Feira de Pernes

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03 Dezembro 2009 | O MIRANTE

Feira de Pernes a 8 de Dezembro num dia de tradição, animação e negócio Dia 8 de Dezembro está de regresso a tradicional Feira Anual de Pernes, no seguimento de um costume que tem vindo a ser seguido desde 1663. Os tempos já não são o que eram e a feira apenas dura um dia em vez dos três dias habituais que marcaram muitas edições. O largo do Rossio, no coração da vila, deixou de ser o anfitrião dos feirantes de todo o tipo de quinquilharias e bagatelas. O espaço foi requalificado há cerca de quatro anos e desde então que a feira tem sido realizada no largo S. Silvestre, na primeira rua à esquerda de quem entra pelo lado de Santarém, na zona baixa da vila. Aí são esperados, dia 8, os vendedores de roupas, de frutos secos, especialmente pinhões, e os divertimentos como pistas de carrinhos de choques e carrocéis de aviões, as barraquinhas de rifas de peluches e a Junta está a tentar levar à feira uma barraquinha de tiros. Antigamente, a feira era referência entre o Outono e o Inverno na aferição da campanha do azeite. Era aí que se estabeleciam os preços do azeite, depois da apanha da azeitona nas casas agrícolas da região. E a oportunidade para muitos comprarem os agasalhos para o tempo frio que se adivinhava, como cobertores e casacos.

Feira de reencontro de amigos é, ainda assim, motivo de confraternização onde a febra assada é rainha. Manda a tradição que seja grelhada sobre ramos de oliveira, com acompanhamento de tinto a preceito. Os escuteiros reavivaram a tradição o ano passado e espera-se que a possam repetir esta edição. Por falar em escuteiros, as associações têm presença habitual com tasquinhas de comes e bebes. Estarão representados os escuteiros, os bombeiros voluntários e a colectividade Música Velha, que também costuma dar baile na sua sede na noite de véspera de feira. Para quem não conhece a feira e a terra, a Junta de Pernes aconselha o estacionamento à entrada da vila pelo lado de Santarém, junto ao quartel dos bombeiros. Pelo lado de Torres Novas, os visitantes terão de optar pelas ruas da vila.


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Já não se fazem artigos de madeira como na Casa de Artesanato de Manuel Joaquim Duarte Em Pernes os torneados de madeira são tradição que a fábrica tem vendido pelo país

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fábrica de Manuel Joaquim Isidro Duarte, em Pernes, concelho de Santarém, deve ser das poucas da região onde se trabalha a madeira recorrendo à arte do torneiro. Na fábrica da rua Dr. Manuel Ferreira da Silva, à entrada do Rossio, e em frente à sede da Rádio Pernes, produzse um pouco de tudo. Caixas para chás, de costura, para relógios, para cápsulas de café, mealheiros, copos, molduras, bandejas, e uma imensidão de objectos de todos os tamanhos. Até anéis e pulseiras em madeira e brindes para casamentos consoante os temas que se quiserem. É só puxar pela imaginação. A madeira, pinho e choupo, é trabalhada artesanalmente, apenas com recurso a máquinas de corte. O torneiro de madeira, Fernando Gomes, pega em peças de madeira arredondadas e prende-as no torno que gira a grande velocidade. Com recurso a diferentes tipos de formões e outras ferramentas, vai moldando a matéria-prima para fazer pequenos e grandes artigos, como se estivesse a moldar barro com as mãos, tal é a perfeição com que sai. Chega a fazer piões miniatura com apenas alguns milímetros de comprimento. Manuel Joaquim, como é conhecido em Pernes, começou a trabalhar com 14

anos numa oficina a fazer recados e passou por três fábricas. Em 1981 criou a casa com o seu nome. Cinco anos depois apostou na fabricação de artigos em madeira que vão na cor original com destino às lojas decorativas. “Produzimos cerca de 1200 artigos diferentes e de tamanhos variáveis. Desde os mais tradicionais àqueles que vão surgindo decorrentes do que vamos vendo e do que os clientes nos vão pedindo e sugerindo. Por exemplo, surgiram as novas cápsulas de café e criámos caixas para elas”, refere Manuel Joaquim. O pinho e o choupo vêm das serrações da zona de Amiais de Baixo. O pinho é uma madeira mais compacta e maciça, utilizada em caixas, tabuleiros, molduras, artigos de maior dimensão e mais resistentes. O choupo é mais leve e chega à fábrica em toros. A fábrica trabalha com clientes de todo o país, incluindo ilhas, e até alguns espanhóis e franceses que ficam deliciados com a qualidade, estética e acabamentos dos artigos. Afinal quem nunca sonhou ter uma caixinha de madeira e dar-lhe um toque próprio para guardar os objectos mais apreciados? Uns clientes chegam por contactos com outros clientes. Outros acedem ao blog da fábrica em http://casado-artesanato.blogspot.com.

