ASCENSAO 2011

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Câmara da Chamusca mantém viagens de lazer para idosos Apesar das dificuldades financeiras a Câmara Municipal da Chamusca decidiu continuar a realizar viagens de lazer para os idosos do concelho. A decisão foi tomada por unanimidade na reunião do executivo de 23 de Maio.

A informação vai ser enviada para as Juntas de Freguesia que são habitualmente parceiras da câmara neste tipo de organização. A única condicionante à manutenção das viagens prende-se com os destinos a escolher. Os vereadores de-

fendem que a escolha dos destinos tenha em conta a distância para que as despesas sejam razoáveis. As datas das próximas viagens serão anunciadas em breve após concertação entre a câmara e as juntas de freguesia.

ECONOMIA

O MIRANTE 26 de Maio de 2011

Ascensão 2011

Chamusca em ascensão para quebrar a monotonia da recessão Três Dimensões

Identidade Profissional

António Campos

Nasceu para ser florista

63 anos, empresário, Chamusca 15

Alcinda Lobato tem loja há 23 anos 16

Os azulejos encantados da Ermida de Nossa Senhora do Pranto Painéis raros de figuras avulsas e painéis com cenas religiosas 2

A família que trabalha quando os outros dormem Gustavo Gaudêncio é padeiro em Ulme há 18 anos e mulher e filha ajudam-no. Começam a trabalhar quando todos se preparam para ir para a cama. Fazem o pão e vão distribuí-lo de porta em porta 4

Resitejo é uma empresa de sucesso a nível ambiental e económico 10

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Festa é festa e de 1 a 4 de Junho a animação e convívio estão garantidos na Chamusca. Há toiros, fados, petiscos e muita alegria porque, como diz o povo, “tristezas não pagam dívidas”. 3


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Os azulejos encantados da Ermida de Nossa Senhora do Pranto Painéis raros de figuras avulsas e painéis com cenas religiosas de excelente execução

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senhor Francisco Pirinhas mete a enorme chave na fechadura, dá algumas voltas e abre-se a porta da Ermida de Nossa Senhora do Pranto, na Chamusca. Lá de cima do Outeiro do Pranto avista-se a vila e mais ao longe o Tejo. O nosso cicerone entra, pede-nos para aguardarmos um minuto enquanto abre as janelas que estão protegidas com grades. Vale a pena subir quase ao topo da vila para ver o interior da Ermida mas há que contactar a Santa Casa da Misericórdia com antecedência. As paredes da nave central e das capelas laterais são revestidas a azulejos do século XVIII. Paulo Queimado, vereador municipal, que profissionalmente é técnico de restauro, acompanha-nos na visita. O presidente da autarquia, Sérgio Carrinho, que tem um fascínio por arte sacra embora apenas se considere um curioso, também. As paredes laterais estão forradas com conjuntos de azulejos que, ao contrário do que é habitual, não representam uma única cena. Em cada um foi pintada uma flor diferente. Num ou noutro há um pássaro. “Este é o típico painel de figura avulsa. Não conheço nenhum igual. Neste o tema é floral. É tipicamente português.

As figuras ingénuas dos azulejos da Igreja de S. Pedro Uma pintura de uma Nossa Senhora grávida, vulgarmente conhecida por Senhora do ò encima

Em termos artísticos é muito bom”, explica Paulo Queimado. Na parede do lado direito de quem entra há algumas falhas. Azulejos que caíram e estão guardados numa zona anexa à capela lateral, dedicada a S. José. Uma antiga caixa de esmolas está pendurada do mesmo lado. No altar central uma imagem da Padroeira. Ao lado, tapada por uma redoma de vidro, uma estatueta de Santa Luzia. “Está a ver aqueles conjuntos de olhos de prata afixados no manto?”, pergunta Sérgio Carrinho. “Antigamente os pobres não tinham dinheiro para ir aos oftalmologistas. Vinham aqui rezar à Santa e fazer-lhe promessas quando tinham problemas nos olhos. Quando se curavam compravam esses olhos. Ainda há ourives que os vendem, acho eu. Há uns quinze anos comprei uns, explica enquanto coloca os óculos para ver ao perto”. A santa foi martirizada e arrancaram-lhe os olhos. Alguns azulejos estão danificados. O vidrado desapareceu e no seu lugar foi colocada uma massa branca. “Cimento”, avisa Paulo Queimado. “É dos grandes inimigos da azulejaria. Foram feitas intervenções pouco felizes. Para além do uso de cimento alguns dos que se soltaram foram colocados fora do lugar onde estavam”. Perguntamos-lhe quanto custaria o restauro dos azulejos. “Alguns milhares de euros”, responde. A Ermida de Nossa Senhora do Pranto tão cedo não irá ver obras. A não ser que ocorra algum milagre.

o altar-mor da Igreja de S. Pedro na Rua Direita de S. Pedro, classificado pelo IGESPAR - Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico, como de interesse municipal desde 1997. Também ali os azulejos são antigos embora melhor conservados que os da Ermida de Nossa Senhora do Pranto. E tal como os outros,

