais necessitados 10

R E G I O N A L

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ESPECIAL

NATAL faz parte integrante da edição n.º 911 deste jornal e não pode ser vendido separadamente

Meia centena de Pais Natal juntaram-se por uma boa causa Iniciativa realizou-se na Barquinha e visou apoiar compra de autocarro para o município cabo-verdiano de Santa Catarina 6

Freguesia de Envendos organiza ceia de Natal Presidente da junta aproveitou para entregar lembrança da freguesia à Câmara de Mação 8

Concerto de Reis chegou mais cedo ao Santuário de Fátima Orquestra e coro da Academia de Música Banda de Ourém voltam a actuar dia 29 em Ourém 4

Coruche dá prémios às melhores montras Prémios para os três primeiros classificados. Os resultados são divulgados a 12 de Janeiro 8

Exposição de presépios na Biblioteca de Alcanena Mostra divide-se pelo piso térreo e piso superior da Biblioteca e tem entrada gratuita 11

Árvore de Natal gigante em Abrantes Envolve 60 mil pequenas lâmpadas aplicadas em 1.500 metros de tubo luminoso 11

O MIRANTE deseja

Boas Festas e um Feliz Ano Novo a todos os assinantes e anúnciantes

Presidentes de câmara contam como vivem a festa do Natal

“Vesti-me de Pai Natal durante muitos anos para a família e amigos José Saldanha Rocha não esquece a bicicleta que recebeu com oito anos 3

“A melhor prenda de Natal era uma nova ponte sobre o Tejo no concelho” Máximo Ferreira diz que não tem paciência para as compras de Natal 9

O cavalo de cartão prensado e o borrego que fugiu pelas ruas da Azambuja Recordações de Natal da infância do presidente da câmara, Joaquim Ramos 7

Natal passado na guerra colonial foi o que mais marcou Sérgio Carrinho

Autarca confessa que para ele o 25 de Dezembro é um dia como outro qualquer 5


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“Vesti-me de Pai Natal durante muitos anos para a família e amigos” José Saldanha Rocha não esquece a bicicleta que recebeu com oito anos O presidente da Câmara de Mação diz que acreditou na figura do Pai Natal até aos 13 anos.

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Elsa Ribeiro Gonçalves

última vez que José Saldanha Rocha, presidente da Câmara Municipal de Mação, se vestiu de Pai Natal foi em 2008 no ponto de venda que a autarquia dinamiza nesta época do ano para ajudar os produtores locais. Nada a que o autarca não esteja já habituado uma vez que durante quase uma década - entre os 15 e os 24 anos – vestiu-se de Pai Natal e era ele que distribuía os presentes, não só em sua casa como também no lar de alguns amigos. Neste último caso, os embrulhos eram deixados escondidos num sítio estratégico para que, quando chegasse, colocasse tudo no saco que levava às costas. Depois pegava num sino e entrava por ali dentro, alimentando o imaginário de muitas crianças de Mação, hoje adultos feitos. “Fiz muitas vezes de Pai Natal para o Duarte Marques que é membro da assembleia municipal e está em Bruxelas”, conta com um sorriso. Só parou a sua dinâmica de Pai Natal pelos lares da vila – chegou a fazer cinco ou seis na mesma noite - quando a sua mãe faleceu, por altura do Natal de 1979. Saldanha Rocha tinha oito anos quando recebeu a prenda que mais o

Tem por hábito ir à Missa do Galo e também gosta de ficar sentado à fogueira ao pé da igreja matriz de Mação, uma tradição que conserva desde os tempos da juventude. Nunca passou o Natal ou fim de ano fora da sua terra. Em relação às delícias da época, Saldanha Rocha confessa que é um bom garfo.