foto O MIRANTE

Manuel Joaquim Duarte trabalha com a esposa e duas sobrinhas. Tem mais seis colaboradores na fábrica de artesanato. Em novo aprendeu a fazer caixas, tabuleiros e bandejas. Apenas uma vez pegou no torno quando o profissional adoeceu, durante uma feira da especialidade. De resto,Manuel Joaquim costuma levar o artesanato e torneados de madeira de

Pernes à Feira Internacional de Lisboa, o principal certame de artesanato do país. Diz que gostaria de participar mais em feiras da região mas defende que as autarquias devem apoiar os seus artesãos na divulgação do que é mais típico e nobre do concelho. O mesmo diz em relação à Feira Anual de Pernes e ao que deve dar destaque aos seus ofícios

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A mudança do local da Feira continua a ser criticada. Os habitantes de Pernes não gostam do Rossio vazio nos dias da Feira e pedem que, pelo menos uma parte dela volte para lá. Sejam os frutos secos ou os divertimentos populares.

Feira tradicional a que não se pode faltar Braz Manuel Santos, 49 anos, comerciante, Pernes Braz Santos considera que a Feira Anual de Pernes é um evento que mudou com o evoluir dos tempos mas que continua a ser tradição a merecer uma visita. Nem a mudança de local para a zona baixa da vila o demove. “É mais difícil para quem mora no centro da vila porque está mais longe. Mas os tempos da feira são um pouco diferentes. Não é preciso esperar por ela para comprar qualquer coisa. Hoje há muitos locais

Até chineses já havia na feira antiga Emílio Rodrigues, 76 anos, comerciante, Pernes Há 65 anos atrás do balcão da casa de ferragens com o Rossio de Pernes em frente, Emílio Rodrigues diz que a feira anual já não é o que foi. “Chegaram a vir carreiras de propósito para levar pessoas para o Espinheiro, Amiais e outras terras aqui à volta. Era das feiras mais conhecidas da região. E a feira chegou a ter dois circos a trabalhar ao mesmo tempo no Rossio. Nesse tempo não havia as barracas de pronto-a-vestir, era mais di-

onde comprar um pouco de tudo. Mas é sempre bom atrair forasteiros à tradicional feira das febras”, conta Braz Santos, que defende que a véspera da feira é o melhor que ela tem, quando se assam as febras na rua sobre ramos de oliveira. Com estabelecimento comercial no Rossio, Braz Santos diz que não foi pela saída da feira do coração da vila que perdeu clientela. “A feira é para os feirantes. Se por exemplo vou à feira de Almeirim não é para ir a lojas”, exemplifica. O habitante de Pernes considera que a freguesia está bem servida de equipamentos, especialmente depois da

inauguração na nova Unidade de Saúde Familiar. “Só falta o pavilhão desportivo junto à escola que é o mais importante para população e para a escola”, comenta.

vertimentos e quinquilharias”, conta quem se lembra até que, nos anos 60, já dois chineses mostravam na feira novidades da quinquilharia, como colares e outros objectos. Recorda que nesses tempos a realização da feira era também o balanço da época de produção de azeite do ano e existiam migrações de trabalhadores da zona de Leiria e doutras que assentavam arraiais nas casas agrícolas da região na apanha da azeitona. “À noite, depois do trabalho, juntavam-se na feira em convívio”, lembra Emílio Rodrigues. Na freguesia de Pernes o comerciante sente, principalmente falta, a indústria que

já foi preponderante. “Trazia 500 ou 600 pessoas que fazem muita falta ao comércio. Hoje são os pernenses que saem da sua terra à procura de trabalho”, garante.