Os azulejos foram feitos à medida para as paredes da pequena igreja. Nas laterais do altar-mor há painéis “historiados a azul e branco relativos à vida da Virgem Maria articulados com um emolduramento cuja decoração reproduz elementos arquitectónicos barrocos onde se integram firas de anjos e de arcanjos, encimando um rodapé de pintura marmoreada, com florões”. A descrição está numa publicação de 1992, com o título “Azulejos na Vila da Chamusca”, editada pela câmara municipal, da autoria de Branca Maria Palla Lizardo” Na capela da direita, dedicada a S. José a mesma autora destaca os medalhões inferiores “com cenas de anjos carpinteiros”. Perante o painel onde surge a Virgem Maria a dobar, o menino Jesus a varrer aparas de madeira e S. José a aplainar uma tábua, Paulo Queimado chama a atenção para uma representação mais prosaica dentro da representação bíblica. “Vamos encontrar aqui, nesta oficina de S. José, todas as ferramentas que equipavam uma carpintaria na altura em que viveu o artista

foram feitos de encomenda para aquele espaço religioso. O que chama a atenção são as cenas em formato de medalhões e os desenhos a azul e branco “com cenas religiosas e profanas sobre um fundo campestre” onde as figuras parecem ter saído do pincel de um artista popular.

que pintou os azulejos”. O técnico de restauro desliga-se por momentos dos azulejos para mostrar as esculturas em madeira de Sant’Ana e S. Joaquim. “Para mim são das peças mais bonitas século XVIII que há aqui no concelho. O artista usou as melhores técnicas da altura. Os debruns das vestimentas foram feitos com rendas ao contrário do habitual que se utilizada a técnica do estufado com folha de ouro etc. Em termos técnicos e artísticos é do mais aprimorado”, refere com entusiasmo. Um entusiasmo que só não é maior porque também naquele caso se justificava um trabalho de restauro. “As imagens têm graves problemas. Verifica-se um destacamento gravíssimo. Já está a aparecer a madeira. Tudo o que eram camadas cromáticas desapareceu. Não têm tido qualquer tipo de manutenção. Por vezes mesmo com a própria limpeza as camadas de tinta vão desaparecendo. O folheado em ouro desaparece. Aquele tom laranja ali significa isso mesmo”, explica.

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Chamusca em ascensão para quebrar a monotonia da recessão Festa é festa e de 1 a 4 de Junho a animação e o convívio estão garantidos Para quem gosta de uma boa festa ribatejana o ponto de encontro é na Chamusca. Há toiros, fados, cavalos, campinos, petiscos e muita alegria porque, como diz o povo, “tristezas não pagam dívidas”.

A

s eleições cortaram um dia à Semana da Ascensão da Chamusca. Dia 4, Sábado, termina a festa porque a 5 são as eleições para a Assembleia da República. É mais um corte a juntar aos que a tradicional festa já tinha levado. O principal foi a nível do orçamento. O ano passado a câmara municipal gastou 180 mil euros. Este ano prevê gastar pouco mais de um quarto daquela verba. 47.500 euros. Os nomes de artistas de primeiro plano desapareceram do cartaz. A musica é toda com gente da terra. A chamada prata da

casa. O palco principal abre às 21h30 de dia 1, quarta-feira com “Terra do Fado”, um espectáculo sobre a história do fado na vila. A chamada abertura oficial é um pouco antes, pelas 20h00. Içam-se as bandeiras e toca a fanfarra dos Bombeiros. O presidente da câmara e os convidados oficiais dão uma volta pelo recinto onde estão montados expositores das freguesias. No palco da juventude, montado como habitualmente no Parque Municipal há bandas de música moderna todas as noites a partir da meia-noite. É um dos lugares mais animados e onde se bebe mais cerveja. As picarias também começam à meia noite. São no largo 25 de Abril e só não se realizam no dia 2, Quinta-feira da Ascensão para impedir uma indigestão de festa brava porque no feriado há a entrada de toiros pela Rua Direita de S. Pedro (Estrada Nacional 118) por volta do meio-dia e tourada às 17h30. No dia 2 de Junho sobe ao

palco um espectáculo infanto-juvenil para todas as idades, designado “Caminhos do Futuro”. “Danças e Outras Lembranças” é a proposta para 3 de Junho, consistindo numa representação etnográfica e novas formas de divulgação da cultura tradicional. Dia 4 de Junho assinalam-se os 450 anos da elevação a vilas de Chamusca e Ulme com um espectáculo multicultural de recriação histórica intitulado “450 anos, Bonita Idade”. Para quem vive na Chamusca o programa está espalhado pela vila. Para quem vem de fora o programa pode ser consultado no site oficial do município, bem como nesta página. Está lá tudo, tim-tim por tim-tim. As tasquinhas das Juntas de Freguesia da Chamusca e de Ulme são os locais mais procurados durante a Festa porque uma festa sem comida nem bebida não é festa nem é nada. Merecem uma chamada de atenção a exposição “Memórias” no antigo edifício do Cen-

tro de Artesanato (ver texto nesta edição), a corrida de toiros de Sábado às 18h00 onde vai ser feita a passagem do testemunho do cabo Tiago Prestes do Grupo de Forcados Amadores do Aposento da Chamusca, o lançamento do livro “Os últimos Avieiros do Tejo” da autoria de António Ma-

tias Coelho, às 15h30 de Quinta-feira da Ascensão, no porto das mulheres e o concerto da Banda Filarmónica Victoria da Carregueira, que arranca no Parque Municipal por volta das 16h30 e termina com um desfile até à praça de toiros onde irá abrilhantar a corrida da Ascensão.