marcou: uma bicicleta preta, tipo pasteleira. “Escrevi uma carta ao Menino Jesus - ainda guardo algumas dessas cartas e estimulo isso aos meus filhos – e ganhei um presente fantástico”, recorda. E confessa que sofreu uma grande desilusão quando soube que o Pai Natal não existia, já por volta dos 13 anos. “Ouvi os adultos a comentar e foi um choque porque, afinal, foram muitos anos a acreditar que os presentes eram deixados no sapatinho”, recorda. Com três filhos de 15, 11 e 4 anos, o autarca revela que costuma passar a noite da Consoada em Lisboa, em casa dos sogros. No dia 25 mete-se à estrada de regresso a Mação, passando o dia com o pai, irmãos e restante família. Tem por hábito ir à Missa do Galo e também gosta de ficar sentado à fogueira ao pé da igreja matriz de Mação, uma tradição que conserva desde os tempos da juventude. Nunca passou o Natal ou fim de ano fora da sua terra. Em relação às delícias da época, Saldanha Rocha confessa que é um bom garfo. “Faço questão de não evitar nada, de comer tudo o que está na mesa mesmo sabendo que não é muito salutar”. Não ajudando propriamente nos tachos e panelas, diz que se a lareira estiver acesa não resiste a assar um bom chouriço. A conduzir os destinos da Câmara de Mação desde 1999, Saldanha Rocha sabe que a vida de autarca é feita de imprevistos e, por isso, gosta de comprar os presentes para a sua família com antecedência para que no Dia de Natal esteja tudo controlado. Por norma, não trabalha no dia 25 de Dezembro mas nunca desliga o telemóvel e, para além das chamadas e mensagens de Natal, já lhe aconteceu receber telefonemas relacionados com assuntos imprevistos que necessitaram da sua pronta intervenção. “Temos que estar 24 horas em alerta. Não é por ser Natal que páro”, atesta, definindo o Natal como uma época de “muita paz e um momento de reunião entre família e amigos” que gostava de ver replicada ao longo dos outros meses do ano

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ESPÍRITO. Na entrada principal da Câmara de Mação, encontra-se uma enorme árvore de Natal, feita com ramadas de pinheiro

Um presépio de arte rupestre pelas ruas de Mação Apesar das limitações orçamentais, o presidente da Câmara de Mação gosta de ver as ruas com as ornamentações luminosas de Natal e considera importante que haja música uma vez que contribui para dar um “espírito diferente” à vila.

foto O MIRANTE

O presépio municipal de Mação é fora do comum uma vez que as figuras são representações de arte rupestre, uma das muitas potencialidades desenvolvidas no concelho. As figuras encontram-se espalhadas por vários locais da vila, por exemplo, junto aos paços do concelho e à igreja matriz. “Não é muito normal e até pode ser polémico mas fizemo-lo e acho que foi bem sucedido porque há pessoas que se deslocam a Mação só para ver o nosso presépio”, conta o autarca.


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Concerto de Reis chegou mais cedo ao Santuário de Fátima Orquestra e coro da Academia de Música Banda de Ourém voltam a actuar dia 29 em Ourém

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tradicional Concerto de Reis do Santuário de Fátima realizou-se, este ano, com algumas semanas de antecedência. No domingo, dia 20, o Centro Pastoral Paulo VI, em Fátima, reuniu funcionários e voluntários do Santuário, num concerto da Orquestra de Sopros e Corus Auris da Academia de Música Banda de Ourém. A exibição ficou marcada pela participação do pianista Pedro Cruz a acompanhar a orquestra. Uma novidade no espectáculo que entusiasmou a plateia, com cerca de 800 espectadores. Licenciado pela Escola Superior de Música do Porto e a realizar um Mestrado em Piano, Pedro Cruz dá actualmente aulas deste instrumento no Conservatório de Ourém. A oportunidade para participar com a Orquestra partiu de um pedido seu e garante que toda a experiência foi “positiva”. Um privilégio e um “desafio” que vai tornar a repetir no dia 29, no Cineteatro de Ourém. Começou nas artes do piano numa pequena escola de música, a tocar órgão electrónico. O piano, reflecte, “é um

instrumento muito complexo”, uma vez que, ao contrário dos outros, “faz harmonia e melodia ao mesmo tempo”. Questionado sobre esta área da música, considera que os instrumentistas se encontram algo acomodados na sua posição, “não se mexem”. Num país onde o panorama musical está muito centralizado, acabam por não existir muitas oportunidades de promoção de uma carreira. Para muitas das pessoas presentes, terá sido a primeira vez que assistiram a uma actuação deste género, reflectiu. Continuar a procurar oportunidades de actuar encontra-se nos seus planos futuros. Mas sem nunca deixar de se divertir, salienta. Dirigindo temas clássicos e natalícios, o maestro José Pedro Figueira explicou que o reportório apresentado procurou trazer “qualquer coisa diferente” para o concerto deste ano. Neste 2010 que em breve chega, a Orquestra de Sopros tem projectado um CD comemorativo dos 25 anos da sua formação. José Paiva, vice-presidente da Academia de Música Banda de Ourém, revelou