Rossio deve receber pelo menos uma parte da festa

Conviver na feira e ajudar as colectividades Rita Santos, 30 anos, farmacêutica, Pedrógão Rita Santos considera que a Feira Anual de Pernes é o símbolo da manutenção de uma tradição de uma vila e freguesia que deve ser para manter. Não costuma faltar a nenhuma edição apesar de ser do Pedrógão, e também tem mais motivos para se associar à festa: a farmácia que foi inaugurada precisamente há cinco anos num dia da Feira de Pernes. “Costumo passear pela feira e ir às chamadas tasquinhas das associações e colectividades de Pernes. Temos a Música Nova, os bombeiros, os escuteiros, o que é sempre bom para ajudar a dinamizar e manter as entidades da terra”, refere

Há muito espaço no rossio para a Feira

Luís Emílio, 47 anos, empregado bancário, Pernes

Rita Santos. Para si, que é de fora e trabalha na vila, a recuperação do mouchão parque é uma medida que pode beneficiar toda a freguesia. “Espero que a recuperação do mouchão parque possa atrair mais pessoas e contribua mais rapidamente para o começo da despoluição do rio Alviela para que haja menos poluição e mais visitantes”, afirma a farmacêutica.

Luís Emílio é dos que pensa que o Rossio sem Feira fica um vazio. “Podiam manter-se os divertimentos da feira no

Manuel dos Santos, 61 anos, relojoeiro, Pernes Para Manuel dos Santos, relojoeiro no largo do rossio, a mudança de local da Feira de Pernes não faz sentido, nem por uma questão de espaço. A feira mudou-se para menos de um quilómetro de distância quando a zona do Rossio foi requalificada. E ali ficou. “Agora as pessoas nem param, seguem logo para baixo. Faziam melhor se a feira se mudasse cá para cima, há muito espaço para divertimentos e feirantes”, sustenta. Há 42 anos radicado em Pernes como relojoeiro, tomou conta do estabelecimento de um tio. Manuel dos Santos recorda-se de uma feira com mais qualidade. “Havia muita produção de azeite e reuniamse aqui todos, estava cheio de barracas, além de muitos ourives e muitas oficinas a funcionar. Agora a feira praticamente só dura um dia, no segundo já quase não está ninguém”, assegura. Para o relojoeiro, natural de Cantanhede, falta à freguesia mais oferta de emprego que estimule o comércio.

actual espaço, junto às águas S. Silvestre, e criar neste espaço central a componente dos frutos secos, divulgar o artesanato e promover alguma mostra de azeite. Até porque o local onde se realiza a feira há um défice de serviços de apoio”, sugere o empregado bancário. Diz que o declínio do evento começou na década de 80, quando começaram a surgir as primeiras superfícies comerciais de grande dimensão. “No final de Outono, início de Inverno, a Feira era o local escolhido para as pessoas comprarem agasalhos, botas, casacos, cobertores, e era

Feira menos grandiosa mas onde se continua a ir

Ana Sofia Simões, 35 anos, ajudante de farmácia, Pernes Ana Sofia Simões costuma passear pela Feira de Pernes para comprar frutos secos e ver um bocadinho de tudo. Considera que há mais espaço no local onde se vem realizando desde há quatro anos mas que a Feira como sempre foi é mais típica no rossio, zona central da vila e o seu espaço mais nobre. “Quando era mais pequena andava nos carrinhos de choque que continuam a existir na feira. Mas hoje vemos bem menos movimento, menos feirantes e dura menos tempo. Dantes passava-se muito pela feira para fazer compras, agora há quase mercados todos os dia em diferentes localidades, para comprar cobertores, roupas, etc”, conta a ajudante de farmácia. Ana Sofia Simões considera ainda que, feira aparte, a vila de Pernes tem necessidade de revigorar o seu movimento comercial. Diz também que há muitas casas degradadas por recuperar.

tanto melhor ou pior consoante fosse ano agrícola e se marcava o preço do azeite”, conta. Na memória de Luís Emílio está o tempo de miúdo em que fez birra para que o tio lhe oferecesse um junta de bois a brincar e depois viu outra melhor à saída da feira. “Era uma feira ponto de encontro de amigos, em torno da fogueira a arder e a assar febras no Rossio”, conclui.


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