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A família que trabalha quando os outros dormem Gustavo Gaudêncio é padeiro em Ulme há 18 anos e mulher e filha ajudam-no Começam a trabalhar quando todos se preparam para ir para a cama. Fazem o pão e vão distribuí-lo de porta em porta. Começam ainda o sol não nasceu. Deitamse por volta das três da tarde para um meio-sono. Nem o cheiro a pão quente ou o chilrear dos pássaros lhes desperta sentimentos poéticos. Trabalho é trabalho e aquele não é macio como a massa a fermentar.

O

Ana Isabel Borrego

silêncio que se faz sentir na rua contrasta com a azáfama que se vive no interior da padaria Gaudêncio, no centro de Ulme, concelho da Chamusca. São 03h20 da manhã e Gustavo Gaudêncio põe a cozer a última fornada. Dez mi-

nutos depois os papo-secos estão a ser retirados por dois funcionários, com a ajuda de pás compridas para dentro dos cestos. A esposa do padeiro, Teresa Gaudêncio, e a filha, Mónica, estão a postos e começam a levar o pão para a carrinha da distribuição. A família Gaudêncio vive com os horários trocados. Faz da noite dia e vice-versa. Foi por necessidade e por amor, pode dizer-se. Teresa diz que só trabalhando com o marido o podia ver e estar com ele. Casou aos 20 anos e começou logo a acompanhá-lo. Já lá vão 18 anos. “Se eu não viesse para a padaria nunca

nos víamos. Foi uma opção difícil mas era a única que fazia sentido. Foi muito difícil habituar-me a dormir pouco porque sempre gostei muito de dormir mas teve que ser”, explica. Gustavo Gaudêncio tem 48 anos e é padeiro desde os 18. Gosta do que faz mas não o faz por paixão ou para sentir o cheiro a pão quente pela manhã. Não houve qualquer poesia nem chamamento interior. O pai era padeiro e quando este ficou sozinho Gustavo ficou a ajudá-lo. Mais tarde deu continuidade ao negócio e estabeleceu-se por conta própria em 1991.

O dia de trabalho de Gustavo começa pelas dez da noite e termina por volta das três da tarde, altura em que vai dormir. Está habituado a dormir pouco. Ao domingo, dia de folga, fica acordado até mais tarde. Teresa sofre de uma espécie de “jet-leg”, aquela desorientação própria de quem atravessa muitos fusos horários numa viagem. “Costumo dizer que não devíamos ter um dia de descanso porque ando aqui ao domingo sem saber o que fazer com tanto tempo livre”, confessa com um sorriso. A produção de pão não é fácil e tem que cumprir os horários estabelecidos


O MIRANTE | 26 MAIO 2011 para a entrega não falhar. Uma batedeira gigante com rodas é deslocada até junto da arrecadação onde estão armazenadas as farinhas. Depois de despejada a quantidade necessária fica 20 minutos a amassar. A massa passa depois pela pesagem. O peso de cada pão varia entre os 45 gramas e os dois quilos. Na tendeira o pão ganha forma. O caseiro é feito manualmente enquanto o papo-seco e a carcaça pequena seguem para a enroladora e posteriormente para as passadeiras onde é feita a vincagem característica destes pães. Antes de irem ao forno passam ainda pela estufa onde ficam a levedar para a massa crescer. Gustavo Gaudêncio nunca produz menos de dez mil carcaças por dia. O valor varia consoante as encomendas. Umas são pontuais. A padaria possui cerca de duas centenas e meia de clientes fixos. Antes de partir para a distribuição porta-a-porta o padeiro toma banho e muda de roupa. Teresa Gaudêncio sai com ele. Durante a viagem aproveitam para conversar ou ouvir música que toca no rádio. Enquanto os pais distribuem o pão, Mónica fica na padaria a fazer as limpezas. Na própria rua onde fica a padaria, há sacos nas portas onde ficam as primeiras encomendas. A viagem segue por outras ruas de Ulme e pequenos lugares antes da carrinha chegar à freguesia vizinha do Semideiro. Não há tempo a perder. A entrega é feita em ritmo acelerado. Já o sol nasceu quando se cruzam com o primeiro carro. É na entrada da sede do

ASCENSÃO 2011 | 5 concelho. Até essa altura o único ruído era o do chilrear dos pássaros. Gustavo e Teresa dividem o trabalho. Alguns clientes deixam o dinheiro dentro do saco onde é colocado o pão. Em frente às piscinas municipais João Lino aparece a recebê-los. Paga à semana e é o dia de acertar as contas. “Gosto do pão deles. É muito bom”, justifica-se. Acena um adeus quando a carrinha arranca. Por volta das sete da manhã Mónica troca de lugar com a mãe que tem que ir abrir o posto de venda em Ulme. Gustavo e a filha continuam a distribuição pelas ruas da Chamusca. Regressarão a casa por volta do meio-dia. Depois do domingo de folga regressam ao trabalho, mesmo na altura em que todos se preparam para ir para a cama.