CONCERTO. Orquestra de Sopros da Academia de Música de Ourém actua dia 29 em Fátima ainda a O MIRANTE que está em preparação uma peça que englobe todas as valências da instituição, desde a música à dança, e que será inspirada na lenda Oureana. A apresentação está prevista para Abril/Maio do próximo ano. O concerto de Natal é o resultado de uma parceria entre o Santuário de Fátima e a Academia. Presente na ocasião, o bispo de Leiria, António Marto,

manifestou-se satisfeito por verificar que “o Santuário irradia para lá de Fátima”, inclusive a nível cultural. Felicitou por fim o vereador Nazareno do Carmo (PS), na assistência, responsável pelo pelouro de Fátima na Câmara Municipal de Ourém, pela posição recentemente assumida numa cidade “que é uma grande montra de Portugal para o mundo”

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Natal passado na guerra colonial foi o que mais marcou Sérgio Carrinho Presidente da Câmara de Chamusca diz que para ele o 25 de Dezembro é um dia como outro qualquer O autarca diz que nunca ofereceu presentes no Natal, mas não rejeita aqueles que lhe dão.

“O

Ana Isabel Borrego

Natal é um dia como outro qualquer. Não tem um significado especial mas respeito e acabo por assinalar a data porque há pessoas na minha família que cultivam o espírito desta época”. Quem o diz é o presidente da Câmara Municipal da Chamusca, Sérgio Carrinho, 60 anos. O autarca confessa que existe apenas um Natal que o marcou. Em 1971, quando esteve na guerra colonial, na Guiné, foi destacado para a zona de mato no dia 24 de Dezembro, juntamente com alguns colegas. Nessa noite o grupo estacionou numa zona a cerca de cinco quilómetros do quartel onde estava instalado. A surpresa e emoção foram grandes quando os restantes camaradas, poucos minutos antes da meianoite, foram ao encontro dos colegas e levaram pequenas lembranças para assinalar aquele Natal em que todos estavam longe das suas famílias. “Esse episódio marcou-me porque aconteceu em condições especiais e mostrou o verdadeiro sentido da palavra solidariedade”, recorda. O Natal do menino Sérgio Carrinho era passado no Pinheiro Grande, freguesia do concelho da Chamusca, em casa com os pais e os quatro irmãos mais novos. Uma noite normal onde a única diferença era os velhozes na mesa e a possibilidade de ficarem acordados até mais tarde. Por vezes, a avó reunia as filhas e os respectivos maridos e filhos e realizava um almoço para todos onde a família aproveitava para conviver. A família Carrinho começou a fazer

o seu presépio em casa depois de Sérgio ter entrado para a escola. “Tínhamos uma disciplina onde aprendíamos a construir um presépio. Apesar de não ter grande habilidade para as artes plásticas construí umas figuras para o presépio. As professoras disseram que os meninos tinham que fazer o presépio em casa e foi a partir dessa altura que passamos a fazer presépio em casa”, recorda o autarca enquanto assina papéis apressadamente no seu gabinete. Sérgio Carrinho e os irmãos iam todos os anos buscar musgo e “roubar” um pinheiro numa encosta perto de casa. Depois enfeitavam a árvore com algodão e objectos metálicos para dar um pouco mais de claridade uma vez que naquela altura ainda não existia luz eléctrica. O facto de não ser crente leva a que o autarca não dê importância a esta quadra religiosa. Faz questão de salientar, no entanto, que respeita quem celebra o Natal e em sua casa acaba por existir troca de prendas apesar do presidente não ter por hábito oferecer. “Sou muito desligado dessas questões e nunca ofereci presentes a ninguém, mas não posso recusar presentes que me oferecem”, explica. À semelhança de anos anteriores,

