FESTAS NOSSA SENHORA DA ASSUNÇÃO

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FESTAS NOSSA SENHORA DA ASSUNÇÃO - VIALONGA | 29

O MIRANTE | 12 Agosto 2010

Festas populares são pretexto para sair de casa Moradores da freguesia de Vialonga dão sugestões para melhorar a iniciativa As festas populares e em honra de Nossa Senhora da Assunção em Vialonga são uma boa oportunidade para conviver com os amigos, provar petiscos e ver espectáculos com associações da freguesia. O espaço onde decorrem os festejos, próximo da igreja, é limitado e há quem defenda que a organização deve começar a sonhar mais alto.

A emoção de ver a procissão passar Elvira Sarabando, 81 anos, reformada A idade já não perdoa e por isso Elvira Sarabando, 81 anos, não deverá visitar a festa de Vialonga a não ser para assistir à procissão de domingo. “Para a juventude as festas são sempre

O regresso da tradição das cavalhadas

Ver o cortejo passar à porta de casa

Dar um passeio e comer uma fartura

Lopes Ribeiro, 44 anos, empresário

Augusta Silva, 78 anos, reformada

Pedro Silva, 74 anos, comerciante

Para Lopes Ribeiro ir à festa de Vialonga é uma forma de descomprimir e conviver com os amigos. “Vou à festa todos os anos. Têm sido agradáveis e têm melhorado todos os anos. Agradame a diversidade das festas e as novas apostas no sentido de irem buscar algumas tradições antigas, como as cavalhadas”, refere. Para o empresário do ramo automóvel as festas têm melhorado com os anos mas há trabalho que ainda pode ser feito. O esforço de quem organiza é notório mas os meios também não são muitos. “Cada vez há mais dificuldade em fazer investimentos para tornar as festas melhores”, reconhece.

Do portão de sua casa Augusta Silva consegue ver a procissão da festa de Vialonga. Nunca perde uma oportunidade de ver o ponto alto das celebrações católicas. “À festa não vou, sou franca. Mas quero ver a procissão. Estou doente e é apenas isso que vou poder acompanhar”. A reformada, de 78 anos, admite que este ano o cartaz das festas é mais fraco, o que no seu caso é uma vantagem. “A música alta pela noite fora incomodava-me e não deixava dormir quem aqui vive”. Para Augusta Silva as festas fariam mais sentido se decorressem num local mais amplo. “Haveria espaço para receber mais gente”, sugere.

Pedro Silva nunca falta às festas de Vialonga. “Moro mesmo na rua da festa e mesmo que não quisesse ir teria sempre de ouvir a música”, diz com um sorriso. Para este comerciante o maior atractivo das festas é o convívio. “Também gosto dos espectáculos musicais. Este ano está mais fraco, mas a crise manifesta-se em todos os sectores”, analisa. Uma coisa é certa: Vai dar uma volta e comer uma fartura. Pedro Silva admite que mudar o local das festas, que decorrem próximo da igreja, será difícil. “É tradição fazê-la neste lugar. Acho que até tem espaço suficiente para começarem a pensar em fazer algo diferente nos anos seguintes”, conclui.

boas. Para mim o mais importante é ver Nossa Senhora passar ao pé dos bombeiros”. A iniciativa é importante porque divulga o melhor que a freguesia tem. Elvira Sarabando já notou contudo que houve mais contenção no programa das festas deste ano. “Antigamente a festa era muito maior e mais bonita, havia carrosséis e outras diversões. O ano passado houve pouco e este ano haverá ainda menos”, prevê.