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Já há quem defenda entradas pagas na semana da Ascensão e todos estão atentos à fusão de municípios vizinhos Todos aceitam que, em maré de contenção de despesas os espectáculos da Semana da Ascensão sejam feitos com recurso aos artistas da terra e alguns sugerem que as entradas passem a ser pagas. Quanto à reorganização administrativa de que se fala e da

eventual fusão de municípios parece não ter grande contestação. Já em relação ao parceiro com quem a Chamusca se “casaria”, as opções divergem. Alpiarça recolhe mais votos mas Golegã e Constância também são hipóteses encaradas com naturalidade.

Joel Marques, 31 anos, Presidente da Junta de Freguesia de Carregueira

Duarte Neto, 30 anos, Ulme, empresário ramo automóvel

Luís Vieira, 46 anos, Chamusca, empregado de hotelaria

Joaquim Castelo, 67 anos, Chamusca, Comerciante

“Feira da Ascensão deveria ser autosustentável”

“Mantenham apenas as largadas e entradas de toiros”

“Com pouco dinheiro devemos fazer apenas uma festa simbólica”

“Visitantes deviam pagar para entrar na feira”

O presidente da Junta de Freguesia de Carregueira, concelho da Chamusca, considera que a festa da Ascensão deveria ser auto-sustentável criando, por exemplo, uma associação para angariar dinheiro e patrocínios. “A autarquia devia promover o que tem de bom no concelho com colóquios e debates promovendo as empresas que aqui estão instaladas. Sendo auto-sustentável a Câmara não gastaria um único cêntimo com a festa e esta poderia realizar-se todos os anos”, explica. Em relação à fusão de concelhos defende que, pela importância do concelho da Chamusca, Joel Marques não vê forma de este se unir a qualquer outro concelho vizinho. “Também não faz sentido que outro concelho se junte à Chamusca. As coisas devem manter-se como estão”, afirma.

Quem não tem dinheiro não tem vícios. Este é o lema de Duarte Neto para justificar o facto de ter que se acabar com a festa da Ascensão ou, pelo menos, cobrar a entrada no recinto de festas. “A realização da feira da Ascensão é dinheiro que sai do bolso dos contribuintes, ou seja, nós. Não faz sentido fazer a festa de borla”, diz. Apesar de tudo Duarte Neto não falha uma visita à feira para beber umas imperiais e “conquistar uns coraçõezinhos”. O empresário do ramo automóvel defende que, enquanto não houver dinheiro, que se mantenham apenas as largadas e entradas de toiros que é o mais tradicional. Se a Chamusca tiver que unir-se a algum concelho Duarte Neto considera que deve ser a Alpiarça embora realce que deve ser aquele concelho, por ser mais pequeno, a ser absorvido pela Chamusca. “Alpiarça está perto de Almeirim que é um concelho muito bem organizado. Seria muito bom para o nosso desenvolvimento”, afirma.

Se fosse presidente da Câmara Municipal da Chamusca Luís Vieira criava o programa das Festas da Ascensão tendo em conta o panorama de crise que se vive em Portugal e à qual o seu concelho não escapa. “Nos anos em que temos mais dinheiro fazemos algo maior mas se temos pouco dinheiro devemos fazer apenas uma festa simbólica”, refere o empregado de hotelaria que concorda com menos dias de festa e um programa de animação sem grandes artistas. Em relação ao debate lançado por políticos sobre a extinção/fusão de municípios Luís Vieira acha que a Chamusca deveria juntar-se ao município de Constância. “É o que faz mais sentido. Estamos mais ligados ao concelho de Constância do que à Golegã ou Alpiarça”, afirma.

Joaquim Castelo defende que não se pode deixar morrer a festa mas tendo em conta o período de crise financeira que atravessa o país deve-se fazer uma “coisa pequena”. O comerciante sugere que as entradas de público na Feira da Ascensão sejam pagas com um valor simbólico (um euro). “Com certeza que a festa ficaria muito mais barata à autarquia e podia talvez, num futuro próximo, apostar noutros espectáculos”, afirma. Sobre a sua maneira de viver a festa diz que aproveita para beber uns copos com os amigos e conviver. “É o melhor de tudo”, realça. Questionado sobre a fusão de concelhos Joaquim Castelo recusa-se a pronunciar sobre o assunto justificando que a sua opinião fica apenas para si.

Filipe Barreira, 44 anos, Chamusca, empreiteiro

“Organizar a festa em redor de um tema” Se fosse o responsável por organizar a Feira da Ascensão Filipe Barreira fazia as coisas de maneira diferente. Começava por arranjar um tema e organizava a festa consoante esse tema. Tinha

que estar relacionado com a festa brava ou com algo que tenha a ver com o concelho para apostar no desenvolvimento das suas actividades mostrando o melhor da Chamusca aos visitantes. “Da forma como a festa está organizada não cativa ninguém e as pessoas não sabem quais são as potencialidades do concelho da Chamusca”, afirma acrescentando que teme que “mais ano menos ano” a Ascensão termine de vez. Se o processo de fusão de municípios avançar o empreiteiro defende que a Chamusca deve unir-se à Golegã. “Eles têm um pólo de turismo muito bom e podia-se aproveitar o facto de ambos os concelhos terem muitos criadores de cavalos unindo esforços para desenvolverem e promoverem esta área”, refere.