Paços do concelho sem enfeites de Natal No edifício do município não existe nenhum objecto que faça lembrar o Natal. Tanto no exterior como no in-

NATAL. O facto de não ser crente leva Sérgio Carrinho a não dar importância a esta quadrafoto O MIRANTE Sérgio Carrinho vai passar a Consoada e o dia de Natal em casa com a esposa, os filhos e os sogros. Aproveita estes dias para tentar desligar-se dos afazeres da autarquia. Preparado para ser avô no início do próximo ano, Sérgio Carrinho acredita que o próximo Natal será mais alegre. “É óbvio que uma criança em casa muda muita coisa e não nego que um neto possa trazer outro entusiasmo a uma quadra que particularmente não me diz nada”, refere

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terior. Nem mesmo a árvore de Natal. O almoço de Natal para funcionários da câmara acabou há alguns anos devido aos problemas financeiros que a autarquia atravessa. “A vida está muito difícil e não podemos andar a gastar dinheiro em coisas que não são obrigatórias”, diz. Mesmo não ligando ao Natal, Sérgio Carrinho partilha com O MIRANTE qual seria

Sérgio Carrinho e os irmãos iam todos os anos buscar musgo e “roubar” um pinheiro numa encosta perto de casa. Depois enfeitavam a árvore com algodão e objectos metálicos para dar um pouco mais de claridade uma vez que naquela altura ainda não existia luz eléctrica

o Natal ideal. “Aquele Natal que trouxesse uma vida melhor. Menos desemprego, mais saúde e muito mais solidariedade. As pessoas não deviam lembrar-se dos outros apenas nesta quadra, mas sim mais vezes no ano. Nessa noite quem está sozinho ainda se sente mais sozinho e essas situações é que não deviam acontecer”, refere.


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Meia centena de Pais Natal juntaram-se na Barquinha por uma boa causa Iniciativa visou apoiar compra de autocarro para o município cabo-verdiano de Santa Catarina

DIVERSÃO. Apesar do frio, os participantes participaram nas diversas actividades organizadas como foi o caso das pinturas faciais

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frio era mesmo de rachar mas, na tarde do último domingo, 20 de Dezembro, à hora combinada começaram a chegar os primeiros Pai Natal ao Barquinha Parque, em Vila Nova da Barquinha. A iniciativa, organizada pelo Agrupamento 583 do Corpo Nacional de Escutas de Vila Nova da Barquinha, conseguiu juntar 45 aderentes, entre miúdos e graúdos, naquela que se pretendia ser uma mega concentração de Pais Natal mas que foi, de certa maneira, sabotada pelo frio. O objectivo era angariar fundos para apoiar a compra de um autocarro para o município de Santa Catarina do Fogo, em Cabo Verde, no âmbito da geminação estabelecida em 2008 com o município de Vila Nova da Barquinha. As pessoas tinham que aparecer vestidas de Pai Natal (fato completo) e trazer um saco com a sua comparticipação. Apesar das condições atmosféricas adversas, a organização – cerca de 20 pessoas - não esmoreceu e bem cedo começou a trabalhar. À entrada do Parque Ribeirinho foi colocada uma faixa que dizia “bem-vindo à aldeia do Pai Natal”. A música natalícia que soava do altifalante animava o ambiente. Depois de fazer a inscrição e contribuir com o seu donativo, os participantes vestidos a preceito seguiam por uma espécie de gincana onde, por exemplo, podiam escrever uma carta ao Pai Natal,