Falta um espaço amplo para realizar as festas

Associações da casa ajudam a animar as festas de Vialonga Música, dança e componente religiosa garantem programa da iniciativa A prata da casa vai ajudar a animar este ano as festas populares e em honra de Nossa Senhora da Assunção, que decorrem de 13 a 15 de Agosto, em Vialonga, no concelho de Vila Franca de Xira. As associações da freguesia vão marcar presença na festa que não escapa à contenção em contexto de crise. O presidente da Junta de Freguesia de Vialonga, José Gomes (CDU), estima que este ano o modelo da festa permita à autarquia poupar cerca de 35 por cento das verbas que foram gastas no ano anterior. A festa arranca na sexta-feira, 13 de Agosto, às 18h00 com a recitação do terço. Meia hora depois realiza-se a missa. A inauguração das festas está marcada para as 20h30 com arruada acompanhada do Grupo de Bombos “Os Amarantinos”. Às 21h30 há um espectáculo de música tradicional portuguesa com o grupo da ABEIV, grupo da ADCS – Parque Residencial, grupo

da ARPIV, Grupo “Folha Verde” e grupo “Monte Serves”. A grande noite de baile com a Banda PACK7 acontece às 22h00. Jorge Lomba sobe ao palco às 23h30. No sábado, 14 de Agosto, às 16h00, há cavalhadas na estrada do túnel, junto à variante. Segue-se o terço e missa, às 18h00 e 18h30, respectivamente . O concerto de tributo aos Xutos - “Gritos Mudos” está marcado para as 22h00. Segue-se um espectáculo de música popular portuguesa com Rui Rocha e Sandra Camilo. Rui Sá sobe ao palco às 23h30 seguido de DJToso. O baile popular com a banda CO2 vai animar a noite. No domingo, 15 de Agosto, a missa solene realiza-se às 11h00. A componente religiosa prossegue às 17h00 com adoração e vésperas. A procissão em honra de Nossa Senhora da Assunção, um dos pontos altos para os religiosos, sai à rua às 18h00. A

Carlos Silva, 49 anos, mecânico Carlos Silva, mecânico, residente na Verdelha do Ruivo, não perde uma oportunidade de ir às festas de Vialonga conviver com os amigos, provar os petiscos e conhecer o trabalho das várias associações da freguesia. “Não quer dizer que vá todos os dias, depende da minha disponibilidade. Sou fã de música popular portuguesa. É do que gosto mais”, confessa. Na opinião de Carlos Silva as festas são um atractivo interessante mas o local não é o melhor. “Deviam procurar um

espaço mais aberto que pudesse receber mais pessoas, como se faz na Póvoa de Santa Iria”, propõe, lembrando que nas imediações da festa também falta estacionamento.

foto O MIRANTE

música e danças africanas seguem às 21h00 com dança e batuque da Associação Cultural Raíz de Cabo Verde e Grupo Unidos do Batuque da Associação de Africanos do Concelho de Vila Franca de Xira. A grande noite de folclore está marcada para as 21h30. Participam o grupo de bombos “Os Baionen-

ses”, Rancho da ADCS – Parque Residencial Rancho da Casa do Povo de Vialonga, Rancho de Santa Eulália e grupo de bombos “Os Amarantinos”. O espectáculo musical de Cuba com a Banda Son Habanero está marcado para as 22h00. As festas encerra com fogo de artifício às 00h00.


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12 Agosto 2010 | O MIRANTE

O bairro das torres e das bandas que se ergueu no lugar de um Olival Parque Residencial de Vialonga surgiu para criar habitação a custos controlados

INTERVENTIVO. Manuel Valente, antigo presidente de junta, conhece bem as ruas do parque residencial

Há cerca de 40 anos erguiamse em Vialonga, no lugar de um antigo olival, as primeiras casas de habitação a custos controlados do então Fundo de Fomento de Habitação. Chegaram os trabalhadores de unidades fabris da grande Lisboa à procura de uma casa mais barata. Depois foram também realojados os munícipes dos bairros problemáticos dos arredores da capital e o bairro ganhou a conotação social e um estigma que ainda hoje luta por afastar. A história de um bairro de arquitectura peculiar construído pela já extinta Icesa.