Eduardo Garcia, Ulme, 50 anos, técnico de informática

“Para uma festa ter muito público não é preciso trazer artistas que valem milhões” Eduardo Garcia vai todos os anos à Ascensão e garante que não perde a tradicional entrada de toiros na manhã de quinta-

-feira de Ascensão. Se mandasse teria feito as coisas de maneira “correcta” para agora não estar a sofrer as “consequências” com falta de dinheiro. “Não teria gasto balúrdios com artistas que custam milhões. Para encher uma festa com público não é preciso cantores muito caros”, refere. Na sua opinião a Chamusca é um concelho tão vasto que não devia juntar-se a nenhum outro concelho. Mas a ter que o fazer defende que o seu concelho deveria anexar o concelho de Alpiarça por ser o mais próximo. “A Chamusca nunca pode integrar outro concelho porque é dos maiores a nível nacional”, realça.


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Gabriel Lopes da Silva é quem comanda a entrada de toiros de Quinta-feira de Ascensão A família do já falecido Manuel José da Úrsula é essencial para a festa há vinte e seis anos Meter toiros a correr na rua Direita de S. Pedro por meio de milhares de pessoas agitadas e aos gritos não é para qualquer um. Gabriel tem experiência mas não se livrou de um acidente e ter atropelado um amigo com o cavalo.

G

António Palmeiro

abriel Lopes da Silva é o homem que nas entradas de toiros da Ascensão na Chamusca comanda as operações. Selecciona os campinos, leva os cabrestos da casa agrícola fundada pelo seu pai, Manuel José da Úrsula, escolhe os toiros… Acompanhava o pai há 15 anos e há nove anos, um ano antes do falecimento do progenitor, já foi ele que tomou conta da organização de uma actividade que envolve muitos riscos. Durante este tempo já teve um acidente em que por pouco não perdeu a vida e já atropelou um amigo com um cavalo. A família com raízes na Chamusca já faz a entrada de toiros há 26 anos. Gabriel conta que no primeiro ano o pai reuniu com campinos de várias casas agrícolas porque a sua não tinha elementos que chegassem e preparou-se a actividade. No primeiro e segundo ano Manuel José da Úrsula levou toiros puros da sua ganadaria. Mas nos anos seguintes pelo risco que apresentava pôr na Rua Direita de São Pedro animais que nunca tinham tido contacto com as pessoas optou-se por ir buscar os toiros já habituados a estas lides da ganadaria de José Luís Dias, que é quem ainda fornece os animais. No dia da entrada participam os três irmãos de Gabriel, António Manuel, José Custódio e Joaquim José, e os sobrinhos montados a cavalo e fardados de campinos para conduzirem os toiros e os cabrestos até à praça de toiros da vila. Em 2003 já a chegar à praça houve alguém que saiu de uma garagem para desafiar o toiro com uma manta. O toiro voltou-se e acabou por investir contra o cavalo de Gabriel que caiu ao chão junto a uma parede. “Não tinha solução, estava encurralado e ia ser colhido. Valeu-me o meu irmão que vinha muito perto e com o cavalo chamou o toiro e acabei por me safar apenas com umas dores no corpo da queda”, conta. Noutra ocasião vinha a galope pela rua atrás dos toiros e atropelou uma pessoa que mais tarde soube que era seu amigo. “Quando passam os toiros há sempre gente que se mete no meio da rua para ver os toiros a correr e esquecem-se que vêm atrás cavalos a alta velocidade. E parar um cavalo no alca-

trão não é tarefa fácil”, descreve. Gabriel Lopes da Silva ainda gritou mas sem conseguir parar acabou por passar com o cavalo por cima do amigo. Mas não houve ferimentos graves e hoje o episódio é motivo de risota de ambos. “As pessoas esquecem-se com o entusiasmo, a adrenalina, que há campinos que seguem atrás dos toiros e é muito perigoso meterem-se no meio da rua”. Gabriel nasceu na Chamusca “por acaso”. O pai era da freguesia de Ulme mas foi trabalhar para Santo Estêvão (Benavente), onde arrendou terras e fundou a ganadaria. Um dia a mãe de Gabriel foi visitar familiares à Chamusca no tempo em que a ligação entre as duas localidades do distrito de Santarém demorava dois dias. E foi nessa altura que ele nasceu. A ganadaria de toiros bravos, que hoje se chama Herdeiros de Manuel José da Úrsula e que está há dois anos sem actividade, nasceu em 1979 com a compra das primeiras vacas bravas e foi registada em 1985. Actualmente a ganadaria só tem gado manso. Gabriel tem dois jogos de cabrestos que são utilizados em largadas e entradas e nas corridas para recolher os toiros. No ano passado fez 54 corridas de toiros. Na praça do Campo Pequeno em Lisboa é Gabriel que leva os cabrestos com a ajuda dos irmãos desde há seis anos. Gabriel Lopes da Silva, 39 anos, tem esperança de recuperar a ganadaria de toiros bravos que o pai deixou, mas neste momento sabe que é difícil por causa da crise e porque, segundo diz, actualmente “ter uma ganadaria é para quem pode e não para quem quer”