foto O MIRANTE

participar em jogos de Natal, comprar e fazer bolos, ouvir um conto de Natal ou fazer pinturas faciais. Carlos Horta e o neto Bruno, de oito anos, com as inscrições sete e oito, deram nas vistas ao chegar numa potente mota, vestidos de Pai Natal. “Gostamos de ajudar, conviver e participar”, frisaram a O MIRANTE antes de iniciarem as actividades. Também a família Godinho, das Limeiras, Vila Nova da Barquinha, quis colaborar com a iniciativa do Agrupamento de Escuteiros e, por isso, todos se vestiram a rigor. Luís, Manuela e os filhos Mariana, de 3 anos, e Diogo de 8 – que também é escuteiro - aguardavam uma tarde divertida apesar do frio, apontando que “se estivesse a chover era pior”. Outras famílias se juntavam no espaço mas, muitas vezes contrariando o desejo dos mais pequenos, optavam por ir embora pouco tempo depois, certamente para um lugar mais aconchegado. Vestida de duende de Pai Natal e com a cara pintada de verde, Sara Mendes, do Agrupamento 583 do Corpo Nacional de Escutas de Vila Nova da Barquinha, fez um balanço positivo reconhecendo que o frio terá afastado mais aderentes. De acordo com Inocêncio Cruz, chefe do agrupamento, outras iniciativas vão ser dinamizadas ao longo do próximo ano, com o objectivo de ajudar o município de Santa Catarina do Fogo

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O cavalo de cartão prensado e o borrego que fugiu pelas ruas da Azambuja Recordações do Natal da infância do presidente da câmara municipal, Joaquim Ramos

CONVIVIO. Apesar desta quadra não ter especial valor, Joaquim Ramos faz questão de fazer um almoço de Natal com os funcionários

Falar do Natal da infância de Joaquim Ramos é falar do cavalo de cartão prensado que se desfez na água do bebedouro ou do borrego que fugiu pelas ruas da vila. O presidente da Câmara de Azambuja gosta de passar o Natal em família, mas tenta fugir ao desvario consumista.

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Anaum Santiago oaquim Ramos era ainda menino da vila de Azambuja quando recebeu pelo Natal um presente vivo. O borrego, deixado perto da chaminé, com uma corda a servir-lhe de coleira, fez as delícias do jovem, apaixonado por animais. “Passei o

O doce do presidente da Câmara de Azambuja Os doces de Natal servidos à mesa do presidente da Câmara Municipal de Azambuja são comprados numa pastelaria da vila, com excepção do nógado que Joaquim Ramos faz questão de confeccionar em exclusivo para a família. “É talvez a minha amarra à tradição natalícia”, explica. O hábito vem desde os tempos em que as filhas eram pequenas. “Aprendi a receita com uma senhora que

dia a brincar, mas a certa altura o borrego fugiu e desceu as ruas de Azambuja. Ainda fui atrás dele, mas acabou por ser atropelado na Estrada Nacional 3”, recorda o actual presidente da Câmara Municipal de Azambuja como uma história triste de um presente de Natal. O cavalo de cartão prensado oferecido a Joaquim Ramos pouco tempo depois era de tamanho quase real, mas o seu destino não foi por isso mais feliz. “Um dia resolvi dar-lhe água. Quando fui montá-lo desfezse todo”, relembra. Os natais da infância de Joaquim Ramos foram passados no centro de Azambuja, na casa perto das árvores altas envolta na magia da figura do Pai Natal que deixava as prendas na chaminé. Os presentes só se descobriam na manhã

foi muito importante na minha vida, D. Maria da Luz Pereira, que trabalhou no Grémio”. A massa do nógado é confeccionada com farinha, água e ovos. O preparado molda-se com as mãos fazendo fios que se enrolam o mais estreito possível. Fritam-se os fios e cortam-se em pedaços com quatro ou cinco centímetros. Ao lado põe-se a ferver um litro de mel que se mistura ao preparado. “Forma-se uma tira comprida que se vai comendo às fatias”, propõe Joaquim Ramos. As filhós, os coscorões e o bolo-rei compõem o cardápio da ceia de Natal da família que se inicia com o tradicional prato de bacalhau com batatas e couves.

foto O MIRANTE

seguinte. As crianças iam dormir cedo. A curiosidade de Joaquim Ramos fê-lo certo Natal quebrar a tradição: “Estive à espera da meia-noite, acordei o meu irmão e viemos espreitar à cozinha para ver se víamos o Pai Natal pôr as prendas. O que vimos, para nossa grande surpresa, foi o meu pai e a minha mãe. Desfez-se o mito”, conta. O presente de Natal tinha normalmente uma função utilitária. “Eu e o meu irmão tínhamos a sorte de às vezes ter um brinquedo. Nem toda a gente tinha essa possibilidade”, reconhece Joaquim Ramos, filho de funcionários públicos da Direcção de Florestas. As broas eram feitas no forno do Rossio, na padaria que abastecia Azambuja e que

Joaquim Ramos lamenta que o sentido do Natal esteja a ser desvirtuado. “Há a tendência para transformar o Natal numa espécie de caixeiro-viajante e o céu numa espécie de supermercado de brinquedos” na época do Natal era aberta à comunidade. O presépio fazia parte do Natal. A família apanhava musgo e reservava parte da casa para colocar as figuras de barro, lagos de espelhos e caminhos de reis magos. Todos participavam no ritual. “Lembro-me que a D. Alice Pereira fazia um presépio que era visitado por toda a gente. Tinha umas figuras muito grandes de barro e o presépio ocupava uma sala inteira. Era motivo de atracção das pessoas que lá iam todos os anos”, recorda Joaquim Ramos que lembra ainda a antiga tradição do madeiro de Natal a arder no Largo da Igreja. Joaquim Ramos lamenta que o sentido do Natal esteja a ser desvirtuado. “Há a tendência para transformar o Natal numa espécie de caixeiro-viajante e o céu numa espécie de supermercado de brinquedos”, diz o autarca. Na altura em que as filhas eram pequenas deixou levar-se pelo entusiasmo, mas hoje evita o desvario consumista. “Apercebi-me disso porque numa noite de Natal, passada com muitas crianças da família, a minha sobrinha desembrulhou dezenas de brinquedos que ia pondo para o lado na ânsia de desembrulhar o seguinte. No fim acabou tudo num monte e passou o resto do tempo a brincar com uma caixinha de papelão onde vinha um dos presentes”. O conceito de família também se alterou e para muitas pessoas é difícil gerir o Natal. Uma festa que Joaquim Ramos, 59 anos, pai de três filhos, passa em família apesar de contactar com facilidade com os seus. No gabinete de trabalho tem quadro quadros pintados por si alusivos ao presépio de Monsaraz. Não é religioso e por isso a quadra não tem especial valor, mas faz questão de fazer um almoço de funcionários e de no Dia de Reis oferecer um presente e um bolo-rei a cada funcionário e colaborador aposentado

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Coruche dá prémios às melhores montras

Junta de freguesia de Envendos organiza ceia de Natal A Junta de Freguesia de Envendos, concelho de Mação, juntou na noite de 15 de Dezembro cerca de 20 pessoas, entre funcionários, colaboradores, autarcas e convidados da câmara municipal, numa ceia de Natal que teve lugar

num restaurante da localidade. O presidente da junta, João Luís Pereira (PS), entregou um presente ao presidente da Câmara Municipal de Mação - representado pelo vice-presidente Vasco Estrela e pelo vereador António Louro

– e que foi uma fotografia emoldurada da praia fluvial do Pego da Rainha, um local da freguesia de Envendos que o autarca desejaria ver mais explorado turisticamente no futuro.

Compras perto de casa podem ser sinónimo de prémios. É o que pretendem a Câmara de Coruche e a Associação de Comerciantes com a campanha “No Natal Comércio Tradicional… faça compras perto de casa e ganhe prémios”, que atribui prémios às melhores montras de lojas de comércio da vila e das freguesias do concelho durante a quadra natalícia. Segundo nota da autarquia, pretende-se com o concurso de montras envolver ainda mais os lojistas e criar um novo motivo para os consumidores visitarem o comércio tradicional. O presidente da câmara, Dionísio Mendes, lembra que as edições anteriores da campanha de Natal no comércio tradicional tiveram uma crescente adesão de lojistas e consumidores. Aliada à campanha de Natal a autarquia apostou em reforçar a iluminação das ruas de Coruche e em promover uma campanha publicitária com outdoors e divulgação em rádios e jornais. Os lojistas concorrem com uma ou mais montras que irão estar expostas até 6 de Janeiro. O júri do concurso é composto por quatro elementos que terá como critério de decisão a montra mais original e criativa. O público pode votar através de mensagem telefónica com o texto “natal cch Montra X”, para o número 968 124 784.


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foto O MIRANTE

SIMBOLO. Máximo Ferreira junto ao presépio municipal, montado no exterior do edifício da autarquia

“A melhor prenda de Natal era uma nova ponte sobre o Tejo no concelho” Presidente da Câmara de Constância diz que não tem paciência para as compras de Natal De origens humildes, o astrónomo que é autarca desde há dois meses não valoriza muito esta quadra festiva marcada pelo consumismo. Mas diz que, se for necessário, se veste de Pai Natal para agradar às netas.

M

áximo Ferreira, 63 anos, actual presidente da Câmara de Constância, acha que nunca acreditou no Pai Natal e, desde muito cedo, soube que era a mãe que lhe comprava as camisolas ou as meias que, por norma, ganhava de presente nesta altura. É o mais velho de quatro irmãos e tem uma noção muito materialista desta época. “Sou de uma família modesta. Não havia recursos para grandes prendas. Eram as meias, os lenços ou algumas moedas que a mãe arranjava para pôr no sapatinho na chaminé”, revela, não se recordando de ter recebido qualquer presente marcante na infância. “Não sei se faz sentido meter na cabeça das crianças a existência de uma figura que não corresponde à realidade”, considera. Mas, apesar de nunca o ter feito, diz que para ver as duas netas felizes, de 3 anos e 6 meses, não se importava de se vestir de Pai Natal. Não tem por hábito fazer uma árvore de Natal em casa mas diz que se receber a visita de amigos com filhos pequenos – e que sabe que partilhem esse culto – “é capaz de

pensar nessa hipótese”. A viver em Constância Sul, o autarca costuma passar a noite de consoada com a família em Montalvo, na casa que era da mãe. No dia 25 de Dezembro aproveita para visitar mais familiares e amigos. Diz que houve alturas em que costumava ir à missa do galo mas actualmente “perde-se” a conversar com os amigos à volta da fogueira que todos os anos se faz no terreiro, em Montalvo. “Muitas vezes ia sentado no carro dos bois para ir carregar a lenha que nos davam para a fogueira”, recorda. Quanto à ementa natalícia, Máximo Ferreira gosta de comer bacalhau com couves e batatas, regado com azeite da produção da família, e acompanhar com vinho tinto. O autarca confessa que não gosta muito dos fritos de Natal mas conserva boas lembranças relacionadas com estas iguarias. “Há uns fritos que a minha mãe fazia (faleceu há três anos) que são os coscorões. Quase como num ritual, depois do jantar e de visitar alguns amigos, juntávamo-nos à lareira a beber “o café da velha” (de cafeteira) e a comer coscorões. Comia dois ou três mas gostava mais deles passada uma semana,

mais secos”, relembra. A obrigatoriedade social de comprar prendas de Natal “incomoda” Máximo Ferreira que deixa essa tarefa para a esposa. “Nunca tive jeito nem paciência para comprar presentes de Natal. Quem me faz isso é a minha mulher, que faz uma lista e de vez em quando liga-me a pedir a opinião”, assume. Apesar de não ser exigente com as prendas que pede, o autarca, astrónomo de profissão, “faz questão” de oferecer, todos os anos, um presente a si próprio. Este ano encomendou na internet um livro de Astronomia, fundamental para o estudo desta ciência e onde inspira as suas comunicações. “Tinha em minha posse um livro igual ao que encomendei mas

Este ano encomendou na internet um livro de Astronomia, fundamental para o estudo desta ciência e onde inspira as suas comunicações. era da universidade. Com a minha vinda para a autarquia tive que o devolver à biblioteca e acabei por passar dois meses sem esse livro”, revela. Instigado a dizer qual era o presente de Natal que mais gostava de oferecer ao seu concelho, Máximo Ferreira não hesita um segundo: “A melhor prenda de Natal que podia dar aos munícipes era uma nova ponte sobre o Tejo no concelho, para ligar o lado norte ao lado sul. Uma ponte que nos tirasse este drama de termos o concelho dividido e ligado por uma ponte deficiente, velha, feia e mal conservada. Uma ponte que, no fundo, foi um sonho que já esteve quase a ser concretizado. Era esta a melhor prenda que, como autarca, também poderia receber”

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Campanha “Mimos de Natal” em Ourém angaria 300 oferendas

SOLIDÁRIO. O presidente da Câmara de Ourém, Paulo Fonseca, fez questão de doar alguns objectos à campanha

foto O MIRANTE

rganizada pela Câmara Municipal de Ourém no âmbito da sua festa de Natal, a campanha solidária “Mimos de Natal” reuniu, neste seu primeiro ano, cerca de 300 ofertas, entre roupa, brinquedos e livros. Os presentes seguem agora para a Comissão de Protecção de Menores que as entregará pessoalmente aos mais necessitados. Fernando Paquim, técnico de Turismo na autarquia e um dos organizadores da Festa de Natal, considerou ter sido este número um “bom resultado”, que faz “querer continuar” com a iniciativa nos próximos anos. No sábado, dia 19, o complexo D. Nuno, em Boleiros, freguesia de Fátima, reuniu cerca de 500 funcionários da Câmara de Ourém. Na ocasião, Fernando Paquim já salientara que este era o primeiro ano da campanha de Natal e que, como tal, talvez esta se desenrolasse “de forma envergonhada”. No entanto, é intenção dos organizadores que os “Mimos de Natal” se transformem numa “tradição”, esperando que na próxima oportunidade a adesão seja superior. Para além da Comissão de Protecção de Menores, a câmara realizou diversas parcerias para distribuição de roupa, como a Associação Pobres de Ourém. A entrega directa é a garantia de que todos os bens oferecidos vão chegar às mãos de quem precisa. No próximo ano, pondera-se uma alteração dos produtos a doar. Fer-


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nando Paquim esclareceu que a organização procurou saber junto das instituições o que poderia fazer falta. Outro plano é tentar promover a campanha com mais antecedência, de modo a “reforçar” toda a iniciativa. Também presente na ocasião, o presidente da Câmara Municipal de Ourém, Paulo Fonseca, lembrou que um dos pontos do seu projecto é a “excelência social”. Mantendo sempre a solidariedade, “devemos olhar pelos que estão bem e pelos que devem ser integrados”. Como mimos de Natal trouxe um cobertor, um blusão e brinquedos, coisas que tinha

por casa e os filhos já não usam. O projecto, sublinhou, foi uma “iniciativa de todos” os funcionários da câmara, assumindo-se enquanto “família solidária”. “Todos nós podemos dizer que a vida está má, mas há piores”, destacou Alexandra Santos, funcionária do Centro de Negócios de Ourém, que trouxe para a campanha umas sapatilhas e brinquedos. Foi uma das que lançou a ideia para um cabaz de Natal, referindo que desde que possa ajudar ficará satisfeita com qualquer associação que beneficie. Por seu lado, Nuno Carpenter, engenheiro informático, comprou

dois jogos didácticos especialmente para a ocasião. Casado há poucos anos, diz não ter tido ainda tempo de acumular coisas que pudesse oferecer, mas queria participar, destacando que “a iniciativa vale a pena”. O projecto é “interessante”, afirmou, provavelmente “única a nível nacional” e devia repetir-se mais vezes. Numa próxima oportunidade, contudo, gostaria de saber mais especificamente a quem estaria a oferecer estas prendas. Com um carinho especial por crianças, Nuno Carpenter termina, sorrindo, que sabendo a quem se destina, teria “caprichado mais”

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foto O MIRANTE

Árvore de Natal gigante em Abrantes Cerca de 60 mil pequenas lâmpadas aplicadas em 1.500 metros de tubo luminoso transformam a torre de telecomunicações de Abrantes, com cerca de 75 metros de altura, numa gigantesca árvore de Natal que se vê a mais de 20 quilómetros de distância. A iniciativa é realizada por funcionários do município e decorre durante a quadra festiva que se atravessa.

Exposição de presépios na Biblioteca Municipal de Alcanena Está patente durante o mês de Dezembro na Biblioteca Municipal Dr. Carlos Nunes Ferreira, em Alcanena, uma exposição dedicada à quadra natalícia que reúne presépios de vários autores. A mostra divide-se pelo piso térreo (recepção) e piso superior da Biblioteca e tem entrada gratuita.


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