Q

Ana Santiago

uem passa na auto-estrada do norte, pouco depois da saída de Lisboa, vislumbra à distância, do lado esquerdo, o Parque Residencial de Vialonga. Está plantado numa zona alta da freguesia do concelho de Vila Franca de Xira. É um bloco de torres altas e apartamentos em banda de cor castanha a contrastar com os tons claros das novas urbanizações. Há mais de 40 anos existia ali um olival. Hoje erguem-se 18 bandas e 13 torres de janelas estreitas. Há quem ainda lhe chame o Bairro da Icesa. Um termo depreciativo, na opinião do anterior presidente da junta, Manuel Valente (CDU), que comprou um apartamento na banda 2 em 1979. O nome da em-

foto O MIRANTE

presa ficou associado ao bairro porque foi a construtora, entretanto falida, que construiu a primeira, segunda e parte da terceira fases da urbanização que não chegou a acabar. “A Icesa utilizava um tipo de construção por placas, técnica alemã. A estrutura era feita no estaleiro de uma fábrica da Póvoa de Santa Iria. Vinham num camião. Chegavam ali e encaixavam. As casas ficavam mais baratas”, explica Manuel Valente, torneiro mecânico de profissão.

A arquitectura peculiar é semelhante a bairros que foram construídos na altura em Santo António dos Cavaleiros, Olivais, Sacavém e Leiria pela mesma empresa ao abrigo de um programa do extinto Fundo de Fomento de Habitação. O objectivo do Governo, que adjudicava à empresa o trabalho, era criar habitação a custos controlados. Os interessados adquiriam a casa por uma quantia inferior ao valor de mercado e por isso a transacção era condicionada. “O objectivo era arranjar a casa para as pessoas. Não era que as pessoas ganhassem com o negócio”, esclarece o antigo autarca. Na fase inicial era preciso uma autorização para vender a casa, o que veio a ser alterado há 15 anos. Cada um passou a poder vender a casa livremente. Tal como Manuel Valente fez há 13 anos para comprar casa no centro da vila. Noventa e cinco por cento dos munícipes que escolheram então o bairro para viver – chamados pelo baixo preço das casas – não eram de Vialonga. Nem havia qualquer relação entre os funcionários das fábricas da corda industrial

da zona e o bairro. “Eu trabalhava na Amadora e morava na Damaia”. Manuel Valente ouviu falar do bairro por intermédio de uma amiga da mulher chegada do Ultramar que adquiriu a casa com a ajuda do Instituto de Apoio aos Retornados Nacionais. Algumas autarquias contribuíam com o terreno e por isso alguns apartamentos também iam à posse da câmara, como aconteceu com Vila Franca de Xira. A componente social do bairro, que também existe, é apenas uma parte da realidade. O bairro acolheu população das ex-colónias e também parte de populações de bairros como a Pedreira dos Húngaros ou Chelas que foram ali realojadas. Em algumas casas as portas eram cortadas ao meio. Para imitar o postigo. Na fase de realojamento outros trouxeram das barracas tudo o que tinham. Incluindo animais. “Os problemas não foram causados pelos que se instalaram cá, mas pelos filhos de alguns revoltados com o que a sociedade não lhe deu”, interpreta Manuel Valente que foi responsável por algumas acções para ensinar determinadas populações a viver em comunidade e a gerir um orçamento até final do mês. UMA COMUNIDADE DE SEIS MIL PESSOAS Luís Fernandes, 65 anos, engenheiro técnico de cerâmica, reformado, presidente da Associação dos Africanos do Concelho de Vila Franca de Xira,