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O espantalho pimpão, a grafonola a manivela e a coroa que caiu com a monarquia Para quem gosta de histórias e memórias contadas através de objectos de outros tempos foto O MIRANTE

Para quem gosta de antiguidades e de histórias de outros tempos recomenda-se uma visita à curiosa exposição que foi montada no Centro Regional de Artesanato.

T

Alberto Bastos

rês ou quatro voltas de manivela. O braço da grafonola baixa-se com uma agulha tipo prego sobre o velho disco e o som de um tango ecoa no edifício do Centro de Artesanato da Chamusca, fronteiro à câmara municipal, dando o tom à exposição de objectos antigos que ali estão expostos. À direita de quem entra, em primeiro plano, uma coroa de mármore. Esteve por cima da entrada principal dos paços do concelho até à queda da monarquia. Do terraço vieram também um relógio de sol e dois grandes vasos. Outros iguais foram roubados. Mais à frente está um manequim articulado pintado de branco. Foi feito pelo senhor Julião Matos Rodrigues, homem de mil talentos, já falecido, e oferecido a um vizinho que estava farto de ver a horta atacada pelos pássaros. Quem acabou por ficar com o espantalho foi o actual presidente da Câmara, conhecido coleccionador de objectos antigos a que normalmente chamamos velharias e antiguidades. Agora o boneco está “despido” mas quando desempenhava funções tinha roupa e campainhas penduradas no

Num expositor está uma fiada de descamisadores de milho. Uns em metal e outros em madeira. Eram oferecidos pelos rapazes às namoradas.

corpo que tilintavam quando soprava o mínimo vento. Num “altar” estão dispostos instrumentos antigos que pertenceram a músicos da Banda da Chamusca, desaparecida há muitos anos. Uma banda que Antigos instrumentos da banda da Chamusca. Estavam todos em casa de antigos músicos. Foram oferecidos à câmara municipal. A banda foi fundada em 1883 e mudou de nome ao longo do seu tempo de existência. Foi Filarmónica dos Artistas Chamusquenses; Filarmónica da Chamusca; Filarmónica União Chamusquense; União e Perseverança Chamusquense; Sociedade Filarmónica 31 de Janeiro; Filarmónica Chamusquense e

por último Filarmónica Recreativa Chamusquense. A informação está disponível num antigo número da publicação “Chamusca Ilustrada”. Num expositor está uma fiada de descamisadores de milho. Uns em metal e outros em madeira. Eram oferecidos pelos rapazes às namoradas. Num outro painel está pendurada uma curiosa colecção de colheres de pau feitas por artesãos locais já desaparecidos. São de todos os tamanhos e feitios e talhadas em madeiras diferentes. Só com a ajuda de alguém mais antigo se consegue perceber tudo o que está à vista como um outro objecto feito de cana e cordel que se colocava na boca dos cabritos para eles deixarem de mamar.

Numa foto a preto e branco, da autoria de Benjamim Amaral Neto, um mendigo dorme nas pedras da rua junto a excrementos de cavalos. Um sem-abrigo do século passado. Há miniaturas talhadas a canivete de máquinas agrícolas. Uma casinha para grilos em cortiça. Uma colecção de cintas de charutos. Cartas trocadas entre entidades oficiais e comerciantes de tabaco, numa das quais é relatada a peripécia que envolveu o barco “Tormenta” e uma carga que não deveria ter saído de Lisboa mas que saiu e chegou à Chamusca. Encostadas a uma parede duas velhas malas de cartão como a da canção da Linda de Suza, que remetem para os anos da emigração portuguesa para França

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O “respeitinho” que não se respeitava nos jornais do século dezanove Contra a exaltação dos defensores da moral e bons costumes do nosso tempo

E você, já provou a passarola? A publicidade antiga pode ter as mais variadas leituras. É o caso desta que anuncia uma nova marca de cigarros da Tabaqueira. A rapariga parece estar nua atrás da cortina que pode cair a qualquer momento desvendando o que cada um quiser imaginar, nomeadamente...uma “passarola”.

Jesus Cristo “super star” As representações populares de Cristo feitas por antigos artesãos seguem à risca o que está nos evangelhos que falam de um filho de Deus feito homem. E um homem sem sexo não é homem nem é nada..seja filho de quem for.

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Para aqueles que se escandalizam com alguma linguagem usada na imprensa e correm a fazer queixas à Entidade Reguladora para a Comunicação Social e a meter processos em Tribunais que, na maior parte dos casos dão em nada, aconselha-se uma visita à exposição do Centro de Artesanato da Chamusca onde podem ser vistos alguns exemplares de publicações satíricas que zurziam forte e feio em políticos, reis e plebeus sem usarem paninhos quentes nem eufemismos. Na crónica parlamentar do jornal “O António Maria”, edição de 29 de Janeiro de 1880, podemos verificar que em matéria de deputados não há grande diferença entre os de então e alguns de agora. “O mais saliente traço da eloquência do digno representante do povo, Dr. Pedro Castello Branco, é coçar a orelha esquerda com a mão direita e coçar com a orelha direita a mão esquerda. No começo da sessão puxa de um lenço de ramagens e principia a assoar-se até ao fim da legislatura (...)”, pode ler-se e reler-se e verificar a correspondência entre o texto e a ilustração que é feita do digno parlamentar. Portugal não mudou assim tanto nos últimos cem anos. Claro que há os telemóveis, a internet, as tablets, a televisão por cabo mas os hábitos e costumes. A maneira de ser nacional mantém-se. Uma boa notícia para todos aqueles que defendem a manutenção das tradições. Ora atente-se neste extracto de uma crónica de João Franco de 24 de Maio de 1896 publicado no jornal “O Berro”. “Mas - perguntará o curioso recém-chegado - não é costume pagar habitualmente a renda das casas em Portugal? E se é costume satisfazer periodicamente esse encargo normal da vida, como se explica que ele apavore assim o espírito da população? Pois não é ele

previsto? Não o espera? Não o sabe inevitável? - Porque o estranha e porque se assusta?” E lá vem a explicação que de tão actual até espanta. “Assim como o Orçamento do Estado tem um deficit, o orçamento do cidadão, tem igualmente um deficit, porque tanto o Estado como o cidadão gastam mais do que ganham”. Os jornais da altura também já noticiavam factos parecidos com a saída da Manuela Moura Guedes da TVI, a ida da Judite de Sousa para a SIC, ou a saída do professor Marcelo da RTP. Tal jornalismo era criticado assim: “A imprensa ocupa-se de motivos momentosos, porque saiu do Diário de Notícias o Luís de Araújo?” E imaginem a apoplexia que fulminaria os defensores do “respeitinho” e da moral e bons costumes quando vissem publicado em qualquer jornal um poema como este do escritor Guerra Junqueiro, que saiu na edição de 17 de Maio de 1896, ilustrado com uma caricatura de duas páginas do rei D. Carlos “Uma bola de enxúndia, um zero, folgazão, Bispote português com toucinho alemão. Sensualismo e patranha, indiferença e vaidade Gabarola balofo e glutão, sem vontade, Às vezes moralista, (acessos de moral que lhe passam jantando e não nos fazem mal) Eis el-rei. Um egoísmo obeso, alegre e loiro, Unto já de concurso e de medalha d’oiro. Termina a dynastia e Deus que a fez tamanha Põe-lhe um ponto final de oito arrobas de banha... Laus Deo!”


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A Resitejo é uma empresa de sucesso a nível ambiental e económico Sector da reciclagem obrigou à contratação de mais sessenta funcionários no último ano Começou por ser a empresa que recolhia e depositava em aterro os resíduos sólidos urbanos dos municípios do Médio Tejo. Hoje tem um sector de triagem de materiais recicláveis que dá trabalho a centena e meia de pessoas. Mais de metade dos seus clientes são particulares.

E

m 1999, quando foi inaugurada, a Resitejo (Associação de Gestão e Tratamento dos lixos do Médio Tejo), situada no Parque do Relvão, Carregueira, no concelho da Chamusca, tinha uma dúzia de funcionários. Agora tem 151. O caminho percorrido é notável em termos ambientais e a nível económico. A recolha selectiva de resíduos e a central de triagem, ampliada o ano passado são a chave do sucesso. E há novos investimentos a caminho. E a empresa trabalha agora todos os dias do ano, 24 horas por dia. A célula com dois alvéolos onde os resíduos sólidos urbanos começaram a ser depositados e enterrados, tinha um período de vida útil de dez anos mas vai durar até 2012. Apesar de a empresa receber incomparavelmente mais resíduos urbanos do que no início, a maioria já não vai para aterro como acontecia antes mas para reciclagem. A grande reviravolta começou a 9 de Dezembro de 2004 com a entrada em funcionamento da central de triagem. O lixo doméstico que os cidadãos separam e depositam nos ecopontos começou a ser devidamente seleccionado e enviado para reciclagem. As campanhas de sensibilização e o despertar da consciência cívica e ecológica de uma parte significativa da população do Médio Tejo foi determinante.

Mas teria menos impacto se a Resitejo não tivesse apostado no aumento dos ecopontos. A empresa foi a última dos 28 sistemas do género existentes em Portugal, a aderir à separação de lixos mas entrou em força. Actualmente é um dos sistemas que mais ecopontos tem a nível nacional. O rácio é de um ecoponto por cada 150 habitantes. Um esforço que foi complementado por alguns municípios que também investiram em ecopontos subterrâneos, por motivos ambientais, estéticos e de capacidade. E a média de material enviado pela Resitejo para reciclagem também é das melhores do país. A empresa promete não ficar por aqui, porque cerca de metade (45%) do lixo que vai para o aterro ainda é constituído por material que pode ser reciclado. Ainda este ano vai ser lançado um concurso público internacional para uma unidade de tratamento mecânico e a partir de 2012 todo o lixo que agora vai directamente para o aterro, ou seja, o que não é separado pelos cidadãos, vai passar a ser triado (separado) por aquele equipamento, operação que não é possível fazer apenas com recurso a mão de obra. Um outro investimento a ser feito é o da abertura de uma nova célula para depósito de resíduos. Os trabalhos de terraplanagem já começaram e devem ficar concluídos este ano. As mais recentes apostas na recolha e tratamento de resíduos recicláveis estão a resultar. Com excepção de Santarém, todos os concelhos servidos pela Resitejo já têm instalados contentores para recolha de óleos domésticos usados. Quem coloca os contentores e faz a recolha é uma empresa que transforma aqueles resíduos em biodisel. As recolhas, feitas pela mesma empresa, são quinzenais mas actualmente verifica-se que há locais onde, muito antes de de-

corridos os quinze dias, a capacidade está esgotada. A solução passará, a curto prazo, pela colocação de oleões com o dobro da capacidade. A Resitejo também já está a triturar plástico rígido que depois é vendido para fábricas e algum exportado. Está a fazer uma selecção mais criteriosa dos metais que são depositados nos ecopontos e ecocentros e fez uma candidatura à Agência Portuguesa do Ambiente, em conjunto com os dois CIRVER (Sistemas de Tratamento de Resíduos Perigosos) que estão instalados na mesma zona, para acondicionar e enviar para tratamento os resíduos perigosos que são depositados nos ecocentros. Novas regras para evitar atrasos dos pagameNtos das câmaras muNicipais Os municípios servidos pela Resitejo (Alcanena, Chamusca, Constância, Entroncamento, Ferreira do Zêzere, Golegã, Santarém, Tomar, Torres Novas e Vila Nova da Barquinha) acordaram regras mais rígidas para evitar os continuados atrasos de pagamento que ainda recentemente obrigaram a empresa a recorrer a um empréstimo bancário de 500 mil euros. O MIRANTE sabe que também foram acordadas formas de pagamento das dívidas existentes.

Há cinco anos a Resitejo dependia a cem por cento das verbas das receitas obtidas com a recolha e tratamento dos resíduos sólidos urbanos dos municípios. Actualmente a situação inverteu-se. Os particulares já representam cerca de 51 por cento da receita mensal que ronda os 520 mil euros. A maior parte desses clientes são outros sistemas de recolha de resíduos que não dispõem de Central de Triagem, preferindo pagar o serviço. Com os particulares não tem havido atrasos nos pagamentos.


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Cidadãos que não separam o lixo dão mais despesa aos seus municípios Os municípios onde os cidadãos não têm grande consciência cívica e ecológica são penalizados financeiramente. Pagam mais cinquenta por cento por cada tonelada de resíduos canalizada para a Resitejo. Ou seja, os munícipes que não fazem a separação de resíduos, para além de não estarem a contribuir para um me-

Não há recolha de noite por causa do ruído A Central de Triagem da Resitejo funciona todo o ano, 24 horas por dia. A recolha de resíduos nos concelhos do sistema só é feita no período diurno por causa do ruído. Ainda foi feita uma tentativa mas a ideia foi abando-

Um problema chamado ponte da Chamusca A Resitejo fica na margem esquerda do Tejo e a maior parte dos concelhos onde a empresa faz recolha de resíduos, na margem direita. Em Santarém os camiões da empresa não podem passar na Ponte D. Luís. A volta pela ponte Salgueiro Maia significa mais 30 quilómetros por cada circuito. Com seis circuitos por dia os carros percorrem mais 180 quilómetros com tudo o que isso significa em termos de tempo, combustível e desgaste. Mais a norte situam-se cinco ecocentros (locais onde se compactam resíduos para transporte). Golegã, Torres Novas, Barquinha Tomar e Ferreira do Zêzere. A passagem pela ponte da Chamusca dá cabo de qualquer planeamento. Por vezes

lhor ambiente, estão a fazer com que os seus concelhos gastem mais dinheiro. A avaliação da percentagem de material reciclável que vai misturada no lixo em geral é feita duas vezes por ano. Uma no final do período das chuvas e outra no final do tempo seco. Normalmente em Abril e Outubro.

nada devido às reclamações. Apenas em Santarém se mantém uma recolha nocturna por semana porque, principalmente no centro histórico, é muito difícil fazer a recolha a partir das 7 da manhã, devido ao trânsito e ao estacionamento de viaturas nas proximidades dos locais onde estão os contentores. As obras também impedem muitas vezes que a recolha de resíduos seja feita durante largos períodos.

há camiões retidos na ponte entre 15 a trinta minutos porque o tabuleiro é estreito e não permite a passagem de dois pesados ao mesmo tempo. Como cada motorista tem que fazer 3 circuitos por turno. Se por causa dessa espera só fizer dois circuitos ficam uma ou duas horas parados sem fazer nada e a recolha fica incompleta gerando naturais protestos. E naquela zona há 12 circuitos para fazer no turno da manhã e outros tantos no turno da tarde.


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