Ascensão Chamusca 2009

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O MIRANTE S E M A N Á R I O

R E G I O N A L

SUPLEMENTO ESPECIAL

ASCENSĂO CHAMUSCA faz parte integrante da edição n.º 879 deste jornal e não pode ser vendido separadamente

“O campo invadindo a vila, uma sensação que não se explica” É impossível resumir numa notícia de jornal um programa de uma festa como a Semana da Ascensão na Chamusca, tantas e variadas são as iniciativas. É de 20 a 24 de Maio. A leitura do texto que se segue não dispensa a consulta habitual …do programa. 2

As histórias de vida da Silvina e do João de Sá Silvina teve que casar com João aos 15 anos para poder viajar com o conjunto do sogro onde era baterista e vocalista Ele toca e ela canta. João de Sá e Silvina de Sá dizem que são artistas e que nunca tiveram qualquer outra profissão. Quando se lhes lembra que ele é electricista e que ela foi contínua na escola da Chamusca mais de duas décadas, encolhem os ombros e sorriem como se lhes estivéssemos a falar das vidas de outras pessoas. O que verdadeiramente conta na vida de cada ser humano é o que é feito com paixão. Cantemos pois a canção destes dois apaixonados. 4

Manuel José Moedas é um símbolo vivo da dignidade e do amor à terra Quando os toiros da corrida da Ascensão entravam na quarta-feira de madrugada Filho e neto de agricultores Manuel José Moedas simboliza uma Chamusca orgulhosa, digna, solidária e trabalhadora. Tem 70 anos e toda a vida trabalhou na agricultura. Como feitor, a maior parte do tempo. Continua a trabalhar e é um exemplo de verticalidade e honradez. Uma voz que transporta em si as múltiplas vozes da história de uma vila ribatejana. 8

Veja o vídeo da entrada de toiros em Quinta-Feira de Ascensão


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“O campo invadindo a vila, uma sensação que não se explica” Semana da Ascensão de 20 a 24 de Maio na Chamusca

Exposição e visita aos diques trinta anos após as “cheias do século”

É impossível resumir numa notícia de jornal um programa de uma festa como a Semana da Ascensão na Chamusca, tantas e variadas são as iniciativas. É de 20 a 24 de Maio na Chamusca. A leitura do texto que se segue não dispensa a consulta habitual… do programa. José Cid actua quarta-feira à noite no palco principal da Semana da Ascensão na Chamusca. O cantor, natural da vila, está em grande forma. Regressou aos palcos principais do país e vai lançar um CD de originais. Vai ser, garantidamente, um dos momentos altos da festa. O concerto de quinta-feira é de João Chora, outro artista da terra. O espectáculo chama-se “Meu fado, Minha gente”. Com o cantor sobem ao palco músicos de reconhecida qualidade como Rão Kyau, Custódio Castelo e Carlos Menezes, para além dos fandanguistas de Riachos. Os Quinta do Bill regressam à Ascensão e actuam sábado, dia 23.

Um dos locais mais frequentados da Semana da Ascensão vai ser a Manga das Largadas. quarta, quinta e sábado ao bater da meia-noite solta-se a ousadia, irreverência e coragem dos mais novos para mais tarde recordar. A espera de toiros, na rua Direita de S. Pedro, na quinta-Feira da Espiga é, como sempre, o momento mítico dos festejos. Uma manhã de espera para uma descarga de adrenalina de breves minutos à passagem dos animais. Um momento que a organização define assim: “o campo invadindo a vila, uma emoção incontida (…) uma sensação que não se explica”. Outro local de encontro é o Palco da Juventude montado no Parque Municipal, por onde vai passar muita música alternativa. Na quinta-feira reúne-se às sete da manhã, no Jardim Joaquim Maria Cabeça, o pessoal que gosta de ir ao campo apanhar a espiga. A missa é no mesmo local às 10h30. Na tarde de 24 de Maio, domingo, no Palco da Juventude actuam os ranchos folclóricos do concelho. O encerramento da festa é no mesmo dia, no palco principal, com o musical “Cantos e Sons da Lusitânia”.

A Chamusca relembra aquelas que foram consideradas as maiores cheias do Tejo do século XX, ocorridas em Fevereiro de 1979, com uma exposição no átrio do Cine-Teatro, cuja abertura está marcada para as 20h00 de 20 de Maio, quarta-feira, e com uma visita a vários diques do concelho, a partir das 10 da manhã de sexta-feira, dia 22. “É uma forma de assinalarmos os trinta anos das cheias e de mostrar as obras de requalificação entretanto feitas”, esclarece o presidente da Câmara, Sérgio Carrinho. Os diques incluídos na visita promovida pela autarquia são os diques Pequeno e Grande do Arripiado, o dique do Casal Velho no Pinheiro Grande e o dique de Nossa Senhora das Dores no Tapadão – Chamusca. “Aqui na vila da Chamusca reben-

tou em 1979, o dique de Nossa Senhora das Dores. Os campos no mouchão de S. Brás foram invadidos por areia trazida pelas águas que chegaram até à Estrada Nacional 118”, explica o autarca. Sérgio Carrinho diz que as obras de requalificação dos diques custaram cerca de um milhão e trezentos mil euros. “Aquelas zonas tornaram-se espaços de fruição urbana. Os diques foram pavimentados, foi colocada iluminação pública e passeios,


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sinalização, etc”. Em 1979 os problemas causados pelas cheias foram resultado da falta de manutenção dos diques. Apesar disso não se registaram vítimas. O sistema de vigilância montado permite avisar a população com tempo e tomar as medidas necessárias para minimizar os estragos. “Temos uma lista das famílias que moram em zona de cheia. Se houver problemas elas são avisadas pela protecção civil com antecedência para poderem, se for caso disso, abandonar o local e retirar gado de zonas inundáveis”.

Duas touradas e um espectáculo de variedades taurinas Rui Salvador e o Grupo de Forcados Amadores do Aposento da Chamusca comemoram este ano 25 anos de actividade e vão actuar na Feira Taurina da Ascensão, mas em datas diferentes. O cavaleiro tauromáquico actua quinta-feira à tarde na tradicional corrida de quinta-feira. Os forcados do Aposento pegam os seis toiros Infante da Câmara na nocturna de sábado, dia 23. Na quinta-feira os toiros são da Ganadaria Manuel Assunção Coimbra e vão ser lidados por Rui Salvador, José Manuel Duarte e Francisco Palha, que faz a sua última corrida como praticante. As pegas estão a cargo dos Amadores de Santarém, capitaneados por Diogo Sepúlveda e dos Amadores da Chamusca, cujo cabo é Nuno Marques. Na corrida nocturna de sábado, cujo início está marcado para as 22h00, actuam os cavaleiros Joaquim Bastinhas, Sónia Matias e Rui Santos. Os Amadores do Aposento da Chamusca descem à praça liderados pelo cabo Tiago Prestes. A organização dos espectáculos taurinos é da empresa que ganhou a concessão da praça “Arena Chamusquense Ldª. Nas duas corridas a música está a cargo da Filarmónica “Victória” Avuca da Carregueira. Na sexta-feira à meia-noite entram em praça os mais novos, a começar pelos animais. Três novilhos de José Dias para serem lidados pelos cavaleiros amadores, Filipe Vinhais, Mateus Prieto e Inês Sousa. Os Forcados Amadores da Chamusca também marcam presença.

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Três ruas com nomes de ilustres da terra Na quinta-feira de Ascensão, a partir das 15h00 serão descerradas placas toponímicas com os nomes de Álvaro do Amaral Netto (loteamento do Casal do Espargo), João José Fonseca e Emília Montalvo (loteamento das Barrajolas). Trata-se de uma homenagem a pessoas nascidas na Chamusca que se distinguiram na área da cultura. Álvaro Fernandes do Amaral Netto (25 de Maio de 1903 – 14 de Março de 1971), fundou, entre 1928 e 1932, duas revistas e um jornal que tiveram vida efémera. Mais tarde, em Lisboa, é um dos fundadores da Casa do Ribatejo e da revista Ribatejo. Ao longo da vida escreveu inúmeros artigos sobre a história da Chamusca e em 1956 publicou um livro de poesia “Brasas da Minha Lareira” onde

evoca o Ribatejo. Emília Montalvo (7 de Maio de 1904 – Maio de 1989) cegou muito nova mas isso não a impediu de vir a leccionar no asilo-escola “António Feliciano de Castilho”, em Lisboa, onde foi aluna. Falava várias línguas, entre as quais o Esperanto. Escreveu em jornais e revistas da época e no seu espólio há novelas, contos, sonetos e algumas peças de teatro. João José Samouco da Fonseca, nascido a 29 de Outubro de 1932 é considerado, de acordo com a organização da homenagem, “o escritor, autor, poeta, mais profícuo de toda a história literária da Chamusca”. É autor de vários espectáculos de teatro de revista e de uma “História da Chamusca” em quatro volumes, o primeiro dos quais vai ser reeditado este ano com lançamento marcado para as 18h00 de 21 de Maio, quinta-feira de Ascensão, no Antigo Centro Regional de Artesanato.


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O Dó, o Ré, o Mi e o casal Sá na partitura das muitas histórias de vida de uma vila com tradição cultural Silvina teve que casar com João aos 15 anos para poder viajar com o conjunto do sogro onde era baterista e vocalista

Ele toca e ela canta. João de Sá e Silvina de Sá dizem que são artistas e que nunca tiveram qualquer outra profissão. Quando se lhes lembra que ele é electricista e que ela foi contínua na escola da Chamusca mais de duas décadas, encolhem os ombros e sorriem como se lhes estivéssemos a falar das vidas de outras pessoas. O que verdadeiramente conta na vida de cada ser humano é o que é feito com paixão. Cantemos pois a canção destes dois apaixonados. Casaram muito cedo por causa da música e a música manteve-os unidos até hoje. João de Sá e Silvina de Sá. Pisaram muitos palcos. Tocaram e cantaram nos mais diversos tons e em quase todas as circunstâncias. Fazem quarenta e oito anos de casados dia 21 de Maio, Quinta-feira de Ascensão. Dia de uma festa em que também se celebram pessoas como eles, que tantas festas ajudaram a animar. Silvina tinha 15 anos e um pai à moda antiga. Desde os bancos

da escola que namorava João de Sá, um ano mais velho. Estavam há anos unidos pela música. O pai do João era maestro. Ensaiava o Rancho Folclórico da Chamusca onde Silvina andava. E tinha um conjunto familiar chamado “Luz e Vida” que a fadista Hermínia Silva havia de rebaptizar para “Melodia Ribatejana”. Quando Silvina passou a ter que viajar com o conjunto o pai foi intransigente. “Só a deixaria ir se ela casasse com o namorado. Para não haver falatórios”. “O conjunto tinha contrato para ir tocar à Madeira. O meu pai impôs as suas condições e casámos a 21 de Maio de 1961. Eu tinha 15 anos e o João 16. A Hermínia Silva foi a madrinha. Casámos por causa da música”, conta a noiva. É domingo ao fim da tarde. João de Sá acabou de chegar de um ensaio com o Rancho Fol-

Chamusca Viçosa Papoila O único CD de Silvina de Sá, “Os Sons do Tejo”, foi gravado em 2003 no estúdio Artes&Som de José Cid, que foi o produtor. Os músicos foram José Cid, João de Sá, Luís Petisca, Pedro Pinhal,

clórico da Azinhaga. A televisão está ligada mas ninguém liga ao que está a dar. Silvina recebe-nos com queijos, pão e vinho fresco. No final adiciona o jornalista à lista de amigos. Regista o momento com uma dedicatória no CD “Os Sons do Tejo”, produzido por um outro amigo e conterrâneo, José Cid. Tem um sorriso cativante. Uma das canções que gravou chama-se “Vem de longe o teu sorriso”. Uma balada de amor assinada por quatro autores, José Luís Gordo, Mário Rainho, Carlos Alberto Moniz e Braga Ferreira. Vêm de longe os cartazes e programas que o marido foi buscar a uma outra divisão.”Isto é a nossa história. Eu estreei-me no Sporting da Chamusca em 1959”. Mostra o cartaz. João Manuel Nunes de Sá ao acordeão e Joaquim José Nunes de Sá (o irmão), ao saxofone. “Saxofone

José Triguinho e Amadeu Magalhães. Tem doze temas. O último é uma marcha de exaltação da terra natal da cantora. “Chamusca Viçosa Papoila”. Podia muito bem ser o hino da Festa da Ascensão. É um disco próprio de quem quer dar testemunho de tudo o que já cantou. Tem baladas, canções, folclore,

alto” explica. “Tocámos quatro ou cinco números. Ainda estávamos na aprendizagem”. As explicações de Silvina e João cruzam-se e entrecruzamse. Saltam desordenadas pela imensa pauta de uma vida a dois. Há tanto para contar. Tanto para reviver. Nas paredes e em cima dos móveis há fotografias. As mais antigas a preto e branco. Espectáculos aqui e ali. Em Angola, a maior parte deles. Penteados e roupas dos anos sessenta. “Fomos para a Madeira com uma companhia de circo. Circo Royal. Fomos como atracção. Fazíamos um número de pista, dançávamos folclore… estivemos lá duas temporadas. Quarenta e cinco dias seguidos de cada vez. Inaugurámos a boite do Hotel Santa Maria, do Savoy”, conta Silvina. E continua o relato. “Na minha família não havia tradição musical

fado. Abre com um tema de José Cid, letra e música. “A vida é como um fandango”. Tem seis poemas de Maria Manuel Cid. A terceira canção é dos tempos de África. Silvina de Sá canta Frenezi, de Guerreiro Bruno e Casal Ribeiro, uma canção que ganhou um festival da canção de Angola.

mas quando casei fui obrigada a aprender música. Tinha carteira profissional de baterista quando fui para Angola. Fiz exame no Sindicato Nacional de Músicos. Se o meu sogro tinha falta de algum instrumento no conjunto punha logo alguém a aprender a tocá-lo. À filha pô-la a tocar saxofone mas ela gostava da bateria. Quando ele não estava, eu e ela trocávamos. Eu cantava e ela tocava bateria. Chegou a ser baterista na Orquestra Oficial de Angola. Maria José de Sá”. João de Sá tenta pôr alguma ordem na conversa. Ensaia um relato cronológico. “O meu pai, José de Sá, veio de Benavente para a Chamusca, contratado para escriturário da Casa do Povo. Em Benavente ensaiava o Rancho Folclórico da Casa do Povo e veio com a condição de ensaiar o Rancho da Chamusca. Eu tinha 9 anos. Andava na escola e nas horas vagas aprendia solfejo com ele. Aprendia eu e aprendíamos todos. Os meus irmãos, a Silvina…” O investimento do maestro não tinha fins meramente culturais. Formou um conjunto e arranjou contratos. João de Sá mostra um programa antigo. 1 de Novembro de 1962. Ali se anuncia uma actuação da orquestra típica “Luz e Vida” no Solar de Hermínia Silva em Benavente. “Algum tempo depois, por sugestão dela passámos a ser “Melodia Ribatejana. Nessa altura já cantava a Silvina. E dançávamos o fandango”, explica. Foi ao solar de Hermínia Silva que um empresário foi contratar o conjunto de José Sá para ir tocar em Angola. “Fomos para Angola em 1964. Também fomos com um circo. Durante três anos pagaram-nos a estadia. O circo fazia a temporada da cacimba – tempo seco – de 15 de Maio a 15 de Agosto. Um mês em Luanda e dois meses a correr as maiores cidades. Nós fazíamos o ano todo”, conta João de Sá.


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Uma revolução não muda mentalidades de um dia para o outro “O regresso à Chamusca na qualidade de retornados foi traumático. Diziam que tínhamos andado a explorar os pretos. De cada vez que eu saía à rua vinham ver e comentar. Porque pintava as unhas dos pés. Porque usava roupa diferente. O meu pai pedia-me para não usar calções”. O conjunto “Melodia Ribatejana” acabou após o 25 de Abril de 1974, ao fim de uma década em Angola. Nos últimos tempos antes do regresso a Portugal, a música em Luanda era outra. “Depois dos partidos – MPLA, UNITA e FNLA – entrarem na cidade tudo mudou. A esta distância consigo falar nisto com alguma descontracção mas na altura não foi fácil. Cheguei a ter uma metralhadora instalada no meu quintal. Tinha que pedir licença para passar. De vez em quando havia tiroteio de prédio para prédio.”, conta Silvina de Sá. A guerra começou naquela altura. Antes o casal percorreu grande parte do território sem praticamente ouvir um tiro. “Só ouvimos um tiro uma vez. Íamos numa coluna escoltados por soldados e um mais inexperiente disparou contra um macaco pensando que se tratava de um inimigo”, diz a sorrir João de Sá. A aposta do patriarca da família em Angola foi ganha. Depois de acompanhar o circo o conjunto começou a ter contratos para todo o lado. Festas de bairro, esplanadas, cinemas, boites, associações, clubes. “O meu sogro começou a verificar que havia ali um mercado por explorar. Quando chegámos a Luanda não havia muitos grupos a tocar música portuguesa. As pessoas sentiam falta disso”, explica Silvina. Moçâmades, Benguela, Sá da Bandeira, Negage…é longa a lista de locais onde actuaram. Chegaram mesmo a actuar para as tropas portuguesas num ou noutro aquartelamento. Com o passar do tempo Silvina de Sá cimentava uma carreira como cantora. O casal estava bem. Tinha uma escola de música. A família também ía diversificando as fontes de rendimento. Trabalhando durante o dia noutras actividades, explorando pequenos negócios. “Nós tínhamos a vantagem de tocar pela pauta. Qualquer artista que fosse a Angola não precisava de levar músicos. Bastava levar as partituras. Acompanhámos quase todos os grandes artistas da altura. Tony de Matos, Luís Piçarra, Tonicha, Simone de Oliveira, Fernanda Baptista. Noutras alturas fazíamos as primeiras partes de espectáculos. Nos primeiros tempos a Silvina quando não cantava tocava bateria. Depois começou a ter convites para programas de rádio, serões para trabalhadores, cantava com outras orquestras. Grandes orquestras da altura. Chegou a fazer espectáculos de revista. Praticamente só não actuávamos às segundasfeiras”, explica João de Sá. Ao fim de dez anos foi o trauma do regresso. Silvina de Sá recorda as incompreensões, os insultos, a coscuvilhice. “Viemos para casa dos meus pais aqui na Chamusca. A minha filha tinha meses. Foi um choque a todos os níveis. O meu pai pedia-me para eu não me pintar. Para não usar calções na rua. Fechava o portão para as pessoas não me verem. Eu tinha 28 anos. A revolução não tinha chegado à cabeça dos nossos pais nem das pessoas daqui. Quando saía à rua toda a gente me vinha espreitar. “Olha, pinta as unhas dos pés. Chegaram a insultar-

ASCENSÃO CHAMUSCA 2009 | 5 nos. Andavam a explorar os pretos, diziam.” As canções que cantava deixaram de estar na moda. A rádio só passava música revolucionária. Os espectáculos eram com cantores revolucionários. Silvina e João de Sá começaram a refazer a vida. “Eu fui para a escola como contínua. Tive sorte porque fui lidar com pessoas diferentes. Com professores que me trataram como gente. Pessoas com estudos. Luanda na altura em que lá estivemos era uma cidade evoluída. Sentíamo-nos livres. Não havia qualquer pressão. Aqui as coisas mudaram muito mas demorou o seu tempo”. A pouco e pouco João e Silvina de Sá voltaram à música. Ele foi para o Rancho Folclórico da Azinhaga. Ela começou a participar em espectáculos, noites de fados. Os dois juntos voltaram a animar algumas festas. “Havia cá um grupo chamado Nova Experiência. Íamos com eles e a meio dos bailes

actuávamos”, conta Silvina. A filha do casal, Mónica, não aprendeu solfejo. Começou mas não concluiu. Os pais dizem que ela canta muito bem e que até chegou a substituir a mãe numa altura em que ela foi sujeita a uma cirurgia. “O empresário que nos tinha contratado não estava perto do palco, quando a ouviu cantar perguntou a alguém que estava com ele: Então a Silvina não foi operada?”. No ano em que Silvina de Sá apresentou o seu CD “Os Sons do Tejo” num espectáculo da Ascensão teve uma prenda inesperada. “Antes de começar a cantar ‘Vem de longe o teu sorriso’ dediquei a canção à minha filha. A meio percebi que ela tinha vindo do sítio onde estava, subira ao palco e estava a cantar ao meu lado. Tenho ali a fotografia. Foi um momento muito feliz”.


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Cavalhadas abrem “prólogo” da Semana da Ascensão

O sábado começou com um Passeio Hípico. À tarde a Associação Hípica da Chamusca organizou uma prova de destreza para os cavaleiros. A cavalhada serviu para reforçar laços de amizade e camaradagem.

Jogos de destreza para cavaleiros organizados pela Associação Hípica

Montado na Papoila, a sua égua branca de estimação, Lúcio Oliveira, avança a toda a velocidade para junto dos seus companheiros de prova. O jovem de 30 anos que trabalha no Jardim Infantil da Chamusca foi um dos participantes na 15ª edição das Cavalhadas que se realizou na tarde de sábado, 16, na Quinta do Arneiro de Cima, na Chamusca. A iniciativa integrava o chamado “Prólogo da Semana da Ascensão” e foi organizada pela Associação Hípica do Concelho da Chamusca. As Cavalhadas são torneios para demonstração da destreza dos cavaleiros. Antigamente os cavaleiros tinham que vir a galope e espetar uma lança em animais vivos que estavam pendurados numa corda esticada entre dois paus. Mais tarde os animais foram substituídos por uma argola que constitui o alvo e desafio à perícia do cavaleiro. Na Chamusca a destreza é testada CONFRATERNIZAÇÃO. Concorrentes de todas as idades participam nas cavalhadas pelo convívio e paixão pelos cavalos

foto O MIRANTE


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de outras formas. A participação é por ordem de inscrição. Para mostrar os seus dotes na arte de cavalgar e domar o cavalo, cada cavaleiro tem que tocar uma sineta que indica o início da sua prova. Depois tem que contornar vários obstáculos sem lhes tocar ou derrubar. Uma espécie de rally paper equestre. Ganha quem fizer a prova em menos tempo e com o menor número de penalizações. Do lado de cima do picadeiro onde os participantes aguardam a sua vez as palavras de incentivo aos “adversários” são muitas. A brincadeira é uma constante e enquanto aguardam pela sua vez alguns participantes aproveitam para refrescar a garganta com uma cerveja. Segundo o presidente da Associação Hípica do Concelho da Chamusca, Paulo Redol, o que menos importa é a classificação final. “Isto é uma brincadeira que serve para conviver e que dá início à Semana da Ascensão, um momento muito importante para todos os chamusquenses. Ninguém quer saber quem vence a prova ou não, o que nos une aqui é a paixão pelos cavalos”, revela, acrescentando que este ano vieram muitas pessoas de fora do concelho para assistir. A paixão pelos cavalos foi o que trouxe Lúcio Oliveira à prova. Natural da Chamusca convive com cavalos desde que nasceu. A família possuía cavalos e comprava e vendia cavalos, burras e mulas. Por isso, encara esta paixão com naturalidade. “Isto está nos genes” justifica. “Tenho a Papoila desde que nasceu e cuidei sempre dela como se fosse da família. Participar nesta prova é uma forma de conviver com outras pessoas que partilham a mesma paixão que eu”, explica. Também Ricardo Mira, 16 anos, adora o mundo dos cavalos. Participou pela primeira vez numa prova de Cavalhadas quando tinha oito anos e, desde então, sempre que pode não perde a oportunidade de participar. “Esta é uma tradição que a Chamusca não deve perder porque é uma forma de nos mantermos em contacto com os cavalos e participarmos em provas, mesmo que seja de brincadeira”, refere.

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Manuel José Moedas é um símbolo vivo da dignidade e do amor à terra Quando os toiros da corrida da Ascensão entravam na quarta-feira de madrugada

Filho e neto de agricultores Manuel José Moedas simboliza uma Chamusca orgulhosa, digna, solidária e trabalhadora. Tem 70 anos e toda a vida trabalhou na agricultura. Como feitor, a maior parte do tempo. Continua a trabalhar e é um exemplo de verticalidade e honradez. Uma voz que transporta em si as múltiplas vozes da história de uma vila ribatejana.

“U

m dia com a minha avó/ Que no colo me aconchegou/Fui ver uma entrada/ Foi ela que me disse então/Estes toiros que aqui vão/São amanhã para a tourada.”. Manuel José Prestes Moedas levanta os olhos do papel onde escreveu o poema e retira da parede da sala onde nos encontramos, uma fotografia a preto e branco de uma entrada de toiros da Semana da Ascensão. “Eu tinha cinco ou seis anos e ia com a minha avó e com a minha mãe ver as entradas. Lembro-me de estar à janela na casa do meu tio Afonso. Dali avistava-se tudo até ao areal. Quando víamos vir o Joaquim Conde a pedalar a sua pasteleira e a buzinar sem parar já sabíamos que vinham lá os toiros. Nessa altura acreditávamos que vinham”. Manuel José Moedas tem 70 anos.

Toda a vida trabalhou na agricultura. O seu avô Simão era cingeleiro – trabalhava com as suas juntas de bois para donos de terras - o seu pai, cujo nome também era Manuel José Moedas, também trabalhou a terra toda a vida. A sua e a de outros. Começou aos 12 anos. Ele seguiu a tradição da família logo que abandonou a escola primária. Não são só os filhos de médicos que vão para médicos, ou os filhos de advogados que cursam advocacia. Já perdeu a conta às entradas de toiros a que assistiu e àquelas em que participou. “Antigamente os toiros vinham para a praça directamente do campo, conduzidos por campinos. Eram touros puros. Não eram transportados de camioneta, estavam habituados com os cabrestos e os cavalos. Vinham no engano por aí acima. Agora fazem só aquele pequeno percurso entre o Areal e a praça para

lembrar outros tempos. Estes toiros agora são mais batidos, não querem saber dos cabrestos. Quanto mais depressa os levarem para a praça melhor, para estarem despachados”. Quando Manuel José Moedas era adolescente os toiros entravam pelo lado norte da vila. “Vinham conduzidos pelos campinos, ali das Trevas ou daqueles lados do Luzirão. Atravessavam a charneca toda, vinham passar aqui ao Casal da Pereira, direitos ao senhor do Bonfim. Depois iam por ali abaixo até à praça de toiros. Eu, o Carlos Lipampa e outros fazíamos fogueiras com cascas dos eucaliptos para nos aquecermos. Víamo-los chegar ao clarear, por volta das seis da manhã. Não nos aproximávamos porque ainda podíamos levar com a vara de algum campino. Se um animal fugisse eles tinham que andar todo o dia atrás

E o peru da casa Moedas foi para o General Vassalo e Silva Manuel José Moedas não foi à tropa mas comandou tropas no Tramagal quando era feitor na Casa do Engº Bairrão. “Havia uns militares caboverdianos a fazer instrução militar em Santa Margarida. Alguns oficiais que eram amigos do meu patrão pediramlhe para lhes arranjar lá alguma coisa para fazer no campo porque quando eles estavam desocupados no quartel

faziam muitos desacatos. “Eu punhaos a roçar mato naquelas barreiras. Eles iam acompanhados por um cabo e um sargento. Nunca mais criaram problemas”. A história de não ir à tropa meteu dois “padrinhos” pelo meio. “Um era o professor Tomás. Outro era filho da senhora da Taberna da Rita, ali do Pinheiro Grande. Ele trabalhava na

dele. Houve uma vez um que tresmalhou e atravessou o Tejo”. Mostra na fotografia antiga o posicionamento correcto dos campinos no desempenho do seu trabalho. “Um da esquerda, dois ou três ao meio e um da direita. E os toiros vêm lá entalados no meio dos cabrestos”. A rua Direita de S. Pedro era empedrada. Os homens não vinham com traje de domingo mas com traje de trabalho. Calças de cotim, sapatos, faixa e barrete pretos. “Esta foto foi tirada mais tarde, já os toiros entravam por onde entram agora. Mas a entrada era na quarta-feira, na véspera da corrida da Ascensão”, conta. No espaço de tertúlia, adjacente à casa há uma zona com selas, esporas, estribos, arreios, freios…dezenas de freios de cavalo. O anfitrião vai dando algumas explicações. “Esta é uma meia sela. Este é um selim à Relvas, é raro. Esta também é uma sela muito antiga. Este é um selim à inglesa mas é para saltos e nós cá não damos saltos”. Mostra um aparelho de dar clisteres aos animais. Ali ao lado está o ferro que o avô usava para marcar os animais. “Agora metem um chip. Mas ainda há quem marque os animais”, diz. Manuel José Moedas está preparado para assistir a mais uma entrada de toiros, quinta-feira de Ascensão da parte da manhã. Vai com o filho e os netos, cada um em seu cavalo, jaqueta e camisa à portuguesa, chapéu de aba direita, colete. “Vamos lá ver se tudo corre bem porque a vida às vezes prega-nos partidas”, confidencia. O ano passado o filho aleijou-se num dedo, na altura em que estavam a preparar os cavalos. Agora é a doença da esposa que o impede de ter certezas. Maria Lisete não está presente. Manuel José Moedas conta, à sua maneira, a sua história de amor. “Na ponte da Chamusca havia uma barraca de tábuas e faziam lá um arraial na Ascensão. O pessoal ia nas bicicletas. Naquele tempo não havia carros e alguns nem bicicletas tinham. Iam a pé. As cachopas iam a pé. Só lá fui uma vez e foi por namorar com ela. O que as mulheres fazem. Por causa de ir ao arraial não fui à corrida de toiros que era uma coisa de que eu tanto gostava. Mas não foi sacrifício.”.

estação dos comboios em Tancos e conhecia muitos oficiais, entre os quais o general Vassalo e Silva que fora governador da Índia portuguesa. Lá lhe falou no meu caso e fiquei livre”, conta. Como agradecimento a mãe de Manuel José Moedas, Maria da Luz Prestes Moedas, mandou ao general um dos perus que tinha andado a engordar para matar no Natal. “Foi o peru para o homem que nos disseram que tinha mexido os cordelinhos. Quanto ao professor Tomás fizemos aqui um jantar e convidamo-lo. A ele e à família”.


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“Em toda a minha vida nunca pensei fazer mal a ninguém” Um cavalo espreita para o pátio pela janela da primeira baia quando nos aproximamos. Manuel José Moedas faz as apresentações. “Este é o Salamim. Pus-lhe este nome por ser um cavalo pequeno e eu ter conhecido um homem aqui da Chamusca que era pequenito e a quem chamávamos Salamim”. Do outro lado há um picadeiro. Há mais cavalos para apresentar. “Este aqui é o Nicorrilha. É o meu cavalo. É velhote como eu. As pernas dele estão como as minhas”. O cavalo branco abana a cabeça. Solta-se outra história. “Havia um homem que ia com outro, que era caiador, para as brincadeiras na praça de toiros. Vestiam-se de branco, metiam-se dentro de uma barrica que as vacas iam empurrando. Era o Nicorrilha”. A Cigana é a égua da neta, o Bonfim é o do neto. Abre um sorriso e pergunta: ‘Sabem como se chama este que é do meu filho? Mirante!” Alguns cavalos foram comprados a ciganos. Manuel José Moedas diz que nunca teve problemas em lidar com ciganos mas que ficou desconfiado quando foi trabalhar para a casa do Engº Bairrão, no Tramagal, e viu tantas pessoas daquela etnia. “Fui para lá trabalhar como feitor. Fiquei admirado. Eram bandos de ciganos como eu nunca tinha visto. Passavam com os burros carregados de erva. Só se viam as cabeças dos animais e eles a cavalo lá em cima. Até pensei desistir. A metalúrgica Duarte Ferreira ficava com a mão-de-obra toda. Os mais novos andavam na guerra em África. Só ficavam os coxos e alguns mais ‘maluquitos’ que púnhamos a guardar o gado. Aquilo era mais uma casa de beneficência que uma casa agrícola”.

Ri-se com gosto e alonga a descrição. “O meu patrão era boa pessoa. Iam lá pedir trabalho e ele dava. Não foi difícil eu adaptar-me à agricultura porque lá estava mmais atrasados que nós aqui na Chamusca. Era um tractor a cair de podre, uns bois coxos, umas mulas marrecas e trabalhadores com mais de oitenta anos de idade, como o maioral dos bois. Em toda a minha vida nunca pensei fazer mal a ninguém e sempre pensei ajudar os mais desfavorecidos, respeitando quem me pagava, pois claro. Ajudei sempre os mais desprotegidos”. Manuel José Moedas trabalhou 20 anos no Tramagal. Antes tinha trabalhado com o pai e, durante dois anos, numa casa agrícola da Chamusca, da família Seixas Pires. “Foi o meu tempo de tropa conta. Depois de regressar à Chamusca foi trabalhar para a Casa Rafael Duque. O Dr. João Duque convidou-me e eu aceitei. Também já lá estou há quase vinte anos. “Tenho o meu trabalho e aos sábados tenho aqui muita coisa para fazer”. Uma vida inteira dedicada à agricultura. “Comecei a trabalhar com 11 anos. Nem tinha força para me agarrar ao rabo do arado. Fiz a 4ª classe e ainda andei num curso de agricultura uns dois anos com o professor Tomás. Depois, foi a escola da vida”.


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Mercado semanal pode transferir-se definitivamente para o jardim Bancas saíram temporariamente da zona envolvente da Igreja Matriz devido a obras

Feirantes e consumidores estão satisfeitos com o espaço onde decorre provisoriamente o mercado da Chamusca, o jardim Joaquim Maria Cabeça, vulgarmente chamado Jardim Maria Vaz. O presidente da câmara diz que qualquer solução definitiva será tomada em conjunto com os interessados. A maior parte dos vendedores está satisfeita com a instalação provisória dos mercados de sábado de manhã no jardim Joaquim Maria Cabeça. Mesmo aqueles que têm razões sentimentais para defender o regresso à zona envolvente à Igreja, confessam que não ficarão muito desgostosos se tal não acontecer.

O presidente da câmara, Sérgio Carrinho (CDU), diz que qualquer decisão sobre o assunto terá em conta as diversas opiniões. No espaço ao lado do quartel dos bombeiros, que serve de parque de estacionamento automóvel nos restantes dias da semana, as bancas de venda estão

melhor arrumadas e não causam problemas de circulação. Alguns vendedores reconhecem que em dias de casamentos na Igreja a confusão era enorme e que na zona onde o mercado tem funcionado há mais constrangimentos à circulação. Carlos Cruz, de Vale de Cavalos, freguesia da Chamusca, é um dos vendedores mais antigos do mercado semanal. Os pais já ali vendiam e desde criança que ele os acompanhava. Apesar de estar habituado ao antigo local reconhece que o jardim, que na semana da Ascensão serve também para montar um palco onde decorrem várias actividades,


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“É um espaço indicado para se fazer o mercado”. Numa volta pelo mercado no sábado de manhã, dia 16, o presidente da câmara vai ouvindo as opiniões dos feirantes que vão manifestando o agrado pela mudança. E pelo facto da autarquia os ter isentado do pagamento do terrado por causa da crise. Mesmo os que afectivamente se mantêm mais ligados à zona da igreja, que está a ser requalificada, concordam que o Jardim Joaquim Maria Cabeça, nome de um antigo farmacêutico da vila, tem boas condições. As bancas dispõem-se em dois arruamentos com piso de calçada de granito, que facilita a colocação das estacas. A sombra das árvores que convivem com as tendas, tornam o local mais apetecível nos dias de sol intenso. Os corredores são largos e as pessoas circulam sem atropelos. A vendedora Maria Adelina considera que no jardim está melhor, que além das condições serem melhores para quem trabalha também são melhores para o público. Quem pode ficar mais prejudicado são alguns estabelecimentos à volta da igreja que agora se ressentem

ASCENSÃO CHAMUSCA 2009 | 11 da falta de movimento na zona. À saída do espaço também conhecido por Jardim Maria Vaz, inaugurado em 1992, uma munícipe pede a atenção do presidente para lhe agradecer a mudança. “O mercado aqui está muito melhor, mais limpinho, mais arrumadinho” e acaba a conversa dizendo a Sérgio Carrinho que “estava deserta para o encontrar para lhe dar os parabéns”. O mercado semanal, onde se vendem roupas, calçados e até produtos hortícolas, foi transferido devido às obras na envolvente à igreja e à nova biblioteca que consistem na alteração do sistema de distribuição eléctrica, requalificação do Largo Vasco da Gama e da rua Câmara Pestana, entre outros trabalhos.


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