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chegou em 1985 ao bairro embora estivesse desde 1969 em Castanheira do Ribatejo. O antigo quadro da “Metal Portuguesa” não gosta da expressão “parque residencial”. Prefere chamarlhe Bairro Olival de Fora e sublinha que a sede da associação, na torre 14, fica na Praça Bento Gonçalves. Comprou na Torre 12 uma casa de “habitação resolúvel”. Começou a pagar 5.370 escudos. A última renda que pagou, antes de decidir comprar a casa, custou-lhe 10.720. Hoje tem o apartamento alugado. No prédio onde viveu 19 casas foram adquiridas pelos actuais proprietários. Vinte e uma são habitação social. “Há quem precise de viver aqui por dificuldades económicas”, reconhece. O presidente da associação já não vive no bairro, mas o ambiente actual não se compara àquele que vivenciou quando chegou ao prédio. “Deu uma volta de 380 graus”. Muito graças ao programa “Viver o Bairro” que ajudou a limpar o estigma e a tirar os miúdos da rua, como muitas outras iniciativas dinamizadas pela junta e câmara. O centro comunitário e o ninho de empresas também ajudaram a dar outra cara ao bairro ao serem construídos numa zona de mato utilizada até ali para tráfico de droga. “Antes riscavam o carro e acontecia ter um vidro partido às vezes. Agora toda a gente entra e sai à hora que quer”, admite. A associação apoia muitos dos habitantes do parque. O antigo presidente da junta estima que vivam nos bairros seis mil pessoas. A esmagadora maioria são munícipes de origem africana, calcula Luís Fernandes. A última fase a ser construída, sobretudo as torres 12, 13 e 14, continuam um pouco abandonadas. Um dos últimos parques infantis da freguesia nasceu numa urbanização nova e os meninos das torres continuam a jogar à bola no espaço livre entre os prédios. Um parque infantil chegou a existir nas imediações do bairro, mas foi levantado pela câmara depois de ser vandalizado. O verde dos espaços públicos também se esbate nas imediações. O actual presidente de junta, José Gomes (CDU), diz que não está prevista a construção de um novo parque infantil, mas os moradores vão ser convidados em breve a participar na manutenção dos espaços públicos. Por agora as ervas estão em tom castanho. A condizer com a tonalidade dos prédios

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A luta pelos transportes a seguir ao 25 de Abril Em 1979, quando Manuel Valente veio morar para o apartamento que comprou na banda 2 do Parque Residencial de Vialonga, os transportes eram escassos. “Quando cheguei a Vialonga havia uma camioneta de manhã e outra à tarde da estação da Póvoa de Santa Iria. Como trabalhava por turnos a maior parte das noites vinha a pé da estação porque não havia transportes”, recorda.

Manuel Valente juntou-se por isso a outros para exigir transporte mais regular que servisse a vila. “Fui um daqueles que me meti dentro da camioneta, num dia em que estava de folga, arregimentei algumas pessoas e não saímos de dentro da camioneta enquanto o autocarro não foi lá acima”. Se no início o autocarro só ía até ao largo certo é que a reivindicação deu

frutos e os transportes mais frequentes passaram a servir o bairro construído pela Icesa. Naquela altura Vialonga era uma terra saloia que se dedicava à produção de cebola, recorda Manuel Valente. “E ainda hoje, mas menos. Nesses tempos havia malta que vivia aqui e trabalhava na corda industrial. Quem trabalhava por turnos e tinha mais liberdade vinha para a cebola. Depois acumulava com o salário da empresa”, diz o antigo presidente de junta que foi sindicalista, munícipe activo e fundador da ABEIV (Associação de Bem Estar Infantil de Vialonga).

CONVÍVIO. Luís Fernandes e alguns dos moradores da Praça Bento Gonçalves

Associação de Africanos distribui cabazes de alimentos a 45 famílias A Associação de Africanos do Concelho de Vila Franca de Xira, com sede em Vialonga, iniciou uma campanha de distribuição de cabazes de alimentos e está a apoiar actualmente 45 famílias carenciadas. O projecto tem a colaboração do Banco Alimentar

da Luta Contra a Fome. “É uma ideia que já tenho há seis meses, mas que só agora consegui concretizar”, explica o presidente da associação, Luís Fernandes, que explica que ainda só foi feita uma primeira entrega.

foto O MIRANTE

Os alimentos são guardados num armazém nas imediações da associação. Cada família tem uma prateleira de um armário atribuída. A distribuição é feita à segunda semana de cada mês. A entrega é efectuada mediante a apresentação de um cartão onde constam os nomes das pessoas autorizadas a levantar o cabaz. O pedido de ajuda das famílias pode ser feito na secretaria da associação que funciona na Praça Bento Gonçalves, Olival Fora Torres, 12, 3º direito, em Vialonga